37o st 24 – controle e participação na democracia
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37o Encontro Anual da ANPOCS
ST 24 – Controle e participação na democracia brasileira: instituições, dinâmicas e resultados
O Judiciário e o Controle sobre as Políticas Públicas: A judicialização da educação no município de São Paulo
Vanessa Elias de Oliveira (UFABC)
Vitor Marchetti (UFABC)
São Paulo, agosto de 2013
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O Judiciário e o Controle sobre as Políticas Públicas:
a judicialização da educação no município de São Paulo1
Vanessa Elias de Oliveira (UFABC)
Vitor Marchetti (UFABC)
1. Introdução
A análise da judicialização da política no Brasil é muito mais robusta
hoje do que há 15 anos. Na última década e meia foram várias as pesquisas e
teses de doutorado que se debruçaram sobre o tema. Esse avanço, porém,
aconteceu privilegiando alguns aspectos mais salientes do fenômeno e, nesse
sentido, o Supremo Tribunal Federal (STF) foi um ator de destaque.
De um lado, há uma série de trabalhos que argumentam que o
crescente protagonismo das instituições judiciais na garantia dos direitos para
indivíduos e agrupamentos coletivos deslocaria parte do conflito político para o
interior das Cortes (Arantes, 1997, 2005; Vianna, 1999; Arantes e Kerche, 1999;
Taylor, 2008).
De outro, há os que argumentam que, a despeito da crescente
demanda, o Judiciário toma decisões de forma a respeitar a vontade majoritária,
isto é, não haveria diferença de preferência entre os atores no que diz respeito
às políticas públicas. (Castro, 1997; Oliveira e Carvalho, 2002; Carvalho, 2005;
Oliveira, 2005; Koerner, 2005).
Há outras frentes que sinalizam o ingresso de novos atores e temáticas
nessa agenda. Os estudos sobre o Ministério Público (Arantes, 2002) e sobre a
Justiça Eleitoral (Marchetti, 2008) são exemplos do primeiro caso. Já os estudos
que visam identificar o comportamento dos ministros na formulação de suas
1 Os autores agradecem imensamente à Mariana Pereira da Silva, aluna de Iniciação
Científica participante da presente pesquisa, pela valiosa contribuição na sistematização das informações obtidas por meio das entrevistas e pela coleta de dados sobre a judicialização no município de São Paulo.
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decisões (Oliveira, 2011), são exemplos do segundo. Todos esses, entretanto,
se mantém naquela chave tradicional de análise que privilegia o STF e os temas
constitucionais.
Todavia, apesar desses avanços, há lacunas bastante importantes para
essa agenda de pesquisa, conforme afirmou Taylor, especialmente no que diz
respeito a estudos que pudessem detectar o impacto efetivo das decisões
judiciais sobre o policy making:
“Apesar do vasto conjunto de trabalhos que tratam especificamente dos
tribunais, a maior parte dos estudos sobre o sistema político brasileiro
ignora o papel político deles na hora de descrever o processo decisório
no sistema político como um todo. Como consequência, no sofisticado
debate sobre instituições políticas brasileiras – e, em especial, sobre o
presidencialismo de coalizão -, os tribunais mal aparecem e raras vezes
são usados para explicar os resultados da política.” (Taylor, 2007)
É com esse diagnóstico que orientamos o presente trabalho.
É verdade que já há trabalhos que se dedicaram a investigar os
impactos das decisões judiciais sobre as políticas públicas, com destaque para
a chamada judicialização da saúde (Oliveira e Noronha, 2011; Menicucci e
Machado, 2010, dentre outros). Faltam, porém, estudos que se dediquem mais
a identificar e classificar os padrões de relacionamento entre o Judiciário e os
outros dois poderes que surgem em razão do policy making a partir de análises
de outras políticas públicas, especialmente de maneira comparada.
Tendo em vista essa lacuna, a pesquisa pretende focar esses padrões
de relacionamento investigando as relações entre o Judiciário e o Executivo. O
objetivo é ampliar o conhecimento da ciência política sobre um conjunto de
questões atinentes à chamada judicialização da política, mais especificamente,
das políticas públicas.
