resenha crÍtica a coerencia textual

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE CAMPUS FLORESTA CURSO DE LETRAS VERNÁCULO DIENES DO NASCIMENTO LIMA RESENHA CRÍTICA

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Page 1: RESENHA CRÍTICA A COERENCIA TEXTUAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

CAMPUS FLORESTA

CURSO DE LETRAS VERNÁCULO

DIENES DO NASCIMENTO LIMA

RESENHA CRÍTICA

Cruzeiro do Sul

2009

Page 2: RESENHA CRÍTICA A COERENCIA TEXTUAL

DIENES DO NASCIMENTO LIMA

RESENHA CRÍTICA DO LIVRO

A COERÊNCIA TEXTUAL

Trabalho de graduação apresentado à

disciplina Organização do Trabalho

Acadêmico – Curso de Letras Vernáculo da

Universidade Federal do Acre – Campus

Floresta.

Orientadora: Profa. Msc. Cleide Vilanova

Hanisch

Cruzeiro do Sul

2009

Page 3: RESENHA CRÍTICA A COERENCIA TEXTUAL

KOCH, Ingedore Villaça.; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A Coerência Textual. 4. Ed.

São Paulo: Contexto, 1992. (Repensando a Língua Portuguesa). 89 p.

Os autores Ingedore Villaça Koch e Luiz Carlos Travaglia tiveram, ao longo de

suas vidas, uma formação acadêmica e atuação profissional ampla. A autora

Ingedore Grunfeld Villaça Koch nasceu na Alemanha e veio para o Brasil com

quatro anos de idade. Adotou o Brasil como pátria, naturalizando-se brasileira.

Formou-se em direito pela USP e, mais tarde, obteve licenciatura plena em Letras.

Foi professora de 1º grau no Externato Ofélia Fonseca e de Língua Portuguesa e

Técnica e Metodologia de Redação em Português na Logos – escola de 2º grau.

É mestre e doutora em Ciências Humanas: Língua Portuguesa pela PUC/SP.

Foi professora do Departamento de Português dessa universidade, tendo lecionado

nos cursos de Língua e Literatura Portuguesas, Língua e Literaturas Inglesas –

opção Tradutor, Secretariado Executivo Bilíngue e Jornalismo. Foi coordenada do

curso de Jornalismo e membro da comissão didática do curso de Língua e Literatura

Inglesas.

Publicou inúmeras obras, dentre elas: Línguística Aplicada ao Português;

Morfologia e Linguística Aplicada ao Português: Sintaxe (ambas em co-autoria com

Maria Cecília Pérez de Souza e Silva), em 1983, Linguística Textual: Introdução (co-

autoria com Leonor Lopes Fávero), também em 1983; Argumentação e Linguagem,

em 1984; todas pela editora Cortez, e A Coesão Textual, em 1988, pela editora

Contexto; Ler e Escrever: estratégias de produção textual (prelo). São Paulo: Editora

Contexto, 2009; As tramas do texto (Série Dispersos). Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 2008; Introdução à Lingüística Textual: trajetória e grandes temas. 1. ed.

São Paulo: Martins Fontes, 2004; Desvendando os segredos do texto. 4a.. ed. São

Paulo: Cortez, 2002; O Texto e A Construção do Sentido. Campinas, SP: Contexto,

1997. v. 2000. 124 p.; Gramática do Português Falado: Desenvolvimentos.

Campinas- SP: EDUNICAMP/FAPESP, 1997; A Inter-Acão Pela Linguagem. SAO

PAULO: CONTEXTO, 1992; Cognição, discurso e interação. São Paulo: Contexto,

1992; A Coesão Textual. SAO PAULO: CONTEXTO, 1989; Argumentação e

Linguagem. SAO PAULO: CORTEZ, 1984.

Page 4: RESENHA CRÍTICA A COERENCIA TEXTUAL

Atualmente, é docente do Departamento de Linguística do IEL/UNICAMP, em

cujos cursos de pós-graduação trabalha na área de Linguistica Textual.

