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Rio Music Buzz 2015 Pelo terceiro ano consecutivo, o Rio de Janeiro abrigou o Rio Music Buzz, promovido pela Associação Brasileira da Música Independente (ABMI) e pelo Sebrae, que ocorreu nos dias 14, 15 e 16 de setembro. Mais uma vez o evento reuniu importantes nomes nacionais e internacionais da indústria da música no Centro Cultural da Light (CCL), no centro do Rio. Foram reunidos mais de 500 profissionais da música em torno de palestras, mesas de debate e rodadas de negócio, e capacitou mais de 300 em workshops com representantes de empresas brasileiras e estrangeiras. Este ano ainda houve os pocket shows de Claudio Dauelsberg, Ramonzin e Medulla, no dia 14 de setembro. Luciana Pegorer, abrindo o evento

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Rio Music Buzz 2015

Pelo terceiro ano consecutivo, o Rio de Janeiro abrigou o Rio Music Buzz, promovido pela Associação Brasileira da Música Independente (ABMI) e pelo Sebrae, que ocorreu nos dias 14, 15 e 16 de setembro. Mais uma vez o evento reuniu importantes nomes nacionais e internacionais da indústria da música no Centro Cultural da Light (CCL), no centro do Rio.

Foram reunidos mais de 500 profissionais da música em torno de palestras, mesas de debate e rodadas de negócio, e capacitou mais de 300 em workshops com representantes de empresas brasileiras e estrangeiras. Este ano ainda houve os pocket shows de Claudio Dauelsberg, Ramonzin e Medulla, no dia 14 de setembro.

Luciana Pegorer, abrindo o evento

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O painel que abriu o evento reuniu Erik Gilbert (CV America), Marcelo Castello Branco (MCB Consulting), Marcelo Soares (Presidente Som Livre), Sergio Affonso (Warner Music Brasil) e Aloysio Reis (Sony ATV) em uma discussão sobre a transformação do mercado da música e suas perspectivas de crescimento. Castello Branco afirmou que atualmente estamos vivendo o melhor momento da música dos últimos dez anos, chamando a atenção para o fato de o mercado da TV e do cinema serem mais eficientes no que diz respeito à solução de seus problemas, enquanto a música “discute publicamente o que deveria ser discutido internamente”. Apesar de reconhecer que há dez anos o mercado significava o dobro do que é hoje, ele pontuou que a música resiste pela força e importância que tem na vida das pessoas e, passado o pior momento, atualmente há condições melhores de crescimento, principalmente devido às vendas digitais, que representam mais da metade dos negócios. Ele afirmou que 2015 terminará como aquele em que a música foi mais consumida digitalmente do que fisicamente. Apesar disso, para ele os artistas precisam “enlouquecer” mais, ou seja, o mercado precisa ser mais agressivo em certos segmentos como o sertanejo, o pop e o rock nacionais, que segundo ele ainda vivem no passado.

Em sua fala, Aloysio Reis lembrou do ano de 2000, em que em reunião com os diretores da gravadora EMI a expectativa era – se tudo desse certo – perder um milhão de dólares até o fim daquele ano. Ele citou este episódio como lembrete para afirmar que as crises vêm e vão, principalmente no mercado latino-americano, e disse que, com o tempo, deixou de se impressionar tanto com a euforia, quanto com a crise. Ele ainda ressaltou que a inserção nas trilhas de TVs e os shows são as principais fontes de receita das editoras.

Sergio Affonso revelou que, durante a crise, a Warner chegou a pensar em abandonar o seu catálogo de música brasileira, mas felizmente não foi necessário. Ele ainda comentou que foi muito criticado quando resolveu apostar na funkeira Anitta, que se revelou um enorme sucesso. Para ele, a gravadora deve ter a sensibilidade de apostar em negócios sem deixar que o business mate a música.

Marcelo Soares concordou que o mercado está vivendo um bom momento. Dizendo ter entrado na indústria já em uma época ruim, ele comentou que 2014 foi o melhor ano na história da Som Livre – não em faturamentos, mas em resultados. Segundo ele, o mercado está melhor para os criadores, em uma época em que há reinvestimento em artistas e selos independentes, que têm trazido resultados que classificou de interessantes. Ele ainda chamou a atenção para que, apesar de todos estarem falando sobre o bom momento do mercado, provavelmente os donos de selos e artistas independentes não sentem isso. Citando o sertanejo como um segmento que costuma se lançar de maneira independente, Soares afirmou que cabe ao artista achar seu público, sua linguagem e seu caminho. O presidente da Som Livre também afirmou que, ao contrário de outras no Brasil, a indústria da música está crescendo e este é um bom momento para aqueles que pretendem se lançar como executivos.

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Sergio Affonso, Marcelo Soares, Erik Gilbert, Aloysio Reis e Marcelo Castello Branco

Erik Gilbert lembrou que hoje em dia há diversos touch points para os artistas, não se restringindo a lançamento dos álbuns, físico ou digital, mas também merchandising, shows e, principalmente redes sociais, que oferecem uma oportunidade extraordinária para o artista entrar em contato com seu público, já que a resposta é imediata. Ele comentou sobre como antigamente era necessário ir a shows ou depender de amigos para conhecer coisas novas e hoje basta que se entre na internet. Gilbert ressaltou que, para a indústria, é importante também assumir riscos e apostar em artistas que o executivo ache brilhante, mesmo que ele tenha baixas estatísticas em redes sociais ou visualizações no YouTube.

Sergio Affonso concordou, dizendo que busca muitos artistas nas mídias sociais, principalmente o YouTube, e que é importante que o artista independente participe disso. Ainda assim, ele afirmou que também aposta em artistas saídos do zero, citando o caso bem-sucedido da cantora Ava Rocha. Já Castello Branco afirmou que ter apenas a música boa não basta, é necessário que o artista tenha uma boa relação com o público e também disposição para investir na carreira, esforçando-se para interagir com fãs e fazer shows, usando o músico Tiago Iorc como exemplo.

Tanto o presidente da Som Livre, quanto o da Warner Music revelaram que suas companhias pretendem investir em projetos para a música eletrônica no Brasil. O debate foi o que atraiu mais público durante todo o evento, sendo que uma pequena parte da plateia precisou assisti-lo de pé, nos fundos do teatro.

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Laura Tesoriero

Grammy Latino

Após uma pausa para o almoço, a presidente do conselho do Grammy Latino, Laura Tesoriero, fez uma breve apresentação do prêmio, ressaltando a vantagem da exposição mundial. Segundo ela, atualmente o Grammy Latino conta com sete categorias para premiar a música feita em Língua Portuguesa e apresentou os artistas que já receberam prêmios especiais. Ela ainda aproveitou para anunciar que mais um artista brasileiro será o homenageado da premiação este ano: Roberto Carlos.

Tesoriero ainda ressaltou o quanto se precisa de mais música brasileira no Grammy Latino, lembrando à plateia que tanto músicos contratados por uma gravadora, quanto independentes podem se inscrever, bastando que sejam membros. Ao fim da fala de Laura Tesoriero, Luciana Pegorer apontou para o quanto a música brasileira tem potencial para estar no Grammy Latino, comentando que no ano passado todos os artistas latinos indicados ao prêmio faziam parte de grandes gravadoras, enquanto muitos dos brasileiros eram independentes. “Devemos ocupar os espaços”, disse ela.

Marcelo Castello Branco então tomou a palavra para reforçar a importância do Grammy Latino, lembrando que os vencedores são escolhidos pela classe artística, diferentes de outras premiações televisivas, em que os vencedores são escolhidos através do voto do público, fazendo com que aquele com maior base de fãs seja premiado.

