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Revista do

REVISTA DO TCEMG jan./fev./mar. 2009 v. 70 n.1 ano XXVII

Tribunal de contas do estado de Minas GeraisTCEMG manifesta-se acerca de parceria entre Municpio e OSCIP para prestao de assessoria jurdica populao carente

Minasde MinasDa economia mineiridadePresidente do TCU defende integrao das aes dos rgos de controle e prope acesso dos tribunais de contas ao sigilo bancrio de investigados

FICHA CATALOGRFICAISSN 0102-1052Publicao do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais Av. Raja Gabglia, 1.315 Luxemburgo Belo Horizonte MG CEP: 30380-435 Revista: Edifcio anexo, sala 301 (0xx31) 3348-2142 Endereo eletrnico: Site: As matrias assinadas so de inteira responsabilidade de seus autores. Solicita-se permuta. Pidese canje. Man bittet um Austausch. Exchange is solicited. On demande lchange. Si richiede lo scambio.

FICHA CATALOGRFICA Revista do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais. Ano 1, n. 1 (dez. 1983- ). Belo Horizonte: Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, 1983 Periodicidade irregular Publicao interrompida Periodicidade trimestral ISSN 0102-1052 1. Tribunal de Contas Minas Gerais Peridicos 2. Minas Gerais Tribunal de Contas Peridicos. CDU 336.126.55(815.1)(05) (1983-87) (1988-92) (1993- )

Projeto grfico e diagramao: Alysson Lisboa Neves MTB/0177-MG [email protected] Fotos da capa: Mina CBMM Arax-MG (cedida pela CODEMIG Companhia de Desenvolvimento Econmico de Minas Gerais). Transporte de minrio Itabira-MG (Gualter Naves). Caminho Fora de Estrada com carregamento de minrio de ferro Mina de Alegria Mariana-MG (Leo Fontes). Esteiras de minrio Mina de Fbrica Congonhas-MG (Leo Fontes). Impresso e acabamento:

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS

CONSELHOWanderley Geraldo de vila Presidente Antnio Carlos Doorgal de Andrada Vice-Presidente Adriene Barbosa de Faria Andrade Corregedora Simo Pedro Toledo Conselheiro Eduardo Carone Costa Conselheiro Elmo Braz Soares Conselheiro Gilberto Diniz Conselheiro em exerccio

AUDITORIAEdson Antnio Arger Gilberto Diniz Licurgo Joseph Mouro de Oliveira Hamilton Antnio Coelho

MINISTRIO PbLICO jUNTO AO TRIbUNAL DE CONTASMaria Ceclia Mendes Borges Cludio Couto Terro Glaydson Santo Soprani Massaria

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS

CORPO INSTRUTIVODIRETORIA-GERAL Cristina Mrcia de Oliveira Mendona Fone: (31) 3348-2101 DIRETORIA DA SECRETARIA-GERAL Marconi Augusto F. Castro Braga Fone: (31) 3348-2204 DIRETORIA DE ANLISE DE ATOS DE ADMISSO, APOSENTADORIA, REFORMA E PENSO Janana de Souza Maia Fone: (31) 3348-2250 DIRETORIA DE ANLISE FORMAL DE CONTAS Conceio Aparecida Ramalho Frana Fone: (31) 3348-2255 DIRETORIA DE AUDITORIA ExTERNA Valquria de Souza Pinheiro Fone: (31) 3348-2223 DIRETORIA ADMINISTRATIVA Flvia Maria Gontijo da Rocha Fone: (31) 3348-2120 DIRETORIA DE PLANEjAMENTO Isaura Victor de Pinho Oliveira Fone: (31) 3348-2146 DIRETORIA DE FINANAS Izabel Rainha Guimares Junqueira Fone: (31) 3348-2220 DIRETORIA DE INFORMTICA Armando de Jesus Grandioso Fone: (31) 3348-2390 DIRETORIA DA ESCOLA DE CONTAS Renata Machado da Silveira Van Damme Fone: (31) 3348-2321 DIRETORIA MDICO-ODONTOLGICA Herculano F. Ferreira Kelles Fone: (31) 3348-2143 GAbINETE DA PRESIDNCIA Ftima Corra de Tvora Chefe de Gabinete Fone: (31) 3348-2481 Antnio Rodrigues Alves Jnior Assessor Fone: (31) 3348-2312

COMPOSIO DO PLENO*Conselheiro Wanderley Geraldo de vila Presidente Conselheiro Antnio Carlos Doorgal de Andrada Vice-Presidente Conselheira Adriene barbosa de Faria Andrade Corregedora Conselheiro Simo Pedro Toledo Conselheiro Eduardo Carone Costa Conselheiro Elmo braz Soares Conselheiro em exerccio Gilberto Diniz * As reunies do Tribunal Pleno ocorrem s quartas-feiras, 14h. Diretor da Secretaria-Geral: Marconi Augusto Fernandes de Castro braga Fones: (31) 3348-2204 [Diretoria] (31) 3348-2128 [Apoio]

COMPOSIO DA PRIMEIRA CMARA*Conselheiro Antnio Carlos Doorgal de Andrada Presidente Conselheira Adriene barbosa de Faria Andrade Conselheiro em exerccio Gilberto Diniz Auditor Relator Edson Antnio Arger Auditor Relator Licurgo joseph Mouro de Oliveira *As reunies da Primeira Cmara ocorrem s teras-feiras, 14h30. Diretora da Secretaria: joeny Oliveira Souza Furtado Fones: (31) 3348-2585 [Diretoria] (31) 3348-2281 [Apoio]

COMPOSIO DA SEGUNDA CMARA*Conselheiro Simo Pedro Toledo Presidente Conselheiro Eduardo Carone Costa Conselheiro Elmo braz Soares Auditor Relator Gilberto Diniz Auditor Relator Hamilton Antnio Coelho *As reunies da Segunda Cmara ocorrem s quintas-feiras, 10h. Diretora da Secretaria: Ana Maria Veloso Horta Fones: (31) 3348-2415 [Diretoria] (31) 3348-2189 [Apoio]

Revista do

Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais

DIRETORCONSELHEIRO ANTNIO CARLOS DOORGAL DE ANDRADA

VICE-DIRETORAUDITOR LICURGO JOSEPH MOURO DE OLIVEIRA

SECRETRIAMARIA TEREzA VALADARES COSTA

REDAO E REVISOCLIA ROSA DIONNE EMLIA SIMES DO LAGO GONALVES ESMERALDA MADUREIRA

ELAbORAO DE EMENTASELIANA SANCHES ENGLER

ASSISTNCIA ADMINISTRATIVAREGINA CSSIA NUNES DA SILVA LEONOR DUARTE FADINI

DIGITAOSOLANGE BRBARO BRRIOS

CARTA AO LEITOR

assuno deste desafio em nova etapa de minha trajetria pblica revestese de duplo sentido: de um lado, a necessidade de assegurar um nvel de excelncia que motive e instigue permanentemente o leitor e, de outro, imprimir, com esmero e dedicao, um diferencial na formatao e elaborao da Revista para torn-la cada vez mais aprazvel e sedutora aos olhos de quem a manuseia. Portanto, uma agradvel simbiose entre contedo e forma, forma e contedo; com certeza, no uma tarefa fcil. J neste incio, vale dizer, no sem razo que a escolha temtica da Revista minas de Minas adquira um sentido transcendente, perpassando a prpria identidade do nosso Estado que no seria Gerais sem suas minas para carrear um vis, por assim dizer metafrico, que d vida ao prprio ar de mineiridade e reflete tambm o sentimento que se pretende incutir nos leitores desta Revista. O que se busca, em verdade, trasladar melhor traduzir o bater acelerado dos coraes que, desde os idos da corrida pelo ouro do Brasil Colnia, anima os bravos mineiros que rompem os intrincados e s vezes traioeiros meandros das minas de Minas e reverbera, no correr dos tempos, naqueles nascidos nestas paragens sempre que adentram nas ensimesmadas montanhas do nosso Estado. A essa aura quase mgica, que compe a liturgia do sentido mineiro de ser, subjaz o nsito sentimento de desvelar e descortinar um horizonte, por vezes enigmtico, que esconde inesgotveis tesouros. exatamente essa ideia de devir, a qual abre a possibilidade de conhecer o novo, de explorar riquezas que se mostram a cada pgina virada, a cada linha interpretada, que se pretende levar a voc, leitor, a partir deste nmero. Afinal, mais do que apresentar formalmente a Revista do Tribunal de Contas de Minas Gerais, o objetivo que a leitura a seguir lhe proporcione o sentimento de que, na verdade, esta a sua revista.

A

Conselheiro Antnio Carlos Doorgal de Andrada Diretor da Revista, [email protected]

RAFAEL CARRIERI

Da economia mineiridade: as minas de Minasbruno Reis de Oliveira Quando primeiro contou o Brasil, nas idas de mil e quinhentos, Pero Vaz de Caminha atestou com notvel senso de justia a certido de nascimento da Terra Nova. Precisa-se tal fato, antes mesmo do relato inaugural a que servem essas linhas, como alerta ao pacto que se estabelece tanto nesse presente como naquele ato de (re)criao. Porque assim tocou pena: Mas um deles viu o colar do capito e comeou a acenar com a mo para a terra e depois para o colar, como a dizer-nos que havia ouro em terra; e tambm viu um castial de prata e da mesma forma acenava para a terra e para o castial como que havia, tambm, prata. Sem ignorar a necessria pretenso monetria imposta pelos tempos de navegaes o que, certamente, induziu o escrivo a entender a cena segundo suas prprias pertinncias , falar do Brasil, desde a primeira empreitada, merece a riqueza da terra. E se acaso pretere-se o todo parte mais representativa, por certo, em histria de brasilidade, reluzente clamar as Geraes! quando, ento, se firma o registro: que despontando o arraial de Padre Faria, aos outros mais Antnio Dias e Ouro Preto fundido, nasceu a Vila Rica de fins do sculo XVII, que a Histria, inevitavelmente, aquiesceu. Abastada de batismo, a Imperial Cidade j surgiu carregando a esperana como misso de lugarejo condenado a ouro negro, primeiro visto nas vertentes do Tripu e logo mais outros tantos, espalhados feito boas novas, diludos como em crregos a partir das encostas do Itacolomi. Assim se comps, em vida errante, o povo do nosso lugar. Feito ilhas de prosperidade, expunha-se em intermitncias de gente. A razo nmade guiava aquela vida de inconstncias que se construa em peculiares acontecimentos de pepitas at que o vazio dilusse o interesse, partindo-se, a trupe, em busca de novos argumentos.

