revista teletime - 150 - dezembro 2011

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Ano 14 n 0 150 dez2011 www.teletime.com.br INFRAESTRUTURA Chegada da Telebras mexe no mercado de cabos submarinos e aquece ainda mais o setor SERVIÇOS MÓVEIS Anatel impõe metas de qualidade para envio de mensagem de texto no celular Regulamentação da Internet ganha destaque no País e opõe teles e empresas de conteúdo NEUTRALIDADE DE REDE

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Revista Teletime - 150 - Dezembro 2011

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infraestruturaChegada da Telebras mexe no mercado de cabos submarinos e aquece ainda mais o setor

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Regulamentação da Internet ganha destaque no País e opõe teles e empresas de conteúdo

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Essa edição 150 de TELETIME fecha os nossos trabalhos ao longo de 2011. Foi um ano que começou com a posse de um novo governo e uma prio-

ridade colocada pelo ministro Paulo Bernardo em seu discurso de posse: a prioridade seria a banda larga. Do ponto de vista político, foi isso o que aconteceu. Começando com as negociações em torno das metas de universalização, que gira-ram sobre a questão da banda larga, passando pelo novo marco legal da TV por assinatura, a Lei 12.485/2011, que veio com a promessa de impulsionar as redes de banda larga, passando pelas metas de qualidade na banda larga fixa e móvel, os debates sobre as novas regras para o Serviço de Comunicação Multimídia, o Marco Civil da Internet enviado pelo Ministério da Justiça ao Congresso, a entrada da Telebras no mercado e os projetos de satélites e cabos submarinos... Tudo orbitou ao redor da banda larga. E será assim ainda por muitos anos. Nesse sentido, 2011 foi apenas uma amostra do que está por vir, já que algumas questões extremamente relevantes ainda estão pendentes e devem esquentar 2012.

Começando pelo tema da reportagem de capa desta edição: a neutralidade de redes. Os jogadores estão apenas entran-do em campo. Teles e empresas de infra-estrutura de um lado, provedores de conteúdo e de Internet do outro, socieda-de civil, fornecedores globais, todos terão que estar em posição em 2012, quando o debate deve esquentar no Congresso e na Anatel. Há alguns anos que destacamos esse tema em editoriais e matérias, mas agora a discussão sai do campo teórico e vai para a prática.

O mesmo vale para as políticas de

espectro, cada vez mais disputado e pre-cioso e que coloca interesses e argumentos igualmente relevantes de lados opostos.

Alheio aos meandros políticos, contu-do, o mercado se desenvolve. Mais pes-soas estão conectadas, mais pessoas têm TV por assinatura, mais pessoas falam ao telefone e a dinâmica de evolução das tecnologias de rede e, sobretudo, dos dispositivos, revolucionam diariamente os modelos de negócio. Já dissemos isso em outras ocasiões, mas nunca é demais repetir: nesse jogo competitivo, em que novos players entram no mercado de telecomunicações por todos os lados, cabe às teles tradicionais reinventar seus modelos, rever seus planos de investi-mento e sair da defensiva. É o que se impõe a elas em todo o mundo. Não há dúvida de que isso não significa que elas abandonarão o front regulatório, onde seus movimentos são quase sempre de defesa, e nem abrir mão de direitos con-quistados. No debate sobre neutralidade, as teles têm uma argumentação sólida sobre a necessidade de preservar e viabi-lizar investimentos. Mas a batalha de opinião pública só será vencida se elas provarem que estão dispostas a renovar as suas redes em larga escala, com investimentos pesados, que precisam acontecer já, independente de como serão as regras no futuro.

O próximo ano será de debates ainda mais acirrados em relação a todos os temas referentes à banda larga. Começando com as questões político/regulatórias, passando pelos modelos de negócio e pelas tecnologias. Mas uma coisa é certa: as pessoas continuarão bus-cando conexões melhores, mais rápidas, mais baratas e com mais conteúdos. E na regra de mercado, se existe essa deman-da, alguém se encarregará de atendê-la.

O (primeiro) ano da banda larga

.:edItoRIal Samuel Possebonsamuca@con ver ge com.com.br

Instituto Verificador de Circulação

Presidente Rubens Glasberg

diretores editoriais André Mermelstein Claudiney Santos

Samuel Possebon (Brasília)

diretor Comercial Manoel Fernandez

diretor Financeiro Otavio Jardanovski

editorSamuel Possebon

editora adjunta e editora de Projetos especiais

Letícia Cordeiro

editor de Mobilidade Fernando Paiva

Redação Daniel Machado, Fernando Lauterjung, Wilian Miron, Helton Posseti (Brasília)

Consultor especial Cláudio Dascal

arte Edmur Cason (Direção de Arte);

Rubens Jardim (Produção Gráfica); Geraldo José Nogueira (Edit. Eletrônica);

Débora Harue Torigoe (Assistente); Alexandre Barros (Colaborador); Bárbara Cason (Colaboradora)

departamento Comercial Bruna Zuolo (Ger. de Negócios)

Ivaneti Longo (Assistente)

Inscrições e assinaturas Gislaine Gaspar (Gerente)

Circulação Patricia Brandão (Gerente)

Marketing Harumi Ishihara (Diretora)

Gisella Gimenez (Assistente)

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teletIMe é uma publicação mensal da Converge Comunicações - Rua Sergipe, 401, Conj. 603

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Responsável Rubens Glasberg (MT 8.965) Impressão Ipsis Gráfica e Editora S.A.

Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias publicadas nesta revista, sem

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Número

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CaPa: IgrIk / Péter gudella/shutterstock

CaPaSem romantismoNa nova era da Internet regulada, discussão sobre neutralidade de rede ganha corpo no Brasil, e coloca teles e empresas de conteúdo em lados opostos.

entRevIStaO futuro da redeO VP mundial de políticas de tecnologias globais da Cisco, Robert Pepper, fala sobre o futuro da banda larga no mundo. A competição entre as teles, segundo ele, deve ocorrer nas redes.

RedeSRemédio amargoAnatel define metas de qualidade para banda larga fixa e móvel. E, sob protesto, operadoras estudam como adequar suas operações e investimentos para atender às novas regras.

RegulaMentaÇÃoPolêmica fiscalTeles celebram desoneração tributária na construção de novas redes, mas alegam que a medida ainda não é suficiente para a massificação da banda larga. Para Ipea, setor não precisa de incentivos adicionais.

tv PoR aSSInatuRaMãos à obraAncine divulga os instrumentos que utilizará na regulamentação que cria o Serviço de Acesso Condicionado (SeAC), apresenta cronograma e abre espaço para contribuições dos setores envolvidos.

InFRaeStRutuRaTormenta em alto marSetor de cabos submarinos é chacoalhado pelo anúncio do projeto de links internacionais próprios da Telebras, que gera polêmica entre provedores. Parcerias em âmbito sul-americano também são esperadas.

SeRvIÇoS MóveISCelular reguladoApós impor uma série de exigências para a oferta de conteúdos móveis no ano passado, Anatel volta a surpreender, exigindo agora metas de qualidade para serviços de mensagens de texto.

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Para mais informações, acessewww.huawei.com/enterprise

Na Huawei Enterprise acreditamos em um caminho melhor. Identificamos oportunidades para inovar, crescer e prosperar em todas as situações. É por esta razão que 45 das 50 maiores empresas de telecomunicações do mundo nos escolheram como seus parceiros de confiança. Como líderes em TIC, nos dedicamos a oferecer soluções e serviços abrangentes para clientes corporativos nos mais diversos setores, como governo, serviços públicos, finanças, transporte, eletricidade, energia e Internet.

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O tempo de uma Internet sem regras acabou. Começou a era da Internet regulada, também no Brasil. Trata-se da imposição de regras que

visam, de um lado, garantir direitos dos usuários e, de outro (e principalmente), permitir ou limitar determinados mode-los de negócios abusivos. Nesse ambien-te, há pelo menos três temas centrais: neutralidade de rede, qualidade de servi-ço e registro de informações trafegadas, seja para garantir o cumprimento das leis do país, seja para permitir a viabili-zação de modelos publicitários. E não existe muito mais romantismo ou ideolo-gia na discussão desses temas. Qualquer que seja a posição defendida, alguém ganhará e alguém perderá.

O debate sobre neutralidade de redes é talvez o mais importante. Ele começou formalmente este ano no Brasil em duas frentes: na nova regulamentação do Serviço de Comunicação Multimídia (SCM), colocada em consulta pública em setembro, e no Marco Civil da Internet, que em agosto foi na forma de Projeto de Lei ao Congresso Nacional.

O conceito clássico de neutralidade é, de alguma maneira, aquele que vem sendo defendido pelo Comitê Gestor de Internet no Brasil (CGI.br) há alguns anos: as intervenções e privilégios impostos ao livre fluxo de bits na rede deve se dar apenas por questões técnicas e éticas, e nunca por razões políticas, comerciais, religiosas, culturais ou outras formas de favorecimento ou discriminação. Seria uma definição mais ou menos pacífica, se não fosse a palavra “comerciais”.

A Internet chegou a um ponto de maturidade econômica em que ela dificil-mente conseguirá ficar de fora das regras e acordos de mercado. De um lado, o acesso à rede está se tornando um impor-tante negócio de empresas de telefonia fixa, pretadoras de TV por assinatura e operadoras de telefonia móvel. O percen-tual das receitas que cada uma dessas indústrias tem com produtos que consis-

tem, basicamente, na conectividade à Internet é crescente. Entre as celulares, o percentual da receita com serviços de dados já vai de 12% a 20% no Brasil, dependendo da operadora. Entre as fixas, já passa de 20%; e na TV por assinatura, estima-se que esteja no mesmo patamar.

Do outro lado, a Internet se tornou um ambiente de desenvolvimento de negócios fundamental para empresas de comuni-cação produtoras de conteúdo e, sobretu-do, para empresas como Google, Amazon, Apple, Netflix, Microsoft e tantas outras que surgiram no ambiente digital.

O modelo atual, no qual o livre fluxo de informações na Internet não tem regras, é positivo para as empresas de mídia ou do universo digital, cujos conte-údos trafegam livremente. E de certa forma é bom também para as empresas de infraestrutura, porque não havendo regras a serem cumpridas, elas podem

intervir sobre a rede de acordo com a sua conveniência sem maiores repercus-sões. O problema é que esse modelo, que até hoje foi mais ou menos equilibrado, está com os dias contados.

Um estudo realizado pela consultoria AT Kearney sobre o mercado de Internet na Europa é taxativo: “Existe uma expec-tativa generalizada entre formuladores de políticas públicas que a Internet continua-rá funcionando bem e suportando o seu próprio crescimento. Mas essa expectati-va será frustrada por níveis de investi-mentos significativamente maiores. Estes aportes não devem se materializar sem mudanças no modelo econômico. O recente crescimento do tráfego na Internet e as projeções de médio prazo são impres-sionantes, mas levantam sérios desafios em relação à viabilidade do atual modelo da Internet no futuro”.

Quem paga a conta?No Brasil, a primeira vez que esta

posição foi colocada publicamente por um dirigente de empresa de telecomunica-ções aconteceu em 2005. De lá para cá o debate ganhou corpo.

Antônio Valente, presidente da Telefônica e da Telebrasil, tem sido um dos mais enfáticos arautos da questão. “É inegável que o tráfego vem crescendo a taxas cada vez maiores e que as receitas não acompanham esse crescimento. Alguma solução para essa equação preci-sará ser encontrada”, disse em conversa com TELETIME. A preocupação também é crescente na Oi e é um dos principais itens da pauta do atual presidente da ope-radora, Francisco Valim. Durante a Futurecom, em setembro, o diretor de assuntos regulatórios da Oi, Paulo Mattos, já havia ponderado a posição da empresa sobre o tema: para ele, o consumidor pre-cisa ter direito de escolha do conteúdo, direito de escolher operadoras, direito de acessar qualquer informação e direito de conectar qualquer dispositivo a essa rede. Mas precisamos fazer uma diferenciação de alocação de custos, o que não fere os

Samuel Possebon, de Brasí[email protected]

Neutro para quem? Debate sobre neutralidade de rede, que aparece na regulamentação do SCM e no Marco Civil da Internet, chama a atenção para necessidade de investimentos opõe teles e empresas de conteúdo e mostra que não existe mais romantismo na discussão.

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ção seja complexa porque mui-tas vezes um investimento em core de rede pode estar direta-mente relacionado à capacida-de nas pontas. O valor estima-do de investimento necessário para ampliação da capacidade das redes fixas é de 3,1 milhões de euros por Petabyte por mês. No caso das redes móveis, o investimento é muito maior, porque implica a ampliação no número de sites e em backhaul,

e está na ordem de 192 milhões de euros por Petabyte por mês. Com base nesses números, e calculando o crescimento pro-jeto de tráfego nas redes fixas e redes móveis, a consultoria aponta para uma necessidade de investimento da ordem de 10 bilhões de euros adicionais apenas para suprir a crescente demanda por trá-fego nas redes fixas até 2014 (sem contar os investimentos regulares), e outros 31 bilhões de euros também até 2014 para as redes móveis. O tráfego incremental na Europa será da ordem de 12 Exabytes por mês no período 2010-2014, segundo o estudo Visual Network Index (VNI), reali-zado pela Cisco e utilizado pela AT Kearney.

Grosseiramente, o mesmo cálculo da AT Kearney para o caso europeu pode ser transposto para o Brasil, considerando, é claro, que aqui as redes estão em uma condição bem diferente de amadureci-mento. Apenas a ampliação do tráfego de Internet geraria uma necessidade de investimentos da ordem de 5 bilhões de euros, ou cerca de R$ 13 bilhões até 2014, além dos investimentos normais em expansão da rede. Analistas do setor de telecomunicações, contudo, apontam para números muito maiores, porque aqui a rede de backbone e backhaul está bem menos desenvolvida do que na Europa e há uma quantidade considera-velmente menor de estações radiobase (ERBs).

Vale lembrar que, pelos cálculos feitos pela LCA a pedido da Telebrasil, seriam necessários R$ 144 bilhões para triplicar o volume de acessos banda larga até

2020. Hoje, no Brasil,

54% do tráfego de Internet já são gerados por serviços de vídeo (sobretudo YouTube); isso porque o Netflix ainda tem penetração reduzida no País. A

Trata-se do PL 2.126/2011, que tramita na Câmara e possi-velmente será objeto de uma comissão especial de análise em 2012, dada a complexidade da matéria. O Marco Civil proposto pelo governo sugere que a questão da neutralidade seja tratada da seguinte maneira, conforme consta em seu Artigo 9º:

“O responsável pela transmissão, comutação ou roteamento tem o dever de tratar de forma isonômica quaisquer pacotes de dados, sem distinção por con-teúdo, origem e destino, serviço, termi-nal ou aplicativo, sendo vedada qualquer discriminação ou degradação do tráfego que não decorra de requisitos técnicos necessários à prestação adequada dos serviços, conforme regulamentação”. Além disso, o Artigo propõe que na “pro-visão de conexão à Internet, onerosa ou gratuita, é vedado monitorar, filtrar, ana-lisar ou fiscalizar o conteúdo dos pacotes de dados, ressalvadas as hipóteses admi-tidas em lei”.

De um lado, as teles têm um proble-ma: precisam investir para cobrir o tráfe-go explosivo na rede de dados. De outro, estão pressionadas, seja pela concorrên-cia, seja pela própria dinâmica da relação com os usuários, a oferecer cada vez mais banda cobrando no máximo o mesmo preço por isso.

Na ponta do lápisSegundo o estudo da AT Kearney, em

mercados como o Europeu, tipicamente 20% dos investimentos são voltados para a expansão da capacidade da rede de

banda larga, ainda que isso varie muito de operadora para operadora, e que a contabiliza-

direitos de escolha do consu-midor”, disse, destacando que quem está gerando mais trá-fego na ponta deve assumir uma parte dos custos de infraestrutura.