Para tal, algumas perguntas orientam a pesquisa: (1) Quais são os
mecanismos judiciais que têm sido acionados, pelos diferentes atores políticos e
sociais, para equacionar os problemas enfrentados pela implementação de
algumas políticas específicas?; (2) Quais são as respostas do Poder Judiciário
às demandas que lhe chegam no âmbito das políticas setoriais?; (3) Quais as
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diferentes respostas dadas, tanto pelo Poder Judiciário, em relação a essas
demandas, quanto pelo Poder Executivo, em relação às determinações judiciais,
afetando os caminhos a serem seguidos pelo processo de implementação de
políticas públicas?
Partimos do pressuposto de que a judicialização de políticas públicas
gera uma interação entre os Poderes Executivo e Judiciário, foco da análise,
que não produz a priori resultados benéficos ou, de maneira estritamente
dicotômica, maléficos, seja em termos da relação entre os Poderes e seus
controles democráticos, seja no tocante à produção de políticas públicas. Os
resultados decorrentes dessa interação variam de área para área conforme os
atores envolvidos, suas estratégias e as regras institucionais que delimitam seus
campos de atuação. É essa variação que a presente pesquisa visa captar, por
meio de uma análise comparada do fenômeno da judicialização em uma área
para a qual ainda não temos produção acadêmica com o olhar da ciência
política: a educação.
O presente trabalho pretende, portanto, analisar um caso concreto na
área de políticas públicas para a educação, qual seja: a disponibilidade de
vagas nas creches públicas. Mais especificamente, analisaremos as interações
entre a Prefeitura do município de São Paulo e os atores judiciais (Defensoria
Pública, Ministério Público e Poder Judiciário) diante dos litígios envolvendo as
demandas por vagas em creches públicas.
A análise do caso da educação será, ao fim, contraposta à da saúde,
sobre a qual já há um conhecimento acumulado a partir do olhar proposto
(especialmente em Oliveira e Noronha, 2011), intentando assim produzir uma
comparação das diferentes estratégias dos atores que acionam o sistema de
justiça e, por outro lado, dos Executivos públicos, para responder a
judicialização de políticas públicas distintas, mas ambas redistributivas, nos
termos de Lowi (1974). O estudo comparativo nos servirá para definirmos
possíveis padrões na interação entre Judiciário e Executivo em razão da
judicialização, gerando assim algumas hipóteses de pesquisa para serem
exploradas futuramente, nos moldes de Oliveira (2013).
Enfim, em diversas outras políticas públicas importantes o recurso ao
Judiciário tem sido utilizado, gerando respostas distintas pelo Poder Executivo.
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A área da saúde foi a primeira a receber estudos nessa direção. A área da
educação, entretanto, ainda carece de estudos sistemáticos e críticos acerca de
seus desenvolvimento e efeitos, e buscar suprir essa lacuna é o objetivo do
presente trabalho.
Para tanto, partiremos de uma discussão sobre a problemática da
judicialização das políticas públicas, o que envolve a compreensão da interação
entre Poderes – separação e controles, e a produção (ou não) de políticas
públicas dela decorrentes. Nessa seção, analisaremos o desafio colocado aos
municípios brasileiros de disponibilizar vagas em creches e os efeitos disso em
termos de demandas judiciais. Em seguida, analisaremos o caso específico do
município de São Paulo, observando os efeitos da interação Judiciário-Executivo
para a produção das políticas públicas municipais na educação infantil.
Por fim, concluímos com algumas considerações finais – preliminares –
sobre a atuação do Poder Judiciário no controle da agenda de políticas de
públicas, destacando aqui o caso das creches municipais.
2. Judicialização de Políticas Públicas e a demanda judicial por vagas em creche: novo desafio aos municípios brasileiros2
O interesse pelo papel político do Judiciário nas democracias decorreu,
fundamentalmente, do exercício do controle de constitucionalidade das leis.
Desde o debate clássico d’Os Federalistas e a adoção desse princípio no início
do século XIX pela democracia norte americana, que essa prerrogativa vem
sendo debatida em termos de seu impacto sobre as decisões majoritárias
tomadas por governos democráticos. Dos estudos clássicos sobre democracias
constitucionais aos mais recentes sobre o fenômeno da judicialização da
política, prevalece o olhar sobre o Judiciário interagindo com uma decisão
política já formada.
