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6º Encontro da Associação Brasileira de Relações Internacionais 25 a 28 de Julho de 2017 Área temática: Ensino e Pesquisa em Relações Internacionais PC115 Novas Metodologias de Ensino em Relações Internacionais PROGRAMA GLOBALIZANDO: O RÁDIO COMO INSTRUMENTO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS Mário Tito Barros Almeida Universidade da Amazônia (UNESPA/UNAMA) Bruna Ferreira Pinheiro Universidade Federal do Pará (UFPA) Gabriella Nunes da Silva Universidade Federal do Pará (UFPA) BELO HORIZONTE MG 2017

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6º Encontro da Associação Brasileira de Relações Internacionais

25 a 28 de Julho de 2017

Área temática: Ensino e Pesquisa em Relações Internacionais

PC115 – Novas Metodologias de Ensino em Relações Internacionais

PROGRAMA GLOBALIZANDO: O RÁDIO COMO INSTRUMENTO DE EXTENSÃO

UNIVERSITÁRIA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Mário Tito Barros Almeida

Universidade da Amazônia (UNESPA/UNAMA)

Bruna Ferreira Pinheiro

Universidade Federal do Pará (UFPA)

Gabriella Nunes da Silva

Universidade Federal do Pará (UFPA)

BELO HORIZONTE – MG

2017

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PROGRAMA GLOBALIZANDO: O RÁDIO COMO INSTRUMENTO DE EXTENSÃO

UNIVERSITÁRIA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

RESUMO

O propósito deste artigo é apresentar e analisar a experiência de extensão do curso de Relações Internacionais da Universidade da Amazônia através do Programa Globalizando, um programa de rádio produzido por alunos e professores do curso, que discute temas pertinentes às Relações Internacionais, com interface local, transmitido semanalmente pela Rádio UNAMA FM 105.5. A fim de alcançar o objetivo proposto neste trabalho, analisa-se a experiência à luz do pensamento de Boaventura de Sousa Santos, o qual discute a extensão universitária como serviço à comunidade em busca esclarecimento e mudança social. O caminho metodológico consiste em revisão bibliográfica a respeito da importância da extensão universitária e da utilização dos meios de comunicação de massa neste contexto para, em seguida, apresentar a experiência realizada há quatro anos pelo Programa Globalizando e analisá-la à luz do referencial teórico escolhido. Ao fim, demonstra-se como o Programa Globalizando se torna expressão do que se entende por extensão universitária, uma vez que leva o conhecimento acadêmico de Relações Internacionais para além das fronteiras da universidade, informando a comunidade e estimulando a formação de pensadores críticos em relação à Amazônia e o mundo.

Palavras-chave: Programa Globalizando. Relações Internacionais. Extensão Universitária. Educação do Ensino Superior.

PROGRAMA GLOBALIZANDO: THE RADIO AS AN INSTRUMENT OF UNIVERSITY

EXTENSION IN INTERNATIONAL RELATIONS

ABSTRACT

This paper aims to present and analyze the experience of extending the International Relations undergraduation course of Universidade da Amazônia through the Programa Globalizando, a radio program produced by students and professors, which discusses international relations topics, with local interface, weekly transmitted by Radio UNAMA FM 105.5. In order to reach the goal proposed in this paper, we analyze the experience trough the thinking of Boaventura de Sousa Santos, who discusses the university extension as a service to the community in search of enlightenment and social change. The methodological path consists of a bibliographical review about the importance of university extension and the use of the mass media in this context, and then presents the experience carried out four years ago by Programa Globalizando, analyzing it from the chosen theoretical framework. Finally, it is shown how Programa Globalizando becomes an expression of what is meant by university extension, since it brings the academic knowledge of International Relations beyond the university boundaries, informing the community and encouraging the formation of critical thinkers about the Amazon and the world.

Key-words: Programa Globalizando. International Relations. University Extension. Higher Education.

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1. INTRODUÇÃO

O princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão foi estabelecido pela

Constituição Federal Brasileira de 1988 a fim de incrementar o processo de ensino e

aprendizado no Ensino Superior, aperfeiçoar a qualificação dos estudantes para o exercício

de sua profissão, além de prepará-los para o exercício da cidadania em colaboração com a

sociedade.

Foi tendo isso em mente que, há quatro anos, o curso de Relações Internacionais da

Universidade da Amazônia (UNAMA) pioneiramente elaborou um projeto de atividade de

extensão, com o apoio de profissionais do curso de Comunicação Social da mesma

Universidade, que consistia na veiculação de um programa de rádio produzido por discentes

de Relações Internacionais: o Programa Globalizando.

De um lado, a ideia visava levar informação e conhecimento à população local sobre

temas próprios das relações internacionais e suas possíveis interfaces com a região. De outro,

era uma forma de estimular no corpo discente do curso o aprofundamento em determinadas

temáticas, o exercício de reflexão, análise e debate, abrindo o horizonte para a realização de

pesquisas acadêmicas individuais futuras.

