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Monteiro – Paraíba – Semiárido brasileiro Novembro de 2015 Experiência da Cooperativa de Avicultores de Galinha Caipira e Agricultura Familiar do Estado da Paraíba LTDA – Coopeaves Programa Regional Juventud Rural Emprendedora PROTAGONISMO JUVENIL RURAL E ESTRATÉGIAS DE GERAÇÃO DE RENDA

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Monteiro – Paraíba – Semiárido brasileiroNovembro de 2015

Experiência da Cooperativa de Avicultores de Galinha Caipira e Agricultura Familiar do Estado da Paraíba LTDA – Coopeaves

Programa Regional Juventud Rural Emprendedora

PROTAGONISMO JUVENIL RURAL E

ESTRATÉGIAS DE GERAÇÃO DE RENDA

Experiência da Cooperativa de Avicultores de Galinha Caipira e Agricultura Familiar do Estado da Paraíba LTDA – Coopeaves

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ÍNDICE

Apresentação 3Contexto da experiência 4Aspectos gerais da experiência 5Desenvolvimento da experiência: trajetória da Coopeaves 7Desafios e obstáculos 14Êxitos e da experiência 16Chaves de sucesso da experiência 17Lições e aprendizagens 18Conclusões e recomendações 19Fontes de Pesquisa 19Talentos Locais 20

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1) APRESENTAÇÃO

A presente sistematização da experiência da Coopeaves (Cooperativa Agroindustrial Regional de Avicultores da Paraíba), no município de Monteiro – PB (Semiárido brasileiro), propôs construir a trajetória, desafios, êxitos, boas práticas e chaves de sucesso com foco no protagonismo/inclusão juvenil por meio da produção e comercialização de galinha caipira na região. Tal sistematização procurou identificar os elementos na experiência que remetessem e apontassem o protagonismo juvenil e à importância do trabalho em cooperativismo e geração de renda para a vida dos jovens. A experiência foi sistematizada pela Procasur, no âmbito do Programa Regional Juventude Rural Empreendedora com o apoio do FIDA.

A sistematização é fruto de uma abordagem participativa e da construção conjunta com os atores envolvidos na experiência, nesse caso os jovens e a direção da cooperativa, por meio de uma oficina de sistematização, entrevistas, aplicação de questionários com os talentos locais e visitas em campo. As visitas às comunidades dos jovens realizaram-se entre os dias 01 a 04 de outubro deste ano, envolvendo cerca de 20 talentos locais.

Os processos e as dinâmicas da sistematização permitiram os atores envolvidos na Coopeaves “olharem” a partir da sua caminhada, enquanto cooperativa composta principalmente por jovens, analisando e refletindo seus êxitos, conquistas e “gargalos”. Nesse sentido, o grupo teve uma visão comum sobre o processo vivido, seus acertos e erros, estratégias, ganhos, limites, lições, possibilidades e desafios futuros, a fim de criar novos conhecimentos em relação a suas práticas enquanto cooperativa de jovens, enquanto a atividade produtiva da avicultura e enquanto grupo de jovens oriundos do meio rural.

Jovens durante a oficina da sistematização participativa

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2) CONTEXTO DA EXPERIÊNCIA

A Coopeaves (Cooperativa Agroindustrial Regional de Avicultores da Paraíba) está sediada no município de Monteiro, no Semiárido da Paraíba. Está a 319km da Capital do Estado, João Pessoa, e localizado na região do Cariri Ocidental.

Monteiro foi emancipada cidade em 1872. Hoje, possui uma população de aproximadamente 33 mil habitantes (IBGE, 2010). Destes, quase 11 mil vivem na zona rural. Com área de 1.009,90 km², é considerado o maior município do Estado.

Conhecida como 'A Cidade do Forró', Monteiro é berço de grandes artistas e bandas do gênero musical, como a banda Magníficos, O poeta Pinto do Monteiro, a pifeira dona Zabé da Loca e o cantor que encanta a todos com sua bela voz e toque suave de sua sanfona, o Flávio José. É um município polo da região, com uma estrutura de serviços ampla e importante, como nas áreas de saúde, educação, comércio, turismo e agricultura.

