jornal da abi 355 - especial fotojornalismo

36
Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa 355 JUNHO 2010

Upload: francisco-ucha

Post on 11-Mar-2016

297 views

Category:

Documents


54 download

DESCRIPTION

Paixão pela Imagem - O portfólio e o perfil de nove fotógrafos da imprensa brasileira: Marizilda Cruppe, Alex Slaib, Antônio Coutinho, infelizmente falecido no vigor de sua carreira profissional, Biaman Prado, Breno Fortes, Daniel Kfouri, o premiado brasileiro da edição 2010 do World Press Photo, Evandro Teixeira, Fernando Quevedo e Odair Leal.

TRANSCRIPT

Page 1: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa

355JUNHO2010

Page 2: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

2 Jornal da ABI 355 Junho de 2010

ALEX SLAIB 5ANTÔNIO COUTINHO 9

BIAMANPRADO 12

BRENOFORTES 16

DANIEL KFOURI 20

EVANDRO TEIXEIRA 23

FERNANDO QUEVEDO 26 MARIZILDA CRUPPE 29

ODAIR LEAL 32

Nesta EdiçãoNesta Edição

DIRETORIA – MANDATO 2010-2013Presidente: Maurício AzêdoVice-Presidente: Tarcísio HolandaDiretor Administrativo: Orpheu Santos SallesDiretor Econômico-Financeiro: Domingos MeirellesDiretor de Cultura e Lazer: Jesus ChediakDiretora de Assistência Social: Ilma Martins da SilvaDiretora de Jornalismo: Sylvia Moretzsohn

CONSELHO CONSULTIVO 2010-2013Ancelmo Goes, Aziz Ahmed, Chico Caruso, Ferreira Gullar, Miro Teixeira, Nilson Lage eTeixeira Heizer.

CONSELHO FISCAL 2010-2011Adail José de Paula, Geraldo Pereira dos Santos, Jarbas Domingos Vaz, Jorge Saldanhade Araújo, Lóres Baena Cunha, Luiz Carlos de Oliveira Chesther, Manolo Epelbaum eRomildo Guerrante.

MESA DO CONSELHO DELIBERATIVO 2010-2011Presidente: Pery CottaPrimeiro Secretário: Sérgio CaldieriSegundo Secretário: Arcírio Gouvêa Neto

Conselheiros efetivos 2010-2013André Moreau Louzeiro, Benício Medeiros, Bernardo Cabral, Carlos Alberto MarquesRodrigues, Fernando Foch, Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Jesus Chediak, José Gomes Talarico,Marcelo Tiognozzi, Maria Ignez Duque Estrada Bastos, Mário Augusto Jakobskind, OrpheuSantos Salles, Paulo Jerônimo de Sousa e Sérgio Cabral.

Conselheiros efetivos 2009-2012Adolfo Martins, Afonso Faria, Aziz Ahmed, Cecília Costa, Domingos Meirelles, FernandoSegismundo, Glória Suely Álvarez Campos, Jorge Miranda Jordão, José Ângelo da SilvaFernandes, Lênin Novaes de Araújo, Luís Erlanger, Márcia Guimarães, Nacif Elias HiddSobrinho, Pery de Araújo Cotta e Wilson Fadul Filho.

Conselheiros efetivos 2008-2011Alberto Dines, Antônio Carlos Austregesylo de Athayde, Arthur José Poerner, Carlos ArthurPitombeira, Dácio Malta, Ely Moreira, Fernando Barbosa Lima (in memoriam), Leda Acquarone,Maurício Azêdo, Mílton Coelho da Graça, Pinheiro Júnior, Ricardo Kotscho, RodolfoKonder, Tarcísio Holanda e Villas-Bôas Corrêa.

Conselheiros suplentes 2010-2013Adalberto Diniz, Alfredo Ênio Duarte, Aluízio Maranhão, Arcírio Gouvêa Neto, DanielMazola Froes de Castro, Germando de Oliveira Gonçalves, Ilma Martins da Silva, JoséSilvestre Gorgulho, Luarlindo Ernesto, Marceu Vieira, Maurílio Cândido Ferreira, SérgioCaldieri, Wilson de Carvalho, Yacy Nunes e Zilmar Borges Basílio.

Conselheiros suplentes 2009-2012Antônio Calegari, Antônio Henrique Lago, Argemiro Lopes do Nascimento (Miro Lopes),Arnaldo César Ricci Jacob, Ernesto Vianna, Hildeberto Lopes Aleluia, Jordan Amora,Jorge Nunes de Freitas, Luiz Carlos Bittencourt, Marcus Antônio Mendes de Miranda,Mário Jorge Guimarães, Múcio Aguiar Neto, Raimundo Coelho Neto (in memoriam) e RogérioMarques Gomes.

Conselheiros suplentes 2008-2011Alcyr Cavalcânti, Edgar Catoira, Francisco Paula Freitas, Francisco Pedro do Coutto,Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz, José Pereira da Silva (Pereirinha), Maria doPerpétuo Socorro Vitarelli, Ponce de Leon, Ruy Bello (in memoriam), Salete Lisboa, SidneyRezende,Sílvia Moretzsohn, Sílvio Paixão e Wilson S. J. de Magalhães.

COMISSÃO DE SINDICÂNCIAJosé Pereira Filho (Pereirinha), Presidente, Carlos Di Paola, José Carlos Machado, Luiz SérgioCaldieri, Marcus Antônio Mendes de Miranda, Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Toni Marins.

COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃOAlberto Dines, Arthur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti.

COMISSÃO DE DEFESA DA LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOSLênin Novaes de Araújo, Presidente; Wilson de Carvalho, Secretário; Alcyr Cavalcanti, ArcírioGouvêa Neto, Daniel de Castro, Geraldo Pereira dos Santos, Germando de Oliveira Gonçalves,Gilberto Magalhães, José Ângelo da Silva Fernandes, Lucy Mary Carneiro, Maria CecíliaRibas Carneiro, Mário Augusto Jakobskind, Martha Arruda de Paiva e Yacy Nunes.

COMISSÃO DIRETORA DA DIRETORIA DE ASSISTÊNCIA SOCIALIlma Martins da Silva, Presidente, Jorge Nunes de Freitas, José Rezende Neto, ManoelPacheco dos Santos, Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Mirson Murad e Moacyr Lacerda.

REPRESENTAÇÃO DE SÃO PAULOConselho Consultivo: Rodolfo Konder (Diretor), Fausto Camunha, George Benigno JatahyDuque Estrada, James Akel, Luthero Maynard, Pedro Venceslau e Reginaldo Dutra.

Jornal da ABINúmero 355 - Junho de 2010

Editores: Maurício Azêdo e Francisco UchaProjeto gráfico e diagramação: Francisco UchaRedação final: Paulo ChicoEdição de textos: Maurício Azêdo

Apoio à produção editorial: Alice Barbosa Diniz,André Gil, Conceição Ferreira, Diogo Collor Jobimda Silveira, Fernando Luiz Baptista Martins,Guilherme Povill Vianna, Maria Ilka Azêdo, Mário Luizde Freitas Borges.

Publicidade e Marketing: Francisco Paula Freitas(Coordenador), Queli Cristina Delgado da Silva,Paulo Roberto de Paula Freitas.

Diretor Responsável: Maurício Azêdo

Associação Brasileira de ImprensaRua Araújo Porto Alegre, 71 - Rio de Janeiro, RJ -Cep 20.030-012Telefone (21) 2240-8669/2282-1292e-mail: [email protected]

Representação de São PauloDiretor: Rodolfo KonderRua Dr. Franco da Rocha, 137, conjunto 51Perdizes - Cep 05015-040Telefones (11) 3869.2324 e 3675.0960e-mail: [email protected]

Impressão: Taiga Gráfica Editora Ltda.Avenida Dr. Alberto Jackson Byington, 1.808Osasco, SP

O JORNAL DA ABI NÃO ADOTA AS REGRAS DO ACORDO ORTOGRÁFICO DOS PAÍSES DELÍNGUA PORTUGUESA, COMO ADMITE O DECRETO Nº 6.586, DE 29 DE SETEMBRO DE 2008.

APELO AOS ASSOCIADOS EM DÉBITO - A Diretoria da ABI comunica aos associados em débito há mais de um ano que, por força de anistia decretada pela Casa, a quitação da mensalidade do mês de julhopróximo, até o dia 31desse mês, zerará a dívida existente, reintegrando-os na plenitude de seus direitos sociais. Com isso será evitada a suspensão da remessa do Jornal da ABI, motivada pelo alto custo daprodução editorial e gráfica da publicação e de sua remessa pelo Correio. O boleto de quitação poderá ser solicitado pelo e-mail [email protected]. Peça o seu.

GUSTAVO PELLIZZON

RENATO VELASQUESCAIO GUATELLI

MONIQUE RENNE

Page 3: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

3Jornal da ABI 355 Junho de 2010

Em edição precedente do Jornal da ABI, um destacado profissi-onal da fotografia, Alcyr Cavalcanti, contestou a tese assimiladapor não poucas pessoas de que o fotojornalismo estaria morrendo,sob o impacto das inovações tecnológicas que permitiram tanto auniversalização da tomada de fotos, graças à disseminação do usode equipamentos digitais, como a divulgação do material assimproduzido, facilitada por um instrumento poderoso, a internet. Osrepórteres-fotográficos estariam, pois, condenados a uma sobre-vida de que só faltaria dizer de qual duração.