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Sergio Arbelaz, Gutie, Stenio Mattos, Leo Feijó e Paulo Almeida

A segunda mesa do dia trouxe o mercado de shows ao vivo para o debate. Com mediação de Paulo Almeida (Mais e Melhores), Sergio Arbelaz (Circulat), Leo Feijó (PUC RJ), Gutie (Recbeat) e Stenio Mattos (ABRAFEST) falaram um pouco sobre suas trajetórias. Gutie reforçou a noção de que é no palco o lugar onde os artistas ganham dinheiro de fato, afirmando que eles precisam se estruturar para tocar ao vivo, e ressaltou que os festivais independentes, como o Recbeat que é realizado no Recife, são grandes espaços para garimpar novos artistas e grandes vitrines para o artista independente. Ele também lamentou que a iniciativa privada dificilmente invista dinheiro em eventos, e que mesmo aqueles que pedem bilheteria, como o Rock in Rio, utilizam dinheiro público. “Não existe festival sem dinheiro público”, afirmou. Gutie ressaltou ainda que em Recife está havendo uma proliferação de novas casas de shows que recebem música autoral, algo que não existia na cidade.

Por sua vez, Leo Feijó ressaltou sobre como no Rio de Janeiro houve uma diminuição das casas de médio e pequeno porte, lamentando que nas pequenas venues não sejam permitidos o incentivo de dinheiro público, que, segundo ele, deveria ser “calibrado”. Feijó citou alguns números: em 2009, havia 409 estabelecimentos do tipo no Rio de Janeiro; em 2013, chegaram a mais de mil, diminuindo para menos de 100 em 2014. Paulo Almeida comentou que o Rio de Janeiro é uma cidade complicada geograficamente e perguntou se os editais teriam como olhar de maneira equilibrada para as necessidades das diferentes regiões da cidade. Segundo Feijó, sim. Para ele, seria importante pensar o território, com um ideal de uma casa de show a cada seis quilômetros, para que determinada parcela do público não precisasse pegar duas conduções para ver um show. Ele lembrou também que os artistas em início de carreira dependem e precisam dos pequenos palcos e questionou o uso do dinheiro público pelo Rock in Rio, que este ano abriu mão da Lei Rouanet: “Será que (o festival) precisa (de dinheiro público)?”

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Stenio Mattos ressaltou que todos os festivais ligados à ABRAFEST são gratuitos, dizendo que não consegue imaginar os festivais se manterem sem incentivo público. Ele contou um pouco sobre o Festival de Rio das Ostras (RJ) e sobre como conseguiram criar uma cultura alternativa à do petróleo, aproveitando o turismo da cidade. Se no início a intenção era aproveitar os turistas para criar público, hoje o público se dirige a Rio das Ostras especialmente para o festival, movimentando a cidade em época de baixa temporada (este ano foi de 20 a 23 de agosto).

O colombiano Sergio Arbelaez contou que no caso do seu festival, o Circulart, não há farto público local, atraindo mais os turistas. Ele comentou que Guadalajara (México) sofre o mesmo problema do Rio, carecendo de pequenos espaços para conectar e desenvolver o público, lembrando que tais espaços são necessários para a construção de uma cena.

Arbelaez ressaltou também a pouca comunicação que existe entre países da América Latina, destacando a importância de se criar pontos de encontro para que se efetive tal comunicação. “Eu sei mais sobre Nova York do que o Brasil. Por que estamos separados se estamos tão perto?”, indagou.

Perguntados sobre o que era necessário para a construção de um público, Leo Feijó destacou a importância de se entender o mercado em que o artista está inserido para que esse público seja conquistado. Já Gutie ressaltou a relevância do talento e do trabalho, dizendo que é muito importante ter um material bem gravado e fazer shows bem feitos. E fez uma ressalva: “Ainda assim, é difícil. Depois que entra no mercado, a banda tem de três a cinco anos para acontecer. Se não acontece nada, começa a desandar, a banda mesmo desanima”.

Sergio Arbelaz, Gutie, Stenio Mattos, Leo Feijó e o mediador Paulo Almeida

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Sincronização

Na última mesa de debate do primeiro dia, o tema discutido foi a “Sincronização”, com estudo de caso sobre o seriado “Gaby Estrella”, do canal pago Gloob. Mark Frieser, da Sync Summit, uma das patrocinadoras do evento, mediou o debate que contou com a participação do supervisor musical Joel C. High (High Media Group) e ainda dos cantores/compositores Jules Vandystadt e Lui Coimbra, responsáveis pela trilha sonora da série. Eles apresentaram e falaram sobre o processo de produção do programa, indicado a diversos prêmios, entre eles o Emmy Kids, e cuja terceira temporada estreou recentemente. O foco da mesa foi no que aprenderam com o supervisor musical americano a respeito das várias formas de se gravar um musical para a TV: buscando que o canto soasse natural, Joel C. High trouxe a ideia de se gravar os atores cantando ao vivo durante as cenas e, para a versão final, juntar com o material já gravado, evitando com que as cenas ficassem artificiais. Para isso, diversos clipes da primeira temporada da série foram transmitidos, ilustrando o que se dizia no palco.

Jules Vandystadt falou ainda sobre o desafio de se trabalhar com atores que não tinham experiência em musicais, principalmente as crianças. Uma de suas técnicas consistiu em mostrar a letra para elas e perguntar o que elas sentiam ao lê-las. A partir daí, entrava-se com técnicas de canto propriamente ditas. Os compositores contaram ainda sobre o processo de composição: segundo eles, a criadora da série diz as palavras ou expressões que quer na música e, a partir daí, eles compõem. Depois de pronta, a letra passa para a roteirista, a produtora e, finalmente, para o canal – e este pode ser muito específico, exigindo que determinadas palavras sejam trocadas. Os palestrantes ainda falaram sobre o desafio que foi compor toda a trilha de 15 faixas de uma só vez para a primeira temporada, com Joel C. High comentando como nas séries americanas o comum é que se encomendem duas músicas por episódio.

Mark Frieser, Jules Vandystadt, Lui Coimbra e Joel C. High

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Workshops

Ao longo do dia, ainda aconteceram workshops, como o “Sincronização e o mercado audiovisual brasileiro (1ª parte)”, com a Dra. Raquel Lemos (Lemos Consultoria). Em sua apresentação, ela mostrou, entre outras coisas, uma visão geral e alguns números da produção audiovisual brasileira, o orçamento e os direitos visuais, utilizando como base o mercado de animação do país. Ela ainda apresentou alguns modelos de negócio VOD (video on demand), como o Netflix e o Now, e comentou as diferenças entre eles. Em suas recomendações para a fidelização, ela citou o entendimento do bom momento do mercado nacional; reconhecer e capitalizar as oportunidades de valor; trocar experiências e mapear o acervo.

Os outros workshops foram “Execução Pública/Direitos Conexos”, com a cofundadora da agência Media IP Rights Ltd de Londres, Hanna Grzeszczyk, que falou sobre como arrecadar ou melhorar a arrecadação de Direitos Conexos no exterior; “Negócios nos Estados Unidos”, com Neeta Ragoowansi e Jennifer Newman Sharpe, e uma masterclass de composição, ministrada por Jan Sparby e Johan Wåhlander, Iphigenia Publishing, Thomas Roth e Roberto Menescal.

