revista mural n. 96

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PRETERIÇÃO A saga dos preteridos em concursos públicos O advogado Sérgio Camargo explica como as terceirizações podem violar os direitos dos aprovados em concursos públicos ESPECIAL MANIFESTAÇÕES DIREITO DESPORTIVO: DESTITUIÇÃO do pátrio poder Você sabe o que é mala branca? por Alexandre Gavião, juiz de Direito Aurélio Wander: “As políticas de pão e circo estão falidas” Elyesley Silva: Atos de multidão e a responsabilidade do Estado William Douglas: Carta aberta à polícia Ano 10 - Nº 96 www.midiajuridica.com.br facebook.com/RevistaMural REVISTA MURAL JULHO 2013.indd 1 6/8/2013 23:49:27

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Revista MURAL N. 96

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PRETERIÇÃOA saga dos preteridos

em concursos públicos

O advogado SérgioCamargo explica

como as terceirizaçõespodem violar os direitos

dos aprovados emconcursos públicos

ESPECIAL MANIFESTAÇÕES

DIREITO DESPORTIVO:

DESTITUIÇÃO do pátrio poder

Você sabe o que é mala branca?

por Alexandre Gavião, juiz de Direito

Aurélio Wander: “As políticas de pão e circo estão falidas”

Elyesley Silva: Atos de multidão e a responsabilidade do Estado

William Douglas: Carta aberta à polícia

Ano 10 - Nº 96 www.midiajuridica.com.br facebook.com/RevistaMural

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Conselho Editorial:Dr. Aurélio Wander BastosDra. Cláudia Ribeiro Pereira NunesDr. Ivan Simões GarciaDr. Ricardo Lodi RibeiroDr. Nilton Cesar Flores REDAÇÃOReportagem, Editoração eletrônica e Projeto gráfico: Mídia JurídicaJornalista Responsável: Carlos Wesley Coordenação Geral: Rossana FiscilettiCoordenação de Pesquisa: André CostaCoordenação de Marketing e Comunicação: Fernando FreitasEditor da arte/finalização: Jorge Raul de SouzaComercial: Paulo Moretzsohn

Agradecimentos: Andrea Rocha, Alexandre Gavião Pinto, Aurélio Wander Bastos, Caroline Nogueira, Cláudia Ribei-ro, Curso Humberto Peña de Moraes, David Fernandes, Elyes-ley Nascimento, Hylton Moniz Freire Júnior, Ribamar Garcia, Sandro Caldeira, Sérgio Camargo, Vega Cursos, William Douglas. Para anunciar: (21) 8405-9996 e 9956-7625 Para falar com a Redação:E-mail: [email protected] M U R A L é uma publicação da Mídia Jurídica.www.midiajuridica.com.br facebook.com/RevistaMural A Mídia Jurídica não se responsabiliza por informações e opiniões contidas nos artigos, entrevistas, depoimentos e teor dos anúncios publicitários, que são de inteira responsabilidade dos seus autores e não refletem, necessariamente, a posição desta revista.

Porque o Senhor é justo, e ama a justiça; o seu rosto olha para os retos. Salmos 11:7

04 Especial Manifestações: - Responsabilidade Civil do Estado por

atos de multidão, por Elyesley Silva do Nascimento- Panis et Circus, por Aurélio Wander Bastos- Carta aberta à Polícia, por William Douglas

08 Artigo: Você sabe o que é mala branca?, por Caroline Nogueira

10 Aspectos jurisprudenciais da preterição de aprovados em concursos públicos

13Continua na Web

14 Destituição do poder familiar, por Alexandre Gavião Pinto

17 Atualidade: Previsão de concursos para Polícia Civil/RJ

18Redução da Maioridade Penal em debate, por José Ribamar Garcia

19 Muralteca e Classimural

SUMÁRIO

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EDITORIALUMA DÉCADA!

ROSSANA FISCILETTICoordenadora

ROSSANA FISCILETTICoordenadora

Esta edição é especialmente representa-tiva para nós. A revista Mural completa dez anos de publicação no dia 11 de agosto, dia do Advogado, sempre fiéis à proposta

inicial de disseminar a cultura jurídica, contribuir com a qualidade do ensino jurídico e democratização do Direito no meio acadêmico.

Chegamos até aqui graças a uma profícua relação entre os leitores, colaboradores, parceiros e anunciantes. Neste percurso, atravessamos uma época de grandes transforma-ções, notadamente com o progresso ultra veloz da tecnologia da informação. A adaptação constante a esta realidade é um desafio, porque os veículos impressos foram perdendo espaço para os virtuais.

Isto aconteceu, por exemplo, com o Jornal do Brasil, um dos mais tradicionais jornais do nosso país, que migrou para uma plataforma exclusivamente digital em 1° de setembro de 2010. No mesmo mês e ano, o publisher do jornal norte-ame-ricano The New York Times, Arthur Sulzberger Jr., durante um evento em Londres, disse que o veículo diário vai parar de ser editado na versão impressa, em data futura a ser anunciada.

Outro fato de relevância internacional, ocorrido nos primeiros dias de agosto do corrente ano, foi o anúncio da venda de um dos principais jornais dos Estados Unidos, o Washington Post, para Jeff Bezos, fundador da Amazon, considerada a maior empresa de e-commerce do mundo, destacando-se no segmento de livros eletrônicos. Mesmo diante de sua vivência no ramo dos negócios virtuais, Bezos declarou que gosta de ler o ‘Post’ e que, por isso, promete manter o veículo circulando nas bancas americanas.

Este é exatamente o raciocínio da Revista Mural: participar da expansão da mídia digital, das exigências tecnológicas dos meios de comunicação e também continuar com a nossa revista sob o formato impresso.

Então, é hora de comemorar o que para nós é uma efe-méride e continuar compartilhando com os nossos leitores, colaboradores e amigos de um modo geral mais uma edição impressa da Revista MURAL.

Um forte abraço e parabéns a todos os advogados,

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ESPECIAL

Nunca antes na história deste país” se viram tantos movimentos sociais encabeçados por cidadãos e enti-

dades da sociedade civil que, conscientes dos direitos fundamentais e inconformados com a má condução da coisa pública, resolveram ir às ruas para manifestar seu profundo descontentamento. Enfim, nasce um inadiável desejo de mudança!

Se por um lado a onda de protestos deva ser celebrada, posto que representa avanço de maturidade democrática da sociedade, por outro não se pode ignorar os danos que são causados aos patrimônios público e privado pelas multidões enfurecidas. De-predação do patrimônio privado, pilhagem de estabelecimentos comerciais, lesões corporais, isto é, está-se a tratar dos danos causados por atos de multidão, também chamados de movimentos multitudiná-rios, que têm cunho reivindicatório e são motivados por circunstâncias socioeconômi-cas. Como tivemos oportunidade de registrar em nosso Curso de Direito Administrativo (2013:978), tais danos são “causados por agrupamentos humanos que, não raro, dila-pidam o patrimônio público e privado como forma de reivindicação dos seus interesses”.

A questão que se põe é a seguinte: o Estado é responsável civilmente pelos danos produzidos pelas multidões ao patrimônio privado?

O tema não é novidade no Direito Administrativo. Na França pós-revolucio-nária (1789) se discutia a possibilidade

RESPONSABILIDADECIVIL DO ESTADO POR

ATOS DE MULTIDÃO

Elyesley Silva do Nascimento

Das últimas duas décadas do século passado à atualidade, impulsionada pelos novos paradigmas da Era do Conheci-mento e da Informação e pela redemocratização do regime político, a sociedade brasileira tem abandonado o papel de

expectadora da cena pública para assumir o verdadeiro pro-tagonismo que o Estado Democrático de Direito lhe garante

constitucionalmente (art. 1o, parágrafo único, CF).

ELYESLEY SILVA DO NASCIMENTO: professor, advogado, servidor da Câmara dos Deputados e autor de livros na área jurídica, com destaque para ‘Curso de Direito Administrativo’ e ‘Lei no 8.112/90: Estatuto dos Servidores Públicos Federais’. Website: www.elyesleysilva.com.br.

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“de responsabilidade civil do Estado por atos de multidão. Como bem observa a professora Sonia Sterman (2011:22), “a responsabilidade do Estado em decorrência de danos produzidos por multidões passou a preocupar os juristas franceses a partir da Revolução Francesa, em razão de danos materiais sofridos pelos particulares em casas, mansões e palácios”.

Nesse contexto se concebeu a teoria da divisão entre atos de império e atos de gestão, segundo a qual pelos primei-ros não haveria para o Estado dever de reparação dos eventuais danos causados, já que decorreriam do traço indelével da supremacia estatal, consubstanciada no seu poder de polícia. Diversamente, se tratasse de atos de gestão, em que não há exercício da supremacia, pois o Poder Público agiria como particular na administração de seus bens, poderia haver obrigação de indenizar, se configurados os pressupostos necessários para tanto. Na prática, contudo, a grande parte das ações estatais era classificada como atos de império, o que sepultava de vez a pretensão reparatória dos cidadãos.

