revista teletime - 140 - jan/fev 2011

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Ano 14 n 0 140 jan/fev2011 www.teletime.com.br INFRAESTRUTURA O impacto das enchentes no Rio nas telecomunicações e o quê é feito para evitar novas tragédias ENTREVISTA Para técnico do Ipea, governo deveria usar a Oi para estimular políticas públicas QUERO SER UMA MVNO Porto Seguro e TIM fecham primeira parceria do gênero no país. Outras empresas seguem na fila para atuar como operadoras virtuais.

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Revista Teletime - 140 - Jan/Fev 2011

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INFRAESTRUTURAO impacto das enchentes no Rio nas telecomunicações e o quê é feito para evitar novas tragédias

ENTREVISTAPara técnico do Ipea, governo

deveria usar a Oi para estimular políticas públicas

quero ser uma mvnoPorto Seguro e TIM fecham primeira parceria do gênero no país.

Outras empresas seguem na fila para atuar como operadoras virtuais.

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Em janeiro foi finalmente forma-lizada a entrada da Portugal Telecom no grupo de controle da Oi. Não houve grandes sur-presas em relação à formatação

final do negócio, exceto o fato de que os portugueses acabaram ficando com uma participação até um pouco maior do que o inicialmente projetado: 22,38%, contando a participação direta (12,07%) e mais a parti-cipação indireta por meio da LF Tel e da AG Telecom. Quem acompanhou a operação de entrada da Portugal Telecom na Oi pela imprensa portuguesa e pelos comunicados oficiais e entrevistas dos executivos daquela operadora percebe claramente que para os portugueses, a presença no Brasil é questão de Estado. A Portugal Telecom chega na Oi com os mesmos poderes dos sócios contro-ladores brasileiros, e ainda coordenará os comitês de engenharia, redes, tecnologia, inovação e oferta de produtos, indicando o presidente destes grupos que têm, dentro da governança da Oi, a função de orientar a diretoria na tomada de decisão. Mas o poder mais significativo da Portugal Telecom tal-vez seja o de voto e veto que tem nas delibe-rações da LF Tel e da AG Telecom. Estas duas empresas são as principais controlado-ras da Oi, e a partir de agora qualquer deci-são relevante que elas venham a tomar na empresa brasileira passa pelo crivo da PT.

Não se discute que a Portugal Telecom, por ser um operador experiente e com his-tórico de atuação internacional e inovação tecnológica, terá muito a agregar para a Oi. Mas ficou faltando o outro lado da moeda. Quando o acordo entre os portugueses e a Oi foi anunciado, em julho do ano passado, a promessa era de que as participações seriam espelhadas. Ou seja, todos os poderes que os portugueses tivessem no Brasil, a operadora brasileira teria na Portugal Telecom. Até agora, não se sabe quando, como nem se a Oi terá mesmo os 10% intencionados de participação na Portugal Telecom. Muito menos se sabe que poderes de acionista terá, se terá poder de veto sobre questões relevantes, se indicará presidente de conse-lhos responsáveis pelo planejamento estra-tégico na área de redes, tecnologias e produ-

tos, se será acionista de algum outro contro-lador da Portugal Telecom. O mais provável é que nada disso aconteça. A Oi, dependen-do das condições do mercado, deve ser apenas mais um dos acionistas na Portugal Telecom, como o Banco Espírito Santo, Ongoing, Telefónica e tantos outros.

Nada disso seria um problema se não fosse o fato de, o tempo todo, o governo ter sido o principal patrocinador da Oi. Seja financeiramente, por meio do BNDES e dos fundos de pensão, para viabilizar a empresa após a privatização, ou por meio do apoio político para que a fusão com a Brasil Telecom acontecesse. Ou ainda, mais recen-temente, como apoiador do acerto com a Portugal Telecom. O governo utilizou um discurso nacionalista que, como se vê, era só discurso. Nesta edição, o pesquisador do Ipea João Maria de Oliveira chama a aten-ção para a perda de oportunidade de se usar a Oi para fomentar a tecnologia e a indústria nacionais ou como agente indutor do Plano Nacional de Banda Larga, assim como os portugueses fazem com a Portugal Telecom. Pelo que se sabe, a Portugal Telecom não é uma empresa menos capitalista, deficitária ou que não respeite seus acionistas.

•O ano começou com bons ventos no front

político. O Ministério das Comunicações parece ter, depois de um hiato de pelo menos sete anos, voltado a ser o formulador e o coordenador das políticas setoriais. O ministro Paulo Bernardo mostrou que rapi-damente está se familiarizando com os temas sem, contudo, mostrar maior ou menos alinhamento aos interesses das empresas de telecomunicações ou de radio-difusão, o que é ótimo sinal. Passada essa fase de adaptações, será o momento de pensar para frente. TELETIME considera que entre os temas relevantes que devem ser observados estão o futuro do serviço público de telecomunicações (STFC vs. banda larga), o problema da reversibilidade de meios, a revisão do marco legal das comunicações e também a revisão do modelo de telecom. É uma agenda bastante cheia para os próxi-mos quatro anos.

Cá, não se fez como lá

.:editorial Samuel Possebonsamuca@con ver ge com.com.br

Instituto Verificador de Circulação

Presidente Rubens Glasberg

diretores editoriais André Mermelstein Claudiney Santos

Samuel Possebon (Brasília)

diretor Comercial Manoel Fernandez

diretor Financeiro Otavio Jardanovski

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Consultor especial Cláudio Dascal

Coordenadora de Projetos especiais Letícia Cordeiro

redação Daniel Machado, Fernando Paiva (Rio de Janeiro), Helton Posseti e

Mariana Mazza (Brasília)

arte Edmur Cason (Direção de Arte);

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Débora Harue Torigoe (Assistente); Alexandre Barros (Colaborador); Bárbara Cason (Colaboradora)

departamento Comercial Rodrigo Arraes (Ger. de Negócios Online)

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Gerente de Circulação Gislaine Gaspar

marketing Elisa Leitão

Gisella Gimenez (Assistente)

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teletime é uma publicação mensal da Converge Comunicações - Rua Sergipe, 401,

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Número

Ano 14 | Jan/Fev11

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editorial 4 | Ponto de vista 36 | Produtos 37 | Ponto & ContraPonto 38

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ilustraÇÃo de CaPa: SERI

CaPaParceiros ou concorrentes?Pouco mais de um mês após publicação da regulamentação das MVNOs, primeiros pedidos chegam à Anatel. Operadoras, no entanto, resistem à ideia.

entrevistaPor trás dos númerosTécnico do Ipea detalha principais conclusões de estudo realizado pelo instituto que subsidiou o governo na formulação do Plano Nacional de Banda Larga.

serviÇos móveisTábua de salvaçãoJornais e revistas apostam nos tablets para conquistar e manter leitores e continuarem relevantes no cenário convergente.

inFraestruturaÁgua abaixoEnchentes e desmoronamentos na Serra Fluminense expõem um problema crônico: as redes não estão prontas para situações de emergência.

PolítiCaA cara do donoEm pouco mais de um mês, Paulo Bernardo imprime um novo ritmo e uma nova pauta ao Ministério das Comunicações, que volta a ter importância política.

GovernoImpasse funcionalPlano de demissão voluntária da antiga Telebrás deixou um passivo que agora tem que ser resolvido entre a nova estatal e a Anatel.

oPeraÇÃoInsônia saudávelEntrada da GVT no Rio de Janeiro e São Paulo em 2011 rouba o sono do presidente, mas faz a operadora acreditar que este será seu ano mais importante.

marketinGGolpe de mestreNova estratégia tarifária ajuda a TIM a conquistar 32 milhões de usuários em 18 meses, sair da crise e voltar a crescer.

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Pouco mais de um mês depois de ser aprovada a regulamentação que permitiu a criação das ope-radoras virtuais, ou Mobile Virtual Network Operators

(MVNO), a Anatel já contabiliza pelo menos um pedido de MVNO autorizada. Trata-se da Porto Seguro, que através de uma associação com a Datora Telecomunicações, pretende agregar o serviço de telefonia celular aos seus segu-rados. A Datora tem uma participação de 20% na empresa criada para explorar o serviço, a Porto Seguro Telecomunicações, e pretende ter mais uma MVNO ainda em 2011. “Foi uma surpresa para nós esse primeiro pedido já em janeiro”, afirma Nilo Pasquali, gerente de regulamentação de serviços móveis da Anatel.

A Porto Seguro tem hoje 500 mil veí-culos rastreados, serviço que usa o SIMCard de uma operadora móvel, mais 3 milhões de vidas seguradas e outros 3,8 milhões de veículos. Os números dão uma ideia do tamanho do mercado que a Porto Seguro Telecomunicações deverá explorar e provam aquilo que os especia-listas no assunto já preconizavam: MVNO é para um mercado de nicho.

A Datora será responsável por toda a parte técnica (interconexão com outras operadoras, faturamento e billing) e tam-bém pelo acordo com a operadora real – que, neste caso, é a TIM – modelo conhe-cido como MVNA (Mobile Virtual Network Aggregator). “Não existe nenhuma MVNO de sucesso no mundo sem a participação da operadora de origem”, afirma Daniel Fucks, diretor de inovação da Datora Telecom. Não existe, contudo, previsão para a Porto Seguro Telecomunicações entrar em operação.

O operadora brasileira mais preparada (e aberta a negociações), segundo fon-tes de mercado, é a TIM. Não é à toa, portanto, que a operadora fornecerá a rede

.:CaPa Helton [email protected]

Modelo complicadoTIM e Porto Seguro fecham primeiro acordo de MVNO pouco mais de um mês depois de publicada a regulamentação. Algumas operadoras, entretanto, ainda estão resistentes à novidade.

para o que deve ser a primeira MVNO do Brasil. A operadora teria montado uma equipe para cuidar da análise dos mode-los de negócios apresentados pelos inte-ressados e já teria contratado uma plata-forma de MVNE (Mobile Virtual Network Enabler) para conectar-se aos parceiros. Por meio de um comunicado, a operadora reitera sua avaliação positiva em relação às MVNOs e afirma que avalia as oportu-nidades de negócios existentes.

Mas as fontes ouvidas por TELETIME afirmam que a Oi e a Vivo são mais avessas a conversas sobre MVNO, enquanto a Claro tem se mostrado bastante refratária em relação ao modelo de autorizada, no qual a

MVNO tem mais autonomia. A Claro, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que não ia se pronunciar sobre o assunto. A Oi também disse que não ia comentar o assunto e a Vivo não atendeu ao pedido de entrevista até o fechamento desta edição.

Muitos interessados em montar ope-rações de MVNO citam a dificuldade em negociar com a operadora de origem. “As operadoras neste momento estão na retranca. Querem analisar o modelo, mas empurram você para o modelo creden-ciado, que é um ambiente em que elas têm total controle”, afirma Ulisses Campos, diretor-executivo da Abacomm. A companhia oferece hoje serviços como gestão de contas telefônicas e de parque de terminais de grandes corporações. Seus clientes são empresas com milhares de linhas móveis, mas que não têm tempo para cuidar da negociação por melhores planos com operadoras, checar se as faturas estão corretas, dar manu-tenção a aparelhos etc. Essas empresas preferem terceirizar essa gestão e para tanto contratam a Abacomm, que acaba atuando como uma intermediária entre seus clientes e as operadoras móveis. Ou seja, ela é quase uma MVNO do mundo corporativo, só não tem um contrato for-mal de aluguel de rede.

Segundo Campos, a ideia é oferecer um novo produto aos seus clientes que têm um grande volume de vendedores nas ruas, com é o caso da Avon. O exe-cutivo estima que seriam 7 milhões de representantes comerciais de empresas clientes da Abacomm que hoje já usam aplicativos no celular desenvolvidos pela companhia. A operação demanda inves-timentos entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões, estima ele. A Abacomm preten-de ela própria se tornar uma MVNO,

primeiramente no modelo credenciado e depois evoluir para o autorizado. “Tí -nhamos o objetivo de fazer o lançamento em abril, mas agora é mais adequado falar em julho”, revela.

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“Não existe NeNhuma mVNo de sucesso No muNdo sem a participação da operadora de origem”Daniel Fucks, da Datora Telecom

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quatro grandes operadoras que darão suporte a MVNO. Isso porque, para que a operadora possa fazer isso, é preciso ter escala. Se todos os clientes das MVNOs ficarem divididos entre as quatro grandes, elas não terão escala para manter a opera-ção. “É preciso dedicar uma parte da sua organização para fazer isso, por isso a escala é importante”, afirma ele. Na visão de Osato, as operadoras têm motivos de sobra para cederem suas redes às MVNOs. Primeiro porque o cliente de MVNO é muito fiel; dificilmente alguma outra ope-radora conseguirá roubá-lo, e é melhor tê-lo, mesmo que indiretamente. “A ques-tão toda é: será que eu vou maltratar um cara que vai me trazer clientes? Se uma operadora não der serviço para ele, tem outras três que querem dar”, diz.

Mobile bankingOs aplicativos de mobile banking exis-

tem há muito tempo, mas nunca houve uma aproximação maior entre os bancos e as operadoras móveis. As negociações entre esses dois setores esbarraram até aqui na vontade dos dois lados de serem “donos do cliente” e por isso ter uma par-ticipação maior na receita com os serviços bancários no celular. Na visão da Amdocs, entretanto, esse cenário pode mudar. A partir do momento em que os bancos podem montar sua operação móvel sem

Ricardo Distler, executivo sênior da área de mídia e telecomunicações da Accenture, também para os “candidatos de plantão” o

ganho com as MVNOs é marginal. “A ideia hoje não está muito madura nem entre as operadoras nem entre as MVNOs. É preciso encontrar áreas de convergências entre as partes”, diz ele.

O executivo afirma que o erro mais básico é lançar um serviço para concorrer com a operadora móvel. Neste caso, além de dificilmente a operadora real aceitar o modelo de negócio, a operação está fada-da ao insucesso. No caso dos varejistas, Distler afirma que eles precisam agregar valor ao negócio principal para fidelizar o cliente, e não para competir com as ope-radoras reais. O executivo cita o exemplo da MVNO da rede de lojas de eletrônicos Best Buy nos EUA. Os clientes da varejis-ta, ao comprarem notebooks, netbooks ou smartphones, podem contratar um plano de dados da própria loja no momento da compra. A negociação com a operadora, segundo Distler demorou dez meses. “Aqui o tempo é parecido, se houver ideias boas como essa”, diz ele.

O vice-presidente da Amdocs, fornece-dora de solução para MVNEs e MVNOs com 15 clientes ao redor do mundo, Renato Osato, acredita que não serão as

Outra potencial interessada no mercado de MVNO é a Spring Wireless, por motivos semelhantes aos da Abacomm. A Spring tem um relaciona-mento forte com os clientes corporativos porque em mui-tos casos é dona da linha, além de fornecer aplicativos de automação de força de vendas etc. Embora o presidente da empresa, Paulo Narcélio, jul-gue que a MVNO seja uma solução “interessante”, ele não está tão entusiasmado quanto os concorrentes. O executivo cita alguns pontos da regula-mentação que não são favoráveis, na perspectiva da Spring. Primeiro, o fato de a regulamentação permitir que os ban-cos, que também são clientes da empre-sa, criem sua própria MVNO. E, em segundo lugar, o custo do Fistel, que ficou a cargo da MVNO no modelo autorizado. “Acho que ninguém atentou a isso. De cara a MVNO já desembolsa R$ 26 por assinante, o que pode ser um problema para um nicho de baixa renda”, afirma Narcélio. O Fistel, vale lembrar, é a taxa de fiscalização paga anualmente pelos operadores por aparelho emissor de sinais de telecomunicações.

Neste momento, a Spring conversa com seus clientes para tentar identificar demanda, já que o assunto deve entrar na pauta da reunião do conselho de administração da empresa que acontece-rá em março. Do lado da operadora, Narcélio afirma que não haverá proble-mas, embora acredite que elas não tenham tanto estímulo em facilitar a entrada das MVNOs porque os planos de ligação intrarrede já cumprem o papel de estimular o tráfego. “Temos relaciona-mento quase diário com as operadoras. Isso não seria problema”, diz ele.

A consultoria Accenture também reco-nhece que há pouco interesse das opera-doras reais pelas MVNOs. Isso porque o ganho que elas terão é “marginal” perto da grande lucratividade do core-business. Além disso, as operadoras estão em pro-cesso de consolidação, como é o caso da Vivo, da Oi e da própria Claro que, sem alarde, está colocando em marcha a inte-gração com a Embratel. Nesse cenário, sobra menos tempo dentro das empresas para prospectar modelos alternativos, como o de MVNO.

