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77 PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL Unidade II Agora já sabemos como foi se desenvolvendo o Sistema de Seguridade Social Brasileiro. A partir de agora, passaremos a discorrer sobre as influências da adesão neoliberal, por parte do governo brasileiro, à Seguridade Social legitimada a partir da Constituição de 1988. 5 O NEOLIBERALISMO E AS INFLEXÕES JUNTO AO ESTADO E AS POLÍTICAS SOCIAIS: A REALIDADE BRASILEIRA Realizamos algumas considerações sobre o neoliberalismo no decurso desse livro-texto. Porém, consideramos que seja importante retomar parte de nossas colocações revisitando o tema já estudado. Assim, destacaremos os princípios que orientam essa forma de compreensão dos fenômenos sociais e, sobretudo, sobre o papel do Estado na sociedade contemporânea. Atrelado a essa análise, idealizamos ainda tecer considerações sobre o desenvolvimento de tal concepção junto à realidade brasileira, especificamente no que diz respeito ao papel assumido pelo Estado brasileiro para atender aos dispositivos neoliberais. Antes de iniciarmos tais colocações, será necessário também retomar a compreensão sobre o keynesianismo, uma forma de compreensão do papel do Estado que antecedeu o neoliberalismo. Assim sendo, é importante relembrar que as ideias keynesianas começam a se desenhar na Europa no período em que o capitalismo vivenciava sua fase madura e consolidada. Esse período é compreendido como sendo um estágio em que há um intenso processo de monopolização do capital, por meio da intervenção do Estado junto à economia. Partindo disso, é preciso pontuar que a monopolização conduz a formação dos oligopólios privados em diversas formas de fusão (BEHRING; BOSCHETTI, 2010). Assim, grandes empresas compram outras, menores, para terem o domínio dos mercados. Vejamos a seguir uma notícia apenas para ilustrar o que estamos discutindo: Coca-Cola Femsa faz acordo para fusão com Grupo Tampico A engarrafadora mexicana Coca-Cola Femsa, a maior da marca na América Latina, disse na terça-feira que chegou a um acordo para se unir à divisão de bebidas do Grupo Tampico. O valor da operação é de 9,3 bilhões de pesos (US$ 790 milhões), afirmou o grupo, que entregará 63,5 milhões de novas ações série “L” ao preço de 103,2 pesos cada ao Grupo Tampico, além de assumir dívida de 2,75 bilhões de pesos. As ações a serem emitidas representam apenas 3,3% do capital social da empresa. “Estamos entusiasmados com nossa associação à primeira franquia da história da Coca-Cola

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PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL

Unidade IIAgora já sabemos como foi se desenvolvendo o Sistema de Seguridade Social Brasileiro. A partir de

agora, passaremos a discorrer sobre as influências da adesão neoliberal, por parte do governo brasileiro, à Seguridade Social legitimada a partir da Constituição de 1988.

5 O NEOLIBERALISMO E AS INFLEXÕES JUNTO AO ESTADO E AS POLÍTICAS SOCIAIS: A REALIDADE BRASILEIRA

Realizamos algumas considerações sobre o neoliberalismo no decurso desse livro-texto. Porém, consideramos que seja importante retomar parte de nossas colocações revisitando o tema já estudado. Assim, destacaremos os princípios que orientam essa forma de compreensão dos fenômenos sociais e, sobretudo, sobre o papel do Estado na sociedade contemporânea.

Atrelado a essa análise, idealizamos ainda tecer considerações sobre o desenvolvimento de tal concepção junto à realidade brasileira, especificamente no que diz respeito ao papel assumido pelo Estado brasileiro para atender aos dispositivos neoliberais.

Antes de iniciarmos tais colocações, será necessário também retomar a compreensão sobre o keynesianismo, uma forma de compreensão do papel do Estado que antecedeu o neoliberalismo. Assim sendo, é importante relembrar que as ideias keynesianas começam a se desenhar na Europa no período em que o capitalismo vivenciava sua fase madura e consolidada. Esse período é compreendido como sendo um estágio em que há um intenso processo de monopolização do capital, por meio da intervenção do Estado junto à economia. Partindo disso, é preciso pontuar que a monopolização conduz a formação dos oligopólios privados em diversas formas de fusão (BEHRING; BOSCHETTI, 2010). Assim, grandes empresas compram outras, menores, para terem o domínio dos mercados.

Vejamos a seguir uma notícia apenas para ilustrar o que estamos discutindo:

Coca-Cola Femsa faz acordo para fusão com Grupo Tampico

A engarrafadora mexicana Coca-Cola Femsa, a maior da marca na América Latina, disse na terça-feira que chegou a um acordo para se unir à divisão de bebidas do Grupo Tampico. O valor da operação é de 9,3 bilhões de pesos (US$ 790 milhões), afirmou o grupo, que entregará 63,5 milhões de novas ações série “L” ao preço de 103,2 pesos cada ao Grupo Tampico, além de assumir dívida de 2,75 bilhões de pesos.

As ações a serem emitidas representam apenas 3,3% do capital social da empresa. “Estamos entusiasmados com nossa associação à primeira franquia da história da Coca-Cola

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no México. Essa fusão reforçará a posição de liderança de nossa companhia no México e na América Latina”, disse o diretor-geral da Coca-Cola Femsa, Carlos Salazar, em comunicado.

Analistas do setor estavam à espera de uma atitude por parte da Coca-Cola Femsa, para firmar sua posição em um mercado cada vez mais competitivo depois da fusão das empresas de bebidas mexicanas Arca e Contal. A Arca e a Contal se fundiram em uma nova companhia, criando um importante competidor no sistema da Coca-Cola na região.

A operação da Coca-Cola Femsa, e do Grupo Tampico ainda precisa receber a aprovação do grupo da Coca-Cola, The Coca-Cola Company, e da Comissão Federal de Concorrência (CFC), órgão antitruste do México, mas espera-se que possa ser concretizada no terceiro trimestre.

Fonte: COCA-COLA.... (2011).

No exemplo reproduzido, observamos que a Coca-Cola busca comprar a rede de sucos Tampico. Dessa forma a Coca-Cola busca o controle dos mercados, ou seja, busca não ter concorrentes, por isso que o monopólio é buscado.

Porém, além da busca incansável por alcançar o lucro, o capitalismo vivencia momentos de grande expansão e de profundas crises. Nos momentos de grande expansão, há uma elevação das taxas de lucro, que são combinadas a elevados ganhos de produtividade. Os períodos de crise são tipificados por inexistência de demanda, recessão, desemprego e subemprego.

No contexto da crise capitalista surgiu o que se convencionou chamar keynesianismo. Em tese, essa doutrina provém do pensamento de Keynes, um importante teórico e economista que propunha alternativas para a crise capitalista que se evidenciou nos EUA em meados da década de 1920 e que teve seu grande apogeu em 1929, com a quebra da Bolsa de Nova York (BEHRING; BOSCHETTI, 2010).

Os ideais de Keynes buscavam encontrar uma alternativa para a crise e assim garantir que o sistema capitalista recuperasse as taxas de lucro que havia conseguido alcançar até aquele momento. Tais ideais estão postos em seu famoso livro Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda.

Assim sendo, a alternativa de Keynes para resolver o problema capitalista foi a intervenção do Estado na economia e também nas expressões da questão social. Behring e Boschetti (2010) nos dizem que essas intervenções, por parte do Estado, passam a ser compreendidas como alternativas para que fosse possível reativar a produção econômica.

A análise keynesiana, de acordo com Behring e Boschetti (2010), propunha que a intervenção estatal se mostrasse capaz de estimular a demanda, ou seja, estimular o comércio. Segundo Keynes, havia uma insuficiência no que dizia respeito à oferta e à compra de produtos e isso conduzia a crise capitalista. “Nesse sentido, o Estado deve intervir, evitando tal insuficiência” (BEHRING; BOSCHETTI, 2010, p. 85).

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Para isso, era necessária uma intervenção do Estado que regulasse a economia. Por exemplo, deveria organizar e gerir uma política fiscal, creditícia e de gastos. O poder público deveria então fixar juros, oferecer empréstimos a baixos valores para empresas privadas e desempenhar todo um rol de atividades ou funções que auxiliassem o mercado capitalista a voltar a crescer (compreenda-se crescer como recuperar o lucro).

Outra via de intervenção, segundo nos colocam Behring e Boschetti (2010), seria a intervenção nas expressões da questão social. Nesse sentido, segundo Keynes, era necessário que o poder público gerasse emprego ou qualquer outra forma de renda, para que as pessoas pudessem consumir. Assim, é idealizado que o Estado consiga alcançar o pleno emprego. Por meio dele será possível gerar renda para uma grande parcela da população e, se tal população possuir renda, voltará a consumir e o mercado retomará o seu crescimento. Porém, para aqueles que não conseguirem ter suas necessidades atendidas pelo mercado, cabe também ao Estado proporcionar uma “renda” para que essas pessoas possam consumir.

Nos termos postos, Behring e Boschetti (2010) nos chamam a atenção que a principal intervenção do Estado nesse sentido seria com os idosos, pessoas com deficiência ou crianças. Isso porque seriam segmentos que nem sempre teriam condições para o trabalho, decorrentes do próprio estágio de desenvolvimento que vivenciam. Apesar disso, a recomendação keynesiana é para que a pessoa sempre busque atender a suas necessidades por meio do mercado, ou seja, exercendo uma atividade laboral e que recorra ao poder público apenas quando não possuir mais condições de ter suas necessidades atendidas de forma autônoma.

Além de gerar emprego, conforme afirmam os autores, Keynes ainda propunha que o Estado organizasse um sistema de proteção social consolidado e firme para atender a todas as pessoas que dele necessitassem. Nesse sentido, uma série de serviços sociais precisa ser organizada pelo Estado para atender a determinados segmentos sociais, sendo que o grande destaque de ações nesse sentido seria uma Política de Assistência Social.

Assim, paulatinamente toda a Europa foi organizando seu Estado de acordo com os postulados de Keynes. Apesar disso, é importante observar que houve uma série de variações no formato adotado pela Europa, América Latina e Brasil, mas, o comum é que esse padrão de regulação estatal ficou conhecido com a terminologia Welfare State ou Estado de Bem-Estar Social.

Essa forma de compreensão do papel do Estado teve seu surgimento a partir da década de 1930, mas foi após o segundo pós-guerra que essa concepção perdurou e ganhou notoriedade no mundo. Inicialmente, essa forma de regulação fez com que fossem alcançados os lucros e conseguiu recuperar o crescimento econômico que havia declinado, assim como possibilitou que fosse mantida certa qualidade de vida para uma parcela da população. No entanto, esse padrão não foi mantido por muito tempo.

Houve, naquele momento, uma melhoria efetiva das condições de vida dos trabalhadores fora da fábrica, com acessos ao consumo e ao lazer que não existiam no período anterior, bem como uma sensação de estabilidade no emprego, em contexto de pelo emprego keynisiano [...], diluindo a radicalidade das lutas e levando a crer na possibilidade de combinar acumulação e certos níveis de desigualdade (BEHRING; BOSCHETTI, 2010, p. 89).

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Quando o keynesianismo começa a dar sinais de seu esgotamento, assistimos a ascensão de uma nova forma de compreensão do papel a ser assumido pelo Estado. A essa nova forma de regulação atribuiu-se o nome “neoliberalismo”, que não designa apenas a gestão do Estado na economia e nas expressões da questão social, mas faz acepção a uma série de comportamentos e atitudes que passam a ser esperadas do Estado. Entenda-se também como neoliberal um projeto de imposição ideológica, política e econômica que condiciona a vida dos seres humanos como um todo, e não �apenas� como um projeto de regulação econômica.

Couto (2010) chama atenção para uma série de mudanças que colaboraram para o desenvolvimento do neoliberalismo no mundo e também em nosso país. Segundo a autora, é na década de 1970 que o sistema capitalista evidencia outra crise econômica. Nesse processo de crise, observamos, novamente, o declínio das taxas de lucro alcançadas pelo mercado décadas antes.

Partindo da necessidade de retirar o sistema econômico da crise vivenciada, começam a ser realizadas análises para compreender possíveis influenciadores na ocorrência da crise. Como resposta a essa questão, identifica-se que a crise econômica estaria acontecendo em decorrência do excesso de poder que vinha sendo conferido ao Estado na regulação econômica e na gestão da vida das pessoas. Assim, a crise que é inteiramente relacionada ao mercado, ao desenvolvimento capitalista, é transmutada como se fosse uma crise do Estado, conforme afirma Iamamoto (2001).

A autora ainda nos diz que um presságio dessa responsabilização do Estado foi já na década de 1940, quando Hayek escreveu seu tão famoso livro O Caminho da Escravidão. Na obra, o autor já tecia várias críticas ao padrão keynesiano de regulação estatal e identificava muitos prejuízos, dentre os quais a economia e as liberdades individuais tendo em vista o padrão de desregulação estatal utilizado pelo Estado.

Iamamoto (2001) nos diz ainda que nesse momento as colocações de Hayek não se tornaram expressivas devido ao fato de que nesse momento o sistema capitalista ainda vivenciava uma onda de crescimento e desenvolvimento. Assim, as considerações de Hayek só terão relevância a partir do momento que se vivencia a grande crise.

Nos termos postos, Couto (2010) nos diz que a respeito da regulação econômica defende-se que o Estado abandone as funções de regulador como vinha fazendo antes. No entanto, o que assistimos é cada vez mais a manutenção da intervenção estatal no sentido de realizar a regulação econômica. No sentido em questão, Iamamoto (2001) exemplifica destacando a intervenção estatal que injeta recursos do fundo público junto a empresas privadas, os grandes oligopólios, o que é feito, por exemplo, saneando dívidas de bancos ou mesmo concedendo empréstimos a juros módicos para que esses tenham o lucro novamente alcançado.

Assim, a provocação de Iamamoto (2001) é muito sugestiva, quando a autora nos diz que se propõe o enxugamento das funções do Estado, mas essa retração seria apenas na intervenção junto à vida das pessoas, realizada por meio das políticas sociais. No que diz respeito ao mercado, ao capitalismo, não verificamos essa retração, esse enxugamento, e isso leva a referida autora a nos deixar o questionamento: “enxugamento para quem?”.

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Dessa forma, no que diz respeito à intervenção na gestão da vida das pessoas, esta passa a ser compreendida como negativa porque inibia a vontade individual e estimulava o ser humano a sempre esperar que o Estado intervisse em sua vida. Assim, o Estado “[...] teria criado condições objetivas de desestímulo aos homens para o trabalho produtivo, uma vez que acabavam escolhendo viver sob as benesses do aparelho estatal do que trabalhar” (COUTO, 2010, p. 69).

Como acabamos de sintetizar, o documento que é extremamente representativo dessa forma de compreensão foi o Consenso de Washington. Ele foi elaborado em 1989, em Washington, quando estiveram reunidos presidentes e representantes das nações econômicas mais desenvolvidas, representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Essa “reunião” buscava encontrar alternativas para a tão falada crise que ainda se mostrava latente no sistema capitalista, com especial atenção para a situação de dificuldade observada em países subdesenvolvidos, que inspiravam especial preocupação dos países desenvolvidos.

Como possível solução para a chamada crise, a alternativa encontrada pelo Consenso de Washington foi a redução da intervenção estatal na economia e também junto à regulação da vida dos seres humanos. Aliás, segundo Couto (2010), os países subdesenvolvidos que necessitassem de empréstimos do FMI ou do Bird deveriam se adequar às recomendações do Consenso de Washington, visto que, caso contrário, poderiam não ser beneficiados com concessões de empréstimos e auxílios de qualquer natureza.

O Consenso de Washington teria então proposto uma “Reforma” do Estado, sendo que alguns teóricos utilizam o termo “contrarreforma”. Essa reforma deve ser viabilizada por meio de uma série de “políticas de ajuste” (IAMAMOTO, 2001, p. 34), em função da chamada crise fiscal, e tem como ponto pacífico primordial a necessidade de redução estatal no investimento, do fundo público, destinado para a realização dos serviços públicos. “Em função da crise fiscal do Estado, em um contexto recessivo, são reduzidas as possibilidades de financiamento dos serviços públicos” (IAMAMOTO, 2001, p. 34).

Iamamoto (2001, p. 35), recorrendo a Atílio Boron, diz que temos uma “satanização do Estado” e uma “santificação do mercado, do que é privado”. Isso significa que tudo que é desenvolvido pelo Estado ou está a ele relacionado é tido como ruim, de péssima qualidade, e tudo que é bom, positivo, é tido como relacionado à iniciativa privada. Assim:

Por um lado, a satanização do Estado: o Estado é tido como o diabo, responsável por todas as desgraças e infortúnios que afetam a sociedade capitalista. Por outro lado, a exaltação e a santificação do mercado e da iniciativa privada, vista como a esfera da eficiência, da probidade e da austeridade, justificando a política de privatizações (IAMAMOTO, 2001, p. 35).

É transmitida a ideia de que tudo que é desenvolvido pelo Estado não é bom, sendo também necessário por isso privatizar o que é público. Com isso, o governo pode vender empresas lucrativas, transferindo-as para a iniciativa privada. Nesse contexto, a iniciativa privada irá tornar a empresa estatal muito melhor do que antes, sob a gestão do Estado. Podemos citar um rol larguíssimo de empresas que

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foram privatizadas, mas nos deteremos a poucas, sendo elas: o Banco Banespa, no estado de São Paulo (hoje Santander), e as empresas de telefonia, dentre as quais a Telesp, hoje Telefônica.

Vejamos a seguir um texto sobre um desses processos de privatização.

BC afirma que privatização do Banespa é “marco na história”

O governo ficou satisfeito em vender o Banespa por R$ 7,050 bilhões, com ágio de 81,02%. O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, afirmou que o Santander, que comprou a instituição paulista, deu um exemplo de confiança no Brasil. “Temos um futuro que vamos conquistar com a ajuda dos que acreditam no País”, disse Fraga. De acordo com Fraga, a venda do Banespa é “um marco na nossa história” e “confirma a visão de longo prazo no País.” Na mesma linha, o secretário do Tesouro Nacional, Fábio Barbosa, declarou que o valor pago pelo Santander para a compra do Banespa indica que os investidores estrangeiros têm uma boa perspectiva sobre o Brasil. Segundo Barbosa, a privatização do Banespa representou um ganho tanto para o comprador quanto para a sociedade. “A venda do Banespa foi uma vitória do contribuinte”, declarou.

Para Fraga, o alto ágio pago pelo banco Santander não quer dizer que o preço mínimo estava baixo. “Quem sabe avaliar é o comprador. Se ele pagou um prêmio por isso é porque sabe que passará a ter uma posição de destaque no mercado bancário brasileiro”, disse Fraga.

Oportunidade - Segundo ele, no médio e longo prazo apenas “uma meia dúzia de bancos terá atuação nacional”. Fraga, disse em coletiva que o Santander, apesar do ambiente turbulento do mercado internacional, “levou a principal joia da coroa”. Isso porque, segundo Fraga, o Santander pagou pela última oportunidade de ganhar grande parte do mercado de uma vez só.

Barbosa informou que os recursos obtidos no leilão de privatização do Banespa serão utilizados integralmente para abater a dívida pública. Barbosa afirmou que os recursos da venda do Banespa vão servir para aumentar a margem de manobra do Tesouro na administração da dívida pública frente as variações das condições de mercado.

Fraga disse que o Banespa consumiu cerca de R$ 50 bilhões de recursos do governo nos últimos anos. Barbosa explicou que esta cifra equivale ao total refinanciado ao Estado de São Paulo em valores de maio de 1997 para pagamento em 30 anos com juros subsidiados. Barbosa disse que este refinanciamento implicou no saneamento do Banespa e da Nossa Caixa, que hoje são instituições líquidas e na melhora da situação financeira do estado de São Paulo.

Privatizações - Segundo Fraga, o governo pretende continuar privatizando instituições financeiras. Ele disse não ter novas datas de leilões para informar e não respondeu a uma pergunta sobre a privatização do Banco do Brasil, alegando, na repetição da pergunta, não ter ouvido a questão e fazendo uma careta.

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Fraga explicou que o Banespa privatizado não terá de manter sua atuação em “políticas públicas”, como financiamento a pequenos agricultores, por exemplo. “A privatização deixa clara a separação entre o negócio privado e uma política pública”, disse. Indagado sobre o futuro aumento de remessas de dividendos ao exterior, já que o Santander é um banco espanhol, Barbosa respondeu: “não se pode analisar (a privatização do Banespa) por um único evento.” O presidente do Banespa, Eduardo Guimarães, disse que “o Santander acaba de comprar um excelente banco com um corpo de funcionários invejável e que tem todas a condições para despontar como um dos líderes do sistema financeiro”. Segundo Fraga, “muitos funcionários serão bem aproveitados”.

Atendimento - O diretor de Finanças Públicas e Regimes Especiais do BC, Carlos Eduardo de Freitas, garantiu que o atendimento aos clientes, após a privatização do banco, vai melhorar substancialmente. “O banco passa a ter um controlador com ânimo de permanência, que traça um curso de ação e uma estratégia de longo prazo, com custos menores e maior eficiência no atendimento ao cliente”, disse. Guimarães informou que a liquidação financeira do leilão será feita na próxima segunda-feira, dia 27 de novembro. Nesta data, esclareceu ele, também será realizada uma assembleia extraordinária no banco para eleger a nova diretoria do banco paulista, que deve tomar posse no mesmo dia.

Fonte: BC... (2000).

Exemplo de aplicação

Cabe aqui a seguinte reflexão: a quem serviu esse processo de privatização? Será que todos os trabalhadores vinculados ao extinto Banespa foram mantidos no quadro de funcionários? Em sua opinião, o Estado deveria potencializar a privatização das empresas públicas? Argumente.

Observamos assim a adesão por parte de muitos países do que estava posto no Consenso de Washington, sendo que o Brasil foi um dos países que se tornaram signatários dos princípios postos pelo receituário neoliberal, ou, como nos diz Iamamoto (2001, p. 113), o nosso país aderiu à “terapêutica neoliberal”.

O resultado de tal adesão é que as formas de intervenção junto às expressões da questão social – como as políticas sociais, conquistadas durante o Welfare State – começaram a ser desarticuladas. Assim, para aderir aos princípios neoliberais era necessário reduzir a intervenção estatal junto às políticas sociais. Estas reassumem seu caráter residual e pontual, deixando de ser executadas com primazia de responsabilidade do Estado. O caráter universal passa a ser perdido e são priorizadas ações a serem desenvolvidas apenas junto aos mais pobres. “Retoma-se a política da meritocracia, onde ser pobre é atributo de acesso a programas sociais, que devem ser estruturados na lógica da concessão e da dádiva, contrapondo-se ao direito” (COUTO, 2010, p. 171).

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Buscando sistematizar esse processo, Couto (2010) nos coloca que o neoliberalismo propõe a reversão das nacionalizações processadas no segundo pós-guerra, sendo que o mercado passa a estar aberto para a influência internacional. Também nesse processo observamos, de acordo com a autora citada, a desregulamentação das atividades econômicas e também das intervenções sociais que eram até então desenvolvidas pelo Estado. Diante disso, os serviços universais de proteção social passam a ser substituídos pela particularização dos serviços e dos benefícios sociais.

Iamamoto (2001), derivando da compreensão de Couto (2010), ainda nos diz que há um desmantelamento dos direitos sociais já alcançados por meio das políticas sociais residuais, ou particularizadas, como pontuou Couto (2010). Iamamoto (2001, p. 37), porém, coloca que a ótica a ser usada pelo Estado é pautada na “lógica do contador”, que se traduz pela compreensão que:

[...] se a universalidade é um preceito constitucional, mas não se tem recursos para atender a todos, então que se mude a Constituição. Essa é a lógica contábil, da “entrada” e “saída” de dinheiro, do balanço que se erige como exemplar, em detrimento da lógica dos direitos, da democracia, da defesa dos interesses coletivos da sociedade, a que prioridades orçamentárias deveriam submeter-se.

Trata-se de reduzir o chamado Custo Brasil, que nos foi dado por uma série de fatores econômicos, sociais e políticos, mas está muito mais relacionado às condições vivenciadas na década de 1990 no Brasil após a Constituição de 1988. Esta passa a ser vista como algo que poderia impedir o Estado de realizar suas intervenções de forma eficiente.

Para que o Estado consiga superar a crise, além da sua redução frente à regulação econômica e à regulação das expressões da questão social, é preciso ainda que o Estado abandone o modelo de gestão burocrático até então em uso e se utilize do denominado modelo gerencial (IAMAMOTO, 2001).

Segundo esse novo modelo de gestão estatal, a administração deveria dar-se em um formato:

[...] descentralizado, voltado para a eficiência, o controle de resultados, com ênfase na redução dos custos, na qualidade e na produtividade. Apoia-se nos princípios da confiança, descentralização de decisões e funções, formas flexíveis de gestão, horizontalização das estruturas, incentivos à criatividade, orientação para o controle de resultados e voltada ao “cidadão cliente” (IAMAMOTO, 2001, p. 120).

A transferência – a descentralização – se processa em várias direções. Uma a ser considerada refere-se ao fato de que estados e municípios passam a ter possibilidade de gestão dos poucos serviços sociais que são executados. Mas um interessante formato para se compreender essa descentralização refere-se ao chamamento que o Estado faz à sociedade civil para que esta atenda às expressões das questões sociais não contempladas por sua débil intervenção.

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Esse processo é chamado por Iamamoto (2001) de refilantropização, visto que, segundo a autora, o Estado reativa formas de filantropia e caridade social quando invoca a ajuda da sociedade civil. Atualmente, porém, essas filantropias são geridas por organizações não governamentais ou então pelas filantropias de empresas privadas.

Saiba mais

A título de exemplo das organizações não governamentais, visite os sites:

<http://www.clinicaatibaia.com.br>.

<http://www.sonharacordado.org.br/saopaulo/index.php>.

É comum observamos a intervenção de serviços de tal natureza, mas é importante ressaltar que tanto o trabalho das organizações não governamentais quanto aquele das filantropias privadas só se realiza porque o Estado se retrai, se encolhe. Não fosse isso, não haveria necessidade de tais organizações da sociedade civil e também o Estado estaria condicionado à ação por saber que nenhum outro segmento faria isso por ele.

Entretanto, como dissemos anteriormente, o Brasil também aderiu aos postulados do Consenso de Washington e do neoliberalismo, por conseguinte. Isso conduziu a um rearranjo nas políticas sociais, sobretudo no Sistema de Seguridade Social que acabara de ser instituído por meio da Constituição de 1988.

Contrapondo-se à intervenção universal e atendendo apenas as expressões mais latentes da pobreza, o Estado brasileiro orienta toda a sua intervenção para a regulação da economia. Aliás, essa já é uma tendência no cenário nacional que condiciona e orienta as políticas de governo e influenciam sobremaneira a política social desde a década de 1930 e, sobretudo, após o segundo pós-guerra. Behring (2011, p. 35) denomina esse padrão de intervenção estatal que se consolida no Brasil e em todo o mundo com a terminologia “capitalismo monopolista de Estado”.

Nos termos postos, segundo a autora, o “capitalismo monopolista de Estado” refere-se a um estágio de desenvolvimento do sistema capitalista em que a extração da taxa de lucro e, consequentemente, da extração da mais-valia tende a declinar. É sabido que a crise é inerente ao sistema capitalista, ou seja, são comuns altas e baixas na extração da mais-valia. Porém, quando essas crises começam a acontecer paulatinamente ou para evitar que os resultados dessas crises seja prejudicial à acumulação, exige-se a intervenção do Estado – ou, como destaca Behring (2011, p. 35), temos o “[...] financiamento público da acumulação capital”.

A autora nos diz que na idade do monopólio, em virtude do próprio estágio capitalista vivenciado, temos uma dificuldade de valorização do capital e, consequentemente, da extração do lucro. A burguesia, por outro lado, tenta a todo custo encontrar alternativas para a valorização do capital. Grande parte

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dessa desvalorização do capital está relacionada ao fato de haver grande quantidade de produtos e insuficiente demanda, assim “[...] a produção de mais mercadoria é paradoxal, se se considera a restrição relativa do consumo dos trabalhadores” (BEHRING, 2011, p. 35).