Luiz Calos Travaglia fez seus estudos superiores na Universidade Federal

de Uberlândia, Minas Gerais, onde cursou Licenciatura Plena em Letras: Português-

Inglês. Hoje é professor titular de Linguística e Língua Portuguesa do Departamento

de Letras da mesma universidade. Mestre em Letras – Língua Portuguesa pela

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. É doutor em Linguística pela

Universidade estadual de Campinas. Já publicou muitos livros, dentre eles:

Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. 13a. ed. São

Paulo: Cortez, 2009; Gramática: Ensino Plural. 3a. ed. São Paulo: Cortez, 2007;

Encontro na linguagem: Estudos lingüísticos e literários. 1a. ed. Uberlândia: EDUFU

- Editora da Universidade Federal de Uberlândia, 2006; O aspecto verbal no

Português: A categoria e sua expressão. 4a. ed. Uberlândia: EDUFU (Editora da

Universidade Federal de Uberlândia), 2006; O aspecto verbal no Português: A

categoria e sua expressão. 3a.. ed. Uberlândia: Editora da Universidade Federal de

Uberlândia, 1981. Tem também vários artigos publicados em revistas

especializadas.

Primeiro de tudo, vale lembrar o conceito de coerência, segundo o site Info

escola (<disponível em: http://www.infoescola.com/redacao/coerencia-textual/>) A

construção textual deve ser a construção de um todo compreensível aos olhos do

leitor. A coerência textual é o instrumento que o autor vai usar para conseguir

encaixar as “peças” do texto e dar um sentido completo a ele. Portanto, a coerência

é fundamental na hora da construção de um texto, para que o mesmo fique

inteligível e coerente.

Ao lado da coerência textual, há a coesão textual, a qual revela a importância

do conhecimento linguístico para a produção do texto e sua compreensão e,

portanto, para o estabelecimento da coerência. O conhecimento dos elementos

lingüísticos e sua relação com o contexto e a situação também é importante para o

cálculo do sentido e a percepção de um texto como coerente. É importante também

para o cálculo de coerência o conhecimento de mundo, e que esse conhecimento de

mundo seja partilhado entre produtor e receptor para que ambos possam

estabelecer as relações entre os elementos do texto através das inferências.

Page 5: RESENHA CRÍTICA A COERENCIA TEXTUAL

Convém lembrar, ainda, que o conhecimento partilhado vai estruturar o texto

em termos das informações como novas ou não. Se a quantidade de informações

novas em um texto for muito alta, pode levar alguém a ver uma sequência linguística

como um texto incoerente, pois o mesmo não fará sentido para essa pessoa.

Também é preciso lembrar que o sentido que damos a um texto pode depender do

conhecimento de outros textos, com os quais ele se relaciona.

Além disso, cada texto tem suas particularidades e, apesar das características

diversas dos textos, sempre se pode estabelecer um sentido unitário global para

cada texto. Esta unidade resulta numa forma de organização superior que relaciona

os elementos entre si.

A relação que tem de ser estabelecida pode ser não só semântica, mas

também pragmática, entre atos de fala, ou seja, entre as ações que realizamos ao

falar. Beaugrande & Dresser (1981) e Marcushi (1983), por exemplo, afirmam que se

há uma unidade de sentido no todo do texto quando este é coerente, então a base

da coerência é a continuidade de sentidos entre os conhecimentos ativados pelas

expressões do texto. Além disso, a continuidade dos conhecimentos ativados pelas

expressões lingüísticas termina por constituir o que chamados de tópico discursivo,

ou seja, aquilo que se fala no texto, seja ele oral ou escrito.

Convém notar, ainda, que a coerência se estabelece na interlocução entre

usuários do texto (produtor/receptor). Textos sem continuidade são considerados

incoerentes, e, por isso, não seriam considerados textos, mas um conjunto aleatório

de elementos. Porém, embora a continuidade relativa a um dado tópico discursivo

seja uma condição para estabelecer a coerência, nem sempre a descontinuidade

será incoerente.

