a produÇÃo contemporÂnea de artes...
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A PRODUÇÃO CONTEMPORÂNEA DE ARTES VISUAIS: UM CAMPO
EXPANDIDO PARA DISCUSSÃO E PRODUÇÃO EM SALA DE AULA
DIEFENBACH, Carine A.1
MOMOLI, Daniel Bruno 2
RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo buscar nas artes visuais contemporâneas sua potência
para trabalhar seus temas em sala de aula, afim de desenvolver uma formação mais
crítica e reflexiva de alunos da educação básica . Optou-se pela abordagem das artes
visuais contemporâneas no campo expandido. Por meio de pesquisa bibliográfica em
materiais como livros, trabalhos científicos e sites foram investigados o potencial do
ensino da arte contemporânea na escola e suas possibilidades, a partir da busca em sua
história, seus principais objetivos com a cultura e com a sociedade, levantando
produções de artistas que ali deixaram suas marcas para que a arte contemporânea se
tornasse o que ela é hoje. Essa pesquisa tem por finalidade contribuir com o mundo
imagético que vivemos. Uma arte que provoca o olhar do aluno a uma realidade que não
pode ser desperdiçada. Entender sua importância e suas possibilidades é fazer com que
nossos alunos transpassem fronteiras pré-estabelecidas pelas mídias, é libertar nossos
alunos, fazendo-os se tornarem leitores críticos dentro e fora da sala de aula, seres
humanos que reflitam sobre questões e situações do seu próprio dia-a-dia. Para
realização desta pesquisa me embasei em autores como ARCHER (2001) que aborda o
surgimento da arte contemporânea, seus objetivos e essência cultural e social, a
arte/educadora BARBOSA (1998) que fala sobre a importância do ensino da arte no
currículo escolar e no livro organizado por OLIVEIRA E HERNÁNDEZ (2005) que
traz textos reflexivos de autores tratando sobre a formação do professor e o Ensino das
Artes Visuais como potência nos dias atuais. Através dessa análise foi possível
compreender a importância que possuí trabalhar o conteúdo arte contemporânea na sala
de aula como potência, traçando assim ligações com a sociedade e o mundo.
1 Carine Armani Diefenbach, formada em Artes Visuais pela instituição VIZIVALI, cursando pós-
graduação em Metodologia do Ensino de Artes pelo Centro Universitário UNINTER. Email: [email protected] 2 Daniel Bruno Momoli – Mestre em Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRGS (2013). É Professor da Faculdade Vizinhança Vale do Iguaçu – VIZIVALI; Da Universidade Alto Rio do Peixe – UNIARP em Caçador e da Universidade do Contestado UnC de Curitibanos. Email: [email protected]
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Palavras chave: Artes Visuais. Arte contemporânea. Educação.
1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa que leva como tema “A produção contemporânea de artes
visuais: um campo expandido para discussão e produção em sala de aula”, busca
investigar a potência do ensino da arte contemporânea na escola e seus reflexos na
sociedade, permite entender a importância e a emergência que há em um ensino focado
na atualidade, compreendendo a arte contemporânea como meio de transformação do
ser humano em um ser crítico e leitor visual.
A partir de estudos e vivências em sala de aula como professora de Arte e
fotografia artística, percebo a necessidade de trabalhar com algo que desperte o
interesse dos alunos, com conteúdo que leve os alunos a interpretar e conhecer melhor
seu meio, que trabalhe com questões que emergem da sociedade, assim levando os
alunos a desenvolverem o raciocínio crítico e reflexivo.
O texto apresenta inicialmente a abordagem sobre as artes visuais
contemporâneas e em sua sequência uma discussão que tende a aproximar a produção
visual contemporânea e a escola e por fim a metodologia do trabalho realizado e as
considerações finais.
2 A PRODUÇÃO CONTEMPORÂNEA DE ARTES VISUAIS
Para a compreensão sobre a Arte Contemporânea, serão trabalhados temas que
envolvem as produções deste conceito estético que segundo Archer compreender o
período entre os ano 1960 e 1980. Pois, segundo autor arte contemporânea, não é o
mesmo que a arte contemporânea a nosso tempo, é necessário que se entenda que existe
uma produção que nos é contemporânea, e um conjunto de produções adjetivadas como
contemporâneas devido suas características.
