revista [b+] edição 13

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1 www.revistabmais.com junho 2012 Revista [B + ]

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A Revista [B+] chega ao número 13. Nesta edição, nossa equipe de repórteres traz modelos de empresas, cases de gestão e atuações profissionais que têm a inovação como sua principal marca. A Revista [B+] é publicação baiana e bimestral que tem foco em negócios, sustentabilidade, cultura e estilos de vida.

TRANSCRIPT

1 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m j u n h o 2 0 1 2 Revista [B+]

2 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

3 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m j u n h o 2 0 1 2 Revista [B+]

6 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

SUM ÁRIO

VERDE + CRIATIVA

Os dois termos são recentes, mas o expressivo crescimento

desses setores demonstra que o cenário não deve ser facilmente

revertido. Somente o Sebrae pretende investir na Bahia,

até 2015, R$ 17 milhões para fomentar o setor de economia

criativa. Diante dos novos desafios globais, a economia baiana exibe expoentes que

trabalham com soluções criativas e sustentáveis.

ENTREVISTAPlanejamento estratégico para inovar e posicionar

marcas. Rodrigo Hurtado e Ingrid Queiroz comandam a jovem empresa baiana DMI. Criatividade, tecnologia são

termos diários na agência que aposta em uma comunicação

“transmidiática” para solucionar os desafios

dos clientes.

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12 FÓRUM

13 ON-LINEE MURAL

14 ZOOM+

18BLOCO

DE NOTAS

22MÍDIA+

24IMÓVEIS+

26EXPERIÊNCIAS

114CONTE AÍ

7 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m j u n h o 2 0 1 2 Revista [B+]

EDUCAÇÃO 34A formação de jovens talentos baianos. Incubadoras, experiências no exterior e estudos estão entre as atividades desses futuros profissionais.

PRO BEM 58Soluções para o lixo em hotéis. Veja o que a Verdecoop e o Hotel de Lençóis estão fazendo.

MODA 80As bolsas de Irá Salles. A baiana formada em Nova York exporta brasilidade.

MÚSICA 96Artistas locais produzem novas sonoridades, criam redes e reconfiguram a maneira de se fazer negócios.

NEGÓCIOS 31

SUSTENTABILIDADE 49

LIFESTYLE 79

ARTE & ENTRETENIMENTO 95

START UP 32Estudantes com espaço internacional

ESTÁDIOS SOLARES 52Pituaçu agora com energia solar

ARQUITETURA 84Construções sustentáveis

3 HISTÓRIAS 102Maria Adair, Ricardo Franco e Cecília Menezes

CAFÉ E CULTURA 38Unir o sabor com a sabedoria

CARTA DA TERRA 54Valores por um mundo melhor

VIAGEM 88Aventura de moto nos Andes

FOTOGRAFIA 106Márcio Mascarenhas conecta Bahia e Londres

SÃO JOÃO 42O bate-volta é aposta este ano

TENDÊNCIAS 50Seis caminhos para a gestão sustentável

SABOR 90Arroz negro de polvo

APLAUSOS 110O que merece ser aplaudido

[C] LUIZ MARQUES 46 | [C] RENATO MENDONÇA 48

[C] ISAAC EDINGTON 60 | [C] MARCO PELLEGATTI 62

NOTAS DE TEC 92 | PLANO + 94

[C] JORGE CAJAZEIRA 112 | [C] MARCO PELLEGATTI 44

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Quando questionada por um repórter se o tema sustentabilidade já tinha sido ultrapassado, Gro Brundtland, ex-ministra do Meio Ambiente da Noruega e uma das criadoras do termo desenvolvimento sustentável, respondeu firme, sem titubear: “Não. Não passou porque ainda nem aconteceu.”

Brundtland, aos 73 anos de idade, segue a caminhada em busca desse mundo mais justo e sustentável. E ela não está sozinha. Encontra-se com líderes de nações, empresas, organizações, dissemina o conceito e contribui com soluções para os desafios globais.

Soma-se à sustentabilidade, o novo e abrangente conceito da economia criativa. Originária do termo “indústrias criativas” e inspirada no projeto CreativeNation, da Austrália, de 1994, essa economia defende o trabalho criativo como fundamental para a produção não poluente, inovação tecnológica, geração de emprego e renda, qualificação de novos profissionais e promoção da inclusão social.

Ambos, a economia verde e a economia criativa, ainda podem estar no começo. Porém reluzem como alternativas viáveis para uma nova economia global, apoiada pelas Nações Unidas, tendo como carros-chefes os Estados Unidos, China e países europeus. O Brasil também começa a se movimentar nessa direção. Mas, afinal, de que maneira essas tendências reinventam o modo se fazer negócio? E como a Bahia se apresenta nesse cenário?

As páginas da edição 13 da [B+] descortinam esses fatos e apresentam o que o setor produtivo baiano faz a respeito desses temas. Também mergulhamos fundo para conhecer quem são os profissionais que reconfiguram a economia do estado e como os jovens se preparam para esse novo ambiente de negócios.

O resultado inclui casos de sucesso nas áreas criativa e sustentável, tanto por parte de grandes empresas, como também de micro e pequenos empresários; soluções inovadoras e criativas de pesquisadores que ganharam destaque nacional e agora colhem reconhecimento internacional; perfis de pessoas que fazem da arte uma chave para abrir portas do mercado e conectar a Bahia com o cenário global.

Uma edição que retrata a busca de uma economia cada vez mais dinâmica, moderna e diversificada.

Boa leitura. A Redação.

EDITO R IAL

9 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m j u n h o 2 0 1 2 Revista [B+]

10 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

Conselho EditorialCésar Souza, Cristiane Olivieri, Fábio Góis, Geraldo Machado, Ines Carvalho, Isaac Edington, Jack London, Jorge Portugal, José Carlos Barcellos, José Roberto Mussnich, Luiz Marques Filho, Maurício Magalhães, Marcos Dvoskin, Reginaldo Souza Santos, Rubem Passos Segundo e Sérgio Nogueira

Conselho InstitucionalAldo Ramon (Júnior Achievement)Antônio Coradinho (Câmara Portuguesa)Antoine Tawil (CDL)Jorge Cajazeira (Sindipacel)José Manoel Garrido Gambese Filho (ABIH-BA)Mário Bruni (ADVB)Mauricio Castro (Fieb)Paulo Coelho (Sinapro)Pedro Dourado (ABMP)Renato Tourinho (Abap) Wilson Andrade (Abaf)

Diretor ExecutivoClaudio Vinagre [email protected]

Editor ChefeFábio Góis [email protected]

Repórteres Brisa Dultra, Carolina Coelho e Murilo Gitel

Projeto Gráfico e DiagramaçãoPerson Design

FotografiaStúdio Rômulo Portela

RevisãoRogério Paiva

ColaboradoresAna Paula Paixão, Andréa Castro, Danilo Lima, Débora Castelo Branco, Eduardo Santos, Emanuelle Xisto, Felipe Arcoverde, Felipe Zamarioli, Gina Reis, Hélio Tourinho, Larissa Seixas, Lilian Mota, Marcelo Negromonte, Marcos Maciel, Marisa Viana, Maurício Castro, Milena Miranda, Raíza Tourinho, Rogério Borges, Uilma Carvalho, Vinícius Silva, Yasmin Queiroz, Yuri Rosat

ColunistasIsaac Edington, Jorge Cajazeira, José Renato Mendonça, Luiz Marques Filho, Marco Pellegatti, Núbia Cristina

PortalEnigma.net

Redes Sociais Person Mkt

EXPEDIENTE

Realização Editora Sopa de Letras Ltda.

CNPJ 13.805.573/0001-34

Redação [B+][email protected]

www.revistabmais.com

[email protected]

Cidinha Collet - gerente [email protected]

Itamara [email protected]

Walter Monteiro [email protected]

SALVADOR71 3012-7477

Av. ACM,2671, Ed. Bahia Center, sala 1102, Loteamento Cidadela,

Brotas CEP: 40.280-000

SÃO PAULO11 3438-4473

Rua José Maria Lisboa. 860/83 CEP: 01.423-001

A edição 13 traz na capa a produção da agência Leiaute. Agradecemos a Raul Rabelo (diretor de criação), Rogério Chetto (diretor de criação), Victor Azevedo (diretor de arte), Adriana Mira (diretora de atendimento), Gigi Chiacchiaretta (coordenadora de produção e operações), Bruna Lopes (relações-públicas), Marcelo Almeida (arte final), Micheline Chahoud (revisora), Marina Palmeira (banco de imagem). Fotos do Stúdio Rômulo Portela.

A cada edição, uma nova equipe é convidada para produzir a capa da Revista [B+]. Uma iniciativa que visa dar destaque aos profissionais do nosso mercado.

Tiragem: 10 mil exemplaresPeriodicidade: BimestralImpressão: Grasb

Capa impressa em papel Couché Suzano® Gloss 170g/m2 e miolo impresso em papel Couché Suzano® Gloss, 95g/m2, da Suzano Papel e Celulose, produzidos a partir de florestas renováveis de eucalipto. Cada árvore utilizada foi plantada para este fim.

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FÓRU M DE L IDERAN Ç A

CAPA DA EDIÇÃO 12 DA [B+], A HISTÓRIA DE MÔNICA BURGOS E CÉSAR FÁVERO COM A AVATIM – CHEIRO DA TERRA PROVOCOU REFLEXÕES DOS EMPRESÁRIOS E EXECUTIVOS PRESENTES NO TERCEIRO FÓRUM DE LIDERANÇA, REALIZADO DIA 16 DE MAIO, NO RESTAURANTE BABY BEEF.

O café da manhã teve como principal objetivo promover o empreendedorismo, através da troca de experiências: “O mais destacável é que as pessoas não vieram só pra trocar cartões, elas vêm para aprender, observar novos comportamentos empresariais e aplicar dentro de seus negócios”, afirmou Mônica, após a palestra.

Para o membro do conselho editorial da [B+] Isaac Edington o Fórum de Liderança visa promover a economia local, complementando a proposta da revista: “Nossa missão é estimular o empreendedorismo com a divulgação de boas iniciativas e de encontros como este, para que haja um intercâmbio de ideias”.

Patrocinado pela TIM, o Fórum de Liderança reuniu mais de 120 pessoas do setor produtivo baiano, proporcionando mais uma vez a oportunidade de debater o cenário empresarial do estado.

Vista geral do Fórum de Liderança

Mônica Burgos entre a equipe da [B+]. Rubem Passos, Fábio Góis, Claudio Vinagre, Isaac Edington e Luiz Marques

Evandro Mazo (Fieb/Cieb)

Izabella Borges (Sindpacel)

Javier Trinidad (Diretor Brasil Iberostate)

Ivanilson Medeiros (TIM), Eliana Santos e Rubem Reis (Grupo São Roque)

Gilson Sampaio (Diretor Câmara Portuguesa)

Silvio Cruz, Ademar Filho, Patrícia Leal e Cesar Carvalho (TIM)

Cidinha Collet (comercial [B+]) e Marcos Peixoto (Business TIM)

Potyra Lavor (TV Aratu) recebe brinde de sorteio da TIM

Fábricio Barreto (Sebrae)

Marcos Costa (Comtecno), Luiz Blanc (ABIH) e Sérgio Guanabara (Sefaz)

Christiane Bruni (Conquest Operadora) e Mário Bruni (conselheiro ADVB-BA)

Carlos Henrique Barreto (Digital Signage) recebendo brinde no sorteio da Avatim

FOTOS: Danilo Lima

13 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m j u n h o 2 0 1 2 Revista [B+]

ON-L INE E MU RAL

Comentários, sugestões de pautas e correções: redaçã[email protected]

2. O designer Claudio Marcelo Reis posa na foto com Stephanie Powers, do Casal Vinte, e não Lynda Carter, a Mulher Maravilha.

1. Na matéria a Força da Economia no Interior, o gerente-geral do Centro das Indústrias do Estado da Bahia é Evandro Mazo.

ERRAMOS! Informações da edição 12 que queremos corrigir:

[+] NO SITE www.revistabmais.com

Selecionamos diversos vídeos sobre temas abordados na matéria MPB com H (pag 96). Você encontra clipes de Lucas Santtanna, o programa “Mê de Música”, vídeos do mestre Lourimbau, além de outros conteúdos audiovisuais.

Sobre a edição 12

Quero registrar a revista [B+] como uma nova força e um impulso positivo para nosso estado. No conselho editorial encontrei nomes de pessoas especialmente (pró) ativas, com quem já tive a sorte de trabalhar. Sucesso para a revista e para a Bahia.Tuzé

Recebi minha primeira [B+]. Estou encantada, sem palavras para descrever o trabalho de vocês!Flávia Gusmão

Sempre que vejo notícias de meu amigo, compartilho. Todas as boas pessoas deviam ter o privilégio de conhecer esse homem.Paloma Santos

Excelente a apresentação de Mônica Burgos. Mostrou a sua força. Aprendi muito. Parabéns a Avatim e [B+].Renata Souza

É um ótimo trabalho que fazem com o cacau em Ilhéus. A matéria retratou essa história.Patrícia Póvoa

Este rapaz já era desenhista na quinta série do colégio Anisio Teixeira. Tive a honra de tê-lo como aluno. Ainda guardo seus desenhos.Silvania Capua

A trajetória do designer Claudio Marcelo foi retratada na matéria “Talento baiano em Hollywood”

FOTO: Divulgação

FOTO: Daryan Dornelles

14 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

Q uando as obras de reforma do antigo Aeroclube Plaza Show, na orla da Boca do Rio, foram judicialmente embargadas, em 2008, a ideia já era recuperar

comercialmente um espaço nascido quase uma década antes, em 1999, sob o signo da ousadia conceitual. O shopping de lazer, instalado a céu aberto, como em uma vila à beira-mar, revelou-se estrategicamente mal-planejado e, anos depois da inauguração, o conceito já estava ultrapassado. Ainda hoje o Consórcio Parques Urbanos procura viabilizar aquele espaço. Pretende agora erguer um shopping tradicional, entre paredes, com grandes lojas de varejo e muito ar condicionado.

Em agosto completa um ano que a Justiça permitiu a retomada das obras. Na Enashopp, que administra o Aeroclube, o diretor Edison Rezende mostra-se incomodado com a demora.

ZOOM+

FOTO: Rogério Borges

por ROGÉRIO BORGES

Os novos planos para o antigo shopping de lazer incluem subir

paredes, trazer grandes redes varejistas e esperar por um público

ávido por bens de consumo em vez de entretenimento. Mas para chegar a esse futuro, o

empreendimento ainda paga caro

AEROCLUBE QUER SER SHOPPING DE VAREJO

O ambiente é de abandono e descaso. Falar com jornalistas não agrada

a ninguém ali. Fotos, nem pensar

15 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m j u n h o 2 0 1 2 Revista [B+]

“Os empreendedores todos os meses colocam dinheiro lá para manter a estrutura em funcionamento”, afirma. A grande preocupação é chegar a um projeto que não sofra objeções por parte das autoridades, o que resultaria em mais prejuízos para todos. A área, de acordo com o Ministério Público Federal na Bahia, é parte de conjunto paisagístico tombado pelo Iphan desde 1959, que engloba 10 km de faixa litorânea de Salvador, entre o Jardim dos Namorados e Piatã.

O que estava em questão era o tombamento patrimonial, além da construção do Parque dos Ventos na área contígua ao empreendimento. Sobreveio então o conceito “Aeroclube Shopping & Office”, que utilizava parte da estrutura para escritórios. Os empreendedores acenam agora com as lojas âncoras, tradicional estratégia para atrair consumidores – o que ainda terá que ser submetido aos órgãos competentes.

De acordo com a Enashopp, o projeto em elaboração atende todas as exigências de todos os órgãos envolvidos. Por conta disso, a volumetria geral da área a construir, por exemplo, deve ser menor do que a atual, permitindo alguma visibilidade para o mar a partir da avenida. Edison Rezende ainda não sabe quanto, mas uma parte da atual estrutura será demolida. “Depende do projeto arquitetônico”, reafirma.

Ele conta que o novo formato é fruto de pesquisa: “As pessoas não querem sofrer com as intempéries, com o sol, com a chuva”, diz. Além disso, “querem um shopping com cara de shopping”, incluindo as grandes lojas e não com ares de parque de lazer. Importante para os empreendedores é também substituir o público dos espetáculos musicais, dos cinemas, dos bares e restaurantes pelo consumidor de eletrodomésticos e de tudo o que ficar bacana na sala de visitas. Ao contrário do que ocorria nos anos 90, vivemos tempos de consumo em alta e o empreendimento tem de ser economicamente viável.

LojistasSalvador Oliveira, proprietário da lotérica que ainda funciona no Aeroclube, espera ansioso por esse público. Embora o movimento da loja esteja garantido pelo tipo de serviço prestado, ele quer usufruir dos benefícios de um verdadeiro shopping e “não ter que fechar às 17h por falta de segurança”. De acordo com Genilda Macedo, presidente da Associação de Lojistas do Aeroclube, os quase 20 lojistas remanescentes pagam apenas o condomínio, que mantém serviços mínimos.

FOTO: Divulgação

A área, de acordo com o Ministério Público Federal na Bahia, é parte de conjunto paisagístico tombado pelo Iphan desde 1959

Rosângela Coutinho, uma das pioneiras – e sobreviventes – do antigo Aeroclube, mantém em funcionamento um misto de banca de revistas e livraria que representa toda a poupança de uma família. Ela resiste a abandonar o ponto comercial por absoluta falta de opção. “Se eu sair daqui, o investimento se perde”, diz. Na vitrine há uma página de jornal já amarelecida pelo sol. Não faz muito tempo que a notícia está lá: “Aeroclube muda o conceito e negocia com duas âncoras do setor de varejo”. Rosângela nada sabe sobre o novo projeto “a não ser o que sai na imprensa”.

Apesar disso, falar com jornalistas não agrada muito a ninguém ali. Fotos, nem pensar. “Tem sido muito sofrido tudo isto e faz anos”, explica Genilda Macedo. “Continuamos à espera da solução”, diz. Para manter o ponto comercial funcionando, demitiu os quatro funcionários que tinha. “Faço tudo: compro, vendo, administro, atendo, limpo, abro e fecho”, resume.

Assim como Rosângela, Genilda sobreviveu ao esvaziamento do Aeroclube quando a reforma foi embargada. A pequena loja de confecções estava localizada no acesso aos cinemas, fora do grande corredor central – hoje totalmente em ruínas e há anos cercado por tapumes.

Edison Rezende, da Enashopp:preocupação em atender a todos os requisitos do licenciamento

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Rosângela Coutinho resiste a sair do Aeroclube. A banca de revista é toda a poupança da família

Em tempos de bonança, o Aeroclube reunia famílias baianas em áreas para compras, refeições, apresentações e shows

“Tem sido muito sofrido tudo isto. Continuamos à espera da solução” Genilda Macedo, presidenteda Associação de Lojistas do Aeroclube

FOTO: Acervo

Crimes ambientais Mesmo que um futuro venha a ser viabilizado, o passado continua a cobrar seu preço. De acordo com o Ministério Público Federal na Bahia, a Justiça Federal acolheu em março de 2012 uma denúncia oferecida contra duas empresas e quatro pessoas “envolvidas em crimes ambientais durante a reforma” do Aeroclube. Entre os denunciados estão a empresa líder do Consórcio Parques Urbanos, a empresa contratada para administrar o Consórcio, “bem como dois funcionários à frente das atividades ilegais e duas servidoras do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que emitiram estudos enganosos para o licenciamento da obra”.

A denúncia, movida pelo procurador da República André Batista Neves, argumenta que “quando as obras foram suspensas, o dano ambiental e paisagístico ao patrimônio tombado pelo Iphan já estava consumado, tendo sido atestado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)”.

Segundo o MP, o processo de licenciamento das obras também foi obtido a partir da prática de crime contra a administração ambiental. Duas técnicas do Iphan teriam emitido, “na mesma data, pareceres contrários em relação à decisão de licenciar a reforma”. No primeiro parecer, reprovam o projeto de reforma e ampliação, que é submetido à superintendência do Iphan. O segundo parecer, assinado pelas mesmas servidoras, é favorável à obra, ratificado pelo superintendente interino do Iphan à época.

Segundo a denúncia, o estudo técnico emitido pelas servidoras “continha informações incompletas e enganosas”. Em depoimento prestado à Polícia Federal, as denunciadas teriam admitido a alteração do parecer “por conta de pressão da imprensa, empresários, lojistas, associações civis e sociedade em geral”.

Na denúncia, o MPF-BA requer a condenação da empresa líder do consórcio, da administradora e dos funcionários que ignoraram o cumprimento da lei por “alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei” e “em razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida”. A pena é de reclusão de um atrês anos e multa. [B+]

FOTO: Rogério Borges

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18 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

Taximov

Para poupar tempo de quem procura por táxi, o sistema de solicitação de táxi Taximov rastreia, através de GPS, veículos que estejam em um raio de sete quilômetros do usuário que acionar o serviço, seja por te-lefone, site ou aplicativo de smartphone. A expectativa do dono do ne-gócio, Nathan de Vasconcelos Ribeiro, é que até 2014 seu ramo chegue às 12 cidades que sediarão a Copa do Mundo. Por enquanto, apenas São Paulo recebe o serviço. Os usuários e taxistas devem preencher uma ficha com seus dados na internet e, ao acionar o sistema, é possí-vel escolher especificidades como pagamento em cartão de crédito, ar--condicionado, bagageiro grande ou um motorista que fale inglês fluen-temente. É possível também usar vouchers, imprimidos pelo site, como crédito para pagamento das corridas. As informações são do Estadão.

JAC Motors desembarca na Bahia primeiros automóveis vindos da China

Mil automóveis modelo J5, da monta-dora chinesa JAC Motors, acabam de desembarcar no Porto de Salvador. A operação foi uma novidade: até en-tão, a mercadoria chegava via Porto de Vitória, no Espírito Santo. A ação marca o início das operações da JAC na Bahia, dando início à sequência de iniciativas que vão culminar na inauguração, em 2014, da fábrica baiana.

Fábrica de queijos gera emprego e renda no oeste baiano

Com um investimento de R$ 4,7 milhões, geração de 140 empregos diretos e mais de 11 mil indiretos, a fábrica de queijos Ki Sa-bor, instalada no município de Serra Dou-rada, completou 16 anos de produção de queijo e manteiga em maio. O negócio vem contribuindo tanto para o desenvolvimento da região que até recebeu a visita do gover-nador do estado para celebrar o aniversá-rio. São mais de quatro mil fornecedores de leite da região, dentre eles pequenos pro-dutores, estimulando a agricultura familiar local.

Mais um passo para a Fiol

Para a efetiva realização das obras, a Fer-rovia Oeste-Leste ainda precisa de autori-zações. O último avanço foi assinatura de um termo de cooperação técnica para as desapropriações das áreas abrangidas pela Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol). Rui Costa, secretário estadual da Casa Civil, e o presidente da Valec, Eduardo Castello, subs-creveram o documento no dia 23 de maio, em Ilhéus. O acordo prevê responsabilida-des para os dois envolvidos, para o devido processo de desapropriação da ferrovia.

BLOC O DE N OTAS

FOTO: Secom/BA

FOTO: Secom/BA

19 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m j u n h o 2 0 1 2 Revista [B+]

Pesquisa do Ipea revela: trabalhador brasileiro quer mais tempo livre

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) perguntou a 3.796 brasileiros que moram em áreas urbanas das cinco regiões do Brasil, com mais de 18 anos, e que trabalham, o que fariam no seu tempo livre se tivessem sua jornada de trabalho reduzida. Deles, 63,8% dedicariam seu tempo a outras atividades fora do ambiente de trabalho; para 39%, o tempo de trabalho compromete a sua qua-lidade de vida. Já 36,2% disseram que não sentiriam diferença, pois trabalham mais que as 44 horas semanais previstas na legislação. Ainda teve gente que falou que o trabalho atrapalha suas relações pessoais: 9,8% acham que o trabalho prejudica suas relações amoro-sas e 5,8% suas relações de amizade.

Grupo brasileiro alcança ranking da comunicação mundial

A Advertising Age apontou o Grupo ABC como o 18º maior grupo de comunicação do mundo, segundo o ranking tradicional produzido pela revista americana. É a quinta vez consecutiva que o grupo brasileiro aparece na escala, que é liderada pelos gigantes da indústria da pro-paganda, WPP, Omnicom e Publicis Groupe. Associada ao Grupo ABC desde 2011, a Morya foi uma das grandes responsáveis pelo cresci-mento da empresa.

FOTO: Luciana Serra

FOTO: Divulgação

Junior Achivement Bahia inicia o programa Miniempresa 2012

As escolas públicas e privadas receberam, em maio, o programa Miniempresa, realizado pela Junior Achievement Bahia, com a participação de mais de 80 voluntários das áreas de marke-ting, recursos humanos, produção e finanças. A iniciativa traz a oportunidade, para cente-nas de alunos, de criar um produto e experi-mentar todas as ações relativas a um negócio, desenvolvendo seus mecanismos de venda du-rante um período de 20 semanas. No final do programa, as 20 miniempresas dos 16 colégios participantes vão comercializar seus produtos, num grande shopping da capital, com direito a formatura para comemorar a iniciativa. Confi-ra o resultado no site da [B+].

Empresários baianos recebem prêmio de qualidade nos Estados Unidos

O Grupo Empresarial Aldeia, presidi-do pelo empresário baiano Raimundo Lima, conquistou o Prêmio Internacio-nal de Qualidade, na categoria ouro, concedido pela Business Initiative Di-rections (B.I.D). Presente há mais de dez anos em Angola, o Grupo Aldeia presta serviço ao Ministério de Educa-ção do país e tem atuação nas áreas de educação, comunicação, agroindústria e empreendimentos.

Da esquerda para direita: Guga Valente, Nizan Guanaes (Grupo ABC); Cláudio Carvalho; Fernando Carvalho e Gustavo Queiroz, (diretores da Morya)

20 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

BLOC O DE N OTAS

Arrecadação de ICMS

O ICMS arrecadou R$ 1,2 bilhão duran-te o mês de abril. O incremento real do ICMS chegou a 10,22% em relação ao ano anterior. Foi o melhor resultado obtido pelo imposto no mês de abril em toda a série histórica e a terceira maior arrecadação obtida pela Secretaria da Fazenda. Esse bom desempenho foi ob-servado também no IPVA, com aumento de 8,67%, e no Imposto Sobre Heranças, grande destaque pelo incremento de 47,17%.

Prêmio Benchmarking Saúde reúne referências da área médica baiana

Uma noite requintada marcou a cerimônia de entrega do prêmio Bench-marking Saúde – Edição Bahia, em que foram homenageados gestores, empresas e instituições referências no setor médico-hospitalar do merca-do, ao longo de 2011. O prêmio, organizado pelo grupo CriarMed, que edi-ta a Revista Diagnóstico, se encontra na segunda edição e tem a incum-bência de selecionar, entre mais de três mil serviços de saúde da Bahia, os destaques do setor em suas respectivas áreas de atuação. Foram 102 empresas e personalidades indicadas para participar da disputa: destas, 60 foram eleitas referência nos critérios inovação, credibilidade, novos investimentos e visibilidade de mercado e receberam troféus de bronze, prata e ouro.

