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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

ARTIGO FINAL

TENDÊNCIAS METODOLÓGICAS DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA –

MATEMÁTICA E CIDADANIA:

REFLEXÕES SOBRE O SISTEMA TRIBUTÁRIO BRASILEIRO

PROFESSOR LUIZ EDUARDO BUARD JUNIOR

ORIENTADORA PROFª. DRª. LUCIANA SCHREINER DE OLIVEIRA

DOUTOR ULYSSES - PARANÁ

PDE – 2016 / 2017

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MATEMÁTICA E CIDADANIA:

REFLEXÕES SOBRE O SISTEMA TRIBUTÁRIO BRASILEIRO

Luiz Eduardo Buard Junior1

Luciana Schreiner de Oliveira2

RESUMO

A finalidade do presente artigo é fazer uma explanação da experiência vivenciada

pela aplicação do projeto de intervenção pedagógica desenvolvida no Programa de

Desenvolvimento Educacional – PDE da turma de 2016/2017. A proposta

educacional foi aplicada no Colégio Estadual do Campo Salto Grande do Turvo –

Ensino fundamental e Médio, do município de Doutor Ulysses – Pr, na turma do 3º

ano do Ensino Médio. As atividades aplicadas tinham o cunho informativo, com a

perspectiva de permitir a reflexão do sistema tributário de nosso país, questionando

a importância dos tributos e sua necessidade para o desenvolvimento social e

econômico de uma nação, e oferecer uma metodologia didática para o

aprimoramento dos conceitos relacionados a matemática financeira de forma

contextualizada, por meio de situações problemas envolvendo situações do contexto

social dos envolvidos. Observou-se que os estudantes desconheciam a realidade

tributária, confirmando as estatísticas sobre o assunto, e, muitos demonstraram certa

apatia pelo tema, principalmente quando a metodologia demandava estudo teórico e

linguagens técnicas. Porém, ao longo da aplicação do projeto percebeu-se certa

preocupação com o assunto, por meio de questionamentos e críticas, demonstrando

que os objetivos da implementação de proporcionar reflexões acerca da temática

atingiu o esperado. A aplicação dos conceitos da matemática financeira, com uso de

problemas que envolviam o contexto social dos estudantes permitiu um estudo mais

realista e interessante, com a obtenção de resultados significativos de

aprendizagem.

Palavras-chave: Matemática Financeira – Contextualização – Sistema

Tributário Brasileiro

1 Professor PDE, do Colégio Estadual do Campo Salto Grande do Turvo – EFM, NRE: Área

Metropolitana Norte, Doutor Ulysses. E-mail: [email protected] ²Professora Doutora em educação UTFPR; orientadora. E-mail: [email protected]

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1 INTRODUÇÃO

O presente artigo resulta da aplicação do projeto de intervenção pedagógica

realizado no Colégio Estadual do Campo Salto Grande do Turvo, do município de

Doutor Ulysses e procura demonstrar as ações e resultados obtidos com a

implementação da proposta pedagógica, cujo objetivo foi o desenvolvimento dos

conceitos da matemática financeira e um estudo sobre o sistema tributário brasileiro.

A proposta implementada objetivou o tratamento dos conceitos da matemática

financeira de forma contextualizada e realizou um estudo do sistema tributário

brasileiro, com aos alunos do 3ª ano do Ensino Médio, turma em que não sou

professor regente, visando conhecimento mais efetivo sobre o assunto.

Constantemente nos deparamos com o desinteresse dos alunos pelo ensino,

em especial na área de matemática devido a grande abstração de conceitos que

requerem percepção lógica para a construção de seu conhecimento, sendo

necessária a promoção de ações que tragam o contexto social dos alunos para a

prática escolar, que o objeto de estudo seja estimulante, tenha um significado

aparente e demonstre a importância desses saberes.