1Paulo da Costa e Silva, Bruno Vieira, Ricardo Moreira, Beto Carvalho e Zé Márcio

O dia 15 O segundo dia do Rio Music Buzz começou discutindo as rádios e também a remuneração através do modelo de streaming. Na primeira mesa, mediada pelo jornalista Paulo da Costa e Silva, com participação de Ricardo Moreira (Rádio Brasileira), Eduardo Bonadio (Crowley), Zé Márcio (Rádio Ibiza), Bruno Vieira (Rdio) e do radialista Beto Carvalho, foi debatido o papel da rádio na promoção da música e as mudanças que este veículo de comunicação sofreu ao longo do tempo. Beto Carvalho comentou que a repetição das músicas era importante para que o ouvinte assimilasse o artista, mas que isso, por outro lado, tirava o espaço de outros e que em pouco tempo o público já conhece toda a programação da rádio e não há mais novidades. Complementando a explanação de Beto Carvalho, Ricardo Moreira lembrou o problema do “jabá” (pagamento para execução de músicas) nas rádios e falou sobre como procura dar espaço para outras músicas do artista além da de trabalho em sua webradio, para que o

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público não fique preso a apenas uma faixa. Segundo ele, por essa liberdade de curadoria, as webradios ainda podem crescer muito e atrair um público que se identifique com a visão dos curadores e goste de se surpreender. Por outro lado, o radialista criticou a massa, dizendo que hoje as pessoas não param para pensar sobre uma letra, que perderam a capacidade de digerir informação e preferem consumir músicas rápidas apenas como entretenimento. Moreira ressaltou que falta uma maior educação, principalmente musical, e que a responsabilidade de educar não é da mídia. Apesar disso, ele também criticou o modelo engessado da programação das rádios, dizendo que “é velho tocar música nova ruim e é novo tocar música velha boa”. Beto Carvalho creditou essa mudança no gosto do público à massificação de determinadas músicas, dizendo que ocorreu de tal forma que hoje a MPB é mais bem aceita em outros países do que no Brasil, onde grandes artistas do país são desconhecidos do grande público. Falando sobre a promoção da música, Zé Márcio afirmou que “não existe nada de feio em fazer negócio com a música e ganhar dinheiro com cultura”. Ele mencionou algumas ações que faz através da música ambiente e da parceria com marcas, como a da grife de roupas femininas Farm, “linkando” a imagem de um artista a determinada marca, através de playlists, por exemplo. Bruno Vieira, do serviço de streaming Rdio, concordou com a importância das playlists na promoção da música e destacou também o aspecto social dos serviços de streaming, que permite que o público siga artistas, celebridades e formadores de opinião em geral e tenha acesso a diversas músicas que através do modelo de rádio tradicional ele não teria. Vieira ainda ressaltou que o modelo digital permite o resgate de artistas antigos que estavam esquecidos, de tal forma que alguns chegam até a ser relançados em meio físico, como um vinil, para um nicho de público. Ele voltou um pouco à discussão sobre o gosto da massa, fazendo a consideração de que a MPB não fala sobre a realidade da massa de hoje. “O Brasil é muito grande. O sertanejo fala sobre o dia a dia do cara do interior; a MPB, não”, lembrou. Eduardo Bonadio finalizou a mesa dizendo que mesmo com a competição digital, as rádios sempre se renovaram e, segundo ele, continuarão se renovando, lembrando que no interior do país elas ainda têm muita força.

Paulo Lima, Emmanuel Zunz, Maurício Bussab, Nando Luaces, Marcos Chomen e Steve Mayall

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Streaming e download A monetização do streaming foi assunto no segundo painel, que reuniu distribuidores como Marcos Chomen (CD Baby), Emmanuel Zunz (ONErpm), Maurício Bussab (Tratore), Steve Mayall (Music Ally), Nando Luaces (Altafonte) e Paulo Lima (iMúsica), o primeiro a ter a palavra. Lima apresentou alguns dados demonstrando o aumento do streaming, afirmando que este é o modelo do futuro e chamando atenção para a troca no consumo de música: se antes o ouvinte pagava para ter posse sobre a música, hoje ele acessa um banco de dados para escolher o que quer ouvir. Marcos Chomen aproveitou para observar que, ainda que o streaming seja um modelo que veio para ficar – decretando, inclusive, o fim do download –, muitos integrantes da própria indústria não utilizam o serviço, o que, em sua opinião, é extremamente necessário para fortalecer o negócio. “Não pode ir a um evento (da indústria musical) e ninguém usar o serviço, e depois reclamar que ele não dá dinheiro. Nós somos multiplicadores, precisamos ser usuários”, afirmou. Reforçando o comentário, ele citou também as bandas e produtores independentes, os quais, segundo ele, 30% a 40% não distribuem seus trabalhos digitalmente, presos na crença da baixa remuneração. Maurício Bussab aproveitou o ensejo para apresentar sua perspectiva em relação ao CD e ao streaming, a partir da sua empresa, a Tratore, cujos números são referentes apenas ao Brasil. Segundo ele, a empresa, que começou há 13 anos distribuindo CDs, hoje distribui também download e streaming. Segundo seus dados, de 2009 até o momento, a venda de CDS permaneceu muito baixa, mas estável, o download subiu e o streaming está “explodindo”: 60% da venda de fonograma na Tratore é em streaming. “Não está havendo canibalização, é tudo aumento agregado de novos consumidores, de usuários que antes, provavelmente, estavam na pirataria”. Chomen, porém, respondeu que essa realidade não é a mesma da CD Baby, que distribuí CDs físicos mundialmente no varejo, através da Amazon.com. “Nós tivemos uma queda de 25%. Não podemos entrar apenas na redoma do Brasil”, rebateu. Paulo Lima, cuja empresa iMúsica foi adquirida pela empresa de telefonia Claro, lembrou que o streaming precisa de smartphones e banda larga para ser utilizado. Ele ressaltou que o Brasil é um país pobre, onde 85% dos usuários utiliza o celular no modo pré-pago, gastando em média R$ 15,00 por mês com créditos, e dessa maneira, um modelo de negócio que depende de uma assinatura de R$ 14,90 por mês está equivocado no país. “Como um usuário vai pagar por um serviço de música, se ele gasta (o mesmo valor da assinatura) para fazer tudo? Fico preocupado com um modelo de negócio que depende de um preço que está equivocado. A gente precisa de um volume muito grande de gente usando um serviço para que tenha retorno para a indústria, para a gravadora e para os artistas”, observou. O espanhol Nando Luaces comentou que, em sua opinião, o grande problema atual é definir qual é o valor da música. “O dinheiro está em outras indústrias, como a de entretenimento, redes sociais, a mobile. Há muitos negócios, mas o dinheiro muitas vezes não chega aos proprietários. Na América Latina, as visualizações têm um sexto ou um sétimo menos que o valor nos EUA, e em alguns lugares elas simplesmente não valem nada”. Para Steve Mayall, a indústria “criou um monstro” com o Youtube: se do ponto de vista do marketing o serviço é “fantástico”, do ponto de vista dos negócios é horrível, devido ao baixo pagamento. “Precisamos que o YouTube pague mais, mas como conseguir isso?”, indagou. Emmanuel Zunz, por sua vez, reconheceu no YouTube uma excelente plataforma e um grande parceiro, se dizendo grato por eles e lembrando que era a única plataforma do gênero na América Latina durante muito tempo. Para ele, esta é uma questão complexa, em que o