Outro fator são os processos cognitivos operantes entre os usuários do texto,

que caracterizam a coerência na medida em que dão os usuários a possibilidade de

criar um mundo textual que pode ou não concordar com a versão estabelecida do

“mundo real”.

Charroles (1979) afirmou que a coerência seria a qualidade que têm os textos

pela qual os falantes reconhecem como bem formados, dentro de um mundo

possível. A coerência tem a ver com a boa formação do texto num sentido diverso

Page 6: RESENHA CRÍTICA A COERENCIA TEXTUAL

da noção de gramaticalidade usada pela gramática gerativo-transformacional no

nível da frase, uma boa formação em termos da interlocução comunicativa, que

determina não só a possibilidade de estabelecer o sentido do texto, mas também

qual sentido se estabelece.

Apesar do já explicitado, não se deve pensar que a questão de

estabelecimento de sentido esteja apenas no lado do receptor, pois tudo trata-se de

interação. Van Dijk e Kintsch (1983) falam de coerência local, referente a partes do

texto ou a frases ou a sequência de frases dentro do texto; e em coerência global,

que diz respeito ao texto em sua totalidade.

Dentro do assunto, há ainda a incoerência local, que é observada em uma

pequena parte do texto. A incoerência local não impede totalmente o cálculo do

sentido, mas é preciso ter cuidado ao escrever, pois o acúmulo dessas pode tornar

todo o texto incoerente.

Van Dijk e Kintsch (1983) também falam de diversos tipos de coerências:

Semântica: se refere à relação entre significados de elementos das frases em

sequência em um texto ou entre os elementos de um texto como um todo.

Sintática: se refere aos meios sintáticos para expressar a coerência

semântica, como os conectivos, o uso de pronomes, de sintagmas nominais

definidos e indefinidos, etc.

Estilística: pela qual um usuário deveria usar em seu texto elementos

linguísticos pertencentes ou constitutivos do mesmo estilo ou registro lingüístico.

Pragmática: tem a ver com o texto visto como uma sequência de atos de fala,

os quais devem satisfazer as mesmas condições presentes em uma dada situação

comunicativa.

Vale ressaltar que a coerência é um fenômeno que resulta da ação conjunta

de todos esses níveis e de sua influência no estabelecimento do sentido do texto,

uma vez que a coerência é um princípio de interpretabilidade e compreensão do

texto.

Page 7: RESENHA CRÍTICA A COERENCIA TEXTUAL

É importante observar que a coerência se relaciona com a coesão textual,

pois por coesão se entende a ligação, a relação, os nexos que se estabelecem entre

os elementos que constituem a superfície textual. Ao contrario da coerência, que é

subjacente, a coesão é explicitamente revelada através de marcas lingüísticas,

índices formais na estrutura da seqüência lingüística e superficial do texto, o que lhe

dá um caráter linear, uma vez que se manifesta na organização seqüencial do texto.

A mesma é sintática e gramatical, mas também semântica, pois, em muitos casos,

os mecanismos coesivos se baseiam numa relação entre os significados de

elementos da superfície do texto.

Há duas grandes modalidades de coesão:

A coesão referencial é a que se estabelece entre dois ou mais componentes

da superfície textual que remetem a um mesmo referente. Ela é obtida pela

substituição (quando um componente da superfície textual é retomado ou precedido

por uma pró-forma), ou pela reiteração (sinônimos, hiperônimos, nomes genéricos,

expressões nominais definidas, repetição do mesmo item lexical e nominalizações).