O município está incluído na área geográfica de abrangência do Semiárido brasileiro, definida pelo Ministério da Integração Nacional em 2005. Esta delimitação tem como critérios o índice pluviométrico, o índice de aridez e o risco de seca. Observa-se que grande parte da população do município ostenta um baixo nível de desenvolvimento humano (0,6 - PNUD, 2010), considerando que o índice satisfatório é a partir de 1.

Como na maioria das cidades de menor e médio porte dos interiores do Nordeste, a agricultura ainda é uma atividade predominante em Monteiro. Por isso, destaca-se no município as presenças de cooperativas, associações e organizações representativas ligadas da agricultura familiar.

O Semiárido brasileiro é uma região que apresenta uma diferenciação ecológica marcante. É formado por brejos, pés de serra, planícies, afluentes fluviais, principalmente do rio São Francisco, e tem a Caatinga como vegetação predominante. O Semiárido ocupa uma área aproximada de 950.000km² do Nordeste, que tem 1.500.0000km².

Situam-se nesta região os estados do Piauí, Rio Grande do Norte, Pernambuco Ceará, Paraíba, Alagoas, Bahia, norte de Minas Gerais e Espírito Santo, e o leste do Maranhão (critérios utilizados pela SUDENE - Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste).

Na região semiárida, a seca sempre foi utilizada para falar da miséria, da desigualdade econômica e política. Esse discurso legitimou o paradigma do “Combate à Seca”. Entretanto, um outro modelo vem sendo trabalhado a partir do paradigma da “Convivência com o Semiárido”, fruto de um conjunto de organizações da sociedade civil e do empoderamento das famílias agricultoras.

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Monteiro também é referência pela caprinocultura e avicultura, em especial a criação da galinha caipira, cujo grau de desenvolvimento está entre um dos mais altos do Nordeste. Os rebanhos de caprinos também são um dos maiores da região, além de ter animais com alta qualidade genética e criadores renomados nacionalmente. Ambas as atividades, caprinocultura e avicultura, incrementam a economia do município de Monteiro. É nesse contexto que se encontra a experiência da Coopeaves.

3) ASPECTOS GERAIS DA experiência

A cadeia produtiva da avicultura está se estruturando, principalmente no segmento da comercialização, mediante a implantação de dois grandes abatedouros de frango caipira no Estado. Um abatedouro é de propriedade da Coopeaves e outro é no município de Lagoa da Roça – PB. Juntos, eles têm uma capacidade de abater mil cabeças/hora, ou seja, 3.200 cabeças/dia, contra 80 mil cabeças/dia de frango industrial; o que representa 4% do abate diário de frango caipira no Estado.

Jovens durante a oficina da sistematização participativa

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Mesmo sendo uma atividade com potencial crescimento na Paraíba, a avicultura precisa de mais atenção e mais investimentos em estrutura e tecnologias. No entanto, é um setor que está sempre em ascensão. A produção de galinha caipira representa aproximadamente 5% do efetivo do plantel de aves em todo o Estado e cresce em torno de 15% ao ano, pois o mercado está em plena expansão. Esse crescimento se deve também a contribuição das associações e cooperativas de avicultores em quase todas as regiões da Paraíba, como é o caso da Coopeaves.

Nesse contexto, a Paraíba tem muitas organizações/cooperativas que trabalham com agricultura familiar, com muito esforço elas vêm atendendo as demandas e exigências do mercado, como em registros, inspeções, embalagens e marcas (identidade visual). Parte da comercializaçãoé através da venda direta no mercado local (26%) e, principalmente, para os mercados institucionais, como do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar) e PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), que chega a 50% da produção. A venda para “mercadinhos” chega a 10%, indústria beneficiadoras 3% e atravessadores somam-se 11%.

Quanto a merenda escolar, a demanda permanece muita alta e o mercado em sua maior parte desbastecido. O mesmo ocorre com o fornecimento para o PAA Doação Simultânea, conforme pesquisa à Conab/Paraíba. Atualmente, a Coopeaves está articulando parcerias com redes de supermercados no Estado no intuito de abrir novos espaços no mercado local.

Quanto a localização dos compradores, 41% produção fica no município, 47% é destinada a microrregião da Paraíba (Cariri Ocidental) e para o restante do Estado fica 12%.