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serviço precisa se esforçar para vender mais anúncios. Paulo Lima aproveitou para frisar que se faz necessário separar o streaming grátis daquele que é pago, como o próprio YouTube e o Spotify Free, lembrando que o YouTube começou no Brasil muito antes que todos os outros serviços, sempre gratuitamente, mas que hoje a música dessa maneira também se torna mobile. Ele ressaltou que existem diversos usuários distintos que vão utilizar o serviço de maneiras distintas e que se um usuário quer usar de graça no celular, ele precisa de um plano de dados que permita, mas “essa não é a realidade de 85% dos brasileiros. Então, esses 85% não utilizarão o serviço pago, pois isso acabaria com seus planos de dados”. Segundo ele, se a música precisa ser paga, cabe às operadoras de telefonia criar mecanismos que possibilitem essa cobrança e utilização, como, por exemplo, incluir serviços de música em seus pacotes, de maneira que seja adequado ao bolso de cada usuário. “Em 2015 o streaming já passou o download. O Spotify está há dois anos no Brasil, a Apple acaba de lançar o AppleMusic. É necessário que se tenha consciência de que o consumo mudou”, afirmou. Apresentando alguns dados interessantes a respeito da remuneração dos artistas brasileiros distribuídos pela Tratore, Bussab declarou ter feito um levantamento sobre streaming x download x físico utilizando diversos artistas, desde os muito conhecidos, com mais de um milhão de seguidores no Facebook, até os menos, com alguns milhares. A pergunta que ele queria responder era a seguinte: “Será que essa transição do download para o streaming está beneficiando mais determinados artistas do que outros? Alguns estão ganhando mais que outros?”. O resultado foi de que a arrancada do streaming está acontecendo para todos os artistas, de todas as categorias e gêneros. Segundo ele, ainda que o valor unitário seja pequeno e o pagamento seja baixo, todos os artistas estão ganhando mais agora que o streaming está disponível. Ele concordou que o YouTube seja uma exceção por não querer investir em serviços pagos: “Eles, nós e os artistas estamos ganhando menos dinheiro”. Paulo Lima lembrou ainda que o YouTube também atua em outro foco, como uma vitrine onde se pode garimpar novos talentos.

Nando Luaces, Emmanuel Zunz, Paulo Lima, Luciana Pegorer, Maurício Bussab e Steve Mayall

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Legislação e mercado No retorno do almoço, a discussão foi sobre legislação e a reação do mercado às mudanças na forma como a música é comprada nos dias de hoje, ficando em uma área cinzenta entre o direito de reprodução e a execução pública. Para debater a questão foram convidados José Vaz, representante do Ministério da Cultura (MinC), Marisa Gandelman (UBC), Marcelo Goyanes (Murta Goyanes Adv.) e a americana Neeta Ragoowansi, que ofereceu uma perspectiva de fora do país. A mediação ficou por conta de Fernanda Freitas (Escritório Cultural). O primeiro a se apresentar foi o coordenador-geral de difusão e negociação em direitos autorais e de acesso à cultura, José Vaz, que falou sobre como o desafio que a complexidade do ambiente digital trouxe para o Ministério o obriga a pensar fora da caixa. Segundo ele, a questão sobre qual direito que está em jogo no uso digital é complexa, porque a lei que está em vigor, por não ser clara, permite todo tipo de interpretação: por um lado, o ECAD defende que o streaming é execução pública e que cabe à entidade a administração desses direitos. Por outro lado, os produtores fonográficos rebatem, dizendo que se trata de uma forma de distribuição. E há ainda a UBEM, que também reconhece como sendo uma execução pública o streaming que não é interativo, como os canais de transmissão de rádios convencionais e transmissões ao vivo via web. Vaz afirmou que o ministério está atuando como mediador, e que o interesse é que o mercado ofereça condições para o negócio crescer, de maneira a expandir a música brasileira. A busca, segundo ele, é por um consenso e apenas se, ao fim, este não for possível é que seria necessário buscar uma saída legislativa. Por sua vez, Marisa Gandelman disse não ter uma visão positivista de que a lei promoveria determinados comportamentos ou que a tecnologia demande mudanças na lei. Ela esclareceu que as organizações de gestão coletiva não significam que um grupo se uniu para recolher o dinheiro e repartir; antes, foram criadas por compositores, por autores que entendem que aquela é a vida deles em uma realidade onde já existe um mercado e que, então, eles deveriam se juntar para exercer seus direitos. “Não é simplesmente uma estrutura de cobrança, documentação e distribuição. É mais que isso: a UBC significa a união dos compositores para defender seus interesses, e desde a sua fundação, em 1942, se mantém fiel a seus princípios”, afirmou ela. Para Gandelman, a ideia de construir um consenso deveria ser puramente de negociação e não “uma briga para ver quem tem razão”. Ela disse ainda defender o modelo de gestão coletiva e que não acha que seja o papel do governo e da instrução normativa obrigar as pessoas “a fazer assim ou assado”.

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Marisa Gandelman, José Vaz, Neeta Ragoowansi, Fernanda Freitas e Marcelo Goyanes

Marcelo Goyanes fez da sua fala uma apresentação, discutindo sobre o muito utilizado recurso de proteção da propriedade intelectual chamado de blocking injunctions, que consiste no bloqueio, pelo provedor, do acesso do usuário ao site que utiliza material ilícito mediante interrupção do tráfego de dados, tornando o site indisponível aos usuários do provedor. Ele comentou ainda sobre várias medidas legais tomadas ao longo dos anos por países como Estados Unidos e Inglaterra para coibir o acesso a material ilícito e esclareceu sobre como funciona a lei no Brasil através do Marco Civil, citando que o provedor de conexão não responde por danos de conteúdo de terceiros. “O provedor de conteúdo de terceiros responde apenas se, depois de intimado judicialmente de ordem específica, deixar de remover o conteúdo e o provedor de conteúdo próprio sempre responde por atos que tenha praticado”, afirmou. Esclarecendo sobre como funcionam as leis nos Estados Unidos, a advogada Neeta Ragoowansi disse que as leis de direitos autorais americanas são muito parecidas e que os problemas e as perguntas que se fazem na esfera legal também são similares, como quais são os direitos que os detentores de copyright e criadores têm no mercado digital? E como fazer essa divisão entre compositores, editores, gravadoras e artistas? O que deve ser gerenciado coletivamente e o que deve ser negociado privadamente de negócio para negócio? O governo deve intervir ou não? Segundo ela, os serviços digitais precisam ter muito clara a distinção se as suas plataformas são interativas ou não – tendo como melhor exemplo o Pandora, que segundo ela gera vários royalties para a indústria da música e que não é uma estação de rádio, mas uma plataforma de descoberta, em que o usuário cria um canal de uma banda ou artista e esse canal fornece as músicas sem que o usuário possa escolher aquela que quer ouvir e, em meio a essas músicas, ele ainda toca outras de alguns artistas similares. Para Neeta, essa distinção entre interativo e não interativo é uma das perguntas mais importantes que os serviços digitais devem fazer hoje. Ela ainda aproveitou para colocar uma outra questão na mesa, que seriam os limites geográficos do streaming: “Por exemplo, se você é um canal brasileiro e está fazendo streaming nos Estados Unidos, são as leis dos Estados Unidos que valem?”.

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Últimos painéis do dia 15 Logo que o segundo painel foi encerrado, Gustavo Vasconcellos (GRV) subiu ao palco para falar sobre a 1ª edição do Prêmio Profissionais da Música, realizada em Brasília entre os dias 28 e 30 de abril deste ano, que contou com workshops, painéis, showcases e talkshows. Vasconcellos fez uma rápida apresentação do evento, mostrando números e gráficos (mais de 900 inscrições, 38 categorias contempladas) e falando sobre alguns vencedores e homenageados. Ele ainda comentou sobre como foi o processo de inscrição e escolha dos vitoriosos, apresentando o júri formado pela diretoria da ABMI, e falou sobre a próxima edição, que acontecerá em abril de 2016, e terá como diferenciais o aumento das categorias, diversificação da comissão julgadora e alteração no processo de votação, lembrando a todos que as inscrições abrem em novembro deste ano e devem ser feitas no site da premiação.

