jornal da abi 339

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Sem a ABI, os caras viriam pegar a gente pra dar porrada. Isso na melhor das hipteses, diz aquele que considerado o mais brasileiro dos nossos cartunistas.Pginas 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36 e 37

JAGUAR ENFTICO: A ABI UM ESCUDO PRA GENTE!VIVIANE ROCHA/AGNCIA JB

rgo oficial da Associao Brasileira de Imprensa

339MARO 2009

A VOZ DA JUVENTUDEOs jornais esto empenhados em atrair leitores jovens, o que fazem atravs de suplementos como o Folhateen e o Megazine, de O Globo. Publicaes premiadas, como a gacha Kzuka, disputam esse pblico. Pginas 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9

Jornal da ABIUma instituio criada no Rio vai preservar e divulgar a obra do criador dos Fradinhos, morto h 21 anos mas que sobrevive com os seus personagens. Pginas 38, 39, 40, 41 e 42FRANCISCO UCHA

JORNAL DO COMMERCIO

HENFIL PARA SEMPRE

CARTUNISTAS HOMENAGEIAM OS 100 ANOS DA ABINOSSOS MELHORES DESENHISTAS , DO DECANO LAN AO PRECOCE JOO, DE 12 ANOS, CRIARAM OU CEDERAM TRABALHOS PARA A MOSTRA ABI 100 ANOS DE LUTA PELA LIBERDADE. VERSSIMO E A ROEIRA TOCARAM NA INAUGURAO . PGINAS 11, 12, 13 E 14

AS MILCIAS AMEAAM O ESTADO DE DIREITOA CONCLUSO DA CPI QUE INVESTIGOU A ATUAO DESSES GRUPOS CRIMINOSOS. PGINA 15

VIVA FAVELA MOSTRA OQUE JORNALES IGNORAMEM PORTAL NA INTERNET, A REALIDADE DAS COMUNIDADES DO R IO . PGINAS 22 E 23

AS RDIOS COMUNITRIASNA MIRA DA REPRESSOA ANATEL INSTAURA PRTICAS DA DITADURA NESSA REA DA COMUNICAO. PGINA 26

HLIO FERNANDES DEVASSA A AGONIA DO ESTADO NOVOO PLANO DE VARGAS EM 1945, REVELA, ERA PERMANECER NO PODER . PGINAS 18, 19 E 20

A MORTE SEM GLRIA DO FOTGRAFO ANDR AZTALENTOSO, 34 ANOS, ELE FOI ABATIDO A TIROS NA A VENIDA B RASIL. PGINAS 46 E 47

TARCSIO HOLANDA, NOSSO NOVO VICE-PRESIDENTEO CONSELHO DELIBERATIVO APROVOU SUA INDICAO POR ACLAMAO . PGINAS 16 E 17

Editorial

DITADURA, SIM, E IMPIEDOSAPASSADOS 45 ANOS DO GOLPE de Estado que deps o Presidente constitucional Joo Goulart, era presumvel que j se tivesse cristalizado e assimilado por consenso o entendimento de que a ruptura ento produzida instaurou um amargo perodo de nossa existncia nacional, seja pela brutalidade que nele imperou, seja pela sua extenso, que se prolongou de l de abril de 1964 a 15 de maro de 1985, quando a posse do Vice-Presidente Jos Sarney, em substituio ao Presidente eleito Tancredo Neves, assinalou o retorno do poder aos civis marginalizados pelos militares que se haviam assenhoreado do poder. Esta uma quadra desafortunada de nossa Histria, que superou em iniqidades e em durao outro momento que se considerava insuscetvel de repetio, a ditadura do Estado Novo, instalada em 10 de novembro de 1937 e derrubada em 29 de outubro de 1945. Tal como esta, o regime 19641985 recebeu a denominao adequada, a tipificao daquilo que ele realmente foi: uma ditadura, pontilhada, repleta, como em todo sistema em que prevalece o poder absoluto, de agresses e crimes contra a dignidade da pessoa humana. INCOMPREENSVEL E INACEITVEL QUE ainda haja vozes, e no setor de imprensa, um dos mais castigados pelo regime discricionrio, que busquem justificar a absolvio desses crimes, sob a cedia alegao de que no estivemos sob uma ditadura, mas sim numa dita branda ou ditabranda, neologismo de extremado mau gosto, que se oporia, pela decantao de suas slabas, ditadura que a conscincia civilizada repudia. Mais inaceitvel ainda que essa tentativa de inverso do sentido do termo e da situao que este retrata tenha partido de importante rgo de imprensa, a Folha de S. Paulo, que fez sinuosa manobra para tentar vender gato por lebre e veicular esta adulterao da verdade histrica. A jogada foi to infeliz e to ofensiva memria recente de nossa evoluo poltica que o conceito encontrou repdio na prpria equipe do jornal, posto assim diante de um paradoxo: sua opinio no mereceu crdito ou adeso nem em seus domnios. QUANDO SE CONTESTA que a ditadura tenha sido branda, o que se est fazer o registro de que essa quadra de supresso das liberdades pblicas, dos direitos civis e dos direitos humanos foi marcada pela impiedade dos usurpadores do poder, por seu desrespeito s normas elementares que regem a convivncia humana, sua arrogncia, seu cinismo, como o demonstrado no episdio do assassinato do jornalista Vladimir Herzog nas masmorras do II Exrcito, em So Paulo, em 25 de outubro de 1975. Aps esse crime nefando contra um homem de boa-f, que se apresentara s autoridades militares na presuno de que no se depararia com seres possudos pelo demnio, seus algozes e matadores tentaram simular que ele cometera suicdio, verso apresentada de forma inepta, to inepta quanto o simulacro urdido por seus carcereiros. O REGIME MILITAR CASSOU, prendeu, exilou, torturou, assassinou, demitiu, desaposentou, processou, condenou, censurou, expulsou, degradou, mentiu, deu sumio a pessoas, privou a cidadania do direito de voto. Tudo isto s constituiu atos brandos na concepo dos ulicos, dos fariseus, dos puxa-sacos. Os democratas conhecem isto pelo seu verdadeiro nome: ditadura.

Jornal da ABINmero 339 - Maro de 2009 Editores: Maurcio Azdo e Francisco Ucha Projeto grfico, diagramao e editorao eletrnica: Francisco Ucha Edio de textos: Maurcio Azdo, Marcos Stefano e Paulo Chico Fotos: Acervo Biblioteca da ABI (Biblioteca Bastos Tigre), Agncia Brasil, Agncia O Globo, Agncia JB, Folha Dirigida, Folhapress, Jornal do Commercio Apoio produo editorial: Alice Barbosa Diniz, Ana Paula Aguiar, Fernando Luiz Baptista Martins, Guilherme Povill Vianna, Maria Ilka Azdo, Mrio Luiz de Freitas Borges. Publicidade e Marketing: Francisco Paula Freitas (Coordenador), Queli Cristina Delgado da Silva, Paulo Roberto de Paula Freitas. Diretor Responsvel: Maurcio Azdo Associao Brasileira de Imprensa Rua Arajo Porto Alegre, 71 Rio de Janeiro, RJ - Cep 20.030-012 Telefone (21) 2240-8669/2282-1292 [email protected] Impresso: Taiga Grfica Editora Ltda. Avenida Dr. Alberto Jackson Byington, 1.808 - Osasco, SP

DIRETORIA MANDATO 2007/2010 Presidente: Maurcio Azdo Vice-Presidente: Tarcsio Holanda Diretor Administrativo: Estanislau Alves de Oliveira Diretor Econmico-Financeiro: Domingos Meirelles Diretor de Cultura e Lazer: Jesus Chediak Diretor de Assistncia Social: Paulo Jernimo de Sousa (Paj) Diretor de Jornalismo: Bencio Medeiros CONSELHO CONSULTIVO Chico Caruso, Ferreira Gullar, Jos Aparecido de Oliveira (in memoriam), Miro Teixeira, Teixeira Heizer, Ziraldo e Zuenir Ventura. CONSELHO FISCAL Luiz Carlos de Oliveira Chesther, Presidente; Argemiro Lopes do Nascimento, Secretrio; Adail Jos de Paula, Adriano do Nascimento Barbosa, Geraldo Pereira dos Santos, Jorge Saldanha de Arajo e Manolo Epelbaum. CONSELHO DELIBERATIVO MESA 2008-2009 Presidente: Pery Cotta 1 Secretrio: Lnin Novaes de Arajo 2 Secretrio: Zilmar Borges Baslio Conselheiros efetivos 2008-2011 Alberto Dines, Antnio Carlos Austregesylo de Athayde, Arthur Jos Poerner, Carlos Arthur Pitombeira, Dcio Malta, Ely Moreira, Fernando Barbosa Lima (in memoriam), Leda Acquarone, Maurcio Azdo, Mlton Coelho da Graa, Pinheiro Jnior, Ricardo Kotscho, Rodolfo Konder, Tarcsio Holanda e Villas-Bas Corra. Conselheiros efetivos 2007-2010 Artur da Tvola (in memoriam), Carlos Rodrigues, Estanislau Alves de Oliveiora, Fernando Foch, Flvio Tavares, Fritz Utzeri, Jesus Chediak, Jos Gomes Talarico, Jos Rezende Neto, Marcelo Tognozzi, Mrio Augusto Jakobskind, Orpheu Santos Salles, Paulo Jernimo de Sousa (Paj), Srgio Cabral e Terezinha Santos.

Conselheiros efetivos 2006-2009 Antnio Roberto Salgado da Cunha (in memoriam), Arnaldo Csar Ricci Jacob, Arthur Cantalice (in memoriam), Aziz Ahmed, Ceclia Costa, Domingos Augusto Xisto da Cunha, Domingos Meirelles, Fernando Segismundo, Glria Suely Alvarez Campos, Heloneida Studart (in memoriam), Jorge Miranda Jordo, Lnin Novaes de Arajo, Mrcia Guimares, Nacif Elias Hidd Sobrinho e Pery de Arajo Cotta. Conselheiros suplentes 2008-2011 Alcyr Cavalcnti, Edgar Catoira, Francisco Paula Freitas, Francisco Pedro do Coutto, Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz, Jos Pereira da Silva (Pereirinha), Maria do Perptuo Socorro Vitarelli, Ponce de Leon, Ruy Bello, Salete Liusboa, Sidney Rezende,Slvia Moretzsohn, Slvio Paixo e Wilson S. J. de Magalhes. Conselheiros suplentes 2007-2010 Adalberto Diniz, Aluzio Maranho, Ancelmo Ges, Andr Moreau Louzeiro, Arcrio Gouva Neto, Bencio Medeiros, Germando de Oliveira Gonalves, Ilma Martins da Silva, Jos Silvestre Gorgulho, Luarlindo Ernesto, Luiz Srgio Caldieri, Marceu Vieira, Maurlio Cndido Ferreira, Yacy Nunes e Zilmar Borges Baslio. Conselheiros suplentes 2006-2009 Antnio Avellar, Antnio Calegari, Antnio Carlos Austregsylo de Athayde, Antnio Henrique Lago, Carlos Eduard Rzezak Ulup, Estanislau Alves de Oliveira, Hildeberto Lopes Aleluia, Jorge Freitas, Luiz Carlos Bittencourt, Marco Aurlio Barrandon Guimares (in memoriam), Marcus Miranda, Mauro dos Santos Viana, Osas de Carvalho, Rogrio Marques Gomes e Yeda Octaviano de Souza. COMISSO DE SINDICNCIA Ely Moreira, Presidente; Carlos di Paola, Jarbas Domingos Vaz, Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Maurlio Cndido Ferreira. COMISSO DE TICA DOS MEIOS DE COMUNICAO Alberto Dines, Arthur Jos Poerner, Ccero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti. COMISSO DE LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOS Wilson Fadul Filho, Presidente; Arcrio Gouva Neto, Daniel de Castro, Germando de Oliveira Gonalves, Gilberto Magalhes, Lucy Mary Carneiro, Maria Ceclia Ribas Carneiro, Mrio Augusto Jakobskind, Martha Arruda de Paiva, Orpheu Santos Salles, Wilson de Carvalho, Wilson S. J. Magalhes e Yacy Nunes.

