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A LINGUAGEM CARTOGRÁFICA NO ENSINO E APRENDIZAGEM DO LUGAR Gabriela Geron 1 Mafalda Nesi Francischett 2 Resumo: O presente texto tem como objetivo o ensino de Cartografia, como linguagem, na mediação do trabalho pedagógico com conteúdos relacionados ao espaço geográfico. Para este propósito desenvolvemos um diagnóstico sobre a problemática de entender o lugar pela representação. Obtivemos como primeiros resultados a deficiência de mapas sobre o lugar. Consequentemente elaboramos uma sequência didática com representações cartográficas com a temática, relacionando os aspectos físicos, os sociais, como: relevo, altitude, hidrografia, cotas, declividade e crescimento urbano, do município de Francisco Beltrão Paraná. Partimos com o conhecimento do lugar para a compreensão dos conceitos geográficos gerais. O principal enfoque foi para a função específica do mapa que é a de localizar, com atribuições de informações científicas necessárias e compreensíveis ao aprendizado do aluno. As representações apresentam como características principais os aspectos físicos da área urbana do município de Francisco Beltrão/PR e, como base a carta topográfica do município. As atividades foram pensadas para que o professor possa desenvolver nas aulas no nível do Ensino Fundamental II. A metodologia de elaboração dos mapas pode ser efetivada em cada município, basta como base a carta topográfica e a digitalização com evidências para os aspectos tanto introdutórios da leitura como da interpretação do mapa. Palavras- chave: linguagem cartográfica, tecnologia na educação, cartografia escolar Introdução Os recursos utilizados pelo professor de para ensinar Geografia são muitos, mas o que predomina é, especificamente, o livro didático. Nele, a categoria lugar não é contemplada, uma vez que tanto a elaboração, quanto a distribuição visam e abrangem o território nacional e, neste caso, o município só se apresenta como um exemplo de origem do próprio livro. Assim, não há como contemplar tal procedimento e os conteúdos não contextualizam a realidade, onde está sendo ensinado. Mesmo assim, para ensinar os conteúdos como 1 Discente do programa de pós-graduação strictu sensu em Geografia Universidade Estadual do Oeste do Paraná: Campus Francisco Beltrão. Contato: [email protected] 2 Docente do programa de pós-graduação strictu sensu em Geografia Universidade Estadual do Oeste do Paraná: Campus Francisco Beltrão. Contato: [email protected]

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A LINGUAGEM CARTOGRÁFICA NO ENSINO E APRENDIZAGEM DO LUGAR

Gabriela Geron1

Mafalda Nesi Francischett2

Resumo: O presente texto tem como objetivo o ensino de Cartografia, como linguagem, na mediação

do trabalho pedagógico com conteúdos relacionados ao espaço geográfico. Para este propósito

desenvolvemos um diagnóstico sobre a problemática de entender o lugar pela representação.

Obtivemos como primeiros resultados a deficiência de mapas sobre o lugar. Consequentemente

elaboramos uma sequência didática com representações cartográficas com a temática, relacionando os

aspectos físicos, os sociais, como: relevo, altitude, hidrografia, cotas, declividade e crescimento

urbano, do município de Francisco Beltrão – Paraná. Partimos com o conhecimento do lugar para a

compreensão dos conceitos geográficos gerais. O principal enfoque foi para a função específica do

mapa que é a de localizar, com atribuições de informações científicas necessárias e compreensíveis

ao aprendizado do aluno. As representações apresentam como características principais os aspectos

físicos da área urbana do município de Francisco Beltrão/PR e, como base a carta topográfica do

município. As atividades foram pensadas para que o professor possa desenvolver nas aulas no nível

do Ensino Fundamental II. A metodologia de elaboração dos mapas pode ser efetivada em cada

município, basta como base a carta topográfica e a digitalização com evidências para os aspectos

tanto introdutórios da leitura como da interpretação do mapa.