Com o passar do tempo, a vida das catas e os meros acampamentos cederam histria ao ouro de montanha: mina. A razo mirou a avultada fbrica, capaz de muito trabalho pelo cultivo de escravos. Fixaram-se sociedades, instituiu-se a justia formal. E, ento, a casa, que se exibia choa ou sopapo, justificou, inevitavelmente, o bero da famlia mineira: de varanda, requinte e direito ao culto. No entremeio, os porcos se movimentavam sem esquecer que o fogo, lareira, esquentava a banha, possibilitando todo dia de amanh. Fora da casa, deslocado das intimidades, o homem j se fazia social, como parte do povoado. Era no arraial que tinham espao as festas e celebraes. Era no arraial a badalar o sino. Era no arraial a glria ao Senhor. E, assim, no clima intimista da convivncia provinciana e da ostentao religiosa, compunha-se uma cultura em mineiridade. De gente boa e desconfiada. De brao que sangra a terra e logo ouro. Da mo que reza, da mo que talha... Gravitacionais, as minas contriburam com essa motivao. Porque o trabalho rduo tambm conferiu imaginao e poesia ao alteroso montanhs. Serviu de convergncia para o acmulo de valores humanos. Por certo que essa espcie de entre-lugar do homem mineiro, confinado a um locus meio vila, meio fazenda, realizou-se oportuna no engrandecimento do esprito das Minas. E o brilho, apesar do tempo, continuou muito, desde algum dentro: eram as minas a produzir a riqueza ainda por geraes. Morro Velho, Mina Grande, So Bento, Passagem de Mariana. E, como o ouro, outras tantas riquezas minerais: o diamante proibido, o nibio de Arax, o minrio de todo canto, simplesmente gua, a preciosidade das pedras demais. Enfim, da economia ao carter do povo, do barroco carta do incio de tudo, seriam muitos outros os causos de merecida deferncia. Tem histria de Chico Rei. Antnio Francisco Lisboa. Os livros proibidos da Revoluo, Tiradentes. Tem Doroteu, tem Marlia de Dirceo e as cantadas liras. Cludio Manuel. Tem rotulao de inconfidncia e a nossa grata contribuio. Assim, ao inaugurar as pginas da Revista do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais do ano XXVII, este breve tratado curva-se em tom de reverncia tradio desse veculo de nobres propsitos e convida o leitor, a partir da data de hoje, a vasculhar as minas de Minas. Sem novas delongas, declarado o mote sob o respaldo de Gonzaga, Meireles, Latif e certo arfar. Porque ditando o resgate prpria origem, buscando os traos de cultura marcados pela pedra bruta, o embarque nessa viagem hereditrio e revela, por meio de preciosidades, uma histria que cumpre, sculos a fio, o brilho de se fazer Minas Gerais.

SUMRIOEntrevista Presidente do TCU Ministro Ubiratan Aguiar Noticirio TCEMG tem nova presidncia Moura e Castro aposenta-se como conselheiro do TCE Tribunal busca experincias de sucesso Doutrina Editais de concursos pblicos e seus elementos padres diante dos princpios constitucionais Maria Ceclia Mendes Borges A adoo da figura do amicus curiae no mbito dos tribunais de contas Leonardo de Arajo Ferraz A concesso de anistias e incentivos fiscais e a importncia do controle da renncia de receita pelos tribunais de contas Jaqueline Lara Somavilla Paulo Henrique Bese Lobato A controvrsia sobre os limites das alteraes qualitativas dos contratos administrativos Daniel Ucha Costa Couto Pareceres e decises Concesso de plano de sade e auxlio-alimentao a servidores Consulta n. 759.623 Relator: Conselheiro Simo Pedro Toledo Exame da legalidade de garantia contratual pelo Tribunal de Contas Consulta n. 763.313 Relator: Conselheiro Eduardo Carone Costa Convnio de cooperao e contrato de programa posicionamento acerca da necessidade de autorizao legislativa para sua pactuao Consulta n. 751.717 Relator: Conselheiro Eduardo Carone Costa Multa por atraso na remessa de relatrios exigidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal Recurso de Reconsiderao n. 741.056 Relator: Conselheiro Elmo Braz 24 26 26 15

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Dirias de viagem e reembolso de combustvel: abrangncia de despesas Consulta n. 740.569 Relator: Conselheiro Wanderley vila Contratao direta de servio de assessoria jurdica Consulta n. 765.192 Relator: Conselheiro Wanderley vila Parceria com OSCIP para prestao de assessoria jurdica populao carente Consulta n. 716.238 Relator: Conselheiro Antnio Carlos Andrada Reajuste contratual sem previso editalcia Consulta n. 761.137 Relator: Conselheiro Antnio Carlos Andrada Criao e manuteno de rgo de defesa e proteo do consumidor por cmara municipal Consulta n. 746.715 Relatora: Conselheira Adriene Andrade Extenso de gratificao a servidores da administrao indireta e cmputo de tempo de carreira para fins do art. 3 da EC n. 47/05 Consulta n. 748.457 Relatora: Conselheira Adriene Andrade Instituio de banco de medicamentos por consrcio intermunicipal Consulta n. 735.489 Relator: Conselheiro substituto Gilberto Diniz Utilizao por autarquia de ata de registro de preos do Executivo municipal Consulta n. 757.978 Relator: Conselheiro substituto Gilberto Diniz Reconhecimento da prescrio pelo Tribunal de Contas Procurador Cludio Couto Terro Palavra da Corregedora ndice Assunto Autor

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Entrevista

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EnTREvisTA

MINISTRO UbIRATAN AGUIAR

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mpossado ministro do Tribunal de Contas da Unio (TCU) em 2001, atualmente presidindo a Casa, o Ministro Ubiratan Aguiar iniciou sua vida pblica nos anos 60 primeiramente como lder estudantil, tendo sido presidente do Centro Acadmico Clvis Bevilacqua, na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Cear, depois vereador pela cidade de Fortaleza, deputado estadual e federal pelo seu Estado de origem, o Cear. Dos mais influentes, foi constituinte e titular de destaque da Comisso Permanente de Educao da Cmara dos Deputados durante seis anos. No obstante sua capacidade jurdica e seu conhecimento da administrao pblica brasileira possui diversas obras tcnicas publicadas , marcante a sua poesia, tambm publicada em livros e CDs. A ele a primeira edio da Revista do Tribunal do binio 2009-2010 homenageia e agradece; aos leitores oferece estas preciosas informaes.

REVISTA DO TCE Se fosse possvel resumir a histria da democracia brasileira, o que V.Exa. diria que mudou nas cortes de contas desde os tempos de Ruy barbosa? MINISTRO UbIRATAN AGUIAR Eu poderia comear dizendo apesar de parecer brincadeira, mas a pura verdade que deixamos de ser as carmelitas descalas para abrir as portas e conversar com a sociedade. Os tribunais de contas eram verdadeiras clausuras; havia na cabea dos ministros do passado uma ideia de que se aproximar da clientela que lhe jurisdicionada poderia levar promiscuidade. H uma distino, d rima: promiscuidade diferente de proximidade. Temos o dever de ser prximos da clientela e no podemos nunca ser promscuos. Esse foi um avano. Alm disso, h outra mudana: deixamos de ser um rgo puramente contbil. O Tribunal de Contas entendia que efetuando a anlise formal das contas estava tudo resolvido. Todavia, de nada adiantavam as contas fecharem e os objetivos do controle no serem alcanados. A partir dessa constatao, institumos as auditorias operacionais e passamos a verificar se de fato os projetos foram atendidos nos seus fins. Por exemplo: a Administrao Pblica desenvolve um projeto de saneamento bsico. Contabilmente, fecha. Analisadas as notas fiscais, tudo Entrevista 14

ASSCOM TCU

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correto. No entanto, h que se indagar se os objetivos foram alcanados, se a populao foi verdadeiramente assistida, se diminuiu o nmero de epidemias, se a populao passou a gozar de mais sade. Em sntese, ns hoje verificamos o alcance de objetivos. uma evoluo, partimos da responsabilidade fiscal para uma responsabilidade social. REVISTA DO TCE V. Exa. tem ressaltado a necessidade de compartilhamento das aes dos rgos de controle. Qual a relevncia dessa integrao? MINISTRO UbIRATAN AGUIAR A corrupo une agentes pblicos aos privados, e o fisiologismo faz com que eles se identifiquem rapidamente. Contudo, o Estado tem dificuldade em fazer com que os seus rgos de controle conversem. Ns no conversamos com quem faz controle especfico, como o Banco Central e o COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). Ns no conversamos com o Ministrio Pblico, com o controle interno dos poderes. Com os tribunais de contas dos Estados, em que pese haver a Associao dos Tribunais de Contas ATRICON, pouco ns conversamos. Vejam que a iniciativa privada, por exemplo, trabalha organizada, interligada, contando com a Centralizao de Servios de Bancos S.A. SERASA, com cadastros dos maus pagadores aquele que deve no compra em parte nenhuma. Ns, rgos de controle, no temos um cadastro por meio do qual possamos descobrir os maus gestores que continuam se revezando, se substituindo e infelicitando a nao com hbitos de corrupo. REVISTA DO TCE O que seriam as pontes institucionais defendidas em seu discurso de posse como presidente do TCU? MINISTRO UbIRATAN AGUIAR Quando falo em pontes institucionais, quero me referir ao relacionamento com o Poder Judicirio e com o Poder Legislativo. imprescindvel termos a ajuda do Judicirio, especialmente para o acesso ao sigilo bancrio e fiscal dos agentes fiscalizados. Quanto nossa relao com o Legislativo, importante destacar que ns, tribunais de contas, somos independentes. Alguns fazem confuso, acham que as cortes de contas so subordinadas ao Poder Legislativo, mas a Constituio muito clara. Se fssemos subordinados, no poderamos fiscalizar tal poder, haja vista que, por essa condio, no gozaramos da independncia e da imparcialidade necessrias para poder julg-lo. O importante que temos o dever constitucional de auxiliar o Legislativo em sua misso de controle. preciso que saibamos das reais necessidades dos parlamentares para que possamos lhes conceder as ferramentas para o exerccio pleno da atividade de 15 Entrevista

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Ns, rgos de controle, no temos um cadastro por meio do qual possamos descobrir os maus gestores que continuam se revezando, se substituindo e infelicitando a nao com hbitos de corrupo.