Para se compreender este pensamento, precisamos conhecer um pouco a história
da Arte contemporânea, surgida na metade do século XX, após a segunda guerra
mundial e que se prolonga até os dias de hoje, desconstruindo tudo que se conhecia por
arte (pintura, escultura, arquitetura), propostas pela Arte Moderna e as Vanguardas
Modernistas.
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Sabemos que a produção artística vem se modificando de acordo com as
demandas da sociedade e esta, após a primeira e segunda guerra mundial, passou a
clamar por mudança, por melhores condições para o ser humano, e exigiu pensar no
próprio ser humano como fonte de vida, de sabedoria e de existência, o que levou a
discutir e questionar seu próprio meio, reflexões do pós-guerra que levaram vários
artistas e críticos a pensarem nessa existência, nesse ato de se sensibilizar e discutir
situações no campo político, social e cultural.
Pode-se tomar como ponto de partida de uma revisão histórica da arte
contemporânea o movimento dadaísta, surgido na Europa em 1916, a partir de revoltas e
desgostos de jovens artistas que viviam naquele período conturbado que era a primeira
guerra mundial. Como se refere De Micheli, sobre os jovens e intelectuais daquela
época:
A impaciência de viver era grande, o desgosto aplicava-se a
todas as formas da civilização dita moderna, as suas próprias
bases, à lógica, à linguagem, e a revolta assumia formas em que
o grotesco e o absurdo superavam de longe os valores estéticos.
(DE MICHELI, 2004, p. 131)
Os artistas dadaístas buscavam desconstruir tudo que se conhecia por arte com o
objetivo de romper com as formas da arte tradicional e com o racionalismo que
predominava nas produções artísticas. Para isso, se apropriavam de objetos comuns do
cotidiano e os apresentaram de forma diferente, dentro de um contexto artístico.
Nesse âmbito, Marcel Duchamp (1887-1968), artista francês, e principal
representante do movimento dadaísta, trouxe essa discussão para o meio artístico,
lançando um novo conceito como valor estético. Duchamp contestou os valores
estéticos tradicionais, quebrando com os parâmetros do que se considerava arte, ao
apresentar um urinol como obra de arte. O artista mudou a posição de uso do objeto,
incluiu a inscrição “R.Mutt – 1917” e denominou a obra como “Fonte”. Como podemos
ver na figura 1:
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Figura 1: DUCHAMP, Marcel.
Fonte, 1917. Site: Arte Fonte de Conhecimento, 2010.
A proposta de Duchamp consistia na utilização artística de objetos produzidos
em série, sendo que essas obras foram denominadas como readymades. Duchamp
através destes, pedia que o observador “pensasse sobre o que definia a singularidade da
obra de arte em meio à multiplicidade de todos os outros objetos” (ARCHER, 2008, p.
3). O objetivo de Duchamp era fazer o observador identificar o motivo pelo qual o
objeto estava ali, o porquê de ter sido retirado de seu local de uso e exposto como objeto
artístico. Duchamp declarou:
[...] que queria matar a arte (“para mim”), mas suas tentativas
persistentes de desconstruir o quadro de referências alteraram a
nossa maneira de pensar, estabelecendo novas unidades de
pensamento, „um novo pensamento para aquele objeto‟ (apud
FERREIRA e COTRIM, 2006, p. 204).
Trata-se de um questionamento sobre a ideia do que é arte, ou do que pode ser
considerado como arte. Assim se expandindo para um conceito, definindo um tema, que
passa a ser a ideia da obra, a base fundamental, abrindo fronteiras disciplinares e
explorando novas formas de se pensar a arte. Diante disso, Marcel Duchamp é um
importante marco para a teoria da arte contemporânea por redefinir o conceito de arte da
produção artística, desarticulando a técnica, o produto do conceito artístico e dando
ênfase ao pensamento e ao processo de criação.
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Outro importante artista que foi um marco para as artes visuais contemporâneas
é Andy Warhol (1928-1987). A partir da produção de Warhol abre-se uma discussão
sobre temas presentes na própria sociedade, através do movimento da “pop art”, surgido
na década de 1950 e que ganhou maior repercussão na década seguinte. Warhol passa a
trazer referências midiáticas para o trabalho artístico, porém sem a conotação da
contemplação ou da idealização, e sim por acreditar que um objeto jamais perde sua
referência cotidiana.