Em verdade, essa teoria não teve outro desiderato senão o de proteger o erário francês das pesadas indenizações com que o Estado teria de arcar em razão dos intensos danos ao patrimônio privado causados pela multidão enfurecida.

Posteriormente, a própria França tratou de conceber proveitosa legislação garan-tindo direito de indenização às vítimas de

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danos causados por atos multitudinários, a saber: Lei no 83/1983 e o Código Geral das Coletividades Territoriais (art. L. 2216-2). Nessa mesma linha, outros países também preveem responsabilidade civil do Estado por atos de multidão: Itália (art. 28, Constituição; e art. 2.043, Código Civil), EUA (Lei no 107-56/2001) e Portugal (Lei no 25/2008).

No Brasil, não há lei que expressamente reconheça indenização às vítimas de danos causados por multidões. Desse modo, o deslinde da questão decorre de trabalho doutrinário e jurisprudencial.

Como ponto de partida, o art.144 da Constituição Federal estatui que “A segu-rança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da inco-lumidade das pessoas e do patrimônio [...]”.

Nessa óptica, conclui-se que a segu-rança pública tem duplo sentido (Sterman, 2011, p. 124): “tanto é dever do Estado como é direito e responsabilidade de to-dos. Assim, cabe ao particular informar aos órgãos responsáveis pela manutenção da ordem pública quaisquer comportamentos individuais ou coletivos de terceiros tenden-tes a atentar contra o patrimônio privado e a integridade física dos indivíduos”.

Assim, é forçoso reconhecer que o Es-tado pode ser responsabilizado civilmente pelos danos provocados por atos de mul-tidão, desde que demonstrada a específica e deliberada omissão do Poder Público em garantir a preservação da ordem pública.

Quando se afirma “omissão específica e deliberada” tem-se o ambiente propí-cio para a aplicação do princípio da realidade, que recomenda a adoção de parâmetros reais, possíveis, atingíveis, para que o Estado alcance seus devidos fins de concretização dos direitos fundamentais. É desarrazoado alçar o Estado à condição de “segurador universal”, capaz de evitar todos e quaisquer danos ao patrimônio privado e à incolumidade das pessoas. Se assim não fosse, todas as inúmeras vítimas de assalto poderiam demandar indenização do Estado pelos danos experimentados.

Ao tratar do referido princípio, o emérito professor Diogo de Figueiredo Moreira Neto (2006:279) destaca que “O sistema legal-administrativo não pode ser um repositório de determinações utópicas, irrealizáveis e inatingíveis, mas um instrumento sério de cumprimento da ordem jurídica, na disci-plina possível da realidade da convivência humana”.

Desse modo, partindo das premissas

de que é impossível ao Estado evitar toda e qualquer perturbação à ordem pública (pos-to que não é onipresente) e de que somente há o dever de preservar a ordem pública quando há condições efetivas de ação es-tatal, afirma-se que a responsabilidade civil do Estado por atos de multidão há que ser vista de modo excepcional, de modo a incidir somente sobre os casos em que haja específica e deliberada omissão estatal, e na estrita proporção da repercussão da conduta no evento danoso.

Por fim, indaga-se: O Estado responde objetivamente ou subjetivamente aos danos causados por atos de multidão?

Ab initio, convém passar em breve revista as noções caracterizadoras dessas modali-dades de responsabilização civil.

A responsabilidade objetiva do Estado está consagrada no art. 37, § 6o, da CF c/c o art. 43 do Código Civil, e alcança os danos causados pelos agentes das pessoas jurídicas de direito público e das de direito privado prestadoras de serviços públicos, quando agem no exercício da função públi-ca. A nota característica da responsabilidade objetiva é a desnecessidade de se comprovar dolo ou culpa na conduta do agente público causador do dano como condição para a deflagração do dever de indenizar. Como no Brasil é adotada a teoria do risco adminis-trativo, a culpa do Estado é objetivamente presumida com relação aos danos causados aos particulares. Ideia estribada nos valores de justiça distributiva e de vedação ao en-riquecimento injustificado de determinado sujeito (beneficiário da conduta) à custa dos demais (vítimas da conduta).

De outro giro, a responsabilidade sub-jetiva encontra-se prevista nos arts. 186, 187 e 927, caput, do Código Civil. A tônica dessa modalidade de responsabilidade civil é a exigência de demonstração de dolo ou culpa do causador do dano como requisito para que haja dever de indenizar.

Respondendo à indagação proposta, entendemos que o Estado é responsável pelos danos causados por atos de multidão com base na responsabilidade subjetiva, pois a omissão estatal, caso comprovada, específica e deliberada, não é causa do dano, mas condição de sua configuração. Explica-se: a omissão estatal, em si, não gera danos, mas pode proporcionar o am-biente favorável à sua ocorrência. No tema em análise, os danos são causados por terceiros (a multidão) e não pela conduta de servidores estatais (agentes de seguran-ça pública). Ocorre que em determinados casos, se tivesse havido intervenção dos

órgãos competentes, o dano poderia ter sido completamente evitado ou, quando menos, atenuado. Daí a aplicação da res-ponsabilidade subjetiva.

Em consonância com nosso pensamen-to, defende Sonia Sterman (2011:132) que “os danos produzidos aos particulares por quem não seja agente público (no caso a multidão – atos de terceiros) são determi-nados pela omissão da autoridade em não conter a multidão, o que é condição do dano, e não causa. Desse modo, o Estado só responde por omissão nos casos em que devia agir e não agiu”.

Na mesma linha, outra não é a dou-trina do saudoso Hely Lopes Meirelles (2008:664), para quem o § 6o do art. 37 da Constituição “não responsabilizou objetiva-mente a Administração por atos predatórios de terceiros, nem por fenômenos naturais que causem danos aos particulares”. Celso Antônio Bandeira de Mello (2010:1014) também perfilha essa tese.

A tese encontra-se pacificamente en-campada na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o que pode ser verificado no conteúdo dos seguintes arestos, cujo teor não reproduziremos para não delongarmos o texto: RE 36018, RE 28191, RE 20372, RE 17746, RE 18633, RE 17803.

Dessa maneira, conclui-se que aplica-se a responsabilidade subjetiva ao dever civil de o Estado reparar os danos causados por movimentos mutitudinários, devendo o Estado, se demandado a indenizar, demons-trar que foram tomadas as providências necessárias, adequadas e possíveis para evitar os danos.

Em conclusão, retomando a constatação inicial, são proveitosas as mudanças pelas quais vem passando a sociedade brasileira rumo ao pleno exercício da cidadania, à assunção do poder pelo povo, seu natural titular. Nesse cenário, cabe aos operadores do Direito a busca pela melhor solução jurí-dica, a mais adequada e menos conflituosa, nunca cedendo às paixões e simpatias, e sempre crendo que não há melhor cami-nho para a preservação das liberdades e concretização dos superlativos valores da dignidade da pessoa humana.

Referências:MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 34. ed. São Paulo: Malheiros, 2008.MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Malheiros, 2010.MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Mutações do Direito Público. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.NASCIMENTO, Elyesley Silva do. Curso de Direito Admi-nistrativo. Niterói, RJ: Impetus, 2012.STERMAN, Sonia. Responsabilidade do Estado. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

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ESPECIAL

PANIS ET CIRCUSAurélio Wander Bastos

As políticas de pão e circo estão falidas, não basta o pão para os pobres e o circo

para os alegres. O Brasil, senão o mundo, está colocado diante de uma das mais profundas contra-dições que sucederam à “morte das ideologias”, que inspiravam as demandas de classes sociais. Tradicionalmente, as ideologias traduziam as ações políticas e sociais que se institucionalizavam nas constituições e nas leis, mas que, não exatamente, respondem às demandas de grupos existenciais preocupados em viabilizar o res-peito aos seus sentimentos íntimos ou às suas aspirações privadas de indivíduos, geralmente agregados em corpos de proteção: mulheres, negros, indígenas, homossexuais, deficientes, defensores do meio ambiente, adeptos do software livre e outros grupos emergentes.

Estes grupos minoritários, iden-tificáveis numa listagem enorme, têm suas reivindicações próprias, muitos deles organizados em mo-vimentos sociais que se não tem bases constitucionais ou legislativas buscam no Poder Judiciário o am-biente propício para encaminhar suas reivindicações, de natureza existencial, fugindo ao padrão jurídico clássico, onde têm en-contrado respostas acauteladoras. Neste contexto, os movimentos sociais evoluem não propriamente em função de lutas ideológicas, ou demandas de sobrevivência, mas existenciais, onde não está em pauta interesses de classe e sim respostas a sentimentos íntimos, que emergem, a partir de situa-ções concretas como demandas ambientais, disfunções sociais, ações constrangedoras de natureza religiosa ou de excessos de autori-

dades poderosas, como se viu no Irã, Iraque, Líbia e no Egito, e se vê na Turquia e no Brasil, todos países emergentes.

