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PESQUISA COM CRIANÇAS: PARTICIPAÇÃO E DIREITOS RESPEITADOS Ana Paula Zaikievicz 1 Marta Regina Brostolin 2 RESUMO: Este texto surgiu a partir da realização de uma pesquisa de Mestrado, a qual foi defendida em março de 2017, pelo Programa de Mestrado em Educação, da Universidade Católica Dom Bosco. A pesquisa teve como principal objetivo analisar o que as crianças da pré-escola dizem sobre a instituição de educação infantil que frequentam. Esta pesquisa teve como aporte teórico a Sociologia da Infância e foi desenvolvida com a coparticipação de crianças, na faixa etária entre quatro a cinco anos de idade. Neste texto, faz-se um recorte teórico, acerca do crescente reconhecimento do protagonismo infantil nas pesquisas científicas, as quais baseadas na Sociologia da Infância têm cada vez mais considerado as crianças enquanto sujeitos de direitos, produtores de culturas e de saberes, que precisam ser ouvidas e respeitadas. Deste modo, o texto inicialmente apresenta as diferentes concepções de infâncias, surgidas ao longo da história, as quais foram marcadas por diferentes contextos históricos e sociais, para então apresentar a Sociologia da Infância, campo teórico relativamente novo, que defende a infância e o protagonismo infantil nas pesquisas científicas. A participação das crianças nas pesquisas possibilita-lhes o direito em serem ouvidas e reconhecidas como sujeitos sociais, históricos e culturais, e que por meio de suas diferentes linguagens, podem interagir, expressar-se e socializar-se com os outros. As crianças, por muito tempo tiveram os adultos como seus porta-vozes, especialmente nas pesquisas científicas, na área da educação e hoje, por meio das pesquisas, têm a oportunidade de contarem suas próprias histórias. Nessa ótica, as crianças são oportunizadas a deixarem de serem objetos de investigação para assumirem o papel de sujeitos investigativos. Este novo modo de fazer pesquisa, possibilita um novo espaço para a infância, oportunizando às crianças o direito de serem reconhecidas pelos seus próprios interesses e pelas suas reais necessidades. Palavras-chaves: Crianças. Sociologia da Infância. Pesquisa com Crianças. 1. INTRODUÇÃO Este texto apresenta um recorte da Dissertação de Mestrado “A educação infantil e seu cotidiano: ouvindo o que dizem as crianças da pré-escola sobre a instituição educativa”, a qual teve como principal objetivo analisar as manifestações das crianças sobre a instituição de educação infantil que frequentam. O interesse em investigar o modo com que as crianças 1 Mestre em Educação, coordenadora pedagógica do Centro de Educação São Domingos Sávio e Docente do curso de Pedagogia na Universidade Católica Dom Bosco [email protected] 2 Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado e Doutorado na Universidade Católica Dom Bosco Líder do GEPDI Grupo de Estudos e Pesquisas da Docência na Infância - [email protected] Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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PESQUISA COM CRIANÇAS: PARTICIPAÇÃO E DIREITOS RESPEITADOS

Ana Paula Zaikievicz1

Marta Regina Brostolin2

RESUMO: Este texto surgiu a partir da realização de uma pesquisa de Mestrado, a qual foi

defendida em março de 2017, pelo Programa de Mestrado em Educação, da Universidade

Católica Dom Bosco. A pesquisa teve como principal objetivo analisar o que as crianças da

pré-escola dizem sobre a instituição de educação infantil que frequentam. Esta pesquisa teve

como aporte teórico a Sociologia da Infância e foi desenvolvida com a coparticipação de

crianças, na faixa etária entre quatro a cinco anos de idade. Neste texto, faz-se um recorte

teórico, acerca do crescente reconhecimento do protagonismo infantil nas pesquisas

científicas, as quais baseadas na Sociologia da Infância têm cada vez mais considerado as

crianças enquanto sujeitos de direitos, produtores de culturas e de saberes, que precisam ser

ouvidas e respeitadas. Deste modo, o texto inicialmente apresenta as diferentes concepções de

infâncias, surgidas ao longo da história, as quais foram marcadas por diferentes contextos

históricos e sociais, para então apresentar a Sociologia da Infância, campo teórico

relativamente novo, que defende a infância e o protagonismo infantil nas pesquisas

científicas. A participação das crianças nas pesquisas possibilita-lhes o direito em serem

ouvidas e reconhecidas como sujeitos sociais, históricos e culturais, e que por meio de suas

diferentes linguagens, podem interagir, expressar-se e socializar-se com os outros. As

crianças, por muito tempo tiveram os adultos como seus porta-vozes, especialmente nas

pesquisas científicas, na área da educação e hoje, por meio das pesquisas, têm a oportunidade

de contarem suas próprias histórias. Nessa ótica, as crianças são oportunizadas a deixarem de

serem objetos de investigação para assumirem o papel de sujeitos investigativos. Este novo

modo de fazer pesquisa, possibilita um novo espaço para a infância, oportunizando às crianças

o direito de serem reconhecidas pelos seus próprios interesses e pelas suas reais necessidades.

