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http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 IMPACTOS PLUVIAIS E SUAS IMPLICAÇÕES NO DISTRITO FEDERAL NO ANO CHUVOSO DE 2006 Lucas Lima Coelho Universidade de Brasília [email protected] Lucas Garcia Magalhães Peres Universidade de Brasília [email protected] Dra. Ercília Torres Steinke Universidade de Brasília [email protected] INTRODUÇÃO Após a segunda metade do século XX, por meio do salto científico e tecnológico obtido durante e após Segunda Guerra Mundial, os fenômenos climáticos puderam ser monitorados com maior precisão. Posteriormente, as mudanças climáticas passaram a ser consideradas como um dos grandes desafios a serem enfrentados pela humanidade no século XXI, principalmente devido ao alarde da comunidade científica para as consequências que essas mudanças ocasionariam a nível global (MOLION, 2007; STEINKE, 2012). Com o passar dos anos, as mudanças climáticas se tornaram objeto de preocupação a tal ponto que a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), em 1988, e o tema também esteve em pauta na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), ocorrida em 1992, no Rio de Janeiro. Em 1997, a ratificação política do Protocolo de Quioto por diversos países impulsionou a superexposição de fenômenos como o buraco na camada de ozônio, o efeito estufa e mais recentemente o aquecimento global, todos direta ou indiretamente relacionados às estas mudanças, apesar de haver controvérsias 2651

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IMPACTOS PLUVIAIS E SUAS IMPLICAÇÕES NODISTRITO FEDERAL NO ANO CHUVOSO DE 2006

Lucas Lima Coelho

Universidade de Brasília

[email protected]

Lucas Garcia Magalhães Peres

Universidade de Brasília

[email protected]

Dra. Ercília Torres Steinke

Universidade de Brasília

[email protected]

INTRODUÇÃO

Após a segunda metade do século XX, por meio do salto científico e tecnológico

obtido durante e após Segunda Guerra Mundial, os fenômenos climáticos puderam ser

monitorados com maior precisão. Posteriormente, as mudanças climáticas passaram a ser

consideradas como um dos grandes desafios a serem enfrentados pela humanidade no

século XXI, principalmente devido ao alarde da comunidade científica para as consequências

que essas mudanças ocasionariam a nível global (MOLION, 2007; STEINKE, 2012).

Com o passar dos anos, as mudanças climáticas se tornaram objeto de

preocupação a tal ponto que a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Painel

Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), em 1988, e o tema também esteve

em pauta na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento

(CNUMAD), ocorrida em 1992, no Rio de Janeiro. Em 1997, a ratificação política do Protocolo

de Quioto por diversos países impulsionou a superexposição de fenômenos como o buraco

na camada de ozônio, o efeito estufa e mais recentemente o aquecimento global, todos

direta ou indiretamente relacionados às estas mudanças, apesar de haver controvérsias

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entre os cientistas sobre esses assuntos. A demasiada atenção dada a esses fenômenos teve

um rebatimento direto sobre mídia, a qual passou a associar a maior parte dos desastres

naturais – que têm ocorrido em quantidade e intensidade consideráveis nos últimos anos –

como consequência da suposta mudança climática pela qual a Terra vem passando

(ARMOND e SANT’ANNA NETO, 2012).

No Distrito Federal, o processo de midialização1 dos fenômenos climáticos não é

diferente das outras escalas; midialização aqui entendida como o processo de divulgação e

reprodução de um fato, fenômeno ou processo nos diversos meios da mídia (Franzão Neto,

2006). Somado a isto, a região vem apresentando, há alguns anos, inúmeros casos de

transtornos urbanos ligados à precipitação que tem afetado diretamente a população, e

como era de se esperar, os habitantes das regiões periféricas são os mais atingidos. As

vulnerabilidades naturais de determinadas áreas quando associadas às vulnerabilidades

sociais levam a inúmeras perdas – financeiras, materiais e de vidas – sendo que o dano

resultante depende da capacidade da população de resistir a um evento extremo (STEINKE,

2004; STEINKE et al., 2006).