Ainda que existam estudos sobre os efeitos da antecipação de uma
possível reação do Judiciário no processo decisório – como o de Lax e
2 A discussão apresentada nessa seção foi em parte apresentada em Oliveira (2013).
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McCubbins (2006) que buscam medir como, por exemplo, pronunciamentos
públicos de ministros sobre determinados temas podem influenciar os termos de
um projeto em debate no Legislativo – o que se busca aqui é medir o impacto do
Judiciário sobre a própria formação de agenda de políticas públicas.
A interação que privilegiaremos, portanto, não é a do Judiciário com
decisão política já construída pelas instituições políticas, mas a interação do
Judiciário com as instituições políticas na construção da agenda política. E,
como já demonstrado largamente pela literatura, a agenda política brasileira
(seja ela federal, estadual ou municipal) é controlada pelo Executivo, o foco
recairá sobre a interação entre o Executivo e Judiciário.
Com o foco nessa interação, partimos nossa análise de um fato relatado
em notícia recente no jornal O Estado de São Paulo, que apontou para um
quadro que já vem se tornando recorrente no cenário brasileiro: a falta de vagas
nas escolas públicas, tema crescentemente enfrentado por nossos tribunais. De
acordo com a notícia citada, “as verbas da prefeitura de São Paulo destinadas à
publicidade e aos espetáculos artísticos poderão ser bloqueadas se, no prazo
de um ano, houver qualquer criança menor de 5 anos sem vaga em creches e
pré-escolas de São Miguel Paulista, zona leste” (O Estado de São Paulo,
05/07/2011). Conforme afirma a reportagem, a decisão do Tribunal de Justiça de
São Paulo é resultado de um pedido da Defensoria Pública, que afirma ser o
Judiciário legítimo para decidir sobre o uso dos recursos públicos quando o
Executivo descumpre determinações constitucionais.
Matérias como estas não faltam na imprensa, instigadas pela crescente
participação do Judiciário em decisões sobre a disponibilização de vagas nas
escolas públicas. Recentemente o Supremo Tribunal Federal (STF) manteve a
decisão da justiça paulista (TJ-SP) determinando à Prefeitura de São Paulo a
matrícula de crianças menores de cinco anos em escolas próximas ao seu local
de residência ou ao local de trabalho dos seus responsáveis. Em caso de
descumprimento da decisão a Prefeitura deverá arcar com uma multa diária, por
criança. A decisão foi embasada no artigo 208, inciso IV da Constituição federal,
que garante o direito à creche e à pré-escola a crianças até cinco anos, cabendo
ao poder público municipal a garantia de tal atendimento. Ao analisar o caso, o
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ministro do STF, Celso de Mello criticou a postura do Executivo municipal:
A ineficiência administrativa, o descaso governamental com direitos
básicos do cidadão, a incapacidade de gerir os recursos públicos, a
incompetência na adequada implementação da programação
orçamentária em tema de educação pública, a falta de visão política na
justa percepção, pelo administrador, do enorme significado social de que
se reveste a educação infantil, a inoperância funcional dos gestores
públicos na concretização das imposições constitucionais estabelecidas
em favor das pessoas carentes não podem, nem devem, representar
obstáculos à execução, pelo Poder Público, notadamente pelo
Município, da norma inscrita no art. 208, IV, da Constituição da
República. (In: http://www.stf.jus.br, acessado em 05/07/2011).
De acordo com assistente da Promotoria da Infância e Adolescência no
estado de Rondônia3, o Ministério Público estadual recebe pedidos diários de
vagas em escolas públicas, com períodos de pico, no início do semestre,
quando recebem de três a quatro pedidos diários; nas demais épocas do ano,
chegam a receber dois pedidos por dia. Em geral, o Poder Executivo responde
negativamente às demandas, alegando a falta de vagas, especialmente porque
a grande maioria das solicitações volta-se para vagas em locais próximos à
residência dos demandantes, o que com frequência não é garantido pelo
Executivo. Em função da inação dos governos, o MP do estado entrou com Ação
Civil Pública contra o estado e o município de Porto Velho, em julho de 2011,
“para que forneçam vagas para 28 crianças e adolescentes no ensino
fundamental. Existe ainda uma ação contra o município, para que seja garantido
o fornecimento do ensino infantil e outra também contra o Município, para que
incluam no sistema escolar todas as crianças e adolescentes que necessitam”.