A inclinação dos movimentos sociais, ao renegar a velha políti-ca de “pão e circo” ou de simples empregabilidade ou de aumentos salariais no contexto da luta de classe, desconhecendo até as políticas de moradia e sustenta-ção alimentar, ou até mesmo dos novos circos, está comprometida com a busca existencial da sua fe-licidade e não com o conforto do cotidiano econômico. Estes gru-pos mais se realizam no exercício crítico da ação mobilizadora em busca de seus anseios pessoais, do que em função do ideário que as identifique com partidos ou lideranças centralizadas, tornan-do-se inalcançáveis.

Tais são as razões da mobi-lização, como também o seu perigo, porque não são redutíveis a ideologias e partidos cada vez mais pulverizados ou a lideranças comprometidas com as políticas de Estado. Estes movimentos de natureza disforme se mobilizam pela ação das redes sociais através de mensagens online de origem indeterminada e de destino fragmentado, a partir de fatos que permeiam a socie-dade como um todo, que não são exatamente expressivos dos seus próprios sentimentos, mas prestam-se para se articular às suas demandas existenciais. O alarde ou vandalismo não nasce dos grupos segmentados, mas da repressão organizada do Estado, contra o que eles próprios não identificam, porque não estão inseridos no quadro institucional do próprio Estado.

AURÉLIO WANDER BASTOS é advogado, cientista político e professor titular da UNIRIO

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ESPECIAL

CARTA ABERTA À POLÍCIA (E A QUEM A COMANDA)

William Douglas

Juiz Federal/RJ e professor

Sou ex-Delegado de Polí-cia, atualmente juiz federal, mas também professor e

cidadão, e, mais que tudo, pai de família. Meus alunos e meus filhos têm o direito de irem às ruas e não serem tratados como bandidos apenas por fazerem uso de seus direitos constitucionais. Igualmente, eu e todos os demais brasileiros temos direito a uma Polícia que prenda os arruaceiros, depredadores e vândalos. Por isso, eu realmente gostaria que vocês aprendessem a diferenciar os dois grupos. Não é tão difícil, asseguro.

É tão simples distinguir que é possível que o problema seja de comando. A quem interessa confundir os dois grupos? Não faz sentido a Polícia ficar quieta contra vândalos e atacar estu-dantes em movimento pacífico! O dever da Polícia é proteger a população e os bens, assim como prender quem estiver violando a lei. Quem comanda, comande isso, oriente e treine a tropa.

A explicação é simples:(a) quem estiver jogando pe-

dras, queimando, depredando ou incendiando é vândalo, por favor prendam (fazendo apenas uso da força necessária para tal) e levem para a Delegacia Policial mais próxima;

(b) quem estiver caminhando e cantando, sem violência, é estudante (seu filho, talvez), é ci-dadão (como você é também), é gente cansada de corrupção, de ser feito de tolo, de ver o dinheiro de hospitais e escolas irem, bem, todo mundo sabe para onde está indo.

Dentre as coisas que faltam,

uma delas é a Polícia (E QUEM A COMANDA) fazer seu trabalho com os bandidos e cumprir seu dever moral com as pessoas de bem, estejam em casa ou na rua.

Dentre outras coisas que fal-tam, acrescento: lugar de deputa-do, senador, ministro e presidente tratar da saúde é no SUS. E o lugar dos filhos deles estudarem é na escola pública. Simples assim. E que pais e filhos usem transporte público (sem carro oficial). Rapidamente, o SUS, escolas e transportes públicos ficarão muito bem, obrigado. O povo todo, porém, deve entrar na onda e não participar mais do “jeitinho”, do “por fora”, da sonegação, do voto em troca de mariolas. Enfim, quem sabe não chegou o tempo em que vamos passar o país a limpo? Sem vio-lência, claro, no bom sistema que Jesus, Gandhi, Luther King Jr. e Mandela utilizaram.

Aproveito também para sugerir que os partidos políticos levem suas bandeiras não para as ruas, de forma oportunista, mas para as casas legislativas e façam lá a limpeza que o povo está pedindo de forma pacífica e democráti-ca. A rua é do povo, é “a maior arquibancada do país”. Não é lugar, hoje, de políticos: vocês têm mais o que fazer, façam: acabem com seus privilégios de elite francesa antes da Queda da Bastilha. Ah, sim, e voltando à Polícia (e a quem a comanda): aprendam a distinguir os grupos e a tratar cada um deles com o respeito que fazem por merecer.

Assina,William Douglas, juiz federal,

professor e pai.

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ARTIGO

VOCÊ SABE O QUE É MALA BRANCA?

Caroline Nogueira

Também não podemos negar que o desporto, principalmente o futebol, deixou de ser uma

atividade de lazer e bem-estar para se transformar em um grande mercado de negócios marcado por cifras ini-magináveis em outros nichos sociais.

Assim como a educação e a cul-tura, ao desporto foi reservado um capítulo da nossa Constituição da República, anunciando, ainda que implicitamente, o papel do esporte na sociedade contemporânea:

“SEÇÃO III - Do DesportoArt. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um, observados:I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associa-ções, quanto a sua organização e funcionamento;II - a destinação de recursos públicos para a promoção prio-ritária do desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento;III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não-profissional;IV - a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional.§ 1º. O Poder Judiciário só ad-mitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, reguladas em lei.§ 2º. A justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias, contados da instauração do pro-

CAROLINE NOGUEIRA é Presidente

do Instituto de Direito Desportivo do

Estado do Rio de Janeiro – IDESP

RJ, Procuradora do Tribunal de

Justiça Desportiva do Futebol do RJ,

Auditora da Federação Aquática,

Membro da Comissão de Direito

Desportivo (Esporte e Lazer) da

OAB/RJ, Advogada Especialista

em Direito Desportivo, Professora

Universitária e blogueira (http://

jogandodireito.blogspot.com).

O esporte alcançou nas últimas décadas status importante na sociedade contemporânea. Essa mudança, que aconteceu de forma gradual, foi essencial no desenvolvimento

político, cultural e econômico do meio no qual estamos inseridos atualmente.

cesso, para proferir decisão final.§ 3º. O Poder Público incentivará o lazer, como forma de promo-ção social.”

I - MALA PRETA X MALA BRANCANo esporte de hoje existe uma

preocupação com a ética e a hones-tidade que deve nortear as atividades que servirão de modelo e base para crianças de todo o mundo. Por conta disso, e visando uma moralização, o Estado passou a regular mais de perto as entidades que protagoni-zam o espetáculo esportivo. Várias leis foram criadas com o intuito de proteger os atletas, as agremiações, os torcedores e todos os demais que de alguma forma são atingidos por esse fenômeno.

Mala preta é o nome dado a prá-tica fraudulenta de oferecer dinheiro a uma equipe desportiva com o único objetivo de fazê-la perder uma parti-da que beneficiaria o oferecedor do dinheiro. Esse comportamento lesivo ao espetáculo desportivo foi tipifica-do em legislações como o Estatuto do Torcedor (Lei nº 10.671/2003):

“Art. 41-C. Solicitar ou aceitar, para si ou para outrem, vanta-gem ou promessa de vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer ato ou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competição es-portiva:Pena - reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa.”“Art. 41-D. Dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial com o fim de alterar

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ou falsear o resultado de uma competição desportiva:Pena - reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa.”

E no Código Brasileiro de Justiça Desportiva:

“Art. 242. Dar ou prometer van-tagem indevida a membro de entidade desportiva, dirigente, técnico, atleta ou qualquer pessoa natural mencionada no art. 1º, § 1º, VI, para que, de qualquer modo, influencie o resultado de partida, prova ou equivalente.PENA: multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais), e eliminação.Parágrafo único. Na mesma pena incorrerá o intermediário.”

Diferentemente da mala preta, repudiada veementemente por todos os amantes do esporte, a mala bran-ca possui uma finalidade diversa. A vantagem prometida a um atleta ou equipe é para que ele vença a partida, ou seja, para que haja um esforço extra para aquele que já é o objetivo de toda competição. Daí porque a utilização da mala branca como ferramenta de incentivo para que uma equipe ganhe uma determi-nada disputa gera polêmica.

Se por um lado a vantagem pro-metida só ensejaria um “plus” posto que a competitividade envolvida nos campeonatos tem como finalidade a vitória, por outro, a mala branca seria um meio antiético de estimular uma equipe que não é a sua a fazer o que você deseja.

Os defensores da mala branca, também conhecida como doping financeiro, informam que ela só incentiva a vitória, que deve ser o objetivo fim de toda competição. Ademais, esse artifício não poderia ser encarado como fraude nem influência no resultado da partida. No máximo, afirmam os defensores dessa prática, a mala branca po-deria ser considerada como atitude antidesportiva, com base no artigo 258 do CBJD:

“Art. 258. Assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva não tipifi-

cada pelas demais regras deste Código.PENA: suspensão de uma a seis partidas, provas ou equiva-lentes, se praticada por atleta, mesmo se suplente, treinador, médico ou membro da co-missão técnica, e suspensão pelo prazo de quinze a cento e oitenta dias, se praticada por qualquer outra pessoa natural submetida a este Código.”