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fiscalizao, que prpria do Legislativo. Realizaremos, portanto, em seu auxlio, auditorias, responderemos consultas em tese. Essa nossa relao tem que ser muito estreita. REVISTA DO TCE Por que essas pontes se apresentam frgeis, aps duas dcadas da promulgao da Constituio de 1988? Quais empecilhos dificultam sua construo? MINISTRO UbIRATAN AGUIAR Se eu dissesse que a vida nos separa, poderiam dizer que isso poesia. O que ocorre que, na vida pblica, os agentes dos diferentes rgos sentem como se tivessem um ncleo de poder. O jogo das vaidades humanas... O sentimento de ser dono da informao traz uma sensao de prestgio, de fora e, consequentemente, faz com que no haja comunicabilidade entre as instituies. preciso ter conscincia de que o poder no de cada um de ns, que o poder do Estado. O Estado muito maior que qualquer instituio, e toda instituio maior que qualquer um de ns. Precisamos comear entendendo isso. Aqui, tudo o que fao em funo de uma instituio: Tribunal de Contas da Unio. E o Tribunal de Contas deve fazer tudo para que o Estado possa ter efetividade em sua ao e velocidade em suas decises. No estamos aqui de favor, ns somos pagos pelo Estado para fazer acontecer, e acontecer em favor da sociedade. REVISTA DO TCE V. Exa. entende que h ostracismo dos rgos pblicos? MINISTRO UbIRATAN AGUIAR Os rgos, muitas vezes, absorvidos em sua atividade-fim, ficam totalmente isolados. O Parlamento se concentra na atividade poltico-partidria, na efervescncia das discusses dos temas nacionais. Ns, aqui, estamos mergulhados nos processos, exercitando o controle, verificando o que est acontecendo na execuo dos programas governamentais. O Banco Central e o COAF examinam como est se processando a movimentao financeira, conferem se est havendo lavagem de dinheiro. Cada um est cuidando da sua parte. como a sociedade atual. Acabou-se o tempo no venham dizer que saudosismo em que as pessoas sentavamse na calada com os vizinhos, as pessoas conversavam. Hoje, ns no conversamos nem com os nossos filhos. A vida separou as pessoas. Ser que no est na hora de reunir? Quero reunir as instituies para que possamos conversar. REVISTA DO TCE No obstante todas essas dificuldades, as aes do TCU cada vez mais frequentemente ocupam manchetes de jornais de todo o Pas. O que explica esse fenmeno? Entrevista 16

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(...) E o Tribunal de Contas deve fazer tudo para que o Estado possa ter efetividade em sua ao e velocidade em suas decises. No estamos aqui de favor, ns somos pagos pelo Estado para fazer acontecer, e acontecer em favor da sociedade.

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MINISTRO UbIRATAN AGUIAR Isso se explica pelo desejo que h, dentro de cada cidado, de viver num pas saudvel, num pas de justia social, num pas onde o princpio da igualdade no seja letra morta da lei. No queremos um pas em que poucos tenham muito e muitos tenham nada. Ento, quando surge um rgo que comea a cuidar desses assuntos, a enfrentar esses problemas, ele passa a merecer a credibilidade, e a imprensa ecoa a notcia como consequncia natural, por saber que isso que a sociedade gostaria de ler, de ver na televiso; disso ela gostaria de ser informada. Quando eu digo que o Tribunal de Contas, somente no primeiro semestre de 2007, economizou oito bilhes de reais, a sociedade fica escandalizada. Quando eu digo que o custo do Tribunal para a Unio est pago em trinta vezes, atravs do que conseguimos reaver, a sociedade fica tambm perplexa. Sei que ns possumos limitaes, que temos falhas, mas temos, tambm, uma busca incessante de procurar fazer o melhor. Eu procuro incendiar o quadro tcnico do TCU, que da melhor qualidade, para se apaixonar pela instituio. No acredito que algum faa alguma coisa e tenha xito se no se apaixona por aquela causa. Isso est na vida da gente. Alm disso, todo mundo aqui concursado, no existe essa histria de favorecimento, de entrar pela porta do favor ou do nepotismo. Todos trabalham bem e trabalham juntos. REVISTA DO TCE Por outro lado, ocasionalmente, surgem projetos de emendas constitucionais pretendendo a extino ou o significativo esvaziamento dos tribunais de contas. Na opinio de V. Exa., por que isso acontece? MINISTRO UbIRATAN AGUIAR Eu vejo vrias vertentes: a dos contrariados com as decises do Tribunal; a dos desinformados, que no conhecem o nosso trabalho; e a de quem quer ser diferente. Dentro de uma sociedade plural, democrtica, cada um tem o direito de pensar e de ter a sua maneira de ver, mas, sinceramente, a Corte de Contas uma instituio que h 118 anos sobrevive pela genialidade e pelo talento de Ruy Barbosa. Eu, sinceramente, continuo filiado a Ruy Barbosa. REVISTA DO TCE O modelo de estruturao dos tribunais de contas, previsto na Constituio da Repblica de 1988, no adota a previso da existncia de uma segunda instncia, ou seja, um rgo revisor das decises para cada Tribunal de Contas. Como V. Exa. avalia esse formato? MINISTRO UbIRATAN AGUIAR Eu me questiono sobre alguns pontos nesse sentido. Gostaria muito que a estrutura do Tribunal de Contas da Unio possusse, em um primeiro grau, unidades regionais, talvez umas sete ou oito regionais seriam o tribunal de primeiro grau. O Tribunal de Contas da Unio, sediado em Braslia, ficaria como grau recursal para as grandes auditorias e para responder s consultas em tese. 17

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Quando eu digo que o Tribunal de Contas, somente no primeiro semestre de 2007, economizou oito bilhes de reais, a sociedade fica escandalizada. Quando eu digo que o custo do Tribunal para a Unio est pago em trinta vezes, atravs do que conseguimos reaver, a sociedade fica tambm perplexa.

Entrevista

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REVISTA DO TCE Em face da instituio do Conselho Nacional de justia e do Conselho Nacional do Ministrio Pblico, ocorrida aps a edio da EC n. 45/2004, qual a opinio de V. Exa. sobre a idia de criao de um Conselho Nacional dos Tribunais de Contas, proposta pelo Projeto de Emenda Constituio PEC n. 146/2007? MINISTRO UbIRATAN AGUIAR Ns vivemos o momento dos modismos. Criou-se o Conselho Nacional de Justia, o Conselho Nacional do Ministrio Pblico e, agora, prope-se o Conselho Nacional dos Tribunais de Contas. Quem faz tudo correto no tem porque se opor. No fao objeo ao conselho na forma como ele est proposto, desde que venha para contribuir, para fiscalizar a parte administrativa. No h que se questionar a deciso, o acrdo, pois no voto cada julgador soberano, posiciona-se de acordo com o seu pensar, a sua formao tcnica, a sua formao humanstica. O conselho no pode ser um rgo revisor de votos, mas sim um rgo revisor de procedimentos. REVISTA DO TCE Mas V. Exa. acredita que uma ideia boa? MINISTRO UbIRATAN AGUIAR Sinceramente, eu espero que depois no se crie outro conselho para fiscalizar o Conselho Nacional de Tribunais de Contas, seno vamos voltar para aquela histria do fiscal do fiscal do fiscal, em que todo mundo desonesto at que se prove o contrrio. As pessoas devem viver numa sociedade onde todo mundo honesto at que se prove o contrrio. REVISTA DO TCE H julgados do STF no sentido de que no pode ser oposto ao Ministrio Pblico o sigilo bancrio de investigados quando o objeto de perquirio so verbas pblicas. No Mandado de Segurana n. 21.729/DF, esse foi o entendimento adotado pelo Supremo, rejeitando a demanda do banco do brasil, que, no caso, como instituio financeira executora de poltica creditcia do governo, se negava a fornecer ao MP informaes sobre os beneficirios de emprstimos subsidiados pelo errio federal. j diante da atuao do TCU, o Supremo Tribunal Federal, em deciso datada de dezembro de 20071, manifestou-se pela impossibilidade da quebra de sigilo pela Corte de Contas sem a autorizao do judicirio. Esse entendimento foi reiterado em medida cautelar posterior, no Mandado de Segurana n. 27.091-8/DF. Uma vez que MP e TCU exercem papel de controle, fiscalizam a aplicao de verbas pblicas, a Corte de Contas deve procurar conseguir a quebra direta? MINISTRO UbIRATAN AGUIAR H um projeto de emenda Constituio que tramita no Congresso Nacional, de autoria do Senador Antnio Carlos Valadares, concedendo a ns o acesso direto aos dados dos fiscalizados. Isso o que queremos e necessitamos, pois o1

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Quem faz tudo correto no tem porque se opor. No fao objeo ao conselho na forma como ele est proposto, desde que venha para contribuir, para fiscalizar a parte administrativa.

STF. MS 22.801/DF. Rel. Mininistro Menezes Direito. 17/12/2007.

Entrevista

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Estado no pode criar entraves para a sua prpria ao. Ns tambm estamos pleiteando a autoexecutoriedade das nossas decises. No adianta decidirmos aqui, depois de infindveis recursos que alongam o processo e, posteriormente, ainda termos que encaminhar Advocacia-Geral da Unio para que esta acione o Poder Judicirio no sentido de reaver o que foi desviado. Portanto, vou lutar com todas as minhas foras para ver aprovado tal projeto de emenda constitucional. REVISTA DO TCE O governo federal tem realizado presso no sentido de relativizar a regra do sigilo bancrio e fiscal. Juristas de todo o Pas criticam as iniciativas nesse sentido, como a recente LC n. 105/2001, que tem sido objeto de incisivos questionamentos. Com a experincia de ter sido constituinte, como V. Exa. enxerga a constitucionalidade dessa tendncia de limitao do direito individual ao sigilo? MINISTRO UbIRATAN AGUIAR Interessante... O artigo 5 da Constituio trata das garantias individuais, consideradas clusulas ptreas. Quando se quer proteger o cidado e punir o bandido, muitas vozes se levantam contra a medida, evocando tal artigo. No entanto, quando para buscar do aposentado que tinha nas mos o direito adquirido e um ato juridicamente perfeito, que a aposentadoria a sua contribuio para a previdncia, isso no violao segurana jurdica, s garantias individuais. Dois pesos e duas medidas. Ento, precisamos ser mais verdadeiros nos nossos posicionamentos. Entendo que o cidado honesto tem a maior tranquilidade, no tem o que recear. Em contrapartida, quem pratica irregularidades, quem escamoteia a verdade no seu imposto de renda, quem esconde o patrimnio em nome de terceiros, esses sim tm razes para reclamar da quebra de sigilo. Ou a sociedade brasileira ganha em cidadania, ou ela se afunda na corrupo e no desperdcio. REVISTA DO TCE Para finalizar, tendo em vista que V. Exa. especialista na rea de educao, com diversas obras publicadas sobre o tema, gostaramos de saber qual a sua viso sobre o futuro da educao brasileira. Estamos no caminho certo? MINISTRO UbIRATAN AGUIAR Quero comear com a saudade de vrios amigos que j no esto nesse plano. Joo Calmon lutou para colocar na Constituio que a Unio, os Estados e os Municpios teriam que aplicar no mnimo 18% e 25%, respectivamente, em educao. De qualquer forma, observo que um pas que se respeita no precisaria colocar uma norma constitucional sobre esse assunto. Isso imperativo de conscincia. Alm disso, apesar de constar na norma a expresso no mnimo, parece que se escreveu no mximo, porque os gestores, na sua grande maioria, procuram 19

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Ns tambm estamos pleiteando a autoexecutoriedade das nossas decises. No adianta decidirmos aqui, depois de infindveis recursos que alongam o processo e, posteriormente, ainda termos que encaminhar Advocacia-Geral da Unio para que esta acione o Poder judicirio no sentido de reaver o que foi desviado.

