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http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 A EXPANSÃO URBANA E AS CONSEQUÊNCIAS PARA CABECEIRAS DE DRENAGEM: UM ESTUDO DE CASO NAS NASCENTES DO CÓRREGO VERTENTE 1 – UBERABA – MG Juliana Paula da Silva Rodrigues Universidade Federal de Goiás [email protected] INTRODUÇÃO A ocupação urbana, associada ao pouco ou nenhum planejamento, ocasiona inúmeras alterações do meio físico, no qual se encontra a cidade, propiciando a ocorrência de diversos impactos ambientais. Como consequências dessa ocupação desordenada do meio urbano têm se a retirada da vegetação natural, a ocupação de áreas com riscos de deslizamentos, uso e ocupação desordenada do solo, aumento das áreas urbanas impermeabilizadas, ampliação das taxas de escoamento superficial o que pode gerar processos erosivos nas encostas, assoreamento dos rios e enchentes na área urbana. O que se intensifica com a constante expansão urbana. Em áreas urbanas um dos exemplos que pode-se mencionar de ação antrópica que influencia nos impactos ambientais é a construção de loteamentos, sendo que um desses impactos consiste no aparecimento de processos erosivos, pois tem se uma desproteção do solo e uma concentração de águas superficiais devido à diminuição ou inexistência de área de infiltração e à necessidade de canalizar o esgoto das estruturas locais. Sendo que quando há sistemas apropriados de condução das águas, o problema pode ter origem no ponto de lançamento das águas captadas. Pois, os incrementos das vazões, por ocasião das chuvas intensas, aliadas às alterações no nível freático, fazem com que a dinâmica do processo seja acelerada. (IDE, 2009) Outra consequência da ocupação desordenada das cidades diz respeito à 1182

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A EXPANSÃO URBANA E AS CONSEQUÊNCIASPARA CABECEIRAS DE DRENAGEM: UM ESTUDO

DE CASO NAS NASCENTES DO CÓRREGOVERTENTE 1 – UBERABA – MG

Juliana Paula da Silva Rodrigues

Universidade Federal de Goiás

[email protected]

INTRODUÇÃO

A ocupação urbana, associada ao pouco ou nenhum planejamento, ocasiona

inúmeras alterações do meio físico, no qual se encontra a cidade, propiciando a ocorrência

de diversos impactos ambientais.

Como consequências dessa ocupação desordenada do meio urbano têm se a

retirada da vegetação natural, a ocupação de áreas com riscos de deslizamentos, uso e

ocupação desordenada do solo, aumento das áreas urbanas impermeabilizadas, ampliação

das taxas de escoamento superficial o que pode gerar processos erosivos nas encostas,

assoreamento dos rios e enchentes na área urbana. O que se intensifica com a constante

expansão urbana.

Em áreas urbanas um dos exemplos que pode-se mencionar de ação antrópica

que influencia nos impactos ambientais é a construção de loteamentos, sendo que um

desses impactos consiste no aparecimento de processos erosivos, pois tem se uma

desproteção do solo e uma concentração de águas superficiais devido à diminuição ou

inexistência de área de infiltração e à necessidade de canalizar o esgoto das estruturas

locais. Sendo que quando há sistemas apropriados de condução das águas, o problema

pode ter origem no ponto de lançamento das águas captadas. Pois, os incrementos das

vazões, por ocasião das chuvas intensas, aliadas às alterações no nível freático, fazem com

que a dinâmica do processo seja acelerada. (IDE, 2009)

Outra consequência da ocupação desordenada das cidades diz respeito à

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preservação dos recursos hídricos, estando as nascentes, muitas vezes, propensas à

degradação, apesar de serem elementos de suma importância na dinâmica hidrológica.

Pois, constituem focos da passagem da água subterrânea para a superfície e pela formação

dos canais fluviais, sendo importantes para a recarga dos aquíferos.

Segundo a resolução nº 303 do CONAMA estabelece-se que “nascente ou olho

d’água é o local onde aflora naturalmente, mesmo que de forma intermitente, a água

subterrânea” (BRASIL, 2002. Art. 2º, II). Essa definição é o ponto de partida para a gestão

ambiental, pois a partir dela, são definidas as áreas de preservação permanente.