O problema está no con-ceito do que está sendo discu-tido como regra atual. Na proposta do regulamento do Serviço de Comunicação Multimídia que foi submetida a consulta pública, no Artigo 59, a Anatel propõe que seja “veda-do à prestadora realizar bloqueio ou tra-tamento discriminatório de qualquer tipo de tráfego, como voz, dados ou vídeo, independentemente da tecnologia utiliza-da”. Diz ainda que tal vedação “não impe-de a adoção de medidas de bloqueio ou gerenciamento de tráfego que se mostra-rem indispensáveis à garantia da segu-rança e da estabilidade do serviço e das redes que lhe dão suporte” e que “os cri-térios para bloqueio ou gerenciamento de tráfego devem ser informados previamen-te a todos os assinantes e amplamente divulgados a todos os interessados”. Diz, por fim, que “o bloqueio ou gerenciamen-to de tráfego deve respeitar a privacidade dos assinantes, o sigilo das comunicações e a livre, ampla e justa competição”.

A proposta das empresas de teleco-municações em relação a este Artigo, de um modo geral, foi no sentido de ampliar as possibilidades de restrição. Telefônica, Oi, Claro, Embratel, Net, CTBC e o próprio SindiTelebrasil fizeram sugestões simila-res à consulta. Essencialmente, estas empresas e a entidade propuseram que seja permitido às presptadoras “oferece-rem serviços customizados que atendam a perfis de consumo específicos e adotar medidas para gestão e diferenciação de tráfego, inclusive aquelas que envolvam diferenciação de custos, preços e prioriza-ção de tipos de tráfego, desde que tais medidas não afetem a liberdade de esco-lha dos assinantes nem a livre competi-ção”. A TIM foi mais longe e propôs que a Anatel retirasse qualquer res-trição à diferenciação de tráfe-go, mantendo apenas a impos-sibiliodade de bloqueio. Já empresas como a GVT e a associação dos operadores competitivos Telcomp acha-ram melhor que esse assunto não seja tratado no regulamen-to do SCM, já que está em dis-cussão o Marco Civil da Internet no Congresso.

“o tráfego vem crescendo a taxas cada vez maiores e as receitas não

acompanham. alguma solução precisará ser encontrada.”Antônio Valente, da Telefônica

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“o desenvolvimento das redes só acontecerá se houver regulação eficiente no atacado e garantias de retorno dos investimentos em expansão.”Mário Girasole, da Tim

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.:CaPaprevisão da Cisco é de que em 2015 nada menos do que 76% do tráfego serão vídeo.

A não ser que as teles passem a desempenhar um papel central na exploração comercial desses conteúdos, essa pressão toda sobre a rede estará sendo feita para beneficiar algum outro seg-mento econômico, e as teles querem rachar a conta.

Elas comparam sua posição à dos Correios, que cobram preços diferencia-dos para modalidades diferentes de entre-ga. Uma carta comum, que chega sem data marcada, custa bem menos do que um Sedex que chega no dia seguinte.

Assim, o serviço Netflix, ou o YouTube, ou o Xbox da Microsoft, ou o Apple TV ou qualquer outra plataforma de vídeo teria que pagar uma espécie de pedágio para transitar seus bits com qualidade na rede das provedoras de infraestrutura. Caso contrário, ficariam relegadas ao “melhor esforço” da rede. Mas a regulamentação, como proposta pela Anatel, não permite esse tipo de acordo.

Mas como dar isonomia de tratamen-to na rede a diferentes serviços? Um ser-viço de IPTV de uma determinada opera-dora de banda larga teria vantagens sobre serviços de distribuição de vídeos concorrentes que trafeguem na mesma rede? O mesmo vale para um serviço de VoIP, e o exemplo até já existe: o serviço de telefonia Net Fone operado pela Net/Embratel é um serviço IP, que trafega na mesma rede de banda larga pela qual trafegam similares como Skype, por exemplo. Mas a Net garante uma qualida-de de serviço no telefone muito maior do que nos serviços regulares de Internet. Pela nova regra, isso poderá acontecer?

Isso para não mencionar serviços de monitoramento remoto, machine-to--machine, telemedicina, transmissões ao vivo e determinadas aplicações corporati-vas, entre outros, que exigem níveis de qualidade e priorização na rede.

Problema inexistenteJeff Campbell, diretor senior da Cisco

para assuntos governamentais relaciona-dos a políticas tecnológicas e comerciais, é categórico ao afirmar que o caminho que alguns países do mundo estão seguin-do em relação ao tema tende a desestimu-lar investimentos em redes e inovação. Entre esses países que seguem um cami-nho preocupante estão os EUA, diz ele. “O

modelo que nos parece mais razoável é o europeu, onde há uma tendência a regular menos a questão da neutralidade e deixar

que os órgãos antitruste corrijam, poste-riormente, eventuais distorções”, diz. Para ele, o “problema” da neutralidade de rede é algo que ainda não existe.

“Alguns países, como os EUA, estão regulando um problema que ninguém sabe se surgirá”. Na visão da Cisco, não existe nenhuma polêmica em relação aos princípios básicos de uma rede neutra. “Se o seu conceito é o de que neutralidade é o livre acesso a conteúdos e aplicações e a possibilidade de conectar qualquer dis-positivo à rede, desde que isso não seja uma ameaça à integridade física do siste-ma, não acho que ninguém seja contra. A polêmica começa quando se discute se por trás da neutralidade está a proibição de que os provedores de rede estabele-çam níveis diferenciados de qualidade de serviço”. Para a Cisco, a diferenciação destes níveis de qualidade é que estimula o surgimento de novos serviços e modelos de negócio, e proibir isso é desestimular a inovação. “O problema do modelo norte--americano, por exemplo, é o excesso de justificativas que você precisa apresentar toda vez que vai colocar algum limite na rede”, diz ele.

Outro problema, segundo o executivo da Cisco, é que a premissa por trás do argumento de que a rede deve ser absolu-tamente neutra, sem nenhuma diferen-ciação de qualidade, é que o consumidor sempre terá que pagar a conta. “Se você não permite acordos comerciais para diferenciar a qualidade dos serviços, a conta da rede será sempre paga pelo usuário final apenas”. Na visão da Cisco, que é alinhada à das grandes operadoras de telecomunicações, seria justo que os grandes provedores de conteúdo, que sustentam seus serviços com publicida-de, pagassem uma parte da conta tam-bém. Ressalte-se que a Cisco, assim como outros fornecedores, tem interesse em vender equipamentos de monitora-mento da rede.

A Alcatel-Lucent foi outra empresa fornecedora que se manifestou na consul-ta pública da Anatel sobre o regulamento de SCM mais ou menos na mesma linha da Cisco, defendendo a possibilidade de oferta de serviços gerenciados pelas teles.

Para Mário Girasole, diretor de assun-tos regulatórios da TIM, “o desenvolvi-mento das redes só acontecerá se, de um lado, houver uma regulação eficiente na oferta de atacado e, de outro, se houver garantias de retorno dos investimentos feitos em expansão”. Para ele, não permi-tir acordos para a exploração da rede de maneira diferenciada é limitar as oportu-nidades de negócio.

Duas InternetsMas se as empresas operadoras e

fornecedoras de telecomunicações estão praticamente fechadas em torno dos mesmos argumentos, existe uma gama de argumentos no sentido con-trário que estão sendo colocados por empresas de conteúdo.

Sabe-se que uma das empresas que mais tem trabalhado nos bastidores pela causa da neutralidade é o Google, não por acaso um dos maiores geradores de tráfe-go. No Brasil, os representantes do Google preferiram não se manifestar sobre a questão, mas sabe-se que nos EUA, em 2010, o gigante da Internet chegou a defender, ao lado da operadora Verizon,

“parece arriscado alterar um modelo existente e fundamental para a democratização da comunicação por um novo que não se sabe se vai preservar os princípios e conquistas da internet.”João Brant, da Intervozes

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Crescimento de tráfego no Brasil

Fonte: Cisco VNI 2011.

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.:CaPaum princípio de “gestão razoável da rede” (reasonable network management). A manifestação do Google, de agosto de 2010, é em essência uma sugestão para que se desenvolvam dois níveis de serviços de Internet. Um seria para os serviços tradicionais, em que não seriam aceitas prioriza-ções ou discriminação de tráfe-go, inclusive por questões comer-ciais. O outro nível permitiria aos prove-dores de banda larga oferecer serviços adicionais e diferenciados ao acesso à Internet, tais como serviços de saúde, smart grids, serviços de educação, entre-tenimento, jogos e outros.

Os grupos locais de comunicação também são defensores da tese da neu-tralidade de rede sem restrições que não sejam por questões técnicas e legais, estritamente.

Para o UOL, controlado pelo grupo Folha de S. Paulo, regras de gerenciamen-to de tráfego não podem de maneira alguma permitir a discriminação entre diferentes provedores de conteúdos e ser-viços, e por isso o portal sugeriu à Anatel que em sua regulamentação seja explícita sobre o que pode ser admitido como “ges-tão técnica” da rede.

Curiosamente, o grupo Globo, princi-pal conglomerado de mídia brasileiro, nunca manifestou formalmente sua posi-ção sobre a questão da neutralidade. Mas ao longo da apuração desta reporta-gem, TELETIME conversou com dois dos principais executivos do grupo e obteve, sem a autorização para citar os nomes, mas com autorização para colocar as

posições como as posições for-mais do grupo, uma síntese do que a Globo pensa. E ela defende a tese da neutralidade plena da rede, sem possibi-lidade de acordos comerciais que pos-sam gerar qualquer tipo de discrimina-ção do livre fluxo de conteúdos. A exce-ção aceitável diz respeito a gestões sobre a rede necessárias à segurança da pró-pria infraestrutura e ao cumprimento das leis brasileiras; e mesmo assim isso tem que ser fiscalizado por alguém, na visão do grupo. Qualquer outra coisa, entende a Globo, seria um risco.

Para a Globo, permitir que as empresas de telecomunicações cobrem dos provedores de conteúdo para asse-gurar a qualidade de determinados conteúdos em detrimento de outros seria, nas palavras de um executivo, “privatizar a Internet”. Segundo este executivo, “os pacotes de dados têm que sair e chegar com a mesma quali-dade e isonomia de tratamento”.

Para o grupo Globo, assim como acontece no consumo de energia, quem precisa de mais qualidade e quantidade no serviço pagará a mais por isso. “Nenhuma empresa de energia cobra

uma taxa do fabricante de chuveiro ou de microondas por serem equipamentos que exigem mais da rede”, ilustra o executivo. Para a Globo, é justamente essa demanda dos usuários (e a disposição de pagar por mais qualidade) que financiará a expansão nas redes de telecomunicações.

Questão de princípioPara a Globo, o princípio da neutrali-

dade de rede deve ser uma regra abso-luta, sem exceções. “Provavelmente, o grupo Globo até tivesse vantagens se fechasse acordos de qualidade com as teles, mas por princípio defendemos a neutralidade”, explica a fonte. “Não admitimos que as empresas de teleco-municações monitorem e registrem o que os nossos usuários estão fazendo na Internet”, completa.

A posição da Globo é curiosamente parecida com o de muitos movimentos de defesa da Internet livre e aberta, que muitas vezes têm a Globo como antago-nista. Estes movimentos, contudo, ainda estão amadurecendo as posições sobre neutralidade. É o caso do Coletivo Intervozes. Segundo João Brant, um dos coordenadores do movimento, neutrali-dade é um tema complexo em que, evi-dentemente, o interesse dos usuários pode ser afetado de diferentes maneiras, seja ao ter o seu direito à informação e ao livre uso da rede restrito, seja ao ter seu serviço onerado em demasia em função dos investimentos em rede. “O certo é que parece muito arriscado alterar um modelo existente hoje e que é fundamen-tal para a democratização da comunica-ção por um novo modelo que não se sabe se vai preservar os princípios e conquis-tas da Internet”, diz Brant.

Para a Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE) do Ministério da Fazenda, já é necessário haver uma regulamentação em relação às regras de neutralidade. “Se o preço cobrado dos provedores de conteúdo pelos detento-res de rede for suficientemente alto, alguns daqueles decidirão não pagar; se a diferença de banda disponível entre pagantes e não-pagantes for grande, isso poderia levar a uma degradação do tráfego para os que não pagam, o que, no limite, fragmentaria a própria Internet”, diz a SEAE em contribuição à Anatel, apoiando a iniciativa de regular o assunto da forma proposta.

“se você não permite acordos comerciais para diferenciar a

qualidade dos serviços, a conta da rede será sempre paga pelo

usuário final.”Jeff Campbell, da Cisco

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Alocação de Capex em redes fixas...

...e em redes móveis

Fonte: AT Kearney 2010.

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.:CaPa

Além da discussão sobre quem paga o custo de expansão da rede para dar vazão ao tráfego crescente de bits e das discus-

sões sobre eventuais parcerias comerciais entre provedores de conteúdos e empre-sas de infraestrutura, outro debate funda-mental em tempos de políticas para Internet diz respeito à privacidade dos dados dos usuários. Mais uma vez, para onde se olha, seja para o lado das teles, seja para os lados dos provedores de con-teúdos, a complexidade impera.

Olhando primeiro do lado das teles, dois exemplos recentes mostram que o monitoramento do tráfego que elas ale-gam ser necessário para manter uma gestão razoável da rede traz em si riscos potenciais. Há algumas semanas, um desenvolvedor de aplicativos chamado Trevor Eckhart revelou que muitos apare-lhos com Android (e há suspeitas de que o mesmo aconteça no iOS, dos iPhones e iPads) rodavam um aplicativo secreto cha-mado CarrierIQ. Nada mais é do que uma ferramenta de monitoramento de tráfego que registra absolutamente todos os deta-lhes da navegação de um usuário de smartphones, incluindo textos digitados, endereços acessados e tempo de navega-ção. As empresas de telefonia celular dizem que esse monitoramento é funda-mental para a gestão da rede e que os dados são coletados anonimamente, mas surgiram suspeitas de que as teles pode-riam estar fazendo uso comercial destas informações. É uma acusação na mesma linha da já feita à Apple e ao próprio Google, que estariam coletando secreta-mente, através dos smartphones com seus respectivos sistemas operacionais iOS e Android, informações de geolocalização dos usuários.

Outro exemplo é o da plataforma de “data mining” (coleta e análise de infor-mações) Phorm, que basicamente é um software de coleta de dados instalado na rede da operadora e que registra todo tipo de informação possível sobre o uso da rede de banda larga, para depois oferecer, com base em uma análise dos dados, informações mais precisas ao mercado anunciante, de modo a gerar publicidade customizada a determinados segmentos. Por exemplo, pessoas presas em um con-gestionamento próximas a um determina-

do shopping-center, ou navegantes que visitam com frequência páginas relaciona-das a viagens, ou a internautas que pes-quisam com frequência sobre preços de computador, ou pessoas que costumam entrar em listas de discussão sobre tecno-logias. Segundo os críticos da plataforma Phorm, absolutamente tudo o que o usuá-rio faz na Internet pode ser monitorado, e

a tele que abriga a plataforma ganha uma vantagem competitiva imensa na disputa pelo mercado de publicidade online. No Reino Unido, a parceria entre a British Telecom e a Phorm se tornou um escânda-lo de privacidade em 2008 e até hoje exis-tem investigações em andamento.

A Phorm já está no Brasil. Em 2010 a empresa anunciou uma parceria com a Oi e este ano anunciou parceria semelhante com a Telefônica. O assunto está sendo discutido no âmbito do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) do Ministério da Justiça e contou com manifestações de empresas concor-rentes e potencialmente afetadas, como UOL e Globo.com. Ambas apontam riscos relevantes na parceria entre a Phorm e as teles, sobretudo na obtenção de informa-ções sobre os hábitos de navegação dos usuários. Para o Globo.com, por exemplo, há violação, inclusive, de informações tro-cadas entre os portais e seus usuários, algo que não tem nada a ver com a tele. As teles e a Phorm se manifestam alegando que existe anonimato nas informações coletadas e que não existe garantia de que a publicidade decorrente do uso dessas informações privilegiará uma tele ou

outra, porque a alocação dos anúncios não pode ser feita por operadora, e sim por perfil demográfico.