E-commerce: estados deverão repartir ICMS de vendas feitas pela internet

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, com apenas três votos contrários da bancada paulista, novas regras para a distribuição do ICMS cobrado nas compras de produtos pela internet – o chamado e-commerce. O ponto central da proposta é estabelecer que os estados de destino das mercadorias, que hoje nada recebem do ICMS, tenham direito a uma parte do diferencial da alíquota do ICMS nas com-pras feitas pelo comércio eletrônico. Essa é mais uma etapa no estabele-cimento de uma nova relação entre a União e os estados que parlamenta-res vêm defendendo na Casa, o chamado novo pacto federativo. A Bahia deixou de arrecadar, no ano passado, R$ 300 milhões por conta dessas transações feitas a partir de internet.

Expansão do comércio baiano marca o último ano

O aumento dos empregos formais na Bahia, ações promocionais de empresá-rios e a ampliação de crédito são as su-postas causas para o crescimento do co-mércio varejista baiano, que expandiu 13,4% no volume de vendas, no último mês de março, em relação a fevereiro, sendo a maior variação mensal dos últi-mos doze meses. A Bahia já registra um saldo positivo de 11.809 postos de traba-lho durante o ano de 2012.

Produtos da agricultura familiar baiana são apresentados aos hoteleiros

O ‘Catálogo de Produtos da Agricultura Familiar’, iniciativa da Seagri/Suaf e da ABIH-BA, foi lançado para hoteleiros baianos. Vinte e duas cooperativas estão listadas no livro, que apresenta cerca de 50 itens, entre produtos in natura e manufaturados, do café da Chapada Dia-mantina à geleia de umbu que vem do Sertão. Os empreendimentos que com-prarem a partir de R$ 6 mil nas coopera-tivas receberão um selo, o Certificado de Responsabilidade Social com a Agricul-tura Familiar da Bahia, que também se converterá em promoções e vantagens.

FOTO: Divulgação

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MÍD IA+

APOIOINST ITUC IONAL

RX30 Produtora cria filme para GBarbosa

Com o conceito “Nordestino, igual a gente”, o GBarbosa reafirma seu posicionamento na re-gião Nordeste do país. O filme de 30 segundos foi gravado pela RX30 Produtora. As imagens foram captadas com uma Red One e gravado em três dias. O filme pode ser assistido no Vimeo da RX30 Produtora: vimeo.com/40878771

Correio* e iBahia conquistam prêmio internacional

O jornal Correio* e o portal iBahia receberam, em maio, os prêmios da principal competição de excelência em marketing, a International Newsmedia Marketing Association. Com o projeto “Jornalismo de Fu-turo”, o Correio* concorreu na categoria Relações Públicas e Serviços à Comunidade, conquistando o segundo lugar. E o portal iBahia foi o primeiro veículo brasileiro premiado no ”Best in Show” e na categoria “Reconhecimento de Marca em Outras Plataformas”, com o painel ele-trônico em forma de outdoor.

Mago cria marca da carreira solo do cantor Thiaguinho

A agência baiana é a responsável pela marca do ex-Exaltasamba Thiaguinho. O resultado final foi apresentado ao público na grava-ção do DVD, que aconteceu no mês de abril. Os elementos signifi-cam: TH de Thiaguinho, a coroa do “príncipe negro” ou “pretinho do poder”, as cores do time do coração e, por fim, para dar unidade, parênteses que traduzem o que cabe dentro do mundo de Thiagui-nho.

Leiaute cria anúncio com a maior ficha técnica do mundo

A agência Leiaute criou anúncio com a maior fi-cha técnica do mundo. Para isso, optou por apro-ximar e criar uma identificação entre a equipe e sua marca. A ideia era que cada um persona-lizasse o L à sua maneira: pintando, colorindo, recortando e colando ou desenhando. A proposta foi mostrar que cada membro, com as suas parti-cularidades, forma um todo e faz da Leiaute uma agência diferente e múltipla. Veja o resultado deste projeto de branding: www.leiaute.com.br.

Inscrições abertas para o Prêmio Colunistas Norte/Nordeste

As agências baianas já podem se inscrever para concorrer à maior premiação da propaganda bra-sileira. Podem participar as peças veiculadas a partir de janeiro de 2011. Inscrições e informa-ções pelo site www.colunistas.com.

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24 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

IMÓVE IS+

POR NÚBIA CRISTINA

OR é vencedora na categoria Gestão Sustentável

Uma das fundadoras do Green Building Council no Brasil, a Odebrecht Realiza-ções Imobiliárias (OR) conquistou a ca-tegoria Gestão Sustentável da 18ª edição do Prêmio Ademi-BA. “A gestão susten-tável na OR começa ainda na fase de projeto, quando, depois de identificado um possível local para um empreendi-mento e o desenvolvimento do produto, realizamos um diagnóstico socioambien-tal, identificando que tecnologias podem ser utilizadas para gerar mais eficiência e menores impactos, e continuamos com essa preocupação na construção, através de uma série de programas nas obras e nas comunidades do entorno, assim como na adoção de produtos e in-sumos que carreguem valor agregado”, resume André Sá, diretor comercial e de marketing da OR. Desde a criação do Prêmio Ademi, em 1994, a OR foi consa-grada outras 13 vezes.

Outlet Premium Salvador

Uma das líderes no ranking nacional de shopping centers, a General Shopping Brasil anunciou, em parceria com o banco de investimentos BR Partners, o terceiro empreen-dimento de outlet no país: o Outlet Premium Salvador. O novo empreendimento será na Estrada do Coco, BA 099, e os investidores foram atraídos pelo potencial turístico da região. “O empreendimento trará grifes nacionais e interna-cionais com até 80% de desconto”, explica o diretor de mar-mar-keting e varejo da empresa, Alexandre Dias. O novo centro de compras terá 27 mil m2 de ABL (àrea bruta locável) total projetada em um terreno de 121.020 m2. Ao todo, serão 120 lojas e aproximadamente 140 marcas de vestuário, calça-dos, enxoval, entre outros. O projeto tem construção em formato circular. O estacionamento será interno, com vagas para 2.000 veículos. A General Shopping Brasil é pioneira em outlets no Brasil.

Mansão Caymmi

Uma das maiores incorporadoras da região Nordeste, com sede no Recife e filiais em Maceió, Salvador, Fortaleza e Natal, a Moura Dubeux lançou o Mansão Caymmi, um residencial localizado no Caminho das Árvores. O valor geral de vendas (VGV) do empreendimento é estimado em R$ 61 milhões. Em um terreno de mais de 2,6 mil m2, serão erguidos 64 aparta-mentos de 160 m2 (cada), em uma torre de 32 andares. Infraestrutura de lazer, quatro quartos e três varandas são alguns dos diferenciais desse resi-dencial. Os presidentes da empresa, Gustavo e Marcos Dubeux, pretendem ampliar os investimentos na Bahia lançando mais três empreendimentos residenciais, um empresarial e um hotel.

FOTO: Divulgação

FOTO: AlexandreDias

Gustavo e Marcos Dubeux com Danilo Caymmi

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SUSTENTABILIDADE INCORPORADA À GESTÃO

Mestre em arquitetura e urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), a diretora de produtos da Syene Empreendimentos, Jealva Fonseca, sabe que os bons projetos se sustentam em três pilares: econômico, social e ambiental. Palestrante requisitada, ela defende com entusiasmo a adoção de práticas sustentáveis nos debates onde reúne arquitetos, estudantes, professores e profissionais do mercado imobiliário.

Neste momento, Jealva e sua equipe ajustam detalhes de projetos dos próximos lançamentos da Syene: um multiuso, comercial e residencial, a exemplo do Salvador Prime, além de um empreendimento comercial. “A sustentabilidade é levada em conta em todas as etapas desses projetos.”, afirma a diretora.

Ela assume uma postura de educadora, relembrando a época em que foi professora da Faculdade de Arquitetura da Ufba, para explicar que “uma empresa sustentável preserva o meio ambiente, mantendo a responsabilidade com as questões econômicas e sociais”. Jealva menciona o exemplo do Syene Corporate, o primeiro edifício comercial Green Building do Norte e Nordeste, para reforçar que a empresa do grupo espanhol Copasa adota práticas responsáveis em relação aos empregados, fornecedores, parceiros, clientes e toda a comunidade.

O Corporate obteve a certificação ao conquistar o Selo de Alta Qualidade Ambiental (Aqua). E mais: o canteiro de obras do Salvador Prime foi classificado pelo Banco Santander como obra sustentável. “Esses exemplos demonstram que estamos focados em analisar critérios de viabilidade econômica, social e ambiental”, assegura.

Nova diretoria no Circuito de Alta Decoração

Criar projetos voltados para a melhoria contí-nua da qualificação dos profissionais de arqui-tetura e decoração, através de parcerias com as universidades, está entre as prioridades de Tâ-nia Dias, presidente do Circuito de Alta Decora-ção para o Biênio 2012/2013. Sócia da Artimex e uma das fundadoras do circuito, ela assumiu a presidência no lugar de Daidone Júnior.

Novo livro de Fernando Peixoto

A edição on-line do livro “4 Projetos - Fernan-do Peixoto Arquiteto” está disponível para consulta no site www.fernandopeixoto.com. A publicação destaca três empreendimentos comerciais e um residencial com a marca do mestre: o Shopping Paralela, em Salvador; um hotel de classe econômica, também localizado na capital baiana; a sede de uma multinacio-nal, na Suíça; e uma casa de praia em Angra dos Reis/RJ. Graduado pela Faculdade de Ar-quitetura da Ufba, Fernando Peixoto tem mais de dois milhões de m2 de projetos residenciais e comerciais, executados em dez estados do Brasil e no exterior.

Nova sede do Sinduscon-BA

A sustentabilidade está incorporada ao proje-to da nova sede do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado da Bahia, cuja obra foi iniciada em maio. A ideia é que o imóvel seja um modelo capaz de estimular as práticas de construção sustentável entre as construto-ras e incorporadoras baianas. O projeto prevê implantação de medidores individuais de água, uso de energia solar, isolamento térmico de pa-redes externas, criação de terraços vegetaliza-dos e a implantação de sistemas inteligentes de gerenciamento. A área total construída é de aproximadamente 2.750 m2. De acordo com o presidente do sindicato, Carlos Alberto Vieira Lima, o projeto será submetido ao processo de certificação Aqua.

FOTO: Divulgação

26 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

EXPE R IÊN C IAS

T udo começou em 1991, quando Alice, graduada em dança e mestre em

coreografia, retornou do mestrado nos Estados Unidos e iniciou o trabalho com o método Pilates no Brasil. A Physio Pilates está dividida em duas empresas: a fábrica de equipamentos, situada no Centro Industrial de Aratu (CIA), e os cursos de formação de profissionais no Brasil inteiro. Atualmente, mais de 3.000 centros de atividades físicas na América do Sul, entre estúdios independentes e academias que oferecem o método Pilates e Gyrotonic, tiveram origem a partir da formação de profissionais ou aquisição de equipamentos Physio Pilates.

“Os estúdios começaram com Alice, mas não dizem respeito hoje às atividades do dia a dia com as quais nos envolvemos. Hoje, essas unidades são de clientes licenciados da Physio Pilates, que reconhecem a empresa com todo o valor e experiência que ela tem”, explica Soares. De acordo com ele, o faturamento da Physio Pilates cresceu 10% entre 2010 e 2011. “Com a queda de juros recente que está sendo promovida pelo governo, nossa expectativa é ter uma surpresa positiva em 2012, superando a marca de 10%”, projeta o empreendedor.

“A Physio Pilates é licenciada por

três empresas de grande renome

internacional: Balanced Body,

Gyrotonic e Polestar

Education”

PILATES: SAÚDE PARA CORPO, MENTE E NEGÓCIOS

FOTO: Rômulo Portela

O crescimento não é à toa. Na visão do empresário, entre os fatores que justificam o sucesso da empresa estão o processo contínuo de capacitação dos profissionais (cerca de 70), além da qualidade dos equipamentos produzidos na fábrica.

O método Pilates foi criado pelo alemão Joseph Hubertus Pilates. Em 1923, Pilates mudou-se para Nova York, quando abriu o primeiro Studio de Pilates. Muitos dos alunos de Joseph Pilates abriram os próprios estúdios e difundiram a técnica, fazendo também importantes contribuições para o desenvolvimento e o aprimoramento do método. Alice Becker foi a primeira brasileira a se certificar para instrução da técnica de Pilates.

Em 2007, Juliu Horvarth, criador do método Gyrotonic, esteve na fábrica da Physio Pilates, desenvolvendo com Cláudio equipamentos exclusivos. Hoje a Physio Pilates foi escolhida pela Gyrotonic para fabricar e comercializar os seus equipamentos com exclusividade para a América do Sul. [B+]

Uma prática que traz benefícios para o corpo e a mente também pode ser um negócio rentável. Prova disso é a Physio Pilates, administrada pelos sócios e cônjuges Cláudio Soares e Alice Becker

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EXPE R IÊN C IAS

DOCERIA ARGENTINA COM EMPREENDEDORISMO BAIANO

Juntos, eles somam apenas 49 anos de idade, mas já são responsáveis por expandir no Brasil uma das principais docerias argentinas. Estamos falando de Rafael Gontijo e José Andrade, proprietários da franquia da Abuela Goye, no segundo piso do Salvador Shopping desde 2009

porMURILO

GITEL

fotosRÔMULO

PORTELA

29 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m j u n h o 2 0 1 2 Revista [B+]

E specializada em produtos artesanais patagônicos, a Abuela Goye existe há mais

de 30 anos em Bariloche, onde foi fundada por colonos suíços, povos de outras nacionalidades europeias e da própria Argentina. “Morei na Argentina durante quatro meses para estudar espanhol, em um intercâmbio, e vislumbrei no alfajor um grande negócio”, relata Rafael Gontijo, 25 anos, que inicialmente idealizou abrir uma cafeteria com marca própria, mas não teve a aprovação do shopping à época.

Foi aí que entrou a pitada de sorte. O argentino Ricardo Sérgio Tissera, dono da Abuela Goye, veio passar férias em Salvador há cerca de três anos. Gontijo, então, entrou em contato com o empresário, que acabou lhe mostrando algumas das delícias da famosa doceria argentina. Fecharam negócio. Dessa vez, o shopping não demonstrou resistência ao abraçar a ideia que cresce, em média, 20% ao ano.

“Nossos diferenciais são a gama de produtos que disponibilizamos, tais como sorvetes, alfajores, tortas, geleias, bombons, todos com aspectos patagônicos, de forma artesanal”, destaca Gontijo. Segundo ele, os produtos feitos com doce de leite têm mais saída. Um dos carros-chefes é a torta mil folhas, composta por massa

folhada. Os sorvetes também contam com grande demanda.De acordo com Gontijo, os dois primeiros anos serviram

como uma fase de estruturação. “Um período para adequar a marca no Brasil”, completa Andrade, 24 anos. Os jovens sócios projetam crescimento do negócio. Uma franquia da Abuela Goye será aberta em junho, no Park Shopping, em Brasília. Em setembro, Salvador receberá a segunda loja, dessa vez no Shopping Barra. Um mês depois virá a unidade do shopping Rio Mar, em Recife. Mas engana-se quem pensa que eles vão parar por aí.

“Estamos em processo de negociação para abrir mais três lojas, uma em Salvador, uma em Teresina e a outra em Brasília”, informaram, sem citar os locais das instalações, pois ainda falta concretizar as empreitadas. Os empresários também miram os mercados do Sudeste e do Sul.

Outra meta dos sócios é a construção de uma fábrica de pequeno porte no Brasil para produção local. “Nesse caso, importaríamos só os insumos”, explica Andrade. Eles estudam qual seria o estado mais adequado para este empreendimento. Atualmente, Gontijo e Andrade importam todos os produtos disponíveis na Abuela Goye, com exceção do café – as mercadorias chegam da Argentina de navio.

Uma das dificuldades é que as encomendas precisam ser feitas com até dois meses de antecedência. “Com uma fábrica aqui no país, evitaríamos uma série de riscos, como medidas protecionistas, instabilidade cambial, além de desenvolvermos a indústria local”, enumera Gontijo. [B+]

A Abuela Goye terá mais duas lojas em Salvador, além de Brasília, Recife e Teresina. O próximo passo é também construir uma fábrica de pequeno porte no Brasil.

30 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

pessoas com talentos complementares. O trabalho fica meio capenga quando os talentos são iguais”, acredita.

Entre os trabalhos de Tina, destacam-se as embalagens para a empresa Aromarketing, em que desenvolveu criações de papel, papelão, de vidro (deo colônia), material PET e bisnagas. No Carnaval, juntou-se à colega designer Ronia Albiani, que conheceu há 14 anos na Mago, para desenvolver a comunicação visual do camarote Cerveja e Cia, e agora elabora projetos para o Depósito do Sofá, que inaugurou a quinta loja do grupo, na Pituba. [B+]

A profissional de expressões pró-ativas e personalidade repleta de autenticidade conquistou uma gama variada

de clientes em mais de 15 anos de estrada. A designer baiana Tina Guedes já desenvolveu trabalhos de comunicação, identidade visual, editoriais e produtos, geralmente de forma autônoma. Na década de 90, formou-se em administração de empresas e em desenho industrial. De lá para cá, busca alinhar o que aprendeu na academia com as experiências de mercado para criar soluções em design diferenciadas.

Um dos focos dela é a preocupação com a sustentabilidade de suas peças. Especialista em rótulos e embalagens, Tina sugere um “novo olhar” para a importância deles e a destinação adequada ao final do uso. “Já fiz embalagens lindas, mas que vão imediatamente para o lixo, porque as pessoas consomem os produtos e as descartam. A embalagem é super importante para você vender o produto, informar sobre ele, acondicioná-lo da melhor forma. Porém é fundamental trabalhar com embalagens ambientalmente corretas, que não desperdicem materiais e que possam ser reutilizadas”, ressalta.

Perguntada sobre o que considera como suas principais características, ela não titubeia: “O comprometimento e a disciplina. Mais importante que o talento é ter comprometimento com o trabalho. Trabalhamos com prazos muito curtos, com demandas urgentes”, observa.

Embora tenha desenvolvido como autônoma a maior parte dos seus trabalhos, Tina também já atuou em equipe, ao ter prestado serviços para o Liceu de Artes e Ofícios, Pamdesign, Mago Comunicação e Link Produtora. “Eu me ajusto bem quando trabalho em projetos de equipe, mas quase sempre fui autônoma. Eu penso que o trabalho em sociedade funciona quando achamos

TINA GUEDES:

EXPE R IÊN C IAS

“É importante se trabalhar com embalagens ambientalmente corretas, que não desperdicem materiais e possam ser reutilizadas”

ALGUNS TRABALHOS:

Identidade Visual: Las Margaritas (restaurante); Camacã (design em madeira); Mamasson (clínica); Grão Santo (café); Depósito de Sofá (móveis).

Comunicação Visual: Grande Laguna Quintas de Sauipe (residencial); Odebrecht Empreendimentos Imobiliários; Camarote Cerveja e Cia.

Editoriais: Roberto Alban Galeria de Arte (Pamdesign); Claro Salvador e Recife, Movicel e Coelba (gráfica Santa Helena).

Produtos: Baralho; Calendários (Uranus 2); Presentes personalizados em geral.

FOTO: Rômulo Portela

NEGÓCIOS

FORMAÇÃO DE JOVENS LÍDERES

UNIÃO DE CAFÉ COM CULTURA

BATE-VOLTA PRO SÃO JOÃO

34 38 42

START UP 32 | [C] LUIZ MARQUES 46 | [C] RENATO MENDONÇA 48

32 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

NEG Ó C IO S | s ta r t u p

BRAILE, MOTUS E NASA C riatividade não tem hora. Uma prova

dessa afirmação aconteceu com Bruno Cavalcanti, Daniel Veiga e Lucas Costa

Mendes, estudantes do curso de engenharia mecatrônica da Universidade Salvador (Unifacs). Foi durante o intervalo, quando faziam o lanche na cantina, que desenvolveram o que seria a impressora em Braile. O motivo era criar algo barato e que rendesse boas notas. O resultado foi além.

O trio de estudantes usou uma impressora jato de tinta sucateada e R$ 300 para adaptar a máquina e conseguir imprimir o sistema de leitura com o tato para cegos, inventado pelo francês Louis Braille no ano de 1827, em Paris. No mercado internacional, uma similar custa cerca de 2.600 euros. O projeto chamou a atenção dos professores e foi reconhecido nacionalmente por meio do prêmio Desafio Brasil 2010 (etapa regional) e Idea to Product 2010, da Fundação Getúlio Vargas.

A impressora, então, foi o despertar dos estudantes baianos para o potencial que tinham para criar produtos que auxiliem as pessoas. Daniel, 22 anos, e Bruno, 26, deram sequência em outro projeto. Desta vez, com a participação de Bruno Soares, 22 anos, criaram uma palmilha batizada de Motus.

Ela permite o movimento das pernas de pessoas que sofrem de hemiplegia, uma paralisa de alguma parte do corpo provocada, em geral, por doenças cerebrais focais, em especial uma hemorragia cerebral. A Motus é uma central de processamento de dados ligada ao músculo por meio de eletrodos e acionada por sensores que detectam as características do passo a ser dado após a retirada do calcanhar do chão. A ideia partiu de Daniel motivado a ajudar o irmão, que fazia sessões de fisioterapia, após uma crise de AVC.

O projeto também foi vencedor e conquistou o Ideias Inovadoras 2011. Com o prêmio, Daniel foi convidado a participar do 55º encontro anual

por LARISSA SEIXAS

Ainda estudantes, mas cheios de conquistas. A realidade de jovens de duas universidades de Salvador revela o potencial criativo e metas audaciosas que vão além da fronteira nacional

Daniel Veiga, Bruno Rabelo e Bruno Cavalcanti

FOTO: Rômulo Portela

33 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m j u n h o 2 0 1 2 Revista [B+]

da Clinton Global Initiative University, promovido pela Fundação Bill Clinton, nos Estados Unidos. O evento abriu portas para a empresa Vitae, formada pelos três estudantes, que deu início a parcerias com organizações norte-americanas.

Porém a realidade dos universitários ainda é parecida com a de boa parte dos cientistas no Brasil. Eles reclamam da falta de investimento nacional e da burocracia que acompanha os editais de subvenção. Para Daniel, é “decepcionante ter que sair do país para ser reconhecido. Em outra nação, apesar das melhores condições de vida, você sempre será um estrangeiro, na terra de outro povo e longe de sua família”.

De malas prontas para a Nasa Sair do país foi o caminho encontrado pelo baiano

Carlos Andrade Viana Silva, 22 anos, estudante de ciências da computação da Ufba, para trilhar uma carreira de sucesso. Após conseguir vaga no Stevens Institute of Technology, de Hobboken, no estado de New Jersey, Estados Unidos, por meio do programa Ciências sem Fronteiras, ele planejou e entrou em uma pesquisa voluntária de dois meses na Agência Espacial Americana (Nasa).

Sem passar por nenhum processo seletivo, o que contou para que Carlos conseguisse a vaga foi uma estratégia bem planejada. “A engenharia final foi ter sabido encontrar os pesquisadores dentro da Nasa que tinham a mesma área de pesquisa que eu e, entre eles, achar um mentor inativo dentro do grupo. Então, eu não

mandei um e-mail em busca de estágio, mas sim de um mentor”, explica.

Foi dessa forma que conheceu a pesquisadora com quem desenvolve um projeto no Centro de Pesquisas Ames. Antes de conversar com ela, já sabia quais particularidades do seu currículo deveria exaltar e como fazer a abordagem. Carlos hoje faz parte de um grupo que realiza pesquisas em conjunto com as universidades do Havaí e Drexel, além do capítulo brasileiro que criou para a Association for Computing Machinery - a única representação dessa sociedade em todo o país.

O professor Eduardo Almeida, coordenador do mestrado de ciências da computação da Ufba e orientador de Carlos, vê com naturalidade e alegria a conquista do aluno. Para Almeida, o estágio da Nasa comprova o talento e dedicação dele.

“Eu quero passar o que consegui aprender a outros estudantes brasileiros e dar a mesma oportunidade que tive a eles. É bom ter esse tipo de conquista pessoal, muito maior é quando você, como orientador, consegue ver o crescimento de alguém que você ensinou”, projeta Carlos Andrade. [B+]

Estudantes de todo o mundo reunidos no

encontro anual da Clinton Global Initiative University

“É decepcionante ter que sair do país para ser reconhecido” Daniel Veiga, estudante de engenharia mecatrônica

“Quero passar o que consegui aprender a outros estudantes brasileiros e dar a mesma oportunidade que tive a eles”Carlos Andrade, estudante de ciências da computação

FOTO: Divulgação

34 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

B asta jogar no Google as palavras “jovem” e “empreendedor” para encontrar uma profusão de dicas sobre como trilhar uma carreira

de sucesso. Além dos clássicos livros de autoajuda, a internet complementa essa extensa bibliografia com dicas multimídias que “vão te transformar num executivo de sucesso”. O conteúdo, quase sempre, é o mesmo: a pessoa deve ser inovadora, criativa, tolerante, resiliente, ter capacidade de adaptação, falar outras línguas...

Mas o que é mesmo que significa tudo isso? Na prática, de onde saem os jovens empreendedores? Qual a trajetória percorrida por novos talentos? O que eles fazem para conseguir altos postos de trabalho com tão pouca idade?

Ao entrar na Empresa Júnior da Faculdade de Administração da Ufba, começamos a encontrar algumas respostas. Uma recepção recentemente reformada, com o devido símbolo da instituição, dá as boas-vindas aos que chegam, inspirando empreendedorismo. O presidente, Murilo Vilpert, está finalizando um processo seletivo e pede desculpas por se atrasar para a entrevista. Tudo extremamente profissional.

Na sala de reunião, percebo que estou em frente a um homem de negócios. Inato ou não, o comportamento me surpreende quando descubro que Murilo tem 19 anos. De trainee a presidente, ele hoje sabe fazer pesquisa de mercado, plano de marketing, análise financeira e plano de negócios, só pra citar algumas das habilidades adquiridas na EJ.

Murilo conta que existe toda uma preparação para fazer parte da Empresa Júnior, a começar pelo processo seletivo, que é bastante semelhante ao de grandes companhias, como Braskem e Price: “Para entrar na empresa, na primeira fase, o estudante faz uma prova escrita e uma redação; depois de aprovado, passa por uma dinâmica em grupo; só depois vem a última etapa,

NEG Ó C IO S | ed u cação

Conhecimento, experiências, hábitos de vida e até mesmo esportes... São muitos os requesitos para a formação dos novos profissionais. Ter sucesso é uma equação que inclui muito esforço. Conversamos com jovens que estão apostando alto na própria formação

por BRISA DULTRA

O presidente Murilo Vilpert com a equipe

da Empresa Júnior da Faculdade de

Administração da Ufba

DE ONDE VÊM OSJOVENS TALENTOS?

FOTO: Rômulo Portela

35 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m j u n h o 2 0 1 2 Revista [B+]

com a entrevista individual. Um processo que leva cerca de um mês a um mês e meio”, afirma.