Palavras- chave: linguagem cartográfica, tecnologia na educação, cartografia escolar

Introdução

Os recursos utilizados pelo professor de para ensinar Geografia são muitos, mas o que

predomina é, especificamente, o livro didático. Nele, a categoria lugar não é contemplada,

uma vez que tanto a elaboração, quanto a distribuição visam e abrangem o território nacional

e, neste caso, o município só se apresenta como um exemplo de origem do próprio livro.

Assim, não há como contemplar tal procedimento e os conteúdos não contextualizam a

realidade, onde está sendo ensinado. Mesmo assim, para ensinar os conteúdos como

1 Discente do programa de pós-graduação strictu sensu em Geografia – Universidade Estadual do Oeste do

Paraná: Campus Francisco Beltrão. Contato: [email protected]

2 Docente do programa de pós-graduação strictu sensu em Geografia – Universidade Estadual do Oeste do

Paraná: Campus Francisco Beltrão. Contato: [email protected]

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urbanização, rede hidrográfica e viária e relevo do município, os mapas do livro didático

continuam sendo o recurso base o que por isto se torna um grande problema para o professor.

O mapa, quando bem apresentado, cumpre o seu propósito de articular o que

representa com os conteúdos estruturantes e os específicos, seja de Geografia como das

demais áreas do conhecimento. Os mapas voltados para o estudo do local onde os alunos

residem, são raros ou quase inexistentes. Dependendo da realidade nada é encontrado, na

escola que dê suporte ao professor. A partir desta problemática criamos uma sequência

didática, com mapas focados no município, neste caso, de Francisco Beltrão, no Sudoeste do

Paraná, que pode ser indicativo para construção de materiais para o ensino de Geografia de

cada município, de interesse do professor.

Estudar o lugar significa considerar as vivências, as relações sociais específicas e os

acontecimentos globais ali representados. O lugar, segundo Carlos (1996), é a própria

totalidade em movimento, que, por meio do evento, se afirma e se nega modelando um

subespaço no espaço global. Ele carrega uma história construída por sujeitos, pela maneira

como desenvolveram seu trabalho, como produziram os alimentos. Enfim, o lugar é carregado

de vínculos afetivos que ligam e identificam as pessoas.

Segundo Santos (2009), o lugar se define como um ponto onde se reúnem feixes de

relações, o novo padrão espacial pode ocorrer sem que as coisas sejam outras ou mudem de

lugar. Cada lugar assiste como testemunha e como ator, o desenrolar simultâneo de várias

divisões.

Por isso, o aprendizado do mapa vai além da sua própria estrutura e dos procedimentos

aplicados nele como: pontos, linhas e polígonos. Quando mediado pedagogicamente pelo

professor, o mapa se torna um meio informativo de suas categorias e regras, cumpre sua

função nas diferentes feições, de cada uma das suas estruturas e no contexto que representa,

localiza e comunica.

Estamos nos referindo, principalmente ao conteúdo de orientação e localização dos

fenômenos. Isto envolve a compreensão das categorias de análise da leitura de mapas, como

legenda, simbologia e convenções, tanto para a representação do conhecimento como para o

seu desenvolvimento. Ou seja, a questão principal é a representação cartográfica elaborada

para fins de leitura e interpretação do fenômeno geográfico para o entendimento e

explicitação do saber geográfico escolar.

Apesar de o mapa representar o elo de comunicação entre várias áreas de

conhecimento, é na Geografia a sua especificidade, pela espacialidade dos fenômenos.

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Composto por uma série de operações complexas, na fase inicial de leitura, precisa de

mediação no processo de ensino e aprendizagem.

Estado de arte da representação gráfica

A representação gráfica está presente, nos registros, desde o início da História da humanidade.

Começou com a gravação em argila, em pele de animais, das representações do cotidiano. Registros

que apresentam formas originais de interpretação dos territórios. Segundo Martinelli (2007), a

apreensão do espaço e a elaboração de estruturas abstratas para representá-lo sempre marcaram a vida

da sociedade, acompanhando o empenho humano em satisfazer também as necessidades que foram

surgindo das condições de trabalhos.

