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RESPONSABILIDADE CIVIL EMPRESARIAL ANTE O ASSEDIO MORAL EM AMBIENTE LABORAL Angela Alves Da Silva 1 Sandra Mara De Franco Sette 2 Miguel Kfouri Neto 3 RESUMO: O assédio moral em ambiente laboral não é um fenômeno recente e tem como característica uma série de ações contra o empregado que partem diretamente do patrão ou de seus colaboradores diretos, a quem a empresa ou o empresário delega funções de comando. Essas ações geralmente continuadas, denotam humilhação ao expor os trabalhadores a situações de constrangimento, durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções. A gravidade do fato, que subliminarmente pode ser considerado também dano moral, merece investigação para que se possa identificar esse tipo de assédio no meio ambiente específico laboral, dando suporte ao trabalhador para que o mesmo possa defender sede atos como esses. O fato é que o assédio moral laboral atinge os direitos humanos fundamentais e a dignidade da pessoa, constituindo se em ato criminoso , cuja responsabilidade civil deve recair sobre a empresa por delegar poderes sobre subalternos a pessoas capazes de cometerem tais atitudes, que infelizmente parecem repetir se continuadamente indicando a submissão do trabalhador a maus tratos e ao desrespeito, inadmissíveis no ordenamento jurídico brasileiro, nos acordos internacionais de Direitos de Humanos e em todos os códigos de ética conhecidos. São, portanto, essas, a motivação para esta investigação aqui apresentada. Palavras-Chave: Assédio moral em ambiente laboral; Humilhação; Dano moral; Maus tratos; Dignidade da pessoa; Responsabilidade civil. 1 Mestranda do Programa de Mestrado em Direito Empresarial e Cidadania da UNICURITIBA. 2 Mestranda em Direito Empresarial e Cidadania, junto ao Programa de Mestrado do Centro Universitário Curitiba – UNICURITIBA. Graduada em Direito pelo Centro Universitário Curitiba – UNICURITIBA. Advogada na área de Direito Previdenciário, junto ao escritório Gomes, Sette & Advogados Associados. 3 Doutor em Direito das Relações Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2005). Mestre em Direito das Relações Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (1994). Bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Maringá (1981). Magistrado em Segundo Grau no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Professor visitante na Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ. Professor permanente no Programa de Mestrado em Direito Empresarial e Cidadania do UNICURITIBA. Fez estágio Pós-Doutoral na Universidade de Lisboa, Portugal (2012/213). Tem experiência em: Direito Civil. Obrigações. Contratos Empresariais. Responsabilidade Social e Efetividade. Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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RESPONSABILIDADE CIVIL EMPRESARIAL ANTE O ASSEDIO MORAL EM

AMBIENTE LABORAL

Angela Alves Da Silva1

Sandra Mara De Franco Sette 2

Miguel Kfouri Neto 3

RESUMO:

O assédio moral em ambiente laboral não é um fenômeno recente e tem como característica uma série de ações contra o empregado que partem diretamente do patrão ou de seus colaboradores diretos, a quem a empresa ou o empresário delega funções de comando. Essas ações geralmente continuadas, denotam humilhação ao expor os trabalhadores a situações de constrangimento, durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções. A gravidade do fato, que subliminarmente pode ser considerado também dano moral, merece investigação para que se possa identificar esse tipo de assédio no meio ambiente específico laboral, dando suporte ao trabalhador para que o mesmo possa defender sede atos como esses. O fato é que o assédio moral laboral atinge os direitos humanos fundamentais e a dignidade da pessoa, constituindo se em ato criminoso , cuja responsabilidade civil deve recair sobre a empresa por delegar poderes sobre subalternos a pessoas capazes de cometerem tais atitudes, que infelizmente parecem repetir se continuadamente indicando a submissão do trabalhador a maus tratos e ao desrespeito, inadmissíveis no ordenamento jurídico brasileiro, nos acordos internacionais de Direitos de Humanos e em todos os códigos de ética conhecidos. São, portanto, essas, a motivação para esta investigação aqui apresentada.

Palavras-Chave: Assédio moral em ambiente laboral; Humilhação; Dano moral; Maus tratos;

Dignidade da pessoa; Responsabilidade civil.

1Mestranda do Programa de Mestrado em Direito Empresarial e Cidadania da UNICURITIBA. 2Mestranda em Direito Empresarial e Cidadania, junto ao Programa de Mestrado do Centro Universitário Curitiba – UNICURITIBA. Graduada em Direito pelo Centro Universitário Curitiba – UNICURITIBA. Advogada na área de Direito Previdenciário, junto ao escritório Gomes, Sette & Advogados Associados. 3Doutor em Direito das Relações Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2005). Mestre em Direito das Relações Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (1994). Bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Maringá (1981). Magistrado em Segundo Grau no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Professor visitante na Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ. Professor permanente no Programa de Mestrado em Direito Empresarial e Cidadania do UNICURITIBA. Fez estágio Pós-Doutoral na Universidade de Lisboa, Portugal (2012/213). Tem experiência em: Direito Civil. Obrigações. Contratos Empresariais. Responsabilidade Social e Efetividade.

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1. INTRODUÇÃO  

A correlação entre Direitos Humanos Fundamentais e o dano moral, é análoga a

definição de Ferdinand de Saussure4 a respeito de signos e significados como indissociáveis.