Todavia, a crise não pode ser compreendida como restrita ao descompasso instalado entre demanda e consumo, apesar de ser essa sua mais latente expressão. A crise capitalista é algo inerente, faz parte desse sistema e jamais conseguirá manter a arrecadação de taxas de lucro estáveis. Sempre haverá queda e ampliação da taxa de lucro extraída.

Nos termos postos, temos a intervenção estatal tanto em momentos de crise quanto em momento em que a crise não está latente, apenas para evitar que ela aconteça. Behring (2011, p. 37) denomina esse processo como o “salvamento” do mercado. Para ela, tal processo se torna possível porque o Estado:

[...] assegura os lucros capitalistas de várias maneiras. Indiretamente, o financiamento público ao setor privado ocorre por meio do orçamento do Estado e de contratos públicos. No entanto, as formas diretas – créditos, subvenções garantias de empréstimos, responsabilidade estatal por campos de investimentos complementares etc. – são cada vez mais predominantes (BEHRING, 2011, p. 37).

Segundo a autora, os recursos do fundo público são orientados para atender às despesas da seguinte maneira:

[...] parasitárias (polícia, armamentos, exército); aquelas que contribuem para o desenvolvimento das forças produtivas sociais (investigação, educação, saúde, segurança social, habitação, transportes etc.); despesas de consumo do Estado; e contratos públicos (BEHRING, 2011, p. 37).

Esse investimento, aliás, é todo orientado para fazer com que o capitalismo tenha plenas condições para seu desenvolvimento. Behring (2011) diz que, sobretudo, as Políticas de Educação e Saúde estão voltadas para oferecer ao mercado uma mão de obra saudável e capaz de produzir. “Assim, a garantia de uma mão de obra resistente, aperfeiçoada e disciplinada é assumida pelo Estado” (BEHRING, 2011, p. 38).

O Estado ainda realiza uma série de outros esforços para regulação econômica, dentre as quais a regulamentação da estrutura de créditos e financiamento, além de desenvolver uma série de intervenções voltadas para garantia do nível de preços dos produtos a para a tributação. Concluindo:

O Estado não é só o guarda noturno ou o porteiro do capital nem apenas o cúmplice jurídico e repressivo das suas operações financeiras. Por meio de fundos cobrados à nação, ele assegura aos monopólios o financiamento suplementar que lhes permite resistir momentaneamente aos efeitos da baixa da taxa média de lucro. Este financiamento ganha todo o seu sentido, porque o Estado capitalista atua, cada vez mais diretamente, sobre

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as relações de produção e simultaneamente sobre as forças produtivas (BOCCARA, 1971, p. 96 apud BEHRING, 2011, p. 40).

Aliás, o rol de funções conferido ao Estado é larguíssimo e aponta para a intervenção na economia e para a redução da ação junto ao Sistema de Seguridade Social.

Lembrete

Seguridade Social Brasileira: remete a Políticas Sociais de Saúde, Previdência e Assistência Social.

Podemos agora voltar o nosso olhar para a compreensão da influência do neoliberalismo no papel adotado pelo Estado Brasileiro frente às políticas sociais, sobretudo junto ao Sistema de Seguridade Social. Cabe destacar que somente a partir da Constituição de 1988 é que o Estado passou a ter primazia de responsabilidade na condução das políticas sociais. É também por meio dessa carta constitucional que o Sistema de Seguridade Social passou a ser organizado e gerido também com a primazia de responsabilidade do Estado.

A partir desse período histórico pós-Constituição de 1988, iremos voltar o nosso olhar para fundar a nossa compreensão sobre o neoliberalismo. Assim sendo, retomemos o período da década de 1990, quando são encontradas todas as condições políticas, econômicas e sociais que justificam a aceitação, por parte do Estado brasileiro, dos princípios que foram postos pela cartilha neoliberal.

Vejamos: a década de 1990 é marcada por um dos episódios políticos mais relevantes da história de nosso país e esses fatos têm origem quando Fernando Collor de Melo e Itamar Franco são eleitos, por eleição direta, presidente e vice-presidente do país, respectivamente.

Itamar, porém, nos primeiros anos do mandato, permaneceu quase como um mero coadjuvante do cenário político, já que toda a campanha política se concentrou mesmo em Fernando Collor. Este, em seu discurso político pré-eleição, reivindicava a moralização da política brasileira, sendo que ele defendia que no Brasil era extremamente urgente e necessária uma intervenção de “caça aos marajás” (COUTO, 2010, p. 145), fazendo menção a uma classe política que no dizer do então candidato obtinha privilégios econômicos em detrimento do poder adquirido.

Contudo, Collor conseguiu também fortalecer sua imagem dizendo-se “amigo dos pobres”, dos “perseguidos das elites”, ou seja, mostrou-se como alguém que buscava defender os segmentos empobrecidos da comunidade brasileira. Porém, nada mais emblemático do que a imagem que Collor pretendia transparecer, de “pai dos descamisados”, fazendo menção à grande massa empobrecida da sociedade brasileira (COUTO, 2010, p. 145).

Contando com uma política essencialmente populista e com o apoio de partidos de direita e da mídia nacional, sem falar da burguesia brasileira como um todo, Collor foi eleito presidente do país, sendo que nesse período conseguiu derrotar Luis Inácio Lula da Silva, que também concorria ao pleito presidencial como representante do Movimento Operário brasileiro.

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Apesar de todo discurso em prol da classe pobre de nosso país, foi em Collor que observamos os primeiros esforços incisivos para impedir que os direitos alcançados na Constituição de 1988 fossem colocados na prática, sobretudo no que diz respeito aos direitos relacionados à Seguridade Social. Observe que fazia apenas dois anos da referida carta de direitos.

Couto (2010) afirma que o argumento de Fernando Collor e de todo o seu corpo de secretários era de que os direitos sociais alcançados e postos na Constituição de 1988 tornavam o país ingovernável, ou seja, não seria possível que o país se desenvolvesse economicamente. Para não comprometer o desenvolvimento econômico do país era preciso reduzir os investimentos necessários à manutenção dos serviços relacionados à política social.

Diante disso, a única instituição mantida pelo então presidente foi a Legião Brasileira de Assistência (LBA), que, como vimos, foi criada em 1942 pelo então presidente Getúlio Vargas. Mas, como a história também nos diz, a LBA, presidida na época pela primeira dama do país Rosane Collor, foi extinta em decorrência dos inúmeros processos relacionados ao mau uso do dinheiro público que financiava suas intervenções.

Sobre o tema, vejamos uma notícia correlata:

Governo reintegra mais 432 servidores demitidos no governo Collor

Mais 432 servidores públicos, demitidos no governo do presidente Fernando Collor (1990-1992) e anistiados pela Comissão Especial Interministerial (CEI), coordenada pelo Ministério do Planejamento, poderão retornar aos cargos de origem, caso desejem, de acordo com 19 portarias publicadas no Diário Oficial da União de hoje (18). Os atos beneficiam ex-empregados de cinco empresas estatais de telefonia (Telesp, Telebahia, Teleceará, Telemig e Telerj. Relaciona também ex-empregados da Eletronorte e da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), bem como dos extintos Fundo de Previdência dos Funcionários da Portobras, Banco Nacional de Crédito Cooperativo (BNCC), Banco Meridional e Legião Brasileira de Assistência (LBA).

Também foram chamados ex-funcionários do Serpro, do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), dos Correios, da Indústria Nacional de Material Bélico (INB), da Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM), da Vale do Rio Doce, da Docas da Bahia (Codeba) e do Laboratório Químico-Farmacêutico da Aeronáutica (Laqfa). Os nomes relacionados nas portarias assinadas pela ministra Miriam Belchior serão notificados pelo órgão ou entidade em que serão reintegrados e terão prazo de 30 dias para se apresentar ao serviço, sob regime celetista. A reintegração não contempla ressarcimento de salários. O processo de anistia e reintegração começou em 2008, mas ainda restam 1,4 mil pedidos de reconsideração em análise. A previsão é que todos sejam concluídos até o fim do ano, de acordo com a presidenta interina da CEI, Erida Maria Feliz.

Fonte: Ribeiro (2011).

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Exemplo de aplicação

A notícia retrata alguns funcionários demitidos por pertencerem a instituições que foram julgadas por desvio de dinheiro e outras práticas ilícitas, como a LBA, e terem alcançado o direito de serem reincorporados em outra instância do governo, em regime de trabalho celetista. Reflita e emita um parecer de como você compreende essa decisão de reincorporação desses trabalhadores.

O que não houve de intervenção na área social foi “compensada” pela regulação econômica. Aliás, a intervenção de Collor, nos termos de Couto (2010), sempre esteve essencialmente orientada à regulação econômica, demonstrando assim que nesse período o Estado brasileiro incorporou duas grandes orientações do neoliberalismo, sendo elas a redução de gastos na área social e a regulação econômica a fim de recuperar as taxas de lucro do capitalismo. Assim, foram organizados planos econômicos e empreendida uma série de medidas para abrir o mercado brasileiro para os investimentos externos, tentando iniciar um processo de privatização de empresas públicas lucrativas.

De acordo com Couto (2010), foram desenvolvidos no período dois planos econômicos: Plano Collor I e Plano Collor II. O Plano Collor I, organizado logo após a sua posse, determinou o confisco dos ativos (poupança dos correntistas) e o congelamento de preços e de salários. Apesar disso, teve grande apoio da população brasileira que acreditava serem necessárias as medidas propostas pelo então presidente.

Entretanto, denúncias de corrupção dois anos após a posse resultaram em um processo de impeachment do Presidente. Todo apoio até então proporcionado pelas massas populares se converteu em descontentamento e expressão popular. Collor, com uma última cartada populista, solicitou o apoio da população, requisitando uma passeata em que todos que acreditassem no seu governo e no Brasil expusessem um objeto ou bandeira verde e amarelo. Deu-se então a surpresa: grande parcela da população se vestiu de preto, destacando-se o movimento estudantil, representado pela União Nacional dos Estudantes (UNE), que saiu às ruas com os rostos pintados, como se fossem palhaços. Esse fenômeno que alcançou grande adesão da população brasileira, foi um dos grandes eventos de organização política do país.

Esse processo resultou no afastamento do presidente do poder e ainda na cassação dos seus direitos políticos. Collor, no entanto, voltou ao poder, como podemos observar na notícia a seguir:

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Figura 13

O senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) prepara-se para discurso no plenário pela primeira vez desde que voltou ao Congresso. Collor foi eleito em 1989, o 1º presidente da República eleito pelo voto direto após a ditadura militar. Após sofrer impeachment em 1992, teve os direitos políticos cassados por oito anos e foi eleito em 2006.

Fonte: Galeria ... (2007).

Collor, antes de se despedir do país, deixou como herança um grande empobrecimento de significativa parcela da população brasileira, além de um total descrédito das instâncias políticas, visto que o primeiro presidente eleito por voto direto esteve envolvido com denúncias de corrupção.

Couto (2010, p. 146) nos sinaliza ainda que o país vivenciava a seguinte situação:

a) alavancagem do processo de privatização das empresas nacionais; b) abertura econômica para capitais estrangeiros; c) retomada do processo inflacionário; d) minimização dos gastos públicos governamentais na área social, entre outras características, o que aponta seu perfeito alinhamento com as indicações feitas pelos organismos internacionais.

Ou seja, seu perfeito alinhamento com princípios neoliberais.

Com a saída de Collor, assumiu o poder seu vice, Itamar Franco, que governou no período de 1992 até 1994. Itamar, por sua vez, tentou manter o equilíbrio econômico defendendo uma série de medidas de regulação da economia para conter o déficit econômico do país.

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Itamar também desenvolveu seu plano econômico, na época idealizado e executado por seu Ministro da Economia, Fernando Henrique Cardoso (ou FHC). Esse plano, denominado Plano Real, pressupunha:

• estabilidade de preços, incorporando alternativas de crescimento do mercado, bem como investimentos e avanços tecnológicos setorizados;

• modernização como redefinição da estrutura produtiva nacional, tendo como referência as novas tecnologias disponíveis no mercado internacional;

• integração econômica no cenário globalizado; e, por fim,

• desregulamentação do setor produtivo público, redefinindo seu papel como administrador de políticas macroeconômicas e de produção de bens sociais e de políticas sociais compensatórias (COUTO, 2010, p. 147).

Ou seja, regulação econômica, compreensão de que o papel do Estado era antigo e, portanto, deveria ser modernizado, sobretudo pela introdução de novas tecnologias, de globalização econômica, sucateando a economia nacional em detrimento da economia externa, além de redução da intervenção junto aos serviços sociais.

Apesar disso, a administração Itamar Franco foi ameaçada pelo Ministério Público em decorrência da retração estatal em relação à organização das políticas sociais. Associada a essa pressão, houve também muitas reivindicações e pressões populares, sobretudo por trabalhadores da área da Assistência Social e representantes de entidades assistenciais, resultando assim na publicação da Lei Orgânica da Assistência Social, ou Lei nº 8.742, de 1993 – legislação que já foi estudada por nós. Porém, isso não fez com que ações nessa área fossem desenvolvidas, e a Política de Assistência Social permaneceu sem recursos destinados.

A grande intervenção desenvolvida por Itamar Franco no período foi o Plano de Combate à Fome, a Miséria e pela Vida, reestabelecendo uma intervenção que se dizia assistencial mas apenas recuperava o caráter clientelista, assistencialista e populista utilizado por governos anteriores.

Além disso, a intervenção em questão fazia grande apelo à sociedade civil no sentido de realizar arrecadação de alimentos, propondo uma parceria entre ela e o Estado para que juntos acabassem com a fome do país, desresponsabilizando assim o Estado e tentando com isso garantir o não cumprimento das conquistas postas na Constituição de 1988 e na Loas. Esse plano pautou-se em três princípios básicos, a saber: “a solidariedade privada, a parceria entre Estado, mercado e sociedade e a descentralização da provisão social” (PEREIRA, 2000, p. 166 apud COUTO, 2010, p. 148).

O plano conseguiu intensa mobilização popular, mesmo porque tinha como um dos seus principais defensores o sociólogo Herbert de Souza, que ficou popularmente conhecido como Betinho. Betinho

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era responsável por organizar as ações do programa, sendo suas intervenções relacionadas ao Conselho Nacional de Segurança Alimentar especialmente constituído para viabilizar as intervenções relacionadas ao Plano de Combate à Fome, a Miséria e pela Vida.

Mas a programação de Itamar e, sobretudo, de Betinho não saiu como idealizada. Apesar da mobilização da sociedade brasileira em prol do segmento que padecia pela fome, os alimentos arrecadados nem sempre foram destinados aos fins propostos. Isso resultou em um novo desapontamento da população brasileira frente aos líderes políticos e aos envolvidos com o plano pela erradicação da fome. Assim,

Pode-se destacar que, embora tendo havido uma importante mobilização da população, como chamamento de sua responsabilidade para com a solidariedade social, o programa acabou sendo esvaziado, pois ocorreu uma utilização clientelista do mesmo em vários pontos do país, e uma despriorização política do governo central, que não disponibilizou os recursos necessários a um programa de tal monta (COUTO, 2010, p. 148).

Ou seja, pouquíssimos avanços em relação à política social, mas um caminhar significativo em prol do neoliberalismo demarcou o governo de Itamar Franco.

Após o fim do mandato, foi eleito FHC, que foi, como já dissemos, Ministro da Economia do governo anterior. Seguindo a linha adotada desde Collor, FHC priorizou a regulação econômica e as reformas estatais. No âmbito da regulação econômica, priorizou o controle da inflação e a estabilidade da moeda e da dívida externa. No âmbito da modernização estatal, promoveu o que denominou reforma fiscal, argumentando em prol da redução do Estado, sobretudo do rol de intervenções junto às políticas sociais, para que ele conseguisse empreender uma gestão eficiente. Essas ações, por outro lado, eram sustentadas pelo Congresso Nacional, já que FHC instituiu uma política de troca de favores com deputados e senadores. Dessa forma, ainda organizou a economia brasileira submetendo as negociações econômicas ao mercado internacional, sobretudo por meio da privatização de empresas nacionais lucrativas.

Acreditava-se – ou pelo menos vinha defendida a ideia – que o desenvolvimento econômico deveria ser alcançado e, dessa forma, o desenvolvimento social seria uma consequência.

Aliás, esse discurso perpassou grande parte dos governos brasileiros, como vimos. Aliás, a máxima de que o crescimento econômico traria, como consequência, o desenvolvimento social parece ser a tônica dos governos brasileiros desde a ditadura militar (COUTO, 2010, p. 151).

De fato, sabemos que as intervenções em prol de regulação econômica tendem a beneficiar apenas e essencialmente o capitalista, e mais ninguém. Nesse sentido, FHC se mostrou extremamente eficiente, ou seja, conseguiu reduzir significativamente os gastos, que já não eram muitos na área social. Apesar de ter orientado sua campanha presidencial defendendo a ampliação da ação estatal nas áreas de saúde, educação, emprego, agricultura e segurança, na prática, assim que assumiu o poder, cuidou de minimizar a intervenção estatal nessas áreas (COUTO, 2010).

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A política do governo FHC motivou até uma intervenção do Tribunal de Contas da União (TCU), já que essa ausência de gastos na área social por parte do Estado foi interpretada como uma negligência. O mais interessante é que esse governo teria, segundo a análise do Tribunal de Contas da União, gasto menos do que o governo Itamar na área das políticas sociais. Note-se que Itamar Franco geriu o país apenas por dois anos.

[...] o TCU, [...] com base em análises das ações e das contas de governo, indicou que os gastos governamentais com o combate à pobreza, com investimentos na educação e com o programa de reforma agrária, eram menores do que os de 1994 do governo Itamar (PEREIRA, 2000, p. 170 apud COUTO, 2010, p. 150).

Mesmo essa intervenção do Tribunal de Contas da União (TCU) não mudou os rumos adotados pelo governo FHC. Frente a essas colocações do TCU e de alguns segmentos da sociedade brasileira, o governo FHC apenas iniciou uma mobilização social em prol dos segmentos empobrecidos. Contudo, não investiu recursos junto às políticas sociais.

O grande programa de combate à fome do governo FHC foi a chamada Comunidade Solidária, criada no ano de 1995. O programa era vinculado ao Gabinete Civil da Presidência da República e foi organizado por meio da convocação, por parte da sociedade, para intervir junto a regiões mais empobrecidas do Brasil. No caso, o programa contava com a doação do trabalho de diversos profissionais e alunos, sendo que uma série de formações eram direcionados a regiões mais empobrecidas para intervir nas demandas apresentadas por essas populações (COUTO, 2010).

A gestão do projeto pertencia à primeira dama Ruth Cardoso, o que condicionava a intervenção como uma prática assistencialista, tendo em vista que as ações relacionadas ao projeto não eram percebidas como direito dos cidadãos e sim como uma concessão de primeira-dama. Além disso, as ações não eram universais, e sim destinadas aos municípios mais pobres do país. Também eram intervenções pontuais, visto que os voluntários permaneciam por determinados períodos na região onde intervinham.

Na sequência, observe a notícia sobre uma intervenção relacionada ao projeto em questão. Nela vemos a exposição da então primeira-dama.

FHC abrirá fase ministerial de sessões da Cepal na quinta-feira.

O presidente Fernando Henrique Cardoso abrirá na quinta-feira (9) a fase ministerial do 29º período de sessões da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), pela manhã, no Palácio do Itamaraty. Na ocasião serão apresentados três paineis para discutir políticas macroeconômicas e uma economia globalizada; políticas produtivas e tecnológicas na globalização; e transferências tecnológicas. Os ministros Pedro Malan (Fazenda), Guilherme Dias (Planejamento, Orçamento e Gestão) e Ronaldo Sardemberg (Ciência e Tecnologia) participarão da solenidade.

Na sexta-feira (10), serão apresentados dois painéis. O primeiro, sobre globalização e equidade, pela presidente da Comunidade Solidária, Ruth Cardoso, e o segundo, sobre meio

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ambiente e sustentabilidade em um mundo globalizado, pelo ministro do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho. A cerimônia de encerramento do evento está prevista para as 16h30.

Fonte: FHC... (2002a).

Exemplo de aplicação

Essa é uma notícia representativa, que demonstra a fala da primeira-dama vinculada ao programa e que, como vimos, propõe uma vinculação entre globalização e equidade. Cabe a reflexão: seria possível em uma economia globalizada haver também equidade social?

Além disso, FHC promoveu uma ampla campanha em prol da reforma da previdência. Essa reforma era proposta segundo a chamada Emenda 20, que buscava ampliar o tempo de contribuição social para aposentadoria, além de propor alterações no âmbito da Seguridade Social, como a redução de gastos para áreas como a educação e Assistência Social. Vejamos algumas considerações sobre esse processo, levando em conta a reforma do regime previdenciário.

Iniciamos salientando sobre o discurso que orientou essas ações. No âmbito da argumentação teórica, segundo Araújo (2009) destaca, surgem nesse período três motivos ou justificativas para fundamentar a necessidade de a previdência ser reformada. Parte desses motivos é evidenciada ao longo do governo FHC e depois recuperada durante o governo Lula.

Dessa forma, justifica-se que a reforma da previdência faz-se necessária porque há um déficit no regime previdenciário e seria esse déficit que tornaria o regime de Previdência Social algo ingovernável e que de tal forma já teria sua falência decretada. Em relação a esse déficit, argumenta-se que “[...] sua eliminação é tida como condição indispensável para a própria continuidade do pagamento dos benefícios” (ARAÚJO, 2009, p. 33).

Além de tal justificativa, defende-se que os regimes de previdência até então organizados precisam ser reformatados. Como sabemos, nesse período havia no Brasil dois regimes previdenciários, sendo eles o regime geral de previdência e o regime próprio de Previdência Social. O regime geral de previdência (RGPS) era destinado aos trabalhadores da esfera privada e que são geridos pelo INSS; já o regime próprio de Previdência Social (RPPS) era destinado aos servidores públicos civis, militares e demais, desde que fossem geridos pelo ente estatal.

A crença era de que esse regime conduzia a uma desigualdade na renda, fortalecida sobretudo nos privilégios concedidos pelos servidores públicos. Dessa forma, acreditava-se que os funcionários públicos não deviam ter tratamentos diferenciados em relação aos demais que colaboravam com o regime previdenciário organizado até então no país. Por fim, começou a se justificar no período que a população brasileira como um todo estaria envelhecendo e, devido a isso, seria fundamental repensar a Previdência Social para atender à demanda que com certeza tenderia a crescer consideravelmente (ARAÚJO, 2009).

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Araújo (2009) nos diz que FHC sustentou a reforma da previdência sob esses argumentos, sobretudo o argumento de que havia um suposto desequilíbrio entre o que era arrecadado pela previdência e o que era pago por ela, originando assim o que muitos economistas do período descrevem como “déficit da Previdência Social”. Assim, para que essa situação fosse corrigida, era necessário reformatar, reformar a Previdência Social.

Para o então presidente tornar viável a tão desejada reforma, elaborou a emenda constitucional de nº 20. Segundo essa emenda, os regimes de previdência foram substancialmente alterados. Tal alteração deu-se junto ao sistema de previdência para funcionários públicos e também em relação ao regime de previdência para trabalhadores da esfera privada.

As alterações, de acordo com Araújo (2009), resultaram no chamado regime geral. Iniciou-se a apresentar como exigência para benefícios de aposentadoria e pensão o tempo de contribuição ao regime previdenciário, e não mais o tempo de trabalho, como era esperado antes da reforma. Com isso, esperava-se ampliar a arrecadação, tendo em vista a contribuição dos trabalhadores e dos empregadores.

A partir de então, passa a ser extinta a aposentadoria proporcional, ao menos para aqueles que teriam acesso ao regime previdenciário a partir de então. Porém, não apenas essa mudança foi processada. Araújo (2009) ainda indica as seguintes:

• [...] limitação da concessão de aposentadorias especiais;

• imposição de teto para o valor dos benefícios;

• alteração da fórmula de cálculo das aposentadorias por tempo de contribuição, que passa a tomar por base a média dos 80% maiores salários-de-contribuição, multiplicada pelo “fator previdenciário”, que varia de acordo com a idade, a expectativa de sobrevida e o tempo de contribuição do segurado na data da aposentadoria (ARAÚJO, 2009, p. 35).

Ou seja, mecanismos para que fosse possível ampliar a arrecadação e diminuir o valor dos benefícios.

Paralelo a esse fenômeno, observamos a ampliação do desemprego e do subemprego no país em decorrência do processo de reestruturação produtiva, fenômeno que trataremos mais adiante. Mas o fato é que, frente à ampliação do desemprego e do subemprego e tendo também em vista a retração estatal frente às políticas sociais, o que assistimos durante o governo FHC é uma degradação generalizada da vida do ser humano, sobretudo das populações mais empobrecidas.

Couto (2010) sintetiza a realidade do governo FHC da seguinte forma:

Ao final do governo, contabilizaram-se: um aumento da concentração de renda, fenômeno muito conhecido no país (GONÇALVES, 1999); um altíssimo índice de desemprego (MATTOSO, 1999); uma tentativa constante

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de desmontar os direitos trabalhistas construídos por longas décadas (NETTO, 1999); um processo de privatização intenso; e várias reformas da Constituição de 1988, principalmente no que se refere ao campo dos direitos sociais (COMPARATO, 1999) (COUTO, 2010, p. 150).

Melhor dizendo, com prejuízos de monta para grande parcela da população brasileira.

Observe a sistematização elaborada por Couto (2010) em relação às políticas sociais desenvolvidas no período de 1985 à 1987 e pós-Constituição de 1988.

Quadro 4

Periodização Previdência social

Assistência social e

programas de alimentação e

nutrição

Saúde Educação Habitação Trabalho

Ajustamento progressista – 1985 a 1987

Elevação do piso dos benefícios.

Ampliação dos tipos de benefícios

rurais.

Seguro desemprego.

1986: Seac.

1986: PNLCC e Paie.

1987: Implantação

dos convênios

Suds.

1986: Extinção do

BNH.

1985: Vale-transporte.

1986: Seguro-desemprego.

Reestruturação do sistema a partir da

Constituição de 1988

Ampliação do conceito de Seguridade

Social (previdência,

saúde e Assistência

Social).

Fixação de orçamento para

a Seguridade Social.

Equiparação de direitos entre

urbano e rural.

Introdução de seletividade dos

benefícios.

Reforma da Previdência

Social (emenda nº. 20).

Instituição do direito à proteção da família, da

maternidade, da infância, da adolescência e

da velhice.

Benefício de um salário mínimo

a idosos e deficientes.

Criação do Programa

de Combate à Fome e à

Miséria e do Programa

Comunidade Solidária.

Criação do sistema

Unificado de Saúde (SUS).

Extensão do direito a creches e pré-

escola.

Tentativa de tornar as universidades

públicas em fundações.

Prioridade ao ensino

fundamental.

Desestruturação das universidades

públicas, com aposentadoria de inúmeros professores.

Redução de horas semanais

de trabalho.

Jornada diária de seis horas para turnos

ininterruptos.

Férias com acréscimo de remuneração.

Extensão de direitos a

empregados domésticos.

Ampliação do direito de greve e da liberdade

sindical.

Projeto de flexibilização dos direitos trabalhistas.

Fonte: Couto (2010, p. 152).

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PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL

Observamos ainda a predominância de programas setorizados e pautados na intervenção da sociedade civil. O que havia sido garantido pela Constituição de 1988 é negligenciado, sendo mantido apenas o mínimo e necessário.

Essa tendência em não colocar em prática os dispositivos constitucionais no que concerne às políticas sociais, sentida no Brasil desde o governo Collor, foi mantida até os dois anos de governo de Fernando Henrique Cardoso. Essa negligência por parte do poder público em relação às expressões da questão social trouxe no ano de 2002 a possibilidade de eleição do novo presidente, Luis Inácio Lula da Silva, para seu primeiro mandato.

