rastros de pólvora

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Hermes º Dionisio º Alves º Brandão Neto º Montanha º Gusmão RASTROS DE PÓLVORA METADADOS 2015

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Rastros de Pólvora é a nova publicação da série Metadados, apresentando informações técnicas sobre os crimes violentos letais intencionais onde a arma de fogo foi o instrumento da morte. A obra abrangerá o período 1° de janeiro de 2013 a 15 de maio de 2015, tendo a premissa da Metodologia Metadados de trazer informações atualizadas, bem próximas da realidade em curso, para dar aos gestores do Rio Grande do Norte a possibilidade de usar os registros e análises da obra como arcabouço para decisões de gestão e políticas de segurança pública, portanto ela receberá atualizações até encerrar o ano 2015, sendo a primeira prevista para 7 de julho de 2015, e estarão disponíveis neste sitie.

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Hermes º Dionisio º Alves º Brandão

Neto º Montanha º Gusmão

RASTROS DE PÓLVORA

METADADOS 2015

Pag. 2

RASTROS DE PÓLVORA

METADADOS 2015

Natal 2015

Uma amostragem analítica estatística dos efeitos das armas de fogo, o principal

instrumento de morte nas terras de Poti, e como esse rastro de pólvora deixado durante

os anos 2013, 2014 e nos primeiros cinco meses de 2015, podem servir para balizar estratégias de combate ao crime violento letal intencional.

Pag. 3

Dados de Catalogação na Fonte da Publicação

(Natal, RN, Brasil)

________________________________________________________________________________________________________________

Hermes, Ivenio.

Rastros de Pólvora: Metadados 2015 / Ivenio Hermes, Marcos Dionisio, Cezar Alves e Thadeu Brandão

. -- Natal, RN : Ed. dos Autores, 2015.

Bibliografia.

ISBN: 979-85-917493-4-8

1. Criminalidade – Aspectos sociais 2. Arma de Fogo – Mapeamento de Homicídios - Rio Grande do Norte 3. Políticas públicas 3. Problemas sociais 4. Segurança pública - Brasil 4. Segurança pública - Rio Grande do Norte 5. Violência - Aspectos sociais I. Dionisio, Marcos. Alves, Cezar II. Título.

14-07112 CDD-363.10981

__________________________________________________________________________________________________________________

Índices para catálogo sistemático:

1. Brasil : Rio Grande do Norte : Estado : Armas de Fogo, Violência homicida :

Segurança pública: Problemas sociais 363.10981

2015 © IVENIO HERMES, MARCOS DIONISIO E CEZAR ALVES

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. É PERMITIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTA OBRA, DESDE QUE SEJA CITADA A FONTE

E NÃO SEJA PARA VENDA OU QUALQUER FIM COMERCIAL.

DIRECIONAMENTOS:

COEDHUCI CONSELHO ESTADUAL DOS DIREITOS HUMANOS E DA CIDADANIA DO RIO GRANDE DO NORTE

SESED SECRETARIA ESTADUAL DA SEGURANÇA PÚBLICA E DOS DIREITOS HUMANOS

OBVIO OBSERVATÓRIO DAS VIOLÊNCIAS

MPRN MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE

PESQUISA PRINCIPAL:

IVENIO HERMES

MARCOS DIONISIO

PESQUISA AUXILIAR:

SÁSKIA SANDRINELLI

ARTE E EDIÇÃO DA CAPA:

IVENIO HERMES

GRAVURAS:

IVENIO HERMES

DIAGRAMAÇÃO E PROJETO GRÁFICO:

IVENIO HERMES

SÁSKIA SANDRINELLI

MAPAS E GEOPROCESSAMENTO:

HUDSON CARVALHO

REVISÃO GERAL:

SÁSKIA SANDRINELLI

OBVIO

OBSERVATÓRIO DA VIOLÊNCIA HOMICIDA NO RN

GESTORES:

CEZAR ALVES

IVENIO HERMES

MARCOS DIONISIO

PESQUISADORES:

JOSEMÁRIO ALVES

ALEXANDRE FERREIRA

LEYSSON CARLOS

SIDNEY SILVA

ABRAÃO JUNIOR

MARCELINO NETO

JUNIOR PINHEIRO

CONSOLIDAÇÃO DE DADOS:

SÁSKIA SANDRINELLI

ERICA BEZERRA

TEXTOS:

ANGELO GUSMÃO

CEZAR ALVES

IVENIO HERMES

SILVA NETO

MARCOS DIONISIO

SÁSKIA SANDRINELLI

THADEU BRANDÃO

FONTES DE DADOS:

COINE

CIOSP

ITEP

DATASUS

COEDHUCI

PLATAFORMA MULTIFONTE

METODOLOGIA METADADOS

COEDHUCI

CONSELHO ESTADUAL DE DIREITOS HUMANOS E

DA CIDADANIA DO RN

MARCOS DIONISIO

DANIELA RODRIGUES

IVENIO HERMES

Pag. 4

NOTA LEGAL

Os textos e opiniões expressos no Rastros de Pólvora: Metadados 2015 são de responsabilidade de

seus autores e não refletem necessariamente a opinião do organizador, a não ser quando atribuídos

por meio de assinatura, assim como, os conteúdos e o teor das análises publicadas também podem

não refletir a opinião de todos os colaboradores envolvidos nas diversas etapas da produção.

Os dados das pesquisas são resultado da pesquisa de Ivenio Hermes e Marcos Dionisio Medeiros

Caldas com a colaboração de Sáskia Sandrinelli.

A obra possui Licença Creative Commons, portanto é permitido copiar, distribuir, exibir e executar a

obra, e criar obras derivadas sob as seguintes condições: dar crédito ao autor original, da forma

especificada pelo autor ou licenciante; não utilizar essa obra com finalidades comercias; para

alteração, transformação ou criação de outra obra com base nessa, a distribuição desta nova obra

deverá estar sob uma licença idêntica a essa.

Nenhuma fase da pesquisa, da produção e/ou da publicação teve qualquer patrocínio, nem

incentivo de nenhuma instituição e todo material apresentado foi produzido com custas exclusivas

para o autor/organizador.

Os direcionamentos dados são para alerta e uso indicativo das entidades destinatárias e não

significa qualquer vínculo com elas.

Pag. 5

RASTROS DE PÓLVORA

METADADOS 2015

Pag. 6

SUMÁRIO

1. RESUMO ..................................................................................................................................................................... 8

2. ABSTRACT .................................................................................................................................................................. 9

3. CONTABILIZANDO O VALOR DA VIDA .................................................................................................................. 10

4. SONETO DA GUERRA IGNORADA ......................................................................................................................... 12

5. RASTROS DE PÓLVORA .......................................................................................................................................... 14

6. DILEMAS NA SEGURANÇA PÚBLICA ..................................................................................................................... 20

7. O PROCESSO ENDÊMICO DA VIOLÊNCIA LETAL .................................................................................................. 24

8. RASTROS NA METRÓPOLE POTIGUAR ................................................................................................................... 28

8.1. MUNICÍPIOS ....................................................................................................................................................... 28

8.2. RECORTES ........................................................................................................................................................... 30

8.2.1. O PERFIL DAS VÍTIMAS NA RMN ................................................................................................................. 30

8.3. AS VÍTIMAS DE NATAL ....................................................................................................................................... 33

9. RASTROS NAS MESORREGIÕES POTIGUARES ....................................................................................................... 37

9.1. AGRESTE POTIGUAR .......................................................................................................................................... 37

9.1.1. GRÁFICOS DA VITIMIZAÇÃO DO AGRESTE POTIGUAR ............................................................................. 39

9.2. CENTRAL POTIGUAR .......................................................................................................................................... 41

9.2.1. GRÁFICOS DA VITIMIZAÇÃO DA CENTRAL POTIGUAR ............................................................................. 42

9.3. LESTE .................................................................................................................................................................... 44

9.3.1. GRÁFICOS DA VITIMIZAÇÃO DO LESTE POTIGUAR .................................................................................... 45

9.4. OESTE .................................................................................................................................................................. 47

9.4.1. GRÁFICOS DA VITIMIZAÇÃO DO OESTE POTIGUAR .................................................................................. 49

9.5. RESUMO DAS MESORREGIÕES .......................................................................................................................... 51

9.6. AS VÍTIMAS DE MOSSORÓ ............................................................................................................................... 52

10. HOMICÍDIOS COMO PROBLEMÁTICA SOCIOLÓGICA ................................................................................... 56

11. OUTRO CONTEXTO: UMA GUERRA DOS TRONOS .......................................................................................... 60

12. EGOÍSMO INSANO ............................................................................................................................................ 67

13. MAPAS POTIGUARES ......................................................................................................................................... 70

14. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................................. 80

BIOGRAFIA DOS AUTORES, PESQUISADORES E ARTICULISTAS ...................................................................................... 82

OUTROS LIVROS DE IVENIO HERMES .............................................................................................................................. 85

Aos que celebram vidas poupadas

Aos que se esforçam por mais

Aos que valorizam a vida

Aos que buscam a paz

1. RESUMO

Os crimes violentos letais intencionais são praticados todos os dias Brasil, e no Rio Grande do

Norte são poucos os dias em que não ocorre um assassinato. E para combater essa prática

inúmeras políticas de governo vem sendo criadas e extintas de acordo com as falhas ou

sucessos que apresentaram, e dessas extintas ainda existem algumas que são ressuscitadas

e/ou renovadas para tentar solucionar algo que sua primeira versão não conseguiu

alcançar. O que poderia ser um contrassenso pode se tratar de algo exitoso por meio do

estudo e diagnóstico da realidade onde o crime e a violência se processam, trazendo um

aprofundamento técnico-científico-acadêmico para o problema e retornando à gestão um

arcabouço novo de soluções. Um dos aspectos críticos da prática criminosa é o instrumento

com o qual se materializa, e dentre todos um se destaca, a arma de fogo. Esse trabalho

objetiva apresentar os números da letalidade homicida provocada pelas armas de fogo,

onde a pólvora que impulsiona cada munição deixa um rastro informando à sociedade que

é preciso desarmar cada vez mais os criminosos e impedir que outras armas cheguem às suas

mãos. Graças à regência da Metodologia Metadados, realizamos pesquisa aprofundada

em diversos bancos de dados e apresentamos um resultado célere, para oportunizar aos

gestores o tempo necessário para construir ações de curto, médio e longo prazo no combate

aos homicídios e todos os crimes perpetrados com o usa de uma arma de fogo no Rio

Grande do Norte.

PALAVRAS–CHAVES: Homicídio. CVLI. Rio Grande do Norte. Natal. Mossoró. Arma de Fogo.

Investigação Policial. Plataforma Multifonte.

2. ABSTRACT

Intentional lethal violent crimes are committed every day in Brazil, and Rio Grande do Norte

is hard when a day pass without occurring a murder. In addition, to combat the practice

numerous government policies has created and closed according to the failures or successes

they had, and these extinct there are still some that are resurrected and/or renewed resolve

to try something first version failed to achieve. What could be a nonsense can deal with

something successful through the study and diagnosis of reality where crime and violence are

processed, bringing a technical-scientific-academic deepening of the problem and returning

to a new management framework solutions. One of the critical aspects of criminal practice is

the instrument with which materializes, and above every one stands out, the firearm. This work

aims to present the homicidal fatality numbers caused by firearms, where the gunpowder that

propels every ammunition leaves a trail telling society what it takes to disarm increasingly

criminals and prevent other weapons reach the their hands. Thanks to the regency of

Metadata Methodology, we conducted in-depth research in various databases and present

a quick result, to create opportunities for managers in time to build stock short, medium and

long term to combat the murders and all crimes perpetrated with the use of a firearm in Rio

Grande do Norte.

KEYWORDS: Homicide. CVLI. Rio Grande do Norte. Natal. Mossoro. Police investigation.

Firearms. Multisource Platform. Metadata Methodology.

3. CONTABILIZANDO O VALOR DA VIDA

Por Ivenio Hermes1 e Marcos Dionisio2

No dia 16 de maio de 2015 o Rio Grande Norte chegou à marca de 600 cvli no RN, marca

esta que foi atingida 13 dias antes em 2014 (3 de maio). No dia seguinte chegamos aos pelo

menos 601 crimes violentos letais intencionais em 2015 contrapondo 671 de 2014 nessa

mesma data. Observamos que nosso índice diário de violência letal intencional atingiu 4,24

mortes por dia, ficando bem próximo do índice de 2014 que correspondia a 4,84 mortes por

dia, mas esses decimais de diferença (0,40) representam 70 cvli a menos... 70 vidas

poupadas, 70 famílias, pelo menos, poupadas do luto precoce e estúpido.

Para a segurança pública é impossível fazer algumas pessoas desvenerar a morte, essa

missão é das políticas transversais que nem sempre são vistas como protagonistas de

soluções para a paz, contudo, é justamente a falha ou a falta delas que entorna o caldeirão

dos problemas sociais não resolvidos em cima dos gestores e dos agentes encarregados de

aplicar a lei. Por isso mesmo que pesquisadores e estudiosos do assunto não descartam a

união de estratégias para viabilizar soluções mais duradouras e pautadas em um

planejamento estratégico ampliado. Assim, convém desde logo, saudar sempre qualquer

redução cotejada em cada período ou recorte que se faça. Mas relativizar as quedas

explicadas pela otimização da presença dos órgãos de segurança nas comunidades. Esse

esforço tem prazo de validade. É necessário a efetivação das demais políticas públicas para

que se possa pacificar as comunidades e restaurar-se a coexistência pacífica.

Nessa busca de resultados tem-se visto um esforço de homens e mulheres para reduzir a

locomotiva da morte que há 8 anos vinha3 percorrendo desenfreadamente os caminhos do

Rio Grande do Norte. Um trabalho que foge das sandices populistas que vinham sendo

praticadas no Estado Elefante e que é rotulado com pífio, simplório, ou qualquer outro jargão

construído por atores midiáticos comprometidos com suas próprias ambições, mas não com

a construção de uma sociedade segura. Mas o conjunto de ações resultantes do uso

inteligente das ferramentas disponíveis como as estatísticas, as análises criminais, as

orientações dos relatórios da inteligência, e outros que otimizam o planejamento

operacional e o redirecionamento de ações, surte efeito quer queiram ou não admitir.

1 Ivenio Hermes é escritor vencedor do prêmio literário Tancredo Neves, atualmente possui 14 obras publicadas,

variando temas como ficção policial, sociologia do crime e da segurança pública, artigos científicos, reflexão

e poesia. Em alguns de seus trabalhos reúne autores amigos que juntos sonham com uma terra de paz.

2 Marcos Dionisio Medeiros Caldas é advogado; Militante dos Direitos Humanos; Presidente do Conselho

Estadual de Direitos Humanos/RN; Membro da Câmara Técnica de Monitoramento de CVLI; Membro do Grupo

de Gestão Integrada da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Cidadania do RN como consultor na

área de Direitos Humanos; Efetivo participante de diversos grupos promotores dos direitos fundamentais, além

de ser reconhecido mediador em situações de conflito entre polícia e criminosos e em situações de crise de

uma forma geral.

3 WAISLFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2011: os jovens do Brasil. São Paulo: Instituto Sangari; Brasília, DF:

Ministério da Justiça, 2011a.

PAG 11

Para descaracterizar as ações exitosas de uma gestão, os feitos dos policiais são

desmerecidos e mencionados como meras ações decorrentes da obrigação profissional,

ofuscando a paixão que motiva a grande maioria dos agentes encarregados de aplicar a

ei. E retornando ao assunto da estatística, ninguém menciona que esses policiais, no ano de

2015, já estão conseguindo mudar o curso da vida de 70 famílias... E ninguém se dá conta

que só há interesse em contabilizar vidas perdidas e nunca se lembram que também

podemos contar as vidas poupadas... E é essa esperança produzida por pequenas reduções

é que estimula e desafiam a meta de resultados mais expressivos e sustentáveis porque

também alicerçados no diálogo dos órgãos e políticas da área da segurança com as

políticas de educação, cultura, esporte, lazer, juventude, mulheres, igualdade racial, etc...

Os 671 CVLI de 2014 em 17 de maio de 2014 representavam o índice de 52,99 CVLI por grupo

de 100 mil habitantes, e o 601 do domingo dia 17 de maio de 2015 significavam 47,46 CVLI

por grupo de 100 mil habitantes, numa taxa de redução de 10,43% comparando os dois anos.

Verdade que 47,46 CVLI por grupo de 100 mil habitantes é menor e melhor do que a taxa

de52,99 CVLI por grupo de 100 mil habitantes. Mas observe-se que estamos bem além do

que a taxa de 29 por 100000. Mas a redução, ainda que distante de nos deixar próximo ao

altíssimo parâmetro nacional precisa ser moderadamente comemorada pelo resgate da

capacidade de acreditar de que é possível modificar-se a realidade através do trabalho

que utilize o conhecimento e a capacidade de diálogo reinaugurada com o funcionamento

da Câmara de Monitoramento/mapeamento dos CVLIs ancorada na SESED com efetiva

participação da sociedade civil, acadêmica e de gestores.

Para muitos isso é pouco, mas para nós que contabilizamos o valor da vida, e por isso

anotamos o nome cada vítima (com suas idades, endereços, nome de pai e mãe, profissão,

etnia, condição social, e inúmeros outros dados de cada ser humano cuja centelha de vida

foi obliterada em decorrência da ação letal de outro), para nós, cada linha que deixa de

ser ocupada no banco de dados é uma vitória valiosa.

Que todos continuem firmes nesse propósito de frear a marcha da violência e da

criminalidade, de sugerir soluções para esse fim, de buscar a transparência das informações,

de fomentar a integração de todos os setores com o objetivo de poupar vidas, de evidenciar

esforços tanto para impedir que outras mortes aconteçam quanto para levar ao fiel da

balança da justiça aqueles que ousaram matar seu semelhante, de insistir na busca pela

paz.

E por ser única e possuir valor inestimável, que cada vida poupada precisa ser celebrada

com alegria revigorante para nos manter firmes no caminho da paz.

PAG 12

4. SONETO DA GUERRA IGNORADA

Por Silva Neto4

“A morte de cada homem diminui-me,

porque eu sou parte da humanidade;

eis porque, nunca pergunto

por quem os sinos dobram;

eles dobram por mim. “

SONETO DA GUERRA IGNORADA

Todos os anos no Brasil

Morrem assassinados,

Feitos indigentes, desprezados,

Mais de cinquenta mil.

Ou seja, num período trienal,

Na pátria amada, mãe gentil,

Cai uma bomba infernal,

A que, Hiroshima, destruiu.

São pretos, pobres, favelados,

As vítimas do genocídio,

Pelo sistema, patrocinado.

E, perante a guerra ignorada,

Indefeso, o povo segue,

Sem flor, sem perfume, sem nada.

4 João Gomes Silva Neto é Oficial da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, Bacharel em Segurança Pública

pela Academia Coronel Milton Freire de Andrade, licenciado em Letras – língua portuguesa pela UFRN, e

colunista do portal O Potiguar.

PAG 13

____________________

REFERÊNCIAS:

http://www.citador.pt/frases/a-morte-de-cada-homem-diminuime-porque-eu-faco-john-donne-

3843. Acesso em: 27 mai. 2015.

http://www.cartacapital.com.br/sociedade/violencia-brasil-mata-82-jovens-por-dia-5716.html.