O novo membro passa por cinco diretorias - de presidência, de gerenciamento de projetos, de análise de mercado, financeira e de gestão de pessoas -, participando de grupos de estudos em todas elas. Ao final de cada rodízio, o estudante faz uma prova preparada pela diretoria responsável. Para finalizar, é necessário realizar um estudo de caso fictício, durante dois meses e meio. O plano de carreira é bem desenhado: trainee, analista, consultor, consultor sênior e diretor.

Há uma perfeita reprodução do microcosmo business dentro da Empresa Júnior, com desafios reais, metas e muito aprendizado. A prestação de serviços para empresas de verdade torna o trabalho ainda mais exigente. As consultorias têm em média um valor de R$ 7 mil e o dinheiro recebido é todo revertido em benefícios para a própria Empresa Júnior, como reformas e treinamento da equipe.

Vice-presidente da Associação de Jovens Empreendedores da Bahia (AJE) e diretor de planejamento e gestão da Confederação Nacional de Jovens Empresários (Conaje), Rodrigo Paolilo, 29 anos, ainda arranja tempo para gerenciar a sua unidade do restaurante Mariposa, no Boulevard 161. O jovem empreendedor atribui o sucesso à sua passagem pela Empresa Júnior: “Lá, tive a possibilidade de aprender e vivenciar a gestão de uma empresa, os desafios de um líder e o conhecimento de uma realidade de mercado”. Paolilo destaca ainda o fato de essa experiência ter lhe trazido maturidade e vivência em projetos grandiosos. “Isso me deixou um passo à frente, principalmente pela visão estratégica e sistêmica que não se aprende nas escolas”, declara.

Ter conhecimento, entretanto, não é suficiente para ser um jovem talento. Experiências de vida contribuem para o desenvolvimento da personalidade e aquisição daquelas tantas qualidades requeridas a um profissional de sucesso. Nesse sentido, vivências no exterior são mais que bem-vindas.

A Aiesec é uma rede internacional de intercâmbios culturais que permite a milhares de estudantes a oportunidade de viajar por diversos países e trabalhar em ONGs como voluntários ou em empresas associadas, ganhando uma bolsa de trabalho. “A Aiesec envolve jovens de diferentes formações, culturas e interesses. São 60 mil membros, de diversos países, conectados numa só plataforma. Assim, eles têm acesso a todas as vagas disponibilizadas, desde intercâmbios profissionais a programas de voluntariado, e podem escolher o que está mais de acordo com o seu perfil”, explica o presidente da

“Desenvolvemos competências, criamos

projetos para ONGs locais, buscamos empresas

parceiras, recebemos os estudantes estrangeiros e damos todo o suporte que

precisam quando estão aqui. É enriquecedor!”

Felipe Barreto, diretor da Aiesec

Mateus Miranda passou dois meses na Argentina e Felipe Barreto seguiu rumo à Rússia

Lais Valverde, diretora administrativa

da empresa baiana Master Glasses,

trabalhou na Colômbia e trouxe forte sensibilidade

econômica

FOTO: Yuri Rosat

FOTO: Marcos Varela

[+] NO SITE :

Depoimentos e fotos de voluntários da Aiesc

36 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

Aiesec Salvador, Mateus Miranda, que passou dois meses em La Plata, na Argentina, trabalhando na ONG Banco Alimentário.

“As pessoas que participam do programa já viajam sabendo onde vão trabalhar, qual o perfil dessa empresa ou ONG, as atividades que irão exercer, bem como as características que devem possuir para tal”, afirma Felipe Barreto, diretor de relações externas da instituição. Felipe conta que, em 2011, Salvador recebeu 42 intercambistas pela Aiesec, de 21 países. “Nosso trabalho no escritório também é enriquecedor. Desenvolvemos competências, criamos projetos para ONGs locais, buscamos empresas parceiras, recebemos os estudantes estrangeiros e damos todo o suporte que precisam quando estão aqui”, explica Felipe, que trabalhou na Aiesec da Rússia, quando fez intercâmbio no país por sete semanas, em São Petersburgo.

Estar em um ambiente multicultural, quebrar paradigmas, construir um network além das fronteiras do Brasil são algumas das experiências para quem está ligado à instituição. Para participar, são apenas duas condições: ser estudante de alguma universidade (ou ter se formado há, no máximo, dois anos) e ter entre 18 e 30 anos.

Lais Valverde, diretora administrativa da empresa baiana Master Glasses, entrou na Aiesec quando cursava o terceiro semestre de administração de empresas. Lá, teve seu desenvolvimento como líder e gestora acelerado: “Após três cargos de liderança, percebo que fiquei mais resiliente, agucei a minha visão empreendedora. A autonomia que tinha para construir estratégias, estipular metas, sugerir investimentos e estabelecer parcerias foi fundamental para a minha autoconfiança”, afirma Lais, que trabalhou em uma organização não-governamental em Medellín, Colômbia.

A experiência de trabalhar em outro país, como foi o caso na Colômbia, trouxe a Lais uma forte sensibilidade econômica. “Eu percebi que cada país tem um estilo de fazer negócios. A diferença de procedimentos é muito grande. Quando penso em exportar nossos óculos, já consigo identificar traços de estilo de modelos, formas de publicidade e venda que teremos que seguir para ter sucesso na Colômbia e outros países similares da América Latina”, conta a diretora da Master Glasses. Hábitos e criatividadeHoje, grandes multinacionais, em seus processos seletivos para trainee, priorizam hábitos de vida a experiências curriculares. No processo seletivo para a Red Bull, realizado pela empresa Vereda RH, por exemplo, uma das atividades da dinâmica em grupo era responder: “Qual a maior loucura que você já fez na vida?”. Além disso, a criatividade era a característica mais valorizada nos participantes do processo, que tiveram que se apresentar da forma mais inovadora que encontrassem para uma banca de executivos estrangeiros.

A arte, nesse sentido, é um importante meio para estimular a sensibilidade e desenvolver as percepções criativas. Não só o contato com obras importantes, mediado por arte-educadores, mas a própria incursão neste mundo, através da informação e da produção artística. “Na arteterapia, por exemplo, você busca o autoconhecimento através da expressão artística, desenvolvendo sua criatividade e conquistando autoconfiança”, afirma a arteterapeuta Claudia Reis.

Praticar esportes também é importante para o futuro empreendedor de sucesso. Paolilo, por exemplo, destacou a importância da natação em sua vida profissional: “A atividade ajudou muito a formar a minha personalidade através da disciplina, competitividade, humildade, trabalho em equipe. Saber ganhar e perder é algo muito importante e, quando convivemos com isso desde cedo, nos preparamos também para os desafios profissionais”. Lais ressaltou a dança na sua formação profissional: “Fiz balé durante sete anos ininterruptos e voltei no ano passado. A disciplina, superação e leveza são pontos que trago para cada área da minha vida”.

Muito mais que frequentar lugares específicos, a história de cada um é muito importante para o sucesso profissional. Enxergar oportunidades, buscar boas instituições e abrir o corpo e a mente para vivenciar novas experiências são só o começo da história. O resto depende de você. [B+]

A natação ajudou a formar a personsalidade de Paolilo: disciplina, competitividade,

humildade e trabalho em equipe

FOTO: Rômulo Portela

38 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

NEG Ó C IO S | comérc i o

CAFÉ E CULTURA

Solar Café, no Museu de Arte Moderna da Bahia

Instalados em ambienteis culturais, o Solar Café e o Feito a Grão cativam um público exigente, em busca de charme e cardápios diferenciados. Um mercado que se consolida em Salvador

por LARISSA SEIXAS E VINÍCIUS SILVA fotos RÔMULO PORTELA

39 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m j u n h o 2 0 1 2 Revista [B+]

D epois do almoço, na hora do lanche ou acompanhado de uma boa leitura, o café reina como uma das paixões nacionais. Mas não é só

na produção da semente que o país se destaca. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), são consumidas cerca de 314 milhões de xícaras da bebida por dia. Um número que coloca o Brasil como o segundo país que mais consome café no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

Um novo mercado de café espresso (escrito com “s”, de “espremido” e não de “rápido”) passou a ser desenvolvido há 15 anos. Mesmo sendo o maior exportador e produtor da bebida no mundo, o Brasil só começou a apreciar o café de qualidade nos anos 2000, e a Bahia a partir de 2006. Antes, o grão de primeira categoria era exportado para países do norte da Europa, Japão e Estados Unidos.

Quando o mercado interno percebeu a oportunidade do café especial, começaram a surgir novas cafeterias, cursos de especialização de baristas e até concursos de quem faz o melhor café. Atualmente, esse nicho representa 5% do total do faturamento da indústria cafeeira nacional, e abre oportunidades para a expansão de cafeterias dos mais diferentes formatos, para todos os tipos de público.

Feito a GrãoAlinhando o gosto por cafés especiais a espaço calmo e rodeado por livros, a cafeteria Feito a Grão iniciou os trabalhos há cinco anos e acompanhou o crescimento do café especial em todo o Nordeste.

Donos de cafés investem em um público diferenciado, com interesse

em leitura, cinema e teatro

Georgia Szperor, sócia do Feito a Grão, acredita no setor e expande a rede para Recife, Aracaju e São Paulo

40 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

A expansão da empresa começou quando a rede Saraiva comprou as Livrarias Siciliano. O então diretor de novos negócios da livraria visitou diversas cafeterias em shoppings de Salvador até encontrar o Feito a Grão. Georgia Szperor foi quem idealizou o café junto com o marido. Sobre a escolha da Saraiva, ela explica: “Quando ele visitou o Shopping Itaigara, sentou no Feito a Grão e gostou da proposta. A nossa equipe estava bem treinada para falar sobre a novidade dos cafés especiais para o público soteropolitano. Foi então que recebemos o convite para abrirmos uma filial dentro da primeira Saraiva no Nordeste, que seria inaugurada no Salvador Shopping”.

A oportunidade serviu para expandir os negócios, que passou a receber não somente o público apreciador de café, mas também pessoas que frequentam ou passeiam pela livraria e param para fazer algum lanche. “Para nós, é fantástico estar em um ambiente cultural. É um público diferenciado, apaixonado por novos conhecimentos, que curte café, leitura, cinema e teatro”, exalta Georgia.

Para a empreendedora, este é um mercado que vai continuar crescendo. “Estamos apostando nisso, pois já temos nove lojas Feito a Grão, sendo quatro em Salvador, uma em Recife, outra em Aracaju e mais três em São Paulo”. Ela e seu marido já têm planos de futuramente franquiar a marca.

Solar Café, no Palacete das Artes. A maioria dos frequentadores mora nos bairros próximos ao museu

Solar CaféA mesma atmosfera cultural está presente para quem visita o Solar Café, nas filiais do Museu de Arte Moderna (MAM) e do Palacete das Artes, em Salvador. Aberto em 2008, a partir de um convite do MAM, o Solar vai além dos drinques de café requintados, e passa pela gastronomia contemporânea e bom gosto em design, de quem sabe aproveitar a vista da Baía de Todos os Santos, o que transforma o espaço em algo intimista e aconchegante. “O projeto era temporário, mas percebemos que havia uma forte demanda ao unirmos um espaço gastronômico a um centro cultural”, explica Maíra D’Oliveira, uma das sócias-gerentes do Solar Café.

A mesma preocupação rege a filial instalada no Palacete das Artes, no bairro da Graça, que abriga as obras do artista francês Auguste Rodin. Uma das preocupações das empresárias é aproveitar o potencial da localização cultural e estabelecer um diálogo entre o formato do café e a equipe do museu.

“Tanto no Palacete das Artes quanto no MAM, nós treinamos nossos funcionários para saberem das exposições e as atrações que estão sendo realizadas no momento. Eles visitam e assistem para conhecer e também divulgar aos clientes que frequentam o Solar Café”, explica Maíra.

Normalmente, turistas internacionais e alunos em excursão são os clientes que mais frequentam ambos os espaços. No entanto, Maíra garante que 60% do público é local. “No Museu Rodin, a maioria dos frequentadores mora nos bairros próximos ao Palacete. Isso cria certa fidelidade e estabilidade nas visitas”, complementa a sócia Andréa Nascimento.

Para elas, o público de Salvador está cada vez mais exigente, e essa demanda possibilitou o crescimento do negócio há alguns anos. Ao unir o charme do espaço com a qualidade do cardápio, o café atende a vários clientes e momentos, seja uma reunião no almoço, em um lanche à tarde, ou um romance à noite. [B+]

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NEG Ó C IO S | são joão

I r e voltar de uma festa sem se preocupar com onde estacionar, poder conhecer novas pessoas, repousar enquanto retorna

e evitar custos com hospedagem são algumas das vantagens vendidas pelas empresas que oferecem o serviço de “bate-volta”. Em época de São João, a procura por esse transporte cresce e, em 2012, a expectativa das agências de viagens é que aumente ainda mais.

Léa Souza é diretora da Veromundo e conta que os festejos de São João representam 60% do faturamento anual da agência. No mês de junho, a empresa costuma atender cerca de cinco mil clientes entre pacotes de excursão (que incluem hospedagem no destino) e bate-volta. Para este ano, Léa estima um aumento de 20% na procura, como explica: “O São João será em um fim de semana, haverá maior demanda pelo bate-volta, já que as pessoas não terão folga para se hospedar no interior”.

O empresário João Tenório, sócio da empresa Festas e Farras, oferece há dez anos o serviço.

FOTO: Mateus Pereira/Secom

por MILENA MIRANDA

PROXIMIDADE DO SÃO JOÃO AUMENTA VENDA DE PACOTES DE BATE-VOLTAProprietários de agências de viagem apontamLei Seca como um dos principais fatores para o crescimento do segmento

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“Sem dúvida, a maior demanda por bate-volta e excursão acontece nesse período do ano”, ressalta. Tenório espera trabalhar com uma média de 30 ônibus nos dias das festas de São João. Já Patrese Dias, sócio da Paladiu’s Eventos, conta que o período representa 40% do faturamento da empresa. Este ano, eles oferecem bate-volta para quatro cidades do interior da Bahia.

Os destinos mais procurados são Mata de São João, Santa Bárbara, Senhor do Bonfim, Jequié, Itiruçu, Catu, Serrinha, Ibicuí e Feira de Santana, além das cidades do Recôncavo, como Amargosa, Cruz das Almas e Santo Antônio de Jesus.

Léa Souza conta que os organizadores das festas no interior apoiam o trabalho de bate-volta para beneficiar o trânsito nas proximidades dos eventos. Afinal de contas, cada ônibus leva 50 pessoas que, teoricamente, deixaram os carros estacionados em casa. O público é formado, principalmente, por pessoas de 18 a 38 anos. “Eles preferem ir no ônibus atraídos pela comodidade e pela diversão”, acredita João Tenório.

É o caso do gerente comercial Rafael Chaves. “Gosto do bate-volta, pois além de não me estressar com engarrafamento, faço novas amizades, já que o clima no ônibus favorece a integração e facilita a ‘paquera’”. Ele afirma que compra pacotes de bate-volta há dez anos sempre com a mesma empresa.

FOTOS: Rômulo Portela

Patrese Dias, sócio da Paladiu’s Eventos

Léa Souza, diretora da Veromundo

“O setor cresceria ainda mais se a Lei Seca fosse

aplicada com mais rigor”João Tenório, Festas e Farras

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Opções de pacotesNa acirrada disputa por clientes,

as empresas baianas oferecem diversos “mimos” extras, como cobertura fotográfica, serviço de bordo, presença de monitores, além de permitir combinações nos pacotes. O cliente pode escolher um serviço que inclui água e refrigerante ou um open bar, que serve cerveja e canecas de chope. Alguns pacotes acrescentam uísque, vodca, energético, espumante, cervejas nacionais e importadas.

Em geral, o valor do bate-volta em Salvador varia de R$ 60 a R$ 120, a depender da distância da cidade. Para oferecer mais comodidade aos clientes, as empresas oferecem ainda pacotes que incluem o ingresso e a camisa da festa.

Lei SecaDe acordo com as agências de

viagem, a aplicação da Lei Seca nas estradas contribuiu com o sucesso do segmento. “O setor cresceria ainda mais se a Lei Seca fosse aplicada com mais rigor”, afirma João Tenório. Esta pode ser a nova realidade, já que está em tramitação um projeto para “endurecer” ainda mais a Lei Seca, criando mecanismos novos para punir motoristas embriagados.

O projeto prevê a ampliação das provas contra os motoristas, com a inclusão de imagens de câmeras ou celular, testemunhas que podem ser outros motoristas, pedestres ou até mesmo os agentes de trânsito, exames clínicos e perícia. Além disso, determina o aumento do valor da multa para quem for flagrado dirigindo sob influência do álcool, de R$ 957,69 para R$ 1.915,38. [B+]

Há cinco anos contratei uma excursão para o Trivela em Ilhéus. Foi a maior farra no ônibus e, entre brincadeiras conheci meu atual namorado. Dois anos depois, retornamos ao Trivela e, novamente, contratamos o serviço de transporte ida e volta. Hoje temos amigos em comum que conhecemos na festa. Adoro o bate-volta pela comodidade e segurança, de poder beber à vontade sem ter que dirigir.

Tive uma experiência negativa e não pretendo mais contratar excursão ou bate-volta. Ano passado, fui com minhas amigas para Ibicuí. Estava previsto para o ônibus sair às 20h, mas só viajamos às 2h da madrugada. Ficamos esperando os monitores aparecerem no Jardim dos Namorados, local que havíamos acertado previamente, mas eles chegaram ao local seis horas depois. Para completar, havíamos comprado o pacote open bar, mas as cervejas tinham acabado de ser compradas e ficamos esperando algumas horas para que gelasse. No retorno, não voltei com o grupo, mas soube que faltou combustível no ônibus e eles ficaram parados na estrada.

“Adoro o bate-volta pela segurança e também pela integração”Cíntia Castália, publicitária

“Foi um transtorno. A empresa só apareceu seis horas depois do horário combinado” Aline Rodrigues, jornalista

O clima de paquera fez Cíntia conhecer o namorado a caminho do Trivela

FOTO: Acervo Pessoal

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NEG Ó C IO S | econ omia

Nossa presidente, em abril, em visita a Barack Obama nos EUA, afirmou que o Brasil não é mais o “Joãozinho que anda errado e nem mesmo o Joãzinho que anda certo”. Esta colocação traz subliminarmente a ideia de que não somos mais economicamente infantis, nem mesmo adolescentes. Somos uma economia já quase madura, que venceu seus vícios anteriores, como a hiperinflação e a extrema dependência do capital externo, e, assim, merecemos ser respeitados.

A posição de Dilma deve ser destacada, mas não podemos esquecer que nosso governo ainda tenta – infelizmente – resolver nossos problemas de competitividade usando o método da costureira: quando a calça rasga vamos costurá-la, remendá-la.

Se não, o que podemos dizer das ações tomadas em Brasília em abril último para aliviar setores industriais afetados pela dura competição com importados? Foram 15 setores beneficiados com esta medida. Para eles, isso é muito bom. Mas, e para os outros setores?

Esta é a velha ideia da política industrial vertical, escolhendo vencedores, os campeões nacionais, em detrimento de uma política horizontal onde todos recebem o mesmo tratamento.

Esta ação visa ajudar a indústria tão afetada negativamente pelo câmbio valorizado. A desindustrialização parece que chegou para ficar, roubando nossos empregos. Hoje para alguns setores é mais barato produzir no México, repito México, do que na própria China. O Brasil hoje é um país caro. A produção industrial é caríssima. Parece que o governo está acordando depois de quatro anos de câmbio valorizado, que corremos o risco de ser um país commodity dependente. Nossa indústria está tomando na cabeça.

Mas não é somente o câmbio, mas também os custos com transporte, trabalhistas, tributos, juros aberrantes e energia elétrica: incrível, mas apesar da nossa matriz energética ser de base hidroelétrica (mais barata do que a termoelétrica e a nuclear)a nossa energia é uma das mais caras do mundo. Segundo estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, o preço da nossa energia está 52% acima da média, considerando 27 países. Parte relevante deste preço é formada por tributos indiretos, federais e estaduais, que em média representam 37% do preço da energia. Dentro deles o maior peso recai sobre o ICMS estadual, que encarece o megawatt-hora.

Mas como convencer os governadores que isto traz um impacto negativo para a indústria e consumidores em geral? Por mais que este impacto seja claro, como dizer aos governadores que a carga do ICMS deve ser reduzida? Isto só ocorrerá com uma reforma tributária de verdade, dado que o ICMS é a principal fonte de recursos para os estados (exceto para os mais pobres, onde o Fundo de Participação dos Estados ainda é mais relevante).

É aí que voltamos ao ponto: estamos remendando a nossa calça, mas não construindo calças novas. A reforma tributária vem sendo discutida desde 1995 ainda no governo FHC, mas entra presidente e sai presidente e nada muda. Como convencer um governador a reduzir a sua receita própria, considerando a necessidade de gastos que também pressiona o nível estadual? Assim, se as mudanças estruturais não acontecem vamos dar um jeitinho com mudanças conjunturais. Vamos costurar o que está rasgado.

A recente desoneração da folha de pagamento sobre setores específicos é boa, mas não resolve. Outros setores também demandam algo similar. É fato que não somos mais o Joãozinho da década de 80, mas não devemos nos iludir com os bons resultados econômicos que colhemos nos últimos anos, temos que trabalhar mais.

Mas, em vez de agirmos hoje estrategicamente para aumentar a competitividade de nossa economia, estamos investindo nossa energia em mais um escândalo em Brasília. Por falar nisso, qual é a última novidade da CPI do Cachoeira?

JOÃOZINHO E A COSTUREIRA

LUIZ MARQUESFILHO

Economista, superintendente da FEA-Ufba, diretor da ADVB-BA e professor da Faculdade Baiana de Direito

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NEGÓ C IO S | g es tão

Parece que foi ontem, mas já se vão cinco anos desde que começamos a ouvir falar em Sistema Público de Escrituração Digital (Sped) e nas profundas mudanças que teríamos nas rotinas das empresas. Instituído pelo Decreto nº 6.022, de 22 de janeiro de 2007, o Sped faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal (PAC 2007-2010) e constitui-se em um grande avanço na informatização da relação entre o fisco e os contribuintes.

O Sped tem por objetivo trazer modernidade e transparência, que são requisitos fundamentais para um país que busca destaque no cenário mundial e na atração de investimentos externos.

Desde sua instituição, primeiramente com os projetos da NFe (nota fiscal eletrônica) e com o Sped Contábil, o sistema público continua trazendo novas e mais complexas obrigações acessórias, como o Sped Contribuições, o que tem trazido dificuldades para as empresas. O mais grave é que, se não enfrentadas de forma adequada, estas dificuldades poderão se transformar em multas e outras penalidades para empresas e empresários.

A Receita Federal, juntamente com os fiscos estaduais, tem flexibilizado prazos no processo de implantação do Sped, haja vista a enorme dificuldade encontrada por contribuintes e soft houses em adaptar os sistemas aos leiautes exigidos. Os contribuintes se esbarram em operacionalizar e produzir os arquivos nos prazos exigidos com o mínimo de qualidade para validação. E

é aí que mora o perigo. No momento inicial, a maior preocupação de todos tem sido apenas enviar os dados, mas como fica a qualidade dessa informação?

Devido à avalanche de obrigações acessórias criadas a partir do Sped (Sped Contábil, Fcont, Sped Contribuições, Sped ICMS/IPI, NFe, NFSe, etc...) e considerando que atualmente algumas delas estão em duplicidade, os contribuintes têm que se virar para fazer acontecer, sendo muitas vezes um desafio isolado para um determinado setor dentro da empresa (usualmente, o setor contábil).

Essa é uma ideia equivocada O Sped veio para mexer em todos os processos da empresa. Ou seja, para avançarmos sem problemas futuros com o “mundo Sped”. Antes de qualquer coisa, se faz necessária uma mudança na forma de enxergar e pensar o projeto como um todo, deixando de olhar apenas as “caixinhas”. O Sped é um desafio dos setores (financeiro, contábil, comercial, produção, RH, etc), passando pela análise de cadastros, processos, parametrizações e sistemas.

Devemos ter em mente que os arquivos transmitidos hoje pelas empresas poderão ser auditados pelo fisco até 2017, o qual, com certeza, estará ainda mais aparelhado. Assim, aquela informação que enviamos sem a qualidade devida poderá resultar em pesadas multas.

Outro aspecto que devemos lembrar é de que os arquivos gerados e transmitidos ao fisco são assinados digitalmente e têm valor legal. Para evitar possíveis transtornos, devemos rever nossos cadastros e parametrizações, treinar o staff técnico, rever os processos e, muitas vezes, as empresas não têm estrutura e capacidade própria para tanto.

Por isso as consultorias são valiosas e importantes. Já existem no mercado diversas soluções de auditoria eletrônica, validadores de NFe, cujo papel é minimizar os riscos empresariais relacionados às informações indevidas (contábeis, fiscais e operacionais) disponibilizadas para o fisco através do Sped. Entendo que o empresário consciente não deve pagar para ver, pois erros de hoje podem prejudicar ou, até mesmo, inviabilizar negócios amanhã.

RISCO EMPRESARIAL: O SPED E A QUALIDADE DA INFORMAÇÃO

JOSÉ RENATO MENDONÇA

Líder de auditoria e asseguração da empresa Performance

Os contribuintes se esbarram em operacionalizar o Sped. No momento inicial, a maior preocupação tem sido apenas enviar os dados, mas como fica a qualidade dessa informação?

DESTINO CORRETOO aproveitamento do que seria lixo,

seja por meio da reciclagem ou compostagem, tem ajudado a preservar a natureza e incrementado a renda de

famílias no estado.

56

ESTÁDIO SOLARES | 52

A CARTA DA TERRA | 54

EMPRESA VERDE | 56

[C] ISAAC EDINGTON | 60

[C] MARCO PELLEGATTI | 62

SUSTENTABILIDADE

Apoio:

50 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

Dow Brasil vai utilizar biomassa de eucalipto como fonte de energia limpa

Com investimento total de R$ 200 milhões, a Dow Brasil usará biomassa para atender à demanda energética da sede no Comple-xo Industrial de Aratu. A operação está prevista para ter início em março de 2013. O projeto é em parceria com a empresa Energias Renováveis do Brasil, que vai investir, instalar e operar a usina de cogeração.

Pesquisa irá mapear exploração de energia eólica na Bahia

Um estudo encomendado pela Secti e pela Seinfra vai monitorar em tempo real os dados eólicos da Bahia em diversas localida-des, em alturas de 150 metros. O trabalho deve durar 11 meses e visa identificar novas fronteiras do setor ainda não exploradas.

Brasil suspende construção de usinas nucleares até 2021

No plano de curto prazo, até 2021, o Brasil não considera a cons-trução de nenhuma usina nuclear além de Angra 3, com obras em andamento e previsão para começar a operar em 2015. Entretanto, no plano que considera o horizonte até 2030, há a previsão que haja espaço para a construção de quatro a oito centrais nucleares. As duas primeiras seriam construídas no Nordeste.

50% Sawdust

As designers israelenses Adi Shpigel e Keren Tomer deram uma nova utilidade para ser-ragens e sacolas plásticas, ao misturar os materiais e colocar para assar no forno, prensados dentro de moldes metálicos. Os resultados foram luminárias de mesa, lustres e até bancos.