Palavras-chaves: Crianças. Sociologia da Infância. Pesquisa com Crianças.

1. INTRODUÇÃO

Este texto apresenta um recorte da Dissertação de Mestrado “A educação infantil e

seu cotidiano: ouvindo o que dizem as crianças da pré-escola sobre a instituição educativa”, a

qual teve como principal objetivo analisar as manifestações das crianças sobre a instituição de

educação infantil que frequentam. O interesse em investigar o modo com que as crianças

1 Mestre em Educação, coordenadora pedagógica do Centro de Educação São Domingos Sávio e Docente do

curso de Pedagogia na Universidade Católica Dom Bosco – [email protected]

2Docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado e Doutorado na Universidade Católica Dom

Bosco – Líder do GEPDI – Grupo de Estudos e Pesquisas da Docência na Infância - [email protected]

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definem e significam a instituição educativa partiu do entendimento de que as crianças são

sujeitos sociais, que possuem dentre os seus principais direitos, o direito de expressar-se.

Para desenvolvermos o exercício e o entendimento da escuta infantil, baseamo-nos

nos princípios teóricos da Sociologia da Infância, área que vem apresentando um novo olhar

sobre a infância. A Sociologia da Infância considera que as crianças não apenas reproduzem

culturas e saberes, mas também as constroem, a partir das interações com seus pares, de suas

experiências e de suas representações.

Sabemos que por muito tempo as crianças foram invisibilizadas na sociedade, sendo

o adulto àquele que apresentava e relatava as manifestações dos anseios e desejos infantis, não

tendo as crianças o direito de se expressarem.

Nessa ótica, este trabalho está estruturado a partir de cinco partes. Inicialmente,

apresentamos a intenção do trabalho na introdução, para num segundo momento, lançar

algumas discussões acerca das diferentes concepções de infância e crianças, que se teve ao

longo da história. Posteriormente, apresentamos a Sociologia da Infância e sua forma de

conceber a infância e as crianças na contemporaneidade, para na sequência apresentarmos as

possibilidades de ouvir as crianças nas pesquisas científicas, sendo esta uma nova forma de

desenvolver pesquisa no campo da educação e de reconhecer as crianças como sujeitos de

direitos e, finalmente tecemos algumas considerações a respeito do tema abordado.

2. REFLEXÕES ACERCA DOS DIFERENTES CONTEXTOS HISTÓRICOS DA

INFÂNCIA

Os diferentes momentos históricos, sociais, culturais, econômicos, intelectuais e

políticos que ocorreram na sociedade, suscitaram o surgimento de diferentes entendimentos

sobre as crianças, bem como sobre a infância.

Sabemos que a criança sempre existiu, porém, nem sempre foi reconhecida pelas

suas características, por muito tempo foi identificada a partir apenas de seus aspectos

biológicos, ou seja, definia-se a criança pelos aspectos cronológicos, desconsiderando a sua

identidade, suas características enquanto sujeito em desenvolvimento e que por isso precisa de

um atendimento dentro de suas especificidades.

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Sarmento (2002) considera que por muito tempo a definição de criança esteve ligada

ao sujeito “[...] que não fala (infans), o que não tem luz (o a-luno), o que não trabalha, o que

não tem direitos políticos, o que não é imputável, o que não tem responsabilidade parental ou

judicial, o que carece de razão, etc.” (SARMENTO, 2002 , p. 2-3, grifos do autor). Dessa

forma, podemos considerar que por muito tempo, a criança foi vista como um ser incapaz,

totalmente dependente, invisível aos olhos dos adultos, pois, não era percebida a partir de suas

particularidades.