Trataremos das intervenções do governo Lula no próximo item.

6 O GOVERNO LULA, O GOVERNO DILMA ROUSSEFF E O SISTEMA DE SEGURIDADE SOCIAL

Neste item, discorreremos sobre o Sistema de Seguridade Social que começou a ser desenhado no governo Lula. Iniciaremos com colocações sobre a Política de Assistência Social para que, na sequência, possamos trabalhar as alterações processadas no âmbito das Políticas de Saúde e da Previdência Social.

A campanha presidencial de Lula defendia uma maior intervenção na área social e propunha que o poder público desenvolvesse ações para acabar com a pobreza que avassalava grande parcela da população brasileira. Castro (2005) nos coloca que o clima de campanha trazia uma expectativa de que seria constituído um sistema público de proteção social e que, de fato, protegesse a população pobre. Esse clima conduziu Lula ao poder e fortaleceu também a sua segunda eleição.

Quando assumiu o poder, no entanto, encontrou grandes dificuldades para dar viabilidade prática às propostas de campanha. A equipe econômica que assumiu o poder destacava a necessidade de realizar um controle fiscal, mas também de acabar com a pobreza. Dessa forma, Lula encontrou uma via de intervenção por meio da qual se propôs a realizar um ajuste fiscal e intervir apenas na erradicação da extrema pobreza (CASTRO, 2005).

Assim sendo, torna-se possível realizar a regulação econômica, necessária para atender às necessidades do capital, mas também pode-se buscar alcançar os objetivos da campanha relacionados às expressões da questão social. Castro (2005), no entanto, nos coloca que no sentido das políticas sociais os recursos dos primeiros anos do mandato foram aplicados a conta-gotas, ou seja, foram extremamente controlados e utilizados em pequenas quantidades.

Durante esse período, de acordo com Castro (2005), havia grande concentração de pobreza em decorrência da desigualdade social consolidada. A autora nos diz que o número de desempregados cresceu para 85 milhões e os rendimentos dos trabalhadores caíram 74%. Ou seja, além da intervenção mínima do Estado, temos uma precarização da vida da classe que vive do trabalho.

Nos termos postos, o que podemos entender como essa intervenção mínima? No período em questão, estamos nos referindo a intervenções desenvolvidas pontualmente e por meio de determinados

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programas. Essa intervenção pontual se mostra mais nítida na área da Assistência Social, já que a Previdência Social e a Saúde continuam sendo mantidas. No caso da saúde, como sabemos, temos uma intervenção universal, tal como pontua a Constituição de 1988 – porém ainda insuficiente para atender à demanda que necessita desse serviço.

A seguir, passaremos a discutir alguns aspectos do Sistema de Seguridade Social Brasileiro durante o governo Lula, começando pela Política de Assistência Social.

No âmbito da Política de Assistência Social foi organizado o Ministério da Segurança Alimentar, que pretendia orientar as ações para a eliminação da fome no país. O grande braço de intervenção desse ministério foi o Programa Fome Zero. Esse programa se desenvolvia por meio de uma série de ações, dentre as quais as emergenciais e destinadas ao socorro emergencial para proporcionar o acesso à alimentação e as “contínuas” e destinadas apenas à manutenção da oferta de empregos e à constituição de infraestrutura em regiões mais empobrecidas de nosso país, de acordo com Castro (2005).

Para que possamos compreender melhor o carro-chefe do governo Lula, o Programa Fome Zero, é necessário tecer algumas outras considerações sobre ele.

Castro (2005) nos diz que esse programa arrecadava, junto à sociedade civil, alimentos que eram destinados às regiões mais empobrecidas do país. Apesar de o programa, durante o primeiro mandato do governo Lula, ter tido grande adesão da população, que colaborou com grande quantidade de doações, essas doações declinaram consideravelmente a partir do segundo mandato. Isso se deveu, segundo a autora citada, devido a práticas de corrupção e práticas eleitoreiras envolvendo os insumos destinados ao programa.

A autora chama a nossa atenção para o fato de que, no segundo ano do primeiro mandato, 64 das 218 cidades da Paraíba tinham prefeitos acusados de usar os recursos do Programa Fome Zero com finalidade política e eleitoreira.

Além de alimentos, o Programa Fome Zero recebia ainda doações em dinheiro de pessoas físicas e jurídicas. Destacam-se nesse sentido a doação de empresas privadas, bancos e organizações afins. A participação junto ao Programa Fome Zero acabou sendo usada por muitos como um marketing, além de oferecer a isenção de impostos. Nesse rol de pessoal buscando também uma promoção social, Castro (2005) indica a adesão de muitas celebridades vinculadas ao mundo artístico que passaram a estimular o desenvolvimento das ações do programa.

Cabe destacar ainda como atividade desenvolvida a organização de infraestrutura em regiões mais empobrecidas de nosso país, como a constituição de postos de energia elétrica e água encanada, dentre outros aspectos. A grande intervenção, no sentido posto, de acordo com Castro (2005), foi direcionada para a construção de cisternas na região semiárida do Nordeste. Essa teria sido, aliás, uma das grandes críticas ao programa, ou seja, o seu privilégio de ações junto a essas regiões.

No segundo ano do governo, o programa passou por uma revisão, sobretudo em decorrência das denúncias de corrupção – mas não apenas por isso. Castro (2005) chama nossa atenção para o fato que, desde 2003, o presidente Lula vinha desempenhando importante papel internacionalmente no sentido

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de arrecadar recursos para acabar com a fome mundial. O grande evento simbólico dessa intervenção de Lula foi iniciado com sua participação, em 2003, no Fórum Mundial em Davos, na Suíça. No entanto, o presidente sempre manteve essas intervenções no ambiente internacional e, devido a isso, precisava demonstrar que o programa desenvolvido em prol da eliminação da fome era exemplar no país que estava sob sua responsabilidade.

Além das intervenções propostas pelo Programa Fome Zero, conforme descrevemos, o governo Lula ainda organizou uma série de projetos de transferência de renda. No primeiro mandato, a população contava com os projetos Cartão-Alimentação, Bolsa-Alimentação, Bolsa-Escola e Vale-Gás, que também eram geridos pelos Ministérios da Segurança e Alimentar e também estavam vinculados às ações do programa Fome Zero.

Vejamos, antes de prosseguirmos, as principais peculiaridades dessas ações.

Começaremos pelo Programa Bolsa-Escola. O Programa Bolsa-Escola foi na verdade criado em 2001, durante o penúltimo ano do segundo mandato do governo Fernando Henrique Cardoso. Consistia na concessão de uma bolsa para as famílias que possuíssem renda per capita inferior a R$ 90,00 e que tivessem dependentes entre 6 e 15 anos de idade cursando o Ensino Fundamental (CASTRO, 2005).

O valor das bolsas, de acordo com a autora, dependia da quantidade de dependentes. Para ser concedida, a frequência dos atendidos na escola deveria ser de, no mínimo, 85% de presença. Não havia um valor específico e o benefício não era pago mensalmente, mas dependia dos recursos destinados pelo governo.

Em sua criação, o projeto foi marcado por uma ação essencialmente burocrática, perpassado pelas limitações técnicas e marcada pela dificuldade de acesso. Isso resultou em grande quantidade de bolsas ociosas, apesar da pobreza vivenciada por grande parcela da população brasileira (CASTRO, 2005).

Vejamos a seguir uma notícia relacionada ao programa em questão:

FHC apresentará Bolsa Escola na Cúpula em Estocolmo

O presidente Fernando Hernique Cardoso, disse há pouco que o foco da reunião da Cúpula da Governança Progressista, que começa hoje à noite, é duplo: um deles é a chamada arquitetura financeira do mundo, que implica problemas como o da Argentina; e outro é a pobreza concentrada na África. “Nós também temos pobreza, mas é uma situação diferente. No caso da África, é preciso que haja um esforço mais concentrado, porque na verdade essa globalização é muito cruel. Ela beneficiou vários setores, inclusive setores no Brasil, mais ela deixou à margem milhões e milhões de pessoas”, afirmou. Fernando Henrique disse ainda que durante a Cúpula apresentará o Programa Bolsa Escola, que segundo ele é um instrumento positivo que pode ser usado universalmente: “O presidente Clinton vai fazer uma viagem à África com a nossa delegação, e ele é fã do Bolsa Escola”, concluiu.

Fonte: FHC... (2002b).

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Observamos que FHC iria realizar uma apresentação do Programa Bolsa-Escola ao então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton.

Contudo, como dissemos, não são apenas essas ações relacionadas ao Bolsa-Escola que gostaríamos de descrever. Precisamos ainda conhecer algumas informações sobre o Cartão-Alimentação, o Bolsa-Alimentação e o Vale-Gás.

O Cartão-Alimentação era operacionalizado por meio da concessão de recursos para que as famílias empobrecidas pudessem adquirir os gêneros alimentícios necessários. Já o Bolsa-Alimentação era orientado para combater a mortalidade infantil em famílias de baixa renda e com casos de desnutrição. Nesse caso, o critério era para pessoas com renda per capita de meio salário-=mínimo. Eram prioritárias as crianças de até 6 anos, gestantes e mulheres que estivessem amamentando. E, por fim, o Vale-Gás referia-se à concessão de recurso, a cada bimestre, para as famílias de baixa renda para que fosse possível a aquisição de gás de cozinha. No entanto, era conferido um valor para auxílio, e não o valor total para o gás de cozinha.

Quando Lula assumiu o poder, continuou desenvolvendo o projeto, porém buscou modernizá-lo. Para isso, algumas alterações foram realizadas e no segundo ano do mandato o Programa Fome Zero passou por uma revisão, passando a unificar os benefícios sociais por meio do Bolsa Família. Assim, a partir de então, o programa Bolsa Família congregou os benefícios Cartão-Alimentação, Bolsa-Alimentação, Bolsa-Escola e Vale-Gás. O benefício continuou sendo mantido pelo Ministério da Segurança Alimentar, mas de forma unificada. Os benefícios foram pagos pela Caixa Econômica Federal, importante agente executor de projetos governamentais como o acesso à habitação (CASTRO, 2005).

A seguir, uma reprodução do cartão usado até os dias atuais para operacionalizar o Programa Bolsa Família.

Figura 14

Esse exemplo, obtido diretamente do site do Ministério do Desenvolvimento Social, não contém nenhum dado de identificação do provável beneficiário da ação por ser um simples modelo. Mas, como podemos ver, trata-se de um cartão que possui convênio com Banco 24 Horas e também é da rede Maestro, ou seja, autoriza compras via débito.

Para operacionalizar tais benefícios, no ano de 2003 houve uma nova mudança organizacional. Assim, no dia 20 de outubro daquele ano foi constituído o Ministério do Desenvolvimento Social de Combate à Fome e à Pobreza. O objetivo desse ministério era atingir 11 milhões de famílias com

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50 milhões de carentes até o ano de 2006, visando a alternativas para a extinção da pobreza. O referido ministério passou então a administrar o Programa Bolsa Família.

Inicialmente, de acordo com Castro (2005), o programa foi organizado para atender a famílias que possuíssem renda entre R$ 50,00 e R$ 100,00. Para as famílias que possuíssem renda per capita de até R$ 50,00, seria pago benefício de um determinado valor; para famílias com renda per capita de até R$ 100,00, seria pago benefício de outro valor. Apesar de tais critérios, 1,2 milhões de pessoas recebem o benefício no início de sua constituição; destes, 53% são pessoas que residem na região Nordeste.

Estima-se que, mesmo com os critérios, muitas famílias brasileiras passaram a ser atendidas pelo programa, dada a pobreza vivenciada em nosso país. Dessa forma, segundo Druck e Filgueiras (2007) só no ano de 2005 o programa teria sido mantido com o destino de 6 bilhões de reais – notando-se que esse valor corresponde apenas ao valor destinado pelo Governo Federal e não incorpora os gastos de municípios na gestão do programa.

No ano de 2006, o Programa Bolsa Família teria alcançado 11,2 milhões de famílias ou 53 milhões de pessoas. Para isso, teria sido injetado no programa nesse ano uma média de 6 bilhões de reais. No período de 2000 a 2005, o orçamento destinado à Assistência Social praticamente dobrou; porém, essa ampliação deveu-se especificamente ao Programa Bolsa Família (DRUCK; FILGUEIRAS, 2007).

Para receber o benefício, as famílias precisavam se cadastrar nos municípios, no programa denominado Cadastro Único ou CadÚnico. Para manter o recebimento do benefício, era preciso que as crianças e adolescentes dos beneficiários fossem mantidos com frequência escolar, bem como faz-se necessário que seja observada com rigor por eles a questão da vacinação das crianças. Assim, para ter o benefício mantido, é necessário que o beneficiário cumpra tais condições.

No ano de 2007, segundo a análise de Druck e Filgueiras (2007), os critérios no que concerne às condicionalidades foram mantidos. No entanto, no que diz respeito aos critérios de inclusão, eles foram alterados. Os autores nos dizem que a partir de então o per capita do programa passou para entre R$ 60,01 e R$ 120,00, ampliando assim a quantidade de usuários elegíveis para o recebimento do benefício.

Para as famílias com renda per capita equivalente a R$ 60,00 – desde que possuíssem gestantes, nutrizes ou crianças e adolescentes de 0 a 15 anos de idade – era permitido o recebimento de R$ 50,00, independentemente do número de filhos. Caso possuíssem filhos, a esse valor eram agregados R$ 15,00 por criança ou adolescente. O teto máximo equivalia a R$ 95,00 por família. Já para aqueles que possuíssem renda per capita de R$ 120,00, era permitido que recebessem R$ 15,00 por criança ou adolescente, sendo que, no caso, o teto máximo para ser recebido equivalia a R$ 45,00.

Porém, de acordo com o programa, compete ao município ainda oferecer para as famílias beneficiadas, sobretudo para os adultos que integram essas famílias, cursos de alfabetização e também de capacitação profissional, não bastando apenas a concessão da subvenção.

Castro (2005) nos coloca que durante o governo Lula foram desenvolvidos outros projetos sociais, dentre os quais o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (ou Peti) e o Agente Jovem. Esses foram

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os projetos sociais de grande referência e ambos continuam sendo desenvolvidos ainda na atualidade. É importante reforçar ainda que o Peti e o Agente Jovem são programas federais, ou seja, executados nos municípios, mas mantidos com recursos do Governo Federal. Há, no entanto, uma série de programas e projetos que são desenvolvidos pelos estados. Não discorreremos sobre esses serviços porque seria um rol muito amplo. Assim, voltaremos nosso olhar apenas para o Peti e para o Agente Jovem, hoje denominado ProJovem.

O Peti atua com crianças e adolescentes entre 14 e 16 anos que estejam em situação de trabalho infantil. O programa em questão concede um subsídio financeiro para as famílias que possuem adolescentes envolvidos com situações de trabalho infantil. O programa também realiza acompanhamento assistencial das famílias, sendo que tal acompanhamento é operacionalizado junto aos Centros de Referência da Assistência Social (Cras) ou Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas) de cada município (PROGRAMA..., s.d.).

No âmbito do acompanhamento familiar, é importante pontuar que ele não se restringe ao adolescente que está envolvido com a situação do trabalho infantil, mas deveria incidir sobre toda a sua família. Nesse sentido, a família beneficiada pelo Peti deve manter a frequência escolar dos demais membros, especificamente das crianças e adolescentes na faixa etária de 6 a 15 anos, independentemente de estarem ou não envolvidas em situações de trabalho infantil. Nesse caso, espera-se frequência escolar mínima de 85%, e se essa condicionalidade não for cumprida o benefício poderá ser suspenso ou cortado. Já os adolescentes na faixa etária entre 16 e 17 anos que integram a família deverão apresentar a frequência escolar mínima de 75%. Dessa forma, apesar de impositivo, o direito à educação é operacionalizado para as famílias em situação de vulnerabilidade social.

O acompanhamento familiar também abarca a área da saúde. Assim, as gestantes e mulheres que estão amamentando devem ser acompanhadas pela equipe de saúde no sentido de que participem de consultas e realizem o pré-natal, assim como façam parte de atividades educativas relacionadas ao aleitamento materno que forem desenvolvidas na unidade básica de saúde. Já no aspecto relacionado à saúde, as crianças com menos de 7 anos também são acompanhadas no que diz respeito à vacinação, ou seja, precisam ser vacinadas nos períodos especificados pelo Ministério da Saúde.

Além do acompanhamento familiar e da transferência de renda, o programa busca oferecer também centros de convivência para que o adolescente, após a frequência escolar, permaneça participando de atividades educativas. Dessa forma, espera-se evitar que o adolescente permaneça com tempo ocioso e, portanto, sujeito a estar envolvido com situações de risco.

Inicialmente, o Peti realizava o pagamento também por meio de cheques nominais; atualmente, utiliza-se também do cartão do programa Bolsa Família e faz-se necessário o cadastramento das famílias elegíveis ao Peti no sistema de Cadastro Único.

No entanto, ainda há algumas críticas ao trabalho que vem sendo desenvolvido pelo Peti. Vejamos a matéria a seguir:

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Entidades que combatem o trabalho infantil pedem mudanças no Bolsa Família

Órgãos de defesa dos direitos de crianças e adolescentes no Brasil pediram hoje (12) a revisão do Programa Bolsa Família e ações contra a excessiva terceirização do mercado de trabalho brasileiro, para que haja redução do número de ocorrências de trabalho infantil. Segundo especialistas, a informalidade do mercado de trabalho e a falta de exigências para coibir a exploração da mão de obra de crianças e adolescentes no âmbito do programa de transferência de renda têm incentivado a exploração desse tipo de trabalho.

“Essas crianças fazem parte de famílias que são beneficiadas pelo programa, que tem acesso à escola, mas, mesmo assim, trabalham. É preciso que estejam não só matriculadas e tenham frequência, mas [que apresentem bom] rendimento e [boa] aprendizagem. O Brasil perdeu o foco no enfrentamento do trabalho infantil em meados da década de 2000”, lamentou a secretária executiva do Fórum Nacional para a Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPeti), Isa Oliveira.

A partir de 2005, o governo federal integrou o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) ao Bolsa Família com o argumento de ampliar o atendimento dos menores e aumentar a eficácia das ações. Para receber a ajuda do programa, no entanto, os responsáveis não têm de apresentar nada que comprove que a criança ou o jovem não esteja trabalhando.

“O primeiro sinal que essas crianças apresentam é a piora no rendimento escolar, a falta de atenção durante as aulas. Como vêm de família de baixa renda, têm alimentação deficiente, de baixo teor calórico, o que leva à falta de atenção. Muitas acabam não chegando ao ensino médio”, disse o coordenador de Trabalho Infantil da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Renato Mendes.

Segundo ele, a questão educacional poderá afetar a economia brasileira no futuro, que ficará sem mão de obra qualificada e com tendência à terceirização. Para Mendes, um “convite ao trabalho infantil”. “É a estrutura econômica que está favorecendo o ressurgimento do trabalho infantil. Crescimento sem justiça social não é desenvolvimento, é só crescimento. Para ser chamado de desenvolvido, o país tem que ter claro o respeito aos direitos humanos das crianças”, disse.

Isa Oliveira e Renato Mendes participaram, em Brasília, da solenidade que marcou o Dia Internacional de Combate e Erradicação do Trabalho Infantil.

Fonte: Sarres (2012).

Exemplo de aplicação

Podemos dizer que um programa que pretende erradicar o trabalho infantil se mostra eficaz caso não exija qualquer forma de comprovação de que a criança ou o adolescente realmente deixou as formas

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de trabalho desenvolvidas anteriormente? A seu ver, quais alternativas deveriam ser desenvolvidas para minimizar a ocorrência do trabalho infantil?

Passaremos agora a discorrer sobre o projeto Ação Jovem, hoje com a terminologia ProJovem. Esse programa também é, como elencamos anteriormente, uma intervenção empreendida pelo Governo Federal.

O ProJovem é atualmente um programa que visa ao fortalecimento de vínculos familiares e comunitários de adolescentes e jovens, considerando-se para o projeto em questão a faixa etária dos 15 aos 17 anos, sendo também um programa que congrega as intervenções do Bolsa Família. Para ser beneficiado por ele, assim como para os demais benefícios assistenciais, é necessário o cadastro da família junto ao CadÚnico (PROJOVEM, s.d.).

Dessa forma, são prioritários para a intervenção do ProJovem os adolescentes pertencentes a famílias já atendidas pelos serviços do Programa Bolsa Família, assim como aqueles que estejam vivenciando situações de risco social ou pessoal, sendo prioritários para o atendimento os casos em que tenham sido encaminhados de outros serviços de proteção social básica ou proteção social especial.

Para que as atividades possam ser desenvolvidas, os adolescentes são divididos em grupos de em média 30 participantes, que serão acompanhados pelos técnicos dos serviços. Esses grupos são denominados “coletivos”. Os coletivos são organizados por um orientador e por técnico de nível superior, sendo que tais profissionais deverão necessariamente estar vinculados aos Centros de Referência da Assistência Social (Cras).

O adolescente beneficiado pelo ProJovem irá receber um subsídio, pago à sua família por meio do Bolsa Família, mas também irá receber o acompanhamento social por meio da organização dos coletivos. Vejamos a seguir a logomarca do programa ProJovem:

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Porém, Druck e Filgueiras (2007), realizando uma análise das intervenções em política social que foram desenvolvidas no governo Lula, nos apontam que, também nessa gestão, podemos observar a influência do chamado neoliberalismo. Para isso, os autores nos convidam a refletir sobre o padrão de governo adotado por Lula, denominado “modelo liberal-períférico” (DRUCK; FILGUEIRAS, 2007, p. 27), sendo esse modelo compreendido como aquele adotado por estados da América Latina que possuem o capitalismo desenvolvido, mas não conseguem alcançar as taxas de lucro que são atingidas pelo mesmo sistema constituído nos Estados Unidos ou em regiões mais desenvolvidas da Europa, por exemplo.

De qualquer forma, o que os autores pretendem nos dizer é que, no governo Lula, também o Estado adotava uma postura neoliberal, ou seja, em prol do desenvolvimento capitalista. Buscou-se dessa forma desenvolver uma política de regulação econômica respaldada no estímulo à privatização das raras empresas nacionais que ainda estavam ativas, de acordo com Druck e Filgueiras (2007).

No entanto, é na forma de condução das políticas sociais que a tendência neoliberal se manifesta ainda mais latente. Os autores destacam como exemplo a forma de tratamento conferido pelo governo à Previdência Social, à questão trabalhista e, especificamente, ao Programa Bolsa Família, realizando uma profunda e contundente crítica a este.

Druck e Filgueiras (2007) nos indicam que a reforma da Previdência Social iniciada durante o governo FHC foi concluída já durante o governo Lula. De acordo com os autores, também durante o governo Lula foi implantada uma série de alterações na legislação trabalhista, resultando cada vez mais no fim das formas de regulação do trabalho formal e ampliando-se assim as formas de trabalho informais.

Já no que concerne ao Programa Bolsa Família descrito anteriormente, ele é representativo de uma política social focalizada, tendo em vista que são beneficiários do programa apenas os segmentos mais empobrecidos. Diante disso, os autores destacam que a política social idealizada na Constituição de 1988, que deveria ser universal, ou seja, para toda a população que necessitasse, acaba sendo “apenas” para os mais empobrecidos.

Druck e Filgueiras (2007) nos dizem que essas alternativas são utilizadas para que seja possível ao Estado restringir o investimento de recursos na área social. No caso, os autores destacam que grande parte dos recursos disponíveis é injetada para saldar a famosa dívida pública. Representando o que estão destacando, os autores nos dizem que no período de 2000 a 2005 o governo destinou mais recursos para o pagamento da dívida externa do que para as políticas sociais.

Dessa forma, o Estado precisa, segundo o discurso neoliberal, quitar essas pendências. As ações em política social, pensadas como universais, agora são direcionadas apenas aos segmentos mais pobres, como afirmamos. “A lógica e o discurso são de que o Estado deve dirigir suas ações para os mais pobres e miseráveis – conforme o estabelecimento de uma linha de pobreza minimalista, empurrando os demais para a contratação de serviços no mercado” (DRUCK; FILGUEIRAS, 2007, p. 29).

Druck e Filgueiras (2007) chamam a atenção para o fato de que, com o critério posto pelo programa Bolsa Família – que como vimos é a renda per capita –, muitas famílias que também vivenciam situação

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de vulnerabilidade social acabam não sendo atendidas. Além disso, essa renda concedida é mínima, ou seja, não tem condições de suprir toda a necessidade de uma família brasileira.

O benefício do Programa Bolsa Família não é algo constitucional. Mesmo com todas as considerações negativas sobre o programa, o ideal seria que ele fosse tido como um direito. Da forma como está, ele depende essencialmente de vontade política, podendo, portanto, ser extinto assim que outro grupo político ascender ao poder.

Aliás, derivando dessa compreensão, Druck e Filgueiras (2007) ainda chamam a nossa atenção para o fato de que muitas vezes o benefício é usado como uma forma de manipular o ponto de vista político dos beneficiários. Os autores chegam até a afirmar que a concessão do referido benefício teria oferecido significativas vantagens para Lula em sua segunda eleição.

Além disso, as denúncias de corrupção e de mau uso do dinheiro do programa também são uma constante, infelizmente. Sobre isso, vejamos a notícia a seguir:

Escândalo – Empresários e professores recebem Bolsa Família em Atalaia

Até coordenadora do Programa está na lista; benefício também é usado como moeda de troca na compra de votos.

A relação de pessoas incompatíveis com o perfil estabelecido para credenciamento no Programa Bolsa Família em Atalaia, inclusive empresários, professores e até a coordenadora do Programa, levou o Movimento Nacional de Combate a Corrupção Eleitoral em Alagoas (MCCE) a encaminhar denúncia ao Ministério Público Federal/AL para que tome as providências que o caso requer. A representação fala ainda de crimes eleitorais, prática de condutas vedadas aos agentes públicos e fraudes na concessão de benefícios assistenciais. Segundo o documento, o Programa também é usado como moeda de troca na compra de votos.

O escândalo tem revoltado a população atalaiense. Constam na lista de beneficiários o tesoureiro da Câmara Municipal, Brunielle R. Gomes de Albuquerque; as professoras Francete Mendes da S. Mendonça e Andreia Paz de Almeida; pessoas ligadas ao prefeito como Amanda Rafaella Ferreira Silva e Nildo Braz dos Santos Júnior e outros. A coordenadora do Bolsa, Suzana Albuquerque de Medeiros Moura e o empresário Carlos Fidelis de Moura também foram contemplados com o esquema.

Uma das exigências do programa é que a família seja de baixa renda. Mas esse item foi ignorado em Atalaia, a fim de beneficiar apadrinhados políticos. Nesse caso, as condições de moradia, escolaridade, participação no mercado de trabalho e rendimento não foram levados em consideração. Segundo a denúncia, no município não funciona a fiscalização e “os cruzamentos de dados não seguem as exigências impostas pelo texto da Lei, no art. 6º do Decreto nº 6135 de 26 de junho de 2007.”

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A denúncia aponta fortes indícios de que partidários da coligação “Nossa Força Vem do Povo”, com o apoio de Rommenig Rodrigues, transformou o programa Bolsa Família em uma espécie de trampolim político para os cargos em disputa eleitoral.

Fonte: Rodrigues (2012).

Exemplo de aplicação

Refletindo sobre essa notícia, elenque quais mecanismos deveriam ser organizados para evitar a ocorrência de ingerências como a retratada e descreva qual sua perspectiva sobre esse fato.

No período em questão, as ações universais acabaram sendo substituídas por programas dessa natureza, sendo tal tendência também mantida no governo de Dilma Roussef, sucessora de Lula.

Por meio desta sucinta exposição, procuramos sumariar os principais programas e projetos que foram constituídos no governo Lula. É importante lembrar que esses serviços foram organizados sob uma nova ótica de organização da Assistência Social a partir do ano de 2004, com a organização do Sistema Único de Assistência Social, ou Suas. Como é possível recordar, conhecemos a organização do Suas quando estudamos a organização do Sistema de Seguridade Social Brasileiro.