Dessa maneira, Warhol passa a se ocupar de símbolos, objetos, imagens
presentes em seu cotidiano. Assim, o trabalho de Wahrol fazia crítica ao consumismo e
à sociedade de consumo, sendo seu principal objetivo aproximar a arte com a vida das
pessoas. O artista se apropriava de produtos industrializados conhecidos mundialmente
para fazer suas críticas, como suas pinturas subsequentes com múltiplas imagens de
garrafas de coca-cola, como podemos observar na figura 2:
Figura 2: WARHOL, Andy. Coca-cola 5, 1962.
Fonte: Site Adbranch, 2010.
A repetição estava ligada à forma como a sociedade é induzida pela mídia.
Warhol mencionava: “nós bebemos coca-cola e nenhuma soma de dinheiro dará ao
presidente dos EUA uma garrafa melhor do que aquela que o vagabundo da esquina
bebe” (apud ARCHER 2001, p.11). Através de suas produções, Warhol aponta que a
sociedade se deixa influenciar facilmente pelas produções em massa, se baseando
somente no que a mídia dita como melhor.
Nesse contexto, a arte passa a invadir nosso mundo se apropriando de nossos
problemas e inquietações, absorvendo ambientes inteiros, indo além das paredes,
expandindo para fora da obra. Para isso, artistas utilizavam, além da pintura em tela,
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fios de nylon, arames, que transpassavam a tela, invadindo o local do observador, como
a produção de Eva Hesse “pendurar, 1966”. Podemos observá-la na figura 3 abaixo:
Figura 3: HESSE, Eva. Pendurar, 1966.
Fonte: http://protensiones.blogspot.com.br/2012/08/eva-hesse.html.
Nesta obra podemos ver uma grande moldura retangular exposta na parede,
dentro dela saí uma haste fina de metal que chega até o chão tocando-o e voltando
novamente para dentro da moldura. Percebemos que há um diálogo permanente entre
obra e seu espaço físico, um complementando o outro. Nesse período, as esculturas
passaram a ser penduradas, desafiando a noção de peso. Como comenta Tessler: “os
referenciais entraram em desequilíbrio” (TESSLER, 1997, p.18).
Todos os aspectos que eram tomados como referência, de base artística,
acabaram sofrendo mudanças, acompanhando as mutações sociais, surgindo, assim,
outras tendências: conceitual, Arte Povera, Processo, Land Arte e outros, que
desconsideram a “obra de arte” como um fazer técnico, feito de materiais restritos, a
pincéis e tintas caríssimas, molduras trabalhadas a ouro e esculturas a bronze e
mármore, uma “produção artística” com fruição, cujas obras são fundamentadas por um
conceito, feitas com objetos, signos, símbolos, elementos já existentes, que fazem parte
da vida do ser humano. Como explica Archer:
A conseqüência do afrouxamento das categorias e do
desmantelamento das fronteiras interdisciplinares foi uma
década, da metade dos anos 60 e meados dos anos 70, que a
arte rompeu fronteiras, assumindo muitas formas e nomes
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diferentes: conceitual, Arte Povera, Processo, Anti-forma,
Land, Ambiental, Body, Performance e Política. Estes e outros
têm suas raízes no Minimalismo e nas várias ramificações do
Pop e do realismo. (ARCHER, 2001, p. 61).
A arte passa a pensar sua própria existência, os artistas buscam significado para
se fazer arte, construindo suas produções com “liberdade e autonomia”, não precisando
ter uma técnica de pintura apurada e nem ter estudado nas melhores escolas acadêmicas,
como as escolas de Belas Artes, para que sua obra seja reconhecida.
A arte passa a se desenvolver explorando maneiras de dialogar com a sociedade,
formas de se discutir questões emergenciais e com isso expandindo territórios. As
produções artísticas contemporâneas abrem espaço para que isso aconteça, sendo
apresentadas de forma a abordar uma poética, com a intenção de propor um diálogo, não
com a obra em si, mas com seu conceito, sendo este um diálogo sobre seu próprio meio.
Como menciona Archer:
Em vez de perguntar o que uma peça significa, isto é, tentar
descobrir o que o artista está tentando nos dizer, agora era mais
apropriado para o “receptor” considerar de que maneiras a
informação dada poderia ser significativa. (ARCHER, 1991,
p.78)
Nesse tempo de mudanças, houve uma grande preocupação que emergia dos
artistas em relação aos espaços da arte, se seu lugar era apenas em galerias e museus ou
lugares externos, públicos.
