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ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA MORADIA E A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO SOCIAL: UMA ANÁLISE DO CONJUNTO RESIDENCIAL BOSQUE DAS BROMÉLIAS, SALVADOR/BA Nadilson Ribeiro de Siqueira 1 Prof. Dr. Natanael dos Reis Bomfim 2 RESUMO Este artigo é resultado da pesquisa sobre as representações sociais da moradia na construção do espaço social do Conjunto Residencial Bosque das Bromélias (CRBB), em Salvador. A pesquisa teve como objetivo identificar as Representações Sociais sobre moradia a fim de orientar a elaboração de propostas de ações pedagógicas voltadas para a cidadania para serem desenvolvidas no CRBB do Programa Minha Casa Minha Vida-Entidades (PMCMV-E). Para tanto, o trabalho esteve ancorado na Teoria das Representações Sociais (TRS), pautando-se em dois processos que são examinados no âmbito do espaço social: a objetivação e a ancoragem, enquanto dimensão simbólica que é convertida em dimensão real e a realidade que adquire um ar simbólico, numa abordagem qualitativa e exploratória. Como resultado da pesquisa, identificou-se a necessidade do poder público instalar equipamentos urbanos e de infraestrutura visando atender as demandas dos moradores. Foi destacada a importância de implantação de escola e oferta de cursos profissionalizantes que possibilitem a geração de renda, o que, aliado a implantação de outros equipamentos urbanos e de serviços, podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos moradores do CRBB. Palavras-chave: Educação popular; Programa Minha Casa Minha Vida; políticas habitacionais; políticas sociais. INTRODUÇÃO 1 Arquiteto e Urbanista, Mestrando em Gestão e Tecnologias Aplicadas à Educação (GESTEC-UNEB),E-mail: [email protected] . 2 Pós-Doutor em Turismo Pedagógico pela Universidade de Sobornne, Paris I; PHD em Educação pela Universidade do Quebec em Montreal. Professor Titular da Universidade do Estado da Bahia, atuando no Programa de Mestrado e Doutorado em Educação e Contemporaneidade (PPGEduc) e no Programa de Mestrado Profissional em Gestão e Tecnologias Aplicadas à Educação (GESTEC-UNEB), E-mail: [email protected] .

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ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA MORADIA E A

CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO SOCIAL: UMA ANÁLISE DO CONJUNTO

RESIDENCIAL BOSQUE DAS BROMÉLIAS, SALVADOR/BA

Nadilson Ribeiro de Siqueira

1

Prof. Dr. Natanael dos Reis Bomfim2

RESUMO

Este artigo é resultado da pesquisa sobre as representações sociais da moradia

na construção do espaço social do Conjunto Residencial Bosque das Bromélias

(CRBB), em Salvador. A pesquisa teve como objetivo identificar as Representações

Sociais sobre moradia a fim de orientar a elaboração de propostas de ações pedagógicas

voltadas para a cidadania para serem desenvolvidas no CRBB do Programa Minha Casa

Minha Vida-Entidades (PMCMV-E). Para tanto, o trabalho esteve ancorado na Teoria

das Representações Sociais (TRS), pautando-se em dois processos que são examinados

no âmbito do espaço social: a objetivação e a ancoragem, enquanto dimensão simbólica

que é convertida em dimensão real e a realidade que adquire um ar simbólico, numa

abordagem qualitativa e exploratória. Como resultado da pesquisa, identificou-se a

necessidade do poder público instalar equipamentos urbanos e de infraestrutura visando

atender as demandas dos moradores. Foi destacada a importância de implantação de

escola e oferta de cursos profissionalizantes que possibilitem a geração de renda, o que,

aliado a implantação de outros equipamentos urbanos e de serviços, podem contribuir

para a melhoria da qualidade de vida dos moradores do CRBB.

Palavras-chave: Educação popular; Programa Minha Casa Minha Vida; políticas

habitacionais; políticas sociais.