Em posição oposta estão aque-les que consideram a mala branca uma violação tão grave e danosa ao esporte quanto a mala preta e defendem que a prática deve ser abolida do esporte aos argumentos de que se trata de ato imoral, explora jogadores e clubes de pior condição econômica, destrói a credibilidade da competição e prejudica os patro-cinadores.

Percebam que o único argumento que sustenta essa linha de raciocínio seria o fato de que a mala branca é imoral do ponto de vista desportivo porque se trata de “ajudar” um time adversário a cumprir aquele que já deveria ser o seu papel. Ainda segundo as brilhantes palavras de Milton Jordão:

“(...) não se pode negar que, atualmente, o atleta é um pro-fissional e vive de seu esforço pessoal para ganhar a vida. É uma tarefa árdua conjugar o

interesse econômico com os va-lores éticos desportivos. E, nesse particular, o doping financeiro afronta somente a pura moral e não as regras jurídicas, vez que não há fraude ao resultado do jogo. A se considerar que o aceite desse incentivo sirva como móvel, será contraditório admitir-se como normal o ga-nho de bichos ou premiações de artilheiro ou de melhor jogador oferecidas aos atletas, seja pelo clube em que atuam, seja por entidades organizadoras do esporte.”

Por todo o exposto, entendemos que deveria haver nos diplomas que tratam da organização do esporte, um dispositivo que vedasse explicita-mente o mecanismo da mala branca, considerando-a uma conduta antiéti-ca, contrária aos valores que regulam o desporto nacional.

REFERÊNCIAS:DEL PRIORE, Mary; MELO, Victor Andrade de (Org). História do Esporte no Brasil – do Império aos dias atuais. São Paulo: UNESP, 2009.EDITORA SARAIVA. Legislação de Direito Desportivo. São Paulo: Saraiva, 2011.TUBINO, M. J. G. Dimensões Sociais do Esporte, 2ª Ed. São Paulo: Cortez Editora, 2001.EDITORA IOB. Revista Síntese de Direito Desportivo. Ano 1. Número 01. São Paulo: IOB, 2011.SITES:CAMARGO, Guilherme. Aspectos jurídicos e éticos da mala branca. Disponível em: http://meuartigo.brasilescola.com/atualidades/os-aspectos-eticos-juridicos-mala-branca.htmWIKIPÉDIA. Mala Preta. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mala_preta

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MATÉRIA DE CAPA

A prática administrativa de terceirizar mão-de-obra, mesmo diante da vigência de concurso público com candidatos aprovados e aguardando nomeação, é comum em vários órgãos da administração pública direta e indireta. Nesta matéria abordaremos a questão da preterição em concursos e os diversos princípios constitucionais violados quando não são respeitados

os direitos dos aprovados dentro do número de vagas estipuladas nos editais.

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CONCURSADOS PRETERIDOS POR TERCEIRIZAÇÕES E

AS TRIMARIZAÇÕES

Sérgio Camargo / Andrea Dias da Rocha

SÉRGIO CAMARGO, Advogado especializado em Concurso Público

ANDREA DIAS DA ROCHA, Advogada Colaboradora da Equipe Sérgio Camargo Advogados Associados

INTRODUÇÃOHá décadas a maior estatal brasileira

destacada por sua excelência na produção de energia no país e no mundo, terceiriza suas funções públicas, deixando à margem cente-nas de cidadãos brasileiros, que na busca do ‘sonho’ da empregabilidade, fazem concurso público para ingressar em seus quadros, mas têm seu desejo frustrado.

Chama atenção o fato de que mais da metade de todo o recurso humano da Petrobras é de alguma forma terceirizado, conforme dados obtidos no próprio site da empresa, ou seja, a contratação de diversos profissionais não se deu pela via do concurso público, como determina a Constituição Federal de 1988, mas, sim, pelo privilégio do “favor Rei” (conhecer alguém).

Esta situação fez surgir um novo “conceito” no Direito Administrativo, as “Trimarizações”, que é o fato do ente estatal não primarizar os serviços e mão de obra, dada a inversão do processo de terceirização. Este conceito surgiu no início do século XXI como vertente contrária aos efeitos negativos da proposta de terceirização.

É o caso da Petrobras, que tem terceirizado parte de sua mão de obra, deixando na expec-tativa os candidatos do concurso realizado em 22/03/2012 (Edital PSP-RH-1/2012), desti-nado ao preenchimento de 1.521 vagas ime-diatas para cargos de nível médio e superior.

TERCEIRIZAÇÃODiversos trabalhadores na Petrobras exer-

cem cargos há tantos anos, com vínculo de subordinação direta com algum dirigente con-cursado da Companhia, que muitas vezes nem sequer sabem onde está estabelecido seu real

contratante, nem quem é o ‘chefe’ na empresa terceirizada. É como se o referido trabalhador fosse integrado ao Sistema Petrobras, pela via do concurso público, só que não é.

Os Tribunais do país vêm determinando imediato afastamento de pessoas terceirizadas e a contratação de aprovados em certames públicos que não foram chamados após um período mais do que razoável para sua nomeação.

Vejamos Jurisprudência do concurso citado (PSP-RH-1/2012 PETROBRAS): DECISÃO - CONCEDIDA A ANTECIPA-ÇÃO DE TUTELA EM 07/06/2013. O art. 273 do CPC condiciona o deferi-mento do pedido de tutela antecipada à presença de alguns requisitos, quais sejam, a verossimilhança das alegações do autor e o perigo de dano irreparável ou de difícil reparação, caracterizados no caso específico, ante os elementos carreados aos autos. Demonstrado de forma cabal que o autor aprovado em 19º lugar, convocado para a realização da qualificação biopsicossocial, não foi nomeado para o cargo de Técnico Químico de Petróleo Junior, conforme edital nº 1-Petrobras/PSP-RH-1 de 21 de março de 2012. Ocorre que a em-presa ao contratar trabalhadores por meio de intermediação de empresas terceirizadas, afronta os princípios constitucionais quanto à exigência de concurso público para admissão em cargo público. Verifica-se na hipótese que a administração deixou de nomear e dar posse ao concursando, substituindo-o por servidor temporário, sendo certo que ao ser convocado para participar

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da fase de análise biopsicossocial, tem que participar das etapas subsequentes, obedecendo-se a classificação no cer-tame. Do exposto, defiro a tutela para determinar que a Petróleo Brasileiro S/A Petrobras, proceda a imediata con-vocação de DIEGO ROMERO SIEIRA, para que seja designado e contratado na função de TECNICO QUIMICO DE PETRÓLEO JÚNIOR. PÓLO RJ, SOB PENA DE MULTA DIARIA DE R$ 500,00 por dia, na hipótese de descumprimento (...). 50º VARA CÍVEL DA COMARCA DA CAPITAL DO RIO DE JANEIRO. JUIZ: LUIZ UMPIERRE DE MELLO SERRA. PROCESSO N°: 0182023-52.2013.8.19.0001.

A Terceirização na Indústria do Petróleo é um fenômeno antigo que se intensificou no início dos anos de 1990, no contexto de implementação das políticas neoliberais. Atu-almente, privilegia-se a determinação consti-tucional do artigo 37, II, em que a investidura para cargo ou emprego público depende de aprovação em concurso público, e não por terceirizações de empresas ou funcionários como abre brecha o nosso sistema jurídico no artigo 37, IX, da Constituição Federal, onde a contratação por tempo determinado se dará somente para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público, mas que na prática mantém de uma forma ou de outra, terceirizações na estatal durante 5, 10, 15 anos, ou mais. Então, qual é o parâ-metro de temporariedade nestes casos? Não há como considerar temporário o trabalhador que permanece por longo período na empresa, o que se traduz de fato na necessidade de contratação de preenchimento de cargos de forma permanente da Companhia.

Anteriormente, o processo de contratação sem a realização de concurso público estava circunscrito a determinadas áreas de especia-lização e em caráter excepcional. Hoje em dia, a contratação de empresas terceirizadas se proliferou para todas as áreas, em atividades meio e fim da Petrobras. Trata-se de uma forma disfarçada de privatização, uma vez que são entregues para empresas privadas a realização de diversas atividades estratégicas da Companhia.