Vejamos agora as principais intervenções com relação à área da saúde desenvolvidas no governo Lula.

Menicucci (2011) realiza uma análise dos dois mandatos do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, destacando as principais ações empreendidas na área em questão. A autora nos diz que na campanha presidencial algumas propostas foram elaboradas no sentido de ser desenvolvido um programa de saúde bucal, na atuação em urgência e emergência e na organização da chamada farmácia popular. O então candidato ainda defendia a necessidade de ampliação do Programa Saúde de Família e um reforço nas ações voltadas à atenção básica.

Após a campanha presidencial, segundo Menicucci (2011), Lula tentou dar viabilidade prática às formulações políticas empreendidas em sua campanha. No seu primeiro mandato, de 2003 a 2007, uma série de alterações foi realizada.

Destacam-se como intervenções do período: o desenvolvimento da Política Nacional de Saúde Bucal; a criação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência; o Programa Farmácia Popular; a ampliação do Programa Saúde da Família; expansão dos Centros de Atenção Psicossocial e a criação da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos. Além disso, foram desenvolvidas ações junto a grupos específicos.

Também foi durante o mandato de Lula que se comemoraram os 20 anos de consolidação do SUS, sendo até mesmo constituída pelo governo uma logomarca comemorativa, conforme vemos a seguir:

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Figura 16

Vejamos as principais características dessas intervenções.

A Política Nacional de Saúde Bucal foi desenvolvida por meio do Programa Brasil Sorridente. Esse programa criou uma série de intervenções para desenvolver o cuidado odontológico, de forma universal, ou seja, para todos aqueles que dele necessitarem. Esse programa também buscou viabilizar o acesso a próteses dentárias. Para tal intervenção, é necessária a junção de esforços entre o Governo Federal, estado e municípios (MENICUCCI, 2011).

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, ou SAMU, foi um serviço destinado a prestar atendimento pré-hospitalar móvel para atender em casos de urgência e emergência. Esse serviço foi organizado apenas em metrópoles, tendo em vista o que é posto pelo Ministério da Saúde, e ganhou notoriedade sobretudo para atender graves acidentes de trânsito, apesar de não ser essa a única finalidade do serviço.

O Programa de Farmácia Popular foi empreendido por meio de um convênio firmado entre o Governo Federal e farmácias da iniciativa privada. Nesse formato, as farmácias podem conferir um desconto de até 90% sobre o valor de uma relação de medicamentos. O desconto só é possível porque o Estado custeia o restante do valor do medicamento (MENICUCCI, 2011).

O Programa Saúde da Família, por sua vez, é um serviço de atenção básica, destinado a prestar a atenção às questões de saúde. No governo Lula, esse serviço já estava constituído e houve uma ampliação considerável nesse serviço. Segundo Menicucci (2011), durante o primeiro ano do mandato Lula, houve uma ampliação dos serviços para mais de 57%.

Os Caps eram serviços também já organizados antes da eleição de Lula e são destinados a atender pessoas com doenças mentais e também usuários de substâncias psicoativas. No período em questão, houve substancial ampliação dos serviços, sendo que por meio dessa ampliação foi possível proceder a reforma psiquiátrica iniciada no país em um período anterior.

A Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Camed), de acordo com Menicucci (2011), é um mecanismo que foi organizado para expedir normas e controles dos medicamentos produzidos no país.

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Quanto às ações em grupos específicos, elas se referem a intervenções propostas pelo Ministério da Saúde junto a mulheres, crianças e adolescentes, sobretudo junto à população indígena e quilombola. Veja a seguir os slogans usados por algumas dessas intervenções organizadas durante o governo Lula e que atualmente ainda são utilizados.

Figura 17

Figura 18

Figura 19

Dessa forma, é importante pontuar que esses programas ainda continuam sendo desenvolvidos.

De acordo com Menicucci (2011), no segundo mandato de Lula, entre 2007 e 2011, grande parte dos serviços foi mantida. Além disso, houve um fomento à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico de homoderivados, vacinas e medicamentos, assim como de equipamentos.

Nesse mandato, assumiu a gestão do Ministério da Saúde o ministro José Gomes Temporão. Segundo Menicucci (2011), ele teve grande representatividade no Movimento de Reforma Sanitária no Brasil e tentou fazer o possível no sentido de melhor qualificar os serviços de saúde organizados no âmbito do Sistema Único de Saúde.

Temporão ainda começou a destacar a relevância de que fossem identificados os determinantes da saúde, ou seja, para que fosse possível a construção de indicadores que permitam identificar a ocorrência de doenças e dos possíveis influenciadores nesse sentido (MENICUCCI, 2011). Além disso,

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ele conseguiu chamar a atenção para a necessidade de uma saúde pública voltada para o abortamento inseguro e para a questão do uso de entorpecentes, sobretudo as bebidas alcoólicas, sendo que ambos os temas tornaram a gestão do ministro no mínimo extremamente polêmica.

Menicucci (2011) ainda chamou a atenção sobre o lugar das indústrias produtoras de insumos para a saúde, destacando a necessidade de regulamentação de tais empresas para atender às determinações postas pelo Sistema Único de Saúde.

O ministro conseguiu ainda colaborar significativamente para a expansão do Programa Saúde da Família e também do Brasil Sorridente. Segundo Menicucci (2011), no período de 2007 a 2008 foram organizadas 2.500 equipes do Programa Saúde da Família no Brasil. Contudo, o autor nos diz que não foram apenas essas intervenções as desenvolvidas no período:

Destacam-se ainda o programa Saúde na Escola; o tratamento da hipertensão e do diabetes; o planejamento familiar; a ampliação do acesso a serviços especializados; ações de investimento em infraestrutura, duplicação de cobertura do Samu; implantação de complexos reguladores, com finalidade de melhorar o acesso a internações; implantação de novas formas de compra de serviços, com contratualização com hospitais filantrópicos (MENICUCCI, 2011, p. 527).

Partindo dessas ações, foram ampliados os serviços de saúde durante os dois anos de gestão do governo Lula. Esse padrão ainda foi seguido durante a gestão do governo Dilma.

Concluindo, passaremos a discorrer sobre a Previdência Social desenvolvida nesse período. Vimos que o regime previdenciário já havia sido submetido a uma reforma durante o governo FHC. Durante o governo Lula, o regime previdenciário sofreu outras alterações, como descreveremos a seguir. O que é necessário saber é que, partindo do sistema já constituído, alterações foram realizadas para melhor adequar o regime previdenciário às novas necessidades do Estado.

Araújo (2009) coloca que o governo Lula, sob o discurso de que se fazia necessária e urgente uma reforma previdenciária, em abril de 2003, encaminhou para apreciação do Senado o Projeto de Emenda Constitucional de nº 41. De acordo com esse projeto, as reformas eram necessárias, sobretudo junto às aposentadorias vinculadas ao setor público. Na verdade, o argumento para a reforma seria o de que as aposentadorias do setor público eram responsáveis pelo chamado déficit previdenciário, ou seja, havia um desequilíbrio entre o que era arrecadado pela Previdência Social e o que era pago. Nesse desequilíbrio, o grande responsável seria a previdência dos trabalhos públicos.

Para que a reforma fosse processada, a Emenda 41/03 dificultou consideravelmente o acesso a aposentadorias e pensões em valor integral. Além disso, influenciou significativamente no que diz respeito aos valores recebidos, ou seja, passou a fixar tetos máximos dos valores dos benefícios – mas, nesse caso, as alterações eram orientadas apenas para os que partilhavam do regime público de aposentadorias.

Araújo (2009, p. 36) elenca uma série de aspectos que foram alcançados com a reforma proposta por Lula. Segundo o autor, por meio dessa reforma, o Estado:

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[...]

• elimina o direito dos servidores públicos à integralidade;

• põe fim à paridade entre os reajustes dos servidores ativos e inativos;

• estabelece teto para o valor dos benefícios para os servidores (novos ingressantes) equivalente ao RGPS;

• estabelece um redutor para o valor das novas pensões;

• prevê que o regime de previdência complementar para os servidores será operado por entidades fechadas, de natureza pública, que oferecerão planos de benefícios somente na modalidade de contribuição definida;

• introduz a taxação dos servidores inativos e dos pensionistas, com a mesma alíquota dos servidores ativos, ressalvando um limite mínimo de isenção.

Além disso, foi constituída uma série de mecanismos, conseguindo reduzir a quantidade de recurso necessário para a manutenção do regime previdenciário brasileiro.

É importante pontuar que as intervenções no regime de Seguridade Social Brasileiro processadas em grande parte no governo Lula confirmam o sistema que temos atualmente constituído. Assim sendo, podemos dizer que o governo Dilma Rousseff, que sucedeu Lula, sendo eleita em 2010 a primeira presidente do gênero feminino do Brasil, apenas deu seguimento para a manutenção do Sistema de Seguridade Social já organizado.

Nos termos postos, no que diz respeito à Política Social de Saúde, podemos concluir que foram mantidas as intervenções já desenvolvidas no governo Lula. No âmbito da Previdência Social, pode ser observada a manutenção do regime previdenciário também já organizado. É no âmbito da Assistência Social que a presidenta realizou uma mudança.

Nos termos postos, a presidenta continuou desenvolvendo a Assistência Social conforme os parâmetros já fundados por Lula. No entanto, a presidenta constituiu o Brasil Carinhoso, programa que passou a ser atrelado ao programa Bolsa Família. Vejamos as principais informações sobre o Programa em questão.

O Brasil Carinhoso foi organizado para atender famílias com crianças de 0 a 6 anos, tendo em vista o objetivo de retirá-las da situação de extrema pobreza presente em suas realidades. A intervenção seria operacionalizada por meio da transferência de renda para as famílias, mas também combinaria a essa transferência de renda ações empreendidas na área da educação, da saúde e da segurança alimentar (BRASIL, s.d.).

No que diz respeito à transferência de renda, ela seria viabilizada para as famílias já cadastradas no Programa Bolsa Família. O alvo dessa intervenção seria a família que vivencia situação de extrema pobreza e que possua pelo menos uma criança até a faixa etária de 6 anos. A essas famílias é garantido

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que cada membro alcance uma renda per capita superior a R$ 70,00 por mês e esse pagamento seria viabilizado por meio do cartão Bolsa Família.

Segundo a orientação do programa, todas as regiões do país seriam atendidas, sendo priorizadas as mais empobrecidas – o que, a nosso ver, nos conduz a pensar que as regiões mais beneficiadas serão as mesmas do governo Lula, as regiões Norte e Nordeste do país.

Como já mostramos, o Brasil Carinhoso orienta ainda para que sejam desenvolvidas intervenções na área da educação, da saúde e também da segurança alimentar. Na área da educação, observamos que consta como proposta de intervenção a ampliação e organização de creches públicas ou então daquelas conveniadas com o poder público.

Já no que diz respeito à questão da saúde, as intervenções são organizadas em parceria com o Programa Saúde na Escola, realizado no âmbito do Ministério da Educação. Segundo essa intervenção, além de atividades socioeducativas, deve ser oferecida para alunos da escola e para os que frequentam a creche uma alimentação que supra suas deficiências alimentares. Para isso, serão oferecidas doses de vitaminas para os atendidos na escola.

Ainda no que diz respeito à intervenção em saúde, o Brasil Carinhoso irá intensificar as campanhas de vacinação e a distribuição de medicamentos gratuitos para as famílias que são beneficiadas pelo Programa Bolsa Família e, consequentemente, pelo próprio Brasil Carinhoso.

Partindo das ações do Brasil Carinhoso, os benefícios vinculados pelo Programa Bolsa Família apresentariam a seguinte caracterização:

Quadro 5

Tipos e valores dos benefícios – desde setembro 2011

Básico Famílias extremamente pobres (renda por pessoa de até R$ 70). R$ 70.

Variável (inclui gestante e nutriz)

– BV

Famílias pobres (renda por pessoa entre R$ 70 e R$ 140) e extremamente pobres (renda

por pessoa de até R$ 70) com crianças de até 15 anos.

R$ 32 – limitado a cinco por família.

Gestante: 9 parcelas a partir do registro no sistema de pré-natal do Ministério da Saúde.

Nutriz: 6 parcelas a partir da inclusão do bebê no Cadastro Único.

Variável Jovem – BVJ

Famílias pobres (renda por pessoa entre R$ 70 e R$ 140) e extremamente pobres (renda por pessoa de até R$ 70) com jovens de 16 e

17 anos.

R$ 38 – limitado a dois por família.

Novo – Benefício de Superação da Extrema Pobreza na Primeira Infância

Superação da Pobreza – BSP

Famílias beneficiárias do Bolsa Família que mesmo com o benefício continuam na

extrema pobreza (renda por pessoa de até R$ 70) e tenham crianças de até 6 anos.

Corresponderá ao necessário para que a renda familiar por pessoa supere R$ 70. Seu cálculo

será em intervalos de R$ 2.

Fonte: Governo... (2012).

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Apesar de ainda não possuirmos informação sobre o Brasil Carinhoso, especificamente porque até o momento não foram realizadas análises sobre ele, podemos inferir que se trata de mais uma ação voltada apenas para os mais pobres, e não uma política universal.

Apesar disso, no dia 3 de outubro foi sancionada a Lei nº 16/2012, que regulamentava os benefícios processados por meio do Brasil Carinhoso.

Observe a notícia a seguir, na qual é destacado um resultado alcançado por meio desse projeto.

Brasil Carinhoso tirou quase 3 milhões de crianças da miséria, diz ministra

Brasília – Ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campelo, afirmou que, em sua totalidade, programa já beneficiou 8,7 milhões de pessoas.

Em cinco meses, o programa Brasil Carinhoso, que concede um benefício adicional no Bolsa Família para a superação da extrema pobreza na primeira infância (0 a 6 anos de idade), tirou 2,8 milhões de crianças da miséria, disse a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campelo.

“Com elas [crianças], saíram também seus irmãos e seus país. Assim, totalizam 8,7 milhões de pessoas beneficiadas”, afirmou, durante cerimônia de sanção da lei do Brasil Carinhoso na manhã desta quarta-feira (3).

A Medida Provisória 570/12, que criou o programa, foi aprovada pela Câmara em 4 de setembro. O parecer aprovado, apresentado pelo deputado Pedro Uczai (PT-SC) na comissão mista da Casa, ampliou o uso do Regime Diferenciado de Contratações (RDC) para obras de educação.

Política social

A presidente Dilma Rousseff avaliou o programa como um dos melhores desdobramentos do Bolsa Família. “O Brasil dá um passo cada vez mais refinado em sua política social”, declarou. Segundo ela, as políticas sociais do governo chamam a atenção da comunidade internacional.

O benefício, lançado pela presidente no dia das mães, é concedido à família com renda mensal per capita de até R$ 70, mesmo somando os outros benefícios do Bolsa Família.

O Brasil Carinhoso, de acordo com Tereza Campelo, melhorou a renda de 2,2 milhões de famílias. Ela lembrou que 42% dos brasileiros abaixo da linha da pobreza têm menos de 15 anos.

Frente parlamentar

Na avaliação da coordenadora da Frente Parlamentar Mista de Direitos Humanos da Criança e do Adolescente, deputada Erika Kokay (PT-DF), o programa tira meninos e meninas carentes da invisibilidade. “O Brasil carinhoso faz um política concreta reconhecendo que

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a desigualdade social também tem idade”, comentou a parlamentar, que representou a Câmara na cerimônia de sanção.

Kokay acrescentou que a frente acompanhará a execução do programa e a prioridade que os prefeitos eleitos darão à criança e ao adolescente. “Vamos olhar a destinação orçamentária com prioridade absoluta para os cidadãos dessa faixa etária, a execução orçamentária e a qualidade das políticas públicas.”

Fonte: Brasil... (2012).

Segundo o Estado, o programa atingiu grande percentual de pobres de nosso país – o que é, como sabemos, verdade. No entanto, o que tece críticas a essas ações é o fato de que elas não são universais, como posto na Constituição de 1988, mas buscam apenas atender dentre os pobres, os mais pobres.

Concluindo este item, esperamos que tenha sido possível a você compreender como se constituiu o Sistema de Seguridade Social no Brasil, partindo dos governos Lula e Dilma Roussef.

No próximo tópico, discorreremos sobre as expressões da questão social que são evidenciadas na contemporaneidade. Isso porque precisamos compreender que o Sistema de Seguridade Social Brasileiro, que estudamos até o presente momento, deveria em tese atender às expressões da questão social. Devido a isso, precisamos compreender como se configuram as expressões da questão social.

Deixamos, mais uma vez, a pergunta: aquilo que é posto na legislação possui sempre viabilidade prática?

Saiba mais

Mais informações sobre o Brasil Carinhoso podem ser obtidas nos sites a seguir:

BRASIL Carinhoso. [s.d.]. Disponível em: <www.mds.gov.br/brasilsemmiseria/brasil-carinhoso>. Acesso em: 7 fev. 2014.

NOTÍCIAS. [s.d.]. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/saladeimprensa/noticias>. Acesso em: 7 fev. 2014.

7 O PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E A AMPLIAÇÃO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Estudaremos neste item o processo de reestruturação produtiva e a ampliação das expressões da questão social, tal como o próprio título nos sugere. Com isso, esperamos que você consiga compreender

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a realidade que nos é apresentada contemporaneamente: por um lado, um Estado brasileiro neoliberal e, por outro, o processo de reestruturação produtiva que nos conduz a uma ampliação das expressões da questão social, ocorrendo assim uma precarização da vida social como um todo.

Antes de prosseguirmos, cabe detalharmos o que se convencionou denominar por “reestruturação produtiva” e o que pode ser compreendido como tal fenômeno. A título de orientação, cabe destacar que a reestruturação produtiva não se expressa por meio de um único fato isolado ou fenômeno, mas se representa por meio da integração de uma série de mudanças e alterações realizadas no processo produtivo capitalista. Essas mudanças, no entanto são postas em prática, em determinados momentos, tendo em vista o declínio da extração da mais-valia.

Antes de prosseguirmos em nossas colocações, cabe um recorte sobre a questão do desenvolvimento capitalista, mas considerando a realidade brasileira. Pochman (2004) nos diz que precisamos compreender o Brasil como pertencente a uma periferia econômica, ou seja, um país que vivencia um capitalismo periférico. Nesse sentido, Pochman (2004) explica que em nosso país nunca serão alcançados os níveis de lucro e extração da mais-valia conseguidos pelos países europeus.

O autor ainda nos coloca que outros traços são influentes na economia periférica de nosso país, dentre os quais a existência de uma disparidade entre a produtividade setorial e regional, assim como a permanência de grande parcela da população trabalhadora em condições extremamente precárias de vida e ruins de trabalho.

Como exemplo de tal colocação, o autor destaca um gráfico, por nós reproduzido a seguir, no qual observamos as diferenças no poder de compra dos brasileiros e dos franceses. A imagem demonstra como o capitalismo francês, mesmo sendo reforçador das desigualdades sociais, possibilita maior poder de compra ao trabalhador francês em comparação com o brasileiro.

Vejamos:

Índice (1)França Brasil

1950

350

300

250

200

150

100

50

01980 1970 1980 1990

(1) Base: 1950 = 100

Figura 20 – Evolução do poder de compra do salário-mínimo – Brasil e França (1950-1990)

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O autor ainda salienta que a ocorrência de crises é inerente ao sistema capitalista e que, em cada momento de crise, busca-se encontrar alternativas para superá-las.

Após a grande recessão de 1929, ocorreu, na década de 1970, outra crise de graves proporções. Nesse contexto, Antunes (2003) nos diz que vivenciamos a queda do taylorismo e do fordismo como meio de produção – formas de orientar o processo produtivo que propunham a produção em massa para um consumo também em massa. Destaca-se como exemplo desse formato de produção a introdução da linha de montagem que Henry Ford constituiu em suas empresas. Ford acreditava ser possível produzir em grande quantidade e assim estimular o consumo.

Vejamos outras peculiaridades da produção taylorista/fordista.

A estratégia taylorista/fordista de organização do processo produtivo implicava a produção em série e em massa para o consumo massivo, uma rígida divisão de tarefas entre executores e planejadores, o trabalho parcelar, fragmentado e constituição da figura do “operário massa” (IAMAMOTO, 2001, p. 31).

Assim, além da produção em massa, segundo o padrão taylorista/fordista havia uma divisão de tarefas entre os trabalhadores, sendo que tal divisão se expressava também entre quem executava tais tarefas e quem as gerenciava. O trabalho era também fragmentado, ou seja, cada um fazia uma parte o que resultaria no todo, no resultado do produto. A figura do “operário massa” seria aquele trabalhador que desempenhava assiduamente suas tarefas, conforme representado por Charles Chaplin em seu antológico Tempos Modernos.

Entretanto, essa forma de produção foi sendo substituída, na década de 1970, pelo toyotismo, tendo em vista que se acreditava que tanto o taylorismo quanto o fordismo já não se mostravam capazes de atender às necessidades do processo produtivo capitalista. “Estabelece-se intensa concorrência por novos mercados, acirrando a competitividade intercapitalista, que passa a exigir mudanças no padrão de produção” (IAMAMOTO, 2001, p. 31).

O toyotismo foi um modo de produção que surgiu no Japão, no período em questão, na fábrica Toyota. Em tese, essa forma de produção já era desenvolvida em algumas empresas no Japão a partir de 1945, mas só ganhou grande difusão a partir da década de 1970.

Segundo o que nos diz Antunes (2003), o toyotismo recomenda a produção de acordo com a demanda, e não mais a produção em massa. Dessa forma, torna-se possível evitar que se produza algo que não será vendido, não havendo assim perda de recursos investidos.

A produção passa ainda a ser variada, diversificada, não se devendo mais produzir apenas um item específico. Assim, se há mudança nas necessidades apresentadas, muda-se também a produção.

Trata-se, segundo Cesar (2008), de uma redefinição das operações que até então regulavam e orientavam o mercado, a produção. Dessa forma, esperava-se que a produção se tornasse mais ágil, rápida e flexível, não sendo mais necessária a produção convencional.

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Iamamoto (2001) afirma que, desse modo, não apenas a produção torna-se flexível, mas também o trabalho. Assim sendo, buscando delinear uma explicação sobre a flexibilização, a autora nos diz que:

Busca-se uma flexibilidade no processo de trabalho, em contrapartida à rigidez da linha de produção, da produção em massa e em série; uma flexibilidade do mercado e do trabalho, que vem acompanhada da regulamentação dos direitos de trabalho, de estratégias de informalização da contratação dos trabalhadores; uma flexibilidade dos produtos, pois as firmas hoje não produzem necessariamente em série, mas buscam atender as particularidades das demandas dos mercados consumidores e uma flexibilidade dos padrões de consumo (IAMAMOTO, 2001, p. 31).

Não há, portanto, uma simples mudança na forma de produção, mas sim alterações e flexibilizações em todas as áreas do processo produtivo. Iamamoto (2001) ainda nos coloca que David Harvey qualifica esse processo como de acumulação flexível, que por sua vez é compreendido por uma série de mudanças:

Impulsionadas pela revolução tecnológica de base microeletrônica e pela robótica, verificam-se profundas alterações no âmbito da produção e comercialização, nas formas de gestão da força de trabalho, na estruturação de serviços comerciais financeiros, etc. (IAMAMOTO, 2001, p. 112).

Ou seja, tudo – a produção, o trabalho – muda. A produção, sobretudo, se torna flexível, alternativa.

Para a produção, faz-se necessário agora o trabalho em equipe, no qual todos os membros são igualmente importantes e responsáveis. Todos devem, portanto, aderir ao que é posto pela empresa – ou, como se diz popularmente, devem “vestir a camisa” da empresa. Cesar (2008) denomina essa adesão aos princípios da empresa com o termo “consentimento passivo”, ou seja, o trabalhador adere o que é posto pela empresa sem sequer se aperceber disso. Trata-se de um processo totalmente alienado e alienante.

Derivando dessa concepção, surge também o profissional polivalente, ou seja, o trabalhador que desenvolve todas as funções que lhes são impostas, de forma integrada aos demais trabalhadores. Sendo assim, o profissional polivalente “[...] é aquele que é chamado a exercer várias funções, no mesmo tempo de trabalho e com o mesmo salário” (IAMAMOTO, 2001, p. 32). Acredita-se que o bom profissional é aquele que consegue desenvolver todas as atividades que lhes são colocadas e, de preferência, sem fazer qualquer questionamento ao que lhe é requisitado (ANTUNES, 2003). Para Cesar (2008), trata-se de uma forma disfarçada de se realizar o consumo da força de trabalho, ou seja, extrair da mão de obra tudo o quanto for possível.

Porém, a ideologia difundida propõe que o trabalhador ruim, por sua vez, é aquele que não se mostra capaz de desenvolver todas as atividades que lhe são requisitadas. Dessa forma, o trabalhador ainda é responsabilizado pelo fato de não conseguir desempenhar todas as atividades que foram a ele conferidas.

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Iamamoto (2001) nos diz ainda que há um enorme prejuízo ao saber desse trabalhador que deixa de lado seu conhecimento específico, especializado, para desenvolver uma série de tarefas, as quais em grande parte não possuem qualquer relação com suas atribuições ou com sua formação tradicional. Trata-se de um desprezo pelo saber específico.

De fato, o trabalhador toma posse do papel que é a ele conferido. Dessa forma, são soldados laços de pertencimento, digamos assim, nos quais o trabalhador se sente realmente parte da empresa, quase como se fosse a sua família.

Mas isso não tende a fortalecer as relações de classe, que, aliás, cada vez se tornam mais complexas. Antunes (2003) nos diz que temos um esvaziamento dos mecanismos de pressão e expressão das classes sociais como sindicatos, por exemplo.

Segundo o toyotismo, a produção precisa seguir a lógica do just in time, ou seja é fundamental que se realize o melhor aproveitamento do tempo disponível, sem “desperdício” das horas disponibilizadas para o trabalho. Tendo em vista a necessidade eminente de se economizar, de fazer jus ao tempo dispensado para a produção, o foco passa a ser a produção horizontal, ou seja, a produção sem limites de comércio, indo além dos horizontes estabelecidos. Cesar (2008) denomina esse processo como o de racionalização da técnica, ou seja, de usar as técnicas laborais para se alcançar um bom produto em um curto espaço de tempo.

Grande parte do processo produtivo, de acordo com Antunes (2003), passa a ser terceirizada, ou seja, há produtos que irão custar um valor reduzido se forem produzidos por outras empresas. Isso porque, na terceirização, as relações de trabalho são reguladas de forma diferenciada, ou seja, os trabalhadores não possuem os direitos trabalhistas garantidos. Com isso, o preço (valor do produto) tende a cair.

Iamamoto (2001) coloca que a terceirização se consolida por meio da criação de uma empresa-mãe, também denominada holding. Essa empresa, por sua vez, agrega às suas atividades outras empresas – estas, porém, de pequeno e médio porte –, que seriam fornecedoras de produtos ou serviços para a empresa-mãe. Seria assim o processo de terceirização.

E as terceiras tendem, cada vez mais, a precarizar as relações de trabalho, reduzir ou eliminar direitos sociais, rebaixar salários e estabelecer contratos temporários, o que afeta profundamente as bases de trabalho conquistadas no pós-guerra (IAMAMOTO, 2001, p. 32).

Ou seja, há uma substancial perda dos direitos trabalhistas conquistados a duras penas.

A terceirização precisa ainda ser compreendida como uma alternativa de enxugamento do pessoal, pois com a contratação determinada pelo serviço não há necessidade de ter o trabalhador o tempo todo disponível para a empresa.

Contudo, apesar da tentativa de se diminuir o preço dos produtos, busca-se a todo o tempo alcançar a chamada “qualidade total”. Segundo essa perspectiva, todos os produtos devem seguir a ótica da qualidade, ou seja, sem qualquer tipo de problema ou defeito.