Nesse contexto, o presente trabalho teve como objetivo identificar as principais

ocorrências de problemas urbanos relacionados e/ou expostos pelas chuvas e a distribuição

espacial desses no DF, analisando as publicações diárias de notícias do jornal Correio

Braziliense e também dados de postos pluviométricos da Companhia de Saneamento

Ambiental do Distrito Federal (CAESB), com intuito de verificar os impactos sobre a

sociedade brasiliense no ano de 2006. A importância desse estudo se dá pelo fato de que

durante o período supracitado, o DF apresentou inúmeros transtornos relacionados à

precipitação, que tiveram sua intensidade amplificada pela abundância de chuvas

concentradas em alguns meses, como é o caso de outubro de 2006. O estudo também

atende às recomendações de Monteiro (1969) e Zavattini (2003), que chamam atenção para

a carência de estudos climáticos no Planalto Central.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A transformação do espaço pelo homem na natureza, por meio da técnica, cria

os ambientes urbanos, consequência dos excedentes da produção agrícola, que são

representados no espaço geográfico pelas cidades. Por sua vez, as cidades já surgem com

inúmeras contradições: ao mesmo tempo em que são aprazíveis e com ótimas condições

1 Termo cunhado por Franzão Neto (2006).

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para o desenvolvimento da vida do homem, são também, em grande parte, desagradáveis,

degradadas e altamente problemáticas (Castells, 2002; Davis, 2006). Mendonça (2004, p.

186) pondera – em uma perspectiva mais integrada com a natureza – que “a cidade [...] não

é somente uma construção humana; ela é esta construção somada a todo um suporte que a

precedeu – Natureza – mais as atividades humanas”.

O desenvolvimento do capitalismo, à medida que ocorreu, criou na cidade seu

ponto de gestão, concentração e acumulação. O espaço urbano – devido aos fluxos do

capitalismo – está em constante reorganização espacial, seja adquirindo novas áreas para se

desenvolver, seja renovando a própria área urbana, seja ampliando uso da terra: está

sempre em transformação, pois os interesses do capital são variáveis. Essa combinação de

fatores faz com que o espaço seja ao mesmo tempo fragmentado e articulado (CORRÊA,

1993; CORRÊA, 1997).

De acordo com Christofoletti (1997), o clima é um dos aspectos que manifesta a

relação entre a sociedade e organização socioeconômica de um espaço urbano, sendo uma

interface do contraste entre o ambiente natural e o construído, pois é um dos elementos

caracterizadores do espaço da cidade. Barreto (2008, p. 8) corrobora essa afirmação,

quando diz que:

O clima constitui-se, assim, no resultado de um processo complexo, envolvendo

todos os componentes terrestres em uma variabilidade temporal e espacial.

Portanto o clima pode ser considerado como um dos elementos definidores e

um fator configurador da paisagem de um lugar.

Em vista das repetidas ocorrências dos problemas urbanos relacionados à chuva

no Brasil, diversos estudos já foram realizados sobre o assunto. Por exemplo, Teodoro

(2008) tratou sobre planejamento urbano e problemas na cidade de Maringá (PR) e para

realizar seu trabalho associou os dados de precipitação com informações obtidas nos

jornais, tendo como resultado a associação entre o número de notícias publicadas sobre o

assunto com o aumento da precipitação.

Outros estudos realizados tratam sobre a relação da mídia com os fenômenos

climáticos que ocasionam problemas para a sociedade. Cambra e Coelho Netto (1997),

utilizaram dados meteorológicos e notícias dos jornais impressos Jornal do Brasil e O Globo,

produziram um trabalho sobre as chuvas no Rio de Janeiro no mês de março de 1993, onde

constataram que a ocupação dos morros e encostas pelas favelas em alguns bairros da

cidade, em curso desde a década de 40, nos primórdios da industrialização brasileira,

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resultou em um aumento do fluxo superficial das águas provenientes da chuva, que, por

conseguinte, provocou alagamentos e enchentes, já que o sistema de drenagem pluvial

urbano não foi readequado para expansão da cidade. Souza (2007), ao estudar a relação

entre clima e saúde em ambientes urbanos, com ênfase em problemas respiratórios,

utilizou notícias de jornais para verificar como a imprensa refletia os problemas enfrentados

pela população. Seus estudos procuraram identificar com mais detalhes para além da

pesquisa quantitativa a relação entre eventos climáticos extremos e suas consequências e

as enfermidades do aparelho respiratório.