As 28 crianças que constam na Ação Civil Pública, salienta a entrevistada, já
perderam o ano letivo, pois mesmo que sejam matriculadas numa escola pública
ainda neste ano, serão reprovadas pelo excesso de faltas.
3 Entrevista não presencial concedida à autora, com a colaboração de Cássio Bruno Castro
Souza, a quem somos extremamente gratos.
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Seguindo essa mesma linha, o Ministério Público do Estado do Rio
Grande do Sul também apresenta o caso de um processo em que o Estado é
condenado a garantir vaga em escola pública estadual para criança do Ensino
Fundamental4.
O caso citado, além de demonstrar que se trata de um fenômeno geral,
verificado em diferentes estados e municípios do país, aponta para as
consequências sociais da inação do Poder Executivo, que acaba por impor aos
pobres que se utilizam dos serviços públicos de educação condições ainda mais
desiguais do que àquelas disponíveis aos usuários das escolas privadas, sendo
penalizados duplamente: além de não possuírem a garantia de acesso a vagas
nas proximidades de suas residências, podem perder o ano letivo em função da
falta de vagas, próximas ou distantes de suas casas.
Por outro lado, sob o ponto de vista do Executivo, a disponibilização de
vagas em creches nem sempre é possível, especialmente em função de
características físicas e ambientais de algumas regiões da cidade. No caso da
cidade de São Paulo, por exemplo, o ex-Secretário Municipal de Educação,
Alexandre Schneider, relatou5 o fato que nem sempre existem terrenos
disponíveis para a desapropriação e construção de escolas municipais,
principalmente em bairros que estão localizados em áreas ambientalmente
protegidas, como as áreas de proteção aos mananciais, nos quais não se pode
construir6. Nesses casos, cabe ao Executivo contratar vagas em escolas
privadas, mas que devem também estar em consonância com as normas
estabelecidas pela Secretaria de Educação, contando, portanto, com alvará de
funcionamento7.
Mas não apenas vagas em creche são solicitadas ao Judiciário. De
acordo com Cury e Ferreira (2011), são várias situações que envolvem o
Judiciário e o direito à educação:
4 In: http://www.mp.rs.gov.br/infancia/jurisp/idt25.htm. Acessado em 20/07/2011. 5 Em entrevista presencial concedida aos autores em março de 2012. 6 Assim como os casos que a pesquisa visa analisar envolvendo o conflito entre as políticas
ambientais e urbanas. 7 Lembrando que não é pequeno o número de unidades de educação infantil que estão em
funcionamento na cidade, mas que não possuem alvará para tal.
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§ Merenda escolar: regularização do fornecimento, adequação das
condições das escolas para a conservação dos alimentos,
disponibilização de servidores habilitados para o manuseio e preparo dos
alimentos;
§ Transporte escolar: deve ser disponibilizado transporte escolar para
todos os estudantes, crianças ou adolescentes, das zonas urbana ou
rural, necessidade de transporte especial para estudantes portadores de
deficiências;
§ Falta de professores: garantia de professores para todas as disciplinas,
em todas as unidades das escolas públicas;
§ Condição para o desenvolvimento e acesso do aluno com deficiência: disponibilização de vagas em escolas especiais para alunos
com deficiências, adaptação do prédio das escolas públicas para
portadores de deficiências físicas;
§ Vaga em creche ou pré-escola: cabe ao município, prioritariamente,
garantir a todas as crianças até cinco anos vagas em creches e pré-
escola, próximo à residência ou local de trabalho dos responsáveis;
§ Outras situações, como transferências indevidas, em especial para locais
distantes, não aceitação de alunos em escolas públicas por motivos
disciplinares, cancelamento de matrícula de alunos que não comparecem
nos primeiros dias de aula, dentre outras.