Tuninho Galante, Rodrigo Mezzomo, Bruno Garschagen e Eder Borges

O ciclo de painéis do dia foi encerrado com um debate sobre o Estado na economia da música, que começou de maneira polêmica, com parte do público deixando o teatro quando o professor de Direito e advogado empresarial Rodrigo Mezzomo afirmou que o Brasil é um país socialista. A mesa acabou sendo a mais vazia de todo o evento, com pouco mais de 20 pessoas assistindo até o fim, fato que foi lamentado pelo escritor e professor de ciência política Bruno Garschagen: “Espero que (as pessoas tenham saído) por outros motivos que não ideológicos”. Antes do debate, Garschagen fez uma apresentação baseada no tema do seu livro “Pare de acreditar no governo – porque os brasileiros não acreditam nos políticos e amam o Estado” (Record), lançado em maio deste ano. Em sua fala, o autor afirmou que no Brasil nós vivemos um paradoxo, em que ao mesmo tempo em que a população não confia na classe política, ela deseja que o Estado seja o grande agente motor do desenvolvimento social, político e econômico e que em seu livro ele busca explicar este paradoxo. Garschagen encerrou sua apresentação deixando uma reflexão para a plateia: “Vocês acham, sinceramente, que o Estado deve ampliar a interferência no mercado da música, interferência que já existe em algum grau, via burocracia, carga tributária e outras dimensões que vocês conhecem mais do que eu? Vocês acham que esse governo deve tomar as rédeas de um aspecto tão importante

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de direito que diz respeito diretamente à vida desse mercado?” Em seguida, subiram ao palco o compositor e produtor Tuninho Galante, o advogado supracitado, Rodrigo Mezzomo, e o integrante da banda Os Reaças e coordenador do Movimento Brasil Livre de Curitiba, Eder Borges. Eder comentou que o movimento liberal cresceu muito no Brasil e se mostra como uma alternativa, sobretudo de viés econômico, mas também cultural, no que diz respeito à liberdade do indivíduo e lançou a pergunta central do debate, “Como o pensamento liberal pode servir para o mercado da música?”.

Garschagen pontuou que não é exatamente interessante buscar soluções dentro de ideologias, já que isso tiraria a possibilidade de autonomia fora de uma ideologia ou outra; para ele, é melhor falar em intervencionismo ou não intervencionismo do Estado. Segundo ele, muitas coisas seriam resolvidas se fosse possível conseguir restaurar o estado anterior, onde havia um grau de intervencionismo menor, sem necessariamente recorrer a ideologias. “Se essa redução da intervenção, voltando ao estado anterior, é uma solução liberal ou conservadora, não há problema em relação a isso. Mas se o problema é o intervencionismo, a gente tem de lidar com isso de alguma forma, e a única forma de lidar é atacar em duas frentes: tentando derrubar todos os projetos de lei que hoje atrapalham a vida em sociedade ou a vida econômica, e, ao mesmo tempo, mostrar para as pessoas que esse problema existe, é sério, que cria uma série de (outros) problemas, e cria uma relação de dependência, cria uma ideia de direitos que têm de ser satisfeitos pelo Estado, e isso não tem fim”, concluiu.

Para Mezzomo, o Brasil é um país onde a dimensão do Estado se avolumou de tal forma que os espaços do indivíduo e da iniciativa privada são muito poucos. “No mercado da música nós temos os mesmos empecilhos que nos outros setores. Por exemplo, para um músico adquirir determinados equipamentos, montar sua banda, ter acesso a softwares que permitam a editoração, ou seja, empreender, é uma tarefa hercúlea. Só loucos empreendem no Brasil”, afirmou. Tuninho Galante voltou à pergunta feita por Bruno Garschagen em sua apresentação para dizer que, do ponto de vista da criação musical, há um paradoxo: os artistas que anos atrás foram vanguarda no país, segundo ele, passaram a representar “uma coisa ruim”, disse, atribuindo a tais artistas a responsabilidade por tal intervenção governamental ocorrer. “No decorrer do tempo, alguns artistas associados a alguns interesses estranhos provocaram essa lei. A meu ver, eles, em vez de tomarem conta do seu negócio, que é o direito autoral, eles pediram que o pai Governo tomasse conta para eles. Em vez de esses artistas lutarem dentro de suas associações de gestão coletiva de direito autoral, em vez de dialogarem com seus pares, eles foram atrás do papai Governo. Fizeram esse movimento, foram para Brasília, pressionaram os deputados, pressionaram o Senado, tiraram fotos com a presidente, para que essa lei absurdamente intervencionista passasse”, comentou referindo-se ao grupo Procure Saber, que, de acordo com ele, permitiu que os artistas fizessem um lobby no governo para que este interviesse na gestão coletiva de direito autoral. O que se configura em uma ironia, já que, segundo Galante, o maior inadimplente no pagamento de direitos autorais seria justamente o Governo, que utiliza as obras em rádios, televisões e eventos públicos e não paga. No momento em que o debate foi aberto para as perguntas do público, Marisa Gandelman pegou a palavra para fazer considerações a respeito do Governo, concordando com a afirmação de Garschagen de que as pessoas odeiam os políticos, mas adoram o Estado. “Ou seja, você é um grupo de comunicação poderoso, você é um artista que tem posição forte na mídia, você vai lá e manda. E não é o Estado, é o Governo. É o Governo que se permite fazer o que eles querem porque acham que depois eles mandam desfazer. E assim vai um governo que não tem política, não tem Estado, por que cadê o Estado? Isso é ser um Estado

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intervencionista? Na teoria que eu estudei, isso não é ser um Estado intervencionista, é Estado totalitário. É querer que nós todos sejamos um e que cantemos no mesmo tom.” Workshops do segundo dia Foram seis os workshops apresentados no segundo dia de evento. O primeiro foi ministrado por Marcos Chomen, da CD Baby, e abordou a responsabilidade do músico com o seu próprio trabalho. Ele abordou temas como o “darwinismo digital”, termo utilizado para se referir à evolução do consumo, quando a sociedade e a tecnologia evoluem mais rápido que a capacidade de se adaptar das companhias. Ele ofereceu alguns números sobre o crescimento do mercado digital e afirmou que “hoje em dia, mesmo numa gravadora grande, você precisa ter mentalidade de independente, você precisa trabalhar ao lado deles, mesmo na parte de rádios, promoção etc. Se você conseguir sincronizar isso tudo com as pessoas que estão te ajudando, eu creio que o resultado é dez vezes maior”, afirmou em sua apresentação. Chomen ainda explicou o que vem a ser a distribuição digital e os principais pontos da discussão sobre como distribuir (selos e artistas independentes podem distribuir álbum ou single, desde que tenham ISRC, licença de música cover, código de barras, compositor e editora); os direitos garantidos, lembrando que as distribuidoras digitais não funcionam como selos, gravadoras ou editoras, ou seja, os direitos permanecem sendo do selo ou do artista, que pode mudar de distribuidora quando desejar. Ele abordou ainda valores de custo e ganhos de licenciamento de sincronização e a importância de se utilizar as várias ferramentas das redes sociais, lembrando que o melhor é saber se adequar às mais corretas, sem a necessidade de se tentar usar todas.