Esta necessidade fica evidenciada conforme afirmação de D’Ambrosio (1991,

p.1) “[...] há algo errado com a matemática que estamos ensinando. O conteúdo que

tentamos passar a diante através dos sistemas escolares é obsoleto,

desinteressante e inútil”. Ainda, segundo o autor, “[...] em coisas acabadas, mortas e

absolutamente fora do contexto. Torna-se cada vez mais difícil motivar alunos para

uma ciência tão cristalizada” (D’AMBROSIO,1996, p.29).

Com base na pesquisa desenvolvida para a produção do projeto de

intervenção, compreendeu-se a necessidade de proporcionar diversas

oportunidades de aprendizagem, com situações presentes no dia a dia dos

estudantes, conforme prática exemplificada nas Orientações Curriculares para o

Ensino Médio:

No trabalho com Números e operações deve-se proporcionar aos alunos uma diversidade de situações, de forma a capacitá-los a resolver problemas do quotidiano, tais como: operar com números inteiros e decimais finitos; operar com frações em especial com porcentagens; fazer cálculo mental e saber estimar ordem de grandezas de números; usar calculadora e números em notação científica; resolver problemas de proporcionalidade direta e inversa; interpretar gráficos tabelas e dados numéricos veiculados nas diferentes mídias; ler faturas de conta com consumo de água, luz e telefone; interpretar informação dada em artefatos tecnológicos (termômetro, relógio, velocímetro). (BRASIL, 2006, p.70).

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O ensino da matemática não deve transmitir somente um acumulado de

conhecimentos técnicos, mas precisa provocar uma ampla reflexão para a formação

da consciência cidadã e crítica dos discentes, conforme estabelece nossa legislação

educacional através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB

(BRASIL, 1996), e nos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs. (BRASIL, 1998).

Conforme pontua Ole Skovsmose, na sua obra: Educação Crítica: Incerteza,

Matemática, Responsabilidade, mencionada na resenha por Ubiratan D’Ambrosio,

preocupando-se com o ensino da matemática, sendo crítica e significativa, a função

do profissional que tem a incumbência da transmissão do conhecimento dessa área:

Mais adiante sintetiza a angústia que sente, e que eu compartilho, sobre nosso papel, como educadores matemáticos, na construção de um futuro com paz e dignidade para todos os seres humano “Eu sinto incerteza sobre quase tudo e, ao mesmo tempo, eu sinto que a matemática e a educação matemática desempenham papéis significantes ao mesmo tempo em que indeterminados na sociedade de hoje”. (D’AMBROSIO, 2008, p.177).

Comprova-se assim, a necessidade de propormos ações voltadas à educação

matemática e seus conceitos práticos, de forma a propiciar ao estudante uma

aprendizagem que possa agregar valores e saberes necessários a participação

social que venha adquirir à sua vida. A contextualização no ensino de matemática

vem de encontro a essa necessidade e torna-se fundamental sua inserção no

processo de aprendizagem.

Conforme afirma Andreia Tomé Dias Peres, sobre a importância de que o

ensino de matemática seja tratado com problemas reais do cotidiano do estudante, o

autor tece a seguinte consideração sobre a importância de contextualizar o ensino

matemático:

O uso de problemas do mundo real como ponto de partida para considerações matemáticas permitem: Como cidadãos do futuro, alunos terão que enfrentar muitos problemas do mundo real que parecem não ser matematicamente claros... o cidadão é competente para distinguir entre inferências matemáticas necessárias e os pressupostos de modelagem dependentes de interesses? Pode-se esperar que colocar mais atenção na qualidade da negociação do significado matemático na sala de aula pode melhorar a educação do "leigo competente” (VOIGT, 1998, p. 195, apud PERES, 2012, p. 20).

A matemática financeira é vista como um elemento interessante e importante

na formação do cidadão, referenciado nas Orientações Curriculares para o Ensino

Médio (2006), e deve ser tratado de forma eficaz no ensino médio, possibilitando ao

aluno amplo acesso a esse conhecimento para que possam aplicá-lo com perfeição

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diante de uma problemática que se apresente, tendo autonomia para tomar as

melhores decisões e evitar ser prejudicado por desconhecer os conceitos básicos

dessa disciplina.