Outro fato que coloca a MVNO no fim da lista de prioridade das teles é o alto nível de competição do mercado. Para

Entenda os modelos

O regulamento editado pela Anatel em novembro de 2010 prevê dois modelos de atuação para as MVNOs: autorizada e credenciada. A MVNO autorizada terá uma autorização de SMP e praticamente as mesmas obrigações perante a Anatel

que as operadoras de origem. O contrato de uso de radiofrequência entre a MVNO e a operadora de origem deverá ser aprovado pela agência reguladora. A MVNO autorizada é responsável por toda a parte de atendimento ao cliente, marketing, faturamento, billing etc.

Já a operadora credenciada é normalmente comparada com uma revenda ou um represente da operadora de origem, podendo agregar valor por meio de, por exemplo, marca, atendimento, serviços diferenciados etc. O contrato com uma operadora credenciada deverá apenas ser homologado pela Anatel. O serviço prestado por uma credenciada não é considerado um serviço de telecomunicações e, por isso, ela está livre do recolhimento de ICMS e outros tributos inerente ao serviço. A credenciada pode deter contrato com mais de uma operadora em uma área local, o que não é permitido à autorizada.

A MVNO autorizada e a credenciada poderão migrar suas bases de clientes para outra prestadora de origem. O regulamento, entretanto, é bastante livre e flexível para que as partes se organizem da forma que lhes for mais conveniente.

“a questão toda é: será que eu Vou maltratar um cara que Vai me trazer clieNtes? se uma operadora Não der serViço para ele, tem outras três que querem dar”Renato Osato, da Amdocs

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rede (MVNO), este problema está resolvi-do. “Se o pessoal acertar o modelo de negócio, isso vai deslanchar”, acredita Renato Osato.

Segundo ele, o segmento financeiro está entre os principais interessados neste negócio no Brasil. “Neste momento, todos os interessados fazem perguntas mais qualificadas. Mas o setor financeiro é o que está mais curioso”, diz ele.

Osato explica que a principal vanta-gem para um banco, assim como para qualquer outro interessado, é estar em contato com seus clientes no momento em que precisar através de SMS, por exemplo. “Uma campanha de SMS em qualquer operadora demora no mínimo seis meses”, afirma. No caso específico dos bancos, os celulares comercializados já viriam com aplicativos embarcados, com todos os

.:CaParequisitos técnicos de segurança, o que estimularia os clientes a realizar as tran-sações bancárias pelo celular.

Os outros mercados potencias para as MVNOs, na visão do vice-presidente da Amdocs, são o mercado corporativo e o varejo. No caso do varejo, o executi-vo mencionou o exemplo do Carrefour na Polônia. Osato explica que o objetivo não é ter lucro com a operação de tele-comunicações, mas sim impulsionar as vendas do supermercado. Os clientes do Carrefour na Polônia ganham minutos no celular na medida em que realizam compras na rede, o que faz com que eles voltem às lojas. Além disso, o Carrefour consegue informar seus clientes rapida-mente, através de SMS, sobre promo-ções dos produtos que estão perto do prazo de validade, por exemplo.

Executivos do Carrefour Brasil já disse-ram que estudam montar uma operação de MVNO no País, mas a companhia recusou o pedido de entrevista.

Segundo estudo da Amdocs, existem cerca de 600 MVNOs no mundo que res-pondem por cerca de 2% do mercado global de conexões móveis. Interessante notar que destas 600 operações, pouco mais de 160 pertencem a operadoras reais (veja tabela). O interesse das opera-doras reais é atingir mercados que a ope-ração tradicional não consegue e, vale lembrar, a regulamentação brasileira per-mite que a operadora, suas coligadas ou controladas, criem MVNOs. Isso abre a porta para que empresas como a Net Serviços, coligada da Claro; Banco do Brasil (que tem participação societária indireta na Oi por meio da Previ); ou empresas como CTBC e Sercomtel, que têm operações reais de celular, entrem no mercado de operadoras virtuais.

SIMCards customizadosO que existe no Brasil de mais próximo

de uma MVNO são os chips customizados com conteúdos religiosos ou de times de futebol e da cerveja Brahma, lançados pelo Titans Group em parceria com a Claro. Mino Mazzati, diretor da Titans, afirma que o chip do Timão (Corinthians) tem gerado portabilidade para a Claro, além da ARPU (receita média mensal por usuário) também ser maior. “O cliente tem identificação, ele é cliente por vontade própria. Não é simplesmente uma opção entre as operadoras”, diz ele. O projeto pioneiro, já com mais de dois anos, foi o CN Chama, chip para a comunidade reli-giosa ligada à Canção Nova.

Na opinião de Mazzati, o modelo de MVNO não é necessariamente o melhor para todos os nichos de mercado, como é o caso dos times de futebol. Isso porque é preciso colocar na ponta do lápis todos os custos, que no caso do modelo de autori-zada, envolve também estrutura de aten-dimento a clientes, coisa que um clube de futebol, por exemplo, não tem. Mais uma vez, a ideia de lançar uma operação que possa competir com as teles é descarta-da. “O que é difícil dar certo é criar uma nova marca. Seria uma aeiou sem rede”, exemplifica, citando a operadora aeiou, que opera em São Paulo mas até hoje não passou dos 20 mil clientes. O Titans Group planeja lançar chips customizados de novos clubes, de um programa de TV e de um grande varejo no segundo tri-mestre do ano.

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RegIão MVNoS (total) lIgadaS a uMa oPeRadoRa Real

África 5 1Américas 4 3Ásia-Pacífico 72 12Europa Oriental 34 19Europa Ocidental 357 110Oriente Médio 5 8EUA/Canadá 72 9Internacionais 53 -total 602 162

Fonte: Amdocs; Wireless Intelligence MVNO Tracking Tool; SVP Advisors, GSMA Wireless Inteligence, Telegeography

Base: 2º Tri/2010

Mercado global de MVNO por negócioNegóCIo MVNoS (total) lIgadaS a uMa

oPeRadoRa RealDesconto* 168 71Telecom** 117 14Varejo 77 14Étnico 64 11Mídia/Entretenimento 63 45Corporativo 56 6Roaming 46 1M2M 11 -total 602 162

Fonte: Amdocs; Wireless Intelligence MVNO Tracking Tool; SVP Advisors, GSMA Wireless Inteligence, TelegeographyBase: 2º Tri/2010* Mesmo serviço que a operadora real, mas com preço mais baixo** MVNO focada em oferecer serviços de telecom, mas com elementos de valor agregado como fatura organizada, SLA, qualidade de serviço (QoS), back-up etc

Mercado global de MVNO por região

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.:entrevista

Pela primeira vez em seus 46 anos de existência o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) realizou um

extenso estudo sobre o mercado de comunicação e telecomunicações, batizado de “Panorama da Comunicação e das Telecomunicações no Brasil”. O órgão, que é vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, partici­pou da formulação do Plano Nacional de Banda Larga, subsidiando o gover­no com informações sobre as condi­ções de acesso em banda larga no Brasil. E foi a partir das informações obtidas pelo Ipea que o governo cons­tatou que é preciso fomentar a com­petição para massificar o acesso a este serviço. Nesta entrevista, João Maria de Oliveira, técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, detalha as principais conclusões do estudo. Mesmo vinculado ao governo, João Maria critica o fato de nunca o Estado ter usado sua participação na Oi para estimular, de alguma forma, o desenvolvimento de tecnologia no País. Em relação ao unbundling, ele defende a polêmica opinião de que mesmo as redes de fibra devam ser ofertadas para os concorrentes das incumbents, como acontece em alguns países que conseguiram baratear o acesso em banda larga.

teletIMe o Ipea teve uma parti-cipação ativa na formulação do plano de banda larga? em que níveis?

João Maria de oliveira - Ba ­sicamente em dois itens. O primeiro é a questão da desoneração tributária embutida no PNBL. Quando nós fize­mos o primeiro estudo, uma das con­clusões a que chegamos é que dentro do modelo do Banco Mundial, no Brasil nós temos três áreas distintas. A área “A”, que é caracterizada basi­camente por ter dois ou três competi­dores; uma área “B”, caracterizada por um só ofertante; e uma área “C”,

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onde não existe nenhum. Essas três áreas não são isoladas. Em um único município você pode ter uma área “A”, uma área “B” e uma área “C”. Em função dessa classificação nós sugerimos alguns instrumentos de interferência através dos quais o governo pudesse massificar a utiliza­ção do acesso em banda larga. Já neste estudo a gente sugeria que a intervenção governamental fosse uti­lizada também para conseguir um nível de letramento digital para a população e também como estratégia para a implantação de uma política industrial para alguns setores. Foi a

se elas (as teles) têm o espaço regulatório que aiNda premia essa operação “Voz”, por que Vão aNtecipar o mercado de dados perdeNdo, digamos assim, a galiNha dos oVos de ouro”?

partir daí que nós participamos do grupo que formulou o PNBL. A nossa atuação foi nos estudos do modelo de negócio do plano e com relação à desoneração tributária de uma série de equipamentos.

Foi essa desoneração tributária a adotada pelo governo?

Sim. A desoneração tributária dos equipamentos diretamente envolvidos no processo de massificação da banda larga. Para o computador já existe a desoneração com a Lei de Informática, a Lei do Bem, e estava faltando espe­cificamente o modem. Tanto o modem

Para além do PNBLJoão Maria de Oliveira, pesquisador do Ipea, detalha a participação do instituto no plano de banda larga e defende o estímulo à indústria nacional através da Oi.

João Maria de Oliveira

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João Maria de Oliveira

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duas pontas. Quando a gente fala em comunicação de dados, o paradigma de cobrança é outro. Você passa a ter o que a gente chama de disponibilida­de. Colocados esses dois pressupos­tos, vem o terceiro ponto. O produto “dados” substitui o produto “voz”. E perceba que no Brasil produto “voz” tem um paradigma de cobrança, ainda mais com assinatura, que dá um nível de rentabilidade dessas ope­radoras mais alto. É natural. No pro­duto “dados” a rentabilidade é bem menor e isso não é característica só das operadoras brasileiras. No mundo inteiro é assim. Então, se elas têm o espaço regulatório que ainda premia essa operação “voz”, por que elas vão antecipar o mercado de dados per­dendo, digamos assim, a galinha dos ovos de ouro? Quanto mais aumenta a penetração de banda larga, diminui o faturamento das empresas com voz e, consequentemente, a lucratividade vai ser menor. Na voz, a lucratividade é maior, até porque boa parte dos investimentos já está feito. Mas esse é um processo que já aconteceu no

mundo inteiro. Eu acho muito sinto­mático quando você compara a renta­bilidade da Telefônica, uma empresa mundial que tem um padrão de servi­ço e de excelência, na Espanha e no Brasil. A do Brasil é muito maior. Porque eles oferecem um serviço melhor aqui? Não. É porque nós esta­mos ainda com voz e eles estão com dados há muito tempo. O espanhol pagava, por 1 Mbps em 2008, 9,99 euros. A gente não tem isso aqui.

Você acha que falta regulamen-tar isso de uma forma diferente?

Acho que falta competição. Essa é a conclusão a que a gente chegou no estudo do PNBL. Nós fizemos uma avaliação, baseada em um estudo de Harvard, sobre 16 economias. Como estava a questão das telecomunica­ções e quais eram as perspectivas em termos de acesso. Nós chegamos a algumas conclusões. O principal não é o fato de ser uma empresa pública ou privada. A competitividade foi o princípio básico dos países que con­

seguiram que os preços dos serviços baixassem e que têm uma oferta de serviços tecnologicamente de frontei­ra. Nos mercados da França, da Espanha, da Alemanha, Inglaterra, Japão, Austrália e EUA qualquer empresa pode passar a operar servi­ços de telecomunicações. E aí tem que entender que por trás disso, a estrutura física acaba sendo determi­nante para que essa competição se estabeleça. O caso da Alemanha, por exemplo, é emblemático, porque eles fizeram uma revisão regulatória quando perceberam que a regulação não possibilitava o unbundling em um nível que permitisse a competi­ção, que é o que está acontecendo com a nossa regulamentação. Nosso espaço regulatório até define lá o que é unbundling, mas terminou entre­gando para a operadora definir o preço que ela vai cobrar para que outro utilize a sua infraestrutura. Primeiro erro: a infraestrutura não é da concessionária, a infraestrutura é pública; ela (a concessionária) usa a infraestrutura.

Vocês chegam a mencionar que esse unbundling deve estar previsto inclusive para a evolução das redes, ou seja, para as redes de fibra. as incumbents argumentam que a rede de fibra é uma rede privada, e que portanto, não deve ser objeto de unbundling. Por esse ponto de vista, elas não teriam razão?

Teriam, se você partir do pressu­posto que a infraestrutura é dela, mas a infraestrutura não é dela. Até por­que o próprio investimento em infra­estrutura ela repassa todo para o serviço. Essa definição de serviço público e serviço privado já distorce toda a discussão posterior. Nós carac­terizamos os países que estão na ponta em termos de utilização da tec­nologia e com preços baixos, e olha­mos o que é comum entre eles. Então você começa a ver que em comum existem esses dois aspectos. Primeiro: o mercado é aberto, quem quiser entra. Não existem restrições. Se uma empresa estrangeira que não opera

móvel quanto o modem ADSL. Nós não fizemos essa análise de desonera­ção em cima dos serviços. Mas nesse primeiro estudo nós temos uma ava­liação do peso da carga tributária no Brasil, que é alta. Mas a gente viu que mesmo se nós reduzíssemos a carga tributária atual, ainda assim, compa­rativamente, o nosso preço seria cerca de oito vezes mais caro que o do mercado americano.

Se a carga fosse reduzida em quanto?

Mesmo se ela fosse retirada. Alíquota zero. Isso é um absurdo. Em termos de recomendações e ações no nível do investimento público, a gente preconizava a desoneração fiscal no nível do serviço. No plano de banda larga a gente trabalhou na desonera­ção dos equipamentos. Parte da Telebrasil contestou essa informação à época e contestou também o modelo do Banco Mundial, que a gente ado­tou para fazer a formulação de áreas “A”, “B” e “C”.

Sobre o preço dos serviços, o que se argumenta é que no Brasil dificilmente os clientes pagam tarifa cheia, por conta dos descontos promocionais.

A gente tem que fazer duas observações sobre isso. A primei­ra: é fácil eles (teles) dizerem, mas seria bom se eles abrissem os núme­ros. Nós pegamos algumas informa­ções da UIT (União Internacional de Telecomunicações), que são números deles repassados para a organização. A não ser que eles trabalhem com uns números para serem divulgados ofi­cialmente e internamente trabalhem com outros. A segunda é que sempre que se fala em preços eles remetem para a questão da telefonia móvel. E a telefonia móvel, apesar de ser cara também, não é o item mais caro quando a gente pensa em termos de banda larga. Até porque o nível de competitividade da telefonia móvel é maior do que na telefonia fixa. E aí acaba tirando o foco da questão prin­cipal, que é o fato de as empresas de serviços de telecomunicações, especi­ficamente de telefonia fixa, terem um espaço regulatório voltado para voz. A premissa básica de faturamento de voz, que é anterior a essa condição tecnológica atual, era a tarifação pelo tempo de uso e pela distância. Mas a comunicação de voz pressupunha

Nos últimos seis aNos a Velocidade com que o acesso à iNterNet em baNda larga eVoluiu Nas priNcipais ecoNomias do muNdo foi muito maior que No brasil.”

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14 TeleTime jan/Fev_2011

e tecnológicas da Oi muito mais do que o Brasil (o Estado) fez até hoje. Essa perspectiva de política pública e de instrumentos de fazer política pública é que a gente perdeu nos últi­mos 12 anos.

Mas aí não seria uma intervenção estatal indevida no mercado, em uma empresa privada? a livre com-petição não tem que prevalecer?

Perfeito. Mas veja só. Não é isso que a Espanha faz? Todos os outros países fazem. Se eu estou com uma empresa atuando naquele mercado, eu vou premiar os fornecedores do País, porque isso traz desenvolvimen­

to, um maior nível de conhecimento e uma série de outros fatores. Isso é natural, todas as nações fazem. É preciso ter cuidado. Não estou falan­do em reserva de mercado. Eu estou falando em dar algum diferencial competitivo. Essa discussão toda de padrão de TV digital, por exemplo, o que está por trás é toda uma indústria que vai, de alguma forma, ganhar com aquele padrão. Se você vai com­prar o mesmo produto de uma estran­geira, porque você não compra da

nacional? Você está estimulando a fazer pesquisa, a estar na ponta. O Brasil nos últimos 12 anos perdeu o assento que tinha em algumas defini­ções de padronização no mundo de telecom, por exemplo, o que termina influenciando no estabelecimento de uma indústria. Ao invés de sermos produtores de conhecimento, de tec­nologia, nós somos consumidores de toda a tecnologia que já vem pronta para cá. E aí nós estamos nos colo­cando na condição de subdesenvolvi­dos, mais uma vez.

eu vou levantar alguns aspectos que vocês tocam nos artigos. Falam não só da participação do governo na operadora nacional, mas também que todas as empresas públicas, Serpro, Petrobrás, toda a adminis-tração pública federal, estadual e municipal poderiam ter esse papel. Por outro lado, grande parte dessas contratações é de serviços, em que o tipo de equipamento acaba ficando a critério da empresa que ganhar a licitação. e aí, o governo acaba não tendo mais esse instrumento.

