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 Glícia M. Azevedo de M. Tinoco 03 CURSO TÉCNICO EM OPERAÇÕES COMERCIAIS Coerência textual REDAÇÃO

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  • Glcia M. Azevedo de M. Tinoco

    03C U R S O T C N I C O E M O P E R A E S C O M E R C I A I S

    Coerncia textual

    REDAO

  • Coordenadora da Produo dos MateriasVera Lucia do Amaral

    Coordenador de EdioAry Sergio Braga Olinisky

    Coordenadora de RevisoGiovana Paiva de Oliveira

    Design Grfi coIvana Lima

    DiagramaoElizabeth da Silva Ferreira

    Ivana LimaJos Antonio Bezerra Junior

    Mariana Arajo de Brito

    Arte e ilustraoAdauto Harley

    Carolina CostaHeinkel Huguenin

    Leonardo dos Santos Feitoza

    Reviso Tipogrfi caAdriana Rodrigues GomesMargareth Pereira Dias Nouraide Queiroz

    Design InstrucionalJanio Gustavo BarbosaJeremias Alves de Arajo SilvaJos Correia Torres NetoLuciane Almeida Mascarenhas de Andrade

    Reviso de LinguagemMaria Aparecida da S. Fernandes Trindade

    Reviso das Normas da ABNTVernica Pinheiro da Silva

    Adaptao para o Mdulo MatemticoJoacy Guilherme de Almeida Ferreira Filho

    EQUIPE SEDIS | UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE UFRN

    Projeto Grfi co

    Secretaria de Educao a Distncia SEDIS

    Governo Federal

    Ministrio da Educao

  • Voc ver

    por aqui...

    Objetivos

    1Redao A03

    O conceito de coerncia textual e seus principais fatores sero nosso objeto de estudo na aula 3. Esses elementos so importantes para o desenvolvimento das capacidades de leitura e de escrita de textos de diferentes gneros. Veremos que a coerncia textual estabelece a continuidade entre as partes de um texto. exatamente isso que nos faz entender um texto como uma unidade de sentido.

    Conhecer os fatores de coerncia textual e identifi c-los em textos de diversos gneros.

    Compreender a contribuio dos fatores de coerncia textual para o desenvolvimento das capacidades leitoras e produtoras de texto.

    Aplicar conhecimentos da rea de coerncia textual de modo a estabelecer uma unidade de sentido entre as partes de um texto e produzir textos em diferentes gneros.

  • 2Redao A03

    Para comeode conversa...

    Ler e escrever textos em diferentes gneros e de forma profi ciente uma prtica social exigida nas mltiplas atividades que desenvolvemos ao longo de nossas vidas. Em casa, na igreja, no comrcio, no local de trabalho, na escola, em situaes formais (em que se leem e se produzem documentos) e em situaes informais (em que se trocam textos entre amigos e parentes), presencial ou virtualmente, lemos e escrevemos. Contnua e cotidianamente.

    Por estarmos mergulhados em um mundo da escrita, temos de desenvolver prticas cada vez mais refi nadas e, em todas elas, nossos interlocutores esperam de ns a devida coerncia.

    Vejamos o caso de uma placa frente de determinado estabelecimento comercial.

    Fonte: . Acesso em: 23 mar. 2009.

    Faz sentido afi rmar que o estabelecimento est aberto todos os dias se h um dia na semana (precisamente, s teras-feiras) em que ele permanece fechado? No. Isso confi gura uma incoerncia textual.

    Para no cairmos nesse problema, estudaremos sobre coerncia textual. Os conceitos de coeso (aula 2) e coerncia textuais podem nos ajudar a desenvolver as capacidades leitoras e produtoras de textos das quais precisamos para agir como cidados autnomos, isto , cidados capazes de responder s demandas sociais de leitura e de escrita.