Sobre a terceirização, destaca-se o julgado abaixo:

DECISÃO EM 07/01/2013 - CONCE-DIDA A ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. Autores: VAGNER VIANA GUSMÃO E OUTROS. Ré: PETRÓLEO BRASILEIRO S.A. – PETROBRAS. DECISÃO. Vistos... VAGNER VIANA GUSMÃO e outros, todos qualificados nos autos, promovem

Ação de Obrigação de Fazer contra PETROBRAS - PETRÓLEO BRASILEIRO S/A, qualificada nos autos, dando con-tas que prestaram concurso público, a partir de edital da ré, sendo aprovados em todas as etapas do certame; que a ré deixou de convocá-los para posse, preferindo contratar serviço terceirizado, o que contraria norma constitucional; requerem a antecipação da tutela para serem convocados e empossados nos cargos a que fazem ´jus´. Breve relatório. Decido. (...) A Constituição Federal veda a contratação de pessoal para estatais e sociedade de economia mista sem concurso público, tanto que a empresa ré abriu o concurso para as va-gas postuladas pelos autores, de acordo com a previsão legal. Desta forma, presente, também o requisito ´veros-similhança dos fatos narrados´ em con-sonância com a prova inequívoca car-reada. O periculum in mora decorre da própria natureza da demanda e restou, com isso, devidamente demonstrado. Posto isto, defiro a antecipação da tutela, para determinar que a empresa ré provi-dencie a contratação dos autores nas vagas do certame para as quais foram aprovados, no prazo de 05 (cinco) dias, sob pena de não o fazendo pagar multa de R$ 50.000,00, para cada autor, exasperada no dobro por cada 30 (trin-ta) dias de não cumprimento. Expeça-se o necessário. Cite-se. Anote o que se requer às fls.160. JUÍZO DA 20ª VARA CÍVEL DA CAPITAL. JUIZ: JOSIMAR DE MIRANDA ANDRADE. PROCESSO Nº 0382380-82.2012.8.19.0001.

De modo semelhante se deu a recente decisão do STJ no concurso público para Técnico em Pesquisa e Investigação Biomédica do Instituto Evandro Chagas.

MANDADO DE SEGURANÇA. CON-CURSO PÚBLICO. LEGITIMIDADE DA AUTORIDADE COATORA. LITISPEN-DÊNCIA. CANDIDATOS CLASSIFI-CADO DENTRO DO NÚMERO DE VA-GAS PREVISTAS NO EDITAL. DIREITO LÍQUIDO E CERTO À NOMEAÇÃO DENTRO DO PRAZO DE VALIDADE DO CONCURSO. CARGO OCUPADO EM CARÁTER PRECÁRIO. COMPRO-VAÇÃO. 1. Trata-se de mandado de segurança impetrado em face da Sra. Ministra de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão e do Sr. Ministro de Estado da Saúde em razão de ato consubstanciado na não-convocação dos impetrantes para nomeação e

posse no cargo de Técnico em Pesquisa e Investigação Biomédica, área de atu-ação criação e manejo de primatas, no Instituto Evandro Chagas e Centro Nacional de Primatas. (...) 5. Esta Corte Superior adota entendimento segundo o qual a regular aprovação em concurso público em posição classificatória com-patível com as vagas previstas em edital confere ao candidato direito subjetivo a nomeação e posse dentro do período de validade do certame. Porém, tal expecta-tiva de direito é transformada em direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado se, no decorrer do prazo de validade do edital, houver a contratação precária de terceiros para o exercício dos cargos vagos, salvo situações ex-cepcionais plenamente justificadas pela Administração, de acordo com o in-teresse público. 6. Os impetrantes demonstram a existência de terceirizados exercendo as mesma funções do cargo para que foram aprovados, uma vez que pela documentação apresentada, há como concluir que os 26 tratado-res de animais contratados exercem a mesma função do cargo em questão com lista de candidatos aprovados. 7. É incontroverso a existência de vagas para o referido cargo, no período de vigência do certame, a qual foram ocu-padas, em caráter precário, por meio de contratação de terceirizados. Nesse ponto, não há falar em discricionarie-dade da Administração Pública para determinar a convocação de candidatos aprovados, a qual deve ser limitada à conveniência e oportunidade da convo-cação dos aprovados. (...). MANDADO DE SEGURANÇA Nº 19.221 - DF (2012/0204810-9). Rel. Min. Mauro Campbell Marques. DJe: 18/04/2013.

PRETERIÇÃO No entendimento da doutrina especializa-

da, a PRETERIÇÃO ocorre quando o candidato aprovado dentro do número de vagas previstas no edital observa a contratação de terceiros em caráter precário pela Administração Pública, estando ainda vigente seu certame. O que era mera expectativa de direito se transforma em direito líquido e certo, sendo pacífico esse entendimento nos Tribunais, em atenção à legislação vigente e à Constituição.

As contratações com empresas tercei-rizadas, visando somente atender suas neces-sidades internas, desrespeita a Constituição Federal que exige que a contratação para os quadros da empresa só se dê através de prévia

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aprovação em concurso público e viola os di-reitos de uma grande quantidade de cidadãos.

Destaca-se que só há direito líquido e certo à nomeação nos casos em que houve flagrante preterição. Tal alegação não é cabível nas hipóteses de candidatos no cadastro de reservas, pois, para estes, existe apenas expectativa de direito, salvo comprovação de que, de alguma forma, esteja sendo preterido, como por exemplo, em razão de contratação temporária ilícita, conforme jurisprudência do STJ, a seguir:

“Também é pacífico o entendimento de que o candidato incluído em cadastro de reserva, no prazo de validade do certame, tem mera expectativa de direito, salvo comprovação de que, de alguma forma, esteja sendo preterido, como, por exemplo, a contratação temporária ilícita (grifo nosso). Vide: REsp 1.224.645/DF, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Tur-ma, DJe 22/05/2012; AgRg no RMS 29.283/MG, Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, DJe 21/11/2011; EDcl no RMS 34.138/MT, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 25/10/2011; AgRg no REsp 1.233.644/RS, Rel. Ministro Hamilton Carval-hido, Primeira Turma, DJe 13/04/2011; AgRg no RMS 32.094/TO, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 14/02/2011. De outro lado, “eventuais vagas criadas/surgidas no decorrer da vigência do concurso público, por si só, geram apenas mera expectativa de direito ao candidato aprovado em concurso público, pois o preenchimento das referidas vagas está submetido à discricionariedade da Administração Pública” (AgRg nos EDcl nos EDcl no Ag 1398319/ES, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 09/03/2012). (...). Rel: Min. Benedito Gonçalves. Recorrente: CLEUTON FIGUEIRA PONTES. Recorrido: Estado do Acre. DJe: 05/12/2012”.

Em 27 de junho de 2013, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado Federal, encerrou o processo de votação de projeto substitutivo ao projeto de lei do Senado (PLS nº 74/2010) que regulamenta os concursos públicos federais no Brasil. Apesar de ter gerado polêmica entre os parlamentares, a matéria representa um grande passo na direção da transparência e idoneidade dos processos seletivos no Brasil pelo fato de trazer maior segurança jurídica aos candidatos as vagas de cargos e empregos públicos.

O projeto apresenta vários pontos re-levantes, alguns dos quais ratificando posicio-namentos anteriores do STF e do STJ. Um dos principais pontos é o artigo que garante aos aprovados dentro no número de vagas o direito

subjetivo à nomeação no prazo de validade do concurso. Desde 2008 o STJ já vem se mani-festando neste sentido e o STF desde 2011. Em 12 de julho, tendo sido aprovada termi-nativamente pela CCJ, a matéria prosseguiu para apreciação pela Câmara dos Deputados.

PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A Administração Pública direta e indire-ta rege-se pelos princípios da Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência, todos elencados no Artigo 37 da Constituição Federal, apresentados no breve panorama, a seguir:

O Princípio de Legalidade significa que a Administração Pública, em toda a sua ativida-de, deve estar pautada nos mandamentos da lei. Qualquer ação estatal sem o correspon-dente calço legal, ou que exceda ao âmbito demarcado pela lei, expõe-se a anulação.

O Princípio da Impessoalidade é direciona-do aos cidadãos em geral, sem determinação de pessoa ou descrição de qualquer natureza. Com ele se quer quebrar o velho costume de dar atendimento ao administrado em razão de seu prestígio ou porque o agente público lhe deva alguma obrigação.

O Princípio da Moralidade nada mais é do que o dever de observar a moralidade administrativa. Faz parte do conjunto de regras de conduta que regulam o agir da Administra-ção Pública, atuando de forma ética em sua disciplina interna.

O Princípio da Publicidade torna obriga-tória a divulgação de atos, contratos e/ou instrumentos celebrados pela Administração Pública direta e indireta, para conhecimento, controle e início de seus efeitos.

Por fim, temos o Princípio da Eficiência, que impõe à Administração Pública direta e indireta o “dever de boa administração”, ou seja, a obrigação de realizar suas atribuições com rapidez, perfeição e rendimento, além de respeitar o cumprimento dos demais princípios, especialmente o da legalidade.

Quando a Administração Pública atuar realizando os atos administrativos necessários a persecução do fim público, deve enquadrar suas ações dentro dos princípios constitucio-nais e parâmetros legais estabelecidos pelo art. 37, caput, da Constituição Federal, vistos anteriormente, e, ainda, analisar o seu desdo-bramento, qual seja, a reserva legal, quando a lei assim dispuser.

Porém, aparentando uma prática legal, se dá a contratação de empresas privadas para fornecimento de mão de obra na Petrobras. Com isso, a estatal alcançou, na verdade, o

desiderato de desrespeitar os princípios cons-titucionais, especialmente o princípio da prévia aprovação em concurso público para investi-dura em cargos, empregos e funções públicas, estabelecido no artigo 37, II da Constituição Federal, violando o direito subjetivo de diversos candidatos que envidaram esforços para estu-dar e obter a aprovação em concurso público.