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Cesar (2008) ainda nos diz que a qualidade total é pautada nos pilares da produtividade, da competitividade e da integração da força de trabalho. Assim, não basta o produto ser bom para se alcançar a qualidade total. É necessário também que a produção alcance cotas de produtividade em determinado tempo. Também é extremamente importante que o que será produzido seja melhor do que o do concorrente, ou seja, é fundamental a competitividade.

Todos os trabalhadores precisam almejar alcançar a chamada qualidade total, sendo necessária uma integração desses trabalhadores, da força de trabalho. Assim, é igualmente relevante o trabalho em equipe.

Iamamoto (2001), por sua vez, indica que a noção de qualidade total incorpora ainda a noção de qualidade das condições de trabalho, mas também faz acepção à qualidade de vida dos trabalhadores.

No sentido descrito, a qualidade das condições de trabalho proporcionadas aos trabalhadores passa a ser importante. Dentre elas podemos destacar o ambiente limpo e higiênico, no qual sejam observadas normas relacionadas à segurança do trabalho. Faz-se necessário o oferecimento de toda a bagagem e suporte necessários para a produção, tendo como foco alcançar a qualidade total.

Já a qualidade de vida dos trabalhadores vem relacionada à vivência que o trabalhador possui além do ambiente laboral. Para apreender tal realidade, é organizada uma série de atividades que buscam controlar, de forma subliminar, até o que o trabalhador faz além do seu horário de serviço. Destacam-se nesse sentido a organização das festas corporativas e as atividades recreativas e lúdicas. Obviamente, o trabalhador sequer se apercebe da forma de tutela e controle que é exercida pela empresa, que busca estimular comportamentos educativos, socialmente aceitos e que não comprometam sua produção quando ele estiver trabalhando.

A autora ainda indica que todas essas perspectivas sobre a qualidade total estão relacionadas diretamente ao conceito de que é necessário produzir mais e em maior quantidade, mas sempre com o menor custo possível, otimizando o tempo e os recursos disponíveis.

Observação

O monopólio conduz a uma busca do controle dos mercados por parte do capitalista.

A qualidade total é buscada tendo em vista a ampliação da concorrência que se apresenta no sistema capitalista maduro e consolidado na idade dos monopólios. “A competitividade intercapitalista impõe a exigência de qualidade dos produtos para garantir a rentabilidade da produção, em um contexto de globalização da produção e dos mercados” (IAMAMOTO, 2001, p. 31). Cabe ressalvar que a globalização pressupõe a ampliação das possibilidades de comércio dos produtos sem que existam barreiras que impeçam ou dificultem o comércio.

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Mas mesmo a globalização, conforme nos coloca a autora, não consegue garantir que os níveis de comércio sejam mantidos em todas as partes do globo. Há sempre países em que o capitalismo consegue extrair elevadas taxas de lucros e ainda há países, como o Brasil, em que essas taxas de lucros e de extração da mais-valia não são alcançadas.

Iamamoto (2001, p. 31) destaca ainda que a globalização precisa ser compreendida como uma forma “perversa e desigual” que o capitalismo encontra para alcançar um novo fôlego. A autora destaca que os grandes beneficiados com o processo de globalização são os detentores dos meios de produção. Seguindo esse raciocínio, é possível inferir também que os avanços tecnológicos e todas as facilidades para o dia-a-dia que são trazidos pelo mercado globalizado só são acessíveis para determinada classe social. Assim, os possíveis “benefícios” da globalização não são extensivos a toda a população.

Mas o fato é que a globalização dos mercados consegue ampliar o processo produtivo e também o comércio do que é produzido. Assim, o processo produtivo passa então a ser potencializado, ou seja, passa a ser levado às suas últimas possibilidades, sendo para isso necessário exigir-se o máximo de cada trabalhador e dos meios de produção como um todo. Para que seja possível produzir em grande quantidade e em pouco tempo, além do trabalhador dedicado, que trabalha em equipe, também é necessária uma série de instrumentos e equipamentos, de acordo com Antunes (2003).

O autor indica que há nesse sentido grande ênfase ao desenvolvimento tecnológico. Esse desenvolvimento se baseia na introdução de uma série de maquinários pautados na robótica e na introdução da informática. Frente a isso, há uma produção muito maior, em menos tempo e com melhor qualidade.

A informática, por sua vez, auxilia também no sentido de facilitar a comercialização do que foi produzido, haja vista que por meio da internet o comércio quase desconhece barreiras para o seu desenvolvimento.

Dessa forma, a produção se torna flexível, ou seja, condicionada à demanda e às necessidades que são geradas e apresentadas pela sociedade. Nesse novo padrão, os formatos rígidos de produção acabam entrando em declínio e sendo substituídos pela produção flexível. Isso nos conduz a uma acumulação flexível, cambiante. No entanto, essas profundas mudanças realizadas, de acordo com Antunes (2003), trazem resultados para as pessoas, para o ser humano como um todo.

Para o autor, há um grande prejuízo para a questão ambiental, que acaba sendo degradada em decorrência do processo produtivo. No caso, sabemos que a degradação ambiental já começou a partir da Revolução Industrial, com o substancial depósito de gás carbônico na atmosfera, visto que houve a introdução do carbono para potencializar a produção.

Igualmente grave como resultado do processo de acumulação flexível é o fato da latente precarização das relações de trabalho. Nos termos postos, é mister observar que com a inovação tecnológica e com a introdução de uma série de máquinas no processo produtivo há um tendência em economizar trabalho vivo, ou seja, trabalho desenvolvido pelo ser humano. Aos poucos, observa-se uma substituição das formas de trabalho vivo pelo trabalho morto, ou aquele desenvolvido por máquinas.

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Lembrete

O trabalho vivo corresponde ao desenvolvido diretamente pelos seres humanos e o trabalho morto faz acepção à ação desenvolvida por equipamentos e máquinas.

Saiba mais

Para informações mais detalhadas sobre o assunto, recorra ao texto:

OLIVEIRA, J. F. de. Tecnologia, trabalho e desemprego: um desafio a empregabilidade. II Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia – SEGeT’, 2005. Disponível em: <http://www.aedb.br/seget/artigos05/377_ARTIGO%20ENVIADO%20PARA%20O%20CONGRESSO%20DE%20RESENDE-RJ.pdf>. Acesso em: 11 fev. 2014.

Isso indica uma considerável redução do proletariado fabril, ou seja, dos trabalhadores diretamente responsáveis pelo processo produtivo. Assim, acaba sendo utilizado um trabalhador para operar uma máquina, e essa máquina desenvolve o trabalho que seria feito por aproximadamente dez trabalhadores.

Lembrete

Os direitos trabalhistas foram alcançados em 1930.

A produção realizada no ambiente fabril se torna cada vez mais rara. A produção é flexível e, muitas vezes, desenvolvida em várias partes do mundo, não havendo mais necessidade de um item ser produzido todo em uma fábrica ou em um país.

Nesse processo de mudança na produção, crescem consideravelmente os setores de serviços e de prestação de serviços e diminui muito o trabalho formal. Também há uma ampliação vertiginosa do que se denomina subemprego, ou seja, há uma ampliação de trabalhos não regulamentados, sem prazo determinado e específico e com baixíssimos salários.

É importante notar que tanto no caso do subemprego quanto no caso do setor de serviços os profissionais não têm os direitos trabalhistas garantidos tal como preconiza a lei. O mesmo se aplica ao trabalho domiciliar, que também se amplia consideravelmente. Muitas vezes a pessoa se julga livre, sem a necessidade de cumprir horário, e não percebe que está excluída no mercado de trabalho (MOTA; AMARAL, 2008). Iamamoto (2001) nos diz que isso é um ressurgimento de formas antigas de trabalho, sendo que, além daquela anteriormente apontada, a autora ainda pontua que vemos também o trabalho

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oferecido a domicílio, o trabalho familiar, dentre outros. São em tese modalidades de trabalho que já não eram comuns, mas que passam a ser alternativas encontradas pelos seres humanos para encontrar renda e uma alternativa para a sobrevivência, já que o emprego formal parece inexistir para todos os segmentos.

Mota e Amaral (2008) ainda chamam a nossa atenção que os poucos trabalhadores que têm o privilégio de continuar com o emprego formal, além de terem direitos trabalhistas garantidos, possuem também salários mais elevados. Os empregados vinculados a empresas terceirizadas ainda são vitimados com salários bem mais baixos em relação aos trabalhadores estáveis.

Antunes (2003) nos diz que a partir do processo de acumulação flexível há uma ampliação do trabalho feminino, apesar de o salário das mulheres ainda continuar sendo inferior ao de trabalhadores do gênero masculino. De acordo com o autor, existe uma introdução cada vez mais antecipada de crianças no mercado de trabalho, mesmo que de forma irregular, havendo em contrapartida uma exclusão de idosos e jovens do mercado de trabalho. Ele ainda nos diz que ocorre uma ampliação das doenças laborais, sobretudo as doenças de natureza psicológica.

Assim sendo, sintetizando esse processo, podemos, recorrendo às colocações aqui elencadas, concluir que, apesar de haver uma potencialização da produção e um aumento sensível da taxa de lucros, há em contrapartida uma ampliação do desemprego, do subemprego e de trabalhadores alocados no setor de serviços. Com isso, se dá uma degradação generalizada da vida humana e essa degradação se torna ainda mais agravada frente à retração estatal. Como sintetiza Iamamoto (2001, p. 115), ocorre o aumento do “[...] desemprego e a ampliação da precarização das relações de trabalho”.

A título de representação, a autora nos diz que no final da década de 1990 havia no Brasil 35% de desempregados, o que por sua vez correspondia a 2 milhões e 500 mil desempregados ou subempregados, já que o dado considerou os registros em carteira de trabalho. Segundo o que colocou a referida autora, estima-se que nesse mesmo período uma média de 370 mil postos de trabalho tenham sido eliminados, ou seja, há uma ampliação vertiginosa do número de desempregados.

Na atualidade, infelizmente, o prognóstico acerca da inserção laboral da população brasileira não é tão positivo. Figura como exemplo dessa afirmação a pesquisa realizada pelo IBGE no mês de outubro de 2013. Esse instituto desenvolveu uma pesquisa por amostragem, na qual entrevistou pessoas em 38.500 domicílios na região metropolitana dos municípios de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, com o objetivo de identificar a ocupação dos brasileiros. É importante lembrar que essa pesquisa considerou apenas um extrato da população, ou seja, não considerou todos os domicílios (PESQUISA..., 2013).

Constatou-se que havia, no momento da pesquisa, uma média de 42.983 pessoas em idade ativa, ou seja, com condições para trabalhar. Destas, havia 24.549 economicamente ativas e 18.434 não ativas. O levantamento indica ainda a existência de 363 pessoas subempregadas.

Vê-se que a população economicamente ativa é composta por pessoas ocupadas, desocupadas e não economicamente ativas. A população ocupada seria aquela que está vinculada a uma ocupação, tais

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como trabalhadores com ou sem registro em carteira de trabalho, autônomos, empregadores, estagiários e também aqueles que trabalham menos de 15 horas semanais. A população desocupada por sua vez seria aquela que não estava trabalhando no momento da pesquisa, mas que estava empreendendo esforços para retornar ao mercado de trabalho – a nosso ver, uma incoerência, já que isso significa que a pessoa não estava trabalhando. E, por fim, as pessoas não economicamente ativas seriam aquelas que não estão ocupadas e também não se encaixam também nas desocupadas. De qualquer forma, são pessoas que não estavam trabalhando.

A pesquisa nos indicou também que no ano de 2013, havia 54,2% da população ocupada, englobando assim trabalhadores com ou sem registro em carteira de trabalho, autônomos, empregadores, estagiários e também aqueles que trabalham menos de 15 horas semanais. Mas a pesquisa indica também a existência de 3% de pessoas desocupadas e 42,9% de pessoas não economicamente ativas. Assim, grosso modo, podemos inferir que 45,9% das pessoas entrevistadas não possuíam nenhuma atividade laboral no momento da pesquisa e apenas 54,2% possuíam alguma ocupação que lhes garantisse renda.

Atualmente, mesmo com a propagação, sobretudo na mídia, da ideia que o nível de emprego no Brasil tem se mantido, temos que entender que isso não significa que tenha havido uma inserção laboral dos segmentos que estavam sem emprego. A nosso ver, apenas significa que postos de trabalho vem sendo mantidos. A pesquisa apenas mostra que o desemprego tem afetado a vida de grande parcela da população brasileira, e grande parte desse índice provém das mudanças ocorridas no processo de trabalho e que tende, cada vez mais, a expulsar trabalhadores que são substituídos pelo chamado trabalho morto a que nos referimos anteriormente.

Gabriel, o Pensador, em sua música Dança do Desempregado, faz uma crítica a isso. Vejamos a letra:

Dança do desempregado

Essa é a dança do desempregado Quem ainda não dançou tá na hora de aprender A nova dança do desempregado Amanhã o dançarino pode ser você

E vai levando um pé na bunda vai Vai por olho da rua e não volta nunca mais E vai saindo vai saindo sai Com uma mão na frente e a outra atrás E bota a mão no bolsinho (Não tem nada) E bota a mão na carteira (Não tem nada) E bota a mão no outro bolso (Não tem nada) E vai abrindo a geladeira (Não tem nada) Vai procurar mais um emprego (Não tem nada) E olha nos classificados (Não tem nada) E vai batendo o desespero (Não tem nada) E vai ficar desempregado

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Essa é a dança do desempregado Quem ainda não dançou tá na hora de aprender A nova dança do desempregado Amanhã o dançarino pode ser você.

E vai descendo vai descendo vai E vai descendo até o Paraguai E vai voltando vai voltando vai “Muamba de primeira olhaí quem vai?” E vai vendendo vai vendendo vai Sobrevivendo feito camelô E vai correndo vai correndo vai O rapa tá chegando olhaí sujô![...] [...]E vai ganhando o leitinho (Vai, vai!) É o leitinho das crianças (Vai, vai!) E vai entrando nessa dança

Essa é a dança do desempregado Quem ainda não dançou tá na hora de aprender A nova dança do desempregado Amanhã o dançarino pode ser você

E bota a mão no bolsinho (Não tem nada) E bota a mão na carteira (Não tem nada) E não tem nada pra comer (Não tem nada) E não tem nada a perder E bota a mão no trinta e oito e vai devagarinho E bota o ferro na cintura e vai no sapatinho E vai roubar só uma vez pra comprar feijão E vai roubando e vai roubando e vai virar ladrão E bota a mão na cabeça!! (É a polícia) E joga a arma no chão E bota as mãos nas algemas E vai parar no camburão E vai contando a sua história lá pro delegado “E cala a boca vagabundo malandro safado” E vai entrando e olhando o sol nascer quadrado E vai dançando nessa dança do desempregado Essa é a dança do desempregado Quem ainda não dançou tá na hora de aprender A nova dança do desempregado Amanhã o dançarino pode ser você

Fonte: Gabriel, o Pensador (1997).

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Infelizmente, a realidade posta por Gabriel é vivenciada por grande parcela da população brasileira. Precisamos compreender que tal situação se torna cada vez mais latente a cada período de crise do capitalismo.

Exemplo de aplicação

Deixamos, à guisa de reflexão, a seguinte questão: como sobrevive grande parte da população brasileira que, além de subempregada e desempregada, não tem os serviços sociais básicos necessários frente à retração estatal?

Antes de passarmos para nosso próximo tema, destacamos o presente texto e sugerimos sua reflexão sobre os quesitos sumariados.

Tecnologia e desemprego

No entanto, o aumento do desemprego dá novamente ao tema direito a tempo de antena e luzes da ribalta. Taxas de desemprego de dois dígitos, trabalho precário e sem direitos, ajudados por inflação elevada dos preços dos produtos mais essenciais são chão fértil onde crescem os medos e as revoltas, e o medo da tecnologia acaba por ser um deles.

Ainda há pouco tempo um amigo me remeteu por e-mail uma �alarmante� notícia da automatização quase completa de uma linha de montagem de um grande fabricante de material informático. Obviamente, �mais desemprego, e com a crise os fabricantes procuram reduzir custos, pelo que se a moda pega, ainda vamos mais fundo”, dizia o e-mail.

De facto, o raciocínio parece simples: quanto mais máquinas se utilizam, menos pessoas são precisas. As empresas que automatizam linhas de produção podem, portanto, despedir pessoas na mesma proporção em que deixam de ser necessárias; as máquinas produzem geralmente mais e melhor, com menos enganos, menos desperdício e menos defeitos de fabrico.

No entanto, o problema, globalmente, não é assim tão simples, e o raciocínio não pode ser feito de forma tão linear. Claro que uma empresa que automatiza uma linha de montagem e dispensa um conjunto de trabalhadores pode criar uma situação dramática, isso não está em causa. Esse é um problema político-social que tem de ser acautelado. Mas isso não significa que a automação seja uma coisa má ou que seja desejável evitar. Por exemplo, a modernização da agricultura levou a uma redução de cerca de 70% dos trabalhadores na Europa no século passado. Mas os 30% que actualmente trabalham no sector são suficientes para garantir uma produção superior. Ou seja, a industrialização teve um impacto positivo ao nível da produtividade, e poupa as pessoas de tarefas pesadas, monótonas, e muitas vezes de elevado risco para a saúde. Será que isso gera desemprego? Nessas tarefas que são automatizadas certamente sim, perdem-se postos de trabalho. Mas

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isso só significa que a transição deve ser feita de forma planeada e socialmente consciente. É um problema político-social.

Muito poucas pessoas (para não dizer ninguém) gostam de fazer tarefas pesadas, perigosas ou rotineiras. Quase todas preferem trabalhos mais intelectuais e leves. A Europa que perdeu trabalhadores do sector primário precisou deles no sector terciário. As gerações actuais têm profissões que há décadas não existiam sequer, e no futuro certamente a tendência vai acentuar-se ainda mais: surgem profissões novas à medida que a sociedade faz uso da tecnologia para extinguir as profissões �velhas�. E isso não é necessariamente mau. Ninguém terá certamente muito gosto em revolver terra com enxada ou arado, mas operar um tractor é certamente mais atractivo.

Quem ler as opiniões mais apaixonadas dos visionários dos anos 50-60 do século XX certamente fica encantado com a visão optimista de muitos. Achavam eles que em 20-30 anos (nos anos 80 do século passado, portanto há 30 anos atrás) as sociedades civilizadas seriam fundamentalmente sociedades de lazer. As máquinas fariam tudo o que fosse necessário, portanto às pessoas restava o lazer, desfrutar de uma vida livre da necessidade de produzir. Já passaram 30 anos da data prevista, e aqui estamos nós. As máquinas certamente fazem muita coisa, mas longe estará a utopia da sociedade de lazer. Isto sem qualquer desmérito das conquistas tecnológicas e sociais que garantem alguma qualidade de vida. Parte do ganho em produtividade obtido com a automação terá sido de facto empregue na redução dos horários de trabalho e na democratização do uso de equipamentos que melhoram a qualidade de vida (máquina de lavar roupa, por exemplo). Nesse sentido caminhámos para a sociedade de lazer. Mas quem dera estivessem completamente certos esses visionários optimistas!

Fonte: Tecnologia... (2011).

Exemplo de aplicação

Realizando um balanço que considere os fatores introdução da tecnologia x desemprego e subemprego, argumente: a introdução de novas tecnologias traz mais aspectos positivos ou negativos à sociedade como um todo?

Esperamos que nossos estudos tenham permitido a você compreender as influências do neoliberalismo na política social e a ampliação das expressões da questão social frente ao processo de acumulação flexível.

No próximo item, discutiremos a importância do fundo público, haja vista que para a manutenção das intervenções em política social faz-se necessária a alocação de recursos junto às políticas sociais e ao fundo público. Por isso, precisamos compreender melhor como realizar a gestão de tais recursos, buscando assim minimizar os antagonismos que se desenham na sociedade brasileira, tal como estudamos nesta unidade.

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8 A CONSTITUIÇÃO DO FUNDO PÚBLICO E OS MECANISMOS DE PARTICIPAÇÃO E DE CONTROLE SOCIAL

Neste item, discorreremos sobre a questão do fundo público e também da participação e do controle social. Iniciaremos com as discussões teóricas sobre o fundo público, para na sequência elencarmos como é realizado o financiamento do Sistema de Seguridade Social no Brasil. Posteriormente, passaremos a tratar da questão da participação e do controle social, considerando também a realidade do Sistema de Seguridade Social no Brasil.

8.1 A constituição do fundo público

Realizaremos a seguir uma breve respectiva histórica sobre o fundo público, elencando como o financiamento estatal passou a ser utilizado para o desenvolvimento do sistema capitalista. Iremos também destinar um tópico para a reflexão sobre o fundo público na contemporaneidade e, na sequência, destacaremos informações sobre o financiamento do Sistema de Seguridade Social Brasileiro, que, como veremos, não “depende” apenas da ingestão de recursos públicos na sua manutenção.

8.1.1 Retrospectiva histórica sobre o fundo público

Observação

Fundo público: recursos ou insumos que são pertencentes ao governo, seja no âmbito federal, estadual ou municipal.

Antes de iniciarmos nossa breve retrospectiva sobre a questão do fundo público, cabe destacar que é compreendido como fundo público o “capital” que provém da esfera governamental, seja ela federal, estadual ou municipal. É importante pontuar que não fazemos menção a capital apenas como sendo dinheiro ou recurso, mas sim como insumos e uma série de outros dispositivos pertencentes à esfera governamental.

Salvador (2010a) nos diz que, em tese, o fundo público deveria estar orientado para fazer com o que país, como um todo, se desenvolvesse. Nos termos postos, há um rol de ações em uma série de áreas que o fundo público precisa ser aplicado para garantir a qualidade de vida de todos os que habitam em nosso país.

Porém, a grande crítica do autor refere-se ao fato de que, analisando o sistema capitalista, observamos que o fundo público vem sendo cada vez mais orientado a atender às necessidades desse sistema. Mas quais seriam essas necessidades e por que elas emergem?

Respondendo a essa pergunta, Salvador (2010a) nos indica que o fundo público é usado para socorrer o sistema capitalista em momentos de crise ou então para fazer uma forma de regulação para que a crise capitalista, quando ocorrer, possa acontecer de forma a manter as taxas de lucro estáveis ou para que não existam perdas tão significativas.

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No entanto, é importante salientar que é inerente ao sistema capitalista a ocorrência de crises. Esse sistema nunca conseguirá manter a extração de lucro ou de mais-valia em um padrão elevado ou acelerado. Diante disso, haverá sempre momentos de crise.

Salvador (2010a) nos diz que a primeira grande crise capitalista que abalou o mundo aconteceu em 1929. Nessa crise, que teve como grande expoente a quebra da Bolsa de Nova York, mas que trouxe rebatimentos em todo o mundo, tratou-se de uma das primeiras intervenções do Estado para o socorro da economia. Também já estudamos essa crise no decurso deste livro-texto; portanto, não iremos retomá-la nesse momento.

É importante notar que, mesmo com a intervenção iniciada em 1929 em todo o globo, foi somente a partir do segundo pós-guerra que essa forma, ou modalidade de intervenção estatal junto à economia, vai se ampliando significativamente em todos os países. É óbvio que os padrões adotados pelos Estados se alteram, ou seja, não há um único formato de intervenção na regulação econômica. Isso depende consideravelmente do formato adotado pelo Estado, além de ser condicionado pelo padrão do sistema capitalista constituído em cada país.

No entanto, segundo Salvador (2010a), a intervenção estatal na regulação econômica se dá também para conter determinadas tensões sociais que possam ser geradas, na idade do monopólio, em decorrência da ampliação das desigualdades sociais. Vejamos esse processo de intervenção estatal com maiores detalhes analisando a crise de 1929 e o que foi gerado a partir dela.

Salvador (2010a) destaca que teria sido a crise de 1929 o grande impulsionador para o surgimento das teorias de Keynes. Como já vimos essas compreensões, não detalharemos tais conceitos; porém, cabe lembrar os principais aspectos que caracterizam essa forma de compreensão acerca do papel do Estado.

Para Keynes, a crise capitalista só se desenvolveu por haver uma diferenciação entre a demanda e a produção. Nessa perspectiva, para o estudioso em questão, havia demanda em excesso e não existia procura por aquilo que foi produzido, gerando assim uma crise de excedente (SALVADOR, 2010a).

Lembrete

Keynesianismo: doutrina econômica idealizada por Keynes.

Para solucionar a crise que se evidenciava, Keynes destacou que era necessário que toda a população, ou grande parte dela, possuísse renda. Para isso, se fazia necessário o pleno emprego – algo que competia ao Estado garantir. Mais: para que exista renda, o nível de emprego a ser mantido passa a ser compreendido como fundamental.

Já para aqueles que não possuíam condições de trabalhar, sobretudo idosos, crianças ou pessoas acometidas por doenças laborais, competia também ao Estado viabilizar o acesso à renda, fazendo com que o consumo fosse viabilizado.

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Assim sendo:

A grande depressão econômica de 1929, com seus dramáticos efeitos inflacionários e depressivos, redundando num aumento assustador do desemprego, provocou em todo o mundo ocidental tensões sociais agudas que exigiram do Estado capitalista franca regulação estratégica. Para tanto, esse Estado teve que assumir despesas consideráveis para sustentar o emprego e oferecer melhores condições de vida aos trabalhadores, valendo-se, inclusive, de um corpo doutrinário que lhe deu, por mais de trinta anos, suporte teórico e político – o keynesianismo, que serviu de base ao regime de produção fordista (PEREIRA, 2001, p. 32 apud SALVADOR, 2010b, p. 56).

Essa compreensão se mostrava tão revolucionária, mas ao mesmo tempo tão capaz de dar conta da crise evidenciada, que ficou conhecida por muitos com a terminologia “revolução fiscal keynesiana” (SALVADOR, 2010, p. 60). Melhor dizendo: “[...] a ideia correta de Keynes era fazer o Estado ter participação ativa no processo de elevação da demanda agregada, via consumo e investimentos, e não por uma ação passiva [...]” (SALVADOR, 2010b, p. 60).

Entretanto, para Keynes (apud SALVADOR, 2010b), o Estado deveria ainda controlar o sistema tributário por meio da fixação dos juros, ou seja, a regulação econômica deveria recorrer a uma série de alternativas para que fosse possível recuperar ou manter o crescimento econômico.

Outra medida destacada por Keynes seria a socialização dos investimentos necessários para a produção, ou seja, tudo que se faz necessário para a produção deveria ser socializado entre Estado e mercado. O Estado deveria assim cooperar com a iniciativa privada, mas o que assistimos é cada vez mais um investimento estatal para garantir infraestrutura mínima para a produção (SALVADOR, 2010b).

Nos termos postos, cabe destacar que o Estado passou a construir uma série de serviços, dentre os quais asfaltamento, meios de transporte e uma série de outros afins que se fazem necessários para a produção. Por isso, nessa socialização, o poder público investiu mais recursos do que a iniciativa privada.

Salvador (2010b) nos diz ainda que essa intervenção estatal via fundo público se mostrou fundamental no período em questão porque o sistema capitalista estava assentado no modo de produção fordista. Segundo o autor, foi somente a partir da intervenção estatal que o fordismo foi ampliado e conseguiu alcançar níveis elevados de crescimento. Assim, apesar desse formato de produção ter surgido em 1914, foi somente a partir do segundo pós-guerra que ele conseguiu, de fato, resultar em níveis elevados de lucro.

Essa relação entre a produção, o lucro e a intervenção estatal no fordismo só trouxe resultados positivos, segundo Salvador (2010b), porque os salários dos trabalhadores se ampliaram. Devido a isso, eles aderiram ao trabalho em grande escala e à produção em massa tal como proposto pelo modo de produção fordista.

O autor nos diz que, além da ampliação dos salários, com a intervenção do Estado os trabalhadores passaram a acessar também a Seguridade Social, o que por sua vez resulta em um estímulo ainda maior

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à produção. Ele compreende que o acesso aos seguros sociais é utilizado no momento como uma forma de regulação que se opera por meio de uma série de regras interiorizadas e procedimentos sociais que são aderidos subjetivamente pela classe trabalhadora frente aos benefícios recebidos pelo fato de ser trabalhador.