Durante o Renascimento houve grande avanço da Cartografia acompanhando as novas

relações capitalistas e apoiando o desenvolvimento da navegação comercial entre o Oriente e o

Ocidente, um grande marco desse avanço foi o surgimento da bússola. Com a invenção da imprensa,

no século XV, o custo para a reprodução de mapas foi barateando, permitindo assim a sua maior

difusão. Esse avanço trouxe também problemas, pois durante a reprodução dos mapas ocorriam

grandes erros dos copistas, para diminuir esses empasses, surge a profissão do Cartógrafo.

Durante os séculos XV e XVI ocorreram grandes descobrimentos, que impulsionaram a

Cartografia. Segundo Martinelli (2007), no século XVIII com a instituição de academias cientificas,

ocorreu o mais significativo avanço na Cartografia, marcando assim o inicio da Ciência Cartográfica

Moderna, a sistematização e a divisão do trabalho cientifico faz surgir a Cartografia Temática, com

mapas das necessidades dos estudos específicos.

Martinelli (2007), diz que a automação chega à Cartografia por meio das fases mais

matemáticas do processo cartográfico, com o aparecimento do computador, em 1946. A partir da

década de 60 que foi iniciada a Cartografia assessorada por computador. Segundo Taylor (1994) essa

revolução da informação trouxe como resultado uma explosão de dados e tem tornado acessível uma

nova ordem de possibilidades de tópicos que podem ser mapeados. Taylor (1994) afirma que

estas tecnologias são de grande importância e os cartógrafos devem dar atenção a este fato, mas jamais

excluir a cognição e a comunicação.

Com o avanço acelerado da informática, Souza (2006) cita que foram incorporadas as ideias

da Ciência Cartográfica, além da própria linguagem dos computadores, novas definições tais como a

Cartografia Digital, o Geoprocessamento, os Sistemas de Informações Geografias entre outros que são

técnicas utilizadas pela Cartografia.

Segundo Martinelli (2001) a Cartografia ao defrontar a complexidade da realidade a ser

considerada, deve também articular as diferentes maneiras de ver dos vários ramos científicos, cada

um resolvendo uma representação especifica do espaço, valendo-se de uma escala temporo-espacial,

831 adequada ao seu estudo e concepção. Souza (2006) cita que os mapas são mais que imagem da

realidade, eles se assemelham aos textos porque podem ser decodificados da mesma forma que os

outros sistemas de signos não formais.

O processo de comunicação gráfica utilizada pela Cartografia, abordado por Martinelli (1991),

é realizado em etapas que reúne a confecção e o uso. A utilização dos mapas estimula a operação

mental, ocorrendo assim uma interação entre o mapa e os processos mentais do usuário.

Segundo Souza (2006), A representação cartográfica obedece a comunicação polissêmica, pois

um signo não pode representar mais que um significado, precisa ser claro e objetivo para melhor

compreensão. O que se difere da comunicação monossêmica onde um signo pode representar mais que

um objeto, como exemplo, “o aluno ouviu o chamado”, o chamado pode ser de um colega, da

professora, de outra pessoa ou até mesmo um sinal sonoro que represente um chamado na escola.

Semiologia gráfica, conforme Martinelli (1998) foi à proposição de Bertin para a construção

de mapas, gráficos e redes:

A semiologia gráfica foi desenvolvida pelo Frances Jacques Bertin na

década de 1960 tem suas raízes no estruturalismo de Ferdinand Saussure, um

linguista (sic) suíço que desenvolveu estudos de Semiologia com base na

Teoria Geral dos Signos no final do século XIX. Após sua morte, em 1913,

vários pesquisadores de diferentes países, começaram a transpor os

esquemas e conceitos da linguística (sic) para os demais signos (SOUZA,

2006, p. 16).