A cidade de Uberaba, na qual ocorreu a sua ocupação ao entorno do Córrego

das Lajes, tem sofrido diversos impactos ambientais urbanos provenientes de sua formação

e expansão sem o devido planejamento.

Portanto, o presente artigo, fruto da monografia em Geografia, tem por objetivo

discorrer sobre as consequências da implantação de um loteamento nas proximidades da

cabeceira do Córrego Vertente 1, um dos afluentes do Córrego das Lajes, em Uberaba- MG.

Localização e caracterização da área de estudo:

A área do presente estudo encontra-se no perímetro urbano de Uberaba.

Cidade esta que se localiza no estado de Minas Gerais, mais precisamente no Triângulo

Mineiro.

A cidade de Uberaba (MG) encontra-se localizada no interior da bacia do Córrego

das Lajes. Esta bacia possui 26,38 km2 e é afluente esquerdo do Rio Uberaba e está

densamente ocupada pela população, conforme observada na figura 1, já ultrapassado pela

mancha urbana do município os limites da bacia.

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Figura 1: Mapa de localização da bacia do córrego das Lajes - Uberaba (MG)

Autor: SILVA, R. T. S. Org.: RODRIGUES, J. P.S

Conforme afirma Carvalho (1998) em seu processo histórico de crescimento

urbano, o Córrego das Lajes vem tendo suas águas, e de seus afluentes, utilizadas em

diversos momentos e de diferentes formas. Portanto, as primeiras moradias da cidade

foram construídas nas proximidades do córrego, o que facilitava o abastecimento. Assim, a

formação e expansão urbana de Uberaba se deram ao entorno do mesmo.

A área de estudo do presente trabalho, a bacia do Córrego Vertente 1, conforme

figura 2, é uma das sub-bacias do Córrego das Lajes, está localizada a NE do perímetro

urbano, onde encontra- se as nascentes. Podendo ser caracterizada a partir do uso e

ocupação do solo, sendo este marcado pela densa ocupação da população, estando seu

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entorno margeada por moradias, na maioria dos casos, condomínios fechados. Várias vias

públicas e há a presença de uma linha férrea. Na área, tem-se a presença de um

reservatório de contenção, conhecido como “piscinão”.

Figura 2: Localização da bacia Córrego das Lajes e a área de estudo em destaque

Fonte: Prefeitura Municipal de Uberaba (2009) modificado por RODRIGUES (2013)

Devido à utilização associada à recreação e lazer que, ao entorno do “piscinão”,

foi criado o Parque das Acácias, que possui uma pista para caminhada, quadras para prática

de esportes e aparelhos de ginástica. A criação desse parque, consequentemente, valorizou

a área ao seu redor, que até então, (conforme figura 3) possuía um menor adensamento

populacional, conforme pode ser observado em imagem do Google Earth de 2006, período

em que o mesmo ainda se encontrava em fase de construção. A valorização imobiliária

nessa área atraiu empreendimentos para a construção de condomínios fechados ao redor,

alguns voltados para as classes mais altas da população, como é o caso do residencial

Flamboyant.

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Figura 3: Situação em que se encontrava a área de estudos antes da inauguração do Parque dasAcácias, 2006

Fonte: Google Earth

METODOLOGIA

Inicialmente, para a metodologia deste trabalho, com objetivo de estudar sobre

a análise de bacias hidrográficas em áreas urbanas, assim como o que já está escrito

referente ao córrego da presente pesquisa e as características ambientais da área, foi

realizada uma revisão de literatura bibliográfica, incluindo livros, artigos, teses e

dissertações. Esta etapa prosseguiu durante toda a pesquisa, com o intuito de aprofundar

nos temas referentes aos estudos de impactos ambientais, sobretudo em área urbanas,

paisagem e teoria geossistêmica.