Já a coesão seqüencial se faz através da recorrência (recorrência de termos,

de estruturas, de conteúdos semânticos, de recursos fonológicos segmentais e

suprassegmentais e de aspectos e tempos verbais), e através da progressão

(manutenção temática, pelo uso de um mesmo campo lexical ou encadeamentos

que podem se dar por justaposição – partículas sequenciadoras que podem ser

temporais ou ordenadoras ou continuativas de enunciados ou seqüências textuais,,

quando dizem respeito à linearidade e à ordenação de partes do texto – ou por

conexidade – conectores de tipo lógico ou operadores de discurso).

Embora a coesão auxilie no estabelecimento da coerência, ela não é garantia

de se obter um texto coerente, pois, como já foi observado, os elementos lingüísticos

da coesão não são nem necessários, nem suficientes para que a coerência seja

estabelecida. Então, como a coesão não é necessária, há muitas seqüências

lingüísticas com pouco ou nenhum elemento coesivo, mas que constituem um texto

porque são coerentes e por isso tem o que se chama de textualidade, pois p que é

fundamental para a coerência é a possibilidade de estabelecer uma relação entre os

elementos da sequência, criando uma unidade.

Page 8: RESENHA CRÍTICA A COERENCIA TEXTUAL

Da mesma forma, como a coesão não é suficiente, há seqüências lingüísticas

coesas, para as quais o receptor não pode ou dificilmente consegue estabelecer um

sentido global que a faça coerente. Assim, ao se explicar o que é coerência textual,

ou tentar determiná-la em um texto, não é suficiente apontar as relações que

existem entre os elementos que representam superficialmente o texto, mas é preciso

considerar o processo total, desde a intenção comunicativa do produtor do texto até

as estruturas lingüísticas em que se manifesta finalmente esta intenção. Além do

mais, o mau uso dos elementos de coesão pode provocar incoerências locais pela

violação de sua especificidade de uso e função.

Portanto, como se pode notar, a separação entre coerência e coesão tem

relação com a coerência na medida em que é um dos fatores que permite calculá-la

e, embora do ponto de vista analítico seja interessante separá-las, distingui-las,

cumpre não esquecer que são duas faces distintas do mesmo fenômeno.

Sabe-se ainda que a coerência tem fundamental importância no sentido do

texto, pois é a coerência que faz com que uma sequência lingüística qualquer seja

vista como um texto, porque é a coerência, através de vários fatores, que permite

estabelecer relações entre os elementos da sequência, permitindo construí-la e

percebê-la como constituindo uma unidade significativa global. Além disso, há

seqüências lingüísticas incoerentes que seriam aquelas que o receptor não

consegue descobrir qualquer continuidade de sentido.

Bernardez (1982) propõe que um processo de formação de um texto coerente

se dá em três fases e que, em cada uma podem ocorrer falhas causadoras de

incoerência:

1) O produtor do texto tem uma intenção comunicativa, e se essa intenção for

impossível, para a situação, o texto será incoerente; mas esse tipo de

incoerência dificilmente acontecerá;

2) O produtor do texto desenvolve um plano global que lhe possibilite

conseguir que seu texto cumpra sua intenção comunicativa;

3) O produtor do texto realiza as operações necessárias para expressar

verbalmente o plano global, de maneira que, através das estruturas

Page 9: RESENHA CRÍTICA A COERENCIA TEXTUAL

superficiais, o receptor seja capaz de reconstituir ou identificar a intenção

comunicativa.

Uma observação interessante é que mesmo os que admitem a existência de

textos incoerentes ou de determinadas incoerências locais não colocam a

incoerência apenas na sequência lingüística, mas fazem-na depender do usuário e

da situação. Da mesma forma, mesmo fatores definidores da coerência podem ser

violados sem, necessariamente, criar incoerência, dependendo da situação, dos

usuários do texto, da intenção comunicativa, etc. pois, na verdade, o que ocorre é

que os que interagem numa situação comunicativa sempre se tomam como

mutuamente cooperativos, isto é, como querendo consumar uma intenção

comunicativa.