Souza (2006) comenta que a semiologia gráfica estrutura a construção das imagens a partir da

percepção visual organizada em três variáveis sensíveis: a variação dos sinais e as duas dimensões do

plano (X, Y). Para Martinelli (1998), a semiologia gráfica utiliza as variáveis da percepção visual com

propriedades compatíveis a fim de representar um tema, mobilizando assim a terceira dimensão visual

do plano (Z), seja numa abordagem qualitativa, ordenada ou quantitativa, seja na forma de ponto, linha

ou área.

Para a interpretação dos signos gráficos existem algumas relações que são base para a

compreensão dos mesmos. Souza (2006) diz são três relações (diversidade/similaridade, ordem e

proporcionalidade) consistem nos significados da representação gráfica e são expressas por seis

variáveis visuais (tamanho, cor, valor, textura, orientação e forma).

Abreu e Carneiro (2008) lembram que na Cartografia toda a informação deve ser transcrita

visualmente. Para isto, é importante observar cuidadosamente as propriedades significativas das

variáveis para representar as informações no mapa, e para essa representação cartográfica é utilizada o

sistema da Semiologia Gráfica.

Por meio do sistema de signos, utilizado pela Cartografia, podemos interpretar todas as

informações contidas num mapa, conforme a necessidade temporal. Martinelli (1998) lembra que os

mapas podem dizer muito sobre os lugares, além, de apenas responder à questão “Onde ficam?”,

caracterizando-os, e isso ocorre por meio da leitura cartográfica dos signos.

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Alguns tópicos sobre ensino de Geografia e de Cartografia

O aprendizado do mapa exige procedimentos didáticos que possibilitem decodificar o

significado da representatividade de pontos, linhas e polígonos. Por isso é mediado pelas regras,

agrupadas em função das diferentes feições de cada estrutura no contexto que representam. Estamos

nos referindo, principalmente, para a orientação geográfica e para a compreensão dos fenômenos por

categorias, usados tanto para representação do conhecimento bem como para o seu desenvolvimento,

numa abordagem geográfica escolar. Ou seja, na questão de que a representação cartográfica seja

voltada para a interpretação, entendimento e explicitação de seu conteúdo.

No ensino da Geografia os mapas trazem conhecimentos das noções espaciais que são

compreendidas pela mediação entre os sujeitos durante o processo que se desenvolve entre teorias e

práticas. Segundo Kimura (2010) a construção, a compreensão e a utilização de mapas e as noções de

orientação e localização espacial são processos desenvolvidos em seus fundamentos desde as séries

iniciais do Ensino Fundamental. Esse procedimento deve ir ganhando complexidade inerente à

aquisição de um código linguístico e de um idioma, visando criar condições para o aluno conhecer a

dimensão gráfica e espacial da realidade geográfica. Ao ensinar mapas, é importante que o professor

tenha clareza da base teórica metodológica que embasa tal processo.

As representações no estudo do município

A Constituição Federal de 1988 foi um marco importante, no país, em relação à criação de

novos municípios, com o principal objetivo de promover a descentralização do estado brasileiro,

conferindo novas prerrogativas e responsabilidades aos estados e municípios. Segundo Braga (2003), o

município que até então era apenas um componente dos estados, passa a ter o status pouco comum de

unidade de Federação dotada de autonomia política, administrativa, financeira e normativa.

Como resultado desta Constituição houve aumento considerável no número de municípios na

década de 1990, quando foram criados 1243 municípios novos no país. Segundo dados do IBGE, em

1990 eram 4321 e atualmente são 5.564 municípios brasileiros. Conforme Wanderley (2008), no

Paraná entre os anos de 1991 e 1993 teve um acréscimo de 48 novos municípios, e entre os anos de

1993 e 1997 foram criados mais 20 novos, totalizando 399 municípios que compõem o estado. Destes,

07 estão localizados na região Sudoeste do Paraná - são eles: Manfrinópolis, Bom Jesus do Sul, Boa

Esperança do Iguaçu, Cruzeiro do Iguaçu, Flor da Serra do Sul, Nova Esperança do Sudoeste e Pinhal

de São Bento.