Essas indagações também fizeram com que a produção artística expandisse,
transpassa-se além das fronteiras pré-estabelecidas pelos museus. Nos dias de hoje nos
deparamos com a arte não apenas em museus, mas em galerias, instituições, em nossas
praças, ruas, calçadas, etc.
Pensar a Arte Contemporânea é pensar o diálogo, um jogo recíproco entre a
realidade que se vive, a ideia/tema que é abordada para se discutir e a representação,
pois na arte contemporânea, o discurso artístico é elaborado problematizando questões
que inquietam a sociedade. Desse modo, o trabalho é produzido pelo artista para que
possa ser discutido pelas pessoas. Assim Archer se refere;
A arte contemporânea está intimamente conectada com a
linguagem, havendo entre elas uma relação recíproca, uma
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relação direta de forma e material, prática e interpretação,
imagem e comentário, formando um coletivo, um discurso
trazido pelos seus próprios agentes, seus produtores.
(ARCHER, 1991, p.85-86).
A obra de arte contemporânea não é uma mera representação de algo, mas um
questionamento que provoca a reflexão sobre a própria linguagem artística, como se
observa, por exemplo na obra de Magritte “A traição das imagens (1929)” em que há a
representação de um cachimbo e logo a baixo escrito “Isto não é um cachimbo”
(ARCHER, 2001, p.87)
Mas esse é o propósito da arte, questionar, intrigar o observador não o fazendo
entender tudo de imediato, mas sim fazê-lo ir à busca pelo conhecimento, adquirindo-o,
buscando assim um novo olhar para aquela obra e para vida. Para Lewitt, “a ideia de
onde a obra provém não era suficiente em si mesma. Era, antes de mais nada, a ideia de
fazer aquela obra de arte; sua força, ou a falta desta, não se revela até que a obra esteja
completa.” (LEWITT apud ARCHER, 2001, p. 71). Archer se refere;
O modo como uma obra se encaixava na história sucessiva dos
objetos era de menor importância que as conexões por ela forjadas
com seu contexto, e este contexto era tão político quanto visual,
espacial ou estético. (...) O contexto agora era mais do que o
ambiente crítico fornecido pelas revistas especializadas; era o mundo
como um todo. (ARCHER, 2001, p. 118)
É nesse mundo como um todo que precisamos, nós como educadores, levar a arte
para a sala de aula, fazer a leitura com os alunos, mostrar que em cada imagem existe
uma história, um contexto, ideologias que precisam ser lidas para que a imagem tenha
significado, não se deixando levar simplesmente por elas sem compreender a dimensão
das informações que podem se transmitidas por meio de uma imagem publicitária, por
exemplo. Em relação ao período que vivemos hoje, Séc. XXI;
No mundo alienado em que vivemos, a realidade social precisa
ser mostrada no seu mecanismo de aprisionamento, posta sob
uma luz que devasse a “alienação” do tema e dos personagens.
A obra de arte deve apoderar-se da platéia não através da
identificação passiva, mas através de um apelo à razão que
requeira ação e decisão. (FISCHER, 2007, p.15)
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A arte contemporânea está presente em nosso meio, na sociedade com o objetivo
de chamar a atenção do povo para a observação, para a leitura de imagem, para uma
iniciativa de formulação de julgamento, não quer pessoas caladas, anônimas e
submissas, ela quer um povo que enxergue a realidade a sua volta e se posicione, fale,
questione, se intrigue e se liberte de preconceitos.
Ana Mae Barbosa ressalta a importância do ensino da arte;
A arte na educação como expressão pessoal e como cultura é um
importante instrumento para a identificação cultural e o
desenvolvimento. Através das artes é possível desenvolver a
percepção e a imaginação, apreender a realidade do meio
ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo analisar
a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a
mudar a realidade que foi analisada. (BARBOSA, 1998, p.16)
A arte possui maior compromisso com a cultura e com a história, sendo um
importante instrumento para a identificação cultural, por nela haver registros, símbolos
e signos que comprovam tal existência. Assim a arte contemporânea possui um
comprometimento com a sociedade, pois artistas produzem a partir de questões que
emergem dela. Contudo o ensino da arte ativa os sentidos transmitindo significados,
ampliando o olhar para uma análise reflexiva e crítica da imagem, realizando uma
contextualização histórica, social e cultural, refletindo em seu desenvolvimento criativo
e na realidade onde está inserida.