A proposta em relação a criação de galinha caipira, não é para competir com a avicultura industrial mas sim preencher um nicho específico de mercado com produtos originados de um sistema alternativo de produção, fruto do cooperativismo e da agricultura familiar. A avicultura surge como mais uma oportunidade de geração de renda para o agricultor familiar e como alternativa de estratégica de convivência com o Semiárido, pois é muito adaptável a realidade climática da região. Principalmente, quando se tratando da juventude rural, com a atividade da avicultura em crescimento surgem mais uma frente de trabalho e mais uma alternativa de atividade produtiva e econômica. E assim, o jovem avicultor tem uma renda a mais, tornando-se “dono” de seu negócio.

Segundo dados de 2012, a Paraíba produz, anualmente, um total de 105 mil aves no sistema alternativo da galinha caipira envolvendo grupos de cooperativas e associações e 15 milhões no sistema industrial. São poucos mais de 110 toneladas de aves em sistema alternativo, volume que coloca o Estado em primeiro lugar no ranking nordestino de produção de aves de corte e postura nessa categoria.

Informações do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e da Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) paraibanos demonstram que a avicultura voltado ao cooperativismo e associativismo é um dos segmentos do setor produtivo que mais crescem na Paraíba. Em todo o Estado, há uma média de 1,2 mil produtores nesse setor, sendo 26 associações, oito grupos em formação e uma cooperativa que atuam na área, que é a Coopeaves.

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No entanto, a demanda de consumo da galinha caipira apresenta-se com déficit 47% em relação à atual produção do Estado da Paraíba e 70% da região Nordeste, significando um mercado potencial para produto no Estado e na região. Só na Paraíba, a demanda não atendida do produto é de 1.136 toneladas anuais e no Nordeste é de 24.349 toneladas. Esse consumo ainda poderá ser significativamente ampliado em virtude da conscientização do consumidor, que busca um produto com sabor mais saudável e diferenciado. Portanto, além do mercado institucional, a demanda de consumo da população da Paraíba e do Nordeste encontra-se fortemente insatisfeita em relação ao abastecimento da galinha caipira.

Apesar do Semiárido está passando por uma estiagem prolongada desde o ano de 2011, para o frango caipira as condições da seca teve pouco impacto por se uma atividade de pequena escala e de forma intensiva. No entanto, os custos com a produção sofreram uma elevação significativa devido ao preço da ração e do milho. Muitos jovens cooperados da Coopeaves têm comprado o milho através de subsídios do Governo Federal, via Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

Tendo em vista que é uma atividade produtiva que tende a crescer ainda mais nos próximos cincos anos, espera-se que avicultura tenha uma “atenção” pelos programas e políticas públicas, visando atender o mercado consumidor estabelecido. E essa perspectiva se dá com o aumento da importância do consumo de produtos provenientes da avicultura é explicado a partir do alto poder de proteínas existente na carne do frango e no ovo, além das vantagens oferecidas, já que custa mais barato no mercado, em comparação a outros tipos de carnes.

4) DESENVOLVIMENTO DA experiência: trajetória da coopeaves

Nesse contexto, a Coopeaves (Cooperativa de Avicultores de Galinha Caipira e Agricultura Familiar do Estado da Paraíba LTDA) surge em agosto de 2013 no município de Monteiro, no Semiárido paraibano. A Cooperativa está sediada, e bem estruturada, no bairro do Mutirão, KM 01, numa sede própria, cujo terreno foi doado numa parceria com a Prefeitura Municipal, onde reúne o escritório administrativo, o abatedouro e a produção do produto para empacotamento e resfriamento.

A Coopeaves surge a partir da ideia de um curso oferecido pelo Sebrae. ao final do curso os jovens tinha que apresentar o plano de um empreendimento/atividade rural, o qual foi construído a partir da avicultura. Para trabalhar com a avicultura, foi realizado também um estudo de viabilidade de mercado, que foi realizado a partir desse curso oferecido pelo Sebrae. Origina-se coma proposta de melhorar a renda e diversificar a produção das famílias agricultoras e uma forma de incentivar os jovens e filhos de cooperados para a geração de renda, no intuito de oportunizar oportunidades e atrair mais a juventude a permanecer no campo.