833 Braga (2003) ressalta que, após a Emenda Constitucional n°15 de 1996, que passou a exigir

estudo prévio de viabilidade e estendeu a consulta plebiscitária também ao município de origem,

diminuiu consideravelmente a criação de municípios no Brasil, haja vista que em 2000 foram criados

apenas 54 no país, nenhum no Paraná.

Conforme Braga (2003), até a Constituição de 1988, a criação de novos municípios fora regida

conforme o Decreto Lei complementar n°1 de 9 de novembro de 1967 (acompanhado de Decreto de

Lei complementar n°9 de 31 de dezembro de 1969) com base no centralismo do Regime Militar. Esse

Decreto exigia muitas imposições que levavam a um estancamento na criação de novos municípios,

pois poucos se enquadravam dentro de suas normas.

A década de 1990 foi considerada a mais importante para o processo de emancipação

municipal no Brasil. A partir da Constituição, foi legado a cada estado criar uma legislação que

estipulem requisitos mínimos para emancipação municipal.

O desafio de ensinar com o mapa, começa pela decisão de considera-lo, ou não, um recurso importante no

ensino. Outro significa reconhecer que sua função básica de localizar continua sendo um conhecimento

essencial e necessário e, um terceiro implica no domínio metodológico para decodificar os símbolos gráficos

e torná-los significantes do que representam.

Junto de tantas mudanças vem também à necessidade de atualização dos mapas para o ensino.

Deveras importante também efetivar o contato do aluno com a representação, no caso o mapa ou carta para

realizar a leitura e a análise das características de seus componentes, como a legenda, identificação, escala e

temática. Por meio das informações contidas no mapa, alunos e professor efetivam o processo de leitura e

análise do conteúdo. A escala e as coordenadas também são exemplos que merecem consideração. Visando

promover ações didáticas possíveis de serem trabalhadas na representação cartográfica para identificar as

principais categorias convencionais, como o mapa do município e nele reconhecer os indicativos como

posição e localização dos fenômenos e elementos, como, por exemplo, no mapa a seguir, onde esta o

aeroporto com a pista de pouso representada por uma linha reta e as vias de acesso representadas em

vermelho, que podem ser identificadas pelos alunos com auxilio do professor, por meio dessas duas feições o

aluno irá reconhecer a área de estudo.

Como objetivo geral do trabalho desenvolvemos uma sequência de representações cartográficas

relacionando as os conceitos físicos (relevo, altitude, hidrografia e declividade) com as características físicas

do município e também o conceito de crescimento urbano, considerando o crescimento de Francisco Beltrão

nas últimas décadas.

Dentre as características físicas, é possível realizar os estudos gerais de relevo por meio das curvas de

nível e da hidrografia da área, identificar e destacar os rios que “cortam” o município, explicar como se dá a

distribuição hidrográfica na área delimitada.

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Representação 01: Área urbana de Francisco Beltrão.

Fonte: IBGE, 1998. Autora: GERON, 2013.

Com esta representação é possível identificar as características físicas gerais como a

hidrografia, identificando e destacando o curso do rio principal (Rio Marrecas) que está nomeado ao

longo de seu percurso, seus afluentes e como se dá a distribuição dos mesmos. Como podemos ver,

cortando a área urbana do município, os rios Lonqueador e Marrecas que poderão ser identificados

pelo professor. O professor pode juntamente com os alunos coletar as coordenadas geográficas da

escola em campo e identificar onde a escola fica localizada nas representações apresentadas.

Para que a hidrografia possa ser analisada, apresentamos a representação 02, com os rios em

destaque, onde os alunos com auxilio da professora poderão nomea-los. É possível identificar também

as diferentes ordens, dos rios, na mesma representação.

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Representação 02: Hidrografia de Francisco Beltrão.

Fonte: IBGE, 1998. Autoria: GERON 2013.

Por meio da representação 02 é possível estudar a dinâmica da hidrografia no relevo, o conceito

de bacias, a delimitação das microbacias na representação, identificar em qual microbacia a escola está

localizada, bem como comparar a dinâmica de microbacias representadas, identificar rio principal de

cada microbacia. Também estudar a declividade, pelo relevo.