A argumentação parece não estar con-vencendo o Cade (o caso ainda estava em julgamento no fechamento desta edição). O conselheiro relator, Fernando Furlan, mostra muitas preocupações com todas estas questões em seu voto e, se por um lado recomenda a aprovação da parceria com a Telefônica, diz que isso só pode acontecer se a Phorm desfizer a parceria com a Oi, caso contrário estaria caracteri-zada uma associação anticoncorrencial entre Oi e Telefônica na disputa do merca-do de publicidade online.

Do outro lado, portais de Internet tam-bém registram os logs de navegação dos seus usuários, muitas vezes com objetivos comerciais. O Google é um dos principais usuários desse método: de um lado, dá os

aplicativos, conteúdos e até mesmo sistemas operacionais inteiros (como o Android e o Chrome OS) gratuita-mente. De outro,

registra os padrões de uso dos usuários e exibe publicidade, não raro customi-zada. O próprio Google admite isso ao detalhar as condições de uso de sua plataforma de email: “Os anúncios no Gmail são semelhantes aos exibidos nos resultados de pesquisa do Google e em páginas de conteúdo da web. No Gmail, os anúncios estão relacionados ao con-teúdo das suas mensagens. (...) A seg-mentação de anúncios no Gmail é com-pletamente automatizada e nenhuma pessoa lê seus e-mails para segmentar anúncios ou informações relacionadas”.

Da mesma forma, plataformas de vídeo como Netflix ou de compras como Amazon baseiam suas recomendações na análise detalhada de tudo o que o usuário faz ou demanda dos serviços. Cada com-pra, cada vídeo assistido é usado para alimentar algorítimos complexos de análi-se cognitiva que “ensinam” o que quer o usuário, tal como a análise dos padrões de uso da rede das teles.

Estes são alguns exemplos que mos-tram que para além da questão da neutra-lidade, o debate sobre regulação da Internet é muito mais complexo do que ser a favor de uma ou outra posição.

Big brother na rede

monitoramento e coleta de toda a navegação do usuário na internet via computador ou smartphone colocam privacidade em xeque.

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Certas questões políticas e regulatórias passam, cada vez mais, por um complexo jogo global de convencimen-

to e argumentação, em que o papel dos grandes fornecedores acaba sendo central. Quando o assunto é banda larga, um dos principais players desse mercado é a Cisco, res-ponsável por equipamentos por onde passam hoje cerca de 80% do tráfego global de dados.

A pessoa responsável pelas estraté-gias globais da Cisco no que diz respei-to a políticas tecnológicas é Robert Pepper, um ex-funcionário do órgão regulagulador das telecomunicações dos EUA (FCC) que por 16 anos cuidou da formulação de políticas de espec-tro, novas tecnologias, TV digital e Internet. Na Cisco desde 2005, hoje Dr. Pepper, como é chamado por seus colegas, é vice-presidente de Global Technology Policy e tem como papel acompanhar, em todo o mundo, de que maneira que diferentes governos estão estabelecendo suas políticas tec-nológicas. Nesta entrevista, Robert Pepper fala sobre competição, neutra-lidade de rede e o cenário de evolução tecnológica.

TELETIME – No mundo todo vemos um movimento claro de polí-ticas públicas de Internet, regulação de Internet... afinal, isso é algo bom ou ruim?

RoBERT PEPPER – O que está por trás desses movimentos é que tradicio-nalmente, quando se olha a literatura tradicional sobre desenvolvimento, água, energia e transporte são as prin-cipais referências de infraestruturas viabilizadoras. Mas avançando nesses princípios, e acho que isso está claro para a Comissão de Banda Larga dos EUA, que encampou esta causa, a conectividade também deve ser incluí-da. Está claro que é preciso haver uma disponibilidade global de infraestrutu-ra de banda larga, o mais perto de

uma presença universal possível. Para isso, são necessárias políticas, mas não necessariamente regulação. No final dos anos 80, havia a meta de que ninguém no mundo deveria estar a mais do que um dia de caminhada de um telefone. Naquela época, se alguém falasse em ter um telefone em cada vilarejo já seria inconcebível, ainda mais um telefone em cada bolso. E é o que se tem hoje, ou quase. O que pos-sibilitou isso foram mudanças nos modelos de negócio, mudanças nas

em algumas regiões, não existe backbone, não existe banda larga e levará muito tempo até que chegue lá por meio do mercado. é preciso incentivos e mesmo atuação direta do governo para levar as redes até lá.”

tecnologias e, sobretudo, uma mudan-ça na forma como pensamos em comu-nicações. Hoje sabemos da importân-cia disso para o desenvolvimento social no mundo.

Isso é claro, mas o que se viu no mundo desde que a Internet se tor-nou comercialmente disponível, em 1994 ou 1995, foi um estupendo desenvolvimento sem nenhum tipo de ação política, de regulação...

Sim, mas eu estou falando de polí-ticas de Internet. E você coloca o ponto exato onde eu quero chegar. Há um bilhão de pessoas com banda larga e cinco bilhões com celular. Como se consegue fazer com que a Internet viva esse milagre da mobilidade? A questão é qual o comportamento espe-rado dos governos para se chegar a esse desenvolvimento. Se olharmos para a história da Internet e da mobi-lidade, elas são similares. Começaram em plataformas analógicas, se torna-ram digitais, ganharam abrangência, ganharam capacidade e robustez. Assim como o mundo dos celulares foi das redes analógicas para o GSM, na Internet começou com a conexão dis-cada e foi para a banda larga. A ques-tão agora, no caso da Internet, é quais políticas são necessárias e quais não são necessárias para que tenhamos uma rede ubíqua; e os investimentos necessários para que estas infraestru-turas sejam cada vez melhores.

E quais seriam as políticas ade-quadas, na sua opinião?

Do lado da abrangência, tendo a ver da seguinte forma: os orçamentos governamentais são em geral limita-dos, e o governo em geral não é tão

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Robert Pepper

Samuel [email protected]

O futuro e as políticasRoberto Pepper, vice-presidente de Global Technology Policy da Cisco, comenta as tendências globais de políticas para banda larga e de novas tecnologias e sentencia: a competição entre redes é o melhor caminho

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bom quanto o setor privado em gerir essas redes. Então, do meu ponto de vista, o preferível é criar o ambiente que traga investimentos privados para construir essas redes. Hoje, muitas políticas e regulamentações de neutra-lidade cumprem o papel contrário, de desestimular esses investimentos. Sobre a urgência dessas medidas, por outro lado, muitas vezes o setor priva-do não consegue fazer os investimen-tos necessários dentro de um tempo razoável por conta dos modelos de negócio, o que abre um espaço para parcerias com os governos para expandir essa capacidade. Nesse sen-tido, a Telebras, no Brasil, é um ótimo exemplo. Em algumas regiões, não existe backbone, não existe banda larga e levará muito tempo até que isso chegue lá por meio do mercado. É preciso incentivos e até mesmo atua-ção direta do governo para levar as redes até lá, é preciso criar com-petição onde for possível e acredito que o caminho para esses objetivos é pensar em redes wireless.

Algum modelo específico parece mais exitoso hoje? o mode-lo australiano, com uma estatal de infraestrutura, ou o norte-ameri-cano, com metas e pouca atuação estatal, ou ainda o brasileiro, com a Telebras...

As circunstâncias são diferentes em cada país. O modelo australiano, e isso foi dito pelo ministro (da Comunicação da Austrália) Stephen Conroy durante a última conferência da União Internacional de Tele co-municações (UIT) em Genebra, talvez não seja um modelo para nenhum outro país; por conta de sua geografia única e da relação entre governo e a incumbent Telstra... Nos EUA o mode-lo é eficiente, entrega para o setor privado o core das redes e o backbo-ne, mas assume um papel mais obje-tivo ao levar as redes intermediárias às áreas rurais e promover a compe-tição nessas áreas. Um modelo que ainda não sabemos se terá sucesso, e que é parecido com o do Brasil, é o da Índia, com a diferença que a estatal criada para isso por lá, segundo o governo, será privatizada mais adian-te. O plano é levar fibra a todo o país, e os números são impressionantes. São 600 mil localidades na Índia, e existem 250 mil aglomerados dessas

localidades, e essa nova empresa tem como meta levar fibra a cada um des-ses aglomerados. Na Índia tem muita fibra nos grandes centros, mas há uma área rural imensa sem nada. Então, fica claro que não existe mode-lo único.

Mas as políticas de universaliza-ção são necessárias?

Sim, acho que alguns princípios estão claros quando se fala de univer-salização da Internet. Primeiro, se você não tem um plano, não chega a lugar nenhum. Ter um plano de banda larga é essencial, e isso o Brasil tem. Depois, acredito que a parceria entre o poder público e a iniciativa privada para cor-rigir as deficiências de cobertura é o melhor modelo. Em terceiro lugar, é preciso ter políticas de espectro que permitam a cobertura das regiões

rurais e dos grandes centros também. Isso inclui a migração do GSM para 3G, para o HSPA e para o LTE; e inclui, também, usar o dividendo digital, o espectro de 700 MHz, que deixará de ser usado para broadcasting, e utilizá--lo para banda larga. É preciso recupe-rar esse espectro tão logo ele deixe de ser necessário para TV. Essa é uma preocupação que já existe até mesmo na África.

Mas essa quantidade de espectro é realmente necessária em todos os lugares?

No caso dos 700 MHz, é uma faixa necessária, sobretudo fora dos gran-des centros. Não estamos falando de redes móveis. Estamos falando de redes fixas onde as pessoas é que se movem. Hoje mesmo, 85% dos dispo-sitivos móveis são utilizados com seus usuários em casa ou quando estão sentados. A conectividade wireless é que é necessária. Os nossos levanta-mentos mostram que a explosão no tráfego de dados não se restringe ao “norte industrializado”. O que vemos

é o mesmo padrão em praticamente todos os países e mesmo em regiões remotas, áreas rurais, o padrão de crescimento do tráfego é o mesmo. Sem dúvida é preciso ter espectro de cobertura nacional. E mais espectro é ainda mais necessário nos grandes centros. E, por fim, seja qual for a conexão wireless, se será 4G, Wi-Fi, qualquer uma delas precisa estar ligada a uma rede de fibra.

Sem falar na necessidade de uma rede de fibra residencial.

Exatamente. Com mais dispositivos conectados dentro de casa, será preci-so um acesso de fibra em cada lar. Eu tenho fibra na minha casa, com um serviço de baixa latência, 20 Mbps de downstream e 8 Mbps de upstream, baixa latência e sem limites, e eu posso fazer o que quiser. Originalmente

eu era cliente da Comcast, mas surgiram outros competidores e hoje eu tenho essa qualidade de serviço como o “best effort” da minha operadora. O que criou essa possibilidade foi a concor-rência entre as empresas.

E políticas de qualidade de serviço, são comuns? Como elas se aplicam nesse caso?

Há três variáveis que ficam claras quando se fala de qualidade de serviço: uma é a demanda e a compe-tição, em geral entre uma telco e uma operadora de cabo; outra variável é a transparência da operadora, de modo que eu possa checar a qualquer momento a qualidade daquilo que estou recebendo; e depois a própria qualidade das aplicações que eu quero usar. Se eu quero ter em casa um serviço de vídeo ou telepresença pela Internet e ele não funciona, meu provedor não é bom o suficiente. Nada disso vem de uma determinação do governo. A Verizon melhorou por conta da competição e a transparên-cia melhorou o que ela considera melhor esforço. O fato é que o “best effort” das operadoras está melho-rando na medida em que elas compe-tem mais entre si.

o modelo de venda de Internet sem limites é algo sustentável tanto para redes fixas quanto wireless?

Minha resposta é não, mas com um grande porém. Aqui estamos falando de congestionamento, é isso que obri

o custo de uma competição baseada em redes diferentes é muito maior, são dois business cases diferentes competindo e há uma duplicação de esforços e investimentos. mas o benefício é que se tem diferenciação de tecnologias e serviços.”

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-to-the-home pleno, como forma de ser à prova de futuro.

Falando de competição, como você vê as políticas de open access, unbundling e outras políticas que visam o compartilhamento em lugar da construção de redes paralelas?

Depende de caso para caso. O que vemos é que competição entre redes diferentes em geral funciona melhor. Existem prós e contras, é claro. O custo de uma competição baseada em redes diferentes é muito maior, ter uma rede de cabo, outra de fibra, são dois business cases diferentes compe-tindo, mas há uma duplicação de esforços e investimentos. O benefício é que se tem diferenciação de tecnolo-gias e serviços. Se o que eu faço é ape-nas revender a rede de um terceiro, eu

naturalmente limito o que eu posso prover ao que a rede do meu competi-dor pode oferecer. Como eu me dife-rencio nessas condições? No mundo das redes de cobre, fazer o unbundling da infraestrutura de par trançado é muito limitado. O compartilhamento de bitstream também nada mais é do que revenda do serviço de um terceiro, comprando no atacado e vendendo no varejo, sem agregar nada. Mas se estamos falando de redes que chegam a regiões mais complexas, menos atra-tivas, com a atuação do Estado, aí sem dúvida só o open access é que garante a competição. Mas ainda acho que o ideal é ter múltiplas redes, e onde não for possível, aí sim políticas de open access são importantes.

E no mercado de redes wireless?Muitos custos podem ser otimiza-

dos, como o compartilhamento de torres, como fazem a American Tower e outras. No mundo wireless, há muita infraestrutura compartilhável, e 80% do custo está ligado a esse tipo de infraestrutura. A competição fica, basicamente, no rádio, na infraestru-tura ativa.

Qual a sua leitura sobre os resul-tados das políticas europeias de open acess?

A política de open reach do Reino Unido com a British Telecom (BT) tem sido exitosa até aqui no mundo das redes de cobre, ainda que a BT não tenha implementado uma rede de fibra de maneira consistente até agora. Os recentes movimentos nesse sentido no Reino Unido ficaram mais por conta da operação da cabo da Virgin, e isso é que está forçando a BT a se mexer. Quando a política de open reach foi anunciada, a BT teve que se dividir sem que houvesse uma plata-forma competitiva. Olhando para o Brasil, as mudanças na legislação de TV por assinatura podem ser uma mudança importante porque isso pode estimular o surgimento de novas redes, que é o fundamental. Isso é muito saudável e a política é um passo importante, se for bem executada.

A preocupação com a competição com serviços over-the-top (oTT) é crescente entre operadores de cabo e banda larga. Você acha que eles estão efetivamente em risco com

ga as operadoras móveis a colocarem um limite de download. Precisamos de um modelo de preços que preveja esse tipo de gestão das redes, e é ingenui-dade pensar que essa gestão não existe hoje, a Internet é gerenciada nos rote-adores. Entendendo onde estão os con-gestionamentos em horários de pico, é possível permitir o uso irrestrito das redes sem grandes limitações. Hoje isso é feito em redes corporativas, mas não para os usuários em geral. Se a rede está livre em um determinado momento, não há porque não usar, mas se tentarmos usar telepresença no horário de pico, é impossível. Isso requer ferramentas mais inteligentes de gestão da rede, sobretudo em redes móveis, onde o limite de espectro é um problema. As redes móveis são natu-ralmente mais limitadas, assim como o xDSL é mais limitado do que uma rede de fibra e por aí vai.

E as redes de cabo? As redes de cabo têm uma situação

interessante, porque elas têm grandes capacidades de downstream, mas são limitadas no upstream, são muito assimétricas. Porque não foram pensadas para operar nesse sentido, exceto em casos de tele-metria, pequenas interações e billing. Isso começa a ser corrigi-do com DOCSIS 3.0, e por isso vemos tantas operadoras nos EUA e mesmo no Brasil seguindo esse caminho. Nos EUA, as operadoras de cabo não querem per-der clientes para as teles. Muitas migra-ram suas tecnologias por conta da Verizon. É a competição.