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Atualmente, são 28 cooperados, tendo no seu quadro social a maioria jovem rural. Além da presidência, as três diretorias da Cooperativa (Administrativo-financeiro, Produção e Comercialização) são ocupadas por jovens. Tendo em vista também que a avicultura tem algo interessante, que involuntariamente ressalta o protagonismo da mulher. Em sua maioria, essa atividade é conduzida, ou tem a contribuição, da mulher. Para ser cooperado a pessoa tem que ser oriunda de uma associação comunitária. Ressalta-se também que a Coopeaves tem a juventude rural como protagonista da gestão e produção da galinha caipira desde a criação em sua comunidade até a embalagem do produto final no abatedouro para seguir para comercialização no mercado.

Os parceiros da Coopeaves são o Sebrae, que até hoje, assessora o grupo nas áreas de gestão, finanças e marketing, além do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Banco do Brasil, Banco do Nordeste e da Prefeitura Municipal. Conta com o aporte financeiro dos programas estaduais de incentivo e financiamento do Programa Empreender Paraíba e do Projeto Cooperar, que é um ente governamental responsável direto pela execução de políticas e projetos de desenvolvimento rural sustentável, focados na redução dos níveis de pobreza rural.

A formação da Coopeaves colocou o município de Monteiro no segundo maior produtor da Paraíba em galinha caipira e contribuiu para elevar o ranking do Estado para um dos maiores produtores da atividade no Nordeste.

Sede da Coopeaves em Monteiro/PB

Reunião dos cooperados e associados com o Banco do Brasil

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A Cooperativa tem uma “vida organizacional” muito dinâmica e para manter toda a “engrenagem” de funcionamento, parceria e colaboração conta com o suporte e a estrutura da Aval (Associação Comunitária Vicente de Assis Ferreira de Avicultura Alternativa do Cariri Ocidental Paraibano) e Coagril (Cooperativa de Agroindustriais LTDA).

Em 2014, financiado pelo Projeto Cooperar do Governo da Paraíba, a parceria Coopeaves e Aval recebe o maior abatedouro do Estado em galinha caipira. Com a chegada da estrutura e das instalações do abatedouro, a Cooperativa teve o registro das aves no SIE (Serviço de Inspeção Estadual) e SIF (Sistema Inspeção Federal). Essas certificações garantem que o produto é qualidade concedida aos produtos de origem animal, possibilitando assim a comercialização dos produtos em âmbito estadual e nacional.

O abatedouro está situado numa área de 2.570 metros quadrados e beneficiando diretamente 117 famílias de 24 comunidades rurais do município

Coagril – Cooperativa de Agroindustriais LTDA foi fundada em setembro de 1991. Surgiu como incubadora dentro do parque tecnológico da Universidade Federal de Campina Grande. Funciona na sede da Embrapa em Campina Grande. Em 2013, acessa prela primeira vez o PAA, totalizando um valor de R$ 484.000,00. Atualmente, as principais atividades são a produção e comercialização de ração e assistência técnica aos seus 150 cooperados/as.

Aval - Associação Comunitária Vicente de Assis Ferreira de Avicultura Alternativa do Cariri Ocidental Paraibano foi fundada 2000 anos por um grupo de 16 agricultores com interesse em praticar avicultura alternativa. Possui área de abrangência em todo o território do município e conta atualmente com 86 sócios localizados em diversas comunidades rurais. A associação é formada em sua maioria por mulheres e jovens, que tem na avicultura sua principal fonte de renda e ocupação de mão de obra familiar.

de Monteiro no conjunto da parceria Coopeaves, Coagril, Aval e associações comunitárias. Além da estrutura de todo o processo de abate, a unidade conta um anexo com sala para a administração do empreendimento, vestiário, cantina e área para inspeção dos produtos.

Cada avicultor cooperado, em sua maior parte jovem, cria em suas áreas rurais a galinha caipira. Ele é responsável pelos cuidados necessários para a criação, como alimentação, estrutura dos galpões e sanidade. Muitas vezes, também tem o envolvimento do restante da família na produção por se tratar de uma atividade que não requer muito esforço físico e dedicação de tempo. O produtor conta com a assessoria e acompanhamento da Coopeaves. Geralmente, a ração das galinhas – como o farelo, é comprada em grupo pelos agricultores para baratear os custos.

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Modelo de galpão

Frequentemente, os produtores recorrem microcrédito para investirem nas instalações/construção dos galpões e ração, muitas vezes pelo Banco do Nordeste. Em média, um galpão para criar 1000 galinhas tem 2m x 24cm agregado a uma área de piquete para as aves ficarem mais livre, e não estressa a galinha. É comum os avicultores trabalharem com a raça de galinha Tricolor, CPK e Pescoço Pelado.