  • 3Redao A03

    Coerncia textual

    A coerncia e a coeso contribuem para conferir textualidade aos enunciados. A primeira se manifesta, em grande parte, no nvel macrotextual. Coerncia , pois, o resultado da possibilidade de se estabelecer alguma forma de unidade ou relao de sentido(s) entre os elementos do texto, como um todo. Assim, podemos afi rmar que a coerncia global. J a coeso, conforme visto na aula 2, local. Manifestando-se no nvel microtextual, ela se refere ao modo como os vocbulos se ligam dentro de uma sequncia.

    importante lembrar que a coeso pode auxiliar no estabelecimento da coerncia, embora nem sempre a coeso se manifeste explicitamente atravs de marcas lingusticas.

    Isso nos faz concluir que pode haver textos coerentes mesmo que no tenham coeso explcita. Por outro lado, podem existir textos coesos que apresentem problemas de coerncia. Vejamos, a seguir, um exemplo de cada caso mencionado.

    Exemplo 1

    Fonte: . Acesso em: 23 mar. 2009.

    Ao nos depararmos com essa imagem, as primeiras indagaes que nos vm mente so: isso um texto? Isso faz algum sentido?

    A tentativa de estabelecer um sentido para o que lemos representa o nosso esforo em perceber se h coerncia naquilo que se nos apresenta como um texto. Isso se justifi ca por ser a coerncia um princpio de interpretabilidade.

  • Exemplo 2

    4Redao A03

    De fato, o exemplo 1 nos oferece um texto. Trata-se, especifi camente, de uma lista de preos de cigarros. Suas caractersticas fsicas (papel, letra, recorte) nos levam a crer que essa lista se encontra em uma pequena mercearia de bairro (uma bodega).

    Organizada em duas colunas, essa lista apresenta os nomes das marcas de cigarro esquerda e os preos ao consumidor direita. Embora haja alguns problemas na grafi a das marcas (por exemplo: Free = fri; Hollywood = oliud) e no existam elementos coesivos explcitos, a organizao desse texto permite ao leitor a atribuio de um sentido possvel a ele. Logo, ele tem coerncia.

    A textualidade, ou seja, as qualidades que me fazem compreender uma confi gurao verbal e/ou no-verbal como um texto, no depende, de modo geral, da correo sinttico-ortogrfi ca da lngua, mas das possibilidades de sentido que o leitor pode efetivamente construir a partir de tal confi gurao.

    Assim, no importam quantos problemas ortogrfi cos o texto do exemplo 1 apresenta. Ele produzir os efeitos desejados: compra e venda de cigarros, desde que haja um vendedor, um comprador e o produto desejado.

    Alis, em uma leitura crtica, poderamos at afi rmar que o fato de essa lista de preos ter extrapolado o ambiente da bodega e estar disponvel em um site cujo ttulo placas ridculas faz com que esse texto seja instrumento de circulao de um preconceito arraigado socialmente: cometer erros ortogrfi cos signifi ca ser analfabeto. E isso motivo de ridicularizao. Seria justa essa assertiva?

    Observe que, do ponto de vista do dono da bodega, a funo social dessa lista de preos a de vender cigarros e ele consegue atingir seu objetivo mesmo que tenha cometido alguns deslizes ortogrfi cos. Sem dvida, o produtor desse texto articulou conhecimentos para escrever essa lista. Ele no analfabeto. Alis, corrigir os problemas de natureza ortogrfi ca , nesse caso, algo bem simples de se fazer. Basta observar com mais cuidado os rtulos dos produtos anunciados.

    Autobiografi a

    Meu nome Joo Reinaldo de Lira. Nasci no ano de 1974, tenho 35 anos e um metro e setenta e cinco de altura. Tenho, porm, os olhos castanhos e calo 42. J que sou catlico, logo posso ser protestante. Sou gordo, tenho 108 quilos, a qual um peso alto. Sou tmido, gosto de estudar. Quanto mais estudo mais gosto. A minha infncia, no entanto, foi super legal, brinquei muito com os meus amigos. Assim, espero logo alcanar todos os meus sonhos.

    Fonte: Texto produzido por um estudante de Educao de Jovens e Adultos do RN.

  • 1Praticando...

    5Redao A03

    O texto do exemplo 2 corresponde ao ttulo? Trata-se de uma autobiografi a?