O mesmo, pode se dizer a respeito dos Direitos Humanos e a admissão do dano moral, quando

alguém prejudica o outro, ferindo sua honra, entre outros aspectos que serão abordados

posteriormente, direitos esses, que são assegurados pela Constituição Federal Brasileira de

1988, vigente em nossos dias.

Paradoxalmente, na história do Brasil em diversos momentos esses direitos foram e de

certo modo, continuam sendo ignorados pelos operadores responsáveis pela aplicabilidade das

leis, e pouco compreendidos pela maioria da população, geralmente desinformada de seus

próprios direitos ou ainda, por um modo de pensar individualista que os direitos são para si e

não para todos, costumando julgar e até mesmo condenar atitudes de terceiros que cometem

atos ilícitos de toda a natureza, e que para o que existem leis específicas no Código Penal,

porém não há, portanto, qualquer razão para retirar lhes os direitos humanos, inerentes

simplesmente a essa condição.

Por essa razão, faz se necessária a reposição histórica que avalia danos morais

causados a minorias (negros, homossexuais, mulheres, religiões diversas do oficial, entre

outros). Enfim compreender Direitos Humanos Fundamentais, nesse contexto requer atenção

específica sob pena de cometer se injustiça ora por julgamentos precipitados e fora da

competência dos aplicadores da lei, ora por discriminação social que alija aquele que não é

seu igual.

No caso específico do dano moral, o que ordenamento jurídico se propõe vai além da

simples e mera “reparação”, uma vez que a reflexão de juristas renomados atenta para o dano

“imaterial” e da dificuldade de se avaliar sua extensão e como consequência, a aplicação de

punição adequada, de algo imensurável.

Naturalmente pensar em razoabilidade nesses casos pode provocar polêmica e

divergência de interpretação no momento de se aplicar a pena ao infrator, ou no caso o

lesante. Como evitar tal equívoco sem, contudo, prejudicar o lesado? Isto é, como decidir

com os mecanismos legais disponíveis, se cabe apenas a “reparação”, a ela atribuir se um

valor monetário que o lesante “compensa” o lesado pelo dano causado, ou se, além disso, com 4Ferdinand de Saussure foi um filósofo e lingüista suíço, que por suas teorias proporcionou o desenvolvimento da lingüística enquanto ciência autônoma.

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o intuito de evitar a reincidência da prática do ilícito pelo lesante, deve se aplicar a punição

prevista no Código Penal.

Essa controvérsia se faz presente ainda em nossos dias, tanto pelas sutilezas com que o

belicoso assunto é cercado, quanto pela observação da reincidência da prática do ilícito

geralmente quando se trata de grandes empresas sejam elas de serviços ou de produtos.

Urge, portanto, que o ordenamento jurídico seja ao menos revisitado para que possa

evitar tal situação. Além disso, é necessário também que a população leiga a quem as leis são

destinadas, seja devidamente informada de seus deveres e direitos, para que as leis escritas

tornem se prática cotidiana sob pena de uma geração de conflitos sem muita chance de

conciliação.

Ora se é razão do Direito ser o mediador de conflitos, um olhar mais atento e

aprofundado sobre essas questões se faz necessário, bem como a análise detalhada do que

chamamos de enriquecimento sem causa. Tudo isso naturalmente em prol de um equilíbrio

entre os interessados que possa ao menos amenizar a possibilidade de erro, ou melhor, de

injustiça, cometida no seio daqueles que devem defende-la.

Razões como estas levam também a mergulhar no universo dos chamados Direitos de

Personalidade, que se afinam com a questão da dignidade humana, e que pode conduzir

facilmente a, uma conexão com o assédio moral no ambiente laboral, por suas consequências

que afetam diretamente a dignidade da pessoa humana, constituindo se em si em crime como

prevê o ordenamento jurídico brasileiro.

Ao longo da história pode se ver tentativas de corrigir comportamentos alheios ao

respeito do contrato universal de se dar tratamento digno à pessoa, independentemente de sua

etnia, crença religiosa, orientação sexual. Universalmente os Tribunais de Guerra,

criminalizam as torturas praticadas contra prisioneiros, como os líderes de campos de

concentração na 2ª Guerra Mundial e, mais recentemente em casos como dos soldados

americanos no Iraque, apenas para citar como exemplo.

No Brasil, os crimes de tortura cometidos na Era Vargas, e nos anos 70 sob o regime

militar, são notáveis para exemplificar o “Estado de exceção” a que o país foi submetido

ferindo os princípios de suas próprias Constituições, correção desejável com a anistia em

1979 e mais aprofundada na Comissão da Verdade 2017, que busca repor historicamente os

fatos e suas consequências com o intuito de recompor o quanto possível as famílias que

sofreram diretamente com o desaparecimento de seus parentes quando os mesmo estavam sob

a guarda do Estado que deveria protege -lós.

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Trata se também de responsabilidade civil, dos cidadãos, das empresas e das

instituições, que devem ter o compromisso de não lesar o outro sob quaisquer que sejam suas

hipóteses

Sendo assim, o dano moral ganha contornos bem mais amplos do que a pura e simples

indenização monetária, abrangendo também o dano psicológico e emocional efeitos

diretamente por ele causados e que merecem uma atenção especial de nossos legisladores e

aplicadores.