Atualmente o Programa Globalizando figura entre as atrações de maior audiência da

programação da Rádio UNAMA FM e se consolida como uma experiência de extensão de

sucesso do curso de graduação em Relações Internacionais da UNAMA. A produção, que

envolve discentes e docentes, assim como profissionais de comunicação, tem se mostrado

um atrativo do curso por seu caráter inovador e interativo. Sendo assim, este artigo tem por

objetivo apresentar e analisar a experiência de extensão do curso de Relações Internacionais

da UNAMA através da realização do Programa Globalizando.

O trabalho está dividido em outras três partes, além desta introdução. No primeiro

momento, discute-se a importância da extensão universitária e a utilização de meios de

comunicação de massa, através do pensamento teórico de Boaventura de Sousa Santos e

suas reflexões acerca da extensão universitária como serviço à comunidade em busca de

emancipação e mudança social. Em seguida, apresenta-se o programa em si, sua origem,

estrutura organizacional e temas abordados. Na terceira etapa, analisa-se o Programa

Globalizando à luz das discussões de Boaventura de Sousa Santos e discute-se a validade

dessa estratégia de pesquisa e extensão. Por fim, as considerações finais ressaltam como o

Programa Globalizando se torna expressão do que se entende por extensão universitária, ao

levar o conhecimento acadêmico de Relações Internacionais para além das fronteiras da

universidade, estimulando a formação de pensadores críticos em relação à Amazônia e o

mundo.

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2. O PENSAMENTO DE BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS E O PAPEL DA

UNIVERSIDADE

O percurso intelectual de Boaventura de Sousa Santos ajuda a iluminar seu pensamento.

Nascido em 1940, Portugal, fez-se cidadão do mundo e dessa experiência existencial e

intelectual construiu seu pensamento. CARVALHO (2009) sublinha que, ao fazer o salto

marxista, Boaventura amplia a lógica marxiana fundante que analisa a civilização capitalista

analisando as exclusões e opressões do colonialismo em suas versões contemporânea

2.1 Alguns conceitos analíticos

O ponto de partida das reflexões de Boaventura pode ser sistematizado conforme suas

próprias reflexões a respeito das perplexidades produtivas e dos desafios da

contemporaneidade. Segundo ele, “em condições de aceleração da história como as que hoje

vivemos é possível por a realidade no seu lugar sem correr o risco de criar conceitos e teorias

fora do lugar” (SANTOS, 1997, p. 22).

Inspirado nas linhas mestras do pensamento marxista, mas sabedor de que este deve

ser confrontado dialeticamente com as características da contemporaneidade e que deve ser

alargado em sua compreensão da realidade, defende que a transição paradigmática se dá em

duas vias de verificação. Pela primeira, percebe-se que as promessas da racionalidade

moderna, tão defendidas pelo mainstream de teóricos do iluminismo capitalista e praticamente

reduzidas a ele, não se cumpriram nem podem se cumprir. Pela segunda, vê-se que a

“emancipação social” – a promessa mais sublinhada por esta racionalidade moderna

capitalista - simplesmente desmancha-se no ar pois está totalmente relacionada com a crise

da regulação social e revela o não cumprimento das maravilhas que seriam trazidas pela

tecnologia de cunho racional moderno capitalista. Isto é, ao invés de emancipação, se tem

exclusão.

Assim, o de Boaventura é um “pós-modernismo de oposição” de natureza

emancipatória, calcado na categoria do “sul”, ou seja, na categoria sócio-política que expressa

a situação de exclusão e opressão às quais estão submetidas populações. São estes

silenciamentos e estas dominações que empobrecem a dinâmica epistemológica do mundo e

alimentam as submissões no tempo presente. Para o autor, há que se promover, portanto, a

reinvenção da emancipação a partir desta epistemologia do sul (SANTOS, 2000) na tríplice

dimensão do aprendizado: aprender que existe o sul, aprender a ir para o sul e aprender a

partir do sul e com o sul.

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A produção de conhecimento ao interno da universidade encontra sua razão de ser não

“em si mesma”, mas na medida em que se faz transmissão para fora dos muros da

universidade e espaço de emancipação pela via do questionamento das rotinas e

procedimentos instalados e arraigados na organização social, política e econômica. O

processo de construção desse conhecimento científico implica na própria análise crítica e na

possível redefinição das linhas constitutivas do curso e de sua relação com os atores sociais

nacionais e internacionais envolvidos.

2.2 A reinvenção da emancipação

A emancipação é um conceito chave em Boaventura. Partindo da crítica, já abordada

aqui, da emancipação prometida e não cumprida pela racionalidade moderna, ele insere sua

perspectiva emancipatória no âmbito princípio do reconhecimento da igualdade e da diferença

visando, como afirma CARVALHO (2009, p. 8), “defender a igualdade sempre que a diferença

gerar inferioridade e defender a diferença sempre que igualdade implicar descaracterização”.

A transição paradigmática contemporânea pressupõe transição societal e transição

epistemológica.

