planeamento, realizaÇÃo e alteraÇÃo: uma anÁlise … · quadro 4 - plano de conteúdos – 3º...

144
PLANEAMENTO, REALIZAÇÃO E ALTERAÇÃO: UMA ANÁLISE AUTO-ETNOGRÁFICA RELATÓRIO DE ESTÁGIO PROFISSIONAL Orientadora: Mestre Mariana de Sena Amaral da Cunha Ricardo Filipe Bessa Coelho Porto, Setembro de 2012 Relatório de Estágio Profissional apresentado à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto com vista à obtenção do 2º ciclo de estudos conducente ao grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário (Decreto-lei nº 74/2006 de 24 de Março e Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de Fevereiro)

Upload: lamcong

Post on 18-Jan-2019

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

PLANEAMENTO, REALIZAÇÃO E ALTERAÇÃO: UMA

ANÁLISE AUTO-ETNOGRÁFICA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO PROFISSIONAL

Orientadora: Mestre Mariana de Sena Amaral da Cunha

Ricardo Filipe Bessa Coelho

Porto, Setembro de 2012

Relatório de Estágio

Profissional apresentado à Faculdade

de Desporto da Universidade do Porto

com vista à obtenção do 2º ciclo de

estudos conducente ao grau de

Mestre em Ensino de Educação

Física nos Ensinos Básico e

Secundário (Decreto-lei nº 74/2006 de

24 de Março e Decreto-lei nº 43/2007

de 22 de Fevereiro)

II

Ficha de Catalogação:

Coelho, B. F. R. (2012). Planeamento, Realização e Alteração - uma análise

auto-etnográfica. Porto: R. Coelho. Relatório de Estágio profissionalizante para

a obtenção de grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos

Básico e Secundário, apresentado à Faculdade de Desporto da Universidade

do Porto.

PALAVRAS-CHAVE: PROFESSOR-ESTAGIÁRIO; ESTÁGIO

PROFISSIONAL; DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL; RELATÓRIO DE

ESTÁGIO; INVESTIGAÇÃO-AÇÃO.

III

Agradecimentos

À minha Orientadora de Estágio Mestre Mariana de Sena Amaral da

Cunha, pelo apoio constante nesta jornada, pelas imprescindíveis, trabalhosas

e constantes indicações que ajudaram a levar um pesado navio ao seu porto.

Aos meus pais, porque estão presentes em tudo o que faço e em tudo o

que sou. A eles, também, devo o investimento que fizeram em mim e o trabalho

constante para atingir as expectativas que em mim depositam.

Aos meus amigos, que são fundamentais e que me ajudam a definir

como pessoa. Àqueles que estão presentes nos melhores momentos e nas

adversidades.

IV

V

Índice Geral

Índice de Quadros ......................................................................................... VIII

Índice de Anexos ............................................................................................. IX

Resumo ............................................................................................................ XI

Abstract .......................................................................................................... XIII

Abreviaturas .................................................................................................. XV

1. Introdução .................................................................................................. 1

1.1. O Relatório Final de Estágio .............................................................. 1

1.2. Instituição – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto ........ 2

1.3. Entendimento do Estágio Profissional ............................................... 2

1.4. Estrutura do Relatório de Estágio ...................................................... 4

2. Dimensão Pessoal .................................................................................... 7

2.1. Enquadramento Biográfico ................................................................ 7

2.2. Expectativas em Relação ao Estágio Profissional ........................... 10

3. Enquadramento da Prática Profissional ............................................... 17

3.1. Enquadramento do Estágio Profissional .......................................... 17

3.2. Enquadramento Legal e Institucional .............................................. 19

3.3. Enquadramento Funcional .............................................................. 21

3.3.1. A escola como Instituição ..................................................... 21

3.3.2. A Escola - Agrupamento Vertical Clara de Resende ............ 23

3.3.2.1. Recursos Humanos ........................................................ 24

3.3.2.2. Recursos Espaciais ........................................................ 24

3.3.2.3. Recursos Materiais ........................................................ 25

3.4. Núcleo de Estágio ........................................................................... 25

3.5. Grupo de Educação Física .............................................................. 26

3.6. Professora Cooperante ................................................................... 27

3.7. Orientadora de Estágio .................................................................... 29

3.8. A Turma ........................................................................................... 30

VI

4. Realização da Prática Profissional ........................................................ 33

4.1. Área 1 - Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem ...... 34

4.1.1. Projeto de Investigação-Ação ............................................... 34

4.1.2. O planeamento ..................................................................... 54

4.1.2.1. Análise do Programa Nacional de Educação Física ...... 54

4.1.2.2. Plano de Conteúdos ....................................................... 58

4.1.2.3. Plano Anual .................................................................... 62

4.1.2.4. Unidades Temáticas ...................................................... 69

4.1.2.5. Planos de Aula ............................................................... 71

4.1.3. O início da Realização da Prática Profissional ..................... 72

4.1.4. As Dimensões de Ensino ...................................................... 78

4.1.4.1. Disciplina ........................................................................ 78

4.1.4.2. Clima .............................................................................. 82

4.1.4.3. Gestão ........................................................................... 83

4.1.4.4. Instrução ........................................................................ 86

4.1.5. Avaliação .............................................................................. 94

4.1.5.1. Avaliação Inicial .......................................................... 96

4.1.5.2. Importância da Avaliação Formativa .......................... 97

4.1.5.3. Avaliação Final ........................................................... 99

4.2. Área 2 e 3 – Área Participação na Escola e Relações com a

Comunidade ............................................................................................. 101

4.2.1. Direção de Turma ............................................................... 101

4.2.3. Participação em atividades escolares ................................. 104

4.2.4. Dinamização de atividades pelo Núcleo de Estágio ........... 104

4.2.5. Balanço ............................................................................... 106

4.3. Área 4 – Desenvolvimento Profissional ......................................... 107

4.3.1. Projeto de Formação Inicial .............................................. 109

VII

4.3.2. Construção profissional ...................................................... 110

4.3.3. A Identidade Profissional .................................................... 111

4.3.4. Conhecimento Profissional ................................................. 113

4.4.5. O Papel do Estágio e da Orientação Pedagógica ............... 114

Conclusão Geral ........................................................................................... 117

Bibliografia Geral ......................................................................................... 119

Anexos ......................................................................................................... XVII

VIII

Índice de Quadros

Quadro 1 - Extensão da Educação Física ....................................................... 57

Quadro 2 - Plano de Conteúdos – 1º Período ................................................. 59

Quadro 3 - Plano de Conteúdos – 2º Período ................................................ 60

Quadro 4 - Plano de Conteúdos – 3º Período ................................................ 61

Quadro 5 - Distribuição das Aulas ................................................................... 63

Quadro 6 - Nº Aulas/Matéria Desenvolvimento Profissional ............................ 66

Quadro 7 - Nº Aulas Prevista/Lecionadas ...................................................... 71

Quadro 8 - Desenvolvimento Profissional ..................................................... 108

IX

Índice de Anexos

Anexo I – Inventário do Material 2011/2012 ................................................... XV

Anexo II – Plano de Aula ................................................................................. IX

X

XI

Resumo

O Relatório de Estágio constitui um de dois critérios para a obtenção do

grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e

Secundário, assim como a Prática Pedagógica. Não obstante, estes dois

critérios não podem ser dissociados, já que o Relatório de Estágio versa sobre

o Estágio Profissional. Este documento é o reflexo de um percurso com a

duração de um ano letivo, desenvolvido no Agrupamento Vertical Clara de

Resende com um núcleo de Estágio de quatro elementos, supervisionado pela

Professora Cooperante da escola e pela Orientadora de Estágio da Faculdade

de Desporto da Universidade do Porto.

Além da prática pedagógica, acresce a este documento, um projeto de

Investigação-Ação desenvolvido em consonância com o Estágio Profissional.

Este estudo é um ponto nevrálgico para a consecução do desenvolvimento

profissional. Procurei, ao longo deste documento, fazer a ligação entre a

literatura e as perceções provindas da reflexão da prática. Assim, fundamento o

meu desenvolvimento profissional na lógica de investigação-ação, assente na

reflexão da prática.

O documento encontra-se estruturado em quatro capítulos centrais:

Dimensão Pessoal; Enquadramento da Prática Profissional; Realização da

Prática Profissional; Desenvolvimento Profissional. A orgânica adotada

sequencia historicamente a minha biografia pessoal e as razões que

fundamentaram o ingresso no Estágio Profissional até ao desenvolvimento da

prática, rematando com os pontos cruciais para o meu desenvolvimento dentro

da profissão e do legado deste percurso como Professor-Estagiário.

Palavras-Chave: PROFESSOR-ESTAGIÁRIO; ESTÁGIO

PROFISSIONAL; DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL; RELATÓRIO DE

ESTÁGIO; INVESTIGAÇÃO-AÇÃO.

XII

XIII

Abstract

The Practicum Report is one of two criteria required for the degree

Masters in Teaching Physical Education in Primary and Secondary Education,

as well as the Practicum Training. Nonetheless, the two criteria are inseparable,

since the Practicum Report expounds on the Practicum Training. This document

is a reflection of a year-long course, carried out at Agrupamento Vertical Clara

de Resende with a group consisting of four members, duly supervised by the

school’s Cooperating Teacher and a Supervisor of the Sports Faculty of the

Porto University.

Besides teaching practice, this document also includes a action research

study developed during the Practicum. This study is a key factor for attaining

professional development. Throughout this piece of research, I sought to make

the connection between literary references and personal perceptions from my

practical experience. Thus, the premise underlying my professional

development is based on the logic of a “reflective action”.

The document is divided into four main chapters: Personal Dimension;

Framework for Professional Practice; Professional Practice; Professional

Development. The adopted structure follows a defined historic sequence,

beginning with my personal biography and the reasons that led me to sign up

for the Practicum, the practical fulfillment of my training and, on a final note, the

points that were crucial to my development within the profession and the legacy

of this journey as Student-Teacher.

Keywords: STUDENT-TEACHER; PRACTICUM TRAINING;

PROFESSIONAL DEVELOPMENT; PRACTICUM REPORT; ACTION

RESEARCH

XIV

XV

Abreviaturas

CIAFEL - Centro de Investigação em Atividade Física, Saúde e Lazer

CIFI2D - Centro de Investigação, Formação, Intervenção e Inovação em

Desporto

cit. = citado

CT – Conselho de Turma

DT – Diretor de Turma

EE – Encarregados de Educação

EP – Estágio Profissional

FADEUP – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

I&D - Investigação e Desenvolvimento

MED – Modelo de Educação Desportiva

MID – Modelo de Instrução Direta

MD – Modelo Desenvolvimental

n.º = Número

n.ºs = Números

org. = Organizador

p. = Página

PAA – Plano Anual de Atividades

PE – Projeto Escolar

PFI – Projeto de Formação Individual

pp. = Páginas

RI – Regulamento Interno

XVI

1

1. Introdução

1.1. O Relatório Final de Estágio

O presente relatório surge no âmbito do Estágio Profissional no

Agrupamento Vertical Clara de Resende, como uma componente

imprescindível para demonstração de competências desenvolvidas. Está

inserida no plano de estudos do 2º ano, no decurso do ano letivo de

2011/2012, do 2º ciclo em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e

Secundário.

O objetivo deste documento prende-se portanto com a necessidade de

relatar as experiências e vivências decorrentes da prática que contribuíram

para a transformação de um conhecimento académico em conhecimento

profissional. Compõe, portanto, uma ferramenta plural de estruturação de um

percurso bem definido, associado ao Estágio Profissional. Tudo o que relato

neste documento está associado à minha experiência como estudante

estagiário e pretende apor aquilo que aprendi ao longo da minha formação com

a realidade premente e momentânea que é o ensino da Educação Física.

Para além disto, este documento apresenta-se como uma exposição

que me habilitou a estruturar os conteúdos do meu aprendizado de uma forma

sequencial e percetível, predispondo-me a arguir e criticar fenómenos de uma

forma metódica e particular, de acordo com um dinamismo interativo

característico dos âmbitos em que ocorrem.

O relatório final de estágio comporta um registo detalhado das minhas

vivências no universo escolar, que deverão ter uma contribuição nevrálgica

para o meu desenvolvimento como docente. Procuro espelhar, neste espaço,

todas estas conjunturas que me são afetas maximizando a função elucidatória

do meu percurso.

2

1.2. Instituição – Faculdade de Desporto da Universidade

do Porto

A Faculdade de Desporto (FADEUP) é uma unidade orgânica da

Universidade do Porto. Os principais objetivos da FADEUP centram-se nos

domínios da graduação e pós-graduação (mestrado e doutoramento)

conduzindo a um elevado nível de formação em áreas como a Educação

Física, o Treino, o Fitness e Populações Especiais. Para além da sua forte

vocação na área da educação, a FADEUP procura promover investigação

básica e aplicada na área do desporto. É neste contexto que encontramos duas

Unidades I&D (CIAFEL e CIFI2D) e diversos laboratórios, nomeadamente de

fisiologia, biomecânica, cineantropometria, psicologia, desenvolvimento motor e

análise da performance desportiva. A FADEUP é também responsável pela

publicação da Revista Portuguesa de Ciências do Desporto.

Esta organização marcou dois anos de preparação específica para o

papel de professor, de um percurso total de dezassete anos de formação.

Neste sentido, ajudou a definir e a demarcar conceções e conhecimentos

pedagógicos que a contribuíram para transformar e aperfeiçoar a visão que

tenho sobre o ensino da Educação Física. Reconheço, portanto, nesta

instituição, a excelência na formação de profissionais na área do desporto,

pautada pela qualidade do ensino e dos agentes que a representam.

1.3. Entendimento do Estágio Profissional

Segundo Rink (2006, p. 18) “o Estágio tem sido motivo de muitas

controvérsias no meio académica. Normalmente, caracteriza-se como uma

atividade realizada no último ano do Curso com o objetivo de instrumentalizar o

profissional para atuar na sala de aula.”

O Estágio Profissional é um exercício de transformação do estudante e

das suas conjeturas num professor capaz de mobilizar aquilo que teoriza para

3

um universo prático, procurando chegar aos seus alunos. A aula deixa de ser

um pano de fundo branco, onde se traça um plano e passa a ser um momento

concreto, cheio de acontecimentos e decisões que nos solicitam. Este é um

exercício complexo e interessante, porque é impossível prever aquilo que se

desenvolve no concreto da ação pedagógica, tendo em conta que existe um

número tão diverso e extenuante de condicionantes num contínuo espácio-

temporal. Já por isso afirmava Freud que ser professor é uma profissão

impossível. Eu interpreto as suas palavras num sentido metafórico e faço um

transfer para a realidade do professor, tão complexa como renovável. É

portanto uma descoberta progressiva do que não se conhece e do que, de

facto, é impossível conhecer na totalidade, a humanidade. Ainda assim, não

deixa de ser um exercício valioso caminhar na direção do inatingível, é um

aprimoramento, uma construção constante e inacabada.

Segundo a perspetiva de Rosado e Mesquita (2009), ser-se reflexivo é

ter a capacidade de utilizar o pensamento como atribuidor de sentido. A função

reflexiva atribui à prática uma dimensão renovável, em que simultaneamente se

assume como meio e como finalidade em si mesmo. Isto é, através da prática

podemos retirar conclusões para nos moldarmos como professores,

adequando estratégias e redefinindo objetivos. Esta capacidade adaptativa é

fundamental para lidar com a variabilidade contextual que o universo escolar

nos oferece.

De acordo com Dewey (1933) a experiência de várias décadas de

formação de professores em Portugal e a investigação educacional (tanto no

nosso país como no estrangeiro) mostram que a formação inicial não se pode

reduzir à sua dimensão académica (aprendizagem de conteúdos organizados

por disciplinas), mas tem de integrar uma componente prática e reflexiva. Sou

apologista, desta complementaridade, sobretudo, quando falamos de uma área

profissional onde é recorrente a interação entre a teoria e a prática.

Shulman (1987) refere o primeiro ano de prática profissional como um

encontro com a realidade docente em que a imagem idílica de ser professor

declina notoriamente face aos ditames realistas de uma prática vivida, por

vezes amarga, a que é preciso sobreviver. Roldão (2007) fala deste período,

4

como um processo em que a escola desenvolve um programa sistemático de

apoio a professores, com vista a socializá-los na profissão e a ajudá-los a tratar

os problemas de forma a reforçar a sua autonomia profissional e o seu

desenvolvimento profissional.

Neste ano dispus de um status particular, fui simultaneamente professor

e estudante. Por um lado, ensinei e encarnei um papel para o qual ainda me

estava a moldar. Por outro lado, fui sujeito a orientações superiores que

definiram e ajudaram a regular este processo conflituante.

1.4. Estrutura do Relatório de Estágio

O Relatório Final de Estágio tem como ponto primário a introdução, onde

retrato enquadramento que envolve o Estágio Profissional e fundamento a

necessidade de desenvolver este documento.

Para realçar a dinâmica pessoal subjacente ao desenvolvimento deste

trabalho, bem como a experiência que lhe está associada, desenvolvo num

segundo ponto, o meu Enquadramento Pessoal e as minhas expectativas em

relação ao Estágio Profissional, onde destaco as experiências relevantes que

me levaram até aqui e as crenças associadas ao meu entendimento da

profissão. Enfatizo aquilo que espero, para posteriormente comparar com

aquilo que realmente representou este processo.

O Enquadramento da Prática Profissional, destaco as normas e os

protocolos vigentes na operacionalização do Estágio Profissional, bem como os

diferentes elementos e grupos de elementos que contribuem para a sua

consecução.

A Realização da Prática Profissional constitui o tópico mais extenso

deste documento, já que relata, com base em excertos de reflexões das aulas,

o desenvolvimento da prática. Comparo assim, aquilo que é exposto na

literatura com a experiência vivenciada em contexto de aula. Este tópico

5

encontra-se, também, dividido em quatro áreas de desempenho previstas no

regulamento de estágio profissional:

Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem (Área 1) –

Nesta área decidi integrar o Projeto de Investigação-Ação que foi desenvolvido

para dar uma perceção mais contextualizada e mais minuciosa da forma como

desenvolvi o planeamento das aulas e as estratégias adotadas para potenciar

estes momentos. Assim, o planeamento é uma temática bastante escrutinada

nesta área 1. Além disso, as Dimensões do Ensino (Disciplina, Clima, Gestão e

Instrução) são desenvolvidas com recurso a relatos da prática. Finalmente,

está aqui também integrada a Avaliação.

Área Participação na Escola e Relações com a Comunidade

(Área 2 e 3) – aqui descrevo as experiências de Direção de Turma, a

participação em Atividades da escola e aquelas que foram desenvolvidas pelo

Núcleo de Estágio. Explicito a relação que estabeleci com a comunidade e os

momentos que promoveram esse contacto.

Desenvolvimento Profissional (Área 4) – Nesta área parto do

desenvolvimento do Projeto de Formação Inicial, como um instrumento

estruturante do processo de formação. Posteriormente, realço a importância de

conceitos como a Construção Profissional, a Identidade Profissional e o

Conhecimento Profissional, para a consecução do “ser professor”.

No final deste documento enquadrei uma conclusão final, onde pretendo

realçar a diferença entre o ponto final do Estágio Profissional e o ponto inicial.

6

7

2. Dimensão Pessoal

2.1. Enquadramento Biográfico

É difícil sumarizar quem somos. Não somos sumários. Num espaço tão

curto só poderei expor fragmentos de mim, aqueles que contribuíram para as

minhas decisões de formação e para a construção da minha identidade

profissional, portanto, vou ser cuidadoso nessa seleção.

“Ser professor” é, de acordo com Rink (2006) uma atividade complexa. A

autora fundamenta esta premissa na incumbência de encontrar a forma

eficiente de alcançar o aluno, para envolvê-lo no processo de ensino-estudo-

aprendizagem. Ao considerarmos esta vincada envolvência humana e a

possibilidade plural de respostas e de soluções, sabemos que o ensino não

pode ser uma ciência exata e, a sua dificuldade, reside no caráter imprevisível

que lhe está associado.

O Desporto surgiu na minha vida desde muito cedo, primeiramente como

filho de um Futebolista Profissional. Desde uma idade muito precoce me

habituei a entrar em recintos desportivos e viver a envolvência e o ambiente

presentes no contexto de treino ou de jogo. Apesar desse primeiro contacto

não ter sido vivenciado como uma prática pessoal, julgo que teve alguma

influência na forma como o Universo do Desporto me fascinou. Durante a

minha infância experimentei algumas práticas desportivas, sem me vincular a

nenhuma, porventura, porque sempre fui incentivado a priorizar os estudos.

Contudo, dedicava grande parte do meu tempo livre ao “Desporto de Rua”,

particularmente ao Futebol. Talvez, por isso, nunca senti a necessidade de me

vincular a uma prática organizada durante muito tempo. Pratiquei, contudo,

Natação, Futsal, Futebol e Judo.

Durante toda a minha vida escolar vi o Desporto e a Educação Física

como uma via de experimentação pessoal, do meu corpo, do meu pensamento

e dos limites entre mim e o mundo. Gosto particularmente dos desportos

coletivos, dos domínios estratégicos (tática) e da descoberta constante.

8

A minha decisão em ingressar na Faculdade de Ciências do Desporto e

Educação Física da Universidade de Coimbra, após o término do Ensino

Secundário, foi uma decisão controversa. Nesse momento, sentia-me

dissociado entre o fascínio pelo desporto e o jornalismo. Alio ao gosto pelo

Desporto, a paixão literária, expressa tanto na leitura como na escrita frequente

sobre temas livres. Tenho um interesse particular pela poesia, o surrealismo e

o modernismo, que não explorei como gostaria, mas as decisões acarretam

privações, bem como oportunidades. A base da minha decisão fundamentou-se

numa projeção do que queria ser. Mais tarde, durante a licenciatura, considerei

o ingresso no 2º Ciclo em Comunicação e Desporto, na Universidade do Porto,

para poder conciliar estas duas propensões. Contudo, este curso prescreveu

no ano precedente à minha candidatura e optei pelo curso atual, porque

entendo que poderá ser uma opção viável a médio/longo prazo e que, apesar

da escassez de emprego, me fornece conhecimentos que me serão úteis em

atividades diversas que poderei desenvolver futuramente. Paralelamente, a

mudança de instituição de ensino, pautou-se pela necessidade de experimentar

novos meios e novas perspetivas, subjacentes a uma ideia de enriquecimento

curricular e pessoal.

A minha formação académica, foi mediada pela Faculdade de Ciências

do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra, onde conclui a

minha licenciatura e a Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, onde

frequentei o Estágio Profissional. Acredito que esta diversificação formativa, me

torna mais adaptável e recetível a diferentes contextos e ideias. Isto porque me

foi possível visitar diferentes correntes teóricas, durante a minha licenciatura,

orientada em grande parte para a área do ensino, que me proveu

ensinamentos para perceber as diferentes envolvências sociais que

modificaram o ensino e os seus paradigmas. Também tive orientações sobre o

currículo e a estrutura das organizações educativas em ambos os ciclos de

ensino, diferenciando sobretudo no foco e nos autores privilegiados para

desenvolver as diferentes temáticas.

Para além do Estágio Profissional que desenvolvi em consonância com

o Núcleo de Estágio do Agrupamento Vertical Clara de Resende, estive

9

envolvido no Departamento Técnico de Futebol de formação do Boavista

Futebol Clube, no qual exerci funções de treinador adjunto dos escalões de

Iniciados (sub 14) e Juniores (sub 18). Estes cargos ocuparam grande parte

dos meus dias, mas foram proveitosos para a minha experiência e para o meu

regozijo pessoal. Sou apaixonado pelo meio, pelo futebol, pelo treino e por tudo

aquilo que engloba este modo de vida. Sou apologista de que muito pode ser

ensinado aos jovens no contexto de treino e que os valores de autossuperação

que lhes impomos serão cruciais no seu desenvolvimento como indivíduos.

Se por um lado, é importante fomentar nos alunos um espírito de

competição, próximo ao contexto desportivo, por outro lado deve ser tido em

conta que os conteúdos e as preocupações num contexto de aula são muito

distintas daquelas que se verificam no treino. Vickers (1989, p. 148) advoga

“que existem mais semelhanças entre o treino e o ensino do que

dissemelhanças”. Porventura, esta asserção possa ser verdadeira e um

professor possa ser um bom treinador e vice-versa. Contudo, é perigosa a

extrapolação de hábitos e rotinas de um meio para o outro, dado que os

feedbacks são de natureza distinta. Mesmo assim, não deixa de ser uma

experiencia valiosa pela vivência social, e mesmo educativa, que contempla.

Quando perspetivo a ideia de “professor de educação física” não me

ocorre nenhum ideal personificado, ao longo do meu percurso. Possivelmente,

se recorrer à conceção do que é “ser professor”, consiga perspetivar uma

personalidade influente na minha construção e reconstrução individual, que

transcende o âmbito profissional.

Aproveito esta oportunidade para ressalvar o trabalho, do professor de

Filosofia do meu ensino Secundário, de guiar os seus alunos, através de um

ambiente frontal e aberto, para um processo de autonomização intelectual,

pautados por orientações imprescindíveis para um pensamento assertivo, que

me tornam mais consciente da diferença e do valor da liberdade e que me

servem como modelo para aquilo que pretendo ser como professor.

10

2.2. Expectativas em Relação ao Estágio Profissional

Não foi a primeira vez que pisei o chão de uma escola para aprender ou

para ensinar e, se pensar verdadeiramente nos ensejos que trilhei nesse

espaço, serei sempre confrontado com essa dualidade complementar, que

acontece independentemente da nossa função. Nunca tive muitas certezas em

relação ao que queria fazer, talvez não tenha ainda, estou apenas certo de

gostar de lidar com o universo pueril, pela forma direta e espontânea com que

se exprimem os infantes e adolescentes, tão desajustada com a sociedade

adulta. Sinto que é fácil retirar deles o que sentem, o que gostam, o que não

gostam e por mais duro que às vezes possa ser para com o nosso ego e com

as nossas expectativas, impõe-nos de imediato um sentido de

responsabilidade, um alarmismo de mudança e de evolução. Era nesse ponto

em que me encontrava, no início do Estágio Profissional, com muito para

evoluir, com muito para aprender e sem saber como seria esse meu caminho.

Confesso que, numa primeira instância, preliminar ao início das

atividades do Estágio Profissional, não sabia exatamente o que esperar. Não

sabia o que iria encontrar dentro da escola e como me iria relacionar com os

meus pares. É claro que formulei as minhas ideias do que poderia estar

“escondido” dentro das paredes de uma escola e de como esse cenário se me

afiguraria no meu regresso. A minha função naquele lugar era diferente e

reconheço que demorei a percebê-la. Inicialmente não me confundi com um

aluno, mas também não me visualizei logo como um professor. Estava

expectante, mas as minhas expectativas não eram concretas, portanto, parti de

uma ideia de adaptação necessária e imperativa para que pudesse ter algum

sucesso dentro deste contexto. Tentei absorver tudo o que era novo com um

olhar, simultaneamente, critico e acolhedor, sabendo que antes de atuar sobre

qualquer ambiente é fundamental conhecê-lo primeiro. Procurei estar

disponível e ser prestável a todas as atividades da escola e, especialmente,

aqueles que envolveram de forma direta o Núcleo de Estágio de Educação

Física.

11

Sinto que aprendi muita coisa do contacto que estabeleci com docentes,

com a professora cooperante e com os colegas de estágio, mas sobretudo com

os alunos nos momentos em que se desenvolveu a prática pedagógica. É

através deles e para eles que me deverei melhorar, para fazer um trabalho que

lhes proporcione aprendizagens efetivas, duradouras e plurais.

Ao longo deste tempo deparei-me com um problema que foi difícil de

superar, que é o controlo disciplinar da turma. Diferentes estratégias foram

adotadas para contrariar as tendências disruptivas dos alunos e algumas

sortiram efeito. Estas tendências foram atenuadas gradualmente, mas tratou-se

um processo moroso e as minhas estratégias nem sempre tiveram o êxito

desejado.

Considero que evoluí bastante na forma como atuo nas aulas e que

superei algumas das minhas dificuldades iniciais. Penso que melhorei a forma

como interajo com os alunos e que o meu foco de atenção é mais diversificado.

Consigo estar mais vigilante em determinados comportamentos dos alunos que

outrora me passaram ao lado.

Estava consciente que iriam acontecer episódios desacertados, mais

ainda quando a experiência era exígua. No entanto, procurei aprender com

cada um deles e tentei que perturbassem o menos possível a aprendizagem

dos alunos.