Em parceria com o SEBRAE, alguns produtores receberam um Kit PAIS (Produção Agroecológica Integrada e Sustentável), permitindo o agricultor criar as galinhas caipiras em consórcio com outras atividades agrícolas. Além da capacitação - que foi primordial para eles aprenderem os segredos e as formas de adubar a terra sem o uso de veneno - cada um recebeu um conjunto de equipamentos para irrigação, telas, arames, ferramentas, uma caixa d’água, 10 galinhas, um galo, sementes de hortaliças e mudas frutíferas. E ainda receberam material para a construção de viveiro de mudas.

Geralmente, um avicultor tem capacidade e estrutura de fornecer à Coopeaves entre 500 a 1000 aves uma vez por mês. A Coopeaves abate, em média, duas vezes na semana 3 mil aves, equivalente a 8 mil kg. Cada produtor paga um valor de R$ 1,85 para abater ave.

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Galpão da galinha caipira

Jovens no abate e empacotamento de galinha caipira

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Em dia de abate, reúne um grupo de 40 pessoas, em sua maioria jovens avicultores ou filhos de cooperados, para trabalhar no abatedouro. Cada pessoa recebe uma diária de R$ 50,00. Geralmente, um abate de 1.000 a 1.500 galinhas inicia-se às 05h e é concluído às 13h, pois a galinha passa por diversas etapas/processos até ser embalar e congelada, conforme modelo abaixo:

Para a comercialização da galinha já abatida e embalada, o PAA paga ao avicultor R$ 9,50 e o mercado privado R$ 7,00. Cerca de 80% da comercialização da Coopeaves é voltada para o PAA e PNAE e o restante da produção é vendido nos mercados locais.

É interessante que a comercialização atinge públicos distintos. Quanto é voltado aos programas institucionais do Governo Federal os consumidores são da Classe C. Já quando vendem para os mercados privados, atinge a população Classe Média.

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Momento de formação com os/as jovens sobre as práticas da avicultura

A Coopeaves tem investido energias e recursos em capacitações, estratégias de comunicação e marketing e registros dos produtos tendo em vista o crescimento da atividade e o surgimento de mercados potenciais. A venda e o consumo da galinha caipira resgata uma velha tradição das famílias, que é um aspecto importante para ampliação da comercialização, principalmente em nível regional. Consumir galinha caipira é uma prática forte e frequente nos municípios interioranos. Nesse sentido, os maiores centros populacionais, onde reúne populações advindas ou com raízes no interior, constitui-se em um mercado altamente promissor.

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A Coopeves criou a marca e sua identidade visual chamada Delícias do Campo, que aplicada em todos os seus produtos. Nos produtos, vêm informações sobre as procedências e qualidade ao consumir a galinha caipira: O cuidado com as nossas aves obedecem critérios de alimentação que excluem ração de base de hormônios e indutores de crescimento, passam o dia em piquetes, ciscando e consumindo muito verde, vivendo de maneira semelhantes aos seus hábitos naturais, com isso, oferecemos frangos inteiros, cortes e ovos com sabor e qualidade diferenciados, para toda a sua família. É bom valorizar o que a natureza nos oferece, que atuamos com responsabilidade social e ambiental, preservando os princípios da agricultura familiar e do cooperativismo.

5) DESAFIOS E OBSTÁCULOS

Por muitos anos no Semiárido do Nordeste, a criação de gado era muito predominante, sendo o “carro-chefe” da agropecuária. E os resquícios da cultura do gado ainda estão entranhados entre os/as agricultores/as. Esse mesmo sentimento é difundido para seus filhos/as e jovens. O primeiro obstáculo é superar essa ideia ainda predominante. É preciso reafirmar a convivência com o Semiárido, principalmente na agricultura familiar, como o lugar da diversidade produtiva e da pluralidade cultural. Na região de Monteiro-PB, há ainda uma resistência, principalmente dos jovens, em trabalhar com a avicultura consorciada à agricultura familiar e como mais uma alternativa de geração de renda para a juventude rural.

