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  • 12/05/14 Revista Cult Foucault no sculo 21

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    Foucault no sculo 21Vinte e cinco anos aps sua morte, as ideias do filsofo francs continuam no cerne das pesquisas em cinciashumanas: da psicologia ao direito; da filosofia educao

    TAGS: dossi

    Andr Duarte

    Poucos pensadores exerceram maior impacto sobre as cincias humanas que Michel Foucault.Vinte e cinco anos aps sua morte, ocorrida no dia 25 de junho de 1984, o carter generoso desuas ideias inovadoras se manifesta na renovao do campo de investigao da psicologia, dapsiquiatria, da histria, do direito, da arquitetura, da filosofia, da sociologia e da educao,entre outras disciplinas. Dos anos 1960 ao comeo da dcada de 1980, Foucault formulouconceitos e abordagens tericas que descortinaram novos objetos e demoliram velhas questesao demonstrar que a histria no o palco pelo qual desfilam os mesmos problemas singularesde sempre. Como poucos dentre seus contemporneos, Foucault soube apropriar-se do projetonietzscheano de destruio e transvalorao dos valores vigentes, ensinando-nos a desconfiarda herana metafsica incrustada em conceitos supra-histricos como o Homem, a verdade,a natureza, o poder, a razo, o sexo, o corpo, etc.

    As marcas de sua genialidade intelectual j se anunciavam em sua primeira grande obra, Ahistria da loucura na idade clssica, publicada em 1961. Abria-se ali o espao de pesquisas queFoucault denominou como uma arqueologia das cincias humanas, e que culminaria emobras fundamentais como As palavras e as coisas, O nascimento da clnica e Arqueologia dosaber. Nelas, o autor empreendeu uma crtica no epistemolgica da razo, isto , umquestionamento que no visava avaliar a evoluo histrica da cientificidade das cincias, mastrazer luz os pressupostos profundos que permitiram modernidade entronizar a razo comocritrio absoluto a partir do qual se poderia determinar, por exemplo, o ser da loucura. Assim,ao elaborar sua peculiar histria da loucura, Foucault abriu mo da ideia de que a relaohistrica entre razo e loucura se dera a partir da contnua e gradual conquista das luzes sobreas sombras, roteiro em que a psiquiatria representava a conquista da suposta verdade daloucura enquanto doena mental e a consequente libertao do louco em relao a velhospreconceitos.

    Silenciamento da desrazo

    Por outro lado, e de maneira mais ambiciosa, Foucault se perguntou como foi que se definiu amoderna deciso que apartou a razo de seu outro, contando-nos uma histria na qual o saberpsiquitrico era compreendido como a etapa derradeira de um longo processo de silenciamentoda desrazo, cujos primeiros sintomas j se deixariam evidenciar em acontecimentos do sculo17 como a instituio do Hospital Geral, o grande internamento e a metafsica de Descartes.Segundo Foucault, Descartes teria excludo a loucura do processo da dvida metdica que leva descoberta do cogito, explicitando assim a deciso fundamental da modernidade em opor aordem da razo desordem da desrazo: se duvido, penso, e se penso no posso ser louco.

    Em As palavras e as coisas, Foucault formulou o polmico conceito de pistm. Aludia-se comele a uma ordem ou princpio de ordenao dos saberes anterior a qualquer enunciado visandoo conhecimento, de modo que a pistm epistm seria a instncia arqueolgica profunda quetornaria qualquer enunciado possvel: tratava-se de nomear o solo fundamental que conferirialegitimidade e positividade ao saber de cada poca. Em outras palavras, Foucault no sepropunha a fazer uma histria das cincias ou uma histria das ideias, mas procuravadescrever a configurao e as transformaes histricas das diferentes pistms, as quaismarcariam diferentes possibilidades de pensamento e conhecimento, sem qualquer linearidadeprogressiva na passagem de uma pistm a outra. Subjacente a toda cultura e, portanto, atoda forma de conhecimento, Foucault detectava a existncia de uma ordem, de um espao deidentidades, de similitudes e de analogias por meio das quais classificamos e distribumos osobjetos do conhecimento. A obra era polmica e despertou grande interesse e muitas crticas,pois Foucault foi acusado de hipostasiar a histria e a prxis humana por detrs da aosilenciosa de estruturas annimas.

    Saber-poder-verdade

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    Em 1970, Foucault foi eleito para o prestigioso Collge de France e sua aula inaugural, Aordem do discurso, sinalizou uma virada em suas reflexes. Por certo, a poltica no estiveraausente das pesquisas arqueolgicas, como testemunha seu acirrado embate com Sartre, afenomenologia francesa e com os marxistas. Entretanto, agora Foucault no mais secontentava em avaliar as condies arqueolgicas de ordenao dos enunciados, mascomeava a interrogar os sistemas de excluso e rarefao que envolvem toda enunciaodiscursiva. Sob forte inspirao nietzscheana, Foucault passava a questionar certas figurashistrico-polticas da vontade de verdade e da vontade de saber que permearam a histriaocidental, perguntando-se, ento, quem pode dizer algo e sob quais condies institucionais.Iniciava-se assim o perodo de suas investigaes genealgicas, centradas no questionamentoespecfico das relaes intrnsecas entre saber-poder-verdade. Foucault insistir em que no hverdade fora do poder ou sem o poder, pois toda verdade gera efeitos de poder e todo poder seampara e se justifica em saberes considerados verdadeiros.