Esta nova Edição Especial do Jornal da ABI, tal como fizera AlcyrCavalcanti, membro do Conselho Deliberativo da Casa, oferece fortedesmentido às previsões desses profetas do apocalipse fotográfi-co, seja pela qualidade dos trabalhos aqui reproduzidos, seja pornúmeros contidos em uma das matérias que a compõem, como osrevelados pela repórter-fotográfica Marizilda Cruppe, profissio-nal brasileira convidada a integrar o júri do mais importante cer-tame do jornalismo fotográfico mundial, o da World Press Photo,que atrai participantes do mundo inteiro. Ao dar notícia da reper-cussão do concurso e da dimensão do desafio diante do qual se viucomo jurada, Marizilda Cruppe – uma das protagonistas desta EdiçãoEspecial – informou que o concurso recebeu mais de 101 mil tra-balhos, número que não constitui indicativo de um gênero emextinção, mas sim de uma atividade plena de força, de vitalidade,de poder de atração sobre as novas gerações.

Provas dessa vitalidade estão aqui reunidas, nos trabalhos de AlexSlaib, Antônio Coutinho, infelizmente falecido no vigor de sua carreiraprofissional, Biaman Prado, Breno Fortes, Daniel Kfouri, o premi-

RECEITA A CONFERIREDITORIAL

ado brasileiro da nova edição do World Press Photo, Evandro Tei-xeira, Fernando Quevedo, da própria Marizilda Cruppe, Odair Leal,que captaram em diferentes pontos do País a variedade e o pulsardo cotidiano, da riqueza e beleza do ambiente, dos acontecimentose iniciativas nos múltiplos campos da atividade social. Tão multi-facetado painel reflete a diversidade dos olhares e da sensibilidadede pessoas muito distintas em hábitos, preferências, opiniões políticase crenças religiosas, mas que guardam fortes traços comuns, comoo amor à imagem e a ânsia de oferecê-la à fruição coletiva.

Tanta diversidade manifesta-se nas opções desses profissio-nais, que podem ter confessada atração pelo dia-a-dia das ruas,como revela Alex Slaib, pelas festas populares, como no caso domaranhense Biaman Prado, ou pela notícia em si, onde esta sesitue, como se dá com Breno Fortes e Odair Leal, este especial-mente preocupado com as questões sociais, a extrema misériaque castiga as populações do Acre, seu Estado. Expressa-se tam-bém no fascínio de Fernando Quevedo pela vida em estado puroem países da África e pelos animais que a povoam e pela fixaçãode Evandro Teixeira pela paisagem social e física que a literaturacelebrou com engenho e arte, como em Vidas Secas de Gracili-ano Ramos e em Os Sertões de Euclides da Cunha, ante-salas doGrande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa que Evandro sonhareproduzir em imagens.

Igualmente importante, tanto quanto os trabalhos que ora apre-sentamos, é a receita sem pedantismo nem tom professoral queesses mestres exibem dizendo como é o fazer do fotojornalismo.Confiram.

MAURÍCIO AZÊDOPRESIDENTE DA ABI

A EMOÇÃO DAS IMAGENSMarizilda Cruppe mostra para oCacique Megaron as fotos feitas naaldeia Piaraçu, dos índios Caiapó, noMato Grosso, às margens do Rio Xingu.A fotógrafa foi contratada peloGreenpeace para registrar uma reuniãode lideranças indígenas do Xingucontra o projeto do Governo deconstrução da usina hidrelétrica deBelo Monte. FOTO TODD SOUTHGATE.

Page 4: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

4 Jornal da ABI 355 Junho de 2010

Page 5: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

5Jornal da ABI 355 Junho de 2010

ALEX SLAIB

Um apaixonado pelas ruas.E pelos flagrantes policiais

Com passagens por diversosjornais, Alex Slaib dedica

seu talento a produzir fotosde impacto, em especial

para a Editoria de Polícia.

O interesse pela fotografia começouna adolescência, quando, ainda ama-dor, começou a brincar com uma câme-ra Yashica do pai. Dados os primeirospassos, ou melhor, os primeiros cliques,Alex Slaib passou a registrar a esposa,então grávida, e logo em seguida a fi-lha. “Percebi, então, que, com umacâmera na mão, poderia registrar se-gundos de vida que não voltariamnunca mais. Para me especializar, pro-curei alguns cursos, como Fotojorna-lismo, Fotografia Profissional e Percep-ção Visual”, conta.

Há quase 14 anos atuando comorepórter-fotográfico, está hoje no jor-nal A Tribuna, de Niterói. Alex come-çou a carreira em 1997, no Agito daGalera, um tablóide de esportes, e ob-teve o registro profissional quandofazia o Jornal de Ipanema.Depois, passou pelo DiárioDemocrático, O Povo, Jornaldos Sports e O São Gonçalo,onde ficou por três anos eassumiu, pela primeira vez,a função de Editor de Foto-grafia. “Depois de um ano,porém, minha vontade devoltar para a rua era grande.Pedi demissão e muitos, co-mo minha mãe e alguns co-leguinhas, acharam loucura,pois o salário de editor é mai-or. Ainda assim, preferi vol-tar pra rua e fazer o que maisgosto: registrar imagens queficam para a história”.

E é assim que tem sido.Nos últimos anos, Alex passou aindapelo O Fluminense e pelo Povo do Rio.Em qualquer veículo que esteja, o queo move são os acontecimentos quemexem com o cotidiano das cidades.Foi assim que participou, ao lado derepórteres como Marlene Silvino, co-lega de A Tribuna, da cobertura sobrea ação da Prefeitura de Niterói para ademolição de imóveis em áreas de ris-co – motivada pela tragédia anuncia-da do deslizamento do Morro do Bum-ba, no último mês de abril. E tambémquando da implantação da Unidade dePolícia Pacificadora (UPP) nos Morrosdo Borel, Formiga e Casa Branca, na

AS FOTOSALEGRIADOS HOMENSContraste entre amensagem nomuro e o homemexecutado portraficantes rivaisno Morro da VilaIpiranga, emNiterói.

O SORRISO DEMONA LISAO trabalho dosfotógrafos naSapucaí, paraconseguir omelhor ângulo.

O SORRISO DE MONA LISA

ALEGRIA DOS HOMENS

Page 6: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

6 Jornal da ABI 355 Junho de 2010

TRAFICANTE VIRTUALTraficantes do Morro doEstado, em Niterói, pintaramum boneco armado na paredepara enganar os policiais”.

CHACINACrianças face a face com oterror após a chacina de cinco

AS FOTOS

menores no Morro de Ititioca,em Niterói.

INFÂNCIA PERDIDAMenor preso na Delegacia deProteção à Criança e aoAdolescente de Niterói, porter sido flagrado com drogase armas.

CRUZANDO PERIGODuas fotos onde jovens mães eseus bebês são ameaçadaspela insegurança nas favelas:à esquerda, uma operaçao daPolícia Militar no Morro doBorel, no Rio de Janeiro;

à direita, policiais militaresdão cobertura na entrada doMorro do Estado, em Niterói,onde peritos fazem areconstituição da morte de12 menores, vítimas depoliciais do 12º BPM.

ALEX SLAIB

CHACINA

TRAFICANTE VIRTUAL

CRUZANDO PERIGO

INFÂNCIA PERDIDA

Page 7: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

7Jornal da ABI 355 Junho de 2010

Tijuca, Zona Norte do Rio, tambémem abril deste ano.

Na opinião de Alex, para dar o cli-que na hora certa é preciso ter muitaatenção e estar por dentro da pauta,contextualizado e em sintonia com orepórter. Ele dá uma dica, baseado naprópria experiência. “O profissional eo iniciante devem fazer um curso dePercepção Visual, que dá orientaçõesde como olhar e se posicionar no lo-cal certo. Ter garra é muito importantetambém. A gente não pode se deixarabater com as dificuldades da profis-são, que não são poucas. É preciso terpersistência, vocação, nascer comalma de jornalista e, principalmente,gostar do que se faz. E é bom saber quenosso meio é muito fechado”.

Entre suas coberturas favoritas, Alexdestaca a guerra urbana – pauta roti-neira, uma vez que atua com freqüên-cia na Editoria de Polícia. Nesse cam-po, uma das mais marcantes foi a cha-

cina de cinco menores noMorro de Ititioca, em Niterói,ocorrida há alguns anos. Ou-tra lembrança de destaque foiuma das visitas de Lula à cida-de fluminense. “Não é tododia que um repórter-fotográ-fico, estando ligado à reporta-gem policial, acompanha umPresidente da República”.Uma foto marcante foi a Figada Incerteza, tirada durante atroca do Comando Geral daPolícia Militar, na qual mos-trava a então GovernadoraRosinha, crente convicta, fa-zendo figa com as pernas –talvez um apelo a forças supe-riores para iluminar a políticade segurança pública da épo-ca. A foto ficou entre as 40

primeiras colocadas numa das ediçõesdo Prêmio Vladimir Herzog.

Ao longo da carreira, Alex foi tes-temunha de muitas histórias engraça-das, como a que ocorreu com um co-lega cinegrafista. “Estávamos na co-bertura de um enterro e ele, em bus-ca do melhor ângulo, acabou caindonum túmulo vizinho. Como estáva-mos todos concentrados, não percebe-mos seu sumiço. Pouco depois, escu-tamos um pedido de socorro vindo dacova. Algumas pessoas se assustarame saíram correndo. Foi muito engraça-do”. Outras situações, no entanto,são de puro e verídico terror. “Numapauta, eu e um repórter subimos oComplexo do Alemão de madrugadae fomos surpreendidos por um trafi-cante, que deu uma rajada de metra-lhadora em nossa direção. Como ne-nhum tiro acertou o alvo, apesar deestarmos perto, costumo dizer quenascemos de novo”.

AS FOTOSENCALHADA PARA MORRERBaleia Jubarte encalha na praiade Jurujuba, em Niterói. Apósdias de tentativas de resgateem vão, o animal morre.

MUDANÇA DE HÁBITOPelé se empolga durante festaem um colégio de Niterói e dáum beijo comprometedor nafreira.