6 tendências da gestão sustentávelMais do que uma estratégia de marketing, a sustentabilidade deve ser central na gestão dos negócios.

Executivos de empresas enxergam mais oportunidades do que riscos nos problemas relacionados à sustentabilidade. A constatação é parte de um mapeamento publicado pela Ernst & Young. O levantamento, feito com 272 executivos de 24 setores com faturamento acima de um US$ 1 bilhão, indicou seis tendências que estão pautando os negócios:

VANTAGEM: Gerir uma empresa com sustentabilidade traz vantagens competitivas. Programas de eficiência energética e de redução de emissões são as questões a que o mercado está mais atento.

RISCOS E OPORTUNIDADES:Sem dúvida, as questões climáticas estão na lista de preocupações para as empresas. Ao todo, 75% dos executivos revelaram ter metas de redução de emissões. Cerca de 80% acreditam que a gestão da água afetará os negócios nos próximos cinco anos.

ENVOLVIMENTO: Há maior envolvimento dos diretores financeiros nos processos de avaliação, gestão e elaboração dos relatórios de sustentabilidade.

PRESSÃO: Ao contrário do que se acredita, os acionistas e ONGs influenciam menos as decisões sustentáveis nas empresas do que os funcionários.

SOLUÇÕES: Escassez de recursos naturais já está deixando de ser ameaça para se tornar realidade; 76% dos entrevistados temem que as empresas sejam afetadas pela falta de recursos naturais já nos próximos cinco anos.

MARKETING: Empresas devem divulgar as ações e agir com transparência perante a sociedade.

FOTO: Secom/BA

SUSTENTAB IL IDADE | t en dênc ia s

51 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m j u n h o 2 0 1 2 Revista [B+]

52 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

SUSTENTAB IL IDADE | t en dênc ia s

A luz do sol é a fonte de energia que abastece o estádio de Pituaçu, em Salvador, desde o dia 10 de abril deste

ano. Com a utilização da fonte alternativa, o Governo do Estado estima economizar cerca de R$ 120 mil/ano. A energia gerada e interligada à rede de distribuição da cidade será equivalente a 630 MW/h ao ano, capaz de abastecer 525 residências. O projeto custou mais de R$ 5,5 milhões, dos quais R$ 3,8 milhões aplicados pela Coelba (concessionária local), por meio de financiamento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), e R$ 1,75 milhão pelo governo estadual.

“Quando ocorreu a tragédia da Fonte Nova [em 2007, parte da arquibancada desabou e sete pessoas morreram, nós sabíamos que não haveria mais jogos lá por um bom tempo, e que as partidas seriam levadas para o estádio de Pituaçu. Como precisávamos de um projeto modelo para os jogos da Copa, conseguimos, com a ajuda da Coelba e do Governo do Estado, implantá-lo”, explica Mauro Passos, presidente do Instituto Ideal, responsável pelo projeto de nome Estádios Solares, que também instalará energia solar no Mineirão e no Maracanã.

No caso do estádio de Pituaçu, uma das novidades é que o excedente de energia gerado através da geração solar (270 MW/h) será utilizado no prédio da Secretaria Estadual de Trabalho, Emprego e Renda (Setre), localizado no Centro Administrativo da Bahia. O consumo médio anual do estádio é de 360 MW/h. Isso é possível porque os sistemas fotovoltaicos estarão conectados à rede elétrica de distribuição.

“Além de ser o primeiro estádio da América Latina a usar energia solar, Pituaçu também é a primeira unidade consumidora a participar do sistema de compensação, que inclui disponibilizar na rede de abastecimento toda a eletricidade excedente”, observou Daniel Sarmento, engenheiro eletricista que coordenou o projeto da Coelba, que pertence ao Grupo Neoenergia.

Ao ser perguntado sobre a possibilidade de a Arena Fonte Nova, em Salvador, também aderir à energia solar, Mauro Passos afirmou que acredita na viabilidade do projeto. “Eu acho que, no avançar da obra da Arena Fonte Nova, isso vai passar a ser discutido, porque seria esquisito Pituaçu ter e a Fonte Nova não ter”, compara.

O consórcio da Arena Fonte Nova, formado pelas construtoras Odebrecht e OAS, informou que estuda atualmente a viabilidade de instalação de energia solar no empreendimento, cujo andamento da obra já se aproxima de 60%. [B+]

ESTÁDIOS SOLARES

FOTO: Secom/BA

Pituaçu foi o primeiro da América Latina a instalar o sistema de energia solar. Em

seguida, serão Maracanã e Mineirão. A Copa do Mundo já muda a maneira de se pensar e

construir estádios de futebol no Brasil

Mauro Passos é presidente do Instituto Ideal, responsável pelos Estádios Solares

por MURILO GITEL www.ecod.org.br

FOTO: Divulgação

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F ormada em engenharia química pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Cristina Moreno

dedicou anos de sua vida às atividades empresariais, com destaque para o setor de papel e celulose. Atuou nas áreas de tecnologia da informação, processos de fusão, aquisição e sustentabilidade. Após se aposentar, decidiu ir em busca de um mundo mais justo, harmonioso e sustentável. Foi quando se tornou uma voluntária da Carta da Terra. Hoje ela é a coordenadora da iniciativa no Brasil.

O que é sustentabilidade para Cristina Moreno?É a gente viver exatamente daquela maneira que, quando éramos crianças, deveríamos viver: respeitando e cuidando de todos e de tudo aquilo que a gente partilha.

E de que maneira podemos alcançar essa condição?A Carta da Terra nos convida a perceber duas coisas importantes. A primeira é que a gente está procurando um universo sustentável. Ele só será possível se tivermos países sustentáveis, organizações sustentáveis e famílias sustentáveis. Por isso, é importante que todos façam a sua parte. A outra é o compilado de princípios éticos, com uma visão absolutamente sistêmica. Uma das coisas que talvez sejam difícieis para a conquista

da sustentabilidade seja olharmos a temática de maneira fragmentada, o que não é. Esse olhar permeia todos os segmentos que estão expressos nos quatro pilares da carta.

A Carta da Terra, então, é um documento de orientação?Sim. Uma maneira mais amorosa para a gente cuidar do planeta Terra e de todos aqueles que aqui habitam. Uma espécie de cartilha.

Como foi processo para elaborar a carta?Ela foi feita através de uma consulta que demorou oito anos. A ação avaliou os povos da terra, desde cientistas e organizações, a tribos indígenas. Por isso, retrata essa vontade do mundo melhor. Ela começou a ser rascunhada durante a Eco-92, no Rio de Janeiro, mas só foi concluída em 2000.

Como as pessoas podem contribuir com esse movimento?Esse é um exercício que requer duas coisas: muita humildade para entender que não somos o centro das coisas, mas que somos parte desse bem maior. E requer muito desprendimento. Eu não quero abrir mão dos avanços tecnológicos que temos, mas precisamos entender como estamos usando esses avanços.

A grande dificuldade da mudança é sair do patamar que a gente está acostumado para ir para outro, e isso envolve espiritualidade. Digo espiritualidade por significar cuidar do bem comum, onde estamos acima das coisas materiais. Esse é o trabalho de cada indivíduo, começar a abrir mão do que não precisa ter, vivendo com mais integridade.

SUSTENTAB IL IDADE | t en dênc ia s

A CARTA DA TERRA

Valores e princípios por um mundo melhor

por JÉSSICA SANDES www.ecod.org.br

A Carta da Terra é estruturada em quatro princípios:

1. Respeito e cuidado pela comunidade da vida;2. Integridade ecológica;3. Justiça social e econômica;4. Democracia, não-violência e paz.

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SUSTENTAB IL IDADE | empresa ve rde

FOTO: Divulgação

E las representam nada menos que 99% das empresas brasileiras, correspondem a 20% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e geram 60% dos empregos no país.

Estamos falando das micro e pequenas empresas. Com resultados cada vez mais expressivos no Brasil, também merece destaque a adoção que esses negócios têm feito de medidas no âmbito sustentável – iniciativas ambientalmente corretas incorporadas à gestão.

Economizar recursos como energia, água e outros insumos, o que também significa poupar dinheiro e, ao mesmo tempo, contribuir com o meio ambiente, estão entre os principais atrativos de se aplicar a sustentabilidade nas micro e pequenas empresas, desprovidas de receitas milionárias.

“Lucro e sustentabilidade não são contraditórios. Ao mesmo tempo em que economizar água e energia ajuda o planeta, também reduz os custos da empresa, melhora a sua imagem e atrai mais clientes”, afirma o presidente do Sebrae, Luiz Barretto.

Engana-se quem pensa que os micro e pequenos empresários baianos estão longe dessa tal, parafraseando Caetano, “nova ordem” empresarial. Um bom exemplo vem da pizzaria Rei da

PEQUENAS, MAS SUSTENTÁVEIS

por MURILO GITEL

Micro e pequenos empresários baianos se dão conta de que adotar medidas de

desenvolvimento sustentável na gestão pode gerar economia e

contribuir com o lucro. Atualmente, no Brasil, as micro e pequenas

empresas correspondem a 20% do PIB e geram 60% dos empregos

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Outra vantagem do software da NNSolutions é a ambiental. “Impressos em Braille necessitam de muito papel, o uso do software diminui a necessidade da impressão”, lembra o empreendedor.

A empresa ainda não teve lucros com a venda do aplicativo, mas já negocia o fechamento de um número grande de licenças para uma empresa de destaque no cenário nacional, adiantou o empresário. [B+]

Pizza, situada em Camaçari. Nela, todas as pizzas são assadas em um forno cujo interior conta com madeira sustentável. Já o processo de coleta seletiva inclui um fluxo de estoque, separação, acondicionamento e encaminhamento para cooperativas de reciclagem da região.

“Quanto menos lixo você gera, mais você está sendo consciente. E, na prática, isso surte efeito não só no restaurante, mas no dia a dia e em casa. É uma educação para toda a vida. Precisamos ter consciência da necessidade de preservar”, destaca Jamilton Pereira, responsável pelo empreendimento que completa 18 anos no mercado.

O próximo passo do empresário é fazer a compostagem do lixo orgânico, para transformar os resíduos em adubo, que posteriormente será utilizado na horta da empresa. “Os alimentos extraídos da horta serão utilizados na produção das pizzas”, projeta o empreendedor.

Responsabilidade socialEquilibrar os fatores econômico, ambiental e social é a base do sentido do desenvolvimento sustentável, conceito usado pela primeira vez em 1987, no Relatório Brundtland, da Organização das Nações Unidas (ONU). Um modelo de responsabilidade social nos micro e pequenos negócios é o da empresa NNSolutions, de Salvador.

Criada em 2009 por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (Ufba), a empresa desenvolveu o software Slep, um scanner leitor portátil (para aparelhos celulares), capaz de captar as informações de um texto impresso em tinta, e sem o método Braille, transformando os dados em voz sintetizada.

“O deficiente visual diminui a necessidade de ter algum ajudante de leitura, ou ‘olho amigo’ como eles costumam falar, para realizar a função de leitura de um texto, como por exemplo, conta de luz, cartão de visita, livro”, destaca Acbal Achy, diretor de negócios da empresa.

Segundo o empreendedor, trata-se do primeiro software nacional embarcado no celular capaz de transformar a rotina do deficiente visual. “Também há a questão da autonomia, pois a pessoa com dificuldades de leitura, não precisará de um terceiro que leia para ela, o que acarreta a melhora da auto-estima e da produtividade dessas pessoas”, enumera Acbal.

FOTOS: Divulgação

(em cima) A criação dos pesquisadores da Ufba é o primeiro software nacional embarcado no celular para auxiliar a rotina do deficiente visual (em baixo) O software Slep é capaz de captar as informações de um texto e transformar os dados em voz sintetizada

Pesquisa do Sebrae divulgada em maio aponta que:

80,6% dos micro e pequenos empresários controlam o consumo de água, 81,7%, o consumo de energia, 70,2% fazem a coleta seletiva de lixo e 72,4% controlam o consumo de papel;

Apesar dessas ações pontuais, 51,7% informaram não ter o hábito de usar materiais recicláveis no processo produtivo, 83,4% não fazem captação da água da chuva ou reutilização de água e 50,9% não reciclam lixo eletrônico ou pneus;

Para 46% dos entrevistados, a questão ambiental representa oportunidade de ganhos para a empresa. Por outro lado, 54% deles afirmam que as chances de lucros relacionadas ao tema ainda não estão bem evidenciadas: 16% dos empresários acreditam que a questão representa custos e despesas, e 38%, nem ganhos, nem despesas.

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Reciclagem de embalagens na região metropolitana

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“Depois que entrei na Verdecoop, me conscientizei, passei a dar valor ao que jogamos na lixeira. Não tinha noção do que o lixo pode gerar. Hoje me preocupo porque penso no futuro do meu filho. Além do aprendizado, esse trabalho é o que me sustenta”, relata Edinéia Rodrigues, cooperada da Verdecoop há um ano e meio e que vive com a renda de R$ 800, toda proveniente do trabalho na cooperativa.

De acordo com José Santos Souza, gerente administrativo da Verdecoop, o objetivo da iniciativa é mobilizar as comunidades do Litoral Norte da Bahia para conviver e crescer com a atividade turística, em um processo de integração. Por essa necessidade, surgiu o Instituto Berimbau. “Uma das soluções pensadas, hoje uma realidade, foi estimular a criação de uma cooperativa de reciclagem, com pessoas da

N ada se cria, tudo se transforma. A frase pode parecer clichê, mas é sempre oportuna quando falamos em sustentabilidade.

O aproveitamento do que seria lixo, seja por meio da reciclagem, compostagem ou outro método de reutilização, comprova-se como uma excelente alternativa para os resíduos produzidos, sobretudo em grandes empreendimentos, como hotéis de maior porte. Ações desse tipo têm ajudado a preservar a natureza e incrementado a renda de famílias no estado.

A cooperativa Verdecoop faz parte do Instituto Berimbau, com sede no município de Rio de Contas, e é um exemplo disso. Criada em 2005, a entidade recicla e faz a compostagem dos resíduos descartados nos hotéis do Complexo Costa do Sauipe e do refeitório da montadora Ford. Ao todo, são mais de três mil toneladas por ano.

SUSTENTAB IL IDADE | p ro bem

TUDOSE TRANSFORMA por ANDRÉA CASTRO

Iniciativas de aproveitamento do lixo ajudam a preservar o meio ambiente e a transformar a vida de famílias carentes no Litoral Norte e na Chapada Diamantina

Resíduos sólidos, lixo orgânico, óleo saturado,

cocos verdes e limpeza em eventos. Todos são matérias-

primas para a Verdecoop

FOTO: Divulgação

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de água mineral têm um destino particular: são utilizadas por artesãos locais como recipiente para aguardente.

“O que vai para o lixão mesmo é o papel higiênico e o material usado para tirar gordura dos alimentos. Sempre tivemos uma coleta de lixo própria, até porque a coleta municipal, que hoje já melhorou, nunca foi muito eficiente”, explica o consultor do hotel, Dionízio Martins. Ele ainda destaca a reciclagem da água excedente da Embasa para uso no jardim, cachoeira e roda d’água.

Outras iniciativas sustentáveis são postas em prática no hotel: utilização de energia solar para aquecimento de água; uso máximo de iluminação natural; utilização de economizadores de energia; uso preferencial de madeira renovável (com certificação do Ibama), além do uso de madeira de demolição.

O gerente do hotel, Dário Campos, explica que uma das ações mais recentes é a atualização do sistema de aquecimento de água através de energia solar, utilizado desde 1990. Agora eles estão substituindo por um de última geração. Outra questão destacada é a parceria com hóspedes e colaboradores nas iniciativas.

“Organizamos um programa de conscientização sobre a necessidade de se utilizar racionalmente a energia elétrica. São feitas palestras e colocados cartazes nas salas dos colaboradores para conscientizar a equipe. Além disso, contamos com uma parceria com os hóspedes para a substituição de roupa de cama e toalhas com menor frequência”, destaca Campos. [B+]

A reciclagem da água excedente da Embasa é usada no jardim, cachoeira e roda d’água do Hotel de Lençóis

“O lixo orgânico [dos hotéis] passa por um processo de compostagem e é transformado em

adubo de ótima qualidade, sem adições químicas, comercializado junto aos agricultores da região”

Beraldo Boaventura, Instituto Berimbau

FOTO: Xico Diniz

própria região que precisavam de uma oportunidade. Uma via de mão dupla”, declara Beraldo Boaventura, coordenador do Instituto Berimbau.

Do lixo ao luxo, novamenteHoje, a Verdecoop coleta resíduos, lixo orgânico, óleo saturado, cocos verdes e realiza limpeza em eventos. Na estrutura, conta com um pátio de 1,2 mil m2 e possui mais de 50 cooperados, que quase sempre dependem dessa renda para o sustento de suas famílias. “Reciclamos de forma tradicional os resíduos secos (latas, plásticos, papelão, etc.) Selecionamos, enfardamos e comercializamos esses materiais. Já o lixo orgânico passa por um processo de compostagem e é transformado em adubo de ótima qualidade, sem adições químicas, comercializado junto aos agricultores da região.”, explica Beraldo. Esse adubo é o mesmo utilizado no gramado do luxuoso campo de golfe de 660 mil m2, palco de importantes torneios internacionais.

Em bons lençóis!Assim como o Litoral Norte, a Chapada Diamantina é uma das regiões mais belas e ricas da Bahia, sob o ponto de vista da sua biodiversidade. É nessa região que se encontra o Hotel de Lençóis, um dos três únicos no estado que possuem o certificado de Gestão Hoteleira Sustentável da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). No hotel, mais de 90% do lixo produzido pelos hóspedes é reaproveitado.

O material orgânico, que corresponde a cerca de 80% do lixo produzido, é levado para a central de compostagem e, posteriormente, aplicado nos 45 mil m2 de área verde do hotel. Já os materiais de plástico, papelão, papel, garrafas PET, entre outros produtos, são entregues ao Grupo Ambientalista de Lençóis (GAL) para reciclagem. As latinhas são doadas aos próprios funcionários do hotel, que aproveitam a venda do material para tirar uma renda extra. Já as garrafinhas

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SUSTENTAB IL IDADE | empreendedor i sm o

A palavra empreendedor (entrepreneur), originada do francês, é usada para descrever uma pessoa que tem, acima de tudo, a necessidade de realizar coisas novas. O conceito de empreendedorismo sempre se associa à pessoa que faz acontecer. Segundo o psicólogo americano David McClelland, que dedicou sua vida ao estudo dos empreendedores e suas características, imbuído da convicção do papel destes no desenvolvimento das nações, as pessoas podem ser divididas em dois grandes grupos: uma minoria que, quando desafiada por uma oportunidade, está disposta a trabalhar com determinação e afinco para conseguir o que quer, e uma grande maioria que não se importa tanto assim. McClelland afirma que as pessoas que têm necessidade de realizar se destacam porque, independentemente de suas atividades, fazem com que as coisas aconteçam.

O empreendedor, com sua aguçada percepção, está sempre observando recursos escassos na região onde atua, recursos que não estejam sendo devidamente explorados ou até mesmo que não tenham sido alvo da atenção de ninguém, sendo, no entanto, uma boa fonte de oportunidade de negócio.

Em resumo, podemos dizer que o empreendedor identifica uma oportunidade e cria um meio para aproveitá-la, assumindo os riscos que qualquer atividade empresarial oferece. Há, pelo menos, três fatores mundialmente aceitos que discorrem sobre por que os empreendedores são importantes para a sociedade:

1. O empreendedor contribui para a criação de emprego e crescimentoCada vez mais, as novas e pequenas empresas se destacam na criação de novos postos de

trabalho. Os países com maior aumento nas taxas de iniciativa empresarial tendem a ter um maior decréscimo nas suas taxas de desemprego.

2. A iniciativa empreendedora estimula o desenvolvimento do potencial pessoalUma ocupação não constitui apenas um modo de ganhar dinheiro. As pessoas utilizam outros critérios nas suas escolhas relativas à carreira, tais como a segurança, o nível de independência, a variedade de funções e o interesse pelo trabalho. Um estudo britânico mostrou que, além das motivações materiais (dinheiro e status social), as pessoas escolhem ser empreendedoras como meio de satisfação pessoal (liberdade, independência e desafio).

Tornar-se empreendedor, do ponto de vista social, pode ser um meio para atingir uma posição melhor para si mesmo.

3. A capacidade empreendedora e os interesses da sociedadeOs empreendedores são os condutores da economia de mercado cujos resultados permitem que a sociedade disponha de riquezas, postos de trabalho e variedade de escolha para seus consumidores. Nesse sentido, muitas empresas adotaram estratégias e formas de responsabilidade social, o que implica a inclusão voluntária de aspectos sociais e ambientais nas suas respectivas operações, assim como nas suas relações com a sociedade. Tais empresas reconhecem que o comportamento empresarial responsável serve de base para seu sucesso.

Entretanto, além de contarmos com os empreendedores já engajados e sua capacidade de cooptar seus pares, precisamos garantir o futuro com uma nova geração de empreendedores.

Na Bahia, precisamos avançar rápido para garantir o nosso desenvolvimento. Precisamos estimular e criar uma nova geração de empreendedores. Será fundamental unir forças, atuar de forma integrada e participativa, com o apoio da academia, da sociedade civil, do setor produtivo, governos, veículos de comunicação, entre tantas outras organizações que podem contribuir muito. O objetivo é avançar e desafiar a minoria, citada por McClelland, a fazer acontecer e trabalhar com afinco em nosso estado.

DESAFIAR A MINORIA:

UMA NOVA GERAÇÃO DE EMPREENDEDORES

ISAAC EDINGTON

Empresário, diretor-presidente do Instituto EcoDesenvolvimento e membro do conselho editorial da Revista [B+]

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SUSTENTAB IL IDADE | d esenvo l v im ento sus ten tá ve l

Em abril deste ano, as Bahamas assinaram um acordo com a norte-americana OTE Corporation para a construção de duas plantas de geração de energia com dez megawatts cada, por meio do processo de conversão da energia térmica dos Oceanos. Nesse processo, a água aquecida da superfície do mar circula por um conversor de calor, que transforma em vapor um produto químico de baixo ponto de ebulição, como a amônia. O vapor movimenta a turbina que gera eletricidade. Ao mesmo tempo, bombeia-se água bem mais fria, de uma parte profunda do mar, que condensa o vapor em amônia líquida novamente.

Sistemas como esse já são usados por diversos países para a geração sustentável de energia elétrica, mas o caso das Bahamas contém algo a mais. A água fria, usada na condensação da amônia, será bombeada após o conversor para alimentar um conjunto de empreendimentos com diversas finalidades: dessalinização de água, maricultura, aquicultura e resfriamento de estufas de plantas temperadas. Juntos, esses empreendimentos formam um ecoparque industrial, solução que tende a representar um dos pilares da reinvenção de economias em direção a um desenvolvimento verdadeiramente sustentável.

Se a sociedade baiana deseja reinventar sua economia efetivamente, este pode ser um conceito de grande valia. Com base nele, há alguns anos, realizamos um trabalho para um

banco de desenvolvimento regional que tinha como propósito promover o desenvolvimento sustentável na Amazônia. Apoiamos o banco na realização de um concurso internacional para a geração de ideias tendo como pano de fundo o que batizamos de “ecossistemas de negócios conscientes”.

Esses ecossistemas são uma solução para o falso dilema entre economia e ecologia, entre preservar e explorar os recursos de regiões com grande biodiversidade. Trata-se de um conceito novo, que questiona a forma de pensar linear e fragmentária, e nos permite desafiar os limites do possível.

Construir um ecossistema de negócios conscientes é assegurar a participação dos vários setores da sociedade (setor privado, setor público e sociedade civil) na criação de uma rede de empreendimentos comerciais e outras organizações, localizada em uma determinada região geográfica, que interrelaciona vários ramos de atividade e agrega diversas competências para satisfazer necessidades não-atendidas ou mal-atendidas da sociedade e do planeta.

Os ecossistemas de negócios conscientes permitem a um conjunto de atores atuar coordenadamente na construção de mercados inéditos e inteiros, possibilitando a geração de um empreendedorismo inclusivo e ético, assegurando que todos ganhem com isso. Eles buscam institucionalizar uma verdadeira rede de relacionamentos “simbióticos” entre atores públicos, privados e sociedade civil, capaz de gerar um rápido desenvolvimento social e criar riqueza para uma determinada região.

Embora o conceito de ecossistemas de negócios naturalmente traga em seu bojo a ideia de preservação ambiental, ao adicionarmos o qualificador “conscientes”, é também assegurar não apenas um empreender ambientalmente responsável, mas um empreender sistêmico, que considere as necessidades mais amplas da sociedade e do planeta. Um empreender de atividades muito relevantes para a sociedade e que assegure a continuidade da vida para todos, não só a curto prazo, mas levando em conta as gerações futuras. Um empreendedorismo verdadeiramente consciente, que não apenas escolhe as atividades “certas” para serem realizadas, mas busca a melhor forma de implementá-las: em busca do genuíno bem comum.

ECOSSISTEMAS DE NEGÓCIOS CONSCIENTES

MARCO PELLEGATTI

Diretor da Amana-Key e consultor sênior. Formado em administração de empresas pela USP e MBA pela Kellogg, Northwestern University

Uma plataforma para a reinvenção da economia local

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ECONOMIA VERDE

ECONOMIA CRIATIVA

Renata Everett e Guilherme Valadares,

da Ambiental PV

FOTO: Pedro de Souza

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L ogo após entrar na universidade, o baiano Guilherme Valadares foi voluntário em um evento que iria mudar a vida dele: a Conferência Mundial das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Clima ou, como foi popularizada, a Eco 92. O Brasil é sede novamente do evento e muita coisa mudou na vida de Valadares, nessas

duas décadas. Ele deixou de ser espectador para ser protagonista de um mundo que muda a cada piscar de olhos. Atualmente, é fundador e diretor-executivo da Ambiental PV, empresa sediada em Salvador, considerada em 2011 a melhor consultoria de carbono florestal da América do Sul pela revista britânica World Finance.

Guilherme Valadares faz parte de uma nova realidade econômica global. As empresas do presente – e, principalmente, do futuro – necessitam de muito mais do que uma receita no bolo, como dar sempre razão ao cliente, para sobreviver no mundo corporativo. E boa parte do que você precisa compreender para entender os novos ingredientes pode ser traduzido em economia verde e criativa, tendências que estão dinamizando o conceito de economia e representam novos modelos de gestão de negócios.

Os dois termos são recentes, mas o expressivo crescimento desses setores demonstra que o cenário não deve ser facilmente revertido. O comércio internacional em bens e serviços culturais cresceu, em média, 5,2% ao ano entre 1994 (US$ 39 bilhões) e 2002 (US$ 59 bilhões), segundo estimativas da Unesco. Paralelamente, estudos da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam para uma participação de 7% desses produtos no PIB mundial, com previsões de crescimento anual em torno de 10% a 20%. Somente o Sebrae pretende investir na Bahia, até 2015, R$ 17 milhões para fomentar o setor de economia criativa.

