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Graduação 2013.2 ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA AUTOR: MARCELO MOURA COLABORAÇÃO: PEDRO GARCIA DE SOUZA

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Graduação 2013.2

ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

AUTOR: MARCELO MOURA

COLABORAÇÃO: PEDRO GARCIA DE SOUZA

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SumárioOrganização Jurídica da Grande Empresa

1. ROTEIRO DO CURSO .......................................................................................................................................... 31.1. Apresentação Geral ................................................................................................................. 31.2. Material didático e metodologia .............................................................................................. 31.3. Formas de avaliação ................................................................................................................ 31.4. Livros Texto: ........................................................................................................................... 3

2. ROTEIRO DAS AULAS ......................................................................................................................................... 5Aula 1: A Era das Grandes Empresas .............................................................................................. 5Aula 2: Sociedade anônima: evolução histórica, noções gerais e características principais .............. 14Aulas 3 e 4: Companhia aberta e fechada. Mercado de valores mobiliários.

Comissão de Valores Mobiliários. Noções gerais. .................................................. 27Aulas 5 e 6:Ações e outros valores mobiliários. ............................................................................. 37Aula 7: Capital social: formação, aumento e redução. ................................................................... 49Aulas 8 e 9: Assembléia Geral: Noções Gerais; Características, espécies, competência

e funcionamento. ................................................................................................. 59Aulas 10 e 11: Órgãos administrativos: Administração. Conselho de Administração

e Diretoria: características, composição, funcionamento e competência. Deveres e responsabilidades dos administradores. ................................................. 75

Aula 12: Conselho Fiscal. Exercício Social. Demonstrações fi nanceiras. ....................................... 92Aulas 13 e 14: Lucros, reservas e dividendos. Dividendo obrigatório e dividendos intermediários.

Dissolução, liquidação e extinção da sociedade anônima. ................................... 106Aulas 15 e 16: Acionistas e Acionista Controlador: Noções Gerais; Direitos e obrigações;

Poder de controle; Acordos de acionistas ............................................................ 110Aulas 17 e 18: Sociedades coligadas, controladoras e controladas. Responsabilidade.

Grupos de sociedades. Subsidiária integral. ......................................................... 121Aulas 19 e 20: Alienação de Controle e Aquisição de controle .................................................... 129Aulas 21 e 22: Governança Corporativa ..................................................................................... 154Aulas 23 e 24: Transformação, incorporação, fusão e cisão. ........................................................ 159Aula 25: Dissolução, Liquidação e Extinção da Sociedade Anônima .......................................... 174

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 3

1. ROTEIRO DO CURSO

1.1. APRESENTAÇÃO GERAL

O principal objetivo da disciplina é entender a Sociedade Anônima, como organização jurídica mais adotada pela Grande Empresa, mediante a análise de conceitos jurídicos, da legislação, da regulamentação da CVM e de casos reais.

1.2. MATERIAL DIDÁTICO E METODOLOGIA

O material didático apresenta o roteiro das aulas, indicação de textos para leitura, casos práticos e outras questões relevantes para cada aula. Para um melhor aproveitamento do curso, recomenda-se que tanto o material didáti-co quanto os textos indicados sejam lidos antes de cada aula.

Também serão indicados textos de leitura complementares, que permiti-rão um maior aprofundamento acerca de temas específi cos de especial inte-resse dos alunos.

Pretende-se utilizar bastante em aula a metodologia de análise de casos.

1.3. FORMAS DE AVALIAÇÃO

Serão realizadas 02 (duas) provas, em sala de aula, compreendendo toda a matéria ministrada até a data de cada prova. As provas poderão ser feitas com consulta apenas à Lei das Sociedades Anônimas, sem comentários ou anota-ções. Antes de cada prova, haverá uma aula de revisão da matéria. Após cada prova, haverá uma aula de revisão de prova.

Eventualmente, poderão ser feitas avaliações complementares com base em atividades ou em trabalhos sobre temas específi cos a serem indicados pelo professor.

Com base em tais avaliações, obter-se-á a média aritmética referente à disciplina. Caso o aluno obtenha média aritmética inferior a 7 (sete), deverá realizar uma terceira prova, a qual compreenderá toda a matéria do semestre.

1.4. LIVROS TEXTO:

A maior parte da matéria pode ser acompanhada pelo Volume 2 do Curso de Direito Comercial de Fábio Ulhoa Coelho, Editora Saraiva. Além desse,

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recomenda-se o Curso de Direito Comercial de Rubens Requião, Volume 2, Editora Saraiva e os Comentários à Lei das Sociedades Anônimas de Modesto Carvalhosa, Editora Saraiva. Para a primeira aula, o Volume 1 do Curso de Direito Comercial de Rubens Requião é a leitura indicada.

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1 Tal foi a afi rmação de J. X. Carvalho

de Mendonça, autor que propôs co-

nhecidíssima classifi cação dos atos de

comércio, nos seguintes termos: “Os

códigos e tratados de direito comer-

cial não oferecem conceito jurídico

unitário e completo sobre os atos de

comércio. Legislação e doutrina não se

harmonizam em tão relevante assunto,

o que multiplica os embaraços à cons-

trução de sólido sistema científi co” (J.

X. Carvalho de Mendonça, “Tratado de

Direito Comercial Brasileiro”, vol. I, livro

I, 6ª ed., Rio de Janeiro: Freitas Bastos,

1957, p. 419). Na mesma obra, o autor

revela a amplitude do problema no di-

reito comparado, citando entre os que

compartilham de seu entendimento

Lyon Caen et Renault, na França, Vidari,

Vivante e Navarrini, na Itália, alem do

suíço Muzinger, do espanhol Estasén

e do argentino Segovia (pp. 419-421).

2 Arnoldo Wald, “O espírito empresarial,

a empresa e a reforma constitucional”.

Revista de Direito Mercantil, Industrial,

Econômico e Financeiro nº 98/51-57,

São Paulo: Ed. RT, abril/junho, 1995, p.

55 (grifou-se).

2. ROTEIRO DAS AULAS

AULA 1: A ERA DAS GRANDES EMPRESAS

A) MATERIAL DE LEITURA

Leitura básica

Curso de Direito Comercial, Rubens Requião, Vol.1, págs.75-88;

B) ROTEIRO DE AULA

Para que possamos analisar a organização jurídica que mais comumente adota a grande empresa, temos antes de lembrar o que é empresa, conceito discutido nos períodos anteriores à luz da teoria da empresa.

B.1) O que é a empresa?

Observada a imprecisão científi ca e a insufi ciência da teoria dos atos de comércio1, impôs-se a necessidade de construir um novo sistema adequado aos avanços da economia que delimitasse o âmbito de aplicação das normas comerciais, de forma a adaptar a disciplina às necessidades da sociedade con-temporânea.

De fato, é inquestionável a importância do papel ecônomico e social atu-almente exercido pela empresa — em especial a grande empresa —, tendo-se tornado esta imprescindível na ordem econômica globalizada. Tal relevância é salientada por economistas e juristas dos mais renomados, chegando-se a afi rmar, com todo acerto, que:

“A evolução da empresa representa, na realidade, um elemento básico para a compreensão do mundo contemporâneo. Do mesmo modo que, no passado, tivemos a família patriarcal, a paróquia, o Município, as corporações profi ssionais, que caracterizam um determinado tipo de sociedade, a empresa representa, hoje, a célula fundamental da economia de mercado”2.

No mesmo sentido, Fábio Konder Comparato resume bem a importância da empresa nos dias atuais:

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3 Fábio Konder Comparato, Direito

empresarial: estudos e pareceres, São

Paulo: Saraiva, 1990, p. 3.

4 Walter Lippkann, A cidade livre, 1938,

p. 329 apud Georges Ripert, Aspectos

jurídicos do capitalismo moderno. Cam-

pinas: RED livros, 2002, p. 67.

5 Tullio Ascarelli vê a manutenção de

um critério objetivo, pela importância

que se dá à atividade na qualifi cação do

empresário (“O empresário” (Tradução

de Fábio Konder Comparato, in “Corso

di Diritto Comerciale — Introduzione

e Teoria dell’Impresa”, 3ª ed., Milano:

Giuff rè, 1962; pp. 145-160). Revista de

Direito Mercantil, Industrial, Econômico e

Financeiro n.º 109/183-189, São Paulo:

Malheiros, janeiro/março, 1998).

6 Constata Rubens Requião que “são

juristas italianos os que mais se dedi-

cam ao estudo da empresa. Já sabemos

que o moderno direito privado da Itália

funda-se sobre a teoria da empresa.

Mas, antes mesmo da reforma de 1942,

os comercialistas peninsulares indaga-

vam, como Vivante, sobre o seu concei-

to, em face das referências a ela feitas

na enumeração dos atos de comércio”

(Rubens Requião, “Curso de Direito

Comercial”, vol. I, 24a ed., São Paulo:

Saraiva, 2000; p. 53).

7 Rubens Requião, “Curso de Direito

Comercial”, vol. I, 24ª ed., São Paulo:

Saraiva, 2000; p. 50.

8 O jurista italiano Vivante igualou o

conceito jurídico ao conceito econô-

mico, consoante apontado por Rubens

Requião, “Curso de Direito Comercial”,

vol. I, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2000;

p. 53.

9 Sylvio Marcondes, “Questões de Direi-

to Mercantil”, São Paulo: Saraiva, 1977;

p.8. No mesmo sentido temos a lição

de Waldírio Bulgarelli, nos seguintes

termos: “Os economistas vêm-se esfor-

çando desde a Revolução Industrial em

conceituar a empresa, nem sempre com

êxito. Hoje, contudo, é quase unânime a

idéia de que a empresa é uma unidade

organizada de produção e comercia-

lização de bens e serviços para o mer-

cado” (Waldírio Bulgarelli, “Sociedades,

Empresa e Estabelecimento”, São Paulo:

Atlas, 1980; p. 19). O mesmo autor, em

obra diversa, demonstra o seu aceite

pelo conceito econômico de empresa:

“Uma vez, portanto, que há verdadeira

unanimidade em relação ao conceito

econômico de empresa, como aliás

assinala muito bem Sylvio Marcondes,

nada há de errado na sua aceitação por

parte do Direito, e foi nessa conformi-

dade que a legislação veio regulando os

seus vários aspectos (...)” (Waldírio Bul-

garelli, “Estudos e Pareceres de Direito

Empresarial: o Direito das Empresas”,

São Paulo: Ed. RT, 1980; p. 17).

“Se se quiser indicar uma instituição social que, pela sua infl uência, dinamis-mo e poder de transformação, sirva de elemento explicativo e defi nidor da civi-lização contemporânea, a escolha é indubitável: essa instituição é a empresa”3.

Essa constatação é também freqüente entre os economistas. Referindo-se especifi camente às sociedades anônimas, assevera-se que “o capitalismo mo-derno não teria podido se desenvolver se a sociedade por ações não existisse”4.

No entanto, sob a égide da teoria objetiva, diversas atividades de caráter intrinsecamente empresarial eram ignoradas pelo Direito Comercial, visto não se enquadrarem nas acepções legais de ato de comércio. Apenas para ci-tar um entre diversos exemplos admissíveis, o desenvolvido setor de serviços, por não se enquadrar nas defi nições elaboradas para os atos de comércio, não se encontrava regulado pelas normas comerciais, o que per si demonstrava a imprescindibilidade de uma nova sistemática.

Como já citado, a teoria subjetiva moderna apresenta como núcleo fun-damental o conceito de empresa5. Ocorre que mesmo entre os adeptos da “teoria da empresa”, em especial os italianos, marcados pelo seu pioneirismo6, tem-se encontrado difi culdades para defi nir o seu conceito jurídico, não obs-tante sua pacífi ca conceituação nas ciências econômicas. A esse propósito, vale registrar a lição de Rubens Requião:

“Em vão, os juristas têm procurado construir um conceito jurídico próprio para tal organização. Sente-se em suas lições certo constrangimento, uma verda-deira frustração por não lhes haver sido possível compor um conceito jurídico próprio para a empresa, tendo o comercialista que se valer do conceito formula-do pelos economistas. Por isso, persistem os juristas no afã de edifi car em vão um original conceito jurídico de empresa, como se fosse desdouro para a ciência ju-rídica transpor para o campo jurídico um bem elaborado conceito econômico”7.

Ensina Giuseppe Ferri que a noção econômica de empresa, sob a qual deve se assentar o seu conceito jurídico8, incorpora-se na organização dos fatores de produção, baseada em princípios técnicos e leis econômicas, propondo-se à satisfação de necessidades alheias, vale dizer, do mercado. A esse propósito, vale citar, pela clareza, os ensinamentos precisos de Sylvio Marcondes:

“O conceito econômico de empresa está na organização dos fatores de pro-dução de bens ou de serviços para o mercado, coordenada pelo empresário, que lhe assume os resultados. Sobre este conceito econômico ninguém põe dúvida. Mas, como o Direito trata este conceito econômico?”9.

Para responder à indagação formulada pela doutrina, deve-se atentar para uma observação feita por Alberto Asquini, o qual com muito acerto indicou

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10 Apud Sylvio Marcondes, “Questões de

Direito Mercantil”, São Paulo: Saraiva,

1977; p.8.

11 Apud Rubens Requião, “Curso de

Direito Comercial”, vol. I, 24a ed., São

Paulo: Saraiva, 2000; p. 55.

12 A referida tese foi publicada na

Rivista del Diritto Commerciale, fascs.

1 e 2, 1943, sob o titulo “Profi li

dell’Imprensa”, conforme Rubens Re-

quião, “Curso de Direito Comercial”, vol.

I, 24a ed., São Paulo: Saraiva, 2000; p.

71. Em português, a tese foi publicada,

com tradução de Fábio Konder Com-

parato, na Revista de Direito Mercantil,

Industrial, Econômico e Financeiro n.º

104/109-126, São Paulo: RT, outubro/

dezembro, 1996.

13 Rubens Requião, “Curso de Direito

Comercial”, vol. I, 24a ed., São Paulo:

Saraiva, 2000; p. 55.

14 Art. 2.082 do Codice Civile italiano de

1942: “Imprenditore — È imprenditore

chi esercita professionalmente una atti-

vità economica organizzata al fi ne della

produzione o dello scambio di beni o di

servizi”.

15 Art. 966 do Novo Código Civil: “Art.

966. Considera-se empresário quem

exerce profi ssionalmente atividade

econômica organizada para a produção

ou a circulação de bens ou de serviços”.

16 Rubens Requião, “Curso de Direito

Comercial”, vol. I, 24a ed., São Paulo:

Saraiva, 2000; p. 55.

17 Waldírio Bulgarelli, “Sociedades,

Empresa e Estabelecimento”, São Paulo:

Atlas, 1980; p. 22.

que as difi culdades da conceituação jurídica de empresa derivam do fato de esta ser um “fenômeno poliédrico”. Com essa afi rmação, quis o eminente comercialista italiano demonstrar que a empresa apresenta um conceito eco-nômico unitário, o mesmo não ocorrendo com o seu conceito jurídico, rece-bendo a empresa tratamentos legislativos diversos10.

Firmado esse entendimento, sugere o jurista italiano que se abdique da tentativa de elaboração de um conceito jurídico de empresa, devendo-se fo-car no estudo dos “aspectos jurídicos da empresa econômica”, na expressão de Giuseppe Ferri11. Sob esses argumentos, Asquini elabora a sua difundida “teoria dos perfi s da empresa”12, bem resumida por Rubens Requião:

“Vislumbra, então, Asquini a empresa sob quatro diferentes perfi s: a) o perfi l subjetivo, que vê a empresa como o empresário; b) o perfi l funcional, que vê a empresa como atividade empreendedora; c) o perfi l patrimonial ou objetivo, que vê a empresa como estabelecimento; d) o perfi l corporativo, que vê a empresa como instituição”13.

O Codice Civile italiano de 1942, pioneiro ao sugerir um modelo que superasse o sistema francês, não chega a estabelecer um conceito jurídico de empresa, preferindo defi nir o seu perfi l subjetivo — o empresário — em seu art. 2.08214, como sendo aquele que exerce profi ssionalmente uma atividade econômica organizada para a produção e circulação de bens ou serviços.

O legislador brasileiro, inspirado pelo modelo italiano, não apresenta ino-vações em relação ao Codice Civile de 1942, ao defi nir o empresário como sendo “quem exerce profi ssionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços15”.

Das defi nições legais supracitadas decorrem os elementos essenciais à em-presa, quais sejam, no entendimento de Rubens Requião, o sujeito de direito, a sua atividade particular, a fi nalidade produtiva e o caráter profi ssional16. En-contramos também em Waldírio Bulgarelli a referência a quatro elementos. Contudo, o renomado comercialista os apresenta como sendo a organização, a atividade econômica, o fi m lucrativo e a profi ssionalidade17. Bugarelli acres-centa o fi m lucrativo como elemento essencial à empresa, posto que não há empresa que não vise o lucro.

Por esse contexto, cabe observar que, no esforço de construir um conceito jurídico de empresa, pouco se afastou da noção econômica. A esse propósito, é incisiva a conclusão de Waldírio Bulgarelli, centralizando o conceito de em-presa no seu perfi l subjetivo, seguindo a opção legislativa italiana e brasileira:

“Dessume-se, assim, o conceito de empresa daquele de empresário, poden-do-se conceituá-la como a organização da atividade econômica para o fi m de produção ou de troca de bens ou serviços. Verifi ca-se, portanto, a transmudação

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

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18 Waldírio Bulgarelli, “Sociedades,

Empresa e Estabelecimento”, São Paulo:

Atlas, 1980; pp. 22-23.

19 Disponível em http://www.sebrae.

com.br/br/aprendasebrae/estudose-

pesquisas.asp. Acesso em outubro de

2006.

que ocorreu no conceito econômico na sua passagem para o âmbito jurídico, sob a égide do empresário, ou seja, de organização da atividade econômica para o de exercício profi ssional da atividade econômica organizada”18.

B.2) O que é a grande empresa?

Relembrado o conceito de empresa, cabe, neste momento, uma indaga-ção: o que é precisamente a grande empresa? É notório que a grande empresa exerce atualmente infl uência dominante no cenário econômico-social con-temporâneo, igualando ou, em muitos casos, superando o poder antes atribu-ído aos Estados. Mas quais são os critérios para defi nir uma grande empresa? O que a diferencia da pequena empresa?

Diversos critérios podem ser utilizados. Por exemplo, o SEBRAE classifi ca a empresa em função do número de pessoas ocupadas. Ao defi nir a micro e pequena empresa, entender-se-ia, a contrario sensu, que o SEBRAE classifi ca como grandes empresas aquelas que, na indústria e na construção, empre-gam mais de 100 (cem) pessoas, e que, no comércio e serviços, empregam mais de 50 (cinqüenta) pessoas19. Também por via indireta, a interpretação conjunta da Lei nº 9.841/1999 (Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte) com o Decreto nº 5.028/2004 levaria à conclusão de que são grandes empresas aquelas que tivessem uma receita bruta anual superior a R$ 2.133.222,00 (dois milhões, cento e trinta e três mil, duzentos e vinte e dois reais).

A Lei 11.638/2007, que estende às sociedades de grande porte às dispo-sições da Lei das Sociedades Anônimas sobre escrituração e elaboração de demonstrações fi nanceiras, defi ne como sendo de grande porte “a sociedade ou conjunto de sociedades sob controle comum que tiver, no exercício so-cial anterior, ativo total superior a R$ 240.000.000,00 (duzentos e quarenta milhões de reais) ou receita bruta anual superior a R$ 300.000.000,00 (tre-zentos milhões de reais)”. Seria essa, então, a grande empresa no Brasil? É um critério.

No entanto, esses critérios exemplifi cativos são insufi cientes para defi nir o fenômeno que se pretende analisar, por não se coadunarem com a realida-de sócio-econômica. O conceito de grande empresa é histórico, variando de acordo com cada época e lugar. Na verdade, constata-se que, apesar da noção quase que intuitiva do que é a grande empresa, é difícil a tarefa de apresentar critérios objetivos e precisos que a defi nam. Em geral, podemos utilizar pa-râmetros comparativos: compara-se uma empresa com outra de uma mesma região, ou, ainda, faz-se uma confrontação com os dados do país ou do mun-do. A grande empresa de Moçambique poderá ser uma pequena ou média empresa nos Estados Unidos.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 9

20 Alfredo Lamy Filho, “A reforma da Lei

de Sociedades Anônimas”. IN: Temas de

Direito Societário. Rio de Janeiro: Reno-

var, 2006, p. 39.

21 FRANCO, Gustavo. “Globalização e

poder”., IN: VEJA, Edição 1857, de 09 de

junho de 2004. IN: http://www.econ.

puc-rio.br/gfranco/VEJA121.htm

Em geral, as sociedades anônimas são o instrumental adequado para a constituição da grande empresa, pois por meio delas é possível realizar uma dupla função, primordial para o desenvolvimento econômico: 1) limitar a responsabilidade da sociedade e de seus participantes e 2) capitalizar a socie-dade sem necessidade de pagamento de juros, nem de constituição de dívi-das. Para Alfredo Lamy Filho,

“admitindo a limitação de responsabilidade de todos os sócios, a S/A tornou possível a mobilização de recursos em montante ilimitado, através de junção de capitais das mais variadas procedências de grandes e pequenos investidores, movidos pelas mais diversas inspirações, embora com o denominador comum da colimação de lucros. Por outro lado, a livre transferibilidade do papel que incorporava essa participação tornava-o extremamente atraente porque possibi-litava liquidez imediata. Com esses atributos, revela-se a S/A dotada de explosiva força de expansão”.20

Embora a sociedade anônima seja a forma jurídica mais adotada para a grande empresa, não é a única. São muitas as grandes empresas no Brasil que adotam a forma de limitadas e mesmo consórcios, cooperativas e sociedades profi ssionais.

As grandes empresas têm um relevante papel na economia mundial. Em algumas situações, o poderio econômico de determinadas empresas é tamanho que ultrapassa o PIB de inúmeros países. Nas palavras de Gustavo Franco,

“Países e empresas vivem em dimensões diferentes, e são medidos com esca-las próprias, os primeiros por meio do PIB, ou seja, pelo valor adicionado total gerado dentro de suas fronteiras, enquanto o tamanho das empresas é medido pelo faturamento. Conciliando as escalas, um cálculo para o ano 2000, feito pela Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento (Unc-tad), mostrou que, entre os cinqüenta maiores países e empresas, há apenas duas empresas, mas, dentro dos cinqüenta seguintes, 27 são empresas. Ou seja, para o total dos 100 maiores países e empresas, 29 eram empresas, sendo que a maior delas, a ExxonMobil, tinha um “PIB” estimado em cerca de 63 bilhões de dólares, ligeiramente inferior ao do Chile e das Filipinas e maior que o do Paquistão”21.

Percebe-se que o poder econômico das grandes empresas pode, em última instância, infl uenciar social e politicamente uma determinada sociedade e, até mesmo, a ordem mundial. Esta constatação se mostra ainda mais presente quando se verifi ca a expansão do fenômeno da concentração.

A concentração, em seu sentido econômico, representa a aquisição de mais meios de produção. A tendência à concentração e à necessidade de cres-cimento de empresas refere-se, em última instância, à capacidade de realizar

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FGV DIREITO RIO 10

22 Fábio Konder Comparato. Aspectos

jurídicos da macroempresa. São Paulo:

Editora Revista dos Tribunais. 1970,

pp. 4 e 5.

23 Gustavo Franco. IN: http://www.

econ.puc-rio.br/gfranco/VEJA121.htm

de forma mais adequada os investimentos de que necessitam para o seu de-senvolvimento. De acordo com Fábio Konder Comparato,

“(...) a evolução da economia capitalista nos últimos 40 anos, e notada-mente a partir da Segunda Guerra Mundial, tem sido comandada pelo fenô-meno da concentração empresarial. Desde a primeira Revolução Industrial as vantagens da constituição dessas ‘economias internas de escala’, segundo ex-pressão consagrada por ALFRED MARSHALL, eram de todos conhecidas: baixa do custo unitário de produção com o aumento do volume de unidades produzidas; possibilidade de autofi nanciamento, libertando a empresa das injunções do mercado fi nanceiro; multiplicação de estabelecimentos, permi-tindo que atingissem diretamente os diferentes centros de consumo, com a supressão dos intermediários; estocagem de matéria-prima, atenuando as variações de preços; estudos de mercado e publicidade em larga escala”.22

Quanto maior uma empresa, mais vantagens, portanto, ela retira de sua posição dominante no mercado, pois maior é sua capacidade de diminuir custos de produção, angariar lucros e aumentar seus investimentos.

Atualmente, além do processo de integração econômica internacional, por meio das grandes empresas e da concentração, percebe-se uma nova onda de crescimento das empresas, por meio do fenômeno da pulverização de capi-tal, em que se estabelece uma difusão das ações entre milhares de acionistas, sendo o controle da companhia exercido não mais por acionistas, mas por meio de órgãos de administração, fenômeno que classicamente se denomina de controle gerencial.

A pulverização do controle acionário existe em todos os países em que há um mercado de valores mobiliários forte, que atrai a poupança popular e que é acessado em grande escala pelas S.A. locais (as corporations america-nas, ou public limited companies inglesas). Em geral, as empresas nascem por iniciativa e capacidade de um líder, o empreendedor sob o qual crescem e se afi rmam. Para se expandirem, contudo, precisam de recursos fi nanceiros, recorrendo ao mercado de capitais, onde encontra capital farto e barato.23 Constitui-se, assim, a empresa “sem dono”, mas capitalizada ao extremo. So-bre este tema, voltaremos em aulas seguintes.

D) TEXTO DE APOIO

1. “Megaempresa.com — Fusão entre Americanas.com e Submarino cria companhia de R$ 2 bi de olho no exterior

A Americanas.com e o Submarino, maiores lojas de vendas pela Internet do país, anunciaram ontem a fusão de suas operações para enfrentar o avanço das grandes redes de varejo tradicional e, também, investir em mercados in-

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ternacionais. O negócio, que ainda depende da aprovação dos acionistas do Submarino, resultará na criação da B2W Companhia Global de Varejo, que nascerá com receitas anuais de mais de R$ 2 bilhões e valor de mercado de R$ 6,5 bilhões.

‘Eles querem ser grandes, ter escala para ter preços competitivos, pois seus fornecedores são os mesmos de redes como Ponto Frio, Casas Bahia, Pão de Açúcar e Wal-Mart’, disse um executivo de um banco que participou do negócio.

Embora cresça a taxas de 40% ao ano, o comércio eletrônico deve movi-mentar pouco mais de R$ 4 bilhões este ano no Brasil, 2% apenas das vendas totais do varejo brasileiro. Além das vendas pela Internet, a B2W deve valer-se de outros canais de venda, em que a Lojas Americanas já atua, como o Shoptime (com TV), para enfrentar as grandes redes.

‘Esse movimento é estratégico e nós temos obrigação de procurar bons negócios para nossos acionistas’, disse o presidente do Submarino, Flavio Jansen.

CVM vai investigar possível vazamentoO Submarino ingressou em abril no Novo Mercado, com a pulverização

de ações na Bolsa de Valores de São Paulo. Como não tem mais controlado-res, a proposta de fusão com a Americanas.com será analisada em assembléias de acionistas no próximo mês. A expectativa é de que as duas empresas pas-sem a operar como B2W já a partir de janeiro de 2007.

‘Estamos criando uma grande companhia, com receitas de U$ 1 bilhão e enorme potencial de crescimento’, disse o diretor de Relações com Investido-res da Americanas.com, Roberto Martins, ao justifi car seu otimismo.

Segundo Martins, países latino-americanos em que o comércio eletrônico tem grande potencial, como México, e emergentes de outros continentes, como a Índia, são mercados de interesse da nova empresa.

‘As oportunidades internacionais hoje são muito efetivas e temos que aproveitar nossos conhecimentos nos canais em que atuamos’, confi rma Jan-sen, que deve dividir a direção da B2W com Anna Saicali, que preside a Americanas.com.

Pela proposta, as Lojas Americanas S.A. (Lasa), controladora da Ameri-canas.com, passarão a deter 53,25% do capital total da B2W. Os acionistas do Submarino fi cariam com 46,75%. Além da aprovação dos acionistas, a transação também precisa passar pelo crivo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), do Ministério da Justiça, pois a empresa resultan-te da fusão terá mais de 50% das vendas do varejo online do país.

Na prática, será a segunda operação de fusão envolvendo companhias abertas no país em que uma delas não tem controlador. Na anterior, a Sadia

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24 O Globo. Disponível em www.oglobo.

globo.com. Acesso em 24 de novembro

de 2006.

fez uma oferta hostil pela Perdigão, mas o negócio não prosperou. Agora, a fusão resultou de consenso entre os dirigentes das duas empresas.

A Lasa é controlada por um trio de fi nancistas: Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles. À frente do banco Garantia, ou da GP Investimentos, os três lideraram operações como a fusão de Antarctica e Brahma, que resultou na criação da AmBev, e mais recentemente sua união com a belga Interbrew (InBev).

As ações ordinárias (com direito a voto) do Submarino subiram ontem 15,80%, cotadas a R$ 60,80, após abrirem em alta de 20% no pregão da Bolsa de São Paulo. Já as ações preferenciais das Americanas caíram 8,25, fechando a R$ 100. Na abertura, a alta chegou a ser de 6,4%. Segundo Da-niella Marques, gestora de renda variável da Mercatto Gestão de Recursos, o mercado não reagiu bem à falta de informações: ‘Enquanto os acionistas da Americanas.com fi cam sem informação, os do Submarino receberão um belo prêmio (R$ 500 milhões em dividendos antecipados) na operação’.

Nos últimos 30 dias, as ações do Submarino subiram 54%, contra 8,86% do Ibovespa. ‘Tudo indica que houve vazamento (de informações)’, disse o presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Marcelo Trindade. A CVM abriu investigação.

(...)

Operação preocupa varejistas menoresPara o analista do Banco Modal, Eduardo Roche, a fusão também teve

como objetivo proteger o mercado de concorrentes estrangeiros, como a americana Amazon.com. Ele lembrou ainda que, recentemente, a America-nas.com comprou o Shoptime.com, que também tem canal de vendas na TV.

A fusão entre as duas maiores empresas de vendas pela Internet gerou preocupações no setor, que este ano movimenta cerca de R$ 4,3 bilhões. ‘As vendas fi carão concentradas. A tendência é um mercado mais apertado para as empresas menores que não aderirem à guerra dos preços’, disse Marcos Zignal, vice-presidente da rede de locadoras Blockbuster.

Empresas que trabalham em parceria com as duas maiores do setor ainda não sabem o futuro dos negócios. ‘A Americanas.com representa entre 10% e 15% de nosso faturamento. Hoje, nosso principal concorrente é o Sub-marino. Não sabemos como a nova companhia vai funcionar’, diz Marcelo Franco, diretor da Sacks, responsável por 60% das vendas do setor de beleza pela rede e que atua com Americanas.com e Shoptime”24.

2. “Cade avaliará união de Americanas.com e Submarino após 17 de ja-neiro

A avaliação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre a união entre a Americanas.com e o Submarino terá início apenas a

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25 Portal Exame. Disponível em http://

portalexame.abril.com.br. Acesso em

27 de dezembro de 2006.

partir de 17 de janeiro, data da próxima reunião do órgão, quando o proces-so a respeito da operação será destinado a um dos conselheiros. De acordo com o Cade, não há prazo para a emissão do parecer defi nitivo sobre a pos-sibilidade de operação da B2W, fruto da união das duas empresas. O último encontro do órgão ocorreu em 13 de dezembro, mesmo dia da aprovação da união pelos acionistas do Submarino em assembléia geral extraordinária. O Cade deverá se basear em instrução fornecida pela Secretaria de Direito Econômico. Inicialmente, a Lojas Americanas, controladora da B2W, e o Submarino previam o funcionamento da nova empresa ainda para o início de janeiro. Ontem, a B2W anunciou a criação de quatro fi liais. De acordo com a empresa, as unidades referem-se a endereços já existentes da Americanas.com e do Submarino. Três deles estão no Estado de São Paulo e outro, na cidade do Rio de Janeiro. A decisão da ofi cialização das fi liais foi tomada em reunião do conselho de administração da B2W ocorrida no último dia 20. Ainda em 13 de dezembro, logo após a reunião do Submarino, a B2W reali-zou a primeira assembléia, destinada à aprovação da constituição da empresa. Na ocasião, esteve em pauta também a aprovação dos laudos de avaliação de cada companhia e o estatuto social da B2W, além da eleição do conselho de administração”25.

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26 Nesse sentido aponta Fran Martins:

“Dentre as diversas sociedades co-

merciais, a anônima sempre requereu

normas muito especiais para a sua

constituição e funcionamento. Deve-se

isso ao fato de, em regra, se destinarem

essas sociedades a grandes empreen-

dimentos, exigindo capitais avultados

e um relacionamento especial com o

público e os credores, em face dos prin-

cípios, dominantes nas companhias, de

que todos os acionistas têm responsa-

bilidade limitada às importâncias com

que concorrem para a sociedade e de

que não há alteração na estrutura so-

cial com a entrada ou saída de qualquer

sócio” (Fran Martins, Comentários à Lei

das Sociedades Anônimas, vol. I. Rio de

Janeiro: Forense, 1977, p. 3).

27 Nos termos do artigo 1.052 do Código

Civil Brasileiro.

28 Conforme dispõe o artigo 1º da Lei

das S.A.

AULA 2: SOCIEDADE ANÔNIMA: EVOLUÇÃO HISTÓRICA, NOÇÕES GERAIS E CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS

C) MATERIAL DE LEITURA

Leitura básica

Fabio Ulhoa Coelho, Curso de Direito Comercial, Vol. 2, págs.63/69;

Leitura complementar

Rubens Requião, Curso de Direito Comercial, Vol.2., págs 23/42 e 49/50

D) ROTEIRO DE AULA

Na aula anterior, foi avaliada a importância da grande empresa no atual cenário econômico e social. Ainda, concluiu-se que a sociedade anônima é a principal forma jurídica adotada, em escala mundial, pelas grandes organiza-ções empresariais26.

Passaremos, então, a analisar as principais características que distinguem as sociedades anônimas — também denominadas “companhias” — dos de-mais tipos societários no ordenamento jurídico brasileiro.

O artigo 1º da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976 (“Lei das S.A.”), defi ne de modo expresso 2 (duas) características principais das sociedades anônimas, quais sejam: (i) a divisão do seu capital social em ações; e (ii) a limitação da responsabilidade dos acionistas pelas dívidas e obrigações sociais ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. Além dessas duas, há uma terceira característica, que decorre da primeira e que torna a S.A. particularmente atraente: a facilidade de venda da participação societária, em outras palavras, a livre circulação das ações.

Note-se que há pequenas variações no regime de responsabilidade dos só-cios das sociedades limitadas e anônimas: enquanto nas sociedades limitadas “a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social”27, nas socie-dades anônimas, a abrangência da responsabilidade é, em regra, ainda menor, já que “a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas”28.

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Importa destacar que as características acima indicadas não são as únicas que diferenciam as sociedades anônimas dos demais tipos societários, exis-tindo diversos institutos e conceitos que são peculiares das companhias. Isso se deve principalmente, à sua concepção como instrumento efi caz para a captação de recursos junto ao público investidor, de maneira a se fi nanciar diretamente, sem necessariamente recorrer a bancos e instituições fi nanceiras para esse fi m. Essa captação se dá mediante a emissão de valores mobiliários tais como ações ou debêntures para venda aos investidores, propiciando a capitalização da companhia.

A doutrina diverge quanto à origem das Sociedades Anônimas. Em um breve resumo, há quem diga que a Casa di San Giorgio, uma associação de credores da cidade de Gênova, criada para fi nanciar a guerra contra Veneza na Renascença italiana foi o “embrião” da Sociedade Anônima, na medida em que os credores trocaram seus créditos por frações ideais dessa associação e passaram a administrar seus créditos conjuntamente. Muitos, contudo, re-jeitam a idéia que a Casa di San Giorgio foi a origem das S.A.s, assemelhan-do-se mais à uma comunhão de credores.

Na verdade, a Sociedade Anônima como conhecemos hoje se originou nas grandes sociedades coloniais do Século XVII, que fi nanciaram o comércio com o oriente e a exploração de colônias, empreendimentos com custos ele-vadíssimos e forte interesse do Estado. A primeira dessas grandes empresas foi a Companhia das Índias Orientais holandesa, fundada em 1602. Em 1621 foi fundada a Companhia das Índias Ocidentais, que teve grande importân-cia na história do Brasil, tendo patrocinado a invasão holandesa no Nordeste brasileiro.

Várias sociedades similares foram criadas na França, Inglaterra e Portugal, sempre com o intuito de fi nanciar grandes empreendimentos ultramarinos. O primeiro grande movimento especulativo com ações de uma sociedade anônima aconteceu em 1720 com as ações da South Sea Company, uma companhia formada para explorar o monopólio do comércio entre a Ingla-terra e a América espanhola. Esse movimento especulativo, conhecido como “South Sea Bubble”, gerou o famoso “Bubble Act”, obrigando todas as novas empresas a serem formadas apenas mediante um ato de outorga do parla-mento.

No seu início, portanto, as sociedades anônimas começaram como verda-deiras sociedades de economia mista, com forte participação e interesse esta-tal, buscando a poupança privada para fi nanciar grandes empreendimentos de interesse público. As sociedades eram criadas por outorga estatal, criando um mecanismo de controle da captação de recursos da poupança popular.

No Brasil, exemplos de sociedades constituídas sob o regime de outorga são a Companhia Geral do Grão Pará, criada para colonizar o norte do país e o Banco do Brasil.

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29 Artigo 11 da Lei das S.A.: “O estatuto

fi xará o número das ações em que se

divide o capital social e estabelecerá se

as ações terão, ou não, valor nominal”.

Na França, o Código Civil napoleônico, instituiu em 1807 um sistema de autorização governamental para a constituição de uma sociedade por ações, que passou a vigorar em todo o continente. Para a constituição de uma so-ciedade anônima não era mais necessária a outorga estatal, mas apenas uma autorização regulatória.

Em meados do Século XIX, Inglaterra e Estados Unidos, em plena Re-volução Industrial, buscavam maneiras de facilitar o acesso ao capital para o fi nanciamento dos empreendimentos, o que fi zeram mediante a abolição do sistema de outorga, substituindo-o por um sistema de regulamentação. Em outras palavras, desde que seguisse a regulamentação vigente, a constituição de uma sociedade anônima não dependia mais da autorização governamen-tal. Esse sistema foi adotado pela França em 1867, após o acordo de livre comércio com a Inglaterra fi rmado em 1862, que fez com que as sociedades anônimas constituídas na França fi cassem em desvantagem comercial em re-lação às sociedades anônimas constituídas na Inglaterra.

No Brasil, o regime de outorga da colônia e do primeiro reinado foi subs-tituído pelo regime de autorização primeiro por Decreto de 1849, confi rma-do depois no Código Comercial de 1850. Em 1882 o regime de autorização foi abolido e o Brasil passou a adotar o regime de regulamentação, sendo necessária autorização apenas em casos excepcionais, como bancos, segura-doras, sociedades estrangeiras, etc.

Com a Lei das S.As., de 1976, e a criação da CVM, o Brasil passou a con-viver com um regime dualista: regulamentação para as sociedades fechadas e autorização para as companhias abertas, que precisam de autorização prévia da CVM para se constituírem ou terem suas ações negociadas em bolsa de valores.

Como vimos, a primeira e evidente característica de uma sociedade anô-nima é a divisão de seu capital em ações. A ação representa uma fração do capital social de uma sociedade anônima, por meio da qual se atribui ao seu titular a qualidade de acionista29.

As ações são, portanto, títulos que representam o investimento do acio-nista na companhia. Diferentemente do relacionamento dos sócios em uma sociedade limitada, os acionistas são primariamente investidores na sociedade anônima e têm com ela e com os demais acionistas uma relação primordial-mente fi nanceira e não pessoal. Portanto, o princípio é que as ações podem ser livremente negociadas, a não ser em casos excepcionais.

Nesse momento, cabe tratarmos brevemente dos requisitos para a consti-tuição de uma sociedade anônima.

Em primeiro lugar, a constituição da companhia exige a subscrição, pú-blica ou particular, por pelo menos dois acionistas, de todas as ações repre-sentativas do capital social e a integralização de pelo menos 10% do preço de emissão das ações subscritas em dinheiro, mediante o depósito da quan-

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30 Rubens Requião, Curso de Direito Co-

mercial, Vol. 2, pág.50.

31 José Edwaldo Tavares Borba, Direito

societário. 8ª ed. Rio de Janeiro: Reno-

var, 2003, p. 194.

32 Idem, ibidem.

tia correspondente no Banco do Brasil ou em outro banco autorizado pela CVM.

Além disso, a Companhia se constitui na Assembléia Geral de constitui-ção (ou mediante escritura pública) em que os acionistas fundadores apro-vam a constituição da sociedade, subscrevem o capital social e estabelecem os Estatutos Sociais. O regime institucional das companhias determina que o Estatuto Social é o conjunto de normas que irá reger as relações sociais. Ao contrário do Contrato Social, que é o contrato entre os quotistas de uma limitada que só pode ser alterado mediante alteração contratual, os Estatutos têm um caráter normativo, institucional, estabelecendo “as normas segundo as quais a sociedade atuará e se desenvolverá”30 e é instituído ou reformado em Assembléia Geral dos acionistas.

Toda companhia possui um estatuto, que é “a lei interna da sociedade, funcionando como corpo normativo da atuação social e como instrumento de polarização dos acionistas, através da defi nição de seus direitos e obriga-ções” 31. Os estatutos sociais trazem em si previsões necessárias e facultativas. Nas palavras de Tavares Borba:

“O estatuto deverá dispor sobre a denominação e o domicílio da sociedade, o capital e as características das ações, a administração da sociedade, as assembléias gerais, o exercício social, as demonstrações fi nanceiras, a distribuição do lucro, a duração da sociedade e a forma de liquidação, bem como sobre tudo o mais que for considerado relevante”32.

Como vimos anteriormente, o regime das Sociedades Anônimas é o mais adequado para o desenvolvimento da grande empresa. Pela facilidade de atra-ção de capitais e liberdade de circulação do investimento, ele permite o fi nan-ciamento de grandes empreendimentos a um custo infi nitamente menor que os juros que seriam cobrados em uma transação creditícia. Esse mecanismo fez fl orescer as grandes corporações com capital pulverizado e receitas supe-riores a de países, de que tratamos na aula anterior. Nas próximas aulas, ire-mos explorar mais detalhadamente esse regime das sociedades anônimas, de forma a entender os conceitos que lhe são peculiares e a sua aplicação prática.

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E) TEXTO DE APOIO

Prateleiras digitais — A mineira GW começa a ganhar dinheiro com o seu

programa de supermercado virtual

Por José Maria FurtadoRevista Exame — 22.09.1999

Em 1997, dois amigos de Belo Horizonte, Gílson Vilela e Weuber Viana, desligaram-se de seus negócios e, com 100 000 reais, fundaram a GW.Commerce. No rastro do comércio eletrônico, a empresa de Vilela e Viana está crescendo à velocidade de um foguete. No início deste ano havia 11 funcionários na folha de pagamentos da GW, cujo nome é formado pelas iniciais dos nomes de seus donos. Atualmente eles são 33 e devem mais que dobrar até o fi nal de 1999. O faturamento, de 400 000 dólares em 1998, está estimado em 2 milhões de dólares neste ano. Um programa idealizado por Vilela, o VSM-Virtual Super Market, pode fazer deles, juntamente com os sócios Álvaro Lima e Roberto Plácido Teixeira, os mais novos milionários do mundo digital. O VSM serve para telemarketing, comércio eletrônico e delivery e pode ser acessado por telefone, CD-ROM e Internet. A versão CD-ROM é a única que dispõe de realidade virtual. Com ela, os clientes dos supermercados podem percorrer, sem sair de casa, a loja que comumente fre-qüentam. Corredor por corredor, tudo é visto exatamente como está exposto no espaço físico da loja. Outros programas existentes, mais simples, não têm a terceira dimensão e, por isso, não proporcionam a sensação da virtualidade.

Com vantagens desse tipo, o VSM foi considerado o melhor programa do planeta para supermercado virtual pela Research USA, uma fi rma ame-ricana de pesquisas. A pedido da GW, que quer exportar o programa para o mercado americano, a empresa investigou mais de 500 softwares de comércio eletrônico em todo o mundo. A Research comparou, entre outros itens, as facilidades operacionais, a qualidade da imagem gerada e o tempo gasto para a atualização de preços. O VSM se diferencia da concorrência com recur-sos técnicos como luz, sombras e, ainda, a terceira dimensão. “Não temos conhecimento de outro que faça conexão de CD-ROM via Internet”, diz Vilela. O VSM está em uso nas redes de supermercados EPA, Via Brasil e Santa Helena, de Minas Gerais, na Fiesta, do Rio de Janeiro, e na Comper, do Mato Grosso. Segundo Vilela, há negociações adiantadas com as redes Bompreço, de Recife, Estrela Dalva, de Belo Horizonte, e ABC, do Rio de Janeiro. “Conversamos também com o Carrefour e o Sonae, mas como eles estão focados na compra de concorrentes, e não em comércio eletrônico, de-mos um tempo”, diz ele. “Mas o nosso maior objetivo é vender mesmo para as grandes redes americanas.”

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Engenheiro civil que nas horas vagas gosta de pescar, jogar futebol e ler o americano Al Ries, Vilela é ex-dono de um pequeno supermercado, o Trevo, de Belo Horizonte. “Sem a ajuda de uma boa retaguarda eletrônica, eu perdia muito tempo no processo de compra e armazenagem”, diz ele. Veio daí a idéia de desenvolver um software específi co para a loja. O projeto patinou até ele perceber que, se servia à sua loja, poderia servir a todos os supermercados e render muito mais dinheiro. Isso interessou a Viana, amigo e fornecedor de ovos do supermercado de Vilela. Ambos decidiram mudar de ramo, vende-ram seus empreendimentos pessoais e apostaram tudo na GW.

Antes mesmo de iniciá-la, cuidaram de convencer um capitalista a bancar o desenvolvimento do VMS (Vilela passou seus conhecimentos sobre super-mercados para três especialistas em computação. Foram eles que desenharam o programa, já obedecendo às necessidades dos supermercadistas). Trata-se de Osório Bastos, diretor do supermercado Santa Helena, de Sete Lagoas, ci-dade a 70 quilômetros da capital mineira. Bastos tem uma só loja, e acreditou que vendendo virtualmente poderia conquistar novos mercados. Ele assinou o contrato em 1998 e hoje o Santa Helena já realiza 50 vendas diárias em Belo Horizonte. Em 12 meses elas devem render cerca de 2 milhões de dóla-res, o equivalente a 25% do faturamento anual do supermercado.

O Santa Helena virtual despertou a atenção do EPA e do Via Brasil, que esperavam apenas alguém tomar a iniciativa para copiá-la sem os custos do pioneirismo. Mais tarde, em setembro de 1998, as demonstrações do VSM na convenção anual da Abras, a Associação Brasileira de Supermercados, fi -zeram muito sucesso. Já em abril deste ano, a GW participou da feira anual do FMI, o Food Marketing Institute, órgão que congrega os supermercados americanos. No evento, a americana RMS-Retail Marketing Solution, que fatura 200 milhões de dólares por ano, conheceu o VSM e propôs uma repre-sentação exclusiva nos Estados Unidos. “Eles pagariam 5 milhões de dólares pela exclusividade”, afi rma Vilela. Mas a GW resistiu à tentação — a RMS será remunerada de acordo com as vendas. É que, segundo o instituto dos supermercadistas americanos, nos Estados Unidos existem 126 000 lojas de varejo de alimentação. Elas faturam mais de 400 bilhões de dólares anuais. Isso levou a GW a pensar que a oferta da RMS poderia ser ótima inicialmen-te, mas péssima em longo prazo. Uma confi guração mínima do VSM custa cerca de 200 000 dólares. “Se apenas 1% das lojas americanas o adotarem, nosso faturamento anual ultrapassará 200 milhões de dólares”, diz Vilela.

Além de representantes, vender nos Estados Unidos requer alguém que cuide mais de perto dos negócios e também da absorção de novas tecnolo-gias. Para isso, a GW escalou um de seus sócios, Álvaro Lima, baseado em San Francisco. Lima, que é também acionista da Módulo, empresa carioca de tecnologia de segurança de informação, tem como tarefa principal aproxi-mar a GW das empresas americanas de venture capital. O objetivo é colocar

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ações no mercado americano. Como primeiro passo, a GW está se transfor-mando numa sociedade anônima de capital fechado para poder pleitear um empréstimo de 2 milhões de dólares no BNDES. O banco tem uma linha de fi nanciamento às fábricas de software, sem exigir garantias reais. Em troca, fi ca com 50% das ações. O dinheiro facilitará a exportação do programa e a instalação de um escritório na Califórnia. “Até 2001, teremos papéis da GW no pregão da Nasdaq”, diz Lima.

No Brasil não haverá abertura do capital. Mas a GW não descuida do mercado nacional, pois 48% das 300 maiores redes de supermercados pre-tendem adotar o comércio eletrônico até o fi nal de 2000. Roberto Plácido Teixeira, o diretor de tecnologia da GW, prepara um novo recurso a fi m de turbinar o VMS e torná-lo ainda mais palatável. É o data-base marketing. Com ele, os supermercados terão um arquivo sobre os hábitos de compra de cada cliente. “É um grande diferencial competitivo e representa uma impor-tante mudança de paradigma”, afi rma Teixeira. “O controle dos estoques será feito com base nas vendas e não nas compras.” Teixeira é considerado um dos papas da informática brasileira. Ele criou o Michaelis eletrônico, o dicioná-rio da Companhia Melhoramentos. Por sua vez, Vilela cuida de um projeto de divulgação do comércio eletrônico com a participação da Microsoft e da Embratel. “Com essa parceria e o data-base, as nossas vendas explodirão de vez”, diz ele.

D) CASO

M Dias Branco S/A — Uma Sociedade Limitada que cresceu para trans-formar-se em Sociedade Anônima da Capital Aberto.

Desde a década de 40, o idealizador da Companhia, o Sr. Manuel Dias Branco, já explorava, no Estado do Ceará, atividades ligadas à panifi cação e à fabricação de biscoitos, com utilização de técnicas artesanais.

A partir de 1953, com a entrada do Sr. Francisco Ivens de Sá Dias Branco na sociedade então conhecida como M. Dias Branco & Cia. Ltda., novas di-retrizes passaram a ser adotadas nos negócios, cujos investimentos passaram a ser concentrados na produção industrial e no comércio de biscoitos e massas.

Em 1961, a Companhia foi constituída sob a forma de uma sociedade por ações de capital fechado e, em 1980, foram iniciadas as atividades na nova sede da Fábrica Fortaleza.

Por ocasião da abertura econômica do Brasil, inclusive do mercado de tri-go, ocorrida em 1990, iniciou-se um novo ciclo de crescimento dos negócios.

Em 1992, foi inaugurado o Moinho Dias Branco, no Estado do Ceará, primeiro moinho de trigo da companhia, o que permitiu produzir a principal matéria-prima dos seus produtos, de forma a não depender mais de fornece-

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dores deste insumo, como também ingressar no competitivo mercado de fari-nhas de trigo. A companhia conquistou posição de destaque neste segmento, sendo que em 2005, vender am para seus clientes 51,9% da produção total.

Em 2000, inaugurou-se o Grande Moinho Potiguar (moinho de trigo e fábrica de massas), no Estado do Rio Grande do Norte.

Em meados de 2002, perseguindo uma política de verticalização de insu-mos e de ingresso em novos segmentos, foi inaugurada a Divisão G.M.E., no Estado do Ceará, uma unidade produtora de gorduras vegetais, margarinas e cremes vegetais. Esta estratégia de verticalização também revelou-se presen-te no próprio processo produtivo de gorduras vegetais, margarinas e cremes vegetais, tendo em vista que a referida unidade produz, em usina própria, grande parte da gordura vegetal, que é a segunda matéria-prima mais impor-tante usada no processo produtivo de biscoitos, além de todo o hidrogênio necessário ao processo produtivo.

Em 2003, foi inaugurado o Grande Moinho Aratu, no Estado da Bahia (complexo industrial que compreende um moinho de trigo, uma fábrica de biscoitos e de massas, além de um terminal portuário de grãos, denominado Terminal Portuário de Cotegipe, o qual é controlado por FISDB), produzin-do, inicialmente , farinha e farelo de trigo e adquiriu-se o controle acionário da Adria, tradicional fabricante de biscoitos e massas, líder nas regiões Sudes-te e Sul do País, o que proporcionou maior presença em tais regiões e lide-rança no mercado nacional de massas e biscoitos. Com a aquisição da Adria, as marcas Adria, Basilar, Isabela e Zabet somaram-se às marcas Richester e Fortaleza, passando a atingir um leque ainda maior de consumidores em todo o País. Além disso, o potencial produtivo tornou-se ainda maior, tendo em vista que a Adria dispõe de três unidades industriais no Estado de São Paulo e uma no Rio Grande do Sul. Neste mesmo ano, inaugurou-se o Moinho Tambaú, que também produz farinha de trigo e massas.

Em 2005, iniciou-se a produção de biscoitos e massas no Grande Moinho Aratu.

Eventos Societários RelevantesEm 22 de setembro de 2003, a M. Dias Branco adquiriu a Adria, por meio

da Green Jungle Limited. A Adria, fabrica, distribui e comercializada produ-tos alimentícios, em especial biscoitos e massas.

Em 31 de março de 2006, foi realizada a cisão de certos ativos e passivos, incluindo: (i) imóveis não utilizados na atividade de industrialização, comer-cialização e distribuição de produtos alimentícios; (ii) investimentos no capi-tal de empresas coligadas ou controladas não relacionadas à industrialização, comercialização e distribuição de produtos alimentícios; e (iii) investimentos no mercado fi nanceiro, excedentes às necessidades de liquidez da companhia.

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FGV DIREITO RIO 22

Em abril de 2006, a M. Dias Branco transformou-se em uma sociedade por ações e realizou-se o grupamento de nossas ações, na proporção de 3 ações para 1 ação. Adicionalmente, as então controladoras M. Dias Branco Administração e Participações e Idibra Participações — então detentoras de 65,16% do capital social — aprovaram suas respectivas reduções de capi-tal social com a restituição aos seus acionistas de montante equivalente à parcela reduzida do capital social, proporcionalmente às suas participações, que ocorreu, com relação ao acionista FISDB, mediante entrega de ações de emissão da M. Dias Branco. Em decorrência desta reestruturação societária, o acionista FISDB passou a deter 84,25% do capital tendo, posteriormente, transferido suas ações para o Acionista Vendedor, cujo quotista majoritário é o FISDB. Ainda, em abril de 2006, a Companhia aumentou seu capital so-cial e, em agosto de 2006, realizou o grupamento de suas ações, na proporção de 2 ações para 1 ação.

Em 2006, a M. Dias Branco passou a deter diretamente 99,99% do capi-tal da Adria, após (i) a conferência da totalidade das ações detidas na Green Jungle Limited para a Green Jungle Brasil, por ato datado de 30 de junho de 2006; e (ii) a dissolução da Green Jungle Limited, deliberada em 29 de julho de 2006, com a entrega de seu acervo líquido à Green Jungle Brasil; e (iii) a incorporação da Green Jungle Brasil pela Adria com data — base de 31 de ju-lho de 2006, aprovada em 30 de agosto de 2006 e pendente de formalização.

Pergunta-se:1) Qual a relevância prática na modifi cação da forma societária?2) O que signifi ca a abertura de capital e porque ela foi realizada neste caso?

E) ATIVIDADE A SER DESENVOLVIDA EM SALA DE AULA — CONSTITUI-ÇÃO DE UMA SOCIEDADE ANÔNIMA

A partir desta aula os alunos iniciarão a redação de um ato constitutivo de uma sociedade anônima.

O professor apresentará, aula a aula, grupos de cláusulas de um ato de constituição original que servirá de molde para o exercício proposto.

Este exercício será continuamente complementado ao longo do curso.

F) JURISPRUDÊNCIA

“RECURSO ESPECIAL. SOCIEDADE ANÔNIMA. AUTONOMIA DAS DELIBERAÇÕES ASSEMBLEARES. As deliberações societárias são autônomas e soberanas, não sujeitas a atos praticados ‘ultra vires societatis’,

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FGV DIREITO RIO 23

isto é, atos não razoavelmente vinculados à sociedade. A preferência para o aumento de capital não pode ser levada além do seu raio de ação, para assim ampliar o privilégio legal e isso por força de simples acordo ou negócio feito entre acionistas. Negativa de vigência do art. 171, Lei 6.404/76. Dissídio (CF, art. 105, III, ‘a’ e ‘c’). Recurso conhecido e provido” (STJ, 3ª T, REsp 1/SP Rel. Min. Gueiros Leite, j. 12.09.1989, v.u., DJ 16.10.1989, p. 15856).

“NOME COMERCIAL. DIREITO À EXCLUSIVIDADE. EMPREGO DA EXPRESSÃO ‘REFINAÇÕES’. 1. Não é de assegurar-se a exclusividade pretendida, desde que, tratando-se de uma expressão de uso comum, desig-nativa da atividade empresarial, inocorre a possibilidade de confusão junto à clientela. 2. Agravo improvido” (STJ, 4ª T, AGA 25652/SP, Rel. Min. Barros Monteiro, j. 28.09.1993, v.u., DJ 08.11.1993, p. 23559).

“NOME COMERCIAL. DENOMINAÇÃO SOCIAL. MARCA. O ti-tular da marca não tem o direito de incluí-la na sua denominação social, se outra sociedade já está registrada na Junta Comercial com o mesmo nome. Recurso conhecido e provido” (STJ, 4ª T, REsp 35806/SP, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. 09.12.1997, v.m., DJ 24.08.1998, p. 90).

G) QUESTÕES DE CONCURSO

(29º Exame de Ordem OAB-RJ) 37 — A constituição da Sociedade Anô-nima por subscrição particular do capital deverá ser feita por deliberação de subscritores.

a. Em Assembléia Geral ou por contrato particular;b. Somente em Assembléia Geral;c. Em Assembléia Geral ou por escritura pública;d. Somente por escritura pública.

(28º Exame de Ordem OAB-RJ) 35 — Assinale a resposta correta:a. A companhia terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos

acionistas será sempre ilimitada;b. A sociedade anônima não pode ter fi m lucrativo;c. A contribuição do sócio para o capital social na limitada pode consistir

em prestação de serviços;d. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao

valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social.

(26º Exame de Ordem OAB-RJ) 48 — A sociedade anônima que queira ter por objeto participar de outras sociedades:

a. Pode fazê-lo sem que haja previsão estatutária

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FGV DIREITO RIO 24

b. Está impedida de fazê-lo por conta de vedação prevista em lei especialc. Pode fazê-lo desde que haja previsão no Estatuto de forma precisa e

completad. Somente poderá fazê-lo se for companhia de capital aberto, mesmo sem

expressa previsão estatutária

(25º Exame de Ordem OAB-RJ) 49 — Marque a resposta correta: São requisitos preliminares para a constituição de uma companhia:

a. Subscrição, pelo menos por duas pessoas, de todas ações em que se divi-de o capital social fi xado no estatuto; realização, como entrada, de 10% (dez por cento), no mínimo, do preço de emissão das ações subscritas em dinhei-ro; e depósito, no Banco do Brasil ou outro banco autorizado pela Comissão de Valores Imobiliários, da parte do capital realizado em dinheiro;

b. Subscrição, pelo menos por uma pessoa, de todas as ações em que se divide o capital social; realização, como entrada, de 15% (quinze por cento), no mínimo, do preço de emissão das ações subscritas em dinheiro; e depó-sito, somente no Banco do Brasil da parte do capital realizado em dinheiro.

c. Subscrição, pelo menos por três pessoas, de todas ações em que se divide o capital social fi xado no estatuto; realização, como entrada, de 5% (cinco por cento), no mínimo, no preço de emissão das ações subscritas em dinhei-ro; e depósito, no Banco do Brasil ou outro banco autorizado pela Comissão de Valores Imobiliários, da parte do capital realizado em dinheiro;

d. Subscrição, pelo menos por duas pessoas, de todas ações em que se divide o capital social fi xado no estatuto; realização, como entrada, de 20% (vinte por cento), no mínimo, do preço de emissão das ações subscritas em dinheiro; e depósito, somente no Banco do Brasil, da parte do capital reali-zado em dinheiro.

(24º Exame de Ordem OAB-RJ) 50 — Não é uma característica da socieda-de anônima:

a. Capital social dividido em ações, respondendo os acionistas pelo preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas

b. Independentemente de seu objeto social, a sociedade anônima é sempre mercantil

c. A sociedade anônima pode exercer a sua atividade sob fi rma ou razão social, da qual só farão parte os nomes dos sócios diretores ou gerentes

d. A assembléia geral ordinária e a assembléia geral extraordinária são ór-gãos de deliberação da sociedade anônima

(11º Exame de Ordem OAB-RJ) 23 — Assinale a resposta correta:a. O estatuto não precisa defi nir o objeto social de forma clara, o que pode

ser feito pelo regimento interno da companhia;

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FGV DIREITO RIO 25

b. A sociedade anônima tem o seu capital dividido em ações, e os acionis-tas respondem solidariamente até a importância total do capital social;

c. A companhia não pode ter por objeto participar de outras sociedades;d. Qualquer que seja o objeto, a sociedade anônima é mercantil e se rege

pelas leis e usos do comércio.

(11º Exame de Ordem OAB-RJ) 25 — As características da sociedade anô-nima são:

a. O capital dividido em ações e a responsabilidade dos acionistas limitada ao preço de emissão das ações;

b. O capital dividido em ações e a responsabilidade dos sócios até o valor do total do capital social;

c. O capital social dividido em quotas;d. O capital social dividido em ações ou debêntures, e a responsabilidade

dos sócios até o valor do capital social.