INTRODUÇÃO

1 Arquiteto e Urbanista, Mestrando em Gestão e Tecnologias Aplicadas à Educação (GESTEC-UNEB),E-mail:

[email protected]. 2 Pós-Doutor em Turismo Pedagógico pela Universidade de Sobornne, Paris I; PHD em Educação

pela Universidade do Quebec em Montreal. Professor Titular da Universidade do Estado da Bahia, atuando no Programa de Mestrado e Doutorado em Educação e Contemporaneidade (PPGEduc) e no Programa de Mestrado Profissional em Gestão e Tecnologias

Aplicadas à Educação (GESTEC-UNEB), E-mail: [email protected].

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739

O cenário de mudanças na estrutura social, provocado pela globalização e pelo

mercado, tem favorecido, de forma crescente, a Educação Popular, que recebeu

destaque a partir do trabalho de Paulo Freire nos anos 1960, campo que mostra como a

conscientização e a organização podem contribuir para processos educativos nascidos

das necessidades do povo, sejam eles na forma de uma educação pública popular ou

educação comunitária e educação ambiental ou sustentável (FREIRE, 1974, p. 27).

Estas práticas compõem a ação de muitos educadores na atualidade, incorporando-se à

pedagogia universal. Como afirma Gadotti (2014), "a vinculação da educação popular

com o poder local e a economia popular abre, também, novas e inéditas possibilidades

para a prática da educação".

Esta proposta de pesquisa aplicada buscou desenvolver um trabalho junto aos

moradores do Conjunto Residencial Bosque das Bromélias (CRBB) com o objetivo

geral de identificar as Representações Sociais sobre moradia a fim de orientar a

elaboração de propostas de ação pedagógica voltadas para a cidadania a serem

desenvolvidas como parte do trabalho social existente no Programa Minha Casa Minha

Vida-Entidades (PMCMV-E). Tem por objetivos específicos: identificar as

Representações Sociais dos moradores do CRBB sobre moradia; identificar as

expectativas e necessidades dos moradores em relação à moradia e integrar as

representações dos moradores às possibilidades de aplicação desses conhecimentos às

novas propostas voltadas ao PMCMV-E.

As primeiras investidas do Governo Federal voltadas para a política

habitacional no país remontam aos anos de 1964 quando foram criados o Sistema

Financeiro da Habitação (SFH) e o Banco Nacional de Habitação (BNH). Nessa época,

também foi instituída a correção monetária para empreendimentos habitacionais de

interesse social com a edição da Lei nº 4.380/1964 (BRASIL, 2011).

A partir de 2009, a política habitacional do Governo Federal ampliou a

legislação para que vários segmentos sociais pudessem participar do programa de

construção de casas populares para famílias de baixa renda. Entre outras modalidades,

podemos destacar o Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR) e o PMCMV-E.

Estas duas linhas do programa estipulam valores para as construções e impõem

especificações mínimas para dimensionamento das Unidades Habitacionais (UH).

Como resultado, a proposta urbanística e de moradia fica a critério da flexibilidade de

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740

orçamento suportável pelo agente que irá construir, etapa em que é forte a influência das

leis de mercado. O Ministério das Cidades determina o valor a ser pago por cada

Unidade Habitacional (UH) o que reflete na qualidade das áreas escolhidas para

implantação do projeto e no partido arquitetônico adotado.

Percebemos várias distorções dentro dessas linhas do programa habitacional do

Governo Federal: em Salvador, a escassez de áreas que atendam às exigências do

programa leva a escolha de terrenos distantes dos serviços de infraestrutura e os valores

de mercado, quase sempre, determinam o partido arquitetônico de conjuntos

habitacionais verticais, com cinco pavimentos (térreo mais quatro). Para muitos

moradores, esta nova forma de habitar e de conviver é uma experiência completamente

nova e que nem sempre se dá de forma harmônica.