Os setores ligados à economia verde, por outro lado, estimam um crescimento ainda maior. Para esverdear a economia global é necessário, de acordo com um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o investimento de 2% do PIB mundial por ano, o que corresponde a aproximadamente US$ 1,3 trilhão, nos patamares atuais. O Brasil já concentra 2,65 milhões de pessoas empregadas nos ramos ligados à área, sendo a meta da OIT a geração de 20 milhões de vagas verdes até 2030. Na Bahia, já passa de dois mil o número de trabalhadores nesta nova tendência.

O coordenador dos Programas de Trabalho Decente e Empregos Verdes da OIT-Brasil, Paulo Sérgio Muçouçah, afirma que a Bahia é um dos estados brasileiros mais avançados na geração de empregos verdes, uma vez que possui uma matriz energética que alinha biodiesel, energia eólica, hidroelétrica e solar. Além disso, segundo ressaltou, o estado possui o maior número de agricultores familiares, o que lhe proporciona “excelente oportunidade para gerar mais empregos verdes”.

E todo esse cenário ocorre justamente na época em que as principais economias do planeta passam por uma forte recessão. Mas o que são, exatamente, esses dois conceitos?

Diante de novos desafios globais, a economia

baiana exibe expoentes que trabalham com soluções criativas e sustentáveis. Alguns podem chamar de aposta, outros de

tendência, o certo é que essa realidade

reconfigura a maneira de se pensar os negócios

por RAÍZA TOURINHO

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EsverdearA sustentabilidade, que já foi considerada apenas moda, ultrapassou as fases em que funcionava como marketing e tornou-se bem mais do que uma boa oportunidade de investimentos, uma necessidade. A economia verde ainda não possui definição consensual, nem diretrizes claras, mas já se tornou suficientemente importante para ser o tema principal da maior conferência ambiental das últimas duas décadas, a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que reúne representantes de 180 países no Rio de Janeiro.

O protagonismo das corporações é essencial à transição para a economia verde, embora seja este muito mais do que um modelo de gestão coorporativo. O conceito, na verdade, vai além ao evocar mudanças estruturais no próprio modelo econômico vigente.

A definição mais largamente utilizada para a economia verde foi cunhada pelo Pnuma, sendo considerada aquela que promove a melhoria do bem-estar humano e da igualdade, e, ao mesmo tempo, reduz significativamente os riscos ambientais. As três características principais das atividades dessa economia são: reduzir a emissão de carbono, ser eficiente no uso de recursos naturais e ser socialmente inclusiva.

Além disso, a escassez das matérias-primas e as mudanças climáticas estão forçando diversos setores a adaptar-se às condições adversas de produção. E as corporações não estão olhando para o lado vazio do copo: o relatório “Adapting for a Green Economy: Companies, Communities, and Climate Change” indica que 86% das empresas consideram que enfrentar o risco climático representa uma oportunidade de negócios.

EurekaSe a economia verde é considerada o ingrediente principal para reformular a base econômica global, a economia criativa pode ser designada como a “cereja do bolo”. Investir em mentes e soluções em vez de matérias-primas pode ser realmente uma boa ideia – principalmente, se for contar a baixíssima emissão de carbono.

De acordo com o Ministério da Cultura (MinC), os setores criativos são todos aqueles cujas atividades produtivas têm como processo principal um ato criativo gerador de valor simbólico, elemento central da formação do preço, e que resulta em produção de riqueza cultural e econômica. “É a gestão da criatividade para a geração de riquezas, abrangendo um conjunto de setores econômicos que só vivem em função de criatividade (das artes às mídias digitais)”, explica Ana Carla Fonseca, especialista internacional em economia criativa.

A economia criativa é, portanto, a economia do intangível, do simbólico. Ela se alimenta dos talentos criativos, que se organizam individual ou coletivamente para produzir bens e serviços criativos. A nova economia possui dinâmica própria e, por

NORMAS PARA ECONOMIA VERDE

FONTE: INSTITUTO SUSTENTA

ISO 26000 norma não certificadora voluntária, reconhecida como o instrumento para a economia verde. É uma norma técnica que orienta as empresas de todo o mundo sobre como direcionar seus negócios para a responsabilidade social e a sustentabilidade.

ISO 14001 define o que deve ser feito para estabelecer um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) efetivo. A norma é desenvolvida com objetivo de criar o equilíbrio entre a manutenção da rentabilidade e a redução do impacto ambiental, com o comprometimento de toda a organização.

CAMINHOS PARA UMA ECONOMIA VERDE FONTE: ÉRICA RUSCH/INSTITUTO SUSTENTA

Mudanças na política fiscal • Reforma e redução de subsídios prejudiciais ao meio ambiente • Emprego de novos instrumentos de base de mercado • Investimentos públicos para setores-chave

“verdes” • Tornar mais verdes os contratos públicos • Melhoria das regras, regulamentos ambientais e sua execução

Parque de Energia Eólica em Brotas de Macaúbas

FOTO: Alberto Coutinho/Secom

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isso, desconcerta os modelos econômicos tradicionais, uma vez que seus modelos de negócio ainda se encontram em construção, carecendo de marcos legais e bases conceituais.

Supervisor de economia criativa do Sebrae Bahia, José Élio Souza considera a área “tímida” e afirma que o potencial do setor ainda não é bem explorado no estado. Caracterizada pela produção descentralizada em micro e pequenas empresas, a economia criativa é uma atividade transversal. “(Ou seja,) participa de todas as áreas como usuária e fornecedora de produtos, serviços e conhecimento, o que torna capaz de contribuir em todos os níveis, no fomento da economia em todo o estado”, afirma Souza, explicando a extensão da área.

“Do ponto de vista cultural pode se dizer que houve um avanço da Bahia nos últimos seis anos. A consolidação de políticas culturais e a utilização de novas mídias motivaram o setor criativo a empreender. Muitas das novas empresas de serviços criativos vêm galgando passos e ocupando espaço no mercado”, conta

O músico Vince Athayde, fundador da Maquinário Produções, acredita que a consolidação de políticas culturais e a utilização de novas mídias motivou o setor criativo a empreender. Para ele, muitas das novas empresas de serviços criativos galgam novos passos e ocupam espaço no mercado. “É preciso modificar a imagem de que a Bahia ainda tem produções mambembes, pouco profissionais. Assim, vamos atrair o interesse dos baianos em permanecer no estado, pelo reconhecimento de que será possível desenvolver um trabalho de qualidade aqui”, diz.

Perspectivas para o novo cenárioEx-presidente da Petrobras, o secretário de Planejamento do Estado da Bahia (Seplan), José Sérgio Gabrielli, ressalta que as empresas não podem mais ignorar a responsabilidade social corporativa ou as pressões regulatórias. “É impossível uma empresa sobreviver sem ter uma relação adequada com o ambiente em que ela está colocada e sem ter uma

boa relação com seus trabalhadores, seus fornecedores e seus clientes. A nova realidade econômica social exige das empresas uma nova postura”, afirma.

O professor titular da Faculdade de Economia da Universidade São Paulo (FEA/USP) Ricardo Abramovay reitera a necessidade da adoção de uma atitude diferenciada das corporações. “A noção de necessidades (da sociedade) deixou de ser um tema filosófico abstrato, um assunto de governo ou de organizações de consumidores. Tem que integrar o âmago das decisões empresariais”, ressalta Abramovay, explicando a importância de o mundo empresarial levar em conta todos os custos e os stakeholders.

Deste modo, as empresas inseridas na economia verde já estão um passo à frente no novo contexto social. “As organizações com esse perfil precisam compartilhar práticas e soluções, e mostrar que a sustentabilidade

BENEFÍCIOS DA ECONOMIA CRIATIVA FONTE: SEBRAE

Produção não poluente • Inovação tecnológica • Gera emprego e renda • Gera tributos, taxas e impostos • Estimula novas qualificações profissionais • Alimenta a economia a outros segmentos produtivos • Promove inclusão social

DADOS ECONOMIA CRIATIVA

FONTE: MINISTÉRIO DA CULTURA

Setores criativos contribuem com R$ 104,37 bilhões (2,84% do PIB brasileiro) ao PIB do Brasil (2010).

Supera a indústria extrativa (R$78,77 bilhões) e a produção e distribuição de eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana (R$ 103,24 bilhões).

São 63.373 empresas ligadas ao setor, representando 1,86% do total de 3.403.448 empreendimentos do país.

Adriana Souza (Camapet) e Mario Bestetti (Overbrand) exibem produtos da CamapetBiju, uma união entre os catadores de resíduos e o design social

FOTO: Rômulo Portela

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deixou de ser apenas um diferencial competitivo para ser condição necessária ao sucesso do negócio”, afirma Érica Rusch, especialista em direito ambiental e presidente do Instituto Sustenta.

Segundo ela, as empresas necessitam adotar práticas responsáveis e sustentáveis, tais como: evitar custos ambientais, minimizar o uso de matérias-primas, utilizar eficientemente a água e a energia. “Ou seja, encontrar soluções viáveis e econômicas que controlem e melhorem o desempenho de uma organização”, explica Érica, acrescentando: “A transição para uma economia verde trará benefícios a longo prazo que compensarão possíveis perdas de curto prazo”.

CenárioDiante da urgência de medidas que mitiguem as mudanças climáticas, aliadas à criticidade do aumento do consumo energético, o setor que mais se destaca globalmente na economia verde é o de energia renovável. Na Bahia, não é diferente. “A nossa matriz energética é muito suja. Hoje, 10% de nossa energia vem da lenha. É necessário se intervir nessa questão aqui. É diferente da matriz energética brasileira, que tem 46% de fontes renováveis”, afirma o titular da Seplan, José Sérgio Gabrielli.

Segundo o secretário, há diversas iniciativas no estado para o aumento da eficiência na geração elétrica e no uso dos recursos

Ney Campello, secretário da Secopa, firma o projeto Territórios Criativos em Salvador, pela qualificação do Santo Antônio Além do Carmo

HISTÓRICO DA ECONOMIA CRIATIVA FONTE: MINISTÉRIO DA CULTURA

O conceito originou-se do termo indústrias criativas, inspirado no projeto CreativeNation, da Austrália, de 1994. Entre outros elementos, o projeto defendia a importância do trabalho criativo, sua contribuição para a economia do país e o papel das tecnologias como aliadas da política cultural, possibilitando à posterior inserção de setores tecnológicos no rol das indústrias criativas.

FOTO: Divulgação

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nos processos agrícolas. No entanto, todas as atenções do governo estão voltadas ao grande potencial eólico do estado. “Regiões importantes do semiárido têm ventos estáveis e relevo adequado para a energia eólica. Vamos ter um crescimento grande, provavelmente, no parque eólico no estado. E não somente na eletricidade. Começa a ser atraída para cá toda a cadeia de fornecimento de equipamentos para a energia eólica”, conta.

Somente em janeiro deste ano, foram licenciados 133 projetos para implantação de complexos de energia eólica no estado. Atualmente, 57 projetos na área estão previstos para se instalar na Bahia, somando o montante de R$ 6,5 bilhões em investimentos. A previsão é que, até setembro de 2012, 18 parques estejam em pleno funcionamento.

Gabrielli também incluiu a economia criativa como um componente forte na atividade econômica do estado. Embora o insumo esteja no campo das ideias, isso não significa que o setor seja sustentável por natureza.

“A economia criativa pode ou não gerar igualdade social e redução de riscos ambientais - depende de que política obedeça. Ideias podem gerar serviços (que, claro, são intangíveis) ou produtos (que podem ter um passivo ambiental enorme - basta pensar nos celulares, nas trocas das coleções de moda em poucos meses e etc). A economia criativa é mais meio que fim”, enfatiza a economista Ana Carla Fonseca, que também é conselheira especial das Nações Unidas sobre economia criativa.

Visionários. Esse é um dos adjetivos cabíveis aos empreendedores que olharam à frente e começam a investir em uma área ainda incipiente e sem retorno rápido. Tudo com certa dose de paixão. Em comum, eles ainda têm a coragem de seguir por um novo rumo sem se limitar à área de formação original, além do olhar de que a Bahia é muito mais do que a capital. Confira nas páginas a seguir as histórias de algumas das empresas que escrevem com o seu suor as linhas da reinvenção da economia baiana.

José Sérgio Gabrielli, secretário da Seplan, afirma que a nova realidade econômica social e ambiental exige das empresas uma nova postura

Érica Rusch, presidente do Instituto Sustenta, acredita que a transição para uma economia verde trará benefícios a longo prazo

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F oi durante a temporada que passou estudando engenharia florestal na Califórnia que o baiano Guilherme Valadares conheceu a norte-americana Renata Everett. Não demorou muito para que ela se tornasse sua mulher e companheira de jornada.

Enfrentando as grandes expectativas da família, os dois engenheiros fundaram uma pequena empresa de consultoria na cidade natal de Guilherme, para onde ele sempre sonhou em voltar mesmo depois de rodar o mundo: Salvador.

O que era então uma história de amor entre dois engenheiros em um país distante virou um case de sucesso em plena terra do axé. Em 2001, deixaram de lado os empregos em grandes companhias no Sudeste brasileiro e partiram para uma pequena sala na Barra, situada entre um ateliê de costura e um consultório odontológico, para tratar de um tema até então incipiente no Brasil. “A sustentabilidade não era algo comum. Ainda hoje é um desafio muito grande”, conta Guilherme, diretor-executivo da Ambiental PV.

Aos poucos, e muitas negativas depois, as oportunidades foram surgindo. E eles souberam aproveitar cada uma. “Tivemos a humildade de começar pequeno e, ao mesmo tempo, com uma agressividade positiva. No segundo mês, já estávamos operando no verde”. A agressividade que Guilherme cita foi a de vislumbrar um mercado inexplorado. “Uma vez, quando trabalhamos com a Odebrecht, Dr. Norberto me disse: ‘Guilherme, menos técnica e mais coragem’. Eu acho que o segredo é esse: mais coragem para fazer as coisas acontecerem”, diz.

Foi com determinação que ele conseguiu conquistar como clientes grandes a Conservation Internacional, The Nature Conservancy, PriceWaterHousecoopers, Forest Trends, além da Fundação Odebrecht. A consultoria já implantou projetos desde o interior baiano até a Amazônia brasileira e a América Central.

Os empreendedores tiveram coragem ainda para passar de consultores a desenvolvedores de projetos. Foi o caso do programa Fogões Ecológicos, que aproveita o potencial do Recôncavo baiano, com apoio da Natura, beneficiando mais de seis mil famílias baianas que ainda usam fogão à lenha. O programa já está capacitando pessoas para virarem microempresários locais. “Temos um potencial muito bom no Brasil, mas na maioria dos casos falta capital financeiro. Nossa força está justamente em facilitar esse processo”, diz Guilherme, revelando que está em fase de criação um fundo de capital internacional para projetos brasileiros. “Nós temos a engenhosidade do povo baiano”, conta.

Os frutos do trabalho duro começam a aparecer. Em 2011, os leitores da revista britânica World Finance elegeram a Ambiental PV como a melhor consultoria de carbono florestal da América do Sul. Embora não revele números, Guilherme conta que a Ambiental PV vem aumentando lucros e receitas anualmente. “Mesmo durante a crise”. A receita? Flexibilidade. “Queremos continuar pequenos, ágeis e flexíveis. Nessa área, se eu tenho uma estrutura muito grande, eu morro”.

“A sustentabilidade não era algo comum.

Ainda hoje é um desafio muito grande”

AMBIENTAL PV

Guilherme Valadares e Renata Everett enxergam um horizonte

sustentável para o Brasil

FOTO: Pedro de Souza

71 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m j u n h o 2 0 1 2 Revista [B+]

I novação pressupõe coragem. E foi esta, com uma ajudinha das portas fechadas do mercado, que impulsionou o músico Vince Athayde a pular para o outro lado do balcão.

“Eu era somente músico e quando partia para difundir o que estava sendo produzido, o processo travava. Eu tinha o conteúdo, mas não tinha estratégia. Além do mais, o mercado estabelecido já dava sinal de desmoronamento há muitos anos”, conta ele.

Em 2006, aproveitou a oportunidade e fundou a Maquinário Produções, destinada a preencher, como conta Vince, o grande espaço em branco na produção cultural baiana – a tal da música alternativa. “Vi a necessidade de construir plataformas para difusão de uma nova música que estava sendo criada na Bahia, de um novo recorte estético, e percebi que isso poderia ser uma estratégia de mercado em longo prazo”.

A iniciativa vem dando certo. A produtora foi responsável pela vinda de grandes projetos musicais ao estado, como o Conexão Vivo, além de criar outros de grande visibilidade, tal qual o Futurama e o Zona Mundi – Circuito Eletrônico de Som e Imagem, no Museu de Arte Moderna da Bahia.

A inovação não para por aí. “Estruturamos uma rede de produtores associados a microempresas e empreendedores individuais. A primeira ação implantada foi a Incubadora de Festivais e Mostras de Música (Ifem), desenvolvendo festivais nas cidades polos dos territórios de identidade da Bahia, como Vitória da Conquista, Juazeiro, Ilhéus e Salvador”. Assim a produtora expandiu seus territórios, explorando o potencial do interior do estado. “Com um recorte estético diferenciado, ainda não vendemos beijo na boca tão bem quanto os shows de axé, mas estamos chegando lá”.

“Ainda não vendemos beijo na boca tão bem

quanto os shows de axé, mas estamos

chegando lá”

MAQUINÁRIO PRODUCÕES

Vince Athayde sentiu a necessidade de construir plataformas para difusão de uma nova música que estava sendo criada na Bahia.

Zona Mundi, Conexão Vivo e Futurama são alguns dos projetos da Maquinário na Bahia

FOTO: Rômulo Portela

FOTO: Divulgação

72 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

O riunda de uma família humilde, Adriana Souza já conquistou muito no auge dos seus 28 anos. Após ser empregada doméstica e

auxiliar de professora, ela, que só estudou até a quarta série, decidiu embarcar em um projeto em que nada indicava que teria êxito: fundar uma cooperativa de material reciclável. Foi assim que há 13 anos surgiu na Baixa do Fiscal, a Camapet – Cooperativa de Coleta Seletiva, Processamento de Plástico e Proteção Ambiental. Junto a meia centena de jovens, Adriana acreditou que o negócio poderia dar certo. E deu.

A Camapet é um empreendimento associativo e autogestionário e conta atualmente com 26 cooperados que sobrevivem da coleta e doação de recicláveis - plástico, papel, vidro, metais e óleo de fritura. Mensalmente, a cooperativa coleta cerca de 50.970 quilos (ou litros, no caso dos 900 litros de óleo) de material reciclável, sendo que papel e papelão respondem por 78% desse volume. “No início, não tínhamos quase nada. Hoje é tanto material que quase não damos conta”, ressalta Adriana.

A iniciativa teve tanto sucesso que originou a CamapetBiju, em 2005. A extensão fabrica joias e artefatos pelas mãos dos cooperados feitos com aquilo que já foi considerado lixo. São vendidas por mês aproximadamente 200 peças, além de decoração em eventos, shows, como o Festival de Verão, e camarotes no Carnaval. “Ao mesmo tempo que ajuda o meio ambiente, cria renda para a gente”, diz Adriana, que passou de cooperada a gerente do CamapetBiju.

A Camapet acumula prêmios. Em 2006, faturou o sétimo prêmio Fieb Desempenho Ambiental, na categoria Projetos Cooperativos de Responsabilidade Socioambiental. Em 2009, foi a vez do Sebrae indicar a cooperativa como uma das cem melhores unidades de artesanato do Brasil. Na categoria coleta e separação, a Camapet ganhou o prêmio Ecopet, da Associação Brasileira da Indústria do Pet-Abipet, em 2010.

“Ao mesmo tempo que ajuda o meio

ambiente, cria renda para a gente”

CAMAPET

Adriana deixou de ser empregada doméstica e auxiliar de professora para ser gerente do CamapetBiju

FOTO: Rômulo Portela

FOTO: Divulgação

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S alvo se for especialista na área, esqueça o que você pensa sobre design. O setor, que já foi sinônimo só de peças gráficas e de moda, se expandiu no estado,

incorporando muito mais do que o senso comum imagina. É o caso do design praticado pela baiana Overbrand. Especializada em design estratégico e social, a empresa realiza desde requalificação e planejamento urbano até soluções de geração de renda para comunidades específicas. “Design para a gente é processo”, explicita um dos sócios da empresa, Mario Bestetti.

A Overbrand foi criada em 2006, quando três designers que atuavam em áreas sociais resolveram unir forças. Atualmente com dois sócios, Rodrigo Lira e Mario Bestetti, a empresa conta com sete designers fixos, que mal conseguem ocupar os seus lugares no escritório diante de tanto trabalho externo.

É o caso dos projetos Caminhos do Oeste, que potencializa a identidade mercadológica de destinos turísticos do Oeste baiano; a rede de produção e comercialização do território sisaleiro, que requalificou o Centro de Artesanato e Arte da Região do Sisal de Valente (BA); e o Território Candeal 2014, que visa a requalificação do bairro através de investimentos na perspectiva de território criativo.

Entre projetos de desenvolvimento territorial e construção mercadológica, a empresa está presente em diversas cidades da Bahia e em outros três estados brasileiros, com propostas de expansão para mais dois. “Mas o estado é muito grande. Não precisa sair”, conta Mario, ressaltando que ainda há muito espaço para o crescimento interno.

O cenário não poderia ser melhor para o design baiano, de acordo com ele. Embora ainda seja volátil, a área começa a ser pensada no âmbito governamental e a se consolidar no mercado. “Estão se criando caminhos onde o design pode ser inserido”, diz. A cautela, no entanto, é uma marca da empresa, que, como não poderia deixar de ser, avalia todo o cenário antes de alçar voos mais altos. “A coisa não é crescer de forma rápida, mas sustentável”. A curva de crescimento da empresa é de 10% a 20%, sempre crescente.

De sorriso tímido mas fácil, Mario se diz realizado na área. “Nós não oferecemos apenas um serviço, nós damos esperança às pessoas”.

“Design para a gente é processo”

OVERBRAND

Mario Bestetti apresenta os bonecos produzidos por artesãos do projeto Pracatum, no Candeal, para a Copa 2014

FOTO: Rômulo Portela

74 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

FOTO: Divulgação

M arcel Fonseca não se importa de ser chamado de louco. De certa forma, vê até como um elogio. “Todos me chamam de louco. Imagine o que seria do mundo

sem os loucos?”, justifica. Técnico em quatro áreas diferentes, ele afirma que encara qualquer coisa. Há uma década, topou o desafio de ser pioneiro em uma área na qual ele nunca tinha escutado falar. E foi assim, “para diversificar os negócios”, que Marcel começou a dividir o tempo em que administrava sua imobiliária para investir em geração de energia solar no interior baiano. O projeto, dependente da boa vontade dos políticos locais, acabou não tendo o êxito esperado. Marcel, contudo, não desistiu. Convencido de que a economia verde representava o futuro, ele trocou de lado: passou a vender pensando no consumidor. Visitou quase 200 fábricas na China para trazer a primeira distribuidora de veículos elétricos genuinamente baiana para o estado.

Uma scooter elétrica custa R$ 3.645 e, caso consuma os 60 quilômetros de autonomia da bateria todos os dias, gasta mensalmente R$ 18 de energia. A única desvantagem é a potência, que a faz atingir a velocidade máxima de 45 km/h. “Na Bahia, temos um grande problema de mudar conceitos”, lamenta Marcel, ao informar que o maior mercado da empresa é o Rio Grande do Sul, pela internet, apesar das duas lojas na capital baiana.

Atualmente, com quatro anos de existência, a Onda Elétrica já dobrou a produção e começa a implementar um novo sistema de “representação fácil” que deve incrementar os negócios. A expectativa é que a distribuidora cresça até 2.000% nos próximos anos. “Nos últimos três meses, estamos vendendo mais do que podemos entregar”. O percentual, entretanto, ainda é pouco comparado à ambição do empreendedor. Ele se prepara para lançar o primeiro veículo elétrico baiano: o Econ, um triciclo com design futurista, 100% reciclável.

Além disso, Marcel está em fase de captação de recursos para realizar um sonho de R$ 100 milhões. Trata-se do Oi Gera, um sistema de abastecimento elétrico. Ele pretende instalar um equipamento de geração de energia por meio do lixo, que irá abastecer gratuitamente os veículos adquiridos na Onda Elétrica. Assim, de uma vez só, reduzem-se as emissões de carbono por combustão, os resíduos sólidos e a energia oriunda de fontes sujas. “Para isso é preciso que todo o mundo acredite”.

“Os veículos elétricos são mais taxados do

que os carburados. Falta interesse do governo”

ONDA ELÉTRICA

Montado na moto elétrica. Marcel Fonseca visitou quase 200

fábricas de veículos na China

FOTO: Rômulo Portela

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Em junho, a In-Vento estreia uma plataforma para conectar profissionais da área, realizando cursos, palestras e workshops. No segundo semestre, essas ações culminarão em uma conferência sobre economia criativa.

De acordo com Monte, a In-Vento já possui diversos projetos em andamento, focados principalmente no crowdsourcing e o crowdfunding. “Estamos também construindo um estúdio crossmedia (música, vídeo e design), que estará pronto em agosto para pesquisa e desenvolvimento de conteúdo”, explicita.

Ele acredita que a economia criativa possui um grande potencial na Bahia. “Através dela, podemos atingir ótimos índices de desenvolvimento no setor econômico e social. De uma forma nova, poderemos, sem copiar os tradicionais modelos desenvolvidos nos Estados Unidos e alguns países europeus, desenvolver soluções criativas compartilhando valores que estão ligados à perspectiva de uma nova economia. A oportunidade é de transformação”, reitera.

O otimismo do empresário tem alicerce na experiência como gestor público e músico. “Precisamos investir em inovação, no risco. É nesse cenário que daremos o salto”. [B+]

O envolvimento de Gilberto Monte com a economia criativa é anterior à popularização do termo. Entre 2003 e 2007, ele trabalhou na Eletrocooperativa, onde começou a

pensar em inclusão social, digital, e novos modelos econômicos baseados na criatividade. “Foi um grande laboratório para as ações que desenvolvemos hoje”, diz. Após passar outros quatro anos na Diretoria de Música da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) e conhecer em Londres diversos empreendimentos dedicados às indústrias criativas, ele decidiu virar um empreendedor da área.

Foi assim que surgiu a In-Vento e o Instituto In-Vento, que, ainda embrionários, pretendem “ressignificar e provocar transformação do setor cultural através de inovação, desenvolvimento de redes de trabalho, e pesquisa”, como conta Gilberto. A ideia é desenvolver e implementar uma série de soluções para o mercado da cultura e do entretenimento, além de ações para fortalecer o setor.

“Precisamos investir em inovação, no risco, no erro. É nesse cenário que daremos o salto”

IN-VENTO

Gilberto Monte foi da Eletrocooperativa e hoje trabalha para “ressignificar o setor cultural”

FOTO: Divulgação

76 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

O ambiente é repleto de mentes jovens imersas no universo da criatividade. Post

its de diversas cores e tamanhos decoram as paredes de vidro e servem de guias e ideias para novos briefings e jobs. Em mais uma tarde de ebulição criativa, visitamos o escritório da agência interativa DMI, na avenida Centenário. Lá, os sócios e cônjuges Rodrigo Hurtado e Ingrid Queiroz revelaram o “algo a mais” que eles têm a contribuir com o mercado.