(3º Exame de Ordem OAB-RJ) 6 — Determinada sociedade anônima, constituída por subscrição pública, aprovou, pela unanimidade de votos dos subscritores presentes e que constituíam a maioria deles, em assembléia constitutiva regularmente convocada, os seus estatutos, alterando inúmeros dispositivos constantes do projeto publicado. Os subscritores ausentes a essa assembléia podem pedir a nulidade da constituição?

(3º Exame de Ordem OAB-RJ) 25 — Ação é:a. A parte mínima em que se divide o capital;b. A parte do lucro atribuída a cada acionista;c. Um título de crédito próprio;d. Título representativo de empréstimo tomado pela SA.

(1º Exame de Ordem OAB-RJ) 4 — Na criação de uma sociedade anônima, por subscrição pública, foram os atos preliminares submetidos ao exame da CVM que os aprovou. Não tendo subscrito o total do capital social os subs-critores, em assembléia, resolveram, por maioria absoluta, reduzir o capital para a quantia subscrita, prosseguindo nos atos ulteriores para a constituição. Isso é possível? Por quê?

(1º Exame de Ordem OAB-RJ) 26 — As duas formas de constituição da sociedade anônima são:

a. Aberta ou fechada;b. Simultânea ou sucessiva;c. Por ações ou por cotas;d. Pública ou privada.

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FGV DIREITO RIO 26

H) GLOSSÁRIO

CISÃO: Operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu patrimô-nio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fi m ou já existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão de todo o seu patrimô-nio, ou dividindo-se o seu capital, se parcial a versão.

CVM: Comissão de Valores Mobiliários. Agência reguladora do mercado de capitais, responsável pela fi scalização e autorização de atuação de socieda-des no mercado fi nanceiro.

DEBÊNTURE: é um título de crédito representativo de empréstimo que uma companhia emite junto a terceiros e que assegura a seus detentores direito contra a emissora, nas condições constantes da escritura de emissão.

SOCIEDADES COLIGADAS: Sociedade de cujo capital outra sociedade partici-pa com dez por cento ou mais do capital, sem controlá-la.

SOCIEDADES CONTROLADAS: 1) Sociedade de cujo capital outra socie-dade possua a maioria dos votos nas deliberações dos cotistas ou da as-sembléia geral e o poder de eleger a maioria dos administradores; ou2) sociedade cujo controle esteja em poder de outra, mediante ações ou quo-tas possuídas por sociedades ou sociedades por esta já controladas (Fonte: www.bovespa.com.br).

PARTICIPAÇÃO ACIONÁRIA PULVERIZADA: participação de múltiplos acionis-tas numa sociedade anônima por meio de aquisição de ações que não per-fazem um poder acionário majoritário, de forma a gerar “companhias sem dono” e multiplicar a capacidade de investimentos.

TÍTULOS DE CRÉDITO: papéis representativos de uma obrigação e emitidos de conformidade com a legislação específi ca de cada tipo ou espécie. Exem-plos: cheque, nota promissória, duplicata etc.

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FGV DIREITO RIO 27

33 Fabio Ulhoa Coelho — Curso de Di-

reito Comercial, p.

34 Por exemplo, nas aulas 6 e 7 estuda-

remos os valores mobiliários; nas aulas

10 e 11, o funcionamento do controle

acionário; e na aula 18, os procedimen-

tos para transformação, incorporação,

fusão e cisão das sociedades anônimas.

AULAS 3 E 4: COMPANHIA ABERTA E FECHADA. MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS. COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. NOÇÕES GERAIS.

F) MATERIAL DE LEITURA

Leitura básica

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. Vol. 2. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, pp. 69-79.

REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. Vol. 2. 23ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, pp. 31-44.

Leitura complementar

TRINDADE, Marcelo F. “O papel da CVM e o mercado de capitais no Bra-sil”. IN: Fusões e Aquisições: aspectos jurídicos e econômicos”. São Paulo: IOB, 2002, pp. 296-329.

G) ROTEIRO DE AULA

Na aula passada, vimos algumas noções gerais e características próprias das sociedades anônimas. Também identifi camos a importância estratégica, do ponto de vista econômico, social e político, da constituição de uma sociedade anônima quando comparada com a sociedade limitada.

Agora, passaremos ao exame mais detido da Sociedade Anônima, seu con-ceito, suas classifi cações e tipos, bem como sua forma de constituição.

Nesse sentido, inicialmente indaga-se: Qual o Conceito de S.A?De acordo com Fabio Ulhoa Coelho, a sociedade anônima “é a sociedade

empresária com capital social dividido em ações, na qual os sócios, chamados acionistas, respondem pelas obrigações sociais até o limite do preço de emissão

das ações que possuem.”33

Há ainda peculiaridades específi cas — as quais serão estudadas ao longo no nosso curso34 — caso se esteja tratando de companhias abertas ou fecha-das. Vale assinalar que o artigo 4º da Lei das S.A. distingue as sociedades anônimas de capital aberto ou fechado, nos seguintes termos:

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FGV DIREITO RIO 28

35 Alfredo Lamy Filho e José Luiz Bu-

lhões Pedreira, A Lei das S.A. 3ª ed. Vol.

I. Rio de Janeiro: Renovar, 1997, p. 84.

36 Fábio Ulhoa Coelho. Curso de direito

comercial. Vol. 2. 6ª ed. São Paulo: Sa-

raiva, 2003, p. 136. São exemplos de

valores mobiliários as ações, já tratadas

superfi cialmente na aula passada.

37 Informações baseadas no site da Co-

missão de Valores Mobiliários (www.

cvm.org.br).

“Art. 4º Para os efeitos desta Lei, a companhia é aberta ou fechada conforme os valores mobiliários de sua emissão estejam ou não admitidos à negocia-ção no mercado de valores mobiliários”.

Em relação ao tratamento jurídico que é dado a um ou outro tipo de sociedade, apontam Alfredo Lamy Filho e José Luiz Bulhões Pedreira, co-autores do anteprojeto da Lei das S.A.:

“Os mecanismos básicos do funcionamento interno das companhias aber-tas e fechadas são os mesmos, mas, nas relações com o público, as companhias abertas assumem obrigações relevantes e específi cas com os participantes dos mercados de valores mobiliários, e o público em geral”35.

O conceito de valores mobiliários e as suas noções gerais serão estudados nas aulas 6 e 7. Nesse momento, importa apenas compreender que os valores mobiliários “são instrumentos de captação de recursos, para o fi nanciamento da empresa, explorada pela sociedade anônima que os emite, e representam, para quem os subscreve ou adquire, uma alternativa de fi nanciamento”36.

As vantagens presentes na abertura de capital de determinada sociedade anônima decorrem da análise inicial de sua viabilidade. A abertura de ca-pital é recomendável apenas quando existam objetivos bem delimitados e um projeto para seu alcance. Dentre outros benefícios, podemos destacar as seguintes vantagens que geralmente podem ser encontradas na abertura do capital de uma companhia37:

1. A abertura de capital amplia a base para se captar recursos, já que exis-te o oferecimento público em bolsa de ações de emissão da sociedade para aquisição e investimento do público em geral. Ao mesmo tempo, amplia-se o potencial de crescimento da sociedade, na medida em que se permite, em tese, um maior aporte fi nanceiro para o fi nanciamento de projetos e outros objetivos buscados pela sociedade.

Ainda, a abertura de capital é a alternativa mais adequada para o fi nancia-mento dos objetivos da sociedade se comparada aos fi nanciamentos bancá-rios (contratos de mútuo a juros, por exemplo) que têm um custo altíssimo.

2. A abertura de capital permite uma maior liquidez patrimonial, garan-tindo uma capacidade de posicionamento estratégico maior. Isso se deve à diluição do risco empresarial e, ao mesmo tempo, à valorização da participa-ção acionária.

3. A abertura de capital permite uma maior exposição da reputação e da marca da companhia no mercado, podendo gerar um incremento da imagem institucional e reforçando sua capacidade de negociar. Isso é possível graças à transparência necessária para a abertura de capital. A companhia deve infor-mar, de forma clara e precisa, as suas condições de operação, o que permite

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FGV DIREITO RIO 29

38 Nos termos do parágrafo 1º do arti-

go 3º da Instrução CVM nº 400, de 29

de dezembro de 2003, “considera-se

como público em geral uma classe,

categoria ou grupo de pessoas, ainda

que individualizadas nesta qualidade,

ressalvados aqueles que tenham prévia

relação comercial, creditícia, societária

ou trabalhista, estreita e habitual, com

a emissora”. Ainda, conforme estabele-

ce o artigo 3º da aludida norma: “Art. 3º

São atos de distribuição pública a ven-

da, promessa de venda, oferta à venda

ou subscrição, assim como a aceitação

de pedido de venda ou subscrição de

valores mobiliários, de que conste qual-

quer um dos seguintes elementos: I - a

utilização de listas ou boletins de venda

ou subscrição, folhetos, prospectos ou

anúncios, destinados ao público, por

qualquer meio ou forma; II - a procura,

no todo ou em parte, de subscritores ou

adquirentes indeterminados para os

valores mobiliários, mesmo que reali-

zada através de comunicações padroni-

zadas endereçadas a destinatários indi-

vidualmente identifi cados, por meio de

empregados, representantes, agentes

ou quaisquer pessoas naturais ou ju-

rídicas, integrantes ou não do sistema

de distribuição de valores mobiliários,

ou, ainda, se em desconformidade com

o previsto nesta Instrução, a consulta

sobre a viabilidade da oferta ou a coleta

de intenções de investimento junto a

subscritores ou adquirentes indetermi-

nados; III - a negociação feita em loja,

escritório ou estabelecimento aberto

ao público, destinada, no todo ou em

parte, a subscritores ou adquirentes

indeterminados; ou IV - a utilização

de publicidade, oral ou escrita, cartas,

anúncios, avisos, especialmente através

de meios de comunicação de massa ou

eletrônicos (páginas ou documentos na

rede mundial ou outras redes abertas

de computadores e correio eletrônico),

entendendo-se como tal qualquer

forma de comunicação dirigida ao pú-

blico em geral com o fi m de promover,

diretamente ou através de terceiros que

atuem por conta do ofertante ou da

emissora, a subscrição ou alienação de

valores mobiliários”.

39 São, contudo, muito mais numerosas

no Brasil as sociedades anônimas de

capital fechado. Isso se deve a um fato

histórico: a constituição originalmente

familiar das sociedades anônimas e a

proteção dos acionistas da ingerência

externa de algum acionista fora do

âmbito de conhecimento e confi ança

dos demais.

40 Alfredo Lamy Filho e José Luiz Bu-

lhões Pedreira, A Lei das S.A. 3ª ed. Vol.

I. Rio de Janeiro: Renovar, 1997, p. 84.

41 A esse respeito, dentre outros dispo-

sitivos legais, pode-se destacar o artigo

8º, inciso I, da Lei nº 6.385/76, transcri-

to abaixo.

aos investidores conhecer a sociedade e confi ar em sua posição no mercado. Nessa linha, o status de companhia aberta tende a facilitar, também, as asso-ciações internacionais.

4. A abertura de capital leva à aceleração da profi ssionalização da compa-nhia. Inicialmente, esse processo é conseqüência das disposições legais, dada a eleição de conselheiros representantes dos novos acionistas e a exigência da fi gura do Diretor de Relações com Investidores (DRI).

Por outro lado, há desvantagens na constituição de uma companhia aber-ta, dentre as quais podemos destacar:

1. Os custos associados ao processo de abertura de capital, à remuneração do capital dos novos acionistas (política de dividendos) e à administração de um sistema de informações específi co para o controle da propriedade da empresa.

2. A necessidade de atendimento a normas mais específi cas e rigorosas, no que tange aos procedimentos e princípios contábeis, de auditoria, e divulga-ção de demonstrações fi nanceiras.

Nota-se, assim, que a vocação original e principal da sociedade anônima — de representar um instrumento efi caz para a captação de recursos junto ao pú-blico investidor, permitindo uma maior capitalização da sociedade — se revela nas companhias abertas, uma vez que às sociedades anônimas de capital fechado não se faculta a oferta ou distribuição de títulos ao público em geral38/39. E é exatamente nesse aspecto que reside a mais relevante distinção entre as compa-nhias abertas e fechadas, nas palavras de Alfredo Lamy Filho e José Luiz Bulhões Pedreira“Com efeito, a diferença mais importante entre a companhia fechada e a aberta é que esta, além das relações (internas) com os investidores do mercado que são seus acionistas, mantém — pelo fato de participar do mercado como emissora de valores mobiliários negociados mediante oferta pública — relações com todos os investidores do mercado — inclusive os que não são titulares de valores de sua emissão, mas apenas adquirentes em potencial desses valores”40.

Em face dessas diferenças estruturais e visando à proteção do público in-vestidor, a legislação — não só no Brasil, mas também em escala mundial — dispensa às companhias abertas uma regulamentação mais rígida, impondo determinadas obrigações e exigências que, em regra, não se aplicam às socie-dades anônimas de capital fechado.

Nesse sentido, a Lei nº 6.385, de 07 de dezembro de 1976, criou no Brasil a Comissão de Valores Mobiliários (“CVM”) e regulou o mercado de valo-res mobiliários, o qual pode ser dividido em primário e secundário. Dentre outras atribuições da CVM — como, por exemplo, os seus poderes normati-vo41 e sancionador42 —, destacam-se a fi scalização e inspeção das companhias abertas e das atividades e serviços do mercado de valores mobiliários43, sendo

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 30

42 Consoante determina o artigo 11 da

Lei nº 6.385/76: “Art. 11. A Comissão de

Valores Mobiliários poderá impor aos

infratores das normas desta Lei, da lei

de sociedades por ações, das suas re-

soluções, bem como de outras normas

legais cujo cumprimento lhe incumba

fi scalizar, as seguintes penalidades: I

-advertência; II - multa; III - suspensão

do exercício do cargo de administrador

ou de conselheiro fi scal de companhia

aberta, de entidade do sistema de dis-

tribuição ou de outras entidades que

dependam de autorização ou registro

na Comissão de Valores Mobiliários; IV

- inabilitação temporária, até o máximo

de vinte anos, para o exercício dos car-

gos referidos no inciso anterior; V - sus-

pensão da autorização ou registro para

o exercício das atividades de que trata

esta Lei; VI - cassação de autorização ou

registro, para o exercício das atividades

de que trata esta Lei; VII - proibição

temporária, até o máximo de vinte

anos, de praticar determinadas ativida-

des ou operações, para os integrantes

do sistema de distribuição ou de outras

entidades que dependam de autoriza-

ção ou registro na Comissão de Valores

Mobiliários; VIII - proibição temporária,

até o máximo de dez anos, de atuar, di-

reta ou indiretamente, em uma ou mais

modalidades de operação no mercado

de valores mobiliários”.

43 Dispõe o artigo 8º da referida lei:

“Art . 8º Compete à Comissão de Valo-

res Mobiliários: I - regulamentar, com

observância da política defi nida pelo

Conselho Monetário Nacional, as ma-

térias expressamente previstas nesta

Lei e na lei de sociedades por ações;

II - administrar os registros instituídos

por esta Lei; III - fi scalizar permanen-

temente as atividades e os serviços do

mercado de valores mobiliários, de que

trata o Art. 1º, bem como a veiculação

de informações relativas ao mercado,

às pessoas que dele participem, e aos

valores nele negociados; IV - propor ao

Conselho Monetário Nacional a eventu-

al fi xação de limites máximos de preço,

comissões, emolumentos e quaisquer

outras vantagens cobradas pelos in-

termediários do mercado; V - fi scalizar

e inspecionar as companhias abertas

dada prioridade às que não apresentem

lucro em balanço ou às que deixem de

pagar o dividendo mínimo obrigatório”.

44 Artigo 4º, parágrafo 1º, da Lei das S.A.

45 A esse respeito, veja-se a Instrução

CVM nº 400, de 29 de dezembro de 2003,

a qual dispõe sobre as ofertas públicas

de distribuição de valores mobiliários,

nos mercados primário ou secundário.

46 Artigo 4º, parágrafo 2º, da Lei das S.A.

47 “§ 4º O registro de companhia aberta

para negociação de ações no mercado

somente poderá ser cancelado se a

companhia emissora de ações, o acio-

importante notar que “somente os valores mobiliários de emissão de compa-nhia registrada na Comissão de Valores Mobiliários podem ser negociados no mercado de valores mobiliários”44.

Cumpre assinalar que, caso se pretenda fazer com que uma companhia fechada se torne uma companhia aberta — em outras palavras, realizar uma “abertura de capital” —, deverão ser observadas as normas editadas pela CVM para esse fi m45, já que “nenhuma distribuição pública de valores mobi-liários será efetivada no mercado sem prévio registro na Comissão de Valores Mobiliários”46.

Note-se que a operação inversa — o chamado “fechamento de capital, no qual uma companhia aberta passa a ser uma companhia fechada — também se submete a um procedimento específi co, o qual se encontra previsto no parágrafo 4º do artigo 4º da Lei das S.A.47 e regulado pela Instrução CVM nº 361, de 05 de março de 2002.

H) TEXTOS DE APOIO

1. A Bolsa muda de patamar e qualidade, com os novos setores“São Paulo, 9 de Novembro de 2006 — O volume de ofertas públicas de

ações atingiu R$ 24,4 bilhões este ano, volume que já é recorde no período pós-Plano Real e representa mais que o dobro do emitido no ano passado. Apesar da turbulência que derrubou as bolsas de valores internacionais no segundo trimestre — estendendo-se ao Brasil —, o movimento crescente de ofertas, verifi cado a partir do fi nal de 2003, não chegou a ser interrompido.

Entre abril e junho, o ritmo fi cou mais lento, mas as empresas continua-ram obtendo sucesso com a venda de suas ações. Foi o caso da operação do Banco do Brasil que, no mês de junho, em plena turbulência, obteve R$ 1,9 bilhão com a venda de ações, até então a maior realizada em 2006. Até o fi nal de outubro, a maior captação foi a da Cesp, de R$ 3 bilhões.

Este ano, até agora, 35 empresas realizaram ofertas públicas de ações, sen-do que a maioria delas abriu o capital. A conjuntura internacional, de cres-cimento econômico e farta liquidez, impulsionou esse desempenho — cerca de 80% dos papéis foram comprados por investidores estrangeiros. Mas a modernização da regulamentação e principalmente a criação dos níveis de governança corporativa pela Bovespa tiveram papel determinante nesse con-junto de atrações.

Com tudo isso, o mercado mudou de patamar e de qualidade. Das novas empresas da bolsa, a maioria entrou no Novo Mercado (o mais elevado nível de governança), que obriga as companhias a terem apenas ações ordinárias (com direito de participação no controle) e tag along de 100%.

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FGV DIREITO RIO 31

nista controlador ou a sociedade que

a controle, direta ou indiretamente,

formular oferta pública para adquirir

a totalidade das ações em circulação

no mercado, por preço justo, ao menos

igual ao valor de avaliação da compa-

nhia, apurado com base nos critérios,

adotados de forma isolada ou combi-

nada, de patrimônio líquido contábil,

de patrimônio líquido avaliado a preço

de mercado, de fl uxo de caixa descon-

tado, de comparação por múltiplos, de

cotação das ações no mercado de valo-

res mobiliários, ou com base em outro

critério aceito pela Comissão de Valores

Mobiliários, assegurada a revisão do

valor da oferta, em conformidade com

o disposto no art. 4º-A.”. Adicionalmen-

te, o parágrafo 5º do mesmo dispositivo

estabelece que “Terminado o prazo da

oferta pública fi xado na regulamenta-

ção expedida pela Comissão de Valores

Mobiliários, se remanescerem em

circulação menos de 5% (cinco por

cento) do total das ações emitidas pela

companhia, a assembléia-geral poderá

deliberar o resgate dessas ações pelo

valor da oferta de que trata o § 4º, des-

de que deposite em estabelecimento

bancário autorizado pela Comissão de

Valores Mobiliários, à disposição dos

seus titulares, o valor de resgate, não se

aplicando, nesse caso, o disposto no §

6º do art. 44”.

48 Publicado em 09 de novembro de

2006, na Gazeta Mercantil (Finanças &

Mercados - Pág. 1).

Além disso, a bolsa ganhou novos setores como o de construção e incor-poração, que já conta com sete companhias listadas, entre elas Gafi sa, Rossi, Company e Abyara. Outras cinco já pediram registro e estão na fi la. O setor de construção e incorporação deve ser para a bolsa o que foi o de telecomu-nicações — por mais de uma década líder em valorização, volume e liquidez.

Outros setores, antes ausentes da bolsa, também aumentaram a opção dos investidores: internet, saúde, seguros, laboratórios de análises clínicas, infor-mática. Essa diversifi cação atrai novos investimentos, puxando mais cresci-mento”48.

2. “20/10/2006 — Apetite por crescimentoO dinamismo da Bolsa neste ano revela novo perfi l e aptidões das candidatas ao pregão

O mercado de capitais brasileiro deve viver neste último quarto do ano um movimento muito intenso, comparável ao de 1996, quando as privatiza-ções o inundaram com papéis novos. A marca dos R$ 100 bilhões em lança-mentos das várias modalidades virtualmente foi rompida no mês passado, se somados os registros concedidos no ano pela Comissão de Valores Mobiliá-rios (CVM) — R$ 82,6 bilhões — e as ofertas em análise. Especialmente no mercado acionário, até setembro, foram registradas 48 emissões, entre ações, certifi cados e bônus, no valor total de R$ 22,8 bilhões.

Exame preparatórioAs candidatas mais fortes à abertura de capital são aquelas das quais o Ban-

co Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é sócio e as apadrinhadas pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculada ao Ministério de Ciência e Tecnologia. Entre as companhias que passaram pelo Fórum Brasil de Abertura de Capitais, promovido pelas duas entidades em parceria com a Bovespa, encontram-se Datasul, Lupatech, Microsiga, CSU e Company — todas atualmente de capital aberto. Esse fórum, que consiste em montar periodicamente apresentações de novas empresas a investidores e analistas, funciona desde 2002.

A Lupatech, que participou da iniciativa em novembro daquele ano, é um dos casos de sucesso da Finep. Parceira da agência ofi cial desde 1993, recebeu dela apoio para três projetos, um fi nanciamento total de aproximadamente R$ 6 milhões. Líder nacional no fornecimento de válvulas industriais para o setor de petróleo e gás, a Lupatech iniciou em maio deste ano seu vôo solo, ao abrir capital e entrar no Novo Mercado.

Após a oferta de ações que a capitalizou com R$ 452,7 milhões, a compa-nhia comprou todas as quotas da Metalúrgica Ipê Limitada (Mipel-SP), de forte marca e presença no segmento de válvulas industriais de bronze. Em seguida, arrematou também a totalidade das ações da Itasa, empresa sediada

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FGV DIREITO RIO 32

na Argentina, dona de destacada tecnologia de fundição de ligas especiais com alta resistência a corrosão, usadas principalmente em aplicações para o setor de petróleo e gás. Outra medida de crescimento foi a produção de uma nova linha de válvulas em aço, carbono e inox, mediante investimento de R$ 11,5 milhões.

Motivações semelhantesDesempenho como esse naturalmente incentiva outros empreendedores

que têm projetos similares de crescimento a seguir a trilha até o mercado de capitais. É o caso da Memphis, fabricante de produtos de higiene; da produtora de autopeças Controil; da Teikon, que atua na área de tecnologia e da DBA, exportadora de serviços de tecnologia de informação. As quatro preparam-se pacientemente para abrirem o capital a médio prazo de forma a ampliar a capacidade instalada, realizar aquisições e atingir novos mercados.

A Memphis, quinta maior fabricante de sabonetes do Brasil, com pro-dução anual de 113 milhões de unidades e receita de R$ 98 milhões, traçou plano ambicioso, ao fi xar como objetivo o crescimento da receita em 17% ao ano a partir de 2007. Calcula que isso custará um investimento na casa de R$ 15 milhões nos próximos anos, sem contar eventuais aquisições. “Neste segundo cenário, a empresa pode crescer 30% ao ano”, afi rma Clóvis Dinis Cortesia, diretor de Vendas e Marketing. Os projetos envolvem a ampliação da atual linha de cosméticos e de produtos de higiene pessoal e o lançamento de novos produtos, além do aumento da produção de marcas tradicionais da empresa. “A partir de janeiro, o consumidor vai se deparar com os novos produtos que já estão sendo desenvolvidos”, garante Cortesia.

Para tocar tudo isso está sendo considerada uma expansão física que mul-tiplicará por cinco as instalações atuais: os dois pavilhões que abrigam a fábri-ca, sediada no município de Portão, RS, poderão chegar a dez. “A velocidade de crescimento dependerá da concretização das previsões de aumento das vendas”, pondera o executivo. “Se a aceitação do público for maior do que esperamos, naturalmente ampliaremos de forma mais rápida.”

Para apoiar a expansão projetada, a Memphis se volta para um mercado altamente promissor, que cresce a taxas chinesas e não dá mostras de perder o fôlego: o brasileiro. Filho dileto do Plano Real, o segmento de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos simplesmente dobrou entre o início e o fi m da década de 1990: saiu de US$ 1,7 bilhão, em 1992 para US$ 3,4 bilhões em 2000, cometendo alguns exageros no caminho, como os US$ 4,3 bilhões cravados em 1998. Cresce agora ao redor dos 9% ao ano. “É um mercado em alta expansão e focado em marcas tradicionais”, anima-se Cortesia.

A opção pelo mercado interno não signifi ca virar inteiramente as costas às exportações. A Memphis vende atualmente para Panamá, Bolívia, Chi-le, Uruguai e Paraguai o correspondente a 1,5% do faturamento total; nos

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FGV DIREITO RIO 33

próximos cinco anos, pretende ampliar a participação para 5%, agregando Argentina e Peru ao cadastro de clientes.

Governança na miraCom projeto tão ambicioso quanto o da Memphis, a Controil espera qua-

druplicar, em 2010, o faturamento bruto do ano passado, de R$ 80 milhões, ou seja, crescer 24% ao ano. No mercado de reposição de freios hidráulicos pretende atingir a clientela primária, as montadoras de veículos. Outro ob-jetivo é aumentar a participação das exportações no faturamento, dos 4,2% atuais para 15% também em 2010.

“O investimento necessário para aumentar a capacidade instalada e oti-mizar a produção é da ordem de R$ 100 milhões”, tem na ponta do lápis Gilso Gotardo, superintendente da empresa. Inicialmente é preciso melhorar os testes de qualifi cação, de forma a modernizar o processo produtivo com absorção de novas tecnologias que resultem na redução de custos.

Essa será uma segunda mudança de patamar para a companhia. Entre 1997 e 1998 a Controil tocara um projeto de expansão com o qual o faturamento cresceu 19,4%. “Passamos por novas contratações e qualifi cação. O objetivo agora é crescer ainda mais. Queremos expandir e qualifi car a empresa. Hoje temos 500 empregados diretos; vamos criar mais 300 vagas”, destaca Gotardo

No passado, a fonte de fi nanciamento foi o BNDES. O diretor diz que pode voltar a bater na porta do banco, mas considera também o mercado acionário.

Há quem já faça tais preparativos dentro da própria casa. A Teikon, por exemplo, que pretende ampliar os negócios para turbinar sua receita, de R$ 34,3 milhões em 2005, contratou auditoria e conselheiros independentes para se enquadrar em padrões elevados de governança. A DBA criou uma diretoria de Relações com Investidores convencida de que a Bolsa é o caminho para conduzi-la em boas condições no processo de consolidação em seu setor de atuação.

PragmatismoA afl uência de empresas à Bolsa realça cada vez mais a principal transfor-

mação pela qual passou o mercado de capitais: a troca da quantidade pela qualidade. No momento em que foi mais populosa, 1998, a Bovespa tinha 599 empresas no pregão; hoje, tem 387. O valor de mercado delas, porém, era de R$ 194,4 bilhões (US$ 160,9 bilhões) e agora chega a R$ 1,25 trilhão (US$ 568,5 bilhões) ou seja, cravou um aumento de 543% em real e de 264,5% em dólar.

Por sonoro que pareça, tal aumento ainda não é o ideal. “O mercado de capitais brasileiro ainda é pequeno na comparação com o tamanho da nossa economia”, lembra Fernando Alves, da Price. Tem razão. O tamanho da Bol-sa brasileira — medido pelo valor de mercado das empresas — não chega aos

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FGV DIREITO RIO 34

49 Disponível em http://revistarazao.

uol.com.br/textos.asp?codigo=10736.

Acesso em 10 de novembro de 2006.

60% do Produto Interno Bruto (PIB); nas economias capitalistas avançadas até ultrapassa os 100%. É preciso levar em conta no entanto que, há dez anos, aquela relação era de 28%. E que hoje todos os indícios apontam para um crescimento sustentado do mercado”49.

D) CASO

Caso do avestruz — Grupo Avestruz MásterPor força de denúncias que lhe foram feitas, a CVM obteve cópia de anún-

cio publicitário veiculado em canais de televisão em que o presidente do “Grupo Avestruz Máster”, sociedade limitada, anuncia, dentre outras infor-mações, que “nos últimos meses a CVM — Comissão de Valores Mobiliários vem inspecionando e acompanhando todas as nossas negociações, mesmo que as negociações não sejam por ela regulamentadas”.

Além disto, a referida peça publicitária informa que a Avestruz Máster “está se adequando às deliberações fi nais da CVM, cujas orientações vêm ao en-contro de nossas metas”.

O texto utilizado pela Avestruz Máster induz explicitamente o público à impressão oposta, de que a CVM “vem inspecionando e acompanhando todas as nossas negociações”, o que é absolutamente falso, dado que a CVM vem apenas buscando alertar tal empresa de que sua captação de recursos fi nan-ceiros, da maneira como vinha sendo feita, pode caracterizar exercício ilegal de distribuição pública de valores mobiliários, tanto que já há inquérito ad-ministrativo instaurado nesta autarquia.

Assim sendo, a CVM alerta ao público em geral que determinou à Aves-truz Máster que interrompesse imediatamente a veiculação da peça publici-tária antes referida, e se abstivesse de utilizar o nome da CVM em qualquer modalidade de publicidade, salvo para nelas incluir, como determinado pelo inciso II, alínea (d), da Deliberação CVM 473, de 01/12/2004, em destaque, o alerta de que a “Avestruz Máster e os investimentos por ela ofertados não são regulados ou fi scalizados pela CVM”.

A Avestruz Máster não é registrada na CVM, seus negócios não são fi scali-zados por esta autarquia, nem tampouco são auditados por auditor indepen-dente registrado na CVM.

Pergunta-se:1) Qual o papel realizado pela CVM neste caso?2) Tratando-se de sociedade limitada, existe legitimidade da atuação da CVM?3) Qual a sanção que poderia ser aplicada pela CVM neste caso?4) Os investidores da Avestruz Máster podem responsabilizar a CVM pelas

eventuais perdas de seus investimentos?

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FGV DIREITO RIO 35

E) JURISPRUDÊNCIA

“MANDADO DE SEGURANÇA. EMPRESA DE AUDITORIA. RE-GISTRO. EXIGÊNCIA DA COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. LEGALIDADE. As condições para o registro, impostas pela comissão, de-correm do exercício regular do poder de polícia, não se podendo falar em cer-ceamento da liberdade profi ssional” (STJ, 2ª T, REsp 29714/RJ, Rel. Min. Peçanha Martins, j. 20.10.1993, v.u., DJ 22.11.1993, p. 24936).

F) QUESTÕES DE CONCURSO

(6º Exame de Ordem OAB-RJ) 23 — A venda ao público de ações emitidas pela S.A., depende de autorização:

a. Da Bolsa de Valores;b. Do Banco Central;c. Da C.V.M.;d. Do Conselho Fiscal da S.A.

(3º Exame de Ordem OAB-RJ) 27 — Diz-se sociedade de capital aberto aquela que:

a. Foi constituída mediante subscrição pública;b. Possui ações de várias espécies e formas;c. Tem suas ações negociadas em bolsa;d. É de capital autorizado.

(20º Exame de Ordem OAB-RJ) 5 — Enumere pelo menos 2 (dois) tipos de registro concedidos pela Comissão de Valores Mobiliários. Mencione os dispositivos legais utilizados em sua resposta.

(122º Exame de Ordem OAB-SP) 50 — O mercado de capitais primário:(A) abrange operação de compra e venda de ação, ou seja, a negociação

feita pelo dono de uma participação societária.(B) não admite emissão pública de valores mobiliários, nem sua alienação.(C) visa à alienação de uma ação, transferindo-a do patrimônio do primei-

ro acionista para o do segundo.(D) compreende as operações de subscrição de ações e de outros valores

mobiliários, sendo um negócio entre a companhia emissora e o investidor.

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FGV DIREITO RIO 36

G) GLOSSÁRIO

GOVERNANÇA CORPORATIVA: é o sistema pelo qual as sociedades são dirigi-das e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre Acionistas/Sócios, Conselho de Administração, Diretoria, Auditoria Independente e Conselho Fiscal. As boas práticas de governança corporativa têm a fi nalidade de au-mentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua perenidade (Fonte: www.ibgc.org.br).

MERCADO PRIMÁRIO: Colocação de títulos resultantes de novas emissões. As companhias podem utilizar o mercado primário para captar os recursos necessários ao fi nanciamento de suas atividades (Fonte: www.bovespa.com.br).

MERCADO SECUNDÁRIO: Negociação de ativos, títulos e valores mobiliários em mercados organizados, onde investidores compram e vendem em busca de lucratividade e liquidez, transferindo, entre si, os títulos anteriormente adquiridos no mercado primário (Fonte: www.bovespa.com.br).

NOVO MERCADO: segmento de listagem da Bolsa de Valores de São Pau-lo destinado à negociação de ações emitidas por companhias que se com-prometem, voluntariamente, com a adoção de certas práticas de governança corporativa e disclosure adicionais em relação ao que é exigido pela legislação (Fonte: www.bovespa.com.br).

Oferta Pública de Ações: Distribuição de títulos e valores mobiliários junto ao público investidor e colocação junto ao público de determinado nú-mero de ações de emissão de uma companhia (Fonte: www.bovespa.com.br).

TAG ALONG: Uma das modalidades de tag along é previsto na legislação brasileira (Lei das S.A., Artigo 254-A) e assegura que a alienação, direta ou indireta, do controle acionário de uma companhia aberta somente poderá ocorrer sob a condição, suspensiva ou resolutiva, de que o acionista adquiren-te se obrigue a fazer oferta pública de aquisição das demais ações ordinárias, de modo a assegurar a seus detentores o preço mínimo de 80% do valor pago pelas ações integrantes do bloco de controle. Confi gura-se, assim, como um importante instrumento de proteção dos interesses dos acionistas minoritá-rios (Fonte: www.bovespa.com.br).

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 37

50 Na defi nição de Fabio Ulhoa Coelho:

“Valores mobiliários são instrumentos

de captação de recursos pelas socie-

dades anônimas emissoras e repre-

sentam, para quem os subscreve ou

adquire, um investimento” (Fábio Ulhoa

Coelho, Curso de direito comercial. Vol. 2.

6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 137).

AULAS 5 E 6:AÇÕES E OUTROS VALORES MOBILIÁRIOS.

I) MATERIAL DE LEITURA

Leitura básica

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. Vol. 2. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, pp. 136-155.

REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 2º vol. 24ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006, pp. 73-105.

Leitura complementar

EIZIRIK, Nelson. “Os valores mobiliários na nova Lei das S.A.”. In Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. São Paulo: Ma-lheiros, n. 124, pp. 72-79.

J) ROTEIRO DE AULA

B.1) Valores Mobiliários: introdução

Na última aula, analisamos as particularidades relativas ao capital social de uma companhia. Observamos, ainda, que a sociedade anônima possui duas alternativas principais no que tange à obtenção de recursos para o desenvol-vimento de sua atividade econômica, quais sejam, (i) contrair fi nanciamento junto a terceiros ou (ii) buscar recursos adicionais dos sócios ou de investido-res no mercado de capitais.

Em regra, a segunda hipótese se viabiliza pela emissão dos chamados valo-res mobiliários, que são títulos emitidos pelas companhias — sejam abertas ou fechadas — para a captação de recursos e fi nanciamento da companhia50.

A Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976, enumera as diversas espécies de valores mobiliários, nos seguintes termos:

“Art. 2º São valores mobiliários sujeitos ao regime desta Lei: I — as ações, debêntures e bônus de subscrição;II — os cupons, direitos, recibos de subscrição e certifi cados de desdobra-

mento relativos aos valores mobiliários referidos no inciso II;

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 38

51 Artigo 11 da Lei das S.A.: “O estatuto

fi xará o número das ações em que se

divide o capital social e estabelecerá se

as ações terão, ou não, valor nominal”.

III — os certifi cados de depósito de valores mobiliários; IV — as cédulas de debêntures; V — as cotas de fundos de investimento em valores mobiliários ou de clubes

de investimento em quaisquer ativos; VI — as notas comerciais; VII — os contratos futuros, de opções e outros derivativos, cujos ativos sub-

jacentes sejam valores mobiliários; VIII — outros contratos derivativos, independentemente dos ativos subja-

centes; e IX — quando ofertados publicamente, quaisquer outros títulos ou contratos

de investimento coletivo, que gerem direito de participação, de parceria ou de remuneração, inclusive resultante de prestação de serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do empreendedor ou de terceiros.

§ 1º Excluem-se do regime desta Lei: I — os títulos da dívida pública federal, estadual ou municipal; II — os títulos cambiais de responsabilidade de instituição fi nanceira, exceto

as debêntures”.

Apesar do extenso rol acima apresentado, as principais espécies de valo-res mobiliários emitidas pela sociedade anônima são (i) ações, (ii) debêntu-res, (iii) partes benefi ciárias, e (iv) bônus de subscrição. Vale destacar que o tipo de valor mobiliário emitido apresenta relevantes conseqüências práticas. Com efeito, dependendo da espécie subscrita, o investidor pode, por exem-plo, se tornar acionista da companhia ou, então, passar a deter outros direitos perante a companhia emissora, não se confundindo com os direitos assegu-rados aos acionistas.

B.2) Ações

O conceito e algumas peculiaridades das ações já foram exploradas na Aula 3, quando do estudo das características principais das sociedades anô-nimas. Neste tópico, pretende-se explorar as demais classifi cações das ações e sua relevância prática.

Conforme mencionado, a ação representa uma fração do capital social de uma sociedade anônima, por meio da qual se atribui ao seu titular a qualida-de de acionista51.

Existem vários critérios para classifi cação das ações de emissão de uma companhia. Inicialmente, cabe assinalar que as ações podem ter ou não valor nominal, conforme dispuser o estatuto de cada sociedade anônima. De um modo geral, cada ação tem um valor ideal, resultado da divisão do capital social pelo número de ações emitidas. Se este valor é declarado estatutaria-

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FGV DIREITO RIO 39

52 Rubens Requião. Curso de direito

comercial. 2º vol. 24ª ed. São Paulo:

Saraiva, 2006, p. 76.

53 Assim dispõe o referido dispositivo

legal: “Art. 13. É vedada a emissão de

ações por preço inferior ao seu valor

nominal. § 1º A infração do disposto

neste artigo importará nulidade do

ato ou operação e responsabilidade dos

infratores, sem prejuízo da ação penal

que no caso couber”.

54 Trata-se, nesse caso, de hipótese de

ágio. Nos termos do parágrafo 2º do

artigo 13 da Lei das S.A., “A contribuição

do subscritor que ultrapassar o valor no-

minal constituirá reserva do capital (art.

182, § 1º)”. Mesmo no caso das com-

panhias com ações sem valor nominal,

uma parte do preço de emissão também

pode se destinar à reserva de capital,

consoante dispõe o parágrafo único do

artigo 14 da lei societária: “O preço de

emissão pode ser fi xado com parte des-

tinada à formação de reserva de capital;

na emissão de ações preferenciais com

prioridade no reembolso do capital, so-

mente a parcela que ultrapassar o valor

de reembolso poderá ter essa destina-

ção”. As reservas e suas destinações serão

analisadas mais adiante em nosso curso.

55 Consoante assevera Rubens Requião,

as ações de fruição são “as que resultam,

se assim dispuser o estatuto ou determi-

nar a assembléia geral extraordinária,

da amortização das ações comuns ou

preferenciais”. Em breve resumo, a amor-

tização pode ser entendida como a ante-

cipação de valores que caberiam às ações

em caso de liquidação da companhia. A

respeito das ações de fruição, veja-se o

disposto no artigo 44, parágrafo 5º da

Lei das S.A.: “§ 5º As ações integralmen-

te amortizadas poderão ser substituídas

por ações de fruição, com as restrições

fi xadas pelo estatuto ou pela assembléia

geral que deliberar a amortização; em

qualquer caso, ocorrendo liquidação da

companhia, as ações amortizadas só

concorrerão ao acervo líquido depois de

assegurado às ações não amortizadas

valor igual ao da amortização, corrigido

monetariamente”.

56 É importante ressaltar que, nos termos

do parágrafo 1º do artigo 109 da Lei das

S.A., “as ações de cada classe conferirão

iguais direitos aos seus titulares”.

57 “Art. 16. As ações ordinárias de compa-

nhia fechada poderão ser de classes di-

versas, em função de: I - conversibilidade

em ações preferenciais; II - exigência de

nacionalidade brasileira do acionista; ou

III - direito de voto em separado para o

preenchimento de determinados cargos

de órgãos administrativos. Parágrafo

único. A alteração do estatuto na parte

em que regula a diversidade de classes,

se não for expressamente prevista, e

regulada, requererá a concordância de

todos os titulares das ações atingidas”.

mente, tem-se uma ação com valor nominal. Caso contrário, está-se diante de uma ação sem valor nominal. Sobre o tema, Rubens Requião afi rma:

“Note-se, porém, que ao se dizer que a ação ’não tem valor nominal’, não se quer signifi car que ela não tenha, ou não represente, um valor correspondente à fração do capital social. Ela representa uma fração do capital social e, portanto, possui efetivamente um valor. Apenas não se expressa nominalmente, no seu texto, um valor. Consultando-se o estatuto, saber-se-á que o capital social foi dividido em frações, e qual o valor relativo a essa fração tendo em vista a quan-tidade de ações emitidas”52.

Na prática empresarial, difundiu-se a adoção da ação sem valor nominal, tendo em vista a simplifi cação que tal opção representa na operacionalização de sociedades com grande número de acionistas. Isso porque a ausência do valor nominal das ações dispensa a constante atualização de tal informação nos documentos das companhias, alem de permitir uma maior fl exibilidade nos aumentos de capital social da companhia.

Com efeito, nas companhias cujas ações possuem valor nominal, a Lei das S.A. veda a emissão de ações por preço inferior ao seu valor nominal53, embora seja expressamente admitida a possibilidade de emissão de ações com preço de emissão superior ao valor nominal54.

Uma das principais formas de classifi cação das ações gira em torno de suas diferentes espécies. Embora a Lei das S.A. estabeleça três espécies diversas — ações ordinárias, preferenciais e de fruição55 —, interessa-nos, tendo em vista a sua importância prática, apontar as características gerais aplicáveis às ações ordinárias e às ações preferenciais.

As ações ordinárias são aquelas que conferem ao acionista os direitos de um sócio comum. Não possuem, em regra, vantagens ou restrições no que tange aos direitos e deveres normalmente atribuídos aos acionistas da socie-dade anônima. Desta forma, em geral faz-se desnecessária a previsão estatutá-ria de suas prerrogativas, já que estas decorrem diretamente da lei.

Deve-se notar, entretanto, que a Lei das S.A. faculta às companhias fecha-das — observados certos requisitos legais — terem diversas classes de ações ordinárias. Em tal hipótese, o estatuto social poderá estabelecer diferentes direitos para cada classe56, dentro dos limites estabelecidos no artigo 16 do referido diploma legal57.

Já as ações preferenciais conferem necessariamente aos seus titulares al-guma espécie de vantagem relativamente às ações ordinárias, embora o seu direito de voto possa ser limitado ou excluído58. Faculta-se a cada companhia, seja aberta ou fechada, ter uma ou mais classes de ações preferenciais, bem como simplesmente não emitir tal espécie de ações.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 40

58 O parágrafo 2º do artigo 15 da lei so-

cietária dispõe que “o número de ações

preferenciais sem direito a voto, ou sujei-

tas a restrição no exercício desse direito,

não pode ultrapassar 50% (cinqüenta

por cento) do total das ações emitidas”.

59 Ainda a respeito das vantagens atri-

buídas às ações preferenciais, importa

destacar o disposto no parágrafo 1º do

artigo 17 da Lei das S.A.: “§ 1º Inde-

pendentemente do direito de receber

ou não o valor de reembolso do capital

com prêmio ou sem ele, as ações pre-

ferenciais sem direito de voto ou com

restrição ao exercício deste direito,

somente serão admitidas à negociação

no mercado de valores mobiliários se a

elas for atribuída pelo menos uma das

seguintes preferências ou vantagens:

I - direito de participar do dividendo a

ser distribuído, correspondente a, pelo

menos, 25% (vinte e cinco por cento)

do lucro líquido do exercício, calculado

na forma do art. 202, de acordo com o

seguinte critério: a) prioridade no rece-

bimento dos dividendos mencionados

neste inciso correspondente a, no mí-

nimo, 3% (três por cento) do valor do

patrimônio líquido da ação; e b) direito

de participar dos lucros distribuídos

em igualdade de condições com as or-

dinárias, depois de a estas assegurado

dividendo igual ao mínimo prioritário

estabelecido em conformidade com a

alínea a; ou

II - direito ao recebimento de dividendo,

por ação preferencial, pelo menos 10%

(dez por cento) maior do que o atribuí-

do a cada ação ordinária; ou

III - direito de serem incluídas na oferta

pública de alienação de controle, nas

condições previstas no art. 254-A, as-

segurado o dividendo pelo menos igual

ao das ações ordinárias”.

60 Nesse sentido, o artigo 17, parágrafo

2º da Lei das S.A. estabelece que “deve-

rão constar do estatuto, com precisão

e minúcia, outras preferências ou van-

tagens que sejam atribuídas aos acio-

nistas sem direito a voto, ou com voto

restrito, além das previstas neste artigo”.

61 “Art. 36. O estatuto da companhia

fechada pode impor limitações à cir-

culação das ações nominativas, con-

tanto que regule minuciosamente tais

limitações e não impeça a negociação,

nem sujeite o acionista ao arbítrio dos

órgãos de administração da companhia

ou da maioria dos acionistas. Parágrafo

único. A limitação à circulação criada

por alteração estatutária somente se

aplicará às ações cujos titulares com

ela expressamente concordarem, me-

diante pedido de averbação no livro de

“Registro de Ações Nominativas””.

62 “Art. 108. Ainda quando negociadas

as ações, os alienantes continuarão

responsáveis, solidariamente com os

As vantagens deverão ser defi nidas pelo estatuto social da companhia emissora, podendo constituir, no mínimo, na prioridade na distribuição de dividendos ou no reembolso do capital, ou, ainda, na acumulação de tais vantagens59. Outras preferências ou vantagens podem ser atribuídas aos acio-nistas titulares de ações preferenciais, desde que estabelecidas de forma preci-sa no estatuto da companhia60.

Quanto à circulação das ações, predomina nas sociedades anônimas o princípio da sua livre transmissibilidade. Em outras palavras, a companhia, em regra, não interfere na negociação das ações, a qual pode ser feita livre-mente pelos acionistas.

Esse princípio, no entanto, pode sofrer limitações, tanto na companhia fechada quanto na companhia aberta. Com relação às companhias fechadas, o artigo 36 da Lei das S.A. permite que os estatutos estabeleçam limites à cir-culação de ações, desde que tais restrições não impeçam sua negociação nem tampouco sujeitem o acionista ao arbítrio da administração da sociedade ou, ainda, da maioria dos acionistas61.

Adicionalmente, pode haver restrições à circulação das ações estabelecidas em acordos de acionistas, os quais podem abranger tanto companhias abertas quanto fechadas. Os acordos de acionistas serão estudados mais adiante em nosso curso, mais precisamente na aula 13.

Cabe assinalar, ainda, que o alienante de ações não integralizadas, durante dois anos contados da transmissão, responde solidariamente com o adqui-rente pela correspondente integralização, nos termos do artigo 108 da Lei das S.A62.

Ainda a respeito da circulação das ações, cumpre ressaltar que, em regra, as sociedades anônimas, por determinação legal63, não podem negociar com as próprias ações, sendo este ato autorizado somente em hipóteses excepcionais.

Dentre as situações de negociação permitidas por lei, a sociedade anônima pode adquirir ações de sua própria emissão para permanência em tesouraria ou cancelamento, desde que utilize, no pagamento de tais ações, os recursos contabilizados como lucros e reservas, restando inalterado o capital social.

Vale ressaltar que as ações mantidas em tesouraria não possuem direito a voto, nem tampouco a recebimento de dividendos. No caso das companhias abertas, a aquisição das próprias ações deverá ainda obedecer as normas edi-tadas pela Comissão de Valores Mobiliários — CVM.

Outras modalidades relevantes de negociação com as próprias ações admi-tidas em lei são as hipóteses de operações de resgate, reembolso ou amortiza-ção de ações, reguladas pelos artigos 44 e 45 da Lei das S.A.

Em breve resumo, o resgate representa a recuperação da ação pela socieda-de, que as retira defi nitivamente de circulação, podendo ocorrer, como con-seqüência, a redução ou não do capital social ou a elevação do valor nominal das demais ações.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 41

adquirentes, pelo pagamento das pres-

tações que faltarem para integralizar as

ações transferidas. Parágrafo único. Tal

responsabilidade cessará, em relação

a cada alienante, no fi m de 2 (dois)

anos a contar da data da transferência

das ações”.

63 “Art. 30. A companhia não poderá ne-

gociar com as próprias ações. § 1º Nessa

proibição não se compreendem: a) as

operações de resgate, reembolso ou

amortização previstas em lei; b) a aqui-

sição, para permanência em tesouraria

ou cancelamento, desde que até o valor

do saldo de lucros ou reservas, exceto a

legal, e sem diminuição do capital so-

cial, ou por doação; c) a alienação das

ações adquiridas nos termos da alínea b

e mantidas em tesouraria; d) a compra

quando, resolvida a redução do capital

mediante restituição, em dinheiro, de

parte do valor das ações, o preço destas

em bolsa for inferior ou igual à impor-

tância que deve ser restituída”.

64 “Art. 52. A companhia poderá emitir

debêntures que conferirão aos seus

titulares direito de crédito contra ela,

nas condições constantes da escritura

de emissão e, se houver, do certifi cado.”

65 José Edwaldo Tavares Borba, Direito

Societário, 9ª ed. Rio de Janeiro: Reno-

var, 2004, p. 266.

66 “Art. 57. A debênture poderá ser

conversível em ações nas condições

constantes da escritura de emissão, que

especifi cará: I - as bases da conversão,

seja em número de ações em que po-

derá ser convertida cada debênture,

seja como relação entre o valor nomi-

nal da debênture e o preço de emissão

das ações; II - a espécie e a classe das

ações em que poderá ser convertida;

III - o prazo ou época para o exercício

do direito à conversão; IV - as demais

condições a que a conversão acaso fi -

que sujeita”.

67 Nos termos do artigo 71 da Lei das

S.A., “os titulares de debêntures da

mesma emissão ou série podem, a

qualquer tempo, reunir-se em assem-

bléia a fi m de deliberar sobre matéria

de interesse da comunhão dos deben-

turistas”.

A amortização, por sua vez, consiste no pagamento parcial ou total do valor da ação a título de antecipação daquilo que o acionista receberia na liquidação da sociedade. Neste caso, o acionista não se retira necessariamente da sociedade, haja vista a possibilidade de criação de ações de fruição.

Por fi m, o reembolso de ações corresponde ao direito conferido ao acio-nista dissidente da assembléia geral de receber da companhia o valor de suas ações. Trata-se do chamado direito de recesso, o qual será analisado de forma mais detida mais adiante no nosso curso.

B.3) Debêntures

As debêntures são valores mobiliários que conferem aos seus titulares di-reito de crédito perante a companhia, de acordo com as condições estabele-cidas na escritura de emissão e, se houver, no certifi cado64. Podem, assim, ser utilizadas como importante mecanismo de fi nanciamento de uma compa-nhia, tanto aberta quanto fechada.

Nesse sentido, as debêntures podem propiciar à sociedade anônima re-cursos de longo prazo, os quais podem ser destinados, por exemplo, a fi -nanciamentos de investimentos fi xos. Adicionalmente, as debêntures podem atender às necessidades do capital de giro da companhia, sendo colocadas ou retiradas do mercado conforme as exigências do seu fl uxo de caixa.

Sobre as características da emissão de debêntures, José Edwaldo Tavares Borba acentua:

“As debêntures, ao contrário, não confi guram capital próprio da sociedade. A companhia, ao emiti-las, contrai uma dívida, colocando, dessarte, diante de uma obrigação que fi gura no seu passivo exigível. A debênture, em princípio tem data de vencimento determinada e confere a seu titular, salvo em caso de taxa variável ou mera participação nos lucros, uma renda fi xa — o juro —, a qual independe do desempenho da sociedade, sendo, por isso, exigível, quer haja lucro, quer haja prejuízo”65.

Ainda, as debêntures podem eventualmente ser conversíveis em ações, conforme especifi cado na escritura de emissão66. Uma vez efetuada a conver-são das debêntures, seus titulares tornam-se acionistas da sociedade.

Importa ressaltar, por fi m, que a lei societária prevê a fi gura da assembléia de debenturistas, na qual deverão ser aprovadas eventuais modifi cações das condições das debêntures67.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 42

68 “Art. 46. § 1º As partes benefi ciárias

conferirão aos seus titulares direito de

crédito eventual contra a companhia,

consistente na participação nos lucros

anuais (art. 190)”.

69 Fábio Ulhoa Coelho, Curso de direito

comercial. Vol. 2. 6ª ed. São Paulo: Sa-

raiva, 2003, p. 151.

70 “Art. 47. As partes benefi ciárias pode-

rão ser alienadas pela companhia, nas

condições determinadas pelo estatuto

ou pela assembléia geral, ou atribuídas

a fundadores, acionistas ou terceiros,

como remuneração de serviços presta-

dos à companhia”.

71 “Art. 46. § 2º A participação atribuída

às partes benefi ciárias, inclusive para

formação de reserva para resgate, se

houver, não ultrapassará um décimo

dos lucros”.

72 “Art. 47. (...) Parágrafo único. É veda-

do às companhias abertas emitir partes

benefi ciárias”.

73 “Art. 77. Os bônus de subscrição serão

alienados pela companhia ou por ela

atribuídos, como vantagem adicional,

aos subscritores de emissões de suas

ações ou debêntures. Parágrafo único.

Os acionistas da companhia gozarão,

nos termos dos artigos 171 e 172, de

preferência para subscrever a emissão

de bônus”.

B.4) Partes Beneficiárias

As partes benefi ciárias são valores mobiliários que asseguram ao seu titular direito de participação nos lucros líquidos anuais da companhia68.

Tais títulos distinguem-se das ações, já que não representam parcelas do capital social, e, também, das debêntures, vez que não possuem natureza de reembolso, mas tão-somente de crédito eventual, pendente da efetiva aferição de lucro no exercício.

As partes benefi ciárias podem ter, a curto prazo, a função de fi nanciar a companhia, conforme salienta Fabio Ulhoa Coelho:

“A primeira função das partes benefi ciárias é a captação de recursos. A com-panhia emite-as para aliená-las a investidores interessados na rentabilidade pro-porcionada pela participação nos seus resultados líquidos. Nesse caso, ela recebe dos investidores o pagamento do preço atribuído ao valor mobiliário — o qual comporá obrigatoriamente a reserva de capital — e torna-se devedora eventual do valor correspondente a parte de seus lucros”69.

Adicionalmente, a lei permite que as partes benefi ciárias assumam função de caráter remuneratório, na hipótese, por exemplo, de serem atribuídas a fundadores, acionistas ou terceiros, como contraprestação por serviços pres-tados à companhia70.

Ressalte-se, contudo, que a emissão de partes benefi ciárias sofrem diversas restrições, tal qual a impossibilidade de a companhia se comprometer a pagar aos seus titulares valor superior a 10% (dez por cento) de seus lucros71. Ainda, nos termos do parágrafo único do artigo 47 da Lei das S.A.72, é proibida a emissão de partes benefi ciárias por companhias abertas.

B.5) Bônus de Subscrição

Nos termos do parágrafo único do artigo 75 da Lei das S.A., “os bônus de subscrição conferirão aos seus titulares, nas condições constantes do certifi ca-do, direito de subscrever ações do capital social (...)”.

Os bônus de subscrição são títulos negociáveis, podendo ser emitidos pe-las companhias a título gratuito ou oneroso. Para evitar que os acionistas da companhia possam ser prejudicados na emissão dos bônus de subscrição, a lei os confere o direito de preferência na subscrição dos próprios bônus de subscrição73.

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FGV DIREITO RIO 43

K) TEXTOS DE APOIO

1. “Vale diz que oferta de debêntures somará R$ 5,5 bilhõesValor Online08/12/2006

SÃO PAULO — O Conselho de Administração da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) confi rmou que será de R$ 5,5 bilhões sua emissão de debêntures simples e não-conversíveis em ações. A cifra foi ratifi cada em pro-cesso de coleta de intenções de investimento (“bookbuilding”) realizado hoje.

Conforme esclareceu a Vale, a operação será dividida em duas séries, sen-do que a primeira contempla uma oferta de 150 mil debêntures ao preço unitário de R$ 10 mil e com vencimento em 20 de novembro de 2010. A segunda série prevê o lançamento de 400 mil debêntures, também ao valor de R$ 10 mil e com resgate em 20 de novembro de 2013.

As debêntures ofertadas na primeira série pagarão remuneração corres-pondente a 101,75% da variação acumulada do Certifi cado de Depósito In-terbancário (CDI). Já a segunda série pagará a oscilação do CDI mais uma taxa de 0,25% ao ano.

A oferta ainda está precisa do registro da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

2. “Net começa a amortizar 5ª emissão de debêntures a partir de 27 de dezembroValor Online05/12/2006

SÃO PAULO — A Net Serviços de Comunicação pretende amortizar o saldo total de sua quinta emissão de debêntures, cuja amortização inicial esta-va prevista para 2008, a partir do dia 27 de dezembro deste ano. Os recursos virão de uma nova emissão para alongar o perfi l da dívida.

A quinta emissão, de R$ 650 milhões, foi feita em setembro do ano passa-do e é hoje o único endividamento da Net. A companhia, entretanto, prefe-riu aproveitar o momento favorável do mercado para uma nova emissão, de R$ 580 milhões, além de ter captado US$ 150 milhões em uma emissão de bônus perpétuos.

Segundo comunicado enviado hoje à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a amortização total da quinta emissão está condicionada à efetiva realização do novo programa de títulos.

Francisco Valim, presidente da Net, informou aos jornalistas no fi nal de outubro que a melhora dos índices de avaliação da companhia junto às agên-

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 44

cias de classifi cação de risco vai permitir que ela refi nancie a dívida com maior prazo e menor custo.

O momento mais favorável à captação também vai permitir que a opera-dora amplie o programa de investimentos em 2007. A Net informou que, além dos R$ 350 milhões que pretendia investir na aquisição de novos clien-tes, vai destinar outros R$ 300 milhões para ampliar a cobertura bidirecional de sua rede de cabos. Dos atuais 2,8 milhões de domicílios que hoje têm a cobertura da rede bidirecional da Net, o número passará a 4,5 milhões resi-dências. A empresa precisa dos cabos bidirecionais para oferecer internet em banda larga na sua rede, além da distribuição de programas de TV paga.

A agência Moody´s, por exemplo, colocou os ratings da Net em revisão para possível elevação depois que a empresa anunciou a intenção da Net de adquirir o controle da Vivax, feito no início de outubro e que ainda depende de autorização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)”.

(Taís Fuoco | Valor Online)

L) CASOS

Caso Companhia Vale do Rio DoceDe janeiro a setembro de 2006, a CVRD faturou mais de R$ 30 bilhões

e lucrou mais de R$ 100 bilhões, respondendo sozinha por mais de 20% do saldo da balança comercial brasileira.

A Companhia Vale do Rio Doce é uma empresa de capacidade global, tendo atividades exploradas em inúmeros países. Desde a sua privatização em 1997, a CVRD vem crescendo exponencialmente, tendo desenvolvido anualmente aquisições de outras companhias que exploram setores correlatos à atividade da companhia (exploração de minério de ferro).

Uma das últimas aquisições — e a mais importante do ponto de vista estratégico — foi da companhia canadense de exploração de níquel, Inco.

Em decorrência desta aquisição, a CVRD lançou recentemente no merca-do de valores mobiliários proposta para um pacote de operações de captação de recursos.

Esta captação de recursos tem como objetivo o alongamento de uma dívi-da de US$ 17,6 bilhões contraída em empréstimo-ponte de dois anos junto a bancos europeus, para pagar a aquisição à vista da companhia canadense Inco.

A rolagem do empréstimo-ponte deverá ser feita num prazo mínimo de 10 anos.

Pergunta-se:1) Qual o instrumento adequado para a captação destes recursos extras?2) Qual a vantagem para a realização destas específi cas operações de captação?

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FGV DIREITO RIO 45

M) JURISPRUDÊNCIA

“TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. DEBÊNTURES DA ELE-TROBRÁS. RECUSA.