A matemática financeira é integrante da base curricular nacional e notória

deve ser o seu desenvolvimento para a formação do homem e de sua consciência

cidadã, mesmo que não percebida está inserida em nosso cotidiano de forma muito

expressiva.

As Diretrizes Curriculares para a Educação Básica preconizam:

É importante que o aluno do Ensino Médio compreenda a matemática financeira aplicada aos diversos ramos da atividade humana e sua influência nas decisões de ordem pessoal e social. Tal importância relaciona-se o trato com dívidas, com crediários à interpretação de descontos, à compreensão dos reajustes salariais, à escolha de aplicações financeiras, entre outras. (PARANÁ, 2008, p.61).

Segundo Faveri (2014), cabe à escola transmitir conhecimentos sobre os

conceitos e produtos que envolvem a matemática financeira, para que, os

estudantes de forma autônoma possam tomar decisões sobre o gerenciamento de

seus recursos.

Para que um cidadão possa definir as melhores oportunidades diante de uma

operação financeira, é imprescindível a compreensão do cálculo financeiro.

Nesse sentido, Samanez diz que:

Atualmente, o cálculo financeiro e a análise de investimentos são ferramentas essenciais a tomada de decisões e a gestão financeira das empresas e das pessoas. Assim, ter habilidade para lidar com cálculos e investimentos é hoje um requisito fundamental. (SAMANEZ, 2010, prefácio).

Geralmente a matemática financeira costuma ser apresentada com muitas

fórmulas e simbologia complexa, como algo difícil de aprender, (PUCCINI, 2004).

Essa postura compromete o ensino e deve ser abolida, trazendo os problemas para

o contexto do aluno (SADOVSKY, 2010).

É imprescindível para o desenvolvimento do homem como cidadão o estudo

da matemática financeira, necessária à solução de problemas do dia a dia e cabe à

escola tratá-la da forma mais prática possível para permitir que os conceitos possam

ser definidos e absorvidos pelos estudantes (PUCCINI, 2011).

Temas que apresentam relevância e que repercutem diretamente sobre a

sociedade, como é o caso do sistema tributário brasileiro, permitem a possibilidade

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para o desenvolvimento de aprendizagem e formação do cidadão, tornando o

processo de ensino mais realista e contextualizado.

Sendo assim, foi desenvolvido um estudo sobre o sistema tributário brasileiro

e sua influência na sociedade, permitindo reflexões sobre o gerenciamento e a

aplicação dos recursos angariados através dos tributos pelas esferas

governamentais.

O aluno por ser consumidor, já está inserido no contexto tributário e beneficia-

se ao utilizar bens e serviços públicos oferecidos à sociedade. Tendo a percepção

do montante de impostos que cada sujeito contribui, é possível analisar se a relação:

tributos pagos/benefícios recebidos apresentam uma equiparação justa, refletindo

dessa forma se o gerenciamento dos recursos públicos estão sendo feitos de forma

satisfatória.

Cabe a escola, possibilitar ao homem o desenvolvimento consciente de si e

da realidade que o cerca, permitindo aptidões para transformar o seu próprio mundo

e adicionar-lhe formação para o exercício da cidadania, para tanto, é necessário que

haja um amplo conhecimento daquilo que nos rodeia e impacta diretamente sobre

nós, permitindo o aflorar de um pensamento crítico, reflexivo e autônomo.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais:

A escola deve assumir-se como um espaço de vivência e de discussão dos referenciais éticos, não como uma instância normativa e normatizadora mas um local privilegiado de construção de significado éticos necessários e constitutivos de toda e qualquer ação de cidadania, promovendo discussões sobre a dignidade do ser humano, igualdade de direito, recusa categórica de formas de discriminação, importância da solidariedade e observância das leis. (BRASIL, 1998, p.16).

A formação do cidadão e o educar para a cidadania são grandes desafios da

educação na atualidade, sendo também responsabilidade do professor de

matemática a participação da construção desse conhecimento. (D’AMBROSIO,

1996).