Podemos, ainda, constatar a violação ao princípio da proteção a confiança legítima e da boa-fé objetiva, standards jurídicos que devem permear qualquer relação, seja ela pública ou privada. O fato de privilegiar forma de acessibilidade diversa da regra constitucional do concurso público expõe os aprovados à situação constrangedora em razão da con-fiança que depositaram em sua convocação, interrompendo sua vida profissional para realizar as fases de um processo seletivo que poderá se tornar inócuo.

A Petrobras com essas trimarizações vêm, ainda, afrontando o Princípio da “cidadania” e o da “dignidade da pessoa humana” (art. 1º, III, CF/88), haja vista conduta manifesta da Administração Pública no sentido de inviabilizar a nomeação e posse de aprovados em concur-so, substituindo-os por servidores temporários sem qualquer Due Process of Law (Devido Processo Legal).

CONCLUSÃOA acessibilidade aos cargos públicos, con-

substanciada na impessoalidade, na moralidade administrativa e na eficiência é longa manus importante para consolidação de um efetivo Estado Democrático de Direito e forma de se op-erar a cidadania e a empregabilidade pública, num país tão carente de políticas públicas à empregabilidade.

O Projeto de Lei do Senado (PLS 74/2010), por si só já representa uma grande vitória não apenas para aqueles que se dedicam aos estudos para ingressar em cargo ou emprego público, mas para todos os cidadãos, eis que um processo seletivo idôneo e transparente é fundamental para garantir os princípios consti-tucionais da impessoalidade e eficiência, bem como para proporcionar a adequada utilização dos recursos públicos. No final quem ganha é toda a sociedade. Mas, é importante lembrar que o Projeto para entrar em vigor ainda precisa ser aprovado pela Câmara dos Deputados e nesse ínterim ainda está sujeito a mudanças.

O certo é que a regulamentação legal da matéria fará com que os órgãos públicos passem a respeitar os princípios constitucio-nais evitando demandas judiciais, como vem acontecendo de forma recorrente, a exemplo da Petrobras.

MATÉRIA DE CAPA

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SISTEMA ONUSIANO: A SOLUÇÃO PACÍFICA PARA

OS LITÍGIOS INTERNACIONAIS

Cláudia Ribeiro Pereira Nunes

David Augusto Fernandes

Os índices dos erros no Exame de Ordem são altos. Isso é um fato. E, por isso, muitos acredi-

tam que o Exame é injusto. Contudo, a alegação de injustiça não

é argumento passível de se tornar sólido para ser utilizado em uma discussão com a Banca Examinadora. Isso porque o termo ‘injustiça’ tem conceito relativo e pode ser interpretado por diferentes ângulos: sob o ponto de vista da banca e dos candidatos, o fato é que a discussão se perpetuará e todos estarão apenas fa-zendo um belo treino de argumentação.

Então, ao invés de se filiar a esse grupo que tem gosto pela argumentação, que tal passar de primeira nessa prova,

A conjuntura vivida pela sociedade inter-nacional vem passando por diversas fases, o que representa constante

transformação, porém a fase mais crítica constatada em determinado momento histó-rico está afastada, como o que ficou marcado em 1903, com o bombardeio aos portos venezuelanos de La Guaira, Maracaibo e Porto Cabello por navios vindos da Inglaterra, Alemanha e Itália. Esta crise teve origem no fato de os nacionais dos três países não terem sido reembolsados pelos danos causados por movimentos revolucionários. Além disso, os credores pertencentes àqueles países não estavam recebendo o pagamento de dívidas contraídas pela iniciativa privada que atuava na Venezuela, onde parte dos recursos advin-dos dos empréstimos foi aplicada, por meio

Advogada, Doutora em Direito, Coordenadora do Núcleo de Pesquisas em Direito da FAAR - Faculdades Associadas de Ariquemes. Palestrante Convidada do Clube do Petróleo, do LLM do Ibmec Business School e do MBA da UBM-COPEP. Trabalha como consultora em universidades privadas com públicos heterogêneos no Projeto “Saberes da Docência nos Núcleos de Prática Jurídica”.

aprendendo a pensar e a falar com or-ganização e concatenação? São estas características que dão qualidade a reda-ção das questões e da peça processual.

Para colaborar com os estudos dos candidatos que querem passar de pri-meira, neste artigo apresento dicas de como o candidato poderá escrever os fatos e os fundamentos com organização e concatenação, independentemente do texto apresentado na questão da peça prático - profissional, apenas utilizando um exercício de lógica, que inspirará nos seus interlocutores credibilidade no que escreve ou fala!

Leia as dicas em midiajuridica.com.br.

de contrato de concessões, em obras públicas, como a construção de ferrovias no país .

Objetivando a esclarecer como tem fun-cionado o sistema onusiano para resolução de crises semelhantes ao caso venezuelano, o artigo apresenta em sua primeira parte o desenvolvimento recente da sociedade internacional, no que tange à resolução dos litígios de forma pacífica. A segunda parte apresenta as diversas maneiras para a solução de litígios, tendo em vista que o procedimento é o modo mais racional de convivência dos Estados na sociedade inter-nacional na atualidade.

O texto completo do professor David Fe r nande s e s t á d i s pon í v e l em midiajuridica.com.br.

DICA PARA EXAME DA OAB:COMO REDIGIR OS FATOS E

FUNDAMENTOS DE UMA PEÇA PROCESSUAL

Mestre e Doutor em Direito. Professor de Direito Internacional, Direito Processual Penal e Direito Penal. Professor em cursos de graduação e de pós-graduação do Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos e em cursos de graduação do Centro Universitário de Barra Mansa.

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ARTIGO

Sabe-se que os genitores devem, por ditame legal, lutar pelo bem-estar de sua prole, zelando pela saúde e integridade física e mental de seus fi lhos, e que os direitos das crianças e adolescentes desafi am uma proteção especial, visando o pleno desenvolvimento dos aludi-

dos menores, que possuem a prerrogativa inafastável de evoluir em paz e segurança.

DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR. RELEVANTES ASPECTOS JURÍDICOS A SEREM CONSIDERADOS

Alexandre Guimarães Gavião Pinto

Tal afirmação implica na inevitá-vel dedução de que não deve o Poder Público admitir que me-

nores permaneçam em inadequadas condições sociais, sujeitos a situações calamitosas, fome, qualquer tipo de exploração ou opressão, condenados ao analfabetismo ou mesmo ao aban-dono daqueles a quem, por força de lei, incumbe à responsabilidade de criá-los e suprir-lhes as latentes necessidades, o que abrange principalmente os pais.

Nesta linha de raciocínio, forçoso convir que não pode, qualquer dos genitores, agir em descompasso com o poder familiar que exerce em favor de seus filhos menores, negligenciando cuidados básicos ou atuando de forma omissa, de maneira reprovável e imoral.

Necessário se faz, a fim de garantir os direitos constitucionais dos menores, que o Poder Público, em especial o Ju-diciário, na seara jurisdicional, combata com firmeza, não só ações reprováveis, como também omissões dos pais na nobre tarefa de proteger os filhos e de zelar pelo seu bem-estar físico e men-tal, o que enseja o acolhimento de eventuais pretensões de destituição do poder familiar, na hipótese de comprovada ocorrência de graves fatos configuradores do descaso dos genitores com o exercício do poder familiar.

Tais situações de negligên-

cia, desde que demonstradas à saciedade, nos autos, através de elementos probatórios se-guros e idôneos, devem ser imediatamente cessadas, afastando-se, destarte, o menor de qualquer situação de risco.

Vale lembrar que, de acor-do com o artigo 1634 do Código Civil, compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores, dirigir-lhes a criação, educação e tê-los em sua com-panhia, sendo certo que, na forma do artigo 1637, do mes-mo diploma legal, se o pai ou a

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Alexandre Guimarães Gavião

Pinto, Juiz de Direito do Tribunal

de Justiça do Estado do Rio de

Janeiro

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mãe abusar de sua autoridade, fal-tando aos deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao magistrado, requerendo algum parente, ou o Ministério Público, adotar todas as medidas que lhe pareça reclamadas pela segurança do menor e seus have-res, até suspendendo o poder familiar, quando convenha. Ressalte-se que o artigo 1.638 do Código Civil determina que perderá, por ato judicial, o poder familiar, o pai ou a mãe que castigar imoderadamente o filho, deixar o filho em abandono, praticar atos contrários à moral e aos bons costumes ou incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.

A Lei nº 8069/90 dispõe, em seu artigo 22, que, aos pais, incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes, ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determi-nações judiciais, salientando-se que o artigo 33 prescreve que a guarda obriga à prestação de assistência ma-terial, moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusi-ve os próprios pais.

Observa-se, assim, que os direitos fundamentais dos menores, lastreados na dignidade e no valor da pessoa humana, exigem que se estabeleça, urgentemente, em favor dos mesmos, que podem eventualmente estar em situações de risco, melhores condições de vida, tendo na infância o direito à assistência e ao auxílio mais intenso e eficaz.