A metodologia de análise foi pautada nos diferentes estudos como: Beltrame

(1995) que propõe estudo em bacias hidrográficas; Coelho Neto (2003) e análise de bacias

hidrográficas, mais especificamente da evolução das cabeceiras de drenagem; Bertrand

(1972) a partir de sua análise da paisagem; Tricart (1977) com a teoria dos meios

ecodinâmicos; Casseti (1991) e a compartimentação da paisagem; Christofoletti (1999) e a

teoria sistêmica nos estudos ambientais; Ross (1990) com suas contribuição para o

entendimento da paisagem e Guerra (2010, 2012) com os estudos ambientais, mais

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precisamente os realizados em áreas urbanas;

De modo geral, a metodologia de análise teórica utilizada no presente trabalho

foi a teoria geossistêmica, uma vez que esta permite uma análise integrada da paisagem.

Sendo assim, a paisagem foi analisada como base na teoria dos meios ecodinâmicos de

Tricart (1977) e Christofolett (1999) com suas contribuições através da teoria sistêmica nos

estudos ambientais. Nesse sentido a paisagem foi entendida como a resultante dos diversos

elementos que a compõe, e tendo seu equilíbrio regulado pelos fluxos de matéria e energia.

Foram realizados trabalhos de campo na área com o intuito de se fazer uma

análise da sua atual situação, bem como o uso e ocupação do solo e os principais impactos

ambientais provenientes das ações antrópicas, sobretudo após a implantação do

loteamento na área de estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir das análises do uso e ocupação do solo na sub-bacia foi possível

constatar que a mesma encontra-se altamente urbanizada, devido à criação de vários

loteamentos ao seu redor. O que provocou diversas consequências à bacia hidrográfica,

pois “as alterações impostas ao meio físico (ou aos seus componentes) pelo homem,

implementadas mediante ocupação desordenada, exploração e utilização predatória dos

recursos naturais, resultam em impactos negativos, tanto para o meio físico quanto para o

meio biótico.” (COSTA, 2008, p.28).

Além do loteamento (Figura 4), há ainda presença de pequena propriedade rural

com atividade pecuária. Nas áreas onde não esta impermeabilidade devido à construção

dos arruamentos, tem-se o solo caracterizado como pastagem e solo exposto. A jusante da

área de estudo encontra-se a bacia de contenção. Nas proximidades da bacia de contenção,

devido à valorização da área, tem-se a presença de condomínios fechados, voltados para as

classes mais altas da população. Essa densa ocupação populacional gera diversas

consequências para conservação dos cursos hídricos na área urbana. Uma vez que, segundo

Tucci & Collischonn (1998):

À medida que a cidade se urbaniza, em geral, ocorrem os seguintes impactos: (i)

aumento das vazões máximas (em até 7 vezes, Leopold, 1968) devido ao

aumento da capacidade de escoamento através de condutos e canais e

impermeabilização das superfícies; (ii) aumento da produção de sedimentos

devido a desproteção das superfícies e a produção de resíduos sólidos (lixo); (iii)

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deterioração da qualidade da água, devido a lavagem das ruas, transporte de

material sólido e as ligações clandestinas de esgoto cloacal e pluvial. (p. 2)

Podendo ocasionar ainda o aumento na frequência das enchentes “não só pelo

aumento da vazão, mas também pela redução de capacidade de escoamento provocada

pelo assoreamento dos condutos e canais”. (TUCCI & COLLISCHONN, 1998, p. 2)

Figura 4: Loteamento de casas populares na área de estudo

Autor: RODRIGUES, J. P. S (2013)

A área de estudo vem sofrendo diversos danos provenientes às ações

antrópicas, primeiramente devido à canalização do córrego das Lajes nas porções mais

baixas, o que esta ocasionando que este sistema busque novas formas de equilíbrio, o que

pode ser evidenciado no aparecimento de processos erosivos a montante do córrego. E,

posteriormente, devido à expansão urbana ao redor da nascente, que pode se observado

pelas obras de infraestrutura da prefeitura ao redor da área para a implantação de ruas

para a construção de um loteamento de casas populares.

A construção desse loteamento ocasionou mais degradação à área, pois esse

tipo de obra altera o uso do solo. Uma vez que para a criação de loteamentos urbanos, estes

são precedidos por intensa atividade de retirada da cobertura vegetal, movimentação de

volumes de terra e desestruturação da camada superficial de solo. E essa camada superficial

do solo, tendo sua estrutura alterada, torna-se menos resistente à erosão. (TUCCI et al.