Entrevista

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cumprir aquele percentual mnimo como se fosse o mximo. Lembro ainda Ansio Teixeira, Florestan Fernandes, Darcy Ribeiro, Lauro de Oliveira Lima, Paulo Freire, para citar alguns que lutaram a vida toda pela educao. Para falar de educao, devo antes questionar: qual a nossa formao? Aprendi na faculdade de Direito que uma nao se organiza com o conjunto de pessoas com os mesmos ideais, com os mesmos projetos e que o embrio de tudo isso a famlia. Como vai nossa famlia? Ela est agregada ou desagregada? Quais so os nossos sonhos, nossas propostas? Temos que investir fortemente em educao, fazendo com que a escola, seja pblica ou privada, acolha a criana em dois turnos um para ensinar e outro para formar. A criana deve se encher de tica, de moral, de famlia, de ptria. A escola pblica deve ser mantida com recursos pblicos, deve ter condies de pagar ao magistrio no o salrio da vergonha, mas o salrio que d dignidade a quem prepara geraes. A escola particular tambm deve formar, mas esta mantida com os recursos dos que podem pagar. Se no fizermos isso, estamos praticando injustia. A injustia forte demais quando os que so abastados frequentam escolas particulares de primeiro e segundo grau (porque a educao bsica pblica vive uma situao de penria) e, quando chegam ao terceiro grau, ocupam todas as vagas de universidades pblicas de qualidade. Assim, os ricos estudam de graa nas universidades custeadas com o dinheiro de toda a sociedade. Esse sistema exclusivamente perverso. Entendo que temos avanado no campo da educao, temos muitas conquistas, mas esse sistema h que acabar. REVISTA DO TCE Aproveitando o ensejo, V. Exa. gostaria de fazer mais alguma considerao? MINISTRO UbIRATAN AGUIAR Estou falando a um Tribunal de Contas do Estado e, falando a um, quero falar a todos. Todos temos que olhar para dentro de ns. o Tribunal de Contas da Unio, so os tribunais de contas dos Estados, so os tribunais de contas dos Municpios. Temos que ser modelo, temos que ser exemplo. O mdico, com sua veste branca, s vezes, sai salpicado de sangue da cirurgia. Um mecnico recebe em sua roupa um pingo de leo que cai e mancha o uniforme. Ns, dos tribunais de contas, temos que fazer todo o possvel para que nenhuma mancha fique na toga que usamos. Isso fundamental, isso que nos dar fora, credibilidade, e, principalmente, o respeito da sociedade. Entrevista

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A escola pblica deve ser mantida com recursos pblicos, deve ter condies de pagar ao magistrio no o salrio da vergonha, mas o salrio que d dignidade a quem prepara geraes.

Por: Clarice Costa Calixto e Maria Tereza Valadares Costa 20

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TCEMG tem novaNo dia 12 de fevereiro, o Conselheiro Wanderley vila tomou posse como Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, em sucesso ao Conselheiro Elmo Braz Soares. Foram empossados ainda o Vice-Presidente, Conselheiro Antnio Carlos Andrada, e a Corregedora, Conselheira Adriene Andrade. A nova composio ter mandato de um ano, prorrogvel por mais 12 meses. O Governador do Estado, Acio Neves, participou da sesso solene de posse e, em seu discurso, enfatizou o papel extremamente relevante que os tribunais de contas devem desempenhar hoje, em nosso Pas e em nosso Estado, como instituio respon-

presidncia

ASSCOM TCEMG

svel pela auditoria de gesto, controle e fiscalizao da administrao pblica. Demais autoridades prestigiaram a cerimnia, entre elas o Vice-Governador Antnio Augusto Junho Anastasia, o Presidente da Assemblia Legislativa, Deputado Alberto Pinto Coelho, o Presidente do Tribunal de Justia, Desembargador Srgio Resende, o Procurador-Geral de Justia, Alceu Jos Torres Marques, o Senador Eduardo Azeredo, o Deputado Federal Rafael Guerra, o Prefeito de Belo Horizonte, Mrcio Lacerda, o representante da Cmara Municipal de BH, Vereador Silvinho Resende, e o Presidente da Associao dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil, Conselheiro Victor Faccioni. O Presidente eleito, Conselheiro Wanderley vila, ressaltou que a nova gesto buscar dar um salto de qualidade nas aes de controle externo e na reduo de tempo de resposta aos gestores pblicos

GOVERNADOR ACIO NEVES, PRESIDENTE DO TCE WANDERLEy VILA E VICE-GOVERNADOR ANTNIO AUGUSTO ANASTASIA

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e sociedade. Para tanto, tem como objetivos capacitar ainda mais o corpo tcnico, diminuir o tempo da apreciao dos processos, enfatizar as aes orientativas e intensificar o relacionamento com os entes jurisdicionados e com toda a socieda-

de, estimulando, assim, o controle social. Alm disso, ter tambm como meta o aumento do uso da tecnologia de informao, o aperfeioamento do sistema de comunicao interno e externo e a implementao de uma nova estrutura organizacional.

OS EMPOSSADOSWanderley vila bacharel em Direito pela Unimontes e em Letras pela PUC Minas. Iniciou sua carreira poltica como prefeito municipal de Pirapora, em 1983, e foi eleito deputado estadual para a Assembleia Legislativa de Minas Gerais por quatro legislaturas sucessivas (1991/2004). vila assumiu o cargo de conselheiro do TCEMG em setembro de 2004. O Vice-Presidente Antnio Carlos Andrada especialista em Direito Pblico pela PUC-MG e em Controle da Administrao Pblica pela Universidade Gama Filho. Professor universitrio, o conselheiro tambm mestrando em Direito e Instituies Polticas. Foi vereador do Municpio de Barbacena e o prefeito eleito (1993/1996) mais jovem da histria da cidade. Assessor espeVICE-PRESIDENTE, PRESIDENTE E CORREGEDORAASSCOM TCEMG

cial do governador do Estado (1997/1998) e deputado estadual por duas legislaturas (1999/2006), Andrada tomou posse como conselheiro do TCE em fevereiro de 2006. Primeira mulher a assumir o cargo de conselheira na Corte mineira, em novembro de 2006, a nova Corregedora Adriene Andrade bacharel em Direito pela Faculdade de Direito Milton Campos. Foi tambm a primeira prefeita eleita do Municpio de Trs Pontas (2001/2004) e a primeira mulher a presidir a Associao Mineira de Municpios AMM, a qual dirigiu por dois mandatos.

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Moura e Castro aposenta-se como conselheiro do TCEAps brilhante carreira, dedicada principalmente ao controle externo, Flvio Rgis Xavier de Moura e Castro aposentouse no cargo de conselheiro do Tribunal de Contas de Minas Gerais. O Dirio Oficial do Estado publicou sua aposentadoria no dia 27 de janeiro. Nomeado pelo Governador Newton Cardoso, Moura e Castro tomou posse como conselheiro do TCEMG em maio de 1988. Foi vice-presidente em 1993 e presidente da Corte de Contas no binio 1995/1996. No exerccio da presidncia, o conselheiro criou a Escola de Contas e Capacitao Professor Pedro Aleixo e o Espao Cultural do TCE, inaugurou a nova sede do rgo, instituiu o Colar do Mrito da Corte de Contas Ministro Jos Maria de Alkmim e realizou o 18 Congresso Brasileiro de Tribunais de Contas do Brasil. De outubro de 1997 a novembro de 2001, Moura e Castro assumiu a presidncia da Associao dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil ATRICON. Dinmico e atuante, o conselheiro foi tambm, por quase dois anos, presidente da ASUR Asociacin de Entidades Oficiales de Control Pblico del Mercosur (ASUL Associao de Entidades Oficiais de Controle Pblico do Mercosul).ASSCOM TCEMG

CONSELHEIRO MOURA E CASTRO, MAIS DE 20 ANOS DE DEDICAO AO TCEMG

Tribunal busca experincias de sucessoAs servidoras do TCEMG Maria Tereza Valadares Costa e Clarice Costa Calixto foram a Braslia entrevistar, para esta primeira edio, o Presidente do Tribunal de Contas da Unio, Ministro Ubiratan Aguiar (ver entrevista p. 15-21). A visita, realizada em fevereiro, teve tambm o intuito de aumentarASSCOM TCU

PRESIDENTE DO TCU RECEBE SERVIDORAS DO TRIBUNAL DE CONTAS DE MINAS

a integrao entre os rgos de controle e de buscar novos elementos que pudessem aperfeioar o trabalho realizado na Revista do TCE. As servidoras conheceram as instalaes do TCU, em especial a Editora, setor responsvel pela editorao de todas as publicaes daquela Corte de Contas. Buscando ainda aprimorar a atividade do Tribunal de Contas mineiro, a tcnica Clarice Calixto visitou o Superior Tribunal de Justia e o Supremo Tribunal Federal. As informaes recolhidas serviram de base para a elaborao do projeto da Comisso de Jurisprudncia e Smula, que institui informativos tcnicos com os principais julgamentos do TCEMG. Previstas para maio, as publicaes sero distribudas quinzenalmente para os servidores do Tribunal e disponibilizadas no site , visando fomentar o debate e dar maior transparncia ao exerccio do controle externo.

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Editais de concursos pblicos e seus elementos padres diante dos princpios constitucionaisMaria Ceclia Mendes borgesProcuradora do Ministrio Pblico junto ao Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais. Mestre em Direito Administrativo pela Universidade Federal de Minas Gerais.

1 Introduo inegvel que a prestao de servios, por parte do Estado, no tem atendido, de forma satisfatria, aos princpios da administrao pblica, em especial, ao da eficincia, sendo uma de suas causas o despreparo dos agentes pblicos, que se encontram de certa forma viciados, desde a origem, pela inadequao ao meio de seleo para composio dos quadros. A qualidade do pessoal que integra a administrao pblica fundamental para seu xito, sendo de extrema importncia sua seleo, assim como sua preparao e aperfeioamento (CUESTA, 2002, p. 291). A Administrao Pblica pode-se utilizar de vrios instrumentos democrticos, que tm como fundamento os princpios, dentre os quais se inclui a realizao de concurso pblico. Nesse caso, com o objetivo de selecionar o candidato que mais se enquadre nas exigncias da funo pblica a ser preenchida. Neste trabalho, utilizou-se a expresso funes pblicas em sentido amplo, referindose s atribuies dos agentes pblicos, noo utilizada como gnero. A histria do acesso s funes pblicas no Brasil tem sido farta de nepotismo, favoritismos, apadrinhamentos e demais formas de desvirtuamento em seu preenchimento privilegiando o Estado patrimonialista, que, segundo Raymundo Faoro (1976, p. 20), prende os servidores numa rede patriarcal, na qual eles representam a extenso da casa do soberano , incompatveis com o Estado Democrtico de Direito, que tem como uma de suas mais efetivas ferramentas o concurso pblico. O problema, entretanto, dianteDoutrina 28

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do contexto histrico, antes de tudo poltico e cultural conforme j pontuado por Florivaldo Dutra de Arajo (2005, p. 2) , cabendo, assim, a todos a tarefa de solucion-lo, e aos rgos de controle, a de exerc-lo com base na juridicidade dos atos. de extrema relevncia, em especial dos editais de concursos pblicos, seu controle, que, todavia, sobretudo o externo, no se pode consubstanciar em entrave ao administrativa, sob pena de emperrar a mquina estatal, devendo se traduzir na concretizao vitalizante dos princpios (FREITAS, 1997, p. 163). Na prtica administrativa, os benefcios efetivos do concurso pblico esto muito aqum das suas possibilidades, conforme se pode observar por situaes concretas analisadas, especialmente em editais de concursos e em precedentes jurisprudenciais, enquanto que a plena e efetiva aplicao dos princpios constitucionais, na modulao do concurso pblico, acarretar o alcance de seus fins, sendo o meio de seleo que melhor atende aos referidos ditames para os objetivos da administrao pblica, candidatos e sociedade e para a atividade pblica. Sem sua observncia, os certames serviro como instrumento de apropriao dos espaos pblicos e de manipulao. Defende-se a objetivao dos concursos pblicos, em suas vrias etapas, constantes de seus editais, o que garante a efetivao dos princpios constitucionais e administrativos e o seu controle. O amplo e democrtico acesso s funes pblicas, conforme consta da Constituio Federal, uma oportunidade para que os rumos do Estado e do Pas possam adquirir novos contornos, desde que v se formando, j nos processos de seleo, uma nova gerao de agentes pblicos dotados de viso histrica, de sentido de povo e nao, e compromissados com a realizao de um projeto nacional de independncia econmica e reinsero no cenrio internacional, sendo fundamental, diante deste objetivo, a elaborao de editais de concursos pblicos fundados na moralidade, na impessoalidade, na razoabilidade.