    Sim. Esse texto apresenta elementos de uma apresentao de si, ou seja, de uma autobiografi a: nome, idade, altura, cor dos olhos, tamanho do p, orientao religiosa, peso, atividades preferidas... Todavia, o texto apresenta algumas incoerncias localizadas por causa do uso indevido de determinados elementos coesivos (porm, j que... logo, a qual, no entanto, assim).

    Observe que, no exemplo 2, no h problemas ortogrfi cos. exatamente na conexo das informaes que Joo Reinaldo escorrega, por isso partes do texto dele parecem no fazer sentido.

    1. Dada a experincia trazida na aula 2, que tratou de coeso, voc seria capaz de garantir a coerncia desse texto autobiogrfi co? Vejamos.

  • 6Redao A03

    A essa altura, voc deve estar se perguntando: que elementos contribuem para que um texto possa ser entendido como coerente?

    Em primeiro lugar, importante frisar que o sentido de um texto no est dentro dele, mas no dilogo que se constri entre o leitor e o texto. Isso implica dizer que a leitura no apenas uma atividade de decodifi cao, para a qual bastaria que o leitor tivesse conhecimento da lngua em que o texto est escrito.

    Em segundo lugar, temos de convir que o papel do leitor no passivo. Ao contrrio, a leitura pressupe a ao do leitor na articulao de diferentes conhecimentos (prvios, textuais, contextuais, entre outros) para buscar o(s) sentido(s) presente(s) em um texto.

    Esse entendimento permite a estudiosos da linguagem, tais como Koch e Elias (2006, p. 186), afi rmarem que [...] a coeso no condio necessria nem sufi ciente da coerncia: as marcas da coeso encontram-se no texto [...] enquanto a coerncia no se encontra no texto, mas constri-se a partir dele [...].

    A coerncia , portanto, construda pelo leitor com base nos conhecimentos que ele tem e nas pistas que o texto lhe oferece.

    Em assim sendo, novas perguntas surgem. Que conhecimentos so esses? Como articul-los? Como podemos perceber as pistas de um texto?

  • 7Redao A03

    Fatores de coernciaIntuitivamente, acionamos diferentes conhecimentos para estabelecer a coerncia dos textos falados e escritos com que temos contato todos os dias. Nesta aula, apresentaremos alguns desses conhecimentos para que voc se certifi que de como a busca da coerncia uma luta diria de cada um de ns, para a qual usamos diferentes recursos.

    Conhecimento lingustico

    Ao longo de nossas vidas, desenvolvemos uma gramtica internalizada que nos permite identifi car as construes lingusticas possveis em nossa lngua materna. O mesmo acontece com uma lngua estrangeira que estudamos com afi nco durante anos.

    Esse conhecimento, inconsciente para a maioria das pessoas, fundamental na ativao do sentido de um texto, pois no processamento da leitura que vamos reconhecendo as palavras, agrupando-as e, ao relacion-las com o todo, atribumos ao texto uma unidade de sentido. Com esse procedimento, ns construmos a coerncia que no texto esperamos encontrar.

    Vejamos como isso ocorre no exemplo a seguir.

    Exemplo 3

    O computador no a resposta para tudo

    Ouvindo-se the majority of people talk about computers nowadays, tem-se a impresso de que as pessoas que no fazem uso de computador no conseguem fazer mais nada. A adorao que se tem por esse instrumento tamanha that a lot of people are buying computers at para enfeitar a casa. Afi nal, it is the type of thing que est na moda e que parece to offer the answer to all the problems of modern life. Basta ter um computador e a mgica est feita.

    claro que computers are extremely useful. In fact, eu teria much more diffi culty to write this text if I did not have todos os recursos que essas teclas e essa tela me proporcionam. No entanto, people seem to forget that the computer only works if there is um ser humano que o controle, fazendo-o agir de acordo com a vontade humana. O computador no vai resolver nada se o ser humano no ativ-lo para que realize algum procedimento.

    Logo, o computador sozinho no passa de mais uma coisa para atravancar o espao. In fact, it is an instrument in our hands.

    (MOITA-LOPES, 1999, p. 8).