Enfim, uma série de situações gera a possibilidade de questionamento
judicial com vistas à garantia de que o direito à educação seja adequadamente
satisfeito pelos gestores públicos:
Daí o surgimento da judicialização da educação, que ocorre quando
aspectos relacionados ao direito à educação passam a ser objeto de
análise e julgamento pelo Poder Judiciário. Em outros termos, a
educação, condição para a formação do homem, é tarefa fundamental
do Estado, é um dos deveres primordiais, sendo que, se não o cumprir,
ou o fizer de maneira ilícita, pode ser responsabilizado (Muniz, 2002, p.
211). Esta responsabilização com a intervenção do Poder Judiciário
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consolida o processo de judicialização da educação (Cury e Ferreira, in:
www.ampid.org.br, acessado em 05/08/2011).
Em que pese o fato de que um amplo conjunto de temas ligados ao
direito à educação pode e de fato é judicializado no Brasil, os trabalhos
acadêmicos sobre o tema são escassos. Buscaremos avançar na compreensão
desse fenômeno a partir do estudo de caso do município de São Paulo,
apresentado a seguir.
3. O caso do município de São Paulo
De acordo com o Programa de Reorganização Curricular e
Administrativo da Prefeitura de São Paulo, atualmente encontram-se
matriculadas em creches públicas 205.130 crianças de 0 a 3 anos na rede
municipal de ensino, o que corresponde a mais de 78% das crianças em
creches, públicas ou privadas. No entanto, mais de 120.000 crianças ainda
aguardam atendimento. Para minorar esse problema, a Prefeitura se
comprometeu a expandir vagas “mediante a ampliação qualificada dos
convênios com instituições não governamentais” (Mais Educação São Paulo,
p.22) e construir novos centros de educação infantil, contando para isso com o
auxílio do governo federal, por meio de convênios com o MEC para a
construção de 172 novas unidades, além de outras 71, próprias do governo
municipal ou em parceria com o governo estadual.
Esse problema, todavia, não é específico do município de São Paulo.
Tanto o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) como o
Ministério da Educação (MEC) desenvolveram recentemente programas
objetivando ampliar a oferta de vagas em creches nos municípios. O Programa
Brasil Carinhoso do MDS visa ampliar os recursos financeiros repassados aos
municípios que criarem novas vagas em creches e o Programa Nacional de
Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de
Educação Infantil (ProInfância) do MEC oferece convênios para a construção de
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novas creches.
Os efeitos da falta de vagas em creches públicas têm sido sentido
diretamente pelas prefeituras não apenas por meio das crescentes listas de
espera, mas também pelo crescente número de ações judiciais solicitando tais
vagas junto ao Poder Judiciário. Dados da Prefeitura de São Paulo mostram que
a evolução dos pedidos de vagas em creches públicas evoluiu rapidamente,
conforme dados disponibilizados pela Prefeitura: em junho de 2007 a demanda
era de 88.218, e em junho de 2012 passou para 145.221, um crescimento de
65% no período.
Somado a isso, também é crescente o número de ações judiciais com o
mesmo tipo de solicitação:
Matrículas na Etapa Creche
Ano Matrículas Encaminhamentos com ordem judicial
2009 123.155 88
2010 130.412 1.235
2011 195.561 3.365
2012 214.094 6.620
Fonte: SME-ATP/Centro de Informática
Entre 2009 e 2012 o número de matrículas em creches cresceu algo
próximo de 75%, enquanto o número de matrículas feitas por ordem judicial
cresceu mais de 7.000%.
A utilização crescente do Judiciário para a obtenção do direito à
educação infantil (0-5 anos), especialmente creches (0-3 anos), verificada no
uso exponencial do sistema de justiça, caminha no mesmo sentido de outras
políticas públicas: dada a constitucionalização de uma série destas a partir de
1988, conforme demonstrado por Couto e Arantes (2006), somada a uma
percepção crescente da via judicial como um caminho legítimo e de fácil acesso
para a garantia dos direitos sociais conquistados, cada vez mais o Judiciário
vem interagindo com o Executivo na definição das prioridades dos governos em
termos de políticas públicas.