Acesso em: 27 mai. 2015.

https://umhistoriador.wordpress.com/2012/07/15/hiroshima-e-nagasaki-o-maior-crime-de-guerra-

contra-a-humanidade-segue-impune/. Acesso em: 27 mai. 2015.

http://letras.mus.br/ney-matogrosso/47735/. Acesso em: 27 mai. 2015.

PAG 14

5. RASTROS DE PÓLVORA

Por Ivenio Hermes5 e Thadeu Brandão6

Às brumas da história pertencem a pólvora e a própria origem das armas de fogo, que

intercalam três séculos entre a descoberta da substância e sua adaptação para fins militares.

Acredita-se que no século X de era cristã os chineses já conheciam a pólvora, que embora

tenha sido criada acidentalmente por alquimistas quando tentavam obter o elixir da longa

vida, um líquido tão desejado cujas propriedades fariam imortais aqueles que dele

bebessem, se tornou algo um tanto quanto paradoxal haja vista que foi justamente seu uso

para destruir vidas, inclusive as humanas, que a popularizou.

Figura 1 Representação artística da Ponte Newton Navarro que liga a zona norte às outras zonas de Natal.

Essa mistura de salitre, enxofre e carbono foi registrada nos anais científicos inicialmente com

uma advertência para que certos componentes químicos jamais fossem misturados uns aos

outros, numa tentativa de evitar o dano que poderia causar futuramente. Mas foi justamente

a ação propelente dessa mistura, originada na queima super-rápida, que despertou o maior

interesse no homem, que repensou a pólvora pelo seu uso bélico, em instrumentos que

poderia ferir um inimigo sem a necessidade de se aproximar.

5 Ivenio Hermes é escritor vencedor do prêmio literário Tancredo Neves, atualmente possui 14 obras publicadas,

variando temas como ficção policial, sociologia do crime e da segurança pública, artigos científicos, reflexão

e poesia. Em alguns de seus trabalhos reúne autores amigos que juntos sonham com uma terra de paz.

6 Thadeu de Souza Brandão é Sociólogo, Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela UFRN. Professor de

Sociologia da UFERSA. Coordenador do GEDEV (Grupo de Estudos Desenvolvimento e Violência). Consultor de

Segurança Pública da OAB/Mossoró. Membro da Câmara Técnica de Mapeamentos de CVLIs da SESED/RN.

Autor de "Atrás das Grades: habitus e interação social no sistema prisional".

PAG 15

Enquanto os chineses usavam a mistura propelente e a socava dentro de tubos de bambu,

numa formação rudimentar de arma usada para lançar projéteis de pedra, os árabes na

mesma época usavam o ferro para reforçar a estrutura de bambu. A arma de fogo em sua

concepção mais próxima da atual foi criada no século XIV pelo monge alemão Berthold

Schwarz (1310-1384), conhecido como o primeiro ocidental a conseguir fundir canhões de

bronze.7

O tempo e a história se encarregaram de dar à criatividade do homem, a única espécie que

se destrói por motivos que não tem nada a ver com a própria sobrevivência, os meios

necessários para aumentar a letalidade e pluralizar o uso da pólvora em armas cada vez

mais sofisticadas e capazes de extirpar a vida de um semelhante cada vez mais

covardemente.

Com a arma de fogo se popularizando como o instrumento de morte à distância, não tardou

para que seu uso legitimasse os crimes de execuções sumárias, onde a vítima recebe diversos

tiros, sem a mínima chance de autodefesa e tomba no local do atentado, bem à mercê de

seu algoz. É bem verdade que as execuções são as formas mais comuns de assassinato no

Rio Grande do Norte, algumas até perpetradas com outros instrumentos.

Assim como a pólvora das munições, as armas de fogo vêm deixando um rastro de corpos

no Rio Grande do Norte. No período abordado nesse estudo, ou seja, os anos 2013, 2014 e

até 15 de maio de 2015, 3.418 pessoas perderam foram vítimas dessas armas, um número

que que pode ser melhor vislumbrado ao ser comparado com outros. É como se tivesse sido

extinta toda a população de municípios como Água Nova, Bodó, Triunfo Potiguar, ou ainda

como se em 2 anos e 4 meses toda a população do bairro da Ribeira tivesse deixado de

existir...

Todas as vítimas de armas de fogo juntas e de mãos dadas teriam o comprimento de 10

vezes a extensão da Ponte Newton Navarro que liga a zonas norte às demais zonas de Natal.

Poderiam ocupar em linha reta todo o diâmetro do Estádio Arena das Dunas.

Reduzindo esses números às estatísticas mais frias, temos que 85% de todos os CVLI registrados

no período abordado no Rio Grande do Norte foram instrumentalizados por armas que

usavam a pólvora como propelente de sua munição, ficando os 15% restantes distribuídos

entre outros instrumentos de morte, como a arma branca, objeto contundentes, asfixias e

outras formas ou combinações entre as citadas.

A história de cada vítima, de cada futuro não vivido, será sempre a de que as armas

facilitaram a perda de vidas.

Tratar de tema deveras polêmico suscita cuidado de quem o reporta. Mas, num momento

histórico onde, até mesmo nos Estados Unidos, o controle de armas de fogo passa a ser visto

como prioridade, o tema volta à discussão pública no Brasil. Aqui, do ponto de vista

epidemiológico, as armas de fogo são o principal vetor da violência letal. Segundo um

estudo realizado pelas Nações Unidas em 2011, o Brasil é, entre todos os países com

7 RAMOS, Maria Aparecida. Qual a origem das armas de fogo? Super Interessante, São Paulo, v. 35, n. 4, p.3-5, 14 ago. 1990. Mensal.

PAG 16

informações disponíveis, aquele onde a proporção de homicídios cometidos com armas de

fogo é maior: 88%. No Rio Grande do Norte, como mostrado, ultrapassam os 85%.

Gráfico 1 Número percentual de vítimas de armas de fogo em relação aos demais instrumentos de morte no

Rio Grande do Norte, nos anos 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015.

Reconhecer que as armas de fogo protagonizam a imensa maioria dos eventos homicidas é

essencial para que sejam estabelecidas ações e sejam definidas estratégias de curta, média

e longa duração, tendo em vista que as soluções adotadas precisam de constante

diagnóstico e avaliação de resultados para determinar sua continuidade.

Nenhuma das mesorregiões apresentou uma variação muita alta entre os números absolutos

de CVLI, restando o destaque da sanha homicida para as duas cidades mais violentas: Natal

e Mossoró. A Mesorregião Leste saiu de 64% em 2013 para 59% em 2014, uma redução de

5%, a Oeste estava com 25% em 2013 e reduziu para 22%, ou seja, 3%, já as outras duas

mesorregiões apresentaram um aumento: Agreste com 3% e Central com 4%.

Esse ranking de violência homicida perceptível na avaliação das mesorregiões potiguares,

contudo, está presente com maior frequência nas áreas menos favorecidos pelas políticas

públicas de saneamento básico, pavimentação, água encanada, escolas para as séries

iniciais, equipamento urbano para prática desportiva, passeios ou para a simples

convivência social. Portanto, essa variação dos eventos de CVLI nos três anos estudados

guardam uma certa relação, e embora não se note uma grande oscilação nos números

absolutos de um e outro ano, dentro dessa aparente continuidade estatística se encontram

recortes de vitimização étnico, etário e socioeconômico que mantém sempre jovens negros

e de baixa renda como alvo concentrado dos projéteis.

O aumento da incidência de CVLI praticado nas regiões mais interiores do estado apenas

referendam que as ações de segurança contra o porte ilegal de armas não parecem ter

sido muito exitosas no interior do Rio Grande do Norte.

Arma de fogo. 85%Demais armas e meios. 15%

ARMAS DE FOGO E DEMAIS ARMAS E MEIOS

PAG 17

As armas de fogo não são a causa primordial da violência, porém, fazem com que esta

tenha um impacto letal muito superior. Em outros termos, a letalidade das armas de fogo é

muito superior à de qualquer outro tipo de arma ou instrumento de agressão (armas brancas,

contundentes etc.)

Somente nos anos 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015, foram 3.418 vítimas, perfazendo 85%

de todos os CVLI registrados, ficando o restando distribuído entre outros instrumentos de

morte.

Elas parecem ser condição necessária, ainda que não suficiente, para o surgimento de altas

taxas de violência letal, particularmente nos países desenvolvidos. Ao contrário do que diz a

indústria, a grande maioria das armas confiscadas pela polícia no Brasil são de fabricação

nacional. Mais da metade das mesmas corresponde às marcas Taurus e Rossi, ambas

propriedades da mesma empresa.

Gráfico 2 Variação de incidência de casos de CVLI nos três anos estudados com a somatória de todos

apresentada em percentuais.

PAG 18

Gráfico 3 Percentual de vítimas por municípios da Região Metropolitana de Natal, nos anos 2013, 2014 e até 15

de maio de 2015.

A maioria dessas armas confiscadas, ao contrário da imagem popular difundida pela

imprensa e favorecida pelos fabricantes, não são armas automáticas de grande poder de

fogo. Praticamente duas de cada três são revólveres, embora nos úl¬timos anos seu peso

relativo esteja diminuindo, enquanto o das pistolas tem aumentado.

Esses circuitos de armas legais e ilegais estão interligados e as armas legais representam uma

das formas de suprimento de armas para o cometimento de crimes, através de vários canais,

como: revenda de armas legais; extravio dessas armas; furto ou roubo delas; pessoas que

não compram a arma com um propósito criminoso, porém acabam perdendo a cabeça e

usando-as de forma ilegal.

Pesquisas na área mostram que não adianta muito delimitar com rigor o perfil das pessoas

autorizadas a comprar ou transportar armas se, na verdade, elas são facilmente transferidas

a terceiros sobre os quais não há nenhum controle ou requisito. Quando uma arma entra no

80. 1,98%

3.418. 84,79%

355. 8,81%

73. 1,81%

44. 1,09%

13. 0,32%

16. 0,40%

32. 0,79%

613. 15,21%

A DESPROPORÇÃO DA PÓLVORA

Objeto contundente Arma de fogo Arma branca

Espancamento Asfixia mecânica provocada Carbonização ou queimadura

Não determinado Outras

Figura 2: Duas de cada três armas apreendidas são revólveres, segundo o Mapa da Violência 2015

PAG 19

mercado fica difícil garantir, apesar das restrições relativas aos legítimos proprietários, em

que mãos ela acabará.

O espírito inventivo do homem para fazer o mal a outro de sua espécie se enriquece de

criatividade e novas armas surgem enquanto outras artesanais são fabricadas por armeiros

amadores.

Revólveres, pistolas, carabinas, escopetas, metralhadoras e fuzis têm seus ruídos confundidos

com outros no cotidiano das pessoas, principalmente daquelas que moram nas periferias e

locais ermos, onde um dia já houve paz. Os debates sobre as armas são disputados pelos

que nelas tem interesse, e armar o cidadão, desarmar a polícia, reciclar as leis sobre porte,

posse e uso das armas de fogo não busca soluções minimamente aceitáveis para a redução

da prática criminosa com esse instrumento de morte.

Enfim, a restrição ou eliminação do armamento em mãos da população civil não resolverá

o problema da violência, porém, contribuirá para diminuir seu impacto letal. Além disso, a

restrição das armas exclusivamente para os profissionais facilitará sua fiscalização, pois

qualquer cidadão portador de uma arma que não seja um profissional da área da

segurança poderá ser denunciado automaticamente por cometer um ato ilegal.

O problema envolve a discussão do pleno direito à defesa que os indivíduos possuem e que

nosso Estado de Direito, ao menos principiologicamente, defende. Ao mesmo tempo que

uma sociedade armada leva ao aumento gradual da violência, seu pleno desarmamento

se assemelha à lógicas autoritárias. Dilema cruel, principalmente com os dados de

homicídios no Brasil.

PAG 20

6. DILEMAS NA SEGURANÇA PÚBLICA

Por Thadeu Brandão8

Dilemas Potiguares

O Rio Grande do Norte vivencia, como nunca antes em sua história, um dilema profundo no

que se refere à segurança pública de seus cidadãos. Praticamente todas as regiões

padecem de uma “pandemia de insegurança” que vai dos atentados ao patrimônio aos

homicídios. Os primeiros, nenhum município escapa. Os segundos, atingindo principalmente

os municípios mais populosos, economicamente mais dinâmicos e com maior índice de

desigualdade social.

O RN cidade possui um efetivo policial muito aquém de suas necessidades. A Polícia Civil,

trabalhando praticamente na virtualidade, padece com falta de material humano e de

estrutura básica. A Polícia Militar basicamente “enxuga gelo”, bravamente que se diga, com

um déficit básico que pode chegar a cerca de mais de 50% do efetivo necessário.

Como nem só de polícia vive a segurança pública, faltou, ao longo dos últimos dez anos, um

plano de segurança efetivo, com participação de especialistas que conheçam a cidade e

sua realidade. Ou seja, inexistiu uma política pública de segurança no RN. De 2004 a 2014 os

índices de CVLIs (Crimes Violentos Letais Intencionais) só fizeram subir, com dados

corroborados pelo último Mapa da Violência. Coincidentemente, o período coincidiu com

as gestões Wilma de Faria (2003-2010) e Rosalba Ciarlini (2011-2014). Estes foram marcados

pela ênfase no amadorismo, da improvisação e do desinvestimento na área. Nada porém,

diferente do que ocorria anteriormente, nas gestões pretéritas. A diferença crucial foi o

crescente aumento nas taxas de CVLIs e de criminalidade.

Uma das características fundamentais da gestão de segurança pública até hoje é a

absoluta ausência da participação da população e, neste ínterim, a ausência de Conselhos

de Segurança, populares e com ampla integração polícia-comunidade-poder público.

Ausência de planejamento, com necessários Planos Integrados de Segurança Pública

(municipais e estadual) assim como Gabinetes de Gestão Integradas funcionais.

O discurso demagógico pautou-se até agora no efêmero e no superficial. Quem

acompanhou a segurança pública, especialista ou não, sentiu na garganta o entalo do

engodo até agora imposto. A população mais pobre, sem cercas elétricas, sistema

eletrônico de segurança privada e outros apoios, é a que mais padece do problema. Com

ela, os agentes da segurança (em todos os níveis), obrigados a trabalhar sem estrutura e,

muitas vezes, retirando do próprio bolso para manter, ao menos, algo funcionando.

Falta planejamento estratégico. Faltam políticas efetivas de estruturação do sistema policial.

Falta uma correlação inteligente ente o sistema prisional e o sistema de segurança pública.

8 Thadeu de Souza Brandão é Sociólogo, Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela UFRN. Professor de

Sociologia da UFERSA. Coordenador do GEDEV (Grupo de Estudos Desenvolvimento e Violência). Consultor de

Segurança Pública da OAB/Mossoró. Membro da Câmara Técnica de Mapeamentos de CVLIs da SESED/RN.

Autor de "Atrás das Grades: habitus e interação social no sistema prisional".

PAG 21

Sem isso, a curto prazo, nada mudará. Tudo isso, é claro, com participação popular, sem

esquecer nos fóruns competentes que sugeri acima.

Áreas mais problemáticas: Mossoró na Berlinda

Os dados apontados nesse ensaio, na séria e competente pesquisa de Ivenio Hermes,

apontaram duas principais áreas mais problemáticas da insegurança pública e da violência

homicida do RN. São a Região Metropolitana de Natal (RMN) e Mossoró. Se a primeira área

corrobora a um certo padrão nacional, populacional e de fluxo de riquezas, a presença da

segunda estranha a muitos.

Mossoró vem apresentando, desde pelo menos 2005, uma dinâmica homicida crescente e

constante. Sua taxa, hoje, é o dobro da média nacional, ficando em cerca de 55 homicídios

por 100 mil habitantes (2011-2013). Os fatores identificadores são os mesmos para outras

regiões do Brasil e mundo afora (que apresentam o mesmo padrão): índice de desigualdade

econômica; estrutura populacional englobando total da população e densidade

populacional (áreas maiores/mais densas têm taxas maiores); e índice de desemprego. A

desigualdade de condições socioeconômicas em cidades, regiões ou municípios pode

ajudar explicar a distribuição dos homicídios.

Em termos teóricos, as explicações para os altos índices de homicídios por arma de fogo em

determinadas regiões poderiam ser compreendidas a partir dos processos de

desorganização social resultantes de conflitos característicos de áreas de fronteira agrícola

e de expansão onde inexistem mecanismos de controle formal. Segundo Cláudio Chaves

Beato Filho e Frederico Couto Marinho:

Nessas regiões, os mecanismos de controle formal e informal cedem lugar a conflitos

calcados na honra e em formas societais tradicionais. Curiosamente, muito desse

processo é transplantado e reproduzido nas regiões metropolitanas do país,

especialmente nas áreas dominadas por grupos armados em conflito pelo domínio de

territórios (2007, p. 178).

No caso de Mossoró, assim como em outras cidades médias brasileiras - como apontou o

Mapa da violência 2012 - a desorganização social em vastas áreas desses novos centros

urbanos pode ser um dos aspectos a serem analisados mais detalhadamente para se poder

compreender esse processo. Outro elemento é a capacidade regulatória - em termos

jurídicos e de controle policial (o que inclui investigação eficiente e punição dos "culpados")

e de supervisão em certas áreas de alta incidência da violência tem a ver com processos

de mudança (estrutural e espacial) em sua composição populacional. Tudo isso deve ser

analisado ao longo de períodos mais extensos (média de 5 a 10 anos).

A dinâmica homicida nas médias cidades brasileiras vem crescendo, o que gera a

necessidade de estudos comparativos desses locus onde, de forma ampla, as taxas vêm se

apresentando altas: Campinha Grande, Crato e Mossoró são exemplos mais próximos. Ao

mesmo tempo, o crescimento econômico, sempre de forma desigual socialmente, está

atrelado a essa dinâmica, na medida em que o perfil da vítima homicida permanece a

mesma: homem, jovem, negro/pardo, morador de periferia e com baixa escolaridade, além

PAG 22

de possuir ocupação informal ou precarizada. Não basta apenas apontar falhas no sistema

de segurança pública - que, embora sejam elementos presentes - não explicam sozinhos a

mesma dinâmica em cidades e estados diferentes.

Perfil das Vítimas no RN e no Brasil

Juntamente com o RN, e aqui a ampliação é necessária, o Brasil vivencia, há pelo menos

três décadas um duro cotidiano de riscos e incertezas. Nossa "modernidade tardia"

caracterizar-se-ia pela reprodução estrutural da exclusão social e pela disseminação das

violências, com a consequente ruptura de laços sociais e a exclusão de várias categorias

sociais, como a juventude, uma das grandes vítimas desse processo.

Aqui, nesses rincões, o jovem relaciona-se com a violência de modo ambivalente: ora torna-

se vítima, ora surge como agressor.

Fundamental frisar que os jovens vivenciam um processo de transição para a vida adulta,

cada vez mais tardio em nosso momento civilizatório, quando então sua agressividade

(pulsão) tem o caráter positivo de habilitá-los a se autonomizarem e a ocuparem um lugar

no espaço social. Isto posto, uma das características marcantes nos adolescentes atuais é a

incerteza do emprego, assim como o exercício e a vivência da agressividade e da violência.

Num mundo de incertezas e de fragmentações, a violência surge como discurso, deveras

autônomo.