Dra. Raquel Lemos

O workshop seguinte foi ministrado pela Dra. Raquel Lemos, que apresentou a segunda parte da “Sincronização e o mercado audiovisual brasileiro”. Nesta parte, Raquel Lemos abordou o plano empresarial musical; as obras musicais e a gestão dos direitos na coautoria; a gestão dos direitos e dinâmica do contrato de edição musical; a identificação de parcerias/referência

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musical; as contrapartidas negociais: royalties de transmissão, product placement e performance e os aspectos jurídicos do licenciamento e/ou cessão de direitos. O supervisor musical americano Joel C. High apresentou a primeira parte do workshop de “Organização de conteúdo musical para sincronização no audiovisual”, abordando a formatação e organização de conteúdo de acordo com o padrão usado pelos supervisores de música e estúdios americanos. Ele falou ainda sobre direitos e exclusividade; os diferentes formatos de áudio; como abordar um supervisor de música, e outras vias de acesso e licenciamento e pagamento (preços e cue sheets). O terceiro workshop do dia 15 teve como tema “Quais e como funcionam as ferramentas existentes nas diversas plataformas digitais e redes”, e foi ministrado por Filipe Calil, da Clapme. Calil falou um pouco a respeito da história recente da música, pontuando que se algum dia houve fórmula para o sucesso, hoje em dia isso não funciona mais. Ele mostrou uma linha do tempo com a história do mercado da música digital, com pouco mais que 15 anos, e analisou a liberdade de hoje cada um poder criar, divulgar e distribuir, porém esbarrando no problema da remuneração e da audiência. Ele afirmou que com o mercado da música mudando, a audiência também muda, e indagou: será que a música é o verdadeiro produto que move seu próprio mercado? Calil aproveitou para apresentar a plataforma Clapme e o seu Palco Premium, em que os artistas agendam transmissões exclusivas e os espectadores assistem mediante pagamento, gerando receita e repasse para os artistas. O dia contou ainda com os workshops de Paula Martini, da Martinica Digital, que explanou sobre “Engajamento digital: como transformar fãs em consumidores”, e de Carlla Bastos, gerente de marketing da Warner Music Brasil, que falou sobre estratégias digitais, explicando como montar um plano de lançamento, a importância da identificação de público-alvo, ferramentas digitais gratuitas, e mostrando ideias criativas e estudos de caso, com exemplos de Anitta, Tiê, Banda Mais Bonita da Cidade e outros.

Público durante debate no segundo dia do evento

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O último dia do RMB O terceiro e último dia do evento começou com o painel “Ambiente digital: estratégias criativas para desenvolver audiência”, com a participação de André Agra, Beatriz Ferraz e Arthur Fitzgibbon, da ONErpm, empresa parceira do evento. André Agra abriu o painel, apresentando a ONErpm como uma empresa de tecnologia de distribuição e divulgação de música, afirmando que a empresa surgiu por uma necessidade de se pensar diferente da maneira como a indústria tradicional estava pensando. “Até hoje me surpreende o fato de muita gente pensar da mesma forma e esperar resultados diferentes”, comentou Agra, atribuindo o sucesso do crescimento do streaming a essa nova maneira de se apresentar a música. Segundo ele, nosso mercado é antigo e mantém certos vícios de coisas que funcionavam muito bem e que hoje, apesar de ainda darem resultado, não são o único meio que existem. Para ilustrar sua afirmação, Agra comentou a diferença de alcance entre a mídia tradicional e a digital, dizendo que da forma tradicional, a empresa investe um anúncio em rádio ou TV mandando a mesma mensagem para todas as pessoas dentro daquele espaço, sem saber se elas gostam da mensagem ou não. “Eu tenho um esforço para alcançar um universo e um retorno pequeno em relação a esse alcance que eu estou projetando”, disse. Na mídia digital, por sua vez, há uma rede: “Eu posso alcançar uma pessoa e, se ela gostar, se ela tiver estímulo suficiente, ela vai replicar essa informação e alcançar outras pessoas que, se tiverem o mesmo estímulo, também vão replicar e alcançar outras pessoas com os mesmos interesses”. Segundo ele, é importante ter em mente que o mercado hoje é de nicho, e que há os pequenos e grandes nichos. Conseguindo entender esses nichos, se chega ao alcance, enviando ao usuário exatamente aquilo que ele quer. “A inteligência digital funciona dessa forma”, afirmou. Beatriz Ferraz ressaltou que a grande diferença é que os resultados podem ser mensurados em tempo real. Desta forma, é possível ser mais assertivo no alcance do público e conseguir chegar a um público mais segmentado, seja por gênero (gêneros parecidos, artistas semelhantes) ou até mesmo por comportamento (por exemplo, se uma pessoa gosta de correr ouvindo música eletrônica, pode ser que ela se interesse em ouvir um outro estilo apropriado, como o rap). Segundo ela, uma das melhores maneiras para trabalhar isso é através das playlists: “Muita gente que não é fã de música entra no aplicativo buscando algo para ouvir sem saber direito o quê. Então a pessoa vai atrás de uma playlist e lá ela acaba conhecendo artistas novos, acaba ouvindo coisas que ela não teria ouvido de outra forma”, garantiu. Arthur Fitzggibbon começou sua fala com uma pergunta ao público: “O que vem primeiro, a música ou o artista? Na minha opinião, é a música”, disse ele, comentando que muitas pessoas procuram a empresa buscando promover mais o artista, quando, na verdade, é a música que irá se perpetuar, tendo uma vida muito maior que a do artista. “A gente cria estratégias em cima da música”, ressaltando que quando se fala em estratégia criativa, é necessário que o artista tenha em mente também os prazos. “O pessoal esquece do digital, que é o que vai fomentar todas as mídias tradicionais que você tem. Raros são os que chegam com dois meses de antecedência; você precisa de um prazo de pelo menos trinta dias”. Entre o primeiro painel e o seguinte, houve tempo para duas apresentações: a de Guilherme Sampaio (Zamus) sobre o projeto “ReThink Music” e a transparência na indústria da música, e a do americano Robert Singerman (LyricFind), sobre a monetização de letras de música. Sampaio começou sua fala mostrando os números da indústria da música global, que movimenta US$ 45 bilhões, com o mercado de direito autoral movimentando US$ 25 bilhões, e perguntando por que os criadores ainda têm problemas para receber seus direitos e por que os serviços digitais vivem de investimentos externos. Ele apresentou alguns pontos de complexidade, como o fato de poucos artistas ainda sobreviverem já que são guiados mais pela

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paixão, enquanto se esquecem da promoção, da produção e da distribuição, e falou sobre a importância da transparência e de se educar o artista a buscar a informação, que muitas vezes está acessível nos sites. Em seguida, Robert Singerman subiu ao palco para apresentar o LyricFind, a maior plataforma legal de licenciamento de letras de música. Singerman ressaltou a importância das letras enquanto transmissoras de ideias, lembrando também que elas são os maiores objetos de busca em ferramentas como o Google e apontando para o fato de haver um lucrativo mercado de tradução das letras, ainda pouco explorado. Para ilustrar o poder da mensagem de uma letra de música e a importância da tradução desta, Singerman mostrou o videoclipe da faixa “Boa Esperança”, do novo álbum de Emicida, traduzido para o inglês.

Sérgio Martins, Bruno Teloli, Genildo Fonseca, Tracy Mann, Robert Singerman, Fábio Santana e o mediador

Leonardo Lichote

Gêneros musicais

Depois do almoço, foi a vez do terceiro painel do dia, "Gêneros musicais brasileiros", no qual Sérgio Martins (Lab344), Bruno Teloli (Spotify), Genildo Fonseca (Circuito Musical/ABMI), Fábio Santana (Vevo), Tracy Mann (SXSW) e Robert Singerman (LyricFind) discutiram sobre questões como o que mais toca, como o modelo do streaming pode mudar esta realidade, se há renovação e quais são as apostas da indústria, e ainda como a música brasileira é entendida e consumida internacionalmente, sob mediação do jornalista do jornal “O Globo” Leonardo Lichote.