No Distrito Federal, o trabalho de Coelho et al. (2013), realizado por meio de

notícias do jornal Correio Braziliense, buscou verificar a intensidade dos impactos

relacionados à precipitação de mais de 2000 mm anuais registrados em algumas estações

da CAESB no ano de 1992. Os autores constataram que o alto montante acumulado de

chuva se deu em razão de um forte fenômeno El Niño-Oscilação Sul que se deu no período

que compreende os anos de 1990-1993 e que as áreas mais afetadas no período

corresponderam às mesmas que Barreto (2008) havia apresentado para um período

posterior, como Ceilândia e Samambaia, mostrando assim a reincidência dos impactos

pluviais sobre essas localidades.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Caracterização da área de estudo

A área utilizada para este trabalho corresponde ao Distrito Federal (DF),

localizado no Planalto Central do Brasil, na região Centro-Oeste. De acordo com o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o DF possui área de 5.802 km², tendo como

limítrofes: o paralelo 15º 30’ S ao Norte, o paralelo 16º 03’ S ao Sul, a Leste o rio Preto e a

Oeste o rio Descoberto. O DF também é compreendido politicamente em 31 Regiões

Administrativas (RA), conforme a Figura 1: Brasília (RA I), Gama (RA II), Taguatinga (RA III),

Brazlândia (RA IV), Sobradinho (RA V), Planaltina (RA VI), Paranoá (RA VII), Núcleo Bandeirante

(RA VIII), Ceilândia (RA IX), Guará (RA X), Cruzeiro (RA XI), Samambaia (RA XII), Santa Maria (RA

III), São Sebastião (RA XIV), Recanto das Emas (RA XV), Lago Sul (RA XVI), Riacho Fundo (RA

XVII), Lago Norte (RA XVIII), Candangolândia (RA XIX), Águas Claras (RA XX), Riacho Fundo II

(RA XXI), Sudoeste / Octogonal (RA XXII), Varjão (RA XXIII), Park Way (RA XXIV), Setor

Complementar de Indústria e Abastecimento – SCIA (RA XXV), Sobradinho II (RA XXVI), Jardim

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Botânico II (RA XXVII), Itapoã (RA XXVIII), Setor de Indústria e Abastecimento – SIA (RA XXIX),

Vicente Pires (RA XXX) e Fercal (RA XXI).

Figura 1. Cartograma das Regiões Administrativas do Distrito Federal em sua atual configuração.

Fonte: Google Imagens.

Quanto à geomorfologia, Steinke (2003) dividiu as unidades morfológicas do

Distrito Federal em quatro padrões segundo o grau de dissecação do relevo e a posição

altimétrica, a saber: Padrão Aplainado Superior; Padrão Aplainado Inferior; Padrão em

Colinas e Padrão Dissecado. Esses padrões condicionam a hidrografia da região, cujos

cursos d’água pertencem às três Regiões Hidrográficas mais importantes da América do Sul:

a bacia do Paraná (Rio São Bartolomeu, Lago Paranoá, Rio Descoberto, Rio Corumbá e Rio

São Marcos), bacia do São Francisco (Rio Preto) e bacia do Tocantins (Rio Maranhão). O

padrão encontrado determina a ocorrência de rios de planalto e de grande quantidade de

canais de primeira ordem e de nascentes.

Quanto ao clima, o Distrito Federal está sujeito à predominância das seguintes

massas de ar: massa Tropical Atlântica (mTa) que, devido à ação persistente do Anticiclone

Semifixo do Atlântico Sul, possui atuação relevante durante o ano todo. Durante o verão a

massa Equatorial Continental (mEc), atraída pelos sistemas depressionários do interior do

continente, como a Baixa do Chaco, tende a avançar do NW, ora para SE, ora para ESE,

atingindo a região, onde provoca elevação das temperaturas, sendo responsável ainda pelo

aumento da umidade e das precipitações. Essas massas de ar, associadas à posição

geográfica da região permitem observar dois períodos marcantes, um seco e outro chuvoso.

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De maneira geral é possível afirmar que o período compreendido entre os meses de maio a

setembro (seco) possui as seguintes características: intensa insolação, pouca nebulosidade,

forte evaporação, baixos teores de umidade no ar, pluviosidade reduzida e grande

amplitude térmica (máximas elevadas e mínimas reduzidas). O inverso se dá no período

chuvoso, que vai de outubro a abril. O comportamento anual da chuva e da temperatura do

ar no Distrito Federal é mostrado no Gráfico 1 (STEINKE, 2004).

Gráfico 1. Variação anual do total mensal de precipitação e da média mensal da temperatura do ar noDistrito Federal no período de 1961 a 1990.

Fonte dos dados: Normais Climatológicas 1961-1990. Elaborado por: Lucas Lima Coelho.

Quanto à vegetação, segundo SEMARH (2000), a área de estudo situa-se na

região do Cerrado e apresenta diferentes tipos de vegetação, tais como: Cerradão, Cerrado

Típico, Campo Cerrado, Campo Sujo e Campo Limpo, Matas Ciliares, Veredas e Campos

Rupestres.