Os dados de homicídios das últimas três décadas mostram uma tendência de generalização

da violência. Considerando todo o período de 1980 a 2012, houve um continuado aumento

das mortes de jovens e adultos jovens, sobretudo do sexo masculino, por causas externas

(homicídios, suicídios, mortes no trânsito). Há uma sobremortalidade masculina e juvenil.

Não nos esqueçamos também a violência no trânsito, denominada de forma equivocada

de "acidentes de trânsito", foi a causa de aproximadamente 23 óbitos para cada 100 mil

jovens em todo o país. O trânsito é, no mínimo catalizador desse processo.

Sociologicamente falando, nos reportando à herança de Nobert Elias, a violência configura-

se como forma de linguagem e como norma social para algumas categorias sociais, em

contraposição às chamadas normas "civilizadas", pautadas pelo autocontrole e pelo

controle social institucionalizado. No Brasil, sociedade em processo de "globalização",

efetiva-se uma pluralidade de diferentes tipos de normas sociais, podendo-se ver aí uma

simultaneidade de padrões de orientação da conduta muitas vezes divergentes e

incompatíveis.

Desta forna, nos deparamos com uma forma de sociabilidade (ou anti?), a violência, que se

configura como um dispositivo de controle, aberto e contínuo. Ela seria a relação social de

excesso de poder que impede o reconhecimento do outro – indivíduo, classe, gênero ou

raça – mediante o uso da força ou da coerção, provocando algum tipo de dano, um

dilaceramento de sua cidadania, e configurando o oposto das possibilidades da sociedade

democrática contemporânea. Envolve também uma polivalente gama de dimensões

PAG 23

materiais, corporais e simbólicas agindo de modo específico na coerção com dano que se

efetiva.

A sociedade, de modo geral, não reconhece que o adolescente está em um processo de

transição para a vida adulta, quando sua agressividade é necessária para ele encontrar um

lugar no espaço social. Aos jovens, provavelmente, tem faltado esse reconhecimento por

parte das instituições socializadoras: trata-se de salientar a quebra do sentido da escola

como dispositivo de socialização para a vida e para o trabalho, bem como a necessidade

de construir o reconhecimento social dos jovens, pela afirmação de sua auto-estima e de

seu prestígio social na sociedade.

Vivemos um verdadeiro "genocídio" juvenil: jovens, negros/pardos, pobres, com baixa

escolaridade e moradores de periferias. O perfil pouco muda e se altera nessas três décadas.

Da faixa de 16 a 24 anos, o grosso das vítimas vai se consumindo. Quanto aos perpetradores,

este quase que também pode ser considerado o perfil. O problema é que nossos homicídios

são poucos investigados. Quando o são, poucas investigações são exitosas. Temos um

quadro de homicídios perpetrados pelo próprio Estado e seus agentes que é difícil de

investigar. Esse vácuo analítico custa caro ao Brasil e ao seu futuro.

Resta perguntar, que futuro?

___________

Citação

BEATO FILHO, Cláudio Chaves, MARINHO, Frederico Couto. Padrões regionais de homicídio no Brasil. In: CRUZ,

Marcus Vinicius Gonçalves da, BATITUCCI, Eduardo Cerqueira (Orgs.). Homicídios no Brasil. Rio de Janeiro:

Editora FGV, 2007.

PAG 24

7. O PROCESSO ENDÊMICO DA VIOLÊNCIA LETAL

Por Angelo Gusmão9

De 2013 a 2015, a arma de fogo já vitimou 2.072 pessoas na Região Metropolitana.

Óbitos consumados pelos mais diversos motivos tanto na Capital Potiguar, quanto nos

municípios da Grande Natal que outrora eram tidos como espaços tranquilos e agora são

noticiados pela mídia e relatados pelos próprios residentes como cenário de vários conflitos

e mortes que assombram a região.

O rastro de pólvora antes restrito a periferia

das cidades e atingindo, em sua maioria,

pessoas de baixa renda, pardas e negras,

vítimas do processo histórico de exclusão

social presenciado no País, agora se

espalha pelas mais diversas etnias, onde a

vitimização de cidadãos tanto de pele

escura como de pele clara vem

ascendendo ao longo do tempo.

No ano de 2015, as pessoas de pele clara

já representam 12,6% das vítimas de morte

por arma de fogo ocorridos na Região

Metropolitana, contra 8,9% em 2013.

Percebesse que o fenômeno endêmico da

violência letal que presenciamos nos dias

de hoje está deixando todos, sem

exceção, suscetíveis a esse processo,

independentemente de cor, raça, religião,

orientação sexual, renda, entre outros.

É preciso enxergar a questão da violência como uma doença que está infiltrada na

sociedade brasileira e que precisa de medidas profundas para combater essa endemia.

Para isso, é essencial entender que a endemização é um fenômeno interno a sociedade

onde esse estado de violência se intensifica ao longo do tempo, afetando cidadãos de

forma direta e indireta. Essa violência alimenta um fluxo circular e seus reflexos são sentidos

por diversos agentes, acarretando em ônus que transcende a esfera social, gerando

impacto no âmbito econômico, político e financeiro.

9 Angelo Jorge Fernandes de Gusmão Neves é Economista graduado pela UFRN e pós-graduado em

Administração Financeira. Atuando desde 2008 como analista, trabalha produzindo informações estatísticas e

análises criminais direcionadas para os órgãos do sistema de segurança pública. Atualmente trabalha como

Diretor de Análise Criminal junto a Coordenadoria de Informações Estatísticas e Análise Criminal - COINE da

Secretaria Estadual da Segurança Pública e da Defesa Social.

Gráfico 4 - As vítimas na Região Metropolitana de Natal

PAG 25

Presenciamos o crescente número de condomínios residenciais surgindo nas cidades. Até

mesmo no interior já existe essa opção de moradia. Condomínios Clubes oferecem os mais

diversos serviços tais como segurança 24 horas, quadra de esporte, academia de ginástica,

ciclovia, parque infantil, entre outras opções. Atraídos por essa ilha de tranquilidade muitos

cidadãos estão optando por esse tipo de habitação, buscando segurança privada para

suas famílias. O problema é que muitas dessas pessoas que reside em condomínio tem se

afastado da discussão dos problemas relacionados a sua comunidade, ou até mesmo não

mais participam de eventos nos logradouros públicos do próprio bairro, ocasionando o

esvaziamento do espaço público por parte do cidadão. Essa ausência participativa tem

afastado as pessoas que tem senso crítico da vida política. Dessa forma, ficando ausente

de decisões importantes como a relacionada a segurança pública que impacta

diretamente em nossas vidas.

Não podemos esquecer que fora das fortalezas todos estamos suscetíveis aos crimes

violentos que podem se manifestar das mais diversas formas, quer seja contra nós mesmos,

ou contra próximos e também contra nossos vizinhos.

Fato verídico é que antes as mortes eram restritas a periferia, vitimando pessoas de baixa

renda e com certo grau de envolvimento com o crime. Agora ela se espalhou de Norte a

Sul, pelos diversos espaços da cidade, vitimando tanto infratores como trabalhadores.

Um recorte das profissões das pessoas vitimadas por arma de fogo, nos faz observar que no

universo dos dez ofícios mais incidentes, a categoria de estudante e comerciante estão

inseridas entre essas vítimas.

Estudantes que estão em início de formação se preparando para ingressar no mercado de

trabalho e contribuir com o crescimento econômico do País, estão tendo suas vidas

Gráfico 5 - As vítimas na Região Metropolitana de Natal

PAG 26

interrompidas por esse processo nefasto de acirramento da violência nos dias atuais. Os

jovens que são o futuro da nação estão numa repleta situação de abandono e os números

refletem isso já que rotineiramente presenciamos na mídia muitos desses jovens vitimando e

sendo vítimas da própria violência que os consome.

Gráfico 6 - As vítimas na Região Metropolitana de Natal

As mortes por arma de fogo chegaram a tamanho nível ao ponto de interferir no ambiente

econômico. Muitos desses óbitos ocorreram contra empresários, comerciantes, entre outros

agentes, no local do trabalho. São pessoas que devido ao seu espírito empreendedor

recorrem ao mercado em busca de oportunidades para os seus sonhos de negócio que em

muitas vezes são interrompidos por atos de criminosos que buscam práticas escusas para

subtrair o patrimônio do cidadão, no caso do latrocínio ou do próprio homicídio direcionado.

Esses atos resultam em extermínio de pessoas que contribuíram para a geração de emprego

e renda na economia. Economia essa tão abalada, pouco industrializada, que não tem

crescido o suficiente para gerar postos de trabalho e as empresas que sobrevivem convivem

com o ônus da violência, como um componente de custo de seus próprios negócios.

Diante dessas circunstâncias, percebe-se que a violência está num patamar estrutural.

Seriam necessárias medidas profundas para reverter esse ambiente sombrio. Contudo,

deixar as decisões de Segurança Pública apenas na esfera político-partidária seria condenar

a própria sorte gerações, pois o que temos visto são medidas ineficazes de Segurança

Pública, que não tem resolvido o problema estrutural da violência em nossa Cidade. Nós

como cidadãos precisamos repensar e sair das fortalezas. Conscientemente contribuir com

o processo de construção do ambiente seguro. É preciso participar da formulação de

políticas públicas e cobrar ações que combatam a causa da pobreza e da marginalização,

fruto do processo histórico da desigualdade social e concentração de renda em nosso país.

Dessa forma, estaremos dando um paço significativo para o exercício da cidadania e a

promoção do bem-estar geral.

____________

Referência:

Não identificada. 39%

Estudante. 15%

Desempregado . 12%

Servente de pedreiro . 10%

Sem profissão. 6%

Autônomo. 6%

Pedreiro . 3%

Comerciante. 3%

Desconhecido. 3%

Desocupado. 3%

A PÓLVORA E OS TRABALHADORES

PAG 27

CALDEIRA, Teresa. A cidade fortificada. Folha de São Paulo, 22 set. 1996. Disponível em:

http://www.cefetsp.br/edu/eso/comportamento/cidadefortificada.html Acesso em: 17 out. 2008.

PAG 28

8. RASTROS NA METRÓPOLE POTIGUAR

Por Ivenio Hermes10 e Thadeu Brandão11

A Região Metropolitana de Natal é composta por 11 municípios, sendo dois da Mesorregião

Agreste e os outros 9 pertencendo à Mesorregião Leste. O município de Maxaranguape foi

acrescentado em 2013 e até hoje não foi colocado sobre a circunscrição do Comando de

Policiamento Metropolitano da Polícia Militar, permanecendo na responsabilidade do

Comando de Policiamento do Interior.

8.1. MUNICÍPIOS

A mortandade cujo instrumento foi a arma de fogo, reduziram 2,39 membros das famílias

potiguares e de outros moradores das terras de Poti em apenas 3 anos, ou seja, quase duas

pessoas e meia são assassinadas por armas de fogo no Rio Grande do Norte.

Metropolitana 2013 2014 2015 Total

Natal 506 515 156 1.177

Parnamirim 105 123 44 272

Macaíba 99 61 20 180

São Gonçalo do Amarante 45 66 22 133

Ceará-Mirim 46 54 18 118

São José de Mipibu 37 43 10 90

Extremoz 21 22 5 48

Nísia Floresta 17 11 8 36

Monte Alegre 8 2 2 12

Maxaranguape 0 1 2 3

Vera Cruz 1 1 0 2

11 886 899 287 2.071

Tabela 1 Número de vítimas por municípios da Região Metropolitana de Natal, nos anos 2013, 2014 e até 15 de

maio de 2015.

Nesse ranking, apenas 3 municípios são o palco de mais de ¾ das ações letais, ou seja, Natal,

Parnamirim e Macaíba lideram com 78,76%. Outros dois municípios são destaques: São

Gonçalo do Amarante e Ceará-mirim, que juntas somam 12,11%.

Para explicitar e esclarecer como essas mortes afetam a qualidade de vida, dilaceram mais

ainda o tecido familiar e social, e comprometem a reconstrução da paz, é preciso

10 Ivenio Hermes é escritor vencedor do prêmio literário Tancredo Neves, atualmente possui 14 obras

publicadas, variando temas como ficção policial, sociologia do crime e da segurança pública, artigos

científicos, reflexão e poesia. Em alguns de seus trabalhos reúne autores amigos que juntos sonham com uma

terra de paz.

11 Thadeu de Souza Brandão é Sociólogo, Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela UFRN. Professor de

Sociologia da UFERSA. Coordenador do GEDEV (Grupo de Estudos Desenvolvimento e Violência). Consultor de

Segurança Pública da OAB/Mossoró. Membro da Câmara Técnica de Mapeamentos de CVLIs da SESED/RN.

Autor de "Atrás das Grades: habitus e interação social no sistema prisional".

PAG 29

compreender que qualquer desaceleração no ritmo de mortes, passa por uma ação

estratégica e inteligente, onde a integração dos órgãos componentes da segurança pública

se consolida cada vez mais e onde haja uma maior responsabilização para os gestores pelos

crimes que acontecem em sua circunscrição de atuação.

A integração sugerida não deve se restringir a meras ações pontuais em conjunto, e sim um

trabalho concatenado em equipe onde uma polícia supra as deficiências atributivas de

outra, e prestem conta juntas das ações desenvolvidas no processo de paz.

As armas de fogo são os instrumentos de morte mais comuns, e num estado com 2.071

assassinatos em 865 dias, isto é, é preciso que os municípios também compreendam e

assumam seu papel no reforço de políticas públicas que são notoriamente reconhecidas

como diminuidoras da proliferação da violência.

Gráfico 7 Percentual de vítimas por municípios da Região Metropolitana de Natal, nos anos 2013, 2014 e até 15

de maio de 2015.

Os dados apontam que os municípios economicamente mais ricos são os de maior

incidência de mortes por armas de fogo. Natal, Parnamirim e Macaíba lideram o ranking,

como apontado, com mais de 78% dos eventos.

O perfil, que segue um padrão histórico e nacional, é de homens, pardos e negros, entre 15

e 24 anos, solteiros e, ousamos dizer, embora os dados oficiais não mostrem diretamente,

moradores de periferias e áreas de fragilidade social. O IDH (Índice de Desenvolvimento

5,69%

2,32% 8,69%

0,14%

0,58%

56,81%

1,74%

13,13%

6,42%

4,34%

0,14%

78,62%

DISTRIBUIÇÃO DE CVLI POR ARMA DE FOGO NA RMN

Ceará-Mirim Extremoz Macaíba

Maxaranguape Monte Alegre Natal

Nísia Floresta Parnamirim São Gonçalo do Amarante

São José de Mipibu Vera Cruz

PAG 30

Humano) é um elemento fundamental a ser considerado nas análises de CVLIs em qualquer

parâmetro.

Os três municípios de maior incidência supracitados são também os que possuem

(pincipalmente Natal e Parnamirim) IDH mais discrepantes, ou seja, que embora possuam

áreas com IDH alto, também possuem zonas de extrema pobreza. A condição de

desigualdade e riqueza, e com ela, ausência de políticas públicas sociais, educacionais, de

saúde e lazer, são elementos agravantes, em termos estruturais, da violência homicida.

8.2. RECORTES

Rever os números das vítimas de arma de fogo na Região Metropolitana, bem como em

todas as regiões do Rio Grande do Norte, não o suficiente para reconhecer o problema

social que as armas, como instrumentos de morte, trazem ao contexto da vida, pois esses

instrumentos letais são objeto de desejo, de ostentação de poder e de manutenção de

currais de tráfico de drogas, de ações ilícitas contra o patrimônio público e contra o

patrimônio privado.

Dentro do hábito de humanizar as estatísticas, resgatamos o gênero, a etnia, o estado civil,

a idade, faixa etária e o tipo de evento criminoso que ceifou cada vida.

Também contamos e separamos as vítimas por bairros de Natal, suas Zonas Administrativas e

tabelamos os quantitativos para uma percepção melhor das informações.

Vamos aos recortes.

8.2.1. O PERFIL DAS VÍTIMAS NA RMN

Gráfico 8 Número absoluto de vítimas por gênero da Região Metropolitana de Natal, nos anos 2013, 2014 e até

15 de maio de 2015.

FEMININO MASCULINO NÃO IDENTIFICADO

46

839

148

850

114

272

0

FEMININO MASCULINO NÃO IDENTIFICADO

2013 46 839 1

2014 48 850 1

2015 14 272 0

GÊNERO

PAG 31

Gráfico 10 Número absoluto de vítimas por estado civil na Região Metropolitana de Natal, nos anos 2013, 2014

e até 15 de maio de 2015.

PARDA BRANCA NEGRA IGNORADA

381

79

383

43

352

148

360

39

138

36

106

6

PARDA BRANCA NEGRA IGNORADA

2013 381 79 383 43

2014 352 148 360 39

2015 138 36 106 6

ETNIA

CASADO SOLTEIRO UNIÃO ESTÁVEL DIVORCIADO SEPARADO VIÚVO IGNORADO

85

724

8 7 0 125065

692

583 1 2

78

18

243

16 3 0 2 4

CASADO SOLTEIRO UNIÃO ESTÁVEL DIVORCIADO SEPARADO VIÚVO IGNORADO

2013 85 724 8 7 0 12 50

2014 65 692 58 3 1 2 78

2015 18 243 16 3 0 2 4

ESTADO CIVIL

Gráfico 9 Número absoluto de vítimas por etnia da Região Metropolitana de Natal, nos anos 2013, 2014 e até 15 de

maio de 2015.

PAG 32

Gráfico 11 Número absoluto de vítimas por faixa etária na Região Metropolitana de Natal, nos anos 2013, 2014

e até 15 de maio de 2015.

Gráfico 12 Número absoluto de vítimas por tipo de crime violento letal intencional na Região Metropolitana de

Natal, nos anos 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015.

ABAIXO DE 15

ANOS

ENTRE 15 E 24

ANOS

ENTRE 24 E 29

ANOS

ACIMA DE 29

ANOS

ATÉ 21 ANOS ACIMA DE 21

ANOS

IDADE

INDETERMINADA

14

386

170

258286

542

58

11

446

143

252

317

535

478

140

5578

102

179

5

ABAIXO DE 15 ANOS ENTRE 15 E 24 ANOS ENTRE 24 E 29 ANOS ACIMA DE 29 ANOS ATÉ 21 ANOS ACIMA DE 21 ANOS IDADE INDETERMINADA

2013 14 386 170 258 286 542 58

2014 11 446 143 252 317 535 47

2015 8 140 55 78 102 179 5

FAIXA ETÁRIA

HOMICÍDIO LESÃO

CORPORAL

SEGUIDA DE

MORTE

LATROCÍNIO AÇÕES TÍPICAS DE

ESTADO

ASSASSINATO DE

AGENTES

ENCARREGADOS

DE APLICAR A LEI

OUTROS

690

164

7 14 7 4

788

033 32

640

269

2 8 7 0 0

HOMICÍDIOLESÃO CORPORAL

SEGUIDA DE MORTELATROCÍNIO

AÇÕES TÍPICAS DE

ESTADO

ASSASSINATO DE

AGENTES

ENCARREGADOS DE

APLICAR A LEI

OUTROS

2013 690 164 7 14 7 4

2014 788 0 33 32 6 40

2015 269 2 8 7 0 0

TIPO DE CVLI

PAG 33

8.3. AS VÍTIMAS DE NATAL

Os dados de Natal são imperiosos para mostrar essa discrepância e relação entre certo nível

de desenvolvimento humano, políticas públicas sociais em geral (saúde, educação, lazer,

etc.) e estrutura de segurança pública12.