1. (...)2. Debêntures são valores mobiliários emitidos pelas S/A representativos

de empréstimo que uma companhia faz junto a terceiros e que assegura a seus detentores direito contra a emissora, direito esse fi xado na escritura da emissão. Considerando que o seu valor de mercado decorre de livre negocia-ção, não há falar-se em ‘plena liquidez’, típica dos títulos cotáveis embolsa. Dessa forma, ausente o requisito de ‘caução idônea’ na obrigação ao portador apresentada, não restando atendido o requisito expressamente exigido pelo disposto no art. 11, II, da Lei 6.830/80.

3. O valor de mercado das debêntures decorre da livre negociação entre comprador/vencedor, como simples decorrência das leis de oferta e procura, sendo desinfl uente o valor de face que ostentam, por isso que não se coaduna com a expressão econômica ‘facilmente aferível’ ou ‘plena liquidez’, típicas dos títulos cotáveis em bolsa.

4. Recurso especial improvido” (STJ, 1ª T, REsp 608223/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 07.10.2004, v.u., DJ 25.10.2004, p. 237).

“DEBÊNTURE. ASSEMBLÉIA GERAL. INEFICÁCIA DA CLÁU-SULA. IMPROCEDÊNCIA DA NULIDADE. Ação constitutiva negati-va. Assembléia de debenturistas. Alteração de cláusula. Decisão unânime. Indivisibilidade da decisão. Não pode a Companhia pretender a inefi cácia do expresso no ‘caput’ da cláusula 13, que convencionou a prorrogação do prazo de vencimento para recompra de debêntures, e, simultaneamente, a nulidade de obrigação ínsita no parágrafo único da referida cláusula, que conferiu à emissora a obrigação de recompra das debêntures no prazo origi-nal se assim desejarem os debenturistas, tanto que a referida cláusula, no seu todo, não encerra qualquer ilegalidade. Apelo provido” (TJRJ, 9a CC, AC 1999.001.09967, Rel. Des. Laerson Mauro, j. 03.11.1999, v.u.).

N) QUESTÕES DE CONCURSO

(25º Exame de Ordem OAB-RJ) 50 — Quais são as garantias da debênture:a. Subordinativa aos demais credores da companhia e real;b. Real e fl utuante;c. Preferencial e juros;d. Flutuante e subordinativa aos demais credores da companhia

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FGV DIREITO RIO 46

(Prova 23º Exame de Ordem OAB-RJ) 5 — Quais as garantias que a debên-ture pode ter? Justifi que a resposta.

(Prova 23º Exame de Ordem OAB-RJ) 23 — Assinale a alternativa correta, levando-se em consideração o que dispõe a Lei 6.404/76:

a. as ações preferenciais jamais possibilitam o direito de voto ao acionista preferencialista;

b. as ações preferenciais sem direito de voto adquirirão o exercício desse direito se a companhia, pelo prazo previsto no estatuto, não superior a 5 (cin-co) exercícios consecutivos, deixar de pagar os dividendos fi xos ou mínimos a que fi zerem jus, direito que conservarão até o pagamento, se tais dividendos não forem cumulativos, ou até que sejam pagos os cumulativos em atraso;

c. as ações preferenciais sem direito de voto adquirirão o exercício desse di-reito se a companhia, pelo prazo previsto no estatuto, não superior a 3 (três) exercícios consecutivos, deixar de pagar os dividendos fi xos ou mínimos;

d. as ações preferenciais que adquirirem o direito de voto, de nenhum modo perderão essa qualidade.

(14º Exame de Ordem OAB-RJ) 3 — Carlos Carvalho pretende adquirir debêntures de uma companhia aberta. Para tal, indaga sobre as garantias que esses títulos oferecem ao debenturista.

(9º Exame de Ordem OAB-RJ) 5 — O que são valores mobiliários? Funda-mente a resposta.

(9º Exame de Ordem OAB-RJ) 25 — As ações, nas sociedades anônimas, em relação à forma de circulação, podem ser:

a. Ao portador e endossáveis;b. Somente nominativas;c. Nominativas, endossáveis ou ao portador;d. Endossáveis ou ao portador.

(130º Exame de Ordem/SP) 46 — São as seguintes as possíveis características das ações em que se divide o capital social de uma sociedade anônima:

(A) nominativas ou ao portador, com ou sem valor nominal, ordinárias, preferenciais ou de fruição.

(B) ao portador, com ou sem valor nominal, ordinárias ou preferenciais.(C) nominativas ou ao portador, com valor nominal, ordinárias ou prefe-

renciais.(D) nominativas, com ou sem valor nominal, ordinárias, preferenciais ou

de fruição.

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FGV DIREITO RIO 47

(129º Exame de Ordem/SP) 48 — Assinale a afi rmativa verdadeira. As de-bêntures emitidas por uma sociedade anônima conferem aos seus titulares direitos de crédito contra elas, nas condições:

(A) estabelecidas em lei.(B) constantes da escritura de emissão e, se houver, do certifi cado.(C) estabelecidas pelo Banco Central.(D) negociadas entre o seu titular e a companhia.

(128º Exame de Ordem/SP) 43 — A ação de uma sociedade por ações(A) deverá, obrigatoriamente, ter valor nominal.(B) pode ou não ter valor nominal.(C) só terá valor nominal, quando subscrita e integralizada em moeda

corrente nacional.(D) só terá valor nominal, quando subscrita e integralizada em moeda

corrente nacional e, concomitantemente, for objeto de emissão do respectivo certifi cado.

(123º Exame de Ordem/SP) 43 — Os valores mobiliários que não represen-tam parcelas do capital social e que conferem a seu titular direito de partici-pação nos lucros da sociedade anônima denominam-se:

(A) bônus de subscrição.(B) debêntures.(C) warrants.(D) partes benefi ciárias.

(110º Exame de Ordem/SP) 19 — Numa sociedade anônima, as ações clas-sifi cam-se em:

1. ordinárias ou preferenciais e em nominativas ou ao portador, aquelas registradas em nome de seus proprietários nos livros da sociedade, estas trans-feríveis por mera tradição.

2. ordinárias, preferenciais ou de fruição e todas elas são nominativas, uma vez que não mais se permitem títulos ao portador, inclusive ações.

3. ordinárias, preferenciais, escriturais, debêntures e partes benefi ciárias, todas elas podendo ser nominativas, endossáveis ou ao portador.

4. preferenciais escriturais, preferenciais nominativas, debêntures conver-síveis, debêntures simples, partes benefi ciárias comuns e partes benefi ciárias resgatáveis, todas obrigatoriamente nominativas, mas endossáveis.

(110º Exame de Ordem/SP) 20 — Preferenciais são as ações de sociedade anônima em que:

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FGV DIREITO RIO 48

1. o estatuto outorga determinados privilégios patrimoniais em relação às ações ordinárias, podendo, em contrapartida, deixar de conferir-lhes o direito de voto ou restringi-lo.

2. o contrato social confere direito ao recebimento de certifi cados de ações negociáveis, podendo, em contrapartida, determinar que somente detentores de ações ordinárias possam ser proprietários de ações preferenciais, ou mes-mo limitar o direito de voto às matérias de competência dos Conselhos Fiscal e de Administração.

3. a lei impõe direito de voto ilimitado, podendo a assembléia, se o esta-tuto assim o determinar, exigir que para o exercício desse direito de voto, o sócio seja proprietário de um número mínimo de ações.

4. a lei contempla direito de voto e direito à percepção de vantagens pa-trimoniais, sendo estas determinadas, defi nidas e especifi cadas no estatuto social.

O) GLOSSÁRIO

AÇÃO DE FRUIÇÃO: São as ações atribuídas aos acionistas cujas ações foram totalmente amortizadas, nos termos do artigo 44, parágrafo 5º da Lei das S.A. Por meio da amortização, o acionista recebe, de forma antecipada, os valores a que faria jus no momento da liquidação da companhia.

ACORDO DE ACIONISTAS: O acordo de acionistas é o instrumento utilizado para disciplinar muitos interesses dos acionistas. Disciplinado no artigo 118 da Lei das S.A., este tipo de acordo é um contrato “parassocial”, pois é distin-to dos documentos societários da companhia, como estatuto social e atas de assembléias. Seu regramento jurídico é aquele dos contratos civis e comerciais em geral, apesar de ter diversos refl exos no campo societário. Enquanto no estatuto social estão presentes as regras que disciplinam a sociedade e às quais ela própria e todos os sócios estão sujeitos, no acordo de acionistas os sócios procuram regular seus interesses individuais em face da sociedade. Apesar de ser um contrato entre um determinado grupo de acionistas, o acordo traz obrigações para a sociedade e refl exos para sócios que não são signatários, desde que observados certos requisitos legais (Fonte: Celso A. Barbi Filho. “Acordo de acionistas: panorama atual do instituto no Direito Brasileiro e propostas para a reforma de sua disciplina legal”. IN: RDM vol. 121, janeiro-março 2001 pp.31-55).

EMPRÉSTIMO PONTE: empréstimo concedido em antecipação aos recursos de uma outra transação.

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FGV DIREITO RIO 49

74 Cabe assinalar que os sócios podem,

por exemplo, disponibilizar recursos à

companhia a título de mútuo (contrato

de empréstimo). Nesse caso, tais recur-

sos estariam enquadrados na primeira

categoria acima indicada.

75 Nos termos do artigo 7º da Lei das

S.A. “O capital social poderá ser forma-

do com contribuições em dinheiro ou

em qualquer espécie de bens suscetí-

veis de avaliação em dinheiro.”

AULA 7: CAPITAL SOCIAL: FORMAÇÃO, AUMENTO E REDUÇÃO.

P) MATERIAL DE LEITURA

Leitura básica

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. Vol. 2. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, pp. 156-175.

REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 2º vol. 24ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006, pp. 57 —69.

Leitura complementar

LAMY FILHO, Alfredo. “Capital social. Conceito. Atributos. A alteração introduzida pela Lei nº 9.457, de 1997. O capital social no sistema jurí-dico americano”. In Revista de Direito Renovar. Vol. 13. Rio de Janeiro: Renovar, janiro/abril 1999, pp. 35-42.

Q) ROTEIRO DE AULA

Na aula passada, iniciamos o estudo das características específi cas das so-ciedades anônimas. Em continuidade, passaremos a analisar, neste momento, as particularidades relativas ao capital social de uma companhia, valendo-nos dos conceitos já abordados em períodos anteriores com relação a outros tipos societários.

Para que seja dado início às atividades de uma companhia, é necessário que esta disponha de recursos. Há duas formas principais de atender a tal ne-cessidade de uma sociedade, quais sejam, fi nanciamento ou capitalização. Na primeira modalidade, a sociedade busca junto a terceiros estranhos à compa-nhia — como, por exemplo, os bancos ou, no caso das companhias abertas, o público investidor em geral — os recursos necessários ao seu desenvolvimen-to, devendo, posteriormente, restituir os valores disponibilizados por esses terceiros, juntamente com os encargos daí decorrentes.

Já na segunda categoria, os sócios da companhia — na qualidade de só-cios74 — lhe forneçam recursos, transferindo de seu patrimônio ao patrimô-nio da pessoa jurídica dinheiro ou bens suscetíveis de avaliação em dinhei-ro75. Tendo em vista o escopo da presente aula, trataremos, nesse momento,

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FGV DIREITO RIO 50

76 No momento da subscrição, devem se

estabelecer, no boletim de subscrição,

os prazos e a forma de integralização

do capital subscrito. Não realizado o

pagamento nas condições previstas,

estará confi gurada a mora do acionista,

o qual, então denominado “acionista

remisso”, estará sujeito ao disposto

nos artigos 106 e 107 da Lei das S.A.

Importa observar que, nos termos do

artigo 108 do referido diploma legal,

“ainda quando negociadas as ações, os

alienantes continuarão responsáveis,

solidariamente com os adquirentes,

pelo pagamento das prestações que

faltarem para integralizar as ações

transferidas”, durante o prazo de dois

anos contados da data da transferência

das ações.

77 José Edwaldo Tavares Borba, Direito

societário. 8ª ed. Rio de Janeiro: Reno-

var, 2003, p. 201.

78 “Art. 8º A avaliação dos bens será

feita por 3 (três) peritos ou por em-

presa especializada, nomeados em

assembléia-geral dos subscritores, con-

vocada pela imprensa e presidida por

um dos fundadores, instalando-se em

primeira convocação com a presença

de subscritores que representem me-

tade, pelo menos, do capital social, e

em segunda convocação com qualquer

número. § 1º Os peritos ou a empresa

avaliadora deverão apresentar laudo

fundamentado, com a indicação dos

critérios de avaliação e dos elementos

de comparação adotados e instruído

com os documentos relativos aos bens

avaliados, e estarão presentes à assem-

bléia que conhecer do laudo, a fi m de

prestarem as informações que lhes fo-

rem solicitadas. 2º Se o subscritor acei-

tar o valor aprovado pela assembléia,

os bens incorporar-se-ão ao patrimônio

da companhia, competindo aos primei-

ros diretores cumprir as formalidades

necessárias à respectiva transmissão.

§ 3º Se a assembléia não aprovar a

avaliação, ou o subscritor não aceitar a

avaliação aprovada, fi cará sem efeito o

projeto de constituição da companhia.

§ 4º Os bens não poderão ser incorpo-

rados ao patrimônio da companhia por

valor acima do que lhes tiver dado o

subscritor. § 5º Aplica-se à assembléia

referida neste artigo o disposto nos §§

1º e 2º do artigo 115. §6º Os avaliado-

res e o subscritor responderão perante

a companhia, os acionistas e terceiros,

pelos danos que lhes causarem por cul-

pa ou dolo na avaliação dos bens, sem

prejuízo da responsabilidade penal em

que tenham incorrido; no caso de bens

em condomínio, a responsabilidade dos

subscritores é solidária”.

79 A esse respeito, Rubens Requião

afi rma “A lei, por isso, exige — e para

tanto traça normas específi cas já que

a sociedade envolve interesses de ter-

ceiros, e mesmo dos acionistas atuais e

tão-somente da segunda espécie principal de disponibilização de recursos para as companhias.

B.1) A formação do capital social

Conforme já apresentado, a lei estabelece uma série de formalidades na constituição de uma sociedade anônima, dentre as quais se destacam, neste particular, os requisitos referentes à subscrição e à integralização das ações em que se divide o capital social da companhia.

Para uma melhor compreensão do tema, cumpre inicialmente distinguir e elucidar os conceitos de subscrição e integralização. O capital social subscrito é o montante de recursos prometido pelos sócios para a formação do capital da sociedade76, enquanto o capital social integralizado corresponde ao valor efetivamente transferido pelos sócios ao patrimônio da companhia.

Embora de acordo com o artigo 5º da Lei das S.A. o capital social da socie-dade anônima deva ser expresso em moeda nacional e o seu valor fi xado pelo estatuto social, o capital social pode ser integralizado não só em dinheiro, mas também em bens ou em créditos.

A integralização em dinheiro é a que ocorre com a maior freqüência na prática, não havendo maiores formalidades na sua realização. Com efeito, “o dinheiro representa o mais comum instrumento de integralização de capital, pois, considerada a sua natureza de meio de pagamento, atenderá, em qual-quer circunstância, ao interesse da sociedade”77.

No que tange à integralização do capital social em bens, a Lei das S.A. exige, em seu artigo 8º78, o cumprimento de algumas formalidades relativas à sua avaliação79. Em observância ao referido dispositivo legal, deverá ser ela-borado um laudo pericial fundamentado — de forma a aferir o real valor dos bens que estão sendo transferidos à sociedade —, no qual será estabelecida a correspondência entre a contribuição do acionista e a quantidade de ações que será recebida por ele.

Nesse sentido, a transferência de bens para o acervo da companhia só será possível mediante a avaliação por três peritos ou por empresa especializada. Na falta de declaração em contrário, os bens são transferidos a título de pro-priedade. No entanto, nada impede que, em vez do título de propriedade, seja incorporado à companhia apenas o uso de determinados bens, por exem-plo a exploração de uma patente. Os peritos, ou a empresa especializada, a serem nomeados pela assembleia geral, estarão incumbidos de examinar os bens, elaborando ao fi nal um laudo pericial fundamentado, no qual deverá constar os critérios de avaliação, as comparações efetivadas e o valor dos bens.

O laudo poderá atribuir ao bem um valor inferior à estimativa realizada pelo subscritor. Se os valores atribuídos pelo subscritor e pelo perito forem

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FGV DIREITO RIO 51

futuros — que os valores dos bens que

irão integralizar o capital sejam efetiva-

mente reais e autênticos” (Rubens Re-

quião. Curso de direito comercial. 2º vol.

24ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 59).

80 José Edwaldo Tavares Borba, Direito

societário. 8ª ed. Rio de Janeiro: Reno-

var, 2003

81 Conforme disposto no artigo 10 da

Lei das S.A “A responsabilidade civil dos

subscritores ou acionistas que contri-

buírem com bens para a formação do

capital social será idêntica à do vende-

dor. Parágrafo único. Quando a entrada

consistir em crédito, o subscritor ou

acionista responderá pela solvência do

devedor”.

o mesmo, e a assembleia o aprovar, a integralização estará consumada. Por outro lado, caso o laudo dos peritos apresente um valor inferior ao atribuído pelo subscritor, uma das duas hipóteses ocorrerá, conforme esclarece Tavares Borba80:

“Chegando o laudo a um valor inferior ao cotado pelo subscritor, caberá a este optar entre concordar com os peritos, suplementando em dinheiro o mon-tante da subscrição, ou discordar da avaliação tornando sem efeito a sua subscri-ção e o próprio projeto de constituição da sociedade ou de aumento de capital social, conforme o caso.”

Note-se que, quanto à responsabilidade pela avaliação dos bens, o pará-grafo 6º do artigo 8º da Lei das S.A. prevê que “os avaliadores e o subscritor responderão perante a companhia, os acionistas e terceiros, pelos danos que lhes causarem por culpa ou dolo na avaliação dos bens, sem prejuízo da res-ponsabilidade penal em que tenham incorrido”.

Por fi m, o capital social pode ser integralizado pela cessão de créditos. Neste caso, o acionista titular do crédito transfere à sociedade os direitos creditórios que possui perante terceiros. A esse respeito, cumpre assinalar que a lei determina que o subscritor deve responder pela existência do crédito e pela solvência do devedor81.

B.2) A função do capital social

Analisados os aspectos gerais relativos à formação do capital social, é impor-tante esclarecer qual seria a função primordial desempenhada pelo capital social.

Alguns autores destacam que a principal função do capital social seria de servir de garantia aos credores da companhia que, ao analisarem o capital social, teriam conhecimento da solidez fi nanceira da pessoa jurídica e, assim, teriam elementos para defi nir se passariam a ter relações comerciais com tal sociedade. Dessa função do capital social, justifi car-se-ia o princípío da intan-giblidade o capital social

Ocorre que, em verdade, encontra-se no patrimônio da sociedade — como se verifi ca com relação a qualquer outro devedor, seja pessoa física ou jurídica — a real garantia dos seus credores. Em regra, o capital social e o patrimônio de determinada sociedade somente se equivalem no momento da constitui-ção da companhia, e desde que o capital seja imediatamente integralizado em sua totalidade. Iniciadas as suas atividades, a pessoa jurídica passa a aplicar os seus recursos, adquirindo e vendendo bens e mercadorias, prestando serviços e contratando empregados, dentre outras atividades compatíveis com o seu objeto social. Assim, o patrimônio da sociedade — de natureza mutável —

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FGV DIREITO RIO 52

82 Fonte: Site da Comissão de Valores

Mobiliários — http://www.cvm.gov.

br/. Acesso em 24 de novembro de

2006.

83 Fábio Ulhoa Coelho. Curso de direito

comercial. Vol. 2. 6ª ed. São Paulo: Sa-

raiva, 2003, p. 158.

84 Rubens Requião, “Curso de Direito

Comercial”, vol. II, 2ª ed., São Paulo:

Saraiva, 2003

85 In Rev. Dir. Mer. Ind. Ec. Fin., nº7, Nova

Série, 1972, pág 124

poderá ser maior ou menor que o capital social fi xado no estatuto, conforme a conjuntura econômica e o sucesso ou insucesso do empreendimento. Nesse sentido, é ilustrativo o quadro abaixo:

Companhia Ativo total Capital Social Patrimônio Líquido Data

Lojas Americanas S.A. 2.062.473 156.998 336.675 30/09/2006

Varig S.A. Viação Aérea Rio Grandense

2.169.102 248.514 (8.194.584) 31/03/2006

Natura Cosméticos S.A. 1.185.404 232.738 736.173 30/09/2006

Petróleo Brasileiro S.A. Petro-bras

172.948.450 48.263.983 97.654.709 30/09/2006

Parmalat Brasil S.A. Ind de Alimentos

610.004 868.607 (501.141) 30/06/2006

Banco Bradesco S.A. 214.551.152 13.000.000 21.773.355 30/09/2006

Companhia Brasileira de Bebi-das das Américas S.A. (AMBEV)

31.631.172 5.714.178 19.402.258 30/09/2006

Lojas Renner S.A. 966.902 398.138 554.584 30/09/2006

(Reais mil)82

Assim, além de servir de forma de disponibilização de recursos à compa-nhia, pode-se entender que a principal função do capital social reside na “ve-dação de a sociedade anônima fazer qualquer pagamento aos seus acionistas, a título de dividendos ou juros, com recursos que fi guram, em suas demons-trações fi nanceiras, como capital social”83.

O debate acerca da função de garantia do capital social, por muito tempo, acalorou os debates doutrinários. Veja-se que Rubens Requião84, no capítulo sobre o capital social do volume 2 de sua obra sobre o direito comercial siste-matiza o embate doutrinário entre os defensores da importância do conceito de capital social e aqueles que visualizam no instituto, pouca, ou nenhuma utilidade prática. Neste sentido, o comercialista paranaense faz a seguinte menção à doutrina estrangeira85:

“Em seu livro sobre Legal Capital, Capítulo V, diz o Prof. Bayless Maning que se pode afi rmar, com segurança, que a maquinaria do capital social produz pouca ou nenhuma proteção aos credores, e eles, sabendo disso, buscam outras garan-tias. E as razões seriam muitas entre as quais aponta: a) a cifra que traduz, num balanço, o lucro, é fruto de um sem-número de prévias decisões contábeis, que, se houver interesse, serão facilmente fraudadas; b) os credores não são ouvidos sobre as decisões de alterar a cifra do capital social, e esta é sempre arbitrária e irrele-

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FGV DIREITO RIO 53

86 “Art. 166. O capital social pode ser

aumentado: I - por deliberação da

assembléia-geral ordinária, para cor-

reção da expressão monetária do seu

valor (artigo 167); II - por deliberação

da assembléia-geral ou do conselho

de administração, observado o que a

respeito dispuser o estatuto, nos casos

de emissão de ações dentro do limite

autorizado no estatuto (artigo 168);

III - por conversão, em ações, de de-

bêntures ou parte benefi ciárias e pelo

exercício de direitos conferidos por

bônus de subscrição, ou de opção de

compra de ações; IV - por deliberação

da assembléia-geral extraordinária

convocada para decidir sobre reforma

do estatuto social, no caso de inexistir

autorização de aumento, ou de estar a

mesma esgotada. § 1º Dentro dos 30

(trinta) dias subseqüentes à efetivação

do aumento, a companhia requererá

ao registro do comércio a sua averba-

ção, nos casos dos números I a III, ou

o arquivamento da ata da assembléia

de reforma do estatuto, no caso do nú-

mero IV. § 2º O conselho fi scal, se em

funcionamento, deverá, salvo nos casos

do número III, ser obrigatoriamente

ouvido antes da deliberação sobre o

aumento de capital”.

87 Consoante determina o artigo 168 da

Lei das S.A.: “Art. 168. O estatuto pode

conter autorização para aumento do

capital social independentemente de

reforma estatutária. § 1º A autoriza-

ção deverá especifi car: a) o limite de

aumento, em valor do capital ou em

número de ações, e as espécies e clas-

ses das ações que poderão ser emitidas;

b) o órgão competente para deliberar

sobre as emissões, que poderá ser a

assembléia-geral ou o conselho de

administração; c) as condições a que

estiverem sujeitas as emissões; d) os

casos ou as condições em que os acio-

nistas terão direito de preferência para

subscrição, ou de inexistência desse

direito (artigo 172). § 2º O limite de

autorização, quando fi xado em valor

do capital social, será anualmente cor-

rigido pela assembléia-geral ordinária,

com base nos mesmos índices adota-

dos na correção do capital social. 3º O

estatuto pode prever que a companhia,

dentro do limite de capital autorizado,

e de acordo com plano aprovado pela

assembléia-geral, outorgue opção de

compra de ações a seus administrado-

res ou empregados, ou a pessoas natu-

rais que prestem serviços à companhia

ou a sociedade sob seu controle”.

88 Fábio Ulhoa Coelho. Curso de direito

comercial. Vol. 2. 6ª ed. São Paulo: Sa-

raiva, 2003, p. 169.

vante; c) não há nenhuma lógica em tomar-se um número qualquer (o capital) e fazê-lo de medida para distribuição de dividendos e bonifi cações a acionistas; d) o sistema contábil não leva em conta a dimensão do tempo, e não distingue entre um crédito a realizar-se em 20 anos e o realizável na próxima semana”

Em sentido contrário, o Professor Alfredo Lamy Filho, um dos autores da LSA, reafi rma a importância da tese da intangibilidade do capital social:

“se a defesa dos credores é incompleta, nem por isso se deve destruí-la, mas antes reforçá-la; se as fraudes contábeis são possíveis, as normas e praxes se vêm aperfeiçoando, e não é tão fácil praticá-las porque há sempre o risco da respon-sabilidade criminal na falência; e, afi nal, não nos parece possível prescindir da noção de capital, no estágio atual de nossos usos e práticas comerciais. Tal fato envolveria riscos econômicos sem maior proveito, pelo que, a nosso ver, deve ser desprezada a hipótese”

B.3) Aumento do capital social

Durante o desenvolvimento das atividades de uma companhia, freqüen-temente se faz necessário o ingresso de novos recursos para viabilizar a con-tinuidade do seu crescimento ou para permitir a sua recuperação em face de eventuais prejuízos. Consoante acima apontado, nesse cenário abrem-se duas possibilidades básicas: obter fi nanciamentos junto a terceiros ou contar com recursos adicionais dos sócios.

Adotando-se a segunda opção, ocorrerá um aumento do capital social da companhia. Em princípio, a modifi cação do capital social depende de alte-ração estatuária, bem como da observância das formalidades próprias do ato, nos termos do artigo 16686 da Lei das S.A.

Contudo, nas hipóteses prevista em lei87, é possível aumentar, dentro de certos limites, o capital social de uma forma mais simplifi cada, sem a referida alteração estatutária. Para tanto, será imprescindível que conste no estatuto social uma previsão de capital autorizado. Sobre o tema, Fábio Ulhoa Coelho assinala:

“O capital autorizado é o dispositivo estatutário que permite, dentro de certo limite, o aumento do capital social, com a emissão de novas ações, independen-temente de alteração do estatuto”88.

De acordo com o artigo 170 da Lei das S.A., o aumento do capital social pode ocorrer mediante subscrição pública ou particular de novas ações, hi-póteses nas quais ocorre o efetivo ingresso de novos recursos na companhia.

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FGV DIREITO RIO 54

89 Note-se que a companhia deve ob-

servar alguns requisitos legais na fi xa-

ção do preço de emissão de ações, tais

quais a perspectiva de rentabilidade

da companhia, o valor do patrimônio

líquido das ações e a sua cotação no

mercado, consoante dispõe o artigo

170 da Lei das S.A.: “Art. 170. Depois

de realizados 3/4 (três quartos), no

mínimo, do capital social, a companhia

pode aumentá-lo mediante subscrição

pública ou particular de ações. § 1º O

preço de emissão deverá ser fi xado,

sem diluição injustifi cada da partici-

pação dos antigos acionistas, ainda

que tenham direito de preferência para

subscrevê-las, tendo em vista, alterna-

tiva ou conjuntamente: I - a perspectiva

de rentabilidade da companhia; II - o

valor do patrimônio líquido da ação;

III - a cotação de suas ações em Bolsa

de Valores ou no mercado de balcão

organizado, admitido ágio ou deságio

em função das condições do mercado”.

90 Fábio Ulhoa Coelho. Curso de direito

comercial. Vol. 2. 6ª ed. São Paulo:

Saraiva, 2003, p. 168. Os valores mo-

biliários serão estudados adiante no

nosso curso.

91 “Art. 174. Ressalvado o disposto nos

artigos 45 e 107, a redução do capital

social com restituição aos acionistas

de parte do valor das ações, ou pela

diminuição do valor destas, quando

não integralizadas, à importância das

entradas, só se tornará efetiva sessenta

dias após a publicação da ata da assem-

bléia geral que a tiver deliberado. §1º

Durante o prazo previsto neste artigo,

os credores quirografários por títulos

anteriores à data da publicação da ata

poderão, mediante notifi cação, de que

se dará ciência ao registro do comércio

da sede da companhia, opor-se à redu-

ção do capital; decairão desse direito os

credores que o não exercerem dentro

do prazo. §2º Findo o prazo, a ata da

assembléia geral que houver delibera-

do a redução poderá ser arquivada se

não tiver havido oposição ou, se tive

havido oposição de algum credor, des-

de que feita a prova do pagamento do

seu crédito ou do depósito judicial da

importância respectiva. §3º Se houver

em circulação debêntures emitidas

pela companhia, a redução do capital,

nos casos previstos neste artigo, não

poderá ser efetivada sem prévia apro-

vação pela maioria dos debenturistas,

reunidos em assembléia especial”.

Neste caso, se a emissão é privada, novas ações são oferecidas a investidores particulares. Por outro lado, caso a emissão seja pública, as novas ações serão ofertadas aos investidores em geral, devendo ser obedecidas, neste caso, as regras próprias do mercado de capitais, conforme anteriormente indicado89.

Ainda, a companhia pode realizar o aumento de capital sem novos recur-sos dos acionistas, mediante a capitalização de lucros e reservas. Este meca-nismo implica a alteração do valor nominal das ações, caso existente, ou na distribuição de ações novas entre os acionistas, na proporção do número de ações que estes possuírem, conforme previsto no artigo 169 da Lei das S.A.

Há, ainda, uma modalidade de aumento de capital sem ingresso imediato de recursos, consistente na conversão de valores mobiliários em ações. Diz-se que não há ingresso imediato de recursos uma vez que os recursos foram transferidos à sociedade anônima em um momento anterior ao aumento de capital, a título de fi nanciamento. Sobre a conversão de valores mobiliários em ações, Fábio Ulhoa Coelho assinala que:

“A outra hipótese de aumento de capital social sem ingresso de recursos de-corre da conversão de valores mobiliários em ações. As debêntures e as partes benefi ciárias para alienação onerosa podem conter cláusula de conversibilidade em ações. Verifi cados os pressupostos dessa cláusula, o titular do valor mobiliário torna-se acionista e opera-se o concomitante aumento de capital”90.

B.4) Redução do capital social

Por fi m, nos termos do artigo 173 da Lei das S.A., o capital social de uma companhia pode ser reduzido nas hipóteses de perda, até o montante dos prejuízos acumulados, ou de excesso. Na primeira situação, ajusta-se o valor do capital social previsto estatuariamente de forma a torná-lo mais próximo à realidade patrimonial da companhia, não havendo restituição aos acionistas.

No segundo caso, considera-se o capital social excessivo para as neces-sidades do empreendimento, ocorrendo restituição aos acionistas de parte do valor de suas ações — ou diminuição do valor destas à importância das entradas, quando não tiverem sido ainda integralizadas. Considerando que, nessa situação, poderá haver eventual prejuízo aos interesses dos credores da companhia, a Lei das S.A. estabelece, nos parágrafos do artigo 174, alguns requisitos adicionais para tal redução91.

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FGV DIREITO RIO 55

R) TEXTOS DE APOIO

1. “Banco Moneo aumenta o capital para R$ 50 milhõesValor Online — Sergio Bueno31/08/2006

O crescimento das operações de fi nanciamento para os clientes da con-troladora Marcopolo, fabricante de carrocerias para ônibus, levou o Banco Moneo a elevar o capital social de R$ 22,1 milhões para R$ 50 milhões.

O aumento permitirá a expansão mais acentuada dos negócios, já que pelo próprio estatuto a instituição pode conceder créditos equivalentes a no máxi-mo 5,5 vezes o capital, disse ontem o diretor superintendente Carlos Zignani.

Com um ano de atividade completado em julho, o Moneo já liberou cerca de R$ 80 milhões em fi nanciamentos, relatou Zignani. Até o fi m do ano o volume deve alcançar R$ 100 milhões, chegando a R$ 250 milhões em de-zembro de 2007, projetou. O cadastro de clientes passa de 1,6 mil nomes e cerca de 500 veículos já foram fi nanciados.

O volume ainda é pequeno em comparação com as quase 7,8 mil unida-des vendidas pela montadora só no mercado interno nos 12 meses encerrados em junho, mas a expectativa é que ele cresça nos próximos anos.

Conforme o executivo, o estatuto também proíbe a exposição superior a 10% do capital em operações com um único cliente, o que impediria o banco de fi nanciar negócios maiores. Quando foi constituída, a instituição estava focada no crédito para a venda de veículos menores (micros e miniônibus) para pequenas e médias empresas e pessoas físicas, mas, com as novas linhas de leasing e os repasses de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a partir de maio, as operações passaram a in-cluir produtos de maior porte.

2. “Parmalat terá aumento de capital e emissão de R$ 800 milhões em debênturesValor Online — Fernando Nakagawa17/08/2005 19:06

SÃO PAULO — Em assembléia extraordinária realizada nesta quarta-fei-ra, os acionistas da Parmalat aprovaram o aumento do capital da companhia em até 660 milhões de ações, a emissão de R$ 800 milhões em três séries de debêntures e o grupamento dos papéis da empresa negociados em bolsa.

Em comunicado enviado ao mercado, a companhia informa que os acio-nistas aprovaram o aumento do capital social da companhia em até 660 mi-lhões de ações ordinárias ou preferenciais. A emissão de novos papéis, in-

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FGV DIREITO RIO 56

forma a nota de deliberações, pode acontecer em uma ou mais operações, dependendo das decisões do conselho de administração da empresa.

S) CASO

A Companhia Força e Luz Cataguazes Leopoldina — empresa que produz e distribui energia elétrica a municípios de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraíba e Sergipe, com faturamento de 1,2 bilhão de reais — é um marco no universo corporativo brasileiro. Fundada em 1905 por três empreendedores mineiros, foi uma das primeiras empresas a lançar ações em bolsa (em 1907, seus donos percorriam a cavalo o interior de Minas vendendo os papéis para fazendeiros da região). Apesar disso, nos seus quase 100 anos de existência a Cataguazes sempre se manteve no controle familiar. Desde o fi nal do ano passado, porém, essa posição está ameaçada. Um dos sócios da companhia, o grupo americano Alliant, entrou na Justiça reivindicando o controle da empresa.

Para isso, o sócio se baseia em um dispositivo da Lei das S.A. (artigo 111, parágrafo 1º) que garante aos titulares de ações preferenciais sem direito a voto o exercício temporário do direito de voto caso a sociedade deixe de pagar dividendos por três exercícios seguidos. Foi o que ocorreu na Catagua-zes. Nos três anos anteriores à referida reivindicação, a companhia registrou prejuízos em seus balanços, provocados pela desvalorização cambial e pelo racionamento de energia. No caso em questão, a efetiva aplicação da aludida disposição legal representaria uma alteração no controle da Cataguazes.

A briga entre os sócios teve início em dezembro de 2005, quando o grupo controlador — capitaneado pelo presidente da empresa, o empresário Ivan Botelho, herdeiro de um dos fundadores — mudou o estatuto da companhia para evitar a perda do controle. Para isso, foi montada uma operação de redu-ção de capital e determinado o pagamento de dividendos com uso da reserva de capital.

A CVM já se manifestou a favor dos controladores, mas a decisão fi nal caberá à Justiça. Pergunta-se:

1) Qual a conseqüência da redução do capital social neste caso? O que isto representa na prática?

2) Se a CVM manifestou-se favoravelmente a esta operação, porque o Poder Judiciário foi chamado a atuar?

T) EXERCÍCIO

Os alunos deverão analisar um boletim de subscrição, a ser disponibiliza-do pelo professor em sala de aula.

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FGV DIREITO RIO 57

U) JURISPRUDÊNCIA

“AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL NÃO ADMITI-DO. SOCIEDADE ANÔNIMA. AUMENTO DO CAPITAL SOCIAL.

1. Afi rmou o acórdão recorrido, considerando o conjunto probatório dos autos, que não houve diluição injustifi cada da participação de antigo acio-nista, mas, sim, necessidade imperiosa do aumento do capital da empresa, fi cando garantido o direito de preferência aos acionistas da sociedade por um preço não considerado elevado de ordem a impedir a subscrição.

2. Segundo consta do acórdão, foi realizada assembléia geral para a fi xação do valor das ações e não havia como observar a cotação das ações no mercado, o valor do patrimônio líquido e as perspectivas de rentabilidade da empresa para avaliar as ações, porque não se cuida de sociedade aberta, ademais de não possuir a empresa qualquer rentabilidade.

3. Diante da realidade dos autos, não restou caracterizada, portanto, qual-quer ofensa ao artigo 170, § 1º, da Lei nº 6.404/76, sendo necessário, para ultrapassar os fundamentos do acórdão, revolver todo conteúdo probatório, o que não se admite nesta instância especial, a teor da súmula nº 07/STJ.

4. Agravo regimental improvido” (STJ, 3ª T, AGEDAG 238045/RJ, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j. 25.10.1999, v.u., DJ 07.02.2000, p. 162).

V) QUESTÕES DE CONCURSO

(15º Exame de Ordem OAB-RJ) 3 — Se, no ato de subscrição do aumento de capital de uma S/A, um acionista contribuir com um título de crédito emitido por terceiros, quem responde perante a sociedade pela solvência do devedor?

(120º Exame de Ordem OAB/SP) 47 — Com relação ao aumento de capital da sociedade anônima, é correto afi rmar que:

(A) deve ser deliberado pela assembléia geral.(B) podem ser emitidas ações com valor inferior ao seu valor nominal.(C) não pode implicar diluição injustifi cada do patrimônio dos acionistas.(D) deve sempre ser efetuado mediante emissão de novas ações.

(XXXI CONCURSO MAGISTRATURA — PROVA ORAL) “Qual o ca-pital social, alteração e capital autorizado de uma sociedade anônima? Qual a forma de aumento do capital social de uma sociedade anônima? É necessário assembléia geral para alterar o capital social de uma sociedade anônima? É preciso da assembléia geral para integralizar o capital social com o fundo de

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FGV DIREITO RIO 58

reserva? Você pode integralizar o capital social de uma anônima com um bem móvel, por exemplo? O capital social de uma anônima é dividido em partes idênticas? Quais os tipos de bens que podem ser utilizados para a constitui-ção de capital social? Jóias? Bens Imóveis? Se imóvel, deve levar a registro no Registro de Imóveis?”.

W) GLOSSÁRIO

ASSEMBLÉIA GERAL EXTRAORDINÁRIA: reunião dos acionistas convocada e instalada na forma da lei e do estatuto, com poderes para decidir todos os negócios de interesse da companhia, exceto as que devem ser deliberadas em assembléia geral ordinária.

PARTES BENEFICIÁRIAS: títulos sem valor nominal, emitidos exclusivamente pelas companhias fechadas, que conferem a seus titulares o direito de partici-par em até 10% dos lucros anuais.

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FGV DIREITO RIO 59

AULAS 8 E 9: ASSEMBLÉIA GERAL: NOÇÕES GERAIS; CARACTERÍSTICAS, ESPÉCIES, COMPETÊNCIA E FUNCIONAMENTO.

A) MATERIAL DE LEITURA

Leitura básica

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, v. 2. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. pp. 272-324.

BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito Societário, 10ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2007, pp. 373-402.

Leitura complementar

REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 2º vol. 23ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006, pp. 165-189.

CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas, v. 2. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. pp. 589-611.

B) ROTEIRO DE AULA

Noções Gerais

Nas aulas passadas, analisamos o tratamento legislativo dispensado aos acionistas de uma sociedade anônima e as relações de poder nela existentes.

Em tal oportunidade, vimos que, em geral, o poder de controle de uma companhia está relacionado ao exercício do direito de voto dos acionistas nas assembléias gerais.

Expostos em breves linhas tais conceitos, cabe tratarmos, nas próximas duas aulas, das características gerais das assembléias.

Embora o estatuto social possa criar outros órgãos, em regra, a sociedade anônima possui 04 (quatro) órgãos sociais, quais sejam, a assembléia geral, o conselho de administração, a diretoria e o conselho fi scal. Sobre o funciona-mento da sociedade anônima e a organização de seus órgãos, Fábio Konder Comparato assinala:

“Ao contrário do que se sucede nos demais tipos societários, a economia interna da sociedade anônima não é deixada à livre decisão de seus fundado-res ou acionistas. O legislador discriminou poderes-funções considerados fun-

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FGV DIREITO RIO 60

92 COMPARATO, Fábio Konder. O poder

de controle na sociedade anônima. 4.

ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 16.

93 Ressalte-se que, nos termos do pará-

grafo único do art. 125 da Lei das S.A.,

mesmo os acionistas sem direito a voto

podem comparecer à assembléia-geral

e discutir a matéria submetida à deli-

beração.

94 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito co-

mercial, v. 2. 23. ed. São Paulo: Saraiva,

2003. pp. 169-170.

95 Nesse sentido, Fábio Ulhoa Coelho

leciona que: “No direito brasileiro, a

assembléia-geral tem competência

para apreciar qualquer assunto do in-

teresse social, mesmo os relacionados

à gestão de negócios específi cos” (Curso

de direito comercial, v. 2. 6. ed. São Pau-

lo: Saraiva, 2003. p. 195).

damentais, atribuindo-os a órgãos próprios, insuprimíveis e inconfundíveis: o poder-função deliberante à assembléia geral, o poder-função administrativo à diretoria, o poder-função sindicante ao conselho fi scal. A liberdade negocial dos particulares, na organização de uma companhia, é, pois, limitada pelo respeito devido a essa estrutura básica”92.

Conforme exposto na aula passada, a base das deliberações na assembléia geral é o voto, ou seja, os acionistas se reúnem para debater e decidir os assun-tos de interesse da sociedade através de uma votação, prevalecendo a vontade da maioria93.

Note-se, assim, que em um cenário econômico de controle excessivamente concentrado, há um enfraquecimento do poder de voto e, por conseguinte, da relevância efetiva das assembléias. Sobre o tema, Rubens Requião aponta:

“O enfraquecimento do direito de voto e o declínio de sua importância na condução dos negócios sociais importaram a debilitação da assembléia geral, em contraste com o fortalecimento dos poderes de controle ou de execução. Quando a sociedade anônima se libertou da tutela do Estado, por imperativo de interesses e também por imposição da ideologia liberal, as determinantes da vida societária passaram a ser objeto da ação da assembléia geral. Esta acolhia os acionistas, os quais direta e livremente elegiam seus dirigentes entre eles ou entre pessoas estranhas, imprimindo à vontade social o interesse da maioria. Hoje, já o vimos, o conceito de maioria se alterou para expressar o de maior grupo de con-trole, embora matematicamente não seja a maioria absoluta do capital social”94.

Cumpre observar que a assembléia geral é o órgão deliberativo máximo da sociedade anônima e que, conforme disposto no artigo 121 da Lei das S.A., possui competência para decidir todos os negócios relativos ao objeto da companhia e tomar as resoluções que julgar convenientes à sua defesa e desenvolvimento95.

Nesse sentido, são matérias de competência privativa da assembléia geral, de acordo com o artigo 122 da Lei das S.A:

“I — reformar o estatuto social;II — eleger ou destituir, a qualquer tempo, os administradores e fi scais da

companhia, ressalvado o disposto no inciso II do art. 142;III — tomar, anualmente, as contas dos administradores e deliberar sobre as

demonstrações fi nanceiras por eles apresentadas;IV — autorizar a emissão de debêntures, ressalvado o disposto no § 1º do

art. 59;V — suspender o exercício dos direitos do acionista (art. 120);

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FGV DIREITO RIO 61

96 AZEVEDO, Erasmo Valadão; FRANÇA,

Novaes. Invalidade das deliberações de

Assembléia das S.A. São Paulo: Malhei-

ros, 1999. p. 39. Ainda a esse respeito,

a necessidade dos formalismos na de-

liberação coletiva é defendida por José

Luiz Bulhões Pedreira: “O processo de

deliberação coletiva pressupõe — por

natureza — um grupo de pessoas e

um procedimento que organize em

ato coletivo os atos de vontade dessas

pessoas. O efeito deste procedimento é

a formação da vontade social do grupo

— expressão que não signifi ca vonta-

de de um ser substancial distinto dos

membros do grupo social, mas conjun-

to organizado de atos de vontade dos

membros do grupo [...]. Esse procedi-

mento precisa compreender ao menos:

(a) a comunicação a todos os sócios da

instauração do processo de deliberação

e da proposta a ser votada; (b) a ma-

nifestação dos sócios sobre a proposta

com o fi m de formar a vontade social;

e (c) a coleta dos votos e proclamação

da deliberação social” (Deliberação de

sócios quotistas de transformar Ltda

em S.A. Apud idem, p. 38).

97 “Art. 123. Compete ao conselho de

administração, se houver, ou aos dire-

tores, observado o disposto no estatuto,

convocar a assembléia-geral.

Parágrafo único. A assembléia-geral

pode também ser convocada:

a) pelo conselho fi scal, nos casos

previstos no número V, do artigo 163;

b) por qualquer acionista, quando os

administradores retardarem, por mais

de 60 (sessenta) dias, a convocação nos

casos previstos em lei ou no estatuto;

c) por acionistas que representem

cinco por cento, no mínimo, do capital

social, quando os administradores não

atenderem, no prazo de oito dias, a pe-

dido de convocação que apresentarem,

devidamente fundamentado, com indi-

cação das matérias a serem tratadas;

d) por acionistas que representem

cinco por cento, no mínimo, do capital

votante, ou cinco por cento, no mínimo,

dos acionistas sem direito a voto, quan-

do os administradores não atenderem,

no prazo de oito dias, a pedido de con-

vocação de assembléia para instalação

do conselho fi scal”.

98 “Art. 124. A convocação far-se-á me-

diante anúncio publicado por 3 (três)

vezes, no mínimo, contendo, além do

local, data e hora da assembléia, a or-

dem do dia, e, no caso de reforma do

estatuto, a indicação da matéria.

§ 1º A primeira convocação da

assembléia-geral deverá ser feita:

I — na companhia fechada, com 8

(oito) dias de antecedência, no míni-

mo, contado o prazo da publicação do

primeiro anúncio; não se realizando

a assembléia, será publicado novo

anúncio, de segunda convocação, com

antecedência mínima de 5 (cinco) dias;

II — na companhia aberta, o prazo

VI — deliberar sobre a avaliação de bens com que o acionista concorrer para a formação do capital social;

VII — autorizar a emissão de partes benefi ciárias;VIII — deliberar sobre transformação, fusão, incorporação e cisão da com-

panhia, sua dissolução e liquidação, eleger e destituir liquidantes e julgar-lhes as contas; e

IX — autorizar os administradores a confessar falência e pedir concordata.”

Ressalte-se que a função deliberativa da assembléia geral está condicionada a um rigoroso formalismo, regulado de forma detalhada em lei, incluindo regras de convocação, instalação e representação dos acionistas, além dos di-versos rituais que revestem a reunião, sendo certo que tais procedimentos são dispensáveis quando presentes todos os acionistas, inclusive aqueles sem direito a voto. Sobre a importância de tais formalidades, Erasmo Valadão Azevedo afi rma:

“há outra razão, mais profunda ainda, a impor a obrigatoriedade do ‘método assemblear’, com regular convocação do conclave e possibilidade de participação dos sócios: trata-se de que, por força do princípio majoritário (consagrado no art. 129, da Lei n. 6.404/76), as deliberações tomadas na assembléia vinculam todos os acionistas, mesmo que dissidentes ou ausentes”96.

Convocação

Em geral, a convocação da assembléia compete ao conselho de adminis-tração ou, se este não existir, à diretoria. Contudo, a Lei das S.A., buscando regular o adequado funcionamento da companhia e tutelar os interesses dos acionistas minoritários, previu a possibilidade de tanto o conselho fi scal quan-to os acionistas convocarem, em determinadas situações, a assembléia-geral97.

A convocação se dá através de anúncio publicado por três vezes, no míni-mo, em órgãos da imprensa, informando-se local, data e hora da assembléia, bem como a ordem do dia, ou seja, as matérias que serão objeto de delibera-ção pelos acionistas98.

Nas companhias fechadas que tiverem menos de 20 (vinte) acionistas e um patrimônio líquido inferior a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), a assembléia geral poderá ser convocada por cartas enviadas a todos os acionis-tas com a antecedência prevista para as publicações99.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 62

de antecedência da primeira convo-

cação será de 15 (quinze) dias e o da

segunda convocação de 8 (oito) dias.

§ 2º Salvo motivo de força maior, a

assembléia-geral realizar-se-á no edi-

fício onde a companhia tiver a sede;

quando houver de efetuar-se em outro,

os anúncios indicarão, com clareza, o

lugar da reunião, que em nenhum caso

poderá realizar-se fora da localidade

da sede.

§ 3º Nas companhias fechadas, o

acionista que representar 5% (cinco por

cento), ou mais, do capital social, será

convocado por telegrama ou carta re-

gistrada, expedidos com a antecedên-

cia prevista no § 1º, desde que o tenha

solicitado, por escrito, à companhia,

com a indicação do endereço completo

e do prazo de vigência do pedido, não

superior a 2 (dois) exercícios sociais, e

renovável; essa convocação não dispen-

sa a publicação do aviso previsto no §

1º, e sua inobservância dará ao acionis-

ta direito de haver, dos administradores

da companhia, indenização pelos pre-

juízos sofridos.

§ 4º Independentemente das for-

malidades previstas neste artigo, será

considerada regular a assembléia-geral

a que comparecerem todos os acionis-

tas (...)”.

99 “Art. 294. A companhia fechada

que tiver menos de vinte acionistas,

com patrimônio líquido inferior a R$

1.000.000,00 (um milhão de reais),

poderá:

I — convocar assembléia-geral por

anúncio entregue a todos os acionistas,

contra-recibo, com a antecedência pre-

vista no artigo 124; e

II — deixar de publicar os documen-

tos de que trata o artigo 133, desde

que sejam, por cópias autenticadas,

arquivados no registro de comércio jun-

tamente com a ata da assembléia que

sobre eles deliberar.

§ 1º A companhia deverá guardar

os recibos de entrega dos anúncios

de convocação e arquivar no registro

de comércio, juntamente com a ata

da assembléia, cópia autenticada dos

mesmos.

§ 2º Nas companhias de que trata

este artigo, o pagamento da partici-

pação dos administradores poderá ser

feito sem observância do disposto no §

2º do artigo 152, desde que aprovada

pela unanimidade dos acionistas.

§ 3º O disposto neste artigo não se

aplica à companhia controladora de

grupo de sociedade, ou a ela fi liadas”.

100 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito co-

mercial, v. 2. 23. ed. São Paulo: Saraiva,

2003. p. 179.

101 “Art. 136. É necessária a aprovação de

acionistas que representem metade, no

mínimo, das ações com direito a voto,

se maior quorum não for exigido pelo

estatuto da companhia cujas ações não

Quorum de instalação

A Lei das S.A. exige um número mínimo de acionistas para permitir a instalação da assembléia geral. Ressalvadas determinadas hipóteses específi cas previstas em lei, o quorum de instalação, em primeira convocação, verifi ca-se com a presença de acionistas que representem, no mínimo, um quarto do capital social com direito de voto. Não verifi cada esta condição, a assembléia deverá ser novamente convocada, instalando-se a reunião, em segunda con-vocação, com qualquer número de acionistas.

Acerca da obrigatoriedade da verifi cação do quorum de instalação, observa Rubens Requião:

“A assembléia geral é constituída pelos acionistas apurando-se a votação pelo número de ações. A lei exige que um número ponderável integre a reunião, para dar-lhe autenticidade e credibilidade. Não comparecendo esse número mínimo, admite-se, diante do desinteresse verifi cado, que em segunda convocação qual-quer número delibere, a fi m de não obstruir a vida social”100.

Quorum de deliberação

O quorum de deliberação corresponde à maioria necessária para a apro-vação de determinada matéria, sendo constituído geralmente pela maioria absoluta dos votos presentes, não computados os votos em branco.

Vale observar que, conforme veremos adiante, a lei estabelece o quorum qualifi cado de metade, no mínimo, do capital votante para uma série de ma-térias que afetam diretamente os interesses dos acionistas.

Note-se, ainda, que o estatuto da companhia fechada pode estabelecer um quorum mais elevado para a aprovação de certas deliberações, desde que especifi que as matérias.

Por outro lado, de forma a evitar o engessamento da sociedade, a Lei das S.A. prevê a possibilidade de, observados certos requisitos, a Comissão de Valores Imobiliários (CVM) determinar a redução do quorum legal em caso de companhias abertas com propriedade de ações dispersas no mercado101.

Representação e legitimação

Por ser a assembléia geral uma reunião privada, somente podem participar dela os membros do órgão, a saber: os acionistas, seus procuradores e advogados102.

Para provar a condição de acionista, os presentes à assembléia deverão apresentar documento de identidade e, caso sejam titulares de ações escri-

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 63

estejam admitidas à negociação em

bolsa ou no mercado de balcão, para

deliberação sobre: [...] § 2º A Comissão

de Valores Mobiliários pode autorizar

a redução do quorum previsto neste

artigo no caso de companhia aberta

com a propriedade das ações dispersa

no mercado, e cujas 3 (três) últimas

assembléias tenham sido realizadas

com a presença de acionistas represen-

tando menos da metade das ações com

direito a voto. Neste caso, a autorização

da Comissão de Valores Mobiliários será

mencionada nos avisos de convocação

e a deliberação com quorum reduzido

somente poderá ser adotada em tercei-

ra convocação”.

102 “Art. 126. As pessoas presentes

à assembléia deverão provar a sua

qualidade de acionista, observadas as

seguintes normas: [...] § 1º O acionista

pode ser representado na assembléia-

geral por procurador constituído há

menos de 1 (um) ano, que seja acio-

nista, administrador da companhia

ou advogado; na companhia aberta, o

procurador pode, ainda, ser instituição

fi nanceira, cabendo ao administrador

de fundos de investimento representar

os condôminos. [...] § 4º Têm a quali-

dade para comparecer à assembléia os

representantes legais dos acionistas”.

103 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito

comercial, v. 2. 6. ed. São Paulo: Saraiva,

2003. pp. 209-210.

turais ou custodiadas em instituição fi nanceira, também o comprovante da condição de sócio — se o estatuto assim exigir.

É importante observar, no entanto, que a lei prevê a possibilidade de even-tual presença de membros de outros órgãos societários na assembléia para esclarecimentos e auxílio aos acionistas.

Outras formalidades

Conforme se verifi ca das considerações acima, a validade da assembléia geral depende do cumprimento de uma série de formalidades. Além das já mencionadas, os acionistas e seus representantes devem assinar o livro de pre-sença com a indicação do nome, nacionalidade, residência e da quantidade, espécie e classe das ações que possuem.

A mesa condutora da reunião deverá ser composta por duas pessoas — presidente e secretário —, escolhidas pelos acionistas presentes, nos termos do artigo 128 da Lei das S.A. Sobre o ritual a ser observado nas reuniões, Fabio Ulhoa Coelho acrescenta:

“Instalada a mesa, recomenda o ritual seja relembrada aos presentes a ordem do dia, com a leitura do edital de convocação pelo secretário. A partir daí, o presidente anuncia a apreciação dos pontos da pauta, na seqüência que ele con-siderar mais proveitosa; (...). A apreciação de cada ponto de pauta compreende, em geral, duas fases: a) debates; b) votação”103.

De acordo com o artigo 130 da Lei das S.A., dos trabalhos e deliberações da assembléia, deverá ser lavrada, no Livro de Atas de Assembléias Gerais, ata assinada pelos membros da mesa e pelos acionistas presentes.

Espécies

As assembléias gerais, de acordo com as matérias a serem deliberadas, po-dem ser ordinárias ou extraordinárias.

AGO

A assembléia geral é ordinária quando tem por objeto as matérias previstas no artigo 132 da Lei das S.A., quais sejam: (i) tomar as contas dos adminis-tradores, examinar, discutir e votar as demonstrações fi nanceiras; (ii) deliberar sobre a destinação do lucro líquido do exercício e a distribuição de dividendos;

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 64

(iii) eleger os administradores e os membros do conselho fi scal, quando for o caso; e (iv) aprovar a correção da expressão monetária do capital social.

Tal assembléia deve ser realizada anualmente, nos quatro meses seguintes ao término do exercício social da companhia.

Vale ressaltar que os administradores deverão disponibilizar aos acionistas os documentos que serão objeto de deliberação na assembléia geral ordinária com antecedência de 01 (um) mês à realização da assembléia, bem como publicá-los 05 (cinco) dias antes da reunião.

A lei determina, ainda, que os administradores da companhia, ou ao me-nos um deles, e o auditor independente, se houver, deverão comparecer à as-sembléia para atender a eventuais pedidos de esclarecimentos dos acionistas.

Com relação às demonstrações fi nanceiras, o artigo 134 da Lei das S.A. prevê que sua aprovação, sem reserva, em assembléia geral ordinária exonera os administradores e fi scais de qualquer responsabilidade, salvo nas hipóteses de erro, dolo, fraude ou simulação. Além disso, se a assembléia geral modi-fi car o montante do lucro do exercício ou o valor das obrigações da compa-nhia, os administradores deverão republicar as demonstrações fi nanceiras.

Por fi m, estabelece a lei que a ata de assembléia geral ordinária deverá ser arquivada na junta comercial competente e devidamente publicada.

AGE

A assembléia geral extraordinária tem competência ampla, podendo ser convocada para apreciação de qualquer assunto que não for de competência da assembléia geral ordinária.

Cumpre notar que, consoante dispõe o parágrafo único do artigo 131, uma assembléia geral extraordinária pode ser convocada e realizada cumula-tivamente com uma assembléia geral ordinária no mesmo local, data e hora, instrumentadas em ata única.

Os documentos pertinentes à matéria a ser debatida na assembléia geral extraordinária deverão ser postos à disposição dos acionistas, na sede da com-panhia, por ocasião da publicação do primeiro anúncio de convocação da assembléia geral.

Tendo em vista a relevância, em regra, de tais temas na vida social, a as-sembléia geral extraordinária que tiver por objeto a reforma do estatuto so-mente se instalará em primeira convocação com a presença de acionistas que representem 2/3 (dois terços), no mínimo, do capital com direito a voto, mas poderá instalar-se em segunda com qualquer número.

De qualquer forma, algumas matérias de competência da assembléia geral extraordinária devem ser aprovadas por acionistas que representem metade, no mínimo, das ações com direito a voto, conforme estabelece o artigo 236, a saber:

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 65

104 “Art. 137. A aprovação das matérias

previstas nos incisos I a VI e IX do art.

136 dá ao acionista dissidente o direito

de retirar-se da companhia, mediante

reembolso do valor das suas ações (art.

45), observadas as seguintes normas:

I — nos casos dos incisos I e II do art.

136, somente terá direito de retirada

o titular de ações de espécie ou classe

prejudicadas;

II — nos casos dos incisos IV e V do

art. 136, não terá direito de retirada o

titular de ação de espécie ou classe que

tenha liquidez e dispersão no mercado,

considerando-se haver:

a) liquidez, quando a espécie ou

classe de ação, ou certifi cado que a re-

presente, integre índice geral represen-

tativo de carteira de valores mobiliários

admitido à negociação no mercado de

valores mobiliários, no Brasil ou no

exterior, defi nido pela Comissão de

Valores Mobiliários; e

b) dispersão, quando o acionista

controlador, a sociedade controladora

ou outras sociedades sob seu controle

detiverem menos da metade da espécie

ou classe de ação;

III — no caso do inciso IX do art. 136,

somente haverá direito de retirada se a

cisão implicar

a) mudança do objeto social, salvo

quando o patrimônio cindido for ver-

tido para sociedade cuja atividade pre-

ponderante coincida com a decorrente

do objeto social da sociedade cindida;

b) redução do dividendo obrigató-

rio; ou

c) participação em grupo de socie-

dades;

IV — o reembolso da ação deve ser

reclamado à companhia no prazo de 30

(trinta) dias contado da publicação da

ata da assembléia-geral;

V — o prazo para o dissidente de de-

liberação de assembléia especial (art.

136, § 1º) será contado da publicação

da respectiva ata;

VI — o pagamento do reembolso

somente poderá ser exigido após a ob-

servância do disposto no § 3º e, se for o

caso, da ratifi cação da deliberação pela

assembléia-geral.

§ 1º O acionista dissidente de delibe-

ração da assembléia, inclusive o titular

de ações preferenciais sem direito de

voto, poderá exercer o direito de reem-

bolso das ações de que, comprovada-

mente, era titular na data da primeira

publicação do edital de convocação da

assembléia, ou na data da comunicação

do fato relevante objeto da deliberação,

se anterior.

§ 2º O direito de reembolso poderá

ser exercido no prazo previsto nos

incisos IV ou V do caput deste artigo,

conforme o caso, ainda que o titular das

ações tenha se abstido de votar contra a

deliberação ou não tenha comparecido

à assembléia.

§ 3º Nos 10 (dez) dias subseqüentes

ao término do prazo de que tratam os

“I — criação de ações preferenciais ou aumento de classe de ações preferen-ciais existentes, sem guardar proporção com as demais classes de ações preferen-ciais, salvo se já previstos ou autorizados pelo estatuto;

II — alteração nas preferências, vantagens e condições de resgate ou amor-tização de uma ou mais classes de ações preferenciais, ou criação de nova classe mais favorecida;

III — redução do dividendo obrigatório; IV — fusão da companhia, ou sua incorporação em outra;V — participação em grupo de sociedades;VI — mudança do objeto da companhia;VII — cessação do estado de liquidação da companhia;VIII — criação de partes benefi ciárias;IX — cisão da companhia; eX — dissolução da companhia.”