Ao definir um serviço para contra­tação você pode definir os critérios de qualidade. Mas a questão básica é que o poder de compra de um gover­no não é uma coisa nova. Se você juntar Serpro, Petrobras, Banco do Brasil, Correios, o volume de deman­da para equipamentos de telecom não é suficiente para fazer com que uma indústria chegue no nível dos grandes players mundiais. Mas as aquisições de uma dessas teles pode ser determi­

nante, pode ser suficiente. Se há a decisão de fomentar uma indústria de equipamentos de telecom que seja pujante, o governo precisa utilizar a sua participação em uma das opera­doras para fazer isso. Obviamente, não fazendo com que essa operadora perca competitividade, eficiência, não é isso. Você consegue fazer algum tipo de alinhamento tecnológico que permita que uma indústria nacional possa ser alavancada. É isso que, volto a insistir, os espanhóis fazem

no país quiser vir operar, ela opera. Segundo: a infraestrutura deve ser necessariamente compartilhada, porque isso é o que garante um nível de competitividade. Políticas de livre acesso, em particular de desagrega­ção de redes, existem no Japão, Dinamarca, Holanda, Noruega, Suécia, França, Grã­Bretanha e Nova Zelândia. Aí você tem algumas outras características em alguns países e outros não. Regras de livre acesso aplicam­se à transição para a próxi­ma geração tecnológica, particular­mente fibra, no Japão, Coreia do Sul, Suécia, Holanda, França, Grã­Bretanha, todo o mercado comum europeu na realidade, e Nova Zelândia. Essas coisas a gente não tem. Se a gente não tem e esses paí­ses têm, está faltando isso a nós. Obviamente que essa não é a única questão, há outros aspectos. E aí vem um terceiro ponto que é fundamental: em todos os países em que houve um processo de privatização, o Estado jamais deixou de participar da empre­sa que um dia foi totalmente dele. Ele abriu mão do controle, mas ele parti­cipa. No Brasil isso não aconteceu. No caso da Alemanha, Japão, Inglaterra e França, por exemplo, só para citar quatro, a empresa privatizada conti­nuou com um percentual público. E este percentual público é uma forma que o governo tem de, de certa forma, interferir no mercado, ditando, por exemplo, algumas tendências tecno­lógicas que precisam ser dissemina­das para a sociedade. No nosso caso, nós não temos essa perspectiva. No ano passado, na disputa da Telefónica de Espanha para ser a única pro­prietária da Vivo, a Portugal Telecom não queria soltar o osso da Vivo. Por quê? Porque a rentabilidade aqui é muito maior do que lá. A Portugal Telecom utilizava essa participação como estratégia de um país para fazer vingar os seus conhecimentos tecnológicos. Tanto é que a Portugal Telecom aceitou sair da Vivo desde que entrasse na Oi com uma condi­ção: participar das decisões tecnoló­gicas. E aí você tem a Portugal Telecom participando da Oi e o Brasil, via BNDES e, principalmente, via fun­dos de pensão, com 49%. Mas você vai ver que a Portugal Telecom vai influenciar nas decisões estratégicas

.:entrevista

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a portugal telecom Vai iNflueNciar as decisões estratégicas e tecNológicas da oi muito mais do que o brasil (o estado) fez até hoje.”

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com maestria.Com o PNBl e a ativação da

telebrás o governo se posiciona cla-ramente no sentido de usar o seu poder de compra?

Sim. Há uma interferência gover­namental para estimular a competição no serviço, levando onde não tem ou levando onde tem apenas um. E aí é impressionante um dos dados que está neste estudo (Radar nº 46), que é o percentual de municípios com banda larga no terceiro trimestre de 2009, por Estado. Goiás (84%), Alagoas (9,8%), Maranhão (4,1%), Mato Grosso (80%), Mato Grosso do Sul (98%), Minas Gerais (37%), Pará (2%). Nós fizemos um cruzamento dos dados da PNAD 2008 com o sistema da Anatel, o Sici (Sistema de Coleta de Informações). Outro ponto importante é que o que nós chamamos de banda larga é o que não é acesso discado. E o mundo inteiro já trabalha com outro conceito de banda larga. Existe na academia uma definição de que acesso à Internet em banda larga é acesso que garanta vídeo com qualidade. Acesso que garanta vídeos com qualidade é acesso a 20 quadros por segundo e precisa no mínimo de 384 kbps de velocidade.

Mas a oferta da telebrás também é uma oferta tímida em termos de velocidade.

Sim, não tenha dúvida. Mas acho que é o que dá para ser feito agora. Segundo informações da própria Anatel, existem legalmente cerca de 1,8 mil pequenos provedores no País. É uma pequena empresa, com baixo número de empregados, que contrata um link de uma grande operadora e o link passa a ser o insumo mais oneroso e o principal do negócio. Antes do plano de banda larga, as operadoras em média estavam vendendo 1 Mbps entre R$ 1,5 mil e R$ 2,5 mil. Hoje tem associação de provedores dizendo que elas estão vendendo a R$ 350, R$ 400. Só o fato de existir um plano que vai entrar vendendo acesso para esses pequenos provedores já fez cair o preço. Pode ser que isso não tenha afe­tado o preço para o consumidor final, mas quem contratar o link da Telebrás vai ter que se comprometer a fazer um preço mais em conta. Mas a grande questão é que nós estamos criando mercado. Esse é o papel do governo.

Nos últimos seis anos, a velocidade com que o acesso à Internet em banda larga evoluiu nas principais economias do mundo foi muito maior que a velocida­de com que evoluiu no Brasil. Nós temos ficado para trás nos últimos seis, sete anos, apesar de chegarmos a um nível nunca pensado. No final de 2009 nós tínhamos 11 milhões de domicílios com acesso à Internet. Quantos vamos ter agora no final de 2010? Temos crescido, mas o mundo cresce muito mais. Não dava para achar que do jeito que estava a gente ia alcançar o resto do mundo. Com o modelo atual, sem nenhum tipo de interferência, nós fica­remos para trás.

Falando da anatel, há quem diga, inclusive dentro do governo, que ela sofre muita influência das empresas reguladas, e não consegue avançar

em determinados pontos, como no caso do unbundling. Qual é a sua visão sobre a anatel?

As empresas reguladas terminam exercendo influência muito maior sobre a reguladora do que a regula­dora sobre as reguladas. A gente tem que repensar o modelo para avançar, não para acabar com o modelo. O que a gente percebe é que a moralização da agência reguladora foi um passo que a maioria desses países que eu elenquei deu. O Brasil se preocupou tanto em a agência ficar independen­te do governo que não se preocupou em ela ser independente das regula­das. Nós precisamos ter efetivamente uma agência blindada de alguns tipos de influência. Não dá para ser ingê­nuo, achar que vamos chegar ao nível de influência zero, mas não pode che­gar ao nível de captura, digamos assim. Mas esse é um processo que demora, porque envolve questões que passam pelo Congresso. Quem avan­çou, o fez porque blindou a agência dessas influências.

Falando sobre o ponto de vista industrial em relação ao PNBl, quais as perspectivas que você vê daqui

para frente?O que eu vou falar agora tem um

pouco das conclusões a que o grupo de estudos chegou e um pouco do que eu acredito sobre o que deve ser feito. Primeiro, a indústria de telecom não é competitiva. Nós não temos um mer­cado que possa servir de alavanca. E as ações do governo até agora, como Lei de Informática, Lei do Bem, a pró­pria ex­MP 495 e a influência sobre a operadora que o governo poderia uti­lizar por ter participação acionária nela, acho que são as medidas sufi­cientes e necessárias para que você possa induzir um mercado. Aliado ao investimento em ciência e tecnologia, a alguns institutos de pesquisa e algu­mas universidades, complementa­se estas ações. Agora, se nós pensarmos que em cima desses equipamentos existe uma camada de serviços e de

conteúdo em que o mercado ainda está muito aberto, aí sim a gente pode pensar em mecanismos de ação governamental que pudessem criar um segmento industrial competitivo mundialmente. Aproveitando aspec­tos inerentes à nossa cultura, como a capacidade criativa, e unindo uma política de formação de pessoal com uma política de subsídios, de apoio às empresas na produção de softwares e conteúdo em diversas áreas, a gente passa a poder estar bem posicionado dentro da economia mundial. Onde existe valor agregado é nas aplica­ções. Aí é onde entra a minha crença pessoal. O que a gente tinha que fazer em relação à indústria de equipamen­tos de telecom está sendo feito, não tem por que fazer mais, porque aí a gente tem mais a perder do que a ganhar. Por outro lado, se nós pen­sarmos em serviços, geração de con­teúdo audiovisual e aplicações, aí a gente tem a possibilidade. Nós temos uma janela de oportunidade para esse segmento da indústria de servi­ços. E nesse segmento a gente pode passar de seguidor de tecnologia para líder, para gerador. Essa que é a ver­dadeira oportunidade.

HeltoN PoSSetI

Nós temos uma jaNela de oportuNidade para esse segmeNto da iNdústria de serViços (aplicações). e Nesse segmeNto a geNte pode passar de seguidor de tecNologia para líder, para gerador. essa que é a Verdadeira oportuNidade.”

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16 TeleTime jan/Fev_2011

As redações de jornais e revistas passaram por uma grande transformação nos últimos 15 anos

por causa da Internet. Não bas-tasse a necessidade de readap-tação dos profissionais, houve um choque de modelos de negócios que até hoje não está bem resolvi-do: acostumados a cobrar pelas edições em papel, os veículos pas-saram a ver os conteúdos distribu-ídos de graça na rede. Ao mesmo tempo em que luta para rentabili-zar seus websites, a mídia impres-sa sofre com a dificuldade de reno-var sua base de assinantes, estagna-da diante da preferência da nova geração por ler notícias online. A sal-vação pode estar nos dispositivos móveis: celulares, smartphones e, sobretudo, a nova geração de tablets. Depois de experimentar canais por SMS, jornais e revistas descobriram o potencial de aplicativos móveis seg-mentados, fazem experiências com MMS e agora apostam nos tablets para conquistar leitores da nova geração. As operadoras móveis, se não forem ágeis e criativas na proposição de parcerias, correm o risco de ser meras coadjuvan-tes nesse negócio.

A incursão de jornais e revistas em mobilidade não começou agora. Desde o aparecimento do WAP no Brasil, dez anos atrás, houve tentativas de empla-car sites móveis de notícias, mas estes esbarraram na lentidão da rede e em modelos de tarifação equivocados, como a cobrança por tempo de conexão. As primeiras experiências bem sucedidas – e que perduram até hoje – são os canais de notícias via SMS. Usando os pró-prios veículos impressos para divulgar o produto, jornais e revistas conquis-taram milhões de assi-nantes dispostos a pagar entre R$ 0,10 e R$ 0,31

por mensagem recebida. Um mesmo

veículo costuma ter diversos canais, cada

um dedicado a um tema específico (esportes, economia, política etc). A venda de conteúdo noticioso via SMS é hoje a princi-pal fonte de receita em mobilida-de para a maioria dos veículos

impressos. No jornal esportivo Lance, por exemplo, o SMS representa 80% da receita móvel.

O uso do SMS para recebimento de notícias, contudo, está se concentrando cada vez mais em usuários pré-pagos das classes C e D. Trata-se, logicamente, de um reflexo da crescente penetração de smartphones nas camadas mais abastadas da população. Em jornais cujo público alvo é a classe média, como O Estado de S. Paulo, já é notada uma queda no número de assinantes de canais SMS.

O jornal chegou a ter 50 mil usuários do serviço. Agora são apenas 15 mil.

Nos Diários Associados, os veículos voltados para classe

média baixa, como o Aqui, têm muito mais assinantes SMS

do que os impressos Correio Braziliense ou Estado de Minas,

cujo leitor médio tem renda maior. Embora ainda haja uma enorme

base de usuários pré-pagos com celula-res de baixa gama que poderiam ser potenciais consumidores de notícias via SMS, a expectativa é de que, no longo prazo, essa ferramenta perca força, mas sem desaparecer completamente. “O SMS continuará sendo usado, mas para o envio de breaking news”, prevê o dire-tor de plataformas digitais do grupo Estado, Nicholas Serrano. “Em um apli-cativo móvel de um jornal eu preciso entrar e procurar a notícia. Se quero algo específico e relevante, o SMS ainda é a melhor maneira”, defende Federico Pisani, presidente da Hanzo, primeira integradora brasileira a se especializar como agregadora de mídias.

Na tentativa de adiar ao máximo o declínio do SMS como veículo de notí-cias, alguns jornais e integradores usam a criatividade para valorizar essa ferramenta. “O maior desafio do SMS hoje é manter os assinantes. Não faz mais sentido enviar apenas notí-cias e alertas de gol. Temos que esti-mular outras interatividades, criando canais para votações, quiz, gincanas, bolões”, sugere Paulo Henrique

Ferreira, gerente executivo de mídias digitais do Lance, que tem hoje cerca de 100 mil assinantes via SMS. Por sua vez, a Hanzo, lançou no fim do ano passado o servi-ço de Extended SMS. Trata-se da inclusão de links cur-tos nas mensagens de texto para levar o usuário a conte-údos multimídia ou sites móveis. Ou seja: é uma

.:serviÇos móveis

Jornais e revistas se mobilizamTablets dão um novo fôlego para a indústria de jornais e revistas, com a possibilidade de convergência entre serviços móveis e a antiga mídia impressa.

“(os tablets) são o melhor dispositiVo para trazer os joVeNs de

Volta à leitura do jorNal”Luiz Mendes Jr., dos Diários Associados

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semana, o Divirta-se. E o Lance, que em 2010 teve sua primeira experiência com um aplicativo da Copa do Mundo, promete desenvolver este ano versões para os diversos campeonatos sazonais de futebol. A segmen-

tação facilita a venda de cotas de patro-cínios, o que garante a oferta gratuita da maioria desses aplicativos. A segmenta-ção excessiva do conteúdo de um único jornal em aplicativos, todavia, é vista com ressalvas por alguns: “Isso divide a audiência, tornando o produto menos atrativo para os anunciantes”, critica uma fonte.

Há também aplicativos pagos. É o caso do Comer e Beber, da Veja. “90% dos nossos aplicativos são patrocinados. Mas quando há produção extra de con-teúdo, com fotos que requerem paga-mento de direitos, o usuário enxerga valor e aceita pagar. É preciso analisar caso a caso para definir o melhor mode-lo”, explica Sandra Jimenez, da Abril.

A longo prazo, o mais provável é que se adote um modelo híbrido, com parte do conteúdo grátis, bancado por publici-dade, e parte restrito, mediante paga-mento. É o que Ziller, da Aorta, chama de modelo freemium: meio gratuito, meio premium.

tabletsA menina dos olhos da mídia

impressa no momento são os tablets, por uma razão simples: a atração de

ne”, comenta Gustavo Ziller, diretor da Aorta, desenvolve-dora brasileira de aplicativos móveis que tem em sua car-teira de clientes diversos jor-nais e revistas.

Para diferenciar o conteúdo de seus aplicativos daquele oferecido no site móvel, muitos veículos optaram por criar aplicativos segmentados por assunto, tal como é feito com os canais de SMS. O Globo e o Estadão, por exem-

plo, lançaram em 2010 produtos dedi-cados às eleições presidenciais. Este ano, O Globo acaba de lançar um aplica-tivo móvel do Campeonato Carioca e prepara outro para o seu guia cultural, o Rio Show. O Estadão seguirá estraté-gia similar com seu caderno de gastro-nomia Paladar e seu guia de fim de

forma de modernizar a notí-cia por SMS, mantendo-a atraente mesmo para usuá-rios com smartphones.

A evolução natural das notícias por SMS seria o uso de mensagens multimídia (MMS). Essa ferramenta, con-tudo, ainda é subutilizada no Brasil. A Editora Abril tem aproveitado a força de suas marcas para difundir esse meio. No ano passado, lançou um serviço de notícias por MMS em parceria com a Vivo e com a TIM. À disposição dos usuários estão sete canais e outros quatro serão lançados em breve. Por meio de uma assinatura mensal, o leitor recebe diariamente via MMS uma ou duas notícias com fotos. A receita é dividida entre Abril, operado-ras e eventuais integradores, tal como é feito nos canais SMS.