Eles não precisariam migrar para uma rede totalmente de fibras para competir?

Não é necessário. Em distâncias pequenas, o cabo coaxial é um exce-lente meio de transmissão. Eles já fazem “fiber-to-the-neighborhood” hoje e podem ampliar a penetração da fibra, mas o acesso final ainda é em cabo coaxial. E isso é uma vantagem, porque o maior custo de uma rede de fibra é justamente dentro da casa do assinante. O cabo coaxial é plenamen-te competitivo. Mais do que a solução do U-Verse, da AT&T, que está combi-nando fibra com um acesso ao assi-nante que utiliza vários pares de cobre. Isso já chegou ao limite para eles. Só a Verizon optou por um fiber-

em distâncias pequenas, o cabo coaxial é um excelente meio de transmissão. e isso é uma vantagem, porque o maior custo de uma rede de fibra é justamente dentro da casa do assinante.”

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conteúdos brasileiros. E é preciso haver um ambiente adequado para o desenvolvimento desses serviços OTT; serviços como o Netflix, por exemplo, precisam negociar conteúdos para o Brasil e os provedores brasileiros pre-cisam ter acesso à rede. E, sobretudo, os provedores OTT precisam assegu-rar a qualidade para seus clientes no Brasil. Isso não virá sem um nível necessário de gestão da rede. Aliás, a rede de banda larga sempre foi con-trolada. Ela é monitorada e gerida hoje e continuará sendo sempre. A questão é se permitiremos esse con-trole de modo a potencializar os novos serviços e a viabilização das redes.

Mas qual o modelo ideal entre detentores de redes e provedores de conteúdo?

Digamos que o ideal é um modelo em que os dois ganhem. Pense num

serviço de discagem para uma compa-nhia aérea: o usuário faz a ligação de graça, a companhia aérea ganha com a venda do bilhete e a companhia tele-fônica ganha por ter alugado aquele serviço à companhia aérea. Esse é o modelo ideal para a Internet. Uma regulação de neutralidade rigorosa proibiria um modelo como esse. Essas coisas precisam estar ligadas: de um lado, garantir investimentos na rede, a correta gestão da rede e a possibili-dade de todos os serviços trafegarem.

Como você define neutralidade de rede?

Acho que neutralidade de rede hoje significa coisas diferentes dependendo de com quem se fale e na verdade não significa nada. É uma escolha falsa dizer que a rede é gerenciada ou não, porque ela sempre será. As pessoas

precisam da rede, e os provedores locais precisam ter acesso ao seu próprio mercado, os provedores OTT precisam de redes que funcionem.

Estamos em um momento em que mais investimentos em rede são necessários?

Sem dúvida, precisamos de muito mais investimentos em redes e, ao contrário dos anos 90, em que houve um boom de investimentos em redes ópticas, agora precisamos investir também em redes móveis. Por isso a questão do espectro é cada vez mais crítica. A discussão de 700 MHz é necessária para a quarta geração, é preciso pensar em modelos para levar as redes de fibra mais longe, para cada bairro, até porque isso é neces-sário também para as redes móveis.

Já se sabe que modelos de negó-cio viabilizarão esses investimen-tos? Quem paga a conta?

Essa é a questão. Esse é o momen-to de se experimentar esses diferen-tes modelos de negócio, até que se descubra quais os mais eficientes, e por isso é necessário haver, do ponto de vista regulatório, um certo grau de liberdade de experimentação. Competição certamente é algo que estimula esses experimentos, novos provedores OTT também trazem novos desafios. A questão é que as pessoas estão pagando o mesmo ou menos pelos serviços, que ficam cada vez mais avançados. E os modelos tradicionais estão ruindo. A cobran-ça tradicional por minuto, usada na voz, está deixando de fazer sentido. A venda de pacotes de vídeo está mudando com o modelo sob deman-da. É um tempo de transição.

Qual o papel que novos players, como Amazon, Google, Apple e mesmo a Microsoft terão no mer-cado de infraestrutura?

Não sei se eles serão exata - mente provedores de rede, mas sem dúvida são parte do ecossistema convergente. Eles estão conduzindo o lado das aplicações, conteúdos, interfaces e dispositivos, e estão colocando a competição nessas áreas em um novo patamar. Redes, conteúdos e dispositivos são a chave de toda a competição que teremos daqui para frente.

esses novos modelos de negócio que estão surgindo?

Sem dúvida é uma competição dis-ruptiva, que está forçando fornecedo-res e operadores tradicionais a repen-sar seus modelos. Já estudei muito sobre a regulação do cabo, desde a legislação de cabo em 1984, e acom-panho muito de perto essa indústria. O modelo tradicional já havia mudado com o vídeo sob-demanda para com-petir com o home-video. A banda larga também se tornou uma parte fundamental do negócio de TV paga nos EUA e hoje representa uma recei-ta tão forte quanto de vídeo. A per-gunta é qual será a próxima mudança de modelo. Não chamo os OTTs de ameaça. Eles são competidores, e isso levará os operadores de cabo a se adaptar. A Verizon, que é a minha provedora de cabo também, já come-çou a ampliar a sua oferta de conteú-dos on-demand, estão indo para um modelo de TV Everywhere e por aí vai. Em cinco anos, tenho certeza de que a indús-tria de cabo será extrema-mente bem sucedida ainda, mas será muito diferente da atual, muito mais focada no usuário, que pagará mais para ter o conteúdo em qualquer lugar.

E os players oTTs, estarão onde?É uma boa pergunta. Recentemente

vimos um anúncio de que o Google TV estará nas TVs da Samsung. Ainda não tenho a menor ideia do que será exatamente isso, mas o Google está buscando de qualquer maneira emplacar seu Google TV e está lutan-do um pouco com isso. A questão é quais conteúdos únicos o Google terá para fazer com que as pessoas dei-xem seus provedores tradicionais para usar apenas o over-the-top. Veremos ainda uma mudança no modelo de assinatura e nas lógicas comerciais. Não se trata de ter uma coisa ou outra. Haverá uma combina-ção de modelos.

Isso passa pela regulação da questão da neutralidade?

Dependendo de como for essa regulação, não veremos essas mudan-ças de modelo de negócio. Os modelos OTT precisam ainda se resolver na questão dos conteúdos locais e lingua-gens locais. No Brasil, é preciso haver

a rede de banda larga sempre foi controlada. ela é monitorada e gerida hoje e continuará sendo sempre. a questão é se permitiremos esse controle de modo a potencializar os novos serviços e a viabilização das redes.”

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Não adianta mais chorar. As metas de qualidade para a banda larga fixa e móvel foram aprovadas pela Anatel e agora as empresas

começam a estudar o que fazer para atender às novas regras. A parte mais complicada do regulamento que foi apro-vado pela agência – aquela que estabele-ce as metas de velocidades instantânea e média – entra em vigor um ano após a publicação, ou seja, em outubro de 2012. As empresas, portanto, ainda têm um bom tempo para se adaptar.

Uma coisa é certa: as operadoras terão que fazer investimentos tanto na rede móvel quanto na fixa. No caso da rede fixa, a situação talvez seja ainda mais complexa, já que as incumbents têm uma extensa malha de rede legada de cobre. A situação é especialmente mais complicada para a Oi, já que ela tem o serviço de banda larga por xDSL (que usa a rede de cobre) na maior parte dos mais de 5 mil municípios brasilei-ros, muitos deles com baixo poder aqui-sitivo e, portanto, retorno de novos investimentos mais lento.

A operadora fez intensa oposição ao texto durante todo o período de consulta pública, e agora sustenta que é impossí-

vel cumprir as metas aprovadas. “É impossível cumprir as metas da Anatel. A tendência é que a agência perceba que fez um regulamento sem eficácia”, afirma Paulo Mattos, diretor de regulamentação da operadora.

A Oi ainda não tem uma resposta concreta sobre como pretende tornar sua rede capaz de entregar uma banda larga com a qualidade definida pela Anatel. “Estamos estudando a melhor forma de resolver o problema que o regulador criou sem resolver o proble-ma do consumidor. A Anatel criou regras estáticas para um mundo que é dinâmico”, critica Mattos.

Se as previsões do executivo se con-firmarão ou não, só o tempo dirá. O fato é que outras empresas já estão estudan-do quais serão os investimentos neces-sários para que a rede esteja apta a entregar as velocidades exigidas pela

Anatel (veja quadro). A Telefônica/Vivo, por exemplo, por meio de sua assessoria de imprensa, informa que foi formado um grupo técnico de trabalho para estudar o assunto.

Alguns fornecedores acreditam, entretanto, que as novas regras farão com que as

empresas sejam obrigadas a diminuir o número de assinantes que comparti-lham a mesma rede. Para os mais pessi-mistas, as operadoras poderão até dis-cutir no âmbito da sua associação – a Telebrasil – uma diminuição coordenada da velocidade dos planos ofertados. Ou ofertarem apenas planos de velocidades baixas nas localidades mais remotas e com baixo poder aquisitivo. O fato é que, segundo os especialistas, nenhuma empresa está preparada hoje para entre-gar até 80% da velocidade média contra-tada ao final de três anos e 20% da velocidade instantânea, como determina a norma. Lembrando que no primeiro ano, a meta de velocidade média já é de 60%, também considerada pelas opera-doras fora da realidade.

SoftwareA pequena Sercomtel, concessionária

do Serviço Telefônico Fixo Comutado (STFC) em Londrina e Tamarana, no interior do Paraná, saiu na frente das concorrentes ao adotar o software desen-volvido pelo Comitê Gestor de Internet (CGI.br) para a medição da velocidade. Assim, a concessionária se antecipa à obrigação colocada pelo novo regula-mento de qualidade do Serviço de Comunicação Multimídia (SCM) e do Serviço Móvel Pessoal (SMP).

De acordo com os novos regula-mentos, entretanto, as empresas deve-rão contratar uma entidade – a Entidade Aferidora de Qualidade – que deverá desenvolver o software, cujas medições não serão usadas no cálculo

.:RedeS Helton Posseti, de Brasí[email protected]

Metas na práticaMetas de qualidade impostas pela Anatel para a banda larga exigirão investimentos. Há quem acredite que teles poderão não elevar velocidade dos planos em cidades pequenas.

“estamos com investimentos contratados para essas três

áreas (última milha, core e links internacionais).”

Hans Müller, da Sercomtel

O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) parece ser o candidato natural a ser escolhido pelas empresas para ser a Entidade Aferidora da Qualidade exigida na regulamentação de banda larga. Isso porque o CGI é a única instituição que tem

alguma experiência com teste de velocidade da banda larga no País. O órgão fez uma medição em três capitais em parceria com o Inmetro, divulgada em junho. O método usado pelo CGI – que prevê um equipamento dedicado na casa do assinante - acabou sendo o adotado pela Anatel nos novos regulamentos.

Além da experiência prévia, a escolha da entidade conta com o apoio declarado da Oi. “A Oi, se tiver que contratar, vai contratar o CGI, porque não há um órgão tecnicamente tão habilitado quanto ele”, afirma Paulo Mattos, diretor de regulamentação da operadora.

O diretor de projetos do Nic.Br, braço técnico do CGI, Milton Kaoru, afirma que está sendo desenvolvido um equipamento que elimina das medições o período em que o usuá-rio usa o computador, o que dá mais precisão aos testes. O novo equipamento já será usado na pesquisa TIC Domicílios do ano que vem, mas não exclusivamente. Alguns domi-cílios terão a medição feita por software. Isso porque, segundo ele, é grande a resistência das pessoas em relação à instalação de outro equipamento em suas residências. “Esse tipo de know how só quem tem se mete a fazer. Na teoria muita coisa funciona, mas na prática é diferente”, afirma.

CGI.br, o candidato natural

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mais difícil será garantir elevados per-centuais de velocidade contratada. “Isso é um grande problema para a Oi por causa da distância (da última milha) e pela rede antiga”, afirma ele. Segundo Cardoso, para a banda larga móvel a situação é ainda mais difícil, já que os usuários nunca estão sempre no mesmo lugar. A mesma opinião é compartilhada pelo diretor da Oi, Paulo Mattos.

O vice-presidente de estratégia e marketing para América Latina e Caribe da Ericsson, Lourenço Coelho, acrescen-ta que além dos investimentos em aces-so, backhaul e backbone, as empresas precisarão investir também em serviços de otimização de rede.

Olhando para o futuro, o executivo afirma que é provável que as ampliações de rede das empresas aconteçam através da rede móvel. Isso porque a instalação da rede fixa exige as mais diversas auto-rizações municipais para a passagem dos cabos pelas ruas. Além disso, é muito mais cara a instalação de uma rede fixa, que exige uma quantidade muito maior de obras civis do que a instalação de uma antena em uma torre que provavelmente já existe. “Se essas operadoras precisa-rem crescer, elas vão para a banda larga móvel, porque não precisa arrebentar rua, passar cabo nem tirar licença na prefeitura”, afirma ele. Além disso, Lourenço destaca que com o LTE as ope-radoras poderão atender às exigências da Anatel com um custo menor.

conteúdo que o usuário demanda. No caso de vídeo, que é o tipo de conteúdo que

mais cresce, é impossível a operadora compartilhar a mesma informação com outros clientes, como ela faz com outros conteúdos. “Esse fator de compartilha-mento não vai ser mais o mesmo”, afir-ma. Outra consequência será o aumento da adoção das plataformas de Content Delivery Network (CDN), que permitem à operadora armazenar em servidores mais próximos do usuário aqueles conte-údos mais acessados.

À primeira vista, o cenário pode levar a um aumento no nível de investimentos das operadoras, mas a Huawei não acre-dita que isso vai acontecer. Motta afirma que normalmente o investimento das teles segue um percentual do faturamen-to líquido. E, nesse caso, as novas metas de qualidade não vão levar as empresas a faturar mais.

O diretor regulatório da Huawei, Eugênio Vasconcelos, acrescenta que as empresas poderão adotar uma polí-tica de não oferecer velocidades altas em cidades afastadas dos grandes cen-tros, onde a infraestrutura de rede é mais deficiente. Assim, com velocida-des mais baixas, seria mais fácil cum-prir as metas da Anatel. Vasconcelos especula que as teles poderiam até combinar entre elas de não elevar as velocidades dos seus atuais planos de serviço. Para a banda larga móvel, Motta afirma que o regulamen-to “não faz sentido”. Isso por-que hoje as empresas não comercializam planos por velocidade, mas sim por capacidade.

O diretor de tecnologia da Nokia-Siemens, Wilson Cardoso, explica que quanto mais longe o assinante está da central telefônica, maior é a interferên-cia entre os pares de cobre – fenômeno cha-mado de diafonia – e, portanto,

dos indicadores de rede. Essa é a principal razão para que a operadora não faça uma divul-gação sobre a existência do link para o SIMET (sistema de medição criado pelo CGI.br) na página na Internet.

O diretor de engenharia e operações da Sercomtel, Hans Muller, explica que a divulgação ainda não foi feita porque as discussões sobre o assunto no Grupo de Implantação de Processos de Aferição da Qualidade (GIPAQ) poderá levar ao uso de um outro software.

Apesar da pouca divulgação, a ado-ção do SIMET tem trazido benefícios para a Sercomtel. Isso porque, em caso de reclamação, os técnicos da compa-nhia podem provar ao cliente que o pro-blema não é na rede da Sercomtel, quan-do for o caso. Segundo o executivo, mui-tas vezes o problema está na rede inter-na, que pode estar velha ou deteriorada pela umidade, por exemplo. Os técnicos podem fazer a medição isolando a rede interna. Outra gargalo comum é o uso de roteadores Wi-Fi que, de acordo com as suas especificações técnicas, podem atuar como um estrangulador de banda.