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Jornal da ABI 339 Maro de 2009

ESPECIALIZAO

ELES SABEM O QUE QUEREMMelhores suplementos juvenis atraem novos leitores para jornais e revistas, mas ainda h muito a se fazer para garantir contedo de qualidade para essa galera.ILUSTRAO: MARIA

POR JOS REINALDO MARQUES E MARCOS STEFANO

S

exo, drogas e rock and roll? De fato, houve uma poca em que a juventude se ligava apenas nisso, mas ultimamente as coisas esto mudando. Especialmente a imprensa. Muito criticados pela qualidade dos produtos algumas vezes alienantes que oferecem para o pblico juvenil, jornais e revistas tentam se reinventar para mostrar uma cara cada vez mais de acordo com esse pblico. E isso verdade, principalmente no que diz respeito contribuio dos suplementos juvenis no aumento de leitores jovens. Em 2007, quando completou dez anos de criao, a Coordenao de Mdia

Jovem da Agncia de Notcias dos Direitos da Infncia-Andi produziu o mais amplo e criterioso levantamento sobre o contedo editorial de suplementos e revistas juvenis j realizado no Brasil. Os dados levantados entre 1997 e 2006 revelaram algumas surpresas, especialmente resultados positivos alcanados pela mdia jovem, que est mais consciente de sua funo social e atenta s demandas dos adolescentes. Mas tambm problemas que deixam claro que, se uma boa distncia j foi percorrida, ainda falta muito para caminhar no sentido de atingir essa moada.Jornal da ABI 339 Maro de 2009

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ESPECIALIZAO ELES SABEM O QUE QUEREM

Realizado a cada ano, o levantamento chegou a analisar 26 diferentes suplementos ou sees e cinco revistas. Logo em sua apresentao, o relatrio da Andi aborda o poder de influncia da mdia, destacando a capacidade que os meios de comunicao tm de estimular o desenvolvimento de uma viso crtica e de postura mais participativa entre o pblico jovem. Segundo o estudo, os adolescentes esto mais exigentes, mas os veculos de imprensa, mais atentos, e no abdicam mais da sua funo social. Vrios deles praticam um modelo de jornalismo que envolve o leitor em debates crticos, inserindo-o no contexto do material jornalstico oferecido. Isso fica claro quando se analisa o percentual de reportagens com relevncia social na pauta juvenil. H dez anos, elas eram apenas 24,2% do noticirio. Ultimamente, chegaram a 65%. Apesar da elevada porcentagem de textos com foco em assuntos socialmente relevantes, nem todas as pautas costumam receber igual tratamento por parte dos veculos. Enquanto alguns assuntos atraem muita ateno, outras questes igualmente importantes para a agenda da juventude acabam deixadas margem. As reportagens que se referem educao alcanaram o maior ndice de veiculao nas coberturas dos jornais e revistas pesquisados, representando 27% de todo o material analisado em 2006. J a violncia s

Mesmo assim, fica claro que revistas e suplementos esto garantindo mais espao para que garotos e meninas de 12 a 18 anos expressem sua viso. As estratgias de interatividade para formar esse canal de comunicao comeam com as sees de cartas, passam por pesquisas sobre reportagens e inovaes grficas, criao de blogs e de material exclusivo para a internet e chegam criao de conselhos editoriais formados por jovens, que se renem com a equipe da redao a cada 15 dias para discutir pautas e avaliar as edies anteriores. Nas matrias, adolescentes e jovens so, de longe, os atores mais ouvidos pelos reprteres. De acordo com o levantamento da Andi, entre 2005 e 2006 40% das reportagens os ouviram, com ligeira predominncia de fontes femininas.Trajetria de longa data Foi a dcada de 1990 que concentrou o boom no surgimento de veculos para jovens. Mas muito antes disso algumas tentativas para atingir esse pblico surgiam esporadicamente. A primeira surgiu em 1831, em Salvador. Tratavase de um jornal bissemanal chamado O Adolescente. Em 1934, o peridico A Nao passou a publicar o Suplemento Infantil mais tarde chamado de Suplemento Juvenil , influenciado pelas histrias em quadrinhos norte-americanas. Apesar de ser muito diferente daquilo que existe hoje, logo a idia foi copiada por veculos de todo o Brasil. J a primeira revista voltada a esse segmento surgiu apenas em 1972. Gerao Pop, lanada pela Editora Abril, foi publicada at 1979. Na televiso, o jovem comeou a ter espao na programao principalmente nos anos 80. Destaque para a pioneira TV Cultura, de So Paulo, e para a MTV, que entrou em operao no Pas em 1990. Antes vistos como personagens sem condies de fazer suas prprias escolhas e com pouco apelo publicitrio, nessa poca que a importncia do pblico jovem comea a ser entendida. Percebe-se tambm a insuficincia das revistas segmentadas voltadas para o pblico feminino ou para os esportes na tentativa de cativ-los. Revistas como Capricho, Querida e Carcia so reformuladas e novos ttulos como Atrevida e Todateen somam-se a elas. Nos jornais, a Folha de S. Paulo lana de forma pioneira, em janeiro de 1991, o semanal Folhateen para levar notcias sobre educao, lazer, comportamento e consumo para os leitores jovens. A idia parecia completamente maluca. No havia nada parecido no

Com ilustraes de J.Carlos, o Suplemento Infantil, fundado por Adolfo Aizen em 1934, trouxe para o Brasil o modelo dos cadernos semanais de quadrinhos. J a revista Gerao Pop, de 1972, foi a primeira voltada para o pblico adolescente, enquanto o Folhateen o caderno pioneiro voltado para o pblico jovem.

foi debatida em 0,58% das matrias: entre 2004 e 2006, houve uma reduo de mais de 50% nas reportagens referentes ao assunto. Os temas gravidez e aids foram registrados em 1% do material analisado e aparecem como os menos citados nas matrias, embora ganhem destaque nas colunas de consulta ou dvidas dos leitores, que respondem a cartas e e-mails dos adolescentes. Estas sees, no entanto, esto perdendo espao nesses veculos. Em 2004, metade dos cadernos e revistas analisados fazia uso desses recursos. Dois anos depois, apenas sete, ou seja, 30%, destinaram espao para as dvidas dos jovens.4Jornal da ABI 339 Maro de 2009

Brasil, uma ou outra coisa do gnero na Inglaterra ou que o valha. Mas a Folhinha era para criana, a Ilustrada tinha envelhecido e a escadinha de entrada de leitores estava com um degrau faltando. O projeto inicial foi da Suzana Singer, hoje Secretria de Redao da Folha, e o ttulo foi uma brincadeira com o caderno Folhetim, clssico suplemento literrio-esquerdista do jornal. O Folhateen repercutiu e quase todo jornal brasileiro abriu espao para um caderno ou seo voltada para adolescentes ou jovens. Esses espaos se tornaram escola e refgio de vrias safras de jovens jornalistas bacanas Pas afora, j que nas faculdades no havia preparo para trabalhar com o pblico adolescente. conta o jornalista Andr Forastieri, primeiro Editor do suplemento.Alm do consumo Desde ento muita coisa mudou. Mas graves problemas ainda persistem em atrapalhar a mdia jovem. Com algumas excees, como o prprio Folhateen, que j chega maioridade, boa parte dos suplementos voltados para jovens e adolescentes ainda enfrentam problemas de falta de perenidade ou mesmo de estrutura para o trabalho. Em apenas trs anos, de 2004 a 2007, seis dos 26 suplementos pesquisados pela Andi deixaram de circular. Em alguns casos, o contedo destinado juventude, que contava at ento com

espao exclusivo, passou a ser tratado de forma secundria em outros cadernos e sees dos dirios. Mas em outros nem esse tipo de soluo foi adotado e os adolescentes perderam um importante canal de comunicao. Outro problema bastante citado pelos profissionais que trabalham nesse tipo de caderno a insegurana em abordar problemas sociais, especialmente por causa da suposta alienao dos jovens. Muita gente acredita que, ao trocar assuntos ligados televiso, msica, ao entretenimento e ao consumo por outros como emprego, segurana ou mesmo educao, a queda do nmero de leitores seja inevitvel. Mas, como mostra o trabalho da Andi, a situao totalmente inversa: cadernos temticos e reportagens especiais tendem a fazer sucesso entre os adolescentes. J outros reclamam da falta de estrutura disponibilizada pelas empresas para a rea. O foco em questes ligadas a meninos e meninas visto em muitos veculos como um tipo menor de jornalismo, o que acaba desvalorizando tanto o jornalista quanto o leitor. H muitos casos de profissionais que so obrigados a elaborar as pautas, produzir, fotografar, editar e at diagramar o caderno. Uma das principais caractersticas dos adolescentes brasileiros a heterogeneidade nessa faixa etria. Na contramo disso, as questes referentes diversidade tnica, sexual, regional e social no tm recebido a mesma importncia nos veculos. De acordo com o levantamento da Andi, o nmero de matrias com temas de diversidade caiu 58,8% entre os anos de 2004 e 2006. Questes de raa e etnia, principalmente relacionadas a situaes especficas de indgenas, negros e brancos, e de gnero foram algumas das mais prejudicadas. Outro problema apontado pelo levantamento o baixo nmero de reportagens sobre polticas pblicas para a juventude, to essenciais ao desenvolvimento do Pas. Apenas 3% dos textos pblicos em 2006 tratavam de poltica, a maior parte pautada em cima de acontecimentos polticos especficos ou eleies. Ainda um enorme desafio para suplementos de jornais e revistas produzir material discutindo assuntos como o voto facultativo, programas voltados para o adolescente ou a mobilizao da juventude na busca por seus direitos e pela melhoria das condies sociais no Brasil.Educao ou entretenimento Trabalhar com a juventude ainda um grande desafio imprensa brasileira. H dez anos no havia nada com

DIVULGAO

Lanar em 1991 um caderno semanal com contedo exclusivo para adolescentes como o Folhateen parecia uma idia completamente maluca. Hoje, 18 anos depois, a publicao se consolidou com matrias atraentes e com forte apelo visual. Maria Cristina Gobbi adverte que os suplementos devem se preocupar em formar leitores conscientes.

a cara dessa faixa etria. Ultimamente, a situao melhorou, mas ainda necessrio investir e arriscar mais. Adolescentes no so adultos em miniatura e no podem ser tratados como tal. necessrio construir uma linguagem elaborada para esse grupo, que j mostrou sua fora e influncia social, poltica e econmica. A viso deve ser a de formar leitores conscientes e, para isso, enfrentar momentos de transio, e concorrncia com a internet. Sem atrativos reais e sem atender a expectativa dos jovens, tratando dos assuntos de maneira limitada e carregando os textos de esteretipos isso no ser possvel. O que no significa ser superficial e no demonstrar qualquer opinio crtica, como muita gente vem fazendo. adverte Maria Cristina Gobbi, Diretora Suplente da Catdra Unesco de Comunicao e Professora do Programa de Ps-Graduao em Comunicao e TV Digital da Universidade Estadual Paulista-Unesp. Em 1999, Gobbi tratou do assunto em sua teste de mestrado. Na poca, 51 dos 686 jornais analisados publicavam suplementos infantis e apenas dez, cadernos especficos voltados para os adolescentes. Estar em sintonia com a realidade quando se faz um caderno para adolescentes uma misso ainda bastante complicada. E no somente para jornalistas, mas para pais, educadores e, em certos casos, para a sociedade em geral. Tratar de temas ridos, mesmo que o jovem conviva com eles em seu cotidiano, enfrenta resistncia de muitos profissionais, que optam por textos pequenos e superficiais, sem qualquer preocupao formativa ou educativa, e linguagem sedutora, mas com informa-

o de pouca reflexo. A viso educadora ainda passa ao largo de muitas redaes. Ainda assim, alguns suplementos tm conseguido bons resultados ao equilibrar esses assuntos com outros de variedades e entretenimento ou mesmo elaborando edies temticas. Outra boa dica vem da jornalista Fernanda Mena, atualmente produtora do Fantstico, da Rede Globo. Durante trs anos, ela trabalhou no Folhateen. Muito antes de a televiso exibir o documentrio Falco Meninos do Trfico, do rapper MVBill, a reprter publicou uma longa reportagem no suplemento falando sobre os bastidores e desdobrando o filme. O trabalho acabou ganhando o Grande Prmio Ayrton Senna de Jornalismo 2003/2004. Em entrevista ao relatrio A Mdia dos Jovens, que apresentou a pesquisa da Andi, ela revelou o segredo para publicar um texto to elaborado: Quando a gente fazia matrias mais prximas do universo jovem, como cultura, o retorno era maior, porque o assunto de mais fcil digesto. Mas ns tnhamos tambm retorno dessas reportagens que considervamos mais espinhosas. A insero desses temas est extremamente relacionada ao editor do caderno. Quando trabalhei no Folhateen, as coisas eram decididas democraticamente e conseguimos mostrar que o leitor dos cadernos jovens os quais geralmente tratam de cultura pop, de internet, de moda uma pessoa que est inserida no mundo. necessrio trabalhar com a perspectiva de que o adolescente um ser humano em formao e precisa estar a par de toda a pluralidade que h em nossa vida.