Note-se que o quorum qualifi cado justifi ca-se na medida em que tais ma-térias afetam as bases da relação social e, até mesmo, a estrutura da sociedade.

Por este mesmo motivo, a lei concedeu ao acionista dissidente o direito de se retirar da companhia mediante reembolso do valor de suas ações na hipótese de aprovação de determinadas matérias, nos termos do artigo 137 da Lei das S.A104.

Há outras hipóteses de direito de recesso, além das elencadas no artigo 137, tal como, por exemplo, o disposto no artigo 221 da Lei das S.A.

C) CASO

“Previ ‘trava’ assembléia da SadiaA Comissão de Valores Mobiliários (CVM) acatou pedido apresentado

pela Previ, de interrupção de curso de prazo de realização da Assembléia Ge-ral Extraordinária (AGE) da Sadia, convocada para hoje. A Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil — que é uma das maiores acionistas da concor-rente Perdigão, mas também possui ações da Sadia —, pediu a interrupção por discordar da legalidade de uma das propostas a ser votada na AGE. Esse item da pauta propõe nova redação ao estatuto da companhia, com o obje-tivo de estabelecer novos procedimentos para a indicação de membros do conselho de administração e de situações de confl itos de interesse.

A CVM decidiu determinar a interrupção do prazo por 15 dias até que a Procuradoria Federal Especializada (PFE) na autarquia analise e se manifeste sobre o assunto, devido à complexidade da questão. O texto da decisão da autarquia, publicado ontem à noite, diz que a Previ pediu que o prazo fosse

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 66

incisos IV e V do caput deste artigo,

conforme o caso, contado da publi-

cação da ata da assembléia-geral ou

da assembléia especial que ratifi car a

deliberação, é facultado aos órgãos da

administração convocar a assembléia-

geral para ratifi car ou reconsiderar

a deliberação, se entenderem que o

pagamento do preço do reembolso das

ações aos acionistas dissidentes que

exerceram o direito de retirada porá

em risco a estabilidade fi nanceira da

empresa.

§ 4º Decairá do direito de retirada o

acionista que não o exercer no prazo

fi xado”.

interrompido “para que, durante tal interrupção, a CVM reconheça a viola-ção à legislação societária introduzida pelos dispositivos estatutários objeto da ordem do dia da AGE”.

Após a decisão da CVM, a Sadia comunicou que “a proposta de reforma dos artigos 15 e 37 do Estatuto Social não será objeto de deliberação” na assembléia de hoje. Apenas a incorporação das controladas Ema — Empresa Matogrossense de Alimentos Ltda e Intergen Ltda. será apreciada.

No comunicado, a Sadia informou ainda “que a reforma dos artigos 15 e 37 do Estatuto Social será apreciada em Assembléia Geral no próximo dia 1º de fevereiro, sem prejuízo da possibilidade de nova deliberação do Conselho de Administração da Companhia sobre a matéria, à luz da decisão que vier ser proferida pela CVM”.

Segundo fonte que acompanha o processo, a reclamação da Previ ocorreu porque o fundo de pensão considera que a proposta a ser votada na AGE tornaria os critérios de escolha de conselheiro mais restritivos que os da lei. Outra fonte explica que o dispositivo proposto pela Sadia teria efeito sobre a Previ, ao evitar que o fundo tenha algum tipo de representatividade na empresa.

Conforme interlocutor próximo das empresas, o clima entre os acionistas de Sadia e Perdigão vem azedando nos últimos tempos, depois da oferta hos-til feita pela Sadia — e recusada pelos principais acionistas da Perdigão — em meados de 2006.

(Catherine Vieira, Valor Online, 12.01.2007)

“Sadia remarca AGEA Sadia irá remarcar a assembléia geral extraordinária que faria amanhã

para avaliar a proposta de reforma de seu estatuto social. A empresa afi rmou que precisa fazer “uma avaliação mais aprofundada” da decisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que, na sexta-feira, deu parecer sobre a pro-posta da Sadia de inserir no estatuto uma série de hipóteses de confl ito de in-teresses que impediriam a eleição de membros do conselho de administração que se enquadrassem nos casos enumerados. Para a CVM, a ocorrência de confl ito de interesse, e conseqüente veto à eleição do conselheiro, só poderá ser determinada por assembléia de acionistas e não apenas por situações des-critas no estatuto”.

(Valor Online, 31.01.2007)

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FGV DIREITO RIO 67

D) TEXTOS DE APOIO

“Telemar não consegue quorum para votar reestruturaçãoA assembléia de acionistas da Telemar começou no fi nal da manhã desta

segunda-feira (13/11) e foi encerrada em minutos. O encontro foi instalado, mas a votação da reestruturação societária não foi sequer colocada em pauta porque não houve quorum para tanto. O porcentual dos presentes garantiu apenas a abertura do encontro. Compareceram mais de 400 investidores, representantes de 60,35% das ações ordinárias e 29,17% das preferenciais.

Essa fatia é sufi ciente para abrir a assembléia, mas não para votar a pauta. Isso porque o projeto da Telemar, pela Lei das Sociedades por Ações, exige presença de 50% dos votantes para aprovação do tema. Com quase duas horas de atraso, a empresa exibiu o quorum da reunião nos telões preparados para o evento e houve a comunicação de que a votação não poderia ocorrer.

Logo após esse comunicado, houve tumulto entre os executivos da empre-sa e investidores pessoas físicas — em sua maioria, idosos. Havia até mesmo pessoas com andador. Os pequenos aplicadores estavam descontentes com a impossibilidade de votar, dada a difi culdade logística para muitos deles de comparecer à reunião.

Agora, a companhia estuda fazer uma segunda convocação da assembléia, para o dia 24/11, e a terceira, para o dia 27/11. A confi rmação dessas datas depende de uma reunião dos executivos prevista para ocorrer logo após o encerramento do encontro de hoje”.

(Graziella Valenti, Exame Online, 13.11.2006)

“Segunda assembléia da Telemar não obtém quorum para votaçãoMercado já esperava que esse fosse o desfecho da reunião, a exemplo do que ocor-reu na primeira convocação

A segunda tentativa da Telemar de colocar a reestruturação societária em votação foi frustrada, conforme as expectativas, por ausência de quorum su-fi ciente. A companhia acaba de encerrar os trabalhos do encontro, depois de contabilizar presença de investidores representantes de 35,25% das ações preferenciais e 57,20% das ordinárias. O mínimo necessário para abrir a dis-cussão a respeito da reorganização do grupo, para unifi cação das companhias na Oi Participações, era de 50% do capital preferencialista.

O mercado já esperava que esse fosse o desfecho da reunião desta sexta-feira (24/11), a exemplo do que ocorreu na primeira convocação — realizada dia 13 de novembro. No entanto, surpreendeu o aumento dos participantes preferencialistas. Na tentativa anterior, o quorum registrado foi de 29,17% das PN e 60,35% das ON.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 68

A elevada presença também chama atenção em razão do clima de tran-qüilidade na porta da assembléia, novamente realizada na casa de espetáculo Scala. Ao contrário do dia 13, a movimentação era pequena e não se regis-trou presença maciça de pequenos investidores pessoas físicas, como ocorreu naquele dia”.

(Mônica Ciarelli e Graziella Valenti, Exame Online, 24.11.2006)

Telemar aguarda decisão da JustiçaRIO — A Telemar tem a expectativa de realizar ainda este ano a assembléia

geral extraordinária (AGE) para votar a reestruturação societária da compa-nhia mas, diante dos prazos da Justiça, as chances estão sendo reduzidas. A desembargadora Valéria Maron, da 1ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro suspendeu a realização da AGE marcada para 27 de novembro e pediu esclarecimentos sobre a operação à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que encaminhou sua posição à Justiça na quinta-feira.

Na sexta-feira, a desembargadora encaminhou o parecer da CVM para vista das partes (a Telemar e os representantes de acionistas minoritários). Ambos têm cinco dias para se posicionar após a publicação no Diário Ofi cial.

Advogados envolvidos na operação acreditam que Valéria Maron irá levar a decisão para o colegiado da 1ª Câmara Cívil do Tribunal de Justiça, com-posta por cinco desembargadores. Há três reuniões do colegiado até o fi m do ano. A última em 18 de dezembro.

Fontes próximas à Telemar acreditam que há chances do julgamento se realizar até o dia 18. A AGE seria marcada dez dias depois como determina a Justiça. Fontes próximas aos minoritários consideram o prazo exíguo para atender todos os trâmites.

A desembargadora suspendeu a AGE de 27 de novembro após batalha judicial entre a operadora e minoritários que se opõem ao valor de troca fi xa-do pela companhia, em que uma ação ON vale três vezes uma PN. Antes de suspender a AGE, ela determinou que os detentores de ações ON da Telemar não poderiam votar com suas ações PN. A decisão judicial impediria o voto do grupo de acionistas controladores da Telemar e todos os outros acionis-tas que detêm papéis ON. A liminar concedida aos minoritários reduziu as chances da pulverização ter sucesso.

Três dias antes da terceira AGE, a Telemar solicitou que a liminar fosse revogada ou a CVM fosse ouvida. A desembargadora suspendeu a assembléia e decidiu ouvir o órgão regulador. Na quinta-feira, a CVM reiterou posição anterior favorável ao voto dos detentores de ações preferenciais mesmo que tenham ações ordinárias.

(Heloisa Magalhães, Valor Econômico, 04.12.2006)Valor Online

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 69

Telemar aposta todas as fi chas em assembléia de acionistasSem plano B na manga, a Telemar parte hoje para o tudo ou nada na

terceira e última tentativa de aprovar a reestruturação societária proposta em abril deste ano. A assembléia geral extraordinária (AGE) marcada para as 9 horas da manhã vai apurar a avaliação dos detentores de ações preferenciais, mas para aprová-la será necessário contabilizar votos favoráveis de 25% mais um deles.

A empresa está preparada para cumprir as determinações da Justiça, de anotar separadamente os votos dos preferencialistas e daqueles que possuem preferenciais e também ações ordinárias (com as quais não poderão votar). Além disso, o resultado que será conhecido hoje deverá aguardar a avaliação fi nal dos desembargadores da 1ª Câmara Cível para ser ratifi cada.

O Valor apurou que a expectativa da Telemar é a de que essa decisão possa eventualmente ser conhecida no próximo dia 22. Um advogado que repre-senta acionistas minoritários, porém, acredita ser difícil que os desembarga-dores se manifestem nesse prazo.

Se aprovada a reorganização, a Telemar vai unifi car as cinco ações de em-presas do grupo hoje listadas em bolsa em única companhia listada no Novo Mercado, somente com ações ordinárias e controle pulverizado.

Os acionistas minoritários que se opõem à proposta ainda tentam impe-dir a operação. Segundo o advogado Ivan Nunes Ferreira, que representa a Polo Capital, eles também solicitaram à desembargadora Valéria Maron que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) se manifestasse sobre a melhor alternativa para efetuar a reorganização, se é a que está sendo conduzida ou se o ideal seria a realização de uma oferta pública de aquisições de Ações (OPA). A Justiça enviou a solicitação ao presidente da CVM, Marcelo Trindade, na quarta-feira.

O principal ponto de discórdia entre os detentores de ações PN e ON está na relação de troca proposta para implementar a reestruturação societária, que oferece prêmio de 160% para os que possuem ações ordinárias.

Analistas evitam fazer previsões sobre qual será o desfecho da AGE. Al-guns ponderam que a companhia tem uma idéia melhor do quadro geral de votos, a partir do comparecimento às primeiras assembléias e das cartas de procuração enviadas por investidores. Isso indicaria que há chance de aprovar a proposta, pois a empresa parece estar disposta a realizar logo a assembléia.

No entanto, na avaliação de um especialista, os votos de grandes acio-nistas, como BNDES e Previ, que possuem PNs, mas fazem parte do bloco de controle, podem ser decisivos. Já para um advogado familiarizado com o caso, mesmo com os votos dos que possuem ON a aprovação “será difícil”. Ontem, as ações PN estiveram em alta.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 70

Diferentemente dos encontros anteriores, que ocorreram na casa de shows Scala, a AGE de hoje será na Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), que fi ca próximo da sede da empresa, no bairro do Leblon, Zona Sul do Rio.

(Heloisa Magalhães e Catherine Vieira, Valor Online, 15.12.2006)

Acionista rejeita proposta de reestruturação da Telemar; ações caem

A reestruturação societária da Telemar foi rejeitada pelos acionistas detentores de ações preferenciais da empresa, na assembléia realizada há pouco.

Por volta das 11h40, as ações da Telemar mostravam perdas. Os papéis ON, que chegaram a subir a R$ 76, na máxima, recuavam 3,58%, a R$ 71,01. As preferenciais cediam 3,88%, a R$ 32,20, após terem valorizado-se a R$ 34,30 no maior preço até o momento.

Esta foi a terceira tentativa da companhia de aprovar a proposta junto aos acionistas, depois que as duas anteriores não obtiveram o quorum necessário e enfrentaram liminares na Justiça.

Dos acionistas presentes, 37% deles votaram contra e 29% a favor da proposta que unifi caria a estrutura da Telemar, hoje dividida em três compa-nhias, para uma só com o capital pulverizado no Novo Mercado da Bovespa.

A polêmica, entretanto, fi cou na relação de troca proposta pelos controla-dores entre as ações ON e PN, com um prêmio de 160% aos detentores de ordinárias.

(Heloisa Magalhães e Ana Paula Grabois, Valor Online, 15.12.2006)

“Corus propõe adiar assembléia do dia 20 após oferta formal da CSNA anglo-holandesa Corus Group propôs na terça-feira (12/12) o adiamen-

to da assembléia geral de acionistas marcada para o próximo dia 20, em que discutiria a oferta da indiana Tata Steel. Em comunicado, ao comentar sua decisão, o grupo cita a elevação da proposta da Tata Steel e a oferta formal de 515 pence por ação recebida da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) na segunda-feira (11/12), que superou o lance do grupo indiano, de 500 pence.

Se o pedido for aceito, será a segunda vez que o encontro de acionistas, inicialmente previsto para 4 de dezembro, será adiado. No aviso, a siderúrgi-ca Corus diz que deve anunciar “no momento oportuno uma nova data para a assembléia”.

Com a decisão, o grupo anglo-holandês ganha mais tempo para avaliar as duas propostas e a Tata pode pensar em um novo valor para oferecer. No domingo, o conselho da Corus recomendou a oferta melhorada da Tata, mas a CSN afi rmou, na manhã seguinte, que sua proposta agora havia recebido a recomendação do conselho”.

(Fabiana Holtz, Exame Online, 13.12.2006)

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 71

E) JURISPRUDÊNCIA

“SOCIEDADE ANÔNIMA — Anulação de assembléia geral com deli-beração ilegal e nula que autorizou a constituição da mesa diretora pelo voto único de acionista que detém apenas 50% do total das ações com direito a voto, especialmente face ao empate então verifi cado na indicação do presi-dente da mesa diretora — Inteligência do art. 129, parágrafo 2º da Lei nº 6.404/76 — Inadmissibilidade da decisão face à ausência de previsão legal e estatutária a respeito — Agravo retido improvido — Recurso parcialmente provido para declarar nula a autorização assemblear para propositura da ação de responsabilidade civil contra os acionistas” (TJSP, 3ª CDPri, AC 274.460-4/8-00, Rel. Min. Alfredo Migliore, j. 31.08.2004).

“SOCIEDADE ANÔNIMA — Vantagens pecuniárias pelo conselho de administração, sem referendum da assembléia geral — Espécie de remune-ração atípica que, por falta de causa legitimadora, caracteriza ato nulo, por fraude à Lei das S.A., inviabilizando convalidação ou ratifi cação por vias oblí-quas — Legalidade da cassação da renda mensal vitalícia que privilegia os ex-administradores — Não provimento” (TJSP, 6ª CDPri, AI 250.281-4/5, Rel. Des. Ênio Santarelli Zuliani, j. 07.10.2003, ROTJESP 274/222).

“Tutela antecipada — Diretor de sociedade — Destituição — Recondu-ção determinada. ‘Havendo indícios de invalidade na convocação de assem-bléia geral, na qual se deliberou o afastamento de diretor de sociedade anô-nima, admissível é a tutela antecipada para autorizar seu retorno ao antigo posto’” (TJSP, 6ª CDPri, AI 250.281-4/5, Rel. Des. Ernani de voto àqueles que pretendem a abertura do capital social” (TJSP, 6ª CDPri, AI 181.995-4/6-00, Rel. Des. Damião Cogan, j. 15.03.2001).

“ANULAÇÃO DE ASSEMBLÉIA — Concessão de direito de voto a acionistas preferenciais — Adequação — A natureza das ações preferencialis-tas devem ser objeto de decisão pelo juízo de primeiro grau para aquilatar a razoabilidade ou não de se estender o direito de voto àqueles que pretendem a abertura do capital social” (TJSP, 6ª CDPri, AI 181.995-4/6-00, Rel. Des. Damião Cogan, j. 15.03.2001).

“SOCIEDADE POR AÇÕES. A convocação para a assembléia geral deve mencionar, mesmo que sumariamente, a matéria em pauta. Sem essa forma-lidade, prescrita no art. 88 da Lei de Sociedades por Ações, não serão válidas as decisões tomadas em assembléia. Recurso provido” (STF, 2ª T, RE 69824/PR, Rel. Min. Adaucto Cardoso, j. 13.11.1970, v.m., DJ 27.11.1970).

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 72

“COMERCIAL. SOCIEDADE ANÔNIMA. ACORDO DE ACIO-NISTAS. Cautelar para suspender os efeitos de assembléia geral extraordiná-ria. Inviabilização da companhia. Cumprimento do ajuste entre os acionistas que é objeto da ação principal. Impossibilidade de deferir-se medida cautelar satisfativa. Decisão recorrida que dá razoável interpretação ao artigo 118 da Lei de Sociedades Anônimas, bem como indefere a liminar porque não de-monstrado o registro do acordo de acionistas nos livros societários. Incidên-cia da súmula 58 deste Tribunal de Justiça. Decisão do relator confi rmada. Agravo inominado desprovido” (TJRJ, 10ª CC, AI 2004.002.07499, Rel. Des. Bernardo Moreira Garcez Neto, j. 08.06.2004).

F) QUESTÕES DE CONCURSO

(28º Exame de Ordem OAB-RJ) 2 — A Assembléia Geral Ordinária de TRANSPORTES LIGEIROS S/A., foi realizada no dia 04/10/2005 e a có-pia das demonstrações fi nanceiras, o relatório da administração sobre negó-cios sociais e os principais fatos administrativos do último exercício foram publicados em 23/08/2005. Submetida ao arquivamento a ata da AGO, a Junta Comercial indeferiu o pedido, alegando que a referida sociedade não cumpriu a publicação a que se refere o caput do artigo 133 da Lei 6.404/76.

PERGUNTA-SE: Você concorda ou não com a deliberação da Junta Co-mercial?

Justifi que o seu entendimento, indicando o dispositivo legal adequado.

(25º Exame de Ordem OAB-RJ)1 — A CIA. SAGITÁRIO DE INDÚSTRIA DE PRODUTOS ALI-

MENTÍCIOS, que não possui suas ações admitidas à negociação no mer-cado de valores mobiliários, realizou, em sua sede social, na cidade do Rio de Janeiro, em 30 de agosto de 2004, uma Assembléia Geral Extraordiná-ria, tendo como único objetivo discutir e deliberar sobre a mudança de seu objeto social para a exploração comercial de restaurantes, bares e atividades assemelhadas.

Os diretores da mencionada sociedade, sem qualquer orientação jurídica prévia, tomaram algumas providências legais que entenderam ser adequadas à realização da AGE e também elaboraram os termos da respectiva Ata, onde consta que:

A) O 1º anúncio referente à 1ª convocação da citada Assembléia foi publi-cado no dia 26 de agosto de 2004, sem que a matéria objeto da AGE tenha sido indicada.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 73

B) A Assembléia foi instalada em 1ª convocação com a presença de acio-nistas que representaram 25% (vinte e cinco por cento) do capital social com direito de voto.

C) A deliberação da AGE que resultou na aprovação da mudança do obje-to da CIA SAGITÁRIO DE INDÚSTRIA DE PRODUTOS ALIMENTÍ-CIOS foi tomada por maioria absoluta de votos, dos presentes.

Antes, porém, de submeter a Ata ao competente arquivamento na Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro (JUCERJA), resolveram os diretores da CIA. SAGITÁRIO DE INDÚSTRIA DE PRODUTOS ALIMENTÍ-CIOS fazer uma consulta ao escritório de advocacia do qual você é integran-te, para que fossem informados se houve, ou não, observância, por parte deles, das prescrições e exigências legais necessárias à regularidade da AGE.

Feita a sua indicação para examinar o assunto, elabore um PARECER fundamentado, resumindo a consulta e expondo, de modo claro e objetivo, o seu ponto de vista sobre os dados constantes das letras A, B e C acima in-dicados, com o devido esclarecimento se os mesmos estão, ou não, corretos, indicando, obrigatoriamente, em cada caso, os dispositivos legais pertinentes às suas repostas.

(23º Exame de Ordem OAB-RJ) 2 — Joaquim e Paulo detêm ações de uma determinada companhia que, somadas, representam a maioria do capital votante. Em 23 de setembro de 2004 fi rmaram um Acordo de Acionistas, devidamente arquivado na companhia, estabelecendo a votação em conjun-to de toda e qualquer matéria discutida em Assembléia. Entretanto, após defi nir previamente com Joaquim, na forma do citado Acordo, os nomes a serem escolhidos para os cargos da Diretoria, Paulo decidiu não comparecer à Assembléia geral convocada para a eleição dos membros daquele Órgão. Pergunta-se: De que maneira Joaquim poderá proceder na Assembléia para que prevaleçam os termos do Acordo de Acionistas fi rmado com Paulo? In-dique o fundamento legal.

(22º Exame de Ordem OAB-RJ) 24 — Assinale a alternativa incorreta, le-vando-se em consideração a sociedade anônima de capital autorizado:

a. A deliberação acerca da destinação do lucro líquido do exercício e a distribuição de dividendos é apreciada na Assembléia Geral Ordinária da companhia;

b. A aprovação, na Assembléia Geral Ordinária, sem reservas, das demons-trações fi nanceiras e das contas, exonera de responsabilidade os administra-dores e fi scais, salvo erro, dolo, fraude ou simulação;

c. A Assembléia Geral Extraordinária que tiver por objeto reforma do es-tatuto somente se instalará em primeira convocação com a presença de acio-

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 74

nistas que representem dois terços, no mínimo, do capital com direito a voto, mas poderá instalar-se em segunda com qualquer número;

d. A Assembléia Geral Ordinária é legalmente impedida de eleger os ad-ministradores e os membros do Conselho Fiscal.

(22º Exame de Ordem OAB-RJ) 26 — Assinale a alternativa INCORRETA sobre a sociedade anônima de capital autorizado:

a. Nela, somente a Assembléia Geral de Acionistas pode determinar a alte-ração estatutária referente ao valor do Capital Social, embora o Conselho de Administração, deliberando sobre o aumento de Capital, deva determinar a competente averbação no Registro de Empresas;

b. Nela, somente os Acionistas reunidos em Assembléia Geral podem fi xar o limite de autorização para aumento do Capital Social;

c. Nela, os limites fi xados para futuros aumentos do Capital Social somen-te podem ser estabelecidos em números e espécies de ações;

d. Nela, a expressão Capital Autorizado não serve para designar propria-mente o Capital Subscrito, nem o parcialmente Realizado, nem o Integrali-zado, mas serve para quantifi car o limite da delegação concedida.

(7º Exame de Ordem OAB-RJ) 4 — A Assembléia Geral Ordinária da SA deliberou aumentar o capital social com o aproveitamento das reservas, previsto no Estatuto, e com o valor resultante da reavaliação do ativo. Os acionistas minoritários reclamaram alegando ser o aumento de capital ato privativo da Assembléia Geral Extraordinária. Procede?

(2º Exame de Ordem OAB-RJ) 28 — A Assembléia Geral de acionistas, regularmente convocada é um órgão:

a. Fiscal;b. Executivo;c. Consultivo;d. Deliberativo.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 75

AULAS 10 E 11: ÓRGÃOS ADMINISTRATIVOS: ADMINISTRAÇÃO. CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO E DIRETORIA: CARACTERÍSTICAS, COMPOSIÇÃO, FUNCIONAMENTO E COMPETÊNCIA. DEVERES E RESPONSABILIDADES DOS ADMINISTRADORES.

A) MATERIAL DE LEITURA

Leitura básica

REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial, v. 2. São Paulo: Saraiva, 2003. pp. 190-222.

TOLEDO, Paulo F. C. Salles de. “Modifi cações introduzidas na lei das socie-dades por ações, quanto à disciplina da administração das companhias” In: LOBO, Jorge (Coord.) Reforma da Lei das Sociedades Anônimas. Rio de Janeiro: Forense, 2002. pp. 423-452.

Leitura complementar

LAMY FILHO, Alfredo; PEDREIRA, José Luiz Bulhões. A lei das S.A., v. I. Rio de Janeiro: Renovar, 1996. pp. 240-243.

MARTINS, Henrique Cordeiro; RODRIGUES, Suzana Braga. Atributos e papéis dos conselhos de administração das empresas brasileiras. Revis-ta de Administração de Empresas, v. 45, nov./dez. 2005. Disponível em www.rae.com.br/raeespecial/index.cfm?FuseAction=Artigo&ID=3517&Secao=ARTIGOS&Volume=45&numero=0&Ano=2005.

B) ROTEIRO DE AULA

Administração: noções gerais

Em termos gerais, administrar signifi ca:

“Dirigir recursos humanos, fi nanceiros e materiais, reunidos em unidades organizadas, dinâmicas e capazes de alcançar os objetivos da organização e, ao mesmo tempo, proporcionar satisfação àqueles que obtêm o produto/serviço e àqueles que executam o trabalho.

Numa organização empresarial capitalista, três objetivos principais procuram ser alcançados: a satisfação do consumidor com o produto/serviço produzido pela empresa, o lucro obtido na comercialização da produção ou com o serviço

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 76

105 Citação retirada do site http://www.

geocities.com/Athens/Atlantis/7763/

concadm.htm.

106 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito

comercial. São Paulo: Saraiva, 2005. pp.

198-199.

107 Art. 239 da Lei das S.A.

108 Art. 138, § 2º, da Lei das S.A.

prestado, e a remuneração para todos que executaram o trabalho (funcionários, empregados).

Os administradores de todas as hierarquias de uma empresa/organização de-vem buscar o alcance desses três objetivos de maneira efi ciente e efi caz, atenden-do às expectativas de todos os envolvidos dentro e fora da organização.

O administrador de qualquer escalão planeja, organiza, dirige e controla to-dos os recursos necessários, desde fi nanceiros, humanos até máquinas e equipa-mentos”105.

O funcionamento de toda sociedade ou instituição requer organização. O problema da administração nas sociedades anônimas é evidentemente com-plexo, na medida em que impõe a necessária distribuição de poderes geren-ciais entre grupos ou pessoas que terão como encargo buscar a consecução do objetivo social.

Procura o direito positivo brasileiro disciplinar os núcleos de poderes so-ciais, fi cando a administração das companhias ao encargo da Diretoria e, conforme o caso, também do Conselho de Administração, objetos de nossas aulas. Segundo assinala Rubens Requião:

“(...) dispõe o art. 138 [da Lei das S.A.] que a administração da companhia competirá, conforme dispuser o estatuto, ao conselho de administração e à di-retoria, ou somente à diretoria. Esse preceito deixa, com efeito, a opção aos acionistas de adotarem qualquer dos dois tipos de administração da sociedade: ou o clássico, existente na lei revogada, ou o moderno, em que a administração se divide em conselho e diretoria”106.

Assim, tem-se que a administração de uma companhia pode ser atribuída a dois órgãos: a Diretoria — a qual é indispensável em todas as sociedades anônimas — e o Conselho de Administração, o qual, em regra, é facultativo, sendo obrigatório somente em sociedades de economia mista107, companhias abertas e as de capital autorizado108.

Administrador será tanto um membro do Conselho de Administração quanto um membro da Diretoria. Mas enquanto o Conselho exerce funções deliberativas e de ordem interna, a Diretoria em regra exerce funções execu-tivas, que são de sua competência exclusiva.

Antes de analisarmos especifi camente a composição, funcionamento e re-gras específi cas para cada um dos órgãos mencionados, vejamos as regras gerais atinentes a ambos.

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FGV DIREITO RIO 77

109 Art. 146 da Lei das S.A.

110 Art. 147, § 1º, da Lei das S.A.

Normas comuns aos administradores: requisitos e impedimentos; investidura e término da gestão

A primeira regra referente à administração diz respeito a quem está auto-rizado a gerir uma sociedade anônima. A administração de uma companhia só pode ser atribuída, por meio de voto, a pessoas físicas, e não a pessoas ju-rídicas109. Este impedimento deve-se mais a uma questão de tradição jurídica do que a um verdadeiro obstáculo lógico, pois, na realidade, tanto as pessoas físicas quanto as jurídicas possuem os atributos jurídicos da personalidade e capacidade civil, o que, em tese, seria o primeiro requisito para tornar uma pessoa elegível para um dos órgãos de administração da sociedade.

Ainda em relação às proibições, não podem ser eleitas para os cargos de administração as pessoas que tenham algum impedimento estabelecido em lei, ou tenham sido condenadas por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato, contra a economia popular, a fé pública ou a propriedade, ou a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos110.

Adicionalmente, impede-se também a eleição de administradores que ocupem cargo em outra sociedade considerada concorrente, ou ainda, que tenha interesses confl itantes ao da sociedade, tendo em vista o resguardo ao dever de sigilo inerente ao cargo de administrador.

Cumpre observar que estes impedimentos relacionam-se a uma das prin-cipais qualidades que se quer e se exige de um administrador, qual seja, uma reputação ilibada.

Em relação à investidura dos administradores, o procedimento, tanto para os cargos da Diretoria quanto para aqueles do Conselho de Administração, é semelhante. Os conselheiros e diretores, após sua eleição por meio de voto — seja na Assembléia-Geral (para os conselheiros e, também, para os diretores nas sociedades anônimas em que não há Conselho de Administração), seja no Conselho de Administração (para os diretores nas companhias em que se adota o modelo bipartido de administração) —, são investidos no cargo por meio da assinatura do livro correspondente (Atas de Reuniões do Conselho de Administração, se houver, ou Atas de Reuniões da Diretoria), que deve ser rea-lizada no prazo de até 30 dias após a nomeação, sob pena de tornar-se inefi caz.

Uma vez nomeados, os membros do Conselho de Administração e os Dire-tores realizam suas funções dentro do prazo de gestão estabelecido pelo estatu-to. Contudo, em regra são permitidos à Assembléia e ao Conselho a destituição e substituição dos nomeados a qualquer tempo, independente de motivação.

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FGV DIREITO RIO 78

111 EIZIRIK, Nelson. Deveres dos admi-

nistradores de S.A. Confl ito de inte-

resses. Diretor de S.A. indicado para

conselho de companhia concorrente.

In: Temas de direito societário. Rio de

Janeiro: Renovar, 2005. p. 69.

Deveres e responsabilidades: deveres de diligência, de lealdade e de informar. Con-flito de interesses.

Ainda no âmbito das normas gerais aplicáveis tanto aos diretores quanto aos membros do Conselho de Administração, importa observar que os ad-ministradores das sociedades anônimas possuem uma série de deveres decor-rentes da atribuição de poderes inerentes à sua função de direção do objetivo social da empresa. Com efeito, o administrador deve exercer suas atribuições no interesse da companhia, satisfazendo as exigências do bem público e da função social da empresa.

Dentre tais deveres podemos destacar, dentre outros, o dever de diligência, o dever de lealdade e, ainda, o dever de informar.

O dever de diligência, previsto no artigo 153 da Lei das S.A., determina que o administrador deve desempenhar suas funções com o cuidado e a dili-gência esperados de um homem probo, embora tal critério possa ser de difícil aferição prática.

Já o dever de lealdade — estabelecido no artigo 155 da lei societária — é conseqüência natural da atribuição do poder de direção atribuído ao admi-nistrador. Pela imputação do dever de lealdade, fi ca o administrador impedi-do, por exemplo, de:

“usar em benefício próprio ou de outra pessoa, com ou sem prejuízo para a sociedade, as oportunidades comerciais de que tenha conhecimento em razão do exercício de seu cargo; omitir-se no exercício ou proteção de direitos da compa-nhia, ou, visando à obtenção de vantagem, deixar de aproveitar oportunidade de negócios de interesse da companhia; adquirir, para revenda com lucro, bem ou direito que sabe necessário à companhia, ou que esta pretenda adquirir”111.

Corolário do dever de lealdade encontra-se na proteção contra o chamado “insider trading”, confi gurado pela utilização, em benefício próprio ou de terceiros, de informações confi denciais da companhia. Nessa linha, o dever de lealdade abarca também o dever de sigilo, a signifi car que o administrador deve guardar para si qualquer informação que tenha obtido por conta de sua posição privilegiada que possa ser de utilidade para concorrentes ou que pos-sa, uma vez a informação divulgada, trazer prejuízos para a sociedade.

A violação do dever de lealdade pode ocorrer, por exemplo, em hipótese de confl ito de interesses que eventualmente surgir entre o administrador e a companhia. Segundo Eizirik:

“haverá confl ito substancial de interesse ou confl ito de interesses stricto sensu, quando o voto é utilizado como desvio de fi nalidade, para promover interesses incompatíveis do acionista com o objeto social. Caracteriza-se o desvio de fi na-

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 79

112 Idem, p. 72.

113 Idem, pp. 69-70. A respeito da divul-

gação de informações, a CVM editou a

Instrução Normativa nº 358, de 03 de

janeiro de 2002.

lidade quando o acionista, embora observando as formalidades do voto e não cometendo violação alguma expressa em lei ou no estatuto, exerce esse direito com uma fi nalidade diversa daquela para a qual lhe foi por lei conferido”112.

Ao mesmo tempo, o administrador de companhia aberta tem a obriga-ção de divulgar, tanto à sociedade quanto ao público, quaisquer situações relevantes a respeito da vida da sociedade que possam interferir no mercado. Trata-se do dever de informar. Assim,

“estando o administrador na posse de informação relevante, sua obrigação fundamental é revelá-la ao público, em obediência ao princípio fundamental do “disclosure”. É possível, porém, que tal informação possa pôr em risco interesse legítimo da companhia (artigo 157, parágrafo 5º). Nesse caso, enquanto a infor-mação não for publicamente divulgada, o “insider” está proibido de utilizá-la em proveito próprio, comprando ou vendendo valores mobiliários da companhia, ou recomendando a terceiros que o façam”113.

Se houver algum dano gerado pela conduta do administrador, é ele ci-vilmente responsável pelos prejuízos que causar quando atuar com dolo ou culpa, sendo importante destacar que o administrador não responde por atos regulares de gestão. Vale notar que a responsabilidade do administrador é subjetiva, devendo o prejudicado provar o dano, a conduta ilegal e culposa do administrador e o nexo de causalidade entre esta conduta e o dano.

Conselho de Administração: características, composição (voto múltiplo), funciona-mento e competência

O Conselho de Administração, disciplinado pelos artigos 138 e seguintes da Lei das S.A., é um órgão colegiado, eleito pela Assembléia Geral, cuja existência é obrigatória nas companhias abertas, nas sociedades de economia mista e nas companhias com capital autorizado, sendo facultativas nas de-mais companhias fechadas. É ele um órgão intermediário entre a Assembléia Geral e a Diretoria.

Os membros do Conselho de Administração — que será sempre compos-to por no mínimo 03 (três) acionistas, residentes ou não no Brasil — atuam sempre conjuntamente, sendo suas deliberações realizadas em nome do órgão e sem atribuição individual de cada membro.

Note-se que os membros do Conselho de Administração, diferentemente do que ocorre com os diretores, não representam a sociedade perante tercei-ros — não podendo, portanto, assumir direitos e obrigações —, nem exer-cem atribuições de natureza executiva, mas simplesmente estabelecem, em

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 80

114 EIZIRIK, Nelson. Deveres dos admi-

nistradores de S.A. Confl ito de inte-

resses. Diretor de S.A. indicado para

conselho de companhia concorrente.

In: Temas de direito societário. Rio de

Janeiro: Renovar, 2005. pp. 69-70.

115 BORBA, José Edwaldo Tavares. Direi-

to societário. Rio de Janeiro: Renovar,

2007. p. 407.

conjunto, a orientação geral dos negócios da companhia, elegendo e desti-tuindo os diretores e fi scalizando sua atuação.

Daí que, em relação à atribuição de responsabilidades:

“a) enquanto a responsabilidade dos diretores é individual, os membros do Conselho de Administração, cuja vontade somente pode ser manifestada de for-ma coletiva, têm uma responsabilidade coletiva e solidária;

b) nas decisões do Conselho de Administração, a responsabilidade será sem-pre de todos os membros, salvo se os discordantes fi zerem consignar sua diver-gência em ata de reunião do órgão;

c) os membros do Conselho de Administração não são responsáveis pelos atos ilegais praticados pelos diretores e que não chegam a seu conhecimento, salvo se forem coniventes, se negligenciarem em descobri-los, ou se, deles tendo conhecimento, deixarem de agir para impedir a sua prática (...)”114.

Tem-se, assim, que a deliberação do órgão colegiado vincula todos os seus membros, mesmo aqueles discordantes ou que não compareceram à sessão deliberativa.

Uma das principais vantagens da organização administrativa por meio de um Conselho de Administração é que se permite maiores agilidade e especia-lização na tomada de decisões estratégicas da companhia.

Em regra, o controlador tem o poder de eleger todos os conselheiros, na medida em que a eleição é realizada através de voto em bloco, isto é, “o grupo que tiver a preferência da maioria da assembléia torna-se vitorioso, daí decor-rendo o preenchimento de todos os cargos do conselho pelos integrantes de uma mesma facção”.115

Cumpre observar, no entanto, que a Lei das S.A. outorga aos minoritários a possibilidade de, através de seu voto, estarem representados no órgão. Uma das formas previstas em lei para permitir a representação dos minoritários é por meio do chamado voto múltiplo, o que permite a associação de votos de acordo com o número de ações pertencentes a cada acionista. Em exemplo trazido por Tavares Borba:

“Se o capital se divide em 10.000 ações e são seis os cargos a preencher, cada ação dará direito a seis votos, assim distribuídos entre os acionistas:

Acionista A — 5.100 ações = 30.600 votosAcionista B — 2.500 ações = 15.000 votosAcionista C — 2.400 ações = 14.400 votosTotal = 60.000 votosOra, como temos um total de 60.000 votos e são seis os cargos a preencher,

o acionista que tiver 10.000 votos contará, seguramente, com a eleição de um membro do conselho, desde que concentre todos esses votos em um só nome.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 81

116 Idem, p. 408.

117 Idem, p. 408.

No exemplo apresentado, “B” e “C” poderiam eleger cada um o seu conselheiro, restando quatro para o controlador”116.

A adoção do processo de voto múltiplo, contudo, depende de requeri-mento formulado até quarenta e oito horas antes da assembléia que elegerá os membros do Conselho.

Ainda de acordo com Tavares Borba:

“o voto múltiplo é uma espécie de voto repartido, uma vez que cada ação, por esse processo, passa a dispor de tantos votos quantos sejam os cargos a preencher, cor-respondendo, porém, cada voto a um só cargo e não a uma chapa (todos os cargos), como no processo normal. Faculta-se, então, ao acionista a prerrogativa de concen-trar todos os seus votos em um só candidato ou de dispersá-los entre vários”117.

O voto múltiplo tem, portanto, o mérito de impedir que o controlador eleja a maioria dos membros do Conselho, permitindo aos minoritários sua representação no órgão. A importância desta representação é evidente: se o Conselho de Administração é órgão que estabelece e vela pelos rumos ne-gociais da empresa, o fato de um grupo de minoritários estar representado permite que a ele seja dada a possibilidade de infl uenciar e participar de sua direção, sempre no interesse da companhia.

Diretoria: características, composição, funcionamento e competência

Conforme já aludido, enquanto o Conselho de Administração cumpre uma função de orientação de negócios da empresa, a Diretoria é o seu órgão executivo, cabendo a ela a representação da companhia perante terceiros, na forma estabelecida estatutariamente.

A diretoria é composta por dois ou mais diretores, acionistas ou não da companhia, residentes no Brasil, eleitos e destituíveis a qualquer momento pela Assembléia Geral ou pelo Conselho de Administração, conforme o caso.

Esta forma de nomeação, todavia, não signifi ca o engessamento das funções atribuídas aos diretores. Estes têm liberdade para agir, executando os direcio-namentos negociais traçados pelo Conselho de Administração ou pela Assem-bléia Geral, sem que para tanto exista uma fi scalização prévia e autorizativa destes atos, desde que em conformidade com o disposto em lei, no estatuto e em eventual acordo de acionistas devidamente arquivado na sede da compa-nhia. Se assim não fosse, haveria uma verdadeira paralisação da atividade em-presarial, que acabaria por esbarrar em entraves excessivamente burocráticos.

Diferentemente do que ocorre com o Conselho de Administração, cuja atuação é colegiada, em regra os Diretores atuam isoladamente, de acordo

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 82

118 Art. 143, § 2º, da Lei das S.A.

119 “Art. 152. A assembléia-geral fi xará

o montante global ou individual da

remuneração dos administradores, in-

clusive benefícios de qualquer natureza

e verbas de representação, tendo em

conta suas responsabilidades, o tempo

dedicado às suas funções, sua compe-

tência e reputação profi ssional e o valor

dos seus serviços no mercado”.

com suas atribuições e poderes determinados pelo estatuto da companhia, o qual, no entanto, pode prever a necessidade de atuação conjunta dos direto-res para certos atos ou, ainda, que determinadas decisões, de competência da Diretoria, sejam tomadas em reunião118.

Remuneração do Administrador

De acordo com o artigo 152 da Lei das S.A., compete à Assembléia Geral a fi xação da remuneração dos administradores, buscando equilíbrio entre o serviço efetivamente prestado e a remuneração ofertada. Cumpre observar que a atual redação de tal dispositivo legal determina a necessidade de se fi xar um valor global ou individual desta remuneração, bem como eventuais benefícios119.

A idéia é equilibrar os interesses individuais dos membros com o interesse geral da sociedade, o que justifi ca a importância da transparência do montan-te destinado à remuneração dos administradores.

Ao estipular o valor a ser pago a título de remuneração dos administrado-res, os acionistas deverão considerar o tipo de serviço a ser prestado pelo indi-víduo em questão, bem como a qualidade do mesmo e o tempo despendido no exercício das suas funções.

C) CASO

A Companhia X é controlada por acordo de voto, conforme Acordo de Acionistas celebrado entre os Grupos A, B, C e D. A participação de cada um dos acionistas controladores no capital votante da Companhia X é assim distribuída:

— Grupo A — 28%— Grupo B — 28%— Grupo C — 28%— Grupo D — 12%

A posição acionária do Grupo B está sendo transferida para a Companhia Y. A Companhia Y, contudo, é concorrente da Companhia X. A Companhia Y passará a ser titular de ações representativas de 28% do capital votante da Companhia X, estando obrigada a aderir ao Acordo de Acionistas pré-exis-tente — em virtude de disposição expressa no referido acordo de acionistas — e, por conseguinte, ao grupo de controle.

Passando a pertencer ao grupo de controle em virtude do acordo de voto, a Companhia Y poderá indicar três dos dez membros do Conselho de Ad-

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 83

120 Disponível em http://www.nytimes.

com/2006/09/26/business/26tissue.

html. Acesso em: out. 2006.

ministração da Companhia X. Os três nomes indicados são de membros da Diretoria da Companhia Y.

Pergunta-se:

(i) existem impedimentos que podem ser alegados para a nomeação dos membros do Conselho de Administração da Companhia X pela Companhia Y?

(ii) em caso positivo, estes impedimentos referem-se a que tipo de situação?

D) TEXTOS DE APOIO

Ex-Paper Chief Gets 15-Year Term in FraudTh e former chief executive of American Tissue, Mehdi Gabayzadeh, was

sentenced yesterday to 15 years in prison for organizing a fraud that cost banks and investors almost $300 million when the paper manufacturer collapsed.

Judge Joanna Seybert of Federal District Court in Central Islip, N.Y., who sentenced Mr. Gabayzadeh, also ordered him to pay $65 million. Mr. Ga-bayzadeh was convicted of eight criminal charges, including conspiracy and wire fraud, after a 10-week trial last year.

Th is case involved a massive corporate fraud and breach of trust that led to the bankruptcy of a major corporation, hundreds of millions of dollars in losses to lenders and investors and the elimination of jobs for thousands of former employees,’ Roslynn R. Mauskopf, a United States attorney in Brooklyn, said in a statement.

Prosecutors said Mr. Gabayzadeh, 61, infl ated American Tissue’s accounts receivable and net income in an eff ort to defraud both a group of banks that loaned the company $145 million and the purchasers of $165 million in bonds from American Tissue, based in Hauppauge, N.Y”120.

(Bloomberg News, 26.09.2006)

E) JURISPRUDÊNCIA

“SOCIEDADE ANÔNIMA — Contas do exercício fi ndo de parte dos ad-ministradores e apresentação dos demonstrativos fi nanceiros — Questão sobre indispensabilidade, ou não, de parecer do conselho de administração antes da assembléia geral ordinária se pronunciar a respeito — Distinção de entendimento quando se trata de sociedade fechada ou de companhia aberta — Artigos 122, 132, 142, 138, parágrafo 2º, e 139, da Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1.976 — Ação proposta por sociedade fechada para impedir realização de assembléia geral ordinária com ordem do dia com previsão para

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 84

discussão e aprovação de contas, quando o conselho de administração não havia se manifestado previamente — Concessão de medida de antecipação de tutela, todavia, o que levou a empresa a convocar o conselho de adminis-tração e a designar nova data para a assembléia geral ordinária, que examinou e decidiu sobre as contas do exercício anterior — Fato novo que implicava no reconhecimento de falta de interesse dos autores para a causa — Honorários advocatícios e custas a serem pagos, porém, pelos autores, que perderiam a ação (C.P.C., artigo 20) — Provimento ao recurso dos autores, em parte, somente para afastar do julgamento o reconhecimento de terem agido com má-fé, pelo que aplicada na sentença multa e operada condenação no paga-mento de indenização” (TJSP, 4ª CDPri, AC 326.434-4/2-00, Rel. Des. J. G. Jacobina Rabello, j. 01.04.2004).

“EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ORDINÁRIA. LEI DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS. Pleito deduzido por empresa acionista minoritária de outra. Em litisconsórcio com dois membros do conselho fi scal desta última, para que lhes seja permitido participar das reuniões do conselho de administração sempre que entenderem necessário e receberem toda e qual-quer informação que solicitarem. Tutela antecipatória deferida e cassada em agravo de instrumento. Sentença de ilegitimidade ativa da 1.º apelante e de improcedência em relação aos demais. Participação dos membros do conse-lho fi scal nas reuniões do conselho de administração caracterizada como po-der-dever limitado às situações previstas no art. 163, § 3.º, da Lei 6.404/76. Inexistência do pretendido caráter absoluto do direito à presença nas reuni-ões ou do pedido de qualquer informação, sob pena de instalar-se confl ito entre os órgãos societários. Manifestação de perda do interesse processual dos 2.º e 3.º apelantes, em decorrência de não fazerem mais parte do conselho fi scal da ré. Preclusão lógica em relação ao seu apelo. Ilegitimidade ativa da apelante que se confi rma, não possuindo a mesma legitimação ordinária ou extraordinária para litigar pelo suposto direito dos conselheiros fi scais. Litígio que se mostra decorrente da falta de representatividade da 1.º apelante no conselho de administração da apelada aplicação dos princípios da instrumen-talidade do processo e das formas. Improvimento do apelo” (TJRJ, 3a CC, AC 2003.001.17119, Rel. Des. Luiz Fernando de Carvalho, j. 02.03.2004).

“Sociedade anônima — Destituição de diretor-presidente em reunião do conselho de administração da companhia — Ação movida buscando sustar a efi cácia dessa medida. Ausência de prova inequívoca da verossimilhança da ilicitude alegada, com referência ao conteúdo da deliberação — Matéria de-pendente de instrução probatória aprofundada — Irrelevância do fato de não constar esse tema da ordem do dia — Reunião do conselho administrativo e não de assembléia geral — Diretor destituível a qualquer tempo, nos termos

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 85

do artigo 143, da Lei 6.404/76 — Observância, no essencial, da simetria e equilíbrio, no conselho, entre os grupos integrantes da companhia, com a imediata eleição de outro diretor presidente, indicado, porém, também, pela acionista majoritária. Representação — Diretores faltantes cujas procurações e delegações de voto foram rejeitadas, sucessivamente — Semelhança desses institutos, dotados da mesma fi nalidade — Inadmissibilidade da outorga de poderes genéricos — Necessidade de que específi cos e direcionados a deter-minados atos — Artigo 144, parágrafo único, da Lei 6.404/76 — Falta de autenticidade das assinaturas de um mandante e delegante, a invalidar os instrumentos — Artigo 1.289, § 3º, do Código Civil — Redação complexa de cláusula contratual (4.2), sobre a necessidade, ou não, de prévia notifi ca-ção, quando representados os conselheiros através de procuração, a obstar, também, nesse ângulo, o preenchimento do requisito da ‘prova inequívoca’. Recurso improvido” (TJSP, 5ª CDPri, AI 245.186-4/0, Rel. Des. Marcus Andrade, j. 27.06.2002).

“MEDIDA CAUTELAR — EXIBIÇÃO DE LIVROS E DOCUMENTOS — SOCIEDADE ANÔNIMA — POSTULAÇÃO FORMULADA POR MEMBRO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO — LIMINAR DEFERIDA — FUMUS BONI IURIS E PERICULUM IN MORA CA-RACTERIZADOS — RECURSO DESPROVIDO. Persegue o requerente a tutela de outra. Em litisconsórcio com dois membros do conselho fi scal desta última, para que lhes seja permitido participar das reuniões do con-selho de, na qualidade de integrante de órgão da administração (Conselho) hierarquicamente superior ao órgão executivo (diretoria), examinar atos, do-cumentos e registros contábeis da sociedade. Esse direito, como claramente se pode verifi car, não está no art. 105, da Lei nº 6.404/76, e, sim, no art. 142, da mesma lei, como decorrência dos poderes atribuídos ao órgão de administração ao qual integra, independentemente da existência ou de fun-dada suspeita de graves irregularidades praticadas pela diretoria, pressuposto absolutamente inexigível para o órgão superior da administração societária, cujo poder fi scalizatório é permanente. Na medida em que o exercício desse direito é cerceado pelo próprio órgão ao qual pertence o agravado ou pelo órgão executivo, há sempre um prejuízo irreparável, porquanto prejudica a regularidade do próprio exercício da função, que, eletivo, tem prazo certo de duração. Assim, não é porque tivesse o agravado esperado mais de sete meses após ter recebido a resposta negativa da diretoria em lhe prestar esclareci-mentos que tenha desaparecido o perigo de dano, ou este não tenha existido” (TJSP, 9ª CDPri, AI 236.907-4/0, Rel. Des. Ruiter Oliva, j. 30.04.2002, ROTJESP 258/314).

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FGV DIREITO RIO 86

“SOCIEDADE ANÔNIMA. CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO. NULIDADE PARCIAL DE ASSEMBLÉIA GERAL EXTRAORDINÁ-RIA. MEDIDA CAUTELAR. MEDIDA LIMINAR CONCEDIDA. ART. 804. C.P.C. DESCUMPRIMENTO. AGRAVO PROVIDO. Sociedade anônima. Conselho de administração. Assembléia geral extraordinária con-vocada para deliberar sobre a destituição de dois conselheiros e eventual elei-ção de outros dois em lugar dos destituídos. Voto múltiplo. Possibilidade. Conseqüente destituição dos demais conselheiros e eleição dos novos. Presi-dência do conselho de administração. Eleição pelos seus próprios membros, se o contrário não dispuser o estatuto social da companhia. Destituição do presidente do conselho de administração, sob a justifi cativa de deliberação da assembléia geral de ajuizar ação de responsabilidade contra ele. Matéria que não estava incluída na ordem do dia do edital de convocação, impossibilitan-do defesa. Razões invocadas que não guardam pertinência com as contempla-das na Lei das Sociedades Anônimas. Liminar concedida em medida cautelar afrontando o disposto no art. 804 do C.P.C. e confi rmando o afastamento do presidente do conselho de administração. Agravo provido” (TJRJ, 17a CC, AI 2001.002.08605, Rel. Des. Fabrício Bandeira Filho, j. 05.09.2001, v.u.).

“APELAÇÃO — Sentença de improcedência em ação movida por acionistas visando anular deliberação tomada pelo conselho de administração. Conse-lheira que, por não ser acionista, não poderia ser eleita conselheira — Vício sanado por deliberação da assembléia geral — Argüição de nulidade con-substanciada na ocorrência de abuso no direito de votar — Inadmissibilidade — Matéria que só poderia ser suscitada pela sociedade anônima — Recurso improvido” (TJSP, 10ª CDPri, AC 102.974-4/2-00, Rel. Des. Ruy Camilo, j. 08.08.2000).

“REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. CONTRATO. SOCIEDADE ANÔNIMA. INTERESSE DE DIRETOR.

— Incide a regra do art. 156, parágrafo 1, da Lei 6.404/76 (S/A). Sobre o contrato celebrado com representante comercial, no interesse de um de seus diretores, contendo cláusulas inusuais e lesivas aos interesses da representada, entre elas a da determinação de prazo longo de dez anos e previsão de indeni-zação correspondente ao total das comissões devidas pelo tempo restante, em caso de rescisão do contrato.

— Extinção do contrato e redução da indenização.— Restabelecimento da sentença que julgara procedente em parte a ação

e a reconvenção, e dera pela precedência da cautelar.— Recurso conhecido em parte e em parte provido” (STJ, 4ª Turma,

REsp 156076/PR, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. 05.05.1998, v.u., DJ 29.06.1998, p. 201).

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FGV DIREITO RIO 87

“No silêncio dos estatutos compete a qualquer diretor o desempenho dos atos atinentes ao funcionamento da sociedade. Ainda que nem todos os ad-ministradores da sociedade hajam diretamente concorrido para prática de ato irregular ou ilícito, serão eles civil e solidariamente responsáveis sempre que por omissão de seus deveres não o tenham evitado. Recurso extraordinário inadmitido. Agravo improvido” (STF, 2ª Turma, AI 30934/SP, Rel. Min. Ribeiro da Costa, j. 05.11.1963, v.u., DJ 04.12.1963).

“Os atos dos diretores de sociedade anônima fora de seus poderes, não são nulos, mas considerados inexistentes. Mas, se confi rmados, o negócio se torna efi caz” (STF, 1ª Turma, RE 30632/RJ, Rel. Min. Candido Motta, j. 25.04.1957, v.u., DJ 16.05.1957).

F) QUESTÕES DE CONCURSO

(Prova 29º Exame de Ordem OAB-RJ)3 — Em que situação o acionista pode utilizar o voto múltiplo e como

este se processa? Fundamente com o dispositivo legal aplicável.

(Prova 27º Exame de Ordem OAB-RJ)43 — O Conselho de Administração, como órgão das Sociedades Anôni-

mas, é obrigatório:a. Nas companhias abertas, nas sociedades de capital autorizado e nas so-

ciedades empresáriasb. Nos grupos de sociedades, nas companhias fechadas e nas sociedades de

capital autorizadoc. Nas sociedades de economia mista, nos grupos de sociedades e nas com-

panhias abertasd. Nas sociedades de capital autorizado, nas companhias abertas e nas

sociedades de economia mista

(Prova 26º Exame de Ordem OAB-RJ)1 — Tiago Gomes, diretor da Companhia Paulista de Tecidos, procura

seu advogado, indagando o seguinte: “É possível ajuizar ação de responsabi-lidade civil contra os administradores da companhia, apesar de a assembléia geral ter aprovado, sem reservas, as demonstrações fi nanceiras e as contas dos administradores?” Dê seu parecer a respeito, indicando os dispositivos legais aplicáveis.

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FGV DIREITO RIO 88

(Prova: 24º Exame de Ordem OAB-RJ)2 — Asclepíades, Hermínia e Cibele são diretores e únicos acionistas da

CIA. De Transportes Modernos, que não possui ações admitidas à negocia-ção no mercado de valores mobiliários. Pergunta-se: Poderão os citados ad-ministradores votar, como acionistas, o relatório da administração sobre os negócios sociais e os principais fatos administrativos do exercício fi ndo na Assembléia Geral Ordinária? Responda, justifi cando o seu entendimento e indicando o dispositivo legal adequado.

(Prova 24º Exame de Ordem OAB-RJ)3 — O estatuto da Cia. de Frutas Amargas criou o Conselho Executivo,

delegando a esse Órgão atribuições legais de seu Conselho de Administração. Frente a lei, é válida, ou não, essa disposição estatutária? Responda, mencio-nando o dispositivo legal pertinente.

(Prova 21º Exame de Ordem OAB-RJ)1 — Na Companhia Altavista — Construtora e Incorporadora, reuniu-se

a Assembléia Geral Extraordinária às 14h do dia 22 de janeiro de 2003, ten-do sido convocada para deliberar sobre a seguinte. Ordem do Dia: “Exame, discussão e deliberação acerca da Denúncia do Conselho Fiscal n° 02/2002, versando sobre atos e fatos recentes”. Instalada a Assembléia nos termos da lei, os acionistas, após examinarem os termos da Denúncia do Conselho Fiscal n° 02/2002 e outros documentos, por maioria deliberaram destituir imediatamente dois Membros do Conselho de Administração. Encerrada a Assembléia, o Diretor-Presidente da Companhia na mesma tarde lhe telefona e pede seu parecer jurídico sobre quais providências devem ser em seguida adotadas, inclusive perguntando-lhe se é de fato necessário ou urgente preen-cher essas duas vagas surgidas no Conselho de Administração.

Responda à consulta por meio de uma carta-parecer, sabendo-se que: (a) os Membros destituídos haviam sido eleitos pelo sistema de voto múltiplo; (b) os fatos pelos quais foram destituídos causaram alto prejuízo à empresa e envolviam ilícito penal; (c) o Conselho de Administração é estatutariamente composto de onze membros; (d) a companhia é aberta.

(Prova 19º Exame de Ordem OAB-RJ)24 — Assinale a alternativa CORRETA sobre a sociedade por ações:a. A Assembléia Geral dos Acionistas e a Diretoria são órgãos dispensá-

veis, se o acionista controlador tiver todas as atividades da sociedade sob seu controle;

b. Inexiste qualquer solidariedade entre o subscritor que houver contri-buído para a formação do Capital Social com bens ou direitos, e os peritos avaliadores que houverem feito a respectiva avaliação;

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 89

c. O Conselho de Administração é órgão obrigatório, ainda que a socieda-de seja fechada e independa de autorização para funcionar;

d. Algumas das publicações determinadas pela lei de regência devem ser promovidas com antecedência em relação a certos eventos societários, e ou-tras devem ser promovidas subseqüentemente aos eventos.

(Prova 18º Exame de Ordem OAB-RJ)1 — Na Companhia de Navegação Fluvial da Amazônia, empresa privada,

o Diretor Financeiro Josemar Almeida, em colusão com o Diretor-Presidente Pedro Paulo Lopes Mancuso, adquiriu, agindo como representante legal da empresa e sob a justifi cativa de que esta necessitava ampliar suas instalações construindo estaleiros de reparo, cinco terrenos em região pantanosa com-ponente de área de preservação ambiental. A aquisição foi feita pelo preço certo e irreajustável de R$ 1.200.000,00, pago à vista. Um grupo de sócios da empresa, após desenvolver sindicâncias privadas, verifi cou que os terre-nos pertenciam à mãe de Josemar, e que haviam sido adquiridos por preço equivalente ao décuplo da avaliação feita por empresa especializada, avaliação essa que datava de antes da publicação do Decreto que havia transforma-do a área em zona de preservação ambienta!. Notifi cados por esse grupo de sócios para prestar contas de seus atos, já que o orçamento de capital não contemplava investimento congênere no exercício social em curso, ambos os administradores ignoraram o questionamento. Nem sequer se justifi caram, porque entendiam que apenas necessitavam prestar contas à assembléia geral que os havia eleito. O grupo de sócios, à vista da omissão dos administra-dores em responder, houve por bem questioná-los sobre esse mesmo tema, durante a assembléia geral extraordinária convocada para o mês seguinte, e de cuja ordem do dia apenas constava a apreciação da renúncia do Diretor de Controle, Edmar Florestan de Albuquerque. Durante a assembléia, esse mesmo grupo de sócios, que detém no Capital Social um percentual equiva-lente a 9%, expondo aos demais sócios a conduta dos dois administradores e insatisfeito com as frágeis explicações dadas, propôs a respectiva destituição, que contou com a concordância da maioria dos presentes, tendo então sido eleitos três novos administradores para a empresa, e autorizadas as medidas judiciais necessárias ao ressarcimento à empresa, dos valores indevidamente utilizados pelos Diretores destituídos. Você foi procurado em seu escritório de advocacia pelo novo Diretor Presidente, no dia 10 de julho de 2002, exatamente dois meses após a deliberação assemblear, e foi contratado para adotar as medidas cabíveis. Elabore a petição inicial da ação, embasando-a na legislação societária em vigor e datando-a; não se esqueça dos demais aspectos técnicos atinentes ao contencioso judicial.