Há um desejo, e um desafio a ser superado, pela Coopeaves de ampliar a participação dos jovens no quadro social e nas dinâmicas/atividades da cooperativa. Essa necessidade se deve a falta de formação e conhecimento da avicultura como uma atividade adaptável e geradora de renda no Semiárido e devido a estiagem prolongada, que a região vem enfrentando nos últimos cincos anos. A seca ainda é obstáculo na produção de aves com a dificuldade no acesso à água e a falta de ração vegetativa, ou seja, os insumos para a ração tiveram elevação de preço para o/a avicultor/a. Muitos desses “gargalos” têm ocasionado os jovens a migrem do campo para a cidade de Monteiro ou para outros centros urbanos.

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Percebe-se que o maior mercado que é escoado a produção com abate das aves são os programas institucionais do Governo Federal, como o PAA, PNAE e Conab. A Coopeaves precisa desenvolver estratégias de diversificação de acesso a mercados para não depender exclusivamente do mercado institucional. Faz-se necessário fortalecer o setor de vendas/comercialização para chegar a outros mercados potenciais, tanto em nível local como regional também, onde estão os grandes centros populacionais e consequentemente as maiores demandas de consumo da galinha caipira.

Como a Coopeaves é considerada a segunda maior produtora em abate de galinha caipira do Estado da Paraíba, a Cooperativa quer aperfeiçoar e ampliar determinados equipamentos no abatedouro. A iniciativa, além de agilizar e otimizar a produção, vai diminuir custos também.

Como todo começo é difícil e a novidade também é estranha. Com a chegada do abatedouro, os/as cooperados – ainda inexperientes, tiveram prejuízos nos primeiros abates, pois ainda estavam aprendendo a manusear todo o maquinário. Tiveram muitas dificuldades também para conseguir as certificações de reconhecimento e funcionamento do abatedouro.

A Cooperativa já faz um trabalho de assessoria às famílias cooperadas, contando também com a parceria da Coagril e Sebrae. No entanto, a Coopeaves sente a necessidade de ampliar e fazer com que esse acompanhamento aos cooperados/as seja mais constante.

Outros “gargalos” identificados na cadeia produtiva são a dificuldade de acesso a crédito, por parte de alguns cooperados/as; grande dependência de insumos externos – como o milho; e a soja e necessidade de instrumento financeiro/contábil mais eficiente. Outra questão a ser superada também é, ainda, o baixo nível de industrialização do setor para beneficiamento, pois a demanda é grande e constante; e precisa de mais formações/cursos para os/as avicultores cooperados/as.

Damião Freiras, 30 anos, da comunidade de Pindurão, Monteiro-PB. Exerce a função de Diretor de Produção da Coopeaves. É formando em Contabilidade e curso Técnico em Veterinária.

“Um dos nossos desafios é produzir diante de um cenário de estiagem. E somo felizes porque tiramos nosso sustento da agricultura familiar, através da avicultura. Desde que entrei para Coopeaves minha vida mudou muito, cresci na minha produção e profissionalmente também. Precisamos acreditar cada vez mais nos nosso jovens rurais, dando mais oportunidades e capacitando-os.”

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6) ÊXITOS DA EXPERIÊNCIA

Andréia Araújo, 32 anos, da comunidade Mocó de Baixo, Monteiro –PB. Presidenta da Coopeaves. Vencedora do Prêmio Sebrae Mulher Empreendedora 2015. Agricultora familiar, casada, mãe de três filhos e cursou o Ensino Médio.

“A melhor coisa que aconteceu na minha vida foi trabalha na avicultura. Mudei de perspectivas de vida, mude minhas condições financeiras, mudei a vida da minha família também. Esperamos que outras famílias cada vez mais se interessem pela avicultura e trazer amis jovens para a Cooperativa. O jovem rural precisa estudar, se capacitar e encarar a agricultura familiar como oportunidade profissional e de geração de renda”.

A Coopeaves vive, de fato, os princípios do cooperativismo. É perceptível a união e a confiança uns aos outros no grupo. Em todas as dinâmicas da cooperativa tem a juventude rural como protagonista, que está envolvida em toda a cadeia produtiva, desde a criação, passando pela produção até na gestão da Cooperativa.

A avicultura surge como uma atividade produtiva e econômica par aos jovens, articulada a agricultura familiar. É também mais uma alternativa que se insere no contexto da convivência com o Semiárido, atraindo os jovens para permanecerem no campo e se profissionalizarem no setor.