Inimiga ou aliada? Em tempos de novas tecnologias, os suplementos e revistas para jovens encontram um novo problema para superar. Um obstculo apontado por alguns especialistas como capaz de acabar com a prpria imprensa. Trata-se da concorrncia com o mundo digital, especialmente a internet, que vem roubando espao dos veculos tradicionais como fonte de informao para garotos e garotas em todo o mundo. Entre tantas informaes desencontradas e igual estardalhao, novos estudos sugerem que h esperana para a mdia impressa, mas fundamental alguns conceitos: O jornalismo impresso no foi esquecido, mas tende a ser visto cada vez mais como um meio informativo e menos como entretenimento, elemento que os jovens passam a buscar principalmente em mdias como o rdio, a internet e a tv. A garotada de 12 a 17 anos est lendo pouco. Em relao

aos jornais, eles geralmente apenas passam o olho. Exatamente por ser de acesso mais rpido, a internet tornou-se preferencial como fonte de leitura de muitos deles. adverte a pesquisadora Ana Helena Reis, diretora da organizao no-governamental Midiativa, em entrevista ao Relatrio a Mdia dos Jovens, publicado pela Agncia de Notcias dos Direitos da InfnciaAndi e pelo Instituto Votorantim. A soluo no simples, mas passa pela definio exata do papel que a mdia impressa dever ter na informao do adolescente e tambm pela eficaz parceria justamente com o inimigo. Por isso, Reis aconselha: Se o formato impresso j no tem sido suficiente para garantir o interesse de leitores e leitoras, parece lgico que suplementos e revistas busquem maior interao com seu pblico, a fim de se tornar mais atrativos donde terminam criando seus prprios sites, blogs, chats e outras ferramentas de vis tecnolgico.

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ESPECIALIZAO ELES SABEM O QUE QUEREM

Folhateen chega maioridadePioneiro entre os suplementos para adolescentes no Brasil, o Folhateen, que circula todas as segundas-feiras encartado na Folha de S. Paulo, acaba de atingir uma importante marca. Na verdade, o caderno est deixando a adolescncia para, aos 18 anos de existncia, completados em janeiro, atingir a maturidade. Essas quase duas dcadas de funcionamento so uma escola para jornalistas e para outros cadernos que, seguindo o modelo do Folhateen, foram criados em veculos de todo o Brasil. Basta ver, por exemplo, a coluna Sexo & Sade, que no passado fez a fama da psicloga Rosely Sayo e hoje assinada pelo mdico Jairo Bouer. At hoje, adolescentes de todo o Pas escarafuncham a internet ou compram livros que trazem o melhor do que foi publicado na coluna para tirar suas mais secretas dvidas. Todos os bons suplementos para adolescentes que foram criados nos ltimos anos no Brasil mantm espaos semelhantes para interagir com seu pblico. O contedo da coluna em alguns momentos fonte de grande polmica. H muita gente que considera o suplemento liberal e descolado demais. Tanto que outro espao, O2 Neurnio, j chegou a comparar transar com comer pizza. As ilustraes diretas e claras so outra fonte de discusso. No por causa do estilo, que no agrada a qualquer um, mas por explicitar situaes vividas por meninos e meninas, at em relao homossexualidade. Por outro lado, com esse estilo, o caderno conseguiu quebrar uma srie de tabus e discriminaes com suas matrias. Nesses anos, diversas reportagens do Folhateen deram o que falar. Muitas sobre msica, comportamento e as diferentes tribos urbanas, mas outras tambm sobre a vida de jovens deficientes, discriminao de alunos homossexuais em sala de aula tema que motivou na poca o ex-Deputado Federal Nilmrio Miranda (PT-MG), ento Presidente da Comisso de Direitos Humanos da Cmara, a apresentar projeto de lei que define como crime a discriminao por cor, raa, etnia, origem e religio e tema da vencedora do Grande Prmio Ayrton Senna de Jornalismo em 2003/ 2004, que abordava a relao entre o trfico de drogas e a violncia. Algumas situaes ficaram sobremodo marcadas. Logo nos primeiros tempos, o suplemento se inspirou em uma iniciativa da revista norte-americana Spin com uma edio totalmente pautada e editada por universitrios, para fazer o Folhateen por Teens, nmero especial do caderno que seria produzido por alunos do ensino mdio de escolas pblicas e privadas paulistanas. Aprovado pela Direo do jornal e amarrado com as escolas, o pro6Jornal da ABI 339 Maro de 2009

jeto envolveu at os coordenadores pedaggicos e professores. A equipe do suplemento visitou os estabelecimentos de ensino, deu palestras sobre como fazer um jornal. Um enorme sucesso. Mas, durante a apurao dos grupos, uma menina morreu atropelada por um trem. Andr Forastieri, primeiro Editor do suplemento, lembra da situao: Tive uma reunio com a advogada da famlia, acompanhada por advogados da Folha. No houve processo. Foi uma infeliz coincidncia. E o caderno saiu, e com homenagem garota. Mas ficaram as recordaes da comoo durante o enterro.Mudanas A mudana do formato standard para o tablide no foi a nica pela qual passou o Folhateen nesse tempo. Cada editor que dirigiu o caderno imprimiu sua marca. Atualmente, a equipe que trabalha no suplemento conta com o Editor Marco Aurlio Cannico, de 31 anos, e os reprteres Diogo Bercito, de 21, Chico Felitti, de 23, e Tarso Arajo, de 31. Alm de uma boa equipe de colaboradores: Tratamos da produo cultural voltada para o pblico adolescente, como msica, filmes, literatura, teatro, quadrinhos etc. E de temas de comportamento que so ligados a essa faixa

etria. Mas no esquecemos assuntos que esto freqentemente na parte adulta do jornal, apresentando-os com outra linguagem. Exemplos so capas recentes que fizemos sobre a crise econmica mundial e a priso de Guantnamo. diz Cannico. Para elaborar as pautas, os jornalistas contam com a ajuda de dois grupos de apoio, formados por adolescentes interessados, que se inscrevem enviando email para o caderno, e com os quais se renem a cada 15 dias. Em geral, os textos do suplemento so curtos, cheios de boxes, tabelas e dropes. Apesar de seguir a gramtica oficial, a linguagem adotada abre espao para expresses corUtilizando uma linguagem jovem, o Folhateen no deixa de rentes, grias, palavras tocar em assuntos difceis, como a priso de Guantnamo em ingls e outras mais. (capa ao lado) e o alcoolismo (acima), pelo qual recebeu o Termos como nipe, Prmio Esso 2008 de Criao Grfica, Categoria Jornal. queimar o filme, pessoa cool e twittar buscam apropassando por uma nova fase de reestruximar o adolescente do caderno. turao temtica e de apresentao. No h exatamente uma frmula Com relao concorrncia com a incomo escrever para jovens. algo que ternet, ele no teme: Ningum l o depende da pauta, do autor, de uma suplemento esperando encontrar o que srie de variveis. Mas usar humor, linv em blogs, sites e vice-versa. Nosso guagem menos formal, didatismo e material diferente daquele que se escrever um texto bem encadeado encontra na web, e acho que essa difealgo que funciona. explica Cannirena no escapa ao leitor. co, acrescentando que o Folhateen est

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A jovem equipe do Folhateen composta pelos jornalistas Tarso Araujo, Diogo Bercito, Marco Aurlio Cannico, o editor, e Chico Felitti.

Srio, mas na O jornalzinho que se linguagem transformou no melhor do mundo da galeraKzuka foi considerado o melhor do mundo em 2008. A equipe que edita o suplemento recebeu a notcia com vibrao.

DIVULGAO

O ano de 2008 foi especial para o pessoal que faz o Kzuka, o suplemento juvenil do dirio Zero Hora, de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A publicao foi apontada pela Associao Mundial dos Jornais como a melhor do mundo em sua categoria. E pensar que, quando o executivo do grupo RBS Fernando Tornaim props sua criao, imaginava fazer um jornalzinho voltado para estudantes... Apesar de acreditarmos muito no nosso trabalho, ganhar um prmio desse gabarito foi uma surpresa enorme para jornalistas to jovens. impossvel no usar a palavra euforia para descrever o momento em que dei a notcia ao pessoal da Redao. Estamos empolgados com o desafio que continuar fazendo um produto to bom quanto o que foi premiado ou melhor. alegra-se a Editora Priscila Galvo de Carvalho, reconhecendo que sempre confiou no bom nvel de sua equipe, mas reconhecendo que no esperava tal indicao da AMJ. O curioso ttulo Kzuka uma juno de letras que no tem uma explicao muito lgica. Segundo Tornaim, a idia era criar um nome que no restringisse a marca a nenhuma tribo especfica. Colorido e no formato tablide, o suplemento estreou com oito pginas e em menos de trs meses aumentou para 12. O Kzuka sai todas as sextas-feiras, encartado no Zero Hora, cuja tiragem de cerca de 200 mil exemplares. Alm de Priscila, a equipe cuja idade mdia de 25 anos tem trs reprteres, uma assistente de produo, trs designers e um fotgrafo. A editora faz questo de citar que conta

tambm com equipes locais em Caxias do Sul e Santa Maria, no Rio Grande do Sul; e em Florianpolis, Joinville e Blumenau, em Santa Catarina. Ou seja, na verdade, 23 profissionais colaboram com o caderno.Crescimento dos leitores jovens O tamanho da equipe no despropositado. Segundo pesquisa da AMJ, o Kzuka responsvel pelo crescimento de 27% do pblico jovem do Zero Hora. Alm de usar a internet e o celular para falar com seus leitores, o suplemento interage diretamente, em escolas e locais que eles costumam freqentar. A identificao surgida da fundamental, segundo a Editora Priscila Carvalho: Criamos o hbito nos nossos leitores a partir do momento em que eles se identificam com o produtor e reconhecem um suplemento como seu,

dentro de um jornal tradicional. Como foi dito pelo jri do Prmio Mundial de Publicaes Juvenis (World Young Readers Prize), uma forma inovadora de manter os jovens envolvidos e de faz-los sentir como se o produto fosse deles. Acho que um dos principais fatores do sucesso de qualquer suplemento falar de igual para igual com o jovem. No devem existir barreiras culturais, de linguagem, ou de estilo, entre quem escreve e quem l. Mas haver toda uma preocupao esttica em torno do contedo que chega ao leitor. Embora defenda a fora do impresso, Priscila no nega a superioridade da mdia on line em rapidez na informao, interatividade e entretenimento: O jovem de hoje j nasce com a internet em sua rotina, enquanto as outras mdias tm de ser agregadas sua vida. No caso do Kzuka, que trabalha muito bem em todas as mdias, temos a mesma filosofia para diferentes veculos. Mas no fundo, acho que cada meio funciona melhor com um perfil de adolescente, dependendo da cidade onde ele mora, do colgio em que estuda, de sua classe econmica e da educao que recebe, entre outros aspectos. Por tudo isso, o Kzuka est extrapolando o papel e se tornando multimdia. Alm do caderno que circula no Zero Hora, ele tambm se transformou em um seriado veiculado na internet, um programa de rdio que vai ao ar no sbado tarde e no quadro apresentado semanalmente no jornal local da RBS TV. Bons exemplos de quem se tornou vencedor e que no devem demorar a ser copiados. Os adolescentes brasileiros agradecem.

