resenha crítica - projetos de esperança

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FATERJ - FACULDADE TEOLGICA DO RIO DE JANEIRO

Resenha Crtica: Projetos de Esperana Meditaes sobre Gnesis 1 11.

Felipe Diniz Pires de Souza

Rio de Janeiro maro de 2012.

FATERJ - FACULDADE TEOLGICA DO RIO DE JANEIRO

Resenha Crtica: Projetos de Esperana Meditaes sobre Gnesis 1 11.

Felipe Diniz Pires de Souza

Trabalho realizado em cumprimento das exigncias da disciplina de Teologia Bblica do Antigo Testamento, ministrada pelo Prof. Drando. Pr. Kenner Terra, no Curso de Convalidao de Crditos em Teologia.

Rio de Janeiro maro de 2012.

Sobre o autor Telogo e pastor luterano. Graduado em teologia pela Escola Superior de Teologia (1970), So Leopoldo/RS. Doutor em Bblia/AT pela Universidade de Heidelberg/Alemanha, com tese sobre O direito dos pobres (1974). Doutor honoris causa pela Universidade de Marburgo/Alemanha (2002). Em 1988, iniciou como professor do Programa de Ps-Graduao em Cincias da Religio/Universidade Metodista de So Paulo. Faleceu no dia 1 de maro de 2012 e concentrava suas pesquisas e atuao docente em Bblia/Antigo Testamento, principalmente em exegese e teologia bblica. Igualmente se dedicava arqueologia do Antigo Oriente e ao ugartico. Foi docente dos cursos de Teologia (Graduao Presencial), Teolgico Pastoral e de Especializao em Bblia na UMESP. Coordenou o projeto Bibliografia Bblia Latino-Americana e foi editor da Revista de Interpretao Bblica LatinoAmericana (Ribla). Tem no seu currculo a publicao de vrios livros, entre eles Histria de Israel, As monarquias no Antigo Israel, A terra no pode suportar suas palavras, Dignidade Humana e Paz, Dicionrio HebraicoPortugus e Aramaico-Portugus, esses dois ltimos junto com outros autores. Ttulo da Tese de Doutorado: O direito dos pobres no Antigo Testamento Obras Literrias SCHWANTES, M. . As monarquias no Antigo Israel - Um roteiro de pesquisa histrica e arqueolgica . 1. ed. So Leopoldo/So Paulo: Centro de Estudos Bblicos/ Edies Paulinas, 2006. 85 p. SCHWANTES, M. . Histria de Israel - 2 edio. 2. ed. Taubat: Faculdade de Teologia Dehoniana, 2004. 143 p. SCHWANTES, M. . A terra no pode suportar suas palavras - Ams 7,10. Reflexo e estudo sobre Ams. So Paulo: Paulinas, 2004. 206 p. SCHWANTES, M. (Org.) . Bibliografia Bblica Latino-Americana. 1. ed. Petrpolis e So Bernado: Editora Vozes e Editora UMESP, 2003. v. 1. 500 p. SCHWANTES, M. . Projetos de esperana - Meditaes sobre Gnesis 1-11. So Paulo: Paulinas, 2002. v. 1. 136 p. SCHWANTES, M. ; GARCIA, P. R. ; WHITAKER, F. . Dignidade humana e Paz Novo Milnio sem Excluses. 1. ed. So Paulo: Editora Salesiana Dom Bosco, 1999. 140 p.

SCHWANTES, M. . Dignidade humana e Paz - Novo milnio sem excluses. 1. ed. So Paulo: Editora Salesiana Dom Bosco, 1999. v. 1. 30 p. NELSON KIRST, ACYR RAYMANN NELSON KILPP; SCHWANTES, M. ; ZIMMER, R. . Dicionrio Hebraico-Portugus e Aramaico-Portugus. 10. ed. So Leopoldo/Petrpolis: Editora Sinodal/Editora Vozes, 1998. 305p. p. SCHWANTES, M. . Bibliografia Bblica Latino-Americana - Volume 8. 1. ed. Petrpolis - So Bernardo do C: Vozes - UMESP, 1998. v. 8. 572 p. SCHWANTES, M. . Historia de Los Orgenes de Israel - Aprender de Pueblos En Marcha Y En Alianza - Estudios Bblicos, 2. 1. ed. Quito/Equador: Editorial Tierra Nueva/Centro Bblico Verbo Divino, 1998. 128 p.