1998)

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Figura 5: Obras para a implantação do loteamento

Autor: RODRIGUES, J.P.S. (2013)

As obras para a criação desse loteamento (figura 5) tem ainda como

consequência um aumento na produção de sedimentos que, posteriormente, vão sendo

depositados no curso d’água, pois os solos “ficam expostos para erosão no lapso de tempo

entre o início do loteamento e o fim da ocupação. Quando a bacia urbana está

completamente ocupada e o solo praticamente impermeabilizado, a produção de

sedimentos tende a decrescer.” (TUCCI & COLLISCHONN, 1998)

Outras consequências das obras que ocorreram na área foram a retirada de

vegetação e de solos pelas máquinas (figura 6), o que gerou uma maior fragilidade deste

solo. Pois a retirada de vegetação assim como revolvimento deste solo interfere na coesão

dessas partículas, tornando este solo mais susceptível a ter partículas arrastadas pela

enxurrada.

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Figura 6: retirada de solo e vegetação para a implantação do loteamento

Autor: RODRIGUES, J. P.S. (2013)

Associada a textura do solo nessa área, com a presença da argila, que cria uma

zona compactada, grande parte dos sedimentos menores que encontra-se acima tendem a

ser arrastados em um evento chuvoso.

Figura 7: Foto panorâmica da área de estudo no período das obras

Autor: NEVES, S. A.(2013)

Foi possível observar também, na ocasião, que nas obras havia o intuito de se

despejar os dejetos do loteamento nas proximidades da área das nascentes (figura 7), o que

posteriormente foi modificado, pois as obras, nesse local, foram abandonadas.

A alta taxa de impermeabilização do solo no entorno da área, devido à densa

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ocupação populacional, aumenta as taxas de escoamento superficial. Esse escoamento

acaba por gerar processos erosivos nas encostas, o que se intensifica em consequência do

uso e ocupação do solo, pois na área que ainda não é asfaltada, o solo é caracterizado com

área de pastagem e solo exposto. Os arruamentos das partes altas dos loteamentos ao

redor faz com que água da chuva escoe sentido nascente, fazendo com que a declividade

aumente a energia cinética da chuva.

A alta taxa de impermeabilização do solo ao redor da área da nascente,

associada ao solo exposto, que se encontra bem próximo a rua, aumenta a quantidade de

água que escoa nessa superfície, uma vez que nessa área não há vegetação que possa

“barrar” o escoamento, o que acaba por acarretar um aumento na quantidade de

sedimentos transportados.

A enxurrada que chega pelos arruamentos não traz apenas sedimentos, mas

também grande quantidade de lixo. Bem próximo à rua tem se a formação de processos

erosivos que devido à forma que já se encontram, futuramente, tende a se tornar ainda

maiores.

Figura 8: Sulcos no solo e presença de lixo

Autor: RODRIGUES, J. P. S. (2013)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se afirmar, a partir de todas as análises realizadas, que a área de estudo

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encontra-se bastante fragilizada. Como consequência das modificações antrópicas, esse

sistema buscou uma nova forma de equilíbrio, alterando a sua dinâmica natural.

A alta taxa de impermeabilização do solo, em seu entorno, proveniente da

expansão urbana, faz com que se tenha um aumento do escoamento superficial em

detrimento da infiltração. O aumento do escoamento superficial, por sua vez, intensifica o

aparecimento de processos erosivos. E como consequência da diminuição da infiltração,

tem se uma perda no abastecimento de água no lençol subterrâneo, uma vez que a área de

recarga foi diminuída.

O aumento da taxa de sedimentos sendo arrastados e depositados a jusante,

devido ao aumento do escoamento superficial, pode acarretar um assoreamento desse

córrego assim como uma diminuição da vida útil da bacia de contenção devido a grande

quantidade de sedimentos que estão sendo depositados.

Como a área a montante das nascentes era uma área de contribuição de

recarga, que agora encontra-se diminuída devido a intensa urbanização, o que provocou

uma diminuição na infiltração. Com isso a tendência da nascente é recuar a jusante, tendo

um rebaixamento do nível do freático, alterando a capacidade de reposição de água.

Descaracterizando assim a área úmida, o que deixa de ser protegida por lei, permitindo a

ocupação e exploração da área. Estando a existência dessa nascente comprometida

futuramente.