Sérgio Martins contou como o selo da Lab344 surgiu em uma época em que não existia iTunes nem Spotify no Brasil e que isso foi um baque para eles, porque nem a mídia tradicional toca as músicas lançadas por eles. A saída para buscar e mobilizar o público foi através das redes sociais. Ele falou ainda sobre o ponto positivo de ser independente, que é não ter a vida útil de três meses para trabalhar um single no rádio ou um vídeo na televisão, podendo explorar ao

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máximo o conteúdo de um disco. Como exemplo, ele utilizou o último disco de Alanis Morissette, lançado em 2012 pela Lab344, que teve seis músicas em trilhas, sendo uma delas uma das mais tocadas neste ano e fazendo com que vendesse o dobro do que tinha vendido a antiga gravadora da cantora, de tal forma que o álbum ganhará uma edição especial ainda em 2015.

Bruno Teloli reforçou a importância das playlists, já discutidas em outros painéis, principalmente para a música brasileira, afirmando que a ideia é tentar mostrar para o usuário que não existe apenas um punhado de bons artistas nacionais, mas milhares. “A gente tenta colocá-los dentro dessas playlists de gênero, e consegue ver o resultado. Já houve caso de colocarmos a música de um artista desconhecido em uma playlist e, no dia seguinte, a música aparecer entre as mais tocadas. Na semana seguinte, mais três músicas dele estavam nas mais tocadas”, afirmou, dizendo que agora a iniciativa do Spotify Brasil é tentar explorar os artistas nacionais em playlists internacionais. Ele citou como exemplo o caso de Emicida, que poucos dias após lançar seu álbum mais recente, teve sua música de trabalho entre as mais tocadas do mundo inteiro, o que é muito difícil para um artista brasileiro, segundo ele. Teloli disse ainda que o Spotify também está tentando ajudar a renovar o cenário, já que é muito difícil uma estação de rádio ou canal de televisão tocar um artista novo.

Fábio Santana abordou ainda a questão dos algoritmos, pontuando que, se por um lado o recurso facilita os artistas a chegarem a novos públicos, ele não substitui a inteligência humana, que tem a sensibilidade para fazer a curadoria certa para os usuários.

Descontraído, Genildo Fonseca brincou dizendo que devia mudar seu nome para “Genildossauro”, confessando estar se sentindo perdido em meio a tantas siglas, e buscando se adaptar aos novos tempos “com dignidade”. Ele contou um pouco sobre sua trajetória, há 50 anos no mercado, sempre buscando diversificar e apoiando tanto o consagrado, quanto o novo e o experimental, e contou sobre sua parceria bem-sucedida com o músico Toquinho.

Falando sobre como a música é entendida nos Estados Unidos, Tracy Mann declarou achar que o festival SXSW ainda está muito preso à música brasileira do passado, desconhecendo o novo. Ela trouxe ainda alguns slides com declarações de diversos representantes da indústria musical americana sobre suas expectativas em relação à música brasileira. As opiniões eram bastante diversas, com alguns dizendo que o que se destaca na música brasileira era justamente o fato de ser brasileira; outros, que o apelo regional era o que dificultava na identificação do público com a música, e ainda houve quem dissesse que o importante era justamente fazer um tipo de música que o americano não tivesse em sua própria cultura.

Da plateia, uma produtora musical perguntou como uma banda poderia se destacar entre tantas alternativas e a melhor resposta veio de Thomas Roth, também na plateia: “O artista tem de buscar seu público, trabalhar com sua verdade. Se ficar tentando se adequar ao que está na moda, tem uma gigantesca chance de não dar certo. O sucesso é consequência do trabalho”, afirmou categoricamente. Tracy Mann aproveitou para complementar, dizendo que o empresário também deve ter a responsabilidade de criar uma rede para ajudar o artista.

Antes da última mesa do evento, Erik Gilbert (CV/Essential) fez uma apresentação sobre a Merlin, agência internacional de licenciamento de direitos fonográficos nos meios digitais com

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mais de 20 mil empresas associadas entre gravadoras e distribuidoras independentes e parceria do Rio Music Buzz, revelando sua última pesquisa de crescimento da música independente no mundo.

Luciana Pegorer encerrando o evento após debate com Chico Abreia, Berenice Sofiete, Sergio Rezende, Jessica

Sobhraj, Thomas Roth e José Celso Guida

Trilha sonora

A terceira e última mesa do debate teve como tema a “Marcas & Música: Trilha Sonora”, trazendo como palestrantes José Celso Guida (Cultura XChange), Chico Abreia (EcoMkt), Jessica Sobhraj (Rumblefish), Sergio Rezende (Comando S), Berenice Sofiete e Thomas Roth (produtor musical/ABMI). Na mesa, foi abordada a questão da sincronização de música no audiovisual de forma ampla, com ênfase na publicidade e na televisão.

José Celso abriu o painel comentando como as receitas de música têm há bastante tempo caído, com CDs e DVDs vendendo menos e, ainda que o download e o streaming estejam crescendo, ainda não sustentam. Ele falou um pouco sobre a criação da sua empresa de licenciamento, a Cultura XChange, idealizada para atender suas próprias necessidades e demandas de licenciamento. Oriundo da área de marketing estratégico, José Celso comentou que, no início, achava que seria simples fazer o mesmo para os envolvidos na indústria musical, mas descobriu que não era, então passou a refletir sobre as dificuldades que publicitários, produtoras de TV e todos os outros que precisam usar a música comercialmente têm para obter licenças de maneira mais rápida, fácil e em grande quantidade. Daí surgiu sua plataforma, e também outras do gênero, em que as pessoas interessadas em licenciar músicas podem se inscrever, procurar e ouvir o tipo de música que precisam e emitir uma proposta para o titular instantaneamente. “O negócio de licenciar música hoje no Brasil é complexo, mas nós estamos tentando torná-lo o mais simples possível, para que as receitas de licenciamento e

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sincronização sejam maiores e melhores”, garantiu.

Chico Abreia comentou que acredita no potencial das plataformas para facilitarem o licenciamento, já que se pode ter uma resposta definitiva sobre como e quanto tem de pagar de maneira mais rápida. Segundo ele, a publicidade continua procurando música da mesma forma que antes, indo atrás de gravadoras, editoras ou empresários e, enquanto isso, o tempo passa, o cliente pressiona e a demora acaba inviabilizando o projeto. Ele ainda afirmou que o mercado da publicidade vem se reinventado e muitos publicitários andam abandonando o barco devido à pressão.

Sobre a diferença entre o mercado brasileiro da sincronização em comparação ao americano, Jessica Sobhraj afirmou acreditar que nos Estados Unidos ele seja bem mais transparente. Segundo ela, o mercado americano é tão grande que as production libraries se tornaram a única maneira de gerenciar os acordos. Jessica comentou que a sua empresa, Humblefish, tem um dos catálogos mais vastos do mundo, já que a maior parte é de gravadoras e editoras independentes, e assim o volume de sincronização é tão alto que gira em torno de mais de 100 mil por dia. Para ela, esse sistema em que se pode utilizar uma ferramenta para pesquisar a música e baixar a licença imediatamente tem sido a chave para as productions libraries como a dela.