  • 8Redao A03

    Alguns leitores possivelmente no conseguiro compreender a totalidade do texto devido a no terem conhecimento lingustico sufi ciente em ingls. Vejamos, porm, se esse quadro se altera se dermos a esses leitores as respectivas tradues para que eles faam os encaixes necessrios no texto do exemplo 3.

    the majority of people talk about computers nowadays: a maioria das pessoas conversarem sobre computadores hoje em dia...

    that a lot of people are buying computers: que muitas pessoas esto comprando computadores

    it is the type of thing: o tipo da coisa to offer the answer to all the problems of modern life: oferecer a resposta para todos os problemas da vida moderna

    computers are extremely useful: computadores so extremamente necessrios...

    In fact: de fato... much more difficulty to write this text if I did not have: muito mais difi culdade para escrever este texto se eu no tivesse

    people seem to forget that the computer only works if there is: as pessoas parecem se esquecer de que o computador s trabalha se existir...

    it is an instrument in our hands: ele um instrumento em nossas mos.

    Com o conhecimento lingustico necessrio, fi ca fcil atribuir sentido a esse texto, no verdade?

  • 2Praticando...

    9Redao A03

    1. Para provar que entendeu, sintetize em um s perodo a posio do autor sobre computadores e o argumento central que sustenta essa posio.

    H outros textos, porm, que exigem bem mais do que o conhecimento da lngua em que eles esto escritos. Exigem conhecimento de mundo, um segundo fator de coerncia que veremos nesta aula.

  • Exemplo 4

    10Redao A03

    Conhecimento de mundo

    tambm ao longo de nossas experincias na vida que acumulamos conhecimentos especfi cos que nos ajudam a desfazer ambiguidades e a compreender determinados textos que a outras pessoas podem parecer obscuros.

    De fato, h textos que, mesmo que estejam escritos em nossa lngua materna, s conseguiremos compreender se tivermos conhecimento de mundo na rea que ele focaliza.

    A OAB desagravou o advogado Paulo Bernardes que, ao reclamar do impedimento a ele imposto de assistir ao interrogatrio do ru, em causa patrocinada por um seu colega, recebeu do magistrado ordem de priso.

    O texto do exemplo 4 est escrito em nossa lngua materna, mas isso no nos garante sua compreenso. Nesse caso, imprescindvel que tenhamos algum conhecimento de mundo na rea da linguagem jurdica.

    O que OAB? Ordem dos Advogados do Brasil. O que desagravar? Na linguagem jurdica, signifi ca desfazer um ato injusto.

    O que ru? a pessoa contra a qual se prope uma ao judicial. O que magistrado? juiz.

    Com essas informaes, possvel compreender o que aconteceu com o advogado Paulo Bernardes e o que a OAB fez para reparar a injustia cometida? Vejamos.

  • 11Redao A03

    H tambm situaes em que apelamos para nosso conhecimento de mundo cotidiano, ou seja, um conhecimento no to especfi co quanto o exemplo da linguagem jurdica. Vejamos um exemplo bem interessante.

    3Praticando...

    1. No espao a seguir, construa uma parfrase (uma espcie de traduo) do texto lido, explicitando os fatos ocorridos.

  • Exemplo 5

    12Redao A03

    Ao nos aproximarmos da porteira de um stio, vemos um pedao de madeira no qual est escrita a palavra CACHORRO com letras maisculas e em cor vermelha.

    Apesar de conter uma nica palavra, esse pedao de madeira tem a funo social de alertar os que passam naquela rea. Sem dvida, a cor vermelha se presta bem para essa funo e quanto aos elementos lingusticos, no caso, temos apenas uma palavra, mas que equivale a uma estrutura sinttica completa. Observemos.

    CACHORRO =

    A V I S O

    Existe neste stio um cachorro feroz que poder atacar as pessoas que entrarem aqui sem autorizao dos donos desta propriedade.

    o nosso conhecimento de mundo que nos faz construir uma estrutura sinttica complexa, formada por trs oraes, a partir de uma placa constituda de uma nica palavra.

    Seria diferente o sentido da placa se a palavra fosse substituda?