2 Elementos padres em editais de concursos pblicosO edital uma pea escrita que tem por finalidade a divulgao de informaes acerca de determinado fato jurdico, segundo o conceito dominante na doutrina. Em editais de concursos pblicos, devem ser previstas as regras relativas competio, observados, sempre, os ditames constitucionais.29 Doutrina

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Assim, a corriqueira afirmao de que o edital a lei do concurso, muitas vezes confeccionado ao livre arbtrio do administrador pblico, tem conduzido a ou pelo menos facilitado fraudes, desvios e manipulaes de resultados, haja vista que o procedimento direcionado vicia o resultado final do concurso. Assim, a discricionariedade na elaborao do edital limitada pela Constituio e pela lei. Nas palavras de Eduardo Garca de Enterra (1974, p. 48), a Administrao no pode, em nome de suas faculdades discricionrias, violar princpios constitucionalmente consagrados. O edital a pea mais importante do certame, na medida em que fixa, a priori, as regras a que se submetero tanto candidatos quanto administrao pblica. Embora se possa consider-lo a lei do concurso, essa normatizao deve obedincia aos princpios constitucionais, s normas administrativas, especialmente a razoabilidade, bem como s especificidades do concurso e da funo pblica que se pretende preencher, o que nem sempre se tem verificado na prtica administrativa. A Constituio no prev um princpio do concurso pblico. H, sim, princpios explcitos e implcitos na Constituio Federal de 1988 CF/88, relativos ao procedimento do concurso pblico, bem como o princpio da ampla acessibilidade s funes pblicas, inserto no inc. I do art. 37 da CF/88. Logo, concurso pblico no princpio, mas procedimento obrigatrio para todos os entes e rgos de quaisquer esferas da Federao brasileira. Dessa forma, no se pode admitir que cada concurso pblico tenha regramento prprio, ou seja, a edio de seus editais, ainda que decorrente de faculdade discricionria, no se pode dar livre vontade do administrador pblico. H um arcabouo principiolgico do concurso pblico, a moldura dentro da qual o procedimento deve se realizar em todos os entes federativos do Estado brasileiro, consubstanciado nos princpios da legalidade ou, avanando, da juridicidade a lei fornece os parmetros para aferio da legalidade, enquanto a Constituio anuncia os princpios da administrao pblica que consubstanciam os parmetros de aferio da juridicidade (MORAES, 2004b, p. 16) , da ampla acessibilidade s funes pblicas, da impessoalidade corolrio do princpio da isonomia , da eficincia, da moralidade administrativa, da publicidade, da motivao, da proporcionalidade e da razoabilidade. So tambm princpios do processo administrativo e, portanto, aplicveis ao concurso pblico, o devido processo legal, o contraditrio, a ampla defesa e os meios e recursos a ela inerentes, na forma dos incs. LIV e LV do art. 5 da CF/88. Esses so, assim, os fundamentos principiolgicos que legitimam a exigncia do concurso pblico para ingresso de pessoal nos quadros da administrao pblica dos entes da Federao.Doutrina 30

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Assim, os editais de concursos pblicos devem trazer como previso, alm da legislao aplicvel, a nomenclatura e o quantitativo das funes oferecidas, descrio sumria das atividades, seu regime jurdico, remunerao inicial e, quando houver, jornada de trabalho, local, data e horrio para realizao das inscries, em prazo razovel, e documentao necessria esta, quando no for o caso de inscrio exclusiva pela internet, caso em que se difere sua apresentao para momento posterior , requisitos para provimento nas funes, que devem ser expostos detalhadamente e guardar relao com as atribuies das funes a serem preenchidas, bem como a poca de sua comprovao. Se certo que o acesso s funes pblicas requer o atendimento de requisitos pr-determinados, no menos vlida a assertiva de que tais requisitos devem ser compatveis com o prprio exerccio e natureza da funo, sob pena de configurao de seu carter discriminatrio, preceito que direciona a conduta tanto do administrador pblico quanto do legislador, em obedincia ao princpio da razoabilidade e ao objetivo fundamental da repblica prescrito no art. 3 da CF/88 de no discriminao. Devem tambm ser previstas no edital regras bsicas relativas aos conhecimentos exigidos e programas das disciplinas para cada funo, tipo de concurso, se de provas e ttulos ou somente um tipo, especificando-as de acordo com a natureza e complexidade da funo pblica a ser preenchida, na forma do art. 37, II, da CF/88, critrios para avaliao das provas, detalhando-se a pontuao atribuvel a cada uma delas e se classificatrias ou eliminatrias, apresentando-se gabaritos em suas fases, includos os ttulos que devem ser detalhados, bem como sua pontuao, mnima e mxima, e correlacionados ao exerccio da funo , a pontuao mnima para classificao ou o limite de candidatos habilitados etapa seguinte, critrios de desempate, que devem ser objetivos, prazo de validade do certame e possibilidade ou no de sua prorrogao. No que diz respeito ao prazo de validade do concurso pblico, o art. 37, III, da CF/88, dispe que o prazo de validade do concurso ser de at dois anos, prorrogvel uma vez, por igual perodo. Quanto suposta competncia discricionria para fixao do prazo de validade do certame, importa destacar o posicionamento do Professor Luciano Ferraz (2005, p. 250), para quem o concurso deve ter validade de prazo suficiente para justificar a realizao do certame, devendo haver congruncia entre o prazo necessrio realizao de novo concurso e seu antecedente. As provas em concursos pblicos podem se consubstanciar em provas escritas, provas orais, prova prtica, prova de capacidade fsica, prova de ttulos, entrevista e avaliao31 Doutrina

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psicolgica ou exame psicotcnico, no intuito de se aferir a capacidade intelectual, fsica ou psquica dos candidatos. Dentre estas, ainda h variaes, podendo, nas provas orais, se aplicar prova de lnguas estrangeiras, podendo-se exigir a apresentao de monografia especializada e sua defesa oral, como para o preenchimento de funes de magistrio. Diante dos sabidos limites das provas, no tocante ao grau de eficcia para aferio da habilidade, ressai a importncia de se conjugarem vrios tipos em um mesmo certame. A fase de ttulos se consubstancia em fase prpria, devendo ser posterior s provas escritas, com fincas verificao do currculo do candidato e suas qualificaes adquiridas anteriormente ao concurso, mais especificamente, at a publicao do edital do certame, em homenagem boa-f. Enquanto o critrio de prova tem por objetivo a comprovao direta e imediata da capacidade intelectual ou fsica do candidato, sempre de acordo com critrios previamente definidos, os ttulos visam comprovao das virtudes por meio da avaliao de sua experincia anterior (JUSTEN FILHO, 2005, p. 590). A exigncia de apresentao dos ttulos previamente inverte a ordem do concurso e suas fases, alm de ferir a economicidade, a proporcionalidade, a eficincia e a finalidade e, ademais, apresenta o perigo de direcionamento do resultado. Podem ser objeto de avaliao, na fase de ttulos, produes cientficas e culturais de autoria individual, em peridico impresso ou na internet, como artigos e livros editados, cursos, diplomas de graduao, de ps-graduao lato sensu, de mestrado e doutorado, exerccio do magistrio na graduao e na ps-graduao, e de funo na rea especfica para a qual se disputa a funo, sendo de se preverem os perodos mnimo e mximo que sero considerados para que seja vlida a pontuao, aprovaes em concursos pblicos pertinentes funo a ser preenchida, participao como membro de banca examinadora, bem como o que no ser considerado como ttulo e todos os demais necessrios objetivao dessa fase do certame. O Supremo Tribunal Federal STF entendeu pela violao ao princpio da isonomia a norma editalcia que previu pontuao diferenciada, na fase de ttulos, para servidores no estveis, no concurso para o Tribunal de Justia do Maranho, na ADI 3.443 (08/09/05), relatada pelo Ministro Carlos Velloso, o que feria tambm os princpios da impessoalidade e da moralidade. Por expressa disposio do art. 19, 1, do ADCT Ato das Disposies Constitucionais Transitrias, admite-se o cmputo do tempo de servio pblico como ttulos dos servidores considerados estveis pelo caput doDoutrina 32

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dispositivo, quando se submeterem a concurso para fins de efetivao. Celso Antnio entende que o servidor no pode auferir vantagem pelo fato de j ter sido beneficirio da situao irregular de ocupar funes pblicas sem concurso pblico, descabendo atribuir-lhe pontos na classificao com base nesta situao anmala, que o privilegiou indevidamente, mas observa que h uma situao anormal prevista pelo art. 19, 1, do ADCT (MELLO, 1990, p. 46). Via de regra, as funes subalternas, que geralmente implicam atribuies materiais, no se coadunam com a realizao da prova de ttulos em razo do princpio da razoabilidade (FERRAZ, 2006, p. 133). de se verificar tambm se existe proporcionalidade entre os valores que foram atribudos aos ttulos, como no caso em que o edital equiparava, para efeito de titulao, nove meses de servio pblico ao ttulo de doutorado, oito meses ao ttulo de mestrado e assim sucessivamente, chegando-se ao resultado em se aplicando as regras do edital de o candidato que possua ps-graduao, mestrado e doutorado cumulativamente alcanar o patamar mximo de pontuao, equiparandose, absurdamente, ao candidato que trabalhou na atividade pblica por vinte meses (FERRAz, 2006, p. 136). Seja qual for o mtodo de avaliao, ele deve ser objetivo, padronizado e vinculado natureza das funes a serem exercidas. A objetividade na seleo decorrncia dos princpios da impessoalidade e da igualdade, bem como da eficincia e da moralidade. tambm imprescindvel que os conhecimentos e habilidades exigidos sejam compatveis com a funo pblica a ser exercida, devendo seu contedo ser adequado aferio da capacitao do candidato s atribuies, limitando o princpio da razoabilidade a discricionariedade do examinador. Em provas escritas e orais, condio sine qua non que haja a delimitao do programa e, especificamente nestas ltimas, dos pontos a serem sorteados o que deve ocorrer tambm em prazo razovel antes da realizao das provas , pois a nenhum ser humano dado o conhecimento global e completo de todas as nuances de determinada cincia, especialmente da Cincia Jurdica, diante da inflao legislativa e da diversidade de posicionamentos interpretativos a respeito. O que se exige, isso sim, compatvel com a razoabilidade, a demonstrao, pelo candidato, de capacidade de ordenao e organizao de idias, raciocnio lgico e de se valer dos conhecimentos acumulados para a resoluo dos variados desafios surgidos no exerccio da funo pblica. Da mesma forma, em caso de provas prticas e fsicas, necessria uma descrio de suas exigncias, com critrios objetivos, bem como ser33 Doutrina