Estou ainda a descobrir o meu caminho e todos os passos que dei

ajudam-me a progredir nesta jornada. Tenho uma boa perceção autocritica e o

meu aprendizado na faculdade foi muito orientado para a autoanálise

(professor reflexivo). O professor tem de assumir uma postura de

empenhamento autoformativo e autonomizante, tem de descobrir em si as

potencialidades que detém, tem de conseguir ir buscar ao seu passado aquilo

que já sabe e que já é e, sobre isso, construir o seu presente e o seu futuro,

tem de ser capaz de interpretar o que vê fazer, de imitar sem copiar, de recriar,

de transformar. Só o conseguirá se refletir sobre o que faz e sobre o que vê

fazer. (Alarcão, 1997)

As minhas potenciais contrariedades estiveram intrinsecamente

associadas à possibilidade de não cumprir as minhas expectativas de ajudar os

12

alunos e de lhes proporcionar uma aprendizagem motivadora. Acreditava que

existiam fatores que poderiam influenciar o desenrolar meu estágio, sobre os

quais não tinha controlo nem conhecimento. O grupo de alunos, o núcleo de

estágio, o grupo de professores e as envolvências do meio/escola, são alguns

destes fatores.

Relativamente à turma, esperava encontrar um grupo de alunos

interessados e disciplinarmente assertivos, embora estivesse consciente que

esse cenário idílico é invulgar. Os alunos que encontrei não se adequaram

àquilo que desejara. Numa fase inicial, tiveram alguma dificuldade em cumprir

com as regras comportamentais designadas, incorrendo em comportamentos

vulgarmente identificados como “indisciplina”. Para (Alarcão, 1997) a

indisciplina na escola e na aula é um fenómeno relacional e interativo que se

concretiza no incumprimento das regras que presidem, orientam e estabelecem

as condições da tarefa da aula, e ainda, no desrespeito de normas e valores

que fundamentam o convívio entre pares e a relação com o professor,

enquanto pessoa e autoridade. De facto, a implementação de um quadro

normativo aceite pelos alunos foi um processo moroso e que fez parte da rotina

diária. Contudo, foi possível verificar algumas respostas às diferentes

estratégias adotadas. Uma regra que julgo ser fundamental é a de impedir que

os alunos falem ao mesmo tempo que o professor. Assim, silenciei-me sempre

que isso aconteceu, e esperei que os mesmos se apercebessem do

comportamento errado e o assumissem. Em último caso, utilizei uma chamada

de atenção neste momentos.

Quando os comportamentos são desajustados durante a atividade,

interrompi a exercitação imediatamente e, em função da atividade e do tipo de

comportamento observado, adequei a estratégia fazendo pequenas alterações

à atividade ou chamando a atenção aos alunos.

Tendo em atenção os casos vivenciados de indisciplina mais graves, as

estratégias mais utilizadas foram: Manter o aluno apartado com uma tarefa

diferenciada dos restantes; privação de algo que estima – multa; medidas

corretivas – gabinete disciplinar.

13

Obviamente, também cabe ao professor moldar a turma aos seus

intentos e não existem alunos ideais, parte do processo consiste em instrui-los

no sentido de concretizarem os objetivos pedagógicos delineados.

Quanto ao núcleo de estágio, idealizei-o unido e empenhado no

desenvolvimento das atividades de estágio, porque seria em consonância com

ele que se concretizaria o planeamento anual, a definição de estratégias e a

concretização de tarefas diversificadas sob orientação da professora

cooperante. Portanto, esperei que este grupo me ajudasse a evoluir e que

estivesse aberto às minhas ideias também. Julgo que aquilo que projetei se

representou na realidade e que foi possível criar uma “equipa”, capaz de

enfrentar desafios e superar dificuldades, utilizando as valências de cada um e

valorizando-as. O grupo de estágio foi fundamental para culminar esta etapa,

porque representou uma âncora de suporte, extrapolando a relação meramente

laboral. Posso dizer que superou as minhas expectativas iniciais, já que

reconheci em cada um dos colegas estagiários, um companheiro.

No grupo de Educação Física, pensei que fosse indubitavelmente

favorável um ambiente aberto onde o debate permitisse a elaboração e a

resolução de intentos democraticamente concebidos. Contudo, isso é, a meu

ver, uma utopia no meio escolar, onde as personalidades se aprimoram de

conceções pessoais impassíveis e dissemelhantes entre si, enraizadas e

demarcadas na identificação social de cada professor. De facto, o grupo de

Educação Física do Agrupamento Vertical Clara de Resende é profundamente

antagónico nas ideologias que acarreta e nos interesses que sustenta. Existe

uma lógica divergente e disfuncional, pautada pela incapacidade de trabalhar

em grupo.

A professora cooperante é o elo mais próximo entre mim e a minha

modelação. É ela que deve personificar a minha avaliação de uma forma

específica, detalhada e realista. Esperava receber feedbacks construtivos

baseados numa verdadeira compreensão da pedagogia, com uma noção clara

do envolvimento que carateriza a escola. Alguém capaz de me ajudar no meu

processo de formação e que fosse capaz de me fornecer pistas para me

autodescobrir. Assim, penso que o que encontrei foi deveras diferente do que

14

projetara. Em grande parte, porque não senti apoio nem transigência. Em

certos momentos do meu estágio profissional, senti um tratamento

dissemelhante face aos meus colegas estagiários e uma aversão constante por

toda a minha atividade. Foi difícil suportar as diferenças pessoais existentes e,

julgo, que esta distância entre mim e a professora cooperante não me permitiu

olhar o estágio com a motivação que desejara.

Em determinados momentos, senti a minha liberdade restringida e a

consideração que me foi dedicada colidiu com a minha perceção de respeito

necessário ao trabalho conjunto. Contudo, foi possível aprender através deste

convívio, sabendo que a diferença também pode potenciar as nossas

perspetivas. Neste caso, reconheço que a professora cooperante tem um bom

domínio do contexto escolar e que a exigência de controlo que coloca nos

alunos propicia um bom clima de aprendizagem.

Finalmente, o orientador de estágio é o elemento de ligação entre mim, a

escola e a faculdade, pelo que as suas instruções dever-se-iam centrar na

agilização de tarefas concernentes ao estágio profissional, para que haja uma

consumação efetiva daquilo que é pretendido. Senti o apoio necessário para o

desenvolvimento das funções. Os momentos de reflexão e as formações que

se proporcionaram foram úteis para visualizar o ponto de situação em cada

momento e para que pudesse planear as diferentes tarefas.

As minhas expectativas em relação ao estágio prenderam-se com a

definição do que quero ser, do que sou e do que valho num universo contextual

em que só me conhecia parcialmente. Não sabia o que era ser professor,

embora já tivesse planeado e lecionado aulas, não sabia exatamente quais

eram as minhas rotinas e, portanto, considerava a existência do risco de não

me identificar com esse meio. De qualquer forma não tive medo de arriscar, de

sair da minha zona de conforto, é dos riscos que se fazem as descobertas e eu

estou-me a descobrir. Nem tudo correu como esperava e a minha descoberta

ainda não é conclusiva. É claro que alguma razão me levou a optar por esta

área e que as minhas experiências de contacto com a Educação Física, ora

como docente, ora como educando são extremamente favoráveis e me levam a

querer formular a minha vida numa base próxima com o desporto e com a

15

transmissão de experiências e conhecimentos. Gosto de acolher o novo, o

tempo encarregou-se de colocar as minhas perspetivas, as minhas filosofias, à

prova. Julgo que, não obstante, o carácter enriquecedor e duradouro deste

estágio profissional, é ainda escasso para saber exatamente como atuarei num

futuro concebível, no qual dependo apenas de mim para tomar todas as

decisões no momento de aula.

Foi uma etapa árdua, fora e dentro do estágio, porque me propus a

acolher várias tarefas, esse é um aspeto que ainda não sabia como iria

coordenar ou sequer se tinha tempo para me dedicar a tudo isso, mas coloquei

o estágio como uma prioridade. Comecei esta experiência, tranquilo e

expectante, mas sem ânsia, confiava em mim e sabia que tudo “faz parte”.

Aliás, essa é uma filosofia de que não prescindo.

16

17

3. Enquadramento da Prática Profissional

Não havendo educação que não esteja imersa na cultura e,

particularmente no momento histórico em que se situa, não se podem conceber

experiencias pedagógicas e metodologias organizativas, promotoras dessas

modificações, de modo “desculturalizado”.

As organizações escolares, ainda que estejam integradas num contexto

cultural mais amplo, produzem uma cultura interna que lhes é própria e que

exprime os valores e as crenças que os membros da organização partilham

(Imbernón, 2000).

A escola não é um recetáculo passivo de instruções exteriores, mas um

elemento ativo na sua reinterpretação e operacionalização.

3.1. Enquadramento do Estágio Profissional

As Normas Orientadoras do Estágio Profissional do 2º ciclo de Estudos

conducente ao grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos

Básico e Secundário, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto,

operacionalizam o Regulamento do Estágio Profissional, para o ano letivo

2011/2012. A natureza complexa, unitária e integral do processo de ensino e

aprendizagem, bem como as características gerais da atividade do professor

que decorre num contexto balizado pelas condições gerais do sistema

educativo, pelas condições locais das situações de educação e pelas

condições mais próximas da relação educativa, obrigam a uma tentativa de

integração e de interligação das várias áreas e domínios a percorrer no

processo de formação e, em particular, no Estágio Profissional, de forma a

retirar o formalismo das realizações e a promover as vivências que conduzem

ao desenvolvimento da competência profissional.

18

O Estágio Profissional entende-se como um projeto de formação do

estudante com a integração do conhecimento proposicional e prático

necessário ao professor, numa interpretação atual da relação teoria prática e

contextualizando o conhecimento no espaço escolar.

De acordo com o Regulamento da Unidade Curricular Estágio

Profissional do ciclo de estudos conducente ao grau de mestre em Ensino de

Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário da Faculdade de Desporto

da Universidade do Porto, o Estágio Profissional entende-se como um projeto

de formação do estudante com a integração do conhecimento proposicional e

prático necessário ao professor, numa interpretação atual da relação teoria

prática e contextualizando o conhecimento no espaço escolar.

O projeto de formação tem como objetivo a formação do professor

profissional, promotor de um ensino de qualidade. Um professor reflexivo que

analisa, reflete e sabe justificar o que faz em consonância com os critérios do

profissionalismo docente e o conjunto das funções docentes entre as quais

sobressaem funções letivas, de organização e gestão, investigativas e de

cooperação.

A pluralidade e a natureza das funções docentes remetem para a noção

de polivalência e alternância que permita um vaivém epistémico entre a teoria e

a prática. Esta compreensão servirá de linha orientadora para a elaboração do

Relatório de Estágio em que a investigação/reflexão/ação se assume como um

caminho adequado.

A competência profissional assenta no desenvolvimento de

competências pedagógicas, didáticas e científicas, associadas a um

desempenho profissional crítico e reflexivo que se apoia igualmente numa ética

profissional em que se destaca a capacidade para o trabalho em equipa, o

sentido de responsabilidade, a assiduidade, a pontualidade, a apresentação e a

conduta adequadas na Escola. Os determinantes do exercício da competência,

tais como os valores, a motivação e a atitude positiva face à profissão

percorrem todas as áreas de desempenho e em todas têm de ser trabalhados

de forma sistemática. “Os padrões de competência profissional têm que ser

19

efetivamente capazes de captar a complexidade do trabalho

profissional.”(Batista, 2008).

3.2. Enquadramento Legal e Institucional

A estrutura e funcionamento do Estágio Profissional consideram os

princípios decorrentes das orientações legais constantes do Decreto-lei nº

74/2006 de 24 de Março e o Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de Fevereiro. A

Iniciação à Prática Profissional do Ciclo de Estudos conducente ao grau de

Mestre em Ensino de Educação Física da Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto integra o Estágio Profissional – Prática de Ensino

Supervisionada e o correspondente Relatório de Estágio, rege-se pelas normas

da instituição universitária e pela legislação específica acerca da Habilitação

Profissional para a Docência. A estrutura e funcionamento do Estágio

Profissional consideram os princípios decorrentes das orientações legais

nomeadamente as constantes do Decreto-lei nº 74/2006 de 24 de Março e o

Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de Fevereiro e têm em conta o Regulamento

Geral dos segundos Ciclos da Universidade do Porto, o Regulamento geral dos

segundos ciclos da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto e o

Regulamento do Curso de Mestrado em Ensino de Educação Física. O Estágio

Profissional é uma unidade curricular do segundo ciclo de estudos conducente

ao grau de Mestre em Ensino de Educação Física da Faculdade de Desporto

da Universidade do Porto e decorre nos terceiro e quarto semestres do ciclo de

estudos.

O Estágio Profissional visa a integração no exercício da vida profissional

de forma progressiva e orientada, através da prática de ensino supervisionada

em contexto real, desenvolvendo as competências profissionais que promovam

nos futuros docentes um desempenho crítico e reflexivo, capaz de responder

aos desafios e exigências da profissão. Estas competências profissionais,

associadas a um ensino da Educação Física e Desporto de qualidade,

reportam-se ao Perfil Geral de Desempenho do Educador e do Professor

20

(Decreto-lei nº 240/2001 de 17 de Agosto) e organizam-se nas seguintes áreas

de desempenho: Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem;

Participação na Escola; Relação com a comunidade; Desenvolvimento

profissional

De acordo com o artigo 3º do referido regulamento, as atividades do

Estágio Profissional englobam: Prática de Ensino Supervisionada e Atividades

de observação e colaboração em situações de educação e ensino, nas áreas

de desempenho referidas no artigo 2º.

As atividades letivas e não-letivas realizadas na Escola respeitam as

orientações da Escola cooperante, nomeadamente o Projeto Educativo de

Escola, o Projeto Curricular de Escola, o Projeto do Departamento em que se

insere o Grupo de Educação Física, o Projeto Curricular de Educação Física e

Projeto do Desporto Escolar e o Projeto Curricular de Turma.

As atividades de ensino-aprendizagem consistem na regência de aulas

pelo estudante estagiário com as respetivas atividades de planeamento,

realização e avaliação; na observação de aulas ministradas pelo professor

cooperante, colegas estagiários ou outros professores e realização ou

colaboração em tarefas definidas pelos orientadores como fundamentais para a

formação profissional do estudante estagiário.

Para além disto a Estágio Profissional pressupõe as atividades incluídas

nos ciclos de formação realizados na Faculdade de Desporto da Universidade

do Porto e a realização do Relatório de Estágio.

A organização da unidade curricular Estágio Profissional é da

responsabilidade do professor regente, em estreita relação com a Comissão

Científica e a Comissão de Acompanhamento do Curso de Mestrado em

Ensino.

A orientação da prática de Ensino Supervisionada é realizada por um

docente da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, adiante

denominado orientador da mesma, nomeado pelo órgão competente, ouvido o

professor regente da unidade curricular Estágio Profissional e pelo professor

cooperante, escolhido pela comissão científica, ouvido o professor regente da

unidade curricular Estágio Profissional.

21

O número de estagiários por escola cooperante (núcleo) depende da

especificidade de cada Escola e do professor cooperante, conforme o

estabelecido no Protocolo celebrado entre a Escola e a Faculdade de Desporto

da Universidade do Porto. Cada estagiário pertence a um núcleo de estágio de

uma Escola cooperante. As Escolas cooperantes podem ser organizadas em

Agrupamentos a partir de critérios de funcionalidade.

O exercício do Estágio Profissional, decorre durante os terceiros e

quarto semestres do 2º ciclo de estudos. As atividades de Estágio Profissional

iniciam-se no dia 1 de Setembro e prolongam-se até ao final do ano letivo das

escolas básicas e secundárias onde se realiza (artigo 9º).

3.3. Enquadramento Funcional

3.3.1. A escola como Instituição

“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco

a sociedade muda.” (Freire, 1975)

A Escola é um instrumento estrutural da sociedade, próspero em

potencialidade de desenvolvimento social e cultural, que no entanto tende a

ficar na sombra daquilo que pode ser. É esta a visão que tenho, a mais

imediata do universo escolar, por tudo o que vivi e por tudo o que presenciei.

Penso que todos têm uma visão do que foi, ou do que é a escola, que

dificilmente pode ser acrítica. Sanchez (2005) arguí que as nossas ideias,

opiniões e atitudes são todas determinadas por um conjunto de áreas

ideológicas que nos afetam ao longo do nosso percurso social. Naturalmente, a

minha experiência e o meu processo de aprendizagem são restritos e

espelham somente aquilo que me afeta. Toda a informação que retive foi

selecionada e determinada por um conjunto de interações socioculturais.

Voltando à escola, e fazendo uma ponte entre aquilo que foi, aquilo que

é e aquilo que se pode perspetivar ser, destaco um conjunto de fatores a que

22

Thurler (2000) denomina de favorecedores da mudança: organização do

trabalho (flexibilidade); relações profissionais – todos para o mesmo fim

(cooperação); identidade coletiva – baseada na orientação para a resolução de

problemas do todo organizacional; projeção no futuro – conceção de um projeto

a médio/longo prazo; aprendizagem organizacional - os atores adquirem

carácter responsável e orientam-se de acordo com a eficiência de resultados;

liderança – partilhada envolvente (autoridade vs influência). Esta, como

qualquer organização é um veículo de dois polos, isto é, promove e intenta a

mudança social e é, simultaneamente, mudada pelas correntes sociais. Estas

potencialidades mutacionais nem sempre são devidamente operacionalizadas

pela instituição “escola”. No entanto, e devido a esta mesma capacidade,

existem muitas potencialidades nesta instituição, a explorar. Este cunho

pessoal, circunstancial, ajustável e criativo que deve ser moldado pela

particularidade da escola, da turma, do aluno e do momento é um mundo

infindo de possibilidades de escolha, que cabe ao professor definir. Corroboro,

neste sentido, o pensamento de Freire (1975), patente em “Pedagogia do

Oprimido”, de que toda a ação educativa, para ser válida, deve ser

necessariamente precedida por uma reflexão sobre o homem a quem se

deseja educar. E esta reflexão sobre o homem alcança uma maior qualidade se

for apoiada numa análise profunda do seu ambiente.

Nóvoa (1992) destaca nove fatores de eficácia da escola: autonomia da

escola; liderança; articulação curricular; otimização do tempo; estabilidade

profissional; formação continua; participação dos pais; reconhecimento público;

apoio das autoridades.

A intenção da escola não pode ser outra senão educar, transformar e

criar, munindo o individuo de utensílios para se expandir. Não pretendemos

formar atletas nem partir de uma lógica de especialização, pretendemos dotar

os alunos de condições para se experimentarem em diversos meios. Incute-se

assim, um conhecimento básico, estrutural e plural que deve ter valência na

cultura desportiva e nos valores psicossociais. Estes valores deverão ser

repercutidos na vida do aluno. Para isso, deverá ser fomentado o hábito e o

gosto pela prática desportiva.

23

É também importante ressalvar, aqui, o papel da Educação Física na

escola e aqueles que devem ser os propósitos centrais da disciplina. De acordo

com Bento (2003, p. 41) o objetivo da Educação Física é “garantir um nível

elevado da formação básica – corporal e desportiva de todos os alunos. Como

disciplina escolar a Educação Física constitui a forma fundamental e mais

importante da formação corporal das crianças e jovens, na qual o respetivo

professor conduz um processo de educação e aprendizagem motora e

desportiva.”

3.3.2. A Escola - Agrupamento Vertical Clara de Resende

O atual Agrupamento Vertical Clara de Resende, fundado no ano de

1949 com o nome de Escola Técnica Elementar Clara de Resende, tinha

funções complementares à Escola Comercial Filipa de Vilhena. A sua fundação

teve como objetivo primordial ministrar o Ciclo Preparatório do Ensino Técnico,

destinado exclusivamente ao género feminino.

No que respeita às atuais instalações, são as mesmas desde o ano

letivo de 1959-1960. Situa-se na freguesia de Ramalde, no concelho e distrito

do Porto. No ano de 1978 a instituição alterou a sua designação para Escola

Secundária Clara de Resende. Contudo, esta formatação não se manteve

durante muito tempo, adquirindo mais tarde a nomeação de Escola Secundária

com 3º Ciclo Clara de Resende. Os cânones atuais foram atribuídos no ano

letivo de 2004-2005, passando a ser Sede do Agrupamento Vertical Clara de

Resende, compreendendo assim a Escola S/2,3 Clara de Resende e a Escola

Básica do 1º Ciclo nº47 (atualmente designada por Escola Básica do 1º Ciclo

João de Deus).

No que respeita à constituição da restante comunidade educativa, a

escola conta com a colaboração de cerca de 130 professores divididos pelos

respetivos Departamentos; 40 auxiliares de ação educativa e cerca de 1200

alunos, sendo estes distribuídos entre o 5º e 12º ano.

24

A nível de recursos espaciais e no que é concernente à disciplina de

Educação Física, a Escola engloba um ginásio, uma pista de atletismo exterior

anexa ao campo e uma Sala de Expressões Dramáticas, onde poderão ser

desenvolvidas atividades rítmicas e que serve de complementaridade aos

restantes espaços.

As condições espaciais e humanas da escola são favoráveis ao decurso

da prática da disciplina de Educação Física. Todavia, e devido ao atraso

provocado pelas obras de requalificação escolar, ainda existem dificuldades na

operacionalização e na gestão destes recursos.1

3.3.2.1. Recursos Humanos

A comunidade educativa da escola compreende: conselho

administrativo; corpo docente; auxiliares de funções educativas e alunos. Assim

sendo, a hierarquia do conselho administrativo é constituída por: Diretor; Sub-

diretor e Chefe dos Serviços Administrativos.

No que respeita à constituição do corpo docente, a escola conta com a

colaboração de cerca de 130 professores divididos pelos respetivos

Departamentos.

Exercendo funções de auxiliares educativos a instituição integra cerca

de 40 funcionários de ambos os géneros, distribuídos pelas diferentes

instalações escolares (Cantina, Bar, Reprografia, Biblioteca, etc.).

Por último, a comunidade discente comporta um total de 1200 alunos de

ambos os géneros, estando estes compreendidos entre o 5º e 12º ano.

3.3.2.2. Recursos Espaciais

Relativamente às instalações, foram recentemente sujeitas a obras de

requalificação escolar, concluídas no decurso do presente ano letivo. A escola

conta com a existência de 48 salas de aula, entre estas encontram-se

laboratórios de Física e Química; Biologia; Oficina de Música; Oficina de Artes;

Sala de Informática e Salas de Expressão Plástica e Dramática. Paralelamente,

1Estas informações foram obtidas através dos dados da Secretaria do Agrupamento

Vertical Clara de Resende.

25

e no âmbito da área curricular de Educação Física, contamos com um ginásio,

onde está inserido um campo com medidas de Voleibol, destinado

exclusivamente à lecionação de modalidades indoor e sendo unicamente

utilizado por uma turma de cada vez. O ginásio compreende, numa das suas

paredes, espaldares, tendo acessos deste para uma arrecadação de material e

dois balneários (um feminino e um masculino). Outro espaço destinado ao

ramo da Educação Física, centra-se no exterior. Contempla-se, assim, um

campo coberto de características polivalentes, destinado à prática de jogos

desportivos coletivos, ténis e atletismo, com duas pistas anexas de 50m e uma

caixa de saltos. Tal como no ginásio, este campo exterior é acoplado a

balneários, sendo estes destinados a duas turmas e uma arrecadação de

material.

3.3.2.3. Recursos Materiais

Contemplando o material desportivo para variadas modalidades, é

possível averiguar a sua distribuição entre a arrecadação do ginásio e a do

espaço exterior. Nestes espaços existe material não específico e específico

das diferentes modalidades como: Atletismo; Basquetebol; Futebol; Voleibol e

Futsal. Noutras como Ténis de Mesa; Badminton; Ginástica e Rugby só

existem recursos no ginásio, assim como para os Jogos Tradicionais; Basebol

e Ténis no espaço exterior.

Os recursos materiais estão enunciados detalhadamente no Anexo 1

(inventário do material), onde é descriminada a sua quantidade.

3.4. Núcleo de Estágio

O núcleo de estágio é composto por quatro estudantes-estagiários, com

vivências heterogéneas. Conhecia todos pelo contacto estabelecido durante o

primeiro ano do 2º ciclo de Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e

Secundário.

26

As primeiras impressões do trabalho desenvolvido em conjunto e das

ideias emanadas, foram positivas e mantiveram-se durante o decurso do

Estágio Profissional. O grupo foi unido e procurou o desenvolvimento conjunto,

partilhando tarefas e conhecimentos. É certo que cada um tem a sua forma de

trabalhar e a necessidade de desenvolvimento de trabalho particular, mas

sempre que possível e, para além daquilo que é estritamente necessário, o

grupo partilhou e debateu as dificuldades e as estratégias de resolução. A

coesão existente foi facilitadora do desenvolvimento de trabalho conjunto,

aproveitando as capacidades de cada um e envolvendo todos. Em duas

palavras, retrato o trabalho de grupo como dinâmico e instintivo. Esta troca de

experiências foi enriquecedora e confesso ser raro, encontrar um grupo

competente e focado nos objetivos coletivos.

Todos os elementos foram igualmente respeitados e considerados nos

momentos de troca de ideias e, as divergências ideológicas serviram para

melhorar e confrontar perspetivas, não existindo situações conflituosas. Existe

empatia e entreajuda entre todos os elementos.

3.5. Grupo de Educação Física

Inicialmente, o contacto com o grupo de Educação Física foi escasso,

resumindo-se sobretudo aos momentos de Reunião de Departamento e de

Secção, para partilha de ideias e reformulação de estratégias. É certo que

houve negociações frequentes sobre o espaço de aula ou sobre o

desenvolvimento de atividades, mas foi inferior àquilo que almejara.

Apercebi-me, desde logo, que era um grupo discordante e que a

flexibilidade negocial para discutir e resolver problemas transversais era

escassa, o que nem sempre reverteu a favor da concretização de interesses da

Educação Física e da Escola em geral. Os objetivos parecem não ser

comungados e existia alguma dificuldade em colocar essas diferentes em prol

do benefício da organização.

27

Existe agora maior proximidade com o grupo, e foi possível conhecer

melhor cada elemento. Penso que, por norma, revelou-se acessível e sensível

à função que desempenhamos. Em determinados momentos, foi possível

integrar discussões sobre a função de professor, ilusórios sobre as

experiências e as perceções dos diferentes elementos que me ajudaram a

tecer comparações com a minha a minha prática e com as minhas conceções.

Pareceu também verificar-se uma atitude de resignação e de desinteresse face

à profissão de alguns elementos, que interpretam a função como rotineira e

estagnada. Não é minha intenção censurar a postura de outros professores,

com mais experiência do que eu. Limito-me a constatar o que

observo/perceciono e traçar um paralelismo com a minha ideia de “professor”.

Por isso, considero que se vier a desempenhar esta função no futuro, não

concebo fazê-lo com a mesma atitude. Pretendo refletir para me automelhorar

e colocar um planeamento dedicado e inovador em cada aula para servir o

melhor interesse dos meus alunos. Contudo, e como é natural, sei que o tempo

e a experiência provocam alterações nas ideias e conceções e que devem ser

olhados como uma mais-valia de um universo já existente. É neste contraponto

entre aquilo que é a função de professor experienciada e a inclusão de novas

conjeturas, que se desenvolvem e se testam as potencialidades da inovação e

da renovação do ensino.

3.6. Professora Cooperante

São atribuições dos professores cooperantes: programar as atividades

do núcleo de Estágio Profissional ao longo do ano escolar, de acordo com as

orientações definidas pela regência e comunicá-lo à Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto através do professor orientador; orientar os estagiários

cooperativamente com o orientador; cooperar na elaboração Projeto de

Formação Inicial dos estudantes do núcleo que supervisiona; elaborar o perfil

inicial de cada estagiário do seu núcleo; apoiar e orientar os estagiários, nas

28

atividades do projeto de formação desenvolvidas na Escola, promovendo a sua

integração na comunidade escolar; supervisionar a atividade letiva dos

estudantes estagiários nas turmas às quais estão adstritos e em todas as

atividades programadas; dinamizar a atividade do núcleo de Estágio através de

seminários, reuniões e outras iniciativas; realizar sessões semanais de cariz

pedagógico-didático, com todo os estagiários do núcleo, com horário fixo e

duração definida por lei, das quais devem ser elaborados o registos escritos

assinados por todos; avaliar individualmente os estudantes-estagiários,

elaborando o perfil inicial de cada estudante estagiário e todos os documentos

de avaliação decorrentes do artigo 10º deste regulamento; Colaborar na

classificação do desempenho do estudante-estagiário, nos termos da lei,

solicitando a informação do professor coordenador do Departamento Curricular

da Escola e elaborando o parecer relativo ao desempenho de cada Estagiário.2

Durante o meu estágio senti dificuldade em experimentar a minha

liberdade, condição que considero essencial para o meu desenvolvimento.

Penso que o apoio prestado pela professora cooperante nem sempre foi

adequado às minhas expetativas e nem sempre se concretizou numa troca de

ideias saudável. Sei, todavia, que o meu estatuto não me confere espaço para

a divergência e que as minhas ideias são destituídas de experimentação.