Na Regio Centro-Oeste, uma das publicaes jornalsticas dedicadas a jovens mais badaladas o caderno Zine. O tablide tem 12 pginas e circula aos domingos, junto com A Gazeta, por todo o Estado de Mato Grosso, alm de algumas grandes cidades, como So Paulo, Rio de Janeiro e Braslia. O suplemento foi lanado em 1998 como parte de vrias mudanas editoriais do jornal, que, ao mesmo tempo em que inaugurava nova sede, passou a ser colorido e ganhou mais cadernos. A idia do nome surgiu da palavra fanzine. O objetivo era e continua sendo criar um meio de comunicao com o jovem, com contedos interessantes, tanto em matria de entretenimento quanto em informar fatos srios. Na conduo do Zine est uma equipe de jovens profissionais comandada pela experiente, mas jovem jornalista Maria Anglica de Moraes. Atualmente com 34 anos, a Editora comeou no

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SUPLEMENTOS ELES SABEM O QUE QUEREM

OTMAR DE OLIVEIRA

caderno como reprter h dez anos e sempre se mantm em sintonia com o mundo juvenil pela internet, lendo e relendo revistas e jornais. A idade parece ser apenas um detalhe, mas ajuda e muito na seleo de pautas que estejam em consonncia com o universo do leitor e na qualidade da informao prestada. Alm dela, o time conta com a reprter Raquel Ferreira, de 29, e a estagiria Larissa Cavalcante, de 20, que estuda Jornalismo na Universidade Federal de Mato Grosso. Atualmente, o Zine a nica opo de leitura para os jovens na mdia impressa local. Segundo Maria Anglica, o caderno teve um concorrente, o Azul, do Dirio de Cuiab, mas que hoje no mais publicado: O Azul tinha poucas pginas e contedo muito fraco. Em matria de jornalismo jovem, acredito que somos o suplemento mais duradouro at hoje por aqui.Conselho adolescente Talvez por ter preenchido essa lacuna no mercado, o lanamento do Zine colaborou para o crescimento do pblico jovem da Gazeta. Um dos principais movimentos nesse sentido

A editora do Zine, Maria Anglica de Moraes (direita), ao lado da reprter Raquel Ferreira, mantm um Conselho Editorial formado por adolescentes que se renem quinzenalmente.

foi a adoo, pelo caderno, de um Conselho Editorial formado por adolescentes, com o qual a equipe da redao se rene a cada 15 dias: Eles trazem novas idias e sugestes de pau-

ta que geralmente envolvem o que vivenciam na escola, em casa, com amigos. Muitas vezes, principalmente nas matrias de sade e comportamento, os adolescentes querem en-

contrar respostas para as dvidas que tm e para situaes que presenciam no seu dia-a-dia. O suplemento procura atend-los na forma de reportagens, entrevistando especialistas e outros jovens. explica Maria Anglica. A presena de um colunista jovem tambm ajudou na aproximao com o pblico-alvo e na conquista de leitores. O leitor do Zine atualmente o estudante de ensino mdio, mas seus pais e professores tambm lem o caderno. Ao mesmo tempo em que o suplemento fala do surgimento de uma banda de rock, procura abordar temas como sade, doenas sexualmente transmissveis, conflitos familiares, cinema, educao e moda. O caderno tem tambm sees fixas e contempla temas como poltica e meio ambiente. Diz a editora que essa foi a forma encontrada para dar um ar mais srio ao contedo e no ficar apenas no superficial: Como as matrias so consideradas pequenas, porque precisam se encaixar no formato tablide e porque o jovem costuma fugir de textos longos, nossa principal preocupao informar de maneira leve e divertida.

Pioneirismo no PiauO nome For Teens, mas que ningum se engane: apesar da grafia estrangeira usada para chamar a ateno do adolescente, a publicao um suplemento para o jovem do Piau. Essa a advertncia que faz a jornalista Tatiara de Frana, Editora do suplemento criado h 15 anos no formato standard, mas que foi mudado, por motivos comerciais e para facilitar o manuseio e a leitura, para o tablide, e hoje circula toda quinta-feira no jornal Meio Norte. Acredito que o For Teens uma experincia boa e desafiadora para a regio. o suplemento jovem pioneiro do Piau e, atualmente, tambm o nico do Estado. A cada edio, somos desafiados a fazer algo novo, diferente, pois o nosso pblico exigente e quer sempre mais. diz Frana, que comeou sua relao com o suplemento como leitora, depois passou a ser reprter e desde 2001 editora. Os profissionais que participaram da criao do caderno j no trabalham no Meio Norte. A equipe atual formada basicamente pela editora, um reprter e um fotgrafo, mas nenhum dos trs trabalha com exclusividade para o For Teens, atuando tambm em outras editorias. Tatiara, por exemplo, responsvel tambm pelos cadernos Infantil e Beleza & Sade, alm de uma coluna de variedades chamada Tudo de Bom, com comentrios sobre jornal, tv e internet. O que no impede que o For Teens seja um dos cadernos mais lidos do Meio Norte e sirva de elo com o pblico jovem. Apesar, segundo Tatiana, de no ser o nico produto oferecido a esse leitor. Diariamente, o Meio Norte publica reportagens dirigidas ao jovem em cadernos como Cidades, Cultura e Campus, este ltimo voltado para os universitrios. Matrias sobre comportamento, sade e sexualidade so geralmente as que despertam interesse entre os leitores do For Teens. Principalmente as que falam de sexo so as mais polmicas. Por isso, durante algum tempo, o caderno publicou a coluna Sexo sem VerDIVULGAO

O For Teens exige novos desafios a cada edio, diz sua Editora Tatiara de Frana, que v na interatividade uma forma de conquistar os jovens.

gonha, em que eram respondidas cartas de pessoas de todas as idades com dvidas no apenas sobre questes sexuais, mas tambm de sade. Hoje o suplemento aposta na interatividade como forma de continuar conquistando a juventude. Tanto que j conta com um blog, que atualizado por colaboradores e pela equipe do suplemento e contribui para a seleo de contedos e o direcionamento das pau-

tas da semana. O suplemento recebe tambm material de colaboradores, especialmente cineastas, msicos, djs e universitrios. Respeitar a opinio do jovem, suas necessidades, seus anseios e interesses fundamental. Ouvir e dar voz e vez ao leitor um dos pontos fortes do For Teens, desde o seu lanamento. Acredito que estes pontos so essenciais para quem cobre essas pautas e trabalha em editorias focadas nesse segmento. conclui a Editora.

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DIVULGAO

Megafuso no GloboLanada em 2000, a revista Megazine, de O Globo, o resultado de uma fuso para usar um termo bem ao gosto juvenil de dois cadernos: o Planeta Globo, que circulava aos domingos e era mais voltado para o pblico pradolescente, e o Vestibular, publicado s teras-feiras, no ltimo semestre de cada ano, dirigido, obviamente, aos vestibulandos. O resultado foi uma publicao voltada para vestibulandos, universitrios e jovens em geral, com reportagens que abordam no apenas a educao, mas tambm msica, cinema, comportamento, educao e outros temas interessantes. O ttulo, escolhido a partir de pesquisa, remete idia de um fanzine, e, como convm a uma publicao alternativa do gnero, conta com uma equipe basicamente jovem: os dois editores assistentes e os dois reprteres tm entre 25 e 30 anos. O projeto grfico inicial j passou por vrias modificaes, a ltima h trs anos, mas j h planos de se criar outras novidades na revista, em que diagramao, texto e imagens so sempre pensados de acordo com o pblico jovens na faixa dos 16 aos 22 anos e critrios como design e leitura atraentes e agradveis: As pautas seguem a mesma linha e, para buscar assuntos de interesse, temos um conselho editorial que muda semestralmente e formado por seis jovens escolhidos por meio de concurso. Eles se renem com a equipe a cada 15 dias, do suas opinies sobre a Megazine e sugerem assuntos para as matrias. diz a subeditora Josy Fischberg. Para monitorar o que mais desperta a ateno dos leitores, a Megazine se baseia nos e-mails enviados redao. A coluna de Joo Paulo Cuenca

Josy Fischberg procura monitorar o interesse do leitor atravs das mensagens que o Megazine recebe.

uma das sees que mais recebe mensagens, ainda que nem sempre elogiosas, segundo Josy. J a Liquidificador, de lanamentos de livros, cds e dvds, tambm tem feito sucesso. Os assuntos que mais geraram polmica nos ltimos tempos so igualmente variados como o voto nulo, a roda da fortuna uma espcie de corrente em que estudantes entram para ganhar, mas acabam perdendo dinheiro , a ocupao da Uerj e religio.Diverso, nmeros e informao Temas ligados responsabilidade social, como direitos humanos e o Es-

tatuto da Criana e do Adolescente, tambm esto presentes na revista, como na reportagem sobre trabalho escravo infantil publicada em maio, nos 120 anos da Abolio. Outra matria marcante, diz Josy, mostrou a rotina de alguns jovens que vivem h anos com o vrus da aids, enquanto outra abordou o tambm difcil dia-adia de alguns adolescentes saudveis: Uma pesquisa do IBGE apontou que meninas, muito mais que meninos, so responsveis pelos afazeres domsticos, o que faz com que tenham uma carga horria pesadssima. Entrevistamos uma jovem que, alm de estudar, ajuda a me a cuidar da casa e de dez irmos. Reportagens desse tipo trazem no s entrevistas, mas tambm nmeros e outras informaes sobre o assunto, que apresentado com profundidade. Josy Fischberg discorda de quem acha que os suplementos juvenis tm que ser necessariamente didticos. No caso da Megazine, alm da preocupao em fazer um produto jornalstico de qualidade, a proposta levar informao e selecionar o que os editores acreditam ser de interessante e relevante para o jovem: Nossa inteno fazer com que nosso pblico desperte para o jornal, de um modo geral. Somos uma primeira etapa para a formao de novos leitores.

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VERGONHAJOS CRUZ/ABR

A FACE DA DEMAGOGIAPOR VILLAS-BAS CORRAEm reunio de famlia, com poucos convidados, o acaso colocou-me numa roda de conversa de jovens, vrios iniciando o duro ofcio de ensinar em colgios particulares para os ginasianos que se preparam para o vestibular nas faculdades. Uma moa elegante derivou a conversa para o tema que incendiou o debate. Professora de vrias matrias, como Qumica, Botnica, Cincias, Biologia e Fsica, em meia dzia de colgios particulares, recebe por aula a fortuna que varia entre 10 e 12 reais. Em alguns anos de batente, s uma vez conseguiu a proeza de abocanhar o mximo que bate no prmio lotrico de R$ 300. Sim, senhores: R$ 300 no ms sortudo, sem feriados nem dias santos. O mximo que a professora conseguiu alcanar perde de longe para o salrio-mnimo do Rio de Janeiro, reajustado para R$ 512,67, e mesmo para o mais modesto mnimo federal, fixado em R$ 465. A conversa no parou ai. Estvamos ainda distante do fundo do fosso. A professora ressalvou que no tinha a quem se queixar e ainda podia dar-se por feliz em ocupar o piso mais alto na categoria dos esquecidos pela demagogia perversa. R$ 12 por aula era quase uma generosidade de donas de escolas. Pois, mesmo no espao urbano de Jacarepagu, no um mas vrios colgios remuneram a aula em qualquer nvel com R$ 8. Exatamente, oito reais. Para juntar R$ 80, sem gastar um centavo, so 10 horas de aula. No embalo, o jovem atleta de ombros largos e braos musculosos aproveitou a pausa para entrar na cadncia das confisses. Professor de Educao Fsica, diplomado por faculdade particular das mais conceituadas e de mais altas mensalidades, d aulas de remo e natao em10 Jornal da ABI 339 Maro de 2009