OVER THE RAINBOWA silhueta de um gato queparece contemplar o arco-íris.

NADA A DECLARAREncontro de Coronéis noMorro do Estado, em Niterói.

MUDANÇA DE HÁBITO

ENCALHADA PARA MORRER

OVER THE RAINBOW

NADA A DECLARAR

Page 8: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

8 Jornal da ABI 355 Junho de 2010

ALEX SLAIB

AS FOTOS

É CARNAVAL!Duas cenas do Carnavalcarioca na noite dosdesfiles das Escolas deSamba.

VÔO DUPLOPiloto de parapente faz umbalé aéreo com um urubu,no céu de Piratininga, emNiterói.

NA MIRA DA ALEGRIAO palhaço Carequinha faza festa no Dia das Criançasno zoológico de Niterói.

PÁTRIA AMADANo Dia da Independência,menor brinca e faz a festana parada das escolas naAvenida Amaral Peixoto,Centro de Niterói”.

VÔO DUPLO

É CARNAVAL!

NA MIRA DA ALEGRIA

PÁTRIA AMADA

Page 9: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

9Jornal da ABI 355 Junho de 2010Jornal da ABI 349 Dezembro de 2009

ANTÔNIO COUTINHO

O olhar atento de um mineirocom sotaque paulista

O Jornal da ABI presta uma home-nagem especial a um fotojornalista queteve sua carreira interrompida cedo.Cedo demais. Há pouco mais de umano, em 15 de maio de 2009, morreuAntônio Coutinho, o ‘Paulista’, comoera conhecido no meio profissional eentre amigos. Mineiro criado em SãoPaulo, adotou o Rio de Janeiro paratocar a vida. O amor pela cidade foi tãogrande que incorporou em grande par-te o jeito carioca de ser, evidente em suacriatividade e no seu bom humor cons-tantes. Aos 59 anos, foi vítima de umenfarte fulminante.

Ele, como tantos outros repórteres detalento, já se foi. Mas, deixou-nos comoherança suas fotos. Algumas delas es-tão aqui, reproduzidas nesta edição.

Antes de se tornar fotógrafo, ‘Paulista’estudava Belas-Artes e foi estagiar naFolha de S. Paulo. Era época da Ditadu-ra Militar e, por causa dela, saiu da ca-pital paulista e abandonou a fotografia.“Foi aí que vim para o Rio, onde traba-lhei na área naval, em estaleiros, até o

início da abertura política. Não preten-dia trabalhar em Jornalismo tão cedo.Quando decidi retornar, precisava mereciclar. Só voltei a trabalhar em Reda-ções em 1985”, contou o próprio Antô-nio Coutinho, em entrevista concedidaao site da ABI em janeiro de 2006.

A questão do forte sotaque, que aju-dava a explicar o apelido de ‘Paulista’,também foi abordada com humor porAntônio Coutinho. “Mudei-me aindabebê para São Paulo, onde vivi por 25anos. Quando cheguei ao Rio, obvia-mente com o sotaque carregado, ten-tava explicar que não era paulista – oque de fato era verdade, uma vez quesou mineiro. Mas, não teve jeito. Aca-bei deixando a história de lado. Naverdade, por mim, tudo bem, gosto

Morto em 2009, AntonioCoutinho, mais conhecido

como 'Paulista', deixousaudades e muitos colegas. E,felizmente, algumas centenas

de cliques que comprovam seutalento e criatividade.

AS FOTOS

XÔ, CORRUPÇÃOFiz esta foto em 2001, em Brasília.A polícia jogou bombas de gáslacrimogêneo, bateu um vento e ogás foi na direção do palanque,fazendo o Lula chorar. Era umamanifestação de funcionáriosfederais contra o então PresidenteFernando Henrique Cardoso e oLula usava um broche com ainscrição: Xô, corrupção. Na épocaesta foto não teve muita serventia,mas hoje é muito vendida.

BETINHODiscurso de Betinho durante a Eco92, fórum global que aconteceu noRio, em junho de 1992.

XÔ, CORRUPÇÃO BETINHO

Page 10: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

10 Jornal da ABI 355 Junho de 2010

AS FOTOS

muito de São Paulo e não tenho razãopara fugir do apelido. No entanto, cos-tumo dizer que sou um cidadão domundo”, brincou na época.

Em pouco mais de três décadas deatividade no Rio, Antônio Coutinhotrabalhou para o Jornal dos Sports e OPovo, e fez freelas para o Jornal do Bra-sil e a Folha de S.Paulo, entre outrosveículos. Abriu uma agência, a qualimaginava ser boa alternativa paraganhar dinheiro. “Mas a entrada doCollor no poder quebrou a economiae fechamos. Este era um bom merca-do. Lembro que, na época da chacinada Candelária, vendemos fotos, mi-

nhas e outras de sócios, para 12 paí-ses. Fomos os primeiros a chegar aolocal, porque a agência era na Rua doOuvidor. Ouvimos a notícia na CBN,corremos e quase flagramos os poli-ciais”, recordou.

Em sua carreira, Paulista produziumais trabalhos para revistas do quepara jornais. “Sempre vendi mais fotospara fora do Brasil, talvez pelos conta-tos com ONGs, que me abriram portasem revistas como a alemã Stern e a nor-te-americana Time”, disse ele, que che-gou a ser representante no Brasil daWorld Press Photo, cuja premiação éconsiderada o Oscar do fotojornalismo.

Foi por diversas gestões Vice-Presiden-te da Arfoc-Rio e da direção da Enar-foc (Executiva Nacional dos Repórte-res Fotográficos). Fez parte da direçãodo Sindicato dos Jornalistas Profissio-nais do Município do Rio de Janeiro.

Sua admiração pelo Rio era tamanhaque ‘Paulista’ fez questão de declará-laatravés de uma de suas outras paixões,além da fotografia: a pintura. Passou aretratar paisagens da cidade, em espe-cial o bairro de Santa Tereza, em arteNaif. Seus quadros, a óleo ou pinturasem madeira, participaram do Santa Te-reza de Portas Abertas, evento anual quereúne artistas do bairro e faz parte do

calendário cultural da cidade. Na verda-de, acreditava ele, a fronteira entre artee fotografia era bastante tênue.

“Antes, pintava apenas para presen-tear. Depois, fiz exposições dos meusquadros e vendi quase todos. Adoropintar o Rio, as favelas, o Pão-de-Açú-car e o bairro de Santa Teresa. E foto-grafar, assim como pintar, é uma ques-tão de exercitar a sua sensibilidade.Independentemente de qualquer coi-sa, o repórter-fotográfico é um artista.Ele deve ser capaz de conseguir captaro que vai rolar, ao perceber que suapassagem por algum lugar pode renderuma bela imagem”.

HUMILHADOSEu estava passando narua e vi esta menina, filhade uma ambulante daAvenida PresidenteVargas, no Rio. O cartazao fundo era da CUT, queacabou fazendo um novocartaz usando comoimagem esta foto.

PAUL É 10Fiz esta foto no show dePaul McCartney noMaracanã, para a Revistado Rock. Chovia muitonesse dia. Osorganizadores nãotinham arrumado umespaço coberto para osrepórteres-fotográficos e

fizemos um piquete,dizendo que ninguémentrava se nãoresolvessem o problema.O Paul soube disso,mandou um bilhete edisse que também nãosubiria ao palcoenquanto nãoprovidenciassem umlugar para nós.

CRISTO ILUMINADOFiz esta foto do alto deum prédio para a Revistada Antártica, publicaçãoda cervejaria que circulavano Rio. Costumava rodaras festas de Ano Novo nacidade e acabava semprena queima de fogos.

ANTÔNIO COUTINHO

PAUL É 10

HUMILHADOS

CRISTO ILUMINADO

Page 11: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

11Jornal da ABI 355 Junho de 2010

AS FOTOS

PÔR-DO-SOLEstava aguardando a hora deatravessar a Baía. Como faziaalguns trabalhos para aCompanhia das Barcas, pedipara subir no topo daembarcação para fazer esteregistro do Rio visto deNiterói. Sou apaixonado poresta foto.

MAMADEIRADurante um dos comícios doLula, comecei a andar pelo

meio do povo e fiz esteflagrante de uma mãeamamentando.

TORCIDA NO TETRAAssistindo ao jogo pelo telão,multidão comemorou avitória do Brasil na Copa de1994, decidida nos pênaltis.

BRIZOLA NA CABEÇAA Cinelândia, durante acampanha de Brizola àpresidência da República.

PÔR-DO-SOL

MAMADEIRA

TORCIDA NO TETRA

BRIZOLA NA CABEÇA

Page 12: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

12 Jornal da ABI 355 Junho de 2010

BIAMAN PRADO

O começo por acaso, e acidentado,de um craque nas lentes

Um dos mais produtivose respeitados fotojornalistas

do Maranhão, BiamanPrado recorda passagens

marcantes de sua carreira.

Biaman Prado ingressou na profis-são de fotógrafo como muitos de seuscolegas: por acaso. De família pobre,sem muitas perspectivas, nascido emCamocim, o rapaz de 17 anos precisoutrabalhar para ajudar no orçamento do-méstico. Pelas mãos de um primo, ar-ranjou um emprego de contínuo emum estúdio fotográfico em Sobral, paraonde a família se mudara. O trabalhoera o de levar e trazer, além de fazer alimpeza. Na câmara escura, ficava in-trigado com as imagens que surgiamquando mergulhadas no revelador.