Natal é o maior município do RN e, economicamente, o maior concentrador de renda. Por

isso, sozinho, concentra 1.177 CVLIs, perfazendo o total de 34,43% do total do estado. Parte

considerável dos crimes (roubos, assaltos e tráfico de entorpecentes) possuem ligação com

oportunidades econômicas. Isto posto, a atratividade de áreas com maior atividade

econômica e oportunidades criminógenas.

Nas tabelas podem ser observados os números absolutos de vítimas distribuídas pelos bairros

e zonas administrativas de Natal, com a coluna de totais em ordem decrescente para

facilitar sua interpretação. E nesse recorte dos bairros de Natal que se percebe a quantidade

superior de eventos homicidas envolvendo armas de fogo nas regiões periféricas e

economicamente menos favorecidas.

Zona Norte 2013 2014 2015 Total

Nossa Senhora da Apresentação 81 67 18 166

Lagoa Azul 43 40 9 92

Potengi 31 39 12 82

Igapó 22 27 18 67

Pajuçara 28 29 5 62

Redinha 19 14 8 41

Salinas 0 0 0 0

Total 224 216 70 510

Tabela 2 Número absoluto de vítimas distribuídas pelos bairros da Zona Administrativa Norte de Natal, nos anos

2013, 2014 e até 15 de maio de 2015.

Zona Sul 2013 2014 2015 Total

Ponta Negra 9 12 1 22

Lagoa Nova 1 9 0 10

Nova Descoberta 1 9 0 10

Pitimbu 2 6 0 8

Neópolis 2 6 0 8

Candelária 0 1 4 5

Capim Macio 0 2 0 2

Total 15 45 5 65

Tabela 3 Número absoluto de vítimas distribuídas pelos bairros da Zona Administrativa Sul de Natal, nos anos

2013, 2014 e até 15 de maio de 2015.

12 Todas as informações foram consubstanciadas pela Metodologia Metadados com dados do ITEP, COINE, OBVIO, DATASUS e COEDHUCI.

PAG 34

Zona Leste 2013 2014 2015 Total

Mãe Luíza 22 16 5 43

Alecrim 9 12 2 23

Cidade Alta 6 12 3 21

Rocas 0 14 2 16

Ribeira 13 0 0 13

Tirol 3 4 3 10

Santos Reis 2 3 3 8

Petrópolis 1 6 1 8

Praia do Meio 2 4 1 7

Areia Preta 3 2 0 5

Lagoa Seca 0 1 1 2

Barro Vermelho 0 1 0 1

Total 61 75 21 157

Tabela 4 Número absoluto de vítimas distribuídas pelos bairros da Zona Administrativa Leste de Natal, nos anos

2013, 2014 e até 15 de maio de 2015.

Zona Oeste 2013 2014 2015 Total

Felipe Camarão 52 44 14 110

Planalto 30 36 15 81

Quintas 26 19 8 53

Bom Pastor 21 18 6 45

Dix-Sept Rosado 16 14 3 33

Cidade da Esperança 13 12 4 29

Cidade Nova 22 2 3 27

Guarapes 13 11 3 27

Bairro Nordeste 6 4 0 10

Nazaré 0 6 1 7

Total 199 166 57 422

Tabela 5 Número absoluto de vítimas distribuídas pelos bairros da Zona Administrativa Oeste de Natal, nos anos

2013, 2014 e até 15 de maio de 2015.

Bairro não identificado

Uma situação emblemática e que desafia a administração do ITEP - Instituto Técnico-

científico de Polícia é a presença de corpos que são entregues com as fichas dos delegados

com campos essenciais em branco, fazendo com que a informação sobre o local onde a

vítima foi assassinada não seja esclarecida, como podemos ver na tabela abaixo.

Casos sem local identificado 2013 2014 2015 Total

Bairro Indeterminado 4 13 3 20

Total 503 515 156 1.174

Tabela 6 Número absoluto de vítimas distribuídas nas Zonas Administrativas de Natal, cujo bairro não foi

localizado nos anos 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015.

PAG 35

Distribuição nas zonas administrativas de Natal

2013 2014 2015 Total

Norte 224 216 70 510

Oeste 199 166 57 422

Leste 61 75 21 157

Sul 15 45 5 65

Bairro indeterminado 4 13 3 20

Total 503 515 156 1.174

Tabela 7 Número absoluto de vítimas distribuídas nas Zonas Administrativas de Natal, nos anos 2013, 2014 e até

15 de maio de 2015.

As Zonas Norte, Leste e Oeste concentram quase 90% dos CVLIs, sendo a absoluta minoria

na Zona Sul, a menos estratificada. No caso das Zonas Norte e Oeste, as com menor índice

de desenvolvimento e com menor presença de equipamentos sociais e políticas públicas,

sozinhas concentram 80% dos CVLIs.

Os dados da Zona Norte são mais indicativos: Nossa Senhora da Apresentação, o maior

bairro em área geográfica de Natal é também o mais carente em políticas públicas, o que

possui maior taxa de ocupação territorial irregular, o mais populoso e, é claro: o mais violento.

Foram 166 CVLIs, perdendo apenas para Felipe Camarão (com 110 CVLIs), bairro este da

Zona Leste que tem características similares, em termos de políticas públicas e

desenvolvimento humano, aos do Nossa Senhora da Apresentação.

Norte. 43%

Sul. 6%

Leste. 13%

Oeste. 36%

Bairro indeterminado. 2%

ZONAS ADMINISTRATIVAS DE NATAL

Gráfico 13 Número absoluto e percentual de vítimas distribuídas pelas zonas administrativas de Natal, nos anos

2013, 2014 e até 15 de maio de 2015.

PAG 36

O outro lado também nos ajuda a visualizar o problema: a Zona Sul de Natal é a menor

detentora de CVLIs. Sendo mais estruturada em todos os sentidos, nela concentra-se, de

forma mais homogênea, a renda média da cidade e, ao mesmo tempo, equipamentos

públicos (e também privados) de saúde, educação e segurança (neste aspecto, perdoem

a redundância, em parte também privados). Não deixaremos de apontar que o perfil da

vítima potencial de CVLIs (dentre estes o homicídio) não se encontra nessa região. A brutal

desigualdade social brasileira é seletiva também na violência homicida.

PAG 37

9. RASTROS NAS MESORREGIÕES POTIGUARES

Por Ivenio Hermes13 e Thadeu Brandão14

9.1. AGRESTE POTIGUAR

Tabela 8 Número absoluto de vítimas distribuídas em cada cidade da Mesorregião Agreste do Rio Grande do

Norte, nos anos 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015.

Agreste 2013 2014 2015 Total

Santa Cruz 25 12 11 48

João Câmara 9 8 5 22

Nova Cruz 9 9 3 21

Tangará 5 5 4 14

Bom Jesus 2 7 3 12

São Paulo do Potengi 1 8 3 12

Monte Alegre 8 2 2 12

Poço Branco 4 6 1 11

Serra Caiada (Presidente Juscelino) 5 4 1 10

Ielmo Marinho 4 3 2 9

Jaçanã 0 7 2 9

Santo Antônio 3 5 1 9

São José do Campestre 1 2 4 7

Serrinha 5 0 1 6

Lagoa de Pedras 5 1 0 6

São Tomé 0 3 1 4

São Pedro 1 3 0 4

Lagoa Salgada 0 1 2 3

Brejinho 1 1 1 3

Japi 0 2 1 3

Riachuelo 1 2 0 3

Vera Cruz 2 1 0 3

Barcelona 1 0 1 2

Boa Saúde (Januário Cicco) 0 1 1 2

Passa e Fica 0 1 1 2

Ruy Barbosa 0 1 1 2

Coronel Ezequiel 2 0 0 2

Jandaíra 2 0 0 2

Parazinho 1 1 0 2

Senador Elói de Souza 2 0 0 2

Passagem 0 0 1 1

Serra de São Bento 0 0 1 1

Bento Fernandes 1 0 0 1

Lagoa d'Anta 0 1 0 1

13 Ivenio Hermes é escritor vencedor do prêmio literário Tancredo Neves, atualmente possui 14 obras

publicadas, variando temas como ficção policial, sociologia do crime e da segurança pública, artigos

científicos, reflexão e poesia. Em alguns de seus trabalhos reúne autores amigos que juntos sonham com uma

terra de paz.

14 Thadeu de Souza Brandão é Sociólogo, Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela UFRN. Professor de

Sociologia da UFERSA. Coordenador do GEDEV (Grupo de Estudos Desenvolvimento e Violência). Consultor de

Segurança Pública da OAB/Mossoró. Membro da Câmara Técnica de Mapeamentos de CVLIs da SESED/RN.

Autor de "Atrás das Grades: habitus e interação social no sistema prisional".

PAG 38

Lajes Pintadas 1 0 0 1

Monte das Gameleiras 1 0 0 1

São Bento do Trairi 1 0 0 1

Sítio Novo 1 0 0 1

Campo Redondo (Augusto Severo) 0 0 0 0

Jundiá 0 0 0 0

Lagoa de Velhos 0 0 0 0

Santa Maria 0 0 0 0

Várzea 0 0 0 0

43 Municípios 104 97 54 255

PAG 39

9.1.1. GRÁFICOS DA VITIMIZAÇÃO DO AGRESTE POTIGUAR

Feminino; 20; 8%

Masculino; 234; 92%

GÊNERO

Abaixo de 15 anos; 5; 2% Entre 15 e 24 anos; 119; 49%

Entre 24 e 29 anos; 35; 15%

Acima de 29 anos; 83; 34%

IDADE

ESTATUTO DA JUVENTUDE

Até 21 anos; 94; 39% Acima de 21 anos; 148; 61%

IDADE

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

PAG 40

Parda; 111; 44%

Branca; 29; 11%

Negra; 109; 43%

Ignorada; 5; 2%

ETNIA

Casado; 26; 10%

Solteiro; 206; 81%

União estável; 9; 4%

Divorciado; 1; …

0%

Viúvo; 1; 0%

Ignorado; 11; 4%

ESTADO CIVIL

Homicídio; 214; 84%

Lesão Corporal Seguida de Morte; 18; 7%

Latrocínio; 6; 2%

Ações Típicas de Estado; 4; 2%

Outros; 12; 5%

TIPO DE CVLI

PAG 41

9.2. CENTRAL POTIGUAR

Tabela 9 Número absoluto de vítimas distribuídas em cada cidade da Mesorregião Central do Rio Grande do

Norte, nos anos 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015.

Central 2013 2014 2015 Total

Caicó 16 33 7 56

Currais Novos 4 11 12 27

Parelhas 3 11 3 17

Macau 4 3 4 11

Guamaré 2 4 2 8

Afonso Bezerra 4 2 1 7

Pedro Avelino 3 1 1 5

Caiçara do Norte 1 3 0 4

Santana do Matos 0 1 2 3

Angicos 0 2 1 3

Jardim de Piranhas 1 1 1 3

Lajes 2 1 0 3

Bodó 0 0 2 2

Fernando Pedroza 0 1 1 2

São João do Sabugi 0 1 1 2

Tenente Laurentino Cruz 0 1 1 2

Florânia 2 0 0 2

São Bento do Norte 1 1 0 2

Serra Negra do Norte 1 1 0 2

Acari 0 0 1 1

Caiçara do Rio do Vento 1 0 0 1

Cerro Corá 1 0 0 1

Lagoa Nova 0 1 0 1

Ouro Branco 0 1 0 1

Pedra Preta 0 1 0 1

São Fernando 1 0 0 1

São José do Seridó 1 0 0 1

Carnaúba dos Dantas 0 0 0 0

Cruzeta 0 0 0 0

Equador 0 0 0 0

Galinhos 0 0 0 0

Ipueira 0 0 0 0

Jardim de Angicos 0 0 0 0

Jardim do Seridó 0 0 0 0

Santana do Seridó 0 0 0 0

São Vicente 0 0 0 0

Timbaúba dos Batistas 0 0 0 0

37 Municípios 48 81 40 169

PAG 42

9.2.1. GRÁFICOS DA VITIMIZAÇÃO DA CENTRAL POTIGUAR

Feminino; 4; 2%

Masculino; 165; 98%

GÊNERO

Abaixo de 15 anos; 2; 1%

Entre 15 e 24 anos; 74; 46%

Entre 24 e 29 anos; 23; 14%

Acima de 29 anos; 63; 39%

IDADE

ESTATUTO DA JUVENTUDE

Até 21 anos; 55; 34%

Acima de 21 anos; 107; 66%

IDADE

ESTATUTO DA CRIAMÇA E DO ADOLESCENTE

PAG 43

Parda; 64; 38%

Branca; 27; 16%

Negra; 75; 44%

Ignorada; 3; 2%

ETNIA

Casado; 29; 17%

Solteiro; 118; 70%

União estável; 15; 9%

Divorciado; 1; 1%

Ignorado; 6; 3%

ESTADO CIVIL

Homicídio; 134; 79%

Lesão Corporal Seguida de Morte; 10; 6%

Latrocínio; 3; 2%

Ações Típicas de Estado; 19; 11%

Assassinato de Agentes Encarregados de Aplicar a Lei; 1; 1%

Outros; 2; 1%

TIPO DE CVLI

PAG 44

9.3. LESTE

Tabela 10 Número absoluto de vítimas distribuídas em cada cidade da Mesorregião Leste do Rio Grande do

Norte, nos anos 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015.

Leste 2013 2014 2015 Total

Natal 506 515 156 1.177

Parnamirim 105 123 44 272

Macaíba 99 61 20 180

São Gonçalo do Amarante 45 66 22 133

Ceará-Mirim 46 54 18 118

São José de Mipibu 37 43 10 90

Extremoz 21 22 5 48

Nísia Floresta 17 11 8 36

Arez 3 6 5 14

Canguaretama 5 6 2 13

Goianinha 4 8 1 13

Touros 2 7 1 10

Tibau do Sul 2 6 0 8

Rio do Fogo 5 1 0 6

Taipu 3 1 1 5

Baía Formosa 1 3 0 4

Maxaranguape 0 1 2 3

Pedra Grande 0 2 1 3

Pureza 1 2 0 3

Pedro Velho 1 0 1 2

São Miguel do Gostoso 0 1 1 2

Montanhas 1 1 0 2

Espírito Santo 0 1 0 1

Senador Georgino Avelino 1 0 0 1

Vila Flor 0 0 0 0

25 Municípios 905 941 298 2.144

PAG 45

9.3.1. GRÁFICOS DA VITIMIZAÇÃO DO LESTE POTIGUAR

Feminino; 113; 5%

Masculino; 2.029; 95%

Não identificado; 2; 0%

GÊNERO

Abaixo de 15 anos; 35; 2%

Entre 15 e 24 anos; 1.002; 49%

Entre 24 e 29 anos; 379; 19%

Acima de 29 anos; 615; 30%

IDADE

ESTATUTO DA JUVENTUDE

Até 21 anos; 726; 36%

Acima de 21 anos; 1.305; 64%

IDADE

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

PAG 46

Parda; 905; 42%

Branca; 271; 13%

Negra; 878; 41%

Ignorada; 90; 4%

ETNIA

Casado; 179; 8%

Solteiro; 1.712; 80%

União estável; 85; 4%

Divorciado; 13; 1%Separado; 1; 0% Viúvo; 16; 1%

Ignorado; 138; 6%

ESTADO CIVIL

Homicídio; 1.806; 84%

Lesão Corporal Seguida de Morte; 167; 8%

Latrocínio; 48; 2%

Ações Típicas de Estado; 62; 3%

Assassinato de Agentes Encarregados de Aplicar a Lei; 14; 1%

Outros; 47; 2%

TIPOS DE CVLI

PAG 47

9.4. OESTE

Tabela 11 Número absoluto de vítimas distribuídas em cada cidade da Mesorregião Oeste do Rio Grande do

Norte, nos anos 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015.

Oeste 2013 2014 2015 Total

Mossoró 170 178 51 399

Baraúna 26 24 10 60

Assu 18 19 9 46

Areia Branca 10 22 1 33

Caraúbas 12 11 5 28

Apodi 14 7 1 22

Umarizal 5 16 1 22

Antônio Martins 12 4 2 18

Ipanguaçu 5 9 3 17

Patu 9 8 0 17

Serra do Mel 6 10 0 16

Alexandria 5 5 1 11

Pendências 6 5 0 11

Pau dos Ferros 3 4 2 9

Janduís 3 5 1 9

Alto do Rodrigues 4 2 2 8

São Miguel 1 6 1 8

Serrinha dos Pintos 3 4 1 8

Tibau 1 6 1 8

Governador Dix-Sept Rosado 4 4 0 8

Itajá 1 4 1 6

João Dias 2 0 3 5

Grossos 2 1 2 5

Pilões 3 2 0 5

Porto do Mangue 1 1 2 4

Frutuoso Gomes 2 1 1 4

Messias Targino 3 0 1 4

Paraú 1 3 0 4

Upanema 2 2 0 4

Itaú 1 1 1 3

Almino Afonso 0 3 0 3

Campo Grande 3 0 0 3

Lucrécia 1 2 0 3

Rafael Godeiro 3 0 0 3

São Rafael 0 3 0 3

Marcelino Vieira 1 0 1 2

Severiano Melo 0 1 1 2

Água Nova 0 2 0 2

Coronel João Pessoa 0 2 0 2

Encanto 2 0 0 2

José da Penha 2 0 0 2

Jucurutu 0 2 0 2

Major Sales 0 2 0 2

PAG 48

Martins 1 1 0 2

Rodolfo Fernandes 0 2 0 2

São Francisco do Oeste 1 1 0 2

Taboleiro Grande 2 0 0 2

Carnaubais 0 0 1 1

Felipe Guerra 0 0 1 1

Francisco Dantas 0 0 1 1

Olho d'Água do Borges 0 0 1 1

Venha-Ver 0 0 1 1

Luís Gomes 0 1 0 1

Riacho da Cruz 1 0 0 1

Tenente Ananias 0 1 0 1

Triunfo Potiguar 1 0 0 1

Doutor Severiano 0 0 0 0

Paraná 0 0 0 0

Portalegre 0 0 0 0

Rafael Fernandes 0 0 0 0

Riacho de Santana 0 0 0 0

Viçosa 0 0 0 0

62 Municípios 353 387 110 850

PAG 49

9.4.1. GRÁFICOS DA VITIMIZAÇÃO DO OESTE POTIGUAR

Feminino; 32; 4%

Masculino; 817; 96%

GÊNERO

Abaixo de 15 anos; 13; 2%

Entre 15 e 24 anos; 363; 43%

Entre 24 e 29 anos; 136; 16%

Acima de 29 anos; 323; 39%

IDADE

ESTATUTO DA JUVENTUDE

Até 21 anos; 276; 33%

Acima de 21 anos; 559; 67%

IDADE

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

PAG 50

Parda; 333

Branca; 168

Negra; 336

Ignorada; 12

ETNIA

Casado; 138

Solteiro; 515

União estável; 161

Divorciado; 4

Separado; 4

Viúvo; 5

Ignorado; 22

ESTADO CIVIL

Homicídio; 696; 82%

Lesão Corporal Seguida de Morte; 65; 8%

Latrocínio; 22; 3%

Ações Típicas de Estado; 46; 5%

Assassinato de Agentes Encarregados de Aplicar a Lei; 3; 0%

Outros; 17; 2%

TIPO DE CVLI

PAG 51

9.5. RESUMO DAS MESORREGIÕES

Tabela 12 Número absoluto de vítimas distribuídas em cada Mesorregião do Rio Grande do Norte, nos anos 2013,

2014 e até 15 de maio de 2015.