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realizadas de acordo com a natureza e complexidade da funo a ser preenchida, sendo importantes na medida em que visam aferio das habilidades prticas ou fsicas do candidato funo pblica. Todas as provas do concurso, tanto as escritas como as orais, de ttulos, bem como as fases relativas s entrevistas e avaliaes psicolgicas ou exames psicotcnicos, de sade e sindicncia de vida pregressa, quando existentes, devem ser objetivadas, para que no sejam utilizadas como meios indiretos de reprovao de candidatos, devendo, no caso das avaliaes psicolgicas, os critrios ser previamente estabelecidos em edital, bem como haver previso legal, conforme entendimento sumulado pelo STF, no Enunciado 686. O curso de formao se destina formao do candidato, com apresentao de cursos, realizao de provas, com a finalidade de insero prvia do concursando nas atividades prprias da funo a ser exercida, devendo ser condizente com as atribuies da funo pblica a ser preenchida. Segundo Cuesta (2002, p. 294), trata-se de curso seletivo para completar a formao dos selecionados, um perodo de prtica administrativa. Deve ser objetivo e, defende-se, seja feito aps a posse, como poltica de pessoal, a fim de que o recurso possa gozar de mais efetividade e operatividade, observando os princpios da administrao pblica. Assim, sua colocao como fase do concurso pblico acarreta um desvirtuamento de sua funo, alm do que as circunstncias aferveis pelo curso podem ser avaliadas nos procedimentos de avaliao de desempenho. Quanto s provas, pode ser divulgado um edital especfico quanto aos horrios e locais, com um prazo de antecedncia razovel, vedando-se hiptese de segunda chamada para sua realizao, sob pena de quebra do princpio da isonomia, eliminando-se automaticamente o candidato que deixar de comparecer a quaisquer das provas, bem como o que proceder na tentativa de qualquer fraude, tais como falta de identificao pessoal quando do ingresso na fase do concurso, comunicao com outro candidato ou descortesia com este ou com os membros das comisses organizadora e executora do concurso. Deve constar expressamente do edital a vedao ao candidato de se identificar nas provas, sob pena de violao ao princpio da impessoalidade. Tambm se devem prever prazos para vista das etapas e das prprias provas do concurso e para recursos, bem como regras quanto comunicao das publicaes, todos tambm pela internet, o que atende aos princpios da ampla acessibilidade garantindo umDoutrina 34

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melhor e mais facilitado acesso dos candidatos aos mesmos , da economicidade, bem como segurana, pois, na era tecnolgica em que se vive, no razovel que ainda se relute e se dispense referida ferramenta. Merece destaque a deciso do CNJ Conselho Nacional de Justia no PCA 198 (j. 29/08/06), relatado pelo Conselheiro Eduardo Lorenzoni, relativo ao VII Concurso para Juiz de Direito do Estado do Amap, em que o resultado das provas foi publicado em um sbado e a previso do prazo recursal era de 24 horas, ou seja, deveria ser protocolado no domingo, o que foi considerado ofensivo razoabilidade administrativa. Ademais, o prazo entre a primeira prova e o encerramento do concurso foi de aproximadamente dois meses, o que, concluiu o conselheiro, s seria possvel restringindo-se as possibilidades de questionamentos, materializadas na inviabilidade de interposio de recursos, o que violou o direito dos candidatos aos recursos. Por outro lado, devem ser coibidos recursos protelatrios, que feririam os direitos dos demais candidatos ao regular andamento do certame e os princpios constitucionais da eficincia, da moralidade e da proporcionalidade. So tambm regras necessrias a previso de forma facilitada de pagamento do valor relativo inscrio, em valor compatvel com o servio a ser prestado e limitado aos custos totais, no qual j devem estar includos os atos relativos ao certame, como interposio de recursos e vista de provas, bem como a regulamentao de devoluo e de iseno e cronograma bsico de execuo do concurso e de suas fases, com previso, inclusive, de data provvel para sua homologao. As bancas examinadoras e comisses de concurso corpos colegiados responsveis pela execuo ou julgamento das fases do concurso pblico possuem grande importncia nos certames, em especial sua composio, na medida em que a eficincia do concurso se relaciona tambm conduo do processo seletivo, devendo atender aos princpios da publicidade, moralidade e impessoalidade. O edital deve trazer claras as regras do concurso, bem como sua abrangncia e forma, sob pena de violao do princpio da transparncia e, reflexamente, da ampla acessibilidade s funes pblicas, por limitar a inteligibilidade das regras do certame. Neste ato, a Administrao deve fornecer os critrios objetivos e suficientes, com fincas seleo dos melhores candidatos. A margem de discricionariedade, na elaborao do edital, pode se verificar, exemplificativamente, quanto ao local de realizao das provas, que, contudo, no pode ser de35 Doutrina

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difcil acesso, em havendo outros; quanto durao das provas, que deve ser compatvel com o tipo e quantidade de provas; quantidade de questes, que se no podem transformar em teste de resistncia s avessas; e formulao das questes, vinculada ao programa de disciplinas previamente divulgado. Quanto ao prazo para impugnao do edital, deve ocorrer a partir do momento de sua publicao, ou seja, desde que se apresentem as regras, acessveis a todos os interessados. Discordamos de Joo Batista Gomes Moreira (2005, p. 134), quando defende que a prvia impugnao no obrigatria, porque, segundo ele, apta a criar clima psicolgico de litigiosidade, desfavorvel ao candidato. As regras editalcias so, desde logo, acessveis a todos, o que impe o controle prvio do edital, salvo no caso em que a leso ao direito individual se der a posteriori. Assim, deve-se, gradativamente, construir a obrigatoriedade do controle prvio do edital, nos casos cabveis, o que implicar mudana cultural, estimulando a cidadania e regrando-se o exerccio do direito de ao para quando haja no apenas interesse individual contrariado. O melhor e mais completo instrumento de controle, no que pertinente aos concursos pblicos para seleo de agentes, o edital do concurso, em que todas as suas disposies, regras, exigncias e fases devem atender plenamente e de modo integrado impessoalidade, isonomia, eficincia, publicidade, moralidade e razoabilidade. Em havendo um edital de concurso pblico com estas caractersticas, estar-se- dando cumprimento ao fim do concurso, que a melhor e justa seleo, e evitar-se-o milhares de aes que abusam da instituio e a banalizam.

3 Exigncias abusivas em editais de concursos pblicosApontaram-se os elementos padres em editais de concursos pblicos diante dos princpios constitucionais. No presente tpico, tambm com fundamento no arcabouo principiolgico delineado, far-se- uma abordagem acerca das exigncias abusivas em editais de concursos, que fere aludido aparato, contrariando toda a finalidade do concurso pblico. Referida abordagem ser feita com base em editais de concursos pblicos analisados, bem como em precedentes jurisprudenciais. De incio, cumpre registrar que, antes mesmo da divulgao do edital, j possvel que haja o controle interno do concurso pblico, em sua etapa interna, como a verificao de cumprimento do sigilo necessrio quanto a algumas informaes, para que se noDoutrina 36

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tornem privilegiadas para alguns e prejudiquem a isonomia necessria nos certames. J na etapa externa do concurso, seu edital no deve conter exigncias abusivas que limitam o acesso e, consequentemente, violam os princpios constitucionais. Claro que o acesso s funes pblicas requer o atendimento de determinados requisitos e exigncias, desde que observados os princpios administrativos. A primeira observao importante que somente a lei, em sentido estrito, pode fixar requisitos e condies restritivas ao acesso s funes pblicas, o que vedado ao edital e resoluo editada para o concurso, conforme art. 37, I e II, da CF/88. O STF j se manifestou nesse sentido, conforme AGRAG 18.2487/PR (DJ 07/02/97), de relatoria do Ministro Carlos Velloso, sendo que cada ente da Federao detm competncia legislativa para regular a matria, em estrita observncia aos princpios e mandamentos da Carta Federal (FERRAz, 2005, p. 249). O Superior Tribunal de Justia STJ tambm tem precedente nesse sentido, conforme RMS 20.637 (j. 23/02/06), de relatoria da Ministra Laurita Vaz. Ainda que constante de lei, a exigncia do edital deve obedincia Lei Maior, aos princpios e aos objetivos e finalidade da instituio do concurso pblico. O STF decidiu, por seu Tribunal Pleno, que embora a Constituio admita o condicionamento do acesso aos cargos pblicos a requisitos estabelecidos em lei, esta no o pode subordinar a pressupostos que faam incuas as inspiraes do sistema de concurso pblico, que so um corolrio do princpio fundamental da isonomia, RE 194.657 (DJ 14/12/01), relatado pelo Ministro Seplveda Pertence. Segundo Adilson Dallari (1992, p. 32), sabendo-se que todos os brasileiros gozam de acessibilidade aos cargos pblicos, cumpre examinar quais requisitos podem ser estabelecidos em lei, diante do dispositivo constitucional, previsto pelo caput do art. 5, que iguala a todos perante a lei, sem distino de qualquer natureza, bem como da vedao constitucional a restries estabelecidas por discriminao, em razo do sexo, idade, cor ou estado civil como critrio de admisso. A igualdade o ncleo do sistema constitucional, proibindo-se diferenciaes de tratamento e categorias subjetivas. As normas editalcias relativas habilitao no podem conter exigncias excessivas para provimento das funes, tais como escolaridade, limites de idade e altura, sexo, cor e estado civil, salvo em casos em que a natureza do cargo o exigir, conforme prev37 Doutrina