Lajolo, (1997, p. 225) pontua que a definição de infância esteve inicialmente ligada à

língua latina, na qual era definida pela “ausência da fala” derivado da palavra infante, que

formava-se através da “palavra in=prefixo que indica negação; fante=particípio presente do

verbo latino fari, que significa falar, dizer”, o que segundo a autora contribuiu

significativamente para que as crianças não tivessem o direito de serem ouvidas e

reconhecidas segundo as suas próprias singularidades.

Nessa ótica, Sarmento (2003), defende que a infância, é uma “ideia moderna”, já que

durante a Idade Média as crianças foram consideradas como seres biológicos e inseridas

precocemente no mundo adulto para se apropriarem de seus hábitos e costumes, tendo suas

identidades sociais desconhecidas e só sendo reconhecidos enquanto sujeitos sociais, com

características próprias a partir do Renascimento, sendo esse processo de reconhecimento

complexo e demorado.

Podemos considerar que a partir do século XVIII, a infância foi sendo reconhecida e

as crianças foram sendo vistas sob uma nova ótica

[...] crianças existiram sempre, desde o primeiro ser humano, e a infância como

construção social – a propósito da qual se construiu um conjunto de representações

sociais e de crenças e para a qual se estruturaram dispositivos de socialização e

controlo que a instituíram como categoria social própria – existe desde os séculos

XVII e XVIII (SARMENTO; PINTO, 1997, p. 2, grifos do autor).

Para os autores, as crianças sempre existiram, porém a infância enquanto uma

categoria do desenvolvimento infantil, que precisa de um olhar específico para as suas

singularidades, é uma configuração criada pela Modernidade, na qual tanto a infância, como a

sociedade, foram se transformando.

Tais mudanças ocorreram, a partir do progresso na industrialização, na economia, no

aumento da mão de obra, nas transformações em âmbito familiar e também, nos novos

conhecimentos que o homem foi adquirindo.

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Vale ressaltar que essa realidade de o adulto ser porta voz das crianças, ainda

permanece na contemporaneidade, no entanto, precisamos considerar que a infância enquanto

categoria teve grandes avanços, alcançando maior reconhecimento social, histórico, político e

cultural. As crianças passaram progressivamente a serem reconhecidas como sujeitos sociais,

tendo os seus direitos assegurados pelas Políticas e despertado cada vez mais o interesse de

estudiosos pela infância, tais aspectos contribuíram significativamente para o reconhecimento

da infância como uma categoria social e cultural e para o desenvolvimento infantil.

Esse reconhecimento da infância, também é fruto de estudos que vêm sendo cada vez

mais desenvolvidos. Na história, temos diversos estudos sobre a infância a partir de diferentes

áreas, especialmente da psicologia, da sociologia e da educação. Tais áreas contribuíram

significativamente para o fortalecimento da infância e para seu reconhecimento social, dentre

estas áreas vale destacar a Sociologia da Infância, um campo teórico relativamente novo, mas

que vêm sendo importantíssimo para o entendimento da infância sobre uma nova ótica, pois

vem reconhecendo as crianças como sujeitos do presente, produtores de cultura e participantes

da sociedade.

3. UM NOVO OLHAR PARA A INFÂNCIA A PARTIR DA SOCIOLOGIA DA

INFÂNCIA

A Sociologia da Infância é um campo teórico novo, que vem sendo cada vez mais

reconhecido, vem apresentando novas perspectivas a respeito da infância e do

desenvolvimento infantil, buscando entender o universo infantil e reconhecer as crianças

como sujeitos ativos, socializadores, pensantes, que interagem, falam, sentem e que se fazem

presentes na sociedade, requerendo, por essas razões, que sejam respeitados e ouvidos.

Segundo Quinteiro (2002), a Sociologia da Infância começou a ser pensada como um

campo que se opunha à concepção de infância, vigente até então nos países Europeus, em que

as crianças eram vistas como objetos passivos. De acordo com a autora, a Sociologia da

Infância contribuiu para que as crianças passassem a ser reconhecidas como agentes de

socialização e de grande importância para a sociedade, estabelecendo uma ruptura com a

forma adultocêntrica com que eram até então concebidas.

Vale também destacar que a Sociologia da Infância possui suas raízes na Sociologia

da Educação, porém apresentando a infância como uma categoria histórica, social e cultural,

na qual as crianças são sujeitos ativos e possuidores de direitos, superando a visão infantil

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apresentada até então pela Sociologia da Educação, em que as crianças eram vistas como

sujeitos passivos e sem direito a voz.