Sobre a importância do ensino da matemática para o desenvolvimento da

criticidade, baseado na obra de Ole Skovsmose, Educação crítica: incerteza,

matemática, responsabilidade, José Eduardo Neves Silva escreve:

Reforça-se a idéia da importância do conhecimento matemático como uma maneira de tornar o cidadão mais crítico e menos suscetível a uma matemática invisível presente no dia-a-dia das nossas sociedades. Mas isso não é fácil, principalmente quando a tradição da matemática escolar parece condicionar os estudantes apenas a executar comandos predefinidos por

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alguém superior a ele. Nesse contexto, reflexão e diálogo se fazem necessários, trazendo uma esperança através da matemática. (SILVA, 2007, p.208)

O presente estudo indicou a necessidade de abordar os temas de forma

contextualizada para potencializar o desenvolvimento cognitivo dos conceitos de

matemática, em específico os conteúdos de matemática financeira e permitir a

construção de um caminho de reflexões, para que os discentes pudessem analisar

de forma crítica a implicação do sistema de tributação brasileiro em nossa

sociedade, exercendo dessa forma, sua cidadania.

Na implementação da proposta, foi apresentado aos estudantes a educação

fiscal como elemento formador que contribui para o exercício da cidadania,

obrigação do sistema educacional brasileiro.

Como a maioria da população não tem clareza a respeito do sistema tributário

a que somos sujeitos, a temática foi abordada dando uma noção teórica do que é

um imposto, a diferença em relação a uma contribuição, o porquê foram criados,

qual sua incidência e influência em nosso cotidiano, disponibilizando aos alunos um

mecanismo didático que permitiu um estudo reflexivo, abordando o fato de imposto

ser uma obrigação, calculado conforme aplicação de uma alíquota, onde o não

pagamento acarreta sanções definidas por lei, e tem por função atender as

despesas da administração pública, que entre suas ações deve devolver à

sociedade serviços públicos de qualidade, como por exemplo, a educação, saúde e

segurança pública.

O conhecimento da matemática financeira contribui para a formação da

cidadania do indivíduo, visto que a tributação é feita através de alíquotas que

incidem sobre os produtos/serviços, com taxas fixadas conforme a legislação

pertinente para cada tributo, e a competência para cálculos financeiros permite ao

contribuinte reconhecer o valor correspondente a cada imposto.

Em relação à matemática financeira, foram tratados conteúdos de

porcentagem, juros simples, juros compostos e taxas com uma série de atividades

que envolviam cálculos e problemas a partir de dados pertinentes ao contexto social

dos alunos, incluindo questões referente a incidência de tributos sobre as operações

comerciais da região.

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2 DESENVOLVIMENTO

A implementação do projeto de intervenção pedagógica, foi desenvolvido com

atividades teóricas e práticas, e procurou aproveitar o conhecimento prévio dos

estudantes para apresentar os conceitos necessários para atingir os objetivos.

Para o desenvolvimento das atividades teóricas, foram utilizados recursos

midiáticos, produções postadas em diversos sites, além da legislação pertinente.

As atividades práticas, publicadas em caderno pedagógico disponível em

http://arq.e-escola.pr.gov.br/pde2012/6041993-132.pdf, partiram de situações

vivenciadas no contexto social dos envolvidos, tornando o estudo mais próximo da

realidade da região.

A organização das atividades necessárias ao desenvolvimento da

implementação do projeto se deu com as seguintes intervenções pedagógicas:

Apresentação do projeto aos alunos

O início da implementação deu-se com a apresentação do projeto de

intervenção aos alunos, mostrando sua importância, justificado pelo fato de que

grande parte da população desconhece o sistema tributário de nosso país e da

notoriedade de desenvolver os conceitos da matemática financeira.

Iniciou-se com uma discussão sobre o sistema tributário brasileiro, onde foi

apresentado dados demonstrando essa constatação, como por exemplo:

Dados divulgados no site Portal Tributário revelam que 69% da população

brasileira reconhecem pagar impostos e 29,9% afirmam não pagar nenhum tipo de

imposto. Cerca de um terço da população ignora a carga tributária a que está sujeito

e acabam pagando obrigatoriamente, sem ao menos reconhecê-lo. (Disponível em:

http://www.portaltributario.com.br/artigos/sabemos_quanto_pagamos.htm. Acessado

em 27 de setembro de 2016).