A homogeneização do produto habitacional, em muitos casos, se

incompatibiliza com as expectativas do futuro morador. Mecânicos, catadores,

lavadeiras são alguns exemplos de ocupações exercidas por famílias de baixa renda e

que prescindem de espaço físico para serem desenvolvidas. A recolocação dessas

famílias para conjuntos habitacionais lhes cria novas dificuldades de subsistência,

muitas vezes, intransponíveis, já que distancia o morador do seu local de trabalho ou

limita o espaço para desenvolvimento de suas atividades.

O programa prevê reuniões e debates com os beneficiários, promovidos pela

entidade que acompanha o projeto (Prefeitura, Governo do Estado, associação de

moradores etc.) para que se possam identificar as necessidades mais urgentes. Dessas

assembleias devem partir a proposta de um equipamento urbano, geralmente tendo

como opções uma Unidade Básica de Saúde ou uma Creche/Escola. A proposta dos

moradores é analisada pela equipe técnica da Caixa Econômica Federal que, uma vez

aprovando a sugestão, encaminha ao Ministério das Cidades para avaliação e posterior

contratação junto à construtora.

Em Salvador, dentre os conjuntos residenciais construídos para a população

carente por meio do financiamento do PMCMV-E, temos o CRBB, o maior conjunto

residencial urbano (em Salvador). Ele está localizado na Estrada Cia-Aeroporto e, na

primeira etapa finalizada em 2011, entregou 2.400 unidades habitacionais para famílias

com renda mensal até R$ 1.600,00.

741

741

O lugar é palco de vários conflitos internos, disputas entre representantes dos

moradores e conflitos de vizinhança; e externos, frequentemente divulgados pela mídia

e que denunciam a desassistência do Governo às necessidades mais urgentes, como

segurança, transporte e educação. Neste cenário, optamos, como objeto social a ser

estudado, pela moradia enquanto espaço social, e colocamos a seguinte questão da

pesquisa: quais as representações sociais da moradia, construídas pelos moradores do

CRBB?

Este trabalho teve por objetivo estudar essa realidade, partindo de como um

grupo de famílias de baixa renda vive, percebe e constrói o espaço em que habitam

(LEFEBVRE, 1986). Tal proposta, nascida de uma realidade atual vivida por

adquirentes de unidades do PMCMV-E, moradores do CRBB, objetiva contribuir para

minimizar conflitos e ampliar as possibilidades de organização e reivindicação,

concordando com o que sugere Bomfim e Rocha (2012), para quem a reconstrução do

espaço, pensado enquanto produção social, supõe o sentido que lhe é dado pelos

sujeitos.

METODOLOGIA

Nesta pesquisa, adotou-se a abordagem da Teoria das Representações Sociais

(TRS) por se ajustar bem à temática, pois busca identificar a validade das interações

sociais, considerando as vivências anteriores dos sujeitos e a opção por inserir-se em um

espaço social muitas vezes conflituoso e adverso. Em outras palavras, procurou-se

identificar como os atores sociais da pesquisa, moradores do CRBB, pensam e agem

sobre a moradia e as suas necessidades no espaço social. O conhecimento deste

conteúdo e de sua estrutura pode orientar ações e práticas socioeducativas para eles

(moradores) e com eles, no espaço social. Assim, o problema-motriz desta pesquisa

pode ser concentrado nas seguintes perguntas: Quais as representações sociais que os

moradores do CRBB têm sobre moradia? Quais as expectativas e necessidades dos

moradores em relação à moradia? De que forma estes atores entendem e exercem a

cidadania em seu espaço de moradia? A aplicação da TRS é fundamental na busca

destas respostas.