As investidas no laboratório, diga-se de passagem, eram secretas, feitassomente quando o estúdio estava va-zio – naquela altura, com a confiançaque inspirara, Biaman já tinha cópiasdas chaves do local. Até que um dia,surpreendido pela chegada inesperadado patrão, seu Coelho, estragou umacaixa de papel fotográfico. Levou umcartão amarelo e prometeu se corrigir.Pouco tempo depois, foi novamenteflagrado, mexendo no ampliador. “Aí,seu Coelho me chamou à sala dele. Ademissão era certa. Para minha surpre-sa, perguntou se eu gostaria de apren-der a trabalhar no laboratório. Respon-di que sim. E ele, uma figura fantásti-ca, completou dizendo que, ao me trei-nar, pelo menos, não teria mais perdade material”, conta.

Naquele incentivo, teve início a car-reira de um dos mais respeitados pro-fissionais do fotojornalismo no Mara-nhão. Com 35 anos de profissão, Bia-man Prado fez coberturas importantes

MEDO NO OLHARCrianças recolhidas das ruas de São Luís, amando do Juizado da Infância e Juventude.Chamou-me atenção o medo das crianças, nãosei se pela presença da Polícia ou pelo receiodo que as aguardava. Todas foram mandadaspara os seus lugares de origem.

FOGO NA PREFEITURADepois do regime militar as capitais deixaramde ter prefeitos “biônicos”. Em 85, a populaçãode São Luís elegeu a Prefeita GardêniaGonçalves. Parte dos funcionários públicos ateoufogo no prédio da Prefeitura, em represália.

AS FOTOS

FOGO NA PREFEITURA

MEDO NO OLHAR

Page 13: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

13Jornal da ABI 355 Junho de 2010

DOMINGO DE PÁSCOAJogo entre Moto Clube e Paysandu num Domingode Páscoa. A torcida do Moto presenteia o goleirodo Paysandu com uma chuva de ovos, não dechocolate, mas de galinha.

PELA FORÇAEsta imagem serviu para órgãos de DireitosHumanos do Maranhão denunciarem o uso daforça policial em favor de posseiros nomunicípio de Buriti de Inácia Vaz, onde até umsub-procurador foi desrespeitado.

BONITO DE VERConjunto de casario colonial na Rua do Giz, noCentro Histórico de São Luís.

NO ALVODomingo pela manhã com pouco movimento nopátio do sistema Mirante, observei este bem-te-vitentando voar carregando uma lagarta no bico.

AS FOTOS no Estado que escolheu para viver. Fo-tografou, por exemplo, o movimentoDiretas Já, que contagiou também a ca-pital maranhense; uma manifestaçãoem repúdio à visita do então Presiden-te João Figueiredo, ainda no aeroportodo Tirirical, o incêndio na Prefeitura deSão Luís; e as visitas de Maluf, quandocandidato à Presidência, e do Papa JoãoPaulo II a São Luís. “Fomos também osprimeiros a fotografar a torre de lança-mento do VLS na Base de Alcântara,logo após o acidente que matou 21 ci-vis em 22 de agosto de 2003”, recorda.

Mais recentemente, Biaman parti-cipou, ao lado da repórter Cíntia Ara-újo, de O Estado do Maranhão, da co-bertura sobre o assalto com reféns naloja Litoral Móveis, localizada na Ruada Paz, no Centro de São Luís. Duran-te o episódio, ocorrido em 3 de fevereirodeste ano, nove pessoas foram manti-das reféns. “Essa urgência e essa cons-tante adrenalina para cobrir históriasàs vezes escrabosas me deixaram lou-co para trabalhar em jornal. Iniciei mi-

PELA FORÇA

BONITO DE VER

DOMINGO DE PÁSCOA

NO ALVO

Page 14: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

14 Jornal da ABI 355 Junho de 2010

BIAMAN PRADO

LADO A LADO COM O ASSASSINO

O ATAQUE DOS MORCEGOS

PONTÍFICE

VOANDO ALTO

AINDA HÁ VAGAS

Page 15: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

15Jornal da ABI 355 Junho de 2010

nha atuação como freela. Em 1980, fuiconvidado para trabalhar em São Luís.Em dois anos já estava no Jornal de Hoje,depois fui para o jornal O Debate. Em1994, vim para O Estado”.

Biaman tem a fotografia como par-ceira, como a própria vida. “Resolvomeu problema financeiro fazendo oque gosto”, diz, com bom humor.Mesmo no cargo de Editor, sempredescola uma oportunidade de ir pra rua,na parte prática da pauta. “Certa vez,fiz a travessia de barco São Luís/Alcân-tara ao lado de José Vicente Matias, ohippie ‘Corumbá’, logo depois acusa-do de matar duas estrangeiras no Ma-ranhão. Achei estranho aquele hippiecom uma mulher tão bonita. Mal sa-bia que ela seria sua segunda vítima. Elejá havia assassinado uma turista alemã.Só não os fotografei porque o mar es-tava bravo e jogava muita água dentro

LADO A LADO COM O ASSASSINOJosé Vicente Matias, o hippie conhecido como "Corumbá",acusado de matar duas estrangeiras no Maranhão, durantea reconstituição do crime em Barreirinhas. Este fato foimuito interessante: eu viajei ao lado do criminoso semsaber. Fizemos uma travessia de barco de São Luís até acidade de Alcântara. Ele já havia assassinado uma turistaalemã em Barreirinhas. No barco ele estava com umamulher muito bonita e achei isso estranho. Ao chegar nacidade fiquei sabendo do assassinato em Barreirinhas e,preocupado com a minha pauta, não me liguei no assunto.À noite, em uma festa, um colega falou que tinha vistoalguém com as mesmas características do assassinodivulgado no rádio. Voltei para São Luís e o delegadoresponsável pelo caso me telefona. Só aí fui saber que tinhaviajado com o assassino. Acabei ajudando na identificaçãocom detalhes que a Polícia não tinha e ele foi preso emBelém. Soube depois que se tratava de um serial killer.

PONTÍFICEVisita de Sua Santidade João Paulo ll à cidade de São Luís,na década de 90.

VOANDO ALTOEu tinha saído do Estádio Castelão e esperava o carro dojornal sentado em uma calçada quando vi alguns garotostreinando com skates. O personagem tentava umobstáculo e passou ao meu lado. Não deu outra: viroucapa de suplemento Galera.

AINDA HÁ VAGASRetrato da superlotação nas cadeias do País. Esta imagemfez parte da exposição A Luz da Notícia, organizada pelaAssociação Maranhense de Imprensa e a Companhia Valedo Rio Doce.

O ATAQUE DOS MORCEGOSPersonagem de uma matéria, Cenira da Silva Almeida lavalouça protegida por uma rede de pesca, com medo deataque dos morcegos em Turiaçu-MA.

UMA PINTURAAcidente com navio petroleiro na baía de São Marcos, noporto de Itaqui.

TRISTEZADestroços da torre de lançamento de foguetes na Base deAlcântara, onde morreram 21 técnicos na explosão. Nessaimagem dá para ter uma noção da violência da explosão edo fogo.

DANÇA MEU BOIBumba-meu-boi, principal manifestação folclórica doMaranhão durante as festas juninas. Boi da Maiobadançando no Convento das Mercês.

AS FOTOS

do barco. Dias depois, o delegado res-ponsável pelo caso me telefonou e euacabei ajudando na identificação, comdetalhes que a polícia não tinha. ‘Co-rumbá’ foi, então, preso em Belém. Eterminei por fazer as fotos da recons-tituição dos seus crimes”.

Uma foto feita por Biaman, durantea inauguração de uma loja de artigosesportivos no Rio Anil Shopping, em 15de abril deste ano, deu ao trabalho dofotógrafo uma repercussão inédita. Naocasião, em meio a uma sequência decliques, uma adolescente de 19 anos fezuma pose de vitória para as suas lentes.A imagem caiu na web, onde ficou co-nhecida como Loka do Rio Anil, e ganhouversões montadas, nas quais a meninaé transportada para cenários diversos,como a Guerra do Vietnã, e até para abancada do Jornal Nacional, ao lado deWilliam Bonner. Coisas da internet...UMA PINTURA

TRISTEZA

DANÇA MEU BOI

Page 16: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

16 Jornal da ABI 355 Junho de 2010

BRENO FORTES

O repórter-fotográfico se fazpresente onde a notícia está

AS FOTOSFORA TODOSManifestantes de diversos grupos e partidospolíticos em protesto contra a corrupçãoe contra o Presidente Lula, na Esplanadados Ministérios, em agosto de 2005.

PAZ NA TERRASoldados da Onu tentam mantera ordem próximo a um posto dearmazenamento de mantimentos dainstituição, em Porto Príncipe, no Haiti.

GRAÇAS A DEUSUm manisfestante anarquista numapasseata em Brasília.

SOTERRADOSResgate dos operários que faziamimpermeabilização em bloco residencialna Quadra 215 Norte.

ANTIBOMBA NO CONGRESSOPolicial do esquadrão antibomba nogramado do Congresso após explosão deuma mala suspeita reconhece o material.

LAÇOS DE TERNURAFlagrante de um caça da Força AéreaBrasileira durante manobra deabastecimento no ar.

UM ESTOURO!Show do Charlie Brown Jr no BrasíliaMusic Festival, em setembro de 2005.

CASAL 20Este é um flagrante de um jacaré comuma tartaruga nas costas fotografado noZoológico de Brasília.

Muitos são os flagrantes locaisfeitos por Breno Fortes,

publicados nas páginas doCorreio Braziliense. Outros vêmmais de longe, como do Haiti,

país arrasado por um forteterremoto no início deste ano.

Diz a máxima que cabe ao bom jor-nalista fazer-se presente onde a notíciaestá. Por isso, em janeiro deste ano, Bre-no Fortes Sales não pensou duas vezes.Impactado, como todo o planeta, pelatragédia do terromoto que devastou oHaiti, arrumou sua malas rumo ao país.Armado de sensibilidade, e de máqui-na em punho, fez aquilo que sabe fazerde melhor: fotos. Os flagrantes impac-tantes, e por vezes dramáticos, dessaviagem foram publicados seguidamentenas páginas do Correio Braziliense, veí-culo no qual trabalha. Uma pequenaparte ilustrativa deste material pode serrevista aqui, nesta edição.