Discussão sobre o sistema tributário brasileiro

Nessa atividade foi oportunizado uma discussão com os alunos, questionando

o que eles sabiam sobre o sistema tributário, levantando os termos conhecidos,

situações que já vivenciaram, observações, enfim, instigando-os para absorver o

que já dominavam sobre o assunto.

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Posteriormente, foram apresentados alguns textos de sites, como: “Você

sabe a diferença entre tributos, impostos, taxas e outros conceitos?” do blog

conube.com.br (disponível em: https://conube.com.br/blog/voce-sabe-a-diferenca-

entre-tributos-impostos-taxas-e-outros-conceitos/ Acessado em 28 de setembro de

2016), desenvolvendo um estudo sobre o assunto, para conhecimento dos termos

técnicos e “Os Tributos no Brasil – Relação atualizada em 26/09/16)”,

http://www.portaltributario.com.br/tributos.htm. (Acessado em 27 de setembro de

2016.), onde demonstra a imensa carga tributária do Brasil.

Pesquisa sobre o sistema tributário brasileiro

Nessa atividade os alunos desenvolveram uma pesquisa mais ampla sobre o

Sistema Tributário Brasileiro, buscando informações sobre os principais tributos, sua

incidência e alíquotas.

Conhecendo os documentos fiscais

Nessa atividade, os estudantes foram divididos em equipes e foi

disponibilizado exemplos de documentos fiscais (nota fiscal, nota fiscal eletrônica,

tickt de supermercado, tarifas de energia, cupom fiscal, nota fiscal de prestação de

serviços, etc.). A medida em que os alunos analisavam os documentos fiscais, foram

submetidos a questionamentos como: o que vocês acham do montante dos tributos

que foram cobrados? Se a compra acontecer todo mês, como é o caso dos produtos

da cesta básica, serviços básicos de abastecimento de água e esgoto, energia

elétrica, telefonia, combustível, etc., o quanto representaria em um ano? E se não

fossem cobrados tributos, teríamos uma vida melhor? Como ficariam os serviços

públicos básicos (educação, saúde, segurança, etc.) que o governo oferece à

sociedade sem a cobrança de tributos? Com que recursos esses serviços seriam

mantidos? Será que os recursos gerados pelos tributos são bem geridos pelo poder

público?

Estudo dos conceitos de matemática financeira

Essa atividade teve a participação da professora de matemática da turma em

que o projeto foi implementado. Foi apresentado aos alunos o significado dos

principais termos que fazem parte da linguagem da matemática financeira, sempre

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instigando os alunos para ver o que eles já tinham de conhecimento prévio,

preferencialmente trazendo um problema ou situação que aconteça em seu contexto

social.

Foi retomado o conceito de porcentagem visto pelos alunos no ensino

fundamental, aprofundando mais os conhecimentos e introduzindo uma definição

científica, seguido de exemplos, cálculos e exercícios para fixação da aprendizagem.

Foram trabalhados os conceitos e cálculos a respeito dos juros simples e

juros compostos, iniciando com uma noção teórica e aplicado em exemplo prático

relacionando a problemática à realidade dos alunos.

Análise dos tributos nos produtos e serviços da região

Nessa atividade, foram trabalhados a questão do pagamento dos tributos nos

produtos e serviços da região, apresentados nos documentos fiscais que foram

adquiridos e/ou consumidos pela comunidade.

Foram solicitados aos que trouxessem cópias de notas fiscais, nota de

produtor rural, nota de prestação de serviços, tarifas de energia elétrica, tarifas da

concessionária de água, entre outros, para que sejam discutidos os valores e o

percentual dos tributos conforme a categoria dos produtos/serviços.

Conhecendo a Carga Tributária de outros países

Essa atividade foi desenvolvida pelo professor de Geografia da turma

envolvida no programa, onde os alunos desenvolveram uma pesquisa para

verificarem o comportamento de outros países com relação aos seus sistemas de

tributação, buscando elementos que possam definir se há alguma relação entre o

índice de desenvolvimento humano e a quantidade de tributos que se aplica sobre

os produtos e serviços utilizados pela população.