A primeira se refere aos diferentes modos de organizar a sociedade. Esta transição no

âmbito da organização da sociedade implica na radicalização da democracia de alta

intensidade, ou seja, na democratização de todos os “espaços-tempos” de poder e de

dominação, com vistas à autoridade partilhada e à construção de novas formas de

sociabilidade, de novos valores e de nova cosmovisão. Segundo SANTOS (1997, p. 271), “a

nova teoria democrática deverá proceder à repolitização global da prática social e o campo

político imenso que daí resultará permitirá desocultar formas novas de opressão e de

dominação, ao mesmo tempo que criará novas formas de democracia e de cidadania”. A

crença de Boaventura é em um novo socialismo do século XXI, onde estas demandas possam

ser discutidas e alcançadas.

As utopias, como se vê, conduzirão os indivíduos e a sociedade à superação da mens

dominante, onde a acumulação de saberes corresponde à acumulação de capital e à

colonização. Em suas palavras,

Essa capacidade e essa vontade serão fundamentais para olhar com empenho os modelos dominados ou emergentes através dos quais é possível aprender um novo tipo de relacionamento entre saberes e, portanto, entre pessoas e entre grupos sociais. Um relacionamento mais igualitário, mais justo que nos faça aprender o mundo de modo edificante, emancipatório e multicultural. (SANTOS, 1996, p. 33).

2.3 Universidade, pesquisa e extensão no pensamento de Boaventura de Sousa Santos

As ideias de Boaventura podem ser aproximadas da reflexão sobre o pensar-fazer

educacional à medida em que se percebe a íntima relação entre conhecimento e

emancipação.

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No que se refere especificamente ao nível superior, Boaventura no capítulo 8º de seu

livro “Pela mão de Alice...” (SANTOS, 1997), discorre sobre a Universidade no contexto de

emancipação, afirmando que esta deve passar da ideia de universidade para a universidade

de ideias. Isto é, deve expressar uma construção de conhecimento que leva ao empenho

político por meio da inclusão das demandas sociais, de onde a própria universidade advém.

A universidade deve viver das ideias conflitantes, diferentes, livremente expressantes e

expressadas, a fim de visibilizar o espaço-tempo das manifestações dos grupos sociais, que

encontram nela a voz e a vez.

Reconhece que, na contemporaneidade, a universidade vem sendo posta em

questão a ponto de estar em crise e que se caracteriza – dado que está duplamente desafiada

pela sociedade e pelo estado – por não estar “preparada para defrontar os desafios presentes,

tanto mais que estes apontam para transformações profundas e não para simples reformas

parcelares” (p. 187). Sua atuação tem sido marcada pela postura reativa, dependente e

imediatista.

Por este motivo, sendo as universidades fruto da racionalidade moderna, sua crise

está conjugada à própria crise da modernidade abordada acima. Nestas, a ideia de unidade

do saber universitário foi sendo progressivamente substituída pela da hegemonia da

racionalidade cognitivo-instrumental, a qual expressa o domínio da ciência moderna.

Segundo o autor,

A universidade que se quiser pautada pela ciência pós-moderna deverá transformar os seus processos de investigação, de ensino e de extensão segundo três princípios: a prioridade da racionalidade moral-prática e da racionalidade estético-expressiva sobre a racionalidade cognitivo-instrumental; a dupla ruptura epistemológica e a criação de um novo senso comum; a aplicação edificante da ciência no seio da comunidade interpretativa (SANTOS, 1997, p. 223)

É fundamental, segundo o autor, que a universidade seja um lugar privilegiado entre

saberes. A primeira condição para isso é a promoção do reconhecimento de outras formas de

saberes e confronto comunicativos entre eles. Para ele, “a hegemonia da universidade deixa

de residir no caráter único e exclusivo do saber que produz e transmite para passar a residir

no carácter único e exclusivo da configuração de saberes que proporciona” (p. 224). É esta

característica que a faz ser um espaço de verdadeira democratização como “abertura ao

outro”, recepcionando a complexidade de saberes e transformando a extensão em partes

integrantes das atividades de investigação e ensino.

Em Boaventura, conforme discutido acima, percebe-se que não há separação entre

o político e o epistemológico. Neste sentido, o paradigma de um conhecimento prudente para

uma vida decente (SANTOS, 1995, 2004) equivale à afirmação que não pode haver prática

educacional que não leve à transformação social e ao empenho político.

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Neste sentido, no que tange à universidade, os processos educacionais da academia

devem levar à emancipação social, por meio da superação das amarras curriculares e dos

formatos que foram pré-definidos sem o diálogo com a comunidade circundante à própria

universidade. Para isso, é imprescindível considerar a universidade como uma instituição

social atravessada pela sociedade que a criou, ou seja, também impregnada daquilo que se

pretende superar.

Em consonância com estas ideias, percebe-se que, para Boaventura, a extensão é

o espaço fértil para a produção do “conhecimento prudente” baseado nas evidências

científicas e nas inovações tecnológicas e que permite a integração entre o ensino, os serviços

locais e a comunidade em prol de mudanças, sem desconsiderar a indissociabilidade entre a

pesquisa e a extensão universitária.

Com efeito, o ensino e a pesquisa só encontram sua razão de ser na extensão. Não

somente uma extensão como cumprimento de uma função burocrática, mas uma inter-ação

com os múltiplos agentes que circundam e atravessam a Universidade.