Este trabalho possui abordagem qualitativa e adotou-se o questionário como

instrumento de pesquisa, estruturado em três campos: perfil do entrevistado;

Representação Social do ideal de moradia e Representação Social da realidade de

742

742

moradia. O primeiro campo buscou coletar informações gerais como quantidade de

membros na família, residência anterior e tempo de moradia no CRBB. Na segunda

parte do instrumento, encontram-se as Representações Sociais a partir da palavra

indutora Moradia, coletando depoimentos que capturasse o ideal que cada entrevistado

possui em relação a este tema. Na terceira parte do questionário, recorremos à seguinte

indução: “Em relação ao Residencial Bosque das Bromélias, como você completaria a

frase: Que bom.../Que tal.../Que pena...”, como forma de se identificar Representações

Sociais da realidade sobre moradia por estes atores.

Como critério para seleção dos sujeitos da pesquisa, buscou-se priorizar

moradores com mais de 4 meses de residência estabelecida no CRBB, representantes de

família e atuantes nos movimentos internos de organização social. Esta identificação se

deu por meio de diálogos estabelecidos antes da aplicação do instrumento de pesquisa e

com a orientação de um líder comunitário local.

A partir dos 22 (vinte e dois) questionários preenchidos, foi estruturado o

corpus da análise e formatado para que fosse tratado no software IRAMUTEQ e

produzida a nuvem de palavras no site <http://www.wordle.net/>. O corpus obtido

possibilitou compreender como os moradores percebem o ambiente socioespacial em

que vivem, suas relações afetivas com o espaço e interpessoais, organização

comunitária, expectativas e reivindicações.

Assim, por meio da TRS, a partir dos postulados de Serge Moscovici, este

estudo buscou comparações entre o senso comum e as teorias científicas, observando a

construção das representações sociais e socioespaciais sobre um conjunto residencial

popular, construído dentro do PMCMV-E.

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE MORADIA DOS MORADORES DO

CRBB

A partir da análise das respostas ao questionário, apresentadas no Quadro 1, da

análise de ocorrências quantificadas pelo IRAMUTEQ e das Nuvens de Palavras

geradas pelo wordle.net (Figura 1) com o propósito de identificar as representações

sociais sobre “MORADIA”, foi observado que alguns dos sujeitos da pesquisa pensam

na moradia como uma habitação e outros já falam de uma forma mais abrangente,

incluindo os espaços de convívio social em suas considerações. Porém, todas as

respostas indicam a moradia ideal como um local de descanso, de convivência, de paz e

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743

de tranquilidade. Mais do que isso, para alguns, a palavra “MORADIA” remete à

realização de um sonho, a melhoria nas condições de vida e a expectativa de novas

conquistas sociais.

Então, percebemos que estas representações projetam valores e aspirações que

reforçam que as experiências no mundo social exprimem estas ideias, servindo-se dos

sistemas de códigos e interpretações fornecidos pela sociedade e projetando valores e

aspirações sociais (JODELET, 1990). Então, quando estes moradores projetam o

significado de moradia enquanto lugar seguro, confortável, que tenha tranquilidade,

paz, estas aspirações nos remete a questões subjetivas que envolve, ainda, a realização

de um sonho, fruto de muita luta, conforme pode ser identificado pela fala do Morador

11 (Quadro 1): “Luta. Eu lutei muito para minha casa. Se não fosse luta, a gente não

tinha moradia. Minha casa minha dívida. Então, se não fosse a luta, a minha casa

nunca tinha chegado”.

A Figura 1 apresenta uma classificação baseada no conteúdo da representação

social ancorada na moradia, que os moradores adquiriram e que possuem, objetivada no

lugar da família. Neste sentido, este espaço vivido é concebido num sentido simbólico

que vai além do espaço físico. Então, podemos dizer que este lugar (moradia) é

valorizado a partir de atributos sociais e espaciais que são traduzidos nas práticas e

aspirações humanas (BOMFIM e ROCHA, 2012).