Formado em jornalismo em 2003,Breno atua na profissão de fotojorna-lista desde então. Ainda durante a fa-culdade, começou a fotografar, ativida-de que o encantava desde criança. Pro-fissionalmente, porém, estreou nomesmo ano em que se formou, quan-do foi contratado pela Fotografia dojornal no qual trabalha até hoje. “Naverdade, comecei lá como estagiário,em 2001, e passei por vários setores.Quando me formei, sabia que minha

vocação era a fotografia. Fiz, então,uma espécie de estágio na seção, até serefetivado como profissional. E tudovem dando certo até agora”, conta.

Ao ver sua primeira foto publicada,Breno Fortes, é claro, se emocionou.“Quando começamos em jornal nãopublicamos grandes coisas, principal-mente porque ainda não temos umahistória. Lembro-me bem que a primei-ra foto que publiquei foi de uma mu-lher que estava fazendo doação paraum banco de leite de Brasília. Mas, ain-da assim, de forma despretensiosa, vermeu nome publicado ali foi um gran-de prêmio para mim”, recorda-se ele,

que mantém seu portfólio atualizadono www.brenofortes.com.

No currículo, Breno acumula passa-gens por uma agência de publicidade euma empresa de informática, na qualdava cursos, além do Departamento deRecursos Humanos do próprio CorreioBraziliense. Embora relativamente nova-to na profissão, com menos de uma dé-cada de estrada, diz que já cobriu mui-tos protestos, manifestações do MST,rebeliões e incêndios, entre outros acon-tecimentos que lhe renderam boas fotose capas. “No fotojornalismo não temosa oportunidade de repetir uma mesmasituação. O fato acontece ali na sua fren-

te, e pronto. Por isso, um clique certeiroé a grande busca do fotógrafo. No entan-to, é também imprescindível que o pro-fissional seja bem informado e tenhaótimo conhecimento de informática, desoftwares como o Photoshop, já que,hoje, a fotografia é 100% digital nos prin-cipais jornais do País e do mundo”.

Entre as coberturas das quais já par-ticipou, Breno Fortes recorda-se de umapassagem curiosa ao ser pautado paraum episódio factual. “Histórias interes-santes sempre ocorrem nesses casos.Mas, pelo fato de eu ter alguns cursosde primeiros-socorros e experiêncianessa área, fui fotografar um acidente

PAZ NA TERRA

FORA TODOS

Page 17: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

17Jornal da ABI 355 Junho de 2010

de trânsito e, quando a ambulância doCorpo de Bombeiros chegou, o bombei-ro, que me conhecia, pediu minha aju-da para atender as vítimas. Não tivecomo negar. Adivinha o que aconte-ceu? Perdi a foto”.

Breno, que trabalha 100% com equi-pamento digital, diz que a fotografia sóganhou com a digitalização. “Minhapreferência é pelas câmeras da Canon,pois nelas as cores ficam mais bonitas”,declara. Embora diga que os riscos para

o fotógrafo são maiores em manifesta-ções, quando as pessoas tentam que-brar a máquina ou mesmo agredir osprofissionais de imprensa, Breno, cer-ta vez, foi ameaçado por um Deputa-do Federal, cujo nome prefere não re-velar. “Eu o flagrei jogando bingo emuma casa de jogos em Brasília, em ple-no horário de expediente no Congres-so Nacional. Na época, ele falou que,se a foto fosse publicada, ele poderiadesaparecer comigo e com a repórter”.

ANTIBOMBA NO CONGRESSO

GRAÇAS A DEUS

SOTERRADOS

CASAL 20

LAÇOS DE TERNURA

UM ESTOURO!

Page 18: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo
Page 19: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo
Page 20: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

20 Jornal da ABI 355 Junho de 2010

DANIEL KFOURI

A originalgenialidade dobrasileiro naWorld Press

Photo deste anoO 12 de maio é significativo na vida

do fotógrafo Daniel Kfouri. Contudo,em 2010, essa data teve um sabor pralá de especial. Além de completar 35anos, recebeu, exatamente neste dia, anotícia de que foi o terceiro colocadona World Press Photo, na categoriaEsportes e Ação, com sua foto do ska-tista, uma das reproduzidas nesta edi-ção. Detalhe: na edição deste ano, cujaexposição esteve em cartaz em junho,na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, elefoi o único brasileiro presente. Consi-derado o mais importante prêmio in-ternacional de fotojornalismo, o World

Daniel Kfouri, há apenasnove anos na profissão defotógrafo, já acumula boa

dose de experiência. E a honrade estar em destaque nomais importante prêmio

internacional de fotojornalismo.

Press expôs, em sua 53ª edição, umaseleção das melhores fotos de 2009,publicadas em veículos de 23 países. São162 imagens, de 63 fotógrafos. E Dani-

el diz-se honrado de estar entre eles.“Estou super feliz por se tratar do

meu primeiro prêmio internacional.Recebi a notícia por telefone, pelo meuamigo Mauricio Lima, fotógrafo daAFP em São Paulo, que, por sinal, sem-pre acredita e incentiva o meu traba-lho. Fiquei muito contente em ser re-conhecido internacionalmente. A sen-sação é ótima, e não poderia ser dife-rente... Quero, agora, dar continuida-de aos meus projetos, sem me deixarlevar por esse reconhecimento momen-tâneo. E trabalhar mais, ter mais opor-tunidades de publicar o meu trabalho

de maneira íntegra, o que infelizmen-te é raro de acontecer no mercado edi-torial brasileiro. No Brasil, você não vênenhum veículo que tenha uma lingua-gem apurada, como alguns dos veícu-los mais influentes do mundo, como oseuropeus e americanos. As pessoas pre-cisam ser mais incentivadas a refletirquando vêem uma imagem, do mesmomodo que refletem quando lêem umtexto”, afirma.

São severas as críticas feitas porDaniel Kfouri ao mercado nacional.“Fiz esse trabalho para mim mesmo.Não foi para nenhuma revista, nenhum

GATOS ELÉTRICOS

DEUS É FIEL

A FOTO PREMIADA

Page 21: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

21Jornal da ABI 355 Junho de 2010

AS FOTOS

jornal. Se não fosse por mim, pela mi-nha iniciativa, não teria conseguidoesse prêmio. Aliás, acho que essa é amaior dificuldade encontrada no coti-diano da minha profissão: encontrarpublicações interessantes e interessa-das, que se preocupem em fazer umafotografia honesta, criativa e diferen-ciada. Hoje, o fotojornalismo está des-valorizado nos jornais – o que temoscomo produto é muito pobre. Os fotó-grafos são muito bons, mas os donosde jornais não querem uma fotografiade qualidade. Querem o óbvio, tratamo leitor com se ele fosse burro”, dispa-ra ele, que, fã confesso dos registros empreto-e-branco, lista na condição demestres nomes como Sergio Larrain,Josef Koudelka, Gilles Peress, GueorguiPinkhassov e Paolo Pellegrin.

Apesar de relativamente jovem – deidade e de profissão, pois trabalha comfotografia há apenas 9 anos –, Danieljá soma boa dose de experiência. Tra-balhou como freelancer por dois anos

A FOTO PREMIADAO skatista Bob Burnquist tentacompletar manobra durante a sessãode treinos livres para o evento daMegarampa no Anhembi em SãoPaulo, no final de 2009.

GATOS ELÉTRICOSJardim Pantanal, Zona Leste da SãoPaulo. em 2001.

DEUS É FIELTorcida do Corinthians em Barueri, 2008.

FENÔMENO NA ÁGUARonaldo jogando no Pacaembu peloCorinthians, em São Paulo, em 2009.

SOB O CÉU DE SÃO PAULOMorador de rua dorme na estrada, 2003.

DESCALÇOHomem assassinado na periferia deSão Paulo. 2007.

FENÔMENO NA ÁGUA

SOB O CÉU DE SÃO PAULO

DESCALÇO

Page 22: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

22 Jornal da ABI 355 Junho de 2010

AS FOTOS

para algumas revistas da Editora Abril,tais como Contigo e Placar, e pelo mes-mo período, e na mesma situação, naFolha de S.Paulo. “Também fiz algumaspautas especiais para a France Presse,Associated Press e Getty Images. Nosúltimos dois anos tenho trabalhadocomo freelancer para a Nike, cobrindoeventos esportivos. Atualmente faço‘frilas’ para a Nike, a revista Placar eestou começando a fazer trabalhospara a Poder”, conta ele, que já parti-cipou de exposições coletivas na Esta-ção Júlio Prestes, na Casa da Fotogra-fia da Fuji e no Senac. Em 2007, des-tacou-se no cenário internacional pelaprimeira vez: foi um dos 13 brasilei-ros selecionados para expor na Foto-teca de Havana, em Cuba.

A primeira manifestação estética deDaniel tomou forma na área de designgráfico, na qual trabalhou por cincoanos. “Após fazer algumas fotos, sentiuma alegria muito grande e resolvi vi-rar fotógrafo. Ficar o dia inteiro nafrente do computador nunca mais,troquei o escritório pelas ruas. Foto-grafar é sempre marcante. Não inte-ressa a grandeza da pauta ou do even-to. O que interessa é você ter sempreprazer em fotografar.”

Quando questionado sobre o que éuma boa foto, não vacila. “É aquela quefaz você pensar e refletir sobre ela. Otrabalho de um repórter-fotográfico éespecial quando ele consegue ser verda-deiro diante de tanta mediocridade naimprensa brasileira”, diz Kfouri, que, senão fosse fotógrafo, gostaria de ser pin-tor. Por fim, ele define seu trabalho, queparece estar sendo cada vez mais reco-nhecido: “Estou tentando ser original.”