É ela que garante a continuidade entre o conhecimento universitário, ou seja,

conhecimento científico homogêneo, racionalmente hierarquizado e organizado à luz dos

próprios interesses das instituições e pesquisadores, e o conhecimento pluriversitário, de

cunho contextualizado, cujo princípio organizador é a aplicabilidade que lhe pode ser dada,

resultante do encontro entre pesquisadores e agentes “extra-muros”, sendo transdisciplinar,

pois baseado em contextualização e no confronto / diálogo com uma multiplicidade de novos

saberes (SANTOS, 2008).

Por meio da extensão, sob o prisma do exercício constante de emancipação, pode-

se construir oportunidades inovadoras para a formação profissional, crítica, reflexiva e cidadã

que dialoga com os diferentes saberes a fim de resolver questões sociais contemporâneas e

complexas de modo participativo

Tendo como pano de fundo estas ideias, a seguir passa-se a apresentar o Programa

Globalizando como expressão de extensão no curso de Relações Internacionais da

Universidade da Amazônia.

3. O PROGRAMA GLOBALIZANDO

3.1. Origem

A Universidade da Amazônia (UNAMA), uma das primeiras universidades particulares do

Estado do Pará, garante, como é próprio de qualquer universidade, o tripé (ensino, pesquisa

e extensão) para seus alunos e a comunidade do entorno. Dessa forma, com a conformação

do Curso de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo, criou-se estruturalmente a

Rádio UNAMA FM 105,5 Mhz, uma rádio universitária educativa, vinculada à Fundação

Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia (FIDESA) e integrante do Grupo Ser

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Educacional, transmitida em Frequência Modulada (FM) e pela internet pelo seu site próprio,

desde 2005.

Com uma estratégia bem definida e que visa uma programação de qualidade em

consonância com o desenvolvimento e a preservação da cultura amazônica, a Rádio UNAMA

FM desenvolveu ao longo dos anos uma série de projetos radiofônicos que tenham o seu perfil

e a qualidade que busca desde sua criação. E, neste sentido, encontra-se o Programa

Globalizando.

Antes de sua consolidação como uma iniciativa de sucesso dentro da programação da

Rádio UNAMA FM e como ferramenta de extensão do Curso de Relações Internacionais, o

Programa Globalizando surgiu a partir de um projeto idealizado entre coordenação, discentes

e produtores de rádio.

Ao final de 2012, estruturou-se dentro da programação da rádio, o “Globalizando 30

Segundos” - um curto programa com 30 segundos de duração, que permanece até os dias de

hoje na grade de programas da rádio, abordando breves notícias internacionais.

A partir da experiência bem-sucedida do “Globalizando 30 Segundos”, em 2013 tomou

forma sob a gestão do então coordenador do curso de Relações Internacionais e radialista

registrado, Prof.º Mário Tito Barros Almeida, a construção de um programa expandido sobre

Relações Internacionais, inspirado no “Globalizando 30 Segundos.

Formou-se, então, uma equipe de produção, composta por discentes do curso e

profissionais da rádio UNAMA, para a confecção do roteiro e do formato do programa. A

primeira equipe de produção do recém-criado “Programa Globalizando” era formada por seis

alunos da graduação, divididos entre as seguintes funções: locução, captação de perguntas,

confecção de roteiro, pesquisa de livros e filmes, pesquisa de curiosidades internacionais,

seleção de músicas e pesquisa de manchetes internacionais.

Com o objetivo de atrair o corpo discente do curso para atividades de extensão, a equipe

de produção do programa é marcada pela rotatividade de alunos dos mais diversos

semestres, além de possibilitar outras formas de participação aos demais discentes do curso,

que não compõem a equipe fixa.

Sendo assim, o Programa Globalizando consolidou-se como um programa de rádio

semanal, caracterizado por discussões de temáticas internacionais através de entrevistas com

especialistas, além de curiosidades, notícias internacionais, músicas, entre outras tantas

atrações que giram em torno das Relações Internacionais.

3.2. Estrutura Organizacional e Roteiro

Para garantir a sustentabilidade do projeto na programação da Rádio UNAMA, a produção

do Programa Globalizando é realizada de forma integrada entre alunos, professores e

técnicos da Rádio. Ao largo de quatro anos, 46 alunos do curso de Relações Internacionais já

fizeram parte da equipe. Atualmente, a equipe fixa de produção é composta por 15 alunos da

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graduação, 2 bacharelas em Relações Internacionais, além do professor responsável pela

coordenação-geral da equipe.

É fundamental a todos os novos integrantes da equipe um período de aprendizado acerca

de técnicas de pesquisa, redação e locução para rádio, além de estratégias de marketing

digital para os membros responsáveis pela administração das redes sociais do programa na

internet. O domínio dessas habilidades facilita o trabalho de funcionários e técnicos da Rádio

UNAMA e garante maior profissionalismo ao programa.