Mais ainda, se correlacionarmos o dano moral com a questão específica aqui colocada

que é o assédio moral laboral, exercido sem parcimônia ainda em nossos dias com espantoso

vigor, como veremos a seguir.

2. DIREITOS FUNDAMENTAIS E DANO MORAL E ASSÉDIO MORAL LABORAL

Os direitos humanos fundamentais, se originaram de demandas sociais ao longo da

história e evolução da sociedade, a partir de muitas lutas e revoluções. Pode ser, entretanto,

identificar alguns dos traços desses direitos na Antiguidade, na Idade Média e principalmente

nas revoluções inglesa, francesa e americana. A sua construção e evolução aconteceu de

forma gradual e lenta, e nem todos os direitos como conhecemos hoje foram reconhecidos a

um só tempo. A doutrina dos direitos humanos fundamentais tem origem na idéia de que o Direito é algo que o ser humano recebe e descobre. Nesta linha, defende-se a existência de um direito justo, sábio, que é dado aos homens.Ainda dentro desta concepção, podem ser verificadas três vertentes: a de que as normas jurídicas são atribuídas por uma divindade; a de que o Direito se manifesta pelos costumes, como longas práticas do povo; a identificação do Direito pelos "sábios", ou seja, revelado pela sabedoria. (GARCIA, 2017)5

Mas é no século XVIII com a advento das Declarações de Direitos que se conhece

uma primeira geração dos chamados Direitos Fundamentais, quando passa se a admitir o

reconhecimento do Estado das liberdades individuais, dos direitos civis e políticos. No século

XX, na tentativa de corrigir os erros da revolução industrial inglesa, ampliam se os direitos,

considerando então o Estado como o provedor de direitos ao trabalho, educação e saúde. Do

5Gustavo Filipe Barbosa em artigo para Lex Editora S.A acessado em 25.06.2017

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ponto de vista político, é incorporado o sufrágio universal, que permitiu o direito da classe

trabalhadora de participar das decisões políticas elegendo pelo voto seus representantes, o que

foi um marco no novo papel do Estado que passou a intervir no domínio econômico e social.

Já no final do século XX e começo do século XXI, passou se a considerar os direitos

de solidariedade, levando se em conta o bem comum da humanidade, aqui incluídos; a

preservação ambiental, o direito à paz e à comunicação. Mais recentemente se coloca em

questão o direito ao patrimônio genético e aos ligados a biogenética, à participação

democrática. Pode se perceber juntamente com a evolução histórica dos direitos humanos, sua

intrínseca ligação com o direito, e este, como o defensor do valor supremo da dignidade

humana.

Eis aí a correlação com a questão do dano moral, ou seja, o reconhecimento de que os

direitos humanos fundamentais devem ser respeitados e quando são de algum modo violados,

a lei deve imperar no sentido de punir e/ou reparar o dano causado a outrem seja a lesante

pessoa física ou jurídica.

(...) Se por um lado, a pessoa humana deveria ser sempre livre de sofrer preconceitos, segregacionismos, tendo, inclusive, o direito de transitar livremente pelos territórios do planeta, da mesma maneira como percorre o quintal de sua casa, sempre sendo respeitada e respeitando seus semelhantes e os recursos que a natureza lhe oferta ( lugares por onde passa) , de outro lado os cuidados com as criaturas que habitam a Terra – Mãe Terra que a todos sustem, devem também ser considerados deveres de todos para com todos, garantindo a dignidade da condição humana, e promovendo igualdade entre todos, garantindo que os seres vivos sejam cuidados adequadamente- o que , ao final, reverte em benefício do próprio homem. Grifo nosso. (VILLAS BÔAS; SANTOS, 2017, p. 261)

3. DIREITOS HUMANOS E RESPONSABILIDADE CIVIL

Compreender responsabilidade civil em Direito é assimilar a teoria que define a pessoa

física ou jurídica na condição de responsável pelo dano causado a terceiros e da consequente

obrigação de repara lo.

A origem do termo “dano” vem do latim damnum e significa todo o mal que se causa

a uma outra pessoa, de tal modo que a prejudique moralmente ou materialmente. A palavra

moral, também vem do latim moralis e significa “relativo aos costumes”, A seguir, algumas

conceituações de dano moral, de dois conceituados juristas

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(...) em razão da esfera da subjetividade, ou do plano valorativo da pessoa na sociedade, em que repercute o fato violador, havendo-se, portanto, como tais aqueles que atingem os aspectos mais íntimos da personalidade humana (o da intimidade e da consideração pessoal, ou o do pró valoração da pessoa no meio em que vive e atua (o da reputação ou da consideração social. (BITTAR, 1993, p.41)

(...) a noção de reparação de dano encontra-se claramente definida no Código de Hamurabi. As ofensas pessoais eram reparadas na mesma classe social, à causa de ofensas idênticas. Todavia o Código incluía ainda a reparação do dano à custa de pagamento de um valor pecuniário. (REIS apud GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2004, pag. 61).

Independente de culpa, a reparação é prevista, se a atividade desenvolvida

normalmente pelo autor do dano, implicar em risco para os direitos de outrem. (...) a indenização prevista, que deverá ser equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem”. (Normas Legais junho 2017) 6

Embora o ordenamento jurídico brasileiro seja bastante abrangente no tocante a

situações que prevejam a indenização por dano moral, geralmente as grandes empresas

costumam reincidir na prática do ilícito.