A partir da década de 1980, a Sociologia da Infância expandiu-se pelo mundo e

destacou-se como um campo teórico capaz de desenvolver novas reflexões acerca das

crianças e da infância, buscando apresentar e possibilitar novas formas de entender o que é ser

criança e viver a sua infância, buscando mais autonomia, mais participação, mais socialização

e mais protagonismo à todas as crianças (ABRAMOWICZ; OLIVEIRA, 2010).

Atualmente, este campo teórico vem expandindo-se cada vez mais entre o campo da

educação, em diversos lugares do mundo, ganhando forças e concretizando-se como uma área

de suma importância para entendermos a infância e suas especificidades.

Abramowicz e Oliveira (2010) pontuam que a Sociologia da Infância também

inaugurou uma nova forma de ver as crianças no contexto das instituições educativas,

desvinculando-as do papel de aluno, passando a reconhecê-las enquanto crianças. Ao serem

vistas como alunos, são vistas na homogeneidade; ao serem reconhecidas como crianças,

estão sendo percebidas através da heterogeneidade presente na infância.

Para Sarmento (2005), as crianças reconhecidas pela Sociologia da Infância são

consideradas seres sociais, que vivem e identificam-se a partir de diferentes realidades. Nesse

aspecto, a Sociologia da Infância visa romper com a homogeneidade na infância. Esse

rompimento se justifica pelo fato de que a infância é composta por vários aspectos que nela

precisam ser considerados, como: cor, raça, etnia, classe social, gênero, espaço geográfico,

fatores que interferem na forma com que as crianças vivem, agem e relacionam-se com o

mundo. Assim, cabe às instituições educativas perceberem as crianças e suas diversidades,

não as reduzindo ao papel de sujeitos homogêneos.

A partir dessa ótica, a Sociologia da Infância defende a educação das crianças de

forma horizontal, baseando-se no diálogo, oportunizando que as crianças tenham mais

autonomia, participação e liberdade de expressão.

Para Abramowicz e Oliveira (2010), a Sociologia da Infância passou a pensar as

crianças como sujeitos e atores sociais que constroem suas infâncias, rompendo com o

paradigma que prevaleceu, por longo tempo, sobre uma infância passiva. Assim, essa área

permite a elaboração de novas metodologias, entendendo as crianças como produtoras de

culturas, a partir de si próprias.

A Sociologia da Infância também contribui para que as crianças sejam vistas e

reconhecidas pelo presente, elas são o hoje, elas estão presentes na sociedade e precisam ser

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pensadas em seu tempo atual, e não apenas projetadas para o futuro. Corsaro (2011, p. 18)

menciona que “é comum que os adultos vejam as crianças de forma prospectiva, isto é, em

uma perspectiva do que se tornarão [...] raramente as crianças são vistas de uma forma que

contemple o que são – crianças com vida em andamento”. Compete, então, principalmente

aos educadores, lutar para que as crianças sejam reconhecidas em seu tempo presente, em

suas necessidades e em seus desejos atuais.

Corsaro, (2011) ainda pontua que a infância é uma categoria estrutural, que faz parte

da sociedade assim como outros grupos também o fazem, entre eles: classes sociais ou grupos

de idade, no entanto, temos dificuldade em aceitá-la a partir dessas características, justamente

porque a pensamos como algo que prepara a criança para viver em sociedade,

desconsiderando que “as crianças já são uma parte da sociedade desde seu nascimento, assim

como a infância é parte integrante da sociedade” (CORSARO, 2011, p. 16).

Esta forma de buscar entender as crianças com base no presente, ouvindo-as e

respeitando as suas necessidades, tornam-se os principais desafios propostos para a educação

infantil contemporânea e para os profissionais que diariamente convivem com as crianças nos

espaços educativos.

A Sociologia da Infância também tem possibilitado o aumento de pesquisas

desenvolvidas em âmbito educacional. Tais pesquisas têm apresentado uma nova forma de

desenvolver pesquisas sobre a infância, pois as crianças deixam de ser objetos investigativos,

para passarem a ser coparticipantes da pesquisa. As crianças passam a ser ouvidas, a terem o

direito de expressarem-se e apresentarem as suas manifestações sobre o mundo que as rodeia.

A Sociologia da Infância vem contribuindo significativamente para que as crianças sejam

reconhecidas sobre as suas próprias realidades, elas mesmas passam a ter o direito de

contarem suas histórias.

A partir dessa nova forma de conceber as crianças, defende-se também uma nova

perspectiva de trabalho para com elas, tendo como ponto central a escuta, ou seja, as crianças

passam a ter voz, a expressarem-se, a terem a sua identidade valorizada e reconhecida.