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FGV DIREITO RIO 90

(Prova 18º Exame de Ordem OAB-RJ)26 — Assinale a afi rmativa FALSA sobre os administradores das socieda-

des por ações abertas:a. Eles têm que cuidar unicamente do intuito da sociedade, para que esta

distribua sempre bons dividendos aos seus acionistas;b. Eles têm os deveres de atuar com diligência e lealdade, e de prestar in-

formações ao mercado em geral;c. Eles não devem agir como empregados, mas sim como representantes

legais das empresas;d. Eles devem ser atentos e cuidadosos, pois pode ocorrer que, em deter-

minados momentos, eles tenham interesses pessoais confl itantes com os da própria sociedade.

(Prova 15º Exame de Ordem OAB-RJ)2 — Sandra Célia Gentil irritou-se por razões pessoais com uma prima

Ana Regina Teixeira, diretora-presidente da Petropolitana — Importações e Exportações S.A, quando ambas, acionistas da empresa, estavam presentes à Assembléia Geral Ordinária dos Acionistas, Sandra Célia procurou então seu advogado, a quem expressou sua intenção de, na qualidade de acionista con-troladora, propor aos demais sócios a destituição de Ana Regina do cargo que ocupa na administração, e a expulsão da mesma da sociedade, pois, segundo disse, “ela passara a ser sua inimiga”. Como seu advogado, responda funda-mentadamente à dupla consulta: opine quanto à possibilidade de destituição e quanto à de expulsão.

(Prova 11º Exame de Ordem OAB-RJ)5 — Daniel Gomes, acionista e Presidente do Conselho de Administração

da construtora Internacional de Engenharia S/A quer adotar o sistema do voto múltiplo na eleição dos membros deste órgão societário. Assim, indaga sobre o funcionamento desse sistema de votação, perguntando, ainda, sobre a distinção entre voto múltiplo e voto plural.

(Prova 10º Exame de Ordem OAB-RJ)5 — José Alexandre, presidente da Companhia Industrial Fluminense,

pretende saber se, como acionista, pode votar na Assembléia Geral que exa-minará as suas contas como administrador.

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FGV DIREITO RIO 91

G) GLOSSÁRIO

(Fonte: www.bovespa.com.br)Concussão: Art. 316, Código Penal — Exigir, para si ou para outrem,

direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida.

Conselho Fiscal: Órgão que fi scaliza a situação fi nanceira da empresa.Peculato: Art. 312, Código Penal — Apropriar-se o funcionário público

de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio.

Prevaricação: Art. 319, Código Penal — Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.

Responsabilidade civil subjetiva: obrigação de indenizar danos gerados por conta de conduta negligente, imprudente ou imperita de uma pessoa.

Subsidiária integral: Sociedade anônima cujo capital pertence integral-mente a outra sociedade brasileira, nos termos do artigo 251 da Lei das S.A.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 92

121 No entanto, há hipóteses em que o

funcionamento do Conselho Fiscal se dá

de forma permanente, como ocorre no

caso das sociedades de economia mista

(art. 240 da Lei das S.A.) e de previsão

estatutária expressa.

122 Art. 161, § 1º, da Lei das S.A.

123 Art. 161, § 4º, alínea b, da Lei das

S.A.

AULA 12: CONSELHO FISCAL. EXERCÍCIO SOCIAL. DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS.

A) MATERIAL DE LEITURA

Leitura básica

EIZIRIK, Nelson. Conselho fi scal. In: LOBO, Jorge (Coord.). Reforma da Lei das Sociedades Anônimas. Rio de Janeiro: Forense, 2002. pp. 453-471.

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. Vol. 2. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, pp. 228-231.

Leitura complementar

EIZIRIK, Nelson, “Reforma das S/A e Conselho Fiscal”. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. vol. 119, São Paulo, 2000, pp. 121-127.

GUERREIRO, José Alexandre Tavares. O Conselho Fiscal e o direito à infor-mação. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, v. 45, São Paulo, 1982, pp. 29-34.

B) ROTEIRO DE AULA

Conselho Fiscal: funcionamento e composição

O Conselho Fiscal é o órgão fi scalizador da companhia. Embora sua exis-tência seja obrigatória, seu funcionamento se dá conforme a vontade dos acionistas, estabelecendo-se de forma permanente ou não121.

A Lei nº 6.404/76 estabelece o número mínimo (três) e o máximo (cinco) de membros que o compõem, os quais poderão ser acionistas ou não122. Da mesma forma, estabelece a Lei das S.A. quorum para que (i) acionistas mino-ritários detentores de ações com direito a voto (10%) e (ii) titulares de ações preferenciais sem direito a voto ou com voto restrito (5%) elejam, respectiva-mente, um conselheiro cada. Garante a lei, no entanto, ao acionista contro-lador o direito de eleger sempre a maioria dos membros do conselho fi scal123.

A primeira e evidente observação que se deve fazer é a de que o direito de fi scalizar é desdobramento necessário do direito de participar nos resultados e no acervo social. Isto é, interessa aos acionistas de uma sociedade fi scalizar

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 93

124 BULGARELLI, Waldirio. Regime jurí-

dico do conselho fi scal das S/A. Rio de

Janeiro: Renovar, 1998. p. 58.

125 BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito

societário. 10. ed. Rio de Janeiro: Reno-

var, 2007. p. 438.

126 Art. 162, § 3º, da Lei das S.A.

a atuação dos seus administradores, pois é esta atuação que possibilitará o alcance de determinado resultado e a sua repartição entre todos os acionistas.

Desta constatação, retira-se que, para o acionista majoritário, este poder de fi scalização não é, em regra, de todo essencial, haja vista que é o próprio majoritário que tem, em última instância, o poder de indicar e eleger os administradores de uma sociedade. Os maiores interessados no poder fi sca-lizatório são, portanto, os acionistas minoritários, que, em tese, encontram no Conselho Fiscal um mecanismo para garantir que a administração atenda também a seus interesses. Neste sentido, afi rma Waldírio Bulgarelli:

“não se pode deixar de notar que a fenomenologia societária revela que quem, na verdade, costuma estar interessado em fi scalizar a administração é o minori-tário, já que evidentemente o controlador confi a em si mesmo quando dirige a companhia pessoalmente ou nos administradores que escolheu.”124

Ocorre que, tendo em vista a predominância de membros eleitos pelo acionista controlador, a atuação do Conselho Fiscal é, na grande maioria das vezes, residual e desprestigiada. Ainda que haja a possibilidade de participa-ção de membros eleitos por acionistas minoritários em sua composição — e que, conforme será indicado a seguir, permite-se, em certos casos, uma atua-ção individual dos conselheiros —, o Conselho Fiscal em geral atua de forma não permanente e sem uma efetiva atividade fi scalizatória.

Por outro lado, nota-se o fortalecimento das chamadas auditorias inde-pendentes, obrigatórias em companhias abertas e permitidas nas fechadas. De acordo com Tavares Borba:

“o trabalho desenvolvido pela auditoria objetiva, basicamente, a apuração, através de levantamentos contábeis, da autenticidade das demonstrações fi nan-ceiras, informando se correspondem ou não à realidade, fi nanceira e econômica da sociedade.”125

Eleição, remuneração e restrições

No caso de o Conselho Fiscal ser colocado em funcionamento em razão de pedido formulado pelos acionistas, os conselheiros serão eleitos na mesma assembléia em que tal pedido for formulado, e o mandato dos mesmos per-durará até a próxima Assembléia Geral Ordinária.

Cumpre assinalar que os conselheiros serão remunerados com um salário de, no mínimo, um décimo do salário médio atribuído aos diretores da com-panhia126. Busca-se, assim, assegurar maior efetividade à atuação dos mem-bros do Conselho Fiscal. Nas palavras de Fran Martins:

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 94

127 MARTINS, Fran. Comentários à Lei das

Sociedades Anônimas, v. 2, t. I. Rio de

Janeiro: Forense, 1978. p. 432.

128 Art. 162, § 3º, da Lei das S.A.

129 “Art. 147. Quando a lei exigir certos

requisitos para a investidura em cargo

de administração da companhia, a

assembléia-geral somente poderá ele-

ger quem tenha exibido os necessários

comprovantes, dos quais se arquivará

cópia autêntica na sede social.

§ 1º São inelegíveis para os cargos

de administração da companhia as

pessoas impedidas por lei especial, ou

condenadas por crime falimentar, de

prevaricação, peita ou suborno, con-

cussão, peculato, contra a economia

popular, a fé pública ou a propriedade,

ou a pena criminal que vede, ainda que

temporariamente, o acesso a cargos

públicos.

§ 2º São ainda inelegíveis para os

cargos de administração de companhia

aberta as pessoas declaradas inabili-

tadas por ato da Comissão de Valores

Mobiliários.

§ 3º O conselheiro deve ter reputa-

ção ilibada, não podendo ser eleito,

salvo dispensa da assembléia-geral,

aquele que: I — ocupar cargos em so-

ciedades que possam ser consideradas

concorrentes no mercado, em especial,

em conselhos consultivos, de adminis-

tração ou fi scal; e II — tiver interesse

confl itante com a sociedade.

§ 4º A comprovação do cumprimento

das condições previstas no § 3º será

efetuada por meio de declaração fi rma-

da pelo conselheiro eleito nos termos

defi nidos pela Comissão de Valores

Mobiliários, com vistas ao disposto nos

arts. 145 e 159, sob as penas da lei.”

130 “Art. 163. Compete ao conselho fi s-

cal: I — fi scalizar, por qualquer de seus

membros, os atos dos administradores

e verifi car o cumprimento dos seus de-

veres legais e estatutários; II — opinar

sobre o relatório anual da administra-

ção, fazendo constar do seu parecer as

informações complementares que jul-

gar necessárias ou úteis à deliberação

da assembléia geral; III — opinar sobre

as propostas dos órgãos da administra-

ção, a serem submetidas à assembléia

geral, relativas a modifi cação do capital

social, emissão de debêntures ou bônus

de subscrição, planos de investimento

ou orçamentos de capital, distribuição

de dividendos, transformação, incorpo-

ração, fusão ou cisão; IV — denunciar,

por qualquer de seus membros, aos

órgãos de administração e, se estes não

tomarem as providências necessárias

para a proteção dos interesses da com-

panhia, à assembléia-geral, os erros,

fraudes ou crimes que descobrirem, e

sugerir providências úteis à companhia;

V — convocar a assembléia geral or-

dinária, se os órgãos da administração

retardarem por mais de um mês essa

“Uma das grandes reclamações que existiam, para a inefi ciência do Conselho Fiscal, era a má remuneração dos conselheiros. Realmente, em quase todas as sociedades, a não ser nas empresas estatais, ainda assim não em todas, as funções de conselheiros fi scais eram remuneradas com importâncias irrisórias, que não serviam de justa compensação para os trabalhos que porventura os conselheiros tivessem no exercício de sua função. E não havendo remuneração digna não existia interesse dos conselheiros no desempenho de suas funções.”127

Só poderão ser eleitos para o cargo de conselheiro fi scal pessoas físicas, residentes no país, com diploma universitário ou experiência de três anos, no mínimo, no cargo de administrador de empresa ou conselheiro fi scal128.

No tocante aos impedimentos para exercício do cargo de membro do Conselho Fiscal, além do previsto no artigo 147 da Lei das S.A.129, também estarão proibidos de exercer as funções de conselheiro fi scal os administrado-res ou empregados de qualquer sociedade controladora, controlada ou coli-gada à companhia, bem como os cônjuges ou parentes, até o terceiro grau, de administrador da companhia.

Estes impedimentos visam a resguardar o interesse da companhia em de-trimento dos interesses individuais de seus acionistas, de maneira genérica, e de seus conselheiros, de forma específi ca.

Competências (art. 163130)

Percebe-se pelo que já foi exposto que compete ao Conselho Fiscal fi scalizar a atuação dos órgãos administrativos da companhia. Segundo Tavares Borba:

“Compete-lhe acompanhar a atuação da empresa, a fi m de verifi car a re-gularidade dos procedimentos adotados e dos negócios realizados, opinando sobre o relatório anual dos administradores, as demonstrações fi nanceiras da companhia e, especialmente, sobre propostas de modifi cação do capital, emissão de debêntures ou bônus de subscrição, planos de investimento ou orçamentos de capital, distribuição de dividendos, transformação, incorpo-ração, fusão e cisão.”131

Todas as demonstrações fi nanceiras e balancetes elaborados pela admi-nistração, inclusive durante um eventual processo de liquidação, deverão ser analisados pelo conselho, que, por sua vez, deverá emitir parecer que instrua a deliberação a ser tomada pela Assembléia Geral. Compete, também, ao Conselho Fiscal, sempre que julgar necessário, convocar a Assembléia Geral.

Cumpre observar que a Lei nº 10.303/01, ao introduzir diversas altera-ções na Lei das S.A., trouxe importantes incrementos no que tange à atuação individual dos conselheiros, visando, assim, a ampliar a efetividade do poder fi scalizador desse órgão. Destacamos, entre essas inovações, a possibilidade de

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 95

convocação, e a extraordinária, sem-

pre que ocorrerem motivos graves ou

urgentes, incluindo na agenda das

assembléias as matérias que conside-

rarem necessárias; VI — analisar, ao

menos trimestralmente, o balancete

e demais demonstrações fi nanceiras

elaboradas periodicamente pela com-

panhia; VII — examinar as demons-

trações fi nanceiras do exercício social e

sobre elas opinar; VIII — exercer essas

atribuições, durante a liquidação, tendo

em vista as disposições especiais que a

regulam.”

131 BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito

societário. 10. ed. Rio de Janeiro: Reno-

var, 2007. p. 433.

132 EIZIRIK, Nelson. Conselho fi scal. In:

Reforma da Lei das Sociedades Anônimas.

Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 459.

133 Idem, p. 462-463.

um conselheiro denunciar quaisquer erros, fraudes ou crimes praticados que vão contra o interesse da companhia, bem como solicitar junto à adminis-tração informações ou esclarecimentos que julgar necessários para o exercício de sua função fi scalizadora, possibilidade essa que, até então, em geral era reservada para o Conselho Fiscal enquanto órgão colegiado. A esse respeito, são claras as palavras de Nelson Eizirik:

“Embora a Lei n.º 6.404/76 tenha atribuído ao Conselho Fiscal a natureza de órgão colegiado, o princípio majoritário é “temperado”, mediante a previsão da atuação individual de seus membros, que, ademais, não se encontram subor-dinados aos interesses de seus eleitores.

Com efeito, a competência colegial do Conselho Fiscal poderia signifi car a opressão do representante das minorias acionárias; isso não ocorre, porém, pelo fato de não implicar a visão colegial na exclusão da função individual dos membros.”132

Ressalte-se, no entanto, que, em regra, o Conselho Fiscal não tem compe-tência para apreciar o conteúdo da gestão societária, não lhe cabendo julgar o mérito e a conveniência das decisões empresariais, tampouco opinar sobre os atos ou contratos que venham a ser fi rmados pela companhia, sob pena de usurpar competência legalmente atribuída aos órgãos de administração. Nesse sentido, aponta a doutrina:

“A fi scalização a ser exercida pelo Conselho Fiscal sobre os atos dos adminis-tradores deve restringir-se tão-somente à verifi cação do atendimento dos seus deveres legais e estatutários.

Assim, o órgão fi scalizador não possui competência para apreciar o conteúdo da gestão societária, ou seja, não lhe cabe entrar no julgamento do mérito e da conveniência das decisões empresariais tomadas pelos administradores.”133

Importa apontar que a atuação do conselheiro deve ser orientada de for-ma a sempre atender aos interesses da companhia, pois, apesar de ser eleito por um grupo de acionistas, sua atuação deve ser em prol e no interesse da sociedade.

Se a atuação do conselheiro for abusiva — como, por exemplo, se privile-giar os interesses de determinado grupo de acionistas em prejuízo da socieda-de ou agir com o intuito de obter vantagens para si ou para terceiros —, surge para ele individualmente o dever de reparar eventuais prejuízos que tenham sido causados à sociedade e a outros. Assim assevera Nelson Eizirik:

“(...) se o Conselheiro Fiscal age exclusivamente no interesse dos acionistas que o elegeram, sacrifi cando o interesse social e impedindo ou difi cultando a

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FGV DIREITO RIO 96

134 Idem, p. 466.

135 Idem, p. 467.

136 BORBA, José Edwaldo Tavares Borba.

Op. cit., p. 439.

companhia de atingir seu objeto social e lograr seus fi ns lucrativos, evidente-mente, pode ser responsabilizado pelos prejuízos causados por tal conduta anti-jurídica.”134

E resume o autor:

“para confi gurar-se o abuso do conselheiro fi scal deve fi car demonstrado que a sua atuação visa a: causar dano à companhia, aos seus acionistas controladores ou minoritários, ou aos seus diretores e membros do Conselho de Administra-ção; ou a obter, para si ou para outrem, vantagem a que não faz jus e de que resulte, ou possa resultar, prejuízo para a companhia, seus acionistas ou admi-nistradores.

Em qualquer das hipóteses deve estar presente o elemento subjetivo, ou seja, a utilização dos poderes legais inerentes à função com a intenção de causar dano ou de obter vantagem indevida.”135

Exercício social

O exercício social constitui determinado período que se destaca da vida da sociedade para a verifi cação do resultado econômico e fi nanceiro de sua atividade e para aferição do resultado do fi m social.

O exercício é delimitado a um prazo de 12 meses. Embora não coincida necessariamente com o ano civil, na prática o exercício social da maioria das companhias inicia-se em 1º de janeiro e termina em 31 de dezembro. Deve-se destacar, entretanto, que certas companhias — por questões estratégicas ou em razão da sazonalidade característica de suas operações (como, por exem-plo, em virtude de safras agrícolas) — optam por delimitar o exercício social de forma diversa, devendo observar sempre o referido período de 12 meses.

De acordo com Tavares Borba, o exercício social confi gura-se como o:

“(...) espaço de tempo, em relação ao qual processa-se o levantamento geral das contas e dos resultados, para efeito, inclusive, de obter-se uma base adequada na qual fundar a distribuição do lucro, o pagamento do imposto de renda e o planejamento das atividades futuras.”136

Demonstrações financeiras: noções gerais

Em sucintas palavras, as demonstrações fi nanceiras são a expressão da situ-ação econômico-fi nanceira da companhia e as mutações patrimoniais ocorri-das em um determinado espaço de tempo.

De acordo com Rubens Requião:

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FGV DIREITO RIO 97

137 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito

comercial, v. II. São Paulo: Saraiva,

2003. p. 236.

138 Apud REQUIÃO, Rubens. Op. cit., pp.

237-238.

“as demonstrações fi nanceiras constituem, pois, claras peças que deixam re-tratar a real situação econômico-fi nanceira da sociedade, para informação dos seus próprios órgãos, dos acionistas, dos credores e do público em geral. Por isso, serão elas complementadas por notas explicativas e outros quadros analíticos ou demonstrações contábeis necessárias para esclarecimento da situação patrimo-nial e dos resultados do exercício.”137

As demonstrações fi nanceiras são compostas por quatro documentos: a) balanço patrimonial; b) demonstração de lucros ou prejuízos acumulados; c) demonstração do resultado do exercício; e d) demonstração das origens e aplicações de recursos.

Estes documentos, por sua vez, são apresentados aos acionistas para fi ns de escrituração mercantil da companhia de forma a dar publicidade da higidez da sociedade, demonstrando se o resultado de determinado período confi gu-ra um lucro ou um prejuízo.

O primeiro destes documentos — o balanço patrimonial — é composto por créditos e débitos que deverão ser recebidos ou pagos pela sociedade. O resultado do somatório de um com o outro representa a existência de um ativo ou um passivo. Segundo leciona Túlio Ascarelli:

“(...) visa, com efeito, o balanço, a verifi car o ativo e o passivo da sociedade, à vista da gestão do exercício; os lucros (ou a perdas) realizados; os lucros distribu-íveis. (...) A aprovação do balanço é, de um lado, o pressuposto para que se aper-feiçoe o direito do acionista à distribuição do lucro do exercício; de outro lado, enquanto não seja anulado, deverá o balanço ser atendido na disciplina jurídica das relações sociais que respeitam ao exercício ao qual se refere (disto resultando o caráter negocial da deliberação que o aprova, apesar da declaratoriedade de sua função) (...).”138

C) TEXTO DE APOIO

Disputa agita a Souza Cruz

Desde março passado, a Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, vem travando uma queda-de-braço com a Souza Cruz. É que o fundo, que tem 2,87% das ações da companhia, insiste para que seja instalado um conselho fi scal na empresa. O pedido é amparado numa reso-lução da própria Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mas a direção da Souza Cruz resiste e afi rma que não há quorum para que os minoritários indiquem representantes. No último dia 24, a Previ entrou com uma recla-mação na CVM. “Na Souza Cruz, o controlador fi scaliza a si próprio”, diz

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FGV DIREITO RIO 98

Renato Chaves, diretor de participações da Previ, que vai pedir também que a companhia torne públicas as atas do comitê interno de auditoria. A Souza Cruz vem estudando a opção de fechar o capital para encerrar o imbróglio.

(Revista Exame, 27.07.2006)

D) CASO

A Light Participações S.A. — Lightpar pertenceria ao mesmo grupo eco-nômico da Eletrobrás e, por força do que prevê o parágrafo 2º do artigo 162 da Lei das S.A., seria vedada a eleição de funcionários de sociedades perten-centes ao mesmo grupo. Por ocasião daquela comunicação, a SEP concedeu prazo de 48 horas para que fosse convocada Assembléia Geral, com o fi m de efetuar a substituição do mencionado membro do Conselho Fiscal. A recor-rente requereu a dilatação do prazo, o que foi concedido pela SEP. Observan-do o disposto na Deliberação CVM nº 202/96, a Lightpar interpôs recurso.

Pergunta-se:(i) Quais os possíveis argumentos que sustentariam a posição da compa-

nhia?(ii) Qual seria a motivação do parágrafo 2º do artigo 162 da lei societária?(iii) O Conselheiro Fiscal é considerado, na lei societária, como parte da

administração da companhia, ou é a ela equiparado?(iv) Como se dá a aplicação do disposto no artigo 8º da Lei 10.303/01?

E) MODELO DE ATA DE REUNIÃO DE CONSELHO FISCAL

ATA DE REUNIÃO DO CONSELHO FISCAL DA TCTC PARTICI-PAÇÕES S.A., REALIZADA EM 25 DE FEVEREIRO DE 2003

Aos 25 (vinte e cinco) dias do mês de fevereiro de 2003, às 08:30h, na sala de reuniões situada à Avenida Rio Branco, nº 500, 25º andar, Rio de Janeiro — RJ, reuniram-se os membros do Conselho Fiscal da TCTC Participações S.A., para tomar conhecimento, analisar, deliberar e, quando aplicável, emi-tir Parecer para a seguinte ordem do dia:

1) Demonstrações Financeiras do ano de 2002: prestados os devidos esclarecimentos pela Sra. Antonieta de Jesus, contadora da Companhia, o Conselho tomou conhecimento das Demonstrações Financeiras do Exer-cício Social, fi ndo em 31 de dezembro de 2002, compostas pelo Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício, Demonstração da Mutação do Patrimônio Líquido, Demonstração das Origens e Aplicações dos Recursos e Notas Explicativas, inclusive Parecer dos Auditores Indepen-dentes, Ernst & Young Auditores Independentes S/C, não sendo constatada

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FGV DIREITO RIO 99

qualquer modifi cação que mereça ser registrada, conforme consta do Parecer do Conselho Fiscal. O representante da Ernst & Young Auditores Indepen-dentes S/C forneceu carta afi rmando a condição de independência da em-presa de auditoria em relação aos serviços prestados à TCTC Participações S.A., bem como os resultados dos trabalhos de auditoria das demonstrações fi nanceiras da YHGTE S.A. e controlada referentes ao exercício fi ndo em 31 de dezembro de 2002.

2) Relatório de Administração: o Conselho Fiscal tomou conhecimento do Relatório da Administração da Companhia do exercício de 2002.

3) Proposta da Administração para Destinação dos Resultados de 2002: a Administração apresentou aos membros do Conselho Fiscal a proposta para Destinação do Resultado do Exercício de 2002, pelo que o Conselho mani-festa-se favoravelmente ao seu encaminhamento à deliberação pela Assem-bléia Geral de Acionistas.

4) Proposta de destinação à Reserva de Lucros para Expansão: a Admi-nistração apresentou aos membros do Conselho Fiscal a proposta de investi-mentos em expansão das atividades da companhia, que justifi ca a destinação da parcela remanescente dos resultados para a conta da Reserva de Lucros para Expansão de que trata o art. 36, § 2°, do Estatuto, pelo que o Conselho manifesta-se favoravelmente ao seu encaminhamento à deliberação pela As-sembléia Geral de acionistas.

5) Proposta de Capitalização do Benefício Fiscal gerado pela amortização do ágio, Proposta para Aumento de Capital, com base nas Reservas de lu-cros excedentes em relação ao Capital Social e Proposta de Capitalização de Outras Reservas: ao Conselho Fiscal foram apresentadas as propostas da Ad-ministração para a Capitalização do Benefício Fiscal e Aumento de Capital decorrente de excesso de reservas e capitalização de outras reservas de capital, sendo que o Conselho manifesta-se favoravelmente ao encaminhamento à Assembléia Geral de Acionistas.

Encerramento: Nada mais havendo a tratar foi lavrada a presente ata que, aprovada, é assinada pelos presentes.

Rio de Janeiro, 25 de fevereiro de 2003.[...] [...]Conselheiro Fiscal Conselheiro Fiscal[....] [...]Conselheiro Fiscal Conselheiro Fiscal[...]Conselheiro Fiscal

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FGV DIREITO RIO 100

F) JURISPRUDÊNCIA

“RECURSO PROVIDO.— Certa a tese do acórdão recorrido: a Junta Comercial tem atribuições

defi nidas em lei; age, delibera, não opera automaticamente, podendo, em face de um pedido de registro, verifi car se o ato reúne os requisitos extrínse-cos para isso.

— Entretanto, as suas resoluções, como os de qualquer autoridade, estão sujeitos ao controle judicial.

— O motivo dado para a recusa do arquivamento da ata da assembléia ex-traordinária da sociedade telefônica do Paraná, convocada pelo conselho fi s-cal, na qual fi cara resolvida a destituição do seu presidente e a sua substituição por outro, era juridicamente inoperante. O conselho fi scal tem competência para convocar a assembléia anual ordinária, em que se tomam as contas da diretoria, se esta a retarda por mais de um mês, e ainda para convocações ex-traordinárias, se houver motivos graves e urgentes. A norma (art. 127, inciso V, da Lei) não exige indicação minuciosa dos motivos, que talvez não devam ser publicados em benefi cio da própria organização. Basta, para satisfazer o intuito da lei, a inclusão na ordem do dia de matéria de cujo simples enuncia-do se possa claramente inferir a gravidade do assunto a tratar. E foi o que se deu no caso” (STF, Tribunal Pleno, RMS 8708/PR, Rel. Min. Antonio Villas Boas, j. 10.11.1961, v.u., DJ 02.10.1962, p. 2831; DJ 25.01.1962, p. 195).

“SOCIEDADE ANÔNIMA. CONTAS DOS DIRETORES. Acórdão que suspendeu o julgamento, para serem as contas, com parecer do conselho fi s-cal, submetidas à assembléia geral. Tal acórdão não se pode dizer contrário ao art. 87 do Dec.-lei nº 2.627 de 26 de setembro de 1940, que dá à assembléia geral os amplos poderes que menciona, entre os quais se inclui o de tomar anualmente as contas dos diretores (parágrafo único, alínea ‘b’)” (STF, AI 16814/DF, Rel. Min. Luiz Galotti, j. 21.06.1954, v.u., DJ 12.09.1955, p. 3232).

“EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ORDINÁRIA. LEI DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS. Pleito deduzido por empresa acionista minoritária de outra. Em litisconsórcio com dois membros do conselho fi scal desta última, para que lhes seja permitido participar das reuniões do conse-lho de administração sempre que entenderem necessário e receberem toda e qualquer informação que solicitarem. Tutela antecipatória deferida e cas-sada em agravo de instrumento. Sentença de ilegitimidade ativa da 1.º ape-lante e de improcedência em relação aos demais. Participação dos membros do conselho fi scal nas reuniões do conselho de administração caracterizada como poder-dever limitado às situações previstas no art. 163, § 3.º, da Lei

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FGV DIREITO RIO 101

6.404/76. Inexistência do pretendido caráter absoluto do direito à presença nas reuniões ou do pedido de qualquer informação, sob pena de instalar-se confl ito entre os órgãos societários. Manifestação de perda do interesse pro-cessual dos 2.º e 3.º apelantes, em decorrência de não fazerem mais parte do conselho fi scal da ré. Preclusão lógica em relação ao seu apelo. Ilegitimidade ativa da apelante que se confi rma, não possuindo a mesma legitimação or-dinária ou extraordinária para litigar pelo suposto direito dos conselheiros fi scais. Litígio que se mostra decorrente da falta de representatividade da 1.º apelante no conselho de administração da apelada aplicação dos princípios da instrumentalidade do processo e das formas. Improvimento do apelo” (TJRJ, 3ª CC, AC 2003.001.17119, Rel. Des. Luiz Fernando de Carvalho, j. 02.03.2004).

“SOCIEDADE ANÔNIMA — CONSELHO FISCAL — Indispensabili-dade de se defi nir sua instalação a pedido de acionistas (Lei 6.404/76, artigo 161, caput) — Desatendimento da obrigação pela ré — Concessão de tutela antecipada para tomada da providência — Cumprimento da decisão que não estava a signifi car que ocorrera reconhecimento do pedido pela ré, a justifi car julgamento de extinção do processo por terem deixado os autores de con-tar com interesse processual — Necessidade de prosseguimento do processo para julgamento fi nal, pelo mérito, em conformidade com o previsto no ar-tigo 273, parágrafo 5º, do C.P.C. — Julgamento de procedência da ação em segundo grau, ante pedido dos autores, como permitido pelo disposto no artigo 515, parágrafo 3º, do C.P.C. — Recurso dos autores provido para esse fi m” (TJSP, 4ª CDPri, AC 317.660-4/2-00, Rel. Des. J. G. Jacobina Rabello, j. 18.12.2003).

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. MEMBRO DE CON-SELHO FISCAL DE SOCIEDADE ANÔNIMA. RENÚNCIA À PER-CEPÇÃO DE HONORÁRIOS MANIFESTADA PELO ACIONISTA REPRESENTADO, POR RAZÕES DE CARÁTER NORMATIVO. IN-VALIDADE. É devida a verba honorária decorrente do exercício da função de membro do conselho fi scal, por força da Lei nº 6.404/76 e aprovação unânime da assembléia geral respectiva. A renúncia àquela percepção, ma-nifestada pela empresa acionista, por razões de caráter normativa, não pode atingir o direito pessoal da representante que efetivamente exerceu a função. Recurso improvido” (TJRJ, 11ª CC, AC 2003.001.25324, Rel. Des. José C. Figueiredo, j. 03.12.2003).

“SOCIEDADE ANÔNIMA — Eleição de conselho fi scal, de um membro e respectivo suplente, representando os acionistas minoritários titulares de ações preferenciais sem direito a voto, ou de voto restrito — Fraude alega-

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 102

da pelos autores integrantes da chapa nº 1, por haver o banco controlador transferido, pouco antes da assembléia geral ordinária, ações preferenciais a outros minoritários, a ele favoráveis, tornando-os majoritários — Manobra que evidencia fraude e abuso de direito — Contexto probatório (C.P.C., 333, I e II) reexaminado e dele melhor se desincumbiram os apelados — Sentença mantida — Recurso improvido, por maioria, após, por unanimidade, rejeitar a preliminar apresentada na sustentação oral e considerar prejudicada a ques-tão prejudicial de nulidade da sentença” (TJSP, 5ª CC, AC 253.789.4/5-00, Rel. Des. Carlos Renato, j. 11.09.2003).

“APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINIS-TRATIVO, ADMINISTRAÇÃO INDIRETA. ACUMULAÇÃO DE EM-PREGOS. CONSELHO FISCAL. O artigo 37, inciso XVII, da Lei Maior, quer na sua redação original, quer na redação dada pela Emenda Constitu-cional nº 19/98 não deixa dúvidas acerca da impossibilidade de se acumular, de forma remunerada, cargos e funções públicas, vedando, assim, o exercício remunerado do mandato de membro do conselho fi scal nas empresas públi-cas e sociedades de economia mista por servidores da Administração Indireta. Recurso improvido” (TJRJ, 11ª CC, AC 2003.001.18603, Rel. Des. José C. Figueiredo, j. 03.09.2003).

“CONSELHO FISCAL — Previsão expressa em estatuto social de sociedade anônima fechada, com quatro sócios, dividido o comando da empresa em dois grupos distintos — Administração conjunta que não impede a institui-ção do conselho fi scal, provisório, até porque a partilha de comando era a mesma quando da elaboração estatutária — Interpretação razoável do juízo ‘a quo’ — Recurso não provido” (TJSP, 3ª CDPri, AI 233.839-4/8-00, Rel. Des. Alfredo Migliore, j. 09.04.2002, ROTJESP 257/323).

“SOCIEDADE ANÔNIMA — Ação de conselheiro fi scal reclamando re-muneração pelo exercício da função — Autor que, todavia, fugiu inteiramen-te às suas atribuições legais de conselheiro — Ação improcedente — Apelo da ré provido” (TJSP, 9ª CDPri, AC 106.703.4/6, Rel. Des. Marco César, j. 22.08.2000).

“SOCIEDADE ANÔNIMA. CONSELHO FISCAL. ASSEMBLÉIA. ANULAÇÃO DE DELIBERAÇÃO. ACIONISTA CONTROLADOR. EXCLUSÃO DE MINORITÁRIOS. MERA SUSPEITA DE ATUAÇÃO CONTRÁRIA AOS INTERESSES DA SOCIEDADE. TUTELA ANTE-CIPADA. Inexistência de litisconsórcio necessário com relação à controla-dora da companhia. Sendo o acionista preferencialista, ao mesmo tempo, o controlador da companhia, não poderá eleger membro do conselho fi scal na

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 103

cota dos preferencialistas minoritários. Art. 161, par. 4., letra ‘a’, da Lei das Sociedades Anônimas. Doutrina e jurisprudência. A mera suposição de que a pessoa indicada pelos minoritários poderá atuar contra a companhia, des-virtuando a fi nalidade da fi scalização, não justifi ca a conduta do controlador, excluindo a participação dos minoritários, ainda mais quando a legislação pertinente prevê os deveres e responsabilidades do administrador, munindo a empresa dos instrumentos necessários para agir contra o faltoso. Tutela ante-cipada concedida. Cabimento, presentes os requisitos do art. 273 do C.P.C. Agravo desprovido” (TJRJ, 17ª CC, AI 2000.002.06318, Rel. Des. Fabrício Bandeira Filho, j. 09.08.2000, v.u., RDTJRJ 46/330).

“SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. PROTEÇÃO DOS ACIONIS-TAS MINORITÁRIOS. CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO. CON-SELHO FISCAL. CONCEITO DE ACIONISTA MINORITÁRIO. So-ciedade de Economia Mista. Representação de acionistas minoritários nos Conselhos de Administração e Fiscal. Arts. 239 e 240 da Lei 6.404/76. A eleição de acionistas da fundação criada pela sociedade, para fi ns assistenciais, não caracteriza ofensa à Lei de S/A. Trata-se de entidade fechada de previdên-cia privada, com autonomia administrativa, fi nanceira, patrimônio próprio e independente de sua instituidora e patrocinadora, que pode ser incluída no conceito de acionista minoritário. Os membros dos Conselhos devem ser eleitos pelos acionistas minoritários presentes na assembléia. Apelação des-provida” (TJRJ, 16ª CC, AC 1999.001.14150, Rel. Des. Carlos C. Lavigne de Lemos, j. 28.03.2000, v.u.).

“DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE. TUTELA ANTECIPADA. CONSE-LHO FISCAL. REDUÇÃO DO VALOR. (...) A criação de um conselho fi scal em uma sociedade comercial ou prestadora de serviços, não é vedada na lei, em razão do que os sócios, por força de consenso comum, ou por forca da intervenção do Judiciário, poderão instituir esse tipo de controle interno da empresa, balizando e guiando os seus movimentos econômicos, fi nanceiros e administrativos, em favor do bem de todos os sócios, sendo que cada qual terá, querendo, sua representação integrando aquele órgão. O artigo 18, do Decreto n. 3.708, de 10 de janeiro de 1919, por mútuo da Lei de Sociedades Anônimas, na condição de regra subsidiária, subministrará os princípios e os comandos técnicos e jurídicos na elaboração do arcabouço de tal organismo. (...)” (TJRJ, 6ª CC, AI 1999.002.08390, Rel. Des. Albano Mattos Corrêa, j. 16.11.1999, v.u.).

“SOCIEDADES ANÔNIMAS. CONSELHO FISCAL. AUMENTO DE CAPITAL. CORREÇÃO MONETÁRIA DO ATIVO. EMISSÃO DE NOVAS AÇÕES. PERCENTUAL DE PARTICIPAÇÃO NO CAPITAL.

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FGV DIREITO RIO 104

DIREITOS POLÍTICOS. Se o conselho fi scal não é permanente, e não foi constituído para a assembléia, especifi camente, sua atuação não era necessá-ria. A correção monetária do ativo pode ser utilizada para compensação de défi cit fi nanceiro da sociedade. Não é nulo o aumento de capital, se a corre-ção monetária do ativo não se fez na assembléia respectiva e, sim, na época prevista em lei. Se o acionista não subscreve as novas ações e ocorre a diluição da sua participação na sociedade, esta é justifi cada e amparada por lei. A não subscrição do novo capital acarreta diferença no percentual de participação no capital social, como aconteceria com a venda das ações. Se disso lhe re-sulta perda do poder político, a culpa não é da sociedade. Recurso provido” (TJRJ, 4ª CC, AC 1996.001.07489, Rel. Des. Bernardino M. Leituga, j. 06.02.1997, v.u., RDTJRJ n. 33, out./dez. 1997, p. 198).

G) QUESTÕES DE CONCURSO

(30º Exame de Ordem OAB-RJ)54 — Em relação ao Conselho Fiscal nas companhias de capital fechado,

marque a alternativa mais adequada:a. É órgão de constituição obrigatória e funcionamento facultativo;b. É órgão de constituição e funcionamento obrigatórios;c. É órgão de constituição facultativa, cujo funcionamento se fará por

pedido da Assembléia Geral;d. É órgão de funcionamento obrigatório e de constituição facultativa.

(29º Exame de Ordem OAB-RJ)6 — O Conselho Fiscal da Companhia de Roupas Excêntricas indica para

a sociedade um contador de sua confi ança para melhor desempenho de suas funções. Você, como acionista desta sociedade, frente à lei vigente, responda se é válida ou não esta providência.

Se a resposta for afi rmativa, declare em que condições isso pode ocorrer. Se negativa, diga o porquê da proibição. Qualquer que seja seu entendimento, indique o fundamento legal.

(26º Exame de Ordem OAB-RJ)50 — Quanto às Sociedades Anônimas, indique a afi rmativa correta:a. Os membros do Conselho Fiscal, tanto os efetivos como os suplentes,

têm que ser acionistas da companhia.b. Desde que o acionista controlador manifeste seu interesse por escrito, a

Assembléia Geral poderá privar os demais acionistas de participar do acervo da companhia, em caso de liquidação

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 105

c. As companhias abertas e as de capital autorizado terão, obrigatoriamen-te, Conselho de Administração

d. É expressamente vedada a eleição de membros do Conselho de Admi-nistração para o exercício do cargo de diretor.

(20º Exame de Ordem OAB-RJ)3 — Esclareça se existe obrigatoriamente homogeneidade de natureza e

conteúdo nas manifestações do Conselho Fiscal da Sociedade por Ações. Jus-tifi que.

H) GLOSSÁRIO

(Fonte: www.bovespa.com.br)Sociedade coligada: Sociedade de cujo capital outra sociedade participa

com dez por cento ou mais do capital, sem controlá-la.Sociedade controlada: Sociedade de cujo capital outra sociedade possua

a maioria dos votos nas deliberações dos cotistas ou da assembléia geral e o poder de eleger a maioria dos administradores.

Sociedade controladora: Sociedade que tem o controle societário de uma ou mais sociedades, denominadas cada uma delas sociedade controlada, sen-do titular dos direitos de sócio que lhe assegurem preponderância nas delibe-rações sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores.

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FGV DIREITO RIO 106

AULAS 13 E 14: LUCROS, RESERVAS E DIVIDENDOS. DIVIDENDO OBRIGATÓRIO E DIVIDENDOS INTERMEDIÁRIOS. DISSOLUÇÃO, LIQUIDAÇÃO E EXTINÇÃO DA SOCIEDADE ANÔNIMA.

A) MATERIAL DE LEITURA

Leitura básica

LAMY FILHO, Alfredo; BULHÕES PEDREIRA, José Luiz. A Lei das S.A., Vol I — 3ª edição. Rio de Janeiro, Renovar, 1997, pp. 156 a 164; pp. 249-251.

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. Vol. 2. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, pp. 325-342; pp. 350-353.

Leitura complementar

FREITAS, Ricardo dos Santos, “Dissolução de S/A pela Impossibilidade de Preencher seu Fim”. In Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômi-co e Financeiro. vol. 113. São Paulo, Malheiros, pp. 222-236.

BRITO, Cristiano Gomes de, “Dissolução Parcial da Sociedade Anônima”. In Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. vol. 123. São Paulo, Malheiros, pp. 147-159.

B) ROTEIRO DE AULA

Lucros, Reservas e Dividendos

1.1. CONCEITOS INICIAIS E NECESSÁRIOS

Os conceitos que trataremos se referem ao resultado do empreendimento societário e são necessários para que se compreenda como é realizada a distri-buição de lucros entre os acionistas.

Note-se, assim, a relevância prática do tema, tendo em vista que um dos objetivos primordiais de uma sociedade, seja ela limitada ou anônima, é a obtenção de lucros.

Toda exploração econômica pode ser associada, em algum momento, a um resultado positivo. Entretanto, estes ganhos não se traduzem automati-camente em lucratividade. Antes de se contabilizar o lucro fi nal da operação, existem itens obrigatórios e necessários na agenda fi nanceira, como a folha

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 107

139 Consoante se infere do art. 109, I, da

Lei das S.A.

140 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito

comercial, v. II. São Paulo: Saraiva,

2003. p. 239.

141 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito

comercial, v. 2. 6. ed. São Paulo: Saraiva,

2003. p. 327.

de pagamentos, o investimento em novas atividades ou a melhoria da própria estrutura da companhia.

Em todo caso, a fi nalidade lucrativa é elemento permanente na estrutura societária, sendo, inclusive, garantido legalmente, como se observa do dispos-to no artigo 2º da Lei nº 6.404/76. Não apenas o lucro, mas a partilha deste entre os acionistas139. É o que se denomina interesse comum.

Vamos analisar, portanto, as denominações usualmente utilizadas para qualifi car o estado econômico-fi nanceiro de determinada sociedade, assim como suas funções.

I. Resultado do exercício: O resultado do exercício é obtido por meio da diminuição das receitas pelas despesas de uma companhia, em um determi-nado exercício.

II. Lucro: O lucro pode ser fi nal (após a liquidação da sociedade) ou de exercício (resultado do balanço contábil das contas no fi m do exercício so-cial). Note-se que o lucro do exercício “é o sobrevalor que a sociedade pode produzir, como resultado da aplicação do capital e outros recursos na ativi-dade produtiva”140.

Já o lucro líquido do exercício é a parcela do resultado do exercício que re-manescer após a dedução dos prejuízos acumulados, provisão para o imposto sobre a renda e participações estatutárias previstas no artigo 190 da Lei das S.A.

III. Dividendos: Dividendo é a parcela do lucro da companhia que é dis-tribuída aos acionistas. A principal fonte dos dividendos é o lucro do exercí-cio, ou aquele auferido pela companhia em períodos anteriores e que estejam contabilizados sob a forma de reservas de lucros.

Verifi cado o lucro líquido da companhia, a administração da sociedade deve propor à assembléia geral o destino que se lhe deva dar. Se esse lucro for distribuído aos acionistas, de acordo com sua participação acionária, nasce o dividendo. Deve-se observar, no entanto, que, na advertência da doutrina:

“A sociedade anônima não é inteiramente livre para decidir sobre o desti-no dos seus ganhos. A lei determina que uma parcela destes deve ser repartida entre os acionistas (os dividendos obrigatórios), e que outra deve permanecer em seu patrimônio (as reservas). A companhia decide, com liberdade, o desti-no de seus ganhos apenas após o atendimento dessas destinações forçadas”141.

III.1. Dividendo obrigatório (artigo 202, Lei das S.A.): O dividendo obrigatório representa a parcela do lucro líquido que deve ser obrigatoria-mente distribuída aos acionistas em cada exercício, desde que o lucro líquido exista em montante sufi ciente para tal distribuição.

Note-se que, eventualmente, mesmo na existência de lucro líquido, não haverá a distribuição de dividendos entre os acionistas em prol da higidez fi -nanceira da sociedade que, para atingir seu fi m social, necessitará dos recursos obtidos no exercício social para, por exemplo, reinvestir na consecução dos

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FGV DIREITO RIO 108

142 Idem, p. 351.

objetivos da sociedade, conforme disposto nos parágrafos 3º e 4º do mencio-nado artigo 202.

IV. Reservas ou retenção de lucros: Segundo classifi cação doutrinária corrente, as reservas ou retenção de lucros podem ser divididas em (i) legal, (ii) estatutária e (iii) assemblear.

IV.1. Reserva legal (art. 193, Lei das SA): A reserva legal possui a fun-ção de assegurar a integridade do capital social, sendo limitada a 20% desse capital. Chama-se legal por ser estabelecida em lei e, portanto, obrigatória.

Deve-se alocar à reserva legal 5% do lucro líquido do exercício, até que se atinja o montante equivalente a 20% do capital social.

Cumpre assinalar que a reserva legal somente poderá ser utilizada para compensar prejuízos ou para aumentar o capital social.

IV.2. Reservas estatutárias (art. 194, Lei das SA): A Lei das S.A. faculta aos acionistas a possibilidade de introduzir no estatuto da sociedade a previ-são de reservas de lucros, desde que se indique a sua fi nalidade, a parcela dos lucros que será destinada à sua constituição e o seu limite máximo.

IV.3. Reservas assembleares: As reservas assembleares são aquelas criadas na própria assembléia de acionistas que deliberar sobre a alocação do lucro líquido. Essas reservas devem ser aprovadas pela assembléia geral, por pro-posta justifi cada dos órgãos da administração. São três as espécies de reservas assembleares: reserva para contingências, retenção de lucros e reserva de lu-cros a realizar.

IV.3.1. Reserva para contingências (art. 195, Lei das SA): A reserva para contingências tem por fi nalidade compensar a diminuição do lucro de-corrente da perda julgada provável, cujo valor possa ser estimado, e durará enquanto existirem as razões que justifi caram a sua constituição. O saldo da reserva para contingências será revertido no exercício em que deixarem de existir as razões que justifi caram a sua constituição, ou será dada baixa quan-do ocorrer a perda. No exemplo de Fábio Ulhoa Coelho:

“Imagine que a sociedade anônima esteja respondendo a um processo de indenização por acidente de capital, desde que o orçamento total seja previa-mente aprovado em assembléia de quantia considerável. Para fazer frente a essa eventualidade, ela pode reservar, dos seus lucros, a parte correspondente à estimativa da perda provável. Claro que ela pode ganhar o processo, e, assim, não ser condenada a desembolsar nem um centavo. Nesse caso, a reserva deve ser revertida, deliberando, então, a companhia sobre a sua destinação”142.

IV.3.2. Retenção de lucros a realizar (art. 196, Lei das SA): A com-panhia pode reter lucros para aplicar em orçamento de capital, desde que o orçamento total seja previamente aprovado em assembléia de acionistas, com base em proposta dos órgãos da administração, contendo a justifi cativa da retenção de lucros proposta com todas as fontes de recursos e aplicações de capital, fi xo ou circulante.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 109

143 Art. 204, § 1º, da Lei das S.A.

144 Art. 204, § 2º, da Lei das S.A.

O orçamento de capital deve ter sua duração limitada a 5 exercícios, salvo para projetos de investimento com prazo maior.

Note-se que, sempre que o orçamento de capital tiver duração maior que um exercício social, deverá ser revisado anualmente pela assembléia geral ordinária.

IV.3.3. Reserva de lucros a realizar (art. 197, Lei das SA): A reserva de lucros a realizar tem por fi nalidade impedir a distribuição de dividendos so-bre lucros que não tenham sido efetivamente realizados — como, por exem-plo, se a companhia houver alienado uma grande quantidade de determinado produto, mas o pagamento somente for realizado em um momento futuro.

A reserva de lucros somente poderá ser utilizada para absorção de perdas em exercícios subseqüentes, e, ainda, para pagamento do dividendo obrigatório.

IV.4. Limites das reservas de lucros: As reservas estatutárias e a retenção de lucros somente poderão ser constituídas após a dedução da parcela relativa ao dividendo obrigatório (artigo 198 da Lei n. 6.404/76).

Adicionalmente, nos termos do artigo 199 da Lei das S.A., “o saldo das reservas de lucros, exceto as para contingências e de lucros a realizar, não po-derá ultrapassar o capital social”.

V. Destinação do saldo remanescente: Os lucros não destinados à cons-tituição de reservas deverão ser distribuídos como dividendos discricionários ou utilizados para aumento de capital, com ou sem emissão de ações.

1.2. DIVIDENDO PRIORITÁRIO DAS AÇÕES PREFERENCIAIS, DIVIDENDO INTERMEDIÁRIO E PROCEDIMENTO PARA PAGAMENTO DE DIVIDENDOS

I. Dividendo prioritário das ações preferenciais: Os titulares de ações preferenciais podem ter, entre suas vantagens, o recebimento prioritário de dividendos, ou seja, devem recebê-lo antes dos titulares de ações ordinárias, e antes da constituição das reservas de lucros, exceto a legal, na forma do esti-pulado no artigo 203 da Lei das S.A.

II. Dividendos intermediários: Além do dividendo anual distribuído com base no resultado do exercício, o artigo 204 da Lei nº 6.404/76 prevê outras pos-sibilidades de distribuição de dividendos, que podem ser assim defi nidas: (i) divi-dendos distribuídos com base no resultado de balanço semestral; (ii) dividendos distribuídos com base no resultado de balanços levantados em períodos inferio-res143; e (iii) dividendos distribuídos à conta de lucros acumulados e/ou reservas de lucros apurados constantes do último balanço levantado pela companhia144.

III. Pagamento de dividendos (art. 205, Lei das SA): Os dividendos deverão ser pagos à pessoa que, na data da declaração do dividendo, estiver inscrita como proprietária ou usufrutuária da ação, no livro de registro de ações da companhia, no prazo de 60 dias da data em que for declarado, salvo se a assembléia geral esti-pular outro prazo, que não poderá exceder o exercício social em que foi declarado.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 110

AULAS 15 E 16: ACIONISTAS E ACIONISTA CONTROLADOR: NOÇÕES GERAIS; DIREITOS E OBRIGAÇÕES; PODER DE CONTROLE; ACORDOS DE ACIONISTAS

A) MATERIAL DE LEITURA

Leitura básica

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, v. 2. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. pp. 272-324.

REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial, v. 2. 24. ed. São Paulo: Sarai-va, 2006. pp. 135-163.

Leitura complementar

COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle na sociedade anônima. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. pp. 51-103.

FRANÇA, Erasmo Valladão A. e Novaes. “Acionista controlador — impe-dimento ao direito de voto (comentários ao inquérito administrativo CVM nº TA/RJ2001/4977)”. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, São Paulo, Malheiros, n. 125, jan./mar. 2002, pp. 139-172.

WALD, Arnoldo. A reforma da lei das sociedades anônimas: os direitos dos minoritários na nova Lei das S.A. In: LOBO, Jorge (Coord.). Reforma da Lei das Sociedades Anônimas. Rio de Janeiro: Forense, 2002. pp. 219-247.

B) ROTEIRO DE AULA

Acionistas: direitos e obrigações

Nas aulas anteriores, estudamos os principais valores mobiliários que po-dem ser emitidos pelas sociedades anônimas. Naquela oportunidade, desta-camos a importância das ações, uma vez que essa espécie de valor mobiliário é necessariamente emitida por qualquer companhia.

Após termos fi xado estes conceitos, cabe tratarmos, em linhas gerais, do tratamento legislativo dado aos detentores das ações, assim como das relações de poder existentes no âmbito das sociedades anônimas.

É intuitiva a noção de que o acionista é o titular de ações de emissão de determinada sociedade. Da mesma forma, percebe-se que são do interesse

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 111

145 Sobre os diferentes perfi s dos acio-

nistas, afi rma Rubens Requião: “Com

efeito, em nosso mercado identifi ca-

mos exatamente, hoje em dia, essas

espécies de acionistas, classifi cados

conforme suas pretensões: o acionista-

rendeiro pretende das ações apenas

uma renda permanente, objetivando

em sua carteira acionária a constitui-

ção de um patrimônio rentável. [...] O

acionista-especulador mais se preo-

cupa com os pregões da bolsa, onde

pretende lucros imediatos, pouco se

importando em usufruir dividendos

ou direitos, pois visa apenas aos resul-

tados de sua especulação. O acionista-

empresário não se preocupa senão com

a prosperidade da empresa que lhe dá

poder e, sobretudo, infl uência social.

Este último é o gênio da empresa mo-

derna e pretende manter, a todo custo,

a posição de controle, vale dizer, de

domínio da companhia” (Curso de di-

reito comercial, v. 2. 23. ed. São Paulo:

Saraiva, 2003. p. 136).

146 É o caso, por exemplo, do art. 110, §

1º, e do art. 111, ambos da Lei das S.A.

147 José Edwaldo Tavares Borba. Direi-

to societário. 10. ed. Rio de Janeiro:

Renovar, 2007. p. 347. No entanto, as

ações preferenciais sem direito a voto

adquirem o exercício desse direito se a

companhia deixar de pagar aos seus ti-

tulares os dividendos fi xos ou mínimos

no prazo previsto no estatuto, não su-

perior a 3 (três) exercícios consecutivos,

consoante previsto no art. 111, § 1º, da

Lei das S.A.

148 O artigo 107 da Lei das S.A. es-

tabelece que, “verifi cada a mora do

acionista, a companhia pode, à sua

escolha: I - promover contra o acionista,

e os que com ele forem solidariamente

responsáveis (artigo 108), processo de

execução para cobrar as importâncias

devidas, servindo o boletim de subscri-

ção e o aviso de chamada como título

extrajudicial nos termos do Código de

Processo Civil; ou II - mandar vender as

ações em bolsa de valores, por conta e

risco do acionista”.

do acionista — em diferentes gradações, de acordo com seu perfi l145 — o desenvolvimento e a prosperidade da companhia, podendo ser esta um ins-trumento de renda permanente, de lucros imediatos ou, então, de poder e infl uência social.

Ao passar a ser titular de participação acionária, o acionista passa a gozar de uma série de direitos, os quais podem se apresentar de forma essencial ou não-essencial, conforme sejam inerentes à condição de titular de participação acionária ou não.

Os direitos essenciais dos acionistas não podem ser afastados nem pelo estatuto nem pela assembléia geral. Conforme dispõe o artigo 109 da Lei das S.A., os direitos essenciais dos acionistas são: (i) participar dos lucros sociais; (ii) participar do acervo da companhia, em caso de liquidação; (iii) fi scalizar a gestão dos negócios sociais; (iv) ter preferência para a subscrição de ações, partes benefi ciárias conversíveis em ações, debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição; e (v) retirar-se da sociedade nos casos previstos em lei.

Nesse contexto, percebe-se que o direito de voto dos acionistas nas assem-bléias gerais da companhia não é considerado um direito essencial, uma vez que a lei faculta, em certos casos, a possibilidade de o estatuto restringi-lo146. Tal fato se realça com o fortalecimento do fenômeno de dispersão acionária, em que o acionista, cada vez mais preocupado com a renda de suas ações, perde o interesse nos processos decisórios da companhia.

Sobre a limitação do direito de voto nas deliberações sociais de uma com-panhia, José Edwaldo Tavares Borba afi rma:

“No silêncio do estatuto, todas as ações terão direito de voto, inclusive as preferenciais. Permite-se, no entanto (art. 111), que o estatuto retire às ações preferenciais, ou a uma classe destas, o direito de voto, ou ainda que, embora admitindo-o, faça-o com restrições, estabelecendo matérias ou situações em que essas ações não votarão”147.

Ocorre que a propriedade das ações não assegura apenas direitos aos acio-nistas. Com efeito, todos os titulares de ações de emissão de uma companhia possuem diversas e relevantes obrigações.

Entre as obrigações dos acionistas estipuladas em lei ou no estatuto social, destaca-se aquela referente à integralização das próprias ações. De acordo com o artigo 106 da Lei das S.A., “o acionista é obrigado a realizar, nas condições previstas no estatuto ou no boletim de subscrição, a prestação corresponden-te às ações subscritas ou adquiridas”.

O acionista que não cumprir com tais obrigações fi nanceiras fi ca constitu-ído em mora, de pleno direito, sujeitando-se ao pagamento de juros, correção monetária e da multa que o estatuto determinar, além das sanções previstas em lei148.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 112

149 “Art. 115. O acionista deve exercer o

direito a voto no interesse da compa-

nhia; considerar-se-á abusivo o voto

exercido com o fi m de causar dano

à companhia ou a outros acionistas,

ou de obter, para si ou para outrem,

vantagem a que não faz jus e de que

resulte, ou possa resultar, prejuízo para

a companhia ou para outros acionistas.

§ 1º O acionista não poderá votar

nas deliberações da assembléia geral

relativas ao laudo de avaliação de

bens com que concorrer para a forma-

ção do capital social e à aprovação de

suas contas como administrador, nem

em quaisquer outras que puderem

benefi ciá-lo de modo particular, ou em

que tiver interesse confl itante com o da

companhia.

§ 2º Se todos os subscritores forem

condôminos de bem com que concorre-

ram para a formação do capital social,

poderão aprovar o laudo, sem prejuízo

da responsabilidade de que trata o § 6o

do art. 8º.

§ 3º O acionista responde pelos da-

nos causados pelo exercício abusivo do

direito de voto, ainda que seu voto não

haja prevalecido.

§ 4º A deliberação tomada em de-

corrência do voto de acionista que tem

interesse confl itante com o da compa-

nhia é anulável; o acionista responderá

pelos danos causados e será obrigado a

transferir para a companhia as vanta-

gens que tiver auferido”.

150 A esse respeito, além das disposições

da Lei das S.A., cabe ressaltar o disposto

(i) no art. 2º, parágrafo único, da Con-

solidação das Leis do Trabalho (Decre-

to-lei nº 5.452/1943); (ii) no art. 28, §

2º, do Código de Defesa do Consumidor

(Lei nº 8.078/199); e (iii) no art. 13,

parágrafo único, da Lei nº 8.620/1993.

151 Conforme aponta, por todos, Fran

Martins (Comentários à lei das socieda-

des anônimas, v. 2, t. I. Rio de Janeiro:

Forense, 1978. p. 87).

152 Criticando o referido dispositivo

legal, afi rma Ricardo Ferreira de Ma-

cedo: “Todavia, os parâmetros fáticos

eleitos pelo legislador podem ou não

conduzir o operador do direito ao fato

que se pretendeu disciplinar, o fato do

controle, cabendo ao intérprete, as-

sim, reconhecer a insufi ciência desses

parâmetros, quando essa insufi ciência

sobrevier. Os elementos identifi cados

pelo legislador de 1976 como supos-

tamente determinantes do efeito fático

controle podem, em confronto com

outros fatos, não conduzir a esse efeito,

tornando-se irrelevantes à sua identi-

fi cação. Dessarte, é imperativo que se

reconheça que o substrato das normas

de balizamento do controle não está

situado nos fatos que dão ensejo à sua

confi guração (sejam os fatos pressu-

postos pelo legislador, sejam quaisquer

outros), mas, sim, no controle en-

Adicionalmente, os acionistas têm o dever de exercer o direito de voto no interesse da companhia, consoante estabelece o artigo 115 da Lei das S.A.149

Acionista controlador

Além das obrigações que vinculam, de forma indiscriminada, todos os acionistas da companhia, o legislador estabeleceu — uma vez que são preci-samente os detentores do poder de controle que possuem os mais efi cientes meios e mecanismos legais para dirigir os rumos das atividades das sociedades — certos deveres dirigidos especifi camente ao acionista controlador.

Note-se, assim, que a defi nição do acionista controlador não é posta por razões meramente teóricas ou por preciosismos formais, conduzindo, em ver-dade, a relevantes conseqüências práticas. De fato, a conceituação de deter-minada pessoa como controlador de uma sociedade acarreta um sem-número de deveres e responsabilidades, gerando, por conseguinte, a incidência de diversas normas jurídicas150.

Ao contrário de outros sistemas legislativos151, a Lei das S.A. inovou ao introduzir uma defi nição de acionista controlador, nos seguintes termos:

“Art. 116 Entende-se por acionista controlador a pessoa, natural ou jurídica, ou o grupo de pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle comum, que:

a) é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos nas deliberações da assembléia-geral e o poder de eleger a maioria dos administradores da companhia; e

b) usa efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos órgãos da companhia”.

Apesar do mérito de introduzir a questão, a disposição legal acima trans-crita tem merecido críticas de notável corrente doutrinária. Com efeito, uma interpretação literal da previsão legal — na qual ambos os requisitos aponta-dos nas alíneas do artigo 116 seriam imprescindíveis para a caracterização de determinada pessoa como controlador — restringiria ao extremo o conceito de controle, ocasionando a diminuição do raio de incidência de normas diri-gidas ao exercício do poder de controle.