É aqui que começa a história do fundo público: o Estado investindo recursos para garantir a reprodução da força de trabalho e a regulação econômica, recuperando assim o sistema capitalista de uma grande crise vivenciada. Isso nos remete a um desdobramento menor e mais reduzido da questão: quais foram os mecanismos adotados pelo Estado para garantir a reprodução da força de trabalho e também para viabilizar a regulação econômica?

De acordo com Salvador (2010b), a reprodução da força de trabalho é operacionalizada por meio da organização das políticas sociais ou do Sistema de Seguridade Social. Passa a ser alocado fundo público nas políticas sociais, garantindo assim a reprodução social da força de trabalho.

Em outras palavras, equivale dizer que, por meio do acesso ao Sistema de Seguridade Social, a classe trabalhadora consegue ter sua qualidade de vida sensivelmente melhorada, porque recebe benefícios que complementam o salário. Já a classe que está fora do mercado de trabalho, por meio dos benefícios recebidos, consegue manter sua subsistência mínima e aguarda para que possa ser reincorporada ao mercado de trabalho.

As políticas sociais, seguindo esse raciocínio, passam a ser alternativas que possibilitam que as pessoas continuem consumindo, ainda que a pessoa esteja desempregada. Torna-se praticamente impossível que haja outra crise, posto que o consumo é mantido. Assim, a política social acaba viabilizando a demanda, que é tão necessária ao mercado, ao capital.

Quanto à regulação econômica, conforme já vimos anteriormente, o Estado tem o poder de regular as taxas de juros e ainda oferecer a infraestrutura necessária à produção. Ele passa a fixar a questão dos tributos, definindo-a da seguinte forma: a tributação mais elevada deveria incidir sobre os mais ricos para que fosse possível a distribuição aos mais pobres (SALVADOR, 2010b).

O poder público investe recursos pesados do fundo público para a instrução pública, para o transporte e para demais equipamentos sociais. No que diz respeito à questão da instrução pública, Salvador (2010b) a compreende como necessária para ser formado o trabalhador letrado e os serviços ou equipamentos sociais, assim como para produzir o trabalhador capaz para a produção.

Adotando um padrão semelhante ao proposto por Keynes, no Brasil, temos um crescimento considerável do sistema capitalista a partir da década de 1950, sobretudo no período de 1968 a 1973. Nesse momento, nosso país conseguiu estruturar o mercado urbano e a produção industrial, tendo em vista o grande investimento do poder público com essa finalidade (SALVADOR, 2010b). Porém, essa onda de crescimento, como já estudamos anteriormente, não se manteve, e logo o milagre brasileiro se desfez.

Salvador (2010b) nos diz que isso aconteceu por uma série de condicionantes, dentre os quais o fato de o processo produtivo brasileiro ter sido assentado em uma mão de obra sem qualificação – o

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que resultaria em ganhos de produtividade baixos. Além disso, como a renda da população era em geral baixa, não possuíam poder de compra, de forma que o consumo não era ativado de forma significativa como nos países da Europa e nos Estados Unidos. O autor ainda salienta que nosso processo de produção foi fortemente influenciado pelo alto índice de rotatividade da classe trabalhadora e pelos baixíssimos valores dos salários pagos aos trabalhadores.

Acerca da classe trabalhadora, chama a atenção o fato de que o Brasil demorou a constituir um Sistema de Seguridade Social eficiente e que desse suporte a essa classe. Segundo Salvador (2010b), as primeiras medidas de Seguridade Social surgiram no Brasil 30 anos após já terem sido constituídas na Europa. Apesar disso, o autor salienta que o objetivo das ações junto aos trabalhadores, desde o seu surgimento na década de 1920, era garantir a segurança ao trabalhador, mesmo porque ele é peça fundamental do processo de produção.

As ações desenvolvidas pelo Estado brasileiro efetivam-se apenas por este fator: a produção capitalista precisa se desenvolver. Assim, era importante que o Estado brasileiro começasse a intervir de forma mais sistemática, visto que já não era mais possível deixar o trabalhador entregue à própria sorte ou dependente do esforço de seus familiares, pois isso poderia comprometer o processo produtivo. Por esse motivo, o fundo público é fundamental ao capital nesse período. Mas essa forma de relação entre capital e Estado, inaugurada nessa época, é mantida por um grande período até mesmo nos dias atuais. É sempre necessário o fundo público para atender às necessidades capitalistas.

De acordo com Pochmann (2004), outros fatores influenciam na baixa capacidade de alcançar os lucros ou de manter a extração destes no sistema capitalista brasileiro. Dentre esses fatores, o autor destaca o processo de colonização do país e a tardia libertação dos escravos.

Somente na década de 1970, quando observamos uma nova crise capitalista, o formato utilizado para manter o sistema capitalista funcionando começa a entrar em declínio. Começam nesse período as primeiras críticas à excessiva regulação estatal na economia e também na vida social.

Apesar do discurso em prol da retração estatal frente à regulação econômica, é nesse período, de acordo com Salvador (2010b), que se observa uma ampliação das lutas pelo fundo público. A não intervenção estatal na regulação econômica só se opera na ótica do discurso.

O autor ainda nos coloca que, por um lado, há uma pressão para que os recursos do fundo público sejam alocados junto a ações que buscam garantir ou assegurar a continuidade do desenvolvimento do sistema capitalista, e que, por outro lado, existe outra reivindicação, que conclama o fundo público para atender às necessidades sociais das populações mais empobrecidas.

O que podemos compreender deste item inicial é que o investimento do fundo público, por meio do Estado, tem seu apogeu no segundo pós-guerra, a partir da crise capitalista. Observamos ainda que, apesar das críticas a esse formato de regulação estatal que surgiram na década de 1970, ele continuou sendo mantido, sendo que figura até nos dias atuais.

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Tendo tais colocações expostas, passaremos no próximo item a realizar algumas discussões sobre a constituição e organização do fundo público na contemporaneidade.

8.1.2 O fundo público na contemporaneidade

Conforme orientamos anteriormente, neste item voltaremos o nosso olhar para as questões que condicionam o fundo público na atualidade. Não pretendemos realizar uma análise econômica, apenas iremos inserir algumas provocações para que você possa repensar o destino dos recursos públicos, considerando a realidade contemporânea da sociedade brasileira.

À guisa de tal colocação, a primeira afirmação a ser feita é que temos visto, cada vez mais, o fundo público orientado para atender às necessidades do capital, apesar de propor justamente o contrário. Atualmente, na idade do capitalismo monopolista, outras questões nos são apresentadas a fim de pensar o fundo público. Elencaremos parte delas com objetivo didático: as crises capitalistas, a globalização ou mundialização da economia, a financeirização da economia, as intervenções estatais na economia via fundo público e os resultados dessas intervenções para o Sistema de Seguridade Social Brasileiro.

Elegemos iniciar com algumas considerações sobre as crises capitalistas, visto que, conforme já mostramos, seriam elas as principais motivadoras para a intervenção estatal junto à economia em todo o mundo e também no Brasil.

Cabe ainda destacar que, como já dissemos, as crises no sistema capitalista são cíclicas, ou seja, se alternam com ondas de desenvolvimento. Nas últimas décadas do século XX, elas afetaram os países capitalistas, sobretudo a América Latina, onde está, segundo Salvador (2010b), grande parte dos países subdesenvolvidos ou emergentes.

De acordo com o autor, essas crises do século XX tiveram seu início nos bancos e com o tempo foram se espalhando para outros setores da economia brasileira, sendo que, para socorrer nessa situação, mais uma vez o fundo público foi chamado a intervir. Salvador (2010a), aliás, nos chama a atenção para o fato de que o Estado tenha sido chamado a intervir não apenas nessa crise, mas em todas as outras que se desenvolveram. Nesse sentido, o poder público é tido como o resgate, a salvação para socorrer as instituições privadas falidas.

A fim de demonstrar suas colocações, Salvador (2010a) exemplifica destacando o que ocorreu durante as décadas de 1960 e 1970, quando a crise bancária foi contornada pela ingestão de dinheiro público junto a essas instituições.

No entanto, o autor indica que os períodos longos de extração da mais-valia e do lucro já fazem parte do passado capitalista. Segundo ele, o capitalismo não consegue sobreviver atualmente mais de três anos sem a vivência de uma crise econômica. Nesse sentido, ele elenca os principais momentos de crise: 1987, 1990, 1994, 1997, 1998, 2001, 2003 e 2008. Sobre essa última, o autor assevera que foi a mais aguda, comparável com aquela vivenciada em 1929.

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A crise de 2008 começou nos bancos dos Estados Unidos e estava relacionada com a baixa observada em empréstimos hipotecários, em investimentos, nas operações de seguros e nas demais operações que estavam diretamente relacionadas aos mercados financeiros. Essa crise teve condicionantes em nosso país, apesar das tentativas de dissipá-la.

Sobre isso, observe a notícia a seguir, que é extremamente representativa desse processo na realidade brasileira.

Governo pode anunciar ainda este ano novas medidas para conter efeitos da crise

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje (19) que está preocupado com a economia brasileira no primeiro trimestre de 2009 e que ainda este ano o governo deverá anunciar novas medidas para amenizar os efeitos da crise financeira internacional. Lula, no entanto, voltou a descartar o risco de recessão no país.“Há mais medidas ainda este ano ou no ano que vem, mas não vou adiantar, porque medida econômica não se antecipa, senão a economia pára à espera do anúncio”, disse durante café da manhã com jornalistas realizado tradicionalmente ao final de cada ano.Segundo Lula, os setores que mais preocupam são aqueles que geram grande quantidade de empregos, como o automobilístico, o de construção civil, o agrícola e as pequenas e médias empresas.O presidente respondeu a perguntas sobre queda de juros, e disse que “obviamente” haverá redução. Ele elogiou a política monetária, mas disse que precisa haver mudanças em épocas de crise. “Até agora a política monetária foi acertada, mas em época de crise não pode ficar do mesmo jeito. Mas o Meirelles [Henrique Meirelles, presidente do Banco Central] é um homem inteligente e sabe o que fazer.”Lula também reafirmou que o governo mantém para o próximo ano a meta de crescimento de 4% para o Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todos os bens e serviços produzidos no país.“O governo trabalha com crescimento de 4%, vamos continuar trabalhando, temos que acreditar que é possível fazer as coisas acontecerem, se ficarmos pelos cantos chorando, a gente não faz acontece nada e estou determinado que quanto mais trabalharmos e tomarmos medidas mais chances termos de manter os investimentos.”O presidente foi questionado por um jornalista se tem algum arrependimento por ter declarado que os efeitos da crise chegariam no Brasil na forma de uma “marolinha” e respondeu que não. Ele lembrou que, mesmo com a crise internacional, o PIB brasileiro apresentou crescimento de 6,8% no terceiro trimestre deste ano.

Fonte: Aquino... (2008).

Exemplo de aplicação

O ex-presidente Lula declarou que a crise de 2008 não afetaria o Brasil e que chegaria aqui como uma “marolinha”. Porém, meses depois já admitia a necessidade de regulação econômica. Como você compreende essa mudança de postura, ou melhor, de pensamento sobre a crise? Reflita e argumente sobre o assunto.

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Partindo da compreensão sobre a crise, é necessário pontuar que o mercado também passa a procurar saídas para a crise e uma das alternativas encontradas é a globalização da economia – ou “mundialização” da economia, conforme o professor Chesnais (1996, p. 17), pois o termo “mundialização” está mais relacionado com o processo iniciado a partir da década de 1970, tendo em vista a ampliação e a manutenção do lucro pela sociedade capitalista, do que “globalização”. Além disso, afirma o autor que o termo “mundialização” nos remete a uma série de dispositivos que vão sendo organizados para que seja possível alcançar, além do lucro, uma valorização do capital financeiro e produtivo em escalas internacionais. Assim, não pode haver barreiras que impeçam a reprodução capital.

Já estudamos algumas informações sobre o processo de globalização, especificamente quando tratamos das mudanças implementadas no processo produtivo a partir da década de 1970; portanto, não cabe retomar todos os aspectos, mas apenas sumariar alguns. Assim, podemos relembrar que a globalização faz referência a um fenômeno atual, na sociedade capitalista, em que é empreendida uma série de esforços com o objetivo de libertar o mercado das amarras que impediam a produção e o comércio. Dessa forma, torna-se possível a ampliação da produção e também do comércio, colocando fim às barreiras que antes os impediam.

Chesnais (1996) argumenta que na sociedade capitalista atual precisa haver uma constante valorização do capital financeiro, sendo que a mundialização seria o principal meio para que essa valorização aconteça. Mas, cabe aqui o recorte: o que podemos então compreender como capital financeiro?

O capital financeiro surge e se consolida como um capital gerado por meio do comércio de títulos, obrigações e certificados que poderão ser conversíveis em dinheiro. Esse capital não precisa ser gerado por meio de um processo produtivo, ou seja, não há em tese a necessidade de um trabalhador e de matéria-prima para gerar o capital financeiro.

Vimos com Salvador (2010b) que a partir da globalização ou da mundialização há uma significativa ampliação do montante de capital financeiro no processo capitalista. O autor exemplifica citando como representativos do capital financeiro os seguintes tipos de serviços: a poupança, porém com novas bases; mercados de títulos; e aquisições imobiliárias. É, como se pode observar, um rol de serviços que são oferecidos nos bancos em grande medida.

Mas a concorrência também se mostra latente para esse tipo de mercado; os bancos disputam acirradamente cada cliente, cada possibilidade de fazer um negócio.

O autor nos diz que essa forma de organização capitalista pode entrar também em crise. Aliás, como vimos anteriormente, uma das crises teve seu início nos bancos e só conseguiu ser superada por meio do “socorro” do Estado via fundo público. Salvador (2010b, p. 224) chega a descrever que, nesse sentido, o Brasil seria o “paraíso dos bancos”, dada a intervenção estatal para socorrer essas instituições financeiras, pois “[...] o Estado brasileiro vem abrindo mão de receitas tributárias importantes em favor da renda de capital, sobretudo para os bancos”.

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Buscando compreender a intervenção estatal nesse processo, Salvador (2010a) nos diz que o Estado participa do processo produtivo, pois interfere por meio do fundo público. O autor introduz ainda o conceito de antivalor. Ele realiza uma análise com base no pensamento de Francisco de Oliveira, outro grande estudioso da questão do fundo público. Segundo a análise de Oliveira (1990 apud SALVADOR, 2010a), o Estado não estaria gerando valor, apesar de participar do processo produtivo. Por isso, é possível inferir que o fundo público seria um antivalor. Para o autor, essa compreensão também derivaria do fato de que o fundo público, quando investido, não possibilita a extração da mais-valia.

Oliveira (1990 apud SALVADOR, 2010a) afirma que os bens e os serviços sociais públicos funcionam como uma espécie de antimercadoria social, mas, segundo o autor, sua finalidade seria socorrer o capitalismo para não gerar lucro. Contudo, Salvador (2010a) apenas destaca essa colocação como uma espécie de reflexão, tendo em vista que defende que, pelo fato de o fundo público participar direta ou indiretamente da valorização do capital, de uma forma indireta está relacionado com o processo produtivo e, portanto, está sim produzindo o valor.

Sobre a intervenção estatal na economia, já sumariamos algumas pistas; porém, agora trataremos dessa intervenção considerando a realidade brasileira e a capitalista, que vivencia a intensa financeirização da economia.

Nos termos postos, Salvador (2010a) nos coloca que o Estado passa a privatizar os serviços e benefícios da Seguridade Social, sendo que as empresas privadas, sobretudo os bancos, têm a possibilidade de oferecer serviços que antes eram predominantemente oferecidos pelo Estado.

Além disso, há uma grande transferência de recursos do orçamento público, ou seja, do fundo público para pagamentos da dívida pública. Assim sendo, segundo Salvador (2010a), o orçamento do Governo Federal para o ano de 2010 apresentava ¼ dos valores que deveriam ser destinados ao pagamento de juros e para a amortização da dívida pública. No entanto, o Estado não restringe sua intervenção na ingestão de recurso público junto à iniciativa privada e ainda investe com incentivos fiscais e por meio da isenção de tributos para o mercado financeiro.

Salvador (2010a) salienta ainda que o Estado promove uma privatização de empresas públicas que podem oferecer uma rentabilidade à iniciativa privada, além de estimular e regular fusões e aquisições.

A tributação e a fixação de juros também figura, na contemporaneidade, como uma forma de intervenção estatal na regulação econômica. No que diz respeito à tributação, Salvador (2010a) afirma que há tributos indiretos, ou seja, aqueles que incidem sob o consumo e também sob o salário. Sobre a questão tributária, ele diz que o Estado brasileiro apenas operacionaliza uma contrarreforma tributária que já havia sido iniciada durante o governo Fernando Henrique Cardoso e que foi levada a cabo durante o governo Lula.

Segundo essa reforma, há uma transferência dos tributos para a renda do trabalhador e também da população mais pobre. Segundo uma pesquisa realizada pelo IBGE no ano de 1996, quando a reforma tributária foi iniciada, quem recebia até dois salários mínimos por mês chegava a gastar 26% de sua renda em tributos, enquanto quem possuía renda superior a 30 salários mínimos gastava em média 16% dos tributos, apenas. Isso quer dizer que a classe pobre acaba custeando as reformas tributárias.

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Nesse ínterim de acontecimentos, o que temos é uma destinação cada vez maior do fundo público para a regulação capitalista. Em decorrência disso, temos, como imaginado, uma redução dos recursos destinados à Seguridade Social brasileira, ou melhor, observamos uma grande regressão do financiamento da Seguridade Social por parte do estado brasileiro.

Apesar de tal destinação do fundo público para a iniciativa privada não acontecer de forma pacífica, segundo salienta Salvador (2010a), há, nos termos do autor, uma luta entre as classes sociais que requisitam o fundo público. Tanto há quem solicite o fundo público para a iniciativa privada quanto quem o requisite para as questões sociais; porém, como é possível concluir, vimos que há uma destinação massiva dos recursos do fundo público para a manutenção das atividades econômicas capitalistas. Frente a novas necessidades capitalistas, à financeirização da economia e às crises cíclicas que comprometem cada vez mais a extração do lucro capitalista, o que temos é um grande investimento do fundo público para as necessidades capitalistas.

Veja a seguir uma entrevista com Ruy Braga, especialista em Sociologia do Trabalho, onde vem discutida a questão da retração estatal de forma atrelada ao desenvolvimento capitalista, tal como estudamos neste material. Esteja atento a todo o texto, em especial à parte final, em que é feita menção à realidade brasileira.

O desmantelamento do Estado é o DNA do capitalismo

Entrevista Ruy Braga - especialista em Sociologia do Trabalho

Adital - “As políticas de austeridade derivam de uma tentativa de transferir o ônus econômico para as classes trabalhadoras”, frisa o sociólogo Ruy Braga, ao comentar o desmantelamento do Estado de bem-estar social nos países europeus que enfrentam a crise econômica. Segundo ele, para diminuir os prejuízos do capital financeiro, o Estado nacional assume “ônus de socializar as perdas entre as classes sociais subalternas”. Na avaliação de Braga, a crise atual é de natureza política e econômica e se manifesta de “forma mais ou menos aguda desde meados da década de 1970”. Os pacotes de austeridade impostos pela Tróika apontam para “a questão de que o capitalismo não é capaz de resolver essa dupla contradição, ou seja, integrar os trabalhadores e ao mesmo tempo protegê-los. Essa foi uma ilusão do capitalismo pós-guerra, especialmente na Europa”, enfatiza o sociólogo em entrevista concedida à IHU On-Line por telefone. A solução da crise e a manutenção dos direitos sociais dependem do resgate do internacionalismo. “É importante o pensamento de esquerda ter presente que a crise portuguesa não será resolvida em Portugal, que a crise espanhola não será resolvida na Espanha, que a crise italiana não será resolvida na Itália, que a crise grega não será resolvida na Grécia. O que se demanda efetivamente é uma unificação daqueles que se colocam em posição flagrante contra esse projeto da ‘Tróika’, de política de austeridade etc.”. E dispara: “Caso contrário, essas forças de esquerda irão se perder na tentativa inócua de tentar solucionar problemas pontuais do sistema, pensados do ponto de vista da administração política da crise econômica”. Ruy Braga é especialista em Sociologia do Trabalho, e leciona no Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo - USP, onde coordenou o Centro de

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Estudos dos Direitos da Cidadania - Cenedic. No mês de novembro deste ano Braga lançará seu novo livro, intitulado Política do precariado, pela editora Boitempo.

Como o capital está se reestruturando diante da crise financeira internacional? A luta de classes ainda se manifesta nessa reestruturação?

É importante destacar que o processo de reestruturação do capitalismo ocorre desde os anos 1990 em escala global, que foi o período de largo desenvolvimento das políticas neoliberais, de ajuste estrutural das economias nacionais, de reestruturação produtiva e corporativa das empresas, e o período que assistiu o colapso das economias do leste Europeu. Do ponto de vista do processo de luta de classes em nível internacional, essa reestruturação capitalista, que atende pelo nome de mundialização do capital, tem uma dupla dimensão. A primeira é estritamente política, que diz respeito ao rearranjo de poder e força dos Estados-nação, em especial aquelas forças políticas que dirigem ou dirigiram historicamente os diferentes aparelhos governamentais, como a social democracia na Europa e algumas experiências nacional-desenvolvimentistas na América Latina. Por outro lado, tem-se uma reestruturação propriamente econômica, que articulou tanto a mundialização das empresas como uma reestruturação produtiva, que terceiriza, promove o avanço da tecnologia de informação, que efetivamente globaliza a sua esfera de ação. Na articulação dessa dupla dinâmica política e econômica as classes subalternas, em escala internacional, dão um passo atrás na década de 1990 - esse é o período do auge do neoliberalismo e do desmonte daquela forma de solidariedade classista, que se identifica grosso modo com o operariado fordista na Europa, na América Latina e nos EUA.

Então, há um retrocesso da solidariedade da classe estruturada durante o período fordista, e um avanço de um projeto de sociedade marcadamente individualista e neoliberal, um individualismo esvaziado de solidariedade, profundamente marcado pela concorrência com os diferentes atores. Nesse contexto é que a luta de classe retrocede na década de 1990. Entretanto, a partir de meados desse período, início dos anos 2000, identifica-se alguns exemplos de retomada do processo de reorganização das classes subalternas, em especial no caso da greve do funcionalismo público francês, de 1995, e a formação dos estados gerais, em 1998, o que imprime um ritmo distinto no “desmanche” das classes subalternas em escala global.

Os anos 2000 foram marcados pela retomada da organização das classes subalternas, que acabou empurrando o centro da dinâmica política latino-americana para a esquerda. Nesse período foram eleitos vários governos cunho frente popular, dentre os quais o mais famoso evidentemente é o caso brasileiro, com a eleição do Lula em 2002, o que abre um novo período dessa dinâmica de luta de classes. Em resumo, diria que há avanços e recuos, progressos e retrocessos do ponto de vista das classes. No entanto, o mais importante a se destacar é que o jogo ainda está sendo jogado, ou seja, não existe uma palavra final para esse contexto.

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Após algumas décadas de avanços na consolidação do Welfare State, o modelo de Seguridade Social está ameaçado e constantemente reduzido pelos pacotes de austeridade dos governos europeus. O que está acontecendo? Qual a raiz deste desmantelamento social?

Novamente, é importante destacar essa dupla dimensão econômica e política. Por um lado, percebe-se economicamente o flagrante ataque às políticas de bem-estar disferido pela “Troika” (FMI, Banco Mundial e pela Comissão Europeia), os quais respondem evidentemente a uma exigência do capital europeu. Ou seja, para que haja a possibilidade de diminuir os prejuízos do capital financeiro europeu, é necessário que o Estado nacional assuma o ônus de socializar as perdas entre as classes sociais subalternas. Então, existe uma dinâmica econômica que se inscreve num período de longo prazo. É uma crise que se estende de forma mais ou menos aguda desde meados da década de 1970, e que hoje se manifesta de uma maneira mais contundente do ponto de vista do endividamento de alguns países, em especial países da semiperiferia capitalista europeia, como é o caso, notoriamente, de Portugal, Espanha, Itália e Grécia. Mas essa dinâmica da crise de endividamento, da impossibilidade de se manter essa valorização do capital financeiro em escala continental e em escala global, tem atingido também países do centro do capitalismo, como é o caso da Inglaterra e da França. Então, o capitalismo irá se estender numa crise econômica que está se aprofundando, se tornando mais abrangente do ponto de vista geográfico. Essa conjuntura coloca desafios para essas sociedades nacionais e, evidentemente, os setores conservadores ligados diretamente ao capital financeiro buscam transferir o ônus dessa crise, do prejuízo econômico, para as classes trabalhadoras, as classes sociais subalternas.

As políticas de austeridade basicamente derivam dessa dinâmica, uma tentativa de transferir o ônus econômico para as classes trabalhadoras. Evidentemente esse é um mecanismo político, ou seja, exige a integração da política. Então, abre-se um período de flagrante luta de classes na Europa, haja vista, por exemplo, as manifestações que têm ocorrido em Portugal - as mais importantes manifestações da história portuguesa desde 25 de abril de 1974.

Como o capitalismo transformou os ideais de igualdade, universalização de direitos e bem estar social? Esses sonhos estão sendo substituídos?

Principalmente o capitalismo europeu e o modelo do Estado de bem estar social prometeram uma inclusão dos setores mais pauperizados das classes subalternas, por intermédio de políticas de bem-estar que garantissem o consumo, independentemente do tempo de investimento na produção, do tempo de investimento econômico nas empresas. Esse modelo também prometeu segurança para os trabalhadores que já estavam inseridos no mercado de trabalho. Essa dupla promessa está sendo literalmente negada, está sendo desmontada com a dinâmica da crise atual. Isso aponta para a questão de que o capitalismo não é capaz de resolver essa dupla contradição, ou seja, integrar os trabalhadores e, ao mesmo tempo, protegê-los. Essa foi uma ilusão do capitalismo pós-guerra, especialmente na Europa.

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Como compreender que diante de tantas conquistas materiais e técnicas, ainda perduram a ameaça do desemprego, a crescente insegurança e precariedade das novas ocupações?

O desemprego, a insegurança e a incapacidade do sistema de proteger são dinâmicas do capitalismo, isso é o DNA do capitalismo, porque esse modelo se apoia na concorrência, na busca pelo lucro máximo. Então, é possível ter histórica, circunstancial e regionalmente situações de proteção social, mas elas serão rapidamente amesquinhadas diante da competição com outros países. Por exemplo, basta identificar a entrada da China no jogo do capitalismo global. O preço da força de trabalho dos trabalhadores chineses coloca pressão sob o preço da força de trabalho dos trabalhadores franceses, alemães, ingleses, portugueses, americanos e assim por diante, porque as empresas tendem a migrar para regiões que pagam menor salário. Então, há uma dinâmica da concorrência que progressivamente tende a erodir as conquistas vinculadas à proteção e à inclusão social.

[...]

Especificamente no Brasil, como avalia as discussões sobre a possibilidade de o governo brasileiro flexibilizar as leis trabalhistas e de implantar o modelo trabalhista alemão no Brasil? Quais as implicações para o mundo do trabalho?

Evidentemente essa é uma tendência mundial - e brasileira também. Basta analisar a década de 1990 em termos de flexibilização da legislação do trabalho, aquilo que na Sociologia do Trabalho se chama “contratualização ou precarização” no contrato de trabalho, com a intervenção de inúmeras formas de contratação por tempo determinado, inúmeras formas de contrato temporário etc. Se o governo Dilma aceitar o princípio do acordado sobre o legislado, estará evidentemente contribuindo para o aprofundamento da flexibilização da precarização, que já é muito alto no país. O mundo do trabalho brasileiro é fundamentalmente precário, ou seja, os trabalhadores encontram funções de trabalho e de contrato tão precarizados, que é necessário o apoio e a intervenção de um terceiro para garantir o mínimo de reconhecimento ou de direitos. E esse mínimo é basicamente a legislação do trabalho, ou seja, se, em benefício de alguns setores que são mais organizados, se apoia ou legaliza o princípio do acordado sobre o legislado, estar-se-á efetivamente impedindo ou bloqueando que os direitos se generalizem [...]