É importante salientar que, conforme Jodelet (2005, p. 47) “os processos

constitutivos, a objetivação e a ancoragem, têm relação com a formação e o

funcionamento da representação social.”. Portanto, a objetivação para ela “explica a

representação como construção seletiva, esquematização estruturante, naturalização

[...]” (JODELET, 2005, p. 48). Já a ancoragem “explica a maneira pela qual as

informações novas são integradas e transformadas no conjunto dos conhecimentos

estabelecidos e na rede de significações socialmente disponíveis para interpretar o real,

[...]” (Idem, p. 48).

Quadro 1. Sistematização das respostas dos moradores ao questionário de pesquisa

Continua

Nº MORADIA QUE BOM QUE TAL QUE PENA

1 Tranquilidade, a segurança de ter alguma

casa própria.

A tranquilidade. Não vê

guerra não vê tiro.

Creche, posto de saúde, curso profissionalizante,

que dê renda.

Falta de consciência dos

moradores por causa do lixo.

744

744

Nº MORADIA QUE BOM QUE TAL QUE PENA

2

Paz, união, sossego, tranquilidade, ter uma

boa convivência, a união é

tudo.

O bom mesmo que acho

aqui é o respeito das pessoas à minha pessoa.

Escola, UPA, creche,

posto policial, ônibus, um mercado.

As pessoas têm que vender sua casa, porque não têm

como pagar sua casa, luz,

água.

3 Ter bom respeito com o próximo, educação,

cuidado com o ambiente.

Melhor que a casa anterior.

Morar de graça.

Apesar das dificuldades de transporte, não impede de

ter uma moradia boa.

Que necessita de um colégio, de um posto de saúde,

educação de criança, ônibus.

4 É área de lazer,

tranquilidade, paz.

A tranquilidade. A

moradia.

Posto de saúde, mercado,

transporte.

Essas barracas horrorosas acabando com a nosso

moradia.

5 Sossego, paz.

Nada. O meu apartamento

eu gosto. Vivo trancada o tempo todo.

Tirar todas estas pessoas,

mais nada.

Quando cheguei aqui,

arrebentaram minha

janela.

6 Paz, união, passeio. Me

divirto.

Moradia e uma paz, um

sossego. Durmo em paz. Nada me incomoda.

Eu não saio daqui, sou

muito apegada aqui.

Que não tem um colégio, um

mercado, uma UPA, um SAMU, transporte.

7

Moradia é um ambiente

saudável. Pessoas de classe social unidas, com índole,

cultura e uma boa

convivência. Dignidade.

A moradia em si. O apartamento também eu

gosto. O local.

De tudo um pouco;

escolaridade, assistência

a saúde, assistência

social.

O que eu não gosto daqui são

os tipos de alguns

moradores que denigrem a

imagem da convivência.

8

É uma conscientização de

estar no seu lar, para cuidar e manter sempre.

Que temos nossos lares, nossa casa própria para

viver com nossas famílias e

interagir com os vizinhos.

Colocar posto médico, escola, mercado,

empresas, área de lazer

para as crianças brincarem.

Que não temos uma

organização dos moradores para socializar um

condomínio.

9

Significa um passo de renovar e mudar para obter

uma vida de

tranquilidade, conforto e muita prosperidade.

A moradia.

Um posto de saúde, uma

creche, escola e melhorias

no transporte.

Que não temos opções boas

de transporte e

atendimento na área de

saúde, creche, escola para

ajudar as mães para

conseguir trabalhar.

10

Lugar certo para uma moradia. Sair do aluguel.

Segurança de ter uma casa

própria.

A vizinhança e o bairro.

Mais ônibus, farmácia,

supermercado, posto

médico, escola e creche.

Maus tratos dos animais,

invasões. Cuidar dos quiosques e jardins.

11

Luta. Se não fosse luta, a

gente não tinha moradia.

Minha casa minha dívida.

Força de vontade das

pessoas de quererem

unificar as lutas e a

cobrança dos órgãos competentes.

Foi onde deus me deu a

minha casa. Tá melhorando devido as

Várias reivindicações.