I Restam esperanas (Introduo) Neste captulo o autor faz uma defesa sobre a leitura da Bblia atravs da viso da esperana e traz um panorama sobre a maneira como a esperana trabalhada em algumas partes da Bblia, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Apresenta tambm que o principal foco de esperana bblica o mesmo que vemos hoje na populao pobre que oprimida por um sistema que devia favorec-los, mas que os jogam mais ainda para baixo dificultando acesso ao po, terra e vida digna. Entendo que esta uma leitura nova, como o prprio autor ressalta, mas que traz um novo ponto de vista a respeito da leitura do livro do Gnesis que o livro abordado pelo autor atravs da leitura da esperana. Entendo tambm que um diferencial observar desta maneira o texto bblico e que de fato abre-se um novo horizonte para abordagem teolgica. Com certeza esta leitura bblica se encaixa perfeitamente nas necessidades do homem, afinal a Bblia como a Palavra de Deus, tem o foco tambm em apontar para a natureza humana e suas necessidades. Haja vista que a mensagem da Bblia a esperana sim de uma vida eterna que vem atravs do Messias. Se de fato o que narrado no Gnesis so canes que trazem esperana em meio a uma realidade opressiva e que tais msicas mexem com o corao e a mente os fortalecendo ressaltando que apesar das circunstncias ainda existe a possibilidade de um futuro melhor, ento podemos afirmar que esta esperana os move, os fortalecem para o labor por um futuro melhor, um futuro onde suas expectativas sero alcanadas. Neste aspecto podemos dizer que apesar desta perspectiva a Bblia continua sendo lida e tida como a Palavra de Deus, uma vez que ainda gera esperana e mudana na vida das pessoas. Este tipo de leitura refora que se nos apegamos a uma esperana, ento tambm precisamos agir para alcana-la. O Doutor Milton Schwantes, chega a citar nas primeiras pginas que enquanto dominados e oprimidos pelos assrios, alguns se acomodaram aceitando a dominao e as coisas a que eram submetidos, enquanto outros no se conformavam e atravs destas msicas e poemas protestavam por seus direitos se utilizando de um mtodo mais subversivo, onde uma estrutura pode ser derrubada atravs de atos que

minem suas bases. Ainda sobre esta atitude subversiva e aliando a leitura pela esperana da Palavra de Deus, podemos observar e concluir ento que atravs destas atitudes Deus ensina o homem a lutar pelos seus direitos, pois todo homem tem direito a receber o que justo. Esta leitura ensina que para alcanarmos o alvo de nossa esperana precisamos nos mover sem nos conformar e nos moldar pelas circunstncias, pois enquanto um grupo grande se se deixava dominar deixando escapar suas esperanas, havia um pequeno grupo que ainda sonhava e lutava mantendo suas esperanas e atravs de sua sabedoria fortaleciam a esperana de todo povo. Devo confessar que ao finalizar este primeiro captulo me vi debatendo comigo mesmo em pensamento a respeito do que esta leitura poderia implicar. Ento tomo a liberdade de transcrever abaixo minhas inquietaes iniciais.

1. Ler o Livro de Gnesis atravs da leitura de esperana popular humana, no torna a Bblia em um livro de autoajuda apenas? No seria apenas ressaltar que o homem tem apenas necessidades temporais? 2. Gerar esperana atravs do que seriam recitaes poticas ou msicas sem a percepo do agir de Deus no deixa margem maior s pessoas defenderem a no existncia de Deus? 3. Essa leitura no leva a diminuir a Bblia a narrativas apenas do desejo, que pode ser utpico, de um mundo melhor ou ideal? Isto no seria to comum quanto esperana e o sonho que hoje qualquer ser humano tem de paz global?

Tais riscos em minha opinio so reais e necessitam de ateno, no entanto como havia dito entrei em debate comigo mesmo a respeito disto e entendo que esta leitura no diminui a Palavra de Deus e nem nega que a Bblia seja a Palavra de Deus, isto porque ainda que sejam palavras geradas pelo sofrimento e o desejo de alcanar um mundo melhor o que mantm viva as esperanas do povo hebraico, isto no invalida que tenha sido Deus quem colocou estas palavras na boca do povo escolhido, pois tais palavras geravam vida aos desanimados fortalecendo suas esperanas, os encorajavam a lutar e ainda traziam mudana queles que as ouviam. Os opressores podiam mudar seu agir atravs desta reivindicao. E somente Deus quem pode mudar o