A ação de destituição do poder fa-miliar almeja justamente comprovar a violação efetiva, por parte de qualquer dos genitores, ou mesmo de ambos, das regras atinentes ao poder familiar, o que, desde que demonstrado de forma segura, autoriza a incidência das san-ções previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente e no Código Civil.

A família é um elemento fundamen-tal da sociedade, constituindo um meio natural para o crescimento e bem-estar de todos os seus membros, o que atinge, particularmente, as crianças e adolescentes que devem receber a proteção e a assistência necessárias para desempenhar relevantes papéis no seio social.

Ora, se a prova dos autos revelar que um dos pais ou ambos não osten-

tam condições de proteger o filho me-nor e de desempenhar o poder familiar de forma responsável, por deixar de garantir à criança ou adolescente um desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência, a destituição do poder familiar é medida que se impõe, sendo perfeitamente possível, e até mesmo recomendável, o deferimento de liminar para a sus-pensão do exercício do poder familiar, o que pode viabilizar a inclusão do menor na lista de crianças disponíveis para a adoção.

Em reiterados julgados de nossos tri-bunais pátrios depreende-se que, se os genitores não apresentam as mínimas condições psicológicas, emocionais, sociais e econômicas de amparar os filhos, outra alternativa, muitas vezes não resta, a não ser a procedência do pedido formulado na inicial da ação de destituição do poder familiar que, comumente, é ajuizada pelo próprio Ministério Público, no intuito precípuo de defender os interesses violados dos menores que carecem de peculiar proteção.

Em razão de falta de maturidade física e intelectual, os menores pre-cisam de cuidados especiais, além de proteção jurídica adequada, sem discriminação alguma, devendo ser adotadas todas as medidas oportunas para garantir-lhes o bem-estar, tendo em conta os deveres dos pais que de-vem assegurar aos filhos, de maneira compatível com o desenvolvimento de

suas plenas capacidades, a orientação e os conselhos próprios ao exercício dos direitos que lhes são reconhecidos pela Constituição da República e pelas leis infraconstitucionais.

Possuem os pais a obrigação de conferir aos filhos condições indispen-sáveis para permitir o seu desenvolvi-mento físico, mental, espiritual, moral e social, legitimamente esperados.

O que é preciso se ter em mente é que a grave violação dos deveres do poder familiar desprestigia flagrante-mente os interesses dos menores, que não podem ficar sujeitos a nenhuma situação de abandono, negligência ou risco, até mesmo pelo fato de que os filhos, para o harmonioso desen-volvimento de suas personalidades e potencialidades, devem crescer num ambiente familiar saudável e honesto, em clima de amor, tolerância, liberda-de e solidariedade, o que, em última análise, contribui para se alcançar a felicidade tão almejada por qualquer ser humano.

A procedência da pretensão de destituição do poder familiar exige, contudo, que as circunstâncias dos autos evidenciem, indubitavelmente, a absoluta inaptidão dos pais em zelar pela guarda, educação e cuidados mínimos exigidos por uma criança, bem como a demonstração da existência de riscos manifestos à sua saúde e integri-dade física e mental, o que implica no reconhecimento de que a decretação da perda do poder familiar se mostra como medida de proteção, socorrendo aos superiores interesses do menor, por possibilitar o seu pleno e saudável desenvolvimento, o que pode vir a ocorrer até em família substituta, diante da inaptidão da família natural para o cumprimento de tal mister.

O abandono dos pais aos filhos também autoriza o drástico, porém necessário, acolhimento do pleito de destituição, eis que o referido abando-no possui inegável relevância jurídica, tanto na esfera cível como na penal.

Na realidade, o abandono tratado pela lei não é tão somente o ato de deixar o filho sem assistência material, fora do lar, mas também a indiferença intencional pela sua educação, criação e moralidade.

Com efeito, vislumbra-se, no aban-dono do filho, ato reprovável que implica no não atendimento direto do

“O abandono tratado pela lei não é tão somente o ato

de deixar o filho sem assistência material,

fora do lar, mas também a indiferença intencional pela sua educação, criação e

moralidade”

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ARTIGO

dever de guarda, vigilância, criação e educação, a revelar a inequívoca falta de aptidão para o exercício do poder familiar, o que justifica plenamente a privação.

Releva notar que situações de de-sídia colocam os menores em grave perigo, seja quanto à segurança e integridade pessoal, seja quanto à saúde e à moralidade, afrontando um dos direitos mais relevantes dos filhos, que é justamente o de estar sob os adequados cuidados e vigilância de seus pais, em estado de segurança.

A hipótese de abandono traduz-se na falta de cuidado e atenção, o que au-toriza a perda do poder familiar, já que não se permite que qualquer dos pais deixe o filho à mercê da própria sorte.

Os direitos dos filhos estão intima-mente ligados aos deveres dos pais, salientando-se que o posicionamento vigente é o da proteção integral da criança e do adolescente, com a afir-mação de todos os direitos inerentes, que devem ser respeitados, rotineira-mente, pela família, pela sociedade e pelo próprio Estado.

Dentre os direitos fundamentais dos menores, explicitados não apenas no Estatuto da Criança e do Adolescente, mas também - e principalmente - na Constituição da República, encontra-se a necessidade de se garantir o desenvolvimento sadio e harmonioso dos mesmos, que devem ser criados e educados em ambiente favorável à sua formação moral, o que indica que o interesse dos filhos menores deve prevalecer em eventuais situações de conflito, e, em todos os casos, deve se sobrepor a qualquer outro bem ou interesse juridicamente albergado, levando-se em conta, não só o fato de ser a Lei nº 8069/90 uma lei de função social, com normas de ordem pública, nitidamente prioritárias, que possuem assento constitucional, sendo inafastá-veis pela vontade das partes, mas tam-bém o fato de que deve ser respeitada a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em pleno e permanente desenvolvimento.

As funções paterna e materna são essenciais e se complementam, pos-suindo impressionante impacto no sa-dio desenvolvimento da descendência.

Tal assertiva revela que, dentre as

incontáveis obrigações decorrentes do poder familiar, se identifica a ne-cessidade de que os pais tenham a companhia de seus filhos, dando-lhes direção, criação e educação, uma vez que esta não abrange somente a es-colaridade, mas também a convivência familiar permanente, o afeto, o amor e o carinho, indispensáveis para o pleno estabelecimento das condições de de-senvolvimento da criança, em perfeita segurança.

O direito de criar um filho se relacio-na principalmente com a necessidade de que seja assegurado ao mesmo todos os direitos fundamentais à pessoa humana, garantindo-lhe o bem-estar físico e mental, o que alcança, tanto o sustento alimentar, como o zelo com a saúde e higiene, além de todas as outras medidas pertinentes para a sobrevivên-cia digna e justa evolução da prole.

Ter o filho em companhia dos pais é, na realidade, função essencial ao poder familiar, não significando apenas residir junto, mas também instaurar uma convivência contínua e perma-nente, tatuada, de maneira indelével, pela constante troca de sadias e pro-veitosas experiências, aconselhamentos oportunos e orientações probas, o que contribui para o desenvolvimento sóli-do da personalidade do infante.

Os menores não devem ser sepa-rados de seus pais contra a vontade destes, em regra, salvo se, numa ação judicial regularmente instaurada, com o respeito ao contraditório e à ampla defesa, for demonstrado que tal se-paração é realmente necessária no interesse superior da criança ou do adolescente.

O poder familiar constitui função típica dos pais, que perdura por toda a menoridade, sendo certo que sempre que for constatada a existência de um fato grave, reprovável e incompa-tível com o justo exercício do poder familiar, materializa-se a possibilida-de, não só de suspensão, como até mesmo de perda do poder familiar, indevido e inconvenientemente exer-cido pelos pais.

Não se pode perder de vista, entretanto, que a perda do poder familiar é realmente uma medida marcantemente excepcional. Pode e deve ser decretada judicialmente, em procedimento contraditório, em prol dos inafastáveis interesses do menor, quando ficarem demonstradas, desde que suficientemente, situações graves, que configurem, na forma do artigo 1.638, do Código Civil, falta aos deveres dos pais para com os filhos.

A adoção da doutrina da proteção integral pela Lei Menorista e pela juris-prudência vigilante de nossos tribunais fortaleceu consideravelmente o prin-cípio do melhor interesse da criança, que deve ser observado em quaisquer circunstâncias, inclusive nas relações familiares e nos casos relacionados à filiação.

A medida drástica, porém muitas vezes imprescindível, de destituição do poder familiar, objetiva assegurar os superiores interesses do menor, que não pode permanecer em situa-ção de flagrante abandono, seja por ação ou omissão de seus genitores, sob pena de se violar as prerrogativas constitucionais desse importante ser em desenvolvimento, bem como os mais comezinhos cuidados necessários à prole, sendo profundamente injusto e inaceitável pretender que continue vivendo em situação irregular, de total insegurança jurídica, na mera expecta-tiva de um dia vir a estar bem assistido pelos próprios pais.