Fonte: Fachin (2012).

Exemplo de aplicação

Realizando uma reflexão sobre o que acabamos de ler, repense sobre os quesitos a seguir e busque construir um texto com base em suas argumentações:

• Em que medida o desmantelamento do Estado colabora para uma precarização da vida das classes menos favorecidas?

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• Na conjuntura atual, o Estado brasileiro tem se colocado como um Estado de Bem-Estar Social?

• É possível observar a defesa, por parte do Estado brasileiro, da classe burguesa ou da classe trabalhadora?

Na sequência, concluiremos nossos estudos sobre o fundo público elencando informações sobre as formas de financiamento do Sistema de Seguridade Social Brasileiro.

8.1.3 A fonte de recursos do Sistema de Seguridade Social Brasileiro

Partindo de uma compreensão mais crítica sobre o fundo público, vamos estudar agora a fonte de recursos do Sistema de Seguridade Social Brasileiro. Para isso, iremos retomar a legislação oficial aqui já estudada, porém destacando apenas as questões relacionadas ao financiamento desse sistema.

Com finalidade didática, optamos por iniciar nossas colocações tratando da Política de Assistência Social, para em seguida tratarmos sobre a Política Social de Saúde e, por fim, realizarmos uma aproximação à Política de Previdência Social. Com relação a essa política social, vamos tecer apenas algumas considerações, visto que o financiamento de tal política é extremamente amplo e depende consideravelmente do regime de previdência adotado.

Iniciemos pela Política de Assistência Social. O financiamento das ações na área da Assistência Social, conforme a Lei n° 8742/93, no artigo 27, é de responsabilidade do Fundo Nacional de Assistência Social. Porém, isso não significa que o financiamento das ações seja desenvolvido apenas com recursos do Governo Federal, e sim pela congregação do recurso dos diversos entes federados, conforme exposto no artigo 28:

O financiamento dos benefícios, serviços, programas e projetos estabelecidos nesta lei far-se-á com os recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, das demais contribuições sociais previstas no art. 195 da Constituição Federal, além daqueles que compõem o Fundo Nacional de Assistência Social (BRASIL, 1993).

O benefício de prestação continuada é custeado pelo Governo Federal. Porém, o recurso destinado pelo Fundo Nacional de Assistência Social é gerido pelo órgão federal responsável pela Política Nacional de Assistência Social e controlado pelos respectivos Conselhos de Assistência Social, seja na esfera federal, estadual ou municipal.

A Seguridade Social será financiada pela participação de toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, mediante contribuições sociais:

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• Do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:

– a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;

– a receita ou o faturamento;

– o lucro.

• Do trabalhador e dos demais segurados da Previdência Social;

• Sobre a receita de concursos de prognósticos;

• Do importador de bens ou serviços do exterior ou de quem a lei a ele equiparar (BRASIL, 1993).

É necessário salientar que os recursos dessas fontes de financiamento são partilhados também com as Políticas de Saúde e Previdência Social, tendo em vista que todo o Sistema de Seguridade Social Brasileiro recorre às mesmas fontes.

Boschetti (2003), com o objetivo de demonstrar como é composto o orçamento destinado à Seguridade Social como um todo, recorreu à tabela exposta a seguir, na qual é destacado o valor proveniente de cada esfera de arrecadação. Por meio dela é possível também observar o percentual com que cada segmento de arrecadação “colaborou”, digamos assim, com a Seguridade Social brasileira.

No exemplo, os dados estão relacionados ao ano de 2001, mas mesmo assim servem como referência apenas para que seja possível exemplificar o que temos estudado até o presente momento.

Vejamos:

Tabela 1 – Arrecadação das fontes destinadas ao custeio da Seguridade Social em 2001

Recolhimento Montante (R$ bi) %

1. Contribuições do Regime Geral

empregadores/trabalhadores 62.491 43,77

outras receitas do INSS 0,618 0,43

Cofins 45.679 32,00

CSLL (Contribuição lucro líquido) 8.968 6,28

2. Concurso de prognóstico 0,521 0,36

3. CPMF 17.157 12,01

4. Receitas próprias do MS 0,962 0,67

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Sub-total – Regime Geral Setor Privado 136.877 95,52

5. Contribuição dos Serviços Públicos 2.384 1,67

Civis 1.741 1,22

Militares 0,643 0,45

6. Contribuição da União 3.481 2,43

Subtotal – Servidores públicos 5.865 4,10

Totas das receitas 142.742 100,00

Fonte: Boschetti (2003, p. 83).

Nessa tabela, considerando o período estudado, podemos observar que há uma grande colaboração da classe trabalhadora, com 43,77%.

Para receber recursos, os estados e municípios precisam possuir conselhos constituídos, além de fundos constituídos e planos de Assistência Social já elaborados, conforme preconiza o artigo 30. Além disso, é necessário que o ente beneficiário do recurso comprove possuir recursos próprios destinados à ação assistencial proposta.

Para aqueles que forem beneficiados com os recursos do Fundo Nacional da Assistência Social, o financiamento passa a ser fundo a fundo, ou seja, diretamente do fundo do Governo Federal para estados e municípios. São esses os recursos destinados ao financiamento da rede sócio-assistencial. Os benefícios eventuais, destinados diretamente aos usuários, são pagos a esses beneficiários.

Para a organização e disposição dos serviços, é necessária a realização de um diagnóstico do território a fim de identificar as áreas de vulnerabilidade social e desenvolver as ações prioritariamente junto a essas áreas. Uma série de recursos de fontes diferenciadas colabora para o financiamento da Assistência Social.

Vejamos agora a Política Social de Saúde. Recorrendo à Lei n° 8.080/90, podemos identificar algumas orientações sobre a questão do financiamento das ações em saúde pública no Brasil.

Segundo a legislação em questão, a Política Social de Saúde deveria partilhar do orçamento da Seguridade Social, assim como as Políticas Sociais de Assistência e Previdência Social. Além disso, segundo o artigo 32 (BRASIL, 1990a), podem compor os recursos destinados a saúde:

I - (VETADO)

II - serviços que possam ser prestados sem prejuízo da assistência à saúde;

III - ajuda, contribuições, doações e donativos;

IV - alienações patrimoniais e rendimentos de capital;

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V - taxas, multas, emolumentos e preços públicos arrecadados no âmbito do Sistema Único de Saúde-SUS; e

VI - rendas eventuais, inclusive comerciais e industriais.

Também no caso da saúde, os recursos destinados às ações são transferidos de fundo a fundo e precisam ser controlados pelos conselhos. Além disso, são realizadas auditorias por parte do Ministério da Saúde, conforme a Lei n° 8.080/90.

A transferência dos recursos para os municípios, segundo o artigo 35 (BRASIL, 1990a), precisa observar os seguintes critérios:

I - perfil demográfico da região;

II - perfil epidemiológico da população a ser coberta;

III - características quantitativas e qualitativas da rede de saúde na área;

IV - desempenho técnico, econômico e financeiro no período anterior;

V - níveis de participação do setor saúde nos orçamentos estaduais e municipais;

VI - previsão do plano quinquenal de investimentos da rede;

VII - ressarcimento do atendimento a serviços prestados para outras esferas de governo.

As formas de aplicação desses recursos, no âmbito nacional, estadual e municipal, devem acontecer de forma participativa, contando com a participação de usuários do serviço, trabalhadores da área, prestadores de serviços, gestores e todos os demais envolvidos com a Política Social de Saúde.

A Previdência Social é financiada com recursos provenientes das diferentes esferas, como a Assistência Social, conforme já dissemos. Ela ainda é complementada pelo pagamento dos beneficiários, além dos recursos destinados pela esfera governamental.

Esperamos que tenha sido possível a você compreender como é composta a Seguridade Social brasileira. Contudo, é importante notar que esse orçamento sempre se mostra insuficiente, sobretudo no que diz respeito às Políticas de Assistência Social e Saúde. Relacionando isso ao conteúdo anteriormente tratado, é possível concluir que há uma redução dos recursos destinados à Seguridade Social para assim atender às necessidades capitalistas.

Uma alternativa a essa situação encontrada por muitos teóricos é a ampliação dos espaços de participação e controle social a fim de evitar que os recursos vinculados ao fundo público sejam

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direcionados a atender às necessidades tanto sociais da população como as do capital. Abordaremos esse assunto mais adiante.

8.2 Os mecanismos de participação e de controle social

Concluiremos nossos estudos discutindo a questão da participação e do controle social. Para isso, realizaremos um breve retrospecto sobre o desenvolvimento das primeiras ações em participação e controle social no Brasil, considerando para isso os primeiros movimentos sociais desenvolvidos junto às Políticas Sociais de Assistência Social, Saúde e Previdência Social. Na sequência, discutiremos os mecanismos que atualmente regulam e orientam a participação e o controle social junto às políticas sociais que compõem a Seguridade Social brasileira.

8.2.1 Um breve histórico da participação e do controle social no Brasil

Saiba mais

É possível uma maior aproximação sobre o assunto dos movimentos sociais inseridos na realidade contemporânea visitando o site a seguir:

A HISTÓRIA dos movimentos sociais no Brasil. Disponível em: <http://www.educacao.cc/cidada/a-historia-dos-movimentos-sociais-no-brasil/>. Acesso em: 13 fev. 2014.

Orientaremos nossos estudos para a questão da participação e do controle social. Realizaremos, dada a natureza de nosso estudo, uma aproximação à questão da participação e do controle social tomando como referência o Sistema de Seguridade Social Brasileiro.

Lembrete

A Seguridade Social no Brasil foi reconhecida apenas a partir da Constituição de 1988.

Apenas com finalidade didática, discutiremos inicialmente as expressões de movimentos sociais mais importantes que condicionaram a Política de Assistência Social; na sequência, abordaremos as principais organizações de reivindicação que condicionaram a Previdência Social; e, por fim, veremos a Política Social de Saúde.

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Saiba mais

Para conhecer melhor os movimentos sociais vinculados à Assistência Social, recomendamos a leitura dos textos a seguir:

LONARDONI, E. et al. O processo de afirmação da Assistência Social como política pública. Serviço Social em Revista, v. 8, n. 2, Londrina, 2006. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c-v8n2_sonia.htm>. Acesso em: 14 fev. 2014.

SECON, M. A. Assistência social: preço mínimo da força de trabalho. Serviço Social em Revista, v. 3, n. 2, Londrina, 2001. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c_v3n2_minimo.htm>. Acesso em: 14 fev. 2014.

É preciso antes de qualquer coisa pontuar que a Assistência Social permaneceu por muitos anos “à margem” das demais políticas sociais. Ela era tida como uma ação destinada a atender somente os casos não satisfeitos pela Previdência Social e pela Saúde.

O caráter secundário de tal política deriva ainda do fato de as ações da Assistência Social estarem vinculadas inicialmente a concessões, a benesses e à caridade de grupos privados ou vinculados à Igreja. Por isso, residia na Assistência Social o caráter de concessão, e não o caráter de uma política social de fato (LAJUS, 2009).

No que diz respeito às reivindicações sociais no âmbito da Assistência Social, precisamos compreender que parte das solicitações em prol de uma política social, e não mais de uma concessão, estão relacionadas ao período de distensão política. Tal período corresponde à década de 1970, quando o regime ditatorial até então vigente e hegemônico no Brasil começou a dar sinais de esgotamento (LAJUS, 2009).

Partindo do declínio do regime ditatorial no Brasil, surgiu a oportunidade de que a sociedade passasse a se organizar para reivindicar seus direitos sociais. Como sabemos, antes desse período as pessoas não podiam organizar manifestações populares sob a premissa de serem agredidas, torturadas e mesmo mortas.

No entanto, foi somente a partir da consolidação das formas de participação popular para a sociedade em geral que passou a ser possível organizar-se para reivindicar a Política Pública de Assistência Social. Lajus (2009) nos diz que foi nesse período que ganharam força algumas propostas em relação à Política de Assistência Social, sendo que os segmentos que mais reivindicaram foram os trabalhadores da área, sobretudo aqueles vinculados a entidades e organizações que prestavam o serviço em questão.

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Apesar disso, no período, as ações em Assistência Social não foram significativamente alteradas, ou seja, o caráter de benemerência das ações ainda foi mantido. Segundo Lajus (2009), no momento em que as solicitações se tornaram latentes, foram organizados alguns serviços apenas para atender às reivindicações imediatas da população. Tais concessões foram viabilizadas apenas para tentar conter as expressões do movimento social que já se desenhava na realidade brasileira.

Contudo, apesar do regime ditatorial buscar conter as manifestações populares como um todo no país, isso não se tornou possível e a sociedade brasileira requisitou e alcançou a democratização.

Houve intensa mobilização no âmbito da Política Social para que as ações em prol dos segmentos mais empobrecidos da sociedade brasileira passassem a ser responsabilidade do Estado, sendo também requisitada a ampliação dos serviços, tendo em vista a necessidade de consolidação de um sistema universal dos serviços.

Em meio a essas mudanças que vinham sendo solicitadas, passou a figurar em pauta de governo o tratamento conferido até então à Política de Assistência Social. Destaca-se nesse sentido um grande movimento dos trabalhadores da área e também dos trabalhadores relacionados às Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (as Apaes), que também exerceram pressão popular devido ao fato de serem compreendidas como prestadoras de Assistência Social.

Vieira (2008) aponta ainda que houve também grande importância nesse sentido a Legião Brasileira da Assistência, ou LBA. Sentindo a necessidade de repensar e de construir uma nova política social, a LBA chegou até a estabelecer uma parceria com a Secretaria de Assistência Social. Por meio dessa parceria, contratou especialistas em Assistência Social e criou o Grupo Interministerial de Pesquisa, para investigar, estudar e provocar a ocorrência de crítica ao padrão até então utilizado para se conduzir a Política de Assistência Social.

A recomendação no período era que a Assistência Social fosse compreendida como uma política pública, e não mais como benesse, indicando assim uma mudança de concepção sobre tal prática, conforme nos diz Lajus (2009). Além disso, há também uma requisição a fim de que a Assistência Social passasse a compor ou integrar um sistema de segurança social para atender aos brasileiros em situação de vulnerabilidade social momentânea ou contínua.

Tais solicitações resultaram de fato em algo concreto e que foi expresso por meio da Constituição de 1988. Assim, a Assistência Social passou a ser tratada como política social, direito de todos os cidadãos que dela necessitarem e primazia de responsabilidade estatal. Mais do que isso, a partir de então essa política passa a compor, juntamente com a Saúde e a Previdência Social o chamado tripé da Seguridade Social.

Mais que uma mudança legal, trata-se da cristalização da mudança de conceitos e compreensões sobre a Assistência Social, de forma que o que vinha sendo reivindicado anos antes por trabalhadores e pessoas mais vinculadas aos serviços assistenciais ganhava então força de lei. Assim:

O fato de alçar a Assistência Social à condição de política pública, direito do cidadão e dever do Estado implica na mudança de concepção da Assistência

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Social, retirando-a do campo da benemerência, do dever moral e do assistencialismo para o dos direitos sociais (LAJUS, 2009, p. 168).

No entanto, em relação à Assistência Social, o texto constitucional permaneceu ainda na inércia. Poucas ações foram desenvolvidas no sentido de conferir viabilidade prática àquilo que consta na Constituição de 1988.

Lajus (2009) nos diz que somente em 1993, cinco anos após a Constituição, também em virtude de intenso processo de mobilização por parte dos setores organizados de nossa sociedade – mais uma vez, sobretudo, de trabalhadores relacionados a área da Assistência Social –, tornou-se possível a constituição da Lei Orgânica da Assistência Social (Lei nº 8.742/93). No entanto, a primeira tentativa de regulamentar o disposto na Constituição no que se refere à Assistência Social teria acontecido por meio da elaboração do projeto de Lei nº 3.099/89, aprovado pela Câmara e Senado mas rejeitado em 1990, na íntegra, pelo então presidente Fernando Collor de Mello.

Mas isso ainda demandava uma maior regulamentação. Esperava-se que a Assistência Social fosse de fato uma política com regulamentação, parâmetros e normativas que permitissem um padrão de qualidade mínimo em todo o território nacional. Recomeçou assim outra luta em prol de uma maior regulamentação da Assistência Social.

Começam assim, nos termos de Lajus (2009), as reivindicações por um Sistema Único de Assistência Social, sendo que tal proposta ganhou grande força na I Conferência Nacional de Assistência Social, que aconteceu em Brasília no ano de 1995. Nessa conferência, segundo a autora, participaram profissionais da área e representantes de entidades prestadoras de Assistência Social, de conselhos de direitos e também de usuários dos serviços assistenciais.

No entanto, foi apenas no ano de 2004 que essa conquista foi alcançada a partir da promulgação da Política Nacional de Assistência Social, que, como sabemos, viabilizou a publicação de outros dispositivos legais que buscam qualificar ainda mais a Assistência Social.

Entretanto, essa história não está pronta e acabada. Muito mais há a se construir e existe um longo caminho a se percorrer. Para isso, faz-se necessária a organização da comunidade que, como vimos, tornou-se extremamente importante para que a Assistência Social percorresse esse caminho que a levou de simples benesse a política social.

Trataremos agora das reivindicações processadas no âmbito da Previdência Social, sendo fundamental pontuar que não haverá nela um movimento tão forte e organizado como tivemos na Assistência Social. O que acontece de fato é uma organização forte, por parte dos trabalhadores, em prol da conquista dos direitos trabalhistas, dentre os quais os direitos previdenciários.

Em tese, essas reivindicações figuram ainda como uma prática comum, mas temos atualmente movimentos mais orientados para atender especificamente às necessidades dos usuários da Previdência Social, o que não havia antes.

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Saiba mais

Sobre os movimentos sociais na Previdência Social, recomendamos a leitura dos textos a seguir:

APOSENTADOS vão a Brasília em protesto contra a redução das aposentadorias. 2012. Disponível em: <http://cspconlutas.org.br/2012/08/aposentados-vao-a-brasilia-em-protesto-contra-a-reducao-das-aposentadorias/>. Acesso em: 14 fev. 2014.

MULHERES camponesas entregam pauta de reivindicações ao Ministério da Previdência. 2012. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2012/03/15/mulheres-camponesas-entregam-pauta-de-reivindicacoes-ao-ministerio-da-previdencia>. Acesso em: 14 fev. 2014.

Behring e Boschetti (2010) nos dizem que em tese os primeiros movimentos de trabalhadores estão relacionados com a organização desse segmento em caixas de socorro mútuo. No período, essas organizações não tinham ainda a característica de reivindicar direitos, mas sim de prestar socorro ao trabalhador em um momento em que ele não mais pudesse trabalhar.

Lembrete

As caixas de socorro eram organizações de trabalhadores que surgiram na década de 1920 e depois assumiram a configuração de caixas de aposentadoria e pensão.

Como já estudamos, essas caixas de socorro precisavam da autorização do Estado para que fossem constituídas e organizadas, ou seja, não eram organizações tão autônomas.

Foi a partir da década de 1930 que se deu uma ampliação dessas organizações. Durante esse período, o presidente no poder era Getulio Vargas, que começou a estimular a organização das caixas, agora com a denominação Caixas de Aposentadoria e Pensão Social, as Caps, segundo a Lei Elói Chaves (BEHRING; BOSCHETTI, 2010). Essa ampliação das possibilidades da organização das Caps, conferida a partir do governo varguista, só aconteceu com o objetivo de conter possíveis tensões sociais e de tentar fazer com que a classe trabalhadora produzisse.

No entanto, não podemos dizer que houve uma intensa mobilização ou pressão popular em prol da Previdência, mas sim que houve focos de tensão, “abafados” por meio da concessão da autorização para a organização das caixas de socorro. Dessa forma, cada vez mais categorias trabalhadoras tiveram autorização para organizarem-se em caixas de socorro e ajuda mútua.

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Posteriormente, na década de 1960, essas organizações, agora no formato de institutos, em que congregavam as Caps de várias categorias, tiveram outra significativa ampliação. Data do mesmo período o fato de o país vivenciar intenso regime ditatorial e, por conseguinte, gerar também descontentamento de grande parcela da população, sobretudo da classe trabalhadora. Para conter, mais uma vez, as tensões sociais, o Estado brasileiro promoveu a organização dos institutos e também a possibilidade de novas categorias de trabalhadores, como os rurais, terem o direito de se organizarem em regimes próprios de aposentadoria.

É importante pontuar que tanto as Caps quanto os institutos não operacionalizavam o mesmo acesso que era proporcionado pelas caixas de socorro. As Caps e depois os institutos começaram a viabilizar o acesso a pensões, aposentadorias e a serviços de saúde para o trabalhador quando ele não mais tivesse condições, mesmo que temporárias, para o trabalho.

Assim como ocorreu com a Assistência Social, a Previdência Social deixou o seu caráter segmentado somente a partir da Constituição de 1988, quando teve firmado seu caráter de política social; porém, política que demanda a contribuição social por parte dos beneficiários.

Passaremos agora a discutir os movimentos sociais que foram organizados a partir da Política Social de Saúde e que foram, a nosso ver, dos mais expressivos e relevantes no que diz respeito à política social.

Saiba mais

Para compreender melhor esse processo de lutas e participação que sempre condicionou a Política Social de Saúde, recomendamos o filme:

POLÍTICAS de Saúde no Brasil: um século de luta pelo direito a saúde. Dir. Renato Tapajós. Brasil. 60 min.

De acordo com o que nos colocam Carvalho et al. (2001), na década de 1960 surgiu no Brasil, vindo importado dos Estados Unidos, o termo “participação comunitária”. Nessa época, a chamada participação comunitária era compreendida como a necessidade de que a comunidade participasse de determinadas atividades tendo em vista que era preciso melhorar o local onde residiam. Vale lembrar que nesse período ainda vivenciávamos o regime ditatorial, de forma que a participação comunitária ainda não era compreendida como a possibilidade de expressão das pessoas.

No entanto, de acordo com os autores mencionados, foi somente a partir da década de 1970 que esse termo ganhou grande aceitação junto aos serviços que eram desenvolvidos pela saúde. Essas práticas de participação comunitária eram desenvolvidas nos centros de saúde, onde eram também oferecidos serviços de Assistência Social, educação, de atenção a saúde e visando a descentralização comunitária da participação (CARVALHO et al., 2001).

Contudo, com o tempo e o processo de distensão do regime ditatorial, de acordo com as afirmações de Carvalho et al. (2001), essa concepção de “participação comunitária” começou a alterar-se e passou

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a ser compreendida como a capacidade de as pessoas com a mesma necessidade e que residem na mesma área geográfica decidirem sobre como atender a tais necessidades. Nesse sentido, esse conceito pressupunha que como as pessoas residem em determinado bairro ou área, elas mesmas têm o potencial de deliberar sobre a sua vivência.

No âmbito da atenção a saúde, entretanto, as práticas ainda assumiram a conotação de atenção e ajuda mútua para resolver os problemas que eram tidos como comuns a determinados grupos de pessoas.

Mesmo com todas as restrições peculiares do período, foi no momento em questão, durante a década de 1970, que se organizou um dos movimentos mais críticos e reivindicatórios relacionados à questão de saúde, conhecido com a terminologia “Reforma sanitária” (CARVALHO; MARTIN; CORDONI JUNIOR, 2001).

Esse movimento surgiu inicialmente no interior das universidades brasileiras, mas em pouco tempo foi influenciando também trabalhadores da área da saúde e, sobretudo, usuários dos serviços. Em tese, a crítica tecida era em relação ao padrão de saúde até então desenvolvido no país, ou seja, uma saúde que só era prestada para aqueles que tivessem condições de contribuir com algum regime previdenciário.

As pressões decorrentes do Movimento de Reforma Sanitária mobilizaram, segundo Carvalho et al. (2001), a organização da 8ª Conferência Nacional de Saúde que aconteceu em Brasília e que reuniu aproximadamente 4.500 pessoas. A forte influência do Movimento de Reforma Sanitária propunha, entre outros aspectos, a saúde como direito de todos, a reformulação do sistema nacional de saúde e o financiamento setorial de ações.

Após a 8ª Conferência, em 1986, a consolidação da saúde como política social se concretiza com a Constituição de 1988, sendo compreendida como uma intervenção destinada a todos os cidadãos, e não apenas aos que contribuíssem, tal como reivindicado pelo Movimento de Reforma Sanitária.

Saiba mais

Sobre o assunto, recomendamos a leitura dos textos a seguir:

CFESS. CFESS manifesta: Serviço Social na saúde. 2009. Disponível em: <http://www.cfess.org.br/arquivos/seminariosaude2.pdf>. Acesso em: 14 fev. 2014.

STOTZ, E. N. Movimentos sociais e saúde: notas para uma discussão. Caderno de Saúde Pública. Rio de Janeiro, 10 (2): 264-268, abr/jun, 1994. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csp/v10n2/v10n2a14.pdf>. Acesso em: 10 out. 2012.

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Concluímos assim esse breve relato sobre as principais manifestações em prol da democratização das políticas sociais. Abordaremos a seguir a participação e o controle social, quando veremos que temos na contemporaneidade uma série de mecanismos que nos permitem realizar a gestão das políticas sociais brasileiras, sobretudo do Sistema de Seguridade Social.

8.2.2 A participação e o controle social no Sistema de Seguridade Social Brasileiro

Para encerrarmos nossos estudos sobre as instâncias de participação e controle social, discorreremos sobre os principais mecanismos que são agora constituídos para viabilizar a participação e o controle social das Políticas de Assistência Social, Previdência Social e Saúde.

Para que possamos tecer as considerações que se fazem necessárias sobre o tema, recorreremos neste item à legislação oficial, que disciplina o funcionamento das instâncias deliberativas e participativas das políticas sociais. Também neste item discutiremos a Política de Assistência Social a fim de, em seguida, comentar a Política de Previdência Social e também a Política Social de Saúde.

Por meio da análise da Lei nº 8.742/93 (a Loas) e também a partir do aporte à Política Nacional de Assistência Social (BRASIL, 2004), conseguiremos as informações necessárias à compreensão das formas de participação e controle social.

Em tese, a Política de Assistência Social deve ser obrigatoriamente uma ação participativa. Reza a Lei nº 8.742/93, que constitui-se como uma diretriz, ou seja, uma referência a ser seguida para a política em questão, a participação popular. Essa necessidade para a política está exposta no artigo 5°, onde lemos “[...] II - participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis [...]” (BRASIL, 1993), ou seja, participação na formulação e no controle das ações. Tal aspecto passa a ser realçado em toda a lei, como ocorre no artigo 6° (BRASIL, 1993), em que se destaca a necessidade de uma gestão participativa da Política de Assistência Social. A Loas aborda a necessidade das instâncias de participação popular e controle, destacando-se nesse sentido os conselhos e a organização de conferências.

Sobre os conselhos, é posto no artigo 16° da Loas que eles devem se constituir como mecanismos de deliberação, isto é, espaços de debates e decisões. Os conselhos devem, segundo a referida legislação, ser constituídos no âmbito municipal, estadual e federal.

O Conselho vinculado ao governo federal passa a ser denominado Conselho Nacional de Assistência Social e passa a ter importante função da definição da Política Nacional de Assistência Social. Suas principais estão postas no artigo 18° onde lemos:

I - aprovar a Política Nacional de Assistência Social;

II - normatizar as ações e regular a prestação de serviços de natureza pública e privada no campo da Assistência Social;

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III - acompanhar e fiscalizar o processo de certificação das entidades e organizações de Assistência Social no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; (Redação dada pela Lei nº 12.101, de 2009)

IV - apreciar relatório anual que conterá a relação de entidades e organizações de Assistência Social certificadas como beneficentes e encaminhá-lo para conhecimento dos Conselhos de Assistência Social dos Estados, Municípios e do Distrito Federal; (Redação dada pela Lei nº 12.101, de 2009)

V - zelar pela efetivação do sistema descentralizado e participativo de Assistência Social;

VI - a partir da realização da II Conferência Nacional de Assistência Social em 1997, convocar ordinariamente a cada quatro anos a Conferência Nacional de Assistência Social, que terá a atribuição de avaliar a situação da Assistência Social e propor diretrizes para o aperfeiçoamento do sistema; (Redação dada pela Lei nº 9.720, de 26.4.1991)

VII - (Vetado.)