Apesar do amplo espectro de atuação dessas leis, ainda restam dúvidas quanto à sua

tipologia. Ou seja, se deve ser reparatória ou condenatória e, quais as consequências da

decisão e se isto pode representar e/ou facultar a reincidência de prática do ilícito.

A Constituição de 1988 garante em seu texto a proteção a toda e qualquer pessoa.

Direitos esses garantidos por tratados e documentos jurídicos, com acordos internacionais. O

instrumental jurídico brasileiro tem robustez suficiente para garantir que os direitos humanos

sejam respeitados e estendidos a todos os cidadãos.

Porém, o objetivo ainda não foi alcançando por atuações distantes entre Legislativo e

Executivo. O compromisso constitucional prevê detalhadamente uma série de cuidados para

proteger a vida humana e sua dignidade: igualdade de gêneros, erradicação da pobreza, da

marginalização e das desigualdades sociais. Além da proteção do bem comum, sem

preconceitos de qualquer natureza. A Constituição Federal aponta ainda que o racismo é

crime imprescritível, propõe acesso à saúde, previdência, assistência social, educação, cultura,

desporto e lazer.

6Acesso em 25.06. 2017- O site reproduz a normas do ordenamento jurídico no tocante a indenização por Dano Moral.

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Promove ainda o reconhecimento de crianças e adolescentes como pessoas em

desenvolvimento, portanto em formação e que precisam de proteção, mesmo os que cometem

delitos. A Lei os protege com um Estatuto específico. Há também uma orientação para uma

política de proteção ao idoso, ao deficiente e aos diversos agrupamentos familiares e

contempla a cultura indígena zelando por sua preservação.

Mas embora o texto constitucional nos garanta todos esses direitos, ainda necessitamos

de ações afirmativas para enfatizar os conteúdos que se encontram explícitos em nosso

ordenamento jurídico.

Pode se constatar através de períodos marcantes da história do país, em especial em

períodos passados sob o regime de “Estado de exceção”, quando a governabilidade era

exercida pela força e mantinha órgãos a ela ligados como o DIP e, posteriormente o DOPS,

que acabaram por legitimar cada qual a seu tempo, o descumprimento da Constituição e em

especial dos Direitos Humanos Fundamentais.

Historicamente os períodos do Estado Novo (era Vargas) e a Ditadura Militar, (década

de 60) representaram momentos difíceis para os direitos humanos e seus preceitos, marcado

pelo descumprimento do Estado para com a própria lei.

Com a anistia em 1979, a volta ao país dos até então exilados, mas em contrapartida,

os militares responsáveis por torturas, assassinatos e sequestros dos que se opunham ao

regime, também não podiam ser punidos. A reposição história aconteceu em 2012 quando

foi instaurada a Comissão Nacional da Verdade (CNV) para investigar as violações aos

direitos humanos cometidos entre 1946 e 1988 com ênfase para o período da ditadura militar.

O relatório final divulgado contabilizou 434 vítimas entre mortos e desaparecidos e

identificou 377 responsáveis diretos pelos crimes cometidos. A CNV, embora não tenha

poderes para punir, defende que 196 dos responsáveis sejam levados à Justiça, numa tentativa

de reposição desses danos morais causados por uma atuação equivocada por parte do Estado,

a quem cabe assumir a responsabilidade civil por tais atos.

Apesar do Brasil ser um dos países com um ordenamento jurídico robusto no que se

refere a direitos fundamentais, que devem ser um compromisso do Governo Federal, há ainda

um longo caminho a ser traçado e a condução desses preceitos depende de políticas públicas,

quando existentes ineficazes como nos mostra o relatório do Estado dos Direitos Humanos no

Mundo- organizado pela Anistia Internacional, problemas como alta taxa de homicídio,

especialmente de jovens negros, abusos policiais e execuções extrajudiciais cometidas por

policiais em operações tanto formais quanto paralelas, em grupos de extermínio ou milícias,

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reflexos de uma triste herança cultural advinda de tempos sombrios onde o autoritarismo,

influenciado pelo facismo da era Hitler e de Mussolini, imperava acima da própria

Constituição e mais ainda ignorando a condição humana dos oponentes ao regime.

Com essa constatação, pode se vislumbrar a dificuldade de se estabelecer um

parâmetro para o cumprimento da lei no tocante ao Dano Moral, ligado sem dúvida às

questões acima descritas. Levando se em conta a definição de dano moral como sendo tudo

aquilo que atinge a intimidade, nome, corpo físico, imagem, ou ofensa à honra. Dessa forma,

o dano moral, considera os direitos humanos e ao punir o lesante busca faze lo no rigor da lei

para que o ato não se repita.

Entretanto, evitar que o ato ilícito seja cometido necessita de uma ação preventiva e

educativa em conjunto com áreas correlatas ao Direito e que possam colaborar para que a lei

não só seja difundida e introjetada na sociedade, mas que seja cumprida naturalmente,

passando o ilícito a ocupar um espaço bem mais restrito do que ocorre com lamentável

frequência.