corao do homem. A grande questo : Como levar as pessoas a entenderem que o Poder de Deus tambm simples e que um milagre muitas vezes pode vir atravs de algo comum como uma msica ou como um poema recitado por pessoas cuja nica esperana a promessa do Deus Vivo de que haveria um futuro diferente? Tal questionamento talvez seja o reflexo da necessidade de revermos a maneira como avaliamos Deus e suas atitudes. Em nosso consciente somente vemos Deus atravs de grandes feitos e esquecemos que para Elias o Senhor se manifestou atravs de uma brisa suave. Para encerrar, tal leitura nos mostra que o homem tem suas necessidades e cabe aos que meditam na Palavra de Deus perceber que ns temos responsabilidades como povo de Deus de agir e assim gerar mudanas que trazem esperana e certeza de que o Senhor tem olhado por ns. Entendo que uma boa leitura para a ps-modernidade onde os valores esto sendo trocados por coisas corriqueiras. Concordo com o ponto de vista abordado que a Bblia pode ser lida com esta viso, mas a usaria cautelosamente devido s possibilidades de questionamento destacadas acima que a meu ver so possveis. II Mos livres e cus limpos! (Gnesis 1,1 2,4a) Neste Captulo Schwantes (2009), continua a apresentao da leitura atravs da esperana. Ele apresenta o captulo 1 ao 2,4 de Gnesis como uma poesia, como verso e prosa e vai expondo as divises deste poema. Explica que existe uma demarcao que formam as estrofes. Qual seria a funo deste poema? Reivindicar direitos que um dia estas pessoas tiveram antes de serem espoliados e explorados pelos babilnicos. Schwantes tambm afirma que o panorama exposto por este poema retrata a realidade camponesa, pois a relao que se v nestes captulos claramente, segundo o autor, a do homem do campo com a terra cultivada. Os responsveis e portadores deste poema so aqueles que foram extraditados de sua terra natal e viviam no regime de escravido. A primeira reivindicao seria o direito ao sbado, pois isto era parte de seu costume, no entanto o descanso era anti opresso, ento como subjugar o opressor sendo

oprimido? Esse um outro ponto onde este poema apresentado como ferramenta para derrubar a autoridade. Atravs da histria do Gnesis eles desconstruam a imagem que os astros eram deuses, recitando que eram apenas instrumentos criados pelo Senhor para coordenar dias e noites e que sua luz sequer era sua. Agindo assim, enfraquecendo psicologicamente os opressores

descontruindo seus deuses, eles iam construindo a imagem de Deus como o soberano, criador e detentor dos astros, os quais eram os deuses dos babilnicos. Essa imagem construda atravs da apresentao da histria da criao que era declarada ou recitada pelos exilados em seus servios forados. Atravs da apresentao da histria da criao eles declaravam como o mundo foi construdo e por quem foi construdo, ento quando diziam que havia sido o seu Deus, eles enfraqueciam psicologicamente os opressores desconstruindo toda a liturgia dos opressores. Ao carem os dolos, era possvel o sbado ganhar seu lugar e com isso o direito dos pobres era estabelecido e ainda mostravam seu repdio pela idolatria praticada pelos babilnicos. Dentro deste panorama apresentado por Schwantes, fico a imaginar esta situao depois de anos lendo como uma narrativa da criao. No entanto, como acima eu tive resistncia com a metodologia. Embora como disse antes eu entenda a viso e at ache interessante com algumas ressalvas o que m e fez ficar resistente agora pode ter sido uma falha de interpretao de minha leitura na pgina 48, na finalizao do autor. Levantei alguns questionamentos anteriormente e mais uma vez eu tive a mesma sensao. A de que Deus na verdade s tem alguma participao atravs da construo feita pelos exilados. Me parece que como se Deus somente existisse ou fosse presente por causa da recitao deste poema. Por fim me deixa a impresso de que se Deus de fato existe nesta leitura, Ele fica alheio, pouco participativo, pois sua suposta presena apenas percebida pela narrativa. Como disse entendo a questo da esperana e da situao em que este povo enfrentou no exlio, sendo diariamente oprimido, verdadeiramente a viso e sentimento era de desolao, mas no posso concordar com a frase a seguir de Schwantes (2009), p.48Iluminado por estas duas lmpadas a do espao livre do descanso e a do repdio idolatria do imprio floresce o projeto clnico-

familial. Os camponeses sem dolos, no direito ao sbado e no acesso terra de roa, vo forjando, representando, prefigurando, simbolizando a imagem do Senhor libertador. (Grifo meu)