InvestimentoMüller explica que para atender aos

novos parâmetros da Anatel é preciso fazer investimentos na última milha, no core de rede e na saída de tráfego inter-nacional. “Estamos com investimentos contratados para essas três áreas”, afirma ele. Mesmo sendo uma opera-dora regional, a Sercomtel está conec-tada aos Pontos de Troca de Tráfego (PTT) de São Paulo, Curitiba e Londrina. Com a conexão aos PTTs, é como se a Sercomtel trouxesse para dentro da sua rede todos os conteúdos que também estão conectados a eles, explica o exe-cutivo. Para a última milha, a estraté-gia é encurtar a rede de cobre, levando o centro de fios – onde ficam os DSLAMs – para mais perto dos clientes.

Para o diretor de marketing e produ-tos da Huawei, Marcelo Motta, haverá uma onda de substituição dos DSLAMs ATMs para os modelos IP e upgrade no backhaul e backbone. “Hoje as redes estão preparadas para entregar 10% da velocidade contratada. Subir para 60% (e depois para 80%) significa um investi-mento cavalar em transmissão”, afirma ele. O executivo explica que a garantia de banda varia de acordo com o tipo de

“estamos estudando a melhor forma de resolver o problema que o regulador criou sem resolver o problema do consumidor. a anatel criou regras estáticas para um mundo que é dinâmico.”Paulo Mattos, da Oi

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Page 21: Revista Teletime - 150 - Dezembro 2011

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Como não poderia deixar de ser, o mercado recebe com muito bons olhos a medida de

desoneração tributária para novas redes de banda larga anunciada pelo Ministério das Comunicações em setembro, ainda que tal desoneração dependa da publicação de uma Medida Provisória (MP). No entanto, fica o sentimento de que falta muito por fazer em termos de desoneração tributá-ria, já que o ICMS, principal “sócio” das empresas, continua intacto e não está claro até que ponto a medida poderá elevar o nível de investimento das opera-doras no Brasil.

O Ministério das Comunicações anun-ciou que irá isentar a cobrança de PIS e Cofins dos investimentos em novas redes de banda larga, tanto na aquisição dos equipamentos quanto no serviço de ins-talação e obras civis. Trata-se de uma desoneração de cerca de 10%, o que pode representar dezenas de milhões reais de economia para as teles. As ope-radoras que quiserem o benefício, contu-do, terão que ter o projeto homologado pelo Minicom, e serão considerados pla-nos de investimento que contemplem regiões carentes em infraestrutra de telecom. Com a homologação, as compa-nhias poderão solicitar a isenção fiscal junto ao Ministério da Fazenda. Para as empresas regionais, a regra tende a ser mais branda, ou seja, não será exigido investimento em áreas onde elas não atuam, por exemplo.

Até o fechamento desta edi-ção, não havia certeza sequer se a ação a ser implementada viria por meio de uma Medida Provisória ou Projeto de Lei. O Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, não esconde que torce para que seja Medida Pro vi só ria, até porque os proje-tos de lei costumam levar anos

para serem aprovados no Congresso Nacional, o que

poderia frustar os planos do Ministério de fomentar a antecipação dos investimen-tos já nos próximos três anos. O fato é que a proposta já está há quase três meses na Casa Civil, o que colocou por água abaixo a expectativa do ministro de que o benefício já pudesse estar em vigor em outubro ou novembro. Paulo Bernardo, ao justificar o atraso, explicou que o governo optou por esperar a reso-lução de alguns temas importantes no Congresso Nacional antes de enviar um novo projeto.

MecanismoO secretário de telecomunicações do

Ministério das Comunicações, Maximiliano Martinhão, explica que a medida estabelecerá um patamar míni-mo de velocidade das redes cabeadas para a concessão do benefício, patamar este que ainda está sendo decidido. Para as redes móveis, entretanto, a decisão já está tomada. Serão desone-rados apenas os investimentos em redes de terceira geração em diante. No caso de backbone e backhaul, a presta-

dora deverá apresentar um

plano que contemple também localidades carentes em infraes-trutura. “Vamos pedir que a empresa apresente um projeto para investir em áreas que aten-dam ao princípio da diminuição das desigualdades regionais”, explica Martinhão.

Haverá também um escalona-mento do benefício concedido para os equipamentos que são desenvolvidos e produzidos no Brasil e para aqueles que são apenas produzidos, de acordo com as regras do Processo Produtivo Básico (PPB). Produtos importados não serão beneficiados.

Martinhão afirma que as regras para a concessão do benefício serão muito claras e por esse motivo as contraparti-das de investimento não serão objeto de negociação entre Minicom e as empre-sas. Após a publicação da MP, será publicado um decreto regulamentando a medida que conterá todos os requisi-tos que deverão ser atendidos pelas empresas. “Vai haver um formulário padronizado no qual a empresa vai dizer como ela pretende atender às con-trapartidas estabelecidas na regulamen-tação”, explica ele.

Para cada projeto aprovado será publicada uma portaria com a homolo-gação do Minicom e, a partir daí, a empresa poderá dar entrada ao pedido de desoneração junto ao Ministério da Fazenda. Um detalhe importante é que haverá cerca de um ano e meio de prazo para que as companhias pleiteiem o benefício, que deverá se encerrar em

junho de 2013. As companhias, por outro lado, terão de 4 a 5 anos para conclu-írem os investimen-tos. A expectativa do Minicom é que a desoneração atinja cerca de R$ 1,2 bilhão por ano de benefício.

O secretário ga -

“em função de todas essas iniciativas (leilão de frequências, lei do seac e termo de compromisso para a banda larga), as operadoras vão antecipar seus investimentos. fizemos a coisa casada.”Maximiliano Martinhão, do Minicom

“hoje estamos beirando as raias do confisco. a arrecadação está aumentando bem mais do que o pib.”Helio Bampi, da Abeprest

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A boa notíciaMercado comemora o anúncio de desoneração tributária para construção de novas redes de banda larga, mas há dúvidas sobre o aumento efetivo de investimentos. Ipea aponta que setor não precisa de incentivos adicionais.

Page 23: Revista Teletime - 150 - Dezembro 2011

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rante que a adesão ao programa será grande, já que com a nova Lei do SeAC (TV por assinatura) as concessionárias podem explorar plenamente o mercado de TV a cabo. Além disso, os termos de compromisso do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) exigirão das empresas a ampliação de suas infraes-truturas em algumas localidades e, por fim, em 2012 devem acontecer os leilões das faixas de 2,5 GHz, 3,5 GHz e 450 MHz. “Em função de todas essas inicia-tivas, as operadoras vão antecipar seus investimentos. Fizemos a coisa casada”, afirma o secretário.

ContrapontoMas o Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada (Ipea) aponta o outro lado da moeda. Se o mercado por si só tem fortes razões para ampliar os investimentos em rede, seja de TV por assinatura – que também entrega banda larga –, seja móvel, através dos leilões de frequência, por que o governo haveria de criar novos incentivos com recursos públicos? Esse é o cerne da crítica do Ipea.

Rodrigo Abdalla, pesquisador da ins-tituição, afirma que o governo faz uma aplicação ruim do dinheiro público ao incentivar uma área em que a nova Lei do SeAC e os leilões de radiofrequência já são um incentivo por si só. �Há um pro-blema na desoneração horizontal de infraestrutura, porque ela pode gerar ineficiências, uma vez que os próprios operadores privados tenderiam a ampliar a rivalidade e por isso aumentar o inves-timento em infraestrutura ”, afirma ele.

Para Abdalla, os mesmos recursos que o Ministério das Comunicações cal-cula que serão concedidos em benefícios fiscais nos próximos 4 ou 5 anos seriam melhor empregados em outros meca-nismos de compensação que contemplassem as deficiências dos mercados de baixa renda.

MercadoO próprio mercado é céti-

co em relação à eficácia da medida, embora reconheça

que a desoneração é bem--vinda. O vice-presidente de estratégia e marketing da Ericsson, Lourenço Coelho, coloca argumentos que estão alinhados com a opinião do Ipea. Segundo ele, se as operadoras móveis não fizerem nada para a Copa do Mundo, “as redes delas entrarão em colapso”. “Elas terão que investir”, sentencia. Lourenço prevê um nível de investimento em 2012 maior que 2011, simplesmente pelo fato de o PIB crescer. É o chamado crescimento orgânico. Daqui para frente, existe uma série de fatores que vão favorecer que o investimento seja acima do orgânico, como os eventos esportivos que aconte-cerão no Brasil, as metas de qualidade para a banda larga e o leilão de 2,5 GHz. “Toda vez que surge uma tecnolo-gia nova é um motivo especial para a operadora investir. Fazer a mesma coisa mais barato é outro motivador de investimento”, afirma.

Lourenço considera positiva a deso-neração de PIS e Cofins para novas redes, mas, segundo ele, não será suficiente para preencher os gaps de banda larga que o País tem hoje. “Ainda tem o proble-ma dos impostos estaduais que são mais difíceis de mexer. A pergunta é se é sufi-ciente”, questiona o executivo.

O diretor de marketing e produtos da Huawei, Marcelo Motta, afirma que com a desoneração a operadora poderá comprar mais com a mesma quantidade de dinhei-ro. “Isso gera um impacto positivo no mercado mesmo com os níveis de investi-mento atuais. Se vai aumentar o nível de investimento das operadoras, eu não sei”, diz ele, também colocando em dúvida a

eficácia do projeto do governo.

A maior operadora do País classificou a medida como “convergente” com os objeti-vos da companhia. “Essa medida veio em bom momen-to porque a Oi vai intensificar os seus investimentos a partir do ano que vem e por isso ela é convergente com os objeti-vos da companhia”, afirma Paulo Mattos, diretor de regu-lamentação da operadora.

Mattos considera o incentivo fiscal o mecanismo “clássico e correto” de incentivo ao investimento. Mas ele também lamenta a falta de um acordo com o Confaz para redução do ICMS, que geraria benefício direto na fatura dos consumidores.

O executivo não se mostra preocupa-do com a notícia de que o benefício será concedido apenas se a empresa apresen-tar um plano que contemple regiões carentes de infraestrutura. Ele diz que por a Oi atuar nacionalmente, não é difí-cil cumprir esse requisito. “A Oi chegou com banda larga no Brasil inteiro, com exceção do mundo rural. Teremos facili-dade para cumprir os requisitos desta medida”, afirma ele.

Vale lembrar que o Plano Geral de Metas de Universalização (PGMU) cele-brado em 2008 já havia obrigado a con-cessionária a levar o backhaul a todas as sedes municipais até o final de 2010. Depois, com a compra da Brasil Telecom, ela foi obrigada a oferecer o serviço de xDSL Velox em todos os municípios da sua área de atuação. Mattos, com esses dados, critica a postura das outras empresas de se concentrarem no “miolo do filé mignon”. “A Oi fez a sua parte”.

O outro elo da cadeia que será bene-ficiado pela desoneração é o setor de instalação das redes. O diretor de rela-ções institucionais da Abeprest, Helio Bampi, comemora a medida, mas lem-bra que a arrecadação está crescendo a taxas maiores que o PIB. Além disso, o excedente tributário (a diferença entre a

arrecadação estimada pelo governo e o que foi de fato arrecado) significa que há espaço para desonerações ainda maiores. “Hoje esta-mos beirando as raias do confisco. A arrecadação está aumentando bem mais do que o PIB”, protesta Bampi.

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“a desoneração gera um impacto positivo no mercado mesmo com os níveis de investimento atuais. se vai aumentar o nível de investimento das operadoras eu não sei.”Marcelo Motta da Huawei

“há um problema na desoneração horizontal de infraestrutura, porque ela pode gerar ineficiências, uma vez que os próprios

operadores privados tenderiam a ampliar o investimento.”’Rodrigo Abdalla, do Ipea

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A Agência Nacional do Cinema (Ancine) definiu que instrumentos usará na regulamentação da Lei 12.485/2011, que cria o

Serviço de Acesso Condicionado (SeAC). Em evento organizado em novembro pela Converge Co mu ni ca -ções em parceria com o Museu da Imagem e do Som de São Paulo, Manoel Rangel, diretor-presidente da agência reguladora, apresentou o cro-nograma que a Ancine segue e afir-mou que serão editados três regula-mentos (ou instruções normativas, como são chamados os principais atos regulatórios da agência) para balizar a nova lei. Na primeira exposição públi-ca sobre a Lei 12.485/2011 após a sua publicação, Rangel aplacou a ansieda-de dos setores de produção de conteú-do e de programação e operação de TV por assinatura ao enfatizar que haverá um momento no processo de construção dos regulamentos para que todos sejam ouvidos. Ao mesmo tempo, representantes da agência acompanharam atentamente o evento, ouvindo as primeiras impressões e demandas de produtores, programa-dores e operadores.

As normas que vêm sendo dese-nhadas na Ancine serão apresentadas, segundo Rangel, em meados de dezembro, e ficarão em consulta públi-ca durante 45 dias. Além disso, duas audiências públicas serão realizadas para ouvir de perto as preocupações e demandas dos envolvidos. As audiên-cias devem ser realizadas em São Paulo e no Rio de Janeiro.

A primeira instrução normativa, chamada pelo presidente da Ancine de “O regulamento”, tratará da explora-ção da atividade audiovisual pelas operadoras do SeAC. Este será o prin-cipal regulamento, que tratará dos princípios gerais, da classificação dos conteúdos e da aferição das cotas de programação e de canais, das regras de relacionamento entre setores, infor-mações a serem colocadas na Internet,

aquisição de eventos e talen-tos, sanções e das regras de transição.

Outra instrução nor-mativa tratará das regras de credencia-mento para produtores, as regras edi-toriais de classificação dos conteúdos dentro dos critérios estabelecidos por lei e outras questões relacionadas dire-tamente aos produtores de conteúdo.

O terceiro regulamento será apre-sentado em forma de uma Resolução de Diretoria Colegiada (RDC), e deve tratar do recolhimento da Condecine pelas empresas de telecomunicações. O fato gerador desta Contribuição começa em janeiro de 2012 e o reco-lhimento efetivo deve se dar até março do próximo ano.

Além disso, as novas regras devem mexer com pelo menos três instruções normativas já vigentes: a IN 30, que trata da fiscalização por parte da Ancine; a IN 60, que trata da Condecine; e a IN 91, que trata do recolhimento da Condecine. Conforme

apurou esta reportagem,

outros pontos devem ser trata-

dos oportunamen-te, demandando re visões

em outras INs ou a edição de novas instruções.

TitularidadeUm dos temas espinhosos que pode

ter sua discussão adiada é a questão da titularidade sobre obras audiovisu-ais com recursos incentivados ou que sejam usadas para o cumprimento de cotas.

Durante o evento, o advogado Fábio de Sá Cesnik levantou a questão dos direitos patrimoniais. A dúvida se

refere principal-mente em relação ao conteúdo que será usado para cumprir as cotas de obra de produção independente. A questão é se a obra será considerada de produção inde-pendente pelo fato de ter sido produzi-

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Regras para o conteúdoAncine prepara a regulamentação da Lei 12.485/2011, que cria o Serviço de Acesso Condicionado, e abre espaço para contribuições dos setores envolvidos.

Manoel Rangel, da Ancine: agência está se reestruturando para gerenciar e

fiscalizar a nova realidade do mercado.

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buição representará um desafio para a Ancine e para as empresas. “Apesar de já haver uma rotina para o pagamento da TFF conhecida pela Anatel, o que temos agora um reco-lhimento novo”, explica o presidente da Ancine. Segundo Manoel Rangel, esse montante de R$ 400 milhões praticamente quadruplica o que se tem

disponível hoje no Fundo Setorial do Audiovisual para fomento, e represen-ta 150% a mais em relação a todos os recursos incentivados disponíveis para esse fim hoje no Brasil.

Caberá ao Comitê Gestor do Fundo Setorial Audiovisual estabelecer os cri-térios para aplicação desses recursos, mas são esperadas diretrizes que fomentem especificamente a produção para TV por assinatura. Parte desses recursos serão utilizados também para fomento da atividade cinematográfica, diz Rangel, mas serão tomados cuida

binado em cerca de R$ 400 milhões ao ano, segundo esti-mativas da Ancine, em função da contribuição que será paga pelos operadores de telecomu-nicações. A regulamentação do novo FSA é esperada para agosto de 2012, segundo Manoel Rangel. Apesar de haver mais tempo, a Ancine optou

por manter um grupo de trabalho desde já, para que todas as regula-mentações sejam feitas em sintonia.