clubes famosos da Zona Sul e ganha por hora/ cofre. Os milhares de prefeitos convocados para aula os mesmos R$ 8 da tabela de fome dos cur- compor o auditrio para ouvir e aplaudir os exalsos e colgios da Zona Oeste. No seu caso, o ex- tados improvisos do Presidente Lula e conhepediente entra pela noite, passa das 23h. Como cer a sua candidata, a Ministra Dilma Roussemora longe e ainda no conseguiu comprar o car- ff, sucesso de 2010, cumpriram o seu papel. ro das suas prioridades, bate o ponto em casa de- E choraram as mgoas no circuito de converpois da meia-noite, tira uma soneca e refaz o per- sas com os ministros disponveis. Certamencurso pois nadadores e rete perderam a oportunidaOS MILHARES DE PREFEITOS madores tambm acordam de de ouro de colocar no CONVOCADOS PARA OUVIR E APLAUDIR mutiro de boa vontade do com as galinhas. No tenho informaes Governo atrs dos votos o OS EXALTADOS IMPROVISOS DO do outro lado do muro. quadro vergonhoso, obsPRESIDENTE LULA E CONHECER Mas posso especular sobre ceno do salrio dos profesA SUA CANDIDATA, A MINISTRA a choradeira de proprietsores das escolas pblicas DILMA ROUSSEFF, PERDERAM rios e diretores de faculdae particulares em todo o des e colgios fora da rea Brasil. Se o Governo deve A OPORTUNIDADE DE OURO DE nobre e endinheirada da dar o exemplo, tambm COLOCAR NO MUTIRO DE BOA Zona Sul e das manses e ele quem pode abrir o deVONTADE DO GOVERNO ATRS DOS arranha-cus de So Conbate e bancar a soluo. VOTOS O QUADRO VERGONHOSO, rado e da Barra da Tijuca. Na minha memria de Francamente, estamos diveterano cato o exemplo OBSCENO DO SALRIO DOS ante de uma situao insus- PROFESSORES DAS ESCOLAS PBLICAS da Universidade do Protentvel e que nada justififessor, criada por Jaime E PARTICULARES EM TODO O BRASIL. Lerner quando Governaca. O problema nacional, ainda que as solues possam ser municipais. Se dor do Paran. Aproveitando as runas de uma no Rio, ex-capital do Pas e antiga Cidade Ma- antiga construo, montou uma vila, com ravilhosa, professores com diplomas universi- casas, auditrios, refeitrio, sala de msica, bitrios sobrevivem com proventos mensais muito blioteca, onde durante anos as professoras priabaixo do salrio-mnimo, no necessrio bus- mrias do Estado passavam uma semana por car outras causas e explicaes para o descala- ano num mergulho cultural com palestras, debro do ensino, em diferentes nveis, do Amazo- bates, concertos de msica. nas ao Rio Grande do Sul. Mais do que a denncia A Universidade fechou. Dispenso as explida confessada ignorncia e do pasmo diante da caes. Fico com a lembrana das professoras evidncia de mais uma gerao perdida, tento com olhos arregalados de emoo e que entre provocar o debate. Como assistente, espero lgrimas confessavam nunca ter ouvido um acompanhar as desculpas federais, estaduais e concerto de msica ao vivo. municipais para o criminoso alheamento diante do escndalo que certamente tem soluo. Artigo publicado no Jornal do Brasil e reproduzido pelo jornal A E a ocasio oportuna. O Governo entrou no Voz da Serra, em sua edio do fim de semana de 14 a 16 de fevereiro. O jornalista Villas-Bas Corra membro do Conselho clima de campanha eleitoral e resolveu abrir o Deliberativo da ABI.

O melhor do cartum em homenagem ABIExposio no Centro Cultural Justia Federal exibe o talento e a importncia histrica dos desenhistas em defesa da liberdade de expresso.Traos Impertinentes tomaram de assalto as galerias do trreo do Centro Cultural Justia Federal, localizado na Avenida Rio Branco, no Centro do Rio. Esse foi o nome da exposio em torno do tema ABI - 100 Anos de Luta pela Liberdade, que reuniu as obras de 55 artistas em homenagem ao centenrio da Casa. Em 17 de maro, a noite de abertura da mostra, em cartaz at 26 de abril, reuniu msica e humor, num manifesto em defesa da liberdade e contra qualquer modalidade de censura. O destaque da noite, alm dos trabalhos dos chargistas e cartunistas, foi a apresentao do grupo musical Conjunto Nacional, formado pelos irmos Chico (voz) e Paulo Caruso (voz e piano), Aroeira (sax tenor) e Lus Fernando Verssimo (sax alto). O conjunto contou tambm com a participao dos jornalistas Luiz Manoel Guimares (gaita) e Fernando Barros (contrabaixo) e de Nlson Pagani (bateria), o nico que no profissional de imprensa. Definido como um recital humorstico, com durao de 40 minutos, o show apresentou esquetes satricos, tendo como alvos preferenciais nomes do cenrio poltico. As gafes do Presidente Lula, a obsesso do Senador Jos Sarney pelo poder, o furor em torno de Barack Obama, tudo foi motivo de piada para o grupo que, em troca, recebeu os aplausos da platia que lotou o teatro do CCJF. Lus Fernando Verssimo, que chegou de Nova York diretamente para o espetculo, definiu o espetculo como uma iniciativa bem-humorada ao estilo dos irmos Caruso, que concilia msica e humor, mas fez questo de ressaltar a seriedade do evento. "Trata-se de uma comemorao importantssima essa dos 100 anos da ABI, por causa de toda a histria da entidade na defesa do jornalismo, da liberdade de imprensa, entre outras lutas, elementos que do o tom de seriedade do evento, que se misturou ao bom humor". Chico Caruso tambm lembrou da importncia da ABI para os cartunistas. "Essa Casa uma das instituies mais importantes da nossa classe, pois ns caricaturistas h muito tempo estamos representados nela, desde o Raul Pederneiras, que foi seu Presidente por duas vezes (19151917 e 1920-1926). Esta uma festa dos humoristas. Mas, alm disso, vamos fazer o recital dos jornalistas. Aroeira, Paulo Caruso e eu, mais o Verssimo, que um tremendo bandleader. Acho inclusive queJornal da ABI 339 Maro de 2009

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FOTOS: FRANCISCO UCHA

ANO DO CENTENRIO O MELHOR DO CARTUM EM HOMENAGEM ABI

Os irmos Caruso (Chico, esquerda; Paulo direita) abriram e conduziram o show de abertura da mostra, que o Presidente da ABI ( direita) apontou como um dos mais importantes eventos de comemorao do centenrio da Casa. Entre os que mais vibraram com a exposio estava Lan, decano dos cartunistas do Brasil ( direita, abaixo), que teve de se exilar por causa de uma charge, reproduzida na pgina seguinte.

O cartunista mais jovem da exposio, Joo, de 12 anos, fez questo de conhecer Luiz Fernando Verssimo, de quem admirador (acima). Atrs do cartunista, escritor e msico, Adail observa o encontro. Abaixo esquerda, o filho de Henfil, Ivan Cosenza de Souza, conversa com Jaguar. direita, o Diretor-Executivo do Centro Cultural Justia Federal, Ccero de Almeida, ao lado de Maurcio e Marilka Azdo.

Guidacci (acima), um dos expositores, exibe o catlogo com a reproduo de seu desenho. Zuenir (abaixo) definiu o show com este adjetivo: incrivel.

ele tinha que ficar somente na msica, pois toca sax muito melhor do que escreve", brincou o chargista de O Globo. Outro ponto destacado pelo escritor gacho foi a escolha de Henfil como homenageado da exposio. O cartunista mineiro, morto em 1988, teria completado 65 anos no dia 5 de fevereiro deste ano. "Acho que foi muito significativa essa lembrana, pois ele foi um tpico produto daquela poca dura da12 Jornal da ABI 339 Maro de 2009

censura, que surgiu como a grande novidade do humor brasileiro, justamente porque atravs do trao conseguia dizer coisas que muita gente no podia falar por meio de textos". Expostos para a apreciao do pblico, os trabalhos de 55 artistas mostravam o que h de mais refinado em traos recheados de humor e crtica, sempre preocupada com o vis social e a defesa da liberdade de imprensa - mar-

cas inconfundveis da trajetria da ABI. O talento de nomes como Adail, Airon, Aliedo, Alvio, Amorim, Andr Brown, Arionauro, Aroeira, Bruno Drummond, Cau Gmez, Cavalcante, Chico Caruso, Chiquinha, Claudius, Cruz, Dlcio, Daniel Mendes, Deivid, Edgar Vasques, Eduardo Caldari Jr, Gilmar, Guidacci, Guto Lins, Hemetrio, Henfil, Izidro, J. Bosco, Jaguar, Joo, Lailson, Lan, Lor, Loredano, Marcelo Mon-

teiro, Marguerita, Mariano, Marta Strauch, Maurcio Veneza, Nani, Nei Lima, Ota, Pablo Carranza, Paulo Caruso, Quinho, Ray Costa, Santiago, Soud, Spacca, Trimano, Ucha, Verssimo, Ykenga, Z Roberto Grana e Ziraldo esteve ao alcance do pblico. A exposio foi dividida em trs mdulos. O primeiro, com temas que falam da trajetria da ABI e prestam homenagem a figuras histricas da instituio, como Barbosa Lima Sobrinho. O segundo, de carter histrico, apresentou desenhos de cartunistas que foram importantes na luta pela liberdade de imprensa e de expresso, durante a ditadura, como Ziraldo, Henfil e Jaguar. O terceiro mdulo foi reservado para mostrar trabalhos que retratam as dificuldades que, em substituio censura, continuam cerceando a liberdade de imprensa e de expresso. Presente ao evento e reconhecidamente uma das referncias nacionais do jornalismo, Zuenir Ventura falou sobre a apresentao dos colegas. "Esse show foi incrvel, digno da proposta da ABI em defesa da liberdade. muito bom saber que ela est viva e atuante, uma entidade que sempre foi uma referncia para ns, jornalistas. Eu acompanhei parte desta histria, como profissional, inclusive na poca da ditadura, e sinto prazer em ver essa revitalizao da ABI, sobretudo este espetculo que foi realmente um momento histrico." Aps a apresentao da banda, o Presidente da Casa, Maurcio Azdo, agradeceu a contribuio dos artistas que "por meio do trao e da msica ofereceram ABI uma bela exibio, como prova da sua vitalidade e atuao na luta pela liberdade de imprensa e de expresso". Emocionado, Maurcio tambm destacou a importncia histrica de Henfil, patrono da exposio, "um artista que dedicou toda sua trajetria luta pela livre expresso, tanto na imprensa quanto em outros meios, como a televiso".