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Essa interação Judiciário-Executivo decorre, principalmente, da
institucionalização do FUNDEB. Até a aprovação do fundo, por meio da Lei
11.494 de 2007, os recursos para a educação infantil eram provenientes
exclusivamente do Fundo de Assistência Social (FNAS), caracterizando as
creches como uma responsabilidade da assistência social. Com a criação do
FUNDEB a educação infantil passou a ser de responsabilidade do Sistema de
Educação, reforçando a natureza educacional das creches. De acordo com a lei,
a Educação deveria assumir, até 2009, toda a rede de educação infantil. Disso,
podemos dizer que foi a criação do FUNDEB, que transferiu para a Educação a
responsabilidade de um direito que se encontrava, até então, como um direito
de caráter assistencialista, que gerou o início do processo de judicialização da
educação no Brasil.
Vale lembrar que Marshall, na clássica distinção entre os tipos e fases
dos direitos de cidadania, classificava o direito à educação como direito civil, e
não como direito social, dado que um cidadão não pode exercer plenamente sua
liberdade civil sem o mínimo de conhecimento e domínio sobre seus direitos
civis, o que requer ao menos a educação básica. Assim, a educação tem um
“status” diferenciado em relação ao direito à assistência social – enquanto a
primeira é historicamente reconhecida como um direito universal, parte de uma
“política de Estado”, a segunda depende muito mais de “políticas de governo”,
mais conjunturais e menos constrangedoras das agendas sociais dos
governantes. Por esse motivo, a primeira é “bem recebida” pelo Judiciário, que
reconhece o direito à educação como um direito universal e inquestionável,
iniciando assim o processo de judicialização da educação.
Essa seria a causa, portanto, do início desse processo. Mas, quais
seriam suas consequências, em termos de produção de políticas públicas?
Entrevistas com gestores da política de educação ajudam-nos a
construir uma resposta. Em geral, todos afirmaram que o Judiciário entende o
direito à educação como inquestionável, desconsiderando, portanto, o
argumento da “reserva do possível”8. Desconsideram também o fato de que as
8 De acordo com Wang (2008, p. 566), "esse conceito ["reserva do possível"] surgiu de uma
decisão paradigmática da Corte Constitucional Alemã em que havia a pretensão de um cidadão
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prefeituras têm, conforme a Lei 11.494/07 (Lei do FUNDEB) um prazo ainda não
concluído para atenderem à demanda – e que, portanto, estão dentro do que
determina a própria legislação.
Assim, tal como vem ocorrendo no caso da judicialização da saúde,
envolvendo pedidos de medicamentos pela via judicial, no caso dos pedidos de
vagas em creches os processos judiciais tendem a ser rápidos (por meio dos
pedidos de liminares) e os réus têm grandes chances de vitória. Isso significa
que as decisões judiciais vêm gerando uma desestruturação das demandas
administrativas: a Prefeitura conta com uma “lista de espera”, contabilizando a
demanda não atendida. Aqueles cidadãos que estão no final da lista e obtêm
uma vitória judicial “pulam a fila”, sendo atendidos antes dos que estão no topo
da lista, mas que não ingressaram com ação judicial. Isso cria, obviamente,
incentivos para buscar a matrícula pela arena judicial, explicando a explosão de
matrículas por essa via nos últimos anos.
As estratégias de acionamento do Judiciário são, entretanto, distintas:
na saúde, ações individuais tendem a ter maiores chances de sucesso –
argumenta-se a inviolabilidade do direito à vida, mas evita-se entrar em
questões de saúde pública, que envolve o benefício ao maior número de
pessoas, nem sempre compatíveis com o ganho individual. Na educação, tanto
ações individuais como coletivas são utilizadas como instrumentos para a
garantia de vagas em creches, assim como Ministério Público e Defensoria
Pública são acionados. Nesse caso, é rara a utilização de advogados privados
para o acionamento direto do Poder Judiciário, sendo essa mais uma diferença
importante em relação à judicialização da saúde, na qual a via individual e
privada é a mais comum.