    CAVALOS

    Kleiman (1989, p. 47-48).

  • 4Praticando...

    13Redao A03

    1. Que sentido voc atribui a essa nova placa apresentada no exemplo 5? Ela coerente? Justifi que sua resposta.

    Conhecimento partilhado

    Nossas experincias pessoais so responsveis pelo tipo de conhecimento que acumulamos. Isso faz de cada um de ns um ser singular. Voc e eu no compartilhamos todas as nossas experincias. Nem entre ns dois nem entre todos os que nos rodeiam. Todavia, tambm temos muito em comum com muitas pessoas, mesmo as que no conhecemos pessoalmente.

    De fato, quanto mais informaes partilhamos, mais possibilidades de reconhecer a coerncia do enunciado do outro. Mesmo que esse enunciado seja cheio de informaes implcitas. Vamos ver um exemplo de Koch e Travaglia (1998, p. 16)?

  • 14Redao A03

    Depois do tango, chegou a vez do fado. Na Arbia

    Exemplo 6

    Voc consegue atribuir algum sentido ao texto do exemplo 6? Melhoraria se ns partilhssemos algumas informaes? Vejamos.

    Esse texto uma manchete de jornal escrito. Essa manchete est na seo de esportes do jornal. Quando essa manchete foi publicada, estava se realizando o campeonato mundial de futebol de juniores.

    Esse campeonato mundial foi na Arbia. Nessa etapa do campeonato, o Brasil j enfrentara a Argentina e se preparava para jogar contra Portugal.

    O tango a msica tpica da Argentina. O fado a msica tpica de Portugal.

    Essas informaes, que no poderiam mesmo fazer parte de uma manchete (dada a brevidade caracterstica desse gnero), so pressupostas pelo enunciador (no caso, o jornalista que produziu a manchete) como partilhadas pelo leitor do caderno de esportes.

  • 15Redao A03

    Inferncias

    Quando lemos ou ouvimos um texto, estabelecemos algumas relaes de sentido entre o que foi escrito ou falado e os conhecimentos que acionamos no processo de compreenso. Essas relaes de sentido so chamadas de inferncias, que podem ser autorizadas (possveis) e no-autorizadas (equivocadas).

    Isso ocorre porque todo texto uma espcie de iceberg (KOCH; TRAVAGLIA, 1998). A materialidade que se nos apresenta apenas a ponta do iceberg. Para alcanarmos uma compreenso mais aprofundada do texto, precisamos fazer inferncias. Vejamos um exemplo.

    5Praticando...

    1. Conforme vimos no exemplo anterior, o conhecimento partilhado que faz o leitor preencher as lacunas deixadas pela manchete lida a ponto de construir um texto completo dela decorrente. Mostre-nos como poderia ser escrito esse texto no espao a seguir.

  • Exemplo 7

    Exemplo 8

    16Redao A03

    O professor de Segurana do Trabalho comprou um X-Terra 2009.

    Inferncias:

    1. O professor de Segurana do Trabalho tem um carro possante e novo.

    2. O professor de Segurana do Trabalho tem dinheiro para comprar um automvel caro.

    3. O professor de Segurana do Trabalho rico.

    4. O professor de Segurana do Trabalho uma boa companhia para mim.

    Das quatro inferncias acima, podemos observar que nem todas so autorizadas. Apenas as inferncias 1 e 2 parecem adequadas. A no ser que haja outras informaes, alm do que foi expresso no exemplo 7, no podemos aceitar a 3 e a 4 como possveis.

    As inferncias podem ser formadas a partir de pressupostos e de subentendidos. No primeiro caso, o leitor/ouvinte se ancora em elementos lingusticos (em palavras usadas no texto) para fazer as correlaes de sentido. No segundo, o contexto mais geral que faz surgir a inferncia. Vejamos se os exemplos esclarecem mais essa diferena.

    Pressupostos

    a) Jos Sena agiu honestamente, apesar de ser poltico.

    b) A fi lha da cantora Madona moreninha, mas linda!

  • 6Praticando...