Apesar de todas as limitações e desafios de uma cooperativa de agricultura familiar formada por jovens e sediada no interior da Paraíba, a Coopeaves produz aves caipiras em grande escala com uma estrutura de abate referência de grandes centros urbanos do Brasil. Hoje, a Cooperativa tem grande visibilidade no Estado.

A organização e crescimento cada vez mais da Coopeaves têm colocado a Cooperativa em destaque na região, conquistando o respeito e a credibilidade da população e entidades públicas e privadas, como programas de financiamento e bancos de crédito. Não é a toa que tem conseguido acessar créditos em projetos governamentais e instituições financeiras.

A própria chegada do abatedouro foi uma marco importante na Coopeaves. A partir da unidade que se deu a “largada” do crescimento da Cooperativa, melhorando as condições do beneficiamento do abate da galinha caipira, diminuindo custos e aperfeiçoando a produção, e tendo contato com outras demandas de gestão financeira e comercial. Foi necessário que a gestão se instrumentalizasse para a nova realidade, como a construção do Estudo de Mercado e o Plano de Negócios para cooperativa.

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Com a chegada do abatedouro como ampliou e melhorou a produção, oportunizou também outras associações a se envolverem/participarem com a Cooperativa e gerou mais demanda de serviços e trabalho para os/as jovens e os/as filhos/as dos/as cooperados/as. Nesse sentido, os/as jovens também começaram a participar de cursos profissionalizantes voltados para a avicultura.

Depois, a Coopeaves implementou o código de barra nas embalagens e passou também a emitir nota fiscal. Em seguida, adquiriam veículos para transportar os produtos ao destino dos mercados. E ao longo desses poucos anos de existência, a Cooperativa foi se firmando com as parcerias e “laços” importantes na estruturação e consolidação para chegar como uma unidade de produção e abate de galinhas caipiras na Paraíba.

7) CHAVES DE SUCESSO DA experiência

• Força de vontade dos/as jovens em fundar e fazer crescer a Coopeaves;

• Vislumbrar a avicultura como atividade potencial consorciada à agricultura familiar no contexto do Semiárido paraibano;

• Construção de um conjunto de parceiros/colaboradores: Coagril, Aval e as associações comunitárias, que vão desde à assessoria técnica, passando pelo fornecimento de galinha caipira até o processo de empacotamento;

• Apoio de instituições públicas e privadas, como Governo do Estado, Sebrae e bancos;

• Mercado (institucional e privado) potencial e promissor em comercializar a galinha caipira;

• Galinha caipira como produto de boa aceitação e consumo entre as populações.

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8) LIÇÕES E APRENDIZAGENS

A avicultura, assim, insere-se como mais uma atividade consorciada com a agricultura familiar e tão adaptável ao contexto do Semiárido, da convivência e das novas alternativas para a região. Uma atividade produtiva que surge como mais uma oportunidade de alternativa de geração de renda e profissionalização para a juventude rural.

De forma involuntária, mas que terminaram acertando estrategicamente, trouxeram os jovens para dentro da Coopeaves, sendo eles protagonistas dos avanços e sucessos da cooperativa. A juventude está inserida desde a criação, passando pela gestão até à comercialização do produto.

Como a produção não é sazonal, a avicultura evita o desemprego temporário; promove receita a cada 60 dias, o que gera capital de giro para manter a propriedade, comprar combustíveis, pagar impostos e taxas e salários. E ainda viabiliza a pequena propriedade através do sistema de integração/consorciada com outras atividades agrícolas, mantendo a mão-de-obra no campo.

A produção de galinha caipira tem um valor agregado. É oriunda da agricultura familiar e as galinhas são criadas de forma orgânica; é uma carne de qualidade. Além do mais que essa atividade oportunizou para os/as jovens um outro caminho, que foi da profissionalização na avicultura, geração de renda e qualidade de vida, pois com o dinheiro vindo da produção passaram a ter uma alimentação e moradia de qualidades e a ter acesso a bens materiais, como eletrônicos e eletrodomésticos.

Há um feedback por parte dos/as jovens em relação as expectativas e de contribuições para a Coopeaves. Sentem-se parte e incrementados nas dinâmicas e processos de produção da cooperativa. A juventude que se aperfeiçoar e profissionalizar na avicultura.