Ana Mae Barbosa menciona que:
Nossa concepção de história da arte não é linear mas pretende
contextualizar a obra de arte no tempo e explorar suas
circunstâncias. Em lugar de estarmos preocupados em mostrar a
chamada “evolução” das formas artísticas através do tempo,
pretendemos mostrar que a arte não está isolada de nosso
cotidiano, de nossa história pessoal. (BARBOSA, 2007, p.19)
Através da contextualização, sustentamos nossas reflexões, explorando as
circunstâncias de cada imagem, dando a elas significâncias, pois a arte esta ligada a
política, cultura, economia, padrões sociais, questões estas que fazem mover uma
sociedade e necessitam ser vistas e analisadas através da leitura de obras artísticas e
imagens que se encontram em nosso meio.
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2.1. APROXIMANDO AS ARTES VISUAIS CONTEMPORÂNEA DA ESCOLA
Sendo assim, podemos dizer que a arte contemporânea permite uma fruição e
uma reflexão fundamentadas por um conceito. Podemos observar ao nosso redor a
quantidade de imagens que tomam conta de nosso cotidiano nos transmitindo
informações diversas. Torna-se importante traçarmos uma crítica a elas. A arte
contemporânea nos propõe perceber e interpretar o mundo, sendo necessário o professor
instruir e trabalhar com o olhar do aluno para realização de uma análise sensível e
racional das imagens que o cercam. Deve-se fazer com que o aluno esteja aberto para
esse momento de reflexão, de forma a olhar para um filme, uma novela, ou um simples
cartaz e ali buscar seu significado. Como Buoro menciona:
Se somos capazes de construir um conhecimento que sustente
nossa argumentação sobre futebol, por certo poderemos sê-lo
também no que diz respeito a construir um conhecimento em
arte que aguce nossas percepções, bem como nos capacite a ler o
mundo com olhares revigorantes e revigorados. (BUORO, 2002,
p.26-27)
Para que haja uma construção de um olhar mais sensível e crítico sobre as
imagens que estão expostas na sociedade, é necessário que haja uma educação para isso,
educadores capacitados para atender a essa necessidade. Ao perguntarmos para os
alunos quantas imagens que viram desde quando acordaram, responderiam: - Um monte.
Mas se perguntarmos de quais que se lembram, ficariam pensativos, não sabendo
responder, pois foram imagens observadas rapidamente, não foram “lidas” e não
estimularam a reflexão. A única mensagem que nosso olho capta é a que a mídia busca
trazer, uma ideologia artificial que muitas vezes nos consome e aliena. Como se refere
Medeiros;
A que imagens são sensíveis quando, nas ruas, a violência pulula, e
nas imagens publicitárias, nos programas televisivos seres perfeitos
sorriem com dentes perfeitos? Para sensibilizar essa massa de
indivíduos isolados para a arte, faz-se necessário primeiramente
alertá-los para a violência que se submetem em seus parcos momentos
de lazer: bombardeamento de imagens e solidão. A arte é apenas um
grito abafado nesse ensurdecedor barulho gerado nas mentes pela
televisão e pela publicidade. (apud OLIVEIRA e
HERNÁNDEZ,2005,P.80).
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A relevância de abordar o conteúdo arte contemporânea na escola está na
diversidade de experiências que ela apresenta, desde temas contemporâneos, materiais
diversificados que podem ser encontrados em qualquer escola, ou qualquer casa, como
por exemplo, linha, tecidos, papéis, móveis, utensílios em geral, revistas, sucatas, entre
outros, e a relação que podemos traçar com outras áreas do conhecimento. Outro motivo
importante são as relações que podemos fazer com a vida, temas como exemplo:
racismo, preconceito, política, moda, tempo, memória, entre outros, trazendo uma
aproximação maior com a vida e sua constante mutabilidade, que a torna um importante
veículo para a produção de sentidos, para entendermos melhor o mundo.
Buoro aborda a carência que há nas escolas por um ensino voltado a leitura de
imagem, a imagem como linguagem, carregada de símbolos e signos;
Buoro lembra que ainda hoje não existem, nas escolas, conteúdos que
possibilitem aos educadores adotarem um modo de conhecimento do
mundo pela via da visualidade. Essa carência na formação escolar faz
com que não considerem as imagens como textos visuais, como
linguagem significante e carregada de informações e, por isso, acabam
estabelecendo com elas relações “frouxas e pouco significativas”.
(apud OLIVEIRA e HERNÁNDEZ, 2005, p.191,).