Ela, formada em administração de empresas, e ele, da área de design e publicidade digital, se conheceram, namoraram e casaram. Há cinco anos, o casal deu início à empresa baiana que apostou em uma embrionária tendência. Tempos depois, a investida mostrou que não era mesmo um blefe e a DMI passou a colher resultados positivos. Hoje conta com um crescimento de 30% ao ano, novos clientes de peso e sede própria também na maior cidade do país, São Paulo.

Tudo começou quando a DMI passou a ser procurada por

ESTRATÉGIAS PARA CONECTAR

PESSOAS ÀS MARCAS

Rodrigo Hurtado e Ingrid Queiroz comandam a jovem empresa baiana DMI. Criatividade e tecnologia são termos do dia a dia da agência, que aposta em uma comunicação “transmidiática” para solucionar os desafios dos clientes

por MURILO GITEL

fotos DANILO LIMA

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Vocês atendem a quais setores atualmente?Ingrid: Já atendemos a vários setores, como varejo, automobilístico, produtos de limpeza e até mesmo campanha política.

A comunicação digital pode ser considerada imprescindível hoje?Rodrigo: Sem dúvida. As empresas começaram a perceber que precisam investir bem em comunicação digital. Elas precisam aparecer na internet, ter uma presença nas redes sociais. Fazemos uma espécie de raio-x para elas, além de identificarmos os melhores lugares para investirem na internet.

O mercado baiano compreende essa necessidade?Ingrid: O esforço que temos de fazer para convencer o cliente baiano de que a comunicação digital é importante é muito grande. A publicidade off-line aqui ainda é muito tradicional.

Rodrigo: Na verdade, a gente acaba não convencendo eles... Nós apenas mostramos a realidade. O cliente quer fazer só um site, aí nós mostramos que o site faz parte de uma estratégia de comunicação, mas que não é tudo. Podemos idealizar promoções interativas, ações mobile, alternativas inovadoras que geram resultados de impacto.

Em um mundo cada vez mais conectado e em constante transformação, como a DMI se posiciona?

Rodrigo: Viramos um tipo de tradutor dessas tendências e as pessoas que entenderam conseguiram construir suas marcas. Entendemos as necessidades dos clientes em um nível mais global. Pensar de forma transmidiática ajuda muito a resolver questões de planejamento.

Ingrid: Hoje nós temos um núcleo de redes sociais, de mídias digitais, de criação, de produção para o desenvolvimento de web (aplicativos, sites, mobile). Temos um atendimento que pode dar total suporte ao cliente para atender qualquer tipo de demanda. O

tradicionais agências de publicidade de Salvador, que não tinham a expertise digital. “Quando fazíamos nosso serviço, sempre acabávamos oferecendo algo a mais. Questionávamos por que fazer apenas um site?”, lembra Hurtado. No entanto, o diferencial que a DMI propunha era rechaçado por essas agências parceiras, que não entendiam as propostas. Era o momento de declarar independência e procurar os próprios clientes. Deu certo.

O que tinha de diferente nas propostas de vocês que ainda não eram aceitas naquele tempo?

Rodrigo: É que, além de sites, nós já pensávamos em agregar promoções (pontuais ou não), oferecer visibilidade nas redes sociais, gerar conteúdo para aparelhos portáteis. Enfim, diversas alternativas. Porém as agências não entendiam nossas propostas e diziam que os clientes não queriam tais serviços. Resolvemos, então, ser independentes.

O que os diferencia no mercado?Ingrid: Hoje o nosso diferencial é oferecer estratégia de planejamento. Por conhecer essas ações, como aplicá-las, nós sabemos o que podemos oferecer e o que os nossos clientes vão poder colher de resultado.

Rodrigo: Nunca pensamos só no serviço. Por exemplo: ‘Eu sou uma empresa que faço o site’. ‘Eu sou a empresa que faço o mail-marketing’. Existe um mundo de comunicação interativa que pode servir para as necessidades do nosso cliente. O objetivo é conectar a marca às pessoas utilizando novas tecnologias. Já existiram várias ondas. A onda do e-mail marketing, a onda do Bluetooth, do mobile, mas nós sempre agregamos essas possibilidades aos nossos serviços. Estamos sempre atentos às novas tecnologias, tentando trazê-las ao mercado.

A criatividade é o ingrediente entre as equipes de redes sociais, mídias digitais, criação, produção para o desenvolvimento de web e atendimento

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enorme, gerenciamos esse conteúdo e as pessoas adoram. Em São Paulo, também fazemos trabalhos para grandes empresas como a Palmolive, Pernambucanas e algumas multinacionais.

Muitos profissionais (publicitários, programadores, designers) têm um desejo hoje de trabalhar na DMI. O que vocês fazem para recrutar a equipe?

Ingrid: Nosso processo de recrutar os profissionais é bastante minucioso. Trabalhamos com pessoas jovens, alegres, simpáticas, antenadas, dinâmicas, de fácil capacidade de relacionamento. Olhamos além do currículo, porque o que contratamos aqui são pessoas. Nós olhamos as pessoas. Procuramos manter os nossos funcionários motivados também. Apresentamos os resultados dos trabalhos deles, procuramos dar salários compatíveis com o mercado, fazemos um happy hour todas as sextas-feiras.

Rodrigo: Às vezes, o currículo de vida é mais importante que o profissional. Claro que o profissional também é importante tecnicamente, mas, às vezes, pode esconder uma pessoa meio que sem vida. O nosso trabalho não é fácil. Nós temos que gerar resultado para as marcas, seja de imagem, de vendas.

E os desafios para reter esses talentos?Rodrigo: Estamos sempre querendo nos desafiar. Propomos projetos desafiadores, mesmo que não seja para um grande cliente, mas a gente quer fazer bem feito. Sabemos o valor que isso pode agregar para uma marca. A nossa equipe é constantemente desafiada a se reinventar, aprender coisas novas. [B+]

“O nosso pensamento é em forma de manifesto. Precisamos criar soluções estratégicas de forma criativa e inovadora para atingir as pessoas” Ingrid Queiroz

“Existe um mundo de comunicação interativa que pode servir para as necessidades do nosso cliente” Rodrigo Hurtado

nosso pensamento vem em forma de manifesto. A gente quer conectar pessoas às marcas. Eu preciso criar soluções estratégicas de forma criativa e inovadora para atingir essa meta.

Vocês estenderam a DMI para São Paulo, em 2011. É inevitável estar presente no mercado de lá?

Rodrigo: Sim. Nossa ida para São Paulo representa a busca por novos clientes e um mercado mais maduro. Mas, ao mesmo tempo, significa que vamos continuar trabalhando para amadurecer nosso mercado local.

Ingrid: Salvador é um mercado que tem avançado, mas queremos ir além. Fomos atraídos pelo mercado de São Paulo, mas também procurados por ele. As oportunidades surgiram, nos enxergaram e as propostas passaram a aparecer.

Quais cases de sucesso da DMI vocês podem destacar?

Ingrid: Criamos a família GBarbosa. São as famílias baianas, sergipanas que estão ali. Cada personagem tem a sua vida, naturalidade e perfil. As pessoas se identificam. As crianças adoram o Dudu, que é a criança da família. Adoram as receitas que dona Ritinha (mãe da família) dá no blog. Fizemos um hotsite do Dia das Crianças com o Dudu e um camarote no Carnaval com os bonecos. O GBarbosa têm maturado a ideia e investido nisso.

Rodrigo: Como a gente ia trazer o varejo para a internet, para as mídias digitais e redes sociais? Não adiantava chegar e dizer: ‘Tomate por R$ 0,50’. Tinha que ter uma linguagem específica. Então, a estratégia transmídia foi essa. No Natal, nós fizemos um filminho da família GBarbosa, de confraternização, por exemplo. Esse tipo de ação ajuda a dar suporte para a marca na hipótese de uma possível crise.

Ingrid: Outro case é a Perini. Ela têm um posicionamento muito forte no mercado, mas não tinham presença na internet. As pessoas falavam, mas não dialogavam. Criamos o perfil dela nas redes sociais e hoje a participação é

SABOREduardo Santos ensina a receita do arroz negro de polvo com camarões e vieiras.

LIFESTYLE

ESCAPADA ANDINA 2012

MODA: IRÁ SALLES

NOTAS DE TEC | 92PLANO+ | 94

ARQUITETURA SUSTENTÁVEL

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80 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

L IFESTYLE | mod a

IRÁ SALLES: BRASILIDADE COM SOFISTICAÇÃO GLOBAL

por GINA REIS

Ex-aluna da Parsons School of Design, uma das escolas de arte e design mais conceituadas no mundo, Irá Salles é uma baiana sem fronteiras. A designer já trabalhou com Carolina Herrera e desenvolveu peças para o mercado de moda em Nova York e Europa, criando peças para personalidades como Uma Thurman e a princesa britânica Margaret

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U m parque de diversões para mulheres de todas as idades e de todos os estilos. Essa é a sensação de quem visita o endereço

exclusivo da designer baiana Irá Salles, no Caminho das Árvores, em Salvador. Impossível não desejar cada uma das peças expostas nas vitrines, criações da estilista que se tornou referência no Brasil e no mundo quando se pensa em acessório de luxo. Quem conhece o trabalho de Irá Salles não consegue imaginá-la fazendo outra coisa. Contudo, seu casamento com a moda e com o mundo dos negócios aconteceu por acaso. “Sempre amei moda, mas nunca achei que seria minha profissão. Principalmente porque na época em que comecei, ser estilista não era uma carreira muito reconhecida”, conta.

Em casa, a vontade de seu pai era pela escolha de uma profissão tradicional. Porém a personalidade intuitiva e criativa falou mais alto. “Acredito que herdei essa veia artística da minha avó. Ela era artista plástica e seu dia a dia era muito focado no viver bem”, lembra. Determinada como toda escorpiana, Irá decidiu cursar comunicação - período em que iniciou o namoro com a moda. “Em Salvador, trabalhei com as marcas Mitchell e The Planet na área de programação visual. Mas o mercado não dava muitas perspectivas. Por isso, decidi morar no exterior e investir na minha formação”.

O destino escolhido foi Nova York (EUA), um dos principais centros difusores da moda mundial. Durante três anos e meio, Irá Salles frequentou as salas de aula de uma das escolas de arte e design mais conceituadas no mundo: a Parsons School of Design. Fundada em 1896, a Parsons formou nomes do design e da arte, como Calvin Klein, Donna Karan, Tom Ford, Marc Jacobs, Alexandra von Fürstenberg (filha de Diane von Fürstenberg) e Jason Wu (um dos estilistas preferidos da atual primeira-dama norte-americana, Michelle Obama). A escola é um centro difusor de talentos, parceira de empresas como a

“Não fui para a Parsons para aprender a copiar.

Temos que procurar nos desprender das

regras. Estudei moda para criar um estilo”

Irá Salles no atelier de Carolina Herrera, em NY, e acompanhada dos colegas de trabalho

FOTOS: Acervo Pessoal

82 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

Irá desenhando modelos das bolsas

que hoje são exportadas para EUA,

Canadá, Europa, Oriente Médio e Japão

Desde 2011, as bolsas de Irá Salles fazem parte do acervo do Tassen Museum of

Bags and Purses, na Holanda

Louis Vuitton, Manolo Blahnik, Christian Laboutin e Carolina Herrera. No período do curso, os alunos têm a chance de ouro de acompanhar de perto a genialidade desses mestres.

Nesse celeiro de ideias e profissionalização, Irá Salles aprimorou o talento criativo e aprendeu, sobretudo, os passos essenciais para empreender com sucesso. “Tive a oportunidade de iniciar a minha carreira ao lado de Carolina Herrera. Trabalhei por seis meses com uma grande designer em uma cidade que é um polo de moda mundial. Foi, com certeza, um divisor de águas para a minha carreira”, destaca. Segundo Irá Salles, essa vivência a conduziu naturalmente à carreira de estilismo.

Com Carolina Herrera, Irá desenvolveu modelos para personalidades internacionais, a exemplo de Uma Thurman e princesa Margaret. Ainda pela Parsons, a baiana morou por um tempo em Paris (França), quando pôde conhecer outro perfil de consumidor, o público europeu. “Meu foco na moda estava muito no mercado de Nova York. E nem tudo que eu via em Nova York era adaptável para o mercado brasileiro. Ir para a Europa proporcionou uma terceira visão do setor. Foi muito importante vivenciar in loco o mercado europeu e perceber que há um comportamento diferente”, revela.

De acordo com a designer, clima e estilo de vida são determinantes para o consumo. “Na Europa, o perfil de consumo é diferente do norte-americano. As pessoas investem em peças que durem mais, uma moda mais clássica. No Brasil, a diversidade é imensa. Na Bahia, as mulheres usam muito salto. No Rio de Janeiro, não se usa tanto porque as pessoas andam mais nas ruas. Já as paulistas têm como referência as tendências de Nova York”, explica Irá, ao defender que, apesar da globalização e de uma moda cada vez mais igual, o consumidor é diferente em cada lugar.

A designer destaca que por conta dessa forte analogia no setor, as marcas estão procurando se diferenciar. “Esse é um dos principais pontos que eu procuro aperfeiçoar na minha marca atualmente. Criar um produto que seja único, que tenha uma identidade. Mas que, ao mesmo tempo, possa ser usado por qualquer mulher, em qualquer lugar do mundo. Fazemos adaptações para cada grupo consumidor, porém sem perder a essência”.

“A informação chega para todos, mas o diferencial entre os grandes

gestores está na forma que se aplica esse conhecimento”

FOTOS: Acervo Pessoal

83 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m j u n h o 2 0 1 2 Revista [B+]

Tudo começou com uma bolsaOs primeiros passos como estilista já tinham sido dados, porém a carreira de Irá Salles deslanchou após um período de férias no Brasil. “Ainda morando em Nova York, de férias no Brasil, comecei a fazer bolsas para algumas amigas. Todo o mundo gostava e queria uma peça. Então, passei a desenvolver, apresentar e vender pequenas coleções em Nova York também. O negócio tomou uma proporção tão grande que tive que voltar definitivamente para o Brasil, em 2000, para atender à demanda”, explica.

O sucesso da marca Irá Salles é reflexo do potencial criativo da designer, porém, sem dúvida, seu olhar empreendedor é decisivo. “Minha formação em moda sempre foi pautada em buscar o novo. Não fui para a Parsons para aprender a copiar. Temos que procurar nos desprender das regras. Estudei moda para criar um estilo”, defende. Para ela, nesse mundo de ideias criativas, a informação chega para todos, mas o diferencial entre os grandes gestores está na forma que se aplica esse conhecimento.

Com um trabalho autoral, sofisticado, moderno, rico em cores e com um acabamento primoroso que envolve técnicas manuais, a grife Irá Salles conquista garotas mundo afora. Na fábrica localizada no bairro de Nazaré, em Salvador, são fabricados atualmente cerca de 400 produtos por mês. Essas peças são exportadas para os Estados Unidos, Canadá, Europa, Oriente Médio e Japão. No Brasil, suas coleções são aguardadas de Manaus a Porto Alegre por consumidoras ávidas por uma bolsa, sapato ou roupa assinada. A marca está presente nas principais revistas nacionais e internacionais de moda.

Um reconhecimento que também chegou ao mundo das artes. Desde 2011, bolsas selecionadas por uma curadoria compõem o acervo do maior museu de bolsas do mundo, o Tassen Museum of Bags and Purses, em Amsterdã, Holanda.

E não para por aí. Irá tem planos de expansão. “Queremos crescer de forma planejada. Ampliar o número de lojas próprias no Brasil, principalmente no eixo Rio e São Paulo”, revela. Disposição de uma baiana inquieta que conquista, a cada criação, novas adeptas de um estilo único e alegre ao reproduzir o jeito brasileiro de ser, sem, no entanto, cair nos velhos e já ultrapassados estereótipos. [B+]

84 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

a natureza, onde ainda tem espaço para micos, coelhos, patos, perdizes, entre outros, sem perder a beleza e o conforto”, declara o proprietário.

Porém o jovem empresário, dono da residência, não chegou com uma ideia bem definida. “A visão dele era de preservar o verde pela plástica, pelo frescor, pelo encantamento com a natureza. Nós oferecemos algo mais: um projeto com um conceito mais amplo, que contemplasse outros elementos para melhor integrar o meio ambiente com a estrutura da casa, preservando a flora e a fauna do local e utilizando recursos ecologicamente sustentáveis”, explica Caramelo.

O arquiteto ressalta que um projeto ecológico deve gerar energia limpa, diminuindo a produção de CO

2.

“Não mexemos em nenhuma árvore. A residência foi toda construída sobre pilares, que chegam a 13 metros de altura. Fizemos a casa dando a sensação de se estar debruçado sobre a paisagem”, descreve o arquiteto.

Q ual a criança que nunca teve o sonho de ter uma casa na árvore ou em meio à natureza? Esse desejo tem se transformado

em realidade para muita gente grande e cheia de responsabilidade. São pessoas preocupadas em viver em harmonia com o meio ambiente.

Esse não era bem um sonho, mas se tornou uma doce realidade para uma família que vive no Horto Florestal, em Salvador. O proprietário, que prefere não se identificar, já encontrou um terreno propício para as soluções ecológicas propostas pelo arquiteto Antônio Caramelo. Concordou com as ideias e o resultado é que hoje a família não quer saber de outra coisa senão desfrutar desse oásis no meio da cidade grande.

“Nossa casa é o nosso paraíso, utilizamos todos os espaços que foram cuidadosamente projetados. A possibilidade de viver bem, preservando as árvores, cria um ambiente de convivência harmoniosa com

L IFESTYLE | a rq u i t e tu ra

MORADIA CONSCIENTE

FOTO: Marcelo Negromonte

A casa foi projetada envolta de vegetações e

árvores seculares

85 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m j u n h o 2 0 1 2 Revista [B+]

Projeto sob medidaEm um terreno de quase dois mil m2, foi construída a residência de 660 m2, distribuída em três planos interligados, projetada para um casal com duas filhas. A franca interação com as árvores possibilitou melhores condições de iluminação e ventilação. À parte estrutural, foi reservada a missão de esconder o que não precisava ser mostrado, valorizando a intenção de convivência com a natureza, o que levou à especificação de uma solução mista, com parte em estrutura metálica, parte em concreto e parte em alvenarias.

Além de amplas suítes, varandas e salas, o espaço também contempla uma passarela de vidro sobre o terreno e vegetação a mais de 12 metros de altura, integrando a área social à área de lazer, grandes janelas para ventilação cruzada e um deque suspenso, onde fica a piscina com borda infinita. Também integram os ambientes da morada um espaço gourmet, galeria, academia de ginástica, sauna, churrasqueira e home theater.

O proprietário ressalta que, além da sensação de bem-estar, a casa oferece vantagens econômicas. “A obra foi projetada envolta de vegetações e árvores seculares, com persianas duplas automatizadas que fazem o isolamento térmico, espaços abertos e claros, com ventilação cruzada, utilizando energia solar e captação de água para irrigação automatizada. Ainda a piscina de borda infinita debruçada sobre o verde faz a recaptação da água utilizada, diminuindo o consumo”, destaca.

Projetos residenciais ecológicos são cada vez mais requisitados tanto nas grandes capitais como no interior

por ANDRÉA CASTRO

“Não mexemos em nenhuma árvore. A residência foi toda construída sobre pilares, que chegam a 13 metros de altura. Fizemos a casa dando a sensação de se estar debruçado sobre a paisagem”Antônio Caramelo, arquiteto

A piscina de borda infinita faz a recaptação da água utilizada, diminuindo o consumo

O espaço foi construído a mais de 12 metros de altura

FOTOS: Marcelo Negromonte

86 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

Nas marquises da permaculturaCasa de ferreiro, espeto de pau. O famoso ditado popular certamente não se aplica ao permacultor e bioconstrutor Nagoy Sol. Ele, que faz parte do corpo técnico do Instituto de Permacultura da Bahia, decidiu pôr em prática em sua própria casa todos os conceitos ensinados nas suas palestras. Sol, como é mais conhecido, construiu uma residência ecológica no município de Rio de Contas, na Chapada Diamantina, onde vive com sua esposa e filha.

Como permacultor, Sol acredita que a família deve se envolver na construção de sua própria casa. “Com os materiais convencionais de construção, isso é bem difícil, além de ser prejudicial à saúde. Quando opto por uma bioconstrução, o canteiro de obras torna-se uma extensão da minha casa. Dessa forma, minha companheira e nossa filha, Selva, que hoje tem 3 anos, estiveram bioconstruindo, com barro nas mãos”, conta satisfeito. Sol recorda também que os filhos dos pedreiros estiveram por ali brincando com Selva - coisa que não se vê na construção civil, mantendo um clima familiar e sadio durante o processo. “Chegamos assim a um lar ecologicamente correto, confortável, bioclimático, em harmonia com o entorno socioambiental onde o construímos”, completa.

A permacultura orienta para um modelo ideal de moradia. A definição de “design” passa a ser mais do que desenho, é o planejamento consciente, que considera todas as influências e os elementos do sistema vivo onde sua propriedade está localizada. “O design permacultural traça estratégias para a utilização da terra e dos recursos energéticos sem desperdício ou poluição, integrando a propriedade e todos os organismos vivos em um ambiente sustentável de cooperação, formando e fortalecendo ciclos naturais. Ou seja, observar, observar e observar, assim se faz um bom planejamento.”, conclui Sol.

Dessa forma, o permacultor revela que a receita para a construção ecológica ideal está na biorregião onde ela está inserida. Apenas através da observação dos recursos energéticos dessa biorregião, bem como dos costumes e tradições locais, será possível construir sustentavelmente. “Um assentamento humano deve ser socialmente e ambientalmente responsável. Os materiais da região devem ser priorizados, pois assim quem se beneficia é o trabalhador e a economia local, que se torna mais rica e diversa”, destaca.

A utilização de adobão (tijolo de barro) feito no quintal e de reboco natural sem cimento é bom exemplo de ação responsável. Além disso, utilizar um sistema de saneamento ecológico (banheiros secos, bacias de evapo-transpiração para sanitários, filtros biológicos para água cinza), captar luz e calor solar através de vidros e garrafas e a captação e armazenamento de água da chuva, a partir do ponto mais alto da propriedade, são ótimas formas de minimizar o consumo de energia e otimizar o uso dos recursos disponíveis, evitando assim o desperdício. [B+]

[+] NO SITE :

Caramelo descreve produtos “high-tech verdes”

“Apenas através da observação dos recursos energéticos da biorregião, bem como dos costumes e tradições locais, será possível construir sustentavelmente” Nagoy Sol, permacultor e bioconstrutor

“Os materiais da região devem ser priorizados, pois assim quem se beneficia é o trabalhador e a economia local”

Captar luz e calor solar através de vidros e garrafas

FOTO: Marisa Viana

FOTO: Marisa Viana

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88 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

[DIA 2] Barreal|AR a Villa Unión|AR (465 km)Depois de aquecer as motos, por conta da noite fria, partimos rumo à Villa Unión. A amplitude térmica chamava a atenção: de 5 a 38 graus, eram diversas as sensações. Enfrentamos trechos de rípio, que se alternavam com o asfalto e pedras na pista.

Depois de uma hora, John reuniu o grupo para mais instruções, já que entraríamos em uma área com muitas curvas, pista estreita e grandes despenhadeiros. Seguimos o curso do rio San Juan e atravessamos uma brecha na cordilheira. Seguimos com muita atenção, devagar e admirando uma das regiões mais inóspitas do mundo. Paredes com inclinação negativa nos davam a sensação de que uma rocha poderia despencar sobre nós.

Muitas fotos e vídeos depois, seguimos para Villa Unión, que ficava mais ao norte da Argentina, já na Rota 40, famosa estrada que corta a Argentina do norte ao sul, terminando em Ushuaia. O dia tinha sido pesado. Jantar na varanda, bons vinhos e descanso pra mais um dia.

[DIA 3] Villa Unión|AR a San Juan|AR (498 km)Com uma paisagem desértica, paramos no parque Ischigualasto para um tour de 40 km de rípio e terra. Os arqueólogos encontraram nessa região fósseis de dinossauros que habitaram o planeta há mais de 200 milhões de anos. Uma das áreas que mais nos chamaram a atenção foi o Vale de La Luna: formação argilosa, branca, esculpida pelo tempo e pelo vento. A paisagem impressiona. O calor também - mais de 35 graus.

Nessa região da Argentina, o fornecimento de gasolina não é “tão” seguro e poderíamos ficar sem combustível para chegar a San Juan. Confirmado um posto a uns 150 km que tinha recebido gasolina no dia anterior, seguimos viagem, “dosando” o

[DIA 1] Santiago|CH a Barreal|AR (395 km)Acordamos antes das 5h, arrumamos nossa bagagem no carro de apoio e seguimos para a estrada. Nove motocicletas BMW seriam as nossas companheiras pelos próximos cinco dias. A vontade de parar e fotografar era constante. Um cenário de tirar o fôlego dava boas-vindas à nossa aventura. Passamos pelos famosos Les Caracoles - conjunto de 29 curvas, com ângulos de até 150 graus, até chegar ao topo das montanhas.

Em solo argentino, uma parada na entrada do Parque Aconcágua, no cemitério dos alpinistas. Mais café e chocolate, para enfrentar os dez graus de temperatura e ouvir John, o guia australiano, contar a história dos alpinistas que morreram tentando chegar ao cume da montanha. Detalhes como botas e outros equipamentos ao lado dos túmulos nos impressionaram.

A partir desse momento, começamos a enfrentar o rípio, estrada de terra com pedra e cascalho. Concentração total: as motos fugiam do traçado, a traseira escorregava o tempo todo e a poeira nos dava pouca visibilidade. Todos mudos. Foi o trecho mais difícil de toda a aventura.

Porém fomos presenteados com um visual deslumbrante na pousada Los Patos. Da varanda, a imponência da cordilheira com seus picos nevados. Cerveja Quilmes, parrilla e malbec para fechar o primeiro dia com chave de ouro.

L IFESTYLE | v i ag em

ESCAPADA ANDINA

FOTOS: Acervo Pessoal

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acelerador para controlar o consumo. Ainda faltavam uns 180 km até nosso oásis nesse deserto.

Foi um trecho difícil. O marcador de temperatura de minha moto acusava 38,5 graus, o ar que entrava pelo capacete era quente e exigia concentração na estrada.

Todos queriam chegar ao hotel. San Juan é uma grande cidade, diferente das vilas onde dormimos nas noites anteriores. O hotel Del Bono tinha SPA e cassino. Mais uma vez, a noite foi regada a vinhos malbec e chardonnay.

[DIA 4] San Juan|AR a Mendoza|AR (180km)O menor trecho de nossa aventura. Combinamos que seguiríamos até Mendoza sem paradas. A viagem foi tranquila e rápida. O que mais víamos eram as parreiras e as centenas de produtores dos famosos vinhos de Mendoza. Dia claro, céu azul. Nosso hotel, no centro da cidade, era suntuoso. Passeamos pelo centro, bebemos umas cervejas e nos encontramos com John, onde uma van nos aguardava para seguirmos até a Bodega. Um belo almoço que derrubou a turma. Voltamos ao hotel e seguimos para o SPA bem merecido após tantos quilômetros de estrada.