Segundo Rangel, essa nova contri-

da por uma produtora independente ou pelo detentor de sua titularidade.

Atualmente, no caso de obras que usem recursos públicos, a titularidade deve ser da produtora independente (em pelo menos 51%). Questionado sobre a viabilidade de mudanças nesta regra, Manoel Rangel diz que o tema não é objeto de estudo neste momento e que valem as regras vigentes. Servidores da agência apontam que a Ancine deve se debruçar sobre o assunto, passado o período de regula-mentação da Lei 12.485 e do novo Fundo Setorial do Audiovisual, e então preparar uma IN específica sobre o tema. “Em alguns casos, os recursos incentivados são minoria”, comenta uma fonte na agência.

Dinheiro novoAlém da regulamentação

do SeAC em si, a Ancine trabalha para regulamentar o novo Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), que é o principal mecanismo de fomento e que será tur-

Para Marcos Amazonas, do Grupo Bandeirantes e da NeoTV, a nova lei

não levou em consideração os operadores em pequenas

localidades, sem recursos para digitalizar as redes.

as novas regras devem mexer com pelo menos três instruções normativas já

vigentes: in 30; in 60; e in 91.

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dos para garantir que essa produção cinematográfica seja aproveitada tam-bém no setor de televisão.

O presidente da Ancine adiantou que o fomento para a TV deve ser mais abrangente, podendo haver crédito para o desenvolvimento de formatos, por exemplo. Completou ainda que o fundo buscará conteúdo de alto valor agregado, ou “conteúdo de estoque, e não de fluxo”. A afirmação vai ao encontro dos critérios atualmente ado-tados pela agência para liberar recur-sos através do Artigo 39 da MP 2.228/01, evitando os chamados “con-teúdos de grade”.

Segundo Rangel, a operação desses recursos exigirá da Ancine e do fundo uma “outra mecânica, mais ágil na seleção de projetos e prazos mais cur-tos para a entrega de obras”.

Rangel reconhece que existe um grande desafio para a Ancine em rela-ção à sua estruturação, e já foram iniciados estudos sobre as necessida-des da agência. Nesse momento, alguns estudos referentes à reestrutu-

ração do Fundo Setorial Audiovisual já foram pas-sados ao governo, e futu-ramente uma proposta de

reestruturação da própria agência também será levada ao Executivo para permitir que a Ancine seja adequadamente aparelhada para atender às demandas da Lei 12.485/2011. Segundo Rangel, a área de fomento da agência passou por uma reorganização no último ano,

para se preparar para as

novas funções. “Em linguagem popu-lar, nós ‘limpamos a área’ para o novo momento do setor”, disse.

operaçãoO diretor de programação da Net

Serviços, Fernando Magalhães, mini-mizou o impacto das cotas de progra-mação criadas na Lei 12485/2011.

Segun do ele, na prá-tica, o impacto da nova regra é admi-nistrável. “Por enquanto, vamos ter que au men tar a dis-tribuição de alguns canais já distribuídos pela Net”, disse. No prazo de três anos, admitiu que terá de acrescentar “cinco ou seis canais” ao line-

-up. “Praticamente todas as cidades estão com as redes digitalizadas, dimi-nuindo a dificuldade de incluir estes canais”, afirmou.

Marcos Amazonas, do Grupo Bandeirantes, e também presidente da associação de operadoras NeoTV, discorda de Magalhães. Ele diz que a nova lei não levou em con-sideração os pequenos operadores, que operam

pequenas localidades. O executivo lembra que nestas operações é econo-micamente inviável digitalizar as redes e que o line-up das redes analógicas não é tão flexível. Para uma operadora do tamanho da Net é mais fácil nego-ciar programação e falar de valores, prazos e demandas. “Eu não diria que é um passeio, mas um agradável rali

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O partido Democratas (DEM) entrou com Ação

Direta de Inconstitu-cionalidade junto ao

Supremo Tribunal Federal (STF), com pedido de medida liminar contra diversos dispositivos da Lei 12.485/2011.

Veja os pontos questionados pelo partido:O DEM questiona os poderes que foram atribuídos

à Ancine, afirmando que a Constituição “veda que uma lei estabeleça princípios de atividades de comunicação e, em seguida, delegue a uma agência reguladora a implementação destes princípios”.

A ação questiona a criação de cotas de programação, sob o argumento de que estas cotas são restrições “às atividades de comunicação resultam em restrição da liberdade da atividade econômica, da livre iniciativa, do direito do consumidor, do direito de comunicação e da propriedade intelectual”.

Também é questionado o must carry dos canais de radiodifusão, sob o argumento de que estaria sendo ferido “o direito autoral das empresas de radiodifusão ao conteúdo por elas gerado”.

Questiona-se ainda a obrigatoriedade de migração para o SeAC sem que se avalie a eventual existência de eventuais prejuízos aos atuais operadores de cabo, MMDS e DTH.

O DEM questiona a ausência de licitação para o processo de autorização do SeAC. Segundo a inicial da Ação de Inconstitucionalidade, “ainda que se entenda que o serviço de acesso condicionado deva ser prestado sob o regime privado, a licitação revela-se necessária em face da escassez dos meios físicos para a prestação dos serviços e pela evidente desigualdade de condições entre os competidores”.

Curiosamente, o DEM não questionou dois dos aspectos que são considerados mais graves do ponto de vista constitucional: a criação de novas atribuições de uma agência reguladora por meio de lei originada no Legislativo e a alteração de regras tributárias também por lei que não seja do Executivo. Também não é questionada a separação de mercados entre empresas de distribuição e produção de conteúdos, previstas nos Artigos 5 e 6 da Lei 12.485, que é justamente um dos pontos considerados mais conflitantes com a liberdade de iniciativa prevista na Constituição.

Sobrou para a Justiça

“o impacto não será tão grande nas cidades onde a

rede está digitalizada.”Fernando Magalhães, da Net

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além da regulamentação do seac, a ancine trabalha

para regulamentar o novo fundo setorial do audiovisual (fsa).

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O principal evento de Políticas de (Tele)comunicações agora tem um “plus”.Venha discutir também a política de TICs.

O debate anual com empresários, acadêmicos e representantes da sociedade civil sobre as perspectivas políticas e regulatórias do setor.

14 e 15 de fevereiro de 2012NOBILE LAKESIDE CONVENTION & RESORT | BRASILIA, DF

Entre os temas em debate:

A agenda política de 2012 para as (Tele)comunicaçõesA agenda regulatória da Anatel para 2012

A agenda regulatória da Ancine para 2012 Radiodifusão e telecom: O desafi o da convivência

O setor de TICs e a política industrial As políticas de inclusão digital

Os projetos estratégicos de infraestruturaPrograma Brasil Maior para desenvolvimento e

exportação de software e serviços Programa de incentivo para fabricação

de componentes e semicondutores Programas de desoneração para fabricantes de TI

INSCRIÇÕES: 0800 77 15 [email protected]

PARA PATROCINAR: (11) 3138. [email protected]

OrganizaçãoPromoçãoApoio Parceiros Institucionais

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28 TeleTime dez_2011

de fim de semana”, brincou. “No nosso caso é uma travessia do deser-to carregando a bagagem a pé.” Amazonas cobrou dos reguladores uma atenção especial aos pequenos operadores.

Mesmo a Net concorda que expan-dir o line-up em algumas de suas operações pode ser complicado. “Vamos ter problemas nas cidades analógicas pequenas, onde a conta não fecha para a digitalização”, disse Fernando Magalhães.

A Sky mantém sua posição sobre a nova lei. A operadora, seguindo o exemplo do partido Democratas (veja box), entrou na Justiça questionando a Lei 12.485/2011. A operadora de DTH, que desde a tramitação da Lei no Congresso vinha se manifestando criticamente em relação a algumas das propostas do novo marco legal, ingressou na Justiça Federal de São Paulo contra a Ancine e a União ques-tionando a Constitucionalidade da Lei. Especificamente, a Sky questiona os dispositivos que estabelecem a obrigatoriedade de cotas. A Sky não fez nesse pedido de nenhuma medida liminar, pois entende que como a regulamentação não foi concluída, não há risco iminente, mas isso pode acontecer futuramente, explicou o diretor jurídico da operadora, Ricardo Lagreca, a esta reportagem.

ProgramaçãoOs programadores no evento

apontaram algumas preocupações em relação à regulamentação da nova lei. Para a Globosat, maior pro-gramadora brasileira de TV por assi-natura, não será nada simples esse processo. Na opinião de José Francisco de Araújo Lima, diretor de assuntos institucionais das Organizações Globo e representante da Globosat, ainda há uma grande quantidade de incertezas sobre o que virá na regulamentação.

Araújo Lima disse ser um “alívio” ver que a Ancine fará audiências públicas para ouvir o setor. “Estamos pre-parados para participar ati-vamente”, disse. Ele finali-zou sua participação lem-brando que entre a publica-ção da Lei do Cabo, em 1995, e sua regulamentação, em 1997, o então presidente

Fernando Henrique Cardoso criou uma regulamentação por decreto que, por trazer “diversos absurdos”, teve que ser revogada.

Araújo Lima apontou uma série de consequências da nova legislação. “Por exemplo, ela cria centenas de progra-madoras, já que todo canal local, todo canal comunitário e todo canal estran-geiro terá que estar vinculado a uma programadora, o que não necessaria-mente acontece hoje”, disse. Isso signi-fica, lembra o advogado, que todos terão que se credenciar junto à Ancine.

Ele também lembrou a questão da repetição de conteúdos e contestou a possibilidade de que isso seja limitado pela regulamentação. “Isso faz parte da característica da TV paga. Não tem nada na Lei dizendo que não possa haver reprise de conteúdos”, disse. Araujo Lima também questionou a figura do empacotador criada pela Lei e disse temer que as empresas de dis-tribuição de TV paga, a partir de agora, passem a exercer esse papel e contro-lar o empacotamento dos canais.

Para Anthony Doyle, da Turner, o setor de programação está trabalhando

para se adequar à Lei. “Há um esforço para interpretar a Lei. Temos pouco tempo para isso”, disse o executivo.

Segundo ele, as indefinições e as dúvidas que pai-ram sobre as novas regras já estão impactando negativamente no trabalho das progra-madoras, que já estão criando as gra-des de programação de março, quando começam a vigorar as novas regras.

Outro ponto apontado por Doyle é em relação ao licenciamento de con-teúdos. O executivo teme que as cotas inflacionem o mercado brasileiro. “A Ancine terá de nos ajudar para garan-

tir que o preço pago seja justo. Não sei qual é o valor correto, mas precisa ser viá-vel”, disse.

Fator psicológicoA aprovação da Lei,

mesmo sem ter entrado em vigor ainda, pelo menos no que se refere às cotas de con-teúdo e canais, já gerou uma

“movimentação positiva” na relação entre programadoras e produtoras. Segundo a produtora Denise Gomes, da Bossa Nova Filmes, há um fator psicológico na aprovação da Lei que fez com que as programadoras se aproximassem mais das produtoras independentes. “Pela primeira, foram os canais que nos procuraram, e não o contrário”, disse. Segundo ela, a expectativa da mudança no mercado mexe com toda a cadeia. “Talentos da TV aberta perceberam a criação de um novo mercado e acredito que muitos não renovem seus contratos de exclusividade com os canais aber-tos”, disse.

FERNANDo LAuTERJuNG E SAMuEL PoSSEBoN

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“talentos da tv aberta perceberam a criação de um novo mercado e acredito que muitos

não renovem seus contratos de exclusividade com os canais abertos.”

Denise Gomes, da BossaNovaFilms

“a ancine terá de nos ajudar para garantir que o preço pago seja justo. não sei qual é o valor correto, mas precisa ser viável.”Anthony Doyle, da Turner

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as normas que vêm sendo desenhadas na ancine serão

apresentadas em meados de dezembro, e ficarão em consulta pública durante 45 dias.

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O ano foi de forte turbulência no mercado de cabos sub-marinos. Aquisições, amplia-ções e o esperado anúncio do projeto da Telebras no

mercado de links internacionais geraram dúvidas e dividiram opiniões, sobretudo entre os players do setor.

Para os representantes da Level 3, empresa norte-americana de serviços que recentemente adquiriu a Global Crossing e tornou-se um dos maiores provedores de comunicação interconti-nental do mundo, a maior competição deve ser positiva. “Há uma parte (da rede submarina) que a Telebras deve cons-truir, mas eu diria que a grande maioria será composta pelo backbone de empre-sas já estabelecidas, ou seja, poderemos usufruir dessa capacidade para chegar em locais de difícil acesso, como a região Norte. E, em contrapartida, a Telebras precisará de banda”, prevê Orlando Neves, diretor de produtos da Level 3. Já Yuri Menck, diretor de marketing da empresa, não vislumbra um horizonte tão bom assim. “Esse é um processo que está começando (a ser discutido) agora e será implantado daqui a alguns anos, por isso corre-se um grande risco de investir muito dinheiro para depois chegar-se à conclusão de que era necessário contra-tar outras empresas”, diz.

Mitsuo Shibata, diretor geral da Telefónica Whole Sale (TIWS), subsidiá-ria do grupo Telefónica e provedor global de comunicação, vê ambiguidade no debate. “É saudável num ponto, pois pode estimular o crescimento dos back-bones brasileiros e da banda larga como um todo. Mas não há carências nos links internacionais, pelo contrário, acho que o Brasil já está muito bem servido nessa área. Além do mais, a Telebras tem inves-timentos mais importantes por fazer, como em infraestrutura terrestre”, diz. O projeto de instalação dos cabos submari-nos está orçado em R$ 2,5 bilhões, dos quais 40%

serão arcados pela Telebras e o restante por empresas parceiras.

No entanto, o gerente de tecnologia e inovação da Telebras, Paulo Kapp, rebate a crítica de maneira curta e grossa: “Quem sabe onde temos de gastar somos nós”. Kapp justifica o investimento ale-gando que esta é a única forma de se reduzir drasticamente o custo por mega-bit da banda que chega ao Brasil e assim viabilizar as operações da estatal. “Quase metade do tráfego nacional anual, de aproximadamente 1,8 Tbps, vem dos Estados Unidos (EUA) e o custo médio é de US$ 35 a US$ 37 por Mbps. Isso é um cartel”, dispara. “A diferença do preço se dá dentro do Brasil (redes terrestres) e ganha quem tem acesso local, como Embratel, Telefônica e Oi”.

O custo considerado razoável pela Telebras é de US$ 15 por Mbps na saída

de Fortaleza, menos da metade do preço cobrado atualmente pelas operadoras de cabo submarino. “A Telebras é carrier de carrier e nosso principal objetivo, ao cons-truir o cabo submarino, é o de baixar esse preço e inundar o País todo de banda larga”.

O projeto, anunciado recentemente pela estatal, prevê uma saída para os EUA (chegada em Miami, Jacksonville ou Virgínia), passando pelo Caribe e conec-tando com os países da fronteira Norte (Colômbia e Venezuela); uma outra saída para a Europa, passando por Cabo Verde, na África, e chegando na Inglaterra, Holanda ou França (as opções ainda estão em estudo, mas a preferência é Amsterdam); um terceiro cabo ligando Fortaleza e Angola; e uma outra derivação para os países do Cone Sul (Uruguai e Argentina).

A ideia é implantar uma rede de capa-cidade máxima de 32 Tbps, mas com capacidade inicial de 2 Tbps. Pelas proje-ções da Telebras, o tráfego brasileiro é hoje de 1,8 Tbps. “Uns 500 Gbps desse total é acessado via redes internacionais por meio dos cabos submarinos existen-tes. Teremos de ter também um backbone de uns 500 Gbps e, a partir daí, evoluir esse tráfego”, calcula Kapp.