Fora algumas críticas pontuais, expõe-se o ponto crucial no reconheci-mento de que o controle é um fenômeno fático e, por tal razão, não pode ser verifi cado de forma apriorística152. Ao contrário, deve ser aferido casuistica-mente, de acordo com os elementos dados na realidade fática.

Cumpre observar que, diante da possibilidade de se emitir ações sem di-reito a voto até o limite de 50% (cinqüenta por cento) do total das ações emitidas por uma companhia153, verifi ca-se a desvinculação entre a quantida-

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 113

quanto efeito, i.e., na possibilidade de

imposição da vontade de um sujeito na

condução de uma empresa” (Controle

não societário. Rio de Janeiro: Renovar,

2004. p. 177).

153 Art. 15, § 2º, da Lei das S.A.

154 Consoante assevera Rubens Requião:

“Hoje, na sociedade moderna, nem

todos os acionistas têm direito a voto,

e o conceito de ‘maioria’ se refere ao

volume das ações com voto. Como a

imensa maioria dos acionistas detém

ações sem voto [...] bem de ver que a

maioria absoluta da sociedade não tem

acesso, sequer, às disputas do controle”.

(Curso de direito comercial, v. 2. 23. ed.

São Paulo: Saraiva, 2003. p. 137).

155 COMPARATO, Fábio Konder. O poder

de controle na sociedade anônima. 4.

ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 60.

156 BERLE, Adolf A.; MEANS, Gardiner

C. A moderna sociedade anônima e a

propriedade privada. São Paulo: Abril

Cultural, 1984.

157 Acerca do controle externo, José

Edwaldo Tavares Borba afi rma: “O con-

trole externo caberia a entidades es-

tranhas ao capital social, basicamente

credores da sociedade ou dos acionistas

com o poder de infl uir em certas delibe-

rações da sociedade” (Direito societário.

10. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2007.

p. 335).

158 O tema é amplamente desenvolvido

na famosa obra de Fábio Konder Com-

parato (O poder de controle da sociedade

anônima. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense,

2005. pp. 51 e seguintes).

159 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito

comercial, v. 2. 6. ed. São Paulo: Saraiva,

2003. p. 276.

de de ações detidas por um acionista e o exercício do poder de controle em determinada companhia154.

Com efeito, considerando que, em regra, o poder de controle é exercido a partir das ações com direito a voto, pode-se entender que, em tese, não há necessária identifi cação entre o acionista controlador e o detentor de partici-pação superior à metade do capital social de uma sociedade.

Por exemplo, em uma companhia na qual 50% das ações emitidas são preferenciais sem direito de voto, o acionista ABC — detentor de ações or-dinárias representativas de 25,00001% do capital social total da sociedade anônima — será, em regra, o acionista controlador, apesar de 74,99999% das ações serem de propriedade de outros acionistas.

Isso porque se adota, nas sociedades anônimas, o princípio majoritário como o critério mais democrático para a coexistência de interesses diver-gentes na condução dos negócios sociais. Sobre a adoção de tal princípio no âmbito das sociedades anônimas, vale mencionar a lição de Fábio Konder Comparato:

“(...) efetivamente, companhias há que contam com centenas de milhares de acionistas. Nessas condições, seria totalmente desarrazoado aceitar a regra contratual do consentimento unânime, nas deliberações sociais. Em todas as le-gislações, estabeleceu-se o princípio majoritário, notadamente em matéria de so-ciedade por ações. Mas por que a maioria deve comandar? Parte-se, sem dúvida, do postulado de que a sociedade existe no interesse dos sócios, e como ninguém, em princípio, está investido da prerrogativa de decidir pelos interesses alheios, prevalece sempre a vontade do maior número, julgando cada qual segundo o seu próprio interesse”155.

Baseada na clássica lição de Adolf Berle e Gardiner Means156 — a qual se ampara na referida idéia de separação entre propriedade de ações e controle —, a doutrina costuma apontar que o controle pode ser exercido de forma externa — na qual o exercício se dá por mecanismos diversos da propriedade de valores mobiliários, o qual pode até concomitantemente se verifi car157 — ou interna, decorrente, direta ou indiretamente, da participação societária, subdividida em controle totalitário, majoritário, minoritário (também deno-minado majoritário eventual) ou gerencial158.

Em breve resumo, o controle totalitário caracteriza-se pela concentração da quase totalidade das ações com direito a voto na propriedade de uma úni-ca pessoa, física ou jurídica159. Já o controle majoritário é exercido por quem é titular de mais da metade das ações com direito a voto, seja isoladamente ou em conjunto (como ocorre, por exemplo, na hipótese de celebração de um acordo de acionistas que regule o exercício do direito de voto ou do poder de controle, conforme será analisado a seguir).

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 114

160 A Lei das S.A. estabelece, em seu

art. 116, o princípio da função social

da empresa. Em resumo, tal princípio

consagra o entendimento de que, além

de atender aos objetivos dos acionistas,

o acionista controlador deve se preocu-

par também em dirigir a companhia

para a realização dos interesses dos

empregados e da comunidade em que

atua. Note-se que o princípio da fun-

ção social da empresa é um dos que

conduzem os códigos de Governança

Corporativa. A esse respeito, Jorge Lobo

defi ne governança corporativa como “o

conjunto de normas, consuetudinárias

e escritas, de cunho jurídico e ético, que

regulam os deveres de cuidado, diligên-

cia, lealdade, informação e não intervir

em qualquer operação em que tiver

interesse confl itante com o da compa-

nhia, e respectivas responsabilidades, e

que disciplinam o exercício das funções,

atribuições e poderes dos membros

do conselho de administração, da di-

retoria executiva e do conselho fi scal

e dos auditores externos, em especial

de companhias de capital aberto, e o

relacionamento entre si e com a própria

sociedade, seus acionistas e o mercado

em geral” (artigo disponível em www.

migalhas.com.br).

161 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito

comercial, v. 2. 6. ed. São Paulo: Saraiva,

2003. p. 283.

162 “Art. 117. O acionista controlador

responde pelos danos causados por

atos praticados com abuso de poder. §

1º São modalidades de exercício abu-

sivo de poder: a) orientar a companhia

para fi m estranho ao objeto social ou

lesivo ao interesse nacional, ou levá-la

a favorecer outra sociedade, brasileira

ou estrangeira, em prejuízo da partici-

pação dos acionistas minoritários nos

lucros ou no acervo da companhia, ou

da economia nacional; b) promover a li-

quidação de companhia próspera, ou a

transformação, incorporação, fusão ou

cisão da companhia, com o fi m de ob-

ter, para si ou para outrem, vantagem

indevida, em prejuízo dos demais acio-

nistas, dos que trabalham na empresa

ou dos investidores em valores mobili-

ários emitidos pela companhia; c) pro-

mover alteração estatutária, emissão

de valores mobiliários ou adoção de po-

líticas ou decisões que não tenham por

fi m o interesse da companhia e visem

a causar prejuízo a acionistas minoritá-

rios, aos que trabalham na empresa ou

aos investidores em valores mobiliários

emitidos pela companhia; d) eleger ad-

ministrador ou fi scal que sabe inapto,

moral ou tecnicamente; e) induzir, ou

tentar induzir, administrador ou fi scal

a praticar ato ilegal, ou, descumprindo

seus deveres defi nidos nesta Lei e no

estatuto, promover, contra o interesse

da companhia, sua ratifi cação pela

assembléia-geral; f ) contratar com a

companhia, diretamente ou através de

Em geral, manifesta-se o controle minoritário, por sua vez, nas compa-nhias abertas em que há alta dispersão acionária, verifi cando-se o conseqüen-te absenteísmo dos acionistas nas assembléias. Em tais casos, determinado acionista — ou grupo de acionistas reunidos — representa a maioria nas as-sembléias, embora possa deter apenas parcela minoritária do capital votante da companhia.

Por fi m, a doutrina aponta o controle gerencial como uma modalidade de exercício do poder de controle. Apesar de bastante difundido em países com um desenvolvido mercado de capitais, o controle gerencial ainda não apre-senta relevância prática no Brasil. Tal forma de controle caracteriza-se por ser exercida por administradores que, através de procurações, se perpetuam na di-reção da sociedade, diante do elevado grau de dispersão das ações no mercado.

Expostas, em linhas gerais, as características e modalidades do poder de controle em uma sociedade anônima, faz-se necessário destacar algumas res-ponsabilidades inerentes ao papel do acionista controlador.

Conforme já aludido, a Lei das S.A. sujeita o acionista a um conjunto de direitos e obrigações. Do mesmo modo, ao acionista controlador é dispensado um tratamento legislativo mais rígido com o objetivo de se equilibrarem as re-lações de poder na companhia e imputarem responsabilidades ao controlador que não atuar em consonância com os interesses da sociedade, dos acionistas em geral, dos empregados ou da comunidade em que a companhia atua160.

Sobre a condição do controlador e seu exercício irregular, Fábio Ulhoa Coelho acentua:

“O acionista que controla a sociedade anônima usufrui de uma condição privilegiada relativamente aos demais. Como titular da maioria dos votos ma-nifestados em assembléia geral, ele escolhe os administradores, fi xa a remunera-ção destes, altera o estatuto em muitas partes (...). Essa condição privilegiada, e o seu completo desfrute, nada têm de irregular. Pelo contrário, são a legítima decorrência dos direitos que o controlador titulariza. (...) A lei, contudo, reco-nhecendo a importância de acionistas dos mais variados perfi s para o pleno de-senvolvimento da empresa, e preocupada com o equilíbrio das relações de poder no interior da companhia, imputa ao controlador responsabilidades por danos causados com abuso de poder”161.

Nessa linha, o parágrafo 1º do artigo 117 da Lei das S.A. enumera, de forma meramente exemplifi cativa, algumas hipóteses em que o acionista controlador responde pelos danos causados por atos praticados com abuso de poder162.

Ressalte-se, ainda, que a lei prevê outras normas de proteção à minoria, visando a resguardar o grupo minoritário de acionistas que não participa ati-vamente dos processos decisórios da companhia.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 115

outrem, ou de sociedade na qual tenha

interesse, em condições de favoreci-

mento ou não equitativas; g) aprovar

ou fazer aprovar contas irregulares de

administradores, por favorecimento

pessoal, ou deixar de apurar denúncia

que saiba ou devesse saber proceden-

te, ou que justifi que fundada suspeita

de irregularidade; h) subscrever ações,

para os fi ns do disposto no art. 170,

com a realização em bens estranhos ao

objeto social da companhia”.

163 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito

comercial, v. 2. 6. ed. São Paulo: Saraiva,

2003. p. 314.

164 “Art. 118. Os acordos de acionistas,

sobre a compra e venda de suas ações,

preferência para adquiri-las, exercí-

cio do direito a voto, ou do poder de

controle deverão ser observados pela

companhia quando arquivados na sua

sede”.

Assim, além dos direitos essenciais dos acionistas já mencionados, os acio-nistas minoritários contam com outros instrumentos de atuação, tais como: (i) poder de convocar a assembléia geral em algumas hipóteses; (ii) direito de requerer a instalação do conselho fi scal; (iii) prerrogativa de exigir a exibição integral dos livros da companhia; e (iv) direito ao dividendo obrigatório.

Acordos de acionistas

Por fi m, cumpre assinalar que as relações de poder entre os acionistas po-dem ser reguladas através de um acordo de acionistas cujo objetivo principal, em regra, é a estabilização das respectivas posições acionárias. A esse respeito, Fábio Ulhoa Coelho acrescenta:

“No Brasil, os acionistas interessados em estabilizar relações de poder no in-terior da companhia podem negociar obrigações recíprocas que garantam certa permanência nas posições. (...) Os acionistas que detêm juntos o controle da companhia podem contratar, por exemplo, que todos votarão em determinadas pessoas para os cargos da diretoria; ou que se reunirão, previamente à assembléia, para defi nir, por maioria, o voto que todos irão manifestar no conclave. Podem, por outro lado, contratar que ninguém alienará suas ações a determinados in-vestidores, para evitar o fortalecimento de outras posições acionárias; ou que concederão uns aos outros direito de preferência, em igualdade de condições, se decidirem alienar suas participações”163.

Desta forma, os acionistas, nos termos do artigo 118 da Lei das S.A., podem regular entre si a compra e venda de ações e o exercício do direito de voto ou do poder de controle da companhia164.

C) TEXTOS DE APOIO

“Justiça impede voto do Previ e do BNDES em assembléia da Telemar

Decisão toma como base o artigo da Lei das S/A, que trata do abuso do direito de voto e confl ito de interesses.

Agência Estado. O Tribunal de Justiça do Rio concedeu nesta quinta-feira (23/11) liminar que impede o voto do Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) e do Banco Nacional de Desenvolvimen-to Econômico e Social (BNDES), que participam do bloco de controle da Telemar, nas assembléias de acionistas que vão decidir a reestruturação do grupo, marcadas para hoje e segunda-feira (27/11). A decisão toma como

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FGV DIREITO RIO 116

base o artigo 115 da Lei das S/A, que trata do abuso do direito de voto e confl ito de interesses.

No dia 7 de novembro, o fundo Polo Norte, da gestora de recursos Polo Capital, entrou com uma ação contra a Telemar alegando abuso de poder do controlador, por causa da grande diferença de preços entre as ações ordinárias e preferenciais da empresa embutida na reestruturação societária. Em linhas ge-rais, o objetivo das mudanças é simplifi car a estrutura acionária da Telemar, hoje formada por três empresas e seis diferentes classes de ação, que fi cariam juntas numa única empresa. Para fazer a troca, os controladores estipularam uma co-tação para cada tipo de papel que provocou reação irritada dos minoritários”.

(Exame Online, Daniela Milanese, 24.11.2006)

“CVM pune ex-presidente da Caemi por empréstimo à ValeO diretor de assuntos corporativos da Vale do Rio Doce, Tito Martins, foi

multado em R$ 500 mil por unanimidade pelo colegiado da CVM por não ter divulgado fato relevante, na época em que era presidente da Caemi, sobre dois empréstimos no valor total de US$ 400 milhões feitos no segundo se-mestre de 2005 para a subsidiária da Vale, a Itabira Doce Company Limited (Itaco), em 2005, quando a Vale controlava a Caemi. O julgamento destaca a relação entre controladoras e controladas, nos contratos de mútuos, que na avaliação do presidente da CVM, Marcelo Trindade, não há porque não serem divulgados para o mercado, na medida em que mesmo um controla-dor com rating muito bom não é garantia sufi ciente de que vá pagar a sua controlada. O advogado da Vale, Luiz Leonardo Cantidiano, vai recorrer ao Conselho do Sistema Financeiro.

Os dois empréstimos — um de US$ 230 milhões e outro de US$ 170 mi-lhões — representam juntos 38% do patrimônio líquido da Caemi e 81% do caixa da empresa, o que foi considerado pelo relator do processo, Pedro Mar-cílio, de alta signifi cância, principalmente pelos valores estarem concentrados num único devedor. Ele baseou seu relatório, que culminou com a multa, na reação fortemente negativa de analistas de mercado mobiliário após terem conhecimento do primeiro empréstimo por meio de nota explicativa no ba-lanço da Vale do terceiro trimestre de 2005. Na ocasião, analistas rebaixaram a recomendação das ações preferenciais da Caemi.

“Não havia qualquer motivo para não se considerar o segundo emprés-timo como Fato Relevante”, disse o relator. Ele considerou “especialmente grave e injustifi cável”, depois da repercussão do mercado à divulgação do pri-meiro empréstimo, a não divulgação do segundo. A seu ver, não havia “espa-ço para qualquer dúvida” de que o segundo empréstimo era “fato relevante”. O relatório frisa que, junto com o primeiro empréstimo, o segundo poderia ter impacto ainda maior em decisões de investidores.

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FGV DIREITO RIO 117

O presidente da CVM, Marcelo Trindade, ao endossar o voto do relator, também afi rmou não ter visto razão de interesse das empresas para não tor-nar pública a informação. Na sua avaliação, o fato preponderante e que está presente no processo, é “por que apenas um acionista, no caso o controlador, pode saber o que está acontecendo e os demais não podem saber?”

Trindade não considera comum na vida de qualquer companhia destinar 80% de seu caixa a um único devedor. Para Trindade, ao contrário do que argumentou o advogado Luiz Cantidiano, de que retirada de caixa não é Fato Relevante, provavelmente, quando estamos na rotina, isto seja verdade. “Mas, neste caso, comprometendo 80% do caixa, não é um fato comum”. Ele disse que qualquer administrador de empresa deve levar em conta a “po-tência de impacto de mercado” sobre fatos das empresas, e não confi ar só no discernimento.

Cantidiano considerou a decisão “equivocada”. Para ele, não há regra clara sobre o tipo de divulgação de negócios entre partes relacionadas. Argumenta que se a CVM acha que notas explicativas não são sufi cientes, devia determi-nar que todo negócio desse tipo que represente mais de “tanto por cento” do PL e do caixa deve ser objeto de Fato Relevante”.

(Valor Online, Vera Saavedra Durão, 18.01.2007)

D) JURISPRUDÊNCIA

“DIREITO COMERCIAL. SOCIEDADE ANÔNIMA. ACIONISTA CONTROLADOR. Em tese, é suscetível de confi gurar a situação de acio-nista controlador a existência de grupo de pessoas vinculadas sob controle co-mum, bastando que um ou alguns de seus integrantes detenham a titularidade dos direitos de sócio de tal ordem que garanta ao grupo a supremacia nas deli-berações da assembléia geral e o poder de eleger a maioria dos administradores da companhia. Questão de fato a ser deslindada na oportunidade da prolação da sentença. Alegação de negativa de vigência dos arts. 116 e 118 da Lei das Sociedades Anônimas e do art. 3. do C.P.C. repelida. Recursos Especiais não conhecidos” (STJ, 4ª Turma, REsp 784/RJ, Rel. Min. Barros Monteiro, j. 24.10.1989, v.u., DJ 20.11.1989, p. 17.296 e RSTJ, v. 6, p. 422).

“SOCIEDADE ANÔNIMA. ACORDO DE ACIONISTAS. RESOLU-ÇÃO COM BASE NA QUEBRA DA AFFECTIO SOCIETATIS E DO DEVER DE LEALDADE E COOPERAÇÃO ENTRE OS CONVENEN-TES. POSSIBILIDADE JURÍDICA. INCIDÊNCIA DOS ENUNCIA-DOS NOS 5 e 7 DA SÚMULA/STJ QUANTO À ILEGITIMIDADE ATIVA DA RECORRIDA. INOCORRÊNCIA DE DECISÃO EXTRA PETITA. MATÉRIA NÃO DEBATIDA NA APELAÇÃO. ACÓRDÃO

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FGV DIREITO RIO 118

QUE NÃO PADECE DE FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO. RECURSO NÃO CONHECIDO.

I — Admissível a resolução do acordo de acionistas por inadimplemento das partes, ou de inexecução em geral, bem como pela quebra da aff ectio societatis, com suporte na teoria geral das obrigações, não constituindo impe-dimento para tal pretensão a possibilidade de execução específi ca das obriga-ções constantes do acordo, prevista no art. 118, § 3º da Lei 6.404/76.

II — Estando a questão da ilegitimidade ativa da autora do pedido de resolução contratual fundamentada na falta de cumprimento de cláusulas do acordo quanto à anuência dos demais convenentes, que o acórdão recorrido tem por expressamente manifestada nos documentos que analisou, não é vi-ável o seu reexame em sede de Recurso Especial com a incidência dos enun-ciados nos 5 e 7 da súmula deste Tribunal.

III — Contendo a inicial pedido de resolução do acordo de acionistas e de seus aditivos e constando do dispositivo da sentença que é julgado proceden-te esse pedido, ‘tendo por resolvidos o acordo de acionistas consubstanciado no instrumento original de fl s. 14 e seus aditivos’, não há que argumentar-se com nulidade da decisão por ser extra petita. Questão sobre a qual, ade-mais operou-se a preclusão, uma vez não agitada nas razões da apelação. (...)” (STJ, 4ª Turma, REsp 388423/RS, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 13.05.2003, v.u., DJ 04.08.2003, p. 308).

“DIREITO SOCIETÁRIO. ACORDO DE ACIONISTAS. [...] Acordo de acionistas sujeito a condição suspensiva. Sua validade. Obrigatoriedade de averbação pela companhia, que não pode exercer juízo de valor quanto ao seu conteúdo. O fato de alguns convenentes serem acionistas indiretos mas sob condição resolutiva, qual seja, de desconstituição da controladora, implemento da condição, que os tomarão diretos, perdendo aquele status e ganhando outro, não impede o seu arquivamento. Prática de ato judi-cial de conservação, visando o conhecimento de terceiros, que não poderão alegar o desconhecimento do referido acordo (art. 130 do Código Civil). Preliminar de nulidade repelida, Recurso desprovido” (TJRJ, 18ª CC, AC 2004.001.05257, Rel. Des. Carlos Eduardo Passos, j. 06.04.2004).

“AÇÃO CAUTELAR. DECISÃO QUE DEFERE PARCIALMENTE LI-MINAR PARA REVIGORAR ACORDO DE ACIONISTAS JÁ RESILI-DO PELO DECURSO DO TEMPO. ALEGAÇÃO DE VÍCIO DE VON-TADE. CASSAÇÃO DA LIMINAR. AGRAVO REGIMENTAL. Não pode o Judiciário, sem relevante razão de direito, e prova de prejuízo irrecuperável, ou de difícil reparação, intervir em acordo de acionistas, revigorando o já resilido ou estabelecendo regras, pena de ofensa a princÍpio constitucional consubstanciado nos artigos 5º, caput e inciso XXII, da Carta Magna de 88.

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FGV DIREITO RIO 119

Improvimento do primeiro e provimento parcial do segundo agravo, fi cando prejudicado o agravo regimental” (TJRJ, 9ª CC, AI 2000.002.09024, Rel. Des. Jorge Magalhães, j. 12.09.2000).

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO QUE, EM DISSOLU-ÇÃO DE SOCIEDADE ANÔNIMA FECHADA, ANTECIPA TUTELA, CONTRARIANDO ACORDO DE ACIONISTA.

1. Os acordos de acionistas, sobretudo quanto ao sagrado direito de voto, deverão ser observados pela companhia, quando arquivados em sua sede (art. 118, da Lei 6.404/76);

2. Não pode validamente o magistrado, em concessão de tutela antecipada, pena de abuso de poder, autorizar o contrário do que resulta do acordo, sob o fundamento de objetivar mais uma oportunidade extrajudicial, de se compo-rem os acionistas. Agravo provido” (TJRJ, 9ª CC, AI 1998.002.06291, Rel. Des. Jorge Magalhães, j. 13.10.1998).

“CONTRATO. ACORDO DE ACIONISTAS. INTERPRETAÇÃO DE ACORDO. DESCUMPRIMENTO. Contrato. Interpretação. Acordo de acionistas. Intenção das partes contratantes. Regras de hermenêutica contra-tual. Segundo os critérios da hermenêutica contratual, segundo a Lei Civil, bem como a Lei Comercial, nas convenções, deve-se indagar, de preferência, qual foi a vontade comum das partes contratantes, em vez de prender-se ao sentido literal das expressões contratadas, considerando-se as manifestações volitivas do ato, mediante análise lógica e razoável. [...] Recursos improvidos” (TJRJ, 6ª CC, AC 1997.001.02467, Rel. Des. Luiz Zveiter, j. 10.06.1997, v.u.).

“SOCIEDADE ANÔNIMA.I — Sociedades de capital aberto do ‘Grupo Real’. Ação ajuizada por acio-

nistas e substitutos processuais das empresas do conglomerado, objetivando a indenização da diferença entre honorários, participações e verbas de repre-sentação efetivamente recebidas, pelo administrador e controlador das com-panhias e a importância que deveria ter recebido, considerando-se o valor do mercado.

II — Improcedência da ação em grau de embargos infringentes para resta-belecer-se a sentença de 1. grau que considerara desnecessária a produção de provas oral e pericial, ante os elementos já constantes dos autos.

III — Recurso extraordinário que vislumbra ofensa aos artigos 117, pará-grafo 1º, alíneas ‘c’ e ‘f ’, e 152 das Leis das Sociedades Anônimas e 130, 332 e 333, inciso I, do C.P.C., além de divergência jurisprudencial, propugnando pela produção das provas oportunamente requeridas.

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FGV DIREITO RIO 120

IV — Insubsistência da prejudicial de coisa julgada suscitada pelos recor-ridos. o pedido formulado no recurso extremo é, precisamente, o da anulação da sentença, em face do julgamento antecipado da lide.

V — Provas requeridas desnecessárias para os efeitos pretendidos, por-quanto visam não a infi rmar a política lesiva aos interesses das companhias, mas sim a demonstrar as disparidades das remunerações individuais dos dire-tores. Falta de legitimidade dos recorrentes para postularem em juízo quanto a estes.

VI — Inexistência de violação dos dispositivos legais apontados e falta de comprovação do dissídio jurisprudencial (art. 322 do RISTF). RE não co-nhecido pelas alíneas ‘a’ e ‘d’ do permissivo constitucional” (STF, 2ª Turma, RE 108650, Rel. Min. Célio Borja, j. 21.08.1987, v.u., DJ 25.09.1987, p. 20.415).

“SOCIEDADE COMERCIAL. ANÔNIMA. Anulação de deliberação para aumento de capital. Ação movida por acionistas minoritários, questionando a legalidade dos critérios adotados pela administração da sociedade. Impos-sibilidade. Falta de legítimo interesse processual. Ausência de comprovação de abuso ou desvio de poder da controladora e de dolo, culpa, ou, ainda, intuito de prejudicar a minoria da administradora. Pedido de indenização bem rejeitado. Cerceamento de prova inocorrente. Embargos infringentes desacolhidos” (TJSP, 2ª CDPri, EI 83.319-4/1-02, Rel. Des. J. Roberto Be-dran, j. 26.09.2000).

E) QUESTÕES DE CONCURSO

(21º Exame de Ordem OAB-RJ)3 — Pode-se dizer que o direito de voto seja um dos direitos essenciais do

acionista?

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FGV DIREITO RIO 121

AULAS 17 E 18: SOCIEDADES COLIGADAS, CONTROLADORAS E CONTROLADAS. RESPONSABILIDADE. GRUPOS DE SOCIEDADES. SUBSIDIÁRIA INTEGRAL.

A) MATERIAL DE LEITURA

Leitura básica

REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial, v. 2. São Paulo: Saraiva, 2003. pp. 267-278.

Leitura complementar

WALD, Arnoldo. Caracterização do grupo econômico de fato e suas conse-qüências quanto à remuneração dos dirigentes de suas diversas socieda-des componentes. Revista do Direito Bancário e do Mercado de Capitais, n. 25, jul.-set. 2004, pp. 145-161.

B) ROTEIRO DE AULA

1. Sociedades coligadas, controladores e controladas: conceitos e noções gerais

O movimento de concentração do capital já era observado na segunda metade do século XIX, na forma de trustes e cartéis. Entretanto, é apenas a partir da II Guerra Mundial, com a economia capitalista moderna, que ob-servamos a concentração empresarial e a formação dos grupos econômicos, movidos pela racionalização da produção, ou seja, aumento da produtividade e redução dos custos.

Com o mundo em acelerada transformação e progresso e multinacionais com receitas superiores a orçamentos de vários Estados, é natural que tam-bém tenha havido, ao logo do tempo, mudanças na estrutura das sociedades anônimas de modo a se adequarem às novas necessidades.

Um dos fenômenos societários de maior relevância para o desenvolvimen-to econômico e para o incremento da qualidade da administração societária é a coligação entre companhias, isto é, a agregação de empresas em torno de um ou vários objetos sociais.

De acordo com Fábio Konder Comparato:

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FGV DIREITO RIO 122

165 COMPARATO, Fábio Konder. O poder

de controle na sociedade anônima. 3.

ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983. pp.

355-356.

166 EIZIRIK, Nelson. Conselho Fiscal.

Composição. Impedimentos. Interpre-

tação do parágrafo 2º do art. 162 da lei

das sociedades anônimas. In: Temas de

direito societário. Rio de Janeiro: Reno-

var, 2005. p. 39.

“[...] não há negar (...) que os grupos econômicos foram criados exatamente para racionalizar a exploração empresarial, harmonizando e mesmo unifi cando as atividades das várias empresas que os compõem. É graças a essa racionalização administrativa que o lucro marginal é elevado, com baixa do custo unitário de produção. Eles propiciam a criação de ‘economias internas de escala’, já assinala-das pelos economistas desde fi ns do século XIX. Todos os sistemas econômicos, qualquer que seja o regime político que os acompanha, tendem a esse mesmo objetivo de agrupamento e coordenação empresarial. A empresa isolada é, atual-mente, uma realidade condenada, em todos os setores, máxime naqueles em que o progresso está intimamente ligado à pesquisa tecnológica.”165

Este fenômeno da associação empresarial deve-se, como ressaltado acima, à diminuição de custos e ao aumento da qualidade gerencial, permitindo uma maior competitividade.

A participação societária — seja ela por coligação ou por controle — re-fl ete a interdependência entre os entes. Enquanto no primeiro tipo há uma relação horizontal entre as partes, sem vínculos de sujeição de uma à outra sociedade, no outro a relação é vertical, uma se sujeitando à dominação da outra, a qual exerce o poder de direção das atividades sociais.

Esta distinção é observada nos parágrafos 1º e 2º do artigo 243, da Lei das S.A.

Com efeito, sociedade coligada — também denominada de fi liada — é a sociedade de cujo capital participa outra sociedade com 10% ou mais desse capital, mas sem que, no entanto, haja por parte desta o controle daquela.

Já a sociedade controlada é aquela de cujo capital participe outra socieda-de, detendo esta a maioria dos votos nas deliberações das assembléias, além do poder de eleger a maioria dos administradores. Pode ser também conside-rada controlada a sociedade cujo controle se encontre em poder de outra por meio de ações possuídas por sociedade ou sociedades por esta já controlada.

Na esteira do já aludido conceito legal de controle, a sociedade controla-dora é, portanto, aquela que é “titular dos direitos de sócio que lhe assegu-rem, de modo permanente, preponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores da controlada”.166

2. Holdings

As holdings são sociedades — que podem se constituir sob a forma de qualquer dos tipos societários existentes — as quais possuem, como ativida-de principal, a participação acionária majoritária em uma ou mais empresas. Podem ser também conceituadas como holdings as sociedades que possuem a maioria das ações de emissão de outras sociedades e que detêm o controle de

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FGV DIREITO RIO 123

167 BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito

societário. 10. ed. Rio de Janeiro: Reno-

var, 2007. p. 55.

168 PEDREIRA, José Luiz Bulhões. Acor-

do de acionistas sobre controle de

grupo de sociedades. Revista de Direito

Bancário, do Mercado de Capitais e da

Arbitragem, 15/226, São Paulo, 2002.

Apud WALD, Arnold. Caracterização do

grupo econômico de fato e suas con-

seqüências quanto à remuneração dos

dirigentes de suas diversas sociedades

componentes. Revista do Direito Bancá-

rio e do Mercado de Capitais, n. 25, Ano

7, jul.-set. 1994, Revista dos Tribunais,

p. 148.

169 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito

comercial, v. 2. São Paulo: Saraiva,

2004. p. 245.

sua administração e políticas empresariais. A respeito do tema, José Edwaldo Tavares Borba:

“Existem sociedades que não têm nenhuma outra atividade que não seja a de controlar sociedades, sendo por isso chamadas holdings puras. Outras, além das atividades de controle, desenvolvem operações de natureza diversa (comerciais, industriais, fi nanceiras), recebendo a designação de holdings mistas ou operati-vas.”167

4. Grupo de sociedades, grupo de fato e grupo de direito: distinções e conseqüências práticas

As sociedades mudam, seguindo a tendência da evolução do capitalismo global. Cada vez mais, observa-se uma aglomeração societária, forma de orga-nização que retrata o desafi o da atual conjuntura: aumentar a produtividade e lucratividade ao mesmo tempo em que os riscos e custos devem ser reduzidos.

Nestes grupos, as sociedades seguem relação de subordinação ou coorde-nação, podendo ser, respectivamente, do tipo controlada ou coligada, confor-me visto acima. A este respeito, pondera Bulhões Pedreira:

“A vinculação de duas ou mais sociedades por relações de participação dá origem a uma estrutura de sociedades, e quando essa estrutura é hierarquizada (ou seja, uma sociedade tem o poder de controlar as outras), é designada ‘grupo de sociedades’, que pode ser ‘de fato’ (baseado apenas nas relações de participa-ção societária e de controle) ou ‘de direito’ (se, além disso, é regulado por uma convenção de grupo acordada entre sociedades).”168

Os grupos de sociedades podem ser classifi cados em grupos de fato e gru-pos de direito.

São grupos de fato as sociedades que mantêm entre si participação acio-nária recíproca, sem que haja a necessidade de se organizarem juridicamen-te. De acordo com Rubens Requião, estes grupos “relacionam-se segundo o regime legal de sociedades isoladas, sob forma de coligadas, controladoras e controladas, no sentido de não terem necessidade de maior estrutura organi-zacional”169.

Já os grupos de direito — regulados nos artigos 265 e seguintes da Lei das S.A. — requerem uma organização jurídica, determinada por meio de uma convenção celebrada entre a sociedade controladora e suas controladas, pela qual se obrigam a conjugar recursos e/ou esforços para a realização dos seus

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FGV DIREITO RIO 124

170 EIZIRIK, Nelson. Op. cit., p. 39.

171 “Art. 252. A incorporação de todas

as ações do capital social ao patrimô-

nio de outra companhia brasileira,

para convertê-la em subsidiária inte-

gral, será submetida à deliberação da

assembléia-geral das duas companhias

mediante protocolo e justifi cação, nos

termos dos artigos 224 e 225.

§ 1º A assembléia-geral da compa-

nhia incorporadora, se aprovar a ope-

ração, deverá autorizar o aumento do

capital, a ser realizado com as ações a

serem incorporadas e nomear os peri-

tos que as avaliarão; os acionistas não

terão direito de preferência para subs-

crever o aumento de capital, mas os

dissidentes poderão retirar-se da com-

panhia, observado o disposto no art.

137, II, mediante o reembolso do valor

de suas ações, nos termos do art. 230.

§ 2º A assembléia-geral da com-

panhia cujas ações houverem de ser

incorporadas somente poderá aprovar

a operação pelo voto de metade, no mí-

nimo, das ações com direito a voto, e se

a aprovar, autorizará a diretoria a subs-

crever o aumento do capital da incorpo-

radora, por conta dos seus acionistas; os

dissidentes da deliberação terão direito

de retirar-se da companhia, observado

o disposto no art. 137, II, mediante o

reembolso do valor de suas ações, nos

termos do art. 230.

§ 3º Aprovado o laudo de avaliação

pela assembléia-geral da incorpora-

dora, efetivar-se-á a incorporação e os

titulares das ações incorporadas rece-

berão diretamente da incorporadora as

ações que lhes couberem”.

respectivos objetos sociais, ou para participação em atividades ou empreen-dimentos comuns.

A sociedade controladora do grupo, também denominada de sociedade de comando, deve ser brasileira e exercer, direta ou indiretamente e de modo permanente, o controle das sociedades fi liadas, como titular de direitos de sócio ou acionista, ou mediante acordo com outros sócios ou acionistas.

Entretanto, é da natureza do grupo de sociedades a independência das personalidades jurídicas de seus componentes, conservando assim patrimô-nios distintos.

A respeito do grupo de sociedade propriamente dito, assinala Nelson Ei-zirik:

“(...) somente no grupo de direito existe a possibilidade de uma administra-ção centralizada de todo o grupo, o que retira a autonomia de gestão de cada um dos seus integrantes. Ademais, somente no grupo de direito existe a possibilidade de, uma vez previsto na convenção, ter uma das companhias preteridos seus interesses em favor de outra integrante do mesmo grupo.”170

6. Subsidiária integral

Como vimos em nossas aulas anteriores, em regra, as sociedades anônimas constituem-se com,no mínimo, 02 (dois) acionistas. Admite-se no entanto, a constituição, por escritura pública, de subsidiária integral que é uma socie-dade — anônima, por exigência legal — cujo capital pertence integralmente a outra sociedade.

Cumpre observar que a subsidiária integral apresenta-se como a única si-tuação, não patológica, em que se permite que a totalidade do capital social de uma sociedade pertença a um só acionista, o qual deverá ser necessaria-mente uma sociedade brasileira.

Além da referida constituição originária por escritura pública, a subsi-diária integral pode ser criada por meio da conversão de uma companhia mediante aquisição, por sociedade brasileira, de todas as suas ações, ou nos termos do artigo 252 da Lei das S.A.171

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FGV DIREITO RIO 125

D) TEXTO DE APOIO

Gafi sa cria imobiliária para vender suas próprias unidadesExpectativa é que a Gafi sa Vendas represente 50% dos negócios fechados

pela incorporadora até 2008.A incorporadora Gafi sa anunciou a criação de sua própria imobiliária,

a Gafi sa Vendas, uma subsidiária integral que nasce com investimentos de 1 milhão de reais, 50 consultores de vendas e quatro gerentes. A unidade começará a operar na próxima semana e sua atuação se concentrará sobre o estado de São Paulo.

De acordo com nota divulgada ao mercado nesta quarta-feira (27/9), a incorporadora continuará recorrendo a corretores de outras empresas para comercializar seus imóveis. O objetivo é que a Gafi sa Vendas e os corretores das demais imobiliárias concorram entre si para comercializar um mesmo lançamento. “Acreditamos com isso criar uma competição saudável entre os dois canais”, afi rma a empresa.

Esta não é a primeira vez que a Gafi sa entra no ramo imobiliário. Há al-guns anos, o departamento de vendas da incorporadora deu origem a duas empresas — a Patrimóvel, no Rio de Janeiro, e a Lopes, em São Paulo. Hoje, ambas não possuem nenhum vínculo com a companhia. A última experiên-cia foi a constituição de uma equipe de vendas no Rio, chamada de Américas. A equipe já responde por 30% da comercialização das unidades da Gafi sa no mercado carioca.

A Gafi sa Vendas atuará em três áreas: lançamentos imobiliários, venda de estoques (unidades remanescentes dos lançamentos) e consultoria online. De acordo com a empresa, cerca de 15% das vendas, no mercado paulistano, começam com contatos via internet. No início, a nova imobiliária deverá representar 25% das vendas paulistas, dobrando o percentual em dois anos. A Gafi sa não descarta expandir a atuação da subsidiária para outras regiões, caso a experiência seja bem-sucedida.

(Revista Exame, 27.09.2006)

E) JURISPRUDÊNCIA

“FALÊNCIA — EXTENSÃO DOS SEUS EFEITOS ÀS EMPRESAS COLIGADAS — TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONA-LIDADE JURÍDICA — POSSIBILIDADE — REQUERIMENTO — SÍNDICO — DESNECESSIDADE — AÇÃO AUTÔNOMA — PRE-CEDENTES DA SEGUNDA SEÇÃO DESTA CORTE.

I — O síndico da massa falida, respaldado pela Lei de Falências e pela Lei n.º 6.024/74, pode pedir ao juiz, com base na teoria da desconsideração da

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FGV DIREITO RIO 126

personalidade jurídica, que estenda os efeitos da falência às sociedades do mesmo grupo, sempre que houver evidências de sua utilização com abuso de direito, para fraudar a lei ou prejudicar terceiros.

II — A providência prescinde de ação autônoma. Verifi cados os pressu-postos e afastada a personifi cação societária, os terceiros alcançados poderão interpor, perante o juízo falimentar, todos os recursos cabíveis na defesa de seus direitos e interesses. Recurso especial provido” (STJ, 3ª Turma, REsp 228.357/SP, Rel. Min. Castro Filho, j. 09.12.2003, v.u., DJ 02.02.2004, p. 332).

“COMERCIAL. SOCIEDADE ANÔNIMA CONTROLADA POR SOCIEDADES COMERCIAIS. DELIBERAÇÃO DE DIRETORIA. DIS-CORDÂNCIA DE SÓCIA MINORITÁRIA INDIRETA DE UMA DAS CONTROLADORAS. RECURSO À VIA JUDICIAL POSSIBILIDADE. CAUTELAR. LIMINAR. REALIZAÇÃO POSTERIOR DE ASSEM-BLÉIA GERAL ORDINÁRIA. HOMOLOGAÇÃO DA PROPOSTA DA DIRETORIA. UNANIMIDADE DOS ACIONISTAS. DISCUSSÃO EM JUÍZO DO MÉRITO DESSA DELIBERAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. AFFECTIO SOCIETATIS.

1. Se em uma sociedade anônima controlada por outras sociedades co-merciais o conselho diretor toma determinada deliberação, a empresa só-cia minoritária indireta de uma das controladoras pode discutir em juízo o acerto ou desacerto dessa deliberação, mas, se a unanimidade dos acionistas da empresa se reúne em assembléia geral ordinária convocada e realizada re-gularmente e decide aprovar aquela proposta da diretoria, aquela empresa sócia minoritária indireta de uma das controladoras não pode mais discutir em juízo o acerto ou desacerto dessa deliberação, em face do princípio da ‘aff ectio societatis’, segundo o qual o sócio vencido não pode discutir o mé-rito da deliberação em juízo, pois isso seria o mesmo que outorgar ao sócio minoritário e sem compromisso com a sobrevivência da sociedade uma carta branca para bloquear as atividades da sociedade e impedir a pratica dos seus atos normais de vida e gestão.

2. Agravo de instrumento a que se dá provimento” (TJRJ, 16ª CC, AI 2000.002.04859, Rel. Des. Miguel Ângelo Barros, j. 05.09.2000).

“EDIFÍCIO PALACE I. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. INTERDIÇÃO DO PODER PÚBLICO POR RISCO DE DE-SABAMENTO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS FORNECE-DORES DO PRODUTO INTEGRANTES DE UM MESMO GRUPO EMPRESARIAL. VÍCIOS DE QUALIDADE DA CONSTRUÇÃO AMEA-ÇADA DE RUÍNA. RESCISÃO DO CONTRATO COM A RESTITUIÇÃO IMEDIATA DAS QUANTIAS PAGAS. ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA. PERDAS E DANOS INCLUSIVE DE NATUREZA MORAL. As sociedades

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FGV DIREITO RIO 127

integrantes dos grupos societários, como a SERSAN e a MATERSAN, e as socie-dades controladas são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes do Código de Defesa do Consumidor (art. 28, par. 2.). E, quando fornecedores de produtos de consumo — como apartamentos que constroem, respondem so-lidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor (art. 18, CDC). Recurso improvido” (TJRJ, 14ª CC, AC 1999.001.14202, Rel. Des. Mauro Nogueira, j. 09.09.1999, v.u., RDTJRJ 44/265).

“DIREITO SOCIETÁRIO. SOCIEDADE ANÔNIMA. AÇÃO DE RES-PONSABILIDADE CIVIL. ADMINISTRADOR. SOCIEDADE CON-TROLADORA. ACIONISTAS MINORITÁRIOS. LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. PRESCRIÇÃO. PRAZO. INTERRUPÇÃO. ARTS. 116, 117, 245 E 246 DA LEI 6.404/76.

I — Detendo a sociedade controladora mais de 95% do capital social e das ações com direito a voto da sociedade controlada, os acionista minoritá-rios desta têm legitimidade ativa extraordinária para, independentemente de prévia deliberação da assembléia geral, ajuizar mediante prestação de caução, ação de responsabilidade civil contra aquela e seu administrador, em fi guran-do este simultaneamente como controlador indireto.

II — Prescreve em 3 (três) anos a ação contra administradores e sociedades de comando para deles haver reparação civil por atos culposos ou dolosos (art. 287, II, ‘b’, da Lei 6.404/76).

III — A interrupção da prescrição, na lacuna da lei especial quanto ao ponto, regula-se pelo Código Civil” (STJ, 4ª Turma, REsp 16.410/SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 14.12.1992, v.u., DJ 16.05.1994, p. 11.771; RSTJ, v. 59, p. 221).

F) QUESTÕES DE CONCURSO

(15º Exame de Ordem OAB-RJ)25 — Assinale a resposta correta, a respeito do consórcio de empresas

regulado pela Lei n° 6.404/76:a. É uma fi gura criada pelo direito administrativo, somente para atender

às necessidades de segurança da administração pública, quando esta pretende licitar obras;

b. Tem personalidade e capacidade jurídicas, podendo contratar e ser de-mandado em juízo;

c. É um contrato que deve ser objeto do registro público contemplado na Lei n° 8.934/94;

d. Acarreta a presunção de solidariedade entre as consorciadas

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FGV DIREITO RIO 128

G) GLOSSÁRIO

Bolsa de mercadorias e futuro: Associação, sem fi ns lucrativos, com o objeto social de:

a) efetuar o registro, a compensação e a liquidação, física e fi nanceira, das operações realizadas em seus pregões e/ou registradas em quaisquer de seus sistemas de negociação;

b) organizar, prover o funcionamento e desenvolver mercados livres e abertos para negociação de quaisquer espécies de títulos e/ou contratos que possuam como referência ativos fi nanceiros, índices, indicadores, taxas, mer-cadorias e moedas, nas modalidades à vista e de liquidação futura;

c) manter, entre outros, serviços de padronização, classifi cação, análises, cotações, estatísticas e informações sobre assuntos que interessem à BM&F e a seus sócios;

d) prestar serviços de custódia fungível e não fungível de mercadorias, de títulos e valores mobiliários e de quaisquer outros ativos físicos e fi nanceiros.

Cartel: Acordo empresarial entre empresas com interesses comuns para:a) controlar o mercado, impor preços ao mercado consumidor ou fi xar

quotas de produção, visando a interesses comuns;b) administrar a atividade da concorrência.Commodities: Mercadorias.1) Bem primário em estado bruto, produzido em escala mundial e com

características físicas homogêneas (café, açúcar, soja, algodão etc.), cujo preço é determinado pela oferta e procura internacional;

2) mercadoria de importância internacional, com pequeno grau de bene-fi ciamento ou industrialização (carne, ouro etc.);

3) Qualquer bem, direito, obrigação ou indicador sobre o qual se baseia um contrato futuro.

Escritura pública: documento redigido e registrado em cartório.

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FGV DIREITO RIO 129

172 A esse respeito, ver aulas 8 a 11.

AULAS 19 E 20: ALIENAÇÃO DE CONTROLE E AQUISIÇÃO DE CONTROLE

A) MATERIAL DE LEITURA

Leitura básica

GRAVA, J. William. Fusões e aquisições: motivadores econômicos e estraté-gicos. In: SADDI, Jairo (Org.). Fusões e aquisições: aspectos jurídicos e econômicos. São Paulo: IOB, 2002. pp. 5-42.

Leitura complementar

CANTIDIANO, Luiz Leonardo. Análise do caso Sadia x Perdigão: uma ten-tativa de “take over”. In: CASTRO, Rodrigo R. Monteiro de; ARA-GÃO, Leandro Santos de (Coords.). Sociedade anônima: 30 anos da Lei 6.404/76. São Paulo: Quartier Latin, 2007. pp. 221-247.

EIZIRIK, Nelson. Oferta pública de aquisição na alienação do controle de companhia aberta. In: SADDI, Jairo (Org.). Fusões e aquisições: aspectos jurídicos e econômicos. São Paulo: IOB, 2002. pp. 235-247.

NEJM, Edmundo; BRUNA, Sérgio Varella. Due diligence: identifi cando contingências para prever riscos futuros. In: SADDI, Jairo (Org.). Fu-sões e aquisições: aspectos jurídicos e econômicos. São Paulo: IOB, 2002. pp. 205-219.

B) ROTEIRO DE AULA

Nessa aula, trataremos brevemente da relevância jurídica da aquisição do controle de sociedades, assim como analisaremos algumas das possíveis for-mas através das quais tal operação pode ser implementada.

Inicialmente, deve-se destacar a importância do fenômeno, tendo em vista que o adquirente do controle de determinada sociedade passa a deter o poder de eleger a maioria dos seus administradores e de dirigir as atividades sociais, orientando, assim, o funcionamento dos órgãos da sociedade172. Assim, o novo titular do poder de controle passa a ter tanto os direitos quanto as obri-gações inerentes ao controlador.

A aquisição do controle de determinada sociedade pode se realizar de di-versas formas, variando largamente de caso a caso. A aquisição pode se dar, por exemplo, por meio de um contrato típico de compra e venda de ações ou

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FGV DIREITO RIO 130

de quotas, no qual A — titular do poder de controle de determinada socieda-de XYZ S.A. — transfere a participação que lhe garante tal prerrogativa para um terceiro B, conforme ilustrado abaixo:

XYZ S.A.

A

51%

B

Tal modalidade de operação é bastante comum no Brasil, tendo em vista a excessiva concentração do mercado acionário, conforme já mencionado em nossas aulas anteriores. Em geral, após a celebração do contrato de compra e venda de ações, subsistem diversas obrigações entre as partes, em especial do vendedor, tais como de sigilo, de não competir e de manter a sociedade e o adquirente indenes de eventuais passivos ocultos.

Já em países marcados por uma maior pulverização da titularidade das ações — e nos quais, portanto, encontram-se diversas companhias que não estão sujeitas a um controle majoritário —, pode ocorrer a aquisição de con-trole de uma forma originária, na qual não há transferência de controle, mas o “surgimento” de um controlador. Em tal hipótese, pode ocorrer o chamado hostile takeover, no qual o interessado em adquirir o controle de determinada companhia faz uma oferta aos seus diversos acionistas, em geral condicionada à aceitação de titulares de tantas ações quanto forem necessárias para garantir ao ofertante o poder de controle, conforme quadro abaixo:

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FGV DIREITO RIO 131

173 “Art. 257. A oferta pública para aqui-

sição de controle de companhia aberta

somente poderá ser feita com a parti-

cipação de instituição fi nanceira que

garanta o cumprimento das obrigações

assumidas pelo ofertante.

§ 1º Se a oferta contiver permuta,

total ou parcial, dos valores mobiliá-

rios, somente poderá ser efetuada após

prévio registro na Comissão de Valores

Mobiliários.

2º A oferta deverá ter por objeto

ações com direito a voto em número

sufi ciente para assegurar o controle da

companhia e será irrevogável.

§ 3º Se o ofertante já for titular de

ações votantes do capital da compa-

nhia, a oferta poderá ter por objeto

o número de ações necessário para

completar o controle, mas o ofertante

deverá fazer prova, perante a Comissão

de Valores Mobiliários, das ações de sua

propriedade.

§ 4º A Comissão de Valores Mobi-

liários poderá expedir normas sobre

oferta pública de aquisição de controle.

Art. 258. O instrumento de oferta de

compra, fi rmado pelo ofertante e pela

instituição fi nanceira que garante o pa-

gamento, será publicado na imprensa e

deverá indicar:

I — o número mínimo de ações que

o ofertante se propõe a adquirir e, se for

o caso, o número máximo;

II — o preço e as condições de pa-

gamento;

III — a subordinação da oferta ao

número mínimo de aceitantes e a for-

ma de rateio entre os aceitantes, se o

número deles ultrapassar o máximo

fi xado;

IV — o procedimento que deverá

ser adotado pelos acionistas aceitantes

para manifestar a sua aceitação e efeti-

var a transferência das ações;

V — o prazo de validade da oferta,

que não poderá ser inferior a 20 (vinte)

dias;

VI — informações sobre o ofertante.

Parágrafo único. A oferta será comu-

nicada à Comissão de Valores Mobiliá-

rios dentro de 24 (vinte e quatro) horas

da primeira publicação.

Art. 259. O projeto de instrumento

de oferta de permuta será submetido

à Comissão de Valores Mobiliários com

o pedido de registro prévio da oferta e

deverá conter, além das referidas no ar-

tigo 258, informações sobre os valores

mobiliários oferecidos em permuta e as

companhias emissoras desses valores.

Parágrafo único. A Comissão de Valores

Mobiliários poderá fi xar normas sobre o

instrumento de oferta de permuta e o

seu registro prévio.

Art. 260. Até a publicação da oferta,

o ofertante, a instituição fi nanceira

intermediária e a Comissão de Valores

Mobiliários devem manter sigilo sobre

a oferta projetada, respondendo o in-

frator pelos danos que causar.

Art. 261. A aceitação da oferta deve-

XYZ S.A.

51% (no mínimo)

OfertanteInvestidores em geral

Apesar de raras vezes tentada no Brasil, tal modalidade de aquisição de controle, no tocante às companhias abertas, encontra-se prevista nos artigos 257 a 263 da Lei das S.A.173, tendo sido regulamentada pela CVM por meio da Instrução nº 361/2002.

Outra forma possível de aquisição de controle pode se dar através de um aumento de capital no qual a participação detida pelo controlador original é diluída. Em outras palavras, nesse exemplo, A — titular do poder de con-trole — não exerce seu direito de preferência para subscrever um aumento de capital, o qual é subscrito e integralizado por um terceiro B (o qual pode ser acionista minoritário ou outro terceiro estranho à companhia). Nessa hi-pótese, não há, em tese, pagamento realizado por B em favor de A, mas uma capitalização da companhia XYZ. Muitas vezes, há um contrato de investi-mento regulando o passo a passo da operação, sendo comum a celebração de um acordo de acionistas entre o antigo e o novo controlador.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 132

rá ser feita nas instituições fi nanceiras

ou do mercado de valores mobiliários

indicadas no instrumento de oferta e

os aceitantes deverão fi rmar ordens

irrevogáveis de venda ou permuta,

nas condições ofertadas, ressalvado o

disposto no § 1º do artigo 262.

§ 1º É facultado ao ofertante melho-

rar, uma vez, as condições de preço ou

forma de pagamento, desde que em

porcentagem igual ou superior a 5%

(cinco por cento) e até 10 (dez) dias

antes do término do prazo da oferta;

as novas condições se estenderão

aos acionistas que já tiverem aceito a

oferta.

2º Findo o prazo da oferta, a institui-

ção fi nanceira intermediária comuni-

cará o resultado à Comissão de Valores

Mobiliários e, mediante publicação

pela imprensa, aos aceitantes.

§ 3º Se o número de aceitantes ul-

trapassar o máximo, será obrigatório o

rateio, na forma prevista no instrumen-

to da oferta.

Art. 262. A existência de oferta públi-

ca em curso não impede oferta concor-

rente, desde que observadas as normas

desta Seção.

§ 1º A publicação de oferta concor-

rente torna nulas as ordens de venda

que já tenham sido fi rmadas em acei-

tação de oferta anterior.

§ 2º É facultado ao primeiro ofer-

tante prorrogar o prazo de sua oferta

até fazê-lo coincidir com o da oferta

concorrente.

Art. 263. A Comissão de Valores Mo-

biliários poderá expedir normas que

disciplinem a negociação das ações

objeto da oferta durante o seu prazo”.

X YZ S .A .

70%

BA

A um ento de C apita l

X YZ S .A .

50%

BA

20%

Também se pode implementar uma operação de aquisição de controle por meio de uma reestruturação societária, utilizando-se de incorporações ou cisões.

Note-se que as diferentes modalidades de aquisição de controle acima des-critas muitas vezes são combinadas em uma única operação, podendo ocor-rer, por exemplo, a aquisição, por W de Y, de ações representativas de 30% do capital de uma companhia ABC, seguida de um aumento de capital, subs-crito e integralizado somente por W, resultando em uma participação fi nal de W de 65% no capital da companhia ABC, conforme descrito abaixo.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 133

ABC S.A.70%

WY

Aquisição de participação

ABC S.A.

30%

WY

40%

Aumento de capital

ABC S.A.

65%

WY

5%

Note-se, por fi m, que a transferência de controle de companhia aberta mereceu um tratamento específi co do nosso legislador. Com efeito, o artigo 254-A da Lei das S.A. estabelece que:

“Art. 254-A. A alienação, direta ou indireta, do controle de companhia aber-ta somente poderá ser contratada sob a condição, suspensiva ou resolutiva, de que o adquirente se obrigue a fazer oferta pública de aquisição das ações com direito a voto de propriedade dos demais acionistas da companhia, de modo a lhes assegurar o preço no mínimo igual a 80% (oitenta por cento) do valor pago por ação com direito a voto, integrante do bloco de controle”.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 134

Visa-se, assim, a distribuir o chamado “prêmio de controle” — o sobreva-lor atribuído ao poder de controle — aos demais acionistas da companhia, que também contribuíram para a valorização da companhia, injetando recur-sos e eventualmente participando da gestão da sociedade.

Compra por Companhia Aberta do Controle de Sociedade Empresária

O artigo 256 da LSA atribui à Assembleia Geral da companhia aberta competência para deliberar sobre a compra de bloco de controle de sociedade empresária nos seguintes casos:

“I — O preço de compra constituir, para a compradora, investimento relevante (artigo 247, parágrafo único); ou

II — o preço médio de cada ação ou quota ultrapassar uma vez e meia o maior dos 3 (três) valores a seguir indicados:

a) cotação média das ações em bolsa ou no mercado de balcão organizado, duran-te os noventa dias anteriores à data da contratação;

b) valor de patrimônio líquido (artigo 248) da ação ou quota, avaliado o patri-mônio a preços de mercado (artigo 183, § 1º);

c) valor do lucro líquido da ação ou quota, que não poderá ser superior a 15 (quinze) vezes o lucro líquido anual por ação (artigo 187 n. VII) nos 2 (dois) últimos exercícios sociais, atualizado monetariamente.”

Isto porque, em regra, caberia aos órgãos da administração e aos diretores deliberar sobre a aquisição de um bloco de controle de uma sociedade mer-cantil, como a de qualquer outro bem.

A função do dispositivo é proteger os acionistas minoritários contra um negócio de compra do bloco de controle por um preço muito superior ao valor unitário das ações ou quotas que o compõem, consideradas singular-mente.

Investimento relevante. A lei, no §único do art. 247, defi ne o que é investimento relevante para companhia: a) em cada sociedade coligada ou controlada, se o valor contábil é igual ou superior a 10% (dez por cento) do valor do patrimônio líquido da companhia; b) no conjunto das sociedades coligadas e controladas, se o valor contábil é igual ou superior a 15% (quinze por cento) do valor do patrimônio líquido da companhia.

Aprovação prévia ou ratifi cação pela Assembleia Geral. O parágrafo 1º do art. 256 prevê que o negócio de compra pode ser submetido à aprovação prévia ou à ratifi cação pela Assembleia Geral. No caso da ratifi cação, o que será submetido é o contrato já fi rmado, sujeito à condição suspensiva.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 135

Direito de retirada. A Lei assegura ao acionista dissidente da deliberação que aprova o negócio o direito de retirar-se da companhia, mediante reem-bolso do valor de suas ações, caso o preço ultrapasse uma vez e meia o maior dos três valores referidos no inciso II do art. 256. Este direito só não existirá se as ações forem de espécie ou classe que tenha liquidez no mercado (artigo 137, II, da LSA).

Oferta Pública para Aquisição de Controle de Companhia Aberta

A Oferta Pública para Aquisição de Controle de Companhia Aberta é uma proposta irrevogável, feita a todos os acionistas de uma sociedade, de aquisi-ção de ações em número sufi ciente para assegurar ao adquirente o controle da companhia. Normalmente, é feita por meio de publicação em jornal de grande circulação, podendo ser realizada a despeito ou mesmo contra a von-tade do eventual controlador. Uma vez aceita a oferta por titulares de ações sufi cientes, o ofertante formará um novo bloco de controle.

A regulação do instituto, o qual foi alvo de abusos durante o seu desenvol-vimento, é feita pelo art. 429 do Código Civil, que trata das “ofertas públi-cas” genericamente, e pelos artigos. 257 a 263 da LSA, que regulam especi-fi camente a oferta pública de aquisição de controle, uma espécie do gênero.

Requisitos

Art. 257. A oferta pública para aquisição de controle de companhia aberta somente poderá ser feita com a participação de instituição fi nanceira que garanta o cumprimento das obrigações assumidas pelo ofertante.

Participação de instituição fi nanceira. De acordo com artigo 257 da LSA, transcrito acima, a oferta pública para aquisição de controle de compa-nhia aberta só poderá ser feita com a participação de instituição fi nanceira, a qual a Instrução nº 361 da CVM, de 05.03.2002, determina que tenha car-teira de investimentos ou ser sociedade corretora ou distribuidora de títulos e valores mobiliários.

Como garantidora do cumprimento das obrigações assumidas pelo ofer-tante, a intermediária estará coobrigada, uma vez que subscreve o instrumen-to da oferta em conjunto com este.

Caberá a ela auxiliar o adquirente em todas as etapas do processo, assim como solicitar que este pratique todos os atos necessários e corretos para o procedimento da oferta. Ademais, compete-lhe garantir que as informações fornecidas ao mercado sejam verdadeiras e sufi cientes para que os investido-res tomem suas decisões.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 136

174 Lamy e Bulhões, no livro “O Direito

das Companhias”, entendem que se

trata de disposição de legalidade duvi-

dosa. Segundo eles que se deve aplicar

a hipótese do art. 478 do Código Civil,

que determina a decretação da resolu-

ção dos contratos de execução diferida

(e, por analogia, das propostas irrevo-

gáveis) por onerosidade excessiva por

sentença, e nunca por decisão da CVM.

A instituição fi nanceira participante, assim como seu controlador e pesso-as a ela vinculadas fi carão impedidos de negociar valores mobiliários objeto da oferta, sendo ainda obrigados a apresentar uma declaração da quantidade de valores mobiliários objeto da oferta de que sejam titulares, ou que estejam sob sua administração discricionária.

Registro na CVM. A legislação não exige que as ofertas públicas de aqui-sição por compra sejam registradas na CVM, que deve apenas ser informada nas 24 horas seguintes à primeira publicação (art. 285, §único, da LSA) e receber um exemplar da publicação (art. 11, §2º, da Instrução nº 361 da CVM).