Mesorregiões 2013 2014 2015 Total

Leste 905 941 298 2.144

Oeste 353 387 110 850

Agreste 104 97 54 255

Central 48 81 40 169

Indeterminado 0 0 1 1

Total 1.410 1.506 503 3.419

Gráfico 14 Percentual de vítimas distribuídas em cada Mesorregião do Rio Grande do Norte, nos anos 2013, 2014

e até 15 de maio de 2015.

Agreste. 7%

Central. 5%

Leste. 63%

Oeste. 25%

MESORREGIÕES

PAG 52

9.6. AS VÍTIMAS DE MOSSORÓ

O estudo sobre Mossoró carece de um mergulho mais ousado nas diversas zonas periféricas,

onde se pudesse entender o perfil socioeconômico de seus moradores, suas raízes

migratórias, influências culturais e históricas como as que fomentam a rivalidade existente

entre o Pirrichil e o Papoco, onde a arma de fogo tem sido o instrumento para equilibrar

relações por meio da morte matada.

Mossoró descerra seus números mortais causados pelas armas de fogo, onde a falta de

interesse administrativo de um município rico, não promove a igualdade nem para se investir

numa pesquisa censitária onde a própria prefeitura protagonizasse o interesse no

conhecimento do nível de desenvolvimento humano, na necessidade de promover políticas

públicas sociais em geral (saúde, educação, lazer, etc.) e de segurança pública que possam

atender aquela população15.

O recorte dos bairros de Mossoró apresenta tabelas podem ser observados os números

absolutos de vítimas distribuídas pelos bairros e zonas administrativas de Mossoró, com a

coluna de totais em ordem decrescente para facilitar sua interpretação.

Zona Norte 2013 2014 2015 Total

Santo Antônio 0 28 5 33

Barrocas 11 11 1 23

Bom Jardim 6 9 1 16

Bom Pastor 0 0 1 1

Canto do Junco 0 0 0 0

Total 17 48 8 73

Tabela 13 Número absoluto de vítimas distribuídas pelos bairros da Zona Administrativa Norte de Mossoró, nos

anos 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015.

Zona Sul 2013 2014 2015 Total

Belo Horizonte 10 12 2 24

Alto da Conceição 4 9 0 13

Aeroporto 4 7 0 11

Boa Vista 1 6 0 7

Doze Anos 1 2 1 4

Lagoa do Mato 2 0 0 2

Ouro Negro 1 1 0 2

Alagados 0 0 0 0

Itapetinga 0 0 0 0

Forno Velho 0 0 0 0

Dix-Sept Rosado 0 0 0 0

Total 23 37 3 63

Tabela 14 Número absoluto de vítimas distribuídas pelos bairros da Zona Administrativa Sul de Mossoró, nos anos

2013, 2014 e até 15 de maio de 2015.

15 Todas as informações foram consubstanciadas pela Metodologia Metadados com dados do ITEP, COINE, OBVIO, DATASUS e COEDHUCI.

PAG 53

Zona Leste 2013 2014 2015 Total

Alto de São Manoel 11 12 2 25

Dom Jaime Câmara 5 4 4 13

Planalto 13 de Maio 4 6 1 11

Costa e Silva 5 2 2 9

Nova Vida (Malvinas) 2 3 2 7

Alto do Sumaré 3 1 1 5

Vingt-Rosado 4 1 0 5

Bom Jesus 2 2 0 4

Ilha de Santa Luzia 1 0 0 1

Walfredo Gurgel 0 0 0 0

Pintos 0 0 0 0

Total 37 31 12 80

Tabela 15 Número absoluto de vítimas distribuídas pelos bairros da Zona Administrativa Leste de Mossoró, nos

anos 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015.

Zona Oeste 2013 2014 2015 Total

Abolição 11 17 2 30

Santa Delmira 8 11 8 27

Vila Maísa 0 2 4 6

Redenção 2 1 2 5

Nova Betânia 2 3 0 5

Total 23 34 16 73

Tabela 16 Número absoluto de vítimas distribuídas pelos bairros da Zona Administrativa Oeste de Mossoró, nos

anos 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015.

Zona Central 2013 2014 2015 Total

Paredões 5 4 3 12

Centro 5 4 2 11

Paraíba 0 0 0 0

Total 10 8 5 23

Tabela 17 Número absoluto de vítimas distribuídas pelos bairros da Zona Administrativa Central de Mossoró, nos

anos 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015.

Outras Áreas de Mossoró 2013 2014 2015 Total

Zona Rural 15 20 7 42

Bairro Indeterminado 0 0 0 0

Total 15 20 7 42

Tabela 18 Número absoluto de vítimas distribuídas em regiões parcialmente mapeadas de Mossoró, nos anos

2013, 2014 e até 15 de maio de 2015.

Importa apontar, embora nosso estudo não traga mais detalhes que, como em Natal, a

desigualdade social e a falta de estrutura e políticas públicas também é um fator

determinante das altas taxas de CVLIs em Mossoró. Nesta cidade, os bairros mais afetados

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pela dinâmica homicida são aqueles com maior caracterização de segregação sócio

espacial, ou seja, os periféricos: Santo Antônio, Belo Horizonte, Alto de São Manoel, Barrocas,

Bom Jardim, D. Jaime Câmara, Aeroporto (Quixabeirinha) e Planalto 13 de Maio.

Distribuição nas zonas administrativas e áreas parcialmente mapeadas de Mossoró

Zonas e infra regiões de Mossoró 2013 2014 2015 Total

Leste 37 31 12 80

Norte 17 48 8 73

Oeste 23 34 16 73

Sul 23 37 3 63

Zona Rural 15 20 7 42

Central 10 8 5 23

Bairro Indeterminado 0 0 0 0

Total 125 178 51 354

Tabela 19 Número absoluto de vítimas distribuídas nas zonas administrativas e em regiões parcialmente

mapeadas de Mossoró, nos anos 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015.

Apresentam partes de população mais carente, além do perfil básico da vítima homicida,

que segue o que ocorre no restante do Brasil: homens jovens, negros/pardos, moradores de

periferias e com baixa escolaridade. A maior parte dos homicídios, não solucionados, são

creditados ao "tráfico de drogas". A maior parte tem perfil de execução ou vingança.

Percebe-se, pois, que as ocorrências de homicídios se espacializam em áreas com baixa

luminosidade espacial.

Gráfico 15 Proporção de vítimas distribuídas nas zonas administrativas e em regiões rurais e parcialmente

mapeadas de Mossoró, nos anos 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015.

Norte. 73. 21%

Sul. 63. 18%

Leste. 80. 22%

Oeste. 73. 21%

Central. 23. 6%

Zona Rural. 42. 12%

ZONAS ADMINISTRATIVAS DE MOSSORÓ

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No caso de Mossoró, assim como em outras cidades médias brasileiras a desorganização

social em vastas áreas desses novos centros urbanos pode ser um dos aspectos a ser

analisado mais detalhadamente para se poder compreender esse processo. Outro elemento

é a capacidade regulatória - em termos jurídicos e de controle policial (o que inclui

investigação eficiente e punição dos "culpados") e de supervisão em certas áreas de alta

incidência da violência tem a ver com processos de mudança (estrutural e espacial) em sua

composição populacional.

A dinâmica homicida nas médias cidades brasileiras vem crescendo, o que gera a

necessidade de estudos comparativos desses locus onde, de forma ampla, as taxas vêm se

apresentando altas: Campinha Grande, Crato e Mossoró são exemplos mais próximos. Ao

mesmo tempo, o crescimento econômico, sempre de forma desigual socialmente, está

atrelado a essa dinâmica, na medida em que o perfil da vítima homicida permanece a

mesma: homem, jovem, negro/pardo, morador de periferia e com baixa escolaridade, além

de possuir ocupação informal ou precarizada. Não basta apenas apontar falhas no sistema

de segurança pública.

Note-se, por outro lado, que todos os espaços de atração e de destinação pretensamente

“turísticos” da cidade estão localizados em duas áreas consideradas nobres da cidade: Zona

Central e a Zona Oeste. Ao mesmo tempo, essas regiões possuem as melhores infraestruturas

de serviços em geral como saúde, educação, saneamento básico, comércio e segurança

pública. São também as que possuem as menores taxas de CVLIs. Por conseguinte, os

espaços da violência homicida não coincidem com os espaços luminosos que são pretensos

ao turismo e à circulação dos grupos sociais mais privilegiados.

PAG 56

10. HOMICÍDIOS COMO PROBLEMÁTICA SOCIOLÓGICA

Por Thadeu Brandão16

Os homicídios são o maior problema da criminalidade violenta no Brasil. Responsável por 10%

dos homicídios do mundo, segundo Exame da Declaração de Genebra sobre Violência

Armada e Desenvolvimento. O Brasil vem apresentando um crescimento de suas taxas de

homicídio numa média de 1.580 mortes ao ano e em suas taxas por cem mil na ordem de

5,6 % ao ano desde o início da década de 1980. Em 2002 esta taxa estava na ordem dos 30

homicídios por cem mil/habitantes (NOBREGA, 2009, p. 72). O Mapa da Violência 2011,

documento que apresenta estudo realizado em colaboração entre o Ministério da Justiça e

o Instituto Sangari acerca dos homicídios no Brasil, diz que:

As políticas desenvolvidas a partir de 2003 conseguiram estancar o íngreme crescimento

da violência homicida que vinha se alastrando desde 1980, sem solução de

continuidade. [Mesmo assim,] Nossos índices permanecem ainda extremamente

elevados, tanto quando comparamos nossos indicadores com os de outros países do

mundo, quanto na percepção e temores da população sobre sua própria segurança

(WAISLFISZ, 2011ª, p. 05).

Aponta ainda que essa violência continua a ter o jovem como principal ator e vítima.

Outrossim, mostra um “deslocamento dos polos dinâmicos da violência rumo a locais com

menor presença do Estado na área da Segurança Pública” (WAISLFISZ, 2011ª, p. 06). Uma

amostra do quadro é que a taxa de homicídios de jovens pulou de 41,7 em 100 mil habitantes

para 52,9 por 100 mil habitantes (dados de 2008).

Esse deslocamento do crescimento e deslocamento dos homicídios para cidades médias no

Brasil, aponta, em certa medida, para as causas destes fatores. Principalmente porque a

idéia de que a violência urbana é um sintoma de problemas subjacentes também precisa

ser levada a sério. Nilson Vieira Oliveira aponta três teses essenciais:

(...) 1. A violência urbana não é nova, mas não assume as mesmas formas em todas as

épocas. É importante distinguir suas variedades, as diferenças entre tipos de agente,

vítima, ocasião, local, tecnologia etc. 2. A importância do deslocamento ou

realocação da violência dentro da cidade merece ênfase particular. As eleições e os

carnavais brasileiros, por exemplo, não são mais ocasiões importantes de violência.

Porém, deslocamento não significa desaparecimento. Na Europa, por exemplo, a vio-

lência festiva mudou-se de locais tradicionais, como a ponte, para lugares novos, como

os estádios. 3. A violência pode ter se profissionalizado gradualmente a longo prazo,

embora não possamos verificar essa hipótese com métodos quantitativos. A violência

urbana tradicional, numa época em que a maioria dos homens adultos portava armas,

era principalmente obra de amadores, enquanto hoje (com a significativa exceção dos

tumultos étnicos) é principalmente obra de profissionais. A proporção da população

que toma parte ativa na violência provavelmente diminuiu ao longo dos últimos séculos.

Nesse sentido limitado, apesar da escala apavorante do problema da violência nas

16 Thadeu de Souza Brandão é Sociólogo, Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela UFRN. Professor de

Sociologia da UFERSA. Coordenador do GEDEV (Grupo de Estudos Desenvolvimento e Violência). Consultor de

Segurança Pública da OAB/Mossoró. Membro da Câmara Técnica de Mapeamentos de CVLIs da SESED/RN.

Autor de "Atrás das Grades: habitus e interação social no sistema prisional".

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cidades contemporâneas, ainda podemos falar, como Norbert Elias, de um processo

civilizador. Só não sabemos se a força desse processo vencerá o poder das novas armas

(OLIVEIRA, 2002, p.50).

Afinal, quem mata? A maioria das pessoas que matam nas cidades brasileiras é homem,

jovem, pobre e mora nas periferias. Como agem? Agem “no meio da rua, usando revólver,

motivados por questões frívolas, principalmente nos finais de semana, no período da noite,

sem ser punido pela polícia, nem denunciado pela comunidade” (OLIVEIRA, 2002, p. 54-55).

Mas, um alerta! Pois esse monte de generalidades quando repetido indiscriminada e

indistintamente, sem que se aprofunde sobre os fatos, atrapalha mais do que ajuda a

entender o perfil da violência nas cidades.

Isto porque,

Da maneira como são apresentados, os dados acabam servindo principalmente para

apontar para a sociedade o grupo que se deve temer e, se possível, eliminar do

convívio. (...) Duas consequências principais acabam surgindo: em primeiro lugar, as

instituições repressivas do Estado podem atuar de maneira focada, prendendo ou

matando as pessoas que pertencem a este grupo, que moram nos locais apontados

pelas tabelas, se vestem de determinada maneira, falam um linguajar específico, com

a pele de determinada cor. Em segundo lugar, a sociedade fica sabendo a quem

temer, contra quem se precaver, os lugares a evitar, com quem não conviver. (...)

Combatemos, odiamos, menosprezamos, portanto, o grupo de pessoas que os dados

nos mostram como perigosas e que ameaçam nossa vida (OLIVEIRA, 2002, p.54).

O estudo dos homicídios é fundamental. Pois os homicídios são ações que terminam

revelando diversas peculiaridades sobre a sociedade e seus valores. Assim, entender o que

levaria a maioria das pessoas que cometem homicídios a agir dessa forma revelaria também,

de certa medida, os defeitos e problemas da sociedade que criamos.

Em geral, os homicídios são causados por fatores que convergem a uma sociabilidade

violenta ou mesmo, a uma cultura de sociabilidade “etílica”, perpassada pelo álcool. Em um

estudo revelador, realizado em São Paulo, em sua grande maioria, os homicídios

(esclarecidos ou não esclarecidos), o homicida agia “para resolver um problema pessoal,

que diz respeito a si próprio e a mais ninguém”. Assim, os homicídios que são cometidos em

“nome dos negócios (ilícitos, na totalidade), em que trabalha o autor do crime, ficam em

segundo lugar”. Finalmente, estão aqueles homicídios que são decorrentes de roubos, onde

“o assassinado pode ser a vítima do roubo, o autor do roubo, o segurança ou o policial que

tenta evitar o ato. (...) Os homicídios ligados a questões familiares, envolvendo integrantes

da família ou pessoas de fora, somam 8% dos assassinatos.” (OLIVEIRA, 2002, p.61).

Importante também salientar que a evolução da pobreza e da miséria nas últimas décadas

não sustenta a tese que relaciona o aumento da criminalidade pela miséria apenas. Assim

como, a diminuição pura e simples da desigualdade, como ocorreu nos últimos anos, não se

ligou a uma diminuição dos índices de violência.

Outro ponto indicado pelas pesquisas atuais, a violência também tem um efeito

inflacionário. Quando a taxa de crimes, especialmente os violentos chegam a um patamar

muito elevado, o medo da população e a insegurança ameaçam a qualidade de vida

PAG 58

conquistada a duras penas em décadas de desenvolvimento econômico e de

reivindicações sociais.

O homicídio é a forma de violência mais impactante, principalmente devido ao fato de

eliminar, sem retorno, a possibilidade de reparação da vítima. A mortandade causada por

homicídios é considerada um indicador importante da violência social, muitas vezes

relacionada a crescentes índices de desigualdades sociais e econômicas, assim como:

retração do papel do Estado nas políticas públicas, precariedade no desempenho das

medidas de segurança pública e de justiça. “Juntos, esses fatores levam ao predomínio da

impunidade, à organização de grupos de extermínio, à organização do narcotráfico e de

grupos de sequestradores, à posse de armas, entre outros processos” (LIMA, 2002, p. 463).

Há uma associação direta entre a mortalidade por homicídio e os baixos níveis de

desenvolvimento socioeconômico. Assim como acerca da associação entre o número de

vítimas fatais de violência policial e a mortalidade por homicídios. Em estudo realizado, Peres

Et Al (2008, p. 274) apontam que “nas análises univariadas (correlação e regressão),

encontramos maiores coeficientes de mortalidade nas áreas com maior vitimização fatal por

parte de policiais”. Isso significa que, essas áreas são, da mesma maneira, as mesmas que

apresentavam os piores índices de desenvolvimento socioeconômico.

Além disso:

Uma série de estudos indica que não é a pobreza que explica as altas taxas de

homicídio, mas a combinação de desvantagens sociais que caracterizam as áreas

periféricas. Dentre essas desvantagens, cabe ressaltar aquela que resulta da atuação

dos agentes do Estado em tais comunidades. Pode-se dizer que, de modo geral, as

comunidades que apresentam altos níveis de violência e desvantagens são pouco

atraentes como local de trabalho para os agentes públicos (PERES, 2008, p. 274).

Um dos elementos que contribuem significativamente para os aumentos dos homicídios é o

uso de armas de fogo, principalmente enquanto elemento facilitador. A partir da década

de 1990, os dados vêm indicando uma significativa contribuição das armas de fogo para o

crescimento dos homicídios. Mas, como em outros casos, problemas na qualidade e certidão

das informações, tanto no que se refere às mortes com intencionalidade indeterminada

como ao tipo de instrumento utilizado, prejudicaram a análise dos dados (PERES, SANTOS,

2005).

Em bairros e favelas em que parece prevalecer o tráfico de drogas, em particular, o crack,

há, em geral, registro de violência ligada ao tráfico. Os homicídios são, também, resultado

da violência sistêmica associada ao mercado negro de drogas. “Naturalmente, isto de forma

nenhuma significa que apenas esse tipo de delito ocorre nessas regiões, mas apenas que o

incremento resultante da violência associada ao tráfico de drogas contribui para que estas

sejam identificadas como conglomerados” (BEATO FILHO, 2001, p. 1169).

Assim,

Esse resultado encontra respaldo em uma literatura de análise da violência e

criminalidade que enfatiza o incremento dos homicídios à violência associada ao

mercado de drogas (...). Quase a totalidade desse pequeno universo de áreas de risco

estão concentradas em favelas. De qualquer maneira, não são as condições

PAG 59

socioeconômicas per se as responsáveis pelos conglomerados de homicídios, mas o

fato de essas regiões serem assoladas pelo tráfico e pela violência associada ao

comércio negro de drogas (BEATO FILHO, 2001, p. 1169).

Segundo Júlio Jacobo Waiseilfisz, no Mapa da Violência 2011, o contínuo incremento da

violência no dia-a-dia é algo representativo e problemático na organização da vida nas

sociedades modernas, principalmente nos grandes centros urbanos. Insiste que a morte é “a

violência levada a seu grau extremo”, onde, “a intensidade nos diversos tipos de violência

guarda uma estreita relação com o número de mortes que causa” (WAISLFISZ, 2011ª, p. 10).

Por isso, destaca que o uso de mortes por violência como indicador geral é causada pela

falta de alternativas confiáveis de indicadores do fenômeno. Para tanto: “entenderemos

como morte violenta os óbitos acontecidos por acidentes de transporte, por homicídios ou

agressões fatais e suicídios” (WAISLFISZ, 2011ª, p. 10).