Vale ressaltar que não existe o texto incoerente em si, mas o texto pode ser

incoerente em/para determinada situação comunicativa. Assim, ao dizer que um

texto é incoerente, temos que especificar as condições de incoerência. Portanto, o

texto será incoerente se o seu produtor não souber adequá-lo à situação, levando

em conta intenção comunicativa, objetivo, destinatário, regras sócio-culturais, outros

elementos da situação, etc. Caso contrário, será coerente.

Convém lembrar, ainda, que não se pode falar em diferentes tipos de

coerência já que a entendemos como um princípio de interpretabilidade, como a

possibilidade de estabelecer um sentido para uma sequência lingüística. Todavia,

cumpre observar que a coesão é uma manifestação da coerência na superfície

textual; que os elementos lingüísticos da superfície do texto funcionam como pistas

que o produtor do texto escolheu em função de sua intenção comunicativa e do

sentido que desejava que o receptor do texto fosse capaz de recuperar.

Como já foi dito, não existe sequência lingüística incoerente em si e, portanto,

não existe o não-texto. Se todos os textos são em princípio aceitáveis, não é

possível uma gramática com regras que distinguem entre textos e não-textos. Por

isso, passou-se à construção de uma lingüística do texto, que é constituída de

princípios e/ou modelos cujo objetivo não é predizer a boa ou má formação dos

textos, mas permitir representar os processos e mecanismos de tratamento dos

dados textuais que os usuários põem em ação quando buscam compreender e

Page 10: RESENHA CRÍTICA A COERENCIA TEXTUAL

interpretar uma sequência lingüística, estabelecendo o seu sentido e, portanto,

calculando sua coerência.

O estudo da produção, compreensão e coerência textuais tornou-se um

campo inter e pluridisciplinar, recebendo contribuições da Psicologia, da Sociologia,

da Filosofia, da teoria da Computação e Informática, além da lingüística em geral e

de alguns dos seus ramos. Portanto, cumpre perguntar o que cabe à Linguística

fazer no estudo da produção, compreensão e coerência textuais. Charroles (1987)

afirma que cabe aos lingüistas delimitar, na constituição e composição textuais, qual

é a parte e a natureza das determinações que resultam dos diferentes meios que

existem nas diferentes línguas, para exprimir a continuidade ou a sequência do

discurso. O lingüista deve, assim, fazer a análise das marcas de relação entre as

unidades de composição textual.

É evidente que a construção da coerência decorre de uma multiplicidade de

fatores das mais diversas ordens: lingüísticos, discursivos, cognitivos, culturais e

interacionais. Há inúmeros fatores que estabelecem a coerência. Percebe-se que é

indiscutível a importância dos elementos lingüísticos do texto para o estabelecimento

da coerência. Esses elementos servem como pistas para a ativação dos

conhecimentos armazenados na memória, constituem o ponto de partida para a

elaboração de inferências, ajudam a captar a orientação argumentativa dos

enunciados que compõem o texto, etc.

O conhecimento de mundo também desempenha um papel decisivo no

estabelecimento da coerência: se o texto falar de coisas que absolutamente não

conhecemos, será difícil calcularmos o seu sentido e ele nos parecerá destituído de

coerência. Adquirimos o conhecimento de mundo a medida que vivemos e vamos

armazenando-os em blocos, que se denominam modelos cognitivos,que se

subdividem em:

a) Os frames: conhecimentos armazenados na memória debaixo de um certo

“rótulo”, sem que haja qualquer ordenação entre eles;

b) Os esquemas: conhecimentos armazenados em sequência temporal ou

casual;

Page 11: RESENHA CRÍTICA A COERENCIA TEXTUAL

c) Os planos: conhecimentos sobre como agir para atingir determinado

objetivo;

d) Os scripts: conhecimentos sobre modos de agir altamente estereotipados

em dada cultura;

e) As superestruturas ou esquemas textuais: conhecimentos sobre os

diversos tipos de textos, que vao sendo adquiridos à proporção que temos

contato com esses tipos e fazemos comparação entre eles.