"Essa mostra rene a suma dessa criao rica e inspirada e tambm muito contundente. E deixa a ABI confortada ao ver que mereceu as homenagens daqueles desenhistas que ofereceram seus trabalhos, sem nenhuma contrapartida monetria, para integrar essa exposio que, para ns, uma belssima realizao da Casa no ano do seu centenrio", disse Maurcio Azdo, lembrando que todos os artistas convidados aceitaram participar da exposio, a maioria deles criando desenhos especialmente para a mostra. "A exposio tem um significado especial para a ABI, pois apresenta um dos aspectos mais destacados da imprensa brasileira, que a participao dos caricaturistas, cartunistas, chargistas, com os seus desenhos crticos acerca dos diferentes aspectos da vida nacional, seja no campo poltico ou dos costumes. Uma exposio que guarda fina sintonia no apenas com a histria da Associao, mas tambm com a prpria evoluo da imprensa do Pas", escreveu Maurcio no texto de abertura do catlogo da mostra. Muitos dos artistas que dedicaram seus traos ABI tambm estiveram presentes na solenidade de abertura da exposio. Foi o caso do cartunista Z Roberto Grana, um dos curadores da mostra. Segundo ele, a proposta principal do evento era reunir o maior nmero possvel de representantes de desenho de humor brasileiro, de vrias regies do Pas. "Temos aqui trabalhos de desenhistas de todo o Brasil, a

Por causa da charge acima o cartunista Lan foi convidado a sair do Pas logo aps o golpe de 1964. A censura imprensa e a represso da ditadura militar foram tratados por Verssimo (acima), Dlcio (ao lado) e Aliedo (abaixo esquerda). Ziraldo preferiu expor graficamente sua homenagem ABI.

maioria do Rio. O mais curioso que conseguimos juntar do mais experiente ao mais jovem. Temos o talento do Lan, aos 84 anos, e o Joo Pedro, que um menino de 12 anos, que j faz sucesso na internet e daqui a pouco tempo estar se juntando a ns, cartunistas profissionais", festejou Grana. Outro propsito do evento era reunir desenhistas numa tentativa de influenciar os colegas a se associarem ABI. "No temos ainda um nmero representativo de figuras do cartum brasileiro ligadas Associao. Muitos talvez nem tenham a conscincia de quanto isso importante. O cartunista precisa entender que a ABI a nica instituio que tem a possibilidade de defender o nosso trabalho, a nossa liberdade de criao, sem nenhum tipo de censura. por isso que eu espero que todos venham para a ABI, j que no somos muitos. E que faam parte da luta contra a censura, que constante", declarou Grana.Jornal da ABI 339 Maro de 2009

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ANO DO CENTENRIO O MELHOR DO CARTUM EM HOM

Para o veterano Lan, que na poca da ditadura teve trabalhos censurados, muitas vezes um desenho censurado " um depoimento mais forte da censura do que um desenho produzido especialmente para denunciar a prpria censura". Em 1974, Lan teve que deixar o Brasil por causa da famosa srie de desenhos em que os militares apareciam como gorilas. Com 65 anos de profisso, j viveu muitas experincias com Governos ditatoriais: na Itlia, com Mussolini; e na Argentina, sob o peso de Pern. "Acho que no nosso ofcio em jornal, principalmente quando se faz charge poltica, no podemos ser covardes de jeito nenhum, temos que denunciar. Eu confesso que eu era mais crtico. Hoje em dia se faz muita graa sobre os fatos, mas o pontap na canela, como eu dava no meu tempo e outros da minha poca tambm deram, atualmente no h mais. Hoje se brinca, h muito mais liberdade", avalia Lan. Outro experiente no ramo, Jaguar demonstrou grande satisfao com o resultado da exposio. "Eu achei muito bacana, pois aqui esto sendo exibidos alguns momentos marcantes do cartum nacional. Hoje em dia a gente faz uma charge e fica por isso mesmo. Quer dizer, no aparece mais a Polcia no dia seguinte na sua porta para te levar. Isso j aconteceu muito conosco, e a ABI nos proporcionava e proporciona essa segurana e tranqilidade. A nossa vida ficou muito mais mansa, embora menos emocionante", brincou. Nas palavras de Ricky Goodwin, tambm curador da mostra, a principal caracterstica dos trabalhos a incluso de todas as manifestaes possveis no mundo do desenho. Entre os trabalhos,

Jaguar, Bruno Drummond, Rogrio Soud (acima), Claudius, Z Roberto Grana e J.Bosco: homenagens ao centenrio e crtica falta de liberdade de expresso.

era possvel conferir a bela produo de cartunistas, chargistas, caricaturistas, gravuristas, escultores, designers e artistas plsticos. "A idia da exposio foi reunir artistas de renome, que tiveram participao direta na luta pela liberdade de expresso, durante a ditadura militar, a outros de geraes posteriores, que foram influenciados por esses mestres". Alguns desenhos expostos eram originais dos anos da ditadura que, vetados pelos censores da poca, s agora, via exposio, chegaram ao conhecimento do pblico. Tambm presente na exposio, com uma charge em que critica a censura religiosa, Guidacci lembrou que a histria da caricatura no Brasil muito antiga, com um passado marcado por lutas. "Eu fui processado por uma charge no Pasquim que satirizava o Governo Geisel. Tivemos um perodo conturbado para a criao de charges, que so desenhos crticos. Mas qualquer coisa pode ser criticada. E a funo do chargista mesmo exercer a crtica", afirmou.

O cartunista Amorim afirmou que a ABI representa a luta pela liberdade de expresso e pelo humor, pois em qualquer ditadura no h espao para o riso. Quando a meta construir um pas democrtico, disse, preciso chamar os

humoristas. " claro que s vezes o resultado fica um pouquinho diferente do que o pessoal planeja, mas a caricatura sempre o termmetro de uma situao. O fato de existir uma imprensa livre que nos levou a participar desta homenagem ao centenrio da ABI, com toda a honra para ns cartunistas. sinal de que podemos ter um Pas melhor e um futuro promissor", concluiu. Editor do Jornal da ABI e um dos organizadores do catlogo da mostra, Francisco Ucha acha que o espao dos cartunistas, to em baixa nos jornais, no pode ser confiscado. "Eles esto dando um presente importante para a nossa Casa. H 171 anos comearam as ilustraes nos jornais, ainda no havia fotos, e os veculos passaram a vender mais. Hoje em dia o espao do cartunista diminuiu, mas vemos por esse histrico que est sendo exposto aqui como brilhante a participao de ilustradores e cartunistas na imprensa brasileira. O espao deles no pode ser diminudo", resumiu Ucha.

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Aconteceu na ABI

MILCIAS, GRAVE AMEAA AO ESTADO DEMOCRTICOPresidente da Comisso Parlamentar de Inqurito da Assemblia Legislativa do Estado do Rio que investigou as aes desses grupos clandestinos, o Deputado Marcelo Freixo (Psol) denuncia na ABI os riscos que esses bandos criminosos impem democracia.POR JOS REINALDO E B ERNARDO COSTA

Como acabar com o poder paralelo das milcias no Rio de Janeiro e em outras grandes cidades brasileiras? Debater essa difcil questo foi a tnica da sesso especial do Conselho Deliberativo da ABI realizada na tarde do dia 17 de fevereiro. A Sala Heitor Beltro, no 7 andar, ficou lotada pela presena de Conselheiros, que puderam acompanhar o balano da CPI das Milcias pelo Deputado Estadual Marcelo Freixo (Psol), que presidiu a investigao parlamentar na Assemblia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Na mesa, ao lado do Presidente da ABI, Maurcio Azdo, do Presidente do Conselho Deliberativo da Casa, Pery Cotta, e do 1 Secretrio, Lnin Novaes, Freixo falou sobre o trabalho desenvolvido pelos parlamentares e sobre os efeitos da ao de grupos milicianos, como o aumento da violncia e o clima de insegurana entre a populao. Em sua exposio, Marcelo Freixo foi enftico: as milcias devem ser encaradas como organizaes criminosas e por isso combatidas com firmeza pelo Estado: - Milcia crime, falar em milcia que deu certo um debate ao qual eu me recuso a comentar. Eu no abro mo do Estado de Direito. Nenhum grupo criminoso pode substituir o Estado. Quando fiz o pedido de instalao da CPI, usei como justificativa os fortes indcios de que o crime organizado dentro do Poder Pblico - dominando territrios, extorquindo moradores, monopolizando servios e promovendo um assustador aumento de homicdios - j se tratava da maior ameaa ao Estado Democrtico de Direito. Sobre os milicianos constiturem um poder paralelo, o deputado rebateu: No existe poder paralelo, o que acontece que o crime est dentro do Poder Pblico disputando espao. a mquina pblica servindo a interesses privados. Quando dominam uma regio, os milicianos mostram o distintivo e trazem o discurso da ordem. Por isso o maior golpe que podem sofrer serem desligados da Polcia, pois perdem esse falso discurso. A CPI das Milcias foi aprovada em junho de 2008, mais de um ano aps ser apresentado o pedido para sua instalao. O fato que ajudou na materializao da Comisso foi a violncia so-

O Deputado Marcelo Freixo ( esquerda) diz que a milcia no poder paralelo: o crime organizado est dentro do Poder Pblico, com o qual disputa espao.

frida por uma equipe de reportagem do jornal O Dia, torturada por milicianos em uma favela do Rio. O caso chocou as autoridades e a sociedade de maneira geral, o que facilitou a tramitao da CPI, cujo relatrio final levou 150 dias para ser concludo. No relatrio final, 200 milicianos foram indiciados. O documento tambm denuncia a falta de um planejamento mais claro, com prazos e metas a serem cumpridos pelo Poder Pblico no combate aos grupos. Entre as aes positivas, criadas com a instaurao da CPI, est o "Disque Milcia", pelo qual a populao comeou a fazer denncias. Outro ponto destacado a necessidade de o Estado voltar a ter soberania sobre diversas reas da cidade, em que o crime organizado ou as milcias exercem uma autoridade "tirnica": - O prprio discurso do Governador [Srgio Cabral Filho] mostra que o aparato policial entra nessas reas como se estivesse preparado para uma guerra, o que gera conseqncias muito graves. Hoje, o nmero de pessoas mortas a tiro no Rio de Janeiro constitui um genocdio, principalmente contra jovens negros e pobres. Ns precisamos repensar o conceito de cidade para retomar a lgica da ordem. O Presidente da ABI elogiou a atuao da Alerj na conduo do debate e das investigaes. Para ele, ela deixou de ser mais um "centro de negcios

escusos", transformando-se no centro de discusso poltica do Estado. J o mesmo no pode ser dito sobre a Cmara Municipal, que Azdo disse passar por um momento de "apagada e vil tristeza", evocando verso de Cames. Ainda foi enfatizado que a discusso no pode parar: milcias esto-se formando em muitas outras grandes cida-

des brasileiras e o debate deve se tornar nacional. O comportamento dos meios de comunicao tambm foi um dos assuntos da sesso. Marcelo Freixo considera que eles teriam sido omissos ao tratar o assunto, pois durante um bom tempo permaneceu na imprensa a idia de que as milcias constituem um mal menor do que o trfico de drogas. Para o deputado, onde as milcias atuam h lucro e morte. A exceo ficou por conta da atuao do jornal O Dia. Alm da total colaborao com a CPI das Milcias, a posio do jornal foi elogiada pelo Presidente da ABI ao trmino do encontro: Gostaria de homenagear o Deputado Marcelo Freixo, a quem conheci em solenidade ocorrida na OAB-RJ logo aps a tortura sofrida pela equipe de O Dia na favela do Bat. Na ocasio, ele nos causou muito boa impresso pela firmeza em sua exposio e pela disposio de ir fundo, como realmente foi, neste caso das milcias no Rio de Janeiro. Tambm gostaria de homenagear a atuao dos jornalistas de O Dia e o excelente trabalho que o Editor Alexandre Freeland est fazendo frente do jornal, ao rodar uma edio corajosa denunciando a tortura sofrida por sua equipe.

Diretor da Transpetro na ABIEm visita Casa, Rubens Teixeira revela que a empresa pretende estreitar o relacionamento com as entidades representativas da sociedade civil.O Diretor Financeiro e Administrativo da Petrobras Transportes, a Transpetro, Rubens Teixeira, fez uma visita de cortesia ABI. Acompanhado pelo assessor de imprensa da empresa, jornalista Jorge Saldanha, Teixeira foi recebido pelo Presidente da Casa, Maurcio Azdo. Durante o encontro, Rubens Teixeira manifestou o interesse da Transpetro de estreitar o relacionamento com instituies representativas da sociedade civil, como a ABI, que teve atuao destacada na campanha O petrleo nosso, de que resultaram a instituio do monoplio estatal do petrleo e a criao da prpria Petrobras. Teixeira, que formado em Economia, Direito e Administrao, ainda aproveitou a visita e doou Biblioteca Bastos Tigre, da ABI, exemplar do volume O Cho de Graciliano, que conta com textos de Audlio Dantas, ex-Vice-Presidente da Casa, e fotografias de Tiago Santana. Produzida a partir de vrias viagens dos autores ao serto de Alagoas e Pernambuco, a obra, que retrata a regio de nascimento e criao literria de Graciliano Ramos, teve a Transpetro como patrocinadora.