Etapas do desenvolvimento da pesquisa

Para alcançar os objetivos propostos, primeiramente foi realizada uma ampla

revisão bibliográfica sobre o tema, das relações entre a dinâmica climática e a mídia no

Brasil e no Distrito Federal.

Na segunda etapa foi realizado o processo de análise documental sobre

problemas urbanos relacionados à precipitação encontrados no principal jornal impresso do

Distrito Federal, o Correio Braziliense. O procedimento consistiu em:

• Verificar todas as edições diárias dos anos de 2006, pelo acesso no Centro de

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Documentação (CEDOC) do jornal ou pela busca no sistema Busca CB na Internet;

• Selecionar todas as notícias referentes à chuva neste período, tendo em vista

que não são encontradas em outras fontes relatos semelhantes e em riqueza de detalhes

sobre os transtornos urbanos nestes anos;

• Catalogar cada notícia selecionada em um banco de dados, onde foram

classificadas e listadas de acordo com a data, página da notícia, caderno do jornal,

ocorrência ou não de fotos, título da notícia, informações adicionais (que relatam apenas

dados pontuais e relevantes das notícias), problemas urbanos relacionados às chuvas

encontrados, região administrativa afetada e referência bibliográfica da notícia;

• Excepcionalmente para os problemas urbanos, foi criada pelo autor uma

classificação própria, de acordo com as reportagens que foram encontradas. Os problemas

urbanos foram agrupados então da seguinte forma: abertura das comportas do Lago

Paranoá; acidentes de trânsito; alagamentos; danos ao patrimônio material (carros e casas

principalmente); desalojamentos; descargas elétricas; destelhamentos; engarrafamentos;

enxurradas; erosões; espalhamento de resíduos; formação de lamaçais; granizo;

inundações; paralisação de obras; problemas de infraestrutura nas vias; quedas de árvores;

quedas de energia; ventanias; outros.

O Correio Brazilense foi o jornal escolhido por ser publicado diariamente desde

1960, época de fundação de Brasília, e por ter em seu acervo importante registro histórico

relacionado aos fenômenos meteorológicos na cidade, apresentando sempre que possível

entrevistas com especialistas locais sobre o assunto, o que lhe confere credibilidade às

informações apresentadas e dá possibilidade de realizar o levantamento dos fatos ocorridos

relevantes para a pesquisa, conforme aponta Coelho et al. (2013), além de permitir o acesso

às notícias já publicadas por meio da Internet.

Na terceira etapa, foi realizada a associação das notícias selecionadas com os

dados meteorológicos da CAESB. Contudo, ocorreu a possibilidade de observar nos dados

numéricos dois entraves à realização da pesquisa: inconsistência dos dados – na sua coleta

e cobertura do recorte espacial – e sua espacialização. Para solução destes entraves foram

utilizadas as Normais Climatológicas (INMET, 2010), documento lançado a cada 10 anos que

apresenta uma média de diversos parâmetros meteorológicos, compreendidos mensal e

anualmente num período de 30 anos, nos locais onde o Instituto Nacional de Meteorologia

(INMET) tem postos e estações meteorológicas, com equipamentos rigorosamente

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calibrados de acordo com os padrões internacionais de medição climática e meteorológica.

Neste procedimento, também foi executada a análise de todos os dados obtidos à luz do

material teórico para compreender a totalidade dos impactos pluviais do ano de 2006 no

Distrito Federal, tendo sido analisada sua correlação com os sistemas atmosféricos atuantes

na região.

A última etapa tratou da elaboração escrita e revisão da pesquisa, onde foram

redigidos todos os procedimentos anteriores, apresentados os resultados obtidos e a

discussão destes, e também apresentadas as considerações finais e recomendações, com

intuito responder aos objetivos e questões de pesquisa propostos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O ano de 2006 foi um ano extremamente chuvoso. Somente no posto

pluviométrico da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Norte foi registrado um total de

precipitação acumulada mensal de 1686,9 mm de chuva, aproximadamente 9,5% acima da

Normal Climatológica de precipitação acumulada anual que é de 1540,6 mm. No período

chuvoso, ou seja, de novembro a abril, o Gráfico 2 mostra que o valores registrados de

chuvas não se distanciaram muito da Normal, com uma grande ressalva, porém, para o mês

de outubro, que apresentou comportamento atípico para a época. Sozinho, o mês de

outubro representou 468,1 mm de precipitação nessa estação, quase um terço da

precipitação que foi registrada durante todo ano.