Tenho, por isso, condicionado os meus comportamentos em contexto de aula e

aproveitado aquilo que me pode ser apontado para me automelhorar e

salvaguardar a aprendizagem dos alunos. A falta de abertura existente

repercutiu-se na forma como atuei, porque condicionou o meu comportamento,

não só em contexto de aula, mas em todas as atividades do Estágio

Profissional.

A minha perceção de competência foi reduzida, tal como a minha

motivação. Contudo reconheço, uma tentativa de atenuar diferenças de ambas

as partes, de modo a manter um convívio menos latente.

2 (Artigo 8º - Regulamento da Unidade Curricular de Estágio Profissional).

29

A professora cooperante cumpre eficazmente com todas as funções

previstas no enquadramento do Estágio Profissional e predispôs-se a auxiliar

nas atividades do mesmo.

3.7. Orientadora de Estágio

Segundo o artigo 6º do Regulamento da Unidade Curricular de Estágio

Profissional são atribuições dos orientadores da FADEUP: dar cumprimento ao

Regulamento do Estágio Profissional; apoiar a conceção e a realização do

Projeto de Formação Individual do estudante-estagiário, num quadro de

colaboração com a escola cooperante, professor cooperante, numa lógica de

equidade e de co-responsabilização; garantir todas as fases do ciclo de

supervisão na realização do PFI de cada estudante-estagiário; supervisionar a

prática educativa dos estudantes estagiários em todas as áreas de

desempenho, de acordo com os documentos orientadores do Estágio

Profissional; observar as aulas previstas no documento orientador de Estágio;

Reunir com os professores cooperantes, núcleo de estágio e estagiários

individualmente; avaliar e aprovar o desempenho da Prática de Ensino

Supervisionada e propor a classificação do estudante-estagiário; participar nas

reuniões de orientadores da FADEUP, partilhar e discutir as questões inerentes

ao processo de Estágio com os seus pares; participar nos ciclos de formação

dos estudantes-estagiários, realizados na FADEUP; colaborar na realização do

plano de formação dos professores cooperantes; orientar o Relatório de

Estágio e integrar o júri das provas públicas.

A orientadora de estágio, prestou auxílio permanente às atividades

resultante do Estágio Profissional. Sempre que necessário, prontificou-se a

responder a qualquer dúvida e valorizou o processo de formação. As críticas

que elabora têm uma dimensão construtiva, apelam ao desenvolvimento do

estudante-estagiário e basearam-se no conhecimento didático. Procurou,

portanto, estratégias de auxílio embora não conheça profundamente a

envolvência do processo de ensino (turma, alunos, escola, etc.). Contudo, fez

30

um bom esforço para estar envolvida nesta dinâmica e com as críticas,

procurou também conhecer estes elementos. Cumpriu, escrupulosamente com

as atribuições dos orientadores de estágio desta Unidade Curricular e foi

bastante exigente.

A relação estabelecida não foi sustentada num convívio diário, como

aconteceu com o núcleo de estágio e com professora cooperante. Porém, a

regularidade das visitas concedeu um conhecimento gradual e faseado, com

uma perspetiva mais escalada da minha evolução. Foi possível, através do

convívio pautado pela conversa informal e pelas entrevistas periódicas,

identificou os problemas que decorreram da prática e averiguou potenciais

estratégias.

3.8. A Turma

A turma B do 7º ano de escolaridade, está inserida no Agrupamento

Vertical Clara de Resende. Esta turma é constituída por 28 alunos, 18 do sexo

masculino e 10 do sexo feminino. Dentro desta amostra verifico uma variação

etária entre os 11 e os 14 anos, sendo que, tanto os alunos de 11 anos como

os de 12 foram nascidos no ano de 1999. Todos os alunos estavam aptos para

a realização normal das aulas de Educação Física.

Sumarizando aquilo que foi patenteado na análise dos dados destaco a

relação entre género que poderá afetar a formação de grupos nas aulas. Existe

uma porção suficiente para criar competição heterogénea entre géneros na

maior parte das modalidades coletivas, se necessário. No que concerne à

formação de grupos mistos, dependerá daquilo que se poderá concluir nas

avaliações iniciais para verificar se existem diferenças significativas de

desempenho entre géneros e entre alunos, e também nas características de

cada modalidade.

A idade dos alunos tem uma variância muito escassa, pelo que não

foram observadas diferenças muito substanciais em termos de força que

possam afetar negativamente a aprendizagem dos alunos em ambientes

heterogéneos.

31

Não existiam condições patológicas que impedissem a prática normal da

aula Educação Física. No entanto, dei atenção aos alunos com asma e às

condições que poderiam desenvolver crises asmáticas. Estes alunos poderiam

estar sujeitos a um tratamento diferencial, em condições de mudança de

temperatura ou em ambientes propícios à perda de água e calor na parede dos

brônquios. Foi fundamental estabelecer contacto com o aluno para conhecer as

suas limitações e o tipo de tratamento a que estava sujeito. Existiu também um

caso de “síndrome de damp”3. Procurei criar condições para que o aluno

permanecesse motivado em tarefas envolventes, o que se revelou muito

complicado.

Pela análise dos dados foi possível verificar que a maior parte dos

alunos pratica desporto fora da aula de Educação Física e não existem casos

de obesidade. Relativamente às modalidades praticadas, a Natação e o

Futebol eram as que suscitavam a preferência dos alunos, seguidas pelo

Ballet, o Andebol e o Voleibol. Por fim, existiram modalidades com um único

praticante como o Basquetebol, a Ginástica Acrobática, o Hip-Hop, o Ténis e a

Vela.

Aproximadamente metade dos alunos, revela também, que a prática de

atividade física é um dos seus hobbies preferidos.

O agregado familiar da maior parte dos alunos parece ser sólido, já que

a quase totalidade dos pais se encontra empregado. É também de referir que

os índices de formação são elevados assim como as profissões que exercem.

Alguns pais encontram-se divorciados, apesar de a maioria estar sob a

condição conjugal de casados. Existe, contudo, um caso de viuvez. As mães

compõem a quase totalidade do núcleo de Encarregados de Educação. Não

são reveladas diferenças significativas entre géneros (pai/mãe) no que toca à

distribuição etária. Existe uma diferença entre géneros que reverte a favor do

sexo feminino (mães), no que toca ao grau de formação dos pais.

Não é possível, através desta informação, saber de que forma os alunos

são afetados por estas condições. Porém, como o convívio estabelecido, estes

3 Perturbações na atenção, no controlo motor e na perceção.

32

indicadores ajudaram a perceber alguns comportamentos. Por isso, julgo ser

relevante tomar em conta a situação familiar de cada aluno, já que poderá ter

uma grande influência sobre o seu comportamento. Cada aluno tem uma forma

particular de lidar com este indicador.

Estes dados ajudaram a perceber que não existiam problemas

impedientes da consecução de objetivos de aprendizagem no contexto das

aulas de Educação Física.

No decurso do ano letivo e do contacto que estabeleci com a turma do

7ºB em contexto de aula, foi notória a necessidade de disciplina. Os alunos

possuíam um nível motor razoável e, regra geral, manifestaram interesse nas

atividades, mas revelaram-se emotivos e dados a comportamentos

insubordinados. Por isso foi feito, com alguma dificuldade e, mesmo, ineficácia,

algum trabalho para incutir hábitos de disciplina e estratégias de potenciação

da aprendizagem. Penso que existiu um clima de afetividade favorável entre

mim e os alunos, mas que tentei priorizar a disciplina, quando necessário.

33

4. Realização da Prática Profissional

De acordo com o artigo 2º do Regulamento da Unidade Curricular

Estágio Profissional do Ciclo de Estudos conducente ao grau de mestre em

ensino de Educação Física nos ensinos básicos e secundário da FADEUP o

Estágio Profissional visa a integração no exercício da vida profissional de forma

progressiva e orientada, através da prática de ensino supervisionada em

contexto real, desenvolvendo as competências profissionais que promovam

nos futuros docentes um desempenho crítico e reflexivo, capaz de responder

aos desafios e exigências da profissão. Estas competências profissionais,

associadas a um ensino da Educação Física e Desporto de qualidade,

reportam-se ao Perfil Geral de Desempenho do Educador e do Professor

(Decreto-lei nº 240/2001 de 17 de Agosto) (p. 2).

Neste item pretendo fazer uma exposição do meu percurso, das

estratégias e resultados que obtive, relatadas nas reflexões autocriticas,

desenvolvidas ao longo deste ano de Estágio Profissional. Estes relatos da

prática serão fundamentados nas quatro áreas de desempenho previstas no

regulamento de estágio profissional: Organização e Gestão do Ensino e da

Aprendizagem (Área 1); Área Participação na Escola e Relações com a

Comunidade (Área 2 e 3); Desenvolvimento Profissional (Área 4).

34

4.1. Área 1 - Organização e Gestão do Ensino e da

Aprendizagem

Nesta área estão contemplados os vetores fundamentais para o

desenvolvimento da ação pedagógico, subdivididos na Conceção,

Planeamento, Realização e Avaliação. Estes vetores apresentam uma relação

complementar, fundamentando-se no conhecimento das estruturas que

definem e que envolvem o processo educativo na sua dimensão

organizacional. Pretendo assim, definir claramente os intentos pedagógicos de

cada vetor no concreto da minha experiência como professor estagiário do

Agrupamento Vertical Clara de Resende.

Integrei, também, o Projeto de Investigação-Ação nesta área, já que

versa sobre a Conceção, o Planeamento e a Realização.

4.1.1. Projeto de Investigação-Ação

Planeamento, Realização e Alteração: Uma Análise Auto-

Etnográfica

Resumo

O planeamento e o seu cumprimento/realização no decurso de uma aula

de Educação Física é uma questão nuclear para que o professor saiba se as

suas prognoses são ou não realistas. Não obstante, existem escassas

referências de natureza empírica na literatura que relacionem estes fatores.

Para além disto, existe um terceiro fator que surge da necessidade de adaptar

os conteúdos planeados ao contexto de aula, para o qual apropriei a

designação “alteração da tarefa” exposta por Rink (2006).

A investigação-ação é um meio de desenvolver inovação no contexto

escolar, associando o sujeito ao meio em que atua. A auto-etnografia concede

ao estudo um cunho pessoal, centrando-se em narrações individuais que

35

retratam uma realidade definida e que fundamentam um processo demarcado

no tempo. Para isso, utilizo narrações decorrentes de experiências reflexivas

pós-aula no decurso do Estágio Profissional integrante do 2º ciclo em Ensino

de Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário na Faculdade de

Desporto da Universidade do Porto.

Estas narrações retrataram uma problemática concreta expressa em

dois ciclos temporais associados a três aulas Ginástica cada. Assim, comparei

estes dois ciclos para depreender de que forma aquilo que planeei se adaptou

à realidade e se o tempo/experiência provocou alterações na forma como

planeei e ajustei os planos de aula. Como resultado verifiquei que as alterações

ao planeamento ocorridas no 2º ciclo foram menos frequentes, em comparação

com o 1º. Além disso, são também menos frequentes os episódios de

descontrolo do tempo e de incapacidade de cumprir o planeamento.

Palavras-Chave: PLANEAMENTO; AUTO-ETNOGRAFIA; ESTÁGIO

PROFISSIONAL; INVESTIGAÇÃO-AÇÃO; EDUCAÇÃO-FÍSICA.

Introdução

O planeamento é uma função estrutural da aula que lhe atribui objetivos

e significância no tempo, tendo em conta que este é um processo continuo. De

facto, planear não é uma tarefa simples, requer conhecimento do conteúdo e

do contexto, elaboração, requer um pensamento cuidado e assertivo especifico

à realidade que encontramos. Depois do planeamento, é necessário fazer

cumprir os propósitos delineados. Para isso, é necessário criar condições

ótimas de aprendizagem. Além disso, o planeamento deve ser ajustado às

eventualidades da aula.

Durante o percurso do Estágio Profissional, por diversas vezes, não

consegui cumprir a planificação da aula. Algumas razões eram fáceis de

descortinar, outras nem sempre. Por isso recorri à reflexão como um meio de

pensar sobre esta dificuldade. O presente estudo surge nesta linha,

36

representando uma necessidade de compreensão mais extensiva deste

fenómeno. Dada a especificidade e a natureza pessoal do tema, sustentei-me

numa metodologia de pesquisa auto-etnográfica.

Este estudo enquadra-se na “área 1 - Organização e Gestão do Ensino e

da Aprendizagem” fazendo a ponte entre o planeamento e a conceção do

ensino e a realização, criando assim uma dualidade teoria-prática. Procuro

saber, utilizando a minha experiência pessoal, aquilo que medeia este

processo entre o conhecimento e a aplicação. Para isso, utilizo a reflexão como

um recurso válido para entender as perceções e sensações que vivenciei

nesses períodos.

O propósito deste estudo é analisar o processo que medeia as variáveis:

planeamento; realização do planeamento e alteração do planeamento. Para

isto, recorri a um instrumento de análise com base em cinco categorias

definidas por Rink (2006), que visa analisar a alteração/modificação da tarefa

para indivíduos ou pequenos grupos.

Da Conceção e do Planeamento do ensino...

O termo plano serve para designar duas coisas distintas. Por um lado

expressa a estratégia empregue para alcançar um determinado resultado. Por

outro, significa a totalidade de objetivos de um dado domínio parcial (Klaus,

1976).

O desenvolvimento dos conteúdos de um programa de Educação Física,

requere um conjunto de decisões sobre os objetivos que se pretendem atingir e

quais as atividades que se lhes adequam. É também necessário, desenvolver

técnicas de planeamento para organizar um conjunto de

atividades/experiências de aprendizagem que se coadunem com os objetivos

definidos num programa. Nem todos os professores de Educação Física

planeiam bem, porque nem todos definem objetivos apropriados para promover

a aprendizagem (Siedentop, 1991).

37

De acordo com o mesmo autor existem diversos fatores que afetam a

forma como um professor planeia: o entendimento pessoal da Educação Física;

a natureza da escola; o espaço e material disponível; o programa de Educação

Física da escola e as características dos alunos.

O planeamento de uma aula é guia para o processo de instrução para

uma única sessão e deve ser baseado nos objetivos unitários para esse

momento.

Good e Brophy (citados por Rink (2006), afirmam que o planeamento de

uma aula é a melhor reprodução idealizada por um professor de como produzir

aprendizagem de um conteúdo, para um grupo particular de alunos e para

objetivos específicos.

Ao planificar, atribuímos ao ensino um caracter metódico e intencional.

Deliberamos objetivos concretos atribuindo-lhes estruturas lógicas, que nos

permitem passar da teoria à prática.

A planificação é o elo de ligação entre as pretensões, imanentes ao

sistema de ensino e aos programas das respetivas disciplinas, e a sua

realização prática. É uma atividade prospetiva, diretamente situada e

empenhada na realização do ensino, que se consuma na sequência:

Elaboração do Plano – realização do plano – Controlo do plano – confirmação

e alteração do plano (Bento, 2003).

Este processo sequencial ultima a forma como os conteúdos e as

situações de aprendizagem inerentes são apresentadas aos discentes. É

preciso formular e reformular, consecutivamente e em períodos distintos.

Por este motivo, (Bento, 2003) afirma que o ensino é criado duas vezes:

primeiro na conceção e depois na realidade. O ensino real tem naturalmente

mais facetas do que aquelas que podem ser contempladas no seu

planeamento e preparação. No processo real do ensino existe o inesperado,

sendo frequentemente necessário uma rápida reação situativa.

Numa tese de mestrado realizado por Neves (1995, p. 161), no

tratamento de dados referente a um questionário sobre os “fatores

influenciadores das decisões de planeamento”, envolvendo 162 professores de

Educação Física com experiência de ensino, diz-nos que os professores,

38

quando planeiam, se fundamentam essencialmente nas “condições de

realização do seu ensino”, com as “características próprias do seus alunos” e

com a “forma como vão intervir”, secundarizando o papel dos objetivos de

aprendizagem no planeamento da sua intervenção.

O filósofo pré-socrático Heraclito, considerado o pai da dialética defende

que “nada é permanente, salvo a mudança”. A escola, como todos os outros

meios, está grandemente sujeito às condições universais. Estas

condições/contextos que a afetam, ganham especial dimensão quando se

considera a variabilidade e a imprevisibilidade humana. De facto, a projeção

que se faz de uma aula, se formos rigorosos, será sempre muito diferente da

sua concretização.

...À Realização (Funções do Professor durante a Aula)

A realização é o momento em que dá significado à planificação. Para

Bento (2003) a aula é realmente o verdadeiro ponto de convergência do

pensamento e da ação do professor. De facto, a aula é o cerne do ensino, é ela

que nos faz planear e repensar o planeamento através das elações que dela

provêm. Durante a aula, o professor pode assumir comportamentos

diversificados, que se centram em quatro dimensões fundamentais: disciplina,

clima, gestão e instrução.

De acordo com Metzler (1990, p. 98) “os professores de educação física

providenciam demasiada instrução verbal e não-verbal, relacionada com a

gestão, disciplina, organização e outros eventos alheios à aula e aos seus

objetivos.”

Durante o período de atividade o professor pode desempenhar várias

tarefas com o intuito de potenciar as condições de aprendizagem dos alunos.

Estima-se que quanto mais presente e relacionado com a prática o professor

estiver, maior será o tempo que os alunos despendem em atividades

relacionadas com os objetivos da aula.

39

Um dos comportamentos típicos do professor quando a atividade não

concretiza os objetivos pré-definidos é a alteração e modificação de tarefas. A

observação das respostas dos alunos é uma função essencial do professor.

Todas as decisões tomadas, antes, durante e após a prática pedagógica, são

fundamentadas nesta análise.

Após o planeamento, o professor instrui e organiza as situações de

aprendizagem. Neste momento é fundamental observar e analisar as respostas

dos alunos a cada situação e poderá ser necessária a readaptação deste

planeamento. A esta fase Bento (2003), chama de confirmação e alteração do

plano. Se por um lado, os alunos apropriam o objetivo do exercício e exercitam

em condições de aprendizagem adequadas e ajustadas aos critérios definidos,

então poderá não ser necessário alterar a atividade. Por outro lado, se a

atividade, de alguma maneira e por alguma razão não se ajusta aos objetivos

designados, é fundamental alterar a sua configuração.

Alteração da Tarefa

Uma tarefa resultante deste exercício é aquilo a que Rink (2006, p. 173)

chama de “Modificação da tarefa para indivíduos e pequenos grupos”. Assim,

procura-se individualizar, adaptando os propósitos de um exercício às

necessidades de um aluno ou de um grupo de alunos. Segundo Rink (2006, pp.

173-175), isto poderá acontecer através:

Da mudança do conteúdo integral da tarefa, solicitando aos alunos que

desempenhar uma atividade diferente do resto da turma. Este tipo de

mudança é mais apropriado a situações em que o professor opta por

introduzir habilidades fechadas. Quando o professor seleciona

habilidades deste tipo, sem grande margem de variabilidade de resposta

por parte dos alunos, deve estar preparado para mudar a tarefa e

possivelmente o conteúdo, para os alunos que não estejam preparados.

Também poderão ser feitas alterações para os alunos com nível mais

avançado.

40

Da extensão da tarefa, modificando o nível de complexidade, ou

procurando uma determinada resposta de um aluno ou grupo de alunos;

Da extensão lateral da tarefa (praticar a mesma tarefa com o mesmo

grau de dificuldade, de uma forma distinta) para determinados alunos. A

extensão da tarefa pode ser operacionalizada através de pequenos

ajustes condicionais, baseados na observação do professor, como por

exemplo a permuta de alunos, a mudança do espaço ou do material,

retirar ou acrescentar objetivos, etc. O conceito de “percentagem de

erro” é útil para mesurar o desempenho do aluno e ajustar o nível para

otimizar as suas respostas.

Da exclusão ou integração dos alunos em situações competitivas. Esta

modificação tem por base o desempenho do aluno. O professor, de

acordo com o sucesso de determinado aluno tem numa determinada

atividade, pode decidir tornar a tarefa mais desafiante/competitiva. Neste

prisma de atuação, o professor pode também conceder alguma

autonomia aos alunos para que eles próprios se proponham à

competição ou para que possam elaborar jogos que utilizem as

habilidades exercitadas. O professor deve saber, no entanto, discernir os

alunos capazes de integrar contexto competitivos.

Do refinamento da tarefa ou correção de erros individuais. Uma

alternativa à modificação da tarefa é a mudança do foco dando-lhe um

maior ou menor grau de qualidade. Este tipo de modificação permite ao

aluno executar alguns aspetos da tarefa original com maior enfase na

qualidade.

Metodologia

Investigação- Ação como processo de reflexão pedagógica

A reflexão é o processo pelo qual o professor aprende a experiência

(Shulman, 1987). Na execução de qualquer profissão subentende-se que a

41

competência profissional é uma exigência preponderante. Importa definir o

conceito de bom profissional no contexto da educação, isto é, o bom professor.

A reflexão tem uma dimensão formativa e uma dimensão pragmática.

Quer isto dizer que aprofunda o nosso saber no que ele encerra, potenciando

as nossas capacidades e que, além disso, se traduz no nosso modo de agir.

Segundo a perspetiva de Dewey (1933) não se pode conhecer sem agir

e não se pode agir sem conhecer. Esta reflexão sobre a praxis (fundamentos

que levam à ação) é designada na literatura metapraxis. Nenhuma estratégia

formativa será produtiva se não for acompanhada de um espírito de

investigação no sentido de descoberta e envolvimento pessoal e é esta uma

das ideias que deve estar na base do conceito de professor-investigador. Entre

capacidades a desenvolver a literatura da especialidade cita as de observar,

descrever, analisar, confrontar, interpretar e avaliar. Como diz Freire (2001) a

formação é um fazer permanente que se refaz constantemente na ação. Para

se ser, tem de se estar sendo.

Pretende-se fazer a ponte entre a Investigação e a Pedagogia, para

habilitar os professores a questionar o seu trabalho e a questionar as suas

ações com base em resultados práticos reformulando as suas estratégias de

ensino, de acordo com o ideal de bom professor. Esta pesquisa partilhada não

se trata de uma transformação do professor em investigador. Trata-se de um

reforço de competência profissional, que visa atribuir um carácter holístico e

transdisciplinar à intervenção do professor de Educação Física. A investigação-

ação “abre um caminho para que a formação continuada consista em algo

mais, que a atualização profissional realizada por alguns "especialistas" (que

iluminam os professores com seus conhecimentos pedagógicos para que

sejam reproduzidos), passando pela criação de espaços de reflexão e

participação, dos quais o profissional da educação faça surgir à teoria

subjacente a sua prática, com o objetivo de recompô-la, justificá-la ou destruí-

la.” (Imbernón, 2000, p. 112)

A este respeito Moreira (citado por (Sanchez, 2005, p. 129) enfatizou a

importância deste processo, afirmando que “ a dinâmica cíclica de ação-

reflexão, própria da investigação-ação, faz com que os resultados da reflexão

42

sejam transformados em “praxis” e esta, por sua vez, dê origem a novos

objetos de reflexão que integram, não apenas a informação recolhida, mas

também o sistema apreciativo do professor em formação. É neste vaivém

contínuo entre ação e reflexão que reside o potencial de investigação enquanto

estratégia de formação reflexiva, pois o professor regula continuamente a sua

ação, recolhendo e analisando informação que vai usar no processo de tomada

de decisão e de intervenção pedagógica.”

Schön (1987) distingue três níveis fulcrais na reflexão: a reflexão na

ação, a reflexão sobre a ação e a reflexão sobre a reflexão na ação. Os dois

primeiros tipos são essencialmente reativos, separando-os apenas o momento

em que têm lugar, o primeiro ocorrendo durante a prática e o segundo depois

do acontecimento, quando este é revisto fora do seu cenário. É ao refletir sobre

a ação que se consciencializa o conhecimento tácito, se procuram crenças

erróneas e se reformula o pensamento. Como refere Alarcão (1996), essa

reflexão consiste numa reconstrução mental retrospetiva da ação para tentar

analisá-la, constituindo um ato natural quando percecionamos diferentemente a

ação.

Aquilo que pretendo desenvolver enquadra-se nos trâmites da

pedagogia experimental, na medida em que o próprio professor investiga as

suas práticas.

É, ao mesmo tempo, uma pretensão de utilizar a investigação para

aprofundar o conhecimento de uma experiência pessoal. Landsheere (1986)

corrobora o pensamento de que a pedagogia experimental pode definir-se

como sendo o controlo científico dos factos pedagógicos. Isto é desenvolvido,

concretamente, através do conhecimento das estratégias que adotei para

cumprir, ou não, o planeamento estipulado e analisar as causas dessas

possíveis alterações. Recorri para isso, ao relato destas experiências, situando-

as num ponto específico deste percurso que retrata o Estágio Profissional.

43

Auto-etnografia

Reed-Danahay (citado por Holt, (2003, p. 18) define auto-etnografia

“como um género de narrativa e de pesquisa que liga o pessoal e o cultural,

contextualizando a pessoalidade do sujeito num determinado meio social.” É,

simultaneamente, um método científico qualitativo e uma simples narração que

demarca acontecimentos quotidianos. O carácter pessoal que lhe é atribuído e

a partilha de funções do investigador, bem como a relação pessoal com os

dados utilizados, ajudam a desenvolver uma dinâmica contextual que ajuda a

perceber a dimensão dos acontecimentos à medida que são vividos.

Spry (s/d, p. 710), utiliza a própria experiência para atribuir significado ao

uso desta da pesquisa auto etnográfica, defendendo que “o encorajou a rever-

se criticamente como um outro agente em diferentes momentos da sua vida,

como facetas plurais de si e dos outros, analisadas, interrogadas e

entrelaçadas.” Não só existe uma relação estreita entre aquilo que é

investigado e o investigador, como uma entidade empírica, como também com

os contextos que influenciam e contribuem para a forma como esta relação se

operacionaliza.

Anderson (2006, pp. 378-388) apresenta cinco requisitos fundamentais

para o desenvolvimento da pesquisa auto-etnográfica, que valorizei no

desenvolvimento deste estudo, são eles: (1) relação do

investigador/investigado com o mundo social estudado; (2) reflexividade

analítica; (3) visibilidade da experiência narrada na primeira pessoa; (4)

interações com os parceiros no mundo social representado e (5) usar

informação empírica para perceber o meio estudado. A relação do sujeito com

o mundo social estudado está fundamentada na necessidade de compreender

uma problemática subjacente ao domínio da docência, no qual me integro

como professor-estagiário. A reflexividade analítica é representada nas

transcrições de reflexões das aulas estudadas e posterior análise da sua

significância. A visibilidade da experiência narrada na primeira pessoa, induz-

se nas narrações transcritas, bem como na problemática que me é afeta. A

relação com sujeitos do mundo social estudo estará, igualmente, integrada

44

nestes relatos empíricos que me ajudarão a perceber em que medida poderei

melhorar para desenvolver um planeamento concordante com as aulas e uma

realização prática concordante com esse planeamento.

Surge a necessidade de examinar a forma como as nossas ações

podem infundir as nossas representações do mundo (Hayler, 2011, p. 8). O

autor defende que as atividades e conceções devem ser analisadas como um

todo, em vez de serem teoricamente compartimentadas em busca de uma

explicação. A análise deve ser um processo global. Diferentes conceitos da

auto etnografia, como a memória, narrativas e a identidade são áreas de

atividade e métodos de pesquisa particulares, que podem contribuir como um

todo relacionado, para ajudar a determinar problemas no início da carreira

docente, como aquele que referencio.

A linha temática do estudo, aponta para uma relação entre três variáveis

centrais: o planeamento; a realização do planeamento e a proposta de tarefas,

visando a sua alteração. O suporte teórico relativo a estas variáveis isoladas é

vasto, sobretudo no que reporta ao planeamento e à sua realização. Contudo,

a literatura é escassa na referência a estudos que ligam estas três temáticas,

concretamente, no sentido de saber as falhas que provocam o não

cumprimento do planeamento, as causas que as consubstanciam e que

alterações podem ser desenvolvidas. Por isso, e na ausência de instrumentos

para esta análise, utilizei as categorias enunciadas por Rink (2006, p. 173)

como guião para o enquadramento dos dados em categorias. Contudo, e dado

que a categorização destas ocorrências, por si só, não me ajudaria a

compreender as causas de uma forma extenuante, decidi utilizar um estudo

qualitativo, que demarcasse a minha evolução como professor estagiário. É

aqui que se fundamenta a lógica de “investigação-ação”

Pretendo, através das narrativas expostas acompanhar o meu percurso

ao longo do Estágio Profissional. Para isso, selecionei seis relatos da Unidade

Temática de Ginástica, espaçados em dois períodos temporais. Um primeiro

ciclo composto por três aulas, desde 17 de Fevereiro a 14 de Março. Um

45

segundo ciclo composto pelo mesmo número de aulas, três, que se iniciou a 4

de Maio e findou a 23 do mesmo mês.