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o 3 do art. 39 da CF/88, com expressa remisso ao inc. XXX do art. 7, devendo, portanto, guardar conexo com a complexidade da funo pblica a ser provida, bem como com os demais princpios e preceitos constitucionais. O STF j decidiu que o legislador pode, observado o princpio da razoabilidade, estabelecer requisitos de escolaridade mnima para a investidura em funes pblicas, no ofendendo o princpio da isonomia a exigncia para provimento de funes de auditor, escrivo e fiscal de que os candidatos fossem diplomados em Direito, Administrao, Economia ou Cincias Contbeis, conforme consta da ADI 1.326-2/SC (DJ 26/09/97), relatada pelo Ministro Carlos Velloso (MORAES, 2004a, p. 835), diante da coerncia com a natureza e complexidade das funes a serem providas, bem como com o princpio constitucional da eficincia. No se faz necessria a inscrio em conselho regional da categoria para o deferimento da habilitao para o concurso, no qual se exige apenas o diploma do curso superior para o exerccio da funo pblica, tendo sido esse o entendimento do STJ, no REsp 708.680 (03/03/05), em harmonia com o princpio da proporcionalidade, entre os meios e os fins. Quanto ao limite de idade, a Corte Constitucional entendeu ausente a razoabilidade na fixao de limite de idade em concurso pblico, desde que seu ocupante tenha idade compatvel com a aptido fsica necessria ao exerccio da funo, conforme RE 216.929-3/RS (DJ 07/08/98), relatado pelo Ministro Moreira Alves (MORAES, 2004a, p. 835). O entendimento foi sumulado no Enunciado 683, no sentido de que o limite de idade para a inscrio em concurso pblico s se legitima em face do art. 7, XXX, da CF/88, quando possa ser justificado pela natureza das atribuies do cargo a ser preenchido, revelando maturidade pessoal. Nesse ponto, h leis de entes da Federao que so flagrantemente inconstitucionais, por se configurarem em exigncia discriminatria, ferindo a razoabilidade administrativa. Se a finalidade do concurso pblico medir o preparo e a aptido dos candidatos, tendo como forma legtima para essa aferio o sistema de provas ou de provas e ttulos, e se o desejvel a ampla concorrncia entre o maior nmero de candidatos possvel, caracteriza-se inconstitucionalidade a mera limitao de idade em concurso pblico. Segundo o Ministro Celso de Mello, o tema concernente fixao legal do limite de idade, para efeito de preenchimento de cargos pblicos, tem sido analisado pela jurisDoutrina 38

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prudncia do STF em funo e na perspectiva do critrio da razoabilidade, conforme RE 147.258/MG. E o Ministro Seplveda Pertence, referindo-se razoabilidade como princpio protetor da isonomia e, por conseguinte, da Constituio, entendeu haver discriminao inconstitucional diante da vedao constitucional de diferena de critrio de admisso por motivo de idade, que se estende falta de excluso constitucional inequvoca (COELHO, 2002, p. 94). Na esteira das garantias constitucionais, o Estatuto do Idoso Lei n. 10.741/03, muito a propsito, vedou a discriminao e fixao de limite mximo de idade em concursos pblicos, ressalvando os casos em que a natureza do cargo o exigir, atraindo, assim, a aplicao do princpio da razoabilidade, para classificao da necessidade de limitao de idade, em razo de atribuies do cargo, de forma que a discriminao se justifique. No admissvel que a idade se consubstancie em fator discriminante para provimento de funes pblicas, conforme decidiu o STJ, no REsp 642.008/RS, de relatoria do Ministro Castro Meira (SANTANA, 2006, p. 8.100), em homenagem ao princpio da isonomia e da impessoalidade da administrao pblica, cabendo o controle jurisdicional na correo de eventual desproporcionalidade. As desequiparaes devem guardar equivalncia com os valores, o sentido e os elementos normativos do sistema, ou seja, guardar relao de pertinncia lgica e, ainda que legalmente existente, deve ser confrontada com a Constituio, cuja inexistncia passvel de correo inclusive judicial. Por outro lado, no a maior ou menor idade que far o profissional um agente pblico eficiente, o que pode ser conseguido mediante um processo seletivo bem elaborado, condizente com a natureza da funo a ser exercida, com as fases adequadas funo pblica. A prtica demonstra que no a idade que acarreta um bom e justo exerccio da funo (SOUSA, 2000, p. 66). A restrio em razo da idade s pode existir na prpria Constituio Federal ou quando a natureza do cargo o exigir, mediante lei em sentido formal, conforme art. 37, I, entendimento sumulado pelo STF no Enunciado 14, observados os preceitos e princpios constitucionais. Quanto exigncia editalcia relativa ao teto mximo de idade previsto em Concurso da Polcia Civil de Minas Gerais para os cargos de delegado, detetive, perito e escrivo de polcia, decidiu-se por ser contrria nova ordem constitucional, no guardando relao com a natureza das atribuies, o que imps a decretao da inconstitucionalidade insanvel e sua supresso dos editais, conforme deciso do juzo da Quarta39 Doutrina

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Vara da Fazenda Pblica e autarquias desta unidade da Federao (j. 08/10/03). Quando o requisito de idade mxima tiver como justificativa a necessidade de esforo fsico para o exerccio da funo pblica, ser intolervel se houver fase do concurso prpria para a avaliao fsica dos candidatos. de se colacionar o entendimento do STF nesse sentido, em consonncia com os princpios da razoabilidade e eficincia, na deciso do RE 171.221 (22/08/97), relatado pelo Ministro Ilmar Galvo (SOUSA, 2000, p. 65). Assim como as exigncias de idade no podem ser descabidas, assim tambm no tocante ao limite de altura: em alguns concursos pblicos, defensvel essa limitao na busca de uniformizao em virtude das exigncias da funo, mas seria dezarrazoado e impessoal se suprvel por outras caractersticas igualmente satisfatrias do candidato, mensurveis pelas provas de esforo fsico. o que ocorre no caso de provimento de funes para as carreiras policiais em que, em muitos casos, as exigncias no so compatveis com o exerccio da funo, para cujo provimento importa mais a capacidade fsica do que simples medida de grandeza. Nesse sentido, o STF afastou a exigncia de altura mnima para acesso funo de escrivo de polcia, por se tratar de atividade estritamente escriturria, conforme RE 194.952/MS (Informativo 241, de set./01), relatado pela Ministra Ellen Gracie, e o STJ afastou-a para a funo de oficial de sade da polcia militar, conforme MS 1.643 (DJ 21/06/93), relatado pelo Ministro Peanha Martins (CARVALHO FILHO, 2005, p. 516). Cumpre registrar a deciso do Tribunal de Justia de Minas Gerais, na AC 15.842, na qual se afastou o ato que concluiu pela inaptido da candidata ao cargo de detetive, por lhe faltarem onze milmetros de altura para alcanar o mnimo exigido. Salientou o juiz prolator da sentena que a candidata no iria, evidentemente, trabalhar descala, o que faria com que sua altura ultrapassasse o mnimo exigido (SOUSA, 2000, p. 111). Assim, a exigncia de limite mnimo de altura, e mnimo ou mximo de idade, em concursos pblicos, s se pode considerar constitucional se em consonncia com a razoabilidade, em razo da natureza e complexidade da funo a ser preenchida. Em caso de provimento de funes que demandem preponderantemente atividade intelectual, no razovel exigir condies relacionadas fora fsica como fator de discriminao no concurso. Quanto distino em razo de sexo, se feita em ateno natureza da atividade, pode ser admitida, como no caso de formao de corpo policial masculino ou feminino,Doutrina 40

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em virtude das atividades que lhe so cometidas, conforme exemplo citado por Adilson Dallari (1992, p. 33) como o policiamento em presdios femininos. No que toca exigncia de prtica forense para provimento de cargos em carreiras jurdicas, o STJ j decidiu que a interpretao da expresso no deve ser restritiva, englobando tambm atividades ligadas ao exerccio laboral dos servidores da Justia, como o exerccio no cargo de tcnico judicirio, com tarefas de funes de nvel mdio exercidas na rea-fim do Poder Judicirio, que importa obviamente prtica forense pelas funes a ela relativas, conforme RMS 14.434/MG (j. 09/03/03), relatado pelo Ministro Fontes de Alencar (CARVALHO FILHO, 2005, p. 516), tendo o Ministro Paulo Medina divergido do relator para ressaltar que no conflito entre o princpio da legalidade estrita e o da isonomia, h de se prestigiar o ltimo. O Ministro Edson Vidigal votou no sentido de que a prtica forense deve ser interpretada da forma mais razovel possvel, de acordo com atividades que possibilitem ao indivduo o desenvolvimento na rea especfica do Direito, conforme MS 6.867/DF (DJ 18/09/00). nesse sentido o posicionamento do Juiz Federal Jos Carlos Machado Jnior, ao comentar a EC n. 45/04, para quem atividade jurdica conceito mais amplo que prtica forense, sendo que atividade fato, realidade, o que deve conduzir verificao da funo de fato exercida, se nela o agente emprega conhecimento jurdico prprio e especfico do bacharelado em Direito (MACHADO JNIOR, 2005, p. 24). O Tribunal Regional Federal da 1 Regio TRF/1 Regio tambm j decidiu que a prtica forense pode ser obtida por candidato portador de diploma de Direito, ocupante de cargo de nvel mdio do Poder Judicirio, que comprova o exerccio de atividades jurdicas em gabinetes de juzes federais, conforme AC 2005.33.00.023686-6/BA (j. 29/03/06). Hugo Mazzilli tambm entende que atividades desenvolvidas nos tribunais, como as dos servidores, de pesquisas jurdicas e de assessorias jurdicas, tambm se enquadram no conceito de atividade jurdica, e entende que o estagirio de magistratura poderia contar esse tempo de experincia profissional jurdica que, segundo ele (MAZZILLI, 2005, p. 60), no se confunde com a mera formao cultural acadmica dos bancos escolares. E, ainda, anteriormente edio da EC n. 45/04, o STF decidiu pela razoabilidade da exigncia de dois anos de bacharelado em Direito para ingresso em carreira do Ministrio Pblico, por corresponder experincia profissional, o que, ao contrrio de se afastar dos parmetros da maturidade pessoal e profissional, adota critrio objetivo que a ambos atende, conforme votos dos Ministros Nri da Silveira e Ellen Gracie, na ADI 1.040.41 Doutrina