________________

Bibliografia

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2001.

CASTRO, Mônica S. Monteiro de, ASSUNÇÃO, Renato M., DURANTE, Marcelo Ottoni. Comparação de dados

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LIMA, Maria Luiza C. de, ET AL. Evolução de homicídios por área geográfica em Pernambuco entre 1980 e 1998.

In: Revista Saúde Pública, 2002, número 36(4), p. 462-9.

NÓBREGA, José Maria. A queda da desigualdade de renda no Brasil e os homicídios na Região Nordeste. In:

Revista Espaço Acadêmico, nº 98, Julho de 2009, Ano IX, ISSN 1519-6186. p. 72-81.

OLIVEIRA, Nilson Vieira (Org.). Insegurança Pública: reflexões sobre a criminalidade e a violência urbana. São

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PERES MFT, CARDIA N, MESQUITA NETO P, SANTOS PC, ADORNO S. Homicídios, desenvolvimento

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de fogo. In: Revista de Saúde Pública, São Paulo, 2005, n. 39(1), p. 58-66.

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SOUZA, Ednilsa Ramos de. Masculinidade e violência no Brasil: contribuições para a reflexão no campo da

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WAISLFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2011: os jovens do Brasil. São Paulo: Instituto Sangari; Brasília, DF:

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____________. Mapa da Violência 2012: Os novos padrões da violência homicida no Brasil. São Paulo: Instituto

Sangari; Brasília, DF: Ministério da Justiça, 2011b.

PAG 60

11. OUTRO CONTEXTO: UMA GUERRA DOS TRONOS

Por Fábio Montanha17

A GUERRA CONTINENTAL DO SISTEMA ACUSATÓRIO E SEUS MUITOS PROTAGONISTAS

Muito se discute na atualidade o papel que cabe às Polícias, civil e militar, na tarefa de

redução da criminalidade que assola o país, seja ela de cunho violento, letal e intencional,

ou então aquela de autoria de “escritório”, os famosos crimes do “colarinho branco”.

A reflexão que deve girar em torno da função das polícias, mais que aquela puramente

dogmática prevista no texto constitucional e que é objeto de mudança por parte das PECs

443 e 293, envolvem uma análise do próprio sistema de persecução penal em sua totalidade,

seus fins expressos e implícitos, bem como os meios ofertados para o alcance deles.

Nesse contexto, verifica-se que o Brasil adotou, com a Constituição de 1988, um sistema de

cunho predominantemente “Acusatório”, onde o acusador, julgador e defensor são

claramente separados e as polícias, Militar e Civil, ficariam encarregadas, cada qual, de

atribuições específicas e estanques, onde a PM se responsabilizaria pela prevenção à

ocorrência do crime, bem como à resposta imediatamente posterior a infração penal, e a

PC cuidaria do pós-crime, da repressão aos já realizados, de modo a identificar a autoria e

materialidade delitiva e assim subsidiar a parte Acusatória com elementos para denunciar o

Acusado, onde, a partir daí, seria formada a relação jurídica processual.

Tem-se, num contexto teórico, atribuições, competências e deveres claramente delineados,

supostamente harmônicos e que deveriam funcionar tal qual uma engrenagem para

produzir o resultado final, seja este uma condenação ou uma absolvição.

Porém, por que a teoria se mostra tão díspar da prática? Por que as atribuições são

invadidas, misturadas, desconsideradas e as próprias instituições e seus membros são

questionados a não mais poder em razão do crescente e inabalável recrudescimento da

criminalidade violenta?

Enquanto se perambula pelos questionamentos sem se buscar realmente o provimento

exitoso da segurança pública, milhares de pessoas morrem anualmente no Rio Grande do

Norte sem ter uma solução para seus casos. As armas de fogo, impulsionadas pela pólvora

alvissareira da cobiça de muitos, vitimiza jovens, negros, moradores da periferia cuja vida

marginal os desprivilegia do poder legítimo de ter seus casos levados à justiça, pois os reis

lutam pelo poder, numa guerra pelo trono de ferro da segurança, uma batalha que faz os

soberanos lutarem e seus vassalos morrerem como moscas.

Para se saber como chegamos ao atual momento histórico, de questionamento das

instituições, da busca por mudança de atribuições via emendas constitucionais e

interpretações normatizantes do STF, faz-se necessário saber, inicialmente, nesse “jogo” onde

17 Fábio Augusto de Castro Cavalcanti Montanha Leite é Bacharel em direito pela Universidade Federal do Rio

Grande do Norte - UFRN; especialista em direito tributário pela Faculdade de Natal - FAL e mestre em direito

pela UFRN, com área de concentração em Constituição e Garantia de Direitos.

PAG 61

há vários protagonistas, o papel normatizado para cada um, as condições oferecidas para

a prestação do serviço almejado e os questionamentos, falaciosos ou não, da necessidade

de se mudar as regras do tabuleiro de um jogo que, na verdade, nunca começou

devidamente.

O JOGO DOS “TRONOS”: QUEM SÃO OS MUITOS REIS DO “CONTINENTE” QUE É O SISTEMA ACUSATÓRIO

O nascimento do sistema acusatório de índole inquisitorial18 que caracteriza a dogmática

penal e processual penal brasileira envolveu muitos “pais”, heranças ditatoriais

recepcionadas pela Constituição Federal (que são o CPP e o CP), e “filhos” orgulhosos que

almejam para si todas as “joias” da coroa, que são as atribuições e competências para

investigar, prender, processar, acusar, defender, condenar e absolver.

Os atuais e mais combativos herdeiros do “Continente Acusatório” foram moldados na Carta

Magna da seguinte forma artigos, dentre os quais, são merecedores de destaque os

seguintes:

O artigo 92, que inicia a estruturação constitucional do Poder Judiciário.

O artigo 127, que trata do Ministério Público, sua função, princípios institucionais e funções

institucionais, em especial o Inciso I, que trata da promoção em caráter privativo da ação

penal pública, o Inciso VII que trata do controle externo da atividade policial, o Inciso VIII

que trata da requisição de diligências investigatórias à polícia e a instauração de Inquérito

Policial, o Inciso IX que trata da possibilidade de exercer “outras funções que lhe forem

conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade”.

O artigo 133 que trata do papel do advogado, considerado essencial à administração da

Justiça.

O artigo 134 que dispõe sobre a Defensoria Pública, outra instituição essencial à função

jurisdicional do Estado e, em muitos momentos, o único contraponto ao Ministério Público na

relação processual.

O artigo 144, que trata da segurança pública como dever do Estado, direito e

responsabilidade de todos, a qual deve ser exercida para a preservação da ordem pública

e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

Ainda no tocante ao artigo 144, convém destacar que a segurança pública virá a ser

exercida por inúmeros órgãos, quais sejam, as Polícias Federal, Rodoviária Federal, Ferroviária

Federal, Civil e Militar. A cada umas dessas polícias foram conferidas atribuições expressas e,

consequentemente, limitações ao espectro de sua atuação, de modo que uma não venha

a “invadir” a atuação da outra, porém sem prejuízo de ações cooperativas.

18 “Se o juiz possui poderes instrutórios, então o sistema processual em questão será do tipo inquisitório. Se o sistema processual veda a atividade instrutória do magistrado, então o sistema processual em questão será do tipo acusatório. Os princípios fundantes do sistema processual demarcam as fronteiras entre um e outro.” LOPES JUNIOR, Aury. Investigação preliminar no processo penal. Pg. 62. No Brasil, o magistrado ainda possui poderes instrutórios, vide o artigo 156 do CPP.

PAG 62

Nesse contexto, todos esses atores nasceram, com a Carta Magna, protagonistas por

excelência em suas atribuições, posto que toda nova Constituição “inaugura” um novo

Ordenamento Jurídico, ainda que sejam novas “vestes” para velhos atores.

Ao PODER JUDICIÁRIO foi conferida a relevante tarefa de JULGAR os processos, os destinos

das partes litigantes ou não;

Ao MINISTÉRIO PÚBLICO, no âmbito do Sistema Acusatório, foi conferido o poder privativo de

promover a AÇÃO PENAL PÚBLICA, bem como exercer o controle externo da atividade

policial e requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial;

Ao ADVOGADO, essencial à administração da Justiça, foi incumbida a tarefa de se

contrapor ao ACUSADOR, promovendo a DEFESA do suspeito-indiciado-acusado-réu.

Ao DEFENSOR PÚBLICO lhe foi destinada a honrosa DEFESA dos mais necessitados.

Às POLÍCIAS, lhes coube a PRESERVAÇÃO DA ORDEM PÚBLICA, INCOLUMIDADE DAS PESSOAS

E DO PATRIMÔNIO.

Nesse sistema de inúmeros protagonistas, a despeito de possuírem tarefas igualmente

relevantes, não lhes foi conferido as mesmas condições para cumprirem com seus destinos

constitucionais, de modo que, se ao Poder Judiciário e Ministério Público foram atribuídas

garantias constitucionais para evitar sofrerem ingerências políticas, bem como dotações

orçamentárias específicas e vinculadas, o mesmo não se pode dizer para os demais

“players”.

Ao longo dos anos, portanto, o reflexo desse nascimento de vários protagonistas com igual

relevância, mas com condições díspares de trabalho cobrou seu preço. Formaram-se ilhas

de excelência e de alto padrão moral no Poder Judiciário e Ministério Público, com seus

palácios e togas que refletem uma espécie nova Roma, já as Polícias, que seriam as

principais responsáveis por levar ao Judiciário e efetivamente iniciar a ativação do Sistema

Acusatório, por meio da triangulação da relação processual formada após o recebimento

da denúncia, foram relegadas uma função de segundo plano, sem garantias contra

ingerência política, sem recursos vinculados, sem estrutura mínima de trabalho. A própria

Defensoria Pública, que deveria ser o contraponto equânime do Ministério Público,

especialmente após o início da relação processual, foi relegada a um segundo plano em

importância, em tamanho e em condições de prestar um bom serviço, fato este que reflete

diretamente como uma das razões para a superlotação carcerária, em face da ausência

de um número razoável de defensores para analisar os processos da imensa “clientela

preferencial” que lota as penitenciárias.

A consequência para tantos anos de tratamento bipolar terminou por cobrar seu preço, com

o recrudescimento dos índices de violência, notadamente o CVLI, para padrões, em alguns

casos, de países em guerra, com estatísticas epidêmicas e de clara falta de controle da

criminalidade emergente.

Há de se destacar, todavia, que não se pode responsabilizar unicamente todos esses atores,

os quais representam o chamado “controle social formal” do Estado, que atuam apenas

PAG 63

após e em função do surgimento do fenômeno criminógeno, como os bodes expiatórios

para a sensação de insegurança crescente.

Com efeito, a violência e a criminalidade dela decorrente possuem uma origem

poligenética difícil de especificar, sob o risco até mesmo de limitar, pela conceituação, seus

inúmeros fatores determinantes e estimuladores, fato este que termina por dificultar, pelo

desconhecimento, a atuação dos agentes do controle social formal, notadamente as

Polícias, que ficam sempre na linha de frente do combate aos agentes criminosos.

A DEMANDA POR MUDANÇA: O CRIME COMO RESPONSÁVEL PELA RENOVAÇÃO DOS ATORES INSTITUCIONAIS

A realidade da segurança pública brasileira, longe de perpassar unicamente pelos atores

do Sistema Acusatório, abrange toda a sociedade, tanto como destinatária, como quanto

agente transformadora (vide o artigo 144, caput), de modo que a insatisfação pelas

imperfeições congênitas do Sistema, supostamente eficiente na teoria, passaram nos dias

atuais a reforçar a necessidade de sua rediscussão, cuja responsabilidade pelo

aperfeiçoamento transcende os principais protagonistas já citados.

Mas o que motivou tal rediscussão?

Sem dúvida alguma o advento de um modelo de criminalidade violenta, o crescente

aumento das taxas de CVLI, notadamente das mortes pelo uso de armas de fogo e, mais

recentemente, dos inúmeros casos “midiatizados” de crimes praticados por armas brancas.

As mudanças, provocadas pela pressão popular e reforçada pela sensação de insegurança

veiculada na mídia, se mostram aparentemente inescapáveis e seguem o rastro de pólvora

do aumento da criminalidade, posto que o próprio crime, socialmente considerado, é um

fenômeno NORMAL (não existe sociedade sem crime) e é a partir dele que as instituições se

aperfeiçoam para novos moldes e estruturas capazes de contê-lo a taxas estatisticamente

“aceitáveis” .

Não se pode admitir, nesse contexto, taxas epidêmicas de criminalidade, assim como não

se pode esperar uma sociedade sem crimes, de modo que qualquer política que envolva

em suas premissas o “combate”, o “extermínio” da criminalidade, não passa, nesse contexto,

de uma política demagógica para dar uma satisfação rápida à população, que não tem

mais paciência e exige tais respostas de seus representantes eleitos.

De acordo com o estudo feito pelo pesquisador IVENIO HERMES (Página 16):

Assim como a pólvora das munições, as armas de fogo vêm deixando um rastro de

corpos no Rio Grande do Norte. No período abordado nesse estudo, ou seja, os anos

de 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015, 3418 pessoas foram vítimas dessas armas (...).

Reduzindo esses números às estatísticas mais frias, temos que 85% de todos os CVLI

registrados no período abordado no RN foram instrumentalizados por armas que usam

a pólvora como propelente de sua munição, ficando os 15% restantes distribuídos entre

outros instrumentos de morte, como a arma branca, objetos contundentes, asfixias e

outras formas ou combinações já citadas.

PAG 64

A relevância dessa pesquisa no contexto ora analisado, dos atores envolvidos no papel da

redução da criminalidade (especialmente a violenta) e que estão inseridos no chamado

SISTEMA ACUSATÓRIO, é clara, posto que tem-se aí um evidente fator criminógeno,

consistente no uso indiscriminado de armas de fogo que necessita ser reprimido e prevenido.

Porém, estariam os atores do Controle Social Formal, notadamente as Polícias e o Ministério

Público, aptos a responder a essa criminalidade armada?

DA EXPANSÃO DOS PAPÉIS DOS AGENTES DO CONTROLE SOCIAL FORMAL: POUCOS HERÓIS E MUITOS CULPADOS

A expansão da criminalidade violenta, especialmente aquela praticada por meio de armas

de fogo, instrumento essencial para garantir poder tanto ao ladrão pé de chinelo quanto ao

chefe do tráfico de uma favela, posto que ambos nada são sem o poder conferido pelas

armas, e sua correspondente midiatização, implicam numa demanda crescente por maior

segurança e responsabilização, afinal, há de existir alguém a culpar pelo aumento dos

assaltos, balas perdidas, homicídios e latrocínios praticados, dentre outros crimes.

O boi de piranha, bode expiatório para tal demanda popular, como em outros casos, há de

ser sempre o ator mais fraco desse jogo, qual seja, a Polícia, instituição secular incapaz de

corresponder aos anseios populares, seja pela sua falta de estrutura, falta de capacitação,

falta de efetivo ou falta de vergonha na cara.

Na polícia, seja ela civil ou militar, falta tudo, inclusive vergonha na cara para assumir as

próprias limitações (não apenas aquelas decorrentes do descaso dos tomadores de

decisão, mas também aquelas impostas pelo próprio Sistema Acusatório), reconhecer seu

papel e lutar por melhorias (não apenas salariais).

Ocorre que a sociedade não se interessa pela “fartura” policial, assim como os “primos” ricos,

os demais atores desse Sistema Acusatório, MP e Judiciário, não apenas pouco fazem para

auxiliar os menos afortunados, como também buscam atrair para si ainda mais atribuições e

competências não constitucionalizadas, mas verificadas na prática, em razão do vácuo

decorrente da incapacidade logística dos atores de fazerem valer seu mister.

Especialmente o Ministério Público, ao se revestir de bastião da moralidade e de principal

ente contrário à corrupção externa e interna corporis de si próprio e dos demais

protagonistas, verificando a incapacidade da Polícia Judiciária em lhe fornecer subsídios

mínimos para a promoção da ação penal pública, passou a agir como se polícia

investigativa fosse, se valendo, em alguns casos, de outras instituições policiais para cumprir

o que deveria ser feito, por expressa disposição constitucional, pela Polícia Civil.

Assim como a natureza que despreza o vácuo, o serviço público também não admite

ausências, especialmente porque se entende que mais poder, mais atribuições, mais

responsabilidades, implicam em maior status e capacidade de negociar melhores

condições de salário e de trabalho.

Logo, tendo em vista que não interessa ao MP realizar o patrulhamento ostensivo ou a

guarda de rodovias, colocando em seu peito a “estrela de xerife”, o foco da “joia da coroa”

PAG 65

que nunca fora sua se dirigiu ao que a Constituição conferiu unicamente à Polícia Judiciária,

que é a apuração das infrações penais.

E assim se iniciou a “guerra” entre os atores do sistema acusatório, notadamente MP e PC/PF

pelo “controle” de tal joia, a qual, de tão valiosa passou a ser cobiçada também por todas

as demais polícias, no que se chama atualmente de “ciclo completo de polícia”. A

diferença, todavia, reside no fato que as demais polícias, longe de se irmanarem com a

Polícia Judiciária, passaram a atuar em estreita parceria com o MP, passando a cumprir um

papel que não lhes cabia e em detrimento de suas próprias atribuições constitucionais.

O sistema acusatório, então, entrou em pane. Fruto do aumento inclemente da

criminalidade, da incompetência dos atores responsáveis pela reversão dos números em

prestarem um serviço de qualidade e da assunção dessa responsabilidade (e desse poder)

pelo “primo rico”, os protagonistas desse jogo passaram a brigar muito mais entre si, pelas

“joias da coroa”, que contra o inimigo comum.

A resposta dos tomadores de decisão, que direcionam os recursos a tais atores, longe de

buscar uma reestruturação dos mesmos e capacitá-los para agir dentro de suas próprias

esferas, foi a de procurar rediscutir o modelo “falido”, de aumentar as penas para

determinados crimes, criar tipos penais, como se mais penas e mais crimes fossem reduzir a

criminalidade.

Ironicamente, a demanda por segurança no contexto da sociedade atual, multiplicada

pela velocidade da transmissão da informação e do risco, apesar de demonstrar a

incapacidade marcante da Política de Segurança Pública que prioriza uma atuação

estanque e não integrada das agências de controle formal do crime (gerando muito mais

uma competição que uma cooperação), termina por justificar a própria expansão dessa

mesma política, como se a resposta para todos os problemas da criminalidade violenta se

resumisse a reforçar, ad infinitum, a fórmula já vigente .

Nesse contexto, em especial no caso dos crimes violentos dolosos contra a vida, os quais são

praticados majoritariamente por meio de armas de fogo, por atingirem o bem jurídico mais

relevante protegido pelo Direito, que é a vida, terminam por ensejar um anseio por resposta

sempre mais vigoroso e rápido, conforme for a maior indignação com o crime e sua

midiatização.

Procura-se agora repousar toda a responsabilidade, com a força dos números e estatísticas

dos crimes violentos, os quais demonstram a “falibilidade” do sistema acusatório

(desconsiderando totalmente os outros serviços estatais ineficientes que influem no aumento

da violência e criminalidade e a própria omissão da sociedade em si), reformular aquilo que

nunca foi devidamente bem tratado, jogando-se a culpa da ineficiência no ente mais fraco

do Sistema Acusatório, que é a Polícia, quando sequer se reconhece que os outros

protagonistas também possuem sua parcela culpa pela ineficácia do Sistema,

desconsiderando ainda a desproporção entre o quanto que alguns arrecadam e o quanto

que produzem mensalmente em matéria de resultados.