Do ponto de vista das respostas do Executivo, cabe a ele dar uma
resposta rápida à demanda judicial, o que coloca grande desafio ao gestor
público. Isso porque a disponibilização de vagas em creches não é algo que se
de ingresso no ensino superior público, embora não existissem vagas suficientes, fundamentado na garantia da Lei Federal alemã de liberdade de escolha da profissão. Nessa decisão, afirma a Corte que a “prestação reclamada deve corresponder ao que o indivíduo pode razoavelmente exigir da sociedade, de tal sorte que, mesmo em dispondo o Estado dos recursos e tendo o poder de disposição, não se pode falar em uma obrigação de prestar algo que não se mantenha nos limites do razoável.
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resolva rapidamente, tal como a compra de medicamentos. A atuação do poder
público precisa ser rápida e efetiva, mas enfrenta dificuldades não facilmente
solucionáveis. Uma delas é a falta de terrenos para a construção de escolas
públicas.
Conforme relatado, o município de São Paulo não tem disponível
terrenos vazios e/ou passíveis de desapropriação. No extremo da zona sul, por
exemplo, os limites são imposto pela área de proteção permanente em
manancial. Somado a isso, o tempo para escolha do terreno, compra ou
desapropriação, licitação para obras etc. não é pequeno, implicando numa
política com resultados a longo prazo apenas. Portanto, a construção de novas
vagas é uma das respostas possíveis, mas certamente não a mais rápida.
A outra resposta tem sido a contratação de unidades conveniadas para
a disponibilização das vagas, o que tem sido a opção mais utilizada. Essa
alternativa, mais rápida do que a primeira, nem sempre é a melhor, em termos
da qualidade do ensino oferecido, conforme asseveraram os próprios gestores.
Isso porque o controle das unidades conveniadas é bastante precário, apesar de
as demandas judiciais “empurrarem” os gestores para essa alternativa.
“As creches da administração direta são geralmente em prédios
construídos para essa finalidade, com uma perspectiva pedagógica,
programadas para serem escolas para essa idade, mas as conveniadas
não; na sua maioria são prédios residenciais adaptados, com base em
uma metragem de alunos por metro quadrado [diferente daquela
estipulada pela legislação] e nem sempre as entidades se constituíram
para essa finalidade.” (Assessor Pedagógico da Secretaria Municipal de
Educação de São Paulo).
Vale lembrar, ainda, que embora a contratação de vagas em unidades
conveniadas não seja a melhor opção, além de ser a mais viável no curto prazo,
pode ser ainda a mais racional no longo prazo. Isso porque com o
envelhecimento da população e alteração da pirâmide populacional, a
construção de muitas unidades e vagas pode gerar, no futuro, uma estrutura
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ociosa frente à diminuição da demanda, o que colocaria ao gestor público a
necessidade de repensar a destinação dessas unidades/vagas, bem como dos
funcionários públicos contratados para o seu adequado funcionamento.
Enfim, podemos dizer que o processo de judicialização da educação
apresentou um crescimento brutal a partir de 2007, com a criação do FUNDEB,
e mais especificamente após 2009, quando a responsabilidade pelas creches
públicas já estava totalmente transferida para o Sistema de Educação,
demandando respostas rápidas do Poder Executivo. Este passou a ter que lidar
não apenas com a política de educação infantil propriamente dita, assumindo a
rede pública e credenciada, mas também com a demanda judicial. Conforme
vimos, esta cresceu mais de 7000% em apenas 4 anos no município de São
Paulo, gerando a necessidade de reorganização da Pasta em termos
administrativos, para acompanhar e responder às demandas judiciais, e
financeiros, demandando a realocação de recursos e esforços para a educação
infantil.
Por outro lado, os gestores entrevistados também apontaram um
aspecto positivo do fenômeno, a demanda judicial acabou servindo de
instrumento eficaz para colocar o “governo em ação”, ou seja, gerar políticas
públicas. Certamente o gestor municipal vem atentando para a educação infantil
muito em função da atuação do Judiciário na garantia desse direito. Nesse
sentido, pode-se dizer que o FUNDEB “colocou o tema na agenda” dos
governos municipais, para falarmos nos termos de Kingdom, mas foi a
judicialização que impulsionou a política, fazendo com que fosse priorizada
pelos governos municipais e pelo governo federal, como o Programa Brasil
Carinhoso demonstrou.