A impunidade prevalece favorecendo a repetição do ilícito especialmente quando se

trata de grandes empresas. O lesado, acaba por sucumbir ao dinheiro fácil e rápido advindo do

acordo entre partes, porém insuficiente para de fato reparar o dano causado ou mesmo coibir a

reincidência.

Este é o impasse que aqui se discute. A decisão caso condenatória, resolve a questão?

Os argumentos que se contrapõem parecem frágeis diante dos fatos reais. Dizer como alguns,

que "favorece ao enriquecimento ilícito", cai por terra quando se observa o dano causado em

toda a sua extensão.

Um valor monetário seja qual for o montante não cobre os custos emocionais causados

e sequer é capaz de "reparar" de fato as consequências como em casos de "erro médico",

"omissão de socorro", ou similares por exemplo, entre outros que atinjam a personalidade, ou

seja ferindo os direitos humanos, causando danos que ultrapassam os danos materiais.

Desse modo, a simples reparação não é satisfatória, deixando em aberto a necessidade

de punição pelo dano causado evitando a reincidência, como vimos nas análises anteriores.

A questão do individualismo nas sociedades ocidentais contemporâneas não é um

assunto, que se possa ignorar. Precisamos contextualizar o dano moral, e as questões que o

cercam, para compreender qual é o mecanismo que corrobora para que o lesado desista de

concluir uma ação contra o lesante, e conforme se com algum dinheiro que receba do

primeiro, mesmo que insuficiente no tocante a reparação do dano.

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Depois de décadas (de promessa) de Estado de bem-estar social, em que os cortes financeiros se limitavam a curtos períodos e se apoiavam na promessa de que tudo logo voltaria ao normal, entramos num novo período em que a crise, ou melhor,um tipo de estado de emergência econômica, que necessita de todos os tipos de medidas de austeridade (corte de benefícios, redução dos serviços gratuitos de saúde e educação, empregos cada vez mais temporários etc.), é permanente e está em constante transformação, tornando-se simplesmente um modo de viver. Além disso, as crises ocorrem hoje nos dois extremos da vida econômica, e não mais no núcleo do processo produtivo: ecologia (exterioridade natural) e pura especulação financeira. Por isso, é muito importante evitar a solução simples dada pelo senso comum: “Temos de nos livrar dos especuladores, pôr ordem nisso tudo, e a produção continuará”. A lição do capitalismo aqui é que as especulações “irreais” são o real; se as esmagarmos, a realidade da produção sofrerá” (ZIZEK, 2011)7

A análise do pensador, filósofo e psicanalista tunisiano, reflete sem máscaras a

realidade contemporânea, colocando em cheque a necessidade de absorver a transformação e

aprender a lidar com ela. Sem dúvida há ainda a considerar o uso indiscriminado da

tecnologia de ponta, artefato imprescindível para qualquer ser humano que pretenda uma vida

digna, uma vez que da medicina à operações bancárias, passando pelo simples ato de fazer

compras no mercado, todas essas atividades dependem da tecnologia portanto aqueles que

ainda não foram “incluídos digitalmente” são parte do que se chama de “povo invisível” ou

marginalizado socialmente.

Mas além das benesses trazidas pelo acesso à informação instantânea via rede, não

podemos esquecer que o dano moral também pode e o é com certa frequência, praticado via

rede mundial e que deve ser coibido como quaisquer outros crimes, merecendo punição.

Como já foi observado, as leis que definem o dano moral, aliadas às leis específicas da

informática, são bastante consistentes e abrangentes no ordenamento jurídico brasileiro. Por

que então, a prática do ilícito prevalece? Populares e profissionais alheios ao Direito

costumam desacreditar na Justiça, e de que de fato venha a ter eficácia a aplicabilidade de

sanções e punições a partir do dano moral.

4. ASSÉDIO MORAL LABORAL SEUS DANOS E CONSEQÜÊNCIAS SOCIAIS:

7- SlavojZizek em Primeiro como Tragédia, depois como farsa, discute a falência tanto do sistema a partir da tragédia do 11 de setembro nos Estados Unidos e do paralelo que o autor traça com a crise financeira de 2008..

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Face ao até aqui exposto, considerar assédio de qualquer natureza crime e com

punição prevista no ordenamento jurídico brasileiro, deveria ser simplesmente corriqueiro no

cotidiano do cidadão. Mas, o que dizer quando o assédio moral, acontece no meio ambiente

laboral, costuma reincidir com constância em diversos ambientes de trabalho e, muitas vezes

sequer depende da envergadura da empresa aonde esse tipo de delito ocorre.

Numa primeira análise, o que se percebe é a fragilidade emocional do trabalhador que

passa pela situação do assédio moral. Geralmente submete se ora porque o emprego é sua

única fonte de sobrevivência e de sua família. Portanto além de ser humilhado normalmente

na frente de seus colegas, hostilizado frontalmente por seu algoz, que ocupa um lugar

hierarquicamente com bem mais poderes do que sua vítima do momento, fica o trabalhador

vitimizado, passando a ser e sentir se “inferior”, “coitadinho” o que resulta no dito

psicanalítico “fulano está com a auto estima muito abalada” situação tão banalizada que

justifica em grande parte das situações, o estado de depressão do indivíduo.