Que muitas pessoas não

deram valor e venderam

suas casas. O governo é culpado por ter tirado das

suas localidades e não deu

suporte.

12 Porto seguro e realização. Que o governo ajudou o

movimento social.

Se tivesse escola, posto de

saúde, supermercados. Não termos transporte.

13

Uma vida digna. Ter um

lugar confortável para a

sua família. Um lugar

seguro, limpo confortável.

É um lugar lindo,

maravilhoso para se viver.

O verde é muito lindo de ver.

Construção de uma UPA,

centro de saúde 24 horas, escola, transporte para o

centro da cidade e ter um

CEP para correio.

Faltou educar a população para conservar o lugar onde

moram.

14 É a realização de um

grande sonho.

Poder entrar e sair sem se preocupar com o aluguel.

Ter certeza de ter um

lugar meu.

O governo criar

possibilidade de podermos

cuidar do que é nosso. Prometer cursos de

capacitação e cumprir.

O residencial ser construído

sem escola, posto médico, mercado.

15

É um lugar bom,

tranquilo, que não tenha violência, que não tenha

drogas. Preferia casa à

apartamento.

A única coisa que eu acho

de bom aqui são os

parques. Mas, estão todos quebrados.

Colocar uma pracinha.

Botar ônibus, segurança e um posto de saúde.

Aquele ponto está sendo

assaltado.

O fedor do lixo e a muita

vagabundagem, que usa

drogas na frente das crianças.

16

Um sonho ter minha moradia própria. Ótimo,

por que não vai morar de

aluguel.

Que a gente tá na nossa moradia. Tem as coisas

desagradáveis, mas isso

deus vai dar um basta.

Vi esses apoios. Esses

cursos para chamar a

atenção de quem não faz nada, passar a ter

conhecimento.

A noite a gente não pode sair.

6 horas não sai para lugar

nenhum. Não são todos, mas por causa de um, a gente

sofre.

17

Um lugar que possamos

estar em espaço livre. É um sonho realizado e

muitos que vêm por ai.

O clima, a floresta o ar.

Mudarmos tudo que nos

rodeiam. Se pudéssemos

qualificar.

Se no lugar das drogas e bandidagem, tivessem mais

cursos e proposta de emprego

pra estas pessoas. Falta

transporte etc.

745

745

Nº MORADIA QUE BOM QUE TAL QUE PENA

18

O nosso próprio lar. É ter aonde descansar, refletir e

viver. É poder dizer que

tem seu próprio e viver

com sua família.

Ter a casa própria, a tranquilidade.

Se houvesse mais

interação dentre os moradores de todos os

blocos.

Ainda não tem nossa

própria escola e ter um

custo de vida tão alto.

19

Uma das melhores coisas é a pessoa ter onde morar.

Ter um lugar onde você

pode se sentir bem.

Amizade, os alunos do

futebol, da capoeira, do boxe, do grupo de dança.

Graças a Deus, tive o

privilégio de morar aqui e

hoje é um dos melhores lugares e não pretendo sair

daqui tão cedo.

Que algumas pessoas não se

comprometem com os próximos e nem a si mesmos.

20 Local de descanso após um dia de trabalho. Onde a

família se reúne etc.

Temos residência fixa. Não preciso mais pagar aluguel

nem mudar daqui para ali.

Escola mais próxima para

nossos filhos. O transporte ser caótico.

21

Habitação de uma pessoa no lugar. A pessoa viver

feliz, morar numa

habitação certa, gostar de

onde morar.

O ambiente é bom. As pessoas procuram ao

máximo resolver os

problemas da moradia. Os

moradores são unidos.

Mais ônibus, uma creche, as pessoas mais unidades,

que as pessoas gostem de

onde moram, área de lazer

e um supermercado.

Mais segurança, mais cursos

técnicos. Ter sempre reunião pra resolver os problemas do

bairro.

22

Moradia é bom. Saí de

onde estava e vim para um lugar melhor.