[DIA 5] Mendoza|AR a Santiago|CH (385km)Saímos nos primeiros raios de sol e passamos por diversas bodegas na Rota 7, até começarmos a subir a cordilheira em direção a Uspallata, a mesma cidade em que passamos e abastecemos no primeiro dia. Uma estrada deliciosa, com muitas curvas.

A sensação de cansaço é incrível quando estamos a mais de três mil metros de altitude. Na descida, novamente os Les Caracoles e um dos pilotos descobriu um medo quase incontrolável de fazer as curvas fechadas com penhascos. Descemos três motos, lado a lado, criando uma barreira visual para ele. Deu certo. Já na base da cordilheira, nosso último almoço da aventura. Depois disso, chegamos a Santiago com a sensação de termos vivido histórias inesquecíveis. [B+]

por MAURÍCIO CASTRONove amigos que sonhavam fazer uma aventura com suas motocicletas encontraram entre o Chile e a Argentina o lugar ideal para realizar o sonho. Acompanhe o diário de bordo de Maurício Castro, superintendente de Comunicação Institucional do Sistema Fieb de ofício, e motoqueiro nas horas de lazer

Maurício Castro em meio a paisagem composta pelas cordilheiras e o deserto

90 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

A criatividade e o sabor indescritível do salame de polvo da Cantina do Julliu’s.

E duardo Santos da Silva morou parte da infância no exterior, sem o costume de ter uma cozinheira em casa. Com 9 anos, fez as

primeiras experiências na cozinha ao preparar sanduíches elaborados, que despertavam o paladar da família. “Mais tarde, veio o tradicional churrasco para receber os amigos. Percebi que gostava não só dos elogios, mas também de saborear o que eu mesmo cozinhava”, lembra.

Quando começou a participar de confrarias gastronômicas, aprimorou o talento. Passou a se aventurar em receitas mais complicadas e conquistar novas habilidades. Para Eduardo, hoje com 47 anos, cozinhar é uma arte com espírito esportivo, que envolve desafios e superação. “A cada prato que você consegue elaborar perfeitamente, na mesma hora surge a vontade de enfrentar outro mais complicado”.

L IFESTYLE | s ab or

ARROZ NEGRO DE POLVO COM CAMARÕES E VIEIRASO sócio-diretor da agência Ideia 3 Comunicação é o chef desta seção. Eduardo Santos ensina a preparar uma receita diferente e saborosa.

FOTOS: Divulgação

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Qual a sua ligação com a culinária?A ligação é apenas pessoal e lúdica. Em minhas viagens, procuro conhecer a culinária local. Frequento os mercadões e os restaurantes típicos. Como publicitário, o máximo que posso fazer é gerir a comunicação de um restaurante, uma marca de alimentos, coisas assim.

Cozinhar, então, é uma espécie de fuga da rotina?Mexer com as panelas e os temperos é uma forma de fugir do estresse, da rotina vertiginosa de uma agência de propaganda. Na culinária, se o molho deve ficar em banho-maria por 40 minutos, não tem discussão. São 40 minutos e fim de conversa. Diferente da nossa atividade profissional, quando um dia pode significar dois ou três. E o “pra ontem” representa cinco minutos.

INGREDIENTESRecomendado para quatro porções

ARROZ NEGRO- 02 xícaras de arroz negro- 1/2 cebola finamente picada- 02 dentes de alho picadinhos- 04 filés de aliche- 100ml de vinho branco seco- 01 polvo pré-cozido e cortado em lâminas- 25ml de azeite de oliva- 1.200ml de água do cozimento do polvo- 02 colheres de sopa de molho de tomate caseiro- 30ml de creme de leite - fresco de preferência- 01 colher de sopa de manteiga gelada- Salsinha picada- Sal e pimenta

CAMARÕES E VIEIRAS- 200g de filé de camarão- 100g de vieiras- 01 colher de sopa de manteiga gelada- 50ml de conhaque- Salsinha picada- Azeite de oliva- Sal e pimenta- Manjericão

MODO DE PREPARO

Arroz negroAquecer o azeite, adicionar o aliche e deixá-lo desmanchar. Juntar a cebola e o alho. Quando desprenderem os aromas, agregar o arroz. Fritar por dois minutos, juntar o vinho e deixar evaporar. Adicionar metade da água do cozimento do polvo quente, tampar e cozinhar o arroz. Mexer de vez em quando para não grudar no fundo da panela. Quando o líquido do cozimento for secando, colocar mais água de polvo quente. Esse processo irá demorar cerca 45 minutos em fogo forte.

Adicionar as lâminas de polvo, o molho de tomate, temperar com sal e pimenta, um pouco mais de caldo e cozinhar mais dez minutos. No final do cozimento, adicionar a salsinha, o creme de leite e a manteiga gelada. Mexer bem.

Camarão, vieira e finalizaçãoAquecer o azeite e metade da manteiga salteando os camarões e as vieiras. Após dois minutos, flambar com o conhaque, juntar a salsinha picada, corrigir o sal, adicionar a manteiga gelada e misturar em fogo baixo.

Para finalizar, coloque metade do conteúdo da frigideira dentro do arroz negro de polvo. Misture bem e por cima enfeite com o restante dos camarões e as vieiras. Regue com o líquido da frigideira. O manjericão dará o toque final. [B+]

[B+] RECEITA

92 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

L IFESTYLE | n o tas d e t ec

O Instagram agora é câmera fotográfica

Para quem é fã do Instagram e de fotografia, uma supernovidade. A empresa italiana ADR Studio criou uma câmera que reproduz fielmen-te o ícone do aplicativo. O melhor de tudo é que a máquina Instagram funciona como a Polaroid e faz impressão instantânea das imagens. E não para por aí, pois o papel das fotos funcionará como um post-it, para ficar mais fácil de compar-tilhar. A Instagram Socialmatic ainda não está à venda, mas o ADR Studio tem planos de lançar a novidade no mercado. A máquina terá 16 GB de armazenamento, wi-fi e bluetooth, Touchscreen, duas lentes principais, primeira para a captação principal, segunda para filtros em 3D, aplica-ções de webcam e QR code capture, zoom óptico, flash de LED, impressora interna para fazer suas fotos, cartucho de papel com folhas de papel Ins-tagram, quatro tanques de cores de tinta e Ins-taOs 1.0 (que conecta o Facebook ao Instagram).

Unifacs agora tem timeline interativa

A nova timeline da Unifacs permite a visuali-zação da história da universidade desde 1972, quando foi criada. Por meio de um sistema que combina informações da base de dados do Fa-cebook, o usuário que acessa o aplicativo tem a sua história interligada com a história da ins-tituição, personalizada de acordo com os seus interesses e exibida em tempo real na forma de um videoclipe. Para conhecer o aplicativo e ver o que a sua história e a da Unifacs têm em co-mum, acesse www.40anos.unifacs.br.

O QUE TEM NO SEU TABLET

01. WISH YOU WERE HERE - Pink Floyd02. ROMEO AND JULIET - Dire Straits03. EVERY BREATH YOU TAKE - The Police04. FLY TO THE MOON - Frank Sinatra05. SAVE TONIGHT - Eagle Eye Cherry06. SUBIRUSDOISTIOZIN - Criolo07. PLÁSTICO BOLHA - Karina Buhr08. EQUALIZE - Pitty09. A HISTÓRIA DE LILY BRAUN - Maria Gadú10. DANÇA DO TEMPO - Armandinho Macêdo

TOP 10 MÚSICAS

GOOGLE READER: Uso o agregador de feeds (RSS) do Google para receber os alertas em tempo real.

GOOGLE DRIVE: O Google lançou seu próprio serviço de armazenamento. Estou testando, mas promete.

READ IT LATER: Funciona como um marcador de links para “ler depois”. É bem bacana e fácil.

EVERNOTE: Esse é campeão. Captura, organiza e acha facilmente qualquer tipo de informação on-line.

QUICKOFFICE HD: Para criar e editar os arquivos do Microsoft Office, além do PDF.

TOP 5 APPS

POR QUE USA UM TABLET? Para diminuir o peso e o tamanho da mochila! Conectividade, facilidade para ter acesso aos perfis de redes sociais e ter à mão um “dashboard” das principais informações do dia.

NOME:LEONARDO VILLANOVA

CARGO:COORDENADOR DE INTERNET DA SECOM/BA

TABLET:MOTOROLA XOOM (ANDROID)

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Opina também no seu escritório?É claro. O ambiente de trabalho influencia na nossa produtividade. Uma local bem decorado, com cores alegres e aroma adequado é fundamental para o desenvolvimento profissional. Contribui também para fechar negócios.

Cozinhar é um atividade que te acompanha desde a infância. Você ainda pratica ela constantemente? Sou um dos fundadores da Confraria Prestigie, um grupo que existe há mais de dez anos em Salvador. Nos reunimos para cozinhar no restaurante OUI. Atualmente, também costumo cozinhar para os amigos na minha varanda gourmet, testando receitas nas novas panelas da Le Creuset que trouxe de viagem.

E qual é a sua especialidade? Na nossa confraria, ganhei o prêmio Prato do Semestre com o “Badejo dos Deuses”. Bem razoável! [B+]

L IFESTYLE | p l an o+

H élio Tourinho Filho, 48 anos, bem que poderia ter sido um arquiteto ou chef de cozinha. A segunda opção é a que hoje mais se aproxima

da realidade do diretor comercial do Grupo Bandeirantes na Bahia. Economista de formação e publicitário de profissão, Tourinho vive uma rotina intensa de trabalho: começa o dia atualizando e-mails, participa de reuniões diárias com a equipe comercial e com clientes do mercado, além dos compromissos com a Rede Bandeirantes de São Paulo e a Band Nordeste.

“Sou responsável pela comercialização da TV Bandeirantes e da rádio Band News na Bahia e Sergipe. No segundo semestre, vamos ter mais um veículo, o jornal Metro”, adianta. O tempo é curto, porém ele não deixa de lado dois hobbies: o tênis e a cozinha. Um é pela atividade física, o outro envolve um sentimento mais antigo. “É na cozinha que me realizo. Minha mãe sempre deu aula de culinária. Aprendi a gostar dessa arte muito cedo”. Conheça os Planos + de Hélio Tourinho.

Se pudesse trocar de profissão, qual escolheria? Gostaria de ter sido arquiteto. Tenho fascínio por projetos e decoração.

Então onde vive dando seus “pitacos”?Em minha casa e, às vezes, na casa dos outros.

LUGAR PREDILETO:

A COZINHACada um de nós tem aquela atividade para inspirar, relaxar, mudar os ares da agitada rotina de trabalho. Com nosso convidado não é diferente. Hélio Tourinho faz da culinária um dos temperos da vida

FOTO: Divulgação

ARTE &ENTRETENIMENTO

MÚSICAArtistas definem rumos

alternativos para a música produzida na Bahia

FOTOGRAFIAO jovem Márcio Mascarenhas exercita a liberdade criativa e expõe em Londres

96 106

ARTES 102 | APLAUSOS 110 | BEATLES FOREVER 112

96 Revista [B+] j u n h o 2 0 1 2 w w w. re v i s t a b m a i s . c o m

I novação. É a palavra que impulsiona alguns setores da música baiana que atuam do outro lado da fronteira do axé e do pagode (com todo o respeito

que esses gêneros merecem). Aos poucos, novos tons surgem em meio ao tum tum tum das últimas décadas.

Os artistas podem até não saber, mas por trás desse movimento está o conceito de economia criativa, que inclui os produtos e serviços relacionados ao conhecimento e à capacidade intelectual, englobando ainda processos, modelos de negócios e gestão. John Howkins, no livro “The Criative Economy”, publicado em 2001, diz que são as atividades em que os indivíduos exercitam a sua imaginação, explorando seu valor econômico, como música, cinema, teatro, artesanato, design, software, entre muitas outras. Já Richard Florida, nos livros “The Rise of the Creative Class”(2002) e “The Flight of the Creative

Class” (2005), amplia o conceito, abrindo as portas também para a educação e a pesquisa científica.

Assim, o setor da economia criativa é hoje o terceiro maior do mundo, depois do petróleo e dos armamentos. O termo ganhou mais força no Brasil depois que foi criada a Secretaria da Economia Criativa, subordinada ao Ministério da Cultura. A formação de núcleos e redes de cidades criativas, baseados na colaboração, na diversidade e na sustentabilidade, é uma das prioridades na nova pasta. Para além da ideia de indústria cultural, que trazia junto a palavra exploração, a economia criativa se propõe a ser uma nova estratégia de desenvolvimento com distribuição de renda. Boa notícia para os artistas baianos, que já praticam esse tipo de economia há bastante tempo, só faltando agora corrigir algumas distorções e organizar as redes.

ARTE & ENTRETEN IMENTO | m ús i ca

por LILIAN MOTA

MPBCOMHO conceito de economia criativa na música da Bahia. Artistas locais produzem novas sonoridades, criam redes e reconfiguram a maneira se fazer negócios – até mesmo sem saber“Até agora a música não me sustenta,

eu é que sustento a música” - Mestre Lourimbau, com seus 62 anos.

FOTO: Mateus Pereira

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Encontros musicaisdefinem rumosUm exemplo de movimento musical com características da economia criativa é o “Encontro de Compositores”, criado em agosto de 2010 no Teatro Vila Velha por um grupo de artistas de diferentes estilos e gerações. Com um clima de bate-papo em mesa de bar, os artistas cantam e conversam com a plateia sobre seus processos de criação, as histórias por trás de cada música e os últimos acontecimentos (musicais e extramusicais) na Bahia e no mundo. Jarbas Bittencourt, Arnaldo de Almeida, Carlinhos Cor das Águas, Dão, Deco Simões, Manuela Rodrigues, Pietro Leal, Ronei Jorge, Sandra Simões e Thiago Kalu compõem o grupo. Cada um tem sua carreira individual, mas a parceria faz a força para enfrentar o mercado e abrir caminhos.

Jarbas Bittencourt, idealizador do projeto, ao lado de Arnaldo Almeida, conta que a atuação coletiva deu novo sentido ao trabalho dos integrantes do grupo. Para ele, a economia criativa é “uma forma de organização que viabiliza ações que não se ligam às lógicas já estabelecidas pelo capitalismo, é um novo jeito de dialogar com o mercado”. Já Manuela Rodrigues, que também faz parte da turma, acha que “o artista contemporâneo tem que lidar com o processo de gestão e condução da própria carreira, ao mesmo tempo em que precisa buscar o exercício do coletivo”.

No Encontro de Compositores, a parceria faz a força para enfrentar o mercado e abrir caminhos

Eu profissional liberal // Sou contra

gabinete, carimbos, clips, fichas e salário

mensal // A favor da adrenalina,

autonomia, maluquice // Novidade no meu

dia a dia // Contra cotidiano, uniforme,

vigilância e cargo de chefia // A favor

da malandragem, um jeitinho, jogo de

cintura é mais garantia // Ao invés de

um emprego, um trabalho // Um cachê,

honorário, a um salário

(Profissional Liberal/Manuela Rodrigues)

FOTO: Vinicio de Oliveira

Garimpando novos tonsManuela teve seu último CD, “Uma Outra Qualquer Por Aí”, lançado por um selo fonográfico baiano, o Garimpo Música. Criado em 2007 pela produtora Cada Macaco no Seu Galho, o selo já lançou álbuns de artistas e bandas como Cascadura, BaianaSystem, Mateus Aleluia, Os Ingênuos e João Omar. Os próximos lançamentos serão de Mou Brasil, Opanijé, Lazzo Matumbi e Mariella Santiago. De acordo com um dos produtores do Garimpo, Guto Carvalho, as vendas têm sido ótimas, os pedidos não param e as lojas já têm espaço reservado para os novos lançamentos. “É importante criar possibilidades de ganhos produzindo cultura em Salvador, e mais do que isso, estamos mostrando que é possível”, diz Guto.

Outro artista que não precisou sair de Salvador para gravar um álbum, mas que teve que esperar muito tempo pela oportunidade, foi Lourival Araújo, conhecido como mestre Lourimbau. Depois de mais de 20 anos de carreira, ele conseguiu gravar um CD ao vivo em 1997, “A Arte de Mestre Lourimbau”, produzido por Antônio Nykiel e Zezão Castro, com apoio da Secretaria da Cultura. O CD mistura capoeira, MPB e jazz. A partir daí, mestre Lourimbau diz que se tornou mais conhecido e valorizado como artista. Este ano, foi convidado para participar do

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projeto Conexão Vivo, junto com uma nova geração, o que considera um sinal de que as coisas podem mudar. “Até agora a música não me sustenta, eu é que sustento a música”, diz ele. Aos 62 anos, mestre Lourimbau se mantém na estrada, cantando, compondo e tocando seu berimbau, símbolo de resistência da cultura baiana, instrumento que ele também fabrica, como artesão, sendo considerado exímio luthier – não é à toa que ele é chamado de mestre. Lourimbau já deu aulas na Universidade Federal da Bahia e na Universidade de São Paulo, compôs trilhas para o cinema e já se apresentou na Alemanha e na Suíça.

A guerrilha musical criativaA tática do baiano Lucas Santtana pode ser diferente da usada por mestre Lourimbau, mas em ambas a marca da criatividade musical está presente. Lucas transita bem à vontade entre música popular brasileira, afrobeat, dancehall, eletrônica, dub, funk. O cantor e compositor se destacou no cenário internacional já no primeiro CD, “Eletro Bem Dodô” (2000): “Mr. Santtana is a musician supremely conscious of his cultural coordinates”, disse um crítico do New York Times. Cinco álbuns depois, Lucas, que vive no Rio de Janeiro, mas mantém um pé em Salvador, continua apostando na inovação. O CD “Sem Nostalgia” foi eleito o melhor disco estrangeiro do ano passado pelo jornal francês Libération e está sendo lançado nos Estados Unidos, em edição especial. O crítico de O Globo Leo Linchotte resume a fórmula de sucesso do artista: “Quando escolhe abrir seu disco com um mashup de violões de Caymmi, Baden e Jorge Bem, tudo processado digitalmente, arrancando dali um batidão funk carioca, Lucas Santtana é muito mais que um brincalhão munido de tecnologia. Santtana sabe o que está fazendo”, ressalta.

Lucas tem 41 anos, deixou Salvador há 18 porque “naquele tempo só tinha axé, não via espaço para meu tipo de música”, diz ele. Quando foi convidado para tocar flauta na banda de Gilberto Gil, terminou ficando no Rio de Janeiro, de onde fez a ponte para o mundo. Mas o artista diz que continua inserido no contexto musical de Salvador, acompanhando tudo o que acontece e sempre interagindo com os músicos da terra. Ele conta que seu primeiro disco saiu por uma grande gravadora, mas depois o processo mudou: “A cada álbum, vou experimentando

novos modelos de negócios e adaptando as ações ao que funciona para mim. Por exemplo, percebi que o que me sustenta são os shows, então não vejo problema em oferecer minhas músicas para o público baixar de graça na internet. Acho que a tática para o artista hoje é aliar uma boa qualidade musical a uma gestão competente do trabalho no mercado, mas sem concessões. A noção de economia criativa pode ser muito boa, desde que as ações do governo sejam debatidas com os artistas”.

Outra cantora baiana que se desviou da estrada larga do sucesso fácil e vem trilhando um caminho bem interessante na música é Márcia Castro, cantora e violonista graduada pela Escola de Música da Ufba. Gravando músicas de Tom Zé, Itamar Assumpção, Jorge Mautner e Sérgio Sampaio, além de conterrâneos como Roque Ferreira e J. Velloso, Márcia chega de pés no chão, atenta, e apresenta um currículo

“O artista contemporâneo tem que lidar com o processo de gestão e condução da

própria carreira, ao mesmo tempo em que precisa buscar o exercício do coletivo”

Manuela Rodrigues

“Mr. Santtana is a musician

supremely conscious of his

cultural coordinates” disse

crítico do New York Times

sobre Lucas Santtana.

FOTO: Daryan Dornelles

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notável para uma artista de 33 anos. Depois do primeiro CD, “Pecadinho”, foi indicada ao Prêmio TIM como melhor cantora de pop-rock, se apresentou no Festival de Jazz de Montreaux, acompanhou Mercedes Sosa em sua última turnê mundial, fez residência artística no Timor Leste e uma turnê na Turquia. Mesmo assim, não quer caminhar sozinha, por isso criou o projeto “Pipoca Moderna”, promovendo um intercâmbio com cantoras de diferentes locais: Maryana Aydar e Ana Cañas, de São Paulo, Rita Ribeiro, do Maranhão, Cláudia Cunha, do Pará, e Mayra Andrade, de Cabo Verde. Atualmente, está em fase de divulgação de seu segundo álbum, “De Pés no Chão”.

Márcia Castro diz que hoje existem novas formas de se relacionar com o mercado, com o fortalecimento da internet e das redes sociais, ferramentas que ela considera potentes para divulgação e intercâmbio musical. Inovação musical para ela é um termo ultrapassado. Prefere falar em ação: “A minha geração é aquela do artista/produtor, então a gente corre atrás de edital, de projetos, de parcerias. Jamais penso a música como um negócio, um mercado a priori. A música é apenas a música. Depois de feita, realizada, a gente vê e entende onde ela chega, o público, etc, e vai vislumbrando como potencializar essa divulgação. Nunca o contrário, como no marketing, de estudar a demanda e atendê-la. Assim, não seria arte”, conclui a cantora, que se define uma cantora baiana, brasileira e universal, que não faz parte de grupos, mas gosta de “circular em muitas rodas”.

Pede à banda pra tocarNinguém melhor do que os músicos de uma grande orquestra para saber da importância de atuar em sintonia para obter um bom resultado artístico. A Orkestra Rumpilezz é um exemplo dessa experiência. Criada em

2006 pelo maestro Letieres Leite, é um grupo de sopro e percussão que se define como afrojazz, música popular instrumental com roupagem harmônica moderna. Em pouco tempo, o grupo caiu no gosto do público e alcançou sucesso nacional, com diversos prêmios no currículo, entre eles o de melhor grupo instrumental e revelação do ano (Prêmio da Música Brasileira), e melhor CD popular (Prêmio Bravo 2010).

Para o gestor da orquestra, Alex Pinto, a Rumpilezz é uma prova de que há espaço na Bahia para todos os tipos de público, e que fazer música instrumental na terra do axé é perfeitamente viável, inclusive do ponto de vista econômico: “Os editais facilitam muito, 60% da nossa receita vem daí. Este ano, por exemplo, estamos com uma turnê de 24 concertos, em nove capitais e outras cidades, e olha que viajamos com um grupo enorme”. Antes dessa turnê, os músicos vão se apresentar para o público do bairro de Plataforma, em Salvador, uma nova audiência que está sendo conquistada e é muito bem-vinda. “Nosso maior valor é a criatividade, resultado de anos de pesquisa do maestro Letieres, sobre os nossos próprios ritmos, as nossas verdadeiras raízes, sem se preocupar com formatos pré-

“É importante criar possibilidades de lucro produzindo cultura em Salvador, e estamos mostrando que é possível” Guto Carvalho, produtor do Garimpo Música

FOTO: Daryan DornellesFOTO: Mariele Goes

Márcia Castro, cantora e violonista graduada pela Escola de Música da Ufba

“Nosso maior valor é a criatividade”, Alex Pinto, gestor da Rumpilezz

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estabelecidos pela indústria da música. A Rumpillez é uma orquestra artesanal e ao mesmo tempo sustentável”.

Outra experiência inovadora e bem-sucedida de música instrumental em Salvador é a Jam no MAM. Curtir o belo pôr do sol na Baía de Todos os Santos ao som dos músicos já se tornou programa quase obrigatório dos fins de tarde de sábado. O pátio do Museu de Arte Moderna é o cenário da jam session. Reunindo artistas de vários lugares do Brasil e do exterior, com sonoridades diversas, a primeira etapa foi de 1993 a 2001. Em agosto de 2007, o grupo retomou o projeto, que hoje alcança uma média de 1.300 pessoas a cada apresentação, com ingressos a R$ 6 a inteira. A banda-base é formada por André Becker, André Magalhães, Gabi Guedes, Ivan Bastos, Ivan Huol (diretor musical), Joatan Nascimento, Orlando Costa, Paulo Mutti e Rowney Scott. O público é diversificado: famílias com crianças, adolescentes, jovens de todos os estilos e pessoas mais velhas curtem o som, baseado no talento, no improviso e na diversidade.

A Huol Produções, que atua por trás do evento, também produz o Microtrio, que sai no Carnaval, além de se dedicar ao teatro, com peças como “A Geladeira”, “O Olhar Inventa o Mundo”, “Dias de Folia” e o musical infantil “Papagaio”. “A gente

não tem lucro, não sobra capital de giro para outros investimentos, o grupo ainda depende de patrocínios e incentivos fiscais. Por outro lado, conseguimos viabilizar os projetos, com a qualidade desejada, pagando as pessoas, sem explorar ninguém, e para o artista baiano isso já é um lucro”, diz a gerente de produção Cacilda Póvoas.

Mê de música e de mudançaOutra novidade na cena musical de Salvador é o projeto Mê de Música. Trata-se de uma série de programas de webtv sobre música na Bahia. Na edição de estreia, o Mê de Música propõe uma questão: “Música dá dinheiro?”. Camilo Fróes, que está à frente do projeto, responde: “Claro que dá dinheiro, se não desse, a música estaria definhando, e não crescendo, como acontece em todo o país e também na Bahia. A questão é como ela dá dinheiro e para quem”, diz o produtor cultural.

Camilo, que também é DJ e em 2007 criou o “Baile Esquema Novo”, uma discoteca só de música brasileira, promoveu o lançamento do Mê de Música com uma batalha de DJs numa casa noturna de Salvador. Ele diz que o mercado para esse tipo de profissional também está crescendo, com talentos de projeção nacional como Mauro Telefunksoul, Mangaio e Lúcio K.

Cacique formado nos becos do CandealSe o assunto é música e criatividade, não dá para encerrar nunca, mas não podemos parar por aqui sem falar no cacique da tribo, Carlinhos Brown, doutor em economia criativa formado nos becos do Candeal e nos grandes palcos do mundo. Cantor, compositor, instrumentista, performer, ativista social, candidato ao Oscar, Brown é um baiano que nunca deixou de escutar a Bahia. Mesmo não sendo unanimidade, o trabalho social que desenvolve no bairro em que nasceu, a qualidade de sua música e o projeto estético que desenvolve em torno dela, agregando cada vez mais artistas, o credenciam a se tornar um músico do século 21, capaz de transitar em todas as aldeias.

Não é à toa que ele foi convidado pela revista britânica The Economist para participar do debate “Brazil Innovation – A Revolution for the 21st Century”, dentro da Conferência Internacional sobre o Futuro da Tecnologia e Inovação, com o tema “música como agente de transformação”. O evento, realizado nos Estados Unidos, teve um encontro paralelo no Rio de Janeiro, que discutiu o futuro do empreendedorismo nos países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Além do cacau, do café e dos minérios, o mundo está de olho na nossa

O setor da economia criativa é hoje o terceiro maior do mundo, depois do petróleo e dos armamentos

FOTO: Eduardo Pelosi/Setur

O pátio do Museu de Arte Moderna é o

cenário da jam session

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criatividade, e a música é a linguagem universal com alto poder de geração de riqueza (material e imaterial) e transformação social.