O ensino da arte contemporânea possibilita estabelecer uma relação mais aberta
com a sociedade, a partir da leitura e decodificaçãod os códigos presentes nas obras de
arte, nas imagens que estão presentes e que fazem parte do nosso cotidiano, se fazendo
necessário para não nos tornarmos consumidores passivos, e para assim resignificar
nossa experiência no mundo, sensibilizando nosso olhar sobre a realidade que nos cerca.
Assim, se torna importantíssimo levar a arte contemporânea para dentro da sala
de aula, uma arte que carrega uma poética sobre a atualidade, fala e discursa sobre o
nosso cotidiano, nossa vida, sobre as distintas culturas e questões que permeiam nossas
vidas, assim teoricamente, se tornando mais acessível para a discussão entre os alunos,
que de certa forma, perceberiam a arte mais próxima de suas vidas e, conseqüentemente,
se tornando mais significativa para suas vidas.
2.1 METODOLOGIA
O desenvolvimento do presente trabalho ocorreu através de pesquisa descritiva,
caracterizando-a como pesquisa qualitativa, ou seja, os dados não tiveram formulação
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matemática. Fopi de caráter exploratório, pois buscou as percepções e entendimentos
sobre a natureza geral do tema de estudo e abriu espaço para a interpretação e
formulação das considerações apresentadas.
A abordagem de pesquisa utilizada, é bibliográfica, como aponta Demo (2008,
p.24): “através da qual tomamos conhecimento da produção existente, podemos aceita-
la e com ela dialogar criticamente”. Assim através de estudos em livros, artigos
científicos e pesquisa em sites, foi possível buscar um entendimento sobre como surgiu
a arte contemporânea, seus objetivos com a sociedade e a cultura e sua importância no
currículo escolar, tanto para o entendimento e crescimento cultural do ser humano como
para seu desenvolvimento crítico e reflexivo na sociedade.
Para este artigo, foram desenvolvidas análises aprofundadas em autores como
Michel Archer que aborda o surgimento da arte contemporânea, seus objetivos e
essência cultural e social; a arte/educadora Ana Mae Barbosa que fala sobre a
importância do ensino da arte no currículo escolar; no livro organizado por Oliveira e
Hernández que traz textos reflexivos de autores tratando sobre a formação do professor
e o Ensino das Artes Visuais como potência nos dias atuais. Através dessas pesquisas é
possível compreender a importância que possui o ensino da arte contemporânea como
potência nas aulas de arte e suas ligações com a sociedade nos dias de hoje.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das pesquisas sobre o tema “A produção contemporânea de artes
visuais: um campo expandido para discussão e produção em sala de aula” passamos a
conhecer melhor o processo histórico e cultural da arte contemporânea, seu nascimento
e formação, e artistas que colaboraram para que esta arte se expandisse e desenvolvesse
a necessidade de se trabalhar a arte contemporânea na sala de aula. Como Teixeira
afirma, fazemos parte da “civilização da imagem”, vivemos rodeados por elas, e cada
uma é carregada de significados e ideologias que, muitas vezes, por falta de uma análise
visual, acabam nós influenciando e nos condicionando à sua ideologia.
Contudo se torna essencial uma prática artística que priorize a atualidade, um
estudo que fale e instigue uma reflexão sobre o período do agora, traçando análises
sobre imagens que fazem parte do dia-a-dia dos alunos. São estas que os inquietam, são
estas que os formam, condicionando a construir suas identidades. Então, nós, como
educadores artísticos, precisamos estimular o olhar dos nossos alunos a interagir com as
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obras de arte e imagens que estão presentes no seu cotidiano, saindo da mera
contemplação para a decodificação de símbolos e signos, formas e cores, representações
estas carregadas de história e com uma linguagem que precisa ser lida e analisada,
transformando o aluno de um mero receptor passivo para um interventor, alterando
radicalmente a imagem, trazendo-lhe vida e significado.
Para nós foi de grande importância este estudo, pois através das leituras e
pesquisas passamos a entender melhor a arte contemporânea, assim descobrindo sua
essência e seu grau de importância para o ensino em Artes, pois a arte contemporânea
leva os alunos a refletir sobre a obra. Atuando sobre o desenvolvimento sociocultural
do aluno, expandindo fronteiras, transformando-os em leitores críticos dentro e fora da
sala de aula. E é isso que precisamos para os dias de hoje, leitores visuais aptos a viver
dentro de uma sociedade visual.
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