Gráfico 2. Gráfico comparativo entre a pluviometria mensal acumulada na Estação de Tratamento deEsgoto (ETE) Norte da CAESB e a média mensal compensada da Normal Climatológica.

Elaborado por: Lucas Lima Coelho.

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No ano de 2006 foram encontradas 52 reportagens referentes aos problemas

urbanos relacionados às chuvas, observando-se que a maior quantidade de notícias se deu

nos meses de fevereiro, com 11 reportagens, e outubro, como era de se esperar, com 23

reportagens, como pode ser aferido no Gráfico 3.

Gráfico 3. Gráfico comparativo entre a pluviometria mensal acumulada na Estação de Tratamento(ETE) Norte da CAESB e quantidade mensal de reportagens encontradas.

Elaborado por: Lucas Lima Coelho.

Também se pode verificar no Gráfico 3 que, nos meses de janeiro e fevereiro, o

número de notícias veiculadas foi proporcionalmente abaixo da precipitação registrada, o

que pode ser um indício de precipitações que ocorreram de forma mais concentrada e

intensa, já que, por exemplo, os meses de março, novembro e dezembro registraram grande

volume de precipitações, porém, com menos notícias publicadas com relação aos problemas

urbanos relacionados às chuvas.

Ao longo do ano foram relatados, nas reportagens, 129 problemas urbanos

relacionados às chuvas, sendo que deste total, como mostra o Quadro 1, os alagamentos,

com 21 registros, foram os problemas encontrados de forma mais recorrente, seguidos

pelos danos ao patrimônio material, com 17 registros; os acidentes de trânsito, com 11

registros; e as enxurradas, com 10 registros. Nota-se também que os problemas urbanos

ficaram concentrados nos 1º e 4º trimestres do ano, com 45 e 78 registros, respectivamente,

sendo que o 4º apresentou quase o dobro de problemas encontrados no 1º. O fato de a

estação seca e chuvosa serem muito bem definidas no DF, nesses trimestres, é um fator

preponderante para que estes concentrem os registros dos problemas urbanos aqui

pesquisados, tendência que também pode ser observada nos demais anos do estudo.

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Quadro 1. Tabela de problemas urbanos encontrados por trimestre de acordo com a sistematizaçãodas reportagens do jornal Correio Braziliense. Os problemas destacados em amarelo foram os mais

recorrentes, tendo sido registrados por mais de 10 vezes nas notícias do jornal.

Quantidade de problemas urbanos relacionados à chuva relatados por trimestre no ano de 2006Problema Urbano 1º trim. 2º trim. 3º trim. 4º trim. TotalAbertura das comportas do Lago Paranoá 0 0 0 1 1Acidentes de trânsito 3 1 0 7 11Alagamentos 5 1 1 14 21Danos ao patrimônio material 9 0 1 7 17Descargas elétricas 1 0 0 1 2Destelhamentos 3 0 0 0 3Desalojamentos 0 0 0 3 3Engarrafamentos 2 1 1 2 6Enxurradas 5 0 0 5 10Erosões 3 0 0 5 8Espalhamento de resíduos 2 0 0 1 3Formação de Lamaçais 2 0 0 5 7Granizo 0 0 0 1 1Inundações 0 0 0 2 2Paralisação de obras 0 0 0 6 6Problemas de infraestrutura nas vias 1 0 0 6 7Quedas de árvores 2 0 0 3 5Quedas de energia 4 0 0 2 6Ventanias 3 0 0 2 5Outros 0 0 0 5 5Total 45 3 3 78 129

Elaborado por Lucas Lima Coelho.

Ao serem analisadas as porcentagens dos impactos das chuvas na área urbana

(Gráfico 4), verificou-se que a maior parte das notícias englobou quatro grandes problemas,

que juntos responderam por quase metade dos problemas pesquisados: os alagamentos, os

danos ao patrimônio material, os acidentes de trânsito e as enxurradas.

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Gráfico 4. Gráfico representativo da porcentagem dos principais problemas urbanos relacionados àchuva no ano de 2006.

Elaborado por: Lucas Lima Coelho.

Na análise de conteúdo das notícias do mês de janeiro, notam-se poucos

problemas graves, do dia 4, onde uma chuva convectiva provocou três acidentes de trânsito

e teve ventos fortes, até o dia 28, quando ocorreu o fim de um veranico (Ferri e Librelon,

2006), que é um curto período de estiagem em meio à estação chuvosa, comum nesta época

do ano. Isso levou o Corpo de Bombeiros registrar 22 ocorrências, como destelhamento de

casas, fortes ventanias e consequentemente danos ao patrimônio material. Reportagem do

dia 1º de fevereiro mostra que apesar da chuva ter sido forte nesse mês, o INMET registrou

apenas 123,2 mm de precipitação, abaixo das expectativas do órgão, que era de 241,4 mm.