TÁ LIMPOGari limpa o Túnel Airton Sena, em São Paulo.

FANTASIARainha da bateria no Carnaval de São Paulo de 2008.

RATOSPoliciais em frente ao Edifício Prestes Maia, nacapital paulista, ocupado pelo Movimento dosSem-teto em 2007.

PELAS JANELASIncêndio numa favela em São Paulo, 2007.

DANIEL KFOURI

TÁ LIMPO FANTASIA

RATOS

PELAS JANELAS

Page 23: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

23Jornal da ABI 355 Junho de 2010

Considerado por muitos omaior documentarista doBrasil, Evandro Teixeira

também empresta seu talentoa projetos especiais, comoo ensaio sobre Vidas Secas,

clássico de Graciliano Ramos.

Em 55 anos de atividade profissio-nal, Evandro Teixeira já expôs em vá-rios países e documentou de tudo, dedesfiles de moda a Golpes Militares –casos do Brasil, em 1964, e do Chile, em1973. Além de fotógrafo, é também umviajante. Circulou pela Europa em ju-nho de 2010, onde realizou exposiçõesna Itália e na Suíça. O trabalho emquestão, em tempo de Copa do Mun-do, era o esporte. Em Futebol, a Paixãodo Brasil, uma edição feita a pedido doClube dos 13 – entidade que agrega osmaiores times do País – lançou seu olharsobre as partidas. Não aquelas televisi-onadas, com jogadores milionários, ouimpecavelmente vestidos em uniformesrepletos de patrocinadores. “Fotografei,no interior do Brasil, o futebol em seuestado mais puro e ingênuo, no campo,às vezes, de terra batida. São as popu-lares ‘peladas’, por vezes improvisadas”,conta ele, que só lamenta que tal edição,feita sob encomenda, seja basicamen-te distribuída a associados do patroci-nador. Estará disponível em poucas li-

O olhar muito particularsobre uma obra universal

vrarias, o que certamente dificultará oacesso do leitor comum.

Não é de hoje que este fotógrafo doJornal do Brasil, tão acostumado a cli-car as ruas, dedica-se a projetos. Umdos mais importantes e recentes, data-

do do final de 2008, mas que está pres-tes a ganhar novo fôlego com uma se-gunda edição, é seu trabalho de ilustra-ção para uma edição especial de VidasSecas, de Graciliano Ramos. São desteensaio primoroso as imagens reprodu-

AS FOTOS

No alto, a cadela Baleia passeia pelosertão de Minador do Negrão, emAlagoas. Acima, visão da terra natalde Graciliano.

EVANDRO TEIXEIRA

Page 24: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

24 Jornal da ABI 355 Junho de 2010

zidas aqui. “O convite me foi feito, naépoca, pela Luciana Villas-Boas, da Edi-tora Record. Ela foi tão simpática, tãogentil, e me deu tanta liberdade, quenão tive como recusar, e acabei topan-do, o que me obrigou a abrir mão dacobertura das Olimpíadas de Pequim”,recorda-se. Mas, confessa Evandro,havia um outro motivo, bem mais for-te, para se encantar pela proposta.

“Sou fã do livro de Graciliano Ra-mos, e também do filme homônimo,adaptado e dirigido pelo Nelson Pereirados Santos. Tenho, inclusive, uma có-pia dele em casa. Como sempre acon-tece, queriam as fotos pra ontem. Relio livro, assisti novamente ao filme eviajei, durante três meses, por Alago-as e Pernambuco, fazendo uma espéciede reconstrução, passando por lugarescomo Quebrangulo/AL, onde o escri-tor nasceu, no local onde estudou, pelacasa de parentes... Na verdade, este éum tipo de trabalho no qual o ritmo eo foco são bem diferentes de fotogra-far um quebra-quebra na Cinelândia,por exemplo. É preciso que você tenhatoda a história e os personagens nacabeça. E construa uma espécie de ro-teiro próprio, com as referências quevocê precisa identificar e registrar”,conta Evandro, que garante não ter tidodificuldades em realizar o ensaio.

Talvez pelo fato de, na década de1990, ter morado, por quatro anos, nointerior da Bahia, com objetivo similar.Traduzir, em imagens, um dos maismarcantes episódios históricos do Bra-sil. “O livro acabou saindo em 1997,

exatamente como parte das celebra-ções pelos 100 Anos da Guerra de Ca-nudos”, lembra Evandro que, no traba-lho sobre a obra de Graciliano Ramos,utilizou a mesma técnica empregadana reconstituição da atuação de Antô-nio Conselheiro. “É claro que ambos osensaios foram feitos em preto-e-bran-

co. O clima das histórias pedia isso. Nocaso de Graciliano, o próprio título dolivro induz a essa escolha: Vidas Secas,isto é, algo pesado, rude, repleto deamargura e desesperança, exatamen-te como a paisagem do sertão”, expli-ca ele, que revela que gostaria de ilus-trar com sua máquina e sensibilidade

AS FOTOS

Na foto maior, sertão dePalmeira dos Índios.Acima, lavadeiras no RioSão Francisco, em Pão deAçucar. As duas cidadesficam em Alagoas.

EVANDRO TEIXEIRA

Page 25: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

25Jornal da ABI 355 Junho de 2010

outros temas clássicos, como GrandeSertão: Veredas, de Graciliano Ramos,e a saga de Lampião.

Nascido em Jequié, no interior daBahia, quando criança Evandro sonha-va ser escultor. Também gostava debrincar de cinema e, inspirado numprimo que foi convocado para a Segun-da Guerra, pensou em seguir a carrei-ra de aviador militar. Passou a apreci-ar o fotojornalismo em 1954, pela re-vista O Cruzeiro, que considera a gran-de escola da reportagem fotográficabrasileira. “Ainda morava no interior daBahia e ficava impressionado com otrabalho de seus grandes fotógrafos,principalmente Jean Manzon e JoséMedeiros. Foi inclusive um ensaio so-bre mães, feito pelo Medeiros, quedepois veio a ser meu professor, que metransformou definitivamente numapaixonado pela fotografia. Depois,com o Nestor Rocha, tio do cineastaGlauber Rocha, aprendi os primeirossegredos da profissão”, lembra ele.Bom, o resto é história. Imagens. Deuno que deu. Aluno aplicado, esse.

AS FOTOS

No alto à esquerda, um vaqueiro de cabras e, abaixo, um ex-vaqueiroda família Graciliano, com 103 anos. Ambos do sertão de Buique,em Pernambuco. Acima, o sossego do sertão Miçosa, em Alagoas.Ao lado, Dona Rosinha de Santana de Ipanema, em Alagoas.

Page 26: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

26 Jornal da ABI 355 Junho de 2010

É na batalha diária daGeral de O Globo que

Fernando Quevedo faz seuscliques. Mas, é em ambientes

exóticos, como a savanaafricana, que ele diz atingir a

plena realização com seu ofício.

Apesar de dedicar-se à agitada roti-na de estresse da selva urbana, Fernan-do Quevedo não esconde que seu grandebarato, como fotógrafo, é clicar a natu-reza. É para cenários deslumbrantes,como a savana africana, que este gaú-cho, nascido em Porto Alegre em 21 demarço de 1956, corre em busca de seusmelhores registros. Uma atração porpaisagens e animais exóticos que se ma-nifestou desde cedo, ainda na infância.

“Tinha uns 8 ou 9 anos quando meinteressei por livros de caçadas na Áfri-ca e na Índia. Via as fotos de leões etigres e já começava a sonhar com gran-des viagens, nas quais eu tiraria as fo-tos. Aos 12, comprei minha primeiracâmera, uma Kodak Instamatic, e fuidireto para o Zoológico do Rio, fotogra-far os bichos. Eram dias memoráveis!Eu lá, em frente às jaulas das feras,aguardando um bom instantâneo.Sempre sonhei viver no mato, no meiodos animais e o mais longe possível dasgrandes cidades”, conta.

Com quase 22 anos de carreira, Que-vedo orgulha-se em dizer que O Globoé o jornal em que começou a trabalhar,em março de 1988, e onde trabalha atéhoje. Morando no Rio desde 1961, mer-gulhado de cabeça na editoria Geral,

No meio da selva urbana, umapaixonado por paisagens e animais

FERNANDO QUEVEDO

teve a oportunidade de fazer o registrode acontecimentos que marcaram ahistória da cidade – e até de municípi-os vizinhos. Um dos casos mais recen-tes, no qual atuou de forma marcante,foi a tragédia do deslizamento no Morrodo Bumba, no bairro do Cubango, emNiterói, ocorrido no dia 7 de abril des-te ano. Fernando Quevedo foi um dosprimeiros a registrar o trabalho das equi-pes de resgate no local.

AS FOTOSTERROR NA AVENIDA BRASILFlagrante do ônibus da 1001metralhado por traficantes na AvenidaBrasil. Todo mundo deitado no asfaltose protegendo, eu no meio do fogocruzado.

FOGO NO CAMELÓDROMOIncêndio do camelódromo da Centraldo Brasil, no Rio de Janeiro, que

aconteceu em 26 de abril de 2010.

LUTA PELA VIDANo bebedouro de Salvadora, emEtosha, tive a oportunidade de observara verdadeira luta pela sobrevivência.Depois de ficar segurando a zebrapela garganta por 20 minutos, a leoase cansou e deixou a presa escapar.Foi uma cena sensacional.