Porém por tratar se de grandes empresas, ou quando não são, a única fonte de renda do

empregado naquele momento fica difícil colher as provas exigidas pela Justiça para punir e

coibir tal atitude que fere não apenas a Constituição, mas os Direitos Humanos não só por ela

assegurados, mas também por inúmeros acordos internacionais.

Geralmente esse tipo de assédio causa danos imateriais, e portanto, como amplamente

discutido ao longo desse trabalho, difícil de “quantificar” o quanto valeria em termos de uma

provável indenização?

Não há valor monetário capaz de suprir a ponto de “compensar” tais atos. Humilhação

é costuma deixar marcas profundas e muitas vezes feridas que jamais cicatrizam. E esse tipo

de atitude na empresa contemporânea, da “responsabilidade civil” e “ambiental” remonta a

um retrocesso político da época da escravidão, quando era permitido ao “feitor” surrar até

morte se assim o desejasse o escravo ali de mãos e pés atados.

A situação vexatória a que são expostos os trabalhadores que sofrem o assédio moral

ao longo de suas jornadas só é diferente por não haver a dor física, mas mesmo esta pode

manifestar se em doenças as mais diversas, cuja origem pode estar intimamente ligada ao

assédio moral.

Esse tipo de conduta tão pernicioso muitas vezes “esconde um lobo em pele de

cordeiro” e esse tipo do popular “bonzinho” foi descrito pelos psicanalistas norte-americanos,

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George Bach e E Herb Goldeberg,8 que analisam o típico “bonzinho”, demonstrando o quão

de perversidade pode se esconder por debaixo desse rótulo.

Com esse perfil, muitas vezes o engano fica assegurado e ao se ver em posição de

comando, assume uma atitude ditatorial e por vezes agressiva, “elegendo” quem será a vítima

de seu assédio moral.

O assédio moral constitui-se em um fenômeno que sempre existiu nas relações sociais, com o qual o homem conviveu silenciosamente até meados da década de 1980. Conhecido por diversas denominações ao redor do mundo, como Mobbing, Bullying, Bossing, Harcèlement Moral, Harassment, Psicoterror etc, tal fenômeno tem chamado a atenção de juristas, legisladores, psicólogos, médicos, e da sociedade em geral, tornando-se cada vez mais frequente no mundo contemporâneo. Configura-se uma violência cruel e degradante, a qual pode acarretar à vítima graves sequelas, tanto físicas, quanto psicológicas, como a depressão, e até mesmo, em casos extremos, o suicídio.”. (SOARES E DUARTE NETO 2017)9

5. A LEGISLAÇÃO

O ordenamento jurídico brasileiro até o ano 2000, não abrangia ainda com a clareza

que o faz dezessete anos após, a questão do dano moral laboral finalmente ocupa um lugar

entre as leis brasileiras. O Estado do Rio de Janeiro, saiu na frente neste quesito e criou a Lei

Estadual nº 3.921/2002 que tinha como alvo, entidades como autarquias, fundações,

empresas, repartições, que envolvessem os três poderes estatais, empresas públicas e

concessionárias de serviços públicos, e nos termos da lei é explicitada a proibição do assédio

moral laboral no Estado do Rio de Janeiro.

(...) o exercício de qualquer ato, atitude ou postura que se possa caracterizar como assédio moral no trabalho, por parte de superior hierárquico, contra funcionário, servidor ou empregado que implique em violação da dignidade desse ou sujeitando-o a condições de trabalho humilhantes e degradantes.” Lei Estadual nº 3.921/2002

Para se reconhecer a ocorrência de assédio moral é preciso levar em conta os seguintes

aspectos: a) a frequência dos ataques b) o prolongamento temporal dos mesmos c) a

determinação de desestabilizar emocionalmente a vítima com o objetivo de seu afastamento

do posto de trabalho.

8 Agressividade Criativa- George Bach e E Herb Goldberg- Ed. José Olympio- 1978 9 O Assédio Moral no ordenamento jurídico Brasileiro- Bullyng in Brazilian Legal System Fernanda de Carvalho Soares Bento Herculano Duarte Neto ( acessado em 04.07.2017).

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Na lei do Rio de Janeiro há uma série de atitudes e procedimentos que podem ser

enquadrados como assédio moral laboral. Por exemplo, atribuir tarefas estranhas ou isolar o

servidor de seus colegas e superiores, torturar psicologicamente ou apropriar se de ideias por

ele propostas, entre muitos outros itens que caracterizam o assédio moral.

Para coibi-lo, é necessário que o trabalhador conheça seus direitos, reconheça as

características do assédio moral, para então, usar a força de lei a seu próprio favor. Até porque

se não houver a punição prevista para o infrator, o mesmo pode não apenas reincidir no ato

ilícito como no caso específico, prejudicar muita gente que às vezes prefere uma

“compensação” em dinheiro a seguir adiante com um processo criminal contra a empresa.

6. COMMON LAW E PUNITIVEDAMAGES

A Indenização Punitiva, já faz algum tempo tornou se relevante não apenas no Brasil,

mas também em países de raízes romano-germânica. Para justificar tal escolha, os juristas

desses países debruçam se sobre o instituto dos punitivedamages , que em outras palavras

significa o reconhecimento do ato ilícito passível de indenização mas, com o objetivo

primeiro de punir o ofensor pelo ilícito cometido , desestimulando desse modo a reincidência,

mas justamente pelo rigor com o qual são aplicadas as punitive damages se concentram

geralmente em ilícitos civis reprováveis e quando é evidenciada a intenção do ofensor em

prejudicar terceiros, ignorando direitos e interesses do indivíduo.