4. Considerações Finais
A presente pesquisa visou contribuir para a agenda de pesquisa sobre
judicialização das políticas públicas por meio de três decisões teóricas e
metodológicas: (i) ampliar os atores envolvidos incorporando a dimensão
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federativa – avaliar as decisões judiciais de outras instâncias que não apenas a
constitucional; (ii) avaliar a interação entre o Executivo e o Judiciário por meio
da avaliação do impacto das decisões judiciais sobre o policy making; (iii) focar
mais nas respostas dadas à decisão judicial (seus efeitos) e menos nos
processos de construção da decisão pelo Judiciário.
Trata-se, portanto, de uma pesquisa com o claro objetivo de elucidar o
debate acerca da participação do Judiciário no chamado processo de
judicialização de políticas públicas, por meio da análise dos resultados
produzidos pela interação entre este e o Poder Executivo, isto é, das políticas
públicas produzidas (ou não) pelo último em função das decisões proferidas
pelo primeiro.
Para a análise dessa interação pode-se dizer que são dois os possíveis
comportamentos do Executivo frente à decisão judicial: (1) Estratégia política e
(2) Estratégia judicial.
Na estratégia política o Executivo reage à decisão judicial simplesmente
se organizando para cumpri-la. Para tanto, esperamos encontrar duas
possibilidades de ação: 1.1) atendimento individual e 1.2) atendimento coletivo.
No primeiro caso, o efeito inter partes da decisão judicial gera uma política
pública com efeito semelhante. O Executivo se mobilizaria, assim, para atender
individualmente as diferentes demandas que poderiam surgir das decisões
judiciais. No segundo caso, uma decisão judicial com efeitos inter partes geraria
efeitos políticos erga omnes. Nesse caso, o Executivo promoveria políticas
públicas que beneficiariam, além das partes envolvidas no processo, um
conjunto mais amplo de cidadãos.
Em relação à estratégia judicial o Executivo se mobilizaria menos para
cumprir a decisão judicial e mais para evitá-la e/ou revertê-la. Para tanto,
esperamos encontrar duas possibilidades de ação: 2.1) preventiva e 2.2)
protelatória. Na primeira, o Executivo criaria mecanismo para demover os atores
judiciais de um litígio que pudesse produzir uma decisão judicial. E, na segunda,
usaria diferentes instrumentos recursais para tentar impedir o seu cumprimento
imediato e para tentar reformá-las nas instâncias superiores.
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Do caso analisado, da judicialização da educação infantil no município
de São Paulo, pode-se observar que o Executivo municipal age por meio da
“estratégia política”, lidando tanto com o atendimento individual como com o
coletivo, gerando assim ganhos individuais e erga omnes, isto é, para a
sociedade como um todo. Por outro lado, a “estratégia judicial” não tem sido
utilizada, por motivos claros. A estratégia preventiva demandaria um “estoque”
de vagas em creches, o que não é possível num cenário como o atual, de
ausências gritantes de vagas e dificuldade para resolver a questão no curto e
médio prazos. A estratégia protelatória também não é possível, dado que os
pedidos liminares colocam ao Executivo a necessidade de respostas urgentes, o
que vem sendo feito por meio da contratação de vagas em unidades
conveniadas, com resultados sub-ótimos, conforme anteriormente detalhado.
O caso das creches evidenciou, portanto, a capacidade do Judiciário de
controlar a agenda de políticas públicas. Como vimos, desde a Constituição de
1988 está garantindo a assistência gratuita para todas as crianças em creches e
pré-escolas. Foi apenas com a transferência dos recursos dessa área da
Assistência Social para a Educação (após o FUNDEB) que o Judiciário passou a
acolher essas demandas, obrigando os governos municipais e federal a
ampliaram substancial e rapidamente os investimentos na área. Podemos
afirmar, então, que aqui a agenda de políticas públicas acabou impactada pelas
decisões judiciais, seja por obrigarem os governos a fazerem mais do que fariam
não fossem as decisões judiciais, ou por ditarem o ritmo de sua implementação.
18
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