TERROR NA AVENIDA BRASIL

FOGO NO CAMELÓDROMO LUTA PELA VIDA

Page 27: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

27Jornal da ABI 355 Junho de 2010

Outras pautas significaram a expo-sição do próprio profissional a situa-ções de risco. “A pior pauta da minhavida foi a do ônibus da 1001 metralha-do por traficantes na Avenida Brasil.Todo mundo deitado no asfalto se pro-tegendo, e eu ali, no meio do fogo cru-zado... Não gostei nadinha da experi-ência”, conta ele que, ao longo de maisde duas décadas de serviços prestadosao O Globo, teve seus momentos deglamour, embora sem muito entusias-mo. “Também já registrei o mundo dosastros e estrelas para a Revista da TV,na década de 1990. Posso garantir quefotografar celebridades é uma das pau-tas que, digamos, menos me apetece.Tomei muito chá-de-espera. É um tra-balho estressante e cansativo”.

Sem titubear, Quevedo escolhe areportagem sobre hotéis na selva ama-zônica, em 1990, como o trabalho maisprazeroso de sua carreira. Tendo Aní-bal Philot, Editor de Fotografia de OGlobo, já falecido, como ídolo, Fernan- AS FOTOS

O PAPA E O POVOQuando o Papa João Paulo II estavainternado em estado grave, pessoasem várias partes do mundo seuniram em orações pedindo seupronto restabelecimento. Essa fotofoi em um centro religioso noFlamengo, Zona Sul do Rio.

PARAÍSO AQUÁTICOExistem várias atrações ecológicasna região de Bonito, em Mato Grossodo Sul, entre elas três flutuações emrios diferentes. Uma das maisfamosas é a do Rio Baía Bonita,onde esta foto foi feita: um passeiode flutuação no aquário natural.

BEBEDOUROEsta foto das zebras no bebedourode Okaukuejo, no Parque de Etosha,na Namíbia, foi tirada em agosto de2008. Este é um dos lugares maisfantásticos para se observar a vidaselvagem, incrível mesmo!

CAMINHADAElefantes ao pôr-do-sol no ParqueChobe, em Botswana, paraíso paraesses paquidermes, que encontramali um mundo extenso de paz etranqüilidade.

do também destaca os profissionais daNational Geographic Magazine e aindaMichael Nichols, Carsten Peter, ChrisJohns e David Allan Harvey. “Estes são,para mim, os maiores mestres da ima-gem e eternas fontes de inspiração paratodos os fotógrafos do planeta”.

Quevedo, vejam só, formou-se En-genheiro Civil, especializado em Cál-culo Estrutural, até que a Matemáticacedeu lugar aos cliques. No último anoem que atuou como engenheiro, em1985, numa empresas de produtos deimpermeabilização, acabou fazendotambém as fotos do catálogo dos no-vos produtos a serem lançados. Atéque, em 1987, decidiu mudar de pro-fissão, viajando para a África pela pri-meira vez. “Fiquei quatro meses visi-tando os grandes parques do Quênia eda Tanzânia, considerados a verdadeirameca dos fotógrafos da vida selvagem”.

BEBEDOURO

PARAÍSO AQUÁTICO

O PAPA E O POVO

CAMINHADA

Page 28: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

28 Jornal da ABI 355 Junho de 2010

AS FOTOS

COM UMA ONDA NO MAREm 1992, fiz muitas pautas de moda para ocaderno Ela e para o extinto Jornal da Família,de O Globo. Tenho saudades daquela época emque cada saída era um desafio para se voltar àRedação com boas fotos, pois o tempo eracurtíssimo e a exigência do Philot, enorme!

VILAS DE PALHAOs habitantes do Estreito de Caprivi, na Namíbia,usam a palha para quase tudo: para fazer o tetodas casas, muros, mesas, camas, etc. Éimpressionante, ao longo da estrada, a quantidadede pequenos vilarejos onde as construções sãoessencialmente feitas desse material.

O ELEFANTE E AS GIRAFASFlagrei as girafas e o elefante no entardecer noParque Chobe, em Botswana. Nunca vi tantoselefantes em toda a minha vida como ali, ondeestima-se que vivam 40 mil desses animais.

PERIGO SUBMERSONum fim de dia no Rio Khwai, em Botswana,somos observados por um hipopótamo, animalresponsável pelo maior número de acidentesfatais com seres humanos em toda a África.

De volta ao Brasil, começou a vendermatérias para a extinta Revista Geográ-fica Universal e para o Caderno de Tu-rismo, do próprio O Globo, para o quallogo foi convidado como efetivo, pelomestre Anibal Philot.

Entre 1995 e 1996, Quevedo morouum ano e meio no Quênia, onde fezuma exposição na capital Nairóbi. Alidiz ter passado um dos períodos maisfelizes de sua vida. “No ambiente sel-vagem sinto o meu espírito livre e namais completa paz. Meu sonho semprefoi morar no interior da África, tendocomo vizinhos apenas leões e elefan-tes”, diz ele, que aponta os segredo parauma boa foto. “O fotógrafo tem queaprender o funcionamento do proces-so. Aí fica mais fácil executar uma idéia.Não adianta ter uma sacada genial sea sua bagagem técnica não permiteexecutá-la. Gosto das fotos noturnas,no lusco-fusco ou em situações difíceisde luz. Quando você acerta, fica umaimagem atrativa para quem a vê”.

O ELEFANTE E AS GIRAFAS

COM UMA ONDA NO MAR

VILAS DE PALHA

PERIGO SUBMERSO

FERNANDO QUEVEDO

Page 29: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

29Jornal da ABI 355 Junho de 2010

Marizilda Cruppe, deO Globo, mostra suas fotos maisrecentes, ao mesmo tempo em

que fala da experiência defazer parte do júri da World

Press Photo deste ano.

41 anos de idade, 17 de profissão.Esses são números iniciais da rápidaapresentação do perfil de MarizildaCruppe. Contudo, numeroso mesmoé o volume de atividades às quais sededica. Além de O Globo, jornal ondeiniciou a carreira e no qual trabalha atéhoje, na dominical Revista O Globo,atua no EVE Photographers, que reúnefotógrafas da África do Sul, Brasil, Es-panha, Geórgia, Irã e Tailândia. Nosúltimos cinco anos, os projetos do EVEforam exibidos e publicados na Ásia,Europa e Estados Unidos. Marizildacolabora com a Trip e a TPM, o Gre-enpeace e o Comitê Internacional daCruz Vermelha. Como se já não bastas-se para lotar sua agenda, este ano foirecrutada para outro compromisso – deextrema responsabilidade.

Marizilda é uma das juradas da WorldPress Photo – prêmio internacionalconsiderado o mais importante domundo, e cuja exposição esteve, no mêsde junho, em cartaz no Rio. “O convi-te foi feito por Michiel Munneke, di-retor da Fundação WPPh, pela indica-ção do fotógrafo e co-fundador daagência VII, Gary Knight, presidentedo júri anteriormente”, conta ela, queexplica como se dá a avaliação do ma-terial. “O julgamento é dividido emdois rounds, com dois grupos diferen-tes de jurados. Neste ano, o primeiroround foi dividido em quatro júris es-pecializados – categorias Notícias eDocumentários, Esportes, Natureza eRetratos. Fiz parte do grupo da primeiracategoria, no primeiro round, juntocom outros quatro profissionais. Nosreuníamos pela manhã e durante todoo dia víamos as fotos projetadas em umtelão, numa sala escura”, descreve.

Este ano, foram 101.960fotos inscritas, de 5.847fotógrafos, representan-do 128 nacionalidades. Éo mais global dos concur-sos. Diante de tamanhadiversidade, o que maisteria surpreendido Mari-zilda? “A quantidade defotos com porcos do mun-do todo”, acha graça ela.

Uma brasileira no júri queelege os melhores do mundo

MARIZILDA CRUPPE

AS FOTOS

TRANSPOSIÇÃONa margem do Rio São Francisco,um cão observa o pescador seafastar em seu barco.

A ESPERAUma mulher e sua filha aguardamatendimento num hospital naperiferia de Maputo, Moçambique.

TRANSPOSIÇÃO

A ESPERA

Page 30: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

30 Jornal da ABI 355 Junho de 2010

AS FOTOSLOTAÇÃOCarceragem superlotada da Polinterdo Grajaú, Rio de Janeiro.

A TODO GÁSMais uma foto sobre a população quevive às margens do Rio São Francisco,esta em Xique-Xique, Bahia.

MOVIMENTOAcampamento do Movimento dosTrabalhadores Sem Terra próximo aJuazeiro, na Bahia.

SOB CHUVAIndígena Parakanã se banha no RioXingu, na reserva dos Apyterewa, Pará.

RETRATOWejo Kayapo, índia que vive nareserva dos Capoto Jarina, Pará.

A TODO GÁS

MOVIMENTO

LOTAÇÃO

SOB CHUVA

RETRATO

MARIZILDA CRUPPE

Page 31: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

31Jornal da ABI 355 Junho de 2010

“Outra coisa, que não chegou a ser umasurpresa, foi constatar que a edição éuma dificuldade universal. É difícil ofotógrafo conseguir editar bem o pró-prio trabalho. Todos os grandes even-tos de 2009 estavam lá representados,mas tive a impressão de ter visto algu-mas fotos publicadas que não foraminscritas. Fotojornalistas nem sempresão organizados o suficiente para ins-crever suas fotos em concursos”, la-menta.

E quanto à participação brasileira?Vale lembrar que, na edição deste anoda World Press Photo, apenas um fotó-grafo verde-amarelo – Daniel Kfouri,também retratado nesta edição – con-seguiu emplacar uma foto na seleçãomundial. “Comparando com nossosvizinhos latino-americanos, a nossaparticipação ainda é pequena. Haviamuitos trabalhos sobre o Brasil feitospor estrangeiros. A participação dosbrasileiros ainda é maior em singles doque em histórias. De qualquer forma,me sentia orgulhosa cada vez que reco-nhecia o trabalho de um compatriota”.