A Sociologia da Infância defende que a partir do exercício da escuta nas pesquisas, as

escolas também podem enxergar as crianças sob um novo viés, valorizando-as como parte do

processo educativo, às quais não cabe apenas desenvolver os papéis de executoras das

atividades planejadas, mas também de serem atuantes no planejamento dessas ações,

juntamente como os professores.

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Isso tudo se justifica, pois o ambiente escolar é desenvolvido para as crianças, para

seus desenvolvimentos e suas aprendizagens, dessa forma, torna-se bastante relevante que os

principais interessados neste ambiente, as crianças, sejam coparticipantes do processo de

planejamento, escolha, organização e desenvolvimento das ações do cotidiano institucional.

Este processo, além de tornar a educação democrática, contribui significativamente para o

reconhecimento das crianças enquanto sujeitos sociais, culturais, possuidoras de saberes e de

interesses próprios.

Nessa ótica,

o desafio da sociologia da infância é afastar a ideia de que as crianças são objetos

sobre os quais os adultos imprimem a cultura. É preciso levar em conta a natureza

coletiva da atividade cultural infantil que surge em diversos contextos institucionais

interativos (OLIVEIRA; GOMES, 2013, p. 65).

Para as autoras, um dos principais desafios presentes na Sociologia da Infância está

na tentativa de possibilitar que as crianças sejam reconhecidas como atores sociais, não

apenas reproduzindo culturas, mas também criando-as a partir de seus contextos interativos,

nos quais criam, interpretam, assimilam, interagem e reinterpretam o mundo a sua volta.

Sarmento (2002, p. 3-4) defende que a cultura infantil deva ser entendida como “a

capacidade das crianças em construírem de forma sistematizada modos de significação do

mundo e de acção intencional, que são distintos dos modos adultos de significação e ação”.

Ou seja, quando brincam, interagem, dialogam, trocam saberes, as crianças estão construindo

as suas culturas, sendo esta, fundamental para que compreendam o mundo que as cerca.

Vale também destacar que as culturas são instauradas, e todas as ações desenvolvidas

pelas crianças, são mediadas pela linguagem, seja ela oral, corporal, artística, ou outra.

As linguagens são possibilidades de significação de expressões, de representações

de ideias, de conceitos, dos seres, de emoções ou de objetos que podem adquirir

formas concretas (pinturas, obras de arte, textos, poemas) ou abstratas (movimentos,

expressões corporais ou gestuais, brincadeiras, sonhos, imaginações ativas).

(FRIEDMANN, 2013, p. 46).

Nessa ótica, a linguagem torna-se elemento de grande importância para

compreendermos o universo infantil, para tanto, precisamos possibilitar que as crianças se

expressem e estarmos aberto para a escuta de suas manifestações.

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4. PESQUISAS COM CRIANÇAS: A FALA E A ESCUTA COMO DIREITOS DAS

CRIANÇAS

As crianças têm várias formas de se expressarem e essa característica pode auxiliar a

entender melhor seus universos, suas necessidades e suas formas de agir na sociedade.

Karlsson (2008, p. 162) acredita que,

Se realmente queremos entender e conhecer as crianças e aprender sobre suas

culturas nas suas perspectivas, devemos mergulhar na cultura e no mundo das

crianças. Elas são atores sociais ativos e competentes, uma criança não pensa

exatamente como um adulto. Suas palavras e modo de agir, suas formas de pensar e

refletir são muito mais complexos do que geralmente nós pensamos. Se nós

queremos que as crianças nos contem algo sobre elas próprias, precisamos levá-las a

sério e tratá-las equitativamente.

Assim como pontuado pelo autor, as crianças possuem particularidades, tanto em

seus modos de ser, como de se expressarem e pensarem. Diante disso, faz-se necessário que

nós adultos primeiramente reconheçamos as singularidades da infância, para posteriormente,

nos aproximarmos do universo infantil, ouvir as crianças e buscar entendê-las não pelos

nossos olhos, mas sim pelo mundo visto através de seus olhos.

A pesquisa com as crianças teve início com a Sociologia da Infância, como uma nova

vertente de estudos científicos. De forma tímida, vem, ao longo dos anos, sendo mais utilizada

por pesquisadores da infância e garantindo às crianças o direito de expressão. Além disso,

essa nova forma de fazer pesquisas deixa de ser sobre as crianças, para ser com as crianças.