Esta análise objetiva um acompanhamento proximal das vivências,

subordinadas a este tema, utilizando para isso um percurso, uma história

narrada, que ajuda a perceber o desenvolvimento e o enquadramento das

dificuldades afetas ao planeamento e à realização da aula. As reflexões

registadas estão enquadradas no Diário de Bordo, representando testemunhos

subjetivos válidos na primeira pessoa.

Apresentação e Discussão dos Resultados

1º Ciclo de Análise

Reflexão 1 - aula nº42&43 – 17 de fevereiro de 2012

“O exercício de reflexão só faz sentido como uma comparação entre o

que somos e o que queremos ser. Estes dois polos estão dependentes de

perceções, de vontades, das experiencias vivenciadas e sobretudo da forma e

das estratégias que são encontradas para lidar com cada problemática. Esta

estratificação é um exercício difícil que passará sempre pela necessidade de

identificar o erro e as causas e apontar soluções viáveis. Num espaço de

tempo diminuto em que a necessidade de tomar uma decisão urge e os focos

de atenção se diversificam, a capacidade de decidir apropriadamente depende,

em grande parte, da experimentação de situações semelhantes.”… “A aula de

17 de Fevereiro manifesta, a meu ver, algumas falhas de decisão, pela forma

como abordei a aula e avaliei as situações que se me expuseram. Mais do que

um erro de planeamento, errei a executar e a adaptar o que tinha planeado.”…

“Teria sido uma boa opção encurtar, de forma mais significativa, o tempo de

exercitação.”… “O primeiro exercício demorou mais tempo do que o previsto, já

que o elástico da rede não foi disponibilizado atempadamente.”… “Devido ao

tempo perdido durante a instrução, em parte destinado ao controlo da turma,

46

decidi encurtar o plano de aula e optei por me centrar nos conteúdos

essenciais. Retirei a mobilização articular específica da Ginástica e o circuito

Gímnico. Contudo, olhando para o que fiz, julgo que talvez fosse possível

realizar este último exercício e que seria importante já que compunha uma

parte nevrálgica do plano de aula, devido à diversidade de conteúdos.”…

“Considero que, a aula foi demasiado ambiciosa para o tempo disponível e que

deveria reduzir o número de exercícios para poder cumprir com o plano de

aula.”… “A gestão do tempo foi condicionada pelo controlo da turma, que

esteve longe de ser eficaz.”

Reflexão 2 - aula nº44&45 – 24 de fevereiro de 2012

“Na aula de dia 24 de Fevereiro, procurei discutir o planeamento com a

professora cooperante e com os colegas estagiários para tentar rentabilizar a

organização e a congruência das situações projetadas. De facto, ainda tenho

algumas dificuldades em delinear a organização das situações de

aprendizagem que planeio na modalidade de Ginástica.”…“Tendo isto em

conta, não foi a melhor estratégia a organização de um circuito já que o tempo

de espera foi bastante elevado e não consegui acompanhar os elementos mais

básicos, porque tive que ajudar quase todos os alunos no rolamento à

retaguarda. Em alguns casos, foi necessário adaptar as situações de

aprendizagem ao nível dos alunos, para que obtivessem sucesso.”

Reflexão 3 - aula nº 52 – 14 de março de 2012

Nesta aula foquei-me, essencialmente, na otimização do tempo de

atividade. Assim, mudei a organização habitual e concedi uma maior autonomia

aos alunos, para poder atribuir os feedbacks necessários e para me poder

focar na avaliação. Também adotei uma estratégia de execução por vagas,

com os alunos divididos em colunas atrás dos colchões. De facto, esta

organização favoreceu o tempo de exercitação, contudo os comportamentos

47

desviantes não foram controlados e advertidos com eficácia. Por esta razão, as

condições de exercitação não foram ideais e o ruido instalado perturbou a

atribuição de feedbacks. Também não foi possível cumprir todo o plano de

aula.

Penso que deverei ser menos tolerante em futuras aulas, no sentido de

assumir um nível de exigência adequado àquilo que se pretende num ambiente

propício ao ensino. Sei que só poderei cumprir o que planeio na sua extensão e

na sua qualidade, cumprindo estes requisitos. Também só me poderei cumprir

como professor, na plenitude das minhas funções se criar um ambiente onde a

minha intervenção seja possível e onde a vigilância aos alunos seja mais num

sentido de supervisão do que de controlo permanente. Acredito que esta

necessidade conflitua com os meus objetivos como professor e que nem

sempre priorizo a concretização do ensino da melhor maneira.”

Análise 1º ciclo – 17 de Fevereiro a 14 de março de 2012

A análise destas três aulas sequenciais da Unidade Temática de

Ginástica decorridas entre 17 de Fevereiro e 14 de Março, incluídas no 2º

período letivo do ano 2011/2012, apontam para um conjunto de circunstâncias

dissemelhantes que contribuem para uma mesma causa: o tempo despendido

em questões de gestão de recursos - “O primeiro exercício demorou mais

tempo do que o previsto, já que o elástico da rede não foi disponibilizado

atempadamente”, bem como a organização das atividades e controlo da turma,

com enfoque nas questões disciplinares - “… contudo os comportamentos

desviantes não foram controlados e advertidos com eficácia…Também não foi

possível cumprir todo o plano de aula.”, parece não ter contribuído para a

consecução dos objetivos do plano de aula. Das categorias enunciadas por

Rink (2006, pp. 173-175) destaco a mudança do conteúdo integral da tarefa -

“Retirei a mobilização articular específica da Ginástica e o circuito de Gímnico.”

e a extensão lateral da tarefa - “Em alguns casos, foi necessário adaptar as

48

situações de aprendizagem ao nível dos alunos, para que obtivessem

sucesso”.

Os erros evidenciados, parecem ocorrer com alguma sistematicidade,

pelo que as razões que os condicionam, podem ser extensivas a outras aulas.

As questões de gestão e organização da aula são apontadas com bastante

frequência, o que induz a uma alteração do planeamento, por razões que não

estão associadas à sequência de tarefas preconizada. Ademais se aponta a

inclusão de demasiadas situações de aprendizagem - “Considero que, a aula

foi demasiado ambiciosa para o tempo disponível e que deveria reduzir o

número de exercícios para poder cumprir com o plano de aula”.

Salienta-se também uma mudança de organização da aula - “mudei a

organização habitual”… “uma estratégia de execução por vagas”… “De facto,

esta organização favoreceu o tempo de exercitação…”, decorrente da reflexão

e da discussão de estratégias com parceiros - “Na aula de dia 24 de Fevereiro,

procurei discutir o planeamento com a professora cooperante e com os colegas

estagiários para tentar rentabilizar a organização e a congruência das

situações projetadas”.

2º Ciclo de Análise

Reflexão 4 - Aula nº 65 e 66 – 4 de maio de 2012

“A aula de 4 de Maio marcou a introdução da Ginástica de Aparelhos,

concretamente da utilização do plinto. Assim, preparei-me devidamente para a

aula com a ajuda da professora cooperante, que me deu dicas importantes

para concretizar uma boa ajuda aos alunos.”… “Fiquei contente com a resposta

obtida e penso que os alunos exercitaram num clima favorável à

aprendizagem. Houve também um esforço dos mesmos no sentido de progredir

e foi possível ver diferenças significadas na aprendizagem.”… “Optei por dar

enfase aos erros grosseiros de alguns alunos, para que fossem corrigidos

desde já e alguns necessitaram de repetir mais vezes para ter sucesso. Penso

49

que devemos respeitar os diferentes ritmos de aprendizagem e ser pacientes

com estes alunos. Foi satisfatório ver que essa paciência resultou em

melhorias notórias.”

Reflexão 5 - Aula nº 70 e 71 – 18 de maio de 2012

“Para esta aula foi planeada uma abordagem à Ginástica idêntica à que

fora realizada nas últimas aulas, já que os resultados dessa estratégia haviam

sido favoráveis à aprendizagem dos alunos. Concomitantemente, delineou-se

uma abordagem introdutória ao serviço no âmbito do Badmínton.”…“Na fase

inicial da aula estava prevista a realização de corrida continua, que não foi

cumprida já que começou a chover no espaço exterior e o circuito gímnico

estava montado no pavilhão. Assim, prescrevi exercícios de mobilização

articular, saltos multidirecionais e flexibilidade estática.”… “Durante a Ginástica

os alunos estiveram mais calmos, mas, mesmo assim, os alunos em espera

não estavam atentos e iniciavam conversas paralelas com alguma frequência.

Por isso, foi também necessário parar a aula e organizar, com intervenção da

professora cooperante, uma lógica de exercitação diferente, que se conservou

até perto do final da aula. Depois disso, dialoguei com os alunos sobre o

Badmínton, colocando-lhes algumas questões e ensinei-lhes a pega universal.

Durante algum tempo os alunos sustentaram a bola em supinação, sendo que

não realizaram o serviço.”

Reflexão 6 - Aula nº 72 – 23 de maio de 2012

“A aula de dia 23 de Maio foi observada pela Orientadora de Estágio e por

todos os constituintes do núcleo de estágio de Educação Física do

Agrupamento Vertical Clara de Resende.”… “O exercício que coloco no

pensamento de cada aula é sobremaneira menor, quando comparado com o

início do Estágio Profissional. Não quero com isto dizer que me descuido na

50

reflexão e no planeamento das aulas. As contingências propiciam essa

facilitação, desde o conhecimento da turma e dos contextos diferenciais em

que a lecionação ocorre, como a experiência adquirida que me permite saber

de antemão quais as situações de aprendizagem e os sistemas de organização

que mais se adequam. É claro que, a minha oportunidade de experimentação é

ainda muito limitada e que, mesmo através deste conhecimento desenvolvido,

ainda cometo erros de planeamento e/ou de execução. Contudo, denoto uma

evolução na forma como encaro as aulas e sinto-me mais seguro na minha

função.”… “Como aspetos positivos realço a organização rápida das atividades

e o bom controlo da turma. Atribui feedbacks constantes, ora ao aluno, ora à

turma, contudo nem sempre identifiquei corretamente a causa do erro. Isso

aconteceu, provavelmente, porque a minha atenção foi divergente.”

Análise 2º ciclo – 4 de Maio a 23 de Maio de 2012

A análise deste segundo ciclo de três aulas da Unidade Temática de

Ginástica decorridas entre 17 de Fevereiro e 14 de Março, incluídas no 3º

Período letivo do 2011/2012, enuncia algumas diferenças no desenvolvimento

das aulas, comparativamente com o ciclo anterior. Estas alterações são,

sobretudo, fundamentadas na reflexão e na aplicação de estratégias distintas,

assim como o conhecimento dos elementos próprios à aula e ao papel do

professor - “… a experiência adquirida que me permite saber de antemão quais

as situações de aprendizagem e os sistemas de organização que mais se

adequam”. Paralelamente, devo destacar a importância das observações de

aula realizadas aos colegas estagiários e à professora cooperante, que

enriqueceram as discussões e me ajudaram a rever dificuldades que

experienciei e a desenvolver um pensamento proactivo em relação a estas

problemáticas. Em alguns momentos, sentia que a aula dos meus parceiros,

tinha sido uma aula minha, porque a tinha experienciado a curta distância e

tinha vivenciado tudo aquilo que nela se passara. É ainda importante ressaltar

reflexões anteriores ou ulteriores às aulas, que me proporcionaram

51

interpretações diferentes e me obrigaram a pensar constantemente nas

estratégias que adotei - “… preparei-me devidamente para a aula com a ajuda

da professora cooperante, que me deu dicas importantes para concretizar uma

boa ajuda aos alunos”.

Relativamente ao plano de aula e ao seu cumprimento, ainda ocorreram

episódios de alteração das tarefas, alguns causados por acontecimentos

alheios ao meu controlo que provocam a mudança integral do conteúdo de

tarefa referenciada por Rink (2006, p. 173) - “…estava prevista a realização de

corrida continua, que não foi cumprida já que começou a chover no espaço

exterior e o circuito gímnico estava montado no pavilhão.”, e outros ainda,

derivados de falhas de gestão e organização dos alunos - “…foi também

necessário parar a aula e organizar…”, que catalisaram a exclusão de tarefas

planeadas devido à falta de tempo - “Durante algum tempo os alunos

sustentaram a bola em supinação, sendo que não realizaram o serviço”.

São igualmente patenteadas passagens da necessidade de refinamento

da tarefa (Rink, 2006, p. 173) - “Optei por dar enfase aos erros grosseiros de

alguns alunos, para que fossem corrigidos desde já e alguns necessitaram de

repetir mais vezes para ter sucesso.”, adequando-as às necessidades dos

alunos (“Penso que devemos respeitar os diferentes ritmos de aprendizagem e

ser pacientes com estes alunos. Foi satisfatório ver que essa paciência resultou

em melhorias notórias”.

Conclusões

Comparando com o 1º ciclo de aulas, penso que as alterações ocorridas

neste 2º ciclo são menos frequentes. Além disso, são também menos

frequentes os episódios de descontrolo do tempo e de incapacidade de cumprir

o planeamento - “… denoto uma evolução na forma como encaro as aulas e

sinto-me mais seguro na minha função”. As causas que parecem justificar

estas alterações são o melhor controlo e gestão das atividades, em

consonância com a capacidade de controlar melhor a turma e a modificação de

52

estratégias - “Como aspetos positivos realço a organização rápida das

atividades e o bom controlo da turma”.

A necessidade de alterar tarefas está sempre dependente das

eventualidades do desenvolvimento de uma aula. Nenhum plano é axiomático

ou irrefutável, está sujeito a modificações, pautadas pelas necessidades

envolventes. Este estudo foi útil, fundamentalmente, para apontar as causas

fundamentais para a ocorrência deste fenómeno. Nem sempre essas causas

estiveram dentro do meu controlo e por vezes, simplesmente não as consegui

controlar. Contudo, e apesar da inexistência de dados quantitativos, é possível

percecionar claras melhorias na operacionalização do planeamento, não só

naquilo que representa o plano como também, na necessidade e prontidão

para o alterar em diferentes momentos. Em parte, estas alterações decorreram

da empírica natural à prática docente, bem como aspetos já referenciados,

integrantes do Estágio Profissional, como a supervisão pedagógica e a reflexão

como meio de reformular a prática. Este projeto de investigação veio suportar

esse processo, como um exercício de análise transversal ao desenvolvimento

do Estágio Profissional, como unidade crucial no processo de formação

docente.

Uma das limitações deste estudo foi a inexistência de comparação com

outros referenciais teóricos, justificada pela escassez de estudos semelhantes.

É também de referenciar, o uso da primeira pessoa como um potencial indutor

interpretações adulteradas. Não obstante, julgo que a utilização da primeira

pessoa foi fundamental para conhecer a totalidade das ocorrências, porque o

espectro de observação e de conhecimento é maior.

Bibliografia

Anderson, L. (2006). Analytic Autoethnography. Journal of Contemporary

Ethnography, 35, 373-394.

53

Bento, J. O. (2003). Planeamento: Condição básica da direcção pedagógica

pelo professor. In L. Horizonte (Ed.), Planeamento e Avaliação em

Educação Física (pp. 13-18). Rua das Chagas, 17-1, ºDt.º - 1200 Lisboa.

Dewey, J. (1933). How We Think: A Restatement of the Relation of Reflective

Thinking to the Educative Process. Boston: D.C. Heath.

Freire, P. (2001). Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros

escritos. São Paulo.

Hayler, M. (2011). Autoethnography, Self-Narrative and Teacher Education.

Studies in professional life and work, 5.

Holt, N. L. (2003). Representation, Legitimation, and Autoethnography: An

Autoethnographic Writing Story. International Journal of Qualitative

Methods, 18-28.

Imbernón, F. (2000). Formação docente e profissional: formar-se para a

mudança e a incerteza. Coleção Questões da Nossa Época, 77.

Klaus, G. (1976). Cibernética e sociedade. Berlim.

Metzler, M. W. (1990). Instructional Supervision for Physical Education.

Champaign, Illinois: Virginia Polytechnic Institute and State University.

Neves, A. d. (1995). Os professores e os programas de Educação Física.

(Mestrado em Ciências do Desporto na especialidade de Desporto para

Crianças e Jovens Dissertação Final), Universidade do Porto Porto.

Rink, J. E. (2006). Teaching Physical Education. Avenue of the Americas, New

York, NY, 10020.: William R. Glass.

Sanchez, I. (2005). Compreender, Agir, Mudar, Incluir. Da investigação-acção à

educação inclusiva. Revista Lusófuna de Educação, 5, 127-142.

Shulman, L. S. (1987). Knowledge and teaching: Foundations of the new

reform. Harvard Educational Review, 1-22.

Siedentop, D. (1991). Developing teaching skills in physical education. 1240

Villa Street Mountain View, CA 94041.

Spry, T. (s/d). Performing Autoethnography: An Embodied Methodological

Praxis. St. Cloud State University.

54

4.1.2. O planeamento

4.1.2.1. Análise do Programa Nacional de Educação Física - 3º

ciclo

“Os trabalhos de planeamento do professor de Educação Física

relacionam a direção essencial das exigências e conteúdos programáticos com

a situação pedagógica concreta; são expressão da personalidade do professor,

do conhecimento e competência do seu estilo individual de ensinar. Isto implica

o jogo conjunto das indicações programáticas (pré-planeamento central) e das

condições e ações (locais) que as prolongam e concretizam.” (Bento, 2003, p.

57). Por isso, para que o planeamento do ensino da Educação Física seja bem

definido, tem que considerar as várias diretrizes que o orientam. Desde logo,

Programa Nacional de Educação Física, que corrobora um conjunto de

objetivos definidos a nível nacional.

A conceção de Educação Física adotada no currículo nacional, pode

definir-se como «a apropriação das habilidades técnicas e conhecimentos, na

elevação das capacidades do aluno e na formação das aptidões, atitudes e

valores, ('bens de personalidade' que representam o rendimento educativo),

proporcionadas pela exploração das suas possibilidades de atividade física

adequada – intensa, saudável, gratificante e culturalmente significativa.

Esta conceção está desenvolvida no capítulo das Finalidades, que

sintetizam o contributo da educação física para a realização dos efeitos

educativos globais visados no conjunto (ou unidades) dos nove anos do ensino

básico e expressa nas “competências específicas” constantes no Currículo

Nacional do Ensino Básico (CNEB).

As finalidades definem os campos ou áreas que integram a EF, cujo

conteúdo está explicitado nos objetivos de ciclo – competências específicas

(plurianuais, para cada área e no seu conjunto, ou «comuns a todas as áreas»)

e nos objetivos de ano, que especificam os resultados esperados dos

55

processos formativos aplicados pelos professores nessas áreas e respetivas

matérias.

Na perspetiva da qualidade de vida, da saúde e do bem-estar:

Melhorar a aptidão física, elevando as capacidades físicas de modo

harmonioso e adequado às necessidades de desenvolvimento do aluno.

Promover a aprendizagem de conhecimentos relativos aos processos de

elevação e manutenção das capacidades físicas.

Assegurar a aprendizagem de um conjunto de matérias representativas das

diferentes atividades físicas, promovendo o desenvolvimento multilateral e

harmonioso do aluno, através da prática de:

o atividades físicas desportivas nas suas dimensões técnica, tática,

regulamentar e organizativa;

o atividades físicas expressivas (danças), nas suas dimensões

técnica, de composição e interpretação;

o atividades físicas de exploração da Natureza, nas suas

dimensões técnica, organizativa e ecológica;

o jogos tradicionais e populares.

Promover o gosto pela prática regular das atividades físicas e assegurar

a compreensão da sua importância como fator de saúde e componente

da cultura, na dimensão individual e social.

Promover a formação de hábitos, atitudes e conhecimentos relativos à

interpretação e participação nas estruturas sociais, no seio dos quais se

desenvolvem as atividades físicas, valorizando:

o a iniciativa e a responsabilidade pessoal, a cooperação e a

solidariedade;

o a ética desportiva;

o a higiene e a segurança pessoal e coletiva;

a consciência cívica na preservação de condições de realização das atividades

físicas, em especial da qualidade do ambiente.

56

No quadro 1 estão representadas as sub-áreas que caracterizam os

diferentes tipos de atividades ou modalidades, em cada uma das áreas

definidas pelas finalidades. Identificam-se também as matérias dentro dessas

áreas e/ou sub-áreas, considerando os modos e as formas típicas das práticas,

as convenções sociais e técnicas, bem como os modelos aplicáveis de

sistematização das atividades físicas (quer modelos comparativos, com base

em critérios externos, quer modelos de diferenciação interna das sub-áreas ou

das matérias). Evidentemente, algumas áreas surgem com maior discriminação

do que outras, o que resulta das correções introduzidas após se considerarem

os critérios de exequibilidade e desenvolvimento. De facto, o peso de certas

sub-áreas é maior (por exemplo, a Ginástica, os Desportos Coletivos ou o

Atletismo), o que corresponde a um maior número de discriminação de matéria,

comparativamente a sub-áreas como a Natação. O conteúdo de cada uma das

matérias encontra-se especificado em três níveis:

Introdução - onde se incluíram as habilidades, técnicas e

conhecimentos que representam a aptidão específica ou preparação de

base;

Elementar - nível onde se discriminam os conteúdos constituintes do

domínio (mestria) da matéria nos seus elementos principais e já com

carácter mais formal, relativamente à modalidade da Cultura Física a

que se referem;

Avançado - que estabelece os conteúdos e formas de participação nas

atividades típicas da matéria, correspondentes ao nível superior, que

poderá ser atingido no quadro da disciplina de Educação Física (Por isso

mesmo, este nível surge como programa alternativo no todo ou em parte

– ver Opções de organização curricular).

57

Quadro 1: Extensão da Educação Física

1. ACTIVIDADES FÍSICAS DESPORTIVAS 2. ACTIVIDADES

RÍTMICAS

EXPRESSIVAS

3. JOGOS

TRADICIONAIS E

POPULARES

4. ATIVIDADES DE

EXPLORAÇÃO DA

NATUREZA

JOGOS

DESPORTIVOS

COLECTIVOS

GINÁSTICA ATLETISMO RAQUETAS COMBATE PATINAGEM NATAÇÃO

Futebol

Voleibol

Basquetebol

Andebol

Corfebol

Raguebi

Hóquei em

campo

Softebol/Base

bol

Solo

Aparelhos

Rítmica

Acrobática

Corridas

Saltos

Lançamento

s

Badminton

Ténis

Ténis de

Mesa

Luta

Judo

Patin. Art.

Hóquei

Corridas

Natação Dança Moderna

Dança

Tradicionais

Portuguesas

Danças Sociais

Aeróbica

Infantis

Outros

Orientação

Montanhismo/

Escalada

Vela,

Canoagem,

etc.

A. DESENVOLVIMENTO DAS CAPACIDADES MOTORAS CONDICIONAIS E COORDENATIVAS

B. APRENDIZAGEM DOS PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO E MANUTENÇÃO DA CONDIÇÃO FÍSICA

C. APRENDIZAGEM DOS CONHECIMENTOS RELATIVOS À INTERPRETAÇÃO E PARTICIPAÇÃO NAS ESTRUTURAS E FENÓMENOS SOCIAIS,

EXTRA-ESCOLARES NO SEIO DOS QUAIS SE REALIZAM AS ACTIVIDADES FISICAS

58

4.1.2.2. Plano de Conteúdos do Agrupamento Vertical Clara de

Resende

O plano de conteúdos do Agrupamento Vertical Clara de Resende

respetivo ao 7º ano de escolaridade para a disciplina de Educação Física,

representa uma interpretação do currículo nacional às condições locais.

De acordo com (Bento, 2003, p. 57) o “ajustamento das indicações

centrais à situação concreta é necessário em todas as circunstâncias, tanto

mais que as condições de cada escola – e mesmo no interior da mesma escola

– são bem distintas (qualificação e empenhamento dos professores, estado de

rendimento e comportamento dos alunos, nível e domínios da prática

desportiva extraletiva e extraescolar, condições materiais e até climatéricas e

territoriais.”

Assim o planeamento anual representará uma reinterpretação do plano

de conteúdos da escola, que por sua vez é uma representação adaptada ao

contexto do programa nacional de Educação Física.

59

Quadro 2: Plano de Conteúdos – 1º Período

Competência específicas Aprendizagens relevantes/ Indicadores de

aprendizagem / Objetivos de aprendizagem Conteúdos

Estratégias/ Experiências/

situações de aprendizagem

Tempo

Avaliação

Testes de Condição Física

Elevar o nível funcional das capacidades

condicionais e coordenativas (resistência;

força superior, média e inferior; e

flexibilidade).

Atletismo:

Conhecer a capacidade motora

(resistência) e como desenvolvê-la

através da corrida.

Ginástica de Solo:

Saber identificar as atividades gímnicas;

Conhecer e aplicar as ajudas técnicas dos

diferentes elementos.

Voleibol:

Conhecer e compreender o jogo e as

suas regras;

Aperfeiçoar os elementos técnico-táticos

do jogo;

Avaliar as ações de ataque e de defesa.

Testes de Condição Física

Avaliar o nível de aptidão física de cada aluno, através

de uma bateria de testes.

Desenvolver a condição física, reconhecendo a

importância deste trabalho.

Atletismo: realizar corrida de Resistência cumprindo

com as exigências técnicas.

Ginástica de solo:

Elaborar e realizar uma sequência de exercícios no

solo combinando as destrezas gímnicas com as

destrezas técnicas.

Voleibol:

Cooperar com os companheiros para o alcance do

objetivo do jogo realizando com correção e

oportunidade as ações técnico táticas abordadas, em

exercício critério e em situação de jogo.

Testes de condição física.

Desenvolver a condição física.

Atletismo:

Corrida de média e longa duração

(15min.)

Ginástica de solo:

Rolamentos; apoio facial invertido; roda;

posição de equilíbrio; posição de

flexibilidade.

Sequência de elementos gímnicos.

Voleibol:

Serviço por baixo; recebe o serviço em

manchete; executa passe colocado para

espaço vazio; situação de jogo reduzido

(1x1; 2x2; 3x3).

Trabalho individual

Trabalho de grupo

Trabalho por estações

Trabalho em circuito

Situações de exercício critério

Situações de jogo reduzido e

condicionado

Situações de jogo formal

5

6

10

13

Testes de avaliação da

condição física;

Testes práticos com

base em exercícios

critério e situações de

jogo;

Teste escrito;

Trabalho teórico de

pesquisa.

60

Quadro 3: Plano de Conteúdos – 2º Período

Competências específicas Aprendizagens relevantes/ Indicadores de

aprendizagem / Objetivos de aprendizagem Conteúdos

Estratégias/ Experiências/

situações de aprendizagem Tempo Avaliação

Testes de Condição Física

Elevar o nível funcional das capacidades

condicionais e coordenativas (resistência;

força superior, média e inferior; e

flexibilidade).

Atletismo:

Conhecer a capacidade motora

velocidade e como desenvolvê-la através

da corrida;

Aperfeiçoar os fundamentos técnicos;

Conhecer o seu regulamento.

Basquetebol:

Conhecer e compreender o jogo e as

suas regras;

Aperfeiçoar os fundamentos técnico-

táticos de jogo;

Avaliar as ações de ataque e de defesa.

Ginástica de aparelhos:

Conhecer a modalidade e saber identificar

os aparelhos;

Aperfeiçoar as destrezas elementares nos

diferentes aparelhos.

Testes de Condição Física

Avaliar o nível de aptidão física de cada aluno,

através de uma bateria de testes.

Desenvolver a condição física.

Atletismo:

Realizar corrida de velocidade, cumprindo as

exigências elementares da técnica e

regulamentares.

Basquetebol:

Cooperar com os companheiros para o alcance do

objetivo do jogo; realizando com correção e

oportunidade as ações técnico táticas abordadas,

em exercício critério e em situação de jogo.

Ginástica de aparelhos:

Realizar, após a chamada a pés juntos no trampolim

os Saltos de Eixo e Entre-Mãos, chegando ao solo

em equilíbrio.

Testes de condição física.

Desenvolver a condição física.

Atletismo:

Corrida de velocidade (40 metros);

estafetas.

Basquetebol:

Passe (de peito e picado); lançamento (na

passada e em apoio); drible (de progressão

e de proteção); desmarcação (passe e

corte); situação de superioridade numérica

(2x1, 3x1, 3x2); situação de jogo reduzido

(1x1, 2x2, 3x3).

Ginástica de aparelhos:

Bock (salto de eixo); plinto (salto entre

mãos).

Trabalho individua

l

Trabalho de grupo

Trabalho por estações

Trabalho em circuito

Situações de exercício critério

Situações de jogo reduzido e

condicionado

Situações de jogo formal

5

6

13

6

Testes de avaliação

da condição física;

Testes práticos com

base em exercícios

critério e situações de

jogo;

Teste escrito.

61

Quadro 4: Plano de Conteúdos – 3º Período

Competências específicas Aprendizagens relevantes/ Indicadores de

aprendizagem / Objetivos de aprendizagem Conteúdos

Estratégias/ Experiências/

situações de aprendizagem Tempo Avaliação

Testes de Condição Física

Elevar o nível funcional das capacidades

condicionais e coordenativas (resistência;

força superior, média e inferior; e

flexibilidade).