Mesmo abaixo do esperado, as chuvas foram concentradas. Isso significa que, não é porque

o volume de chuva não é expressivo, que problemas com relação à chuva não irão ocorrer.

No mês de fevereiro a chuva permaneceu intensa, sendo o segundo mês como o

maior registro de reportagens publicadas no ano de 2006. Chuvas rápidas de cerca de uma

hora foram suficientes para causar alagamentos e quedas de energia elétrica em diversos

pontos da cidade. Com as fortes chuvas, erosões também se tornaram destaque em duas

matérias do dia 11. As reportagens apontam que a construção civil é a principal responsável

pelo surgimento das erosões, que com as chuvas fortes e intensas do final do verão acabam

sendo alargadas pela água. Condomínios irregulares e invasões são as áreas mais afetadas,

pois não possuem infraestrutura, como rede de águas pluviais, para evitar que a população

passe por problemas.

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O mês de março permaneceu chuvoso, registrando chuva acima da média

histórica. Neste mês pode-se destacar o alagamento das quadras topograficamente mais

rebaixadas da Asa Sul e Norte, como a quadra 402 Norte. Devido ao intenso processo de

ocupação e impermeabilização do solo, especialmente com a criação das quadras 900, a

água, que antes infiltrava na terra e abastecia os lençóis freáticos, agora escorre

superficialmente para as áreas mais rebaixadas do Plano Piloto, alagando principalmente as

partes baixas dos viadutos, que não tiveram suas galerias de águas pluviais projetadas para

suportar o volume de água escoada, tornando-se assim pontos frequentes de alagamento.

Inclusive, até o ano de 2013, essa questão, não foi resolvida pelo Governo do DF, sendo

constante na cidade, com registro até mesmo de mortes, como se vê na Figura 2.

Figura 2. Fragmento da reportagem do dia 9 de outubro de 2013, onde Geovanna Moraes de Oliveira,de 6 anos, morreu afogada em viaduto que fora alagado com forte chuva.

Fonte: Correio Braziliense.

No mês de abril o volume de chuvas diminuiu. Neste mês foi registrada apenas

uma reportagem, encerrando assim a época das chuvas, segundo os dados pluviométricos

da CAESB. Em junho e agosto foram registradas chuvas atípicas para o período. Essas

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chuvas foram causadas pelo avanço frentes frias oriundas do sul do país, ocasionando o

rompimento do bloqueio atmosférico causado pela predominância, no Centro-Oeste, da

massa de ar Tropical Atlântica Continentalizada, grande responsável pelo tempo seco nos

meses de inverno e primavera. As chuvas tiveram efeito principalmente no trânsito,

causando acidentes e engarrafamentos.

De todo o ano estudado o mês de outubro foi aquele que teve o maior volume

de precipitações e a maior quantidade de notícias, registrando mais de 500 mm em algumas

estações da CAESB. Até o dia 6, as chuvas ocorreram de maneira rotineira para o mês, ou

seja, dentro da Normal Climatológica, tendo sido registrados apenas acidentes de trânsito.

Até dia 14, as chuvas já haviam passado a média no mês, que é de 172 mm e, de acordo com

o INMET, até esse dia havia chovido 195 mm, ou seja, aproximadamente 13,4% a mais. Em

apenas um dia (07/10) choveu 70 mm, maior quantidade diária do ano. O volume de chuvas

provocou desalojamentos na Vila Rafael, em Ceilândia.

Até o dia 20 de outubro, já havia chovido 271 mm, de acordo com a notícia nº 27,

57% a mais do que é esperado para o mês de outubro, conforme o INMET aponta na mesma

reportagem. Os alagamentos e quedas de energia elétrica foram bastante constantes nesse

período, atingindo uma boa parte das Regiões Administrativas do DF. De acordo com

Steinke et al. (2006) as fortes precipitações do mês de outubro foram provocadas pela

atuação de sistemas frontais e da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que ocorreu

entre os dias 17 e 20, provocando essas chuvas intensas. Não obstante, até o dia 23 de

outubro havia chovido 373 mm, 116% acima da média do mês de acordo com o INMET,

provocando a inundação de alguns córregos que levaram os órgãos de defesa à vida a

desalojar muitas pessoas em áreas de risco.