Normalmente, a punição aplicada nesses casos, é imposta ao menos em países como

Estados Unidos e Inglaterra, por um corpo de jurados e não por um juiz togado. A pena inclui

uma indenização pecuniária, quantificada pelos jurados, de maneira independente de caber na

ação uma eventual indenização compensatória.

A Ideia desse tipo de punição surge a partir da constatação da impossibilidade de

ressarcimento apenas pela compensação financeira, uma vez que trata se de danos imateriais,

entendidos aqui como difíceis de se lhes atribuir ou quantificar o dano emocional somado ao

dano material.

(...) o processo trabalhista considerado pioneiro na abordagem do assédio moral no Brasil veio do Espírito Santo. Nele, o Tribunal Regional do Trabalho da 17ª Região classifica e enquadra como assédio moral as perseguições sofridas por um técnico de publicidade e propaganda: “A tortura psicológica, destinada a golpear a autoestima

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do empregado, visando forçar sua demissão ou apressar sua dispensa através de métodos que resultem em sobrecarregar o empregado de tarefas inúteis, sonegar-lhe informações e fingir que não o vê, resultam em assédio moral, cujo efeito é o direito à indenização por dano moral, porque ultrapassa o âmbito profissional, eis que minam a saúde física e mental da vítima e corrói a sua autoestima”, registra o acórdão do Recurso Ordinário nº 1315.2000.00.17.00.1, relatado pela juíza Sônia das Dores Dionízio. “No caso dos autos, o assédio foi além, porque a empresa transformou o contrato de atividade em contrato de inação, quebrando o caráter sina pragmático do contrato de trabalho e, por consequência, descumprindo a sua principal obrigação que é a de fornecer trabalho, fonte de dignidade do empregado” (BARRETO, 2000)

6. ALGUMAS REFLEXÕES

(...) na luta pelos direitos do homem não se pode afastar premissas, que importam à sua compreensão e concretude, como a de se considerar a existência de doutrinas que afirmam e outras que refutam a concepção universalista de referidos direitos. O importante, porém, a ser considerado, é que sejam elas, doutrinas contrárias, ou a favor da universalidade de referidos direitos, devem ser sempre utilizadas em proveito da dignidade do homem, levando em conta fragilidades das teorias clássicas dos direitos humanos, quando em face da miserabilidade a que muitos seres humanos estão expostos, cotidianamente. As novas doutrinas não podem desconstruir ou desconsiderar os direitos já conquistados, devendo, antes, incentivar o homem a agir, como sujeito criador e transformador do mundo, capaz de modificar status, fazer nascer e renascer culturas, a partir do dom que possui, que lhe permite escolher a melhor conduta e transformar o mundo. A esse respeito, a “Teoria Crítica dos Direitos Humanos” pode propiciar aprendizados relevantes aos investigadores da matéria... (VILLAS BÔAS; SANTOS, 2017)

Trata se de reconhecer o dano moral, como instrumento legal que busca repor, ou

melhor dizendo recompor a condição do indivíduo de gozar plenamente de seus direitos não

tolerando, portanto, a ofensa, a injúria ou qualquer atitude vinda de outrem que o prejudique e

sobretudo que atinja sua honra, sua intimidade entre outros direitos que lhe são assegurados

pela Constituição.

O que é fácil de constatar é que a maioria dos direitos do cidadão, não só são

cotidianamente desrespeitados, mas além disso, cometem se atos ilícitos contra terceiros,

apesar de todo o ordenamento jurídico que não apenas prevê a sanção ou punição, para além

da simples indenização monetária, como também pretende coibir a reincidência desses atos

contra a pessoa humana.

O que se defende na realidade é uma conscientização ampla de toda a sociedade a

respeito do que representa cometer um dano moral, no sentido de prejudicar a outrem

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intencionalmente mesmo que subliminarmente e o quanto isto representa prejuízo não apenas

ao indivíduo que é lesado, mas para a toda a sociedade. O fato é que a cultura do “levar

vantagem” sobre alguém, acaba afetando as relações sociais de tal modo que abala a

credibilidade do lesante e, pior ainda quando o lesado é ferido emocionalmente de modo a

abalar sua segurança tanto em si mesmo quanto nas instituições.

Gera se então o conflito latente que poderia ser evitado, caso o lesante conseguisse

perceber que “vantagem” sobre o outro através da prática do ilícito, pode prejudicar a si

próprio, pois além da punição sua credibilidade acaba sendo atingida, mesmo que a princípio

indiretamente.

Ocorre que esta situação não deve prevalecer pois não prejudica apenas aos cidadãos

individualmente, mas também afetam a credibilidade nas instituições em especial em seus

representantes, desconstroem ainda o conceito de responsabilidade civil que tem funções

importantes não apenas no que concerne a questões que envolvam o uso de recursos comuns,

mas também as consequências de ignorar essa responsabilidade para toda a humanidade.

Além disso, se o que se quer é aprofundamento na conceituação do que vem a ser dano

moral e sua reparação, certamente não causará surpresa até um certo estranhamento constatar

que apesar de todo um ordenamento jurídico consolidado, é preciso reparar conceitos e

conciliar as visões diferentes inerentes ao próprio Direito, sob pena de estagnação diante de

uma problemática tão complexa.