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Representação 03: Relevo do município de Francisco Beltrão.

Fonte: IBGE, 1998. Autoria: GERON 2013.

O relevo, conforme representação 03, por meio das cores, variadas, escuras para as maiores

altitudes e mais claras para menores altitudes. As primeiras estão próximas de onde nascem os rios e

nas outras estão localizados os afluentes e da foz dos rios. É possível realizar o estudo do relevo,

fornecendo aos alunos o indicativo de algumas cotas de altitude, as mestras, para que consigam

continuar completando na representação, com as demais.

Por meio das atividades apresentadas anteriormente os alunos irão perceber a amplitude do relevo.

Nas margens dos rios, as curvas estão mais distantes porque são locais mais planos. Na representação

é possível identificar a área de menor e a de maior declividade e destacá-las. Indicamos fazer a

hipsometria com as cores na própria representação.

A análise da declividade, por meio das curvas de nível (como exemplo, a representação 03),

indica que nas cotas que estão mais próximas a declividade é maior e, nas margens dos rios as cotas

Relevo do município de Francisco Beltrão - PR

837 estão mais distantes, portanto, são locais mais planos. Após destacar as áreas de menor declividade

observar o comportamento do relevo da área, na carta. Sua maior e menor altitude por meio da leitura

das cotas indicadas no mapa. Para a análise do relevo é sugerido que se faça, por meio da pintura, a

hipsometria nas curvas de nível. Com a representação hipsometrada fica melhor para analisar, por

exemplo, que a área urbana está localizada numa menos altitude, por isso o relevo é mais plano.

Depois das atividades realizadas, na representação 03, podemos discutir os aspectos físicos, como

a erosão superficial, as consequências na topografia nas margens dos rios. Além de discussões sobre as

transformações naturais decorrentes. É possível também estudar a ação do homem no relevo, na área

onde existe a mancha urbana é possível identificar que as curvas estão mais espaçadas, isto é, que

foram modificadas para possibilitar a ocupação humana.

A partir da representação 04 propomos o estudo da expansão urbana, desenhada em vermelho,

nos anos 90. Já, na imagem de satélite, obtida no programa Google Earth, vemos a atual área urbana

do município. Ao relacionarmos as representações 03 e 04 é possível ver a importância do relevo na

expansão urbana, onde as áreas com menor declividade são mais facilmente habitadas.

Em um trabalho de campo levando em mãos as representações apresentadas os alunos podem

realizar um estudo sobre a dinâmica da cidade, onde se localizam as áreas de maior comércio, onde

está sendo expandida a área urbana, onde se localizam as áreas industriais e localizá-las na

representação.

Também propomos a identificação dos lugares representados no mapa, encontrando pontos de

referência e desenhando no mapa, completando assim a representação com maiores informações e

também reconhecer alguns dos principais rios representados, conversando com moradores de áreas

que a pouco tempo foram habitadas, assim compreendendo melhor o processo de expansão do

município e relacionar os aspectos físicos e humanos.

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Representação 04: Área Urbana do município de Francisco Beltrão.

Fonte: IBGE, 1998 e Google Earth, 2013 Autoria: GERON, 2013.

Considerações

A falta de motivação e o desinteresse do aluno prejudicam o aprendizado e quando

isto se junta a conteúdos apresentados sem relação com o contexto vivido contribuem para

este problema e prejudicam o processo de aprendizado.

Conhecer a região, o município, o lugar torna o aluno mais motivado a explorar o

mundo e a compreender a ciência geográfica.

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Uma boa análise da representação cartográfica é condição necessária para indicar se

no mapa há conhecimento que possibilite ao leitor entender a espacialidade que ele

representa. Por isso, é a linguagem cartográfica auxilia na compreensão do espaço

representado, que por vezes pode ser o lugar em que os alunos residem.

Fica evidente a importância da Cartografia no ensino aprendizagem como uma

linguagem que possibilita ensinar e aprender os conteúdos de Geografia com auxílio das

representações.

Referências

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