PAG 66

CONCLUSÃO

A emergência da criminalidade violenta, letal e intencional, que aparece diariamente nos

noticiários e que mais choca e assusta a população, notadamente aquela criminalidade

praticada por meio de armas de fogo, as quais, a despeito do advento do Estatuto do

Desarmamento em 2003, continuam desenfreadamente acessíveis aos criminosos, resultou

numa cobrança de resultados imediatos pela população que hão de implicar em mudanças

no Sistema Acusatório e, nessas alterações, talvez apenas os atores mais fortes irão se

beneficiar (os quais, apesar da aparente “força” decorrente da abundância de recursos e

garantias contra interferências externas, proporcionalmente não forneçam os mesmos

resultados dos “primos pobres”, fato este que nunca é observado ao se criticar os índices de

produtividade desses “primos” quase que “hipossuficientes”).

Aos próprios atores, tendo em vista o que está em jogo, as joias da coroa, cumprirá o

relevante papel de colocar de lado preconceitos e parcialidades para tentar travar uma

discussão científica sobre a realidade atual, as razões de se chegar aonde estamos, o que

existe de bom para ser preservado e o que pode ser mudado e aperfeiçoado, sempre tendo

em conta os limites intrínsecos de todas as agências formais de controle da criminalidade

(ainda que atuantes com um máximo de eficácia), de modo a se estabelecer metas realistas

de redução de índices para cada uma, metas estas que servirão de referencial para

questionar o “populismo punitivista” que força uma expansão desmesurada do Direito Penal,

em detrimento do reforço de outras instâncias, como a saúde, educação, emprego, lazer.

___________________

REFERÊNCIAS

HERMES, Ivenio et al. Rastros de Pólvora: Metadados 2015. Natal: Ed. dos Autores, 2015. 110 p.

LOPES JUNIOR, Aury; GLOECKNER, Ricardo Jacobsen. Investigação preliminar no processo penal. São Paulo:

Saraiva, 2013.

SENASP - EAD. Violência, criminalidade e prevenção. Módulo 1: Violência e criminalidade: conceitos,

classificações e reflexões. Curso online.

SHECAIRA, Sergio Salomão. Criminologia. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008.

PAG 67

12. EGOÍSMO INSANO

Por Cezar Alves19

“Havia esta questão absurda que são essas desavenças por causa de

futebol. Ainda bem que torcedor do Fluminense não briga. Fluminense

não é um time, é quase uma religião. De maneira que não tem esta

questão de briga. Eu vou lá ficar brincando com meu amigo (indica

um oficial de Justiça), porque ele é flamenguista? O problema é dele,

que não tem bom gosto! Este outro (apontando para um policial

militar), que é vascaíno, deixa ele ser vice o tempo todo! Então, essa

indiferença de preferências é para aproximar os amigos e não para

distanciar e eliminar as pessoas por conta disto. Agora, o que é isso? É

a revelação de um egoísmo insano”.

O trecho acima não é uma piada, apesar de parecer. É

uma contextualização de um cenário triste, vergonhoso, que tem sido cada vez mais

frequente nos centros urbanos, gerando, inclusive, mortes, tanto em Natal, como em

Mossoró, assim como em várias outras cidades do Brasil. Trata-se de uma das mais puras

manifestações da insanidade humana, que surge capaz de matar seu semelhante para

“defender” as cores do time de futebol pelo qual torce.

O texto citado foi na verdade parte da tese de acusação desenvolvida pelo promotor

Armando Lúcio Ribeiro, um torcedor fanático do Fluminense, para convencer os sete jurados

do julgamento de servente de pedreiro Pedro Ramires Rodrigues Pereira, de 22 anos, no

Plenário do Tribunal do Júri Popular no Fórum Desembargador Silveira Martins, na terça-feira,

19 de maio de 2015. O réu fora denunciado por tentar matar a tiros o estudante Erick Douglas

Araújo de Carvalho, que na época estava com 19 anos, logo após o “Pingo do Mei Dia”, no

dia 7 de junho de 2014, no centro da cidade de Mossoró.

A fala do promotor liberou os risos de todos no plenário do Tribunal do Júri. O juiz presidente,

Vagnos Kelly Figueiredo de Medeiros, o fez reservadamente, é certo. Pelo menos quatro

jurados tiveram que colocar a mão na boca para não perder a compostura exigida pelo

posto de julgador. Um serventuário da Justiça que ia passando por perto do promotor não

escondeu o sorriso largo. Apesar do cenário engraçado, a realidade apresentava um

quadro era muito sério.

Toda a desavença entre Erick Douglas e Pedro Henrique se dera em função dos dois

torcerem por times adversários. Se tornaram adversários. Se tornaram inimigos de morte. Os

dois estavam preparados para matar ou morrer. Erick Douglas estava armado e puxou o

gatilho. Pedro Henrique só não foi baleado também porque a arma de Erick Douglas, mesmo

com 4 munições, não havia nenhuma no tambor. Ele teria puxado o gatilho duas vezes

19 Cézar Alves de Lima é cidadão potiguar de coração e reconhecido cidadão mossoroense com título

recebido em 2014. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela UERN

(Universidade do Estado do Rio Grande do Norte), já tendo atuado como fotojornalista e editor da página

policial do Jornal Gazeta do Oeste e colaborador do Caderno de Estado do Jornal De Fato. Atualmente

coordena o OBVIO – Observatório da Violência Letal Intencional no Rio Grande do Norte e atua em seu próprio

veículo de comunicação, o Portal Mossoró Hoje.

PAG 68

quando começou a ser baleado pelo outro, restando apenas a alternativa de usar os pés

para se defender a morte, o que explica um dos projéteis ter entrado pela sola do pé e saído

pela parte superior. A execução só não foi consumada porque a arma de Pedro Henrique

ficou sem munição e ele saiu correndo, sendo em seguida preso pela Polícia Militar.

Este caso é apenas um cujo cenário pode ser retratado enquadrado de novo em vários

outros, resultando em dezenas ou centenas de homicídios pelo país afora.

Noutro dia assisti outro júri que tratou do caso de um sujeito que matou outro por causa de

uma dívida de R$ 5,00. Como seria, neste caso, a forma de contextualizar o fato durante a

argumentação de acusação? Semana passada, um mecânico foi julgado por ser o

mandante da morte de um agricultor, serviço feito por um pistoleiro ao custo de mil reais, e

o motivo seria vingar uma paulada que recebera do agricultor na cabeça dele. Neste caso,

a insanidade é dupla, pois não pode ser dividida, é a somatória. Matar por dinheiro não é

somente uma atitude covarde. É mais desprezível ainda. Em ambos os casos uma sentença

igual de 14 anos, com os réus podendo recorrer em liberdade, pois haviam aguardando

julgamento nesta condição.

A questão presente em todos os casos, seja ele simples ou complexo, é uma só: como formar

o cidadão para que ele cresça sem alimentar esse comportamento desencadeado pelo

egoísmo insano? E apenas se estivermos pensando numa forma de combater o avanço da

matança, porque se pensarmos em um meio de livrar a sociedade dos que já matam (matar

já é o pior dos crimes, ninguém pode tirar a vida de seu semelhante) não restará alternativa

além de investir nos presídios, de tal modo, que os presos não mais permaneçam ociosos. É

preciso oportunizar trabalho na prisão, bem como educação. Não que isso garanta que o

apenado passe a viver em paz, talvez isso não seja mais possível, mas pelo menos

ofereceríamos a sociedade uma pena justa, onde o encarcerado, ao invés de der um

prejuízo de R$ 3 mil por mês ao Estado, estaria sendo produtivo e pagando o que deve. Seria,

principalmente, uma razão para a família da vítima se sentir pouco mais justiçada.

Voltando ao centro da questão de como

formar bem o cidadão para que ele

aprenda que o correto para viver em

comunidade, como seres propensos a

perdoar e não a praticar a vingança por

motivos banais? Perdoar é nobre, já

relatam as Escrituras Sagradas, e a

vingança é decorrente do sentimento

mais pobre que existe entre os homens.

Não existe outro caminho para reduzir a

matança, se não for com políticas

públicas para reestruturar a família, com escolas funcionando em tempo integral,

ambientadas em locais amplos e bem estruturadas, com prática de esportes, de atividades

culturais e principalmente com laboratórios onde seja ensinada uma profissão aos jovens

antes dos 18, e isso tudo consoante com uma atuação mais decisiva das igrejas. Insano, e

até imperdoável, é não pensar assim.

PAG 69

Pedro Henrique pegou 10 anos de prisão, inicialmente em regime fechado. Assim

entenderam os sete jurados na manhã daquela terça-feira no Fórum de Mossoró.

Existe sim um egoísmo insano como bem retratou o promotor Armando Lúcio Ribeiro!

PAG 70

13. MAPAS POTIGUARES

Por Ivenio Hermes20, Marcos Dionisio21 e Thadeu Brandão22

Hefestus

As armas de fogo vêm contribuindo para a modificação do cotidiano dos moradores do

Estado Elefante. A pólvora deixada por esse instrumento as armas de fogo, atingiu mais

alguns lugares do que outros, afinal ainda existem povoados e comunidades onde a sanha

homicida não tem conseguido penetrar e fazer suas vítimas.

Para a enorme quantidade de informações que são oferecidas em todas mídias, o brasileiro

não teve o devido preparo, e esse preparo deveria ter sido um processo educacional

construído de forma paulatina, não querendo frear a evolução de uma geração, mas

adaptando-a para a nova velocidade com a qual se depararia. Os valores obstaculizados

por sistemas ditadores e políticas de cabrestos se viram repentinamente libertos e a

sociedade que vinha se adaptando e modificando seus valores, com o advento da internet

que proporciona a troca de informações na velocidade da luz, foi inadvertidamente

ameaçada por uma avalanche de informações, acelerando a evolução de alguns

comportamentos que, sem ter um mapa, se recriaram sob a forma de valores invertidos.

A inversão de valores basilares de nossa cultura não distinguiu classes sociais e econômicas,

pelo contrário, encharcou o tecido esponjoso em que forma a sociedade, afetando

seguimentos plurais e não poderia ser diferente nas relações sociais, sendo que antes,

qualquer desequilíbrio nas relações recebia a intervenção do Estado ditador e agora,

desvalorizando profissionais que deveriam ser reconhecidamente os baluartes dessa nova

sociedade livre do imperialismo militar.

Acompanhando o crescimento evolutivo sem base, surge o crescimento da criminalidade e

ausência de compatibilidade entre esse crescimento e as ações promotoras de segurança

desencadeadas pelo Estado, fazendo com que as pessoas paulatinamente perdessem a

confiança nesse “ente” que deveria lhes proteger, algumas sendo inclusive vítimas diretas

20 Ivenio Hermes é escritor vencedor do prêmio literário Tancredo Neves, atualmente possui 14 obras

publicadas, variando temas como ficção policial, sociologia do crime e da segurança pública, artigos

científicos, reflexão e poesia. Em alguns de seus trabalhos reúne autores amigos que juntos sonham com uma

terra de paz.

21 Marcos Dionisio Medeiros Caldas é advogado; Militante dos Direitos Humanos; Presidente do Conselho

Estadual de Direitos Humanos/RN; Membro da Câmara Técnica de Monitoramento de CVLI; Membro do Grupo

de Gestão Integrada da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Cidadania do RN como consultor na

área de Direitos Humanos; Efetivo participante de diversos grupos promotores dos direitos fundamentais, além

de ser reconhecido mediador em situações de conflito entre polícia e criminosos e em situações de crise de

uma forma geral.

22 Thadeu de Souza Brandão é Sociólogo, Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela UFRN. Professor de

Sociologia da UFERSA. Coordenador do GEDEV (Grupo de Estudos Desenvolvimento e Violência). Consultor de

Segurança Pública da OAB/Mossoró. Membro da Câmara Técnica de Mapeamentos de CVLIs da SESED/RN.

Autor de "Atrás das Grades: habitus e interação social no sistema prisional".

PAG 71

da ação inadequada dos próprios representantes da segurança pública e outras, vítimas

indiretas da falta de efetividade na promoção da justiça.

Perdemos a chance de no passado fazer o cidadão ser um ente completo e modificador

da sociedade, conforme nos diz Pereira (2011):

Mas a missão da educação vai mais além, porque objetiva o crescimento da pessoa

em sua dimensão intelectual, psíquica, moral, social e espiritual, tornando-a um ente

transformador da sociedade e capaz de relacionar-se fraternamente com os outros e

consigo mesmo. (PEREIRA, 2013ª, p. 180).

Sem educação de qualidade, o cidadão é impulsionado pela mídia que banaliza a

violência, o cidadão deixa de perceber qualquer atitude positiva em se tratando de

Segurança Pública, e se torna vítima potencial de medos imaginários, ou reais mais

exagerados, e facilmente se percebe transportado para o mundo surreal da violência

preconceituosa que enxerga no negro, no morador de periferias e do pobre, principalmente

se esse for menor de idade, o grande mal personificado da sociedade. Nessa imersão no

medo, ele passa a justificar no abandono às suas próprias forças, e sabendo as

consequências de se ter uma arma sem o amparo legal, as pessoas se refugiam na

alternativa que lhes parecem mais viável e que lhes retire a dependência de um Estado

omisso em lhes garantir seus direitos, isto é, a aquisição de uma arma de fogo.

E mesmo sabendo que não basta ir numa loja e comprar uma arma, antes será necessário

concluir um longo processo de habilitação na Polícia Federal, ter idade superior a 25 anos,

não estar respondendo a inquéritos criminais e ainda precisar declarar a efetiva necessidade

de manter o armamento em casa. Todas essas exigências mais o trâmite legal, parece ser

mais garantido do que confiar no Estado.

Foi exatamente a busca pela sua própria garantia e se assegurando de não ser penalizado

por possuir algo ilegal, que causou a disposição do cidadão a vontade de possuir uma arma.

A arma, no entanto, só criou um rastro de pólvora que mudou as cores dos mapas potiguares.

Rastros

Nosso estudo visa observar a violência causada pelas armas de fogo no Rio Grande do Norte

durante o período de 1º de janeiro de 2013 até a data mais próxima da atual, construindo

dados verossímeis e que pudessem ser utilizados pela atual gestão, que vêm logrando alguns

êxitos em sua missão de reduzir a violência desenfreada, mesmo sem contar com mais

recursos humanos do que os disponibilizados em exercícios anteriores.

Mesmo persistindo a manutenção de operadores da segurança pública “cedidos” a órgãos

como TJ, MPE, Assembleia Legislativa, TCE e tantos outros, em sua quase totalidade às

expensas do orçamento do Poder Executivo que além de ficar desfalcado em seu plantel

ainda custeia a zona de conforto de outros órgãos.

Outrora o fazíamos da mesma forma, embora o conteúdo crítico de nossos textos visasse

lastrear ao poder executivo com informações estatísticas e análises criminais, capazes de

fazer otimizar o planejamento, integração e otimização da presença estatal responsável

PAG 72

pela segurança social nas comunidades sem que, então, o poder executivo se dispusesse a

qualificar o diálogo. A construção de políticas públicas de segurança e defesa social requer

o pleno exercício da crítica e percepção da verdade.

É notório que a percepção da violência crescente e da insegurança generalizada

contribuem para que o homem se volte para si, ao se tratar da proteção e da segurança

daqueles que ama e daquilo que possui, contudo, não se pode deixar de observar outros

fatores que agem conjugados.

Esperar um aumento no sentimento de autopreservação das pessoas é até natural, pois ao

se perceberem desprotegidas, e pior ainda, expostas, em suas vidas, de seus entes queridos

e de sua propriedade recebendo o valor que merecem, as pessoas recorreram aos seus

meios próprios de proteção.

Os sinais aparentes disso foram sendo deixados de lado há muito tempo pelos governantes

e responsáveis pela segurança do povo. Eles não viram ou fingiram não perceber os

ofendículos que surgiam, como cacos de vidros e pontas de aço nos muros que cada vez

mais aumentavam de altura, nos cães criados para defender a casa, nas cercas elétricas, e

isso sem mencionar nos gastos extras com grades nas janelas e portões de ferro, contratação

de vigias e guardas, e outros custos originados na falta de segurança.

A cegueira do Estado juntamente com o incentivo de quem pode se beneficiar com o

comércio de armas e acessórios, e tudo aglutinado sob a perspectiva do cidadão que não

pode ser esquecido nessa somatória de fatores.

Ao encerrarmos esse estudo em 18 de maio de 2015, nos surpreendeu positivamente saber

que mais de duas dezenas de cidades, a despeito da ação ou da omissão da gestão de

segurança pública, cidades onde, em alguns casos, houve algum tipo de violência homicida

causada por armas diferentes da arma de fogo, mas que não houve morte violenta letal

intencional assinada pela pólvora.

Violência e Arma de Fogo

Sem CVLI 22

1 CVLI 27

2 CVLI 30

3 CVLI 18

Entre 4 e 6 CVLI 18

Entre 7 e 9 CVLI 14

Entre 10 e 15 CVLI 13

Entre 16 e 20 CVLI 5

Entre 21 e 25 CVLI 4

Entre 26 e 30 CVLI 2

Entre 31 e 40 CVLI 2

Entre 41 e 50 CVLI 3

Entre 51 e 99 CVLI 3

Com 100 ou mais CVLI 6

167 Tabela 20 Distribuição de vítimas separadas por grupos quantitativos, nos anos 2013, 2014 e até 15 de maio de

2015.

Dentre os 167 municípios do Rio Grande do Norte, 22 permaneceram sem mortes provocadas

por armas de fogo. Os municípios de Campo Redondo, Carnaúba dos Dantas, Cruzeta,

PAG 73

Doutor Severiano, Equador, Galinhos, Ipueira, vêm contribuindo para a modificação do

cotidiano dos moradores do Estado Elefante. A pólvora deixada por esse instrumento as

armas de fogo, atingiu mais alguns lugares do que outros, afinal existem povoados onde a

sanha homicida não tem conseguido penetrar e fazer suas vítimas.

Sem Violência com Arma de Fogo 2013 2014 2015 Total

Campo Redondo (Augusto Severo) 0 0 0 0

Carnaúba dos Dantas 0 0 0 0

Cruzeta 0 0 0 0

Doutor Severiano 0 0 0 0

Equador 0 0 0 0

Galinhos 0 0 0 0

Ipueira 0 0 0 0

Jardim de Angicos 0 0 0 0

Jardim do Seridó 0 0 0 0

Jundiá 0 0 0 0

Lagoa de Velhos 0 0 0 0

Paraná 0 0 0 0

Portalegre 0 0 0 0

Rafael Fernandes 0 0 0 0

Riacho de Santana 0 0 0 0

Santa Maria 0 0 0 0

Santana do Seridó 0 0 0 0

São Vicente 0 0 0 0

Timbaúba dos Batistas 0 0 0 0

Várzea 0 0 0 0

Viçosa 0 0 0 0

Vila Flor 0 0 0 0

Tabela 21 Municípios sem incidência de eventos letais provocados por armas de fogo, nos anos 2013, 2014 e até

15 de maio de 2015.