VIII - apreciar e aprovar a proposta orçamentária da Assistência Social a ser encaminhada pelo órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social;

IX - aprovar critérios de transferência de recursos para os Estados, Municípios e Distrito Federal, considerando, para tanto, indicadores que informem sua regionalização mais equitativa, tais como: população, renda per capita, mortalidade infantil e concentração de renda, além de disciplinar os procedimentos de repasse de recursos para as entidades e organizações de Assistência Social, sem prejuízo das disposições da Lei de Diretrizes Orçamentárias;

X - acompanhar e avaliar a gestão dos recursos, bem como os ganhos sociais e o desempenho dos programas e projetos aprovados;

XI - estabelecer diretrizes, apreciar e aprovar os programas anuais e plurianuais do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS);

XII - indicar o representante do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) junto ao Conselho Nacional da Seguridade Social;

XIII - elaborar e aprovar seu regimento interno;

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PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL

XIV - divulgar, no Diário Oficial da União, todas as suas decisões, bem como as contas do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) e os respectivos pareceres emitidos (BRASIL, 1993).

Cabe a cada município organizar seu Conselho, bem como os estados, sendo que todos os órgãos devem trabalhar de forma articulada, ou seja, conforme as deliberações do Conselho Nacional de Assistência Social.

No entanto, é na Política Nacional de Assistência Social (BRASIL, 2004) que nos são oferecidas as mais importantes informações sobre o sistema de participação e controle social a ser organizado na Política de Assistência Social, tendo em vista a necessidade de complementar o que já vinha sido trabalhado inicialmente pela Loas.

A Política Nacional de Assistência Social destaca como fundamentais instrumentos de participação e de controle social a organização das conferências e os conselhos. No entanto, o referido documento destaca que são instrumentos fundamentais, mas não os únicos a serem organizados para que a Assistência Social se torne uma política participativa de fato.

Na conformação do Sistema Único de Assistência Social, os espaços privilegiados onde se efetivará essa participação são os conselhos e as conferências, não sendo, no entanto, os únicos, já que outras instâncias somam força a esse processo (BRASIL, 2004, p. 45).

É importante pontuar que as conferências são eventos que acontecem bienalmente. Nesses momentos, vários atores relacionados à Política de Assistência Social são chamados a discuti-la. Já os conselhos são órgãos permanentes, de composição paritária e que fazem a gestão cotidiana da Política de Assistência Social.

A fim de melhor diferenciar a prática do conselho da prática da conferência, vejamos o que a Política Nacional de Assistência Social nos aponta a respeito deles:

Art. 18: Os conselhos têm como principais atribuições a deliberação e a fiscalização da execução da política e de seu financiamento, em consonância com as diretrizes propostas pela conferência; a aprovação do plano; a apreciação e aprovação da proposta orçamentária para a área e do plano de aplicação do fundo, com a definição dos critérios de partilha dos recursos, exercidas em cada instância em que estão estabelecidos. Os conselhos, ainda, normatizam, disciplinam, acompanham, avaliam e fiscalizam os serviços de Assistência Social, prestados pela rede socioassistencial, definindo os padrões de qualidade de atendimento, e estabelecendo os critérios para o repasse de recursos financeiros (BRASIL, 1993).

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A atuação do conselho exige uma rotina específica. Porém, a Política Nacional de Assistência Social reforça a necessidade de que eles sejam compostos de forma paritária, sendo que no texto da referida norma é destacado que há atualmente um desafio para que a participação do usuário junto à gestão da referida política aconteça de fato:

Art. 17: Os conselhos paritários, no campo da Assistência Social, têm como representação da sociedade civil, os usuários ou organizações de usuários, entidades e organizações de Assistência Social (instituições de defesa de direitos e prestadoras de serviços), trabalhadores do setor (BRASIL, 1993).

É extremamente fundamental e necessário que a participação popular se efetive. Portanto, os conselhos são uma alternativa importantíssima de participação e controle social.

Saiba mais

Para conhecer mais sobre o assunto, acesse o site:

<http://www.mds.gov.br/cnas>

Buscando concluir nossos estudos sobre a participação popular no âmbito da Assistência Social, destacamos a seguir o exemplo de duas ações, sendo uma delas desenvolvida pelo Conselho Nacional de Assistência Social, tendo em vista suas atribuições.

CNAS organiza e começa a análise da NOBSUAS

O CNAS definiu cronograma e metodologia para a análise da NOBSUAS entregue ontem pela CIT ao colegiado do CNAS.

Após a solenidade de entrega do documento pelos representantes dos gestores, o colegiado reuniu-se para avaliar a melhor metodologia de análise da documentação.

Considerando a natureza e significado de uma Norma Operacional Básica, o amplo processo de consulta pública, o debate com os conselhos, as reuniões ampliadas e descentralizadas dos conselhos, as comissões permanentes do CNAS trabalharam durante todo o dia de hoje com o apoio dos servidores do Departamento de Gestão do SUAS, que contemplam a totalidade do conhecimento do documento. A divisão do debate foi feito por meio das comissões permanentes do CNAS, divididos da seguinte forma:

Comissão de PolíticaCapitulo I - Sistema Único de Assistência SocialCapitulo III - Planos de Assistência Social - Comissão de PolíticaCapitulo IV - Pacto de Aprimoramento do Sistema Único de Assistência Social

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Capitulo VII- Vigilância Socioassistencial- Comissão de PolíticaCapitulo VIII- Gestão do Trabalho no Sistema Único de Assistência Social - Comissão de Política

Comissão de NormasCapitulo II - Gestão do Sistema Único de Assistência Social -Capitulo V - Processo de Acompanhamento no SUAS - Comissão de NormasCapitulo XI- Regras de Transição - Comissão de Normas

Comissão de FinanciamentoCapitulo VI - Gestão Financeira e Orçamentária do Sistema Único de Assistência Social

Comissão de Acompanhamento aos ConselhosCapitulo IX - Controle Social do Sistema Único de Assistência Social -Capitulo X - Instâncias de Negociação e Pactuação do Sistema Único de Assistência Social

Amanhã as comissões farão o relato de seus debates. Continuaremos informando.

Fonte: CNAS... (2012).

Exemplo de aplicação

Considerando a natureza dessa intervenção, reflita sobre a questão que se apresenta: como você compreende a participação do usuário da Assistência Social frente às necessidades que são postas ao CNAS no que concerne a tarefas burocráticas como a que acabamos de expor?

A título de exemplo do que foi tratado aqui até o presente momento, demonstramos uma ação relacionada à organização de conferências. Ela retrata a VIII Conferência Nacional de Assistência Social, ocorrida no ano de 2011.

VIII Conferência Nacional de Assistência Social

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), por meio da Portaria MDS/CNAS nº 1, de 17 de dezembro de 2010, convocou extraordinariamente a VIII Conferência Nacional de Assistência Social com o fim de avaliar a situação atual da Assistência Social e propor novas diretrizes para o seu aperfeiçoamento, realizada em Brasília, Distrito Federal, no período de 07 a 10 de dezembro de 2011.

A VIII Conferência Nacional de Assistência Social tratou sobre os avanços na consolidação do Sistema Único de Assistência Social - SUAS com a valorização dos trabalhadores e a qualificação da gestão, dos serviços, programas, projetos e benefícios.

Fonte: VII Conferência... (2010).

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Exemplo de aplicação

Sobre os assuntos tratados nessa conferência, cabe a reflexão: seria possível uma crítica ao padrão estabelecido para a Assistência Social brasileira, sobretudo no aspecto do financiamento em um evento desse porte? Reflita e argumente.

Passaremos agora ao tratamento sobre as formas de participação e controle social que são também organizadas junto à Previdência Social.

Lembrete

As ações mais remotas de Previdência Social foram as Caixas de Aposentadorias e Pensões, organizadas no Brasil na década de 1920.

A Previdência Social ainda não constituiu a realização de conferências, mas os conselhos já foram organizados. Eles também são organizados no Governo Federal, estadual e municipal.

Segundo a orientação, precisa ser organizada uma série de conselhos, de acordo com os regimes de aposentadoria que são disponibilizados para o contribuinte, sendo comum em todos esses regimes que o conselho deve de fato se constituir como um órgão deliberativo. Para isso, é necessária a participação do governo, dos trabalhadores em atividade, dos empregadores e dos aposentados.

No que diz respeito ao Conselho Nacional, ele precisa apresentar a seguinte composição: dois representantes dos trabalhadores, dois representantes dos empregadores, dois representantes dos aposentados e pensionistas e quatro representantes do governo. Esses membros se reúnem bimestralmente com o objetivo de estabelecer uma relação mais próxima da Previdência Social com a sociedade brasileira.

Apesar dessas tentativas de organização de conselhos, a Previdência Social ainda não conseguiu avançar no aspecto da participação popular tal como as Políticas de Assistência Social, que já descrevemos, e de Saúde, que ainda iremos descrever. Mas há a necessidade de criar esse hábito em nossa população, tendo em vista a necessidade de se estimular, também junto a essa política, a participação e o controle social.

É possível ver a seguir um exemplo da intervenção do Conselho Nacional da Previdência Social: o diretor de Políticas de Saúde e Segurança Ocupacional do Ministério da Previdência Social, Cid Roberto Bertozzo Pimentel, o secretário de Políticas de Previdência Complementar do ministério, Jaime Mariz de Faria Junior, e o presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Mauro Luciano Hauschild, em reunião do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS).

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Figura 21

Exemplo de aplicação

Reflita: quais mecanismos poderiam ser constituídos a fim de viabilizar uma ampliação dos mecanismos de participação popular e de controle junto à Previdência Social brasileira?

Os aposentados têm se mostrado atualmente como uma categoria que reivindica seus direitos, mesmo por meio de manifestações sociais, sendo que estas, em grande parte, são relacionadas com a questão do valor dos benefícios. Vejamos a seguir um exemplo de manifestação:

Aposentados e pensionistas protestam em frente ao Palácio do Planalto

Figura 22

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Manifestantes se posicionaram hoje (15) em frente ao Palácio do Planalto para cobrar o fim do fator previdenciário e a aprovação do Projeto de Lei 4.434/2008 que recompõe perdas salariais dos benefícios. O ato foi organizado por associações de aposentados e pensionistas.

Os manifestantes chegaram ao palácio por volta de 17h20, romperam a barreira de grades montada na Praça dos Três Poderes e interditaram a rua em frente ao prédio. O trânsito foi bloqueado em parte da Esplanada dos Ministérios e o fluxo desviado para vias alternativas. De acordo com a Polícia Militar, cerca de mil pessoas participam do protesto.

O grupo carrega faixas com críticas à presidenta Dilma Rousseff e com pedidos de mudança da regra que fixa as aposentadorias, o chamado fator previdenciário. Servidores do Ministério Público da União e do Poder Judiciário, em greve há quase dois meses, também se juntaram à manifestação.

Seguranças da Presidência da República e a Polícia Militar acompanham a manifestação. Homens do Batalhão de Choque foram recebidos com vaias e estão posicionados na rampa e nas vias de acesso ao Palácio do Planalto.

Por volta das 19h, o presidente da Confederação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (Cobap), Warley Martins, e mais cinco representantes dos manifestantes foram recebidos pelo assessor especial da Secretaria-Geral da Presidência, José Lopez Feijóo. Segundo Martins, Feijóo se comprometeu a levar as reivindicações ao ministro Gilberto Carvalho.

“Queremos reajuste de 7,38%, que é a inflação mais ganho da ativa. Estamos negociando, mas o governo fechou a porta e nós ficamos na rua. Na era Collor, eram os caras pintadas, na era Dilma, são os cara enrugadas defendendo os aposentados e pensionistas”, disse.

Os aposentados pretendem passar a noite acampados na Praça dos Três Poderes, onde devem organizar uma missa e acender velas como protesto.

Fonte: Lourenço (2012).

A seguir, iremos finalmente discorrer sobre a participação e o controle social que são postos pela Política Social de Saúde.

Observação

A participação popular e o controle social são organizados de forma semelhante nas Políticas Sociais de Saúde e Assistência Social.

Também no caso da Política Nacional de Saúde, recorreremos, mais uma vez, à legislação oficial que orienta sobre a necessidade da participação e do controle social. Nesse sentido, realizaremos nossos estudos tomando como referência as Leis 8.080/90 e 8.142/90, por serem elas as legislações que trarão

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informações de maior relevância para a compreensão das bases em que deve se sustentar a participação e o controle social no âmbito da Política de Assistência Social.

Na Lei 8.080/90, a questão da participação popular é tida como uma diretriz, ou seja, como algo que deve nortear a prática a ser desenvolvida junto à Política de Saúde. No artigo 7° da referida lei, ao se fazer menção a uma série de diretrizes da Política Nacional de Saúde, menciona-se a “[...] VIII - participação da comunidade [...]” (BRASIL, 1990a).

Havia, nessa legislação, uma série de dispositivos para estimular a participação e o controle social da Política Social de Saúde. Porém, esses artigos foram vetados pelo então presidente eleito Fernando Collor de Mello, embora, no mesmo ano, ele tenha promulgado a Lei 8.142/90, que passou a oferecer informações para disciplinar a participação e o controle social na Política Social de Saúde.

Conforme enunciamos, a Lei 8.142/90 institui como mecanismos de participação popular e controle a organização dos conselhos e das conferências municipais. É importante pontuar que esse padrão utilizado pela Política Nacional de Saúde é bastante similar àquele organizado para a gestão da participação e do controle social no âmbito da Política de Assistência Social, conforme já estudamos.

De acordo com a Lei 8.142/90, os conselhos podem ser compreendidos como órgãos específicos de participação popular, conforme visto no artigo 1°:

[...] caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo (BRASIL, 1990b).

Ou seja, órgãos permanentes, e não de funcionamento pontual, e nos quais deve prevalecer o caráter deliberativo; logo, devem ser espaços de debate e de decisão.

A composição paritária, segundo o artigo supracitado, deve também orientar a prática dos conselhos, que devem ser compostos da seguinte maneira: 50% de representantes de usuários, 25% de representantes de trabalhadores da área e 25% de prestadores do serviço de saúde.

É fundamental assinalar que a função de conselheiro é compreendida como de interesse social – portanto, não poderá ser remunerada –, e que todos os entes federados precisam organizar seus respectivos conselhos.

As conferências são espaços de participação popular na organização da Política de Saúde, mas não são órgãos que funcionam continuamente – são, na realidade, eventos que, segundo a Lei 8.142/90, devem ser organizados observando-se a periodicidade quadrienal ou bienal. No entanto, todos os entes federados são “obrigados” a realizar as conferências.

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Nas conferências, toda a população deve ser convidada para discutir a saúde pública e identificar os pontos de estrangulamento dos serviços constituídos no âmbito do SUS quanto aos pontos de avanço, visando, assim, a implantação de uma política condizente com o que está disposto na Loas. As conferências permitem, então, a presença de uma quantidade superior de atores em relação aos que geralmente participam das reuniões dos conselhos.

Nas conferências podem comparecer representantes dos usuários, dos trabalhadores da área, dos prestadores ou de outros organismos ligados à gestão da política. Nesse momento, todos têm direito à voz e ao voto e todos os presentes podem deliberar a respeito dos assuntos tratados e também sobre o encaminhamento a ser dado a eles. Tais atividades também não são remuneradas.

Para que a população tenha suas necessidades expressas, é necessário que sejam organizadas conferências no âmbito municipal, regional e nacional.

Caso o município ou Estado não organize as conferências ou não constitua os conselhos ficará impedido de celebrar convênios. Vejamos o que está posto no artigo 4°, que também aponta outros dispositivos necessários para o recebimento de recursos:

Art. 4° Para receberem os recursos, de que trata o art. 3° desta lei, os Municípios, os Estados e o Distrito Federal deverão contar com:

I - Fundo de Saúde;

II - Conselho de Saúde, com composição paritária de acordo com o Decreto n° 99.438, de 7 de agosto de 1990;

III - plano de saúde;

IV - relatórios de gestão que permitam o controle de que trata o § 4° do art. 33 da Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990;

V - contrapartida de recursos para a saúde no respectivo orçamento;

VI - Comissão de elaboração do Plano de Carreira, Cargos e Salários (PCCS), previsto o prazo de dois anos para sua implantação.

Parágrafo único. O não atendimento pelos Municípios, ou pelos Estados, ou pelo Distrito Federal, dos requisitos estabelecidos neste artigo, implicará em que os recursos concernentes sejam administrados, respectivamente, pelos Estados ou pela União.

Espera-se, então, que a gestão da Política Social de Saúde seja, de fato, participativa.

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Vejamos, na imagem a seguir, um exemplo em que é destacada uma reunião do Conselho Nacional de Saúde. Nela, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, coordena reunião ordinária do Conselho Nacional de Saúde (CNS) durante debates sobre a formação profissional para o Sistema Único de Saúde (SUS). Ao lado, dele o secretário executivo do Conselho Nacional de Saúde, Márcio Florentino Pereira.

Figura 23

Exemplo de aplicação

Cabe aqui também uma provocação: será possível afirmar que toda a população usuária do SUS tem acesso às deliberações do Conselho Nacional de Saúde?

Para concluir nossos estudos sobre a participação e o controle social, veja a imagem a seguir:

Figura 24

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Exemplo de aplicação

Reflita sobre a imagem. Trata-se de um evento em que observamos de fato a participação popular, o controle social?

Resumo

Nesta unidade, continuamos tratando o desenvolvimento histórico das ações em política social no Brasil. Para isso, realizamos uma recuperação das principais intervenções empreendidas nos governos Collor, Fernando Henrique Cardoso e Lula. Demos maior ênfase às intervenções do governo Lula porque nos dias de hoje, com Dilma Rousseff, temos uma continuação das ações que já foram empreendidas por Lula.

Também nesta unidade, iniciamos nossas discussões sobre a constituição do fundo público, do controle e da participação popular. Vimos os recursos financeiros destinados às políticas sociais que integram o Sistema de Seguridade Social Brasileiro.

Um dos objetivos era fazer você compreender que, mesmo com a Constituição de 1988, com o Sistema de Seguridade Social instituído no Brasil, houve muitos esforços dos presidentes, desde Collor, em minimizar a intervenção estatal como principal responsável por executar as políticas sociais. Entretanto, o que temos observado é a execução de programas e projetos de forma fragmentada, residual e pontual, e não de forma universal, como preconiza a referida carta constitucional.

Mesmo assim, foi possível a você conhecer os principais serviços sociais constituídos pelo Governo Federal, considerando-se as políticas que integram o Sistema de Seguridade Social. São elas: a Previdência Social, a Assistência Social e a Política Social de Saúde.

Estudamos ainda as concepções que originam tanto a intervenção do Estado, como o keynisianismo, quanto a retração do referido ente frente às políticas sociais, como o neoliberalismo. Assim, tais concepções não foram influentes apenas na Europa, mas extremamente relevantes na definição do papel adotado pelo Estado brasileiro.

Dando seguimento, observamos o processo de reestruturação produtiva, de acumulação flexível, e demonstramos que tais processos de alteração no formato de produção capitalista tendem a ampliar consideravelmente a

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demanda por políticas sociais, visto que há uma significativa ampliação da massa de desempregados, subempregados e de trabalhadores autônomos e terceirizados.

É importante compreendermos todos esses processos, já que é nesse contexto que nós, assistentes sociais, iremos atuar. Nossa atuação será frente a retração do Estado em desenvolver as políticas sociais, sendo que iremos também nos deparar com o processo de empobrecimento da população brasileira frente ao acirramento das desigualdades sociais que são geradas pelo sistema capitalista em sua forma madura e consolidada.

Mais adiante, estudamos as questões relacionadas ao fundo público e também aquelas afetadas pela questão da participação e do controle social. Para que sua compreensão sobre os temas em questão fosse alcançada, iniciamos nossas discussões sobre o início do destino do fundo público para socorrer a sociedade capitalista, sobretudo nos momentos de crise. Essa retrospectiva foi necessária para que fosse possível a compreensão da configuração atual do fundo público.

Assim sendo, foi possível observar que as intervenções estatais de regulação da economia que hoje se apresentam tiveram sua origem mais acentuada a partir da constituição do Estado de Bem-Estar Social, que, como vimos, está relacionado às ações empreendidas pelo Estado a partir do segundo pós-guerra. Vimos ainda que, atualmente, esse padrão intervencionista vem se mantendo, já que o Estado conseguiu desenvolver um rol larguíssimo de atividades para regular o mercado. Essas atividades vão desde a fixação de juros até o destino de recursos do fundo público para socorrer instituições falidas.

Dentre as instituições falidas, as que mais têm alcançado a intervenção estatal na contemporaneidade são os bancos, instituições financeiras que têm potencializado a constituição do chamado capital financeiro.

Observamos, entretanto, que por meio dessa destinação de recursos para socorrer o capital, cada vez mais, temos a restrição dos recursos destinados às políticas sociais, bem como as políticas sociais que congregam o chamado Sistema de Seguridade Social Brasileiro, sendo elas a Assistência Social, a Previdência Social e a Saúde.

Apesar de os dados aqui levantados e discutidos não apontarem para um diagnóstico muito positivo do Sistema de Seguridade Social Brasileiro, há alternativas para se alterar o quadro presente, sendo uma delas estimular a constituição de instâncias de participação e de controle social.

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É sabido que existe atualmente uma série de instâncias que buscam viabilizar a participação e o controle da população. Dentre elas, muitas estão vinculadas às políticas sociais. Estudamos também quais são as instâncias de participação e controle social que são constituídas na contemporaneidade brasileira, considerando assim o Sistema de Seguridade Social.

Por fim, realizamos também uma retrospectiva histórica sucinta sobre os principais movimentos sociais de luta e reivindicação processados no âmbito dessas políticas sociais. Conforme observamos, houve manifestações em diversas das políticas, mas foi junto à política social de saúde que tivemos as ações mais expressivas e que congregaram grande parcela da população brasileira.

Esperamos que tenha sido possível a você uma compreensão sobre os fenômenos aqui tratados. Solicitamos, no entanto, que você retome os seus estudos e busque realizar os exercícios a fim de avaliar sua aprendizagem.

Exercícios

Questão 1. Na década de 1990, consolidam-se as propostas neoliberais que legitimam o processo de reestruturação produtiva da instalação do Estado mix como uma redefinição das possibilidades do sistema de proteção social, deliberado na proposta de Seguridade Social e garantido na Constituição de 1988. É nesse cenário contraditório que se consolida o projeto-ético-político do Serviço Social, já que no final da década vem implementada a proposta da Carta Constitucional e, ao mesmo tempo, tem-se a operacionalização das propostas neoliberais financiadas e assumidas pelo Estado brasileiro por Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso e, em menor proporção, Lula.

Com base na análise do texto, pode-se afirmar:

I – O Estado neoliberal se caracteriza pela retirada das coberturas sociais públicas e pelo corte dos direitos sociais, reduzindo as responsabilidades do Estado, configurando-se como Estado mínimo.

II – A partir de um amplo trabalho desenvolvido pela ABEPPS por todo o país no período entre 1994 e 1996, definiu-se a questão social como objeto do Serviço Social.

III – Os ideários modernos são originários da revolução burguesa que difundem valores como liberdade, igualdade e fraternidade, ideais que estão assegurados em nossa constituição cidadã. Concretamente, ao mesmo tempo em que no ano de 1988 se aprova a Carta Magna, garantindo direitos sociais, proteção social e Seguridade Social, o Brasil abre as portas por completo às propostas neoliberais, instaurando o Estado mix, isto é, um Estado privatizador que cada vez mais deixa as obrigações sociais sob a responsabilidade dos governos municipais.

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IV – No processo de reestruturação produtiva e com o Estado Mínimo, a questão social toma novos contornos e o Estado lança mão da filantropia e do compartilhamento com a sociedade civil por meio das parcerias mantidas com as organizações não governamentais, que recebem pequenos e/ou grandes financiamentos para a realização de projetos pontuais, muitas vezes desvinculados da avaliação e do monitoramento da gestão pública.

V – A reforma gerencial insurgiu no governo Collor de Melo e propunha a substituição do modelo burocrático de gestão estatal pelo modelo gerencial. Essa reforma foi levada a cabo no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Estão corretas as afirmativas:

A) I, II, III e V.

B) III, IV e V.

C) I, II e III.

D) II, III e V.

E) I, II, III, IV e V.

Resposta correta: alternativa E.

Analise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: o Estado que adere ao postulado neoliberal tende a diminuir os gastos destinados à área social, restringindo assim os direitos sociais da classe em situação de vulnerabilidade social. Os autores que estudam esse novo formato de Estado costumam defini-lo como Estado Mínimo para os problemas sociais.

II – Afirmativa correta.

Justificativa: a ABEPSS, ancorada no conjunto CFESS/CRESS, promoveu um amplo debate, a partir do qual se definiu a opção pela adesão ao marxismo como referência teórica e, consequentemente, pela definição da questão social como o objeto da sua intervenção profissional.

III – Afirmativa correta.

Justificativa: a Constituição de 1988 garantiu os direitos sociais dos cidadãos brasileiros e, ainda, responsabilizou o Estado pela prestação desses direitos. No entanto, dois anos após a sua promulgação, o Estado brasileiro passou a ignorar suas responsabilidades constantes na Constituição, não cumprindo

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o disposto em lei, e a responsabilizar a sociedade pelo cumprimento delas. Além disso, o Estado também transferiu essas responsabilidades para os municípios, sem, no entanto, prover-lhes os recursos necessários à sua viabilização.

IV – Afirmativa correta.

Justificativa: a partir das mudanças de padrão processadas pelo Estado que adere aos postulados neoliberais, a sociedade passa a ser chamada para intervir junto aos problemas sociais. Um dos mecanismos que possibilitam tal intervenção é a criação de organizações não governamentais, as ONGs, que por meio de convênios firmados com o Estado passam a atuar junto às expressões da questão social. No entanto, as ONGs, via de regra orientadas por meio de convênios, não atendem a toda a população, mas apenas à quantidade de indivíduos que os recursos recebidos lhes permitem atender.

V – Afirmativa correta.

Justificativa: o discurso que estimula o Estado a aderir ao receituário neoliberal é a suposta necessidade de realizar uma reforma gerencial na administração pública. Essa reforma mostra-se fundamental, segundo o argumento neoliberal, para que o país volte a tornar-se governável. A reforma gerencial seria, então, a alternativa para a superação da crise fiscal do Estado brasileiro, que por meio dela deixaria seu caráter burocrático e adotaria um padrão gerencial calcado na eficiência e na redução de custos com os gastos sociais.

Questão 2. Partindo do pensamento de Ricardo Antunes (2003) em relação às mudanças operacionalizadas no mercado de trabalho a partir da década de 1970, analise as alternativas a seguir e assinale a correta:

A) A subjetividade e a forma de ser dos trabalhadores foram transmutadas.

B) A desproletarização e o aumento do trabalho fixo e especializado ocorreram.

C) O trabalho tornou-se formal e terceirizado.

D) O processo de trabalho passou a ser assentado no modelo de produção fordista.

E) As relações entre os trabalhadores foram alteradas pela ampliação dos cargos de gestão.

Resolução desta questão na plataforma.

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FIGURAS E ILUSTRAÇÕES

Figura 1

SHAROE_GREEN_HOSPITAL5.JPG. Disponível em: <http://morguefile.com/archive/display/55499>. Acesso em: 18 fev. 2014.

Figura 2

3B42932R.JPG. Disponível em: <http://lcweb2.loc.gov/service/pnp/cph/3b40000/3b42000/3b42900/3b42932r.jpg>. Acesso em: 18 fev. 2014.

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