No dia 27 de outubro foram publicadas uma série de reportagens sobre o

excesso de chuvas, as mais completas e abrangentes encontradas nesse mês. O destaque

para o acontecimento foi tão grande que as reportagens foram destaque na capa do jornal e

a reportagem Águas de Outubro ocupou toda uma página do caderno Cidades, como

mostrado na Figura 3.

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Figura 3. Página inicial do caderno Cidades do dia 27 de outubro de 2006.

Fonte: Correio Braziliense.

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O INPE (2006) divulgou em seu boletim de análise climática que o excesso de

chuvas no centro do Brasil no mês de outubro se deu pela passagem de 6 sistemas frontais

seguidos. A estação ETE Sul da CAESB registrou 468,1 mm no mês, enquanto a estação

meteorológica do INMET registrou impressionantes 526 mm. O volume de chuvas também

levou à abertura das comportas da Barragem do Paranoá, para evitar que o lago inundasse

as áreas adjacentes e garantir a preservação da estrutura da barragem.

No mês de novembro, ouve uma diminuição do volume de precipitação com

relação a outubro, sendo que a pluviometria acumulada mensalmente foi de 219,4 mm,

muito próxima da média da Normal (231,1 mm). O mês foi caracterizado por chuvas rápidas,

intensas e concentradas em determinadas regiões administrativas do DF, como São

Sebastião e Itapoã, causando principalmente alagamentos, danos ao patrimônio material,

enxurradas, quedas de árvores e ventanias.

No mês de dezembro o volume de chuvas acumulado voltou a subir, todavia,

não na mesma intensidade que o mês de outubro. Mesmo tendo registrado 264 mm de

precipitação acumulada, um valor alto, porém comum para a época, foram publicadas

somente sete reportagens referentes aos impactos pluviais. A maior parte trata de acidentes

de trânsito e problemas de infraestrutura nas vias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados dessa pesquisa mostraram que as precipitações, na maioria das

vezes, não são as principais ocasionadoras dos problemas urbanos como é divulgado e

observado na mídia impressa, sendo consideradas as grandes vilãs no lugar da falta de

planejamento dos agentes públicos e privados ou pela imprudência dos próprios moradores

do Distrito Federal, com o intuito de maquiar, mesmo que de maneira não intencional, a

insustentabilidade de uma cidade que há mais de 50 anos fora planejada para ter no

máximo 500 mil habitantes e que hoje continua a crescer desordenada e deliberadamente,

ultrapassando cinco vezes o número de habitantes proposto em seu plano original. O fato

de seu projeto original prever uma quantidade limitada de habitantes constituiu-se em um

grave erro de planejamento que hoje recai diretamente sobre os brasilienses de todas as

Regiões Administrativas, afetando principalmente o trânsito e a qualidade de vida de toda

população.

Observa-se também que as regiões administrativas Brasília (RA I), Ceilândia (RA

IX), Taguatinga (RA III) e Sobradinho (RA V) sofreram mais impactos pluviais porque a

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primeira concentra a maior parte dos serviços e empregos do DF, o que ocasiona grande

circulação de veículos e pessoas; enquanto que a RA IX é um dos principais eixos condutores

de urbanização na região desde sua criação e tem crescido desordenadamente tanto

demograficamente quanto espacialmente, principalmente sobre áreas de risco; a RA III, até

2009, possuía em sua área a atual região administrativa de Vicente Pires (RA XXX), que se

urbanizou sobre uma área ambientalmente frágil, repleta de mananciais; e a RA V, tal qual

Ceilândia, possuía em sua área um espaço que em 2012 se tornou outra RA: a Fercal (RA

XXXI), construída sobre uma área geológica e geomorfologicamente não apropriada, muito

próxima ao leito dos rios. Os problemas urbanos relacionados às chuvas se mostraram mais

acentuados, como se esperava, no período chuvoso, que começa em meados de outubro e

se encerra em abril no Distrito Federal.