    17Redao A03

    Observe o elemento coesivo apesar de na alternativa a. Ele traz ao perodo uma idia de oposio entre agir honestamente e ser poltico. Qual , portanto, a pressuposio que subjaz dessa afi rmativa?

    Todo poltico age com desonestidade. Jos Sena poltico. Em determinada ocasio, Jos Sena agiu honestamente. Isso no signifi ca, porm, que ele sempre age com honestidade.

    1. Compreendeu como se percebe a idia pressuposta? Vejamos, ento, a alternativa b. O que voc compreende como pressuposio entre os blocos ser moreninha e ser linda? Responda no espao a seguir.

  • 18Redao A03

    Exemplo 9

    Subentendidos

    a) Voc tem fogo?

    Contexto: uma pessoa com um cigarro na mo faz essa pergunta a outra que j est fumando, a qual imediatamente acende o isqueiro e aponta-o para o cigarro da pessoa que fez a pergunta.

    b) O caderno do Fernandinho fl orido e sua caneta cor-de-rosa.

    Contexto: um homem faz essa afi rmao na frente de outro homem sobre um colega em comum, Fernando.

    c) As encomendas chegaram?

    Os correios esto em greve.

    Melhor adiar a inaugurao da loja.

    Contexto: duas scias conversando em uma loja ainda no aberta ao pblico.

    Na alternativa a, compreendemos a coerncia entre a pergunta da primeira pessoa e a ao da segunda, porque nos reportamos situao de comunicao. Nesse sentido, no caberia para a pergunta Voc tem fogo? a resposta sim ou no. O que a pessoa que perguntou esperava como resposta era a ao do interlocutor de ligar o isqueiro para acender o cigarro. E isso foi feito.

    Observe, ento, que nem sempre precisamos explicitar todas as informaes para sermos entendidos. Alm das palavras que usamos ao falar e ao escrever, o nosso interlocutor constri o sentido de nossos textos tambm por meio dos subentendidos, os elementos que no esto explcitos, mas so recuperveis.

    Obviamente, uma srie de mal-entendidos ocorre devido ao no-dito, ao subentendido, mas isso outro problema. Estamos preocupados aqui em construir as pontes do entendimento. Vamos adiante...

  • 19Redao A03

    7Praticando...

    1. O que est subentendido na afi rmao da alternativa b?

    Na alternativa c, no podemos dizer que haja uma relao explcita entre as trs falas, mas compreendemos a coerncia do dilogo que elas formam. Em outras palavras, construmos, por meio da situao de comunicao, as pontes necessrias para atribuir sentido a esse texto.

  • 8Praticando...

    20Redao A03

    1. Se houvesse a necessidade de explicitar todas as informaes, esse dilogo seria bem mais extenso. Como ele fi caria? Tente reproduzi-lo no espao a seguir.

  • 21Redao A03

    Exemplo 10

    Fatores de contextualizaoNa produo escrita, em geral, h uma necessidade maior de explicitao das informaes, tendo em vista que os interlocutores no esto um diante do outro para pedir esclarecimentos. Assim, determinados elementos contextualizadores so imprescindveis na escrita, embora possam ser dispensveis na fala. Vejamos.

    Amigo Pedro,

    Hoje, o dia aqui est chuvoso. Nem vai dar para ir quela praia que fi ca na cidade ao lado, perto da casa do seu amigo.

    Amanh, porm, mesmo chovendo, visitarei a casa de campo da prima do nosso vizinho de condomnio. Ele me deu o endereo dela. Fica a uns 300 quilmetros daqui. Pretendo fazer uma surpresa. Voc acha que ela vai se aborrecer?

    Um abrao.

    Joo.

    Obs.Voc est se lembrando de seu compromisso comigo, n? Prometeu que, na minha volta, iria me pegar no aeroporto. V mesmo, porque j no tenho dinheiro para txi. Nem nibus.

    Como podemos constatar, Joo no usou elementos contextualizadores essenciais nessa carta: local e data. De fato, a ausncia da data torna difcil supor o referente exato do hoje e do amanh. Joo teria escrito essa carta no mesmo dia em que a colocou nos correios? Essa hiptese possvel, mas APENAS uma hiptese.