Atletismo:

Conhecer a capacidade motora velocidade

e como desenvolvê-la através da corrida;

Aperfeiçoar os fundamentos técnicos;

Conhecer o seu regulamento.

Futebol:

Conhecer e compreender o jogo e as suas

regras;

Aperfeiçoar os fundamentos técnico-táticos

de jogo;

Avaliar as ações de ataque e de defesa.

Badminton:

Conhecer e compreender o jogo e as suas

regras;

Desenvolver os fundamentos técnico-

táticos do jogo.

Testes de Condição Física

Avaliar o nível de aptidão física de cada aluno,

através de uma bateria de testes.

Desenvolver a condição física.

Atletismo:

Realizar corrida de velocidade, cumprindo as

exigências elementares da técnica e

regulamentares.

Futebol:

Cooperar com os companheiros para o

alcance do objetivo do jogo; realizando com

correção e oportunidade as ações técnico

táticas abordadas, em exercício critério e em

situação de jogo.

Badminton:

Realizar com oportunidade e correção as

ações técnico-táticas elementares da

modalidade, garantindo a iniciativa e a

ofensividade em participações "individuais",

aplicando as regras.

Testes de condição física.

Desenvolver a condição física.

Atletismo:

Salto em comprimento.

Futebol:

Passe e receção; controlo e condução de

bola; drible; remate; marcação e

desmarcação; situação de jogo reduzido.

Badminton:

Serviço; “lob”; “drive” e “clear”.

Trabalho individual

Trabalho de grupo

Trabalho por estações

Trabalho em circuito

Situações de exercício

critério

Situações de jogo reduzido e

condicionado

Situações de jogo formal

3

6

10

6

Testes de avaliação da

condição física;

Testes práticos com base

em exercícios critério e

situações de jogo.

62

4.1.2.3. Plano Anual

O plano anual representa um esquema lógico da forma como pretendo

sequenciar as matérias de ensino referentes ao 7ºano de escolaridade, tendo

por base a turma do 7ºB.

Assim procurei aqui integrar as matérias contempladas na composição

curricular do programa nacional da disciplina de Educação Física e no plano de

conteúdos do Agrupamento Vertical Clara de Resende, que passo a nomear:

Basquetebol; Voleibol; Andebol; Futebol; Atletismo; Ginástica; Badminton.

Discriminei, assim, a distribuição das aulas, considerando o mapa de

calendarização dos espaços e lista de material existente para o trabalho de

cada conteúdo. Procurei também, determinar o contacto dos alunos com as

matérias em anos transatos, para lapidar possíveis lapsos.

Sabendo que os espaços destinados à prática de Educação Física não

se encontraram disponíveis nas primeiras aulas deste ano letivo, o período

inicial foi sujeito à abordagem dos conteúdos teóricos que auxiliara, o ensino

em momentos práticos.

Quanto à distribuição do Mapa de Calendarização dos espaços

referentes às aulas de Educação Física, a turma do 7ºB teve uma distribuição

uniforme ao longo do ano, contemplando sempre a tríade exterior-ginásio-pista.

Tentei portanto, apropriar e distribuir os conteúdos por estes espaços.

63

Quadro 5: Distribuição das Aulas

Aula nº Dia da

Semana

Data Espaço Planificação Inicial – Conteúdos Planificação – Alterada – Conteúdos

PE

RIO

DO

1 Terça-Feira 20/09 Sala de

Aula

Apresentação do Professor; Regras de conduta básicas. Apresentação do Professor; Regras de conduta básicas.

2 Terça-Feira 27/09 Sala de

Aula

Enunciação dos Critérios de Avaliação; Apresentação dos

Alunos

Enunciação dos Critérios de Avaliação; Apresentação dos

Alunos

3 Terça-Feira 4/10 Sala de

Aula

Fichas de Avaliação Inicial de Basquetebol e Andebol; Correção

das Fichas de Avaliação Inicial

Fichas de Avaliação Inicial de Basquetebol e Andebol; Correção

das Fichas de Avaliação Inicial

4 Terça-Feira 11/10 Sala de

Aula

Fichas de Avaliação Inicial de Futebol e Voleibol; Correção das

Fichas de Avaliação Inicial

Fichas de Avaliação Inicial de Futebol e Voleibol; Correção das

Fichas de Avaliação Inicial

5 Terça-Feira 18/10 Sala de

Aula

Dinâmica de grupo: Atividade “Sorriso Milionário” Dinâmica de grupo: Atividade “Sorriso Milionário”

6 Terça-Feira 25/10 Exterior Avaliação Inicial - Andebol Avaliação Inicial - Andebol

7 Terça-Feira 8/11 Exterior Andebol Andebol

8 e 9 Sexta-Feira 11/11 Exterior Andebol Andebol

10 Terça-Feira 15/11 Exterior Avaliação Inicial - Ginástica de Solo Avaliação Inicial - Ginástica de Solo

11 e 12 Sexta-Feira 18/11 S.E.D Ginástica de Solo Ginástica de Solo

13 Terça-Feira 22/11 S.E.D Ginástica de Solo Ginástica de Solo

14 e 15 Sexta-Feira 25/11 S.E.D Avaliação Final – Ginástica de Solo Andebol

16 Terça-Feira 29/11 Pista Andebol Andebol

17 e 18 Sexta-Feira 2/12 Pista Andebol Andebol

19 Terça-Feira 6/12 Pista Andebol Andebol

20 e 21 Sexta-Feira 9/12 Pista Andebol Avaliação Final - Andebol

22 Terça-Feira 13/12 Sala de

Aula

Avaliação Final - Andebol Aula Teórica - Basquetebol

64

23 e 24 Sexta-Feira 16/12 Pista Avaliação Inicial - Basquetebol 2º

PE

RIO

DO

25 Terça-Feira 3/01 Exterior Avaliação Inicial - Basquetebol Basquetebol

26 e 27 Sexta-Feira 6/01 Exterior Basquetebol Basquetebol

28 Quarta-Feira 11/01 Exterior Basquetebol Basquetebol

29 e 30 Sexta-Feira 13/01 Exterior Basquetebol Basquetebol

31 Quarta-Feira 18/01 Exterior Basquetebol Basquetebol

32 e 33 Sexta-Feira 20/01 Exterior Basquetebol Basquetebol

34 Quarta-Feira 25/01 Exterior Avaliação Final - Basquetebol Basquetebol

35 e 36 Sexta-Feira 27/01 Exterior Torneio - Basquetebol Avaliação Final - Basquetebol

37 Quarta-Feira 1/02 Exterior Avaliação Inicial – Voleibol + Exercitação Avaliação Final - Basquetebol

38 e 39 Sexta-Feira 3/02 Ginásio Voleibol Voleibol + Ginástica de solo

40 Quarta-Feira 8/02 Exterior Voleibol Voleibol

41 Quarta-Feira 15/02 Ginásio Voleibol Avaliação Escrita - Teste

42 e 43 Sexta-Feira 17/02 Ginásio Voleibol Voleibol + Ginástica de solo

44 e 45 Sexta-Feira 24/02 Ginásio Torneio - Voleibol Voleibol + Ginástica de solo

46 Quarta-Feira 29/02 Ginásio Avaliação Final - Voleibol Voleibol

47 e 48 Sexta-Feira 2/03 Pista Atletismo (Corrida Continua e Técnica de Corrida) + Voleibol

49 Quarta-Feira 7/03 Ginásio Atletismo – Avaliação Inicial (Corrida Continua e Técnica de

Corrida)

Ginástica de Solo

50 e 51 Sexta-Feira 9/03 Pista Atletismo – Corrida Continua e Técnica de Corrida Atletismo (Corrida Continua e Técnica de Corrida) + Voleibol

52 Quarta-Feira 14/03 Ginásio Atletismo – Corrida Continua e Técnica de Corrida Ginástica de Solo

53 e 54 Sexta-Feira 16/03 Pista Atletismo – Salto em Comprimento Atletismo (Corrida Continua e Técnica de Corrida) + Voleibol –

Avaliação Final

55 Quarta-Feira 21/03 Ginásio Atletismo – Salto em Comprimento Ginástica – Avaliação Final

56 e 57 Sexta-Feira 23/03 Pista Atletismo – Avaliação Final (Corrida Continua; Técnica de

Corrida; Salto em Comprimento)

Torneio de Futebol Escolar

3 º P E R I O D O

58 Quarta-Feira 11/04 Exterior Avaliação Inicial – Futebol Avaliação Inicial – Futebol

65

59 e 60 Sexta-Feira 13/04 Exterior Futebol Futebol

61 Quarta-Feira 18/04 Exterior Futebol Futebol

62 e 63 Sexta-Feira 20/04 Exterior Futebol Futebol

64 e 65 Sexta-Feira 27/04 Exterior Futebol Futebol

66 Quarta-Feira 2/04 Exterior Avaliação Final - Futebol Futebol

67 e 68 Sexta-Feira 4/05 Ginásio Ginástica – Bock / Plinto Ginástica – Bock / Plinto

69 Quarta-Feira 9/05 Exterior Ginástica – Bock / Plinto Avaliação Final - Futebol

70 e 71 Sexta-Feira 11/05 Ginásio Atletismo – Velocidade Ginástica – Bock / Plinto + Badminton

72 Quarta-Feira 16/05 Sala de

Aula

Atletismo - Velocidade Teste Escrito

73 e 74 Sexta-Feira 18/05 Ginásio Atletismo Estafetas Ginástica – Bock / Plinto + Badminton

75 Quarta-Feira 23/05 Ginásio Atletismo – Barreiras Ginástica – Bock / Plinto

76 e 77 Sexta-Feira 25/05 Ginásio Atletismo – Barreiras + Estafetas Ginástica – Avaliação Final

78 Quarta-Feira 30/05 Ginásio Avaliação Final - Atletismo Badminton

79 e 80 Sexta-Feira 1/06 Pista Badminton Atletismo – Velocidade + Barreiras

81 Quarta-Feira 6/06 Ginásio Badminton Badminton

82 e 83 Sexta-Feira 8/06 Pista Badminton Atletismo – Velocidade + Barreiras

84 Quarta-Feira 13/06 Ginásio Aula de reserva Avaliação Final – Badminton

85 e 86 Sexta-Feira 15/06 Pista Aula de reserva Atletismo – Velocidade + Lançamento do Peso

66

Quadro 6: Nº Aulas/Matéria

Modalidades Nº de aulas

Andebol 11

Atletismo

Corrida Continua + Técnica Corrida

Velocidade

Barreiras

Lançamento do Peso

9

3

3

2

1

Basquetebol 13

Futebol 10

Ginástica

Solo

Bock

17

10

6

Voleibol 8

Badminton 5

Justificação do Planeamento e Alterações

1º Período

No período de 20 de Setembro a 18 de Outubro e devido à

indisponibilidade de espaços para a prática de Educação Física, optei por

organizar as aulas de forma a conhecer os alunos. Este conhecimento foi

operacionalizado através do contacto e do diálogo, mas também através da

atribuição das fichas de avaliação inicial. Assim, foi também possível medir,

desde logo, os conhecimentos que os alunos tinham das modalidades coletivas

integrantes do programa do 7º ano de escolaridade (Andebol; Basquetebol;

Futebol; Voleibol). Este conhecimento, por si só, é insuficiente para enquadrar

os alunos num nível de exercitação. Isto é, não prescinde da necessidade da

concretização de uma avaliação inicial prática, para a elaboração de uma

Unidade Temática congruente, contudo, ajuda a saber os conteúdos básicos

67

que devem ser ensinados e a forma como os devemos articular com as noções

de cultura desportiva.

Posteriormente, e ainda no decurso deste 1º Período, optei por iniciar

pelos conteúdos de Andebol. Aqui, não existe nenhuma ordem de preferência

clara em relação às outras modalidades que decorrem no exterior, já que o

espaço está munido de cobertura (teto) e não será muito afetado pelas

condições climatéricas. Durante a elaboração e correção das fichas de

avaliação inicial, apercebi-me que os alunos tinham um menor grau de

conhecimento do Andebol e do Voleibol, em relação ao Basquetebol e ao

Futebol, porém esta indicação é insuficiente para priorizar uma modalidade em

relação a outra (s).

Todo o tempo destinado à prática no ginásio, será dedicado à Ginástica

de Solo durante o 1º Período. Optei por considerar e concluir a esta

modalidade (solo) no mesmo período para que os alunos consigam apropriar

uma sequência de elementos, que deverá ser a referência da avaliação final.

2º Período

No 2º período optei por iniciar com o Basquetebol no espaço exterior,

dedicando-lhe 12 blocos de 45 minutos. Penso que para abordar os conceitos

básicos contemplados no programa, é preciso tempo. Do ponto de vista tático

esta é uma modalidade complexa e, para que haja uma clara perceção da

dualidade defesa-ataque e dos princípios básicos de jogo para concretizar

estes intentos, é necessário mais do que uma abordagem meramente técnica.

No ginásio, e pela maior disponibilidade de aulas neste espaço (10

blocos), no 2º período, optei por agendar o ensino do Voleibol, que será, tal

como o Basquetebol, concluído com um torneio além da Avaliação Final.

Fundamento a integração destas aulas para fomentar a competição e a filiação

dos alunos à identidade grupal.

Finalizei com o Atletismo, mais concretamente com “Técnica de Corrida”

e com “Corrida Continua”, por estarem intrinsecamente associadas. Penso

68

também que para os alunos avançarem para outras temáticas, dentro do

atletismo, devem dominar a “Técnica de Corrida”. Pretendo abordar esta

matéria com especial cuidado, dada a importância que tem no quadro de

aprendizagem motoras dos alunos, que se repercutirá, não só no atletismo,

mas em grande parte das modalidades desportivas e em questões tão básicas

como o ato locomotor bípede. Paralelamente, incluirei “salto em comprimento”

neste bloco de aprendizagem por se tratar de uma matéria que só é passível

de lecionar na pista, eficazmente.

Durante o 1º Período foram feitas alterações ao planeamento de acordo

com a disponibilidade de salas de aula. A primeira modificação foi devida à

aula observada pela Orientadora de Estágio. Por esta razão a aula que fora

planeada para a Sala de expressões Dramáticas foi redirecionada para o

Espaço Exterior e permitiu a continuação da Unidade Temática de Andebol, em

vez da Ginástica de Solo.

As alterações planeadas para o 2º período resumem-se à redução do

número de aulas dedicadas ao Voleibol, já que sinto que as aulas de Ginástica

de Solo lecionadas no 1º período foram insuficientes para criar aprendizagens

e que seria proveitoso rever e desenvolver esta matéria. No 3º período optei

por manter a estrutura do planeamento.

3º Período

No 3º período enquadrei a abordagem do Futebol no espaço exterior já

que, e apesar da cobertura existente, existe sempre a possibilidade de o piso

se encontrar molhado em alguns locais. Assim, e tendo em conta que o Futebol

é a modalidade onde a bola mais contacta com o solo, calendarizei a sua

lecionação para o mês de Abril, o que, obviamente não inviabiliza a questão da

chuva, mas provavelmente será preferível ao período de Inverno. Já que só

estão agendadas 9 aulas para esta modalidade, não é certo que conclua com o

torneio, isso estará dependente do desenvolvimento dos alunos.

69

Não incluirei neste planeamento a modalidade de “Badminton”, pelo

número muito reduzido de aulas calendarizadas. Seria também interessante

abordar “Ginástica Acrobática” e “Ginástica Rítmica”, mas fundamento esta

opção não inclusiva pela mesma razão.

Ainda neste 3º período será lecionada Ginástica de Aparelhos

(Bock/Plinto). Para além desta disciplina, as aulas no espaço interior serão

dedicadas a conteúdos do Atletismo. Isto, porque as aulas designadas ao

espaço – pista são insuficientes para consolidar as matérias/disciplinas

fundamentais desta modalidade. Concluo então este período, na pista, com a

contemplando as disciplinas de “corrida de barreiras”, “corrida de estafetas” e

“corrida de velocidade” que estão subjacentes a uma estrutura de lecionação

consequente e interdependente.

Tendo em conta as matérias abordadas no 1º e 2º período, é pretendido

culminar as previsões do programa e, concomitantemente, destinar um período

de tempo razoável para a aprendizagem das matérias lecionadas. Assim,

prevê-se que para o 3º período se iniciem as matérias de Futebol e de

Badminton. A primeira, contará com 10 aulas no espaço exterior e a segunda

com 4 no Ginásio. Dada a escassez de tempo resultante do atraso no início

das aulas práticas, o tempo destinado a esta matéria será escasso, antevendo-

se a necessidade de a desenvolver com mais pormenor no próximo ano. A

Ginástica Artística, na sua sub-modalidade de solo, foi desenvolvida no período

nos dois períodos antecedentes, pelo que neste será complementada com a

introdução do Bock - “Salto ao Eixo”. Já no Atletismo, serão desenvolvidos os

conteúdos “Corrida de Velocidade”; “Corrida de Barreiras” e “Lançamento do

Peso”, ficando somente em falta, o “salto em comprimento.

4.1.2.4. Unidades Temáticas

O planeamento das atividades, dos conteúdos e da sua sequenciação,

foi desenvolvido no Planeamento Anual exposto no quadro 5, que compõe uma

70

projeção a curto, médio e longo prazo, sujeita a alterações inerentes às

eventualidades da prática.

Concomitantemente, foram desenvolvidos, atendendo à coerência e

sequencialidade do Modelo de Estrutura do Conhecimento (Vickers, 1989),

unidades temáticas completas, centradas numa estrutura sustentada na

transdisciplinaridade, pois há uma necessidade imensa de se recorrer aos

diferentes conhecimentos das áreas relacionadas com as Ciências do

Desporto, pretendendo-se com as mesmas o reunir de informação

imprescindível referente a cada matéria abordada.

Tive, assim, por base o Modelo de Estrutura de Conhecimentos (MEC)

proposto por Vickers (1989). Este modelo advém no sentido de permitir um

ensino eficaz, onde a ação de qualquer professor de Educação Física,

independentemente da modalidade que vai abordar, deve ser não só refletida

mas também orientada. Esta estrutura divide-se em três grandes fases: fase de

análise, fase das decisões e fase de aplicação.

Relativamente à fase de análise, é desenvolvido um organograma da

estrutura de conhecimentos da modalidade. Ainda nesta fase, procura-se um

conhecimento das infra - estruturas e recursos materiais disponíveis, bem

como o nível de prestação inicial dos alunos referente à modalidade em

questão.

Esta última análise reveste-se de particular interesse, já que irá ser a

partir desta que será elaborado o plano da unidade temática.

Segue-se a fase das decisões, em que se determina a extensão e a

sequência da matéria (conteúdos a lecionar e seu encadeamento), definem-se

os objetivos, configura-se a avaliação a utilizar (inicial e sumativa) e criam-se

as progressões de ensino.

No final de todo este processo, surge a fase de aplicação, que

corresponde à planificação das aulas, bem como a todos os

registos/documentos utilizados. Foram desenvolvidas Unidades Temáticas de

Andebol, Atletismo, Badminton, Basquetebol, Futebol, Ginástica e Voleibol.

71

Quadro 7: Nº Aulas Prevista/Lecionadas4

1º Período 2º Período 3º Período

Prev. Dadas Prev. Dadas Prev. Dadas

Andebol 11 12 Ginástica 9 9 Futebol 10 11

Basquetebol 13 16 Voleibol 9 9 Ginástica 8 5

Atletismo 3 3 Badminton 5 2

Atletismo 6 6

O quadro 7 exprime as aulas lecionadas e aquelas que foram

inicialmente previstas. No caso concreto da matéria de Badminton, não foi

possível concluir a Unidade Temática, devido à inviabilidade do material.

Relativamente ás restantes matérias, foram necessários fazer pequenos

reajustes que estão expostos no quadro 5 (Planeamento Anual).

4.1.2.5. Planos de Aula

A aula é realmente o verdadeiro ponto de convergência do pensamento

e da ação do professor. (Bento, 2003, p. 101)

O plano de aula assumiu-se como um elo válido de ligação entre as

aulas, a reflexão nos diferentes momentos e a adequação das estratégias,

assumindo-se também como uma microunidade com objetivos orientados

definidos quer no plano anual, quer na Unidade Temática. Estes documentos

foram o espelho dos meus pensamentos e das minhas metodologias.

Inicialmente, a palavra “guia” coube-lhes na perfeição, já que sempre tentei

seguir com alguma religião as suas demandas, por mim designadas. Não

obstante, sempre soube o que representou esta estratificação e que aquilo que

dela se esperava era, sumariamente, um resultado. Se esse resultado não

fosse o esperava, sabia ser necessário alterar os planos.

4 Cada valor corresponde a uma unidade letiva de 45 minutos.

72

Bento (2003, p. 101) afirma que “uma aula é um trabalho duro para o

professor. Significa cinquenta minutos de atenção concentrada e de esforço

intenso. Requer emprego das forças volitivas para levar por diante o conceito

planeado, mas também mobilidade, flexibilidade de reação, adaptação rápida a

novas situações.”

Foi um exercício bastante elaborado para mim, pensar uma aula. Olhei

esta tarefa como algo complexo e sério, dado que requer uma enorme

especificidade dado ao que se pretende ensinar. Assim sendo, é necessário ter

em contas as particularidades da turma do espaço, das matérias, do exercício

anterior, do exercício seguinte e outros fatores. De facto, isto acarreta uma

necessidade de decidir constantemente por aquilo que pensamos melhor e a

responsabilidade de ter um juízo certeiro. Por isso, sobretudo durante o

primeiro período, passava “horas a fio” a planear e a pensar nos meus planos.

À medida que me fui experimentando como professor, consegui desenvolver

uma ideia base do que pretendia para cada aula, de antemão, e assim, os

planos de aula foram concebidos com maior espontaneidade. Percebi também,

que a constante introdução de elementos novos, por vezes, se afigurava como

ameaçadora para os alunos, em vez de ser um fator estimulante, como

inicialmente prevera. O Anexo II representa um exemplo de plano de aula de

uma Unidade Temática de Atletismo.

4.1.3. O início da Realização da Prática Profissional

O primeiro contacto que estabeleci com a turma do 7ºB do Agrupamento

Vertical Clara de Resende foi bastante positivo. Sabia, de antemão, que estaria

sujeito durante 45 minutos aos olhos perscrutantes de 28 alunos, curiosos e

estudiosos, procurando que vantagens e/ou desvantagens eu lhes oferecia.

Imaginei, mesmo antes de começar esta aula uma turma difícil, conversadora e

com alguns casos de indisciplina referenciados.

73

Nos dias que antecederam esta aula preparei

cuidadosamente o meu discurso e os pontos nevrálgicos

que deveria abordar. Penso que o primeiro contacto com

os alunos pode demarcar, desde logo, uma posição de

autoridade, um julgamento que se pode repercutir durante

o ano. Portanto, sabia que deveria ser assertivo e

concreto naquilo que dizia para não transmitir nervosismo

aos alunos, independentemente de vivenciar ou não esse

sentimento.

Honestamente, se pensar nas projeções que fiz

deste dia durante o meu mestrado, imaginara-me sempre

mais nervoso do que de facto estive. Acho que me

consegui controlar bastante bem nesse aspeto, e que me

apartei um pouco da importância com que tal ocorrência

se me afigurava.

No período inicial da aula, logo depois de os alunos

se sentarem nos lugares a professora cooperante teve a

iniciativa de fazer algumas perguntas, provavelmente para

me colocar a mim e aos alunos mais à vontade e para me

passar o “testemunho” em seguida. As primeiras duas ou

três frases saíram ainda com um ímpeto, algo exagerado,

como se não conseguisse controlar a pausa entre cada

palavra. Não sei se isso foi percecionado pela audiência,

de qualquer forma, consegui controlar-me rapidamente e

à medida que a aula se desenrolava estive bastante

calmo. Um dos aspetos, que poderia ter condicionado a

aula foi a indisponibilidade do “data-show” para executar o

que fora planeado. De qualquer forma guiei-me pela

apresentação do computador que a professora

cooperante fez o favor de segurar orientando-o para a

turma. A espaços, a professora orientadora, fez questão

de acrescentar algumas ideias para esclarecer os alunos

74

e incitou algum diálogo para os colocar mais “à vontade”.

Esse foi, provavelmente, o meu maior lapso, sinto que

poderia ter dialogado mais com os alunos para criar uma

maior afinidade e proximidade com eles. Sei que,

porventura, será uma falha normal, devida à minha

escassa experiência e à minha personalidade. Sou, por

vezes, um pouco observador, gosto de conhecer antes de

agir, antes de assumir o risco e naquele momento, uma

relação próxima ainda constituía um risco para mim. Outro

aspeto crítico que me foi apontado pelos colegas foi o

vocabulário elaborado, mas tive a perceção que expliquei

sempre que os alunos não percebiam e quando eu próprio

me apercebia dessa possibilidade. De resto, preocupei-

me em indagar se a mensagem estava a ser passada de

forma clara.

Relativamente à turma, fiquei motivado para

trabalhar com eles. Pareceram-me crianças normais da

sua idade, com alguma tendência para brincar. Isso

poderá ser aproveitado, é possível aprender a brincar, até

com níveis de complexidade elevados. Se as privarmos

do seu lado infantil também as condicionamos demasiado

e, portanto, vou aproveitar em futuras aulas para os

conhecer melhor e para saber como os poderei atingir,

como os poderei motivar. Será um bom desafio (Reflexão

Aula 1 20-09-2011).

A respeito da fase referente à entrada na carreira docente, Huberman

(2000, p. 39) ressalta que o início da docência é caracterizado pelos

estágios de “sobrevivência e descoberta”. A sobrevivência está relacionada

com o “choque do real”, ao constatar a complexidade das situações na

profissão que envolve “o tatear constante, a preocupação consigo próprio, a

distância entre os ideais e as realidades cotidianas da sala de aula, a

75

fragmentação do trabalho, a dificuldade em fazer face, simultaneamente, à

relação pedagógica e à transmissão de conhecimentos, a oscilação entre

relações demasiado íntimas e demasiado distantes, dificuldades com alunos

que criam problemas, com material didático inadequado etc.”

Siedentop (1991, p. 12) propõe cinco estados de desenvolvimento para

a aprendizagem docente. O primeiro estado, designado por “estado de

desconforto inicial”, descreve uma dificuldade que encontrei no “ponto zero”

correspondente à identificação pessoal com o comportamento e com o papel

docente. O que foi mais difícil, foi encontrar um ponto médio entre aquilo que é

o trato corriqueiro e demasiado próximo e aquilo que é o trato formal e

demasiado distante. Provavelmente, nenhuma das alternativas se adequada à

turma que tinha e ao meio em que estava integrada. Também nesta fase me

deparei com problemas referidos na fase 2 “Aprendizagem de técnicas

variadas” e da fase 3 “Aprender a desempenhar várias tarefas em simultâneo.

Provavelmente, este último foi aquele que me causou mais dificuldades em

ultrapassar e sinto, que embora a minha progressão neste estado tenho sido

muito grande, ainda poderei melhorar com a experiência, a controlar diferentes

tarefas em simultâneo.

O início da docência é um período, simultaneamente, marcado pelas

situações inesperadas e difíceis e por uma oportunidade para construir saberes

ligados à prática docente. De modo geral, o início da carreira constitui um

período marcado por crises. Pesquisas revelam que esse período é

considerado pelo professor como um dos piores da vida profissional docente.

(Huberman, 2000).

A certa altura, com a evolução do exercício achei

que estavam demasiado inquietos e mandei parar, antes

do tempo determinado, encostando-os à parede. Alertei-

os para este facto, antes de os instruir sobre o exercício

subsequente. Nesta fase, senti que não estava seguro,

quando expliquei. Isto dever-se-á à pouca confiança que

tinha na planificação e ao facto de estar a ser observado e

76

avaliado pelos colegas estagiários num espaço diminuto e

com 28 alunos agitados. Saberia que dificilmente os

controlaria ali, com uma divisão do trabalho “por

estações”. Deveria ter priorizado o controlo da aula em

relação ao tempo de prática, já que a prática só por si,

não promove uma aprendizagem efetiva. É frustrante a

necessidade de parar sistematicamente a aula para

disciplinar os alunos, como o é planear uma aula sem que

haja um espirito ambicioso do ponto de vista da

aprendizagem motora. Sinto que, por vezes, é difícil

passar a mensagem e questiono as minhas

competências. No decurso deste exercício a Professora

Cooperante interveio na aula, impondo que me retirasse e

alterou a dinâmica do exercício, mantendo as estações. O

“rolamento à frente” foi executado em todas as estações,

seguindo uma lógica de níveis e foi pedido aos colegas

estagiários que realizassem ajuda aos alunos. Percebo a

atitude e o seu intuito formador, mas simultaneamente

não me posso deixar de sentir sem espaço, sem

confiança e sem vontade. (Aula nº11 & 12 – 18 de

Novembro de 2011).