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Aconteceu na ABICONSELHO

Tarcsio Holanda, o novo viceFOTOS: ARQUIVO PESSOAL

Decano do jornalismo poltico em Braslia ao lado de Carlos Chagas, Rubem de Azevedo Lima e seu irmo Haroldo Holanda, o jornalista Tarcsio Holanda foi eleito Vice-Presidente da ABI, em substituio a Audlio Dantas, que renunciou em dezembro passado. Membro do Conselho Deliberativo da Casa, Tarcsio recebeu a deciso com emoo: a indicao de seu nome foi aprovada por aclamao de seus pares.Em sua reunio de maro, realizada no dia 10, o Conselho Deliberativo da ABI aprovou por aclamao a indicao do nome do jornalista Tarcsio Holanda para o cargo de Vice-Presidente da Casa, em substituio ao jornalista Audlio Dantas, que renunciou em 15 de dezembro passado. A indicao foi feita pelo Presidente da ABI, Maurcio Azdo, que destacou a trajetria profissional de Tarcsio, um dos decanos do jornalismo poltico em Braslia, ao lado de Carlos Chagas, Rubem de Azevedo Lima e Haroldo Holanda, seu irmo. Tarcsio est radicado em Braslia desde 1975, quando se transferiu para a Sucursal do Jornal do Brasil, , a fim de participar da cobertura do Congresso Nacional. Atualmente apresentador do programa Brasil em Debate da TV Cmara, exibido de segunda a quinta-feira. O Presidente do Conselho, Pery Cotta, props que a eleio se processasse por aclamao, em vista do denso currculo de Tarcsio e, tambm, da inexistncia de outra indicao. Diante das palmas de seus companheiros no Conselho, Tarcsio confessou que ficou emocionado com a manifestao de apreo e declarou que recebia a eleio como uma grande honra, dada a importncia da ABI nas lutas em defesa da liberdade de imprensa, dos direitos humanos e do Estado Democrtico de Direito.

Tarcsio Holanda confessou sua emoo com a manifestao do Conselho Deliberativo da ABI que aprovou seu nome para o cargo de Vice-Presidente por aclamao.

Uma testemunha da HistriaEle viu e anotou o que aconteceu na poltica desde 1975.Cearense de Fortaleza, onde nasceu em 28 de junho de 1936, Tarcsio Holanda comeou sua carreira jornalstica com apenas 16 anos, em 1952. Ele trabalhou em todos os rgos de imprensa da capital cearense, desde o Dirio do Povo, do poeta e jornalista Jder de Carvalho, aos Dirios Associados e a O Povo, do deputado, senador e jornalista Paulo Sarasate, que dois anos depois se elegeria Governador do Estado, e nas Rdios Iracema, Drago do Mar, Uirapuru e Assuno. Tarcsio foi vtima muito jovem da perseguio que lhe moveram por motivo ideolgico dois lderes polticos do Estado, Virglio Tvora, que seria Ministro da Viao e Obras Pblicas no Gabinete parlamentarista do PrimeiroMinistro Tancredo Neves, e Armando Falco, que fora deputado federal e lder da maioria na Cmara no Governo Juscelino Kubitschek. Acusando-o de comunista, Tvora e Falco fizeram presso sobre as empresas jornalsticas de Fortaleza para que o demitissem, no que obtiveram xito: de repente fecha16 Jornal da ABI 339 Maro de 2009

ram-se para Tarcsio as portas de todos os empregos. Restou-lhe como opo, por solidariedade, a Rdio Assuno, conhecida como a rdio dos padres, na qual no ficou muito tempo. Certo dia o diretor da rdio, um padre, chamou-o e lhe disse:Em 1971 Tarcsio ocupava a Subchefia de Reportagem do Jornal do Brasil, que funcionava ento na Avenida Rio Branco, 110.

Aqui est uma passagem para o Rio de Janeiro, para onde voc deve ir, porque aqui em Fortaleza no haver mais emprego para voc, nem aqui na Rdio Assuno. Pode passar no caixa para receber seus direitos e seja feliz. Corria o ano de 1962 quando Tarcsio resolveu radicar-se no Rio, onde procurou o jornalista Moacir Werneck de Castro, diretor de Redao da ltima Hora de Samuel Wainer, que ele conhecera ao receb-lo e a Octvio Malta em Fortaleza quando era Secretrio-Geral do Partido Socialista Brasileiro, ao qual ambos estavam filiados. Comeou ento em UH uma

trajetria que o levou ao Jornal dos Sports, no qual foi admitido como copidesque em 1963; Sucursal Rio da Folha de S. Paulo, na qual permaneceu dez anos; Jornal do Brasil, no qual trabalhou de 1963 a 1982 e que foi responsvel por sua mudana para Braslia. Foi tambm muito jovem que Tarcsio fez sua iniciao na televiso. Em 1958, com 22 anos, trabalhou na TV Cear, de Fortaleza, espcie de antesala de seu trabalho na TV Excelsior, em 1963, como reprter poltico do pioneiro Jornal de Vanguarda, criado e dirigido por Fernando Barbosa Lima e que foi tirado do ar aps a edio do Ato Institucional n .5, em 13 de dezembro de 1968. Chefe de Reportagem da TV Globo entre 1965 e 1966, atuou como reprter e comentarista poltico no Jornal de Vanguarda quando a TV Globo o transmitia (1966). Trabalhou tambm na TV Rio, emissora de grande prestgio e audincia nos anos 50 e 60, e na TV Tupi, emissora que liderava a rede Dirios e Emissoras Associadas de Assis

Tarcsio faz palestra na 1 Semana de Jornalismo de Braslia em 1979.

Chateaubriand. Na TV Excelsior, que era a lder de audiencia no Rio e em So Paulo no comeo dos anos 60, Tarcsio fez um programa poltico com VillasBas Corra. Era o Alta Poltica, que permaneceu no ar por quase dois anos. Quando Fernando Barbosa Lima concebeu e produziu o programa Abertura, lanado em 1979 e transmitido nacionalmente pela cadeia de Emissoras Associadas a partir da TV Tupi do Rio de Janeiro, Tarcisio trabalhou em Braslia como reprter e fez destacadas entrevistas com importantes lderes polticos, entre os quais o Senador Petrnio Portela (Arena-PI), que promovia os contatos polticos do programa de abertura lenta, gradual e segura do General-Presidente Ernesto Geisel. Petrnio, que morreu em 1981, como Ministro da Justia do General-Presidente Joo Batista de Figueiredo, era uma das fontes mais seguras e confiveis de Tarcsio, que foi tambm reprter e comentarista poltico do Correio Braziliense por quase 15 anos e do Jornal de Braslia, bem como apresentador, durante cinco anos, do programa matutino Telemanh, da TV Braslia, afiliada da Rede Manchete de Televiso. Em 1973, ainda no Rio, Tarcsio foi Presidente do Clube dos Reprteres Polticos do Rio de Janeiro, o qual promoveu entrevistas coletivas com influentes lderes polticos, como o VicePresidente da Repblica Pedro Aleixo, dois Presidentes da Arena, Senadores Daniel Krieger (RS) e Filinto Mller (MT), o Senador Afonso Arinos de Melo Franco (Arena-GB), o General Osvaldo Cordeiro de Farias, o ex-Ministro da Justia do Presidente Jnio Quadros e lder do MDB na Cmara Federal, Deputado Oscar Pedroso Horta (SP). Com sua programao de entrevistas o Clube dos Reprteres Polticos buscava manter as questes da poltica presentes no noticirio jornalstico, em oposio idia do regime de que poltica era tema dispensvel. Como reprter do Jornal do Brasil, Tarcsio fez reportagens e textos marcantes, como o de Os Tecnocratas ou A Metamorfose do Poder, publicada no Caderno Especial que o JB ento man-

tinha, a qual mostrava a ascenso dos tecnocratas ao poder aps o golpe militar de 1964. Ele tomou um depoimento do ento Senador Filinto Mller, que se defendeu pela primeira vez das acusaes de que promovera torturas quando Chefe de Polcia do Estado Novo (1937-1945) e de que fora o responsvel pela entrega de Olga Benrio Prestes, mulher de Lus Carlos Prestes, ao Governo nazista de Adolf Hitler. Foram igualmente marcantes a entrevista que fez com o ex-PrimeiroMinistro Hermes Lima sobre o seu livro de memrias, Travessia, suma da trajetria de um intelectual e militante poltico desde os anos 30; um texto de duas pginas sobre o Marechal Osvaldo Cordeiro de Farias quando este morreu; a reportagem A Tragdia do Caldeiro, em que relatou o assassinato de centenas de trabalhadores rurais agrupados sob a liderana do beato Jos Loureno na Serra de Araripe, no Cear, episdio pouco conhecido da Histria do Brasil. Tarcsio escreveu o livro Paulo Afonso Martins de Oliveira O Congresso em Meio Sculo, exaustivo e minucioso depoimento do ex-Secretrio-Geral da Cmara dos Deputados sobre a evoluo poltica do Pas desde a queda do Estado Novo, em 1945, os trabalhos de duas Assemblias Nacionais Constituintes, a de 1946 e a de 1987-1988, e as crises polticas vividas pelo Pas ao longo de 50 anos.Ao lanamento da obra pela Presidncia da Cmara dos Deputados, que a editou, compareceram mais de mil pessoas, entre parlamentares, autoridades dos trs Poderes e jornalistas, numa prova do prestgio profissional de Tarcsio. Na TV Cmara, que apresenta o programa Brasil em Debate s 21h30min s segundas e quintas-feiras e s 22h30min s teras e quartas-feiras, Tarcsio participou da produo de mais de 30 depoimentos histricos de personalidades de diferentes posies polticas e ideolgicas, como o filsofo Miguel Reale, os dirigentes comunistas Jacob Gorender e Hrcules Correia dos Reis, os Generais Reinaldo Melo de Almeida, Comandante do I Exrcito nos anos

Acima, um flagrante histrico, em 1973: almoo do Clube dos Reprteres Polticos, de que Tarcsio era Presidente, no restaurante Casa da Sua, no Rio. Da esquerda para a direita, o Marechal Osvaldo Cordeiro de Farias, o jornalista Carlos Castelo Branco e os Senadores Afonso Arinos de Melo Franco e Tancredo Neves. Ao lado, Tarcsio com o Deputado Ulisses Guimares em 1989. Ulisses era Presidente da Cmara e do PMDB e uma das grandes fontes de informao da poca.

70, e Lenidas Pires Gonalves, Ministro da Guerra no Governo Sarney, e os poetas Ferreira Gullar e Gerardo Melo Mouro. Testemunha da vida poltica do Pas por quase 40 anos e devorador de obras de Histria de sua seleta, ampla e bem cuidada biblioteca pessoal, Tarcsio prestou TV Cmara um depoimento de mais de sete horas sobre a Histria do Brasil Contemporneo, o qual se encontra disposio de estudiosos e pesquisadores na Seo de udio e Televiso da Biblioteca da Cmara dos Deputados. A TV Cmara tambm editou um depoimento dele de 42 minutos sobre os fatos marcantes da vida poltica do Pas. Educado e polido no trato com as pessoas, sem sacrifcio da firmeza com que, quando necessrio, expe suas opinies pessoais, Tarcsio no perdeu a oportunidade de recriminar diretamente o Senador Virglio Tvora, que

ascendera ao Governo do Cear e se tornara o manda-chuva da poltica no Estado, quando o encontrou, nos anos 70, ao cobrir um churrasco de uma comemorao poltica. Tarcsio se dirigiu a ele e lembrou que fora vtima, muitos anos antes, da perseguio que Tvora e Falco lhe moveram em Fortaleza, impedindo-o de exercer a profisso de jornalista em sua terra. Tarcsio j era ento um reprter poltico de renome. Tvora sabia disso. Numa aluso carreira ascendente que Tarcsio firmara no Rio, disse-lhe Tvora: Eu lhe fiz um grande bem, Tarcsio, tirando-o da obscuridade que teria l no Cear. Sem papa na lngua, Tarcsio deu-lhe o troco imediato. Um grande bem, no, Governador. O senhor me fez um grande mal. Eu que o transformei em bem, trabalhando demais para chegar onde estou. (Maurcio Azdo)Jornal da ABI 339 Maro de 2009