Foram pesquisados países da América Latina e de outros continentes com

diferentes níveis de desenvolvimento.

Com essas ações, permitiu-se perceber que o tema abordado foi pertinente

devido a sua importância e impacto que causa à sociedade atual, e o

desenvolvimento dos conceitos relativos a matemática financeira foram abordados

com mais facilidade devido a proximidade com a realidade social dos estudantes.

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3 ANÁLISE E RESULTADOS

A apresentação desse projeto e seu desenvolvimento ocorreu no Colégio

Estadual do Campo Salto Grande do Turvo – Ensino Fundamental e Médio do

município de Doutor Ulysses, na turma do 3º ano do Ensino Médio do período da

manhã. A implementação foi desenvolvida em 33 (trinta e três) horas aula.

As atividades foram planejadas para levar os estudantes a refletirem sobre o

tema abordado e teve além do cunho informativo a intenção de desenvolver e

aprimorar conhecimentos referentes aos conceitos da matemática financeira, vista a

importância e seu uso frequente no dia a dia, seja numa simples operação financeira

em um comércio local ou diante de uma análise mais complexa de financiamento

bancário.

Ao iniciar as atividades, os alunos foram questionados quanto ao interesse

pelo tema e o que sabiam efetivamente sobre o assunto e, conforme as estatísticas

demostram, o conteúdo é desconhecido pela maioria dos que participaram desse

projeto.

Ao serem questionados se conheciam o sistema tributário brasileiro, cerca de

90% responderam que nunca tinham ouvido falar sobre o assunto, 10% dos

envolvidos responderam que já tinham ouvido alguma coisa em jornais.

Com relação a esses índices, observou-se que muitos alunos sabiam da

existência dos impostos e que pagavam, porém, sem preocupação com o tema ou

interesse no mesmo, dimensionando assim, de alguma forma contato com a

tributação.

Os alunos foram questionados sobre o quanto pagavam de impostos, ou

simplesmente se era muito, e foram unânimes em responder que desconheciam

totalmente essa questão.

Cerca de 30% dos estudantes participantes disseram que já ouviram os pais

falarem alguma coisa sobre impostos, mas não souberam informar do que se tratava

e/ou o que representava.

Ao serem questionados sobre o valor das mercadorias que compram, todos

disseram que acham os valores absurdos, sendo inflacionados constantemente, e

que na composição final dos preços, existem taxas para o governo, porém, sem

saber que essa imposição é decorrente do sistema tributário do nosso país.

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Ao longo das discussões e estudos, parte dos estudantes procuraram uma

maior interação com o assunto e em muitos casos, ficaram abismados com o

montante de tributos a que estão sujeitos.

Os alunos participaram das atividades demonstrando interesse pelo tema

proposto, debatendo e questionando a intencionalidade do sistema tributário

brasileiro, e ao longo dos debates expressaram preocupações a cerca do alto índice

de tributos incidentes sobre a população. Questionaram situações pertinentes como:

“Muitos impostos dificultam a vida das pessoas”, “muitos impostos fazem as

empresas sonegarem”, “impostos são para alimentar os corruptos que mandam no

país”, entre outras críticas ao sistema de tributação, reflexões que se esperava no

desenvolvimento do projeto de intervenção. Os questionamentos partiram após

análises de documentos fiscais, como o exemplo abaixo em que o aluno respondeu

a atividade a partir da conta de energia elétrica de sua casa.

Fig 1: atividade do aluno 1. Fonte: o próprio autor

Percebeu-se ainda, em análise do desenvolvimento da atividade mencionada,

que os estudos referentes à matemática financeira, por terem sido tratados por meio

de uma problemática que envolve o contexto social do aluno, favoreceu o

entendimento e permitiu que sua apresentação fosse facilitada.