Enquanto o SMS dá sinais de enfra-quecimento e o MMS chega um tanto atrasado, outra ferramenta para distri-buição de notícias via celular ganha cada vez mais popularidade: os sites móveis. O acesso cresce conforme aumenta a penetração de smartphones no Brasil, que já representam cerca de 30% da base nacional de celulares. Para se ter uma ideia, de janeiro a dezembro de 2010 o site móvel do Lance passou de 1,8 milhão de page views/mês para 3 milhões. Na Abril, a audiência dos sites móveis aumentou 300% no mesmo perí-odo, relata Sandra Jimenez, CMO (chief mobile officer) do grupo. Os sites móveis são, geralmente, meras adaptações dos websites tradicionais. As notícias são as mesmas, mas rediagramadas automati-camente pelos sistemas de publicação dos veículos. O modelo de negócios que se firmou nos sites móveis também é o mesmo da Internet: acesso gratuito ban-cado por publicidade, através da venda de banners. A receita do Lance com publicidade em seu site móvel cresceu 100% nos últimos 12 meses.

a era dos appsA grande aposta de jornais e revistas

em mobilidade reside na oferta de apli-cativos móveis. No ano passado, houve um verdadeiro boom de aplicativos de veículos de mídia brasileiros, especial-mente para iPhone e, em menor grau, para Android. “Os grupos de mídia per-ceberam que os apps não eram apenas uma moda. E que não existe só o iPho-

“o maior desafio do sms hoje é maNter os assiNaNtes”Paulo Henrique Ferreira, do Lance

É urgente a necessidade de treinar repórteres, editores e diagramadores para trabalhar com mídias móveis. Trata-se de um meio que, embora digital como a Internet, tem peculiaridades que devem ser observadas. Nos SMS, por

exemplo, as notícias precisam ser curtas. Alguns veículos adotaram o uso de abreviações, como “pq” no lugar de “porque”. Para que não haja erros de formatação em certos handsets, é melhor não usar acentos, nem cedilha. “Há jornalistas que se recusam a escrever desse jeito”, relata Federico Pisani, presidente da Hanzo. Por isso, sua empresa criou um módulo que “descorrige” automaticamente os textos enviados.

No grupo Abril e no Lance foram montadas equipes dedicadas a conteúdo móvel. Eles escolhem as notícias que serão enviadas por SMS e MMS e redigem os textos. Também participam das reuniões de pauta para sugerir conteúdos extras para tablets. Nos Diários Associados, o conteúdo móvel é feito pelo pessoal de Internet.

Os sites e aplicativos móveis têm seu conteúdo extraído automaticamente dos websites dos veículos, mas é importante que alguém monitore se a diagramação e hierarquização das matérias estão adequadas. No caso de edições para tablets, é recomendado que haja diagramadores e designers dedicados a essa mídia. É o que fez o jornal O Estado de São Paulo.

O importante, recomenda Sandra Jimenez, CMO da Abril, é que haja integração entre as redações do impresso, da Internet e dos dispositivos móveis. Ou seja, uma via de mão tripla.

A redação móvel

mídia impressa foca em aplicatiVos móVeis segmeNtados, usa os tablets para coNquistar NoVos leitores e se queixa de poucas parcerias com as operadoras

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18 TeleTime jan/Fev_2011

novos leitores e a facilidade de leitura e interação. “Estamos apostando muito em tablets porque são o melhor dispositi-vo para trazer os jovens de volta à leitura do jornal”, afir-ma Luiz Mendes Jr., gerente de negócios convergentes dos Diários Associados. Não é à toa que todos os grandes jornais e revistas do Brasil e do mundo correram para criar aplicativos para o iPad, da Apple, no ano passado. As revistas foram mais ousa-das: as estrangeiras Wired e New Yorker criaram diagramações especiais para o formato dos tablets e incluíram conteú-dos multimídia exclusivos, como vídeos, áudios e fotos extras. As brasileiras Veja, Época e Fut! seguiram o mesmo cami-nho. Por isso, as duas primeiras não tiveram vergonha de cobrar pela venda da versão digital para tablet: o preço básico é US$ 4,99 por edição, seguindo o padrão internacional. Os jornais opta-ram, ao menos provisoriamente, por aplicativos mais simples, em que mesclam o down-load da íntegra da versão impressa em PDF e o acesso ao conteúdo de seus websites: tudo de graça. “As revistas estão mais adiantadas porque têm mais tempo para cada edição. Além disso, o tamanho de uma revista é quase o mesmo do iPad. O jornal é maior e é diário”, justifica Serrano, do grupo Estado. Mas os jor-nais não querem ficar para trás. Correio Braziliense e Estado de Minas, ambos dos Diários Associados, largaram na frente e incluíram conteú-do multimídia extra em suas versões para iPad. “O jornal fica mais bonito na tela de um tablet. O Estado de Minas ainda é impresso em preto e branco. No iPad as pági-nas são coloridas. É como se o jornal passasse pelo (cirurgião plástico) Pitangui”, brinca Mendes Jr., dos Diários Associados. O Estadão promete para o primeiro

trimestre uma versão multi-mídia feita especialmente para tablets. A cobrança pelo

download dos jornais brasileiros no iPad é também uma questão de tempo.

operadoras ficam para trásAs operadoras celulares, por outro

lado, ainda estão tendo dificuldade para inovar em seus modelos comerciais de parcerias com provedores de conteúdo de forma a acompanhar os avanços tec-nológicos que surgem em seu próprio setor. Se no SMS e no MMS as teles são parceiras imprescindíveis e, por isso mesmo, retêm boa parte da receita com

a venda do conteúdo, em sites e aplicativos móveis o cenário é outro. Agora, os provedores de conteúdo decidem o que, quando e como lançar. No caso dos aplicativos, dividem a receita com os gestores da loja, geralmente fabricantes de celulares ou de sistemas operacionais, mas recebem

uma participação bem maior que aquela praticada nos acordos com as teles. “Somos menos dependentes das opera-doras hoje do que éramos antes, quando elas tinham a última palavra”, resume Serrano, do grupo Estado. Isso não significa que jornais e revistas não desejem firmar acordos com as compa-nhias telefônicas. “Exploramos menos do que gostaríamos as parcerias com operadoras. Poderíamos desenvolver produtos em conjunto e embarcá-los nos celulares”, propõe Serrano. Mendes Jr., dos Diários Associados, se queixa da divisão da receita praticada no SMS: “Quem produz e divulga o conteúdo

somos nós. Se tivéssemos participação maior na receita, faríamos mais par-cerias com operadoras”.

As teles não querem ficar de fora da venda de conteúdo, mas suas equipes nas gerências de serviços de valor adicionado (SVA) cos-tumam ser pequenas para avaliar tantos pedidos. Na prática, a prioridade acaba sendo dos grandes grupos, a exemplo da Abril, com os recentes lançamentos de serviços por MMS com Vivo e TIM. Esta última, por sinal, sabe que não pode ficar parada diante da evo-lução tecnológica na distri-buição de conteúdo e criou sua própria loja de aplicati-vos, a TIM App Store, lan-çada ano passado. A longo prazo, se não forem mais criativas e ágeis, as teles perderão completamente esse filão. Em uma analo-gia à mídia impressa, terão a função de meros entrega-dores de jornal. Com sorte, receberão uma caixinha de Natal no fim do ano.

FeRNaNdo PaIVa

“somos meNos depeNdeNtes das operadoras do que éramos aNtes, quaNdo elas tiNham a última palaVra”Nicholas Serrano, do Grupo Estado

.:serviÇos móveis

Os números do jornalismo móvel• Cerca de 70 milhões de mensagens

com notícias são enviadas por mês para assinantes de canais SMS que usam a plataforma da Hanzo.

• A Editora Abril tem 26 canais SMS, com mais de 2,5 milhões de assinantes

• Os Diários Associados têm 60 mil assinantes de canais SMS

• O jornal Lance tem 100 mil assinantes de canais SMS• O Estadão tem 15 mil assinantes de canais SMS• O site móvel do Lance registra

3 milhões de page views por mês• O Estadão registrou até o momento 310 mil downloads

de seus aplicativos, sendo 245 mil para iPhone e 55 mil para iPad. O restante foi Android.

• O aplicativo gratuito da Copa do Mundo de 2010 do Lance para iPhone teve 15 mil downloads

• A audiência dos 32 sites móveis da Editora Abril aumentou 300% em 2010 em relação a 2009

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Em situações de emergência, mais do que nunca, a popu-lação precisa dos serviços de telecomunicações, seja para pedir socorro, seja

para mandar notícias a parentes. Da mesma forma, a comunicação é essen-cial para equipes de resgate. Não à toa, a ONU lista comunicação como uma das três prioridades em casos de catás-trofes naturais, depois de higiene e ali-mentação. O problema é que em muitas dessas tragédias as redes de telefonia fixa e móvel são atingidas e saem do ar. No Brasil, na última virada de ano, dois eventos extraordinários ocorridos em um intervalo de menos de um mês afe-taram significativamente as redes de telecomunicações: o incêndio em uma central telefônica da Oi em Salvador, no fim de dezembro, e as fortes chuvas na serra fluminense, no meio de janeiro. À luz desses incidentes, ficou evidente que procedimentos das operadoras e órgãos públicos estão falhos. Mas que medidas podem ser tomadas para pre-venir a falta de serviços de comunica-ção em tais situações? E como reagir para pôr as redes de volta no ar o mais rapidamente possível?

Em catástrofes naturais, o maior impacto acontece nas redes de acesso, ou seja, nas antenas celulares e nos cabos de cobre. No terremoto do Chile, mais de 600 ERBs da Movistar e da Claro pararam de operar. Com a exce-ção de uma torre na cidade de Concepción, as demais ficaram em pé. O problema é que suas antenas foram deslocadas pelo tremor. A ruptura de meios de transmissão de dados para as centrais e a queda no fornecimento de energia também contribuíram para tirar do ar boa parte da rede de acesso móvel do Chile. Os danos só não foram piores porque as torres celulares daquele país foram construídas levan-do em conta o risco de terremotos: são usadas cintas no lugar de parafusos e há folga nos cabeamentos, de maneira que os equipamentos vibrem junto com

a terra, diminuindo o atrito, relata Wilson Cardoso, diretor de tecnologia para a América Latina da Nokia Siemens Networks, empresa que enviou 400 técnicos para auxiliar no restabele-cimento do serviço de telefonia celular no Chile. A rede de acesso móvel chile-na foi totalmente recuperada em 15 dias.

Na tragédia da serra fluminense, os deslizamentos de terra romperam um cabo de fibra óptica da Oi que servia de backbone para diversas operadoras fixas e móveis da região. Além disso, a distribuição de energia foi duramente afetada. Sem fornecimento de eletrici-dade e munidas de baterias com dura-ção aproximada de quatro horas, uma parcela significativa das torres celula-res parou de funcionar. Na manhã do primeiro dia do desastre, nada menos

que 40 ERBs da Vivo na região esta-vam fora do ar, de um total de 85. De 16 municípios atingidos pelas chuvas, nove ficaram totalmente sem serviço da Vivo. O problema se repetiu em proporções similares nas demais teles celulares. No centro de operações da Vivo em Brasília, responsável pela região Sudeste, um alarme foi aciona-do ainda na madrugada do dia 12 de janeiro e o diretor de controle e gestão da empresa, Fábio Sepúlvida, foi infor-mado imediatamente. Equipes de téc-nicos foram deslocadas de Volta Redonda e Campos (RJ) em carros 4x4 para a área. No entanto, deslizamen-tos haviam obstruído diversas estra-das. A solução da Vivo foi alugar um helicóptero para sobrevoar a região e analisar melhor o cenário. “Durante o sobrevoo pudemos ver que as torres

.:inFraestrutura

Depois da tempestadeApós tragédia na Serra Fluminense, governo, operadoras e fabricantes viram que as redes de telecomunicações não estão preparadas para situações de emergência.

Membro de equipe de resgate de corpos testa

telefone via satélite

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soas sem telefonia fixa e sem banda larga via ADSL, a companhia distribuiu 18 mil celulares e 8 mil mini-mode-ms 3G.

transmissãoA comunicação entre as

ERBs e as centrais de telefo-nia também costuma ser afe-tada nessas catástrofes. O backhaul geralmente é provi-do por links de rádio ou fibra

óptica. Se não há maneira de recuperá--lo rapidamente, a saída é alugar capa-cidade satelital para esse fim. Várias operadoras fizeram isso na catástrofe

Lucent. A solução para aten-der os assinantes fixos que ficaram sem serviço acaba sendo recorrer à rede móvel: a Oi disponibilizou 35 mil celulares na região serrana para uso gratuito temporariamente. No Nordeste, onde o incêndio em sua cen-tral telefônica deixou milhares de pes-

estavam todas no lugar. O maior problema era a falta de energia elétrica. Houve apenas um caso, em Bom Jardim (RJ), em que o equipamento ficou debaixo d´água. Ali foi perda total e tive-mos que substituí-lo”, relata Sepúlvida. Enquanto a distribuição de energia não retornava, a saída para as teles foi levar geradores até suas ERBs e ado-tar um sistema de logística para abas-tecimento periódico de combustível. Em locais onde o acesso era mais difícil, optou-se por geradores a gaso-lina, que são menores e podem ser transportados de moto ou a pé.

O trabalho na serra fluminense exi-giu também o uso das chamadas COWs (Cellular Over Wheels). Tratam-se de ERBs menores, de fácil instalação e que podem ser transportadas em furgões. Normalmente elas são usadas em gran-des eventos, como jogos de futebol e festas de réveillon, para reforçar a capacidade das redes. Toda operadora mantém um estoque de COWs. O backhaul para essas ERBs é provido via satélite ou através de microondas de rádio. E a energia é fornecida por gera-dores ou por fontes renováveis, como painéis solares.

Outra medida comumente adotada quando uma torre para de funcionar é redirecionar remotamente as antenas de outras ERBs próximas, de forma a readequar suas coberturas e diminuir a área de sombra provocada pela queda da vizinha.

Por sua própria arquitetura e por não depender de fios para prestar a última milha, as redes móveis são sempre reconstruídas mais rapida-mente que as fixas. Foi assim nos ter-remotos do Chile e do Haiti e nas chuvas no interior do Rio de Janeiro. Em pouco mais de uma semana a cobertura móvel nas cidades atingidas pelas chuvas estava quase toda recu-perada. Na rede fixa, o conserto vai levar meses. Postes inteiros foram ao chão, levando junto os fios de cobre. Em alguns bairros não há nem mais calçada para pôr os postes. Ou pior: não há sequer a casa do assinante. “As redes fixas voltam muito tempo depois das móveis. Em alguns casos nem vale a pena reconstruir a parte fixa”, comenta Severiano Macedo, gerente de suporte de vendas da Alcatel-

“registramos três a quatro rompimeNtos de fibra

toda semaNa No brasil”Yuri Menck, da Global Crossing

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Redes de telecomunicações podem salvar vidas. A tragédia na região serrana do Rio de Janeiro trouxe à tona a discussão sobre o uso de broadcast via SMS para envio de alertas à população. A prefeitura do Rio de Janeiro pretende adotar o

sistema em alguns morros cariocas onde há áreas de risco de deslizamento. Líderes comunitários receberão os alertas antes de chuvas fortes e ficarão responsáveis por disseminá-los a seus vizinhos. Planeja-se também instalar sirenes nas comunidades.

No Quênia, medida similar foi implementada junto à população que vive à beira do lago Victória, onde 5 mil pessoas morrem afogadas por ano, a maioria pescadores, em decorrência de acidentes causados por tempestades. A operadora Zain, em parceria com a Ericsson, aumentou a cobertura celular sobre o lago, ampliando a chance de pescadores pedirem ajuda. Além disso, foram instaladas várias antenas meteorológicas junto com as ERBs, para prever melhor as condições do tempo e emitir alertas automáticos por SMS para os pescadores.

Os satélites, por sua vez, podem contribuir com imagens feitas do espaço que ajudam na identificação de áreas de risco de deslizamento ou inundação. O governo italiano utiliza uma solução para esse fim contratada junto à Telespazio.

Telecomunicações aplicadas na prevenção de catástrofes

Postes vieram abaixo, rompendo os cabos de cobre

da rede de telefonia fixaFOTO

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da região serrana. Elas estão acostu-madas a usar essa tecnologia, princi-palmente em sites remotos. O satélite ganha relevância em momentos de crise, pois, embora mais caro, é um serviço com ampla cobertura e que independe de redes físicas para o aces-so ao cliente.

Pior que perder a conexão de um backhaul é ter problemas sérios em uma rede de fibra óptica de longa distância, ou backbone, responsável pelo tráfego entre grandes cidades ou mesmo entre continentes. Por segurança, essas redes de longa distância são desenhadas em forma de anel, para que haja uma rota alternativa em caso de ruptura. Cortes de fibra óptica, por incrível que pareça, acontecem com enorme frequência. A Global Crossing, por exemplo, registra em média de três a quatro rompimentos de fibras no Brasil por semana. Outras operadoras e fabricantes confirmam que se trata de um problema rotineiro no País, causado principalmente por obras em rodovias por onde o backbone passa. O conserto é feito em questão de poucas

horas. “O que demora mais é chegar até o local”, explica o diretor de marketing e produtos da Huawei, Alexandre Fernandes. Já houve episódios de um anel de fibra ser cortado em dois pontos diferentes no mesmo dia, interrompendo

completamente a comunicação. O mais recente aconteceu no Norte do País em janeiro na rede de um parceiro da Vivo: uma ponta rompeu de manhã e, antes de o conserto terminar, houve um corte na rota alternativa, de tarde. “Em quantidade de ERBs impactadas, esse caso foi pior que o da região ser-rana do Rio”, afirma Sepúlvida, da

Vivo. Em poucas horas, contudo, o backbone voltou a funcionar.