    Nas pesquisas genealgicas dos anos 1970, Foucault analisou a constituio histrica dasrelaes de poder em seu carter produtivo e eficaz em obras fundamentais como Vigiar epunir e o volume I da Histria da sexualidade. Nelas, ele questionou a concepo filosficamoderna do sujeito constituinte e substituiu-a pela concepo de que o sujeito constitudohistoricamente, simultaneamente constituio das prticas e dos discursos que semultiplicaram nas diversas instituies sociais nascentes a partir do sculo 17, tais como aescola, o hospital, o quartel, as fbricas.

    Quanto anlise das relaes de poder, observava-se uma dupla inovao: por um lado,Foucault desviava os olhos da relao jurdica entre o Estado e o cidado para lanar seu olharmicroscpico sobre as mltiplas relaes de poder presentes nas instituies sociais nas quais seforjou o indivduo disciplinado e normalizado. Por outro lado, fugindo tpica do poderrepressor, Foucault descobriu que os micro-poderes disciplinares exerciam seus efeitos positivose discretos sobre o corpo dos indivduos visando transform-lo num corpo dcil e til, segundoa conhecida frmula de Vigiar e punir. Com as pesquisas genealgicas, Foucault se props ainvestigar como se produziu o indivduo moderno, o sujeito sujeitado e disciplinado em seusgestos, comportamentos, discursos, etc.

    Biopoltica

    Se o ponto de partida da genealogia foucaultiana do poder foi a descoberta dos micro-poderesdisciplinares que visavam administrao do corpo individual, seu ponto de chegada foi adescoberta do biopoder e da biopoltica. Tratava-se de uma nova forma de exerccio do podersoberano, nascente na passagem do sculo 18 para o 19, cujo alvo no era mais a produo doindivduo dcil e til, mas a gesto calculada da vida da populao de um determinado corposocial. Foucault chegou descoberta do biopoder ao analisar o que chamou, em Histria dasexualidade, de dispositivo da sexualidade, isto , a sexualidade como o produto de discursoscientficos e morais pautados pela vontade de saber, pelo ideal de normalidade e pela obsessoem esconjurar e escrutinar a anormalidade. Foucault descobriu que o sexo no era apenas amatriz privilegiada para o exerccio dos poderes disciplinares, pois tambm constitua o focopor excelncia para o gerenciamento planificado de fenmenos populacionais como as taxas denascimento e mortalidade, as condies sanitrias das cidades, os ndices de contaminao, etc.

    A partir do sculo 19, interessava ao novo poder estatal estabelecer polticas higienistas pormeio das quais se poderia sanear o corpo da populao, depurando-o de suas infecesinternas. Novamente se evidencia a genialidade de Foucault: ali onde nossa conscinciailuminista nos levaria a louvar o carter humanitrio de intervenes polticas visandoincentivar, proteger, estimular e administrar as condies vitais da populao, Foucaultdescobriu o elo fatal entre higienismo, eugenia, racismo e genocdio. Em uma palavra, elecompreendeu que a partir do momento em que a vida passou a se constituir no elementopoltico por excelncia, tal cuidado poltico da vida trouxe consigo a exigncia contnua ecrescente da morte em massa, pois apenas no contraponto da violncia depuradora que sepodem garantir mais e melhores meios de sobrevivncia a uma dada populao. Eis, portanto,o motivo pelo qual o sculo 20 pde testemunhar o advento do nazismo e do stalinismo, parano mencionar os inmeros casos em que democracias liberais valeram-se do racismo e doextermnio para lidar com suas enfermidades e patologias sociais.

    O conceito de biopoltica um dos principais legados tericos de Foucault, tendo sido retomadoe revisado pela reflexo de Giorgio Agamben (leia artigo neste dossi), Roberto Esposito,Franois Ewald, Michel Sennelart, Michael Hardt e Antonio Negri, dentre outros. Com ele,Foucault no apenas nos ofereceu uma ferramenta para pensar os fenmenos extremos donazismo e do stalinismo, como tambm nos concedeu um importante instrumento para pensaras novas formas biopolticas de controle neoliberal de populaes. Em Nascimento dabiopoltica, curso de 1979, Foucault j indicava que o mercado competitivo tornar-se-ia ainstncia da produo de uma nova figura subjetiva, aquela que procura responder da melhormaneira possvel s exigncias e demandas variadas do prprio mercado econmico, tornando-se, para tanto, um empreendedor de si mesmo. Com muita perspiccia, Foucault compreendeuque o mercado das sociedades empresariais seria o lugar privilegiado ao qual nos reportaramosa fim de nos tornarmos agentes econmicos competitivos. A profecia parece ter se cumprido,pois cada vez mais tornamo-nos presas voluntrias de processos de individuao e subjetivaocontrolados flexivelmente pelo mercado e seus ideais normativos.

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    08/01 - Incertezas polticas e a relacionalidade

    29/1 1 - A filsofa que rejeita classificaes

    21 /1 1 - Performativ idade

    1 4/1 1 - Uma sequncia de atos

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    Ana Beatriz 7 meses atrs

    Excelente apanhado da obra do filsofo e um convite para l-lo mais,mais e

    mais. Parabns, Andr Duarte.

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