Uma vez que o Programa Globalizando tem a intenção de apresentar uma programação

dinâmica, que vai muito além de entrevistas e debates, o roteiro é elaborado tendo em vista

uma série de ‘quadros’ fixos. Tais quadros são a principal referência para a divisão de funções

entre os componentes da equipe de produção. No Quadro 1 é possível melhor observar a

estrutura organizacional da equipe de acordo com as atividades atreladas a cada etapa de

produção.

Quadro 1: Etapas de Produção, divisão de funções e descrição das atividades

desempenhadas

ETAPA ATIVIDADE DESCRIÇÃO

PR

É-P

RO

DU

ÇÃ

O

Pesquisa de Conteúdo

Redação de informações básicas sobre o tema, a fim de contextualizá-lo de forma acessível, para ouvintes de diferentes formações acadêmicas e graus de escolaridade.

Playlist

O programa é permeado por 9 músicas internacionais, provenientes de países envolvidos de alguma forma com o tema em discussão. A equipe de playlist, portanto, é responsável pela pesquisa e seleção de países e músicas.

Entrevistas Captação de perguntas de ouvintes sobre o tema, condução de entrevistas externas ou captação de depoimentos de curta duração com especialistas.

Manchetes Internacionais Seleção de notícias veiculadas em jornais internacionais a respeito do tema.

Dicas da Equipe Pesquisa e seleção de livros e filmes que abordam a temática.

Pesquisa Cultural Pesquisa e seleção de curiosidades e aspectos culturais particulares relacionados ao tema.

Oportunidades em RI Seleção de oportunidades em Relações Internacionais: vagas de emprego, estágios, intercâmbios, eventos, chamada de artigos, etc.

Roteiro

Montagem do roteiro a partir das pesquisas enviadas pelos demais membros da equipe. Organização logística e contato com o entrevistado convidado.

Revisão de Roteiro Edição, revisão geral e finalização do roteiro.

PR

OD

ÃO

Locução Equipe de locução formada pelo professor coordenador, três alunos como locutores fixos e dois para quadros específicos.

“Eu Faço RI” Breve entrevista com um aluno convidado do curso, para compartilhar suas experiências como estudante de Relações Internacionais

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Edição Edição e finalização técnica da produção. Atividade realizada por técnicos da Rádio Unama Fm.

S-

PR

OD

U-

ÇÃ

O

Mídias Sociais Administração e monitoramento das redes sociais do programa, produção de conteúdo digital e transmissão online em tempo real.

Fonte: Elaboração própria, com base nos roteiros produzidos e utilizados pela equipe (2017).

3.3. Temas abordados

Desde a sua criação, a produtividade de roteiros e – consequentemente, de programas –

é intensa, somando mais de 200 programas produzidos no total. Conforme a Tabela 1, a

produção média anual é de 41 programas, cada qual abordando diferentes temas

relacionados à grade curricular do curso de Relações Internacionais, tais como Segurança

Internacional, Geopolítica, Direito Internacional, entre outros. Também são tratados temas de

significativa relevância social, contextualizados à realidade amazônica, a exemplo de

discussões voltadas à Segurança Humana, Meio Ambiente ou temáticas dentro do arcabouço

dos Direitos Humanos (Ver Gráfico 1).

Tabela 1 - Média de programas anuais1

ANO QUANTIDADE

2013 38

2014 50

2015 51

2016 46

2017 20

TOTAL 205

MÉDIA: 38 (2013) + 50 (2014) + 51 (2015) + 46 (2016) + 20 (2017) ÷ 5 = 41

Fonte: Elaboração própria com base nos roteiros produzidos e utilizados pela equipe.

Até 2015, todas as produções do Programa Globalizando eram limitadas a gravações

gravadas previamente durante a semana, que, após editadas, eram veiculadas nas manhãs

de sábado da Rádio UNAMA. No entanto, com a acumulação de expertise ao passar dos

anos, a partir do final de 2016, iniciaram-se as primeiras tentativas de produção de programas

ao vivo. O primeiro Programa Globalizando ao vivo foi ao ar em novembro do mesmo ano,

tendo como tema “As Eleições Presidenciais nos EUA”, seguido de uma cobertura especial

ao vivo sobre V Conferência sobre Relações Exteriores2.

1 A contagem leva em consideração os programas produzidos a partir de 02 de março de 2013 até o período de 10 de junho de 2017, último programa produzido antes do levantamento 2 Evento produzido pela Fundação Alexandre de Gusmão, do Ministério das Relações Exteriores, que em 2016 foi sediado na Universidade da Amazônia.

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Em 2017, os programas ao vivo passaram a fazer parte da programação mensal do

Globalizando, indo ao ar a cada último sábado do mês, e proporcionando interatividade em

tempo real com o público ouvinte.

Com isso, evidencia-se que o trabalho primordial do Globalizando é fazer a ligação entre

os mais variados temas, mesmo os mais localizados, com o cenário internacional e levar ao

ouvinte discussões contemporâneas de e com qualidade.

Gráfico 2 - Quantidade de Percentual de divisão de temas por área temática3

Fonte: Elaboração própria com base nos roteiros produzidos e utilizados pela equipe, título do programa e entrevistados.