6. A TÍTULO DE CONCLUSÃO

Devido à complexidade do tema e seus desdobramentos , o ponto de partida e a

definição desses conceitos, sua contextualização para em seguida buscarmos estabelecer

paralelos levantando pontos que achamos importantes para esclarecer como por exemplo em

que casos e cabível a reparação por danos morais, por exemplo , aliado a tentativa de

compreender porque uma maioria significativa prefere o acordo ou até mesmo e orientada ou

conduzida para tal e em que isso afeta a imagem que se tem do Direito, da Justiça e de seus

profissionais.

Se cabe ao Direito equilibrar, promover o diálogo entre partes através de mediações,

não caberia a Justiça promover equidade entre as partes? Dando, portanto, as mesmas

condições diante de uma disputa a ambas as partes? Acaso ao longo dos séculos tanto a

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Filosofia quanto a Ciência do Direito se fizeram presentes em discussões e robustez de

argumentos no sentido de defender a máxima de que a ‘a Justiça e para todos “?

Certamente não há respostas satisfatórias as indagações aqui propostas, porém chamar

a atenção para aspectos peculiares que acabam tornando se entrave para que se construam

relações saudáveis entre empresas e cidadãos, cumpre a função de instigar a reflexão.

Através de analises do próprio ordenamento jurídico, pode se apontar a fragilidade

nele contida que permite e corrobora até para que a empresa, manipule e permaneça

cometendo ilícito por saber que sairá ilesa e a baixo custo, conseguindo assim aplacar os

ânimos do cidadão

O resultado e que, amparada pela legislação a empresa não se vê obrigada a assumir o

ônus de sua responsabilidade social, uma vez que está convicta do cumprimento das normas

jurídicas ainda que suscitem algumas dúvidas quanto a essa espécie de permuta que substitui a

punição por compensação com a conivência do cidadão que sofre o dano.

Nota se que é urgente um olhar concentrado não apenas sobre os conceitos de dano

moral e, seus desdobramentos aqui colocados. Se a pena deve ser punitiva ou reparatória, é

uma questão que ainda não apresenta uma Resposta satisfatória.

O importante é considerar a Ciência do Direito como um organismo vivo e pulsante,

capaz de evoluir e acompanhar as velozes mudanças de uma sociedade efervescente e em

permanente ebulição.

Para tanto é preciso debruçar se sobre os mecanismos que impedem que se cumpra o

ordenamento jurídico até então bastante consistente. Será apenas o Executivo o responsável

direto por tal lacuna?

Em caso afirmativo, o que é necessário fazer para impulsionar o cumprimento da lei

por parte de pessoas jurídicas e físicas, que compõem a Nação? Quais seriam, portanto, as

atitudes a serem tomadas já que não se pode garantir “a força da lei”?

Mais do que questões são propostas para um debate urgente e às claras que procure

nortear a definição do dano moral e provocar reflexões que suscitem a escolha da sanção com

firmeza, venha ela a ser meramente “compensatória” ou “punitiva”.

Trata se de conciliar a “reparação”, se cabível, com a “punição” prevista em lei. Uma

não pode nem deve sobrepujar se a outra, sob pena de permanecer a dubiedade.

O cerne da questão é entender de que maneira podemos preservar o conceito de dano

moral, acoplado à responsabilidade civil, que exige não apenas que exista uma indenização

material, mas que o ilícito possa ser combatido de fato pela própria lei

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As diversas interpretações por si proporcionam a oportunidade de se “escapar” através

de mecanismos encontrados na própria lei. Além disso, o fato de o indivíduo aceitar

simplesmente a quantia proposta a título de “reparação”, já o coloca como conivente na

situação. Individualmente, pode até causar um certo conforto.

Mas a questão é coletiva e merece ser olhada por nossos juristas e aplicadores da lei,

com bastante cuidado para não serem eles mesmos envolvidos a ponto de turvar o pensamento

no momento em que devem estar o mais isento possível para darem o veredicto que se

pretende justo e conciliador. Acaso não é este o papel do Direito? O de mediar conflitos de

interesses, estabelecendo um convívio social harmônico entre os membros de uma sociedade?

Não é, portanto, também papel do legislativo fazer seu ordenamento jurídico de tal ordem que

proteja e assegure o respeito à vida digna de cada cidadão?

E isso lhe és garantido através de uma consistente e bem elaborada normativa que

deve ser aceita e entendida por todos os membros da sociedade o que é o ideal.

Mas, se a realidade se distancia desse ideário de Justiça igualitária e ao alcance de

todos, é importante que o Direito comunique se de forma mais eficaz e para além das

academias e tribunais, levando à população que por ele é regido, à sociedade que nele se

apoia, a conscientização de seus deveres e direitos, como forma substancial de se transformar

de verdade.

E claro, essa conscientização não tem o sentido da verticalidade. Ao contrário, deve

ter um olhar horizontal, de diálogo franco entre os segmentos envolvidos. Quem sabe seja

esse o começo para se combater o ilícito?

4 REFERÊNCIAS

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BARRETO, M. Uma jornada de humilhações. São Paulo. Fapesp: PUC 2000.

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