“Ter a companhia dos pais é função

essencial do poder familiar e não

signifi ca apenas residir junto, mas também instaurar uma convivência

contínua e permanente”

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ATUALIDADE

Nesse segundo semestre de 2013 e em 2014, abrirão diversos concursos na área de Segurança

Pública, especificamente para a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro.

Com a mudança de perfil dos can-didatos, que precisam ter nível superior, houve um aumento na qualidade do serviço público prestado, possibilitando a melhoria da gestão e alocamento de servidores policiais, para o desenvol-vimento de uma polícia investigativa e com atuação cada vez melhor para a população.

A melhoria salarial e a garantia de estabilidade são fatores que fizeram aumentar a busca por concursos para os cargos da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Para os graduados em Direito, o cargo de Delegado de Polícia Civil do Rio de Janeiro apresenta um dos melhores salários do país, com vencimentos iniciais de R$ 15.750,00. O último concurso para a carreira, ainda em andamento, aprovou um número recorde de candida-tos, apesar do alto grau de dificuldade, o que demonstra a intenção de aumentar o número de servidores nessa área, ha-vendo previsão de novo concurso para o próximo ano.

CONCURSOS DA POLÍCIA CIVIL/RJ COM PREVISÃO

PARA 2013 E 2014

“Manter os estudos em dia e treinar a resolução de questões é funda-mental para os que desejam ingres-sar para os cargos da polícia civil”, explica Sandro Caldeira, delegado, professor e coordenador do Vega Cursos Jurídicos.

Já para concorrer ao cargo de Oficial de Cartório, é preciso ter nível superior em qualquer área. A remuneração atual é de R$2.644,84 (incluindo gratificações). No último concurso para este cargo, os candidatos foram submetidos a uma prova objetiva com 100 questões, sendo 40 sobre Língua Portuguesa, 40 sobre Conhecimen-tos de Direito e 20 sobre Conhecimentos Básicos de Informática, além de testes físi-cos, exame psicotécnico, exame médico e, por fim, um curso de formação.

A orientação do professor Sandro Cal-deira, coordenador do Curso Preparatório para Oficial de Cartório e Delegado de Polícia do Vega Cursos Jurídicos, é para que os futuros candidatos mantenham os estudos em dia, com base nas disciplinas que caíram na prova da última seleção e treinar resolvendo questões anteriores e exercícios simulados.

De acordo com Sandro, o Vega Cursos Jurídicos iniciará suas turmas para Oficial de Cartório no dia 10/08/2013 e de De-legado de Polícia no dia 17/08, todas com uma equipe de professores especializados, visando a adequada preparação dos can-didatos. Os interessados podem acessar o site: www.cursosvega.com.br para obter mais informações.

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MURALTECAFILHOS DA MÃE GENTIL

Dos filhos deste solo és mãe gentil, pátria amada, Brasil!” O hino celebra o desejo, mas infelizmente, muitas vezes, foge da

realidade, das verdades e da crueza do dia a dia.Quem não ouviu falar ou leu sobre um políti-

co que desvia verbas públicas ou um empresário que faz falcatruas para ganhar mais? Quem não conhece casais que se traem mutuamente, mas

permanecem juntos para manter patrimônio ou as aparências?

Em cada página de Filhos da Mãe Gentil o autor, José Ribamar Garcia, apresenta o Brasil nu e cru, o implacável jeitinho, o paraíso das vantagens com preço certo. Um livro que traz a radiografia de um país que dita suas normas e manipula sem medo seus cidadãos de bem.

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EM DEBATE

A situação do menor no Brasil nunca foi conduzida pelo Estado com a devida seriedade. A Lei 8.069/90,

conhecida por Estatuto da Criança e do Adolescente, surgida em substituição ao Código de Menores, para proteger integral-mente a criança e o adolescente, completou 23 anos e não alcançou sua finalidade. Prova disso são as hordas de crianças e jovens abandonados, que perambulam pelas ruas da cidade, cheirando cola e cometendo as mais diversas infrações. Essa lei já nasceu viciada e pecou pelo excesso de permissividade. Fruto da demagogia.

Para seus efeitos, criança é a pessoa com até 12 anos de idade. E adolescente a que tem de 12 a 18 anos. Conceitos, como vários outros contidos nela, já se encontravam em desacordos com a rea-lidade de então. É que o legislador não teve o cuidado de observar, quando de sua elaboração, os princípios elementares de História, Psicologia e, sobretudo Sociologia. Não se interessou. Deve ter imaginado do alto de sua autossuficiência que não havia necessidade. Que o importante era a aprovação do projeto o quanto antes. Foi o que sucedeu.

Afora essa leniência demagógica, de re-sultados nefastos à sociedade, a realidade brasileira mudou bastante nessas últimas décadas. Hoje, são milhares de adoles-centes de 16 a 18 anos, inclusive oriundos das classes média e alta, que trocaram a cola pela cocaína e se transformaram em traficantes para manutenção do vício. Fato que os leva ao crime, comumente de furto, roubo e homicídio. E, no entanto, nada lhes acontece. Exatamente devido à permissividade. Pois, contra o menor infrator, segundo o artigo 112 da referida

REDUÇÃO DA MAIORIDADE

PENAL

José Ribamar Garcia

lei, só cabem as medidas de advertência, obrigação de reparar o dano (que não funciona), prestação de serviços à comu-nidade, liberdade assistida, inserção em regime de semi-liberdade, interna ou em estabelecimento educacional. Mas, essa restrição à liberdade jamais poderá ultra-passar a três anos, pouco importando o crime ou o número de crimes cometidos.

Enquanto isso a Constituição Federal (artigo 228) considera inimputáveis os menores de 18 anos. Ou seja: contra eles não se pode imputar qualquer crime. Go-zam de total impunidade. Isso na cabeça do menor infrator funciona como estímulo e incentivo, para prosseguir assaltando e matando tranquilamente, certo de que nada lhe acontecerá.

Entretanto, a mesma Constituição Fe-deral (artigo 14, parágrafo primeiro, inciso II, alínea c) permite que o menor de 16 a 18 anos participe do processo eleitoral. Isto é, ele pode votar. Tem a liberdade e responsabilidade para escolher o vereador, o prefeito de sua cidade, bem como os deputados (estadual e federal) e senador de seu estado, e ainda o presidente da República.

E, de acordo com o Código Civil (artigo 1.517), esse mesmo menor pode casar (com autorização dos pais ou representante legal), e constituir família.

Ora, se o menor de 16 a 18 anos tem discernimento para votar, casar e constituir família, por que, então, não tem ele para ser responsável penalmente? É uma ex-cepcionalidade descabida, incoerente, que tumultua o ordenamento jurídico.

Há, em trâmites, no Congresso Nacio-nal, dezenas de projetos de lei visando não só reparar essa incoerência, como também de adotar a redução da maioridade penal.

Essa redução se faz necessária. E virá tardiamente. Pois, trata-se de matéria que passa pela segurança de ordem pública e vai muito além. É questão de bom senso,

de logicidade, de congruência jurídica, social, psicológica e política. Que deve ser encarada com seriedade, e não com propósitos eleitoreiros ou demagógicos.

Mas, quando se fala de redução da maioridade penal, logo aparecem os donos de algumas ONGs – que se proliferam como praga de gafanhotos – alegando ser um absurdo, que querem acabar com os menores, jogando-os na cadeia. Discurso inconfiável que não merece credibilidade, porque feito em causa própria. Essas ONGs recebem elevadas somas de dinheiro dos cofres públicos, assim como de instituições estrangeiras para resolverem a situação dos menores abandonados. Só que não resolvem e nem pretendem. Por isso não desejam jamais a redução da maioridade, porque será o fim delas mesmo.

Há até quem se oponha por convicção. Por entender que a redução não resolverá o problema da criminalidade. De fato, não resolverá mesmo. Mas, com certeza, adiantará em muito, já que se eliminará um foco – violento e cruel. Será um a menos.

Também há os que fazem da estatística uma espécie de bengala para se orientar – contra ou a favor. Certa vez um magistrado afirmou convictamente que a redução da maioridade influenciaria muito pouco, porque os crimes praticados por menores não chegavam a dez por cento do total ocorrido no País. Para quem despreza a vida humana, dez por cento está de bom tamanho. Será que pensaria dessa forma, se nesse percentual houvesse um ente que-rido seu assassinado por um delinquente de 17 anos? Indagação que se faz a quem valoriza a vida percentual.

Dê a sua opinião sobre este tema, até 8 de setembro, na nossa página no face-book e concorra a um exemplar do Curso de Direito Penal, vol. I, de Rogério Greco, ed. Impetus. Facebook.com/RevistaMural.

JOSÉ RIBAMAR GARCIA, advogado e escritor

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Neste volume em específico, o autor escreve sobre o processo de conhecimento e todas as suas nuances, abordando temas como: processo, procedimentos, petição inicial e sua análise inicial realizada pelo magistrado, comunicação dos atos processuais, comportamento do demandado, resposta do réu, providências preliminares, teoria geral das provas, provas em espécie, sentença e coisa julgada, dentre outros.

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