    Da mesma forma, faz falta saber o local onde ele est. Aqui s faz sentido se eu estiver na frente do meu interlocutor ou falando com ele pelo telefone ou ainda pela Internet. Nesses casos, o aqui compreensvel por causa do conhecimento partilhado entre os interlocutores.

    Todavia, no caso da carta de Joo, alm de no sabermos onde aqui, no sabemos onde fi ca a praia que ele no pde visitar por causa da chuva. Isso porque os termos aquela praia, cidade ao lado e perto da casa do seu amigo no so esclarecedores. Tampouco esclarecedoras so a prima do nosso vizinho de condomnio (que prima? De que vizinho?) e 300 quilmetros daqui (daqui onde?).

  • 9Praticando...

    22Redao A03

    O pior de tudo que Joo corre um grande risco de ter de voltar para casa a p, porque no explicitou o dia e a hora em que estar de volta sua cidade. Se for uma cidade grande com mais de um aeroporto, isso tambm um srio problema.

    Imagine, por exemplo, que a distncia entre o aeroporto de Guarulhos e o aeroporto de Congonhas (ambos em So Paulo) representa mais de uma hora em um trajeto de carro e se no houver congestionamento. Pobre Joo! Voltar a p para casa depois de umas frias, sabe-se l onde, vai ser cansativo.

    1. Como poderamos ajudar Joo a ser mais explcito e, assim, oferecer mais pistas para a compreenso de seu amigo? Vamos reescrever essa carta, no espao indicado, de forma a tornar coerente o texto de Joo para Pedro.

  • 23Redao A03

    Leituras complementaresPLATO, Francisco; FIORIN, Jos Luiz. Para entender o texto: leitura e redao. So Paulo: tica, 1991.

    Alm de uma exposio didtica muito envolvente, esse livro oferece exemplos comentados de textos verbais e no-verbais dos mais diferentes gneros e exerccios bem interessantes. Para aprimorar seus conhecimentos sobre coerncia textual, sugerimos que voc leia as lies 27 e 29.

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. Portugus ensino a distncia PEAD. Disponvel em: . Acesso em: 22 jan. 2009.

    Trata-se de uma iniciativa de um grupo de pesquisadores e professores de Lngua Portuguesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nesse site, voc vai encontrar uma maior fundamentao terica sobre a coerncia e os tipos de coerncia, vrios exemplos e alguns exerccios.

  • 24Redao A03

    Na aula 3, evidenciamos, inicialmente, que a leitura no uma atividade passiva. Ao contrrio, ela requer a ativao de diferentes conhecimentos. Nesse processo, a coerncia um importante princpio de interpretabilidade dos textos verbais e no-verbais com que interagimos em nosso cotidiano. Sendo assim, devido ao valor da coerncia textual e dos fatores de coerncia para o engajamento do leitor, demos relevncia, nesta aula, leitura e anlise de diferentes textos, a partir dos quais propusemos atividades diversifi cadas. Nossa inteno foi a de estabelecer com voc, caro estudante, um dilogo produtivo, cuja meta a ampliao de suas capacidades de leitor e de produtor de textos.

    1. Para termos mais evidncias de sua aprendizagem acerca dos construtos trabalhados nesta aula, faamos um ltimo exerccio, adaptado de um exemplo em Marcuschi (2008, 124). Leia atentamente o texto a seguir.

    Certa vez, uma famlia inglesa foi passar as frias na cidade de Munique, na Alemanha. No decorrer de um passeio, as pessoas da famlia viram uma casa de campo que lhes pareceu boa para passar as prximas frias de vero. Foram, ento, falar com o proprietrio da casa, que era um senhor de idade, alemo e evanglico, mais precisamente o pastor de uma das igrejas da regio. Combinados o perodo e o valor do aluguel, a famlia inglesa fi cou de voltar no vero seguinte.

    De volta Inglaterra, a famlia conversou muito animadamente acerca da casa, dos cmodos do imvel e de como seriam boas as prximas frias. De repente, a me lembrou-se de no ter visto o W.C. da casa. Onde seria o W.C. daquela casa? Nenhum dos componentes da famlia sabia.