E como foi a experi-ência de julgar fotos decolegas depois de tan-tos anos no mercado?“Quem já ajudou a edi-tar as fotos de algumamigo sabe que é maisfácil olhar o trabalhodo outro do que o pró-prio. É preciso desape-gar-se para editar bem.Como exercitar o desa-pego com as própriasfotos e as lembranças,boas ou más, do mo-mento do clique embu-tidas nas imagens? Jul-gar é editar. E sempre émais fácil fazer issocom as fotos dos ou-tros”, diz ela que, se porum lado, considera alar-mista a polêmica tesedefendida por alguns,de que o fotojornalismocaminha rumo à extin-

ção, por outro acha que mudanças e cor-reções de rota são, de fato, necessárias.

“O factual está sendo cada vez maisregistrado por amadores e, neste caso,o que importa é estar na hora certa, nolugar certo, independente da qualidadeda câmera. Os jornais e revistas, de for-ma geral, não apenas os fotojornalistas,deveriam pensar em uma coberturamais reflexiva do que descritiva. A in-ternet e a tv cobrem tudo em tempo real.Logo, os jornais e revistas que saem nodia seguinte deveriam refletir sobre ascausas e soluções, e não apenas descre-ver os fatos. Para isso, precisamos supe-rar obstáculos. A violência urbana é umdeles, um problema para todos os cida-dãos, e também para os fotógrafos. Osassaltos a profissionais têm se torna-do freqüentes. No último mês soube dedois casos, só na Zona Sul do Rio: daPaula Kossatz, freelancer, e do BrunoDomingos, da Reuters”.

IMENSIDÃO AZUL E BRANCAA vastidão silenciosa da Baíado Almirantado, na Antártica.

IMPACTO PROFUNDOO navio Ary Rangel enfrenta ondasde 5 metros no trajeto das IlhasDeception até a Baía doAlmirantado, Antártica.

GUERREIRORaoni, em novembro de 2009.

SOLIDÃOPingüins em Punta Plaza, tambémna Baía do Almirantado.

AS FOTOS

IMENSIDÃO AZUL E BRANCA

SOLIDÃO

GUERREIRO

IMPACTO PROFUNDO

Page 32: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

32 Jornal da ABI 355 Junho de 2010

Duas vertentes bem distintasajudam a explicar o perfilde atuação de Odair Leal,

de Rio Branco, Acre. A belezaplástica de paisagens diversase o foco na denúncia social.

Os livros têm sido veículos especi-ais de divulgação do trabalho de OdairLeal. Foi assim em 2009, quando lan-çou Sem Terras na Amazônia, álbumque reuniu 108 fotos em preto-e-bran-co que retratam o cotidiano de pessoasque lutam pelo direito a um pedaço deterra na região. E, em 2010, a histórianão será diferente. Com lançamentoprevisto para setembro, Entre o Céu ea Terra – No Topo do Mundo, vai reve-lar a beleza de cenários da Cordilhei-ra dos Andes, no Peru. Algumas des-sas fotografias podem ser apreciadas,em primeira mão, nesta edição do Jor-nal da ABI.

Odair Leal nasceu em 1975, em RioBranco. Com pouco mais de uma dé-cada de carreira, firmou-se como umdos melhores fotojornalistas do Acre.Começou como estagiário no jornal ASemana, em 1997. Trabalhou nos jor-nais A Gazeta, O Estado, O Rio Brancoe, atualmente, trabalha na assessoriada Assembléia Legislativa do Estado.Já colaborou com os jornais como aFolha de S. Paulo, Valor Econômico, O Dia,O Paraná, Correio Braziliense, A Críti-ca, Diário do Amazonas e WashingtonPost (EUA). Tem fotos publicadas naVeja e Época.

Questões sociais são preocupaçõesconstantes do fotógrafo, refletidas nassuas imagens. “Em nossa região, osíndices de miséria são alarmantes. Aspautas podem ser diversificadas. Já fizmuitas coberturas importantes nestesentido, sendo a mais arriscada para aFolha de S. Paulo, em 2000. Era umamatéria sobre prostituição infantil noAcre, e o motorista do táxi que nos le-vou até a fronteira nos relatou quemeninas se prostituíam na Bolívia. Isso

Um fotógrafo entre a belezado céu e as mazelas da terra

PELA JANELAEsta imagem, que saiu na Folha deS.Paulo, mostra o ciclista rompendoa água sobre a bicicleta.

PARA TURISTA NAVEGARLago Titicaca na cidade de Pune,barco feito com junco navegatranqüilo com turista.

AS FOTOS

ODAIR LEAL

PELA JANELA

PARA TURISTA NAVEGAR

Page 33: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

33Jornal da ABI 355 Junho de 2010

AS FOTOS

foi muito perigoso, pois estávamos emoutro país, a dez quilômetros de nos-

so território. Se fôssemosdescobertos, poderíamosser presos”.

A devastação da Ama-zônia é outro tema de des-taque. Para Odair, quem vêas imagens mais divulga-das da região não imaginaas tragédias e mazelas so-ciais que se escondem portrás daquela natureza exu-berante. “Por isso, tentomostrar as belezas dessaregião, mas também re-velo que aqui há um povoque sofre e que quer serfeliz. Adoro fotografar oreal, o cotidiano, clicar aspessoas que sentem napele o abandono ao qualforam submetidas pelospolíticos”. Em abril des-te ano, o Tribunal de Jus-tiça do Acre, na 12ª Edi-ção do Projeto Mais Arte,abriu espaço para duasexposições do fotógrafo:Sem Terras da Amazônia ePovo Yawa.

Odair acredita que afotografia é uma arte que

depende da luz para existir. Mais queisso: ela exerce um papel fundamentalna História da humanidade. “Principal-mente a foto jornalística, que tem a

CRUZESEntidades ligadas aos direitoshumanos aproveitaram ojulgamento de membros doEsquadrão da Morte, em 2000, parachamar a atenção da Justiça e dasociedade para as barbáriespraticadas pelo grupo, formado emsua maioria por policiais. Em cadacruz lê-se o nome de uma vítima.No fundo, fotografias que provocamsensação de desterro.

CAMINHANDOO andarilho trafega pela BR-364, notrecho entre Bujari e SenaMadureira, antes de o asfalto chegar.

A PRAÇA É NOSSADois cães repousam indiferentes napraça. No banco, uma indigentetambém descansa.

DESCASOA classe mais pobre sempreencontra dificuldades para seratendida. Em Rio Branco flagrei odescaso com a anciã que aguarda avez de conseguir uma consulta numdos principais hospitais do Acre.

CRUZES

CAMINHANDO

A PRAÇA É NOSSA

DESCASO

Page 34: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

34 Jornal da ABI 355 Junho de 2010

AS FOTOS

A QUEDAFotografei o momento exato emque um ciclista, ao se aventurarnuma rua esburacada, viroumais uma vítima do descasodo Poder Público. Antes dele,um ancião havia caído durantea noite, fraturando uma perna.

PARABÓLICAA vida moderna já chegou apraticamente todos os pontosdo mundo. Mas em algumaslocalidades ela chega sobreduas rodas. Flagrante em SenaMadureira, terceiro maiorMunicípio do Acre.

DESABRIGADOSEm 2006, logo após a grandeseca na região da Amazônia,

Rio Branco foi atingida porchuvas torrenciais. Mais de30 mil famílias ficaramdesabrigadas. Os desalojadosforam levados para galpõesutilizados como abrigos.

NA CONTRAMÃOMotoristas e cadeirantesdisputam espaço nas ruas deRio Branco. Há completa faltade estrutura para o trânsito deportadores de necessidadesespeciais, população deincidência significativa nacapital do Acre.

TRISTEZAO consumo do álcool temcolocado à margem dasociedade centenas de cidadãos.

A QUEDA PARABÓLICA

DESABRIGADOS

NA CONTRAMÃO

TRISTEZA

ODAIR LEAL

Page 35: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo

35Jornal da ABI 355 Junho de 2010

AS FOTOS

missão de denunciar a verdade dos fa-tos que acontecem no mundo. O repór-ter-fotográfico atua como uma espéciede juiz ou advogado, denunciando asmazelas da vida. É emocionante estarpresente nos fatos que podem marcara História e registrá-los, para que as fu-turas gerações possam ter um outroolhar sobre os acontecimentos que,daqui a algum tempo, serão parte dopassado”.

Ele acredita que as novas tecnologiastornaram o fotojornalismo uma ativi-dade mais prática e ágil. E cita a foto-grafia digital, as novas formas de tra-tamento e o envio de arquivos por e-mail – exatamente como foi feito nocaso das imagens publicadas nestaedição – como avanços que se tornaramindispensáveis à profissão. Para quemestá chegando ao mercado, ele dá umadica. “No cotidiano da reportagem fo-tográfica, a sensibilidade e a sorte sãoelementos que fazem a diferença. Mas,é claro que amor, empenho, determi-nação e paciência são indispensáveis.O fotógrafo deve procurar sempre umângulo novo, um diferencial, porqueem nossa profissão somente se sobres-sai quem tem a capacidade de mostraros fatos de uma maneira que ninguémainda foi capaz de registrar. É precisotreinar um olhar que fuja do óbvio”,resume.

ENCHENTENo detalhe da foto, publicada no site do Uol, aplaca que identifica a rua alagada: Barra Verde.

A DONA DO GATOO cachorro é o melhor amigo do homem? E o gato?

EQUILÍBRIOA imagem do garoto caminhando sobre o parapeitoque protege os transeuntes da Rua MarechalDeodoro, em Rio Branco, onde ocorredesbarrancamento, mostra que para sobreviver àsvezes é necessário começar a fazer malabarismosainda muito cedo.

EQUILÍBRIO

A DONA DO GATO

ENCHENTE

Page 36: Jornal da ABI 355 - Especial Fotojornalismo