Em sua fala, Berenice Sofiete apresentou um panorama sobre o funcionamento do licenciamento na emissora de TV em que trabalhou. Segundo ela, autores como Manoel Carlos ou Gilberto Braga podem escolher as músicas que querem utilizar, porque sabem exatamente qual o perfil de determinado personagem. Uma vez decidida a música, são feitas reuniões com o diretor musical, o diretor da novela e o produtor musical, que vai compor as trilhas incidentais sobre os quais a empresa possui os direitos. E então, inicia-se a busca no mercado para procurar essas músicas, que não podem se restringir ao universo da novela: ela precisa ser trabalhada em outras plataformas. Como as novelas possuem trilhas nacionais e internacionais, é necessário fazer uma busca também no exterior, e o trabalho deles é conseguir autorização para todas as mídias em que as músicas serão trabalhadas, o território e o período de tempo que serão utilizadas. Ela ressaltou que não existe exclusividade sobre uma música – a menos que se esteja disposto a pagar mais.

Sofiete analisou também as diferenças de remuneração entre uma música nacional e uma internacional. Segundo ela, para se usar uma música como tema de novela nos dias de hoje, costumam ser pagos pouco mais de R$ 4 mil durante toda a novela – que também será exportada. Ela reconheceu que esse é um valor muito baixo para uma música que irá tocar todo dia, durante todos os meses de duração de uma novela, já que um único capítulo pode chegar a mais de US$ 80 mil. Apesar disso, ela lembrou que ter uma música em uma novela costuma ser um prestígio para os artistas brasileiros e muitas vezes ajuda a alavancar a carreira daqueles que estão parados, e também ressaltou que além dos R$ 4 mil, o artista recebe por execução pública, já que cada vez que a música toca, a emissora aciona o ECAD.

Por outro lado, artistas internacionais são mais difíceis, principalmente quando muito famosos, e não autorizam o uso por R$ 4 mil. Segundo ela, a remuneração para uma faixa internacional fica em torno de US$ 5 a US$ 6 mil, podendo chegar a US$ 10 mil – isso quando ela não é simplesmente negada. “Determinadas obras nem são autorizadas. Eles questionam muito

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sobre como é o personagem, querem saber a sinopse”, disse ela, informando ainda que uma música internacional como abertura de novela pode chegar a US$ 50 mil.

Sérgio Rezende falou um pouco sobre as atribuições da Comando S, sua produtora de som, dizendo que é responsabilidade dela pensar a identidade sonora das marcas. Ele fez questão de ressaltar que todo o processo criativo já vem pronto da agência: “Por exemplo, se a GM vai fazer o lançamento de um carro, a agência que decide o meio que vai usar, se vai usar a revista, a TV, se vai ser um jingle para o rádio, se vai ser uma música. Eu falo isso porque às vezes aparecem editoras ou compositores oferecendo um jingle para mostrar para o cliente, mas na verdade a estratégia é toda pensada muito antes”, informou ele, lembrando que o mercado é todo baseado em pesquisas: “Passa por cinqüenta, cem modelos até chegar a uma campanha em que eles acreditem. Eles fazem as pesquisam tentando minimizar qualquer ruído de comunicação, e é nessa ponta que entra a produtora de som, que não se restringe só à trilha e à música, mas também vai ajudar a pensar o design do som, a voz, a finalização”. Segundo ele, plataformas de licenciamento podem ajudar muito a agilizar o processo já que, com a questão do vai e vem das pesquisas, de roteiros que não dão certo, o tempo vai se esgotando e tempo é tudo dentro da publicidade.

Sobre as mudanças através dos tempos, Thomas Roth comentou que nos anos 70 havia uma relação de troca no licenciamento de músicas para a publicidade. Citando como exemplo os filmes da marca de cigarro Hollywood, Roth falou que naquela época a gravadora cedia o fonograma que ainda estava por sair para o comercial e isso gerava a troca: a gravadora dava a música de sucesso e recebia a mídia em retorno. O comercial era divulgado, e a gravadora vendia seus discos, já que o público cria uma relação afetiva com as músicas que passam na TV.

Roth também lembrou que ainda existem muitos comerciais com músicas originais ou regravações, tanto por uma questão de preço quanto pelo atraso nas negociações. “Às vezes a gravadora deixa de ganhar dinheiro porque o custo de regravar com uma produtora de som é infinitamente mais barato do que pagar os outros cinqüenta por cento da gravadora. E muitas vezes as editoras e gravadoras perdem pela falta de velocidade, porque demoram muito para responder – e o timing da propaganda é absolutamente rápido. Muitas vezes as agências não têm apenas (uma opção) de música: se não tiver aquela e tiver outra similar, que fale a mesma coisa, ele vai trocar”, afirmou.

Ele também ressaltou a importância de se estar atento ás mudanças do mercado, citando o caso do Superbowl como exemplo, em que, antigamente um artista recebia para cantar e, hoje, descobriu-se que a cantora americana Katy Perry precisou pagar para fazer parte do espetáculo. “Então, o que vale mais, o show da artista ou a mídia que vai ser dada a ela? É um sinal dos tempos e é importante que todos estejam atentos”.

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Roberta Pate, falando sobre o Spotify

A mulher na música

No último dia do evento, aconteceu o “Encontro Women in Music”, evento exclusivo para mulheres profissionais da música, apresentado pela associação internacional Women in Music, parceira do Rio Music Buzz e também a terceira parte do workshop da Dra. Raquel Lemos, “Sincronização e o mercado audiovisual brasileiro”, dessa vez abordando o mercado de jogos eletrônicos. Lemos mostrou um comparativo entre a indústria brasileira de games e a indústria mundial, mostrou dados econômicos, falou sobre as barreiras e oportunidades do cenário atual e também mostrou estratégias de desenvolvimento de conteúdo.

O supervisor de música dos Studios Trimark Pictures e Lionsgate Entertainment, Joel C. High, ministrou a segunda parte de seu workshop “Organização de conteúdo musical para sincronização no audiovisual”, em que falou sobre metadata e instrumentais, a capella e versões de 30 segundos. Houve ainda a palestra de Rafael Belmonte apresentando a Netshow.me, uma plataforma interativa de conteúdo, na qual os artistas realizam apresentações ao vivo que nunca são duplicadas por não ficarem arquivadas, proporcionando uma experiência única. Ele explicou que em sua plataforma, os artistas podem cobrar um preço fixo para o ingresso ou escolher a modalidade "pague o quanto quiser", ou ainda utilizar o pagamento social, que é feito através de uma divulgação em rede social e ainda podem recompensar seus principais apoiadores com prêmios diversos. Após o show, os artistas recebem um relatório com o faturamento e têm acesso às informações dos fãs que participaram da apresentação. Foram dados exemplos de bandas que já usaram a plataforma e a repercussão desta na mídia.

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Durante o dia, aconteceu ainda o workshop de Fernando Gomes (Gengibre Aceleradora de Ideias), “Armadilhas e maravilhas de um mundo conectado e self-service”, sobre como planejar uma boa campanha de acordo com o perfil do artista. Em sua fala, Gomes fez um rápido passeio pelas mudanças tecnológicas que nos trouxeram a um mercado em que nunca se consumiu tanta música.

O último dia do Rio Music Buzz foi finalizado com um encontro entre Bruno Vieira, Roberta Pate, Henrique Fares, Max Guimmer e Fábio Santana, respectivamente representantes das plataformas Rdio, Spotify, Deezer e Napster com músicos, compositores e intérpretes. Cada um deles mostrou números e dados comparativos sobre seus serviços.

Thomas Roth, presidente da ABMI, encerrando o evento