Convém observar que é a partir dos conhecimentos que temos que vamos

construir um modelo do mundo representado em cada texto – é o mundo textual.

Mas, para que possamos estabelecer a coerência de um texto é preciso que haja

correspondencia ao menos parcial entre os conhecimentos nele ativados e o nosso

conhecimento de mundo, pois, caso contrário, nao teremos condiçoes de construir o

mundo textual, dentro do qual as palavras e expressões do texto ganham sentido.

É preciso, ainda, que produtor e receptor possuam, ao menos, uma boa

parcela de conhecimentos comuns. Os elementos textuais que remetem ao

conhecimento partilhado entre os interlocutores consistuem a informação “velha” ou

dada, ao passo que tudo aquilo que for introduzido a partir dela constiruirá a

informação nova trazida pelo texto. Além disso, para que un texto seja coerente é

preciso haver um equilibrio entre informação dada e informação nova, pois se um

texto contivesse apenas informação nova, seria ininteligível; se contivesse somente

iformação dada, ele seria altamente redundante.

Um outro fator de coerência é a inferência, a qual é a operação pela qual,

utilizando seu conhecimento de mundo,o receptor de um texto estabelece uma

relação nao explícita entre dois elementos desse texto que ele busca compreender e

interpretar. Quase todos os textos que lemos ou ouvimos exigem que façamos uma

série de inferências para podermos compreende-los integralmente. Portanto,

compete ao receptor ser capaz de atingir os diversos níveis de implícito, se quiser

alcançar uma compreensão mais profunda do texto que ouve e lê.

Quanto maior o grau de familiaridade ou intimidade entre os interlocutores,

menor a quantidade de informações explícitas, especialmente no caso de diálogos.

Page 12: RESENHA CRÍTICA A COERENCIA TEXTUAL

É por isso que é comum, principalmente na conversação, omitirmos informações que

podem ser facilmente iferidas.

Há ainda os fatores de contextualização, que são aqueles que “ancoram” o

texto em uma situação comunicativa determinada. Segundo Marcushi (1983) podem

ser de dois tipos: os idealizadores ou contextualizadores propriamente ditos (data,

local, elementos gráficos, timbre, assinatura, etc.) e os perspectivos ou prospectivos

(aqueles que avançam expectativas sobre o conteúdo – e a forma – do texto: título,

autor, início do texto, etc.). vale ressaltar que os elementos contextualizadores

ajudam a situar o texto e, portanto, estabelecer-lhe a coerência, e sem eles dica

difícil decodificar a mensagem.

É por isso que se tem dito que a leitura (compreensão) de um texto é uma

atividade de solução de problemas. Portanto, ao descobrirmos a solução final,

teremos estabelecido a coerência do texto. É por esse motivo que os fatores de

contextualização desempenham um papel muito importante no estabelecimento da

coerência.

A situacionalidade, outro fator responsável pela coerência, pode ser vista

atualmente em duas direções:

a) Da situação para o texto: trata-se de determinar em que medida a situação

comunicativa interfere na produção/recepção do texto e no

estabeleciemento da coerência. A situação comunicativa tem interferência

direta na maneira como o texto é construído. É preciso, então, ao construir

um texto, verificar o que é adequado àquela situação específica: grau de

formalidade, variedade dialetal, tratamento a ser dado ao tema, etc.

b) Do texto para a situação: o mundo real não pode é jamais idêntico ao

mundo textual. Assim, o produtor recria o mundo de acordo com seus

objetivos, propósitos, interesses, convicções, crenças, etc. O mundo

cirado pelo texto não é uma cópia fiel do mundo real. Os referentes

textuais não são idênticos aos do mundo real, mas são recosntruídos no

interior do texto. Portanto, há sempre uma mediação entre o mundo real e

o mundo textual.

Page 13: RESENHA CRÍTICA A COERENCIA TEXTUAL

Assim, na construção da coerência, a situacionalidade exerce também um

papel de relevância. Um texto que é coerente em dada situação pode não sê-lo em

outra: daí a importância da adequação do texto à situação comunicativa.