Para minimizar os efeitos negativos das chuvas sobre a população

recomendam-se algumas ações:

• Ampliação e aumento da efetividade da rede pública de transportes do DF

para atrair mais passageiros e reduzir o número de veículos em circulação, o que

consequentemente também reduziria a quantidade de automóveis nas vias e os acidentes

de trânsito, melhorando a circulação de veículos;

• Descentralização dos órgãos e partições públicas do Plano Piloto para

diminuir o deslocamento diário e mútuo da maioria dos trabalhadores do DF, o que

melhoria a fluidez do trânsito nos horários de pico e ajudaria a desenvolver outras Regiões

Administrativas do DF;

• Fiscalização rigorosa das áreas de ocupação e expansão urbana no DF por

parte do poder público, levando em conta que a maioria de áreas de expansão da cidade

estão sobre espaços de recarga dos mananciais e infiltração da água das chuvas,

prejudicando a reposição da água pelo lençol freático, o que futuramente pode ocasionar

problemas de abastecimento. Diminuindo a infiltração, aumenta o volume de água que

escorre superficialmente, excedendo muitas vezes o limite do sistema de coleta de águas

pluviais;

• Descentralização dos órgãos e partições públicas do Plano Piloto para

diminuir o deslocamento diário e mútuo da maioria dos trabalhadores do DF, o que

melhoria a fluidez do trânsito nos horários de pico e ajudaria a desenvolver outras Regiões

Administrativas do DF;

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• Descentralização dos órgãos e partições públicas do Plano Piloto para

diminuir o deslocamento diário e mútuo da maioria dos trabalhadores do DF, o que

melhoria a fluidez do trânsito nos horários de pico e ajudaria a desenvolver outras Regiões

Administrativas do DF;

• Obras de construção, reforma e recapeamento de vias devem ser executadas

na estação seca para prevenir defeitos na qualidade do asfalto e surgimento de rachaduras,

buracos e crateras. Uma ação como esta também ajudaria a reduzir as “operações

tapa-buraco”, que surgem como uma forma de resolver o problema de maneira paliativa,

sendo necessária sua repetição emergencial todos os anos a um baixo custo-benefício;

• Realização de obras de drenagem, como a construção de galerias de águas

pluviais, alargamento dos dutos de escoamento das águas.

Conclui-se com esse estudo que os problemas urbanos relacionados às chuvas

afetam todas as classes sociais, afetando desde áreas onde habitam as classes altas e

médias, como o Plano Piloto, até áreas de risco, onde habitam classes mais pobres, como a

Ceilândia. Não cabe somente ao poder público tomar medidas efetivas para prevenir esses

problemas, mas a toda sociedade, desde que esta se conscientize de que as ocupações de

áreas irregulares, o lixo, o excesso de veículos nas ruas, dentre outras coisas que poderiam

ser citadas, trazem ônus para si própria.

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IMPACTOS PLUVIAIS E SUAS IMPLICAÇÕES NO DISTRITO FEDERAL NOANO CHUVOSO DE 2006

EIXO 4 – Problemas socioambientais no espaço urbano e regional

RESUMO

Desde sua fundação, há mais de 50 anos, a cidade de Brasília e suas Regiões Administrativas, que

compreendem o Distrito Federal (DF), têm passado por um intenso processo de urbanização.

Hoje, a região que fora planejada na década de 1950 para ter no máximo 500 mil habitantes já

comporta o quíntuplo desse número, o que agrava a intensidade de problemas urbanos ligados às

chuvas. O ano de 2006, em particular, foi um ano atípico em relação aos anteriores devido ao

grande volume pluviométrico acumulado anualmente, sendo que em algumas estações da

Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB) foram registrados valores que

superam os 2000 mm, enquanto que o valor da Normal Climatológica de precipitação acumulada

anual para o DF é de 1540,6 mm. Nesse contexto, o presente trabalho teve como objetivo

identificar as principais ocorrências de problemas urbanos relacionados e/ou expostos pelas

chuvas e a distribuição espacial desses no DF, analisando as publicações diárias de notícias do

jornal Correio Braziliense e também dados de postos pluviométricos da CAESB, com intuito de

verificar os impactos sobre a sociedade brasiliense no ano de 2006. A técnica utilizada permitiu,

ainda que preliminarmente, realizar a quantificação dos problemas urbanos relacionados às

chuvas, sendo que os acidentes de trânsito, alagamentos e acidentes de trânsito são os mais

recorrentes nas notícias verificadas. Observou-se que as precipitações, na maioria das vezes, não

são as principais ocasionadoras dos problemas urbanos, como é divulgado e observado pela

mídia impressa, mas favorecem a exposição desses problemas. Assim, a falta de planejamento

urbano dos agentes públicos e privados aliada à imprudência dos próprios moradores do DF em

ocupar a cidade deliberadamente, sobretudo em áreas de risco, são, na verdade, as grandes

dificuldades a serem vencidas por toda população.

Palavras-chave: problemas ambientais urbanos; planejamento urbano; chuva.

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