O objetivo da estatal é se tornar uma operadora Tier 1, ou seja, com capacidade de conexão direta aos principais pontos de troca de tráfego sem precisar passar por intermediários. Com isso, a Telebras teria a possibilidade de trocar tráfego com ope-radores de cabos que cruzam o continente africano e assim ter uma saída direta para

a Ásia, sem passar por Europa ou EUA, como acontece hoje.

América do SulMas a intenção da

Telebras de derrubar o custo do megabit dos links internacio-nais não se restringe à implantação de cabos submarinos

.:InFRaeStRutuRa Daniel [email protected]

Mares revoltosTelebras anuncia ingresso no mercado de cabos submarinos e muda a dinâmica competitiva do setor. Parceria com estatais também é estudada para a integração terrestre e marítima dos países sul-americanos.

“corre-se um grande risco de investir muito dinheiro (da telebras) para depois

se chegar à conclusão de que é necessário contratar outras empresas.”

Yuri Menck, da Level 3

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Novo giganteDo lado privado, o mercado não foi

menos agitado. A Level 3 concluiu a aquisição da Global Crossing e, com isso, é agora uma das maiores provedo-ras de infraestrutura de comunicações do mundo, com receita de US$ 6,2 bilhões, 56 mil quilômetros de redes submarinas, 160 mil quilômetros de rotas terrestres e 48 mil quilômetros de redes metropolitanas. “Ganhamos força nas Américas e agora somos o único provedor com acesso a todos os conti-nentes, presente em 70 países e mais de 700 cidades”, comemora Neves. “Em 2011 estudamos a entrada em outros países. Provavelmente teremos novida-des em 2012”, acrescenta.

Não só o crescimento da capilaridade está em curso, mas um aumento da

capacidade dos cabos do SAC (link submarino herdado da Global Crossing). “No segun-do trimestre de 2012 amplia-remos a capacidade de lamb-da de 40 Gbps para 100 Gbps, crescimento de duas vezes e meia”, antecipa.

Além de conectividade, as empresas do setor procuram oferecer serviços de valor adicionado. Em 2009, a Global Crossing lançou um serviço chamado Ethesphere. O produto é uma espécie de Metro Ethernet internacional, porque liga diversas filiais ao redor do mundo por meio de uma simples conexão Ethernet. A Level 3 manterá e ampliará o serviço. E tem fortes motivos para isso. “Desde que começou, nos últimos três anos o crescimento anual desse serviço tem sido de 35%”, relata Yuri Menck.

A companhia está recebendo da Global Crossing um bom legado no seg-mento corporativo, que representa 60% do negócio da empresa no Brasil. Os outros 40% vêm do provimento de conec-tividade para operadoras.

TIWSA Level 3 tem como concorrentes na

região diversos outros players de peso, como a Embratel (Atlantis 2, Americas 2 e Unisur); Oi (Globenet); LANautilus

estratégico e comunicações da Level 3. E (para cada assi-nante de 1 Mbps) as operado-ras não reservam 1 mega. Elas compram isso para divi-

dir entre três assinantes, por isso esse gasto internacional é diluído, não repre-senta tanto”, acrescenta.

Segundo o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, o custo aproximado do projeto de integração de infraestrutura será de US$ 100 milhões e o prazo de conclusão é de dois anos. Este número, entretanto, representa apenas uma fração do montante total do plano, que inclui também cabos subma-rinos que ligarão a costa brasileira aos EUA, Europa e África. Bernardo defende que o projeto seja estabelecido como uma prioridade entre os países do conti-

nente e seja incluído no Plano de Ação Estratégico 2012-2022 do Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (Cosiplan).

O presidente da Telebras, Caio Bonilha, revelou que há uma negocia-ção da estatal com a Odebrecht Defesa, que participaria da construção do tre-cho que ligará a América do Sul aos EUA e à Europa. Porém, declarou que tudo não passa de conversas prelimina-res. Por ser um projeto comercial, não há restrição à entrada de sócios no projeto e a Telebras estuda propostas de outras empresas. Na ponta africana, por outro lado, já existem compromis-sos firmados com empresas como a Angola Telecom para a construção do cabo. Segundo Bonilha, o que não falta ao projeto são empresas interessadas em entrar na joint-venture. Ele explica que a Telebras deve ser minoritária na joint-venture, mas será a maior acionis-ta individual, e terá o controle das ope-rações em Fortaleza e nos EUA.

próprios. Aliás, o debate extra-pola as fronteiras nacionais e está sendo tratado no âmbito sul-americano. A missão é interligar, por terra e mar, a infraestrutura de telecomuni-cações dos países sul-america-nos, ação coordenada pela União de Nações Sul-Ame-ricanas (Unasul) com doze paí-ses da Região. Atualmente, a comunicação entre os países da América do Sul só ocorre por meio de cabos submarinos ligados a outros continentes, principalmente aos Estados Unidos. O anel óptico pretende promover a integração das telecomunica-ções na Região, além de torná-la menos dependente do tráfego transcontinental.

O negócio é tão sério que, pela primei-ra vez, os ministros de comunicação dos países sul-americanos se reuniram em Brasília para conversar, no final de novembro, tendo esse assunto em pauta. A nova infraestrutura abrangeria pratica-mente toda a América do Sul, com uma extensão total de mais de 10 mil quilôme-tros, e aproveitaria as redes existentes utilizadas atualmente no setor elétrico ou energético, como é o caso dos gasodutos. O objetivo final é o de reduzir os custos das transmissões de dados entre os países e assim ampliar o acesso aos serviços de telecomunicações entre a população sul--americana. “Em relação a uma empresa norte-americana, um provedor de servi-ços na América do Sul paga, no mínimo, três vezes mais por megabit”, compara Kapp. “Na Bolívia, o valor do Mbps é US$ 1 mil”, alerta.

Segundo o consultor da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), Edwin Rojas, o uso dos enlaces interna-cionais representa de 30% a 40% do custo final do serviço de Internet na América Latina. “As operadoras dizem que esse custo não passa dos 20%, mas há outras melhorias que devem ser analisadas”, alerta. Esse valor excessivo na composi-ção da conta do serviço de Internet, de acordo com o consultor, ocorre pois de 60% a 80% do tráfego internacional origi-nado na América Latina passa por servi-dores dos Estados Unidos. Cerca de 40% desse tráfego advém do Brasil.

Mas os provedores privados refutam: “Só de impostos são 40%. Essa conta não fecha. Além do mais, o usuário doméstico paga muito mais pela última milha, principalmente se for cliente de incumbent, diz o diretor de marketing

“dependemos muito dos backbones terrestres para ampliar ainda mais nossa capacidade. de nada adianta construir uma auto-estrada se no final haverá várias ruazinhas.” Mitsuo Shibata, da TIWS

o custo considerado razoável pela telebras é de us$ 15 por mbps na saída de fortaleza, menos da metade do preço cobrado atualmente pelos provedores.

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(Telecom Italia); e TIWS (SAM-1). Esta última acre-dita que o fato de ser o único provedor que não dispõe de uma operadora de telecom no varejo pesa significativamente contra a Level 3. “Cerca de 99% do tráfego doméstico das operadoras com provedores internacio-nais, como Oi, TIM e Telefônica, saem e entram do País por esses links próprios. E estamos muito à frente, pois temos operações domésticas em vários países”, diz Mitsuo Shibata, diretor geral da TIWS, subsidiária do grupo Telefónica.

Ao contrário da Level 3, a atuação da TIWS se restringe ao mercado de wholesale, ou seja, venda de dados e voz no atacado. “Não pode haver con-flito de interesses: mercado corporativo é com a Telefônica Empresas, que é um dos nossos principais clientes”, explica. “A voz, mesmo ocupando uma banda pequena, ainda gera um tráfego e uma receita associada importante. Cerca de 60% da nossa receita vem da telefonia internacional. Só o grupo Telefónica trafega no mundo 20 bilhões de minu-tos por ano”, diz o executivo, que des-taca também o recente lançamento de um serviço de atendimento ao cliente

para as carriers. “Temos atendido a Vivo na expansão que ela neces-sita nas regiões da Amazônia e no Nordeste, inclusive via satélite”.

GargaloPara Shibata, o problema nas tele-

comunicações não se encontra no mar, mas sim na terra. “O gargalo não está nas operações internacionais, mas nas domésticas. Esse é o desafio para todas as operadoras. Dependemos muito dos backbones terrestres para ampliar ainda mais nossa capacidade. De nada adianta construir uma auto-estrada se no final haverá várias ‘ruazinhas’”, compara. “Um lambda de 100 Gbps chegar ao País e não conseguir trafe-gar, caindo para 10 Gbps, gera perda de eficiência”, acrescenta.

Segundo o executivo da TIWS, o SAM-1 foi instalado há dez anos e teve sua capacidade nominal multiplicada por dez desde então. “Não preciso mexer em absolutamente nada da parte molhada do cabo. Faço isso remotamente. Ope rar um cabo subma-rino é totalmente dife-

rente de operar um cabo terrestre. É necessário haver um alinhamento com as redes terrestres”. Esse alinhamento, revela, está ocorrendo no grupo Telefónica. “Com a compra da Vivo, TVA, as futuras redes LTE, estamos trabalhando em um plano estratégico de arquitetura de redes”.

Shibata revela que a TIWS continua investindo em aumento de capacidade, apostando também em cashing local. “Onde conseguíamos passar um lambda de 10 Gbps no mesmo espectro, hoje passamos 40 Gbps. E já estamos em testes avançados para transmitir, em um só cabo, 100 Gbps. Ou seja, nossa capacidade total é de 1,9 Tbps, mas

pode chegar a 19 Tbps”, explica.

VendorsCom a capacidade das redes

submarinas dobrando, em média, a cada 24 meses, os ven-dors ampliam seus negócios. Alcatel-Lucent, Nokia Siemens Networks, Huawei e outras grandes fabricantes de equipa-mentos de transmissão apostam algumas fichas no mercado de links internacionais.

Desde que desembolsou US$ 2 bilhões, no primeiro trimestre

de 2010, e comprou a divisão de redes Metro da Nortel, a Ciena, nome mais novo nesse setor, não para de crescer. “Cerca de 25% dos 2 Tbps dos dados que circularam nos cabos submarinos em 2011 no Brasil foram roteados por equipamentos da Ciena. E acreditamos que entre 2011 e 2017 o crescimento da demanda será de 45% a 50%”, diz Marcos Garcia Villas-Bôas, diretor regional e gerente geral da Ciena Brasil, que acredita que em 2018 o tráfego anual no Brasil atinja 18 Tbps. “Vídeos de alta definição, 3D, proliferação de smartphones, tablets, Copa do Mundo, Olimpíadas, temos boas razões para estar otimistas.”

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Quando o assunto é cabos submarinos, muito pouco se fala a respeito daqueles que têm a árdua tarefa de

atravessar os mares instalando e fazendo manutenção nos cabos ópticos. Na verdade, são poucas as empresas que realizam o serviço de ponta a ponta. Elas cabem nos dedos de uma mão. Primeiro porque custa caro e requer alto nível de especialização. “Já instalamos cabos ópticos em pontos no mar com uma profundidade maior do que a altura da Cordilheira do Himalaia”, diz Vincent Chevalier, vice-presidente das Américas da Alcatel Lucent Submarine Network. A Cordilheira do Himalaia é a cadeia montanhosa mais alta do mundo e tem mais de 100 picos que excedem os 7,2 mil metros do chão. “É um investimento elevado; além do que, é preciso muita experiência e tripulação especializada nos barcos que instalam os cabos, construídos especialmente para esse fim”. A Alcatel Lucent tem mais de 50 anos de experiência em instalação de links internacionais, uma base de aproximadamente 510 mil quilômetros de redes submarinas implantadas e uma frota de seis navios “offshore” – como são chamados. Parece pouco, mas cada embarcação desse tipo

custa, em média, US$ 120 milhões. “A frota mundial de navios offshore é de 40 embarcações, das quais oito são nossas”, diz Courtney McDaniel, diretor da TE SubCom, empresa do Grupo TE também com mais de 50 anos de experiência no setor e 490 mil quilômetros de sistemas ópticos instalados. “Recentemente, concluímos um projeto que exigiu seis navios, com várias centenas de pessoas envolvidas”, diz McDaniel, que afirma que a TE SubCom é a única empresa que terá uma embarcação especializada de plantão no norte da América do Sul para a manutenção e reparação de prováveis rupturas. No Brasil e América do Sul, aliás, a TE SubCom construiu e atualizou os sistemas submarinos Americas, Americas 2, SAM1 e Columbus, além de projetos offshore para a Petrobras.

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“já instalamos cabos ópticos em pontos no mar com uma profundidade maior do

que a altura da cordilheira do himalaia.” Vincent Chevalier, da Alcatel Lucent

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Notícias, entrevistas, análises e artigos sobre mobile banking, mobile commerce, mobile marketing, m-health, m-payment, games e entretenimento em smartphones e tablets.

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No ano passado, o mercado de serviços de valor adi-cionado (SVA) em telefo-nia celular foi chacoalha-do por um ofício da Anatel

impondo uma série de exigências para a oferta de assinatura semanal de con-teúdos, entre as quais a necessidade de dupla autorização por parte do usuário, o chamado “duplo opt-in”, para o envio de mensagens promocio-nais. Na época, abriu-se uma discus-são sobre a necessidade de regula-mentação de tais serviços.

Agora, passado pouco mais de um ano, a Anatel volta a surpreender e inclui, pela primeira vez, metas de qua-lidade envolvendo o serviço de mensa-gens de texto (SMS) para as operadoras celulares. Estas terão que entregar 95% das mensagens enviadas por mês em até um minuto. Embora valha apenas para mensagens trocadas entre usuá-rios, a nova meta afetará indiretamente a vida de agregadores e integradores de conteúdo móvel, prevêem analistas do mercado de SVA. A intervenção da Anatel traz um novo desafio a entidades como o Mobile Entertainment Forum (MEF): o de agilizar o processo de autor-regulamentação, evitando imposições de órgãos reguladores.

O mercado de SVAs existe há mais de dez anos no Brasil, tendo começado com a venda avulsa de ringtones mono-fônicos, alguns conteúdos por SMS e sites WAP. Por muito tempo não gerou dores de cabeça para os consumidores ou para as operadoras e seus parceiros. Tampouco rendia uma receita significa-tiva, verdade seja dita. O cenário come-çou a mudar por volta de 2007, quando foram lançados no País os primeiros serviços de assinatura semanal de con-teúdo móvel, ideia importada da Europa. Funciona da seguinte forma: o usuário paga um valor semanal (hoje em torno de R$ 4,99) e recebe créditos para serem trocados por ringtones, jogos, imagens, vídeos etc. O modelo foi bem aceito pelas operadoras, pois gera uma

receita recorrente. Em um piscar de olhos, empresas estrangeiras aportaram no País com esse modelo e várias das companhias nacionais de SVA lançaram ofertas similares. A receita cresceu, mas junto veio a dor de cabeça. “O problema não era o produto, mas a forma como era oferecido”, recorda Philemon Mattos, diretor de desenvolvimento de negócios da Takenet. Muitos consumi-dores assinavam o serviço pela Internet, digitando seus números de celulares atraídos por ofertas pouco transparen-tes ou mentirosas. Havia casos em que a pessoa não se dava conta de que estava se comprometendo a um pagamento semanal. E pior: em alguns desses ser-viços era difícil ou quase impossível cancelar a assinatura. Houve até situa-ções de fraude explícita em que dados de uma mala direta foram usados para forjar assinaturas, relata Rafael Pellon, advogado e sócio de CFLA Advogados e especialista no mercado de SVA. Para complicar a situação, os mais afetados

eram justamente os usuários pré-pagos, pois alguns desses serviços se aproveita-vam do fato desses consumidores não terem uma visibilidade adequada de seus gastos com telecomunicações, já que não recebem uma conta mensal detalhada. Muita gente teve seus crédi-tos descontados sem saber o porquê.