Há também a informatividade, que diz respeito ao grau de previsbilidade da

informação contida no texto. Um texto será tanto menos informativo, quanto mais

previsível ou esperada for a informação por ele trazida.

É a informatividade, portanto, que vai determinar a seleção e o arranjo das

alternativas de distribuição da informação no texto, de modo que o receptor possa

calcular-lhe o sentido com maior ou menor facilidade, dependendo da intenção do

produtor de construir um texto mais ou menos hermético, mais ou menos

polissêmico, o que está, evidentemente, da dependência da situação comunicativa e

do tipo de texto a ser produzido. Vale lembrar qye a informatividade também

interfere na construção da coerência.

Já a focalização tem a ver com a concentração dos usuários em apenas uma

parte do seu conhecimento e com a perspectiva da qual são vistos os componentes

do mundo textual. Deferenças de focalização podem causar problemas sérios de

compreensão, impedindo, por vezes, o estabelecimento da coerência. Verifica-se,

portanto, que a focalização tem relação direta com a questão do conhecimento de

mundo e de conhecimento partilhado. Um mesmo texto, dependendo da focalização,

pode ser lido de modo totalmente diferente.

Um dos meios mais importantes de evidenciar a focalização é o uso de

descrições ou expressões definidas, isto é, grupos nominais introduzidos por artigo

definido. Tais expressões selecionam, dentre as propriedades e características do

referente, aquelas sobre as quais se deseja chamar a atenção.

Outro importante fator da coerência é a intertextualidade, na medida em que,

para o processamento cognitivo de um texto recorre-se ao conhecimento prévio de

outros textos. A intertextualidade pode ser:

a) De forma: ocorre quando o produtor de um texto repete expressões,

enunciados ou trechos de outros textos. O conhecimento dos tipos

textuais, portanto, permitirá ao leitor “enquadrar” o texto em determinado

esquema.

Page 14: RESENHA CRÍTICA A COERENCIA TEXTUAL

b) De conteúdo: os textos de uma mesma época, de uma mesma área de

conhecimento, de uma mesma cultura, etc., dialogam uns com os outros

de maneira implícita ou explícita. Na intertextualidade explícita, o texto

contém a indicação da fonte do texto primeiro, como acontece com o

discurso relatado. Já na implícita, não se tem indicação da fonte, de modo

que o receptor deverá ter os conhecimentos necessários para recuperá-la.

Outro fator é a intencionalidade, que refere-se ao modo como os emissores

usam textos para prosseguir e realizar suas intenções, produzindo, para tanto, textos

adequados à obtenção dos efeitos desejados; já a aceitabilidade constitui a

contraparte da intencionalidade.

A intencionalidade tem relação estreita com o que se tem chamado de

argumentatividade, a qual manifesta-se nos textos por meio de uma série de marcas

ou pistas que vão orientar os seus enunciados no sentido de determinadas

conclusões.

Dois requisitos básicos para que um texto possa ser tido como coerente são a

consistência e a relevância. A consistência exige que cada enunciado de um texto

seja consistente com os enunciados anteriores; já a relevância exige que o conjunto

de enunciados que compõem o texto seja relevante para um mesmo tópico

discursivo subjacente, isto é, que os enunciados sejam interpretáveis como falando

seobre um mesmo tema.

Em se tratando do ensino da coerência, o professor pode fazer grandes

modificações em sua metodologia de ensino de produção e compreensão de textos,

baseando-se nas descobertas da Linguistica Textual sobre coesão e coerência, sem

fazer qualquer referência teórica sobre o assunto para seus alunos. Normalmente, o

ensino de língua materna apresenta-se assim dividido: ensino de gramática, ensino

de redação, ensino de expressão oral, de leitura e de vocabulário.