Eu gosto da moradia. As

crianças brincam na frente da casa.

Se tivesse um parquinho.

Um local de encontro.

Que não tem colégio, posto

médico, creche. Disseram que vinham fazer e nada.

Figura 1. Nuvem de palavras: representações sociais sobre moradia.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2014.

746

746

Figura 2. Nuvem de palavras: expressão “QUE BOM”.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2014.

Em suma, a moradia é o “porto seguro” para estas pessoas e sua aquisição

representa uma conquista: é a concretização de um sonho, é o lugar da convivência, é o

lugar da família. Assim, a representação social que os moradores do CRBB,

participantes da pesquisa, têm de moradia indicam como positiva e benéfica a mudança

para o CRBB. Isso também pode ser constatado pelas respostas obtidas a partir da

expressão “QUE BOM” (Quadro 1 e Figura 2). Ao responderem a questão, sete sujeitos

da pesquisa colocam a unidade habitacional ou a moradia como boas e cinco colocam

com bom o fato de

terem conquistado

a casa própria e não terem

que viver de aluguel ou

ficar na insegurança

de ter de se mudar.

Também foi

apresentado, por quatro

moradores, que uma das

coisas boas do CRBB é a tranquilidade.

Então, analisando as Figuras 1 e 2 percebe-se que as palavras se repetem e

reforçam a compreensão sobre o que os sujeitos da pesquisa pensam sobre moradia, o

que nos faz compreender que cada realidade social é dotada de inteligibilidade própria e

747

747

nesta são inseridas normas, interesses coletivos, valores e princípios morais. Isso

significa que para este grupo social pesquisado este lugar de moradia evidencia uma

relação entre a afetividade

que o sujeito tem com o espaço

vivido, percebido e pensado que

foi estruturado nas suas relações e

experiências socioespaciais.

Em relação às respostas

obtidas a partir da expressão

“QUE TAL” (Quadro 1 e

Figura 3), apenas quatro moradores não apresentaram, em sua resposta, a necessidade

de equipamentos urbanos ou melhoria no transporte. Vale destacar que doze sujeitos da

pesquisa sinalizaram a necessidade de implantação de escola ou curso profissionalizante

que possibilite a geração de renda, como pode ser observado na resposta do Morador 1

(Quadro 1): “[...] Eu queria curso profissionalizante, não de meio ambiente ou cultura,

que não vai dar renda”.

Em relação às respostas obtidas a partir da expressão “QUE PENA” (Quadro 1

e Figura 4), dez moradores apresentaram a falta de equipamentos urbanos ou de

transporte. Assim, ao analisarmos as respostas obtidas a partir das expressões “QUE

TAL” e “QUE PENA”, observamos a necessidade do governo prover o CRBB de

equipamentos urbanos, principalmente devido à localização do CRBB, ou seja, a

distância entre o Residencial e escolas, creches, supermercados, postos de saúde e

policial. A distância do centro também implica na necessidade de um sistema de

transporte público mais eficaz, que atenda as necessidades dos moradores. Esta indução,

QUE PENA, resultou em discursos mais longos e com diversidade de informações. A

“robustez” da nuvem produzida denuncia em que área da percepção os moradores se

sentem mais à vontade e familiarizados.

Figura 3. Nuvem de palavras: expressão “QUE TAL”.

748

748

Fonte: Elaborado pelos autores, 2014.

Figura 4. Nuvem de palavras: expressão “QUE PENA”.

Fonte: Elaborado

pelos autores,

2014.