O registro só é exigido quando a oferta envolver a permuta de valores mo-biliários (art. 259 da LSA e; art. 9 da Instrução nº 361 da CVM).

Objeto da oferta. O objeto da oferta são ações com direito a voto em número sufi ciente para garantir o controle da companhia, de modo que, já sendo o ofertante titular de certa quantia de ações, o objeto poderá ser o res-tante necessário para completar o bloco de controle.

Irrevogabilidade. O parágrafo 2º do art. 257 da LSA expressamente diz “A oferta (...) será irrevogável”. Inobstante isto, o artigo 5º da Instrução CVM nº 361 prevê que a CVM poderá autorizar a revogação ou modifi cação de ofertas sujeitas a registro prévio em determinados casos.174

Instrumento da Oferta

O art. 258 da LSA exige que o instrumento da oferta seja assinado tanto pelo ofertante quanto pela instituição intermediária e, em seguida, publicado na imprensa e no Diário Ofi cial do lugar da sede da companhia (art. 289 da LSA), indicando:

“I — o número mínimo de ações que o ofertante se propõe a adquirir e, se for o caso, o número máximo;

II — o preço e as condições de pagamento;III — a subordinação da oferta ao número mínimo de aceitantes e a forma de

rateio entre os aceitantes, se o número deles ultrapassar o máximo fi xado;IV — o procedimento que deverá ser adotado pelos acionistas aceitantes para

manifestar a sua aceitação e efetivar a transferência das ações;V — o prazo de validade da oferta, que não poderá ser inferior a 20 (vinte) dias;VI — informações sobre o ofertante.”

Ainda, tratando-se de oferta envolvendo permuta, o instrumento deverá conter, além destes elementos, informações sobre os valores mobiliários ofe-recidos em permuta e as respectivas companhias emissoras.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 137

Processamento da Oferta

Segundo o caput do art. 261 da LSA, cada titular de ações objeto da oferta que aceitar a proposta deverá manifestar-se junto à instituição intermediária, fi rmando uma ordem irrevogável de venda, ou permuta, conforme o caso. As ordens são atos de adesão e em nada podem diferir das condições ofertadas.

O parágrafo 2º do mesmo dispositivo faculta ao ofertante melhorar as condições da oferta ou a forma de pagamento, nos seguintes termos:

“§ 1º É facultado ao ofertante melhorar, uma vez, as condições de preço ou for-ma de pagamento, desde que em porcentagem igual ou superior a 5% (cinco por cento) e até 10 (dez) dias antes do término do prazo da oferta; as novas condições se estenderão aos acionistas que já tiverem aceito a oferta.”

Oferta concorrente. O artigo 262 da LSA permite que seja formulada por um terceiro uma oferta concorrente a uma oferta pública em curso. Sua publicação torna nulas todas as ordens de venda que já tenham sido fi rmadas em aceitação à oferta anterior.

Faculta-se ao primeiro ofertante prorrogar o prazo de validade de sua ofer-ta até coincidir com o da nova oferta.

Rateio. Caso o número de aceitantes ultrapasse o máximo, será obrigató-rio o rateio (art. 261, §3º e art. 258, III da LSA).

Divulgação do Resultado da Oferta. Findo o prazo, a instituição fi nan-ceira comunicará o resultado à CVM e, através de publicação na imprensa, aos aceitantes, e procederá ao pagamento do preço e as formalidades necessá-rias à transferência das ações.

C) CASO GVT

• Constituída em 1999 — empresa-espelho da Brasil Telecom.• Em 2000, receita líquida de aproximadamente R$ 100 milhões;

Em 2009,receita líquida de R$ 1,7 bilhão.• IPO em 22.2.2007 no Novo Mercado; Em janeiro de 2008, entrou

no IBrX (100 ações de maior liquidez da Bovespa); Aumento no preço das ações nos meses que antecederam a operação.

• Controle difuso— Grupo de Controle formado por Swarth In-vestments e Global Village Telecom (Holland) B.V., com aproxi-madamente 30% do capital social.

• Estatuto Social da GVT: poisonpillde 15%, sem cláusula pétrea; possibilidade expressa de alteração/revogação da pílula por deci-são assemblear com quorum qualifi cadode 30% das ações.

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FGV DIREITO RIO 138

CRONOLOGIA DOS FATOS:• TELEFONICA NEGOCIA COM GC: GC faria OPA secundária

de 20% das ações, condicionada a aprovação da ANATEL e vota-ria a favor de eliminação da poisonpill;

• Fato Relevante em 19.8.2009: oferta pública secundária de ações por Grupo de Controle de até 20% das ações;

• VIVENDI NEGOCIA COM GC: Vivendi lançaria OPA voluntá-ria por até 100% da GVT a R$42/ação, condicionada: (i) à aquisi-ção de 51%, (ii) DD confi rmatória, (iii) dispensa da poison pill; e (iv) aprovações regulatórias. Grupo de Controle comprometeu-se a: (i) votar favoravelmente à dispensa da poison pill, (ii) alienar mínino de 20% (dos 30%) na OPA.

• Fato Relevante em 8.9.2009: cancelamento da intenção de oferta pública secundária;

COMEÇA A GUERRA...• Fato Relevante da Telefônica em 7.10.2009: OPA voluntária para

aquisição de até 100% da GVT a R$48/ação condicionada à: (i) aquisição de 51% das ações; (ii) dispensa da aplicação da poison-pill; e (iii) prévia aprovação pela Anatel (sem condições atípicas);

• AGE da GVT em 3.11.2009: Aprovação da dispensa da aplicação da poisonpill para aquisições com as seguintes características: (i) liquidação fi nanceira até 28.2.2010 (da aquisição apenas); (ii) preço mínimo de R$48,00/ação; (iii) pagamento em dinheiro; e (iv) ofertante qualifi cado (capacidade fi nanceira para comprar 100% + operador de telecom no Brasil ou no exterior). Entre os acionistas da GVT, apenas Telesp (Telefônica) se absteve de votar. Grupo de Controle votou favoravelmente.

• Fato Relevante da Telefônica em 4.11.2009: Aumento da oferta pública para R$50,50/ação;

E A GUERRA CONTINUA...• Comunicado ao Mercado da Tyrus Capital em 12.11.2009 —

soma líquida das aquisições de operações de swap e derivativos que conferem direitos sobre as ações da GVT alcançaram 6,63% do capital social da Companhia. Tyrus não possuía diretamente qualquer ação e declarou não ter intenção de alterar a estrutura de controle ou administração da GVT. Este foi o único Comunicado ao Mercado feito pela Tyrus quanto a participação relevante.

• Autorização da Anatel em 12.11.2009— anuência prévia para aquisição de controle da GVT pela Vivendi ou pela Telefônica. No caso da Telefônica, com algumas restrições.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 139

• Fato Relevante da GVT em 13.11.2009: Vivendi teria (i) adqui-rido em negociação privada as ações do GC, ao preço de R$ 56/ação; (ii) adquirido de terceiros (?) ações correspondentes a 8% do capital; (iii) celebrado opções de compra não condicionadas com terceiros, adquirindo o direito de comprar ações representa-tivas de 19,6%, que, exercidas lhe dariam uma participação entre 53,7% e 57,5% da GVT. Em decorrência dessas operações, Viven-di faria uma OPA de tagalong a R$ 56/ação.

CONSOLIDAÇÃO:• CVM manda ofício à Vivendi, em 25.11.2009, pedindo explica-

ções sobre as operações com “terceiros”;• Fato Relevante da GVT em 30.11.2009: Vivendi “esclareceu” entre

outros que (i) as opções de compra de 19,6% da GVT foram adqui-ridas da Tyrus Capital; e (ii) não fi rmou qualquer acordo relativo a direito de voto.

• Comunicado da CVM em 30.11.2009: “a Vivendi não esclareceu, conforme determinado pela CVM, a natureza dos direitos do Tyrus sobre as ações da GVT objeto das opções, nem forneceu esclarecimen-tos adicionais indispensáveis para a correta avaliação da situação pelo mercado. (...) As investigações conduzidas pela CVM prosseguem e maiores informações serão prestadas ao mercado em momento opor-tuno.”

• Fatos Relevantes da GVT entre 1.12.2009/6.1.2010: comunicando au-mentos consecutivos de participação pela Vivendi até alcançar 85,7% (todas as opções remanescentes foram exercidas em 23.12.2009);

• Fato Relevante da GVT em 8.1.2010: Confi rmação de que Vivendi realizaria a OPA obrigatória de tag along, combinada com cance-lamento de registro de companhia aberta.

QUESTÕES• Vivendi possuía em 13.11.2009 a titularidade ou direitos não con-

dicionados sobre ações representativas do controle da GVT?• Divulgação correta/completa dos aumentos de participação? “Barriga

de aluguel” da Tyrus?• Se Vivendi adquiriu 19,6% da Tyrus (pós dispensa da poison pill):

poison pill (“adquira ou se torne titular de ações”) não se aplicaria à Tyrus ao adquirir seus direitos sobre as ações? Tyrus não se benefi ciaria da dispensa da poison pill (requisitos: investidor estratégico, capaci-dade fi nanceira)

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 140

C) TEXTOS DE APOIO

Revista Exame — “Temporada de compras16.11.2006O Brasil vive a maior onda de aquisições de empresas de sua história — e o nú-mero de negócios vai crescer nos próximos meses. O que há por trás dissoPor Tiago Lethbridge e Melina Costa

Nas últimas semanas, o mercado brasileiro foi tomado por uma avalanche de rumores como há muito tempo não se via. Poucos setores da economia passaram incólumes pelas especulações de que estariam para ser anunciadas aquisições ou fusões envolvendo grandes companhias nacionais. O clima en-tre empresários e executivos era de incerteza quanto ao redesenho do ambien-te de negócios — quais dos rumores, afi nal, se transformariam em realidade? E como a concretização desses negócios mudaria a face do mercado? No dia do fechamento desta edição, 14 de novembro, falava-se na iminência de uma fusão entre duas grandes empresas brasileiras, um negócio estimado em 3 bilhões de dólares. Outras transações estavam em alta na bolsa de apos-tas. O banco espanhol Santander teria contratado o banco de investimentos Goldman Sachs para estudar uma fusão com um concorrente brasileiro. Era esperada pelos analistas uma oferta de 10 bilhões de dólares da siderúrgica CSN pela anglo-holandesa Corus. Sadia e Perdigão negociavam a compra de frigorífi cos e empresas de laticínios. Votorantim e Camargo Corrêa disputa-vam a aquisição da CP Cimento. O Credit Suisse poderia anunciar a qual-quer momento a aquisição da corretora Hedging-Griff o por cerca de 1 bilhão de reais. E a operadora de telefonia celular italiana TIM analisava ofertas de aproximadamente 8 bilhões de dólares por sua subsidiária no país.

Um ano de recordes

Volume de fusões e aquisições no Brasil desde 2001 (em bilhões de dólares)

2001 17,5

2002 15

2003 17,1

2004 23,1

2005 14,9

2006(1) 54

(1) Até novembroFonte: Thomson

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Essa série de negócios é a confi rmação de um movimento ainda maior: o Brasil vive em 2006 a maior temporada de aquisições de sua história. Até novembro, haviam sido fechados mais de 200 negócios no país, movimen-tando 54 bilhões de dólares. A comparação com os últimos cinco anos, que pode ser vista no gráfi co que ilustra estas páginas, é impressionante: o volume de negócios é quase quatro vezes superior ao do ano passado. Em apenas 11 meses, o desempenho também já superou 1998, quando o sistema Telebrás foi privatizado e o resultado anual foi de 52 bilhões de dólares. O ápice desse movimento veio em outubro, quando a Vale do Rio Doce realizou a maior aquisição já feita por uma empresa brasileira ao pagar 18 bilhões de dólares pela mineradora canadense Inco. E, num sinal de que a temperatura dos negócios não deve baixar tão cedo, os bancos e escritórios de advocacia espe-cializados acumulavam dezenas de mandatos de fusões e aquisições, muitos ainda em fase embrionária.

Ondas de fusões e aquisições não são exatamente uma novidade no Brasil. O país já passou por momentos frenéticos de compra de empresas, sobretudo durante as privatizações dos anos 90 e no auge da bolha da internet, na virada do século. Mas, além das proporções gigantescas, o atual movimento tem ca-racterísticas particulares nunca vistas antes no capitalismo brasileiro. A prin-cipal delas é uma mudança de atitude das empresas nacionais. Os últimos ciclos foram liderados em boa medida pelo capital estrangeiro, que varreu o país em busca de oportunidades de investimento — e, nesses períodos, a venda de estatais era o grande chamariz. Mas o investimento direto estran-geiro, que era a força motriz das fusões e aquisições no país, minguou. Hoje, equivale a metade do que foi em 2000. Ao mesmo tempo e graças a uma série de conjunções positivas, as empresas brasileiras se fortaleceram como preda-doras. Muitos dos principais negócios deste ano foram realizados com capital nacional. Entre eles estão a compra do BankBoston pelo Itaú, a aquisição da American Express pelo Bradesco, a venda da francesa Light para o consórcio formado por Pactual, Cemig e Andrade Gutierrez e, claro, a compra da ca-nandense Inco pela Vale. Estudos mostram que os valores usados por compa-nhias locais para comprar estrangeiras passaram de 2,1 bilhões de dólares em 2000 para mais de 25 bilhões nos últimos dez meses. As empresas brasileiras vêm aproveitando esse momento para impulsionar sua expansão. “Com a compra da Amex, aceleramos em três ou quatro anos o nosso crescimento no segmento de alta renda”, diz Paulo Isola, diretor executivo do Bradesco.

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Os maiores negócios

As empresas que fi zeram as principais aquisições do país em 2006

  Comprador: Alvo:

18 bilhões de dólares Vale do Rio Doce Inco

3,4 bilhões de dólares Arcelor Mittal Arcelor Brasil

2,6 bilhões de dólares Vale do Rio Doce Caemi

2,6 bilhões de dólares Ubs Pactual

2,2 bilhões de dólares Itaú Bankboston

Fonte: Thomson

Entre os grupos de fatores que ajudam a impulsionar o movimento atual de aquisições e o aumento do apetite das empresas brasileiras, três são con-siderados fundamentais pelos especialistas. O primeiro deles é uma soma de indicadores econômicos excepcionais. O crescimento mundial impulsionou a alta no preço das commodities, como minério de ferro e petróleo, e vitami-nou os resultados de empresas exportadoras. A liquidez internacional, os anos de estabilidade econômica, a falta de crises externas, os seguidos superávits na balança de pagamentos, a conseqüente queda do risco-país e os cortes na taxa de juro diminuíram o custo de capital das companhias. E, para completar, o real valorizado (motivo de chiadeira para muitos setores) barateou os ativos estrangeiros e favoreceu a compra das multinacionais brasileiras no exterior. De 2005 para cá, foram mais de 50 aquisições fora do país. “A grande novi-dade desse ciclo é a compra de empresas estrangeiras por brasileiras”, diz Raul Beer, responsável pela área de fusões e aquisições da PricewaterhouseCoopers.

O segundo grupo de fatores é decorrência do primeiro. As grandes empresas nacionais aproveitaram o momento róseo na economia para atingir a excelência na gestão. Segundo um levantamento da consultoria fi nanceira Economática, o lucro das empresas que compõem o Ibovespa passou de 23 bilhões de reais em 2002 para 81 bilhões no ano passado. No mesmo período, as companhias corta-ram drasticamente seu endividamento. Hoje, em média, as empresas nacionais precisam de dois anos de geração de caixa para pagar suas dívidas, metade do tempo necessário em 2002 — o que representa uma monumental folga para in-vestir em aquisições. “As companhias nacionais estão mais capitalizadas do que nunca”, diz Matheus Villares, chefe da área de fusões e aquisições do Citigroup.

QUANDO O ASSUNTO É GESTÃO, deve-se reservar um capítulo es-pecial para o que se convencionou chamar de multinacionais brasileiras. Du-rante o último ciclo de fusões e aquisições, em 2000, nenhuma companhia nacional tinha o patamar de investment grade, aquele reservado às empresas mais seguras do planeta. Hoje, elas são nove. Com uma estratégia agressiva de aquisições fora do país, grupos como Votorantim, Gerdau e Vale diminuíram

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seus riscos aos olhos dos investidores estrangeiros — e, com isso, descolaram-se do resto do país e cortaram seus custos fi nanceiros. “Antes, as companhias nacionais podiam ser as melhores do mundo em seus setores, mas perdiam efi -ciência devido ao alto custo de capital”, diz Ricardo Carvalho, diretor da Fitch Ratings, uma das maiores agências de classifi cação de risco. “Hoje, atingindo o investment grade, as empresas disputam o mercado nas mesmas condições dos concorrentes. E, aí, conseguem tornar-se imbatíveis.” O exemplo da Vale é o mais eloqüente. A promoção a grau de investimento fez com que os bancos internacionais colocassem 34 bilhões de dólares à sua disposição para a com-pra da Inco. “Anos atrás, essa oferta de recursos para uma empresa brasileira seria absolutamente impensável”, diz José Olympio Pereira, diretor do Credit Suisse, banco de investimentos que assessorou a Vale na aquisição.

O terceiro motor da recente onda de aquisições pode ser encontrado na rua 15 de Novembro, no centro velho da cidade de São Paulo: a bolsa de valores. Nos últimos três anos, quase 60 empresas emitiram ações no mercado brasileiro, levantando com isso cerca de 45 bilhões de reais. Quase todas essas companhias foram à bolsa para captar recursos para investimentos, muitos deles direcionados a aquisições. Foi o caso da Cosan, maior produtora de açúcar e etanol do país. Desde que levantou 886 milhões de reais na abertura de capital, em novembro de 2005, a companhia já investiu 520 milhões de reais na compra de três usinas de açúcar e álcool. Mesmo a pequena Lupatech, líder na fabricação de válvulas industriais, percebeu no mercado acionário a chance de fugir das (ainda) altas taxas de juro dos bancos e, com isso, fi nanciar aquisições — foram três desde maio, todas na Argentina. “Queremos ser a maior fabricante de válvulas da Amé-rica Latina, e a maneira mais efi caz de chegar lá é com dinheiro do mercado de capitais”, diz Th iago Alonso de Oliveira, diretor da empresa. A entrada de outras empresas na bolsa (espera-se que sejam mais 30 no ano que vem) tende a mudar ainda mais a cultura empresarial do país. A demanda por crescimento não virá mais da família na mesa do jantar, mas de investidores que colocaram seu di-nheiro na companhia e exigem retorno. “O avanço da bolsa no Brasil aumenta exponencialmente a cobrança por expansão das empresas”, diz Rodolfo Riechert, sócio do Pactual. “Como o país não cresce, a solução é comprar o concorrente.”

O dinheiro veio da bolsa

Volume de recursos levantados em emissões de ações por empresas brasileiras

2003 0,9

2004 3

2005 6,8

2006 12,3

Fonte: Itaú BBA

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A EVOLUÇÃO DO MERCADO DE CAPITAIS serve, também, para oferecer às empresas novos modelos de fi nanciamento de aquisições. Nos últimos três anos, as companhias listadas em bolsa tiveram valorização de 35%, e o volume negociado dobrou. Com os negócios mais valorizados e um mercado com maior liquidez, as aquisições podem ser feitas pela troca de ações, mecanismo corriqueiro no resto do mundo e, até este ano, uma raridade no Brasil. “Essa é uma maneira mais interessante de realizar aqui-sições”, diz Ruy Moraes Abreu, vice-presidente do Itaú. Em maio, o banco comprou a operação brasileira do BankBoston por 2,2 bilhões de dólares. O pagamento foi feito inteiramente em ações, com sacrifício muito menor do caixa da companhia. Outras aquisições, como a compra da Brasil Ferrovias pela ALL e a da Vivax pela Net, usaram o mesmo mecanismo. As mudanças causadas pela sofi sticação da bolsa não param por aí. A criação do Novo Mercado e o surgimento de empresas de controle pulverizado abrem espaço para operações como a oferta hostil que a Sadia fez em julho pela Perdigão — algo, também, comum em países desenvolvidos. “Pode parecer incrível, mas o Brasil está virando um país normal”, diz Ricardo Stern, presidente do banco americano JP Morgan.

A febre de negócios no país pega carona na maior onda de fusões e aquisi-ções do planeta desde a euforia de 2000, último ano do período daquilo que foi batizado por Alan Greenspan, ex-presidente do banco central americano, de exuberância irracional. Mais de 2,7 trilhões de dólares foram consumidos no que os especialistas já consideram uma nova era das megafusões, movida pela aparentemente — e só aparentemente — infi ndável oferta de crédito no mercado mundial e pela valorização das bolsas. O maior negócio do ano foi a compra da AT&T pela Bellsouth, por 89 bilhões de dólares. Uma das no-vidades são as fusões entre empresas européias. As maiores foram a aquisição da elétrica espanhola Endesa pela alemã E.ON, por 71 bilhões de dólares, e a venda da operadora de aeroportos britânica BAA para a espanhola Ferrovial, por 30 bilhões de dólares. No tabuleiro global, negócios portentosos como esses alteram o equilíbrio de forças em diversos setores, dando partida a uma correia de transmissão que gera novas aquisições. A cada fusão na indústria, segue-se uma união de forças no varejo. A criação de um mamute siderúrgico lança às mineradoras o desafi o de crescer para manter equilibrada a relação com seus clientes. “Quando um compra, todos seguem o líder. Ninguém quer deixar o concorrente grande demais para depois ser engolido por ele”, diz o professor Larry Hrebiniak, especialista em fusões e aquisições da es-cola de negócios Wharton, uma das mais prestigiadas dos Estados Unidos. Trata-se da velha e conhecida luta por escala, que tem por objetivo gerar custos mais baixos, maior efi ciência e um poder de barganha multiplicado. A aquisição feita pela Vale, por exemplo, pode ser lida como uma espécie de resposta à concentração no setor siderúrgico, causada pela união entre a

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européia Arcelor e a indiana Mittal. “A entrada de empresas de países emer-gentes como Brasil, China e Índia, que buscam grandes aquisições nos países desenvolvidos, é a maior prova de que esse jogo se tornou global para valer”, diz Hrebiniak.

Nos últimos dois anos, ganhou força no mercado mundial de fusões e aquisições um personagem cuja presença no Brasil ainda é tímida — os me-gafundos de private equity, que concentram hoje uma fatia de cerca de 30% na compra de empresas nos Estados Unidos, ante não mais que 5% em 2000. São empresas como KKR e Blackstone, habituadas a fazer compras de deze-nas de bilhões de dólares. Os especialistas esperam, para os próximos anos, uma crescente participação desses fundos no bolo das aquisições no Brasil — e, quando isso acontecer, qualquer empresa pode ser alvo. “Há cerca de 15 fundos buscando investimentos no Brasil”, diz o executivo de um fundo americano. Um estudo recente da Harvard Business School apontou os seto-res de agribusiness e imobiliário como os maiores alvos dos private equities no que seria uma segunda onda desses investimentos no país. A primeira, realizada nos anos 90, terminou com a venda das participações dos fundos nas aberturas de capital dos últimos anos. Agora, com um modelo de saída testado e aprovado, espera-se que as próximas transações sejam signifi cativa-mente maiores. A compra da petroquímica Providência por um grupo de in-vestidores liderado pela americana AIG Capital é uma amostra do que pode acontecer. O valor da aquisição foi de 1 bilhão de reais. O investimento da AIG na Gol, primeiro do fundo no país, foi de apenas 26 milhões de dólares.

HÁ UMA ESPÉCIE DE CONSENSO entre os analistas: a atual onda de fusões e aquisições no Brasil ainda não atingiu sua crista. Caso não aconteça um cataclismo na economia mundial — e nada aponta para ele —-, 2007 tende a ter um número de negócios ainda maior do que o recorde deste ano. Alguns setores são vistos como os mais aquecidos. O principal deles é o de te-lecomunicações. A eventual venda da TIM pode desencadear a tão aguardada consolidação do setor. “Há um excesso de competição no país, o que diminui a rentabilidade das operadoras”, diz Felipe Cunha, analista de telecomunica-ções da corretora Brascan. “Nos próximos anos, o setor vai girar em torno de Telefônica e Telmex, que deverão ser as grandes compradoras de concorrentes no país.” Outro setor que tende a gerar negócios bilionários é o fi nanceiro. Segundo executivos de bancos de investimentos, o modelo adotado pelo Itaú na compra do BankBoston pode ser repetido por outros bancos estrangei-ros, dispostos a permanecer no país como sócios de concorrentes brasileiros. Aguarda-se também a consolidação do mercado elétrico, impulsionada por empresas como a CPFL, e do de açúcar e álcool, ainda extremamente pulveri-zado. “É difícil encontrar um setor que não esteja passando por consolidação hoje”, diz o diretor de um banco de investimentos estrangeiro.

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Movimentos de consolidação são, em tese, benéfi cos para a economia — pois a busca por sinergias aumentaria a produtividade e a efi ciência das em-presas. A má notícia é que a maior parte das aquisições não traz o retorno es-perado pelos acionis tas. Pesquisas indicam um índice de insucesso em torno de 55%. Os motivos são diversos (veja quadro ao lado). “O maior problema é o sonho de gigantismo, que leva empresas a fazer aquisições desnecessárias a um preço alto demais. Há também aquelas compras movidas a desespero, pelo medo de fi car pequeno e ser comprado”, diz Stefano Bridelli, presidente da consultoria Bain & Company. “Transações assim não contam com uma boa tese de investimento e correm grande risco de dar errado.” A compra da Compaq pela HP é tida como um exemplo do perigo do excesso de confi an-ça. Carly Fiorina, ex-presidente mundial da HP, apostou sua carreira numa transação de 19 bilhões de dólares que prometia sinergias fabulosas. Logo fi cou evidente que as sinergias não viriam (pelo menos não no ritmo desejado pelos acionistas), e seu emprego se foi. Com tamanho índice de insucesso, aquisições podem levar até mesmo à perda de efi ciência na economia, não o contrário. Um estudo de F.M. Scherer, professor emérito de Harvard, mos-trou que ondas de fusão já tiraram produtividade da economia americana e frearam seu crescimento. “Altas no número de negócios indicam um elevado nível de otimismo com o futuro”, disse ele a EXAME. “E o otimismo em ex-cesso pode ser perigosíssimo.” Scherer descreve o que chama de síndrome dos vencedores. Quanto mais otimista em relação ao futuro, mais um executivo está disposto a pagar numa aquisição. “Ele não leva em conta que, se houver uma reversão no cenário, a empresa sofrerá um tombo brutal.”

SEGUNDO OS ESPECIALISTAS, outra leva de desafi os (talvez ainda mais importantes do que a avaliação correta do alvo) surge depois do anúncio da compra, do aperto de mãos entre presidentes e do brinde com champa-nhe. Fusões são consideradas os momentos mais traumáticos da vida de uma empresa, especialmente da comprada, e qualquer erro no processo de absor-ção pode retardar o retorno dos investimentos. O caso da DaimlerChrysler já se tornou clássico. Americanos e alemães desentenderam-se por tanto tempo que o preço das ações caiu 25% nos quatro anos seguintes à fusão. No Brasil, a fusão de UBS e Pactual é aguardada com atenção pelos concorrentes, pois as culturas dos dois bancos são tidas como antagônicas: os cariocas do Pac-tual são famosos pela agressividade, enquanto os suíços do UBS preferem o conservadorismo. “É comum a empresa compradora tirar as características da comprada”, diz Ivan de Souza, da consultoria Booz Allen Hamilton. “O pro-blema é que essas características podem ser a razão do sucesso da companhia adquirida, e mudar isso pode ser um atalho para o fracasso.”

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Os erros mais comuns

As falhas que podem atrapalhar uma fusão

Excesso de otimismoAchar que o mercado seguirá em alta pode levar a compradora a pagar demais,

difi cultando o retorno

Diversifi cação impensadaA sede por crescimento a qualquer custo leva a companhia a aventurar-se por

setores que não conhece

Mudar por mudarA compradora não dá valor às qualidades da comprada e perde a chance de

aprender com elas

Falhas de comunicaçãoAquisições são momentos de tensão entre funcionários, e erros no diálogo

Fontes: Harvard, Booz Allen

Pode parecer paradoxal — e é —, mas, embora os números mostrem que aquisições são movimentos extremamente arriscados e complexos, é pratica-mente impossível encontrar uma empresa bem-sucedida que não tenha posto em prática uma ousada estratégia de crescimento por meio delas. Os exem-plos, no Brasil, são vários. Desde que Roger Agnelli assumiu a presidência da Vale, em 2000, a empresa já comprou 14 companhias no país e no exterior. A Gerdau também fez diversas aquisições na última década, assim como Itaú, Bradesco, Ambev, Pão de Açúcar e Votorantim, entre outras. A resposta a esse paradoxo pode estar no aprendizado trazido pelo hábito de fazer aquisições. Um estudo da Bain, feito com 1.700 empresas em todo o mundo, mostrou que as mais bem-sucedidas em aquisições são aquelas que compram sempre, esteja o mercado em euforia ou em depressão — assim, o negócio ganha com a valorização das ações na alta dos ciclos e a companhia pode fazer compras a preço de banana nos momentos de baixa.

Além de não se deixar infl uenciar por ondas de euforia, essas empresas ga-nham com a experiência, fundamental para identifi car as melhores oportuni-dades, evitar compras supervalorizadas e fazer a absorção dos alvos da melhor maneira. “A taxa de sucesso é proporcional ao aprendizado em aquisições an-teriores”, diz Betânia Tanure, professora da Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte. Depois do retumbante fracasso oriundo da compra do banco de investimentos Kidder Peabody, a americana General Electric, considerada a maior compradora do planeta, refez sua estratégia de aquisições. Hoje, tem uma equipe de mais de 200 pessoas cuja função é vasculhar o mercado em busca de boas compras e, depois, integrá-las efi cientemente. Empresas com histórico de sucesso costumam receber votos de confi ança do mercado quan-do anunciam novas compras. No anúncio da fusão com o BankBoston, as

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ações do Itaú subiram 4%. No dia em que os acionistas da Inco aceitaram a oferta da Vale, os papéis da empresa também se valorizaram 4%. Claro, acio-nistas se empolgam em momentos de alta — e todos torcem para que a onda de compras atual não se transforme em ressaca quando a euforia passar”.

Revista Isto É — “Sadia sem segredos: Como a tentativa de compra hos-til da Perdigão transformou-se em um rumoroso caso de vazamento de informações privilegiadasPor Octávio Costa

A oferta pública de compra das ações da Perdigão pela Sadia, anunciada no dia 16 de julho, prometia fazer história no mercado de capitais brasilei-ro. Não havia até então registro de tentativa de tomada hostil de controle acionário desse porte no País envolvendo as duas maiores empresas de um setor importante da economia. A operação, como se sabe, não foi concluída porque os principais acionistas da Perdigão, entre eles fundos de pensão, re-jeitaram o preço oferecido pela Sadia. Não bastasse o malogro da operação, sabe-se agora que o que vai entrar para os anais das bolsas de valores não é propriamente a oferta pública, mas sim o mais rumoroso caso de inside infor-mation de que se tem notícia. O uso de informação privilegiada à época da operação envolveu, além das duas empresas, uma corretora paulista de porte, a Coinvalores, e o seu sócio Fernando da Silva Telles. Por coincidência no mínimo estranha, Silva Telles é genro do maior acionista individual da Sadia, o empresário Osório Henrique Furlan, pai de sua esposa Leila Furlan da Silva Telles e do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. Pesa sobre ele a acusação de ter faturado R$ 5 milhões, em menos de uma semana, por saber antes do restante do mercado da tentativa de compra da Perdigão pela Sadia. O caso está sendo investigado pela Comissão de Valores Mobiliários, que, a partir de denúncias da Sadia e da Bolsa de Valores de São Paulo, abriu inquérito para apurar o uso de inside information. O processo, sigiloso, está em andamento.

Sempre que há suspeita de uso de informação privilegiada nas bolsas, os primeiros indícios são a oscilação súbita de preços e o volume de negócios muito acima da média diária. O episódio com as ações ordinárias da Perdigão não fugiu a essa regra. Nos três pregões que antecederam o anúncio ofi cial da oferta pública de compra das ações da Perdigão pela Sadia, nos dias 12, 13 e 14 de julho, a cotação dos títulos da empresa cobiçada pelo maior frigorífi co do País subiram mais de 20%, de R$ 21 para R$ 26. E o volume de negó-cios diários com esses papéis na Bovespa saltou de R$ 15 milhões para R$ 77 milhões. Também na Bolsa de Nova York, as transações com os ADRs da Perdigão alcançaram nível fora do habitual. Olhando em retrospecto, é razo-ável supor que o movimento atípico com essas ações é que levou a direção da

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Sadia a antecipar o comunicado ao mercado sobre a oferta, que seria feito na terça-feira 18, para o domingo 16 de julho. A empresa, porém, sustenta que apressou o anúncio porque a valorização dos papéis estava anulando o prêmio que se dispunha a pagar aos acionistas da Perdigão.

A desconfi ança de que algo fugira de controle foi confi rmada no dia 3 de agosto, quando a Sadia recebeu carta com denúncia de que a corretora Coin-valores, de Silva Telles, estava por trás da especulação e chegou a responder por 43% do total de compra de ações da Perdigão naqueles dias. Em nota ofi cial de seu presidente, Walter Fontana Filho, a Sadia informou que, assim que recebeu a planilha com as operações da Coinvalores, encaminhou suas suspeitas à CVM. Já a Bovespa garante que alertou a CVM na própria sema-na dos volumes anormais.

Os inquéritos administrativos da CVM não são diferentes dos que correm na Justiça Comum. A fase de instrução, quando se tomam depoimentos e se colhem as provas, é lenta e costuma se arrastar por meses, às vezes anos. Mas o caso da Perdigão tem origem numa oferta pública de grande repercussão e, por isso, merece uma resposta célere do xerife do mercado de capitais. Houve ou não vazamento da oferta pública da Sadia e uso de informação privilegiada? Fernando da Silva Telles participou ou não da operação? Quan-to à primeira pergunta, não há muito tempo a perder, já que a Sadia está convencida de que houve “operações atípicas com títulos da Perdigão nos três dias anteriores e nos três dias posteriores à divulgação do Edital de Oferta Pública”. Não há dúvida: a operação vazou. E a Sadia não só comunicou o fato à CVM, em carta datada de 4 de agosto, como prestou informações à CVM e à americana SEC (Securities and Exchange Commission) sobre “os administradores, acionistas, advogados, bancos e consultores” que tiveram acesso às informações sobre a operação, antes de sua divulgação ao mercado. Na empresa, comenta-se que estão arrolados até os nomes dos funcionários da copa que serviram café durante as reuniões que trataram do assunto.

Quanto à participação de Silva Telles, a resposta fi nal caberá à CVM. Mas contra ele conspira a inédita atuação da Coinvalores, que jamais demonstrara interesse pela Perdigão e, de repente, liderou o volume de negócios com as ações da empresa, abocanhando R$ 5 milhões. Procurado por DINHEIRO, o corretor preferiu deixar as explicações por conta de seus assessores. Eles juram de pés juntos que o corretor já teria comprovado sua inocência no inquérito da CVM. Um argumento, porém, é claudicante nesses dias de in-ternet: Fernando, que também é conselheiro da Bovespa, estaria no Exterior quando as operações foram fechadas e não soube das ordens de compra. A outra linha de defesa vai depender das investigações: segundo ele, as opera-ções foram realizadas por “dois grandes e tradicionais clientes pessoas físicas” da Coinvalores. A Bovespa, em nota ofi cial, confi rmou que não há negócios em nome de nenhum dos sócios da Coinvalores. Telles, contudo, não explica

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por que seus “dois grandes clientes” de um hora para outra decidiram investir pesado nas ações da Perdigão, exatamente nos dias que antecederam o anún-cio da oferta pública. Além disso, o corretor mantém em sigilo o nome dos investidores que venderam as ações da Perdigão entre 17 e 19 de julho, no pico da alta. Diz que, submetido ao segredo de Justiça, não pode revelar o teor do seu depoimento.

Se o uso de inside information ocorreu e Silva Telles não foi o responsável, quem, então, teria cometido o ato ilícito? A resposta deve estar entre as deze-nas de nomes arrolados pela Sadia, de todos que tiveram acesso ao edital da oferta de compra. Um deles é o de Luiz Fernando Furlan, que, quando as-sumiu o Ministério, repassou a parentes todas as ações que possuía da Sadia, empresa de sua família. O pai do ministro, Osório Henrique Furlan, detém 5,82% das ações ordinárias, e sua mãe, Lucy Fontana Furlan, é irmã do fun-dador da Sadia, Attílio Fontana. Através da Sunfl ower Participações, a família Fontana controla 12,46% do capital votante. Furlan, portanto, é herdeiro da Sadia pelos dois lados, mas se afastou do acordo de acionistas (um dos órgãos decisórios da Sadia) para atender às exigências da Comissão de Ética Pública da Presidência da República. A princípio, Furlan não é alvo de investigação da CVM, cujo foco deve estar centrado na Coinvalores. Com o inquérito em andamento, a CVM mantém a tradição e fecha-se em copas. Do prédio da rua 7 de Setembro, no Centro do Rio, não vaza nenhuma informação”.

Arcelor x Mittal:“Mittal faz nova proposta pela Arcelor18.05.2006Com o sinal verde dos reguladores europeus, a Mittal volta à briga pela compra da rival Arcelor. Negócio pode chegar a US$ 27 bilhões

EXAME Depois de mais de três meses desde a primeira oferta, a Mittal apresentou, nesta quinta-feira (18/5) uma nova proposta pela rival Arcelor. O valor da oferta deve fi car entre 23 bilhões e 27 bilhões de dólares. Os termos do negócio permanecem inalterados: 25% será pago em dinheiro e o restante em ações da Mittal.

Mittal e Arcelor são as maiores siderúrgicas do mundo. Juntas, as duas companhias respondem por 10% da produção mundial de aço, com um va-lor de mercado da ordem de 40 bilhões de dólares.

Desde a primeira oferta, em janeiro, a Arcelor vem lutando contra a fusão. O principal executivo da companhia, Guy Dollé, classifi cou a proposta como “totalmente hostil” e vem batalhando para inviabilizá-la. O conselho não apenas sugeriu aos acionistas que não vendessem suas ações, como também

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adotou uma política de distribuição de dividendos, que equivale a 20% do lucro da empresa em 2005.

A proposta de compra também fi cou em suspenso em função da Justiça Americana, que vinha investigando um possível caso de truste na fusão. On-tem foi a vez de os reguladores europeus darem sinal verde ao processo de fusão.

O conselho da Arcelor chegou a admitir a venda da empresa, mas com uma condição: que a Mittal pagasse toda a quantia em dinheiro. O CEO da Mittal, Lakshmi Mittal, limitou o valor em 25%, mas segundo o jornal Financial Times, é possível que ele aumente o valor da oferta, caso a Arcelor continue se opondo a um acordo. Os acionistas têm até o dia 29 de junho para decidir”.

“Arcelor recua em negociação com Mittal20.06.2006Diretoria da siderúrgica cancela reunião sobre plano de recompra de ações

EXAME Depois de muita resistência, a Arcelor começa a dar sinais de recuo nas negociações com sua arqui-rival Mittal Steel. Na noite de segunda-feira, a siderúrgica com sede em Luxemburgo anunciou o cancelamento de uma reunião com acionistas, marcada para quarta-feira, para votar um plano de recompra de ações.

O controverso plano é parte dos esforços da Arcelor para defender-se das investidas da Mittal, que já apresentou oferta de 33 bilhões de dólares pela empresa. A diretoria da Arcelor já revelou que prefere uma fusão com a side-rúrgica russa Severstal.

Segundo analistas, o cancelamento da reunião pode representar uma chan-ce de a Mittal — companhia holandesa controlada pelo bilionário indiano Lakshmi Mittal — ter sua proposta aprovada. A Arcelor vem resistindo às investidas da Mittal há cinco meses.

A empresa precisaria da aprovação de três terços dos acionistas para co-locar o plano de recompra em prática. Mas analistas acreditam que muitos acionistas estão mais empolgados com a oferta da Mittal. A Arcelor nega que o plano tenha o objetivo de bloquear a oferta da Mittal (com prazo até 5 de julho). Segundo a empresa, o projeto busca recompensar os acionistas. Mas a diretoria afi rmou que o cancelamento da reunião de quarta-feira se deve à “atual discussão entre Arcelor e Mittal e para não prejudicar qualquer solução para o futuro da Arcelor”.

Uma reunião de acionistas está marcada para 30 de junho. Na data, deverá ser votada a proposta de união com a Severstal, que criaria a maior siderúr-gica do mundo”.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 152

“Arcelor e Mittal concordam com fusão26.06.2006Negócio avaliado em US$ 33,6 bilhões cria a maior siderúrgica do mundo

EXAME Depois de resistir cinco meses, a diretoria da siderúrgica Arcelor, com sede em Luxemburgo, decidiu fi nalmente neste domingo aceitar a pro-posta de compra da Mittal Steel. Com a fusão das duas maiores siderúrgicas do mundo — em um negócio no valor de 33,6 bilhões de dólares — será criada uma gigante do setor, três vezes maior que sua rival mais próxima. A nova empresa, chamada Arcelor Mittal, terá produção anual de mais de 100 milhões de toneladas de aço.

A decisão foi tomada na noite de domingo, após uma longa reunião da diretoria da Arcelor, que aceitou a nova proposta da Mittal, de 40,4 euros por ação, valor 43% superior à oferta inicial, de janeiro. Antes de aceitar a proposta da Mittal — pertencente ao bilionário indiano Lakshmi Mittal — a Arcelor chegou a anunciar algumas medidas defensivas, como a possibilidade de recompra de ações ou uma fusão com a rival russa Severstal. O acordo ainda deve ser aprovado pelos acionistas.

A Severstal afi rmou na noite de domingo que estava surpresa por não ter sido convidada pela Arcelor para discutir uma nova proposta ou responder à oferta da Mittal. O grupo russo disse estar “reavaliando suas opções” depois de perder a batalha pela Arcelor, o que, segundo reportagem da BBC, pode signifi car a intenção de processar a Arcelor por quebra de contrato”.

“Após exigências da CVM, Arcelor fi ca em R$ 47,90 por ação13.02.2007Valor representa prêmio de 13,1% sobre o preço de mercado dos papéis

AGÊNCIA ESTADO A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) divul-gou as exigências fi nais formuladas por sua área técnica com relação à oferta pública de compra de ações (OPA) da siderúrgica Arcelor Brasil. Segundo o documento, a autarquia entendeu que a OPA brasileira deve ser de 4,60 euros por ação, no que se refere à parcela em dinheiro, e de 0,3931 papéis da controladora Mittal, no que tange à fatia em ações.

“Na presente data, o preço total estimado em reais, por ação da Arcelor Brasil, é de 47,90 reais, considerando: (a) a cotação de fechamento das ações de Mittal em 9 de fevereiro de 2007; e (b) os ajustes decorrentes do pagamen-to dos dividendos anunciados pela Mittal.” Tal estimativa, pondera a CVM, ainda não está ajustada pelo acréscimo decorrente da atualização da parcela em dinheiro.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 153

O valor divulgado pelo órgão regulador (47,90 reais) representa um prê-mio de 13,1% em relação ao preço atual de mercado das ações da Arcelor Brasil, que fecharam ontem cotadas a 42,35 reais a unidade na Bolsa de Va-lores de São Paulo.

A autarquia afi rmou ainda que, tratando-se de OPA obrigatória, não se admite limitação de adesão por critério de residência dos investidores, a me-nos que haja oferta alternativa, apenas em dinheiro, que assegure ao menos o tratamento igualitário à OPA com permuta de ações, isto é, quantia em dinheiro que equivalha ao preço da OPA com permuta realizada no Brasil na data de sua liquidação.

As exigências fi nais, conforme o aviso, deverão ser atendidas até o dia 27 de fevereiro deste ano”.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 154

175 Assim observam João Laudo de Ca-

margo e Maria Isabel do Prado Bocater:

“[A governança corporativa] desperta

interesse, portanto, não apenas dentre

os estudiosos do Direito, mas também

entre os que se dedicam a outros cam-

pos, como Economia, Administração e

Finanças” (Conselho de administração:

seu funcionamento e participação de

membros indicados por acionistas mi-

noritários e preferencialistas. In: LOBO,

Jorge (Coord.). Reforma da Lei das

Sociedades Anônimas. Rio de Janeiro:

Forense, 2002; p. 387). Reconhecendo a

interdisciplinaridade da matéria, a dou-

trina ibérica aponta que “não se trata

[...] de um tema estritamente jurídico”

(SAN PEDRO, Luis Antonio Velasco. O

governo das sociedades cotadas (cor-

porate governance) em Espanha: o “Re-

latório Olivencia”. Boletim da Faculdade

de Direito da Universidade de Coimbra, v.

75, p. 279-314, Coimbra, 1999, p. 279).

176 Conforme observa João Bosco Lodi, a

governança corporativa “passou a ser o

título de numerosos seminários, cursos

universitários e publicações em todo

o mundo, especialmente nos Estados

Unidos e Inglaterra” (Governança corpo-

rativa: o governo da empresa e o con-

selho de administração. Rio de Janeiro:

Campus, 2000. pp. 16-17).

177 À guisa de exemplo, podemos lem-

brar, no Brasil, a Lei nº 10.303/01, que

reformou a Lei das Sociedades Anôni-

mas, e, no direito norte-americano, o

Sarbanes-Oxley Act. Ainda, no direito

italiano, data de fevereiro de 1998 o

Decreto Legislativo nº 58/98, que incre-

mentou a proteção dos acionistas mino-

ritários (BIANCHI, Marcelo; ENRIQUES,

Luca. Corporate Governance in Italy af-

ter the 1998 Reform: What role for insti-

tutional investors?. Quaderni di Finanza,

nº 43, Consob — Comissione Nazionale

per le Societá e la Borsa, Janeiro 2001.

Disponível em: http://www.consob.it/

index.htm. Acesso em: jul. 2002. p. 7).

Vale lembrar que a auto-regulação cos-

tuma ser a característica primordial da

governança corporativa (nesse sentido,

seja consentido remeter, por todos, a

SAN PEDRO, Luis Antonio Velasco. Op.

cit., p. 288). Em relação à utilização de

mecanismos legais para implemento de

boas práticas de governança, cumpre

observar que “as reformas legislativas

para aumentar os direitos dos minoritá-

rios geralmente encontram sérios obs-

táculos políticos. Reformas brancas, via

mecanismos de adesão voluntária por

meio de contratos privados aparecem

como uma alternativa mais factível”

(CARVALHO, Antonio Gledson de. Efeitos

da migração para os níveis de governan-

ça da Bovespa. Disponível em: www.

econ.fea.usp.br/gledson/artigo.htm.

Acesso em: maio 2003).

178 Nesse sentido, aponta-se a opinião

de Cláudio Oksenberg: “A recente dis-

AULAS 21 E 22: GOVERNANÇA CORPORATIVA

GOVERNANÇA CORPORATIVA

Nos últimos anos, o tema da governança corporativa invadiu o universo jurídico e econômico175, ensejando discussões acaloradas, diversifi cada pro-dução acadêmica176 e relevantes reformas legislativas177. Apesar de criticada por alguns por ser apenas um novo rótulo para o sistema de relacionamentos entre os acionistas e a administração da empresa178, é inegável sua relevância prática179, tendo em vista que a adoção de boas práticas de governança cor-porativa tem atraído a atenção dos investidores na hora de direcionar suas aplicações no mercado de valores mobiliários180.

As raízes da governança corporativa ligam-se à tradição anglo-saxônica181, embora se possam verifi car distinções entre as abordagens da Inglaterra e dos Estados Unidos ao tema182. A explicar tal pioneirismo, exsurgem dois fatores, quais sejam, a força do mercado de capitais norte-americano e a ocorrência de diversos escândalos fi nanceiros no seio das companhias.

Evidenciou-se, assim, a necessidade de serem revistas as atribuições e as responsabilidades dos agentes das companhias. Nesse cenário, surgiram di-versos códigos ao redor do mundo visando a estudar e propagar as práticas de boa governança corporativa183. Tais códigos, embora lhes falte coercibilidade legal, vêm se tornando cada vez mais necessários para uma atuação compe-titiva no mercado acionário globalizado, em face da pressão exercida pelos investidores.

Embora muito se comente acerca da importância da boa governança cor-porativa, escassos são os estudos em que efetivamente se defi ne seu signifi ca-do184. Com efeito, não é simples a tarefa de delimitar o conceito da expressão ‘governança corporativa’, tanto que ainda não se encontra uma noção jurídica do termo185, apesar do esforço envidado pela doutrina. O conciso conceito proposto pelo Cadbury Report — um dos importantes códigos de governan-ça corporativa — é talvez um dos que melhor traduz a abrangência do termo: “Governança corporativa é o sistema pelo qual as sociedades são administra-das e controladas”186.

Já segundo o IBGC, Governança Corporativa pode ser defi nida como:

“Governança Corporativa é o sistema que assegura aos sócios-proprietários o go-verno estratégico da empresa e a efetiva monitoração da diretoria executiva. A relação entre propriedade e gestão se dá através do conselho de administração, a auditoria independente e o conselho fi scal, instrumentos fundamentais para o exercício do con-trole. A boa Governança assegura aos sócios eqüidade, transparência, responsabili-

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 155

cussão em torno das boas práticas de

governança corporativa nas sociedades

anônimas, embora pareça um tema

novo e inédito no Direito, não é nada

mais que uma roupagem diferente dada

a velhas discussões jurídicas em torno

do poder de controle e da administra-

ção nas sociedades anônimas. Contudo,

devido a diversos fatores surgidos nas

últimas décadas, esse tema voltou a

ser amplamente discutido, de forma

bastante salutar, no âmbito das socie-

dades anônimas em todo o mundo,

em especial no que tange ao cada dia

mais importante mercado de capitais”

(Governança corporativa: o poder de

controle na sociedade anônima. Mono-

grafi a apresentada ao Departamento de

Direito da Pontifícia Universidade Cató-

lica, Rio de Janeiro, p. 6 — grifou-se).

Em linhas análogas, João Bosco Lodi,

salientando o papel reservado ao Con-

selho de Administração, defi ne a gover-

nança corporativa como “um novo nome

para o sistema de relacionamento entre

acionistas, auditores independentes e

executivos da empresa, liderado pelo

Conselho de Administração” (Op. cit., p.

9 — grifou-se).

179 Paulo César Gonçalves Simões de-

monstra tal importância, nas seguintes

palavras: “Afi rmam alguns que gover-

nança corporativa é apenas um novo

nome para designar um conceito que

se identifi ca com uma nova concepção

modernizada da aff ectio societatis,

ajustada à característica de mutabilida-

de da pessoa do acionista. É inegável,

entretanto, que esse movimento ex-

pressa uma nova dinâmica nas relações

societárias, que produz seus efeitos em

todo o mundo capitalista e merece,

portanto, uma denominação própria”

(Governança corporativa e o exercício

do voto nas S.A. Rio de Janeiro: Lumen

Juris, 2003. p. xii).

180 Tal efeito apresenta uma importân-

cia crescente em face da conjuntura

econômica atual. De fato, “com o ad-

vento da globalização, juntamente

com a política de altos juros praticada

em um passado recente pelo Fede-

ral Reserve e as sucessivas crises nos

mercados chamados ‘emergentes’, a

captação e a alavancagem de recursos

pelas empresas brasileiras no mercado

de capitais nacional têm se tornado

cada vez mais difíceis. Some-se a

esses fatores a concorrência exercida

pelas bolsas internacionais” (RIBEIRO,

Milton Nassau. Fundamentos e efeitos

jurídicos da governança corporativa

no Brasil. Revista de Direito Mercantil,

Industrial, Econômico e Financeiro, São

Paulo, Malheiros, v. 127, jul./set. 2002,

p. 165, grifou-se). O processo de privati-

zação implementado na última década

também incrementou a importância

dos investidores particulares. Nesse

sentido, preconiza Norma Parente: “O

Brasil, seguindo a tendência mundial,

dade pelos resultados (accountability) e obediência às leis do país (compliance). No passado recente, nas empresas privadas e familiares, os acionistas eram gestores, confundindo em sua pessoa propriedade e gestão. Com a profi ssionalização, a pri-vatização, a globalização e o afastamento das famílias, a Governança Corporativa colocou o Conselho entre a Propriedade e a Gestão.”

Busca-se com as boas práticas de governança corporativa garantir trans-parência às relações de poder nas companhias, de forma a assegurar maior controle (prestação de contas, ou accountability) e equilíbrio societário (eqüi-dade). Tudo visando melhorar o desempenho e, com isso, o acesso da em-presa ao capital. Trata-se de um olhar mais acentuado ao controle e direção dos negócios, que, em última instância, ajuda a trazer novos investimentos, ao mesmo tempo em que atrai novos sócios. Ou seja, facilita o cumprimento da fi nalidade da sociedade.

A Governança Corporativa tem como princípios básicos o seguinte:

Transparência: mais do que a obrigação de informar é o desejo de disponibi-lizar informações;

Equidade: tratamento justo de todos os stakeholders;Accountability: prestação de contas pelos agentes degovernança por sua atu-

ação;Responsabilidade Corporativa: zelar pela sustentabilidade da organização,

visando a sua longevidade, incorporando considerações de ordem social e am-biental nos negócios e operações;

Entre as boas práticas de governança corporativa, podem-se destacar, den-tre inúmeras outras:

(i) É recomendável que a assembléia geral ordinária realize-se na data mais próxima possível ao fi m do exercício fi scal a que ela se refere;

(ii) A companhia deve tornar plenamente acessíveis a todos os acionistas quaisquer acordos de seus acionistas de que tenha conhecimento, bem como aqueles em que a companhia seja interveniente;

(iii) O conselho de administração deve ter de cinco a nove membros tecnicamente qualifi cados, com pelo menos dois membros com ex-periência em fi nanças e responsabilidade de acompanhar mais de-talhadamente as práticas contábeis adotadas. O conselho deve ter o maior número possível de membros independentes da administra-ção da companhia;

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 156

já privatizou as grandes estatais e

abriu sua economia. Em conseqüência,

o Estado hoje pode se dedicar mais a

atender as necessidades sociais básicas,

como saúde e educação. Tais objetivos

não se coadunam com a transferência

de recursos públicos para o setor priva-

do. Desse modo, só resta ao empresário

socorrer-se do mercado de capitais,

nos moldes dos países desenvolvidos”

(Principais inovações introduzidas pela

Lei nº 10.303, de 31 de outubro de

2001, à lei de sociedades por ações.

In: LOBO, Jorge (Coord.). Reforma da

Lei das Sociedades Anônimas. Rio de

Janeiro: Forense, 2002. p. 11). Sugere

Cláudio Oksenberg que “talvez a princi-

pal causa para a recente discussão em

torno da governança corporativa nas

sociedades anônimas seja a cada vez

mais marcante presença de investido-

res institucionais no mercado brasileiro.

Tanto os investidores institucionais es-

trangeiros, como fundos private equity

e venture capital, quanto os nacionais,

como as entidades fechadas de previ-

dência privada (‘EFPP’), além de outros

fundos mútuos de investimento, são

responsáveis por uma soma signifi ca-

tiva de recursos para serem investidos

em diversos segmentos da economia,

inclusive no mercado de valores mo-

biliários, inclusive nas companhias de

capital fechado” (op. cit., p. 54). Conso-

ante estudo da empresa de consultoria

norte-americana McKinsey, “as priva-

tizações, fusões, aquisições e as novas

gerações que assumem o comando de

empresas familiares estão forçando as

companhias brasileiras a mudar os pa-

drões usuais de governança. O objetivo

é melhorar a capacidade estratégica

e ter maior acesso a investimentos e

às bolsas de valores” (PORTAL EXAME.

Empresas brasileiras querem gover-

nança, mas sem perder o controle, diz

McKinsey).

181 Conforme acentua a melhor doutrina

européia, “a origem do processo, como

denota a expressão inglesa corporate

governance, que se utiliza para o de-

nominar, é anglo-americana, como

tem sido habitual, aliás, com muitos

dos recentes desenvolvimentos do que

poderíamos chamar Direito da empre-

sa ou dos negócios” (SAN PEDRO, Luis

Antonio Velasco. Op. cit., pp. 279-280).

182 Assim constata Paulo da Veiga

Monteiro: “Há distinções entre as

abordagens americana e britânica ao

tema. Enquanto nos EUA o foco está

nas relações entre acionistas, dire-

tores e conselheiros, no Reino Unido

a abordagem é muito mais ampla.

No entendimento britânico, a Gover-

nança Corporativa deve harmonizar

não somente os interesses das partes

citadas, mas também de todas as

partes interessadas (stakeholders), aí

incluídos empregados, clientes, forne-

cedores, instituições fi nanciadoras e a

(iv) O conselho deve adotar um regimento com procedimentos sobre suas atribuições e periodicidade mínima das reuniões, além de dis-por sobre comitês especializados para analisar certas questões em profundidade, notadamente relacionamento com o auditor e ope-rações entre partes relacionadas;

(v) As decisões de alta relevância devem ser deliberadas pela maioria do capital social, cabendo a cada ação um voto, independentemente de classe ou espécie;

(vi) O conselho de administração deve se certifi car de que as transações entre partes relacionadas estão claramente refl etidas nas demonstra-ções fi nanceiras e foram feitas por escrito e em condições de mer-cado; e

(vii) O estatuto da companhia deve estabelecer que as divergências entre acionistas e companhia ou entre acionistas controladores e acionis-tas minoritários serão solucionadas por arbitragem187.

O valor da governança corporativa — Milton Gamez188

Empresas bem dirigidas já dominam os negócios

Qual é o efeito da adoção das melhores práticas de governança corporativa no valor de uma empresa? Esta pergunta, por si só, vale bilhões de dólares — que o digam os acionistas lesados pelas quebras escandalosas de corpora-ções globais como a Enron e a WorldCom, no início da década. A resposta, por sua vez, vale ainda mais: investidores do mundo todo demonstram um apetite crescente por ações de companhias que, além de lucro e retorno sobre o capital, asseguram respeito aos direitos dos acionistas minoritários e trans-parência nos atos e resultados da administração. Ao que tudo indica, a boa governança está em alta e leva de carona os negócios e os preços das ações por onde passa.

(...)Causa e efeito — O desafi o, por trás dos números, é estabelecer se existe

de fato alguma relação de causa e efeito entre a adoção de boas práticas — como um Conselho Fiscal independente, membros externos no Conselho de Administração, ações com direito a voto para todos os acionistas, tag along, adesão à Câmara de Arbitragem — e o valor das empresas em Bolsa. Estudos publicados nos últimos anos ainda não deram a palavra fi nal, mas sugerem que sim: a qualidade dos sistemas de decisão, fi scalização e solução de confl itos societários das companhias tem refl exos positivos em seu valor de mercado.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 157

comunidade diretamente afetada pelos

negócios da empresa. Esta ampliação

da noção do que sejam as melhores

práticas de gestão da empresa, está

ligada, inegavelmente, à crescente

exigência de responsabilidade social da

corporação, algo que vai muito além da

fi lantropia com interesses publicitários”

(E a governança corporativa?. Valor

Econômico, Rio de Janeiro, 25.03.2003).

183 No Brasil, destacam-se os códigos

do Instituto Brasileiro de Governança

Corporativa — IBGC e da Comissão de

Valores Mobiliários — CVM.

184 Essa constatação é válida também

no direito estrangeiro: “Everyone in the

transition economy debate talks about

the importance of good corporate go-

vernance, but no one quite specifi es

what it means” (FOX, Merrit B.; HELLER,

Michael A. Lessons from fi ascos in Rus-

sian Corporate Governance. New York

University Law Review, 2000, p. 3).

185 Nesse sentido, recorda Paulo César

Gonçalves Simões: “Não existe ainda

uma noção jurídica do termo ‘gover-

nança corporativa’, que designa, em

geral, uma tendência, ainda em plena

evolução nos mercados de capitais, de

melhorar as relações entre os agentes

da poupança pública, que circula nes-

ses mercados, e os detentores do poder

nas empresas para onde é canalizada

essa poupança” (op. cit., p. 1).

186 No original, “Corporate governance

is the system by which companies

are directed and controlled. Boards of

directors are responsible for the go-

vernance of their companies” (Cadbury

Report, section 2.5). Já na defi nição

do Instituto Brasileiro de Governança

Corporativa: “Governança corporativa é

o sistema pelo qual as sociedades são

dirigidas e monitoradas, envolvendo

os relacionamentos entre Acionistas/

Cotistas, Conselho de Administração,

Diretoria, Auditoria Independente e

Conselho Fiscal. As boas práticas de go-

vernança corporativa têm a fi nalidade

de aumentar o valor da sociedade, fa-

cilitar seu acesso ao capital e contribuir

para a sua perenidade” (disponível em:

www.ibgc.org.br).

187 Recomendações da Comissão de Valo-

res Mobiliários — CVM sobre governan-

ça corporativa. In: www.cvm.gov.br.

188 Disponível em: www.bovespa.com.

br/InstSites/RevistaBovespa/98/Capa.

shtml.

A principal premissa dos pesquisadores é que as empresas com boa gover-nança são mais procuradas pelos investidores, o que resulta na redução do seu custo de capital e na valorização de suas ações. Evidências nesse sentido fo-ram levantadas por Leora Klaper e Inessa Love, em 2004, ao analisarem 374 grupos em 14 países emergentes, a partir de um índice criado pelo Credit Lyonnais Securities Asia. Outros acadêmicos também notaram a correlação positiva da boa governança e o valor de mercado em países como Estados Unidos, Suíça, Coréia do Sul, China e Brasil.