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As pesquisas desenvolvidas para a comparação entre os diferentes sistemas

tributários de outros países, conforme demonstra a atividade a seguir, permitiram

reflexões a respeito do montante pago de impostos e o desenvolvimento humano de

cada nação.

Fig 2: atividade do aluno 2. Fonte: o próprio autor

Muitos estudantes interpretaram que o pagamento de tributos, se bem gerido,

pode ser revertido em benefícios e desenvolvimentos, sendo, portanto necessários.

Essa análise decorreu das discussões provenientes nas atividades desenvolvidas,

como a mencionada, onde os alunos consideraram que mesmo em países com alto

índice de tributos, como exemplo da Dinamarca, vive-se muito bem, pois os

benefícios revertidos à população - fruto dos tributos - são suficientes para uma boa

qualidade de vida.

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4 CONCLUSÕES

Observou-se no início da implementação do projeto de intervenção, por meio

de questionamentos, que os estudantes desconheciam a realidade tributária do

nosso país, tendo somente noções por meio de relatos dos pais a respeito do

pagamento de impostos, mas, não sabendo quais são os tributos, como são e em

que situações são cobrados e qual o impacto financeiro que representava sobre o

valor total de um bem ou serviço.

Dessa forma, justificou-se a implementação do projeto de intervenção

pedagógica proposto, que trouxe a oportunidade aos envolvidos de discutirem o

assunto e desenvolver relações críticas sobre o sistema de tributação e sua

finalidade de oferecer à sociedade a devolução de produtos e serviços sociais

básicos como saúde, segurança e educação.

Ao longo do desenvolvimento das atividades, percebeu-se que os estudantes

envolveram-se nas discussões e participaram com opiniões críticas e construtivas a

respeito do sistema de tributário atual, objetivos almejados pela proposta, que

colaboraram na construção do conhecimento educacional dos participantes.

O desenvolvimento dos conceitos da matemática financeira tiveram êxitos,

pois, a apresentação por meio de problemas que retratam situações vivenciadas na

região tornaram o estudo mais atraente e próximo da realidade dos alunos, obtendo

resultados significativos de aprendizagem.

Por meio das constatações observadas ao longo da implementação do

projeto, conclui-se que os objetivos foram atingidos, diante da perspectiva de propor

momentos de reflexões acerca do sistema tributário brasileiro e suas implicações na

sociedade, e que a didática de apresentar conceitos da matemática financeira

utilizando uma linguagem compreendida pelos estudantes, relacionando com temas

e situações práticas vivenciadas no dia a dia permitem uma aprendizagem mais

facilitada e uma dinâmica escolar mais apreciada.

Todavia, percebe-se a proposta pedagógica utilizada não deve ser

considerada definitivamente pronta, pois, como a educação está em constante

movimentação no que tange seu aperfeiçoamento, o caminho para o sucesso há

que ser construído com reflexões, interações, práticas e amadurecimento de nossas

convicções pedagógicas.

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5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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DIAS PERES, Andreia Tomé. O uso de critérios de avaliação na resolução de problemas – Lisboa, 2012 PAIVA, Manoel. Matemática Paiva. São Paulo: Editora Moderna, 2009 PARANÁ. Secretaria de estado da educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica - matemática. Curitiba: SEED, 2008. PUCCINI, Abelardo de Lima. Matemática financeira: objetiva e aplicada. 7. Ed. São Paulo: Saraiva, 2004. PUCCINI, Ernesto Coutinho. Matemática financeira e análise de investimentos. – Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração/UFSC; [Brasília] : CAPES/ UAB, 2011. SADOVSKY, Patricia. O ensino da matemática hoje: enfoques, sentidos e desafios. São Paulo: Ática, 2010. SAMANEZ, Carlos Patrício. Matemática financeira: aplicações à análise de investimentos. 5.ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. SILVA, José Eduardo Neves. Horizontes, v. 25, n. 2, p. 207-208, jul./dez. 2007 SMOLE, Katia S e DINIZ, Maria I. Matemática: ensino médio 3. – 8. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2013. VIEIRA SOBRINHO, José Dutra. Matemática Financeira. São Paulo: Atlas, 1989

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