Raro mesmo é ter rompimento de um cabo submarino de fibra óptica. Nos últimos dez anos, o diretor de marketing e comunicação da Global Crossing, Yuri Menck, lembra de isso ter acontecido apenas duas vezes. Os maiores riscos para os cabos submari-nos são o atrito com rochas marinhas e a ancoragem de barcos. Para consertar um rompimento é preciso ir de navio até o local e puxar o cabo com robôs mergulhadores, para depois fazer a fusão da fibra a bordo.

Core, NoC e data centerEm uma analogia com o corpo

humano, a rede de acesso seriam os dedos; o backhaul, os braços e pernas; e o backbone, a coluna vertebral. Os órgãos vitais são as centrais e o core de rede. Eles precisam ser construídos em locais seguros e dimensionadas para receber o tráfego de outras centrais, caso alguma pare de operar. É reco-mendado também o backup diário das

.:inFraestrutura

24 TeleTime jan/Fev_2011

Comunicação de equipes de resgate é precária

As equipes de resgate que atuaram durante a tragédia na serra fluminense não estavam equipadas devidamente no que diz respeito a serviços de comunicação. Equipes de

bombeiros, da Defesa Civil e da Cruz Vermelha que atuaram em áreas isoladas salvando pessoas e procurando corpos não possuíam telefones via satélite, essenciais nessas situações, já que boa parte das redes móveis estava fora do ar. Os walkie-talkies servem para a comunicação entre membros de uma mesma equipe, mas seu alcance é limitado a poucos quilômetros e não é possível realizar chamadas para a rede pública. O coordenador de socorro da Cruz Vermelha em Petrópolis, Richard Strauss, relatou um episódio em que sua equipe encontrou três corpos em uma localidade isolada, após caminharem duas horas. Como não tinham comunicação e não tinham condições de carregar os corpos, tiveram que marcar a localização no GPS e voltar para a cidade para pedir que um helicóptero fosse retirá-los. Se fossem pessoas feridas que precisassem ser levadas urgentemente a um hospital talvez não sobrevivessem. TELETIME visitou a região atingida pelas chuvas acompanhando uma equipe de técnicos da Tesacom que levou telefones via satélite para emprestar aos socorristas e à população desabrigada.

Houve muitos pedidos de aluguel e compra de telefones via satélite para empresas como Arycom, OnixSat e Tesacom, que revendem os serviços da Inmarsat no Brasil. Os bombeiros, por exemplo, encomendaram 50 unidades junto à Tesacom no dia 18 de janeiro, quase uma semana depois

do pior dia de chuva. A Cruz Vermelha, por sua vez, começou a negociar uma compra com a OnixSat. “Infelizmente, procuram a gente nos piores momentos, como quando caiu o avião da Air France no Atlântico”, lamenta Ciro Chudo, diretor comercial da Arycom. O presidente da Tesacom, Dante Quinterno, alerta: “As

primeiras 48 horas após uma catástrofe são críticas. Se houvesse comunicação teríamos salvado mais vidas”.

CelularQuando acontece um desastre, ainda que

as redes móveis permaneçam intactas, o serviço de telefonia celular pode passar por instabilidades em razão do congestionamento da rede. O diretor de tecnologia da Nokia Siemens para a América Latina, Wilson Cardoso, sugere que as operadoras reservem parte de suas capacidades para o atendimento a telefones de órgãos e corporações públicas, como Bombeiros e Defesa Civil. Ele recomenda também que as operadoras estabeleçam mecanismos de priorização entre suas redes para dar preferência às chamadas feitas por esses órgãos em situações de emergência.

Se por acaso as operadoras móveis saírem completamente de funcionamento, é sempre possível construir uma mini-rede às pressas. A Ericsson tem um time global para isso, chamado Ericsson Response, que é acionado pela ONU e Cruz Vermelha apenas

em situações calamitosas. Eles montam rapidamente uma rede móvel local, habilitam linhas para os funcionários das duas entidades e instalam um link via satélite para a comunicação com redes externas.

Richard Strauss, coordenador da Cruz Vermelha, testa telefone via satélite

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por sua própria arquitetura e por Não depeNder de fios para

prestar a última milha, as redes móVeis são sempre

recoNstruídas mais rapidameNte que as fixas.

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informações do core de rede e o arma-zenamento em local à prova de terre-motos, inundações ou quaisquer outras calamidades. Em redes móveis, cada MSC (Mobile Switching Center), con-centra as chamadas de alguns milhões de assinantes. É importante que a rede de acesso seja capaz de rotear as cha-madas para diferentes MSCs, como forma de proteção em caso de pane.

Cuidados semelhantes precisam ser tomados com os centros de operações, também conhecidos pela sigla em inglês NOC (Network Operation Center). De dentro desses centros é possível enxergar todos os pontos de uma rede e gerenciá-los remotamente. O ideal é sempre ter dois NOCs ativos. A Nokia Siemens Networks adotou essa solução para sua oferta de serviços gerenciados a operadoras: tem um NOC em São Paulo e outro igual e ativo em Portugal. Ambos estão prontos para assumir o trabalho um do outro se necessário. Na Índia, a empresa também tem dois NOCs, um no Norte e outro no Sul do País. No México, uma grande operado-ra de telecomunicações tem dois cen-tros de operações, sendo um deles embaixo da terra, para não sofrer danos em caso de terremotos, conta Cardoso, da Nokia Siemens. A Global Crossing tem um centro de operações nos EUA que controla a rede no mundo todo e dois separados para a América Latina: um na Argentina e um de backup em Cotia (SP). Vale lembrar que, a princípio, se uma operadora perde seu NOC, a rede não para de funcionar. O que se perde é a visão da rede e seu gerenciamento remoto a partir de um único ponto.

Os data centers, por sua vez, são

como o cérebro de uma rede, incluindo sua memória. Novamente, a melhor pre venção é ter um data center reserva, localizado em outra cidade ou país, pronto para fazer o trabalho de algum que saia do ar. Clientes como institui-ções financeiras costumam contratar planos de recuperação de desastres se -gundo os quais o serviço de data center não pode ficar inoperante por mais de um minuto.

A escolha da localização de um data center precisa ser muito bem pensada. E a construção do prédio leva em conta uma série de cuidados com a segurança. No terremoto do Chile, o data center da Global Crossing ficou de pé sem um arranhão: apenas alguns conectores saíram do lugar, conta o diretor de data centers da

empresa, Vagner de Moraes. Vale destacar que em casos emergen-

ciais, especialmente quando envolvem catástrofes naturais, é preciso que opera-doras e fabricantes flexibilizem suas práticas internas em prol de maior agili-dade na solução dos problemas. Sepúlvida, da Vivo, lembra que a con-fiança na equipe é fundamental nessas horas: se um funcionário diz que precisa de um link via satélite ou de um helicóp-tero para acessar determinada localida-de, terá a demanda atendida sem ques-tionamentos. Entre os fabricantes, é comum fornecer equipamentos nesses episódios em caráter de empréstimo, cobrando da operadora mais tarde, depois de a crise ter sido resolvida. O mais importante é manter a rede viva e respirando, ou melhor, falando.

Vários orelhões da região serrana do Rio foram danificados pelas chuvas

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Do ponto de vista das políticas de telecomunicações, é ine-gável que existe uma diferen-ça clara entre o primeiro mês do governo Dilma Rousseff e

a toada que vinha sendo dada nos anos Lula. O ministério montado sob a batuta do ministro Paulo Bernardo inicia o ano com algumas missões claras, muitas posi-ções novas já manifestadas através da imprensa, mudanças estruturais na forma com que o Minicom operará e expectativa de muita polêmica.

O foco principal da gestão Paulo Bernardo nas comunicações tem sido, até o momento, a banda larga. O governo assumiu com a complicada missão de completar a negociação do Plano Geral de Metas de Universalização que valerá para os anos de 2011 a 2015 e que deveria ter sido concluído em 2010. O tema vinha sendo tratado pela Anatel com acompa-nhamento direto da Presidência da República no final do governo Lula. Mas se houve uma mudança de endereço, as pessoas envolvidas se mantiveram, de uma maneira geral, as mesmas. O princi-pal coordenador do trabalho do ministé-rio é Cezar Alvarez, ex-assessor especial de Lula e agora secretário-executivo de Paulo Bernardo. Ele já era o responsável pelas principais questões envolvendo as políticas de inclusão digital no governo passado, incluindo o Plano Nacional de Banda Larga, e agora têm sob sua secre-taria no ministério a coordenação de todos esses trabalhos.

O braço direito de Cezar Alvarez para questões de inclusão digital quando ainda estava na presidência era Nelson Fujimoto, que agora é o secretário de tele-comunicações do ministé-rio. Em conversas infor-mais com TELETIME ambos deixaram claro que existirá, no Minicom, uma espécie de gestão compar-tilhada dos temas: quem conduz as negociações e a formulação das políticas é

a secretaria de telecomunicações, com a coordenação direta da secretaria-executi-va e do gabinete do ministro Paulo Bernardo.

Aí está a segunda mudança impor-tante na forma de trabalhar do Ministério das Comunicações de Dilma Rousseff. Se no governo Lula o Minicom era domina-do pela figura do ministro, que interferia em praticamente todas as questões mas que estava ofuscado por uma atuação muito mais contundente da Casa Civil, agora o ministério de Paulo Bernardo parece ter uma distribuição mais clara de delegações. Primeiro, o ministério em si é quem coordena as políticas, e não mais os gabinetes do Palácio do Planalto. Depois, internamente, a secretaria-exe-cutiva, que desde os tempos do ministro Miro Teixeira não tinha nenhum papel formulador, agora passa a ser o centro da condução política, enquanto o minis-tro é, ao que tudo indica, o articulador político e supervisor de todas as ativida-des. Ainda não se sabe como esse mode-lo se comportará ao longo do tempo, já que a secretaria-executiva é também um órgão que, tradicionalmente, cuida da burocracia interna do ministério. Mas interlocutores do secretário Cezar Alvarez admitem que, se de um lado há uma sobrecarga de trabalhos burocráti-cos que se acumulam com as funções políticas, por outro o segredo será refor-çar a equipe da secretaria com funcioná-rios que possam se encarregar de outras tarefas referentes à formulação política.

RevisãoUma das primeiras conse-

quências da mudança de foco

na negociação do PGMU foi a revisão do item mais polêmico da proposta que havia sido feita pela Anatel no ano pas-sado: a exclusão das metas de backhaul (banda larga) do escopo dos novos con-tratos. Isso, a partir de agora, está sendo negociado separadamente com as empresas, como foi feito na negociação do programa Banda Larga nas Escolas. A partir de agora, o Ministério das Comunicações tenta acertar com as empresas algum compromisso voluntá-rio de oferta de banda larga à popula-ção. Já havia conseguido, no fechamen-to desta edição, uma disposição para uma oferta de 600 kbps a R$ 29,00, posição que o governo considerava ainda “modesta”. Importante destacar que essa negociação está sendo feita pelo ministério, enquanto o restante do PGMU é conduzido pela Anatel, com a coordenação do ministério. Mas ainda que o tema não esteja mais sendo trata-do no PGMU, o ministro Paulo Bernardo não abre mão de incluir esse debate no mesmo roteiro. “Banda larga fará parte das negociações”, disse o ministro a TELETIME um pouco depois de sua posse. Mais que isso, ele afirmou que se existem divergências jurídicas, isso não pode impedir que se encontre uma solu-ção. “O prazo para massificar é de qua-tro anos, mas para baratear tem que ser em quatro ou cinco meses. Tem que começar esse ano a oferta de serviços em condições adequadas. A prioridade é colocar o serviço em condições mais baratas”, afirmou.

O que ainda não está de todo claro é como será a atua-ção da Telebrás no governo Dilma Rousseff. Não que haja qualquer sinalização no senti-do de se rever a reativação da estatal, mas com os cortes de orçamento ela deve ter dificul-dades para atuar tão ativa-mente como se previa. O ministro Paulo Bernardo reite-ra que a estatal foi reativada

.:PolítiCa

Um novo estiloPaulo Bernardo assume as Comunicações dando um novo tom à condução das políticas e enfrentando os temas mais importantes. Banda larga e Lei de Comunicação Eletrônica parecem ser as prioridades.

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“o prazo para massificar é de quatro aNos, mas para baratear tem que ser

em quatro ou ciNco meses.”Paulo Bernardo,

ministro das Comunicações

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uma ideia que, de novo, vem desde os tempos de Sérgio Motta: a revisão do marco legal da radiodifusão, a instituição de uma agência reguladora para o setor de rádio e TV e uma legis-lação convergente para o campo das comunicações.

Paulo Bernardo tem dito que é possí-vel que esse projeto, depois de analisado pelo governo e colocado em consulta pública, possa ser encaminhado ao Congresso ainda este ano. Sabe-se que boa parte dos técnicos do governo que trabalharam com Franklin Martins na elaboração do texto preliminar estão sendo chamados ao Ministério das Comunicações como colaboradores em cargos comissionados, o que é um indício de que o tema deve mesmo estar na pauta de prioridades.

Paulo Bernardo tem dito que ainda não há uma decisão, por exemplo, sobre um modelo de agência única ou de duas agên-cias reguladoras separadas, uma para conteúdos e outra para as redes de distribuição. Mas a todo instante cita que modelos de regulação seme-

lhantes existem nos EUA, Europa etc, e que avançar sobre essa discussão não se confunde com censura ou restrição às liberdades. Para o ministro Paulo Bernardo, a melhor maneira de promo-ver a regulação do setor de radiodifusão é através de uma agência que, segundo o ministro, “tem autonomia, estrutura adequada, se especializa na fiscaliza-ção”. Curiosamente, resgatando uma entrevista dada pelo ministro Sérgio Motta à revista PAY-TV (desta editora) em 1995, o discurso sobre a necessida-de de uma agência reguladora para a radiodifusão era muito parecido. Na ocasião, o então ministro da Justiça, Nelson Jobim, havia viajado aos EUA para conhecer o modelo da FCC. Motta, na ocasião, declarou que também via com bons olhos um modelo regulado por agência. Sérgio Motta nunca conse-guiu tirar a ideia do papel no que diz respeito à radiodifusão. Resta saber se Paulo Bernardo conseguirá. Fica, por enquanto, a frase de um radiodifusor a

Dilma Rousseff, ao lado de educação e saúde, daí a opção por um ministro ligado ao PT. Paulo Bernardo, em todas as suas falas públicas, tem deixado claro que suas ações são coordenadas com a presidenta Dilma.

Curiosamente, alguns itens da pauta política também são semelhantes entre os dois ministros, mesmo com os mais de 15 anos de diferença entre um e outro. Sérgio Motta tinha, já em seu discurso de posse, a questão das concessões de radiodifusão, até então feitas com crité-rios unicamente políticos. Uma das pri-meiras medidas do ex-ministro tucano foi suspender o processo de liberação de outorgas, o que só foi retomado dois anos depois, já com uma regra de licita-ção clara estabelecida em lei. Como con-sequência, Sérgio Motta bateu de frente com o principal apoiador político do governo FHC, o ex-ministro das

Comunicações e senador Antônio Carlos Magalhães.

Paulo Bernardo, ao assumir o cargo em janeiro, foi pelo mesmo caminho. Evitou falar sobre o setor de radiodifusão em seu discurso inaugural, mas logo, inci-tado por perguntas de jornalistas, acabou criticando o controle de emissoras de rádio e TV por políticos, e como uma das primeiras medidas transferiu o poder de fiscalização e sanção sobre questões téc-nicas da radiodifusão para a Anatel. Também disse que a propriedade cruzada entre veículos de radiodifusão e imprensa escrita pode ser um problema em algu-mas situações. E com essas e outras declarações Paulo Bernardo acabou entrando em um assunto que ele mesmo não tinha como prioridade para as suas primeiras semanas no cargo: a Lei de Comunicação Eletrônica.

Trata-se de um projeto deixado pelo ex-ministro Franklin Martins, da Secretaria de Comunicação Social do governo Lula. A proposta é o resgate de

“por uma conclusão a que chegamos no governo: as empresas que estão atuando não tiveram condições ou interesse em resolver o problema da difusão da banda larga, da Internet”. Segundo ele, o ex--presidente Lula sempre tratou essa ques-tão com muito pragmatismo: “se o merca-do resolve, tá resolvido”, disse. Para ele, “se (as teles) estivessem oferendo banda larga com condições técnicas adequadas e preço bom, massificando, aumentando... mas aparentemente as empresas fizeram uma opção por oferecer serviço para pouca gente e ganhar no preço, com lucratividade baseada no preço alto. A Telebrás entrou para ajudar a desenvol-ver esse mercado”. Não se sabe como ficará essa política se as teles fizerem uma “oferta mais generosa”.