“O final da aula foi atípico, mesmo que, a

organização para o último exercício tenha sido boa, assim

como a instrução. Os alunos perceberam o objetivo do

exercício mas por desmazelo no controlo do tempo não o

exercitaram praticamente nada e não foram dados os 5

minutos habituais e estipulados no final. Este erro não se

poderá repetir futuramente e deverei ter mais atenção ao

tempo, já que me tendo a descuidar neste aspeto.” (Aula

nº28 – 11 de Janeiro de 2012).

77

Com estes excertos pretendo salientar aquilo que vivi e a forma como

interpretei as minhas dificuldades, quando aconteceram. Olhando agora para

esses acontecimentos e para as reflexões que deles elaborei, penso que sou

mais capaz de identificar os erros que cometi. Quando algo de esperado

acontece, Schön (1983, p. 61) sugere que, tendemos a não refletir muito sobre

o assunto. Só quando acontece alguma coisa que nos surpreende, ou que não

foi antecipada, a nossa reflexão será profícua e insistente. De facto, torna-se

mais fácil pensar sobre o que é novo, porque capta toda a nossa curiosidade e

todo o nosso interesse. Nos primeiros contactos com a turma, a reflexão foi

mais produtiva, porque me era mais fácil identificar os erros e as situações que

deveria modificar. À medida que as aulas se desenvolveram, foi possível

verificar a tendência para se desenvolver num “esquema de aula” que

privilegiei, atendendo a rotinas e comportamentos-tipo definidos para cada

situação. Mesmo assim, o “novo” está sempre presente, e a reflexão é valorosa

no sentido de desenvolver as nossas lacunas e de resolver as nossas

problemáticas. Caso contrário, arriscamo-nos a ser profissionais empedernidos

e enclausurados no conforto da rotina e do entorpecimento.

78

4.1.4. As Dimensões de Ensino

4.1.4.1. Disciplina

Para Rink (2006, p. 153) “a disciplina é a ação do professor quando,

apesar dos seus esforços, os alunos não cooperam e se comportam de forma

apropriada”. A autora olha a disciplina como um ato de resposta ao

comportamento. Salienta, também, a importância de ser preventivo face a este

tipo de comportamento “indisciplinado”. Para isso destaca seis diretrizes para a

prevenção de problemas disciplinares: estabelecer um sistema de gestão

eficaz; ter uma atitude positiva com todos os alunos; compartilhar as

expectativas de forma clara e com antecedência; envolver os alunos na

formulação de regras e procedimentos; ter um programa desafiante e

apropriado; demonstrar entusiasmo em relação ao que se está a ensinar. O

professor deve estar sempre consciente do que o rodeia, independentemente

do que está fazer e deve ser capaz de desempenhar várias tarefas ao mesmo

tempo.

Siedentop (1991, p. 96) define “comportamento apropriado” como um

comportamento do aluno apropriado com os objetivos educacionais específicos

a uma determinada tarefa. Existe, contudo, bastante controvérsia face à

definição deste comportamento. Por norma, os professores tendem a valorizar

um comportamento discreto e a censurar o comportamento agitado, mas com

base nestas premissas não podemos julgar se o aluno está ou não integrado

na tarefa e de que forma.

A indisciplina no contexto escolar é um problema com que os docentes

se deparam comummente e que apresenta uma complexidade substancial.

Igualmente complexo é definir o seu conceito, já que é suscetível a diversas

interpretações. Tanto no contexto social como escolar, por norma, a indisciplina

está associada ao desacato das normas estabelecidas para a convivência

salutar.

79

No decurso do meu estágio profissional, este foi um problema capital.

Tive dificuldades em controlar a turma que se me apresentou como

“desordeira”. De facto, não estava preparado e não tinha as respostas certas,

por isso, fui procurando. Investiguei a literatura, indaguei sobre as causas,

discuti com os colegas estagiários e professora cooperante e,

progressivamente, foram delineadas estratégias que atenuaram, sobremaneira,

esta problemática. Ainda assim, este ponto de partida conturbado, foi difícil de

quebrar. Por vezes, tive que dar prioridade à disciplina em relação aos

objetivos pedagógicos que delineara. Compreendi também, que sem disciplina,

sem rigor e sem o empenho total dos alunos nas diferentes tarefas, elas são

infrutíferas. Sem um clima e um ambiente propícios à aprendizagem, os alunos

não aprendem.

(… )A transição para o exercício seguinte foi algo

demorada, devido às dúvidas que desencadeou. De resto,

isto aconteceu por mais de uma vez nesta aula e em

outras, pelo que deverei reduzir o número de exercícios

novos e a complexidade quando não introduzir conteúdos.

Quanto à situação de aprendizagem, fazendo uma análise

a posteriori, penso que se revelou desadequada para o

conteúdo fundamental e para o nível dos alunos já que a

exercitação não foi de encontro às expectativas que

conjeturei.

Também no exercício de oposição com finalização

a instrução demorou algum tempo, fruto das razões que

apontei previamente. Durante esta fase deveria ter exigido

silêncio total, o que nem sempre aconteceu, perjurando o

clima de aula. Aquando da prática os alunos tiveram

facilidade em perceber o que se pretendia, apesar de nem

sempre tomarem as melhores opções e pisarem

consecutivamente a linha de 6 metros, mesmo depois de

várias chamadas de atenção.

80

Antes de introduzir o último exercício da parte

fundamental optei por alongar novamente com os alunos,

apesar de este exercício não estar considerado no plano

de aula. Justifico esta opção pelo facto de a turma estar

agitada e achar que precisaria de a “abrandar” para que

conseguisse a sua atenção, na explicação do exercício

subsequente. Nesta última situação de aprendizagem

cometi o erro de utilizar as duas balizas dada a distância

entre os alunos e a dificuldade de os controlar em

simultâneo, ora verbalmente ora visualmente. Isto levou a

que perdesse o controlo, sobretudo, numa das estações

e que tivesse que andar em digressão constante para

emitir feedbacks ou para atuar disciplinarmente.

A aula finalizou com os alongamentos e com a

arrumação do material. Deverei continuar a dedicar-me

arduamente ao controlo disciplinar da turma que ainda

está longe de estar consumado e quem tem condicionado

claramente o planeamento e a aprendizagem da turma.

(Aula nº14&15 – 25 de novembro de 2011)

Para além de questões relacionadas com as expectativas do ministério,

da escola, e dos encarregados de educação face à disciplina dos estudantes,

que por si só atribuem a esta temática uma enorme importância, Siedentop

(1991, p. 98) sugere que “uma turma bem controlada aprende melhor”. Como

professor, esta é a minha principal preocupação. Ao longo do relato anterior é

possível verificar a referência a problemas disciplinares, mas não só. A

disciplina afeta todo o desenvolvimento de uma aula. Mesmo que o

planeamento esteja bem pensado e que os objetivos estejam bem delineados,

a aula pode não ser produtiva, se os alunos manifestarem comportamentos

inapropriados.

Para sabermos o que procuramos com a “disciplina”, devemos ter uma

ideia concreta do que é um comportamento apropriado e daquilo que é ou não

81

permitido ao aluno. A gestão das balizas da permissividade pode não ser tão

clara como se presume. Inicialmente, projetei-me como um professor próximo,

interessado e acessível. Esta ideia não é contraditória ao rigor, mas a

conjunção destas características tornou-se, para mim, difícil de atingir.

Siedentop (1991, p. 99) assevera que “um comportamento apropriado

não é refletido, exclusivamente, na ausência de um comportamento

inapropriado” e acrescenta que quando procuramos eliminar um

comportamento inapropriado, devemos indicar claramente uma alternativa

comportamental que consideramos adequada/apropriada à situação.

Confrontando esta ideia com a minha experiência, penso que poderia ter

enfatizado mais a necessidade de substituição e que, por vezes, me limitei a

procurar eliminar comportamentos disruptivos. Uma estratégia que utilizei e que

penso ter sido eficaz, foi destacar a mudança de comportamento perante a

turma, quer fosse negativa, quer fosse positiva, associando-a à melhoria de

desempenho nas aulas. Os alunos trabalharam também sempre com objetivos

concretos a curto, médio e longo prazo e aperceberam-se, que o esforço para a

aprendizagem seria imprescindível nesse processo. A verdade é que nem

todos cumpriram o percurso de acordo com as condições estabelecidas e

foram confrontados com esse facto. É pertinente que os alunos percebam os

objetivos e que trabalhem, ao longo das aulas, para os cumprir nos momentos

de avaliação. Assim, considerarei também a evolução de cada aluno em

comparação com registos anteriores e o esforço que dedica à “corrida

contínua” nas aulas (Reflexão da Aula 53 e 54- 16 de março de 2012).

Olhando o percurso que trilhei com a turma ao longo do Estágio

Profissional, julgo que haveria certamente aspetos a melhorar, mas também

penso que foi importante o confronto com as minhas estratégias. Gostei da

minha autonomia para resolver os problemas, sempre que dispus de tal

benesse. Sinto-me, também, certamente, mais competente para lidar com esta

problemática no futuro, que representou um papel nevrálgico na minha

formação.

82

4.1.4.2. Clima

Uma das funções capitais da atividade docente é garantir a cooperação

dos alunos para o cumprimento de regras, rotinas e diferentes tarefas. Destaco

uma das estratégias referenciadas por Rink (2006) para atingir esse desígnio,

que acredita que uma abordagem positiva é mais eficaz que uma negativa. De

facto, o clima na sala de aula/ginásio é pautado pela forma como o professor

se relaciona com os alunos. Deve ser dava primazia a uma abordagem positiva

que, porventura, servirá para marcar a diferença entre um comportamento

apropriado, que deverá ser o mais comum durante uma aula e o

comportamento inapropriado.

Um clima apropriado no contexto de uma aula de Educação Física

pressupõe a promoção de uma relação de confiança entre o professor e os

alunos e de cada aluno com os seus parceiros e com as atividades de

aprendizagem. Para isso é preciso “vender” os nossos objetivos, saber

valorizar aquilo que pretendemos ensinar para envolver os alunos processo.

Segundo Freire (2007), o bom professor é o que consegue, enquanto

fala, trazer o aluno até à intimidade do movimento do seu pensamento. A sua

aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Os seus alunos cansam-

se, não dormem. Cansam-se porque acompanham as idas e vindas do seu

pensamento, surpreendem as suas pausas, as suas dúvidas e as suas

incertezas.

Durante a aula refiro ainda, alguns momentos de

“burburinho”, para os quais foi necessário parar a aula

para reestabelecer o silêncio. Julgo que o clima de aula

poderia ter sido ainda melhor, tendo em conta aquilo que

julgo ideal num momento de avaliação, mas acho

consegui manter um clima de ordem favorável (Aula nº 75

– 30 de maio de 2012).

83

4.1.4.3. Gestão

A gestão organizacional eficaz tem como finalidade última o

envolvimento ativo dos alunos na atividade, manutenção de ordem e disciplina

e o uso eficaz e controlado do tempo de aula. De acordo com Rink (2006, p.

138) a gestão é “a promoção de um ambiente de aula e a sua manutenção,

através do desenvolvimento de um comportamento apropriado e de uma

envolvência do aluno no conteúdo lecionado”. Salienta ainda, que “um dos

primeiros passos para atingir uma boa organização nas turmas é estabelecer

rotinas e regras continuamente enfatizadas e atribuídas à responsabilizada dos

alunos”. Aplicação de regras, rotinas e objetivos concretos, associados a uma

monitorização e a avaliação constantes, são elementos fundamentais para

potenciar ambientes positivos de interação e aprendizagem. Um professor deve

considerar todos os elementos que envolvem a aula e procurar utiliza-los em

benefício de uma estrutura organizacional favorável. Assim, “o sistema de

gestão das tarefas corresponde a um plano de ação do professor/treinador que

tem, ainda, por objetivo a gestão do tempo, dos espaços, dos materiais e dos

alunos/praticantes, visando obter elevados índices de envolvimento, através da

redução da indisciplina e fazendo uso eficaz do tempo” (Rosado & Ferreira,

2009, p. 189). É portanto, uma estratégia organizacional que depende de

envolvências diversificadas e que determina a forma e a extensão com que os

conteúdos planeados são abordados. Essa gestão, passa também pela

necessidade de criar condições ótimas para a aprendizagem dos alunos,

através de um acompanhamento ativo e empenhado em todas as fases da

aula.

Ao longo do ano de estágio, fui implementando rotinas que me

facilitaram o controlo dos alunos e da atividade, libertando-me para outras

preocupações. De facto, a organização e gestão da aula foi, a par com a

disciplina, a dimensão didática que se me afigurou com maior dificuldade. Por

84

isso, também, denotei uma evolução marcante associada ao desenvolvimento

de rotinas e regras.

Bento (2003, p. 144) destaca a ordem como um fator preponderante

numa aula, utilizando o ditado “ordem é meia vida”, para concretizar esta

asserção. Uma das medidas nevrálgicas para estabelecer um clima propício ao

desenvolvimento de uma aula é o controlo eficiente dos horários e a atribuição

de um momento de começo e final de aula. Este autor, enquadra a premissa

anterior num indicador a que designa de “ordem externa”, ao qual são

agregados o asseio e o arrumo no local de aula. Paralelamente, a “ordem

interna” define-se pelo desenvolvimento da aula, associando-se à estrutura

interna da aula e à extensão dos conteúdos. Aqui o planeamento deve

considerar uma transição eficiente, com o menor tempo de organização e com

uma sequência lógica. Destaca ainda os fatores determinantes na divisão da

aula, são eles: objetivo(s); lógica sistemática da matéria de aprendizagem e

exercitação; reflexões acerca do decurso do processo de apropriação e das

funções didáticas correspondentes; tempo disponível. Estes fatores estão inter-

relacionados e servem como pontos de referência para uma aula organizada.

Inicialmente, quando planeava centrava-me sobretudo no conteúdo e na

qualidade dos exercícios para servir os propósitos que designava.

Progressivamente, a planificação começou a ser elaborada com grande ênfase

na sequência de exercícios, para melhor rentabilizar o tempo dedicado à

exercitação.

Bento (2003, p. 135) aponta para importância de envolver o aluno na

atividade para que esta tenho um significado pessoal para ele, a que designa

de “relação inseparável entre atividade e desenvolvimento”. Tanto no papel de

praticantes como no papel de organizadores, esta relação parece facilitar a

gestão organizacional e o clima de aula. O mesmo autor afirma que “o caminho

correto é trilhado quando os alunos emergem como co-organizadores ativos do

ensino, quando praticam atividades e resolvem problemas e tarefas que

exigem empenhamento e esforço, quando são estimulados a utilizar as suas

experiências, a questionar e procurar, quando são convidados a examinar,

85

valorizar e avaliar, fundamentando a sua opinião, quando podem sentir-se

responsáveis pelos progressos operados na turma.”

Sumarizo algumas das preocupações que acima descrevo, e que

marcaram o desenvolvimento do meu estágio. Numa primeira aula, a 25 de

Outubro de 2011, relato a dificuldade em operacionalizar uma avaliação

detalhada. De facto, este foi um problema inicial com o qual tive que lidar e

que, em alguns momentos, me provocou alguma confusão. Progressivamente,

e com a ajuda da professora cooperante e colegas estagiários, foi possível

delinear estratégias coletivas para otimizar esta função. Na reflexão do final do

2º período letivo, faço referência à necessidade de melhorar o planeamento e a

gestão que faço das aulas, para promover uma rápida e eficiente transição

entre os exercícios. Esta foi uma das preocupações em que me centrei no

decurso do 3º período letivo e penso que me aproximei daquilo que objetivara.

No contexto de jogo procurei avaliar a execução

motora dos alunos e perfilar a forma como ocupam o

espaço. A extensão da área de jogo aqui revelou-se um

entrave ao entendimento claro do nível de jogo dos

alunos. Foi também, bastante difícil avaliar os alunos de

acordo com os critérios que tracei, por questões de ordem

diversa. O tempo, o desconhecimento de alguns nomes e

as demandas da gestão da aula, foram aqueles que mais

influenciaram a falta de eficiência na concretização deste

propósito. Assim, adotei um plano diferencial e atribui uma

nota geral a cada aluno. Preferi adotar esta estratégia, em

virtude da solicitação do preenchimento de instrumentos

de observação a colegas estagiários, porque se coaduna

mais com aquilo que vou encontrar na escola. O estágio

é, acima de tudo, um teste. Foi, no entanto, possível

observar que a maioria dos alunos se encontra numa fase

de organização anárquica do jogo.

86

No final, fiz uma revisão sumária dos conteúdos e

fiz a ponte com o que serão as próximas aulas. Deveria

ter sido mais eficiente na solicitação de ajuda aos alunos

para arrumar o material, sobretudo aqueles que não

realizaram aula. (Reflexão da Aula nº6 – 25 de outubro de

2011).

4.1.4.4. Instrução

A instrução é uma técnica de comunicação que poderá ser desenvolvida

de forma verbal e de forma não-verbal. O seu propósito fundamental é veicular

a informação que o professor julga essencial para a atividade. Rosado e

Mesquita (2009, p. 69) advogam que “a capacidade de comunicar constitui um

dos fatores determinantes da eficácia pedagógica no contexto de ensino das

atividades físicas e desportivas. Esta envolve a transmissão de elementos

informativos mas, também, um efeito persuasivo, abrangendo processamento

consciente e inconsciente.” Assim, não só a informação é importante, mas

também a estratégia que se usa para a transmitir aos alunos. A recetividade

deles estará dependente destas estratégias e da capacidade do professor

captar a atenção do aluno. A instrução é uma ferramenta essencial para o

sucesso de uma atividade. Deve portanto, ser objetiva e centrar-se nas

palavras-chave para dar ao aluno uma ideia clara e particular da sua missão.

Por isso, a informação fornecida pelo professor é geralmente superior àquela

que o aluno consegue, efetivamente, tratar. Torna-se fundamental hierarquizar

a informação e dar destaque àquilo que consideramos mais importante,

adequando estímulos próprios para captar a atenção do aluno.

Siedentop (1991) faz referência a três momentos, em que é emitida

informação: (1) antes da prática, recorrendo-se a preleções, apresentação de

tarefas, explicações e demonstrações; (2) durante a prática, através da

87

emissão de feedbacks; (3) após a prática, pela análise referenciada à prática

desenvolvida.

Rink (2006, pp. 179-187) aponta para a necessidade de um “padrão de

instrução”, um quadro de referência para a comunicação de conteúdo ao aluno,

com o objetivo de organizar os papeis do aluno e do professor. A mesma

autora, faz referência à dualidade na decisão de optar por uma instrução direta,

pautada por uma instrução verbal e não-verbal com uma alusão clara,

descritiva e analítica do conteúdo, ou por uma instrução indireta, que se refere

a um tipo de abordagem mais holística, em que o aluno assume uma maior

responsabilidade no processo de ensino-estudo-aprendizagem, testando a sua

capacidade de decisão. A instrução direta parece ser mais eficiente quando em

matérias com maior descrição técnica e com menor complexidade. Enquanto

que, a instrução indireta se aplica a conteúdos com maior exigência cognitiva.

Não há nenhum modelo que seja adequado a todos os envolvimentos de

aprendizagem (Rink, 2006). O professor deve considerar o aluno como uma

singularidade, com dificuldades, experiências e motivações, diferenciais e

específicas. O compromisso entre a extensão do conteúdo-alvo, experiências

do aluno, motivação e auto perceção da competência constitui uma questão

que o professor deve colocar antes de delinear o processo de instrução, sendo

este que confere validade ecológica aos modelos de abordagem selecionados

para o ensino de determinado conteúdo. Mesquita e Graça (2009, pp. 39-68)

destacam três modelos prevalecentes no Ensino da Educação Física, a que

farei, seguidamente, uma breve referência.

O Modelo de Instrução Direta (MID) é recorrentemente utilizado no

contexto do ensino da Educação Física e no Treino Desportivo, evidenciando

eficácia no ensino de habilidades em contextos de baixa interferência

contextual, apanágio das etapas iniciais de prática. A ênfase é colocada no

modo como o professor estrutura o ensino, com particular destaque das

estratégias instrucionais que elege e do padrão de envolvimento dos alunos

nas tarefas de aprendizagem. Neste modelo são privilegiadas estratégias

instrucionais de carácter explícito e formal, em que a monitorização e o controlo

estreito das atividades dos alunos são a nota dominante.

88

O Modelo Desenvolvimental (MD) proposto por Rink (2006) situa o

enfoque no tratamento didático dos conteúdos, dá um contributo inestimável à

planificação e estruturação da matéria de ensino no contexto das atividades

físicas e desportivas. A relação que a autora estabelece entre a didática e a

matéria confere relevância ecológica ao processo de instrução, porquanto a

sua estruturação reflete a adequação dos princípios didáticos à especificidade

da matéria de ensino. Este entendimento supõe que a matéria de ensino não é

interpretada como portadora de esquemas ou sequências de ação rígidas a

aplicar em todos os casos isolados, elucidando, bem pelo contrário, acerca da

forma como o ensino é planificado, preparado, realizado, analisado e avaliado,

no sentido de ofertar ao conteúdo a viabilização da sua aprendizagem.

Para que os praticantes obtenham bons níveis de desempenho é

necessário apreender o nível concreto dos conhecimentos e das suas

capacidades, e estabelecer a relação entre a zona de desenvolvimento atual e

a zona do próximo desenvolvimento, pressupondo a passagem de uma para a

outra através da utilização de ações com exigências crescentes, mas passíveis

de concretização. Logo, trata-se de adequar as exigências, e características

das tarefas de aprendizagem à capacidade de resposta dos praticantes. Neste

sentido, o professor pode facilitar a aprendizagem se: estabelecer prioridades

nos conteúdos de aprendizagem e os estruturar, conferindo-lhes determinada

lógica, e os sequenciar criteriosamente (progressão); visar o seu

aperfeiçoamento através da sua exercitação e consolidação (refinamento);

proporcionar oportunidades para a sua utilização em condições inabituais ou de

exigência de rendimento (aplicação).

O Modelo de Educação Desportiva (MED), apresentado por Siedentop

(1982), ao filiar-se nas ideias construtivistas e por sustentar-se no Modelo de

Aprendizagem Cooperativa, afasta-se claramente do MID, privilegiando a

adoção de estratégias mais implícitas e menos formais no processo de ensino-

aprendizagem. Este modelo surge da necessidade percebida por Siedentop de

colocar a educação lúdica (Play Education) num lugar de destaque nas

orientações curriculares da Educação Física. A implementação de ambientes

de prática propiciadores de experiencias desportivas autênticas coloca a

89

competição na charneira do processo de ensino-aprendizagem, resolvendo o

autor de uma assentada equívocos e mal entendidos na relação da escola com

o desporto (Mesquita & Graça, 2009). De facto, o autor tomou consciência de

que a falta de contextualização da atividade das abordagens tradicionais é o

elemento que corrói o significado das aprendizagens. O MED ganha relevância

e particular interesse pedagógico ao salientar as componentes afetivas e

sociais na formação dos alunos, porquanto inerente à competição há a

preocupação em diminuir os fatores de exclusão, lutando por harmonizar a

competição com a inclusão. As componentes afetivas e sociais são

acauteladas, os níveis de motivação das crianças para as aprendizagens são

incrementados, assim como o desenvolvimento do gosto por uma vida ativa

que passe, inequivocamente, pela prática desportiva.

É tarefa dos professores desenvolverem a sua capacidade de

observação e análise das respostas dos alunos face ao que lhes é proposto

realizarem, só assim é possível tornar os feedback’s dados aos alunos de

acordo com a sua performance (Rink, 2006).

Feedback Pedagógico

O feedback pedagógico é, aceita-se hoje sem grandes reservas, dos

comportamentos de ensino do professor o mais influente na aprendizagem dos

alunos e, talvez por isso, o mais estudado.

De acordo com Mesquita e Graça (2009), o feedback cumpre,

simultaneamente, duas funções: urna de informação, outra de reforço.

Proporciona ao aluno informações relativas a execução e ao resultado do

movimento. São estas informações que vão constituir o referencial fundamental

quer para a avaliação da execução do movimento face ao programa

preestabelecido quer para eventuais correções.

A intervenção do professor repercute-se sobre a estrutura motivacional

do aluno, isto é, sobre a motivação e disponibilidade para a atividade

reforçando-a ou modificando/a. Em consequência da valorização crescente do

90

papel da atividade dos alunos na sua própria aprendizagem, isto é, daquilo que

os alunos fazem para aprender, a preocupação dos investigadores tem-se

vindo a transferir progressivamente dos aspetos de natureza mais quantitativa

do feedback (frequências, taxas de emissão, variabilidade das taxas segundo a

experiência profissional dos professores, o nível de escolaridade dos alunos, a

matéria de ensino, etc.) para aspetos de natureza mais subjetiva e de mais

difícil observação e análise, tais como, nomeadamente, os processos

cognitivos desenvolvidos pelo aluno para reagir ao feedback (receção,

tratamento e armazenamento da informação).

As funções e os comportamentos do professor devem propiciar um ambiente

seguro de aprendizagem, assim, é importante que em qualquer aula sejam

fornecidos aos alunos feedback’s, de forma a mantê-los empenhados e

motivados na tarefa.

Os feedbakc’s podem variar consoante o objetivo (avaliativo, descritivo

ou prescritivo). O avaliativo dá informações ao aluno do seu desempenho. O

desvritivo que será um reforço daquilo que deve ser feito ou aquilo que foi feito

incorretamente. O prescritivo será uma enunciação de uma informação

adjacente.

Poderão também diferenciar na direção, isto é, se são dirigidos

individuo, a um grupo de aluno ou a toda a turma. A forma do feedback poderá

ser: visual, quando utiliza um modelo visual; auditiva, através do estímulo

sonoro; cinestésico, através do toque ou mista, juntando um ou mais deste

fatores. Para além disso, podem diferir no momento (durante, após e

retardado).

Os feedback’s são coerentes, quando o conteúdo do feedback coincide

com o foco de observação e com a indicação dada para a realização da tarefa;

ou incoerente, quando é dada informação importante ao aluno, mas que não

está especificada no foco tarefa. Quando o docente dá bastantes feedback’s

coerentes, o seu ensino fica mais direcionado e focalizado.

Podem também ser gerais ou específicos, sendo que, os primeiros, são

mais usados em jovens ou iniciantes. Relativamente aos feedbacks

específicos, mantêm a atenção dos alunos assim como lhes são mais úteis. A

91

influência na motivação dos alunos é também diferente dado que os feedbacks

gerais positivos são mais motivantes. Em ambos os casos, para serem

eficazes, deve-se verificar que os alunos os compreenderam porque, mais que

saber aplicar os feedbacks no momento, é importante que os alunos sejam

capazes de realizar a transferência desses conhecimentos para outras tarefas.

Daí a importância da sua qualidade que depende da especificidade dos

objetivos, do conhecimento acerca das habilidades a serem treinadas e da

capacidade de observação do professor (Rink, 2006, pp. 153-157).

Tomando este legado teórico como pressuposto para o desenvolvimento

da minha atividade, adotei um “padrão de instrução” que encaixa, grosso modo,

nos propósitos e na metodologia enunciada pelo MD e pelo MID. De facto,

tomei, desde logo, em consideração as características da turma e o parecer da

Professora Cooperante, face às estratégias de intervenção para proporcionar

uma melhor experiência “ensino-aprendizagem”. Assim, exclui a adoção,

integral ou parcial, do MED, devido à incapacidade da turma de lidar com a

responsabilidade e, mesmo, a alguns casos de dificuldade em lidar com

situações eminentemente competitivas. Devido a estas singularidades e, dado

que uma das prioridades nesta turma era incutir disciplina aos alunos, optei por

incumbir-me de todos os momentos de organização da aula, integrando os

alunos apenas em casos esporádicos e controlados.

Seguidamente, baseio-me em alguns excertos de reflexões de aulas

espaçadas no tempo, para enfatizar algumas dificuldades que tive ao nível da

instrução e as estratégias de resolução adotadas.

Solicitei a ajuda de uma aluna que não fez aula

para distribuir os sinalizadores e definir a área do

exercício posterior. Os alunos estiverem empenhados na

atividade durante o exercício de “passe” e “drible” e

consegui focar-me no feedback durante estes momentos.

No exercício de “drible de progressão” foram feitos ajustes

92

para aumentar o percurso, mas deveria ter sido definida,

porventura, uma marca exata para a execução do passe.

Ao invés disso, disse aos alunos para o realizar a uma

distância ajustada em cada situação, mas nem todos têm

uma noção clara de relação com bola no espaço. O

exercício de “drible de proteção” foi demasiado complexo

para alguns alunos. Deveria ter focado a instrução em

menos aspetos e adaptar as condições de exercitação ao

seu nível, sobretudo, tendo em conta que era a introdução

do conteúdo. A instrução, julgo ter sido boa, mas tornou-

se difícil contemplar toda a audiência a uma distância tão

grande. Teria sido uma estratégia mais adequada reunir

os alunos.