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HISTRIA

Os bastidores, antes e depois, da famosa entrevista de Jos Amrico a LacerdaH muito a contar e por coincidncia eu estava no lugar certo e na hora certa; conheo episdios at hoje no contados, diz o Diretor da Tribuna da ImprensaPOR HLIO FERNANDESEm longo e-mail ao Presidente da ABI, o jornalista Hlio Fernandes narrou os bastidores da situao poltica do Brasil quando o mineiro Lus Camilo de Oliveira Neto articulou a realizao e publicao da clebre entrevista que Jos Amrico de Almeida, um dos lderes da Revoluo de 30 no Nordeste, concedeu ao jornalista Carlos Lacerda, a qual provocou o fim da censura do Estado Novo (1937-1945) e a derrubada da prpria ditadura. Nos bastidores h muito a contar e por coincidncia eu estava no lugar certo e na hora certa; ento, conheo episdios at hoje at hoje no contados, diz Hlio Fernandes, que comenta no s o clima poltico da poca, mas tambm seus antecedentes, como a atuao da Aliana Nacional LibertadoraANL, a priso do lder comunista Lus Carlos Prestes, as manobras do ditador Getlio Vargas para se eternizar no poder, o movimento pela Constituinte com Vargas, em 1945, e a morte de Getlio, em 1954. Diz Hlio que, depois de contribuir para derrubar Getlio em 1945, Jos Amrico se tornou ministro quando o ex-ditador voltou ao poder, aps eleito em 1950, o que mostra a que ponto chega o surrealismo brasileiro. Publicada em 22 de fevereiro de 1945 pelo Correio da Manh, a entrevista foi reproduzida na edio de nmero 337 do Jornal da ABI, com data de capa janeiro de 2009. Diz Hlio Fernandes que a ABI deveria fazer uma edio de 100 mil exemplares de seu texto, para distribuio por universidades de todo o Pas, uma vez que principalmente os jovens nem sabem dessa entrevista, que mudou realmente a Histria do Brasil. Mantido o tom pessoal do e-mail, datado de 9 de maro corrente, o seguinte o relato de Hlio Fernandes. Os interttulos so da Redao do Jornal da ABI. ou caber perfeitamente nessa edio, pois a entrevista mudou realmente a Histria do Brasil, no apenas por ter derrubado a censura, que foi o primeiro resultado e imediato da entrevista. Mas nos bastidores h muito a contar e por coincidncia eu estava no lugar certo e na hora certa; ento, conheo episdios at hoje no contados. Extraordinria a participao de Lus Camilo de Oliveira Neto, que teve a idia da entrevista e lutou de trincheira em trincheira at public-la. (Lus Camilo depois seria sogro de Marcilio Moreira Marques, Embaixador em Washington e Ministro da Fazenda, vivo e atuante). A entrevista estava programada para sair no Dirio Carioca, do jornalista Horcio de Carvalho, cujo principal articulista (escrevendo diariamente no alto da primeira pgina) era o bravo, combativo e independente J.E. de Macedo Soares, por tudo isso eleito senador. Brilhantssimo, criativa palavras e fatos, muitos citados sem a autoria, com essa de chamar o povo de patulia vil e ignara das ruas. Carlos Lacerda era o nome ideal para ser o entrevistado por escrever no Dirio Carioca. Estava com 31 anos, em 1935 se consagrou como orador aos 21 anos, com um grande discurso na Escola Nacional de Msica, quando surgiu a ANL (Aliana Nacional LiFRANCISCO UCHA

bertadora) que em 1945 ressurgiria como UDN. (Unio Democrtica Nacional). Nesse mesmo dia e na mesma Escola Nacional de Msica (prdio hoje tombado), Lus Carlos Prestes lanaria as bases da Revoluo Comunista de 27 de novembro de 1935. Revoluo autntica e verdadeira, mas sem recursos, sem gente, desorganizada e despreparada. Que permitiria a Vargas criar o Estado Novo, que duraria oito anos cruis e selvagens, at derrubada a partir da entrevista de Jos Amrico. (Agora magistralmente revivida por voc.) Mas por que, programada para o Dirio Carioca, saiu no Correio da Manh? que, apesar de a tecnologia da informao no ter os recursos de hoje, logo o fato vazou, o ditador ficou sabendo. O Dirio Carioca sofreu intimidao, e no tinha como resistir. Mas Paulo Bittencourt, bravo e independente, logo se ofereceu; era financeiramente mais poderoso do que o Dirio Carioca. E Carlos Lacerda foi mantido. Tinha excelentes relaes no Correio da Manh. O nome de Jos Amrico surgiu naturalmente, pois estava sempre atuante a partir dos movimentos tenentistas, vitoriosos em 1930. A partir dessa data, dois homens foram chamados de Vice-Reis do Nordeste: Juarez Tvora, tenente importantssimo, e Jos Amrico, civil altamente representativo (e que inclusive se destacaria na literatura, com a publicao do revolucionrio A Bagaceira). Jos Amrico ficou como interventor na sua Paraba; em 1937, ele e Armando de Sales Oliveira, cunhado do doutor Jlio Mesquita Filho do Estado de S. Paulo, foram lanados candidatos sucesso de Vargas. Repetindo o que fez em 1930, Vargas foi o sucessor de si mesmo, implantando o Estado Novo (que o genial Aporelly, o Baro de Itarar, definiu simplesmente, como o Estado a que chegamos). A acabou tudo; as prises, asilos e exlios foram milhares. E as coisas s ganhariam clima e dimenso democrtica com a entrevista arquitetada e executada por Lus Camilo.

A LUTA DE LUS CAMILOMaurcio, Excelente e merecendo os maiores aplausos a tua deciso de publicar a entrevista que Carlos Lacerda fez em 1945 com o ex- e futuro Ministro de Vargas Jos Amrico. S que no para corrigir, mas sim para refletir, alguns esclarecimentos (s para voc) a respeito do antes e do depois da entrevista. Voc e o Jornal da ABI prestam servio principalmente aos jovens que nem sabem dessa entrevista. Com a tua capacidade de comunicao e de articulao, sugiro que voc consiga (conseguir) patrocinadores para uma edio, digamos 100 mil exemplares, para distribuir por Universidades de todo o Pas. A palavra histrica est muito desgastada, mas cabe18 Jornal da ABI 339 Maro de 2009

AS MANOBRAS DE VARGASEstava visvel que Vargas, mesmo em 1945, antes da entrevista famosa, no queria eleio. Em 22 de fevereiro (fato completamente desprezado), Vargas publicou ato convocando uma Constituinte para 2 de dezembro do mesmo 1945. Era a primeira vez que um ditador convocava uma Constituinte, que se realizou nesse mesmo 2 de dezembro, j sem ditadura e sem ditador, por fora da entrevista de Jos Amrico. Essa entrevista foi fundamental, divulgada e consagrada, mas o importante que provocou um efeito cascata de dimenses notveis. A conseqncia que teria repercusso na hora e na Histria foi a libertao de Lus Carlos Prestes. Preso desde 1936, foi o brasileiro mais torturado de todos os tempos. Ficou

Antes da entrevista de Jos Amrico, conta Hlio Fernandes, Getlio ainda imaginava manter-se no poder.

REPRODUO

at 1940 na Polcia Central, aquele prdio tenebroso da Rua da Relao, onde tanta gente morreu e eu freqentei com mais assiduidade do que gostaria. Quatro anos num vo de escadas, sem ver a luz do sol, fazendo ali refeies e necessidades. Seu carcereiro era Filinto Muller, chefe de Polcia, ex-amigo de Prestes e ex-tenente, que esqueceu todo o passado, mantendo Prestes em condies desumanas. Ele s saa para ir ao julgamento no Tribunal de Segurana Nacional, cujo procurador-geral, um carrasco, se chamava Hymalaia Virgulino. Um homem com esse nome tem tudo para se vingar do mundo; descarregava em cima de Prestes. A OAB designou para defender o lder comunista o advogado Sobral Pinto. Conservadorssimo, ele no pde recusar nem defender Prestes, no tinha condies. Apelou ento para a Sociedade Protetora dos Animais, fato inacreditvel que a censura no deixou publicarem. Um dia, um policial daqueles de roupa vermelha (a polcia da ditadura) deu um sonoro bofeto no rosto de Prestes, sem que alguma coisa fosse feita. Em 1940, com Brasil e Unio Sovitica j aliados na luta contra o nazifascismo, Stlin diretamente mandou pedir a Vargas a libertao de Prestes. Matreiro, sem carter e sem convices, o ditador viu logo o poder de negociao que tinha nas mos: o destino de Prestes. No liberou o lder, reservou-o para uma negociLus Camilo era um estudioso que levantou preciosa documentao ao mais alta. Mas mandou transferi-lo histrica em arquivos de Portugal. Ele organizou a Biblioteca Pblica de Itabira, que durante algum tempo teve o nome de para a penitenciria da Rua Frei Caneca. Presidente Vargas, carimbado no ex-libris de suas publicaes. Em 48 horas foi levantada uma casinha de madeira, quarto e sala, para Prestes poder tos se precipitaram, os jornais publicando tudo, j sem receber visitas e correspondncias. censura, por causa da entrevista articulada por Lus Cino anos depois, Vargas se aproveitaria da conCamilo. S que a ditadura no duraria mais um ms. seqncia que previra e negociava a libertao de Todos se uniram. Vargas foi procurado por exPrestes. Chamou Filinto Muller e comunicou: Hugo amigos agora querendo eleies. Resistia, diria seguiBorghi, meu amigo, ter conversa reservada com Lus damente: S morto sairei do CaCarlos Prestes. Providencie. Nestete. (Curiosamente os fatos da sa conversa, Borghi, em nome do vida e morte de Vargas se cruzariam, ditador, disse a Prestes que ele seat com a combinao de nmero e ria solto imediatamente, mas Gepalavras. 1945 e 1954 representam tlio Vargas no gostaria de t-lo os mesmo nmeros com o final incomo inimigo ou adversrio. vertido; se em 1945 dizia que s Pragmtico, mas tambm um sairia morto, saiu bem vivo, acomhomem escravo das suas convicpanhado do Cardeal Dom Jaime es, Prestes concordou inteiraCmara (Washington Lus, Presimente. E mais tarde para os amigos dente eleito, derrubado por Vargas, e companheiros do Partido surpresaiu do Catete com o Cardeal Arcoendidssimos deu a mesma justifiverde). Em 1954, Vargas saiu realcativa do episdio da priso e entremente morto, no ato poltico e huga aos nazistas de Olga Benrio, sua mano mais genial de toda a Histmulher: Os dramas pessoais no ria e no apenas do Brasil. Ele mespodem interferir ou prejudicar os mo, no que se chamou de Carta interesses da coletividade. Testamento, dizia que deixava a Acusadssimo por causa disso, vida para entrar para a Histria. seria mesmo fato para ser criticaO jornalista Maciel Filho caprido, mas preciso uma coragem, chou no texto e no contedo, que uma bravura e uma capacidade ganhou dimenso eterna pela posiquase estoicismo para defender poo e o gesto do prprio Vargas. E o povo, que 48 hosies como essa. Solto, Prestes logo estarreceu o Pas ras antes pedia a sada de Vargas, chorou no seu entodo. Marcou comcio para o Estdio do Vasco (ainterro, um dos maiores que j existiram. E o mesmo da no existia o Maracan), compareceram, pelos povo que na vspera queimava os carros do PTB e dava clculos da poca, 150 mil pessoas. Quase todos deia vivas a Lacerda mudou inteiramente de lado; incenxando o estdio chorando, por dois motivos. Prestes diava os carros da UDN e pedia: Morra Lacerda. acusava o prprio povo presente de estar se aburEra o fim da ditadura. Vargas tentou de tudo, at guesando, dando mais importncia a geladeiras (texo inqualificvel. No dia 29 de outubro desse 1945, s tual) do que luta pela coletividade. O segundo fato 9 horas da manh, dava posse no Catete ao irmo cabe numa frase-conceito-definio: Constituinte estrina e cafajeste, Beijo Vargas, como Chefe de com Vargas. Era muito, ningum entendeu, os faJornal da ABI 339 Maro de 2009

ILUSTRAO: UCHA

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