Algumas recomendações para diminuição da degradação da área são: proteger

as cabeceiras de drenagem mantendo ou recuperando a vegetação arbórea, não só na área

da APP, mas também na área ao em torno, permitindo uma maior infiltração da água que

vai contribuir para o abastecimento dos lençóis subterrâneos; impedir a entrada do gado na

área de proteção permanente a fim de se diminuir a compactação dos solos.

E medidas relacionadas à drenagem urbana, ou seja, buscando medidas que

propiciem a contenção do escoamento próximo ao local onde ele está sendo gerado, tais

como superfícies de infiltração, valetas de infiltração abertas, bacias de percolação e

pavimentos porosos (CANHOLI, 2005). Além de planejamento urbano a fim de evitar que os

desenhos dos arruamentos permitam a concentração demasiada do escoamento

superficial.

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http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

A EXPANSÃO URBANA E AS CONSEQUÊNCIAS PARA CABECEIRAS DE DRENAGEM: UM ESTUDO DE CASO NAS NASCENTES DO CÓRREGO VERTENTE 1 – UBERABA – MG

EIXO 4 – Problemas socioambientais no espaço urbano e regional

RESUMO

O êxodo rural possibilitou um crescimento urbano desordenado, com a ocupação de locais

inapropriados, causando impactos ambientais em áreas urbanas. Como consequências dessa

ocupação desordenada do meio urbano têm se a retirada da vegetação natural, a ocupação de

áreas com riscos de deslizamentos, uso e ocupação desordenada do solo, aumento das áreas

urbanas impermeabilizadas, ampliação das taxas de escoamento superficial o que pode gerar

processos erosivos nas encostas, assoreamento dos rios e enchentes na área urbana. O que se

intensifica com a constante expansão urbana. A cidade de Uberaba, na qual ocorreu a sua

ocupação ao entorno do Córrego das Lajes, tem sofrido diversos impactos ambientais urbanos

provenientes de sua formação e expansão sem o devido planejamento. Portanto, o presente

artigo, fruto da monografia em Geografia, tem por objetivo discorrer sobre as consequências da

implantação de um loteamento nas proximidades da cabeceira do Córrego Vertente 1, um dos

afluentes do Córrego das Lajes, em Uberaba- MG. A proposta metodológica pautou-se em uma

revisão bibliográfica referente aos estudos ambientais, sobretudo aos impactos ambientais em

áreas urbanas, cabeceiras de drenagem, teoria geossistêmica. De modo geral, a metodologia de

análise teórica utilizada no presente trabalho foi a teoria geossistêmica, uma vez que esta permite

uma análise integrada da paisagem. Foram realizados trabalhos de campo na área com o intuito

de se fazer uma análise da sua atual situação, bem como o uso e ocupação do solo e os principais

impactos ambientais provenientes das ações antrópicas, mais precisamente da implantação do

loteamento. A partir das análises realizadas em campo, assim como de imagens de satélites, foi

possível constatar que a área de estudo vem sofrendo diversos danos provenientes às ações

antrópicas, primeiramente devido à canalização do córrego das Lajes nas porções mais baixas, o

que esta ocasionando que este sistema busque novas formas de equilíbrio, o que pode ser

evidenciado no surgimento de processos erosivos a montante do córrego. Processos esses que

foram intensificados devido à implantação do loteamento, pois este tipo de obras é precedido por

intensa atividade de retirada da cobertura vegetal, movimentação de volumes de terra e

desestruturação da camada superficial de solo, camada esta que fica mais susceptível à erosão.

Tem se ainda como consequência um aumento na produção de sedimentos que, posteriormente,

vão sendo depositados no curso d’água, ocasionando o assoreamento do córrego. Como a área a

montante das nascentes era uma área de contribuição de recarga, que agora se encontra

diminuída devido à intensa urbanização, o que provocou uma diminuição na infiltração. Com isso a

tendência da nascente é recuar a jusante, tendo um rebaixamento do nível do freático, alterando a

capacidade de reposição de água. Estando a existência dessa nascente comprometida

futuramente.

Palavras-chave: expansão urbana; cabeceira de drenagem; impactos ambientais.

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