4. O PROGRAMA GLOBALIZANDO COMO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO

4.1 Ensino e Extensão através do Programa Globalizando

O processo de construir, produzir, sistematizar conteúdos significativos no âmbito

universitário encontra desafios de não pouca monta por vários fatores, dentre os quais o fato

que o acesso à universidade é altamente elitizado, fazendo com somente uma pequena

parcela da população chegue a este nível de ensino. Conforme discutido ao longo deste

trabalho, ensino, pesquisa e extensão universitária e ensino, não obstante existirem situações

onde este divórcio é patente. Esta tríade, com efeito, é inseparável por constituir-se na razão

de ser da universidade.

O desafio, à luz do que foi refletido a partir do pensamento de Boaventura de Sousa

Santos, reside em transformar o que é pesquisado e o que é ensinado em ações concretas

de disseminação de conhecimento significativo para os agentes sociais externos à

universidade e, ao mesmo tempo, ser perpassado pelos saberes advindos desses agentes,

3 Os temas abordados foram agrupados em grandes áreas temáticas para então retirada percentual da

variedade de questões abordadas.

DIREITO INTERNACIONAL

9%AMAZÔNIA E MEIO AMBIENTE

8%

CULTURA11%

POLÍTICA21%HISTÓRIA

5%

OUTROS TEMAS

REGIONAIS2%

RELIGIÃO4%

SAÚDE3%

TEMAS DE RI18%

EDUCAÇÃO6%

ECONOMIA7%

SEGURANÇA6%

ÁREAS TEMÁTICAS

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numa constante dinâmica de inferências mútuas, onde conhecimento universitário e

pluriversitário sejam postos em diálogo.

O Programa Globalizando, ao longo de seus quatro anos de existência, vem construindo

esta interface entre conhecimento científico, baseado no ensino e na pesquisa no campo das

Relações Internacionais. Assim, cabe analisar esta relevância a partir de três aspectos da

questão: as temáticas discutidas, os entrevistados e suas expertises e a participação dos

acadêmicos de Relações Internacionais, conforme se verá a seguir.

4.1.1 As temáticas do Programa Globalizando

O gráfico 2 acima mostra os principais temas discutidos no Programa desde quando está

no ar, correspondendo claramente ao conteúdo do que é discutido no curso de Relações

Internacionais. Cada um deles é provocado por fatos que podem estar em voga ou são

maiormente discutidos por estarem no noticiário internacionais, sendo, muitas vezes

provocados por demanda dos próprios ouvintes.

O Programa, assim, se torna atual e dinâmico na medida em que realiza uma leitura

aprofundada destas questões e indo além do que é noticiado ou apresentado nas redes

sociais. Desta forma, funciona como um espaço de potencialização das discussões em sala

de aula e de prestação de serviço para a compreensão mais ampla destes fatos.

A organização do Programa, por meio de seus quadros, busca enfocar os vários aspectos

de cada tema, seja, entre outros, pela pesquisa de conteúdos relevantes, pelas indicações de

obras e filmes relacionados com o que será discutido e pelas perguntas formuladas para o

entrevistado.

A escolha das músicas do programa merece menção especial pois visa dois objetivos

importantes. De um lado, consolida a meta de atingir público jovem pela apresentação de uma

playlist sintonizada com seus interesses. Por outro lado, insere nas discussões os países mais

relevantes para a temática discutida, permitindo a análise de suas posições naquele

específico tema.

Retomando o posicionamento de Boaventura de que não pode haver prática educacional

que não leve à transformação social e ao empenho político (SANTOS, 2005), as abordagens

apresentadas no programa conduzem necessariamente a novas discussões em sala de aula

e ao aprofundamento com outras instâncias sociais. Por exemplo, programas que discutiram

questões de saúde no mundo e que tiveram como entrevistados pesquisadores e/ou policy

makers locais geraram novas reuniões e engajamento de alunos.

Esta forma de engajamento provoca ressignificação do processo de ensino-

aprendizagem no curso, por permitir maior interação com saberes externos ao próprio

currículo do curso de Relações Internacionais. Assim, o programa leva a um enriquecimento

no processo de ensino das disciplinas e na orientação de novas pesquisas naquele

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determinado campo. Vários alunos direcionaram seus trabalhos de conclusão de cursos e

seus projetos de futuros mestrados a partir das instigações provenientes do Programa

Globalizando.

4.1.2 Os entrevistados do programa e suas expertises

Um aspecto altamente relevante para o sucesso do Programa deve-se à qualidade dos

entrevistados. Além dos docentes do curso de Relações Internacionais, mestres e doutores

em suas áreas, são convidados pessoas de referência no tema a ser debatido.

Tratando-se de um bate-papo dinâmico, a estes é solicitado que tragam sugestões de

livros e filmes relacionados com o tema e que apresentem suas pesquisas e atividades para

que o tema seja desenvolvido também com alcance do campo das ações concretas. Ressalte-

se que as perguntas apresentadas visam reunir a participação dos ouvintes.