O “lançamento em apoio” foi também um conteúdo

alvo de função didática introdutória, apesar de já terem

sido emitidos alguns feedbacks na aula de avaliação

inicial. Contudo, apercebi-me que os alunos tiveram

dificuldades em integrar o gesto técnico na instrução ao

grupo. Por isso, circulei pelo espaço para explicar

individualmente. Sei que foi uma estratégia arriscada e

prolongou o tempo de exercitação, mas potenciou a

aprendizagem dos alunos (Aula nº26 e 27 – 6 de janeiro

de 2012).

Nesta aula, os alunos estiveram interessados e

concentrados na atividade o que facilitou, sobremaneira o

controlo da turma e a gestão do tempo entre exercícios. A

sequência lógico-organizativa da aula também foi

facilitadora das transições. Julgo ter-me focado no

essencial, aquando da instrução. Dei especial enfase à

“manchete”, conteúdo que havia sido introduzido na aula

transata e que, portanto, os alunos ainda não dominam e

93

parei algumas vezes a exercitação para relembrar ideias

chave. As condições de exercitação foram facilitadoras da

aprendizagem. Deverei, contudo ser mais exigente na

mobilização articular, para adequar os exercícios

estritamente aos conteúdos abordados e para intervir com

feedbacks individualizados (Aula nº46 – 29 de fevereiro

de 2012).

Para esta aula de dia 1 de Junho continuei as

temáticas que tenho abordado no espaço exterior,

associados ao Atletismo. A “velocidade” e “corrida de

barreiras”

Inicialmente, os alunos foram avaliados na “corrida

continua” e cumpriram com os propósitos. Procurei estar

envolvido neste processo, motivando ou corrigindo alguns

alunos. Julgo que alguns nem sempre se dedicam com o

rigor necessário a este exercício, ou por letargia ou por

desconsideração. Por isso, julgo ser necessário insistir

constantemente no valor deste conteúdo e na

necessidade de superação subjacente. Com o

desenvolvimento da aula, a “corrida de barreiras” teve

uma abordagem técnica, que impelia à atenção total dos

alunos. Em determinados casos, alguns alunos estavam

distraídos durante a instrução. Progressivamente e à

medida que as variantes e correções foram introduzidas,

julgo que o exercício decorreu de acordo com o esperado,

num ambiente favorável à aprendizagem (Aula nº 76 e 77

– 1 de junho de 2012).

94

4.1.5. Avaliação

Avaliação pode ser facilmente confundida com uma comparação com os

outros, para os alunos. Esta função deve ser compreendida como uma análise

do aluno com vista à melhoria do seu processo de aprendizagem e não como

uma sentença.

“A reflexão posterior à aula, o controlo e análise do processo de ensino e

do rendimento dos alunos, constituem um domínio no qual se passa em revista

a sua planificação e realização. Através desta análise determina-se o grau de

realização dos objetivos, das intenções educativas e metodológicas e

inventariam-se os resultados mensuráveis da ação de aprendizagem dos

alunos” (Bento, 2003, p. 174). Este mesmo autor, refere três etapas, em que o

processo de avaliação normalmente ocorre: a primeira, no decurso da aula,

através das observações tomadas pelo professor; na parte final da aula,

utilizando a retrospetiva dos resultados da aula; após a aula e em casa, análise

e avaliação dos resultados e do processo de ensino desenvolvidos pelo

professor.

Parece escassa a representação de uma nota de uma única

oportunidade de avaliação, de um resultado, obtido numa situação desfasada

da realidade, onde os alunos só possuem uma hipótese de demonstrar o que

sabem, ao contrário de se constituírem com o espelho dos resultados

conseguidos ao longo do tempo. A avaliação é muito mais que uma mera

formalidade, é uma função didática rigorosa que atribui significado ao processo

de ensino, pela atribuição de mérito que lhe está associada. Se a diferenciação

que deve existir entre os alunos, não for devidamente fundamentada pelo

professor com base em critérios claros e expostos desde o início do ano, então

não se poderá exigir dos alunos o rigor necessário neste processo.

Contudo, a avaliação expressa um leque variados de tarefas nas quais

se espera que os alunos demonstrem as suas capacidades, conhecimentos e

aplicação do conteúdo. Espera-se que, entre os momentos de avaliação, os

resultados dos alunos sigam uma lógica de apropriação de capacidade de

95

resposta aos elementos apresentados. Para que haja um compromisso válido

dos alunos neste processo, as situações de exercitação e de avaliação devem

refletir em situações-problema do quotidiano, para que eles percebam

claramente a utilidade da integração dos elementos apresentados.

O aluno é comparado com critérios específicos a cada matéria e esses

critérios devem ser sequenciais e relativos ao que foi ensinado. Paralelamente,

é necessário socorrer os alunos com tempo de aprendizagem e com

feedbacks, para corrigir aquilo que detetamos como incorreto ao longo das

aulas. Assim, a avaliação não está somente relacionada com a nota. Deve ser

vista como um processo que acompanha todo o desenvolvimento de uma

unidade temática, desde o momento inicial, marcado pela “avaliação inicial”, no

decurso da exercitação através da “avaliação formativa”, e num momento final

pautado por uma “avaliação sumativa”. A avaliação formativa pretende

determinar o desenvolvimento do aluno ao longo de uma unidade temática, no

sentido de identificar dificuldades e de lhes dar solução. A avaliação sumativa

corresponde a um balanço final, sobre o qual, até aí, só haviam feitos juízos

parcelares. A nota do aluno deve repercutir todo esse processo e as respostas

que foram atribuídas pelo aluno aos diferentes estímulos. Na avaliação

sumativa a informação recolhida é, usualmente, usada para determinar a

relação entre (1) o que o aluno consegue fazer e (2) o que os outros alunos

conseguem fazer ou o que é que o professor estabeleceu como objetivo.

Quando um aluno é avaliado tendo como ponto de partida o que os outros

conseguem fazer, é a chamada avaliação referenciada. A avaliação que adotei

é chamada de avaliação critério-referenciada, ocorrendo quando os alunos são

avaliados e o professor é que decide os objetivos. A diferença entre avaliação

critério-referenciada e referenciada é então a norma que se utiliza para

comparar.

A avaliação no ensino deve incluir três domínios: avaliação cognitiva,

afetiva e psicomotora e pode ser realizada através de diversas técnicas de

recolha de informação tanto formais como informais. A avaliação formal é mais

utilizada quando cada aluno já possui a informação completa e adquirida. São

exemplos de avaliação formal os testes escritos, os vídeos de performance e

96

os testes de capacidades físicas. Não obstante, é necessário definir o melhor

critério para avaliar o aluno, antes de nos cingirmos a um método específico de

avaliação (Rink, 2006).

4.1.5.1. Avaliação Inicial

A função deste tipo de avaliação é, referente ao momento de avaliação

inicial (início do ano ou de uma unidade temática), procurando fornecer

indicações sobre a posição do aluno face a novas aprendizagens, fazendo-se

assim, uma prognose para objetivos a alcançar durante o processo ensino-

aprendizagem. E dada a sua natureza diagnóstica (levantamento de

informação), os dados recolhidos devem funcionar apenas como indicadores

para o professor. De acordo com Carvalho (1994), trata-se de uma avaliação

de natureza prognóstica que ajuda a identificar necessidades e possibilidades

de desenvolvimento dos alunos nos diferentes temas propostos no currículo

nacional.

O objetivo não é atribuir uma classificação, mas sim verificar em que

nível de desempenho se situa o aluno de acordo com as componentes críticas

dos vários conteúdos.

“Comecei por explicar aos alunos a origem do

Basquetebol, numa linguagem própria e adequada aos

seus interesses e experiências. Os alunos estiveram

interessados em ouvir. Aproveitei também, para explicar

que as notas estavam em grande parte dependentes do

comportamento que tinham na aula, bem como a

aprendizagem e que todos poderiam, com empenho,

atingir uma avaliação positiva.”…“A evolução da aula

contemplou a abordagem de diferentes conteúdos pela

primeira vez e, apesar de estar subordinada à “avaliação

97

inicial” foi necessário introduzir aos alunos as diferentes

determinantes técnicas.” (Reflexão da Aula nº23 e 24 – 16

de Dezembro de 2011)

4.1.5.2. Importância da Avaliação Formativa

“A aposta essencial da avaliação formativa é tornar o aluno ator da sua

aprendizagem; nesta perspetiva a avaliação formativa é interna ao processo; é

contínua, analítica e mais centrada sobre o aprendente do que sobre o produto

acabado”

Petitjean (citado por Abrecht (1994, p. 31)

Uma unidade temática representa uma projeção futurista de um

desenvolvimento hipotético dos alunos face a um plano de lecionação. É um

instrumento importante para guiar a ação pedagógica e para lhe atribuir um

significado a longo prazo. Não obstante, a unidade temática não pode ser vista

como uma ferramenta empedernida e obstipada que demarca os trilhos de toda

a ação pedagógica. As prognoses são, geralmente, munidas de um

considerável grau de incerteza, que não pode ser compatível com o ensino.

Não podemos arriscar a “possibilidade” de ensinar. Para que a planificação

possa ser renovada, de acordo com as respostas e as necessidades do aluno,

é crucial que todo o processo seja alvo de avaliação. Assim, não só o professor

deve avaliar o aluno, como também o aluno pode e deve ter uma perspetiva

autocrítica em relação ao seu desempenho e ao seu desenvolvimento no

sentido de aprender. É nesta necessidade circunstancial de mudar, de

diferenciar, de contextualizar que a avaliação formativa ganha peso e medida.

Por isso a “avaliação formativa processa-se na intimidade da relação professor-

aluno, ou mesmo no interior da autoanálise feita pelo aluno ou pelo

professor”(Cortesão, 1993, p. 12).

A avaliação formativa é de carácter contínuo, isto é, tanto pode ser

utilizada durante a ação pedagógica de acordo com a resposta dos alunos e,

com vista à adaptação do processo ao nível e às necessidades dos mesmos,

98

como também pode ser utilizada no final da aula ou de um ciclo de aulas para

redefinir estratégias e avaliar os resultados. No entanto, este tipo de avaliação

preocupa-se mais com o processo do que com os resultados propriamente

ditos. De acordo com Abrecht (1994, p. 125), “a avaliação formativa, ao dar

possibilidade ao aluno de se situar no processo de aprendizagem, transmite-lhe

tranquilidade, ao contrário da nota, que mantém um clima de insegurança:

nunca nada está adquirido, e se uma nota é boa, a seguinte continua a ser um

risco”. Acredita-se que com a melhoria do processo, o resultado será

forçosamente melhorado, mas o propósito central deste sistema é a criação de

uma aprendizagem duradoura e diferencial. O aluno é o protagonista da sua

aprendizagem e dispõe de autonomia para construir o seu percurso de

aprendizagem, que só é relevante se o aluno revelar interesse e envolvimento

pessoal. O processo de formação é por isso adaptado às características

individuais de cada aluno e permite um ensino particularizado. Durante as

minhas aulas procurei enfatizar este tipo de avaliação, proporcionando uma

avaliação constante com vista à melhoria e à aproximação dos critérios que

estabelecia (avaliação critério-referencial). Assim, o aluno conhecia sempre os

seus principais handicaps e trabalhava, com a minha ajuda e supervisão, para

os suplantar.

Pretende-se assim que o aluno entenda a aprendizagem como uma

construção, ao invés de a contemplar como uma transmissão produtiva, na

qual desempenha o papel de produto e não percebe claramente a importância

do processo. O aluno é o cerne do processo de ensino-aprendizagem e, por

isso, deve ser também um ator do seu aprendizado. É ao aluno, que em última

instância, cabe a responsabilidade de desenhar o seu itinerário.

Podemos traçar a diferença entre a avaliação formativa e a avaliação

sumativa, através da definição do papel do erro em cada uma delas. Enquanto

a verificação dos conhecimentos adquiridos no final de um período (avaliação

sumativa) implica a consideração do erro como uma “falta” definitiva de algo

(uma vez que não se pretende voltar mais a ele), no enfoque da avaliação

formativa, essa falta é apenas momentânea. A falta apontada pelo erro é,

99

então, considerada como parte integrante do processo de aprendizagem

(Abrecht, 1994).

Em suma, a função formativa é aplicada no decorrer do processo de

ensino-aprendizagem servindo como uma forma de controlo, que visa informar

sobre o rendimento do aluno, sobre as deficiências na organização do ensino e

sobre uma possível regulação, apontando e corrigindo os pontos fracos, até ser

atingido o objetivo proposto

4.1.5.3. Avaliação Final

A Avaliação Final faz uma síntese das aprendizagens realizadas pelo

aluno. É um balanço final do trabalho desenvolvido pelo mesmo e reflete a

qualidade do processo de ensino-aprendizagem, sintetizando num juízo

globalizante o grau de desenvolvimento dos conhecimentos, competências,

capacidades e atitudes do aluno, no final de um período de ensino e

aprendizagem. E ao contrário da avaliação inicial ou formativa, esta atribui uma

classificação/nota ao aluno.

A Ficha de Avaliação Final tem o mesmo formato que a Ficha de

Avaliação Inicial. Apresenta todos os conteúdos da disciplina e avalia o aluno

de acordo com os critérios de classificação que este consegue cumprir,

permitindo assim, ver se o mesmo melhorou e ascendeu quanto ao nível de

desempenho em que se situava no primeiro momento de avaliação.

“Nesta décima terceira aula referente à Unidade

Temática de Basquetebol, planeei a avaliação final dos

alunos. Porém, não atribui o carácter formal que uma aula

deste cariz deve ter. Embora tenha assumido e delineado

com os alunos que estariam a ser avaliados deveria ter

moldada os exercícios de forma a tornar essa função

completamente percetível numa lógica de disposição mais

organizada. Por isso mesmo, para que a avaliação possa

100

ser mais séria e eficaz será necessário designar um

momento específico para isso. Confesso que ainda tenho

bastante dificuldade em operacionalizar os registos

referentes a cada aluno nestes momentos. Por isso, será

também mais fácil para mim se este processo seguir uma

ordem linear.” (Reflexão da Aula nº34 – 25 de Janeiro de

2012).

“A aula terminou com a avaliação em situação de

“jogo 1x1” numa lógica de cooperação, objetivando a

sustentação de bola. Apesar de algum tumulto e de

alguns comportamentos disruptivos, foi possível avaliar os

alunos em todos os critérios estabelecidos e também

consegui atribuir feedbacks no sentido de melhorar o seu

desempenho. Penso que, mesmo sendo uma aula de

avaliação há sempre oportunidade para ensinar e para

aprender.” (Reflexão da Aula nº 53 e 54 – 16 de Março de

2012).

A associação da avaliação critério-referenciada como um processo de

análise e observação do comportamento motor dos alunos, pode ser uma

tarefa difícil. É necessário, primeiramente, exercer um bom controlo sobre os

alunos, para não divergir do foco de avaliação, o que durante as primeiras

avaliações não consegui atingir. Acrescentando a isto, senti dificuldades em

conceber uma ficha de critérios prática e fácil de preencher. Refleti sobre estas

questões e debati as minhas dificuldades com a professora cooperante e com

os colegas estagiários. Esta dificuldade inicial foi facilmente ultrapassada e,

consegui utilizar um processo de avaliação claro, que me proporcionou uma

boa ideia dos alunos, do seu desenvolvimento e das componentes cognitiva,

afetiva e psicomotora.

101

4.2. Área 2 e 3 – Área Participação na Escola e Relações

com a Comunidade

O professor exerce a sua atividade profissional, de uma forma integrada,

no âmbito das diferentes dimensões da escola como instituição educativa e no

contexto da comunidade em que esta se insere (Decreto-Lei n.º 240/2001)5.

Todos os ciclos sociais integrados na escola estão eminentemente

relacionados com o papel do professor, como elemento imprescindível à

consolidação das estratégias de ensino. Neste sentido, como professor-

estagiário interagi com a comunidade através das atividades desenvolvidas

pela escola e pelas funções que me foram destinadas dentro do núcleo de

estágio, nomeadamente a função de assessoria à direção de turma.

4.2.1. Direção de Turma

O papel do DT

O diretor de turma, é um elemento integrante e é eleito pelo conselho de

turma. Esta eleição, pode ter vários aspetos em conta, desde logo aspetos

legislativos, o perfil do indivíduo e elementos humanos e de gestão curricular.

O trabalho de direção de turma passa por alguns elementos mais ou menos

sequenciais que são indispensáveis à realização da função, passando pela

consulta de Projeto Curricular de Turma e Relatório de Direção de Turma do

ano transato, pela consulta do processo individual do aluno e dos documentos

estratégicos (PE6, PAA7 e RI8). Estes elementos ajudam a desenvolver

estratégias de recuperação e devem integrar a participação da escola,

5 Lei de Bases do Sistema Educativo

6 Projeto de Escola

7 Plano Anual de Atividades

8 Regulamento Interno

102

simultaneamente com os encarregados de educação. As reuniões individuais

com estes elementos ajudam a conhecer aspetos pessoais dos alunos que

podem ser importantes para ocorrências futuras ao longo do ano escolar.

Depois desta fase é possível preparar e coordenar a 1ª reunião do conselho de

turma, promover e elaborar a articulação do Projeto Curricular de Turma e

iniciar a caracterização da turma. Ao longo do ano podem ser realizadas várias

reuniões de conselho de turma, cabendo ao diretor de turma planear e orientar

o seu decurso. A ação deste elemento integra também elementos de

intervenção sistemática com os alunos, através da regulação de

comportamento, aproveitamento, assiduidade/pontualidade, faltas, problemas

de recreio, desaparecimento de material, etc.

Assessoria das funções de DT

No decurso do meu Estágio Profissional no Agrupamento Vertical Clara

de Resende, fui responsabilizado pelo auxílio das funções de direção de turma,

na turma do 12ºB, sob direção da professora cooperante.

Assim sendo, as funções que desempenhei foram, sobretudo, de auxílio,

e de aprendizagem subsequente. Estive presente em todas as reuniões de

conselho de turma e de direção de turma do ensino secundário. Nestas

reuniões aprendi bastante sobre o funcionamento da escola e a forma como

são operacionalizadas as normativas provenientes do Ministério da Educação e

as estratégias implementadas. O Diretor de Turma desempenha um papel

crucial, é uma ponte entre aquilo que exteriormente afeta a escola, a sua

interpretação e a veiculação dessa informação aos alunos, encarregados de

educação e os demais professores.

Os alunos vêm no Diretor de Turma um professor responsável pelo

auxilio em questões diversas, por todas as questões afetas à vida escolar e,

outras que transpõe, muitas vezes, os limites da escola. De facto, “o DT

assume-se com o papel de “tutor” (no sentido de protetor, conselheiro,

regulador/estabilizador e orientador do desenvolvimento pessoal e intelectual

103

do aluno), definindo-se como um professor que conhece bem os seus alunos,

que coordena e lidera uma equipa pedagógica, que aproxima todos os

elementos dessa equipa e que estimula e monitoriza a conceção e a realização

de projetos e das atividades que estes projetos envolvem. Ele é o elo de

ligação entre Escola/Aluno, Escola/Pais-EE, Alunos/Escola.” (Silva, 2007, p.

45). Por isso, o cargo de Diretor de Turma é imbuído de uma grande

responsabilidade e é imprescindível ao normal funcionamento da escola como

organização.

Para além das reuniões, uma das tarefas, relativas à Direção de Turma,

em que despendi mais tempo foi o processamento das faltas, cujos métodos

foram partilhados pela Professora Cooperante.

“A reunião de direção de turma do dia 27 de

Setembro de 2011, foi moderada pela professora Maria

José Sousa Cardoso. Com a presença de 9 pais de

alunos da turma 12ºB. As temáticas nucleares abordadas

nesta reunião foram: apresentação da diretora de turma;

eleição do representante dos encarregados de educação;

discussão sobre questões relativas ao acesso ao ensino

superior.

A grande maioria dos pais já conhecia a diretora de

turma e os procedimentos básicos da instituição. Assim, a

reunião decorreu com brevidade e sem incidências dignas

de referência.” (Reunião com Encarregados de Educação

- 27 de Setembro)

104

4.2.3. Participação em atividades escolares

Reuniões de Equipa Pedagógica e Coordenação Curricular

As REP’s (Reuniões de Equipa Pedagógica) constituíram um ponto de

debate de estratégias pedagógicas e confrontação dos diferentes professores

com o diretor de turma. Este espaço permitiu uma convergência de informação

relativa aos alunos e um meio de intervenção coletiva com grande valência no

contexto prática. Foi também importante para travar conhecimento com os

professores da turma e os problemas que vivenciaram nas suas áreas de

intervenção. Foram semanalmente intercaladas com as CC’s (Reuniões de

Coordenação Curricular). Estes momentos são importantes para o debate de

estratégias e reformulação do currículo face ao calendário e às particularidades

da escola. Contudo, os professores nem sempre mostraram disposição para

tornar estas reuniões uteis.

4.2.4. Dinamização de atividades pelo Núcleo de Estágio

Clara Solidária

O projeto “Clara Solidária”, pelas suas características, motivou,

sobremaneira, o meu interesse. Assim sendo, participei ativamente naquilo que

julgo ser um imprescindível contributo social e uma mobilização necessária de

esforços.

Este projeto fundamentou-se na necessidade de angariar bens

alimentares para a instituição “Lar de Idosos das Irmãzinhas dos Pobres”.

As funções que nos foram atribuídas foram, sobretudo, de ordem

organizativa. Para divulgação da ação desenvolvi o cartaz e o logotipo do

evento “Clara Solidária”, orientado por um professor de Educação Visual. Além

105

disso, fomos responsabilizados, em turnos, pelo controlo dos bens e pela sua

contagem. Os bens recolhidos estão afixados em anexo.

Tive oportunidade de visitar o local e de dialogar com a irmã chefe da

instituição, que me demonstrou os diferentes espaços da casa e falou sobre as

carências que ultrapassam para manter aquele espaço funcional. O

agradecimento que nos foi destinado, foi muito compensador. Espero que este

tipo de iniciativas seja mantido e que no meu futuro, como professor, possa

participar em eventos com finalidade análoga.

Torneio de Futebol

O Torneio de Futebol 5x5 decorreu no dia 23 de Março de 2012 e

destinou-se aos alunos do Ensino Secundário do Agrupamento Vertical Clara

de Resende. Participaram alunos de 12 turmas, quatro do 10º ano (A;B;C;D),

cinco do 11º (A;B;C;D e E) e três do 12º ano (B;C e E), num total de noventa e

quatro - oitenta e três como jogadores e onze árbitros.

O torneio realizou-se em duas fases, uma de Apuramento, realizada

durante a manhã e organizada numa lógica de eliminatórias, em nove jogos;

uma segunda fase de Campeonato que decorreu da parte da tarde (das 15.00

às 16.30h) na qual, todas as equipas apuradas, jogaram umas com as outras,

num total de três jogos.

Na primeira fase as equipas foram sendo eliminadas a cada derrota. Na

fase de campeonato optou-se por um sistema de pontuação. Foram atribuídos

três pontos por cada vitória e um por cada empate. A equipa com maior

número de pontos, no final dos três jogos, foi a vencedora do torneio.

Como aspetos positivos realçamos a boa organização e gestão do

tempo das atividades, a distribuição de tarefas e a ocupação racional do

espaço, com uma zona de jogo, uma zona de aquecimento e uma área

adequada para os espectadores. A integridade física dos intervenientes esteve

assegurada durante o torneio e o ambiente foi descontraído e alegre.

106

Como aspetos negativos destacamos o facto de terem desaparecido

duas bolas. Uma, das novas, foi “roubada” por um aluno da escola, quando

saltou do espaço do jogo. O aluno, a pedido dos colegas, apanhou-a e em vez

de a entregar levou-a com ele. Este aluno está identificado e no início do

terceiro período será confrontado com este facto. A outra bola, muito velha, foi

emprestada aos alunos para “aquecimento”.

O torneio correu de acordo com as expetativas e pensamos ter sido uma

mais-valia para a vivência desportiva dos intervenientes, que desempenharam

os papéis de jogadores e árbitros.

4.2.5. Balanço

As atividades que desenvolvi no decurso do ano de Estágio Profissional,

permitiram conhecer melhor o meio onde me integrei e relacionar-me com os

diferentes agentes que envolvem a comunidade e que, de alguma forma,

participam nestas ações. É sabido que as funções do professor não se limitam

às paredes de uma sala de aula ou de um ginásio, transcendem para lá da

mera transmissão de conhecimentos. Com o desenvolvimento destas ações o

professor apresenta-se como um modelo ativo na sociedade, capaz de

conhecer e potenciar dinâmicas de envolvência social. Para além disto, os

canais de comunicação criados nestas ocasiões, bem como o planeamento

que lhe está associado são preponderantes para desenvolver conhecimentos e

competências imprescindíveis à atividade de docente.

107

4.3. Área 4 – Desenvolvimento Profissional

“É preciso que, pelo contrário, desde os começos do processo, vá

ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se

forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser

formado. É neste sentido que ensinar não é transferir conhecimentos,

conteúdos nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou

alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as

duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não

se reduzem à condição de objeto, um do outro.”

(Freire, 2007, p. 12)

Esta área é destinada ao meu desenvolvimento pessoal, como

aluno/professor estagiário. Reflete, portanto, as minhas vivências e as minhas

experiências no seio da escola e forma como as minhas interpretações e

reflexões servem para o meu crescimento como profissional neste âmbito. As

trocas com o meio e com os atores que o compõe foram fundamentais para

ultrapassar dificuldades e para delinear estratégias de resolução.

O Portefólio Digital e o Projeto de Formação Individual foram constructos

importantes para o desenvolvimento do Relatório de Estágio e contribuíram

para refletir sobre a prática e construir a minha identidade profissional. A isto

acrescento o desenvolvimento do Projeto de Investigação-Ação, como um

elemento imprescindível para me confrontar com as dificuldades inerentes à

prática.

O quadro 8 ilustra o planeamento das tarefas realizadas no sentido do

desenvolvimento profissional do professor-estagiário anexas ao Projeto de

Formação Individual, cumpridas em paralelo com a prática pedagógica. Aqui,

foram apontados objetivos, potenciais dificuldades, recursos, estratégias e

meios de controlo.

108

Quadro 8: Desenvolvimento Profissional

ÁREA OBJETIVO DIFICULDADE RECURSOS ESTRATÉGIAS CONTROLO CALENDARIZAÇÃO

4

Port

efó

lio D

igital

Desenvolver conhecimentos que me habilitem a estruturar os conteúdos do meu aprendizado de uma forma sequencial e percetível; Registar detalhadamente as minhas

vivências no universo escolar, que

deverão ter uma contribuição

nevrálgica para o meu

desenvolvimento como docente.

Facilidade de consulta e estruturação dos temas.

Internet – Criação de um domínio

Atualização constante das atividades desenvolvidas na escola e da forma como elas me afetam.

Reflexões com o PC;

Informações do OE.

Outubro de 2011

PF

I

Orientar a formação e o desenvolvimento pessoal Identificar as minhas dificuldades; Estratificar a utilização de recursos ao longo do ano letivo.

Definir um tema no Pré- Projeto de Investigação-Ação; Ser sintético e extenuante.

Literatura;

Sebentas da Faculdade;

Slides da Reunião sobre PFI.

Identificar os tópicos principais em cada área para o desenvolvimento das minhas competências como professor.

Diálogo com o PC

Informações do OE.

Entrega: 7 Novembro de 2011

Apresentação: 16 a 30 de Janeiro de 2011

Rela

tório d

e

Está

gio

Documentar todo o processo de desenvolvimento como professor estagiário, através da integração do trabalho realizado e da reflexão das vivências durante esse período.

Selecionar os conteúdos a integrar no relatório de estágio.

Revisões Bibliográficas; Portefólio Digital; PFI;

Organização Prévias das Temáticas fundamentais.

Reflexões com o PC e com o Núcleo de Estágio; Informações do OE.

Final do 2º Semestre

Pré

-Pro

jeto

de

Investigação

Explorar um tema de investigação com interesse para os propósitos do estágio.

Definir o tema.

Definir estratégias.

Revisões Bibliográficas;

Caracterização da Turma.

Aplicação de questionários ou entrevistas.

Pesquisa Bibliográfica.

Reflexões com o PC;

Informações do OE.

Dezembro de 2011

109

4.3.1. Projeto de Formação Inicial

“A educação vive um tempo de grandes incertezas e de muitas

perplexidades. Sentimos a necessidade de mudança, mas nem sempre

conseguimos definir-lhe o rumo. Há um excesso de discursos redundantes e

repetitivos, que se traduz numa pobreza de práticas” (Nóvoa, s/d)

A necessidade da consecução do Projeto de Formação Individual adveio

da crença na formação profissional orientada, em que o professor-estagiário é

confrontado com as suas crenças, dificuldades e potencialidades, guiado num

processo de autonomização. Estas orientações são levadas a cabo pela

instituição académica (Faculdade de Desporto da Universidade do Porto), que

estabelece as diretrizes de consecução do estágio profissional e pelo

acompanhamento diário do professor cooperante no seio da escola. O Projeto

de Formação Individual compõe um instrumento de confrontação pessoal e de

estruturação de objetivos.