Objetiva-se que nas pesquisas não sejam mais os adultos, familiares, educadores ou

outros, a falarem por elas, mas sim que as próprias crianças manifestem-se, possibilitando que

elas sejam reconhecidas como autores e atores de suas próprias histórias, uma vez que, sendo

sujeitos históricos, sociais e culturais, possuem total condição em contá-las, não necessitando

do adulto para fazê-lo em seu lugar.

A falta de prática em ouvir as crianças, está diretamente relacionada à história da

infância, a qual foi por muito tempo desconhecida pelas suas características. Belloni (2009),

também explica que a infância foi negligenciada, por muito tempo, nas pesquisas

educacionais, sendo essa realidade transformada a partir da Sociologia da Infância, quando os

grupos minoritários e excluídos da sociedade passaram a aparecer com mais amplitude nas

pesquisas, como é o caso da infância e da mulher.

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Torna-se, muitas vezes, mais fácil ouvir o que os adultos pensam sobre as questões

da infância do que oportunizar a escuta das crianças, até mesmo porque o desenvolvimento de

pesquisa com crianças, e não sobre as crianças, é algo novo, que muitas vezes intimida o

pesquisador a desenvolver tal prática.

Pesquisar com as crianças envolve metodologias diferenciadas, uma vez que as

crianças possuem características que as diferem dos adultos. Nesse sentido, as metodologias

investigativas com crianças, na qual se procura dar voz a esse público e reconhecê-las como

coparticipantes desse processo, implica a utilização de métodos compatíveis com essa

participação e com a sua realidade, podendo ser a partir de desenhos, textos livres, diários,

imagens, entrevistas e observação.

Essa variedade de instrumentos justifica-se, pelo fato de as crianças se expressarem

por meio de formas variadas, cabendo, ao pesquisador, o cuidado de respeitar esses modos

diversos e não perder as informações repassadas por elas. Leite (1996, p. 80) aponta que “[...]

quanto maior o leque de opções para a expressão, mais portas abrimos para nossa escuta”.

Sendo assim, quanto mais procedimentos forem utilizados, mais as crianças terão

oportunidades em se expressarem e serem compreendidas.

Ao pesquisar com as crianças e envolvê-las no trabalho investigativo precisamos ser

cuidadosos em relação à condição da infância; ao pesquisador, faz-se necessário que conheça

as crianças e suas características, a fim de respeitá-las e conduzir o trabalho priorizando

sempre o bem-estar dos sujeitos. A necessidade de conhecer as crianças se justifica, ainda,

pelas múltiplas linguagens que elas possuem, o que permite que se manifestem de diversas

maneiras nas pesquisas e ao pesquisador cabe conhecê-las, para poder compreendê-las.

Formosinho (2008) destaca alguns cuidados que precisam ser tomados ao se propor o

desenvolvimento de pesquisas com as crianças. O pesquisador precisa possuir o

consentimento escrito dos pais ou responsáveis, autorizando a participação das crianças;

garantir o sigilo e a privacidade em relação à identidade dos sujeitos; ter sempre o diálogo

presente na pesquisa com as crianças, explicando sobre todos os procedimentos realizados;

respeitar, durante o processo, se as crianças não quiserem continuar a participar; tomar o

devido cuidado com a linguagem utilizada no diálogo com as crianças e com as condições do

espaço físico proposto para a escuta, o qual precisa oferecer plenas condições para a

segurança das crianças.

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Para Soares, Sarmento e Tomás (2005) o consentimento informado torna-se um dos

momentos mais importantes da pesquisa, pois as informações prestadas são essenciais para o

reconhecimento de seus sentimentos, de suas competências e de seus desejos. Dessa forma,

faz-se necessário que não apenas os pais ou responsáveis ofereçam o consentimento, mas que

as próprias crianças possam optar pela participação ou não na pesquisa, esse mecanismo,

torna-se uma forma de valorizar as crianças como sujeitos de direitos, tornando-se uma

importante ferramenta na criação de vínculo com o pesquisador.

Outra importante característica da pesquisa com crianças, refere-se a flexibilidade do

processo investigativo, tendo em vista que as crianças são dinâmicas, ativas, espontâneas e

possuem vontades próprias, tais aspectos contribuem para que a pesquisa precise seguir os

seus ritmos e as suas necessidades, mesmo que se apresentem como contrárias ao

planejamento da pesquisa, o que importa é considerar a essência da infância e para isso, o

pesquisador precisa estar atento e disposto a tais flexibilidades.