Aproveita-se também os docentes dos outros cursos da Universidade e pesquisadores

de passagem por Belém para participarem do Programa, como, por exemplo, a entrevista com

o Embaixador Sérgio Moreira Lima da Fundação Alexandre de Gusmão, quando da realização

da V Conferência de Relações Exteriores na UNAMA e o Coronel Celso Bueno da Fonseca,

do Ministério da Defesa, na ocasião do Curso de Extensão em Defesa Nacional, realizado na

UNAMA em 2014.

O roteiro do programa, previamente preparado e enviado ao entrevistado visa orientar as

discussões, mas é construído de forma a permitir conversa ampla e objetiva. A ideia é sempre

de mostrar a amplitude das discussões no campo das relações internacionais e sua

necessária interdisciplinaridade.

Como foi abordado acima, para Boaventura, a transição epistemológica diz respeito às

possibilitações de existência e de importância das várias ordens científicas. Isto significa que

um campo de conhecimento, por mais recente que seja (como é o de relações internacionais),

precisa incorporar as novas vertentes do complexo social circundante e transformá-los em

vetores de ajustamentos, mudanças, reformas e recomeços que possibilitem novas respostas,

bem como novas perguntas (SANTOS, 2008).

Dessa forma, o Programa Globalizando vem sendo um espaço onde as relações

internacionais dialoga com outras áreas e delas aprofunda a análise de seu objeto de estudo,

permitindo incorporar, num diálogo contínuo e descontínuo, novos pontos de vista e

compreensões dos atores envolvidos. Assim, torna-se uma ação de verdadeira extensão, pois

não se resume a uma prestação de serviço onde um polo detém o conhecimento e o outro

absorve tal conhecimento. Com efeito, o programa espraia-se pelas expertises de vários

profissionais, os quais iluminam vieses diferenciados e enriquecedores da discussão.

Isso leva claramente à formulação de novas perguntas, desestabilizando, assim, os

conceitos solidificados da questão, viabilizando novas respostas e novas abordagens.

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4.1.3 A participação dos acadêmicos de Relações Internacionais

O Quadro 1, acima, apresentou as etapas de produção, a divisão de funções e a

descrição das atividades desempenhadas pelos membros da equipe de produção do

programa. Os alunos são escolhidos de acordo com as áreas de interesse e recebem até 30

horas de atividades complementares por semestre.

Sob este ponto de vista o Programa Globalizando expressa toda sua identidade de ser

um espaço de pesquisa e extensão do curso de Relações Internacionais, pois leva o aluno, a

cada semana, a realizar extensa pesquisa do tema do programa e a se tornar, nesse nível,

um especialista nele. Ao longo destes quatro anos, como se viu, foram realizados 205

programas abordando uma gama variada de temas que precisaram ser pesquisados. Tais

pesquisas, além do mais, precisaram ser redigidas de acordo com redação específica para

atender à objetividade requerida de um programa de rádio.

Como o programa é gravado às quartas-feiras para exibição no sábado (com exceção,

como já dito, do último sábado do mês, no qual o programa é apresentado ao vivo), todo o

processo de produção já inicia na quinta seguinte à gravação, com as orientações para cada

setor de produção. No sábado o roteiro deve estar montado para a revisão final e na segunda

é enviado a todos, inclusive ao entrevistado.

Desse modo, os produtores – alunos vivem a intensidade da pesquisa de temas

internacionais e estão sintonizados com a produção de uma extensão que, por causa da

natureza específica do veículo rádio, alcança destinatários não conhecidos. Assim, a dinâmica

passa a expressar uma nova ideia de universidade (SANTOS, 1997), na qual o conhecimento

não é petrificado mas está em constante desenvolvimento movido pelos interesses,

demandas e sugestões dos que são alcançados pelas ideias produzidas pela universidade,

mas, acima de tudo, realimentadas incessantemente pelo diálogo com a sociedade.

Neste processo, mais uma vez percebe-se toda força do programa como catalizador de

interesses de pesquisa entre os alunos do curso. E não só os da equipe de produção. Há

relatos de alunos que despertaram para temáticas após participarem do programa ou após o

ouvirem. Essa sinergia gera renovado interesse em participar da equipe de produção, a qual

conta também com egressos do curso, hoje internacionalistas.

Ressalte-se também que para Boaventura, o processo de transmissão – via extensão –

do conhecimento dinamicamente produzido na universidade e fora dela é também uma utopia

democrática, pois pressupõe a repolitização da realidade e o exercício radical da cidadania

individual e coletiva, incluindo a carta dos direitos humanos da natureza (SANTOS 1997). Por

este motivo, os alunos envolvidos na produção do programa realizam esta construção de

cidadania concreta por meio de suas atividades específicas.

A interação com os ouvintes e seguidores é um aspecto significativo neste contexto.

Considerando que a era em que vivemos não pode prescindir da interação por meio das

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ferramentas da informática e, por isso, das redes sociais, a participação dos alunos neste

campo é intensa. Uma equipe de mídias cuida de toda publicação dos conteúdos abordados

no programa, antes, durante e após sua exibição.