Pretendi assim, desenvolver a minha identidade profissional,

estabelecendo um ponto de início e uma meta, intercalados por um processo

coerente e ambicioso.

Paralelamente, foi contemplada nesta estrutura a definição de um Pré-

Projeto de Investigação-Ação, que depois se desenvolveu no estudo

apresentado na área 1, com o intuito de enfatizar no discente/docente uma

relação intrínseca com a investigação do seu meio, perpetuando um ideal de

renovação.

Este documento serviu como uma ponte que me ajudou definir o ponto

de início e projetar o final do Estágio Profissional, para saber a que distância

estou e o caminho que tenho a percorrer para me concretizar.

110

4.3.2. Construção profissional

O desenvolvimento profissional pressupõe uma construção constante do

professor englobando várias etapas como o estágio profissional e experiências

importantes, porém condicionadas pela autonomia ou falta dela. O conceito de

experiência não tem uma lógica meramente temporal e é diferente dos anos de

serviço.

No desenvolvimento profissional dá-se grande importância à

combinação de processos formais e informais. O professor deixa de ser objeto

para passar a ser sujeito da formação. Não se procura a “normalização” mas a

promoção da individualidade de cada professor. Dá-se atenção não só aos

conhecimentos e aos aspetos cognitivos, para se valorizar também os aspetos

afetivos e relacionais do professor (Ponte, 1998).

O conhecimento é fundamental para estratificar o ensino de forma

adaptada aos intervenientes. Senti, que a minha reflexão do primeiro período,

quer daquilo que resultou das aulas e que documentei, quer daquilo que

naturalmente pensei e debati com o Núcleo de Estágio de Educação Física, me

auxiliou a readaptar estratégias e a pensar-me como professor. Sinto que

gradualmente, e com a ajuda dos diferentes intervenientes da minha formação,

tenho caminhado para me aproximar da imagem que idealizo para mim próprio,

dentro deste âmbito profissional.

Considero que evolui bastante na forma como atuo

nas aulas e que superei algumas das minhas dificuldades

iniciais. Penso que melhorei a forma como interajo com os

alunos e que o meu foco de atenção é mais diversificado.

Consigo estar mais vigilante em determinados

comportamentos dos alunos que outrora me passaram ao

lado. Mesmo assim, ainda existe uma clara margem de

progressão que devo atingir para me considerar pleno e

competente nas minhas funções. Concretamente, objetivo

111

melhorar a emissão de feedbacks e a gestão que faço das

aulas. É evidente que posso rentabilizar o tempo de

exercitação para cumprir com aquilo que planeio e

melhorar a organização, para concretizar uma rápida

transição de exercícios. Isto também poderá ser agilizado

por um planeamento mais pensado e elaborado que

sequencie exercícios com uma estrutura análoga.

No próximo período focar-me-ei nestes aspetos

para me libertar de preocupações desnecessárias, como

a constante reorganização da aula e do espaço. Assim,

pense que é fundamental dispor rapidamente a dinâmica

do exercício e ensinar durante a atividade, quando os

alunos são confrontados com os problemas e as

exigências do contexto prático (Reflexão Sumativa do 2º

Período).

O saber é construído pelas experiências, mas é preciso valorizá-las

através da reflexão. A reflexão, por sua vez, é mais que um conhecimento, é

uma atitude constante que não deve ser descritiva e deve atender às

implicações da atuação. Dewey (1933) define este conceito como uma forma

especializada de pensar, que evidencia os motivos que justificam as nossas

ações ou convicções e ilumina as consequências a que elas conduzem. A

reflexão baseia-se na vontade, no pensamento, em atitudes de questionamento

e curiosidade, na busca da verdade e da justiça.

4.3.3. A Identidade Profissional

A transição de estudante, como uma ocupação central, para professor é

complexa e está acompanhada de um conjunto de incumbência agregadas à

designações “profissão”, “profissionalidade” ou “profissional”. O “choque” com a

realidade

112

O conceito de profissão está, simultaneamente, imbuído de uma grande

responsabilidade e privilégio sociais. Esta fase de transição e de integração no

meio profissional, marca uma confrontação entre as espectativas formuladas

previamente e a realidade da função. Concomitantemente, é neste fase que o

professor é integrado num meio social especifico e constrói a sua identidade

pessoal nesse meio. O “choque com a realidade” é descrito como uma

antagonia entre aquilo que é a aprendizagem fora do contexto e a

contextualização desse conhecimento. Braga (s/d, p. 64) afirma que esta

expressão pretende traduzir o impacto sofrido no inicio da profissão e

corresponde a uma curva do desencanto, que indica o colapso dos ideais

missionários elaborados durante a formação do professorado face à dura e

crua realidade quotidiana”.

Para Alonso (s/d, p. 7) o sentido de identidade cria-se coletivamente,

implicando “a participação em associações especializadas dentro das quais se

organizam encontros, reuniões de trabalho e troca de experiências, mediante

os quais se alimentam canais de comunicação e difusão de investigações e

inovações, assim como de abertura e contactos com outras profissões e

associações.” Assim, não existe uma identidade profissional se não é assumida

socialmente e se não existe a envolvência e a necessidade de sustentar e de

partilhar os interesses profissionais num meio coletivo.

“Quando falamos em identidade docente, estamos a caracteriza-la

como uma identidade construída, por um lado, externamente, atribuída pela

sociedade e pelo Estado sobre o professor, por outro lado tem-se a identidade

pessoal ou interna, construída e elaborada pelo professor através da sua

trajetória como profissional da educação” (Rankel, 2009, p. 14). O mesmo autor

salienta o processo de tomada de consciência do professor como sujeito

histórico que possui responsabilidades diferenciadas das outras profissões,

porque envolve a tarefa indispensável de provir os instrumentos necessários

para que as pessoas possam interpretar a realidade de modo a transformá-la.

113

4.3.4. Conhecimento Profissional

Rodrigues (citado por Roldão (2007) defende que todas as profissões

que construíram ao longo do tempo o reconhecimento de um estatuto de

profissionalidade plena (médicos, engenheiros, arquitetos, entre outros) se

reconhecem, se afirmam e são distinguidas, na representação social, pela

posse de um saber próprio distinto e exclusivo do grupo que o partilha, produz

e faz circular, conhecimento esse que lhe legitima o exercício da função

profissional em causa. Assim, a identidade e conhecimento legitimam a

profissionalidade do ensino. “A essência duma profissão é possuir um corpo

coerente e estruturado de conhecimento constituído por conhecimentos,

técnicas, linguagens, valores e destrezas que formam o que podemos chamar

a "cultura profissional"” (Alonso, s/d, p. 4). Essa cultura é um projeto inacabado,

sujeito às interferências da construção profissional de cada professor e aos

fatores externos. O professor desenvolve o seu conhecimento profissional

adotando uma postura reflexiva, sobre os fenómenos que o afetam na prática.

As linhas de orientação para a produção do conhecimento profissional

docente são simultaneamente, e num sentido, um tanto ou quanto antagónico,

paralelas e convergentes. Uma primeira linha caracteriza-se pela

“desmontagem analítica dos componentes envolvidas no conhecimento global

docente” (Roldão, 2007, p. 6) com carácter normativo. Na segunda linha, o

professor tem um carácter mais crítico da sua ação munindo-se de autonomia e

abertura para a prática.

Para a mesma autora, o conhecimento profissional docente é específico,

pois é dotado de um conjunto de fatores de distinção como:

Natureza Compósita – trata-se de um conhecimento constituído por

lógicas conceptualmente incorporadas;

Capacidade Analítica – valências que se opõem ao agir do docente

rotineiro;

Natureza Mobilizadora e Interrogativa – implicam uma articulação de

elementos diversos num todo complexo e um questionamento

114

permanente da ação prática, do conhecimento teórico e de experiências

anteriores;

Meta análise – requer uma prática reflexiva, ou seja, uma atitude de

distanciamento e autocrítica;

Comunicabilidade e Circulação – implica comunicação, transmissão e

discussão entre a comunidade.

O saber profissional tem de ser construído, assente na teorização da

ação profissional docente. O docente para saber ensinar tem de aceder à

informação e transformá-la em conhecimento, para transmiti-lo, de modo a

tornar-se acessível a todos. Um investigador educacional é capaz de investigar

e teorizar a sua ação docente, assente num conhecimento em atualização

constante.

Um dos aspetos mais salientes do conhecimento profissional é a sua

forte base experiencial. Ele é constantemente elaborado e reelaborado pelo

professor, em função dos seus contextos de trabalho e das necessidades

decorrentes das situações que vai enfrentando. Por isso mesmo este

conhecimento tem um forte carácter implícito (Ponte, 1998).

O conhecimento profissional tem sido estudado de diversas maneiras.

Uma das que mais utilizei, foi as narrativas sobre situações de ensino-

aprendizagem. Estas narrativas representaram relatos de experiências vividas,

onde se evidenciam dificuldades e estratégias para resolver as situações em

que estive envolvido. Este, é um método natural de organizar o conhecimento

empírico e, por isso, é crucial para o conhecimento do professor na prática.

4.4.5. O Papel do Estágio e da Orientação Pedagógica

Fazer supervisão implica olhar de uma forma abrangente,

contextualizada, interpretativa e prospetiva. Um bom supervisor lança o seu

olhar entre o passado e o futuro jogando-o no presente; dirige-o para os

professores, mas relança-o para os alunos destes; focaliza-o na sala de aula,

mas abre-o para outros contextos que com microcosmos estabelecem relações

ecológicas interativas, preocupa-se com o desenvolvimento individual dos

115

professores, mas considera o papel que, no seu conjunto, desenvolvem na

educação e socialização das crianças e dos jovens. A multiplicidade destes

olhares a a coerência da sua abrangência justificam a presença de uma visão

de qualidade superior, de uma super-visão (Alarcão, 1995).

Piéron (1996) advoga que o Estágio Profissional é um momento que

assume particular interesse na formação dos professores por ser uma etapa de

convergência, de confrontação entre os saberes "teóricos" da formação inicial e

os saberes "práticos" da experiência profissional e da realidade social do

ensino. O papel do professor cooperante é muito importante neste processo de

confrontação de saberes, cabendo-lhe a ele, ajudar a colocar essas valências,

adquiridas durante a formação inicial, em prática. O professor cooperante

acompanha todo o processo de formação no ano de estágio profissional e é a

única entidade que tem como incumbência funcional, assistir a todas as aulas.

Este conhecimento pleno do desenvolvimento do aluno-professor

estagiário atribui-lhe uma grande responsabilidade, no sentido de desenvolver

estratégias, em conjunto, para solucionar eventuais problemas resultantes da

prática pedagógica. Pressupõe-se uma modificação, uma integração no meio

diferente quem o professor-estagiário reconstrói a sua identidade. O professor

cooperante guia todo esse processo de desenvolvimento profissional e

humano.

Para Metzler (1990), a supervisão aos professores-estagiários deve

proporcionar ajuda de modo a que se tornem cada vez mais independentes na

tentativa de melhorar as suas competências profissionais.

Como já relatei, a minha experiência como aluno-professor orientado

não corresponde àquilo que projetara, dado que não senti confiança e

liberdade para experimentar os meus conhecimentos. Senti que em certa

medida a minhas crenças são irrelevantes e que na atividade de orientação,

face ao modelo e às técnicas vincadas privilegiadas pelo professor cooperante,

associadas à responsabilidade da avaliação, se estabelece uma inevitabilidade

de mero seguidismo dessas conceções. Por isso e apesar de reconhecer uma

grande validade na orientação pedagógica no decurso do estado profissional,

advogo que estes aspetos também possam ser prejudicais, em determinados

116

contextos, para o desenvolvimento do aluno-professor estagiário. Contudo, a

aprendizagem é evidente e uma experiência profissional com duração de um

ano letivo é enriquecedora, por si só. A perceção exterior, o aconselhamento e

o delineamento de estratégias conjuntas foram também bastante úteis no meu

desenvolvimento como professor. A divergência é, também, um elemento

potenciador do crescimento, já que proporciona uma visão distinta da nossa.

117

Conclusão Geral

O Estágio Profissional foi uma etapa morosa, trabalhosa e desafiante.

Este documento é uma ilustração de todo esse processo, mas por mais

exaustivo e minucioso que fosse, não conseguiria fazer um retrato claro daquilo

que se passou. Em grande medida, o trabalho que desenvolvi foi feito para

pessoas, os meus alunos. De todas as variáveis que não mencionei, essa é

aquela que é mais imprescindível para perceber como tudo se desenvolveu. É

impossível descrever as idiossincrasias de cada aluno, que nos fascinam e que

nos surpreendem, que nos fazem pensar e querer oferecer-lhes cada vez

melhor. Sem essa imagem clara, que a vivência pode proporcionar, fica o

trabalho que foi o espelho desse esforço e desse intento.

Como já referi, as expectativas que trazia não eram sólidas. Queria,

sobretudo, saber o que podia fazer e saber se podia diferenciar. Julgo que a

maior dádiva desta profissão é a possibilidade de deixar algo nosso que será

carregado com os alunos para a sua vida académica, profissional e mesmo

pessoal. Quanto mais forte for esta imagem, assumindo que nos recordam com

uma ideia positiva, melhor será cumprida a nossa missão. É claro que o

conhecimento e a forma como desenvolvemos os conteúdo é uma dimensão

nuclear desta profissão, mas são parcos se se efemerizarem. Sinto que ainda

não atingi essa premissa da forma como queria. O caminho é longo e

acentuado, mas sei que gostava de caminhar mais, para aprender e para

ensinar.

Estou satisfeito por ter terminado esta fase da minha aprendizagem,

sabendo que a vida está repleta de fases e que nos “fins” também se começa.

Não aprendi o que esperava, nem como esperava aprender, mas aprendi

bastante e adquiri competências que levam a ser um melhor professor, em

comparação com o início do ano letivo.

O estudo contribui para me dar uma perspetiva sobre a minha ação

como Professor-Estagiário e foi importante para fazer um balanço da minha

evolução numa dificuldade concreta, que era o planeamento. Julgo, que a

maior parte das dificuldades nesta área foram ultrapassadas e que deverei

118

adotar uma postura concordante com a atitude de professor reflexivo, como

investigador constante da minha própria prática.

119

Bibliografia Geral

Abrecht, R. (1994). A avaliação formativa. Rio Tinto: Edições ASA.

Alarcão, I. (1995). Supervisão de professores e inovação educacional

Aveiro: CIDINE.

Alarcão, I. (1996). Formação Reflexiva de Professores - Estratégias de

Supervisão. Porto.

Alarcão, I. (1997). Formação reflexiva de professores : estratégias de

supervisão Porto: Porto-Editora.

Alonso, M. L. G. (s/d). A avaliação do professor como instrumento de

inovação - Um modelo para o desenvolvimento profissional dos professores.

Ser Professor(Contributos para um debate), 47-62.

Anderson, L. (2006). Analytic Autoethnography. Journal of Contemporary

Ethnography, 35, 373-394.

Batista, P. (2008). Discursos sobre a Competência - contributo para a

(re) construção de um conceito de competência aplicável ao profissional do

desporto. (Doutoramento), Universidade do Porto, Porto.

Bento, J. O. (2003). Planeamento: Condição básica da direcção

pedagógica pelo professor. In L. Horizonte (Ed.), Planeamento e Avaliação em

Educação Física (pp. 13-18). Rua das Chagas, 17-1, ºDt.º - 1200 Lisboa.

Braga, F. (s/d). O professor principiante. In C. N. E.-E. e. Sociedade

(Ed.), Formação de Professores e Identidade Profissional: Quarteto.

Carvalho, L. (1994). Avaliação das aprendizagens em Educação Física.

Boletim SPEF, 11, 135-151.

Cortesão, L. (1993). Avaliação formativa – que desafios? Porto: Edições

Asa.

Dewey, J. (1933). How We Think: A Restatement of the Relation of

Reflective Thinking to the Educative Process. Boston: D.C. Heath.

Freire, P. (1975). Pedagogia do Oprimido: Edição João Barrote.

Freire, P. (2001). Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros

escritos. São Paulo.

120

Freire, P. (2007). Pedagogia da autonomia : saberes necessários à

prática educativa (35 ed.). São Paulo.

Hayler, M. (2011). Autoethnography, Self-Narrative and Teacher

Education. Studies in professional life and work, 5.

Holt, N. L. (2003). Representation, Legitimation, and Autoethnography:

An Autoethnographic Writing Story. International Journal of Qualitative

Methods, 18-28.

Huberman, M. (2000). O ciclo da vida profissional dos professores.

Porto: Porto-Editora.

Imbernón, F. (2000). Formação docente e profissional: formar-se para a

mudança e a incerteza. Coleção Questões da Nossa Época, 77.

Klaus, G. (1976). Cibernética e sociedade. Berlim.

Landsheere, G. D. (1986). A investigação experimental em pedagogia.

Lisboa: Publicações Dom Quixote.

Mesquita, I., & Graça, A. (2009). Modelos instrucionais no ensino do

Desporto. In F. d. M. Humana (Ed.), Pedagogia do Desporto. Universidade

Técnica de Lisboa.

Metzler, M. W. (1990). Instructional Supervision for Physical Education.

Champaign, Illinois: Virginia Polytechnic Institute and State University.

Neves, A. d. (1995). Os professores e os programas de Educação

Física. (Mestrado em Ciências do Desporto na especialidade de Desporto para

Crianças e Jovens Dissertação Final), Universidade do Porto Porto.

Nóvoa, A. (1992). As organizações escolares em análise. Lisboa:

Publicações Dom Quixote.

Nóvoa, A. (s/d). ara uma formação de professores construída dentro da

profissão. Universidade de Lisboa, Lisboa.

Piéron, M. (1996). Formação de professores. Aquisição de técnicas de

ensino e supervisão pedagógica. Lisboa: Edições FMH.

Ponte, J. P. d. (1998). Da formação ao desenvolvimento profissional.

Actas do ProfMat 98. Universidade de Lisboa, Lisboa.

Rankel, L. F. (2009). A (des)construção da identidade docente. Profissão

Docente. Retrieved from

121

Rink, J. E. (2006). Teaching Physical Education. Avenue of the

Americas, New York, NY, 10020.: William R. Glass.

Roldão, M. d. C. (2007). Função Docente: Natureza e Construção do

Conhecimento Profissional. Revista Brasileira de Educação, Janeiro-Abril

ano/vol.12, 94-103.

Rosado, A., & Ferreira, V. (2009). Promoção de ambientes positivos de

aprendizagem. In F. edições (Ed.), Pedagogia do Desporto. Lisboa.

Rosado, A., & Mesquita, I. (2009). Melhorar a aprendizagem optimizando

a instrução. In F. d. M. Humana (Ed.), Pedagogia do Desporto. Universidade

Técnica de Lisboa.

Rosado;, A., & Mesquita, I. (2009). Modelos Instrucionais no ensino do

Desporto. In F. d. M. Humana (Ed.), Pedagogia do Desporto (Vol. MMIX, pp.

59-65; 134-160). Lisboa.

Sanchez, I. (2005). Compreender, Agir, Mudar, Incluir. Da investigação-

acção à educação inclusiva. Revista Lusófuna de Educação, 5, 127-142.

Schön, D. (1983). How professionals think in action. In B. B. inc (Ed.),

The reflective practitioner. USA.

Schön, D. (1987). Educating the reflective practitioner. San Francisco:

Jossey-Bass.

Shulman, L. S. (1987). Knowledge and teaching: Foundations of the new

reform. Harvard Educational Review, 1-22.

Siedentop, D. (1991). Developing teaching skills in physical education.

1240 Villa Street Mountain View, CA 94041.

Silva, M. I. C. d. (2007). O director de turma e a gestão curricular no

conselho de turma — consenso ou conflito? Estudo do papel do Director de

Turma em contextos sociais distintos na região Centro do país. (Mestrado),

Universidade Portucalense, Porto.

Spry, T. (s/d). Performing Autoethnography: An Embodied

Methodological Praxis. St. Cloud State University.

Thurler, M. G. (2000). O desenvolvimento profissional dos professores:.

In Artmed (Ed.), As Competências para ensinar no século XXI: a formação dos

professores e o desafio da avaliação. Porto Alegre.

122

Vickers, J. N. (1989). Instructional Design For Teaching Physical

Education. University of Calgary, Champaign, Illinois: Human Kinetics Books.

XVII

Anexos

XVIII

Anexo I – Inventário do Material 2011-2012

Modalidade Local/

Arrecadação Descrição Unidades

Andebol

Ginásio Bolas (grandes) 10 (Amarelas) + 5 (Laranja)

Exterior Bolas (grandes e pequenas) 16 (grandes) + 9 (pequenas)

Atletismo

Ginásio

Elásticos 2

Postes (salto em Altura) 2

Testemunhos (metal) 9

Exterior

Barreiras (com esponja)) 6

Barreiras (metal) 9 (5 grandes; 4 pequenas)

Barreiras (plástico school CS) 6

Blocos de Partida 4

Bolas de Arremesso 6

Mini Barreiras (plástico) 3

Pesos em Ferro (2kg) 1

Pesos em Ferro (2,5kg) 1

Pesos em Ferro (3,5kg) 2

Pesos Indoor (1kg) 1 (vermelho)

Pesos Indoor (3kg) 3 (preto)

Pesos Indoor (4kg) 3 (preto)

Testemunhos (madeira) 10

Badminton Ginásio

Raquetas 33 + 23 (para arranjar)

Volantes 66 (11 caixas de 6)

Basebol Exterior

Bolas 2

Tacos 5 (2 em mau estado; 1 partido; 1 usado; 1

novo)

Basquetebol Ginásio Bolas 98 (das quais 12 são pequenas)

Exterior Bolas 48

Futebol

Ginásio Bolas 10

Redes de Baliza 4

Exterior Bolas 16

Redes de Baliza 2

Futsal Ginásio Bolas 5

Ginástica Ginásio

Arcos 10 (4 Grandes; 6 Pequenos)

Bock 1

Bolas (rítmica) 13

Colchões 7

Cordas 30

Cordas (Grandes) 5

Cordas (Pequenas – 2º Ciclo) 30 (Brancas)

Mini Trampolim 2

Pandeiretas 27

XIX

Plinto 1

Trampolim (Reuther) 1

Trampolim (Sueco) 1

Jogos

Tradicionais Exterior

Arcos com Gancho 5

Corda 15 metros 1

Cordas 10

Malhas (ferro) 5

Malhas (madeira) 5

Peões 6

Sacos (Serapilheira) 6

Râguebi Ginásio Bolas 2

Ténis Ginásio Bolas 46

Ténis de Mesa Ginásio

Balde (para 60 bolas) 1

Bolas 48 (6 caixas de 8)

Raquetas 15

Redes 2

Voleibol

Ginásio

Bolas 47 (10 em couro; 21 de “giravólei”; 3

borracha azul)

Bolas de Iniciação 32 (7 Azuis + 7 Laranja + 15 Cor-de-Rosa

+ 3 Brancas

Exterior Bolas

21 (das quais 12 de iniciação: 2 Laranja +

10 Cor-de-Rosa)

Redes 2

Diversos Ginásio

Apitos (Metálicos) 2

Apitos (Plástico) 4

Bolas Medicinais 6 (3 pequenas; 3 grandes)

Bomba Pneumática 1

Bonés 34

Camisolas de Jogo 18

Cassetes de Vídeo (temáticas) 6

Coletes 87 (8 Amarelos; 8 Azuis; 15 Verdes; 22

Kinder; 34 GV)

Corda 1

Cordas Divisórias (Voleibol) 3

Cronómetro 3

Elásticos (Divisórios) 3

Fita Métrica 2 (1 grande; 1 pequena)

Fita Sinalizadora (em rolo) ½

Rádio (leitor de CD’s) 4

Sacos (para material) 5

Sinalizadores (madeira) 102

Sinalizadores (plástico) 26 (20 pequenos; 6 grandes)

Exterior Arcos Plásticos 13

XX

Balanças 3 (1 Activa; 1 Laica; 1 Inca)

Bolas Medicinais 2

Coletes 26 (11 Vermelhos; 9 Amarelos; 6 Verdes)

Fitas 20 (12 Pretas; 8 Verdes)

Fita Métrica (20 metros) 1

Guarda-Sol 3

Redes de Baliza 2

Sacos (para bolas) 1

Sinalizadores (Madeira) 22

Sinalizadores (Plástico) 73 (42 Pequenos; 9 Médios; 12 Grandes; 1

lote de 10 Novos)

XXI

Anexo II - Plano de Aula

Data: 1 de Junho de 2012 Hora: 15.15 – 16.45 Ano/Turma: 7ºB Duração: 90’ Nº Alunos: 28

Local: Agrupamento Vertical Clara de Resende Espaço: Exterior Aula nº 76 e 77 Sessão nº 3 e 4 de 6 Material:

18

sinalizadores

12Barreiras

2 Blocos

Unidade Temática: Atletismo

Funções Didáticas: Introdução e Exercitação

Objetivos: Introdução: Partida de blocos; Exercitação: transposição de obstáculos – barreiras; perna de passagem e perna de

ataque; Corrida de Velocidade. Desenvolver cooperação, interajuda e respeito. Conhecer as vozes de comando e saber

responder a cada uma. Desenvolver capacidades motoras condicionais (Destreza Geral; Resistência; Flexibilidade; Força).

Conteúdos Situações de Aprendizagem Organização

Metodológica/ Esquema Componentes críticas

Palavras-

Chave

Part

e In

icia

l

12’

Corrida de

resistência;

Os alunos correm 11 minutos à volta do campo,

seguindo as linhas, exercitando os conteúdos

anteriormente abordados.

Verificação das presenças e do material.

Manter ritmo constante;

5’

Flexibilidade

Alcançar com a perna, a mão que está

estendida. 8x – direita; 8x - esquerda.

Sentados com os MI afastados, realizar flexão

do tronco à frente.

Sentado com os dois MI unidos à frente,

movimentar alternadamente os MI para trás.

MI em extensão; Costas direitas.

Agarrar os calcanhares; MI em extensão.

O MI que vai atrás, flete a perna, formando

um angulo de 90º graus; A outra perna no

prolongamento do corpo.

Part

e F

un

da

me

nta

l

7’ Perna de

Passagem

1. Perna de passagem:

2 Grupos de alunos distribuídos

consoante as alturas, realizam 2 vezes a ação

da perna de passagem, em skipping.

Pé em dorsiflexão; Movimento conduzido

pelo joelho; Criação um ângulo

aproximadamente de 90º em relação ao

tronco.

“Joelho alto”

“Acompanha

o

movimento”

7’ Perna de

ataque

2. Perna de Ataque

A mesma organização do exercício

anterior, mas os alunos realizam a ação da

perna de ataque, em skipping.

Colocar rapidamente a coxa na posição

horizontal, mantendo-a paralela ao solo,

durante a transposição.

Logo de seguida procurar o solo com um

movimento de cima –frente – baixo –atrás.

“Joelho alto”

“Estende a

perna

10’ Corrida de

Barreiras

3. Corrida de Barreiras – Movimento

Global

A mesma organização do exercício

anterior, com os alunos divididos por níveis de

exercitação. Cada aluno exercita duas vezes.

3.1. Com duas barreiras

3.2. Com três barreiras

Bacia alta, tronco direito e olhar em frente;

Sincronizar o movimento das pernas com o

dos braços

Efetuar uma impulsão para a frente, na

direção da corrida

Procurar manter a velocidade entre

barreiras, encadeando a corrida logo após a

transposição.

“Olha em

frente”

“Tronco

direito”

“Continua a

corrida”

5’

Mobilização

Articular

Em 4 filas sinalizadas, de acordo com

indicações do professor, os alunos realizam:

Saltos a pés juntos; “Pé-coxinho”; Ação circular

dos MI; Corrida descontínua, num percurso de 7

metros;

Mobilizar as articulações solicitadas com

amplitude adequada.

XXII

10’ Partida de

Blocos

4. Velocidade - partida

Dois a dois os alunos realizam partida

de blocos.

Esclarecimento sobre as vozes de

comando: “aos seus lugares”; “prontos”, “apito”

Mãos fletidas e pés fortemente apoiados nos

blocos de partida, com o joelho e a perna de

trás no solo;

Ter as mãos perto da linha de partida, o

polegar e o indicador em contacto com o

solo;

Cabeça no prolongamento do tronco.

Acelerar rapidamente e aumentar a

frequência de passada;

Atingir a velocidade máxima.

“Joelho no

chão”

“Polegar e

indicador”

15’ Corrida de

Velocidade

5. Velocidade – 40 metros

Os alunos divididos por género,

realizam corrida de 40 metros, partindo dos

blocos 2 a 2.

Part

e F

inal 5’

Retorno à calma

Reflexão sobre os aspetos preponderantes da

aula.

Esclarecimento de eventuais dúvidas.