Como havia dito deixa-me a impresso que se h um Deus, foi criado por estes atravs de uma histria tradicional de sua cultura a qual aproveitaram para usar justamente para manterem vivas suas esperanas. Entendendo ainda a situao do exlio, onde muitos consideravam justo, pois o prprio autor no captulo 6 j diz que o que apresentado em termos de caminhos a serem seguidos so caminhos a serem escolhidos, a sensao que me passa que este povo no tinha qualquer relacionamento com este Deus o qual cantavam e recitavam a histria. Entendo a viso desta leitura, mas agora me posiciono com ressalvas. Creio que algumas coisas poderiam ser vistas com ateno at mesmo porque no h, como o autor mesmo disse, afirmar com certeza, apenas situar o que se passa com os matizes de alguns indcios. VI Projetos em conflito (Gnesis 2-3) Neste captulo, Schwantes (2009) mostra as razes pelas quais defende que nos captulos de 2 a 3 uma narrativa de um povo de roa, agricultor, um povo que sofre por no ter mais a terra a cultivar. Apresenta tambm o que seria o simblico e que representa as causas desta linguagem em cdigo. O que o autor apresenta que por conta da desobedincia o povo sofre as consequncias; havia leis e por no cumpri-las deixando de ser fiel pagavam por sua desobedincia. A partir da narrativa da queda em comparao com a criao do homem e mulher, so traadas as figuras simblicas que representam no contexto em que a leitura apresentada o porque da dor de parto, da inimizade entre homem e animais, enquanto que na leitura da percope anterior o relacionamento era de amizade e

companheirismo. O porqu de ao invs do prazer em cuidar da terra, passou a ter a dor e o cansao provenientes de onde antes vinha o prazer e o bem estar. A causa segundo o autor de tanto sofrimento onde antes havia o prazer foi o de abandonar as leis que havia para firmarem aliana e dar ouvidos ao que a serpente falava e orientava. A serpente era a causa deste prejuzo, mas como o texto teria muitos aspectos simblicos a serpente no o deixaria de ser. A serpente representava o governo, o domnio pela fora e o poder. O que ela

dizia provinha apenas de seus interesses em manter o poder e quem se curvava a seu discurso pagava por se submeter aos seus desejos e se colocar disposio de seus prazeres e para que isso acontecesse era necessrio permitir com que ela dominasse e impusesse suas condies. Nestes captulos, existe a condio de escolha de qual caminho tomar: o de morte (a serpente) ou o de vida (o campo). Diante destas escolhas o Senhor quem incentiva a busca pelo caminho de vida e denuncia o caminho da serpente que de morte e idolatria. Neste captulo 6 em meu ponto de vista a situao melhora com relao ao posicionamento do autor e maneira como expe o texto. Embora a linguagem e interpretao dos personagens seja a mesma, Deus aparece e parece muito mais presente, como se houvesse um relacionamento ainda que distante, pois suas esperanas esto colocadas em um passado

aparentemente distante e apesar da leitura de esperana este tom me parece de desesperana, pois tal esperana se situava na lembrana do que um dia foi. Obviamente no sentido de esperana no Deus vivo no Senhor criador de todas as coisas, quando a esperana remete ao passado, a algo que foi e que gera saudades tambm pode produzir o arrependimento, necessrio para o retorno ao caminho de vida, obedincia s leis do Senhor. Em suma neste captulo fica claro o posicionamento j citado na exposio do meu parecer no captulo 1 de que o cristo, aquele que segue a Deus tem sua responsabilidade de fazer o que inerente sua responsabilidade, as atitudes geram esperana quando o que feito o que o Senhor deseja que realizemos e assim, Deus exaltado e manifestado quando cumprimos seus mandamentos. Como citado por Schwantes (2009), a luta constante entre a escolha pelo caminho da serpente e do Senhor, pois apesar do caminho Senhor estar aparente, ainda existe a proposta de se curvar a serpente a aceitar seu jugo. Cabe a ns, como alguns no exlio a mostrar a esperana de permanecer no caminho de vida, de labuta, mas de gozo, bem estar e esperana. De tudo o que eu li e ainda leirei, ficam muitas coisas que com certeza amplificaram meu senso de percepo e contriburam para meu crescimento. Pretendo lanar mo de algumas coisas que creio serem da parte de Deus, em outra utilizarei com ressalvas e com cuidado onde usar.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

SCHWANTES, Milton. Projetos de esperana: meditaes sobre Gnesis 1-11. 2.ed. So Paulo: Paulinas, 2009.