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O STJ tambm decidiu que indevida a exigncia de inscrio na Ordem dos Advogados do Brasil OAB para a comprovao de prtica forense, de modo a permitir a inscrio em concurso para a Advocacia-Geral da Unio, sendo o conceito de prtica forense muito amplo e no restrito prtica da advocacia, conforme MS 5.841/DF (DJ 19/04/99), relatado pelo Ministro Gilson Dipp. Recentemente, a Ministra do STF Crmen Lcia, no voto condutor da ADI 3.460 (DJ 15/06/07), entendeu que a Emenda Constitucional n. 45/04 visou ampliao das possibilidades de participao daqueles que tinham condies, mas no aptido, para o exerccio da advocacia, como assessores de juzes. No que toca a servidores concursados do Poder Judicirio, conquanto vedado o exerccio da advocacia pelo Estatuto da OAB, tal norma no deveria induzir negativa de inscrio, com a ressalva na carteira quanto ao expresso impedimento. No mesmo sentido, no razovel a exigncia do STJ de os servidores apresentarem declarao ao rgo de que no exercem atividade de advocacia, ainda que em defesa do prprio interesse (conforme notcias constantes do site em 02/06/05). Isso porque no razovel tolher do bacharel em Direito que postule em juzo em defesa de seus prprios interesses, ainda que se entenda haver a restrio quanto no-postulao em face do ente pblico empregador. A jurisprudncia tem aceitado exigncias de exerccio de atividade profissional para comprovao de maturidade pessoal e profissional. Colaciona-se a deciso liminar proferida no MS 26.690 (j. junho de 2007), deferindo a participao de candidato na fase de provas orais, afastando a deciso administrativa que excluiu promotora sem trs anos de atividade jurdica do concurso para o Ministrio Pblico Federal. Embora se trate de requisito objetivo, decidiu o Ministro Eros Grau que a candidata j exercia atribuies inerentes ao Ministrio Pblico, bem como algumas delegadas do Ministrio Pblico Federal, o que no poderia acarretar o indeferimento de sua inscrio definitiva. Devem ser previstas, ainda, no edital do concurso, para garantia da moralidade do processo, regras gerais relativas ampla publicidade e transparncia do certame, condies pblicas em que se realizar o concurso, bem como a observncia, para todos os concorrentes, do mesmo processo de exame e, por conseguinte, dose de conhecimentos e critrio de julgamento. O STJ decidiu que a regra geral, uniforme e imparcial, fixada aps o edital de abertura, dirigida a todos os concorrentes, relativa aos critrios de correo da prova, no ofende os princpios da isonomia e da publicidade, conforme RMS 18.793 (11/11/04). Isso desde que ainda no se tenham prestado as provas ou contatoDoutrina 42

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dos examinadores com as mesmas. No que toca a critrios de desempate, cumpre destacar a disposio do Estatuto do Idoso, inserta em seu art. 27. Ao dispor que o primeiro critrio de desempate em concurso pblico ser a idade, dando-se preferncia ao de idade mais elevada, objetivou a norma privilegiar situao de empate em que h um idoso na disputa. A interpretao sistemtica conduz referida concluso, sob pena de discriminao ao contrrio. Assim, o dispositivo legal deve ser assim interpretado: o primeiro critrio de desempate em concurso pblico ser a idade, quando houver idoso na disputa, dando-se preferncia ao de idade mais elevada, sob pena de afronta aos demais dispositivos constitucionais, j que o concurso pblico procedimento que avalia eminentemente o mrito dos candidatos. Quanto fixao de critrios de concorrncia em carter regional e em rea de especializao, esses so vlidos desde que no firam a vedao federativa prevista no art. 19, III, da CF/88 quanto s distines entre brasileiros e preferncias entre os entes da Federao, j tendo assim decidido o STF, no RMS 23.432/DF (j. 04/04/00), de relatoria do Ministro Octvio Gallotti, conforme Informativo 184 (MORAES, 2004a, p. 839). Assim, tem-se que a igualdade tem contedo jurdico, devendo ser densificada casuisticamente, sendo possveis discriminaes se legitimadas pelo sistema normativo. Conclui-se, portanto, que, ressalvada a capacidade civil, toda e qualquer outra condio deve guardar total pertinncia com a funo a ser executada, sob pena de nulidade, pois a regra geral a proibio de distines puramente discriminatrias (DALLARI, 1992, p. 34). No ponto relativo identificao datiloscpica, no h constrangimento ou ilegalidade na exigncia de coleta de impresso digital de todos os candidatos, constante do edital, atendendo ao princpio da isonomia e ao interesse pblico. O TRF/1 Regio j apreciou a questo nesse sentido, pontuando que vem ao encontro da lisura do concurso e que no ofende a presuno de inocncia, mas vem no sentido de coibir o grande nmero de fraudes que tm ocorrido em concursos pblicos, o que atende boa-f e confiana, preservando o equilbrio entre os candidatos. No se trata de negar f a documentos pblicos relativos identificao civil, mas de garantia contra eventuais fraudes e de preservao dos direitos dos demais candidatos probos e da administrao pblica como um todo, o que reflete na sociedade, destinatria dos servios. So precedentes43 Doutrina

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a AC 2000.33.00.003022-1/BA (DJ 30/05/05), relatada pela Desembargadora Federal Selene Maria de Almeida, e a AC 1999.01.00.104169-3/MG (DJ 13/03/03) de relatoria do Desembargador Federal Daniel Paes Ribeiro. Relativamente limitao quantitativa de candidatos habilitados fase seguinte do concurso pblico o STJ decidiu, em concurso pblico para o cargo de promotor de justia do Estado do Esprito Santo, que, inexistindo previso da lei estadual quanto limitao, todos os que atingiram a mdia de sessenta por cento prevista no edital deveriam ingressar na segunda etapa do certame, conforme SS 1.428, decidida em 04/11/04 pelo Ministro Edson Vidigal, diante dos princpios da eficincia e finalidade, fundamentos, contudo, que devem ser sopesados. Importa destacar que, dependendo do concurso pblico e do grau de dificuldade constante em suas vrias etapas, as provas escritas realizadas em um s dia ou em um mesmo final de semana se consubstanciam, muitas das vezes, em provas de resistncia fsica. s vezes, at mesmo as provas de capacidade fsica so todas realizadas no mesmo dia, devendo-se confrontar com o princpio da razoabilidade. de se analisar, no caso concreto, afronta ao princpio da eficincia e desvirtuamento das finalidades das etapas do concurso, com fincas ao enquadramento da norma como exigncia excessiva ou no, de acordo com as peculiaridades de cada caso, ou valorizao do princpio da economicidade na aplicao de vrias provas em um s dia. Consubstancia-se exacerbada a exigncia de identificao mediante documento de identidade e a no-aceitao de sua fotocpia no ato da prova, quando j submetido identificao datiloscpica de todas as digitais o candidato, providncia que j evidenciou a inexistncia de fraude, conforme deciso do Tribunal de Justia de Gois na AC 101620-1/189 (j. 16/11/06). Em se tratando de fraudes, devem ainda os editais de concursos trazer a previso de que referidas atitudes realizadas por candidatos ou a prtica de atos vedados pelo edital e pela lei acarretaro sua excluso do certame, de acordo com os princpios da moralidade e impessoalidade. Em concursos nos quais se disputam vagas existentes em localidades diversas, os candidatos devem elaborar, na ordem de sua classificao, listas de preferncias, que devem ser observadas pelo rgo pblico organizador do concurso e, caso chegue a vez do canDoutrina 44

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didato e j se tiver operado o preenchimento de todas pelas quais optou, deve ser ouvido novamente, sob pena de quebra da ordem de preferncia estabelecida constitucionalmente. Foi o que decidiu a Ministra Maria Thereza de Assis Moura, do STJ, no RMS 11.422 (j. 21/05/07), ao estabelecer que, no estipulando o edital quantas localidades o candidato deveria escolher, sendo critrio omisso no edital, e diante da vedao constitucional preterio da ordem de classificao, deve a Administrao convocar o candidato para, uma vez preenchidas as vagas das localidades preferidas, escolher entre as restantes. O STF decidiu, no RE 264.848 (j. 29/06/05), que o requerimento para aquisio da nacionalidade brasileira suficiente para a disputa mediante concurso pblico, o que pode afrontar o princpio da eficincia, pois o simples requerimento no induz certeza do deferimento. No que toca especificamente a exigncias durante a realizao das provas de concursos pblicos, cumpre verificar a proporcionalidade entre a exigncia e o resultado que se almeja alcanar. Ilustrativamente, cite-se a vedao de utilizao de relgios durante a realizao das provas, ainda que no digitais, o que, em inexistindo relgios nos recintos destinados sua realizao, pode configurar exigncia desproporcional e pode acarretar prejuzos aos candidatos, o que deve ser coibido. Por outro lado, os modernos recursos da tecnologia, a facilitar a existncia de fraudes cada vez mais sofisticadas, poderiam justificar a referida proibio, atendendo aos princpios do concurso pblico. Ao tratar da aplicabilidade do princpio da razoabilidade e da proporcionalidade no concurso pblico, Weida zancaner (2005, p. 166) afasta as exigncias excessivas, que devem ser confrontadas com a habilitao para o cargo, tendo em vista que a razo de ser do Direito Positivo a sua efetivao. Assim, no se pode admitir a cobrana de conhecimentos mais amplos do que os necessrios ao exerccio da funo, em razo do princpio da proporcionalidade, assim como a prova de capacitao fsica deve ser razovel e compatvel com a funo. Quanto habilitao, tambm no se pode exigir capacitao tcnico-profissional excessiva. Joo Batista Gomes Moreira, ao tratar dos princpios constitucionais da legalidade e eficincia nos concursos pblicos, entende que possvel o abandono s regras do edital e at da lei propriamente dita para fazer prevalecer a finalidade implcita nas regras constitucionais, citando o Enunciado 266 do STJ, o qual prescreve que o diploma ou habilitao legal para o exerccio do cargo deve ser exigido na posse e no na inscrio45 Doutrina

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para o concurso pblico. E persiste, nessa linha de flexibilidade, para atender finalidade, citando deciso da 5 Turma do TRF/1 Regio, em processo seletivo de licitao similar ao do concurso pblico , no sentido de ser possvel deixar para o momento da entrega dos equipamentos a satisfao da exigncia de possuir oficina, muito embora o edital, no impugnado, previsse a satisfao dessa exigncia por ocasio da proposta. Segundo o doutrinador, a deciso judicial deu a tal norma interpretao sistemtica e teleolgica, diante da constatao de que se a empresa no precisava possuir, no momento da proposta, j prontos, os helicpteros, no era razovel que devesse ter, j, a oficina, que acessrio (MOREIRA, 2005, p. 136). Especificamente na fase de inscries preliminares momento processual hbil para oportunizar o acesso, o mais amplo possvel, de todos aqueles que pretendam concorrer s funes pblicas oferecidas no concurso, garantindo administrao pblica a competncia de velar pela lisura do certame, diante do poder-dever de anular a inscrio e todos os atos dela decorrentes se realizada com base em declarao falsa relativa ao candidato no se pode aceitar que o edital preveja exigncias absurdas. Dentre essas, pode-se citar a apresentao, nesta fase, de documentao relativa a ttulos, de currculos, enfim, de documentos cuja anlise s ser efetivada em fase posterior, como documentos pessoais dos candidatos e os relativos comprovao de sua habilitao, atestados de antecedentes criminais e certides de distribuidores de foros, sendo que, quanto queles, ainda h a agravante de possibilidade de direcionamento do certame, com desvio de finalidade. Tais exigncias dificultam a inscrio e o acesso, afrontando princpios como a ampla acessibilidade e a razoabilidade, na medida em que muitos dos candidatos no prosseguiro no certame, sendo desnecessria, portanto, a apresentao por eles dos referidos documentos. tambm antieconmica e desarrazoada a exigncia de realizao de atos preliminares diretamente no rgo que realiza o concurso, para a prtica dos quais, via de regra, desnecessria a apresentao prvia de documentos. No contexto mundial, em que os meios eletrnicos de comunicao de dados, como a internet, so um dos recursos mais utilizados, sendo que muitos concursos tm disponibilizado a inscrio preliminar por este meio, a exigncia de realizao de atos pessoalmente, ou ainda que por procurao, vai de encontro aos princpi