O resultado foi uma chuva de recla-mações junto às operadoras e à Anatel. Pressionado, o órgão regulador decidiu tomar uma providência, dentro do seu raio de competência legal. Vale lembrar que, na teoria, a Anatel não pode regu-lar diretamente os agregadores, inte-gradores ou provedores de conteúdo móvel, somente as operadoras de tele-fonia. Ciente disso, a agência enviou um ofício às teles em julho do ano pas-

sado relatando a enxurrada de recla-mações e exigindo providências por parte das teles por considerá-las res-ponsáveis solidaria-mente aos seus par-ceiros, haja vista que usam seu siste-ma de billing para cobrar por tais ser-

.:SeRvIÇoS MóveIS Fernando Paiva, do Rio de [email protected]

Valor adicionado e reguladoNova intervenção da Anatel, dessa vez na entrega de mensagens de texto, reabre a discussão sobre a necessidade de regulamentação de conteúdo móvel no Brasil.

“a ideia é não deixar que o mercado vire um faroeste.”

Rafael Pellon, da CFLA Advogados

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simples: esses problemas esta-vam traumatizando os consu-midores, que nunca mais volta-riam a comprar conteúdo móvel através das teles. Era um suicídio gradual do merca-do de SVA para as operadoras.

O aperto feito pela Anatel, pelas operadoras e pelo MEF

surtiu efeito. A quantidade de reclama-ções diminuiu sensivelmente, garan-tem fontes, e as ofertas se tornaram mais transparentes. Empresas que operavam com métodos, digamos, pouco éticos, simplesmente estão dei-xando o País ou mudando de foco. Vale lembrar que algumas já haviam tido problemas similares em outros conti-nentes antes de aportarem por aqui. “Algumas até incluem em seus planos de negócios as multas que receberão das operadoras”, relata uma fonte. Há

informações de que os próximos alvos são países africanos, especialmente a África do Sul. “São empresas ‘gafanho-to’: vêm e destroem tudo”, compara o gerente geral para América Latina da Playphone, Renato Marcondes.

SMS em um minutoQuando as coisas pareciam se acal-

mar, surgiu neste fim de ano mais uma novidade: a Anatel incluiu entre as novas metas de qualidade das operado-ras móveis a obrigatoriedade de entre-ga em até um minuto de 95% das men-sagens de texto que partem de sua rede todo mês. A medida é válida apenas para mensagens trocadas entre usuá

vedores, agregadores, inte-gradores, operadoras e fabri-cantes. O código incluiu as exigências da Anatel e acres-centou vários outros detalhes,

como sugestões de fraseologia para as mensagens de confirmação e determi-nação de limites para a cobrança pelo serviço. O documento sugere também uma lista de palavras que devem ser aceitas para o cancelamento do serviço quando enviadas por SMS pelo usuário.

Gradativamente, começou um pro-cesso de autofiscalização, visto que os

associados do MEF são concorrentes entre si. As denúncias, contudo, são encaminhadas pela entidade às operado-ras, pois o MEF não tem poder para punir seus associados. As teles, sim, com base em termos de conduta assinados pelos parceiros, passaram a adotar pena-lidades, que variam desde a multa (que pode chegar a 50% da receita que cabe-ria ao parceiro) até o bloqueio temporá-rio do serviço. Segundo fontes, a TIM foi uma das mais duras. A operadora já tinha uma posição crítica ao serviço de assinatura antes mesmo do ofício da Anatel, tendo expressado isso em público durante a edição de 2010 do evento TELA VIVA MóVEL. Seu argumento era

viços e compartilham de sua receita. Entre as exigências constava a obrigatoriedade de envio de uma mensagem de texto pela operadora para o usuário com informações sobre o serviço desejado, incluindo um link para o con-trato, um número de protoco-lo, o preço e a forma de can-celamento. Além disso, para que a assinatura fosse efeti-vada, o usuário precisaria responder a essa mensagem confir-mando seu interesse. Na prática, o ofí-cio da Anatel determinava a adoção do que o mercado chama de “duplo opt--in”, ou, em bom português, uma “dupla autorização”.

O mercado sentiu o baque. Imediatamente, as operadoras se reuni-ram com a Anatel, pedindo mais escla-recimentos e receosas de que tais exi-gências precisassem ser adotadas por outros SVAs. A agência, então, enviou outro ofício, em setembro do ano passa-do, esclarecendo que as novas regras não precisavam ser cumpridas para serviços como quiz, chat ou votação por SMS. E no caso de compra de conteúdos avulsos não era necessário enviar link para contrato.

A intervenção da Anatel ligou o sinal de alerta entre as empresas de SVA. Ou elas se organizavam para se autorregu-lar dali em diante ou a agência interviria mais vezes. “O mercado muda muito rapidamente e a legislação corre atrás. A autorregulamentação supre essa carência e a defasagem da lei. A ideia é não deixar que o mercado vire um faro-este”, argumenta Pellon. Uma das res-postas foi justamente a elaboração de um código de conduta no âmbito dos associados do MEF, que reúne desenvol-

“o que me incomoda é a forma como a anatel faz: manda um ofício e pronto.”Renato Marcondes, da Playphone

ainda há muitos pontos no mercado de sva que merecem atenção das empresas, se estas não quiserem sofrer novas interferências da anatel.

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rios, mas terá efeitos sobre agregadores e integradores. Estes provavelmente terão que planejar melhor o balanceamento do seu tráfego de SMS ao longo do dia, a pedido das operadoras. O objeti-vo será não provocar a sobrecar-ga da plataforma de mensagens, evi-tando o atraso na entrega do SMS entre usuários. Um dos temores é que as operadoras priorizem ainda mais o tráfego peer-to-peer (P2P) em detri-mento daquele de conteúdo via SMS (ou A2P, na sigla em inglês). O proble-ma é que alguns desses serviços são extremamente sensíveis ao tempo, como alertas de gol. Outra possível repercussão junto aos parceiros é um incentivo por parte das teles à adoção da tecnologia USSD, que usa um outro canal de comunicação em redes GSM para envio de conteúdo por texto que aparece na forma de mensagem pop--up na tela do telefone e que hoje ainda é pouco explorado no Brasil.

A Anatel definiu um prazo de 180 dias para que as operadoras atendessem a essa meta. As teles, contudo, ainda têm muitas dúvidas. A Claro, por exemplo, levantou as seguintes questões: 1) como garantir a entrega de uma mensagem ao usuário de outra operadora?; 2) como garantir essa entrega em até um minuto no caso de o telefone do usuário estar desligado ou fora da área de cobertura?

Sobre a primeira pergunta, um téc-nico da Anatel ouvido por este noticiá-rio informou que o prazo vale a partir da chegada da mensagem na rede da operadora de destino. O difícil será medir e fiscalizar isso.

Para atender à demanda da Anatel, as operadoras terão que investir em mais capacidade em suas plataformas de mensagens de texto. O problema é que não há como garantir essa entrega em um minuto durante momentos de pico, como Natal, Reveillon, finais de futebol etc. É provável que os detalhes dessas metas ainda sejam discutidos mais profundamente entre as empresas e o órgão regulador, tal como foi feito em relação ao ofício sobre o serviço de assinatura semanal.

As interferências da Anatel divi-dem as opiniões das empresas de SVA. “As intervenções eram necessárias e bem-vindas até certo ponto. O que me incomoda é a forma como a Anatel faz: manda um ofício e pronto. Não existe diálogo ou conversa técnica”, reclama

Marcondes, da Playphone. “Quando a intervenção é feita para garantir a quali-dade do serviço que, por sinal, anda muito ruim no 3G e no SMS, sou 100% a favor”, diz Gustavo Ziller, diretor da Aorta, uma desenvolvedora de aplica-tivos móveis. Ele ressalta, entretanto, se opor a qualquer tentativa de contro-le do conteúdo distribuído, o que não é o caso por enquanto.

Próximos passosAinda há muitos pontos no merca-

do de SVA que merecem atenção das empresas se estas não quiserem sofrer novas interferências da Anatel. Um deles é o problema do spam via SMS. Crisleine Pereira, presidente da BeWireless, explica que é muito fácil comprar uma mala direta com nomes e telefones celulares e, em seguida, enviar mensagens de texto não solici-tadas usando brokers não homologa-dos pelas operadoras. Esses brokers usam canais de roaming internacional para entrar nas redes das teles como se fossem mensagens P2P e conse-

guem inclusive preços mais baratos que aqueles cobrados pelos integradores homologa-dos. Entre os casos mais emblemáticos de spams via SMS estão alguns ocorridos durante campanhas eleito-rais. Em 2010, por exemplo, no dia da eleição presidencial foi disparado um spam fazen-do campanha para o candi-dato José Serra, do PSDB, cujo comitê central negou

qualquer participação no ocorrido. “O broker pirata degrada a funcionalida-de do SMS. Não há garantia de entrega das mensagens e pode passar qual-quer conteúdo e em qualquer horário. A meu ver as maiores prejudicadas são as operadoras”, analisa Crisleine. No combate a esse problema merece destaque a atuação da Claro, que pas-sou a exigir uma senha para o disparo de qualquer broadcast de mensagens. Segundo fontes do mercado, a iniciati-va será seguida em breve pela Vivo.

O MEF pretende lançar uma revisão de seu código de conduta a cada ano. A versão de 2011 estava em negociação quando do fechamento de TELETIME, com previsão de publicação em dezem-bro. Entre os pontos abordados estão o aperfeiçoamentos nas fraseologias das mensagens e no limite de cobranças. Mas uma das principais novidades esta-rá no combate ao conteúdo pirata, prin-cipalmente no seu uso na web para atrair usuários a assinar serviços móveis, nova prática que se estabeleceu no mercado brasileiro. O MEF firmou acordo com o IFPI, um órgão internacio-nal de combate à pirataria, para quem serão encaminhadas denúncias de irre-gularidades encontradas por aqui. O novo código também passará a exigir opt-in via SMS para quem assinar servi-ços através de sites WAP. Atualmente, é requerida apenas a marcação de um “checkbox” para adquirir uma assinatu-ra semanal via WAP.

Para especialistas ouvidos por TELETIME, uma área que o mercado precisará olhar com mais atenção em um futuro próximo é a de m-commer-ce. Será necessário criar certos padrões para evitar problemas confor-me esse segmento cresce. Uma das preocupações é a proteção ao público infantil, para que não faça compras inadvertidamente. O assunto está no radar do MEF para 2012.

.:SeRvIÇoS MóveIS

Enquanto isso, no mundo dos aplicativos móveis, quem dá as cartas em termos de

regulamentação são os donos das lojas de aplicativos, ou seja, Apple, na App Store, e Google, no Android Market. São eles que ditam as regras, através dos contratos assinados pelos desenvolvedores. São contratos padronizados, sobre os quais os desenvolvedores não têm poder de realizar qualquer alteração – muito menos as operadoras ou os órgãos reguladores de telecomunicações. Quem pode, sim, interferir é a legislação local de cada país. No Brasil, por exemplo, a exigência de classificação etária para jogos eletrônicos obrigou a Apple a excluir, por enquanto, a categoria de games da versão brasileira da App Store.

No mundo dos apps é diferente

“o broker pirata degrada a funcionalidade do sms.”

Crisleine Pereira, da BeWireless

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É certo que 2011 foi um bom ano para o setor. As operadoras cres-ceram e fusões se consolidaram. Talvez a indústria tenha fornecido

menos do que esperava e sem dúvida, no item terminais, perdemos a posição de liderança industrial continental, pois passa-mos a comprar mais do que vender.

Na frente política, o maior peso para o Ministério das Comunicações mostra um retorno de prestígio político ao setor, e assim espera-se que continue.

E 2012 será um ano melhor ainda para o setor, caso se confirmem os planos de expansão anunciados pelas operadoras, as obras relacionadas à Copa de 2014 e os novos leilões de espectro previstos para o primeiro semestre.

Além disso, as fusões e aquisições dos últimos anos entram em fase de estabiliza-ção. A reorganização da Telefônica com a incorporação da Vivo começa a mostrar suas tendências como organização e, com certeza, apesar de a Telefônica já operar de forma integrada em outros países, ainda decorrerá um longo período até que a estrutura organizacional aqui se adapte a um novo modelo de gestão e crie uma nova cultura, onde a operação fixa tradi-cional e de reflexos lentos possa conviver com a agilidade das operadoras móveis e com a introdução de novos serviços.

Já os mexicanos começam a se movi-mentar na direção de buscar sinergias de negócio, organização e investimentos. Reside aí uma incógnita, contudo, já que não têm esta experiência em nenhum dos mercados em que atuam, muito menos no México.

O Brasil agora é a bola da vez, a Europa está em crise e o nosso mercado pode ser uma saída para a estagnação de cresci-mento de operadores importantes no Velho Mundo. Poderemos ver fusões entre iguais ou mesmo aquisições de nicho, como vem fazendo a TIM, visando ampliar seu espec-tro de clientes ou presença em mercados específicos. No terreno dos fornecedores, parece que há tendência de calmaria, já que as grandes fusões já ocorreram e agora sobram pequenos ajustes. Os grandes ven-dors voltam a sua atenção para os serviços gerenciados, já que as margens de venda dos produtos está cada vez menor. Os pres-

tadores de serviço, sem dúvida, terão uma oportunidade, pois continuam muito pulve-rizados e podem vir a buscar uma concen-tração maior para se adequar ao menor número de clientes, operadores e vendors no mercado.

A disputa pelos clientes de maior ARPU deve se acirrar com a entrada da Nextel com o serviço celular 3G, direcionada pri-mordialmente aos clientes corporativos, seu mercado tradicional, isto no campo de disputa das operadoras.

Mas aí surgem as expectativas de lançar outros serviços baseados na nuvem para abocanhar mais uma fatia de negócios das grandes empresas, aumentando o tamanho do mercado cor-porativo. Por um lado, isto renova o debate: é esse um mercado das operado-

ras ou das empresas fornecedoras de soluções em nuvem? Ou ainda, há uma nova oportunidade para os fornecedores de equipamentos tradicionais?

Quanto aos fornecedores de equipa-mentos, há duas tendências claras: uma é a de aumentar sua presença em servi-ços, ampliando sua participação em gerenciamento de redes das operadoras; e outra é a de aumentar a oferta para o mercado corporativo.

E 2012 aparece como o ano em que as grandes definições para o cenário 4G vão acontecer, embora as redes 4G entrem no mercado mais para 2013.

Smartgrids aplicadas às redes elétricas permitirão uma evolução na direção das casas inteligentes. E começa uma migração mais consistente para IP em todas as tecno-logias, colocando em perspectiva maiores volumes e bandas necessárias para os pró-ximos anos. Paralelamente, torna-se crítica a questão de como rentabilizar o tráfego de dados para viabilizar os investimentos associados, e a busca de uma menor regu-lação associada a este tráfego gerido por autorizações, e não por concessões.

Seria bom se neste novo ano tivéssemos uma clara evolução da massificação da banda larga, com a participação de todos os agentes. E é desejável que os fundos desti-nados à universalização passassem a ser utilizados para fomentar e financiar o aces-so da banda larga em lugar da voz.

Seria bom neste ano se a Telebras orientasse sua atuação no objetivo de sua recriação, trabalhando focada para o PNBL.

Seria bom se a qualidade do serviço das redes celulares melhorasse e que a cobertu-ra fosse ao menos razoável, fazendo a Anatel a fiscalização que lhe cabe fazer.

Neutralidade de redes poderia deixar de ser um debate para ser uma solução de compartilhamento de infraestrutura em benefício dos investidores.

Que a sustentabilidade deixe de ser uma preocupação ou um mote político e que se transforme em um conjunto de princípios e ações que realmente ajudem o planeta.

Acreditamos pois, que pelas indicações vistas até agora, será um bom ano para o setor, se fatores de crise externa e fatores políticos que alterem o modelo adotado até agora não atrapalharem.

.:Ponto&ContRaPonto Cláudio [email protected]

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e 2012 será um ano melhor ainda para o setor, caso se

confirmem os planos de expansão anunciados pelas

operadoras.

Um ano bom

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