Em defesa da aquisição de armas estão a proteção individual imediata e o recurso da

autopreservação pelo confrontar direto com o agressor, ou pelo menos, pela suposição de

que uma arma causará certo receio ao criminoso. Mas quem garante que isso pode refletir

no aumento da segurança? Não existe garantia, pelo contrário, prolifera mais ainda a

insegurança.

De acordo com o Mapa da Violência, o Brasil tinha cerca de 15 milhões de armas de fogo

nas mãos de cidadãos comuns na última década e somente 6,8 milhões estavam

devidamente registradas. Das restantes 8,5 milhões de armas clandestinas, somente 3,8

milhões estavam em poder de criminosos, e daí percebemos como será frágil a aquisição

de arma de fogo pelo cidadão ao procurar garantir sua própria segurança.

Num país onde policiais supostamente treinados são enfrentados à bala pelos criminosos, e

onde policiais ao reagirem ferem inocentes, pois o Estado não valoriza seus policiais

conferindo-lhe treinamento contínuo, o cidadão, ao invés de evitar a agressão, se tornará

um alvo maior quando o criminoso enxergar nele mais chances de conseguir uma arma. Isso

PAG 74

sem falar que despertará a chama da vingança naqueles que souberem que um de seus

comparsas foi ferido ou morto pelo cidadão comum.

A maioria dos eventos com arma de fogo afligem os outros municípios, sendo seis com o

número superior a 100 vítimas, mas isso se tratarmos o assunto minimamente, pois neles está

incluído Natal, a capital com sua esmagadora soberania no quesito vitimização.

Novas Cores

Ao armar a população, ao invés de frear a criminalidade e a violência, provavelmente estar-

se-á incentivando-a, pois se a União não consegue nem legislar em termos de garantir a

segurança pública, ainda precisará ampliar seu esforço policial para fiscalizar o cidadão

armado. Nessa dinâmica de ações invertidas, ao invés de proteger o cidadão, o policial terá

ainda que vigiá-lo e pulverizando mais ainda o pequeno efetivo policial diante da demanda

da criminalidade, teremos mais insegurança.

Na contramão da segurança, o Brasil deixa de promover a segurança e cria uma legislação

álibi para fazer o cidadão cobrar menos ainda a presença do Estado, isso traz grande

afetação para todos os estados e além da violência endemizada no Rio Grande do Norte,

o futuro armado pode trazer maiores problemas com a arma de fogo em cada lar.

22

27

30

18 18

1413

54

2 23 3

6

MUNICÍPIOS E CVLI

Sem CVLI 1 CVLI 2 CVLI 3 CVLI

Entre 4 e 6 CVLI Entre 7 e 9 CVLI Entre 10 e 15 CVLI Entre 16 e 20 CVLI

Entre 21 e 25 CVLI Entre 26 e 30 CVLI Entre 31 e 40 CVLI Entre 41 e 50 CVLI

Entre 51 e 99 CVLI Com 100 ou mais CVLI

Gráfico 16 Distribuição de vítimas separadas por grupos quantitativos, nos anos 2013, 2014 e até 15 de maio

de 2015.

PAG 75

Novos Mapas Potiguares

Mapa Temático 1 Mapa Geoprocessado com os números absolutos de CVLIs deflagrados por armas de fogo,

nos anos 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015. Produção de Hudson Carvalho.

A vitimização do Agreste Potiguar segue a mesma lógica já apontada, no que se referem

aos espaços de maior concentração econômica e de oportunidades criminógenas, assim

como de desigualdade social. Assim, Santa Cruz, polo econômico da região, também lidera

as taxas de CVLIs na mesorregião, seguido de João Câmara e Nova Cruz. Algumas cidades,

mais ligadas aos outros polos também aparecem como a pequenina Poço Branco (seguida

na mesma lógica de Bom jesus e Monte Alegre), ligada economicamente à Região

Metropolitana de Natal, por exemplo. Já Tangará, pode ser classificada como pertencendo

à área de influência econômica de Santa Cruz, tendo seus CVLIs relacionados à esta cidade

polo.

PAG 76

A Mesorregião Central Potiguar, é centrada por parte do Seridó e do chamado Sertão

Central. É indicativo que a área é a que menos concentra CVLIs em termos absolutos,

principalmente no Seridó, onde podemos indicar o seu IDH médio sem grandes

discrepâncias, o que indica uma menor desigualdade social, uma maior presença de

Organizações Não Governamentais, uma maior infraestrutura de saúde, educação e lazer,

fatores estruturais para uma menor incidência de violência letal.

Obviamente, como mostram os dados, os números ainda são altos, até para os padrões

nacionais. Caicó, cidade polo da mesorregião, concentra os CVLIs, seguida de Currais

Novos, Parelhas e Macau (sendo esta última pertencendo a outra microrregião, fora do

Seridó). Ainda com base na premissa criminológica das oportunidades econômicas, as

cidades concentram economicamente as principais redes de comércio, serviço e indústria

daquela região. Ao mesmo tempo, as demais cidades apresentam taxas extremamente

mais baixas.

Mapa Temático 2 Mapa Geoprocessado com os números absolutos de CVLIs deflagrados por armas de fogo,

nos anos 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015. Produção de Hudson Carvalho.

PAG 77

A Mesorregião Leste concentra a absoluta maioria dos CVLIs do RN. Isso ocorre, como já

discutido anteriormente, por ser esta mesorregião que abriga a Região Metropolitana de

Natal, ficando apenas a capital potiguar com mais de 50% dos CVLIs e seu entorno,

Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante e Ceará-Mirim com outros quase 30% das

mortes violentas. São José de Mipibu, Extremoz e Nísia Floresta são as outras cidades do

entorno que seguem no mesmo rastro homicida.

Além do já apontado anteriormente sobre Natal, é indicativo que os municípios com menor

infraestrutura e maiores padrões de desigualdade, estejam também entre os mais violentos.

Assim como a lógica do pertencimento a uma Região Metropolitana é um fator que agrava

a criminalidade, o fato de que esses municípios concentram áreas de risco e de

vulnerabilidade social e econômicas, fazem com que o agravamento da violência se dê

muito fortemente aqui. O perfil das vítimas é fortalecido nas regiões mais desestruturadas,

onde jovens, pardos e negros tornam-se alvos potenciais da matança homicida.

Mapa Temático 3 Mapa Geoprocessado com os números absolutos de CVLIs deflagrados por armas de fogo,

nos anos 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015. Produção de Hudson Carvalho.

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A Mesorregião Oeste é a segunda mais violenta do RN. Com o segundo lugar em CVLIs, a

área desponta, ao menos desde 2011, como a vice-campeã em violência do estado

elefante. O principal foco desta mortandade é o município de Mossoró, segundo maior do

estado e polo principal da região.

Indicativo que, Mossoró vem apresentando, ao menos desde 2008, uma escalada no número

de homicídios que vem assustando seus moradores e observadores. Quase metade dos CVLIs

registrados no período levantado por este estudo, são de Mossoró (399). Ao mesmo tempo,

a pequena cidade de Baraúna segue com 60 CVLIs, sendo estes intimamente ligados aos

ocorridos em Mossoró, cuja proximidade e área de atividade criminógena são creditados.

As demais cidades seguem a mesma lógica de proximidade e influência: Assu, Areia Branca,

Apodi, Umarizal, Antônio Martins e Ipanguaçu. A proximidade com o Ceará também é

apontado como um fator causal, mas termina não explicando os baixos índices da região

da “Tromba do Elefante” (mais ao Sul da Mesorregião e onde se verifica uma “tríplice

fronteira” com o Ceará e a Paraíba).

Resumo

Os dados apresentados mostram que a quase totalidade dos CVLIs concentram-se em duas

áreas do RN: Leste e Oeste, sendo as áreas mais violentas a da Região Metropolitana de

Mapa Temático 4 Mapa Geoprocessado com os números absolutos de CVLIs deflagrados por armas de fogo,

nos anos 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015. Produção de Hudson Carvalho.

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Natal e a das circunvizinhanças de Mossoró. Quase 88% dos CVLIs ocorreram nessas áreas, o

que permite ao gestor de políticas públicas de segurança em perceber que a atuação

enérgica nessas áreas é fundamental.

______________

REFERÊNCIAS:

WAISELSZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2012: A Cor dos Homicídios no Brasil. Brasília DF: CEBELA - Centro

Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, FLACSO Brasil – Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais,

2012. 41 p. SEPPIR/PR. Disponível em: < http://db.tt/SJjGBiRE >. Publicado em: 12 nov. 2012.

PEREIRA, Juvenal Antunes. Coletânea de Textos Esparsos. Academia de Letras de Brasília. 2013.

Mapa Temático 5 Mapa Geoprocessado com os números absolutos de CVLIs deflagrados por armas de fogo,

nos anos 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015. Produção de Hudson Carvalho.

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14. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por Ivenio Hermes23, Marcos Dionisio24 e Thadeu Brandão25

O homicídio é o grande medidor da violência em países como o Brasil. Isto porque a

denominada "cifra negra", ou seja, a ausência (ou quase) brutal de notificações e registros

de outras modalidades de crimes faz com que o homicídio, infelizmente, seja o mais

notificado. Mesmo assim, existe um certo gradiente de subnotificação nas mortes violentas

do Brasil. Mas, o homicídio ainda é a notificação mais confiável.

Salutar lembrar que o crime é também movido por escolhas racionais e situacionais, ou seja,

de acordo com a situação ou oportunidade. Existem elementos sociais e culturais que

mantêm o controle social (apego, compromisso, envolvimento e crença). Quando esses não

são fortes o bastante, as pessoas ficam livres para desobedecer às regras. Assim, os

delinquentes são, em geral, indivíduos cujos baixos níveis de autocontrole são uma

consequência de uma socialização inadequada. Neste mesmo ângulo, o crescimento do

crime é um efeito do aumento do número de oportunidades e alvos para o crime na

sociedade.

Duas reflexões gerais podem ser obtidas, além das esboçadas: primeiro que o assassinato de

jovens, pobres e negros (ou pardos) constitui um verdadeiro holocausto potiguar. Mata-se,

em massa, um grupo específico de nossa população. Essa vitimologia é clara e incisiva: as

políticas públicas que desejem combater homicídios devem objetivar esse grupo. Políticas

generalistas não terão efeito nem a curto e nem a longo prazo. Além disso, os dados mostram

a necessidade de inclusão da juventude negra ao status de cidadão o mais rápido possível.

Aliado ao crescimento demográfico, a falta de moradia, educação e saúde, a segurança

pública, assim como todas as outras áreas da sociedade, passa por uma espécie de

readequação. A população cresceu de uma forma que as políticas públicas vigentes não

são suficientes para satisfazer as necessidades básicas de todos e ao invés de haver um

crescimento físico e intelectual da população, o que se tem visto é a violência sendo usada

para autodefesa pessoal e territorial.

23 Ivenio Hermes é escritor vencedor do prêmio literário Tancredo Neves, atualmente possui 14 obras

publicadas, variando temas como ficção policial, sociologia do crime e da segurança pública, artigos

científicos, reflexão e poesia. Em alguns de seus trabalhos reúne autores amigos que juntos sonham com uma

terra de paz.

24 Marcos Dionisio Medeiros Caldas é advogado; Militante dos Direitos Humanos; Presidente do Conselho

Estadual de Direitos Humanos/RN; Membro da Câmara Técnica de Monitoramento de CVLI; Membro do Grupo

de Gestão Integrada da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Cidadania do RN como consultor na

área de Direitos Humanos; Efetivo participante de diversos grupos promotores dos direitos fundamentais, além

de ser reconhecido mediador em situações de conflito entre polícia e criminosos e em situações de crise de

uma forma geral.

25 Thadeu de Souza Brandão é Sociólogo, Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela UFRN. Professor de

Sociologia da UFERSA. Coordenador do GEDEV (Grupo de Estudos Desenvolvimento e Violência). Consultor de

Segurança Pública da OAB/Mossoró. Membro da Câmara Técnica de Mapeamentos de CVLIs da SESED/RN.

Autor de "Atrás das Grades: habitus e interação social no sistema prisional".

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Os dados apresentados mostram que a quase totalidade dos CVLIs concentram-se em duas

áreas do RN: Leste e Oeste, sendo as áreas mais violentas a da Região Metropolitana de

Natal e a das circunvizinhanças de Mossoró. Quase 88% dos CVLIs ocorreram nessas áreas, o

que permite ao gestor de políticas públicas de segurança em perceber que a atuação

enérgica nessas áreas é fundamental.

Mapa Temático 6Mapa Geoprocessado com os números absolutos de CVLIs deflagrados por armas de fogo,

nos anos 2013, 2014 e até 15 de maio de 2015. Produção de Hudson Carvalho.

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BIOGRAFIA DOS AUTORES, PESQUISADORES E ARTICULISTAS

Biografia geral em ordem de aparição dos textos.

Ivenio Hermes

Ivenio do Espirito Santo Hermes Junior é especialista em gestão e políticas de segurança

pública, escritor vencedor do prêmio literário Tancredo Neves, atualmente com 13 livros

publicados. Realiza trabalho pro bono dedicado à busca da paz por meio pesquisa

científica da violência homicida, usando ferramentas como estatísticas, análise criminal, de

conjuntura e de gestão de pessoas em operações policiais, para produzir artigos analíticos e

reflexões para propor soluções em segurança pública. É consultor de Segurança Pública da

OAB Mossoró/RN; Pesquisador e Secretário do COEDHUCI Conselho Estadual de Direitos

Humanos e da Cidadania do RN; Consultor do Fórum Permanente de Segurança Pública do

Rio Grande do Norte; Membro Pleno do Fórum Brasileiro de Segurança Pública; Professor de

Gestão de Segurança Pública com Ênfase em Direitos Humanos; Coordenador de

Informações Estatísticas e Análises Criminais da Secretaria Estadual da Segurança Pública e

da Defesa Social do RN; Membro da Comissão da Comissão de Segurança da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, dentre outras atividades.

CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/1169970711834029

Marcos Dionisio

Marcos Dionisio Medeiros Caldas é advogado; Militante dos Direitos Humanos; Presidente do

Conselho Estadual de Direitos Humanos/RN; Membro do Fórum de Segurança Pública do Rio

Grande do Norte; Coordenador do Comitê Popular da Copa - Natal 2014; Membro da

Câmara Estadual de Monitoramento de Inquéritos e Processos Judiciais de Homicídios do

Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte; Membro do Grupo de Gestão Integrada da

Secretaria de Estado de Segurança Pública e Cidadania do RN como consultor na área de

Direitos Humanos; Efetivo participante de diversos grupos promotores dos direitos

fundamentais, além de ser reconhecido mediador em situações de conflito entre polícia e

criminosos e em situações de crise de uma forma geral.

Silva Neto

João Gomes Silva Neto é Oficial da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, Bacharel em

Segurança Pública pela Academia Coronel Milton Freire de Andrade, licenciado em Letras

– língua portuguesa pela UFRN, e colunista do portal O Potiguar.

Thadeu Brandão

Thadeu de Souza Brandão é Sociólogo, Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela UFRN.

Professor de Sociologia da UFERSA. Coordenador do GEDEV (Grupo de Estudos

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Desenvolvimento e Violência). Consultor de Segurança Pública da OAB/Mossoró. Membro

da Câmara Técnica de Mapeamentos de CVLIs da SESED/RN. Autor de "Atrás das Grades:

habitus e interação social no sistema prisional".

Angelo Gusmão

Angelo Jorge Fernandes de Gusmão Neves é Economista graduado pela UFRN e pós-

graduado em Administração Financeira. Atuando desde 2008 como analista, trabalha

produzindo informações estatísticas e análises criminais direcionadas para os órgãos do

sistema de segurança pública. Atualmente trabalha como Diretor de Análise Criminal junto

a Coordenadoria de Informações Estatísticas e Análise Criminal - COINE da Secretaria

Estadual da Segurança Pública e da Defesa Social.

Hudson Carvalho

Hudson Rodrigo de Freitas Carvalho é Geógrafo e Especialista em Geoprocessamento e

Cartografia Digital pela UFRN. Desde 2010 é Analista Criminal da Secretaria Estadual de

Segurança Pública e da Defesa Social do Estado do Rio Grande do Norte – SESED/RN.

Atualmente exerce a função de Diretor de Geoprocessamento da Coordenadoria de

Informações Estatísticas e Análise Criminal – COINE/SESED.

Sáskia Sandrinelli

Sáskia Sandrinelli Guedes de Araújo Lima é graduada em Ciências Sociais, pela UFRN. É

Editora e Revisora do Escritor Especialista em Segurança Pública Ivenio Hermes. Figurando

dessa forma em oito publicações desse autor e nesta aqui, também na consolidação dos

dados obtidos.

Fábio Montanha

Fábio Augusto de Castro Cavalcanti Montanha Leite é Bacharel em direito pela Universidade

Federal do Rio Grande do Norte - UFRN; especialista em direito tributário pela Faculdade de

Natal - FAL e mestre em direito pela UFRN, com área de concentração em Constituição e

Garantia de Direitos. Delegado de Polícia no Rio Grande do Norte. Professor das disciplinas

Direito Penal II e III na Faculdade Maurício de Nassau, em Natal/RN, durante todo o ano de

2011. Professor destas mesmas matérias na UNIRN durante o ano 2012. Professor de

Criminologia na FAL/ESTACIO em Natal/RN no mesmo período E Professor do Curso de

Formação da Acadepol da PCRN. Atualmente ministrando aulas unicamente na pós-

graduação da UNIRN.

CV Lattes http://lattes.cnpq.br/5160476345863994

Cezar Alves

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Cézar Alves de Lima é cidadão potiguar de coração e reconhecido cidadão mossoroense

com título recebido em 2014. Graduado em Comunicação Social com habilitação em

Jornalismo pela UERN (Universidade do Estado do Rio Grande do Norte), já tendo atuado

como fotojornalista e editor da página policial do Jornal Gazeta do Oeste e colaborador do

Caderno de Estado do Jornal De Fato. Atualmente coordena o OBVIO – Observatório da

Violência Letal Intencional no Rio Grande do Norte e atua em seu próprio veículo de

comunicação, o Portal Mossoró Hoje.

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OUTROS LIVROS DE IVENIO HERMES

Livros impressos disponíveis para aquisição via internet através do Clube de Autores, além

disso, os livros estão disponíveis na versão E-book pela Saraiva.

Clube de Autores pelo link http://bit.ly/1nt8xdl

Saraiva pelo link http://bit.ly/1sXTBoF

A CHITA (1991 E 2013)

VÍTIMAS DA LUZ (1999 E 2013)

CRISE NA SEGURANÇA PÚBLICA POTIGUAR (2013)

UM CONVITE À REFLEXÃO (2013)

CRIMES DE GAVETA (2013)

CAOS NO ESTADO ELEFANTE (COM DE MARCOS DIONISIO E CEZAR ALVES) (2013)

HOMICÍMETRO POTIGUAR (COAUTORIA DE MARCOS DIONISIO E CEZAR ALVES) (2014)

TORRENTES DE INSEGURANÇA (COAUTORIA DE MARCOS DIONISIO) (2014)

DO HOMICÍMETRO AO CVLÍMETRO (COAUTORIA DE MARCOS DIONISIO) (2014)

METADADOS 2013 (COM OUTROS AUTORES) (2014)

OITOS DE MARÇO (2015)

METADADOS 2014 (COM OUTROS AUTORES) (2015)

RASTROS DE PÓLVORA

METADADOS 2015