Os empresários de telecomunicações que já conversaram com Paulo Bernardo procuram ser elogiosos com o ministro no que diz respeito à sua disposição de nego-ciar dentro das regras existentes. Mas admitem que encontraram um ministro com uma pauta política forte determinada pela presidenta Dilma, o que significa que estas negociações podem sair mais pesa-das do que estavam esperando.

Para Paulo Bernardo, em entrevista dada em janeiro à TV Brasil, “o setor se desenvolveu muito, mas há sempre uma dúvida se poderia ter sido desenvolvido com estatais ou não. Não vou nem discutir isso. Com toda sinceridade, as empresas foram vendidas a preço de banana. O setor está aí, vamos trabalhar com as empresas, mas acho que as nossas políti-cas setoriais, como o modelo elétrico, são muito mais eficazes”, afirmou.

estilos semelhantesO Ministério das Comunicações tem,

na figura do ministro Paulo Bernardo, uma referência política forte. As leituras mais comuns no mercado apontam para uma grande semelhança com o primeiro ministério do governo Fernando Henrique Cardoso, sob a batuta de Sérgio Motta. Nos dois casos, apontam esses analistas, os ministros não eram ligados ao setor, tinham grande força política dentro do governo e assumiram a pasta com o objetivo de implementar uma polí-tica específica. No caso de Sérgio Motta, o projeto político passava pela mudança nos critérios de outorgas de concessões rádio e TV e, posteriormente, pela priva-tização da Telebrás. No caso de Paulo Bernardo, o que se diz é que PNBL deve-rá ser uma das bandeiras do governo

Principal coordenador do trabalho do ministério é Cezar Alvarez, ex-assessor especial de Lula e agora secretário-executivo de Paulo Bernardo.

a partir de agora, o miNistério das comuNicações teNta acertar com as empresas algum compromisso VoluNtário de oferta de baNda larga à população.

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Oito meses depois de a Telebrás ter sido revitalizada dentro da estratégia do governo de massi-ficar a oferta de Internet rápida

para os brasileiros, o retorno da estatal ao mapa das telecomunicações ainda dá o que falar dentro da Anatel. O motivo da última polêmica nos corredores da agên-cia reguladora é o assunto mais espinho-so entre os telebrinos, como são chama-dos os funcionários da empresa: o con-troverso Programa de Indenização por Serviços Prestados (Pisp), uma política de indenização dos funcionários estabeleci-da na época da privatização, em 1998, mas que ainda está aberto, ou seja, ainda poderia ser utilizado pelos funcionários da Telebrás.

A onda de desconforto entre os funcionários foi inaugurada com uma circular da estatal, encaminhada a seus servidores cedidos a outros órgãos (notadamente a Anatel) no final do ano passado, determinando que cada um deles escolhesse se pretendia manter-se no quadro da Telebrás e abrir mão da indenização, ou receber o Pisp e ser demitido.

Obviamente, nenhum funcionário diz quanto teria a receber pelo tempo de serviços prestados. Mas não se trata de pouco dinheiro. Estima-se que a estatal irá desembolsar mais de R$ 10 milhões com os servidores que optarem por se desligar da empresa. A contro-vérsia está no fato de que boa parte dos funcionários que deve receber a indeni-zação não está nem um pouco inclina-da a aceitar a demissão. Os argumen-tos são muitos para a tentativa de colocar a mão nos recursos e, ainda assim, permanecer nos quadros da Telebrás. Mas o comando da estatal parece convicto de que não há outro caminho para o pagamento do Pisp que não a demissão dos servidores.

Polêmico desde o inícioFonte de polêmicas desde sua cria-

ção, o Pisp ganhou a alcunha de “jabuti-

caba das telecomunicações”. A referên-cia à fruta nativa é usada de forma depreciativa, como algo que só existe no Brasil. E, de fato, o Pisp não tem qual-quer similar no mundo. Basicamente, trata-se de um Plano de Demissão Voluntária (PDV) público, criado na época da privatização das telecomunica-ções para estimular a ida dos servidores para as empresas privadas concessioná-rias. Além do ineditismo de instituir um PDV público, pagando um abono para os servidores que deixassem a Telebrás calculado com base nos anos de traba-lho na estatal, o Pisp tinha mais uma peculiaridade que explica porque o pro-grama existe até hoje, mesmo passados 12 anos da privatização.

Além de fornecer mão-de-obra para as empresas privadas recém-aportadas no setor, o governo também tinha que garantir que a então nova agência regu-ladora, a Anatel, tivesse funcionários. E

onde esses servidores foram garimpa-dos? Novamente, na Telebrás. Dezenas de funcionários foram cedidos para compor a autarquia e lá passaram a ocupar alguns dos cargos mais impor-tantes da agência. Acontece que muitos deles não queriam continuar na admi-nistração pública e, seduzidos pelo Pisp, preferiam receber a indenização e bus-car nova vida nas empresas privadas.

Para assegurar que esses servidores não debandassem, o governo tomou uma decisão delicada: estender o abono a todos os funcionários, inclusive os que permanecessem nos quadros da estatal. Essa decisão corrompeu a ideia original de estimular a saída dos funcionários, mas garantiu o surgimento da Anatel. Como a Telebrás um dia seria extinta, quando isso ocorresse todos receberiam seu quinhão do Pisp. Mas o que ninguém previa naquele momento é que a estatal jamais completaria seu processo de

.:Governo Mariana Mazza, de Brasí[email protected]

O dilema dos telebrinosFuncionários da Telebrás ficam amarrados entre a possibilidade de receberem uma indenização e serem demitidos ou voltarem aos quadros da empresa. O problema é que não foi isso o combinado em 1998.

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que já aguardavam há tempos uma ini-ciativa para acabar de uma vez por todas com o programa de indenização. O que ninguém esperava é que a ação fosse ser tomada tão rapidamente. Quando tomou posse na presidência da Telebrás, Rogério Santanna chegou a

dizer que o dilema do Pisp levaria um ano para ser resol-vido e que tudo seria discutido com os servidores. A emissão da circular em 12 de novem-bro de 2010 com as duas opções para os servidores jogou por terra a promessa do

presidente da estatal.

tentativa de negociação“A Telebrás nunca conversou com a

gente sobre este assunto. Não respon-deu nossas cartas, não abriu diálogo. O lamentável disso tudo é que quem está sendo prejudicado é o trabalhador”, reclama Brígido Ramos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações do Distrito Federal (Sinttel/DF). Várias edições do “Alô Alô”, boletim do Sinttel distribuído em Brasília, foram dedicadas à polêmica, recomendando que os servidores “não assinem nada antes do prazo estabeleci-do pela empresa”. O sindicato estuda novas opções para protestar a decisão

2010. Aproximadamente 30 funcioná-rios escolheram pegar o Pisp e desligar--se da empresa.

A estatal também trabalhou em cima de um princípio bastante pragmático para impor o mais rápido possível uma escolha aos funcionários sobre o futuro

do Pisp. Com a missão de colocar a Telebrás em pé novamente, o Pisp tor-nou-se um problema contábil para a empresa. Para cada R$ 1 investido no aumento do salários dos funcionários da estatal - que estão com seus vencimen-tos defasados há anos em relação à folha salarial de outros órgãos da admi-nistração pública - a Telebrás é obriga-da a reservar R$ 3 para cobrir as despe-sas do Pisp. Essa correlação existe por-que o cálculo da indenização é baseado no tempo de serviço prestado e no salário do servidor.

Assim, manter o Pisp inviabilizaria em último grau a própria revitalização da companhia. Essa lógica nociva para a estatal é conhecida dos funcionários,

extinção e, passada uma década, a deci-são de estender o Pisp a todos os servido-res iria transformar o programa em um dos grandes esqueletos da privatização.

Morte anunciadaNão é difícil imaginar a reação dos

órgãos de controle externo quando sou-beram que o tal programa de demissões da Telebrás continuava existindo mesmo depois de 12 anos da privatização. Tão logo soube da manutenção do Pisp, a Controladoria-Geral da União (CGU) agiu imediatamente, exigindo que a Telebrás acabasse com o programa. Essa primeira reação da CGU tem mais de dois anos, e desde então a estatal estuda como exterminar o plano de indenização, sem sucesso até agora.

A possibilidade concreta de cumprir a determinação da controladoria surgiu ironicamente no processo de revitaliza-ção da estatal. O raciocínio é simples: se a Telebrás não iria mais ser extinta, não faz sentido manter um plano de estímu-lo à demissão dos servidores. Com essa lógica em mente, baseada apenas na ideia original de que o Pisp é uma espé-cie de PDV, o novo comando da estatal começou a trabalhar no projeto para o acerto de contas que culminou com a circular exigindo uma opção dos traba-lhadores até o dia 15 de dezembro de

para cada r$ 1 de aumeNto dos salários dos fuNcioNários, a telebrás é obrigada a reserVar r$ 3 para cobrir as despesas do pisp.

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30 TeleTime jan/Fev_2011

da Telebrás de encerrar o Pisp. Uma iniciativa já foi tomada no ano passado, mas a Justiça não aceitou os argumen-tos do Sinttel na análise inicial.

O que o sindicato e os servidores que hoje fazem parte do quadro da Anatel pretendem é abrir uma negociação para tentar encontrar uma solução alternati-va. A proposta que circula nas rodas de servidores é de sugerir que a agência assuma completamente os custos dos funcionários, incluindo a indenização do Pisp, liberando a Telebrás da responsa-bilidade por pagar esses servidores que estão cedidos à autarquia. Essa alterna-tiva, que ainda não foi apresentada for-malmente à Telebrás nem negociada com a própria Anatel, é inspirada em uma articulação realizada há dois anos entre os dois órgãos. Em 2008, um parecer feito pela então procuradora da agência, Ana Luiza Valadares, aler-tou o comando da Anatel de que a autarquia tinha que assumir os custos dos funcionários cedidos pela Telebrás. Até então, quem pagava os benefícios tra-balhistas desse corpo téc-nico ainda era a estatal em processo de extinção.

O alerta dado pela procuradoria não tinha nada de revolucionário. Na ver-dade, apontava a regra básica da admi-nistração pública com relação ao paga-mento de servidores cedidos, que jamais havia sido cumprida pela autar-quia. O parecer foi bem recebido pelo comando da agência, que adotou as ações sugeridas pela procuradora e passou a custear os servidores cedidos. Uma vez que houve esse movimento no passado, os funcionários agora apos-tam que a Anatel também poderia assumir o custo do Pisp como forma de manter os servidores trabalhando na agência. “Se prestamos um serviço que a Anatel considera importante, por que não a agência assumir esse custo para evitar a nossa demissão?”, pergunta um telebrino cedido à Anatel que prefe-riu não se identificar.

A mobilização entre os telebrinos que podem ser demitidos a partir de 30 de abril deste ano, data fixada pela Telebrás para começar a pagar o Pisp, tem sido grande dentro da Anatel em busca de um meio de colocar essa pro-posta na mesa. Mas o que poucos sabem é que, de certa forma, essa ação de

transferir os custos para a Anatel já foi pensada pela própria Telebrás. A verda-de é que a maior parte do custo de pagamento do Pisp será transferida no futuro para a agência reguladora, segundo contam fontes da estatal.

Novamente, as regras da adminis-tração pública se impuseram. Como os servidores da Telebrás que serão desli-gados passaram a última década traba-lhando para a Anatel e não para a estatal, as regras do setor público per-mitem que a empresa cobre da agência reguladora um ressarcimento pelos gastos com os funcionários cedidos. À primeira vista, a ideia da Telebrás é semelhante à dos telebrinos cedidos. Mas a semelhança não resiste a um olhar mais apurado.

No caso do ressarcimento, a demis-são não é evitada, pelo contrário. É preciso demitir os servidores, pagar o Pisp e, só então, emitir a fatura para a Anatel. Outra diferença é que a opção de transferir os custos da indenização para a agência reguladora não livra a Telebrás dos custos financeiros de aporte no caixa do programa. Isso porque o pro-grama é da Telebrás, assim como os funcionários, e não há previsão legal

que permita a transferência completa de um servidor para outro órgão público. Assim, pelo menos do ponto de vista contábil, se a Anatel selar um compro-misso de cobrir os custos desses servi-dores no futuro, isso não alivia as contas da Telebrás no presente.

Relações estremecidasA decisão da estatal de antecipar o

término do Pisp também azedou o clima dos funcionários com o corpo adminis-trativo da Anatel. Os telebrinos culpam a atitude da agência reguladora no pro-cesso de negociação com a estatal para a devolução dos funcionários pelo desfe-cho negativo aos servidores que querem receber o Pisp. O ponto que mais inco-moda os servidores é a autarquia não ter colocado nenhum telebrino para mediar as conversas com a Telebrás.

A reclamação é compreensível, con-siderando que a Anatel tem um servidor cedido pela estatal no Conselho Diretor da autarquia. Trata-se do conselheiro Jarbas Valente, que não participou de qualquer negociação com a estatal.

Na prática, o que ocorreu foi que o assunto foi tratado burocraticamente pela Superintendência de Administração Geral (SAD) do órgão regulador. É bem verdade que, do ponto de vista adminis-trativo, a devolução dos servidores é um tema da alçada da SAD. Mas o clima ficou pesado entre os telebrinos com o surgimento de comentários de que a superintendência estaria criando difi-culdades para a Telebrás, recusando-se a devolver os servidores solicitados pela estatal ou que haviam declarado inte-resse em retornar ao órgão de origem.

Na visão dos servidores ouvidos por esta reportagem, foi esta suposta atitu-de da SAD que gerou a reação, conside-rada surpreendente, da Telebrás de antecipar a determinação de que os funcionários escolhessem entre o Pisp e o emprego público. A Telebrás evita reforçar a polêmica. Fontes alegam que a estatal antecipou o processo de esco-lha simplesmente porque estender o debate não evitaria o desfecho dramá-tico para alguns servidores. A maioria dos cedidos, no entanto, escolheu abrir mão do Pisp e retornar à Telebrás. Na confraternização de fim de ano, os tele-brinos retornados fizeram até uma música de despedida do programa de indenização em tom de brincadeira, inspirada no sucesso do cantor Lulu Santos “Como uma onda”.

.:Governo

como os serVidores da telebrás que serão desligados passaram a última década trabalhaNdo para a aNatel, as regras

permitem que a empresa cobre da agêNcia reguladora um ressarcimeNto pelos gastos com os fuNcioNários cedidos.

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Mais rica e ambiciosa depois de incorporada pela gigante francesa Vivendi no final de 2009, a GVT finalmente

anunciou sua entrada no segmento resi-dencial de São Paulo e Rio de Janeiro, os dois mercados mais importantes do Brasil. Na capital paulista a operadora pretende iniciar operações no segundo semestre de 2011. Na metrópole cario-ca, já começou a atuar em 21 bairros – ou 15% da área urbana – com 73 mil acessos para telefones fixos e Internet de 5 Mbps a 10 Mbps.

Não por acaso, este é considerado “o ano-chave da GVT”, segundo pala-vras de seu presidente, Amós Genish. Por isso, a ‘espelho’ curitibana que onde atua costuma tirar o sono da con-corrência, agora sofre de insônia. “A única coisa que tira meu sono à noite é como podemos terminar nossas obras, esse grande projeto que tem milhares de quilômetros”, disse o presidente recentemente ao jornal Brasil Econômico, referindo-se à megalópole de São Paulo, considerada por ele “o filet mignon do país”.

O vice-presidente de marketing e vendas da GVT, Alcides Troller, sabe que a perda de algumas horas de sono é o preço cobrado pela opção da rede pró-pria, que a operadora sempre defendeu em detrimento do unbundling. “O custo de construção de rede em São Paulo e Rio é muito alto. A maioria dos postes já está ocupada e para atender ao merca-do residencial é preciso cobrir no míni-mo 20% da cidade”, explica. A ideia da GVT é trabalhar com o modelo de “clus-ters”, sempre se expandindo em torno de um grande centro metropolitano.

De acordo com o executivo, apesar dos transtornos que as obras de lança-mento de fibras e instalação de centrais causam para a população, isso tudo não é menor do que a dor de cabeça que a operadora tem com os trâmites buro-cráticos, que começam muito antes das

obras e que são ainda mais complexos em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Isso porque as licenças para a passagem dos cabos aéreos e subterrâ-neos são concedidas por trechos que, não raro, podem ser de um ou dois quarteirões apenas, no caso de uma região como a Avenida Paulista. Ou seja, o tamanho do município é proporcional à fragmentação do processo. Para se ter uma ideia, os 21 bairros do Rio cobertos até agora pela GVT necessitaram de 140 licenças de pedido de passagem dos cabos ópticos. Cada uma dessas licenças demandou um projeto de implantação e um protocolo de pedido. Esses pedidos têm de ser encaminhados para a prefei-tura (ou subprefeitura) e para a compa-nhia de energia elétrica, dona dos pos-tes. Em alguns casos, entram ainda algumas autarquias no circuito, como as empresas de saneamento. Ou seja, no mínimo a GVT teve de aguardar 140 autorizações da prefeitura e as 140 autorizações da companhia elétrica

para começar a instalação de sua rede nos 21 bairros do Rio. Sem todos os pedidos aprovados, nenhum metro de cabo sequer pode ser lançado.