  • 25Redao A03

    De acordo com o sentido prtico dos ingleses, a senhora escreveu imediatamente para o proprietrio da casa que pretendia alugar para perguntar-lhe esse detalhe da planta do imvel.

    Leia a carta encaminhada ao senhor alemo, que aqui aparece traduzida na nossa lngua materna.

    Londres, 25 de julho de 2000.

    Gentil Pastor Hanz,

    Sou membro da famlia inglesa que o visitou h poucos dias com a fi nalidade de alugar sua propriedade no prximo vero. Como esquecemos um detalhe muito importante, escrevo ao senhor e agradeceria se nos informasse onde se encontra o W.C. Nenhum de ns se lembrou, na oportunidade da visita, de verifi car o local.

    Agradeo desde j sua ateno.

    Atenciosamente,

    Linda McCartney

    O Pastor Hanz, no compreendendo o signifi cado da abreviatura W.C., que signifi ca water closet (e, em portugus, banheiro), mas julgando tratar-se da capela da religio inglesa White Chapel, da qual a famlia McCartney possivelmente participaria em Londres, respondeu nos seguintes termos.

    Munique, 31 de julho de 2000.

    Gentil Senhora McCartney,

    Tenho o prazer de comunicar-lhe que o local de seu interesse fi ca a 12 km da casa. muito cmodo, sobretudo se a senhora e sua famlia tm o hbito de ir l frequentemente. Nesse caso, prefervel levar comida para passar l o dia inteiro.

  • 26Redao A03

    Alguns vo a p, outros de bicicleta. H lugar para quatrocentas pessoas sentadas e cem em p. Recomenda-se chegar cedo para arrumar logo um lugar para sentar. As crianas sentam-se ao lado dos adultos e todos cantam em coro.

    Na entrada, distribuda uma folha de papel para cada um; no entanto, quem chegar depois da distribuio pode usar o papel do vizinho. Na sada, os papis so restitudos para serem usados durante um ms.

    Todas as doaes l recolhidas so para as crianas pobres da regio. Fotgrafos especiais tiram fotos para os jornais da cidade, a fi m de que todos possam ver seus semelhantes no desempenho de um dever to humano.

    Espero ter oferecido todo o detalhamento de que a senhora e sua famlia precisam.

    Aguardando-os no prximo vero, atenciosamente, subscrevo-me.

    Pastor Hanz

    Aps a leitura das duas cartas, podemos afi rmar que houve coerncia entre a pergunta da senhora Linda e a resposta do Pastor Hanz? De fato, parece ter havido um engano da parte do pastor em relao ao signifi cado de uma palavra. Qual?

    Faz sentido a atribuio de sentido que o pastor fez abreviatura mencionada na carta da senhora Linda? Retorne ao trecho anterior carta do pastor para verifi car essa informao. Em que ele se ancorou para atribuir sentido a W.C.?

    Supondo a necessidade de escrever outra carta para o pastor, redija, no espao abaixo, uma verso dessa carta em portugus. Procure explicitar melhor a informao que a famlia deseja obter. Lembre-se de que seu texto deve ter coerncia inclusive na linguagem respeitosa com que se deve escrever, principalmente se o seu interlocutor um senhor de idade, religioso e com o qual a famlia inglesa no tem familiaridade alguma.

  • 27Redao A03

  • 28Redao A03

    RefernciasKLEIMAN, Angela B. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes, 1989.

    KOCK, Ingedore Villaa; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerncia textual. 8. ed. So Paulo: Contexto, 1998.

    KOCK, Ingedore Villaa; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do texto. So Paulo: Contexto, 2006.

    MARCUSCHI, Luiz Antnio. Produo textual, anlise de gneros e compreenso. So Paulo: Parbola Editorial, 2008.

    MOITA-LOPES, L. P. Read, read, read. So Paulo: tica, 1999.

    PLATO, Francisco; FIORIN, Jos Luiz. Para entender o texto: leitura e redao. So Paulo: tica, 1991.

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