Tal estratégia é fundamental não somente para garantir a participação ativa do ouvinte,

como também para garantir fidelização e um canal constante de comunicação com ele,

gerando um inestimável valor em termos de alcance de público alvo e novos alunos para o

curso.

4.1.4 A Amazônia em contexto

Cabe a este ponto do trabalho, uma breve abordagem sobre a importância do programa

para o debate de temas ligados à Amazônia.

Sendo o Programa Globalizando ligado ao Curso de Relações Internacionais da

Universidade da Amazônia, é imprescindível que ele espelhe as discussões de pesquisadores

da região sobre o mundo e que reverbere o que o mundo expressa sobre a Amazônia. Neste

sentido, ele se transforma em um canal privilegiado de compreensão do papel da região

amazônica no contexto nacional e internacional.

Muitos falam sobre a região. Percebe-se, entretanto, que é necessário incrementar a

produção de conhecimento a partir da realidade amazônica, ou melhor, a partir das “várias

Amazônias” existentes. Esse aspecto do Programa tem conduzido a escolha de temas do

programa na medida em que se busca destacar de que forma a região é impactada pelos

vários eventos internacionais. Isso vem ao encontro da própria missão da Universidade que é

“educação para o desenvolvimento da Amazônia” e consolida a especificidade do

conhecimento produzido.

À luz do pensamento de Boaventura, há que se discutir ainda mais fortemente o papel da

região no processo de avanço da mundialização do capital e da dinâmica globalizacional

contemporânea. Há que se verificar com espírito crítico, inclusive, o processo histórico de

incorporação da Amazônia ao resto do país e as políticas ainda hoje aqui implementadas

muitas vezes sem a participação efetiva e verdadeira dos amazônidas. Este viés também tem

estado presente nos vários programas e tem permeado interessantes confrontos de pontos

de vista, mostrando a relevância que tem na formação do futuro internacionalista amazônico.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo do presente trabalho objetivou-se alcançar o objetivo de apresentar o Programa

Globalizando, do curso Relações Internacionais da Universidade da Amazônia, como um

autêntico exemplo de pesquisa e extensão no processo de ensino-aprendizagem dos

conteúdos preconizados para a formação do internacionalista e analisá-lo à luz do

pensamento do sociólogo Boaventura de Sousa Santos.

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Para tanto, após ter navegado pelo pensamento do referido autor, descreveu-se o

Programa em suas interfaces e dinâmicas específicas, destacando a participação ativa dos

acadêmicos de Relações Internacionais nos mais de 200 programas já veiculados nos quatro

anos de existência.

As ideias de Boaventura de Sousa Santos indicam que o ensino superior precisa cada vez

mais ser “desencastelado” e abrir-se ao diálogo fértil com outras instâncias sociais produtoras

de saberes. Com este autor, buscou-se realizar a análise à luz do que ele chama de

reinvenção da emancipação como exigência histórica em um mundo marcado pela crise da

modernidade e, portanto, crise de todo edifício epistemológico marcado pela vinculação entre

o capitalismo e o colonialismo, o que resulta nas expressões de dominação e de poder dos

espaços-tempos, camuflados como missão civilizatória na história ocidental.

Os pensamentos de Boaventura conduziram a reflexão para a busca de uma outra

racionalidade que visa fundamentar duas sociologias: a das ausências e das emergências.

Pela primeira entende-se ampliar as experiências sociais disponíveis, e, pela segunda,

expandir o domínio das experiências sociais possíveis. No bojo destas ideias configurou-se

também uma discussão sobre o papel da universidade nesse processo, como um espaço de

ideias onde saberes científicos e não científicos se encontram para gerarem ações baseadas

em utopias críticas.

O Programa Globalizando, neste contexto, assume o papel não só de ser uma ação de

extensão e pesquisa, mas, conforme foi demonstrado, funciona como um agente

retroalimentador do ensino nas várias disciplinas do currículo. Isto significa que, por sua

estrutura de bate-papo e, ao mesmo tempo, de um fórum aberto de discussão, com a

participação dos ouvintes, gera uma sinergia tal que favorece a renovação das abordagens

apresentadas em sala de aula. Ademais, por dirigir-se a um público jovem com linguagem

dinâmica abre possibilidades de compreensões de novas culturas e de cosmovisões

diferenciadas.

O maior de todos os benefícios do Programa Globalizando é o processo de emancipação

que vem se observando ao longo destes quatro anos: o dos próprios alunos do curso.

Percebe-se claramente em todos os acadêmicos, mas especialmente entre os membros da

equipe de produção, um elevado incremento no interesse pelo curso e um maior e mais claro

direcionamento de seu futuro acadêmico e profissional. Se emancipar-se é superar as

racionalidades instrumentais que formatam e engessam as ideias, o Programa Globalizando

vem se constituindo num espaço de abertura para novos campos de conhecimento da

Amazônia e do mundo.

O ôntico é o superficial, o efêmero, o passageiro. A missão do Programa Globalizando é

ajudar a conduzir alunos, ouvintes, docentes e a sociedade em geral a irem além do ôntico,

produzindo conhecimento inclusivo, onde caibam todos os saberes.

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REFERÊNCIAS

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