Brown tem uma visão inclusiva, por isso ele não rejeita o Carnaval e a cultura que se forma em torno dele. Pelo contrário, em entrevista à Livraria Saraiva, ele resumiu seu projeto: “O Carnaval termina sendo um centro de desenvolvimento das comunidades através da liderança estética, onde se pode falar do respeito à mulher, do não-abuso sexual, do desarmamento. Isso existe na cultura brasileira, muito mais do que o desejo comercial de que o mundo seja uma audiência”. [B+]

Samba da Bahia... // Ê Maria Nega

Tetê, // Você sabe o valor de onde veio

// Você tem a mão calejada // Você

sabe fazer feijoada // Você baila toda

molhada // Não tá nem aí pra dinheiro

(Maria Caipirinha/ Carlinhos Brown)

FOTO: Melinda Lerner

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FOTO: Rômulo Portela

Ricardo Franco: o soteropolitano inquietoUnindo arte e publicidade, Ricardo Franco explica um pouco as influências do seu trabalho, na Graal Comunicação, sempre entre a produção estética e os negócios. Formado em artes plásticas pela Universidade Católica do Salvador (Ucsal), o profissional transita entre os dois mundos – artístico e publicitário, sendo reconhecido por isso.

“Entendi que direção de arte era minha praia, ainda quando estagiava. Mesmo exercitando o lado business do mercado publicitário, apoiei meu trabalho no que aprendi de arte. E o que faço hoje é retornar ao mundo artístico”, conta Ricardo.

Sua inquietude faz dele um dos nomes fortes da nova geração artística. A cada nova obra ou projeto, muita ousadia e dedicação. Em 2009, criou “Esperança”, quadro que o projetou. Desde então, desenvolve projetos que utilizam diversas técnicas, como pinturas digitais, óleo e acrílico. Em 2010, a tela lhe rendeu um prêmio no salão Nacional de Artes Plásticas do Rio de Janeiro, abrindo caminhos para outras exposições. Na Europa, “Esperança” levou o prêmio de melhor tema numa exposição em Barcelona. Com esse reconhecimento, Franco assinou um contrato com a Galeria de Arte Patrícia Muñoz, na Espanha; em Paris, expôs no Carrousel du Louvre, pela Ava Galeria; e já recebeu convites, este ano, para expor na Finlândia, na Eslováquia, em Portugal e novamente na França. Antes de retornar à Europa, Ricardo realiza sua primeira exposição individual no lobby do jornal A Tarde, com duração de dois meses.

Vários projetos ainda serão iniciados em 2012. Um deles é o ‘Socializar é Arte e o Cura por Inteiro’, ou apenas Saci. A ideia é trabalhar o universo artístico com jovens de rua viciados em drogas, provocando o aprendizado estético e ampliando seus horizontes. O trabalho será registrado num documentário.

Publicidade, arte... E fotografia. As imagens congeladas são mais um canal para expressar sua criatividade, com composições variadas, que serão compiladas num livro em processo de impressão.

“Quando você faz arte, todo o processo é importante. Arte é desdobramento e vivência. O que importa é o andar, o caminhar. O que faço hoje é retornar ao princípio, fazendo da produção estética meu rumo. Se você acredita que sua arte tem um porquê, vá em frente. Criar é só começar”, filosofou o artista.

ARTE & ENTRETEN IMENTO | pe r f i s

Seja por curiosidade, amor ou visão estratégica, as artistas Cecília Menezes

e Maria Adair e o publicitário e artista plástico Ricardo Franco são exemplos bem-sucedidos no mercado da arte. Os cuidados vão desde a elaboração de um bom portfólio até a utilização

dos contatos profissionais adquiridos durante os grandes eventos de arte

O NEGÓCIO DA ARTE

por FELIPE ZAMARIOLLI

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Maria Adair: a arte como o melhor investimentoDo sudoeste da Bahia, da pequena cidade de Itiruçu, é de onde vem a pintora, artista intermídia e professora Maria Adair. Aos 15 anos, já fazia as primeiras pinceladas, até a formação em desenho e plástica pela Escola de Belas Artes da Ufba, em 1976. Em 1980, foi aos Estados Unidos com a bolsa de estudo da Fulbright/Laspau para estudar nas universidades de Pittsburgh e de Iowa, onde permaneceu até 1982. Entre o mundo acadêmico, as exposições nacionais e internacionais, Maria decidiu, em 1993, abrir o Atelier Maria Adair em Salvador, localizado no Pelourinho.

“Por experiência própria, posso assegurar que o grande ‘negócio’ das artes plásticas é a oportunidade que o artista tem de levar sua mensagem para a apreciação de muitas pessoas. Mas é lógico que é preciso também receber as cifras de recompensa pelo seu trabalho”, ressalta a artista.

E é por meio do trabalho de encomenda que o artista realmente pode gerar receita, de acordo com Maria Adair. Entre as obras que ela produziu, destacam-se peças enviadas para Nova York, Los Angeles e ilha de Sanit Barthélemy, nas Antilhas Francesas. “Ainda este ano recebi uma encomenda para fazer pintura sobre um piano. Enquanto, desde o ano passado, preparo peças para a grande exposição no Museu Rodin Bahia, marcada para ser aberta no dia 22 de agosto deste ano, com o título ‘O Universo Amado’, em homenagem ao grande escritor Jorge Amado”, anuncia.

“Durante o processo de criação, o artista, diferente do que acontece no mundo dos negócios de modo geral, não tem como finalidade primordial a venda de seu produto. Antes de mais nada, o artista produz arte por necessidade de expressar e comunicar suas ideias, sendo a venda uma consequência, ou o resultado de um caso de amor entre o espectador e a obra. Assim como carreira é a palavra mais indicada para definir o trabalho de um artista, em vez de profissão. Todo artista tem uma carreira a zelar”, conclui.

FOTOS: Acervo Pessoal

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FOTOS: Acervo Pessoal

Cecília Menezes e as bonecas de cerâmicaCecília Menezes descobriu sua paixão pelas artes ainda criança. Resolveu, entretanto, cursar administração de empresas, por conta da insegurança financeira que a carreira artística inspirava.

Aos 40 anos, decidiu que era hora de criar. As ideias na cabeça e a vontade de produzir eram maiores do que qualquer estereótipo da atividade artística. Hoje, a pintora e escultora faz quadros, aplica texturas em paredes, cria painéis e, seu carro-chefe, lindas bonecas de cerâmica.

O passaporte para o mercado de arte surgiu na primeira edição da Casa Cor em Salvador: “Fui convidada por diversos arquitetos maravilhosos, como Eliane Kruchewsky, Tuvinha Papaléo, Sidney Quintella, só pra citar alguns, que contribuíram para divulgar meu trabalho”, diz agradecida.

A partir dos primeiros contatos, Cecília começou a se relacionar com um público exigente: sua obra atendia a esse perfil. “Tenho muito orgulho de dizer que sobrevivo do meu trabalho, que formei minhas filhas com essa atividade e que me sustento, hoje, com ela. Sei que poucos conseguem isso. É muito difícil vender arte neste país. Ela é considerada supérflua”, declara.

A saída, como sempre, é diversificar. Entre os projetos em andamento, Cecília produz grandes esculturas em ferro e cerâmica, para amplos espaços, a pedido de construtoras. Produz, ainda, as charmosas bonecas que se tornaram disputados brindes de empresas. Projetos sob medida fazem parte do portfólio da artista, que desenvolverá louças para o restaurante Pitanga, a ser inaugurado no Shopping Bella Vista. “Os donos queriam uma peça estilizada e a cerâmica feita à mão era ideal, com sua tradição, beleza e nobreza”, diz Cecília. Ao todo, ela produz 180 peças de nove modelos diferentes.

“Somos competentes naquilo que gostamos e sabemos fazer bem. Eu mesma só comecei a dar certo quando me perguntaram: O que você faz? Qual sua profissão? E eu respondi: Sou artista plástica”, ela dá a dica. [B+]

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E ntre um clique e outro, o jovem fotógrafo Márcio Mascarenhas, 24 anos, nos conta um pouco

sobre os desafios de iniciar a carreira artística em outro país. Vivendo hoje em Londres por conta do mestrado que faz na University of The Arts London, o baiano realiza sua primeira exposição em terra estrangeira no mês junho, quando acontece a vernissage do trabalho “Os Corpos que Habito”, na New Gallery, no sul de Londres. Inspirado em Picasso, Tarcila do Amaral e na fotógrafa Rineke Dijkstra, Márcio busca o seu espaço na fotografia artística.

Conte um pouco de sua trajetória. Quando começou a fotografar?Comecei a fotografar na Faculdade de Comunicação da Ufba. Eu já tinha desistido de fazer qualquer coisa ligada às artes - pintura, teatro... Mas quando me aproximei da fotografia, em 2006, eu pensei: “Pô, isso eu consigo fazer”.

ARTE & ENTRETEN IMENTO | fo togra f i a

Jovem e cheio de ideias, o baiano Márcio Mascarenhas quer conectar a Bahia com o exterior por meio das artes. Atualmente em Londres, foi em busca de uma nova formação e liberdade criativa. O resultado já são duas mostras na terra da rainha

FOTOS: Acervo Pessoal

por BRISA DULTRA

IDENTIDADE DENTRO DA FOTOGRAFIA

“Isso”, 2011, da série “Os Corpos

que Habito”

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Como?Com um intercâmbio cultural. Quero colocar os dois lugares em contato, não só absorver, mas promover uma troca. Eu estou começando agora, mas já formei um grupo com fotógrafos em Londres dedicado a fazer exposições por lá e que eu pretendo trazer para cá. Quero também formar grupos aqui para poder levar esses contatos.

Mas isso não é muito complicado?Se você trabalha com artes, não precisa de deslocamento de pessoas, só das obras. E, se você tem um agente responsável por fazer isso, facilita.

Por que tinha desistido?Eu tentei teatro, mas eu não tinha uma boa voz. Eu também desenhava, fazia umas esculturas, mas era sempre algo meio tosco. Então, eu achei que arte não era a minha. Foi quando conheci e encarei a fotografia.

Então foi na graduação que você se envolveu mesmo com essa técnica... Você tinha sua própria câmera?Tinha sim. Minha primeira câmera foi uma Canon 50D, digital. Dava pro que precisava. Não me limitava a nenhuma área: às vezes trabalhava com moda, outras com teatro, casamentos, eventos... Fiz isso para explorar o campo da fotografia.

O que te motivou a encarar um mestrado? Eu o vejo como um passo para a liberdade da criação. Eu não queria ficar preso em Salvador, não queria ficar condicionado nesse início de carreira. Eu acho que o fato de ser sua cidade limita a criação, acaba te prendendo.

Quando você está fora do seu lugar, você acaba enxergando outras coisas...Isso. A gente entende preconceitos, modos de olhar.

E por que Londres?O curso de Fotografia Fine Art não tem em todo lugar. Minhas opções eram Inglaterra ou EUA. Os Estados Unidos têm uma concepção de arte mais voltada à plasticidade da obra. Já Londres tem um background mais rico em termos teóricos e filosóficos. Isso acabou definindo a minha escolha.

O que é essa plasticidade norte-americana?É algo que privilegia mais o prazer de ver. Aquela coisa que você olha e fala: “Isso está muito bem feito!” Em Londres, você tem uma prioridade do conceito, da ideia que envolve todo o trabalho. O cuidado técnico não é a ferramenta mais importante de expressão. Você não tem que agradar o olho de quem está vendo, mas, sim, causar alguma sensação. Assim você imerge mais no conceito do que na obra.

Como a Bahia interfere em seu trabalho?Muita gente, quando conhece a cultura de um país considerado mais desenvolvido, acha que o Brasil não presta e fica sem querer voltar. A Bahia tem muita coisa rica para mostrar, Londres tem muita coisa para ensinar. Eu quero juntar os dois.

“Não quero trabalhar a foto para que ela seja

perfeita, linda, bonita. Eu quero mais contato com a

filosofia e a cultura”

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Como funciona esse grupo de fotógrafos que você reuniu na Inglaterra?Decidimos juntar as forças e expor nossos trabalhos juntos. A ideia que linka o projeto é a “identidade”. Cada fotógrafo busca sua identidade dentro da fotografia. Agregamos isso para mostrar como cada um de nós enxerga essa arte.

Quem participa do grupo?Um italiano, eu, uma americana, uma inglesa e um norueguês. O nome é “Equivalentes”. É justamente essa busca pelo “eu” dentro da fotografia e da arte.

São fotógrafos jovens que buscam seu “eu”...O tema “identidade” é geral e pode se aplicar a muita gente. Meu projeto chama-se “Os Corpos que Eu Habito”, com forte influência cubista, onde a imagem apresenta diversas faces de um objeto no mesmo plano, apresentando vários “eus” num mesmo corpo. Tem outro que é “Eu Não Vou Viver Mais Aqui”, no qual a americana investiga a relação dos jovens que alugam casas e só passam um ano em Londres, não tendo uma concepção de moradia fixa.

Como funciona o mercado da fotografia?Fotografia é voltada para arte, principalmente. Então, você tem que fazer o seu nome, trabalhar a concepção do seu trabalho, descobrir onde está seu público e as galerias que têm o seu perfil. Estou procurando o meu público. Procurando as pessoas que podem dar suporte ao meu trabalho.

Além da exposição, seu trabalho está presente também no projeto Art Below London, certo?Tenho uma imagem selecionada para esse projeto. Eles exibem o material selecionado e levam também a foto para uma galeria no metrô de Londres, na galeria London Underground Gallery, que fica na estação Charing Cross. Isso abre muitas possibilidades porque é algo de grande visibilidade.

Londres tem muitas galerias e, principalmente, um público que consome artes. E aqui? Se eu não me engano, de galeria que vende obra mesmo, acho que é só a Paulo Darzé. Se

“Litigioso”, 2011, da série “Os Corpos

que Habito”

FOTOS: Acervo Pessoal

“O cuidado técnico não é a ferramenta mais

importante de expressão. Você não tem que agradar

o olho de quem está vendo, mas, sim, causar

alguma sensação”

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“Em Mim Mesmo”, 2011, da série “Os Corpos que Habito”

tiver mais, é uma ou duas. De resto, você tem os museus. Então, o mercado baiano é surrealmente limitado. E vai desde a cultura: nós não temos a cultura de consumir artes visuais. Essa cultura ficou centrada num mercado muito pequeno, da classe alta, que só consome a mesma coisa, o que veio do passado.

No Sudeste, existe um movimento de ter mais feiras e festivais, que são uma boa janela para novos fotógrafos, como a SP-Arte...E em Salvador, nada. O MAM é uma instituição boa, que traz coisas legais, mas é só. Acho que, através da educação, vai acontecer naturalmente. Se pessoas como eu, que estão lá fora, começarem a fazer esse contato, se fotógrafos e produtores culturais daqui promoverem ações nesse sentido, começa a se formar um público e as coisas podem mudar. Eu quero trazer a arte contemporânea para cá.

Qual é o novo projeto que você está desenvolvendo?Ele é chamado “Damas de Honra”, numa brincadeira com o termo em inglês bridesmaid, porque ‘maid’, em inglês, quer dizer ‘empregada’. Nesse trabalho, fotografo empregadas que já trabalham há 15 ou 30 anos com a mesma família. Nele, eu quero colidir a cultura da classe média brasileira que tem a necessidade de ter alguém cuidando da casa. Quando fui para Londres, comecei a viver sem empregada e percebi como é bom e importante viver o ambiente onde você mora. É importante você cuidar do seu ambiente. E as pessoas aqui ficam relaxadas com essa exploração cultural do outro.

O que você define como exploração cultural?Eu acho que ter uma empregada é uma certa exploração cultural, já que é uma pessoa que não teve o mesmo nível educacional que o patrão. É como se todo aquele espaço fosse responsabilidade dela. O que é uma contradição, pois ao mesmo tempo que você deixa a empregada mexer no seu guarda-roupa, arrumar sua cama, você não quer que ela coma a última fatia do bolo ou que ela faça ligações da sua casa. Isso é delicado. É uma relação de poder muito estranha. E eu quero trazer isso para fotografia. [B+]

“Já formei um grupo com fotógrafos em Londres dedicado a fazer exposições por lá que eu pretendo trazer para Salvador. Quero formar grupos aqui para poder levar esses contatos”

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ARTE & ENTRETEN IMENTO | a p l a usos

Recôncavo Jazz Festival acontece em agosto

A primeira edição do Recôncavo Jazz Festival será re-alizada entre os dias 23 e 25 de agosto na cidade de Cachoeira, no interior da Bahia. Com atrações locais e nacionais, o evento também contará com a partici-pação do músico internacional Joshua Redman, que vai tocar ao lado da Orquestra Rumpilezz, liderada por Letieres Leite.

Criolo agitou a Concha Acústica de Salvador

Quem escolheu Criolo não se arrependeu. O rapper paulista emocio-nou a Concha Acústica, no mês de maio, quando cantou músicas do álbum “Nó Na Orelha”, premiado como melhor CD de 2011 pela revista Rolling Stone. Em sua segunda visita à cidade, Criolo dividiu o palco com o DJ Dan Dan.

“Olhos da Rua” e seus recortes diferenciados

Em algum lugar da cidade, na última terça-feira do mês, fotógrafos, admiradores e estudantes se reúnem para a projeção urbana de fotografias. O projeto “Olhos da Rua” leva para espaços públicos de Salvador ima-gens de fotógrafos profissionais e amadores, sobre al-gum tema abrangente, selecionadas por uma equipe de curadores. A exibição é realizada pelo LabFoto Facom, Instituto Casa da Photographia e o Tuesday Autono-mous Zone.

Margareth Menezes comanda miniturnê junina

Margareth Menezes se prepara para mais uma temporada de apresentações no São João, que inclui as cidades de Caruaru (PE), Maracanaú (CE), Jarama-taia (AL) e Pendências (RN). Para os shows, o melhor de Luiz Gonzaga, além de forrós tradicionais, xote, baião, xaxado, maracatu e pé de serra. Além das apresentações, a artista foi convidada para ser a representante baiana no especial São João do Nordeste 2012.

“Talvez não tenha criança no céu”

O livro da editora Virgiliae marca a estreia lite-rária de Davi Boaventura, escritor baiano de 26 anos, que começou a escrever o livro aos 18: “Eu queria botar um sentimento para fora e escre-ver a história mais sincera possível dentro de minhas capacidades”, declara o autor. A trama, contada numa espécie de diário, prende a aten-ção do leitor do início ao fim. A qualidade do livro chegou a arrancar elogios de Daniel Galera, que o define como “um relato sufocante dos es-tertores de uma adolescência sem rumo”.

“Moças Aéreas” decola

O espetáculo circense dirigido pela professora e herdeira do circo Picolino, Luana Serrat, entrou em cartaz pela segunda vez na primeira quinze-na de maio, no Teatro Martim Gonçalves (Escola de Teatro da Ufba). Os seis dias de apresentação levaram o público às alturas com as meninas voadoras, que fazem acrobacias nos números de corda, tecido, lira, passeio aéreo e quadrante.

FOTO: Yuri Rosat

FOTO: Yuri Rosat

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ARTE & ENTRETEN IMENTO | o f f b roa dwa y

Paul McCartney tem estatísticas com as quais todos os artistas apenas sonham. O mais bem-sucedido artista de todos os tempos já esteve na lista do Billboard Hot 100 por 71 vezes com os Beatles e mais 43 vezes, individualmente ou com sua banda Wings. Para se ter uma ideia do que isso significa, só em 1964 os Beatles colocaram 31 hits nas paradas, Elvis emplacou nove sucessos no mesmo ano.

Acompanho com interesse os artigos e ensaios que atribuem ao gênio João Gilberto as maiores influências na música popular brasileira, em especial, na baiana. Desde o disco antológico e precursor do axé “Acabou Chorare” dos Novos Baianos, que é inspiração gilbertiana pura, até Caetano, Gil, Tom Zé e Ivete saúdam o inventor da bossa nova como o mentor maior. Não duvido. Ocorre que é quase despercebido e até esquecido o papel fundamental que a dupla John e Paul exerceu na música brasileira e baiana.

Para começar, lembro que alguns clássicos da MPB são inspirados ou até mesmo copiados da dupla de Liverpool. Por exemplo, a Carolina de Chico Buarque, aquela que vê o tempo passar na janela, é claramente inspirada na Eleonor Rigby, que nas palavras de John e Paul “espera à janela, portando um rosto que ela guarda em um jarro perto da porta”. Na sua solidão, a Carolina de Chico guarda “nos seus olhos tristes, tanto amor, o amor que já não existe”, enquanto Eleonor

BEATLES FOREVER

JORGE CAJAZEIRA

Executivo da Suzano Papel e Celulose, mestre e doutor em administração de empresas, presidente mundial da ISO 26000 para Responsabilidade Social e presidente do Sindpacel - Sindicato Patronal de Papel e Celulose do Estado da Bahia

A oculta influência de Lennon e McCartney na terra do axé

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inspira o refrão “todas as pessoas solitárias, de onde elas vêm? Todas as pessoas solitárias, de onde elas são?”

Ademais, o casal incompatível Eduardo e Mônica de Renato Russo que no primeiro encontro “Eduardo sugeriu uma lanchonete, mas a Mônica queria ver o filme do Godard” também me lembra o Desmond e Molly, quando “Desmond tem um carrinho no supermercado enquanto Molly é cantora em uma banda” na clássica música dos Beatles “Ob-La-Di, Ob-La-Da”.

Não pode ter uma influência mais direta que John e Paul sobre mano Caetano. É só analisar a inspiração da dupla “Lennon e McCartney” na capa dos seus álbuns Jóia e Qualquer Coisa. No Jóia, vemos a família Veloso em pose idêntica ao Two Virgens de Lennon (1968), no caso sem os pombinhos. Em Qualquer Coisa, a inspiração vem de Let it Be (1970), último disco dos Beatles. Curiosamente, no Qualquer Coisa, Caetano canta belissimamente a “Eleonor Rigby”, mais linda só a sua interpretação de “Carolina” no disco Prenda Minha – Ao Vivo.

Ainda comentando as influências nos baianos, amo o solo de Armandinho para Day Tripper, assim como lembro do grande Raul Seixas no início de carreira, em 1964, com a banda Raulzito e Os Panteras, cantando Beatles, incluindo o uso dos terninhos que marcaram o estilo da banda inglesa.

O mais influente disco produzido no Brasil, o antológico Tropicália ou Panis Et Circensis, com nítido caráter de manifesto, inova por um sincretismo de ritmos jamais ouvido até aquela época. O disco liderado por Gil e Caetano bebe na água do Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band. É só ver a capa. Além disso, na música “Alegria, Alegria”, quando Caetano lembra que “o sol nas bancas de revistas, me enchem de alegria e preguiça”, é uma tradução quase literal da “A day in the life” quando Paul e John escrevem: “Eu li as notícias de hoje, oh garoto

(…) e embora as notícias fossem um tanto tristes; bem, não pude deixar de rir”.

John e Paul foram elementos fundamentais da mais influente banda de rock de todos os tempos, coautores das mais duradouras e simplesmente melhores canções que pudemos escutar. A influência na música brasileira é real, em especial na música baiana. Pena que isso não é reconhecido e de certo modo esquecido.

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Também não esqueço de outro pedido bem inusitado: “Uma rede de proteção no palco do Teatro Castro Alves para evitar a entrada de morcegos”. E olha que o teatro havia sido reinaugurado seis meses antes, com o que existia de mais moderno em termos de instalações e equipamentos.

Hoje os “pedidos exóticos” já não são tão exóticos assim. Não que eles não existam, mas diminuíram bastante. O último “abuso” que me lembro veio da produção de um (candidato a) famoso cantor nacional. Ele quis cobrir de fita crepe todas as bebidas do camarim para evitar que os rótulos aparecessem, já que não era patrocinado por nenhum deles.

Lidar com as “celebridades” também não é tarefa fácil. Certa vez precisei “parar” a produção de um camarote para cuidar de um ex-BBB (desclassificado logo na fase inicial do programa) que estava na porta fazendo escândalo porque não conseguia quatro seguranças para “escoltá-lo” até a entrada do próximo camarote. Pensei: “Vale a pena essa profissão?”

Poucos minutos depois, lembrei que, ao participar da produção de um espetáculo no Teatro Castro Alves, vi Jorge Amado e Zélia Gattai aguardando, com a maior elegância e paciência, na fila de entrada... Concluí, então, que fiz a escolha certa. [B+]

Nos quase 25 anos que atuo na área de entretenimento, ouvi, vi e convivi com muita coisa. Produzi muitos eventos de sucesso e também eventos de sucesso algum. Quando comecei (comecei muito cedo e meio por acaso), tudo era diferente. Fico pensando que teria sido bem mais fácil meu primeiro trabalho de produção se existisse naquela época, por exemplo, o celular. A tecnologia mais avançada disponível era o rádio de comunicação - enorme e pesadíssimo. Certa vez, tentando usar a geringonça durante uma solenidade, um engraçadinho passou e perguntou como estava o Ba-Vi. Que raiva que eu senti!

Não existe fórmula pronta para produzir um evento de sucesso, mas, seja qual for o tamanho, formato e grau de complexidade, uma coisa é certa: sem um bom planejamento as chances de um resultado ruim são enormes. Um telão montado próximo a um poste de alta tensão quase acaba em tragédia. Ora, como eu podia adivinhar que o maldito poste ia “pipocar” justamente durante a festa? Aprendi que essas coisas a gente não “adivinha”, a gente planeja.

O bom planejamento deve, entre outras coisas, prever os imprevistos ainda que, nem assim, consigamos evitar alguns vexames. Uma vez tive que avisar “no grito” a cerca de 800 pessoas que a apresentação teatral daquela noite seria cancelada por falta de energia - na época não era comum locar geradores para os eventos. Quase fui linchada! Em outra ocasião, por exemplo, tive que ir pessoalmente à cozinha de um bar famoso fritar um peixe para o cliente que se recusava a comer os peixes fritos pelas cozinheiras do estabelecimento. Segundo ele “estava tudo muito gorduroso”. Eu não sei fritar peixe, mas nada que três metros de papel-toalha não tivessem resolvido.

Alguns eventos são mais complicados que outros, mas destaco os shows musicais como um dos mais complexos. Lembro que, há alguns anos, um cantor pediu três moças à disposição durante sua permanência na cidade. As especificações eram: uma loira, uma ruiva e uma morena. Confesso que, depois de ler o contrato, pensei seriamente em desistir da profissão! Não me imaginava com 50 anos selecionando “piriguetes” para acompanhar cantores! Ufa, felizmente foi a primeira e única vez que o contratei (e desconfio que foi um dos últimos shows que ele fez).

CONTE A Í

PAGANA CARVALHODiretora executiva da 8 Bisz e produtora cultural

EVENTOS E EVENTUALIDADES

FOTO: Divulgação

Um cantor pediu, em contrato, três moças à disposição durante sua permanência na cidade. As especificações eram: uma loira, uma ruiva e uma morena

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