Após centenas de assinaturas e pro-tocolos, é hora da implantação da rede. Já contando com o atraso dos papeis e buscando cumprir o time to market, cerca de 20 obras são executadas simul-taneamente. Acidentes, como o rompi-mento de dutos, eletrodutos e adutoras e queda de árvores, não podem ser jamais desconsiderados. Por isso, é necessário não só um trabalho conjunto, mas muito entrosamento com empresas de saneamento, de água e esgoto e de engenharia de trânsito, a fim de evitar maiores transtornos.

Para dificultar ainda mais, o setor de construção civil nunca esteve tão aquecido, sobretudo em São Paulo e Rio de Janeiro. “Fica difícil encontrar empresas aptas para construir nossas redes no tempo e com a qualidade que precisamos”, explica Troller. A GVT

.:oPeraÇÃo daniel [email protected]

Quero ser grandeGVT anuncia sua entrada no Rio de Janeiro e São Paulo. As oportunidades podem colocá-la no primeiro time das teles brasileiras, mas as dificuldades também são grandes.

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jan/Fev_2011 TeleTime 33

numérica, com 62% de participação.O atendimento ao assinante tam-

bém é considerado um diferencial de mercado pela operadora, que é uma das poucas que não terceiriza essa área e conta com mais de 3 mil colaborado-res dedicados ao atendimento ao clien-te. “A remuneração desses profissio-nais é variável, ou seja, eles ganham conforme a satisfação dos clientes”, lembra Troller.

A propósito, no último ano a GVT ampliou significativamente seu quadro de funcionários, saltando de 5,2 mil em dezembro de 2009 para 8 mil em dezembro de 2010.

Mais que telecomO ingresso em São Paulo não é

desafiador para a GVT somente pelo tamanho e complexidade da cidade, mas também porque é na capital pau-lista que a operadora inaugurará uma nova estratégia de atuação. Até o final de 2011, a espelho pretende lançar seus serviços de TV por assinatura primeiro na metrópole e, com isso, dar início ao conceito de casa conectada, que pretende espalhar para todas as localidades onde atua. “Queremos dei-xar de ser uma empresa de telecomu-nicações para ser uma de comunica-ções, uma visão mais aberta do que de telecom. E nossa entrada em TV paga é parte disso”, disse Genish a um peri-ódico paulista.

Ele antecipa que o home gateway será o coração dessa nova casa conec-tada, pois controlará e integrará a comunicação de aparelhos como a TV e o telefone entre si e com o computador.

No primeiro ano, a GVT i n v e s t i r á R$ 200 milhões nessa plata-forma de TV paga, que será híbrida satélite/IPTV. A Ericsson será a fornecedora das soluções IPTV, cujos ser-viços trafegarão na rede GVT, e a Intelsat do satélite, uma vez que as teles ainda não tem autorização do governo para oferecer TV a cabo. O fornecedor de set-tops ainda

não está definido.

sa realizada no final de janei-ro, Genish divulgou que o valor investido em 2011 em todo o país será de R$ 1,73 bilhão, 23% superior ao de

2010, de US$ 1,4 bilhão, e o mais alto já realizado pela empresa em dez anos. O mandatário revela que foi a Vivendi a principal responsável por ensinar a GVT a pensar grande.

Apesar dos desafios inerentes do grande projeto, que é ingressar no Rio de Janeiro e em São Paulo, Troller prefere enxergar o outro lado da situ-ação. “Isso tudo é muito estimulante e me faz ter ótimos sonhos de como será 2011”, comemora.

A operadora levou dez anos para chegar em cem cidades, que juntas somam aproximadamente 28 milhões de habitantes. “Agora, em apenas um ano, estamos desembarcando em um merca-do com quase 20 milhões de pessoas”, diz. Ele lembra também que o atendi-mento ao mercado residencial exige altos gastos com publicidade, e o custo de mídia no Rio de Janeiro e São Paulo é mais caro que a média nacional.

Para o diretor, o maior desafio da GVT será o de manter a mesma pro-posta de valor e nível de satisfação dos clientes em mercados tão gigantescos. Além da telefonia fixa, a operadora oferece aos seus pouco mais de 4 milhões de clientes banda larga de 5 Mbps a 100 Mbps sem limitação de download e upload. A tele garante tam-bém que tem a mais alta taxa de pene-tração de Internet na base de clientes do mercado brasileiro, de 86%, e que ocupa a liderança da portabilidade

trabalha com uma distância de 300 a 400 metros entre a central de serviços e a casa do assinante, contra uma média de mercado de 1,5 a 2,5 quilômetros. Isso com-plica ainda mais a implanta-ção da rede.

Segundo Hélio Bampi, diretor de relações institu-cionais da Abeprest, asso-ciação que congrega as empresas instaladoras de redes externas do país, a falta de mão--de-obra atinge toda a cadeia de implantação de cabos ópticos. “Falta gente especializada no mercado, do meio-oficial de linha, ou aprendiz de lançador de fibras ópticas, até o lança-dor de cabo, passando pelo auxiliar de emenda de fibra, o emendador e o testador”, diz.

Fica fácil entender porque a instala-ção da rede da GVT, especialmente em São Paulo, tira o sono do presidente da empresa. Porém, vale lembrar que ape-sar de ser hoje a mais ativa implementa-dora de redes metropolitanas, a GVT não está sozinha. Operadoras de cabo, como a Net Serviços, também estão constante-mente expandindo suas redes. A Embratel também está em processo de construção de redes metropolitanas HFC (fibra e cabo coaxial), e a Telefônica intensificou a instalação de redes de acesso em fibra. Isso sem falar nas empresas que atendem ao mercado cor-porativo.

o porvir Apesar de todas as dificuldades, a

GVT vem construindo uma rede conside-rável. De acordo com os dados do último trimestre de 2010, são 39 mil quilôme-tros de redes metropolitanas (ainda sem contar com a infraestrutura das capitais Rio e São Paulo) e um backbone óptico de 16 mil quilômetros. E, a julgar pelos aportes anunciados recentemente, esses números devem crescer bem: R$ 400 milhões no Rio de Janeiro até o final de 2 0 1 2 e R$ 408 milhões em São Paulo até o final deste ano, quase 25% do Capex total, que faz parte de um inves-timento de R$ 2 bilhões nos próximos três anos somen-te na capital paulista.

Em coletiva de impren-

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Existem momentos na história do mercado de telecomunica-ções em que grandes mudan-ças de cenário acontecem não em função de novas tecnolo-

gias ou novos serviços, mas simplesmente quando se muda a forma de vender pro-dutos. Foi assim que na década de 90, por exemplo, a AT&T revolucionou a indús-tria ao criar o plano de serviços Friends and Family, com um modelo revolucioná-rio de cobrança de tarifas diferenciadas para números pré-escolhidos. Foi a inspi-ração para quase todas as promoções semelhantes que existem hoje. No Brasil, a TIM está conseguindo, com sucesso, reverter uma situação de crise baseada justamente na mudança na forma de ven-der seus produtos.

No final de 2009, quando o presidente da TIM Brasil, Luca Luciani, afirmou que a operadora priorizaria a infraestrutura e os serviços de voz, pouca gente no mercado entendeu a mensagem. Alguns analistas chegaram a considerar a estratégia um tiro no pé, uma vez que a convergência entre banda larga e mobilidade vivia um grande momento, com 5,9 milhões de usu-ários de serviços 3G já no segundo ano de vida da tecnologia.

Por conta da baixa qualidade dos servi-ços prestados, a própria Anatel exigiu das teles mais investimentos em suas redes 3G, sob pena de pesadas multas. Nesse contexto, soou como provocação a respos-ta de Luciani de que a infraestrutura 2G da tele continuaria sendo a prioridade por algum tempo, recebendo 2/3 dos aportes de rede. “O 3G representa o futuro para a TIM e é preciso dar um passo de cada vez”, disse na ocasião.

Primeiro passoA operadora era a segunda

maior do país em 2007, com 26,7% de market-share, mas viu a Claro assumir a vice-liderança em 2008 e a partir daí não parou mais de perder mercado, até chegar em 23,6% em 2009. Além da segunda queda conse-

cutiva, ao final de 2009 a TIM amargava perdas também na receita operacional líquida e no faturamento dos serviços de telecom, tanto na voz como na assinatu-ra e no uso da rede (interconexão).

Era preciso estancar a sangria no market-share e incrementar a média de minutos usados por mês por usuário (MOU, na sigla em inglês). Em meados de 2009, esse MOU era de 73 minutos, muito baixo em relação a outros países e ao segmento corporativo, cuja média é de 500 minutos. A tele operava com um tráfego 30% menor do que o pico atingi-do em 2008. Luciani demonstrava conhecimento do problema e compara-va o negócio de telecomunicações ao de aviação: “se sobram poltronas dentro do avião, é preciso ocupá-las”.

Novo planoEm abril de 2009, a TIM havia lança-

do um plano agressivo, que tinha todo o jeito de promoção temporária para a base pré-paga, o Infinity Pré, mas que não só provaria ser a estratégia comer-cial ideal para “ocupar as poltronas do avião” como também a futura plataforma de vôo e ascensão da empresa.

O alto valor do minuto cobrado pelas teles sempre representou uma dor de cabeça aos assinantes, especialmente os pré-pagos, mais sensíveis aos preços. A base pré-paga da TIM era somente a terceira entre as quatro grandes opera-doras. A saída encontrada foi radicalizar, com um plano que não mais tarifaria as ligações por minuto, mas por chamada. Ou seja, o usuário pagaria somente o

primeiro minuto da ligação, podendo falar por mais quanto tempo quisesse sem pagar nada mais por isso,

para outros celulares TIM e fixos de qualquer operadora.

Segundo Roger Solé, diretor de marke-ting para varejo da TIM, o Infinity Pré foi um “conceito revolucionário na telefonia móvel que quebrou a barreira do taxíme-tro, do preço por minuto”. Ele lembra que na época a operadora foi muito questiona-da por lançar mão de uma estratégia tão ousada e agressiva. “Não acharam que esse seria um bom caminho, mas a verda-de é que há um certo conservadorismo no setor de telefonia móvel e nem todos estão dispostos a arriscar. Como tínhamos ape-nas a terceira maior base pré-paga, não havia nada a perder e resolvemos pagar para ver”, lembra.

ResultadosOs resultados do Infinity Pré não foram

imediatos. Pelo contrário, só foram perce-bidos para valer a partir do ano seguinte, em 2010.

Com o tempo de ligação estimulado, o tráfego de longa distância nacional da operação fixa da TIM, que até junho de 2009 era de aproximadamente 150 milhões de minutos tarifados, o penúlti-mo considerando as operadoras móveis e fixas, alcançou a liderança quatro meses depois. E disparou em março de 2010, atingindo 1,6 bilhão de minutos até junho, não apenas desbancando a operadora que liderava o segmento há mais de 60 anos, a Embratel, que ficou com pouco mais de 600 milhões de minutos tarifados, mas abrindo sobre ela uma vantagem maior do que o dobro de seus minutos. O segredo é simples: com a cobrança por ligação, as pessoas que tinham a necessidade de falar com parentes ou amigos em outras localida-des passaram a centralizar suas chama-

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Estratégia da viradaComo o novo plano tarifário fez a TIM reverter a crise e conquistar 32 milhões de usuários em pouco mais de 18 meses.

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“somos a operadora móVel que mais cresce atualmeNte e Não teNho dúVida de que o iNfiNity é o priNcipal respoNsáVel pelo crescimeNto recorde”Roger Solé, da Tim

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do? Talvez sim, mas o mer-cado de telecom é como um jogo de xadrez: as outras operadoras fazem movimen-tos para se defender ou ata-car. O movimento típico de defesa é a cópia, mas o ata-que pode ser algo mais ino-vador ainda”, adverte.

ReaçãoA reação das teles tardou

cerca de um ano a acontecer, na verdade quando os resultados positi-vos do Infinity Pré começaram a se con-solidar no mercado. A concorrência tra-tou de lançar, então, planos para a base pré-paga que exploravam a mesma ideia, de estimular as ligações de voz por meio de vantagens financeiras, porém com formatos diferenciados. Em meados de 2010, a Claro contratou o jogador de fute-bol Ronaldo, do Corinthians, para vender um modelo tarifário cujos minutos e ser-viços podem ser montados pelo próprio usuário, de acordo com seu bolso. A Oi lançou um plano de recarga de créditos a partir de R$ 1, com o mesmo valor men-sal de tarifa sendo revertido em bônus para ligações e torpedos. A Vivo optou por um sistema híbrido, um mix entre o pós-pago e o pré-pago. O usuário paga uma mensalidade fixa. Ultrapassado esse valor, o cliente pode realizar uma recarga de qualquer valor, como na modalidade pré-paga. “É cada vez mais comum ope-radoras lançando modelos híbridos no mercado. O pré-pago está deixando de ser um extrato, um grupo social dentro das teles, e se tornando uma forma de pagamento”, explica Falck.

Banda largaSeguindo sua estratégia agressiva de

preços, em agosto do ano passado a TIM estendeu a oferta do Infinity para os servi-ços de banda larga. Ou seja, o usuário paga antecipadamente um valor simbólico apenas no dia em que quiser acessar a Internet e tem acesso à rede de dados até a meia-noite do mesmo dia.

A operadora espera, com isso, atrair consumidores que utilizam a Internet em lan houses. O serviço está disponível nas redes 2G e 3G, com limitação de velocida-de de 300 kbps. Primeiro quebramos os paradigmas nos serviços de voz. O próxi-mo passo é fazer o mesmo na Internet e na comunicação como um todo”, resume Roger Solé.

daNIel MaCHado

pal responsável pelo crescimento recor-de”, afirma o diretor.

Com isso, a TIM roubou da Claro o título de segunda maior base de clientes pré-pago do mercado. Em 2009 eram 34,6 milhões, contra 35,7 milhões da Claro. Em 2010 a TIM conquistou 3,2 milhões de clientes pré-pago a mais que a Claro e virou o jogo: 43,5 milhões contra 41,3 milhões da concorrente.

A operadora também registrou o maior crescimento de market-share em 2010: 1,51% contra 0,18% da segunda colocada, a Vivo. As demais, Claro e Oi, perderam mercado. Agora com 25,14% de share, a TIM encostou na concorrente Claro (25,44%), e pretende retomar também, ainda neste ano, o posto de segunda maior operadora móvel do Brasil.

efeito colateralMas nem todos os indicadores financei-

ros e operacionais da TIM cresceram após o lançamento do Infinity. A receita média por usuário (ARPU) fechou o terceiro tri-mestre de 2010 (até o fechamento desta edição não havia sido divulgado o balanço do quarto trimestre) em R$ 23,4, uma redu-ção de 10% sobre igual período de 2009. E nem poderia ser diferente, com uma políti-ca tão agressiva de preços. No entanto, a tendência de queda no ARPU ocorre em todas as operadoras móveis do país, tanto na base pré-paga como na pós-paga.

Para o gerente de desenvolvimento de novos negócios da Amdocs, Maurício Falck, o grande negócio não é mais só vender minutos, mas alavancar outros serviços. “É como no modelo americano, que não tarifa a ligação local. O ganho vem da utilização da rede e de outros negócios”, explica. Segundo o especialista, se um usuário tem um ticket médio mensal de R$ 100 e esse gasto cai para R$ 60, ele não vai gastar os R$ 40 de diferença na cerveja do bar, mas em outros serviços da operadora que antes não utilizava.

“A TIM foi a operadora responsável por acelerar essa percepção no merca-

das de longa distância em linhas da TIM.

O MOU da operação móvel saiu de 73 minutos, em 2009, para 123 minutos no terceiro trimestre de 2010 (dados mais atualizados da operadora) evi-denciando o sucesso da estraté-gia de estímulo à voz. “Atingimos a liderança no mercado de longa distância nacional, com 40%, mais que Embratel e Telefônica”, comemora Solé.

Nos indicadores financeiros, o EBITDA da operadora, que em 2008 havia cresci-do um dígito, teve a segunda maior alta do mercado no terceiro trimestre de 2010, 25,3%.