Welson Pereira, 18 anos, da comunidade Aroeira, Monteiro – PB. É filho de Cooperado, cooperado e fornece, junto com a família, galinha caipira para a Coopeaves. Faz o curso de Letras na Universidade Estadual da Paraíba.

“Quero concluir meus estudos, não quero sair do campo. Acredito na agricultura familiar e pretendo investir cada vez mais na avicultura, é de onde minha família e eu sobrevivemos. A avicultura é uma atividade em potencial no nosso município graças a presença e incentivo da Coopeaves. Precisamos ver a avicultura como uma atividade estratégica e potencial para o Semiárido”.

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9) CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Tendo em vista que a demanda pelo produto é crescente no Estado da Paraíba, no Nordeste e em todo o país e considerando os níveis de crescimento do setor para os próximos anos, deveria ter mais apoio e investimentos dos governos, através de políticas públicas, pacotes de créditos e programas específicos para a avicultura.

Como a estiagem é um fenômeno natural, cíclico e previsível, os/as avicultores devem criar a cultura do estoque e cilagem da ração das aves, seja com milho ou capim.

Como a Coopeaves quer abrir e entrar mais nos mercados privados, seria estratégico colocar os jovens para estarem das vendas e da articulação para as futuras comercializações. Outra questão para propagar novos mercados, a Cooperativa precisa investir mais na comunicação e marketing, criando peças e divulgando o trabalho dos/as avicultores/as.

Considerando, por um lado, a necessidade de refletir sobre a inclusão dos jovens como futuros atores sociais do meio rural e sobre a importância de capacitá-los para ocupar tal posição e responsabilidade, a por outro, que não é suficiente a preocupação com a continuidade do processo, mas é preciso construir espaços efetivos de inclusão dos jovens nas cooperativas, na perspectiva da transversalidade do enfoque de juventude, da sucessão/renovação das gerações e da sustentabilidade das estratégias de desenvolvimento. Nesse sentido, parece que a Coopeaves vem caminhando nesse rumo, colocando os jovens no centro das dinâmicas do cooperativismo e oportunizando não só a geração de renda, mas que eles sejam protagonistas da transformação deles enquanto cidadãos que vivem e habitam no meio rural.

10) FONTES DE PESQUISA

• Estudo de Mercado/Cooperar;

• Plano de Negócios/Coopeaves;

• Site da Embrapa.

Experiência da Cooperativa de Avicultores de Galinha Caipira e Agricultura Familiar do Estado da Paraíba LTDA – Coopeaves

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11) TALENTOS LOCAIS

Welson dos Anjos Pereira18 anos / Jovem rural, filho de cooperado e cooperadoComunidade de Aroeira / Monteiro - PBTelefone: (83) 99951.9828E-mail: [email protected] Andréia Ferreira Araújo32 anos / Presidenta da CoopeavesComunidade Mocó de Baixo / Monteiro - PBTelefone: (83) 99605.0532E-mail: [email protected] Inácio da Silva42 anos / Diretora Financeira e Comercial da CoopeavesComunidade Limitão de Baixo / Monteiro – PBTelefone: (83) 99985.5884E-mail: [email protected]úlio Renato Leite Soares20 anos / Cooperado, trabalha na área de abete da CoopeavesMonteiro - PBTelefone: (83) 99666-3110Geraldo Gomes Junior23 anos / Agricultor, cooperado e trabalha no empacotamento das aves / Monteiro – PBTelefone: (83) 99972.6970E-mail: [email protected]álison de Sousa Feitosa22 anos / Agricultor e cooperadoComunidade Serrote de Cima / Monteiro – PBTelefone: (83) 99687.4273Damião de Freitas Silva30 anos / Diretor de Produção da Coopeaves, foi um dos fundadores da CooperativaComunidade Pindurão / Monteiro – PBTelefone: (83) 99628.8981E-mail: [email protected]

América Latina y el Caribe

Heriberto Covarrubias 21 Of. 705 Ñuñoa, casilla 599.

Santiago, Chile.Tel: +56 2 23416367

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África

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Asia y Pacífico

209/34 Moo 10, Chiang Mai-Hangdong Road, T. Padad, A.Muang, Chiang Mai

50000 Tailandia.Tel: +66 53272362

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