Ainda neste campo, contatou-se que a falta de uma ação pedagógica e de

orientação com foco na urbanidade durante a seleção dos beneficiários do PMCMV-E e

ao longo do processo de instalação das famílias em suas unidades habitacionais têm

levado a vários problemas internos. A “falta de consciência” e de “cidadania” de alguns

moradores, conforme identificado em algumas respostas à expressão “QUE PENA”,

refletem os conflitos advindos da convivência imposta pela relocação de famílias sem se

considerar, para efeito de ações educacionais, a história e identidade das famílias. Estas

realidades heterogêneas trazidas pelos sujeitos e vivenciadas em coordenadas urbanas

tão distantes deveriam ser identificadas e consideradas nas ações de assistência social

previstas pelo PMCMV-E.

A análise do espaço urbano, do espaço de vivência, a partir das percepções dos

749

749

moradores, pode fornecer material que fundamente uma prática educacional voltada

para a cidadania, partindo de um novo desafio de gestão social, considerando as

variáveis acima e fundamentada nos pressupostos colocados por Paulo Freire. No

Brasil, as mudanças políticas, econômicas e sociais, marcadas pela globalização e pelo

mercado, formatam novos conceitos no campo da gestão social, exigindo atualização

das configurações da relação Estado/Sociedade. Para Maia (2005), na conceituação de

gestão social, a democracia e a cidadania estabelecem suas bases. Segundo a autora,

gestão social é “[...] um conjunto de processos sociais com potencial viabilizador do

desenvolvimento societário emancipatório e transformador, [...], com efetiva

participação dos cidadãos.” (MAIA, 2005, p. 15-16).

Nessa linha, Freire (1983) defende que a mudança na percepção da realidade

acontece a partir de uma atuação consciente e reflexiva do sujeito, transformando e

sendo transformado pelo espaço social em que vive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise deste trabalho nos traz elementos significativos que podem contribuir

na elaboração de novas propostas para o PMCMV-E e PNHR, entre eles destacamos:

(a) apenas o lugar para morar não atende as necessidades de moradia das pessoas;

(b) as propostas do PMCVMV-E têm que dialogar com o poder público local de forma

intersetorial que vise dar condições básicas de sobrevivência a estes moradores,

inclusive possibilitando a formação profissional para geração de renda;

(c) ações educativas, visando tanto a formação cidadã, como a formação profissional,

devem ser desenvolvidas desde a seleção dos beneficiários até a consolidação do

conjunto residencial com a implantação dos equipamentos urbanos e serviços de

infraestrutura, e a organização de entidade de gestão social; e

(d) os projetos de moradia financiados pelo PMCMV devem contemplar não apenas as

unidades habitacionais, mas também, obrigatoriamente, a implantação de

equipamentos urbanos e serviços de infraestrutura, tais como educação, saúde e

lazer, enquanto garantia de direitos dos cidadãos e atendendo ao conceito mais

amplo de MORADIA.

Com a pesquisa, pode-se constatar a necessidade de implantação de

equipamentos urbanos: creche, posto policial, posto de saúde ou unidade de pronto

atendimento (UPA); mercado e melhoria do transporte no CRBB. De acordo com o

750

750

objetivo da pesquisa, destacamos a importância da implantação de uma escola que

atenda as crianças e jovens na formação correspondente à educação básica (ensinos

fundamental e médio), e aos jovens e adultos promovendo a formação profissional em

cursos de formação inicial e continuada ou qualificação profissional e em cursos da

educação profissional técnica de nível médio. Assim, qualquer proposta de ação

pedagógica para o CRBB deverá ter como base a história e identidade desses sujeitos,

trabalhando na preparação para o trabalho e a formação de um profissional cidadão

histórico-crítico.

REFERÊNCIAS

BOMFIM, Natanael Reis; ROCHA, Lurdes Bertol (Orgs.). As representações na

Geografia. Ilhéus/BA: Editus, 2012.

BRASIL. Demanda habitacional no Brasil/Caixa Econômica Federal. Brasília:

CAIXA, 2011. Disponível em: <http://downloads.caixa.gov.br/_arquivos/

habita/documentos_gerais/demanda_habitacional.pdf>. Acesso em: 16 out. 2014.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. São Paulo: Paz e Terra, 1983.

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