As crianças, a partir do novo entendimento de infância apresentado pela Sociologia

da Infância, têm totais condições de exercer sua participação ativa nas pesquisas. Dessa

forma, elas passam a ser os autores de sua própria história, não precisando mais que os

adultos desempenhem esse papel. “As crianças são competentes e têm capacidade de

formularem interpretações da sociedade, dos outros e de si próprios, da natureza, dos

pensamentos e dos sentimentos, de o fazerem de modo distinto e de usarem para lidar com

tudo que os rodeia” (SARMENTO, 2005, p. 377).

As crianças passam a ter o direito de se expressarem, de apresentarem as suas

realidades, sem camuflagem, sem terem suas próprias histórias contadas pelos outros,

podendo compartilhar o seu mundo e se fazendo reconhecidas e respeitadas pelos adultos.

A Sociologia da Infância, ao assumir que as crianças são actores sociais plenos,

competentes na formulação de interpretações sobre os seus mundos de vida e

reveladores das realidades sociais onde se inserem, considera as metodologias

participativas com crianças como um recurso metodológico importante, no sentido

de atribuir aos mais jovens o estatuto de sujeitos de conhecimento, e não de simples

objeto, instituindo formas colaborativas de construção do conhecimento nas ciências

sociais que se articulam com modos de produção do saber empenhados na

transformação social e na extensão dos direitos sociais (SOARES; SARMENTO;

TOMÁS, 2005, p. 54).

Cabe, ao pesquisador, primeiramente criar vínculos com as crianças pesquisadas,

contribuindo para que se sintam confiantes e seguras com a presença e a escuta do

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pesquisador, assim como suas características e suas limitações. Há ainda que procurar,

enquanto pesquisador, ser aceito pelas crianças e pelo seu mundo, diminuindo a representação

de autoridade e poder que os adultos representam.

Ao pesquisar com as crianças, é preciso ainda ter ciência de que em primeiro lugar

estará o bem-estar delas e de que, assim como em todo trabalho investigativo, imprevistos

poderão acontecer, daí a importância e a seriedade com que a pesquisa com crianças precisa

ser desenvolvida.

Qvortrup (1991) apud Corsaro (2011, p. 58) ressalta que a pesquisa que envolve

crianças torna-se “essencial para identificar os fatores que contribuem para a diversidade da

infância e da vida cotidiana infantil”.

A partir da inserção das crianças como sujeitos participantes nas pesquisas e não

como meros objetos, elas passam a ser vistas e reconhecidas “como atores sociais em seu

próprio direito, e os métodos são adaptados e refinados para melhor ajuste as suas vidas”

(CORSARO, 2011, p. 57).

Acredita-se que o processo de escuta das crianças seja de extrema importância para

conhecê-las melhor, às suas necessidades, seus pontos de vista sobre o mundo ao seu redor.

Nesse sentido, Formosinho (2008) pontua que o ato de ouvir as crianças é um direito que elas

têm assegurado e, muitas vezes, é visto como uma concessão que generosamente o adulto lhes

concede.

Considera-se que o ato de ouvir o que as crianças têm a dizer seja de grande valia,

pois por meio dessa escuta se torna possível analisar as realidades sob a ótica delas, as quais

têm uma percepção diferente dos adultos, uma maneira própria de ver o mundo.

Essa escuta é, ainda, um importante mecanismo para se repensar a educação infantil,

assim como propõe Formosinho (2008):

Na educação infantil, as informações que as crianças podem dar são relevantes para

se conhecer melhor o que se passa nas instituições de cuidado e educação de

crianças pequenas e também para entender como elas veem os processos que aí se

desenvolvem, como se sentem, o que temem, o que desejam na sua experiência

educativa (FORMOSINHO, 2008, p.79).

A partir desse posicionamento da autora, concebe-se que a escuta das crianças pode

também ocorrer nas instituições educativas, tendo em vista que esses espaços são, muitas

vezes, onde as crianças passam a maior parte de seus dias; portanto, hão de ser abertos ao

diálogo e à participação efetiva das crianças, em seus cotidianos e em suas rotinas.

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Sob essa mesma visão, Rocha (2008) entende que a escuta das crianças contribui

para o reconhecimento de suas necessidades e de seus sentimentos no ambiente educativo,

contudo, a autora defende que apenas ouvir as crianças não basta, sendo preciso, além disso,

garantir a sua efetiva participação nas práticas educativas no contexto das instituições.

