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Responsabilidades no serviço de bombeiro civil Autor: Nilton Monte Mesmo que o serviço de bombeiros seja delegado a terceiros, o Estado não pode declinar do dever de regulamentá-lo e controlá-lo, pois como nos ensina o Mestre Hely Lopes Meirelles, “a regulamentação e controle do serviço público e de utilidade pública caberão sempre e sempre ao Poder Público, qualquer que seja a modalidade de sua prestação aos usuários”[i] . Ao pensarmos em responsabilidade na atuação dos bombeiros civis, apesar de sua nobre motivação de proteger vidas e patrimônios, à evidência, concluímos que há considerável grau de risco para estes profissionais que podem provocar-lhes ferimentos e lesões. Contudo este risco é controlado e evitado através de conhecimento técnico e treinamento adequado. Quando há falha no treinamento, conhecimento inadequado do risco, o resultado será a ocorrência de acidentes com lesões corporais, contaminação, contagio de doenças e etc. Estando bombeiro civil, exercendo a sua atividade conforme preconiza a Lei 11.901/09, este profissional estará amparado pelas leis trabalhistas e previdenciárias. Contudo, se agir fora do âmbito da empresa, no combate a incêndios ou resgate de acidentados, não há que se falar em responsabilidade da empresa. Disto decorre a importância do treinamento adequado e conhecimento dos riscos onde irá atuar, donde se compreende a grande responsabilidade dos cursos de formação de bombeiros civis. Não basta um belo diploma e carteirinha de bombeiro civil, o que importa é conhecimento e treinamento que assegurem a segurança do profissional e das pessoas envolvidas no atendimento. Neste particular, cito o acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo referente a recurso de apelação em ação de indenização: “DANO MORAL, - Indenização - Falecimento da vítima em razão de descarga elétrica ocorrida por rompimento de cabo gerado por choque de veículo em poste de iluminação — Descabimento — Ausência de culpa da concessionária de energia que não foi avisada previamente do acidente para que pudesse efetuar o desligamento - Vítima bombeiro voluntário que tinha o dever de agir deforma a evitar o perigo - Culpa exclusiva da vítima . . .”[ii] . Mas a falta de preparo técnico adequado ou desconhecimento, com maior probabilidade, pode fazer com que a atuação do bombeiro tenha como resultado, o agravamento das lesões sofridas pelo acidentado. Como exemplo, cita-se a situação de pessoa com fratura ou lesão de coluna cervical que tenha a lesão agravada pela intervenção inadequada do bombeiro civil; ou a situação de uso incorreto de equipamento de combate a incêndio que venha a danificar desnecessariamente algum bem de terceiro; estas condutas poderão sujeitá-lo á responsabilização penal pelo agravamento da lesão, por crime de lesão corporal culposa, situação em que o agente não quis o resultado ou assumiu o resultado de produzir a lesão, conforme tipifica o Artigo 129, § 6.°, do Código Penal Brasileiro, bem como a responsabilização civil, com a obrigação de indenizar a pessoa prejudicada, nos termo do Artigo 927, parágrafo

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Responsabilidades no servio de bombeiro civilAutor: Nilton Monte

Mesmo que o servio de bombeiros seja delegado a terceiros, o Estado no pode declinar do dever de regulament-lo e control-lo, pois como nos ensina o Mestre Hely Lopes Meirelles, a regulamentao e controle do servio pblico e de utilidade pblica cabero sempre e sempre ao Poder Pblico, qualquer que seja a modalidade de sua prestao aos usurios[i].Ao pensarmos em responsabilidade na atuao dos bombeiros civis, apesar de sua nobre motivao de proteger vidas e patrimnios, evidncia, conclumos que h considervel grau de risco para estes profissionais que podem provocar-lhes ferimentos e leses. Contudo este risco controlado e evitado atravs de conhecimento tcnico e treinamento adequado.Quando h falha no treinamento, conhecimento inadequado do risco, o resultado ser a ocorrncia de acidentes com leses corporais, contaminao, contagio de doenas e etc. Estando bombeiro civil, exercendo a sua atividade conforme preconiza a Lei 11.901/09, este profissional estar amparado pelas leis trabalhistas e previdencirias. Contudo, se agir fora do mbito da empresa, no combate a incndios ou resgate de acidentados, no h que se falar em responsabilidade da empresa. Disto decorre a importncia do treinamento adequado e conhecimento dos riscos onde ir atuar, donde se compreende a grande responsabilidade dos cursos de formao de bombeiros civis. No basta um belo diploma e carteirinha de bombeiro civil, o que importa conhecimento e treinamento que assegurem a segurana do profissional e das pessoas envolvidas no atendimento. Neste particular, cito o acrdo do Tribunal de Justia de So Paulo referente a recurso de apelao em ao de indenizao: DANO MORAL, - Indenizao - Falecimento da vtima em razo de descarga eltrica ocorrida por rompimento de cabo gerado por choque de veculo em poste de iluminao Descabimento Ausncia de culpa da concessionria de energia que no foi avisada previamente do acidente para que pudesse efetuar o desligamento - Vtima bombeiro voluntrio que tinha o dever de agir deforma a evitar o perigo - Culpa exclusiva da vtima . . .[ii].Mas a falta de preparo tcnico adequado ou desconhecimento, com maior probabilidade, pode fazer com que a atuao do bombeiro tenha como resultado, o agravamento das leses sofridas pelo acidentado. Como exemplo, cita-se a situao de pessoa com fratura ou leso de coluna cervical que tenha a leso agravada pela interveno inadequada do bombeiro civil; ou a situao de uso incorreto de equipamento de combate a incndio que venha a danificar desnecessariamente algum bem de terceiro; estas condutas podero sujeit-lo responsabilizao penal pelo agravamento da leso, por crime de leso corporal culposa, situao em que o agente no quis o resultado ou assumiu o resultado de produzir a leso, conforme tipifica o Artigo 129, 6., do Cdigo Penal Brasileiro, bem como a responsabilizao civil, com a obrigao de indenizar a pessoa prejudicada, nos termo do Artigo 927, pargrafo nico, c.c. Artigo 949 do Cdigo Civil:Artigo 927. [...]Pargrafo nico. Haver obrigao de reparar o dano independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.Artigo 949. No caso de leso ou outra ofensa sade, o ofensor indenizar o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes at o fim da convalescena, alm de algum outro prejuzo que o ofendido prove haver sofrido[i]MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 14. ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1989.[ii]SO PAULO (ESTADO). Tribunal de Justia. Apelao Com Reviso 3889754400. 10 Cmara de Direito Privado. So Paulo: 11abr.2006.