O valor de mercado da operadora quase dobrou em um ano, passando de R$ 8,5 bilhões em 2009 para R$ 15 bilhões em 2010, com expectativa de chegar a R$ 18,5 bilhões em 2011 segundo o preço alvo médio do mercado. Com alta acumu-lada de 10,6%, o papel preferencial da TIM (TCSL4) foi a ação que mais valorizou no ano entre todas as operadoras de teleco-municações, fixas e móveis. Concorrentes de peso como Oi e Vivo sofreram valoriza-ção negativa no mesmo período, com -28,9% e -9,4%, respectivamente.

A operadora listou uma série de con-quistas em 2010, que justificam o bom desempenho na Bolsa: a marca de 50 milhões de usuários, a liderança no Sul do país, a recuperação da liderança no Nordeste e a segunda posição na região metropolitana de São Paulo.

A nova estratégia comercial também surtiu efeito na satisfação dos usuários. Estudo da J.D. Power do Brasil, divulgado em fevereiro de 2011, coloca a TIM como a operadora mais bem classificada em relação à satisfação dos clientes, com uma pontuação de 670 em uma escala de mil pontos (a média do setor é de 663). A ope-radora apresentou desempenho particu-larmente positivo nos aspectos relaciona-dos aos custos do serviço e gerenciamento das contas. A segunda colocada, a Vivo, teve pontuação de 665 e as demais, Claro e Oi, 636 e 610, respectivamente.

Mas o número mais impressionante e que, segundo Roger Solé, faz do Liberty Pré um estudo de caso mundial, é o cres-cimento da base de assinantes pré-pagos da TIM em um curto espaço de tempo: 32 milhões de linhas em pouco mais de um ano e meio. “Somos a operadora móvel que mais cresce atualmente e não tenho dúvida de que o Infinity é o princi-

“a tim foi a respoNsáVel por acelerar essa percepção No

mercado? talVez sim, mas telecom é como jogo de xadrez: as outras

teles fazem moVimeNtos para se defeNder ou atacar”

Maurício Falck, da Amdocs

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36 TeleTime JAN/FEV_2011

O desempenho das telecomu-nicações no Brasil é satisfa-tório? Afinal, como medi-lo? Na perspectiva dos usuários, o que importa é a disponibi-

lidade e o preço dos serviços, ao passo que para as empresas um bom desempe-nho está associado, por exemplo, à ren-tabilidade das operações e ao grau de liberdade para atuar. Embora parciais e conflitantes, ambas as visões são corre-tas e, assim, deveriam ser levadas em consideração pelo governo e pelo órgão regulador na avaliação dos resultados e na revisão das políticas setoriais.

A avaliação de desempenho de qual-quer segmento da atividade econômica é tarefa complexa, na medida em que requer: 1) a consideração de diversos pontos de vista, que espelham interesses e objetivos divergentes; 2) a tradução desses objetivos em indicadores que representem, na opinião daqueles que farão uso da avaliação, a diversidade e a extensão dos aspectos avaliados; 3) a quantificação dos indicadores com base em dados obtidos de fontes confiáveis – o que no Brasil é um enorme desafio, pois, quando existem, muitos dados não estão acessíveis ou o custo de obtenção inviabi-liza o processo de avaliação –; 4) a com-paração dos resultados com metas factí-veis no mesmo horizonte de tempo, de forma a se estimar o desempenho histórico e gerar referências para o planejamento futuro.

Embora complexas, tais técnicas não são novas. O desafio enfren-tado atualmente pelas organizações interna-cionais de desenvolvi-mento e padronização é homogeneizar as meto-dologias usadas, para que seja possível com-parar países e regiões. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), por exemplo, apresentou, em março de 2008, no âmbito do Programa Internacional para o Desenvolvimento da Comunicação (IPDC), uma proposta

mente desviado para o financiamento de regiões economicamente inviáveis, como determina a LGT? Questiona-se o nível de investimento privado, mas não se mede o impacto da falta de alocação dos recursos do Fust desde sua instituição, há dez anos.

As telecomunicações vivem um momento de grande incerteza, talvez o mais crítico desde a reestruturação do setor, em meados da década de 1990. Por um lado, governo e órgão regulador ainda não conseguiram moldar uma nova estratégia de desenvolvimento, com responsabilidades e objetivos claros. A esperança de que o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) ocuparia essa lacu-na não se concretizou, pois se limitou à questão da Telebrás. A Lei Geral de Telecomunicações (LGT) perdeu muito em eficácia, na medida em que seus principais paradigmas – investimentos liderados pelo setor privado, separação clara entre regimes de exploração, pla-nos de metas periódicos propostos pelo governo, aplicação adequada de fundos setoriais para desenvolvimento da indús-tria e dos serviços, entre outros – vêm sendo abandonados ou distorcidos. Por outro lado, as empresas não conseguem gerar confiabilidade para fazer avançar o modelo proposto na LGT. Parecem temer um debate mais amplo e se apegam a um contexto sociopolítico que já não existe.

Nesse cenário, e aproveitando o início de uma nova administração federal, entendemos ser muito oportuno que fosse finalmente concebida uma Política Nacional de Comunicações, que associas-se objetivos e metas a um conjunto de indicadores específicos, capazes de retra-tar, de forma simples, as expectativas de todos os stakeholders. Em pouco tempo, tal metodologia permitiria convergir o hoje tumultuado debate sobre o desem-penho do setor para um conjunto organi-zado de questões, com o benefício de envolver a academia, os órgãos de defesa da concorrência e do consumidor e o Congresso Nacional.

Igor Villas Boas Freitas*[email protected].:Pontodevista FO

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Vôo cegode unificação da metodologia e dos cri-térios de avaliação do desempenho da mídia no mundo. Embora não enfoque as telecomunicações, se for adotado, esse modelo, que se baseia em parâme-tros quantitativos, certamente orientará a discussão entre formuladores de polí-ticas, reguladores e prestadores de ser-viço em um importante segmento do setor de comunicações.

No Brasil, entretanto, não há qual-quer avaliação sistêmica, periódica e objetiva do desempenho setorial, seja por falta de uma metodologia que ponde-re os interesses, seja simplesmente por não se julgar necessário fazê-la, o que torna difícil mensurar a contribuição de cada agente para o sucesso ou fracasso das metas pactuadas. Além disso, é pre-ciso reconhecer que a legislação não prevê o uso de indicadores e metas para todas as dimensões que deveriam ser consideradas em uma análise completa do desempenho das telecomunicações.

evoluçãoÉ concebível que, após treze anos de

experiência, a Anatel, o órgão de regula-ção econômica do setor, continue apre-sentando seus relatórios anuais ao Congresso sem uma única curva de evo-lução dos preços dos serviços? As únicas séries temporais que universidades e

órgãos governamentais têm à disposição são ela-boradas pelas próprias empresas e divulgadas anualmente pelo sindica-to que as congrega.

Infelizmente não se ouvem críticas a fatos como esse no Brasil, embora sejam muitos a reclamar dos elevados preços praticados e de outros parâmetros que poderiam claramente indicar a performance

setorial. Afinal, o preço da telefonia subiu mais ou menos do que a inflação no perí-odo? Sua participação relativa no orça-mento doméstico de cada classe de renda cresceu em que proporção? Esse aumen-to poderia ser justificado se fosse parcial-

“aproVeitaNdo o iNício de uma NoVa admiNistração federal, seria oportuNo que fosse coNcebida uma

política NacioNal de comuNicações, que

associasse objetiVos e metas a um coNjuNto de iNdicadores específicos”

*Consultor legislativo do Senado Federal para o setor de comunicações e cofundador do Instituto de Análise Econômica do Direito - IAED

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Acesso seguro via iPadOs clientes corporativos que utilizam a solução VPN SSL da Juniper agora podem acessar com segurança sua intranet através do iPad. A Juniper lançou a versão do aplicativo Junos Pulse para o tablet da Apple no sistema operacional iOS 4.2. A conexão é protegida independentemente da rede utilizada, seja um hotspot WiFi qualquer ou a infraestrutura 3G das operadoras móveis. No Brasil, o portal Terra, que distribuiu iPads para seus executivos, já adotou o Junos Pulse. O download do aplicativo é gratuito e está disponível também para os sistemas Android, Blackberry, Symbian e Windows Mobile.www.juniper.net

.:Produtos

Modem 2G, 3G e 4GA Huawei lançou no exterior um modem LTE que funciona também nas

redes 3G e 2G. Trata-se do E398. A compatibilidade com tecnologias anteriores é importante, pois as redes de quarta geração ainda

têm cobertura restrita a áreas de grande densidade populacional. O E398 tem design inspirado em carros de

corrida. Quando conectado a uma rede LTE, alcança velocidade de até 100 Mbps. Duas operadoras

europeias já encomendaram o produto: a sueca Net4Mobility e a austríaca Mobilkom. Vale

lembrar que ainda não há redes LTE no Brasil: as operadoras nacionais aguardam o leilão de espectro em

2,5 GHz, frequência apropriada para essa nova tecnologia.

www.huawei.com

Conteúdo online na TVO Roku Player, ou NTV250, é um produto que permite assistir na TV conteúdo audiovisual online de provedores de conteúdo como Netflix, Amazon Video on Demand, Vimeo, dentre outros. Ele se conecta à TV por um cabo HDMI e à Internet via WiFi ou cabo Ethernet. O Roku Player dispensa o uso de um computador: a navegação pelos conteúdos online é feita através de um controle remoto do produto na tela da TV. A instalação, segundo a empresa, leva apenas cinco minutos. O Roku Player chega este trimestre ao Brasil, com preço sugerido de R$ 399. Não é certo que os serviços da Netflix e Amazon também estarão disponíveis no Brasil.www.netgear.com.br

Fernando [email protected]

TV móvel para todosUma empresa americana chamada iMovee desenvolveu um receptor de TV digital móvel compatível com diversos padrões (ISDB-T, DVB-T/H, ATSC-M/H, T-DMB e CMBB) e capaz de transmitir as imagens via WiFi para smartphones e tablets dos sistemas operacionais iOS 4.2, Android e Windows Phone 7. O produto, batizado de Mobeo, requer a instalação de um aplicativo no smartphone do usuário. Além de exibir a programação de TV digital móvel, o aplicativo permite que o usuário realize gravações – que ficam guardadas em um servidor externo – e envie mensagens para outros usuários enquanto assiste à TV, em um sistema interno de chat. Há também integração com Twitter e Facebook para envio de mensagens e screen shots dos programas. O Mobeo utiliza chips receptores fabricados pela Siano e sua bateria dura quatro horas. O produto foi apresentado na última edição da CES e chegará em breve ao mercado norte-americano pelo preço de US$ 149. Há planos de trazê-lo para o Brasil no segundo trimestre www.imovee.com

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Gestão de gastos com celularesPara ajudar empresas a gerenciar seus gastos com linhas móveis, a Istmo lançou uma versão de seu SBM (Service & Billing Management) para contas de celulares. O sistema verifica se as cobranças das operadoras móveis estão de acordo com os planos contratados e permite auditar os gastos feitos pelos funcionários, estabelecendo cotas de uso por tipo de chamada (particular ou comercial) etc. O sistema é integrado ao ERP do cliente e gera relatórios detalhados sobre o consumo de telefonia celular da companhia. Na avaliação de propostas de novos planos telefônicos, é possível simular no sistema quanto ficaria a conta de acordo com o perfil médio de uso dos funcionários.www.istmo.com.br

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38 TeleTime jan/Fev_2011

Com a mudança de governo e a aparente mudança de estilo ado-tada, talvez estejamos diante de uma nova oportunidade de reco-

locar as coisas nos eixos e no rumo certo.A primeira oportunidade é a de repo-

sicionar os atores envolvidos nas defini-ções e ações dentro da área de telecomu-nicações. No início do primeiro mandato do governo anterior, tínhamos uma agên-cia forte e que paulatinamente foi sendo esvaziada e um Ministério das Comunicações descaracterizado e sem cumprir o seu papel. Aos poucos os espa-ços importantes passaram a ser preen-chidos pela Casa Civil, que passou a ditar as decisões mais relevantes. Hoje, temos uma agência completa com quadros não tão experientes, e um ministério que conta com um titular de prestígio. A pri-meira consequência é fortalecer a agên-cia e trazer as decisões para a área do ministério e Anatel, minimizando a inge-rência de outras áreas do governo, com ênfase especial na Telebrás e no PNBL.

É uma grande oportunidade de fortale-cer o conceito de agência reguladora, e num quadro mais estabilizado, trabalhar as políticas públicas do governo de turno. É natural que o partido no poder queira criar mecanismos que tornem mais per-manentes as políticas públicas que acredi-ta serem as adequadas ao desenvolvimen-to do País. O modelo de agências regulado-ras fortes e independentes é a melhor garantia para que as políticas públicas tenham maior credibilidade e maior resis-tência aos interesses de políticos e parla-mentares e governantes de passagem. Há um interesse comum entre os atores do setor e a nova administração que pode ajudar neste início de governo a buscar um entorno de interesses comuns para o bem do setor e do interesse público.

Há metas que ficaram para trás ao longo destes últimos anos, e é hora de rapi-damente resolvê-las, para que não fiquem atravancando a pauta da Anatel e do minis-tério. Entre as metas estão as novas licen-ças de TV por assinatura e as alocações de banda para diferentes serviços ou tecnolo-gias, que aguardam a sua vez de implanta-ção e que deixam o Brasil para trás.

As decisões devem também procurar reaver o papel do Brasil na América Latina. Durante um bom tempo fomos plataforma para desenvolvimento de tec-nologia e também base para exportação de produtos, baseado no tamanho de nosso mercado, mas tal liderança foi per-dida para o México. Assim, rapidamente o novo ministério e a Anatel devem fazer o inventário dos temas que vêm sendo procrastinados pelas administrações anteriores, selecionar aqueles que perde-ram a razão de ser e eliminá-los, e dar um tratamento acelerado para os rema-nescentes, limpando assim a pauta.

O papel das comunicações é chave na estratégia de desenvolvimento das nações. Estamos muito atrasados em qualquer implantação estratégica. Em lugar disso, geramos ações de curto prazo atendendo a interesses ime-diatistas, sem uma visão polí-tica e estratégica integrada. Esta é também uma oportuni-dade, em início de governo e com novos ministros e novo Congresso, para tentarmos atingir uma compreensão e consenso sobre este tema e não mantermos a tradicional visão picotada, que acaba minando a nossa capacidade de evoluir como País. É hora de integrar os planos de diferentes ministérios e seus recursos, para que realmente possamos usufruir da infraestrutura que já temos e aquela que estamos investindo para cons-truir. As diretrizes para o futuro, olhando o horizonte de 2020 a 2025, com os aspec-tos políticos, regulatórios, tecnológicos e industriais que queremos atingir, devem estar entre as prioridades de curto prazo do novo governo.

A agência deve ter sempre seu conse-lho completo, e o governo deve privilegiar nas próximas nomeações a competência técnica em detrimento do “QI” político. Embora o quadro venha sendo renovado, se houver o desprendimento de treinar e conviver com o mercado internacional (sem a mesquinhez de economizar via-gens a congressos e exposições relevan-tes), pode-se evoluir para estar a altura

do trabalho técnico requerido. Mas, prin-cipalmente, a agência deve se colocar com independência de interesses partidá-rios, procurando orientar seu trabalho na direção do interesse do setor e dos consu-midores, dando maior ênfase à qualidade e, com isso, ter um olho muito agudo para evitar a concorrência predatória, que só busca redução de custos em detri-mento, muitas vezes, da qualidade.

O ministério deve assumir suas fun-ções políticas e liderar a coordenação das políticas e planos afetos ao setor, estimu-lando que a coordenação interministerial crie os planos complementares para aproveitar esta infraestrutura que está sendo disponibilizada e cuja maior finali-dade é mudar a cara do país, não sendo uma atividade de um setor, mas de todo

um governo.Com a Telebrás, já recria-

da, podemos aproveitar a oportunidade para que ela preencha espaços vazios, buscando evitar que ela se transforme numa estatal competindo com as empre-sas que ai já estão.

Finalmente, temos a oportunidade de rever nos-sas leis que atuam nos seto-res de telecomunicações,

radiodifusão, Lei do Cabo e pensar como fazer uma legislação e regulamentação modernas, contemplando a convergên-cia de redes e a difusão de conteúdos em diferentes mídias. A realidade cada vez mais tende à licença única de múltiplos serviços, sendo providos pelos mesmos grupos ou operadores.

E é sempre uma oportunidade para mudar os discursos e entender que se as tarifas são altas no Brasil, é porque temos cerca de 40% do preço em impostos e taxas. Expurgadas, ficaríamos com pre-ços compatíveis, pois na maior parte do mundo impostos não fazem parte do preço. Temos uma oportunidade para rever contratos e acabar com os reajustes inflacionários nos preços administrados, tais como tarifas telefônicas, elétricas, pedágios, passagens etc. Boa sorte e aproveitem esta oportunidade.

.:Ponto&ContraPonto Cláudio dascalcartas.tele ti me@con ver ge com.com.br

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próximas Nomeações a

competêNcia técNica em detrimeNto do

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Uma nova oportunidade

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