[...] o estudo das crianças a partir de si mesmas permite descortinar uma outra

realidade social, que é aquela que emerge das interpretações infantis dos respectivos

mundos de vida. O olhar das crianças permite revelar fenômenos sociais que o olhar

dos adultos deixa na penumbra ou obscurece totalmente. Assim, interpretar as

representações sociais das crianças pode ser não apenas um meio de acesso à

infância como categoria social, mas às próprias estruturas e dinâmicas sociais que

são desocultadas no discurso das crianças (SARMENTO; PINTO, 1997, p. 8).

No entanto, para que a escuta das crianças seja algo praticado nas instituições

educativas, faz-se necessário a conscientização dos profissionais que com elas atuam, os

quais precisam entender a importância de ouvir as crianças e terem-nas como coparticipantes

do trabalho. Há de ressaltarmos que ainda predomina o modelo de educação, em que os

adultos são os detentores das vozes e as crianças só falam quando lhes é permitido.

Corsaro (2011) considera que ouvir as crianças nas pesquisas por meio de métodos

coerentes com suas condições, seja uma forma de entender como elas constroem os sentidos e

contribuem com os processos de reprodução e mudanças sociais, sendo, ainda, uma forma de

valorizá-las enquanto sujeitos produtores de cultura, que não apenas reproduzem, mas

também produzem saberes, os quais podem ser compartilhados.

Ouvir as crianças é um exercício complexo, porém muito gratificante e compensador,

nos possibilita enxergar o mundo com outras lentes e vê-lo de uma forma mais leve e mais

alegre. Ouvir as crianças é ainda uma rica oportunidade de tornarmos o mundo mais justo,

mais dinâmico e mais coerente com as necessidades infantis, especialmente no que tange a

educação das crianças, pois as ouvindo, podemos aprender sobre suas vontades, necessidades,

angústias, desejos e assim, podemos buscar desenvolver uma educação mais coerente com as

singularidades da infância.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabemos que a infância foi palco de muitas transformações, e nesse processo as

crianças também passaram por diversas mudanças. Se analisarmos o contexto histórico, social

e cultural, veremos que houve muitas melhoras em relação à infância e as crianças.

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Atualmente as crianças têm muitos direitos assegurados pelas Políticas, no entanto, é preciso

refletir que muitos desses direitos assegurados à elas, ainda não chegaram aos seus contextos.

O direito das crianças serem ouvidas e terem suas vozes consideradas pelos adultos

sejam no contexto familiar, escolar ou social, ainda está longe de ser alcançado. Vale ressaltar

que o direito de expressão das crianças, foi determinado pela Convenção Internacional dos

Direitos da Criança, promulgada no Brasil, no dia 21 de novembro de 19903, reafirmando o

acordo efetivado entre as Nações Unidas, no ano anterior. Em seu artigo 13 ficou determinado

que toda criança tem o direito à liberdade de expressão: “Esse direito incluirá a liberdade de

procurar, receber e divulgar informações e ideias de todo tipo, independentemente de

fronteiras, de forma oral, escrita ou impressa, por meio das artes ou por qualquer outro meio

escolhido pela criança” (BRASIL, 1990).

Vale destacarmos que o fato de a Sociologia da Infância ter lançado essa nova

perspectiva sobre as crianças e tê-las inserido como protagonistas nas pesquisas, foi um

grande salto para o reconhecimento da infância, no entanto, se considerarmos o número de

pesquisas desenvolvidas sobre a infância, as que apresentam as crianças como protagonistas,

ainda são muito poucas. Entendemos que muitos motivos contribuem para tal realidade, no

entanto, acreditamos ser necessário, debruçarmos nossos esforços para que cada vez mais a

sociedade se atente para essa importância.

A criança é um ator social, e por isso precisa ser considerada a partir de suas

particularidades, dessa forma, faz-se necessário a realização de estudos voltados para a

infância e para o protagonismo infantil, a fim de garantir que as crianças sejam ouvidas. Tais

estudos poderão garantir que a prática da escuta infantil chegue até as instituições educativas

e aos profissionais da educação, contribuindo para que todos se conscientizem dessa

importante tarefa e insiram em suas práticas o protagonismo infantil, acreditamos que a partir

de então a educação será mais significativa e motivadora às crianças, que não serão apenas

executoras de ações, mas também coparticipantes da organização e do planejamento das

instituições educativas.

3 A Convenção sobre os Direitos das Crianças foi promulgada por meio do Decreto nº 99.710.

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