O trabalho de produção de textos englobaria não só o ensino de redação,

mas também o de expressão oral. O trabalho com a compreensão de textos

ampliaria o trabalho de compreensão de textos escritos e orais. O ensino de

vocabulário apareceria como fundamental tanto para a produção quanto para a

compreensão de textos.

Page 15: RESENHA CRÍTICA A COERENCIA TEXTUAL

Para desenvolver um bom trabalho, o professor pode se valer de inúmeros

recursos, dentre os quais: recursos de conexão variados; emprego de pró-formas

pronominais e da elipse; emprego de formas diferentes de dar atributos dos seres, e

ainda poderá mostrar que diferentes relacionamentos criam diferentes sentidos.

Todos esses recursos servem para conscientizar o aluno de que o trabalho de

produção de um texto é um trabalho de escolha e utilização dos recursos linguísticos

que permitam melhor viabilizar os recursos linguisticos que se tem. Tal consciência

servirá também para torná-lo mais eficiente no trabalho de compreensão de textos.

Então, o professor deverá trabalhar a produção de textos, buscando, sempre,

deixar muito claro em que situação o texto a ser produzido deve ser encaixado. A

avaliação se fará, então, tendo por parâmetro todos os elementos de adequação a

tal situação e não uma situação que estava na mente do professor, às vezes muito

vagamente, mas que ele não explicitou com e para os seus alunos.

Por fim, posso afirmar que a metodologia empregada pelos autores Ingedore

Koch e Luiz Carlos Travaglia atingiu o objetivo esperado: fazer com que as pessoas

que recorram ao livro Coerência Textual sejam esclarecidos de suas dúvidas sobre o

assunto, pois o livro é rico em exemplos, fazendo com que fique muito bem ilustrado

e esclarecido todo o assunto abordado.

Todo esse trabalho foi resultado de um trabalho intenso de pesquisa dos

autores,que recorreram a inúmeros livros, coletando o máximo possível de

informações para que todo o livro pudesse ficar dinâmico, informativo e bastante

esclarecedor.

Os autores utilizaram um método de procedimento estruturalista, onde

estruturaram todo o conteúdo durante a explanação das ideias no livro. Usaram,

ainda, uma modalidade descritiva, onde explicitaram todo o assunto de maneira bem

clara e concisa, descrevendo todas as particularidades da coerência textual.

Utilizaram também a técnica de exemplos, o que esclareceu todo o conteúdo

durante todo o desenvolvimento do trabalho.

Todo o livro apresensou coerência do início ao fim. Os conteúdos foram

explanados gradualmente, à medida que o conteúdo anterior era ao máximo

assimilado por meio de exemplos. As técnicas e métodos utilizados na apresentação

Page 16: RESENHA CRÍTICA A COERENCIA TEXTUAL

das ideias foram excelentemente adequadas, fazendo com que os autores

obtivessem êxito na obra.

Por tudo isso, o livro A Coerência Textual apresenta uma grande importância

na vida acadêmica de todos nós, e na vida estudantil em geral de pessoas que, vez

ou outra, necessitam tirar as dúvidas sobre o assunto e aprofundar os seus

conhecimentos. Todo o estilo empregado durante o desenvolvimento do livro

imprime à obra uma caráter singular e original, mérito ibtido apenas pelos autores

Ingedore Grunfeld Villaça Koch e Luiz Carlos Travaglia.

Essa resenha é indicada e dirigida para estudantes em diferentes áreas de

conhecimentos, em especial aos acadêmicos de Letras Vernáculo, que necessitam

tirar todas as suas dúvidas sobre coerência textual, pois a mesma oferece subsídios

para o estudo do português, o que é fundamental para diferentes momentos de

nossas vidas, seja na escola ou fora dela.

Page 17: RESENHA CRÍTICA A COERENCIA TEXTUAL

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

KOCH, Ingedore Villaça.; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A Coerência Textual. 4. Ed.

São Paulo: Contexto, 1992. (Repensando a Língua Portuguesa). 89 p.