Executivos veteranos já sabem, por experiência, o que os estatísticos tentam provar. “As empresas com melhor governança valem mais”, diz José Guima-rães Monforte, presidente do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e conselheiro de companhias fechadas e abertas, dentre elas a Natura. O presidente da Embraer, Maurício Botelho — que prepara a companhia para a pulverização do capital no Novo Mercado, em maio — também não tem dúvidas se os investidores premiam as empresas com boas práticas de governança. “Certamente que sim”, afi rma Botelho. De que forma? “Dando maior liquidez às ações da companhia. Isso traz, por conseqüência, aumento do preço das ações.”

Na prática, há efeitos importantes da governança que podem infl uenciar o desempenho econômico de uma empresa e, conseqüentemente, suas co-tações em Bolsa. Segundo Alexandre di Miceli da Silveira, autor do livro Governança Corporativa e Estrutura de Propriedade (Saint Paul Institute of Finance, 2006), um sistema de governança corporativa efi ciente pode gerar, além da redução do custo de capital, um conjunto de benefícios internos que melhoram as perspectivas de fl uxo de caixa da companhia. Dentre esses benefícios, estão o aprimoramento do processo decisório da alta gestão e a separação clara de papéis entre acionistas, conselheiros e executivos. Também ocorre uma melhoria dos mecanismos de avaliação de desempenho e recom-pensa dos executivos e uma diminuição da probabilidade de ocorrência de fraudes e corrupção. E, ainda, a maior institucionalização e a melhor imagem da companhia.

Questões desse tipo são levadas em consideração pelos investidores de longo prazo, especialmente os institucionais, quando defi nem quanto estão dispostos a pagar por uma determinada ação. O mercado, para formar o pre-ço, funciona como uma “máquina de prêmio-desconto”, explica Monforte. “O fator determinante é o risco do negócio. Conforme a percepção do risco maior ou menor, o investidor estabelece descontos ou prêmios para as ações de determinadas empresas”, afi rma. “A governança bem instalada leva a uma percepção de risco menor de expropriação por parte dos acionistas que não são controladores ou não estão na gestão.” Daí a redução das taxas de descon-tos e a ocorrência de prêmios nas ações das companhias bem avaliadas pelo mercado.

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 158

No fundo, a empresa precisa construir uma relação de confi ança com os investidores e adotar mecanismos e processos de proteção dos seus direitos para poder acessar o mercado de capitais com sucesso. A credibilidade vem com o tempo e o exercício constante das práticas de boa governança com to-dos os públicos relacionados à companhia, defende o presidente da Embraer. “Algumas empresas não respeitam nem os empregados, como vão respeitar os acionistas?”, indaga Botelho. Nesse processo, a transparência é fundamental para gerar confi ança, avalia o executivo. “O respeito aos acionistas se traduz com informações corretas, seguras, no tempo adequado e com base em pro-cessos que dão segurança com relação aos riscos que estão sendo assumidos pela empresa.”

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ORGANIZAÇÃO JURÍDICA DA GRANDE EMPRESA

FGV DIREITO RIO 159

AULAS 23 E 24: TRANSFORMAÇÃO, INCORPORAÇÃO, FUSÃO E CISÃO.

A) MATERIAL DE LEITURA

Leitura básica

LAMY FILHO, Alfredo e BULHÕES PEDREIRA, José Luiz, “Capítulo 12”, In A Lei das S.A., Vol. II — Pareceres, Ed. Renovar, 2ª ed., pp. 538-607, Rio de Janeiro.

BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito societário. 8ª ed. Rio de Janeiro: Re-novar, 2003, pp. 479-492.

Leitura complementar

MATTAR FILHO, Paulo, “O Sistema de Proteção aos Credores nas Opera-ções de Incorporação, Fusão e Cisão” in Reorganização societária (coord. Rodrigo R. Monteiro de Castro e Leandro Santos de Aragão). São Paulo: Quartier Latin, 2005. 309-333.

B) ROTEIRO DE AULA

1. Conceito de reorganização societária

Chama-se reorganização societária a operação ou o conjunto de operações utilizado pelas sociedades para reordenar sua estrutura, com o objetivo de obter algum tipo de vantagem comparativa, tais como ganhos operacionais ou isenções fi scais.

No direito brasileiro, são quatro os principais tipos de instrumentos de reorganização societária: transformação, incorporação, fusão e cisão. Cada um destes será abordado individualmente, em breve trecho.

Enquanto a transformação envolve uma única sociedade, as operações de incorporação, fusão e cisão são realizadas entre duas ou mais sociedades, que podem inclusive ser de tipos diferentes, tais como limitadas e anônimas. O requisito para que seja realizada qualquer destas reestruturações é o respeito às previsões estatutárias ou contratuais das sociedades envolvidas, além da natural observância às disposições legais.

Ressalte-se que, caso haja a participação de companhia aberta nessas operações, a eventual sociedade resultante deverá requerer seu registro jun-

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189 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito

comercial, v. II. São Paulo: Saraiva,

2003. p. 254.

to à Comissão de Valores Mobiliários, que realizará seu poder fi scalizatório e regulatório.

2. Tipos de reorganização societária

Conforme salientado, os principais tipos de reorganização societária pre-vistos em nosso ordenamento são: a transformação, a cisão, a incorporação e a fusão. Vejamos cada uma delas.

2.1. Transformação

A transformação é a operação pela qual a sociedade altera o seu tipo, sem implicar sua dissolução ou liquidação. A sociedade mantém, portanto, a sua personalidade jurídica, alterando-se somente o seu estatuto ou contrato para fazer constar o novo tipo societário escolhido por seus sócios.

É possível que este tipo de reorganização seja mais utilizado a partir do ad-vento do Código Civil de 2002, tendo em vista o aumento das formalidades previstas no regime das sociedades limitadas, passando a optar-se pelo tipo societário das sociedades anônimas.

De qualquer maneira, a transformação é o tipo de reorganização societária mais simples, tendo em vista a relativa facilidade de seu procedimento. De acordo com Rubens Requião:

“por meio da transformação da sociedade torna-se possível, com a modifi -cação do ato constitutivo, imprimir-lhe outra tipicidade. Pode-se, como é co-mum, constituir uma sociedade “piloto” sob a forma de sociedade limitada, como primeira etapa, que, depois de montada em toda a sua estrutura legal, é transformada em sociedade anônima, fechada ou aberta. Muitos consideram — e em certos casos assim é — mais fácil e conveniente criar-se uma com-panhia, através de duas etapas, usando-se o mecanismo da transformação.”189

Essa operação exige consenso unânime entre os sócios — pois se modifi ca também a extensão da limitação da responsabilidade dos sócios e/ou acionis-tas — e deverá ser realizada de acordo com o regime de constituição do novo tipo societário a ser adotado. Cumpre observar que a unanimidade pode ser dispensada se originariamente prevista no ato constitutivo a possibilidade de sua implementação, devendo-se destacar que, nesse caso, o sócio ou acionista dissidente terá o direito de se retirar da sociedade.

Perceba-se que, consoante dispõe o art. 222 da Lei das S.A., a transfor-mação não prejudicará os direitos dos credores da sociedade transformada. Estes continuarão, até a quitação integral de seus créditos, com as mesmas garantias que o tipo societário anterior lhes assegurava. Somente os créditos

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190 Idem, p. 283.

que surgirem após a transformação irão obedecer à disciplina do novo tipo societário.

Esta ressalva faz-se necessária tendo em vista que, conforme visto em nossas aulas anteriores, as obrigações dos sócios de uma sociedade limitada podem ser mais amplas que as dos acionistas de uma sociedade anônima, podendo, assim, a transformação de uma sociedade limitada em anônima eventual-mente servir como subterfúgio para a fuga de responsabilidades eventuais dos sócios para com os credores da sociedade que se visa transformar.

2.2. Incorporação

Nos termos do artigo 227 da Lei das S.A., a incorporação é a operação societária pela qual uma ou mais sociedades (incorporadas), de tipos iguais ou diferentes, são absorvidas por outra (incorporadora), que lhes sucede em todos os direitos e obrigações, devendo os órgãos competentes de todas as sociedades envolvidas aprovar tal operação, consoante as regras próprias dos seus respectivos tipos. Temos o que se convenciona chamar de “sucessão uni-versal”. Entenda-se que:

“Da incorporação não surgirá nova sociedade, uma vez que a incorporadora irá suceder as suas incorporadas, permanecendo ela, incorporadora, com sua personalidade jurídica intacta. As incorporadas é que serão extintas com a im-plementação da incorporação.”190

Essa operação envolve, em regra, o aumento do capital da sociedade incor-poradora, posto que a mesma absorverá o patrimônio líquido da incorpora-da. O resultado fi nal dessa operação é sempre uma única sociedade.

De acordo com a relação societária previamente existente entre a socie-dade incorporadora e a incorporada, a operação pode ser classifi cada como lateral, ascendente ou descendente.

Na incorporação lateral, por exemplo, a sociedade A — que não detém qualquer participação societária na sociedade B — incorpora esta sociedade, extinguindo-se a sociedade B e subsistindo a sociedade A, conforme a seguin-te estrutura:

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AA BB

AA == AA ++ BB

Em tal situação, ocorre um aumento do capital da sociedade incorpora-dora, com a atribuição de ações de sua emissão aos acionistas da sociedade incorporada, que é extinta.

Já na incorporação denominada ascendente, a sociedade incorporadora X detém ações ou quotas representativas do capital social da sociedade Y, con-forme descrito abaixo:

XX

YY

XX == XX ++ YY

Em tal caso, o aumento do capital da incorporadora será realizado so-mente em valor correspondente ao percentual do capital da sociedade in-corporada que é detido por seus demais acionistas, excluindo-se, portanto, a participação detida pela sociedade incorporadora no capital da incorporada. Haverá, assim, atribuição de ações de emissão da sociedade X (incorporado-ra) aos acionistas da sociedade Y (incorporada).

Por fi m, na incorporação conhecida como descendente, ocorre, por exem-plo, a incorporação da sociedade W pela sociedade Z, sendo que a sociedade W detém participação societária na sociedade Z, conforme o exemplo abaixo:

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WW

ZZ

ZZ == ZZ ++ WW

Assim, em tal hipótese, as ações de emissão da sociedade incorporado-ra, inicialmente de propriedade da sociedade incorporada, são canceladas, emitindo-se novas ações que são entregues aos acionistas da sociedade incor-porada, a qual se extingue.

Note-se que a incorporação regulada no artigo 227 da Lei das S.A. difere da chamada incorporação de ações, disciplinada no artigo 252 do mesmo diploma legal, conforme será visto em nossa próxima aula.

Incorporação de ações

A incorporação de ações é a operação em que uma sociedade incorpora to-das as ações de emissão de outra sociedade para transformá-la em subsidiária integral, sem que tal sociedade seja extinta, conforme fi gura abaixo:

BB AA

BB

AA

Acionistas Acionistas A + Acionistas B

100%

Note-se, assim, que a incorporação de ações — regulada no artigo 252 da Lei das S.A. — difere da incorporação prevista no artigo 227 da referida lei, uma vez que, enquanto naquela a sociedade incorporada subsiste como subsidiária integral, nesta, a sociedade incorporada é extinta.

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Na incorporação de ações há o aumento do capital da sociedade incor-poradora em valor correspondente ao valor das ações de emissão da socieda-de a ser transformada em subsidiária integral que não sejam de propriedade da sociedade incorporadora, com a conseqüente emissão de ações atribuídas àqueles que originalmente detinham participação na sociedade incorporada.

2.3. Fusão

A fusão é a operação pela qual duas sociedades, de tipos iguais ou diferen-tes, se extinguem, dando lugar a uma nova que as sucede em todos os direitos e obrigações, conforme disposto no artigo 228 da Lei nº 6.404/76. De forma exemplifi cativa, tem-se a seguinte estrutura:

CC DD

EE == CC ++ DD

Assim como na incorporação, a nova sociedade é sucessora universal das sociedades extintas.

Note-se, no entanto, que, na prática, são raras as operações de fusão pro-priamente ditas, tendo em vista os inúmeros inconvenientes envolvidos na sua implementação — como, por exemplo, a necessidade de se constituir uma nova sociedade. Opta-se, assim, por estruturas societárias que permitam que se alcance fi ns similares aos de uma fusão — como uma incorporação ou um aumento de capital —, mas que não esbarram nas mesmas difi culdades.

2.4. Cisão

A cisão é a operação pela qual a sociedade anônima transfere a totalidade ou parcelas de seu patrimônio para uma ou mais sociedades, sendo que, no primeiro caso, extingue-se a sociedade cindida, e, no segundo, mantém-se a sociedade parcialmente cindida.

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191 Idem, p. 285.

192 Art. 137, II, alínea a, da Lei das S.A.

193 Art. 137, II, alínea b, da Lei das S.A.

Reiterando nossa conceituação, afi rma Rubens Requião:

“A cisão é a operação na qual uma sociedade transfere, para uma ou mais so-ciedades, constituídas para esse fi m ou já existentes, parcelas de seu patrimônio. Verifi cando-se a versão de todo o seu patrimônio, a sociedade restará extinta, qua-lifi cando-se a cisão de total; sendo parcial, a sociedade não se extingue, ocorrendo a divisão de seu capital, nominando-se o evento, nesse caso, de cisão parcial.”191

3. Direito de recesso

Com o advento da Lei nº 10.303/01 — a qual alterou diversos disposi-tivos da Lei das S.A. —, o direito de retirada dos acionistas de sociedades anônimas, quando da aprovação de operações de reorganização societária, sofreu signifi cativas alterações.

Fusão da companhia, ou sua incorporação em outra: conforme estabelece o artigo 137, II, da Lei das S.A., não terá direito de retirada o titular de ação de espécie ou classe que tenha liquidez e dispersão no mercado.

Há liquidez quando a espécie ou classe de ação integre índice geral repre-sentativo de carteira de valores mobiliários admitido à negociação no mer-cado de valores mobiliários, no Brasil ou no exterior, defi nido pela CVM192.

Há dispersão quando o acionista controlador, a sociedade controladora ou outras sociedades sob seu controle detiverem menos da metade das ações daquela espécie ou classe193.

Cisão da companhia: somente haverá direito de retirada se a cisão implicar mudança do objeto social, redução do dividendo obrigatório ou participação em grupo de sociedades, nos termos do artigo 137, III, da Lei nº 6.404/76.

4. Direito dos credores

Os direitos dos credores das sociedades envolvidas em operações de incor-poração, cisão ou fusão encontram-se protegidos pela Lei nº 6.404/76, va-riando de acordo com o tipo de operação societária. Assim, temos diferentes direitos para os credores para os casos de incorporação e fusão, de um lado, e para os casos de cisão, de outro.

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194 Art. 233 da Lei das S.A.

195 Art. 233, parágrafo único, da Lei das S.A.

4.1. Na incorporação e na fusão

No caso de incorporação ou fusão, os credores da sociedade têm o direito de pleitear judicialmente a anulação da operação em questão, nos termos do artigo 232 da Lei das S.A.

Esse direito, como não poderia deixar de ser, não pode tornar a sociedade refém de um eventual credor de má-fé, razão pela qual a lei societária garante à sociedade envolvida na operação o direito de consignar em pagamento ou garantir a execução (para o caso de dívida ilíquida), permitindo a continui-dade da operação.

4.2. Na cisão

Nos casos de cisão parcial, a cindida e as sociedades que absorverem parcela de seu patrimônio respondem solidariamente pelas obrigações da primeira194. Não obstante, a lei faculta às sociedades a possibilidade de estabelecer que as sociedades que absorverem o patrimônio da cindida somente respondem pe-las obrigações que lhes forem transferidas, sem solidariedade. No entanto, em tal hipótese, cabe aos credores da sociedade originária o direito de oposição a tal estipulação, devendo o mesmo ser manifestado no prazo de 90 (noventa) dias da data da publicação da ata que deliberou a cisão195.

Por outro lado, nos casos de cisão com extinção da cindida (cisão total), as sociedades que sobrevierem respondem solidariamente pelas obrigações daquela, consoante estabelece o artigo 233 da Lei das S.A.

C) CASO: SATIPEX/DURATEX

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Fatos da Operação:• Satipel incorpora Duratex;• Acionistas de Duratex receberão ações ordinárias de Satipel —

NM;• Relação de Substituição: — 3,053 ação de Satipel por ação ordiná-

ria de Duratex detida pelo controlador; — 2,544 ação de Satipel por ação ordinária detida pelos minoritários;

• Estatuto Social: ON e PN tinham direito a tag-along a 80%• Relação de Substituição mais favorável que tag-along — prêmio

de apenas 16.63% controle (20% Art. 254-A).• Relação de Substituição negociada por partes independentes.• Ações da Duratex têm pouca liquidez.• Nova companhia terá liquidez (free fl oat) de 40% do capital.

COTAÇÃO DAS AÇÕES DE DURATEX X SATIPEL60 pregões anteriores à divulgação da operação

45 pregões anteriores á divulgação da operação

30 pregões anteriores à divulgação da operação

Ações ON da DURATEX

3,608493 3,5139094 3,4784874

Ações PN da DURATEX

3,0327513 2,9420382 2,9416232

Questionamentos:O tratamento dos minoritários foi equitativo?Há prêmio de controle na incorporação?O controlador pode votar na age de incorporação da duratex?

D) TEXTO DE APOIO

Empresas cotadas em Bolsa aquecem os negóciosAno eleitoral costuma ser sinônimo de arrefecimento no mercado de fu-

sões e aquisições, mas, em 2006, a regra não prevaleceu. De janeiro a setem-bro, foram realizadas 386 transações desse tipo no País, 46% mais do que no mesmo período de 2005 e quase igualando as 387 negociações do ano pas-sado, segundo levantamento da consultoria PricewaterhouseCoopers. Outra consultoria, a KPMG, também constatou esse aquecimento surpreendente, estimando em 36% o crescimento dos negócios nos primeiros nove meses do ano. As operações que mais cresceram (+200%) foram as compras de em-presas estrangeiras por brasileiras (chamadas cross-border). E as previsões são de uma nova temporada aquecida. “2007 deve ser o ano de apogeu do ciclo de alta para essas transações”, prevê Cláudio Leoni Ramos, sócio da KPMG

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Corporate Finance. Outro especialista, o advogado Juliano Battella Gotlib, sócio do escritório Azevedo Sette, confi rma: “As perspectivas para o próximo ano são excepcionais”.

A expansão do mercado de capitais alavanca as fusões e aquisições. “A evo-lução do mercado de capitais foi fundamental para incentivar os negócios de compra de empresas”, nota Raul Beer, sócio da área de Corporate Finance da Pricewaterhouse. Houve, afi rma, um salto qualitativo das companhias com papéis negociados na Bovespa, sufi ciente para manter as transações aquecidas em ano de eleições.

Empresas que fazem um lançamento inicial de ações (IPO), enfatiza Beer, podem levantar recursos destinados a aquisições. “Esse é um movimento que nunca vimos antes no Brasil, mas que fi cou claro neste ano com vários exem-plos, como o da Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR) e da Totvs”. Os números sustentam os argumentos de Beer: até meados de outubro, os lançamentos de ações somaram cerca de R$ 27 bilhões e superaram em 60% o total de 2005. Para isso, contribuiu muito a adoção de padrões contábeis reconhecidos internacionalmente e o elevado nível de governança corporati-va das empresas cotadas na Bovespa. Empresas com essas características têm, ao mesmo tempo, mais capacidade de compra e são mais atrativas para in-vestidores.

As fusões e aquisições são diversifi cadas, mas alguns segmentos se destaca-ram, como mineração, tecnologia de informação, usinas de açúcar e álcool, construção e energia. Pelo critério de volume, o setor fi nanceiro se destaca. Segundo a Pricewaterhouse, os três maiores negócios realizados até setembro foram desse segmento: a compra do Pactual pelo UBS por US$ 2,5 bilhões e a aquisição, pelo Itaú, do BankBoston no Brasil, por US$ 2,2 bilhões e no Chile e Uruguai, por US$ 1,1 bilhão. Essas transações somaram US$ 5,8 bilhões, mais que o dobro do total dos outros quatro maiores negócios em volume no período, que acumularam US$ 2,78 bilhões — entre os quais outra transação no segmento fi nanceiro: a compra do American Express pelo Bradesco, por US$ 490 milhões.

Os lucros favoreceram as aquisições. O balanço do terceiro trimestre mos-trou que todo o ágio referente à compra do BankBoston foi pago com o lucro de três meses do Itaú.

Pique em outubro — Em outubro, os números ganharam impulso com a compra, pela Companhia Vale do Rio Doce, de 75,6% do capital da mi-neradora canadense Inco, segunda maior produtora de níquel do mundo. A operação, estimada em US$ 17,2 bilhões, foi a maior feita por uma empresa brasileira. A Vale tornou-se a segunda maior mineradora do mundo, atrás somente da BHP Billiton. Também em outubro, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) anunciou a intenção de fundir-se com a norte-americana Wheeling Pittsburgh para as operações nos Estados Unidos. A Wheeling tem

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capacidade para produzir 2,8 milhões de toneladas de placas e 3,4 milhões de toneladas de laminados a quente por ano, e seu valor de mercado é calculado em US$ 291,6 milhões.

A evolução dos investimentos brasileiros no exterior é simbólica. Segun-do o Banco Central, as empresas brasileiras tinham investimentos diretos de US$ 79,2 bilhões, em 2005, contra US$ 69,1 bilhões, em 2004, e US$ 49,6 bilhões, em 2001. É uma tendência, segundo os especialistas, fortalecida pelo crescimento do mercado de capitais brasileiro. “Empresas com presença na Bovespa conseguem captar recursos via emissão de ações e também têm visibilidade e excelência administrativa”, afi rma Cláudio Ramos, da KPMG. “Essa situação permite que tenham força para crescer também via aquisições de empresas no exterior, como aconteceu este ano com Vale e Gerdau, entre outras. Elas ganham força para investir valores expressivos, de olho no merca-do externo, já que identifi caram que em muitos casos a concorrência é mais global do que local.”

O segundo semestre de 2006, segundo Ramos, foi o “período em que as empresas brasileiras mais foram às compras no exterior”. Em outubro, a Ger-dau Ameristeel, subsidiária da Gerdau nos Estados Unidos, fechou parceria com a Pacifi c Coast Steel, ampliando sua presença no país. O grupo brasileiro pagará US$ 104 milhões por participação majoritária na PCS, com a qual reforçará sua atuação no mercado de corte e dobra de aço para construção. Em setembro, a Vale já tinha anunciado associação com uma empresa da China. Pelos estudos da KPMG, esse tipo de aquisição se expandiu também entre empresas menos conhecidas do investidor, como a Forjas Taurus, que comprou 49% da Taurusplast, que pertenciam à Contenedores Argentinos e à italiana Triulzi.

As companhias brasileiras listadas na Bovespa destacam-se entre as mais internacionalizadas, conforme ranking da Fundação Dom Cabral. A avalia-ção foi feita por sete itens referentes à presença externa. A líder é a Gerdau, a Vale ocupa o terceiro lugar (sem levar em conta a compra da Inco), seguindo-se a Petrobras e a Marcopolo. Outras empresas do ranking são Embraer, Sa-dia, Aracruz Papel e Celulose, Randon, Perdigão, Datasul e Braskem.

Outro levantamento, feito por consultorias e pelo jornal Valor, destaca a importância das empresas listadas na Bovespa: houve 26 operações de fusão ou aquisição envolvendo companhias que ingressaram na Bovespa nos últimos dois anos. Os negócios superaram R$ 5 bilhões. Além da CCR e Totvs, entre as “novatas” na Bolsa que fi zeram aquisições estão Dasa, Submarino, OHL, Cyrela, Cosan, Gafi sa, Lupatech, ALL, GP Investments, Brasilagro e Net.

Depois de optar pelo mercado de capitais, a Totvs deslanchou. Recebeu recursos de um fundo de private equity e do BNDES e fez um lançamento de ações. Levantou R$ 460 milhões e comprou a RM Sistemas. Outro exemplo foi o da construtora Cyrela, cujas ações entraram em Bolsa em setembro de

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2005: ela incorporou a RJZ, do Rio de Janeiro e fi rmou parcerias com seis empresas.

O mercado brasileiro de fusões começa a entrar no ritmo aquecido da economia global. Em 2006, serão superados os recordes do número e volume de transações de 2000 (com 30.812 negócios, somando US$ 3,3 trilhões), se-gundo a KPMG, baseando-se nos dados do primeiro semestre (16.259 tran-sações, no valor de US$ 1,96 trilhão).

Além do Brasil, destacaram-se a Índia, a China e a Rússia — onde a fusão das russas Rusal e Sual com a suíça Glencore gerou a United Company Ru-sal, maior fabricante mundial de alumínio. A chinesa Lenovo investiu mais de US$ 1 bilhão na compra da divisão de computadores pessoais da IBM e tornou-se a terceira maior do mundo no segmento. Na siderurgia, a indiana Tata Steel adquiriu a anglo-holandesa Corus e a Mittal Steel, maior do mun-do, adquiriu a Arcelor, segunda no ranking, por US$ 31 bilhões.

Apesar do avanço já ocorrido, o Brasil tem espaço para crescer em fusões e aquisições. Ganhou cinco posições em relação a 2005, mas ainda ocupa um modesto 52º lugar numa mostra de 62 nações avaliadas pelo índice de nível de globalização da consultoria A.T. Kearney. O mercado de capitais alavanca a internacionalização. “A economia brasileira está num estágio em que é cada vez mais difícil crescer organicamente, ou seja, instalar uma empresa cum-prindo todos os passos do processo, como compra de terreno para instalar fá-brica, aquisição de máquinas, etc.”, constata Beer. Uma Bolsa forte dá alento às operações. Como observa Ramos, “temos empresas de alto nível e muitas delas ganharam força com sua presença no mercado de capitais”.

(Fonte:http://www.bovespa.com.br/InstSites/RevistaBovespa/100/Fuso-es.shtml)

E) JURISPRUDÊNCIA

“SOCIEDADE ANÔNIMA — CISÃO PARCIAL — RESPONSABILI-DADE PERANTE OS CREDORES — MATÉRIA DE FATO — SÚMU-LA 7/STJ. Afi rma o acórdão recorrido da ausência de prova da concretização da alegada cisão entre a recorrente e a sociedade Sintagro S/A. Igualmente, não há anuência expressa do credor com a transferência de seu crédito ou repactuação da cédula rural pignoratícia e hipotecária, com a conseqüente aplicação da regra do caput do artigo 233 da Lei nº 6.404/76, impondo a solidariedade entre as sociedades cindida e cindenda. Logo, inviável o recurso especial que pretende demonstrar violação aos seus termos, por incidência do enunciado nº 7 da súmula desta Corte. Com ressalvas do relator quanto à ter-minologia, recurso especial não conhecido” (STJ, 3ª Turma, REsp 276.013/MG, Rel. Min. Castro Filho, j. 16.05.2002, v.u., DJ 10.06.2002, p. 203).

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“PROCESSUAL CIVIL E COMERCIAL — CISÃO PARCIAL DE SO-CIEDADE — REPERCUSSÃO QUANTO AOS DIREITOS DO CRE-DOR — RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ENTRE A COMPANHIA CINDIDA E AQUELAS QUE INCORPORARAM PARTE DO SEU PATRIMÔNIO SOCIAL — ART. 233 DA LEI Nº 6.404/76 — INTE-LIGÊNCIA — LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ — CARACTERIZAÇÃO — APLICAÇÃO DE MULTA — INOCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 18 DO C.P.C..

I — Em se tratando de cisão parcial, nada pactuando as partes acerca da responsabilidade das obrigações sociais em relação a terceiros, prevalece a responsabilidade solidária prevista no caput do art. 233 da Lei nº 6.404/76, restando afastada a aplicação do seu parágrafo único.

II — Sobrevindo conduta temerária capaz de tornar lesivo o exercício do direito processual da parte, correta a imposição da sanção prevista no art. 18 do C.P.C..

III — Recurso especial não conhecido” (STJ, 3ª Turma, REsp 195.077/SC, Rel. Min. Waldemar Zveiter, j. 04.05.2000, v.u., DJ 26.06.2000, p. 158; RT 782/218).

“SOCIEDADE POR AÇÕES. CISÃO DE SOCIEDADE ANÔNIMA. CONFIGURAÇÃO. OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA. PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO. EX-CEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. CISÃO DE EMPRESA. TRANS-FERÊNCIA DE ATIVO E PASSIVO. OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA. Confi -gura-se cisão o negócio jurídico pelo qual uma sociedade transfere parcelas de seu patrimônio para outra sociedade criada a fi m de prosseguir na exploração de suas atividades comerciais. Não importa o nome dado pelas empresas en-volvidas ao negócio jurídico, o que importa é a realidade fática e jurídica criada por esse negócio, bem como a situação dos credores diante dessa nova situação. Logo, a obrigação de responder por dívidas originárias de execuções judiciais anteriores à cisão transferiu-se para o BANERJ S/A, pois é solidário e absorve diretamente os efeitos dessa execução. Recurso não provido” (TJRJ, 8ª CC, AI 2003.002.13112, Rel. Des. Marco Aurélio Fróes, j. 04.11.2003).

“EMBARGOS INFRINGENTES — Ação de anulação de deliberação to-mada em assembléia — Transformação de sociedade anônima em sociedade por quotas de responsabilidade limitada — Pretensão de acionista no sentido de obter anulação da deliberação da maioria — Impossibilidade de acolhi-mento da pretensão, porque: a) não houve irregularidade nas deliberações das assembléias; b) a conduta posterior da embargante mostrou-se incompatível

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com a sua inconformidade — Embargos rejeitados” (TJSP, 1ª CDPri, EI 156.252-4/0-01, Rel. Des. Alexandre Germano, j. 13.02.2001).

F) QUESTÕES DE CONCURSO

(30º Exame de Ordem OAB-RJ)51 — “A operação pela qual uma ou mais sociedades anônimas são ab-

sorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações” é a defi nição de qual dos institutos abaixo indicados:

a. Fusão;b. Transformação;c. Incorporação;d. Cisão.

(27º Exame de Ordem OAB-RJ)1 — A empresa Cia. Vale do Paraíba, sediada no Rio de Janeiro-RJ, de

capital fechado, deliberou em Assembléia Geral por sua cisão parcial no dia 10/01/2005, cuja publicação ocorreu em 10/05/2005. Foram regularmente cumpridas as exigências dos artigos 224, 225 e 226 da Lei 6404/76 (Lei de SA), bem como os artigos 1113 e 1114 da Lei 10406/2002 (Código Civil). A operação manteve a Cia. Vale do Paraíba e criou a Paraibinha Extração Ltda., tendo esta absorvido 70% do patrimônio da companhia cindida. O ato de cisão estipulou que Paraibinha Extração Ltda. será responsável apenas pelas obrigações havidas antes de 2003, restando as demais para a Cia. Vale do Paraíba.

Esteve em seu escritório, no dia 30/05/2005, o procurador da empresa Tratores Martins Ltda., credora da companhia cindida em R$ 550.000,00 (quinhentos e cinqüenta mil reais), através de duplicata de compra e venda mercantil, com vencimento em 20/09/2005. Este cliente entende que, por conta da cisão, seu crédito fi cou ameaçado, já que setenta por cento do patri-mônio de sua devedora foi transferido a outra empresa, que por sua vez não tem solidariedade com a Cia. Vale do Paraíba.

Como advogado da credora, prepare a peça pertinente ao caso apresentado.

(25º Exame de Ordem OAB-RJ)48 — Assinale a alternativa correta:a. Nas sociedades anônimas, o capital social poderá ser formado com con-

tribuições em qualquer espécie de bens suscetíveis de avaliação em dinheiro, desde que referida avaliação seja feita por 1 (um) perito, sendo vedada a con-tratação de empresa especializada para tal fi m;

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FGV DIREITO RIO 173

b. Concluída a operação de incorporação, a sociedade incorporada não se extinguirá até que sejam satisfeitas todas as suas obrigações;

c. De acordo com o direito brasileiro, é expressamente vedada a cessão, total ou parcial, da patente ou do pedido de patente;

d. A nota promissória é uma promessa de pagamento e deve conter como um dos requisitos essenciais para sua validade o nome da pessoa a quem deve ser paga.

(5º Exame de Ordem OAB-RJ)5 — Entre as modifi cações sociais, dizer em qual delas ocorre a transferên-

cia de parte do patrimônio de uma sociedade para outra já existente ou criada especialmente para isso.

(27º Exame de Ordem OAB-RJ)47 — Marque a alternativa CORRETA:a. Na fusão é vedado aos sócios votar o laudo de avaliação do patrimônio

da sociedade de que façam parte.b. Na fusão uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes

sucede em todos os direitos e obrigações.c. Na fusão apenas os credores de dívidas líquidas e certas poderão promo-

ver judicialmente a anulação desta.d. Na fusão não há a extinção das sociedades que se unem, permanecendo

estas com suas personalidades jurídicas independentes.

G) GLOSSÁRIO

Lançamento inicial de ações (IPO): primeiro lançamento de ações ao público realizado por uma companhia.

Fundo de private equity: Modalidade de fundo de investimento que compra participação acionária em sociedades.

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FGV DIREITO RIO 174

196 LUCENA, José Waldecy. Dissolução

e liquidação de sociedades. 2. ed. São

Paulo: Saraiva, 2000. p. 794. Apud

BRITO, Cristiano Gomes de. Dissolução

Parcial de Sociedade Anônima. Revista

de Direito Privado, São Paulo, Revista

dos Tribunais, n. 7, ano 2, jul.-set. 2001,

p. 18.

197 TEIXEIRA, Egberto Lacerda; GUERREI-

RO, José Alexandre Tavares. Das Socie-

dades Anônimas no Direito Brasileiro, v.

2. São Paulo, Bushatsky, 1979. p. 612.

AULA 25: DISSOLUÇÃO, LIQUIDAÇÃO E EXTINÇÃO DA SOCIEDADE ANÔNIMA

2.1. DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE ANÔNIMA

Em geral, manter uma sociedade por longo período exige saber admi-nistrar bem variações externas na economia, sustos internos decorrentes de atritos entre os sócios, falta de capital de giro e tantos outros problemas e difi culdades que dali surgem.

Supondo impossível levar a sociedade adiante — seja por incapacidade de se atingir o fi m social ou outro motivo qualquer —, os acionistas podem optar por sua dissolução, a qual poderá ser (i) total, como contemplado na Lei das S.A., ou (ii) parcial, tentativa observada na prática em certos casos, para se manter funcionalmente a sociedade.

A dissolução total costuma representar um caso extremo: fi nda com todas as atividades geradoras de lucro, compromete o desenvolvimento econômi-co da região e gera perda de empregos, dentre outros prejuízos que devem ser previamente analisados. Já a dissolução parcial, em regra, é mais amena: atende-se ao interesse do sócio descontente, mas assegurando a manutenção da função social da empresa.

Sobre a dissolução parcial, José Waldecy Lucena afi rma: “dissolução par-cial de uma sociedade deve-se entender como dissolução da relação social limitada a um sócio, com liquidação da quota social”196.

A companhia totalmente dissolvida conserva a sua personalidade jurídica até a extinção, para que se possa realizar sua liquidação, como estabelecido pelo legislador no artigo 207 da Lei nº 6.404/76.

Vejamos cada um dos dois tipos de dissolução a seguir.

2.1.1. Dissolução Total

A dissolução das pessoas jurídicas encontra-se regulada pela Lei das S.A. e, também, pelo artigo 51 do Código Civil.

Como já mencionado, neste caso, a sociedade cessa suas atividades, e o patrimônio dos sócios é inteiramente liquidado.

A dissolução é a primeira fase do processo de extinção de uma dada socie-dade, abrangendo a dissolução propriamente dita, a liquidação e a extinção, podendo conceituar-se como o “momento da vida social em que se desfazem as relações associativas decorrentes do contrato plurilateral”197.

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FGV DIREITO RIO 175

2.1.1.1. Modalidades

O artigo 206 da Lei nº 6.404/76 enumera as causas de dissolução das sociedades anônimas, utilizando com critério classifi catório a forma de rom-pimento da convenção social. A dissolução, portanto, pode se dar de pleno direito, por decisão judicial e por decisão administrativa.

A dissolução de pleno direito é a que se realiza por motivos estabelecidos em lei ou no estatuto social. Pode ocorrer pelos seguintes fatores:

a) término do prazo de duração: o estatuto social deve prever o prazo de duração da sociedade, estabelecendo se indeterminado ou determinado. Nesta última hipótese, defi ne-se uma data para que a companhia cesse suas atividades, a partir da qual se pode iniciar a sua liquidação.

b) nos casos previstos no estatuto: O estatuto da companhia pode prever, de forma facultativa, causas de dissolução da sociedade, como, por exemplo, a conclusão de determinado projeto de obra.

c) por deliberação da assembléia geral: Por quorum qualifi cado (art. 136, X), pode a assembléia geral deliberar no sentido de dissolver a sociedade, observada a responsabilidade para o acionista controlador, na forma do art. 117, § 1º, b.

d) pela redução do quadro social a um único acionista: A companhia será dissolvida caso verifi cada, em assembléia-geral ordinária, a existência de ape-nas um acionista, e se o mínimo de dois não for reconstituído até a AGO do ano seguinte. Tal dispositivo, porém, não se aplica às subsidiárias integrais, previstas no artigo 251 da Lei das S.A.

e) pela extinção, na forma da lei, da autorização para funcionar: Se a com-panhia depender de autorização do governo para funcionar, a cassação dessa autorização determina o fi m da sociedade.

Já a dissolução por decisão judicial dar-se-á em casos em que for reque-rida, judicialmente, a desconstituição de determinada sociedade. Depende, portanto, de sentença judicial transitada em julgado. Pode ocorrer pelos se-guintes fatores:

a) por anulação da sua constituição: Qualquer acionista pode propor ação para ver declarada a existência de vícios ou defeitos na constituição da socie-dade. Uma vez anulada, por decisão judicial, a constituição da companhia, é esta dissolvida.

b) quando a companhia não puder preencher o seu fi m: Em ação propos-ta por acionistas que representem, ao menos, 5% do capital social, pode-se determinar a dissolução de uma companhia, se fi car plenamente provado que ela não preenche o seu fi m social. Note-se que não se exige, para fi ns de legitimidade de tal pleito, que os acionistas sejam titulares de ações com direito a voto.

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c) em caso de falência: Não havendo por parte da companhia como efe-tuar de maneira regular e pontual o pagamento de suas dívidas, abre-se o processo de falência da sociedade. Uma vez decretada a falência, a companhia dissolve-se.

Por fi m, a dissolução pode se dar por decisão administrativa, isto é, quan-do há deliberação extrajudicial por parte de autoridade governamental com-petente em retirar da sociedade a sua autorização para funcionamento. É o que ocorre, por exemplo, com as instituições fi nanceiras, que podem ser liquidadas extrajudicialmente pelo Banco Central.

2.1.2. Dissolução Parcial

Antes de discorrer sobre este tipo de dissolução, observa-se que, inicial-mente, esse instituto foi elaborado como mecanismo exclusivo para as so-ciedades limitadas. Entretanto, aos poucos, a dissolução parcial vem sendo adotada pela jurisprudência em casos envolvendo sociedades anônimas.

Assim, se um acionista pretender dissolver determinada sociedade anôni-ma por entender que não mais existe o aff ectio societatis, a doutrina e a juris-prudência nacionais vêm reconhecendo, em certos casos, a possibilidade de se promover uma dissolução parcial dessa sociedade, permitindo, destarte, a continuidade das atividades sociais.

A aplicação deste instituto às sociedades anônimas é tema bastante polê-mico, já que, para alguns doutrinadores, o aff ectio societatis não é um elemen-to determinante para a formação do vínculo societário das companhias.

Outros doutrinadores, no entanto, entendem que podem existir tanto so-ciedades anônimas de pessoas como sociedades anônimas de capital. Assim, sustentam que naquele tipo de companhia, em que o aff ectio societatis é carac-terística essencial da sociedade, seria possível a dissolução parcial.

Observando a sociedade da perspectiva de sua função social, fi ca clara a vantagem deste tipo de dissolução, em detrimento da dissolução total, pois se garante a manutenção das riquezas geradas, dos empregos e do ciclo econô-mico local. Ademais, equacionam-se os interesses tanto dos sócios retirantes e contratantes, como da própria companhia.

Para que se requeira a dissolução parcial, o primeiro pré-requisito é que a sociedade tenha sido constituída por tempo indeterminado. Sendo esta pre-missa atendida, exige-se que os sócios que queiram se retirar demonstrem desinteligência ou quebra da aff ectio societatis. Ressalte-se que não se trata de direito de recesso. Aos que se escusam, cabe a liquidação total de seus haveres, trazidos a valor presente.

Em companhias com alto grau de iliquidez, tal solicitação é recorrente, uma vez que há maior probabilidade de congelamento do capital investido

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198 “Art. 206 Dissolve-se a companhia:

I — de pleno direito:

a) pelo término do prazo de duração;

b) nos casos previstos no estatuto;

c) por deliberação da assembléia-

geral (art. 136, número VII);

d) pela existência de 1 (um) único

acionista, verifi cada em assembléia-

geral ordinária, se o mínimo de 2

(dois) não for reconstituído até à do

ano seguinte, ressalvado o disposto no

art. 251;

e) pela extinção, na forma da lei, da

autorização para funcionar;

II — por decisão judicial:

a) quando anulada a sua constitui-

ção, em ação proposta por qualquer

acionista;

b) quando provado que não pode

preencher o seu fi m, em ação propos-

ta por acionistas que representem 5%

(cinco por cento) ou mais do capital

social;

c) em caso de falência, na forma pre-

vista na respectiva lei;

III — por decisão de autoridade

administrativa competente, nos casos

e na forma previstos em lei especial”.

199 Neste item foi utilizada em sua qua-

se inteireza e com poucas modifi cações

formais a apostila de “Liquidação de

sociedades”, redigida pelo professor

Carlos Flexa Ribeiro, do Curso de Edu-

cação Continuada de Direito Societário

e Mercado de Capitais, da Escola de Di-

reito da Fundação Getulio Vargas do Rio

de Janeiro, coordenado pelos Professo-

res Marcelo Trindade e Luiz Antonio de

Sampaio Campos.

pelo acionista. Além disso, tal pedido também é comum em casos de socie-dades com pequeno número de acionistas, sociedades de capital fechado e sociedade em que se caracteriza a falta de efetivo poder deliberativo.

Contudo, são inúmeros os obstáculos legais e conceituais para a aceita-ção da dissolução parcial para as sociedades anônimas. Em primeiro lugar, a sociedade anônima é constituída visando à segurança patrimonial, e não aos interesses individuais dos acionistas, de modo que tal companhia consiga atingir sua fi nalidade lucrativa.

Ainda, pode se defender que nas companhias — exatamente por sua natureza capitalista e não pessoal — há ausência da aff ectio societatis entre os acionistas. E, mesmo que se argumentasse o caráter pessoal — como, por exemplo, ocorre em muitas das sociedades anônimas de capital fechado, de caráter estritamente fami-liar —, o regime jurídico próprio impediria a adoção da dissolução parcial.

Apesar dos argumentos supracitados e em que pese o rol do artigo 206 da Lei das S.A.198, a jurisprudência vem concedendo, em determinadas situa-ções, decisões favoráveis à dissolução parcial de companhias.

Nos casos aceitos pela jurisprudência, os retirantes devem receber aquilo a que fariam jus no caso de dissolução total da companhia, levando-se em con-ta o patrimônio real da sociedade, sob o risco de, dependendo do tamanho do montante a ser entregue, a sociedade se tornar inviável, podendo levar, no extremo, à sua falência.

2.2. LIQUIDAÇÃO199

É a continuidade do processo iniciado com a dissolução.Na liquidação apura-se o ativo — bens, direitos, créditos e valores per-

tencentes à companhia —, paga-se o passivo — conjunto das exigibilidades e origem dos recursos dos sócios de uma sociedade —, rateando-se, ao fi nal, os ativos remanescentes entre os acionistas na proporção de suas respectivas participações.

Ao longo da liquidação, as dívidas da sociedade vão sendo pagas propor-cionalmente, considerando-se tanto as vencidas como as vincendas. Não sen-do possível satisfazer a todos os credores, a liquidação se converte em falência.

Cumpre recordar que, na liquidação, a companhia mantém sua personalidade jurídica, devendo sua denominação, porém, trazer a expressão “em liquidação”.

2.2.1. Modalidades

De acordo com os termos da Lei das S.A., a liquidação da uma companhia pode se dar através das seguintes formas:

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FGV DIREITO RIO 178

200 Art. 211 da Lei das S.A.

201 Art. 217 da Lei das S.A.

202 Art. 210, VI, da Lei das S.A.

203 Art. 210, IV, da Lei das S.A.

a) Pelos órgãos da companhia: Prevista no artigo 208 da lei societária, é a forma ordinária de liquidação da sociedade, sendo feita pelos próprios órgãos da companhia, que norteiam o liquidante e supervisionam sua atuação.

b) Judicial: O liquidante é nomeado pelo juiz (artigo 209 da Lei das S.A.), verifi cando-se nas seguintes hipóteses:

b.1) em função de dissolução por decisão judicial (artigo 206, inciso II);b.2) a pedido de qualquer acionista, se os administradores ou a maioria

dos acionistas não promoverem a liquidação da companhia dissolvida, ou se a ela se opuserem (artigo 209, inciso I);

b.3) a requerimento do Ministério Público (artigo 209, inciso II).c) Extrajudicial: Nesta hipótese, prevista no inciso II do artigo 206 da Lei

nº 6.404/76, a decisão sobre o início da liquidação é de responsabilidade de uma autoridade administrativa competente, que seguirá procedimento pre-visto em lei específi ca e poderá, inclusive, nomear o liquidante.

2.2.2. Liquidante

O liquidante representa a companhia200, assumindo as mesmas responsa-bilidades de um administrador201. Constitui-se ele em órgão social, devendo ser remunerado pelo seu serviço.

Em geral, o liquidante será nomeado pela assembléia geral ou pelo conse-lho de administração e poderá ser destituído, a qualquer tempo, pelo órgão que o tiver nomeado.

Não obstante o fato de lhe faltar competência para manter em funcio-namento a atividade social, a lei garante ao liquidante poderes para praticar todos os atos necessários à liquidação da sociedade, à exceção daqueles atos previstos no parágrafo único do artigo 211, que dependem de autorização da assembléia geral.

Conforme acima referido, as suas responsabilidades são as mesmas dos ad-ministradores de uma companhia, sendo-lhe atribuídos os deveres fundamen-tais listados no artigo 210 da Lei nº 6.404/76. É o caso do dever de convocar assembléia geral202 e do dever de “ultimar os negócios da companhia, realizar o ativo, pagar o passivo, e partilhar o remanescente entre os acionistas”203.

Cabe ao liquidante, ainda, pagar as dívidas que forem vencendo, se o pa-trimônio da sociedade permitir.

2.2.3. Assembléia Geral, Conselho de Administração e Conselho Fiscal

A assembléia geral será convocada pelo liquidante a cada seis meses para analisar as contas dos atos praticados no curso desse período, o relatório e

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FGV DIREITO RIO 179

204 Art. 136, VII, da Lei das S.A.

205 Art. 215 da Lei das S.A.

206 Art. 215, § 1º, da Lei das S.A.

balanço do estado da liquidação e outros assuntos de interesse da companhia. A própria assembléia geral poderá fi xar períodos menores, não inferiores a três meses, ou maiores, não superiores a doze meses, para a prestação pe-riódica das contas do liquidante. Em se tratando de liquidação judicial, as assembléias gerais serão convocadas por iniciativa do juiz, a quem competirá presidir os respectivos trabalhos.

Nas assembléias gerais realizadas no curso do processo de liquidação, todas as ações gozarão igual direito de voto, desprezando-se eventuais restrições ou limitações ao direito de voto previstas no estatuto social. No entanto, caso eventualmente seja cessado o estado de liquidação204, serão restabelecidas as mesmas restrições e limitações porventura originalmente aplicáveis às ações.

Durante o procedimento de liquidação poderão ainda funcionar o con-selho de administração, se a assembléia decidir mantê-lo, e o conselho fi scal, cujo funcionamento será permanente ou a pedido dos acionistas, como dis-puser o estatuto.

Caso mantido o conselho de administração, caberá a esse escolher e des-tituir o liquidante.

2.2.4. Procedimento da Liquidação

No curso do processo de liquidação serão apurados os ativos, pagos os passivos e rateado o ativo remanescente, de acordo com as regras previstas nos artigos 214 e 215 da Lei nº 6.404/76.

No âmbito de suas atribuições, cabe ao liquidante arrecadar os bens, livros e documentos da companhia, usando para tal de seu poder de representante da companhia em liquidação. Os ativos da companhia serão arrecadados na medida em que a companhia tenha direito de recebê-los, respeitados os pra-zos de vencimento das obrigações de que a companhia é credora.

Pode o liquidante, se o ativo for superior ao passivo, pagar integralmente as dívidas vencidas. No entanto, tal pagamento será feito sob sua responsabi-lidade pessoal, conforme dispõe o parágrafo único do artigo 214.

No que se refere à partilha do ativo, os acionistas podem decidir, em as-sembléia geral, antes do fi m da liquidação, e depois de pagos todos os credo-res, que sejam feitos rateios entre os acionistas, à proporção que se forem apu-rando os haveres sociais. Desta forma, não fi cam eles obrigados a aguardar o fi m da liquidação para receberem parte do que lhes cabe205.

Também se faculta à assembléia-geral aprovar, pelo voto de acionistas que representem 90% das ações, no mínimo, depois de pagos ou garantidos os credores, condições especiais para partilha do ativo remanescente, com a atri-buição de bens aos sócios, pelo valor contábil ou outro por ela fi xado206.

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FGV DIREITO RIO 180

207 Art. 215, § 2º, da Lei das S.A.

208 Art. 218 da Lei das S.A.

209 BULGARELLI, Waldírio. Op. cit., p. 109.

Se o acionista dissidente provar que as condições especiais de partilha vi-saram a favorecer a maioria, a partilha será suspensa, se não consumada, ou, no caso de esta já estar consumada, terão os acionistas minoritários direito à indenização dos majoritários pelos prejuízos apurados207.

Ao fi nal do processo acima descrito, ocorre a prestação fi nal de contas à assembléia geral e, uma vez aprovadas tais contas, têm-se o fi m do processo de liquidação e a conseqüente extinção da companhia.

O liquidante não satisfeito tem direito de exigir dos acionistas, individu-almente, o pagamento de seu crédito até o limite da soma daquilo que os acionistas receberam e de propor ação de perdas e danos face o liquidante, se for o caso. O acionista que porventura for executado tem direito de regresso em relação aos demais acionistas, naquilo que a eles couber208.

2.3. EXTINÇÃO

Na expressão da doutrina, “a extinção da companhia é (...) o encerramen-to fi nal e defi nitivo de suas atividades e de suas responsabilidades, salvo as decorrentes da liquidação, quando for o caso”209.

O artigo 219 da Lei das S.A. prevê a possibilidade de extinção (a) pelo encerramento da liquidação e (b) pela incorporação, fusão ou cisão total. Vale destacar que, nessa segunda hipótese, a extinção se dá sem que haja um processo de liquidação da companhia.

C) CASO

Segue abaixo trecho do RESP nº 507.490/RJ, 3ª Turma, Rel. Humberto Gomes de Barros, DJ 19.09.2006, julgado pelo STJ.

“Não é juridicamente possível o pedido de dissolução parcial de sociedade anônima. Para esse tipo de sociedade a Lei das S⁄A prevê formas específi cas de afastamento — voluntário ou não — do acionista minoritário.

Nossa jurisprudência aplica, com temperamentos, essa regra. É que, em determinadas circunstâncias, verifi ca-se que embora formalmente intitulada como sociedade anônima, a pessoa jurídica, na prática, revela-se uma socie-dade por quotas de responsabilidade limitada.

É precisa a afi rmação do eminente Ministro Aldir Passarinho Júnior, em voto proferido no julgamento do REsp 111.294⁄PR: “(...) trata-se de uma sociedade anônima, mas sem as características de uma “S⁄A”; na verdade, é uma sociedade limitada travestida de sociedade anônima (...).”

Nesse recurso especial, leading case nesta questão, admitiu-se a possibilida-de de decretação da dissolução parcial de sociedade aparentemente anônima,

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FGV DIREITO RIO 181

mas substancialmente limitada. Confi ra-se a ementa lavrada pelo eminente Ministro Cesar Asfor Rocha, que proferiu o voto dissidente vencedor:

“DIREITO COMERCIAL. SOCIEDADE ANÔNIMA. GRUPO FA-MILIAR. INEXISTÊNCIA DE LUCROS E DE DISTRIBUIÇÃO DE DI-VIDENDOS HÁ VÁRIOS ANOS. DISSOLUÇÃO PARCIAL. SÓCIOS MINORITÁRIOS. POSSIBILIDADE.

Pelas peculiaridades da espécie, em que o elemento preponderante, quan-do do recrutamento dos sócios, para a constituição da sociedade anônima envolvendo pequeno grupo familiar, foi a afeição pessoal que reinava entre eles, a quebra da aff ecttio societatis conjugada à inexistência de lucros e de distribuição de dividendos, por longos anos, pode se constituir em elemen-to ensejador da dissolução parcial da sociedade, pois seria injusto manter o acionista prisioneiro da sociedade, com seu investimento improdutivo, na expressão de Rubens Requião.

O princípio da preservação da sociedade e de sua utilidade social afasta a dissolução integral da sociedade anônima, conduzindo à dissolução parcial.

Recurso parcialmente conhecido, mas improvido.”“Percebe-se que essa hipótese, excepcionalíssima, depende da existência de

dois requisitos:1) existência de aff ecttio societatis como fator preponderante na criação da

empresa; e2) quebra dessa aff ecttio, conjugada à inexistência de lucros ou falta de

distribuição dos dividendos por longo período, de forma a confi gurar que a sociedade não consegue alcançar sua fi nalidade.

Há quem considere a necessidade de ser a empresa constituída por grupo familiar, ou mesmo que tenha composição social reduzida. Contudo, tais condições não se sustentam. Basta que o fator principal na constituição da sociedade seja a existência de aff ecttio, independentemente do número de acionistas ou da relação de parentesco entre eles.

Em resumo: o relevante é que se forme verdadeira sociedade de pessoas, embora formalmente constituída como se fosse de capitais.

A possibilidade jurídica do pedido deverá, sempre, ser examinada sob o prisma destes requisitos, ou seja, considerando as peculiaridades do caso concreto, como já decidido por esta 3ª Turma no julgamento do REsp 247.002⁄NANCY.

Presentes os requisitos, a possibilidade jurídica do pedido estará garantida pelo art. 335, 5, do Código Comercial.

No caso concreto, o acórdão recorrido manteve sentença assim expressa:‘(...) A controvérsia envolve uma sociedade comercial com roupagem jurí-

dica de sociedade anônima, mas que na realidade tem existência semelhante a uma sociedade por cotas de responsabilidade limitada;

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É que a referida sociedade comercial, que na realidade é uma sociedade de pessoas e não de capitais, é constituída apenas dos 3 sócios em confl ito, e que são irmãos, sendo portanto uma sociedade comercial tipicamente familiar;

Lamentavelmente, de um tempo para cá, os 3 sócios não mais se enten-dem quanto a administração societária;

É certo também que desde longa data a sociedade vem sendo gerida e administrada pelos 2º e 3º sócios, os quais passaram a ser acusados pelo A. da prática de diversos atos, que em tese, violariam as disposições da lei das sociedades anônimas;

Todavia, como já dito antes, trata-se na verdade de uma sociedade de pes-soas, e assim deve ser vista na solução do confl ito de interesses entre os sócios;

Desde logo, deve ser afi rmado que desapareceu a “aff ecttio societatis” em decorrência de atos que vinham sendo praticados pelo 2º R. com o beneplá-cito do 3º R.

(...) Por outro lado, conforme fi cou apurado na prova pericial, a sociedade comercial desde longa data não vem distribuindo lucro ao acionista mino-ritário, o ora A., e vem ela sendo administrada pelos demais sócios em seus exclusivos interesses, principalmente pelo 2º R., que detém o maior quinhão societário (...)’ (fl s. 1.549⁄1.551).

Tais elementos — sociedade tipicamente familiar constituída com base em aff ecttio societatis, quebra posterior desta aff ecttio e falta de distribuição dos lucros — identifi cados pelas instâncias precedentes com base nas provas dos autos, preenchem satisfatoriamente os requisitos acima referidos.

A dissolução parcial da sociedade anônima era juridicamente possível e merecia ser decretada”.

D) TEXTO DE APOIO

Como terminar um casamento de 40 anosA difícil tarefa de Jacks Rabinovich e Benjamin Steinbruch de desfazer os laços que as duas famílias formaram no grupo Vicunha

Os movimentos que vêm sendo feitos por Jacks Rabinovich e Benjamin Steinbruch para preparar o terreno de uma cada vez mais provável dissolu-ção da sociedade entre as duas famílias mostram como pode ser complica-do terminar um casamento que, nas últimas quatro décadas, gerou o grupo Vicunha — dono da maior indústria têxtil do país e controlador de um dos maiores grupos siderúrgicos nacionais, a CSN. Até 13 de dezembro, passados três meses desde que EXAME noticiou que a Vicunha Têxtil colocaria à ven-da na bolsa 25% das ações da companhia, ainda não havia sequer o pedido de registro de emissão desses papéis na CVM. Em setembro, quando o banco

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Goldman Sachs foi contratado para comandar essa operação, tanto Rabino-vich quanto Steinbruch negaram que a ida à bolsa estivesse relacionada ao fi m da sociedade. De lá para cá, o cenário ganhou novos contornos, com o surgimento de grandes empresas interessadas em adquirir as participações da família Rabinovich na Vicunha e na CSN. Procurados diversas vezes pela reportagem de EXAME, nem Rabinovich, nem Steinbruch quiseram falar sobre essas negociações.

O que está em jogo é muito mais do que o 1,1 bilhão de dólares que os Ra-binovich poderiam amealhar com a venda de suas fatias nas duas empresas. Rabinovich e Steinbruch comandam os negócios, reunidos em duas holdings divididas meio a meio entre as duas famílias que controlam a Vicunha Têxtil e a CSN. Vender uma das metades pode signifi car, portanto, uma mudança radical no controle de duas empresas líderes em suas áreas de atuação. É aí que reside a maior parte das difi culdades — sobretudo na CSN, onde Steinbruch tem carta-branca para ditar as regras. É difícil imaginar novos investidores com a mesma disposição para lidar com o temperamento centralizador de Benjamin, o fi lho mais velho de Mendel Steinbruch, com quem Rabinovich construiu, nos anos 60, um grupo de tecelagens que depois se transformaria na Vicunha. É difícil também imaginar Steinbruch aceitando pacifi camente a entrada de um novo sócio com quem dividiria decisões estratégicas.

“O melhor dos mundos para Benjamin é que as coisas fi quem exatamente como estão”, diz um analista do setor siderúrgico. Aos 75 anos, Rabinovich, porém, teria bons motivos para querer sair dos negócios. Sua sucessão é um ponto nebuloso. O primogênito e seu único fi lho homem, Eduardo, de 44 anos, formou-se engenheiro mecânico pela Faap, em São Paulo, e, estimu-lado pelo pai, manteve-se próximo das empresas desde o início da carreira. Mas, com o tempo, afastou-se das funções executivas. Atualmente, Eduardo ocupa uma das cadeiras no conselho da Vicunha Têxtil, presidido por Ricar-do Steinbruch, de 45 anos, irmão mais novo de Benjamin. Pessoas próximas dizem que, hoje, Eduardo tem se mostrado mais interessado na criação de cavalos manga-larga do que nos negócios da família.

Responsáveis pela condução das operações têxteis, Rabinovich e Ricardo teriam opiniões divergentes em questões estratégicas. Uma delas seria o modo de ampliar o mercado da Vicunha. A empresa precisa aumentar as receitas no exterior, e a busca de parceiros é um dos caminhos. Rabinovich não se entusiasma muito com a idéia, enquanto Ricardo gostaria de ir em frente.

Recentemente, Josué Gomes da Silva, presidente da Coteminas, aproxi-mou-se da família Rabinovich para conversar. (Procurado, Josué não deu entrevista.) Para a Coteminas, uma das maiores fornecedoras de tecidos para a indústria de confecções do país, a compra da participação de Rabinovich seria uma oportunidade para um salto no negócio de índigo — o principal produto da Vicunha. Josué, porém, terá de lidar com a possibilidade de uma

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solução caseira, na qual o comprador seria a própria família Steinbruch. Para isso é preciso que Ricardo, interessado em provar que pode ser na Vicunha um empreendedor tão talentoso quanto Benjamin na CSN, convença a famí-lia a comprar a parte dos Rabinovich por 100 milhões de dólares. Nenhum dos sete analistas consultados por EXAME acredita que algo semelhante pos-sa ocorrer na CSN. Os 23,25% que os Rabinovich têm na siderúrgica valem algo em torno de 1 bilhão de dólares — dez vezes mais do que o patrimônio deles na Vicunha Têxtil. Seria um preço muito alto para os Steinbruch. “Mes-mo para alguém com um perfi l destemido como Benjamin, esse seria um negócio extravagante”, diz um analista.

A complexidade da separação não impede que grandes grupos do setor tenham interesse na CSN, uma empresa de 7 bilhões de reais de faturamento e 1 bilhão de lucro em 2003. Há dois potenciais compradores da parte dos Rabinovich cogitados no mercado. Um é a Usiminas, uma das maiores pro-dutoras de aço plano do país. Outra opção seria uma associação com o grupo gaúcho Gerdau — uma hipótese que Jorge Gerdau Johannpeter, controlador da Gerdau, declara descartar. Potenciais compradores também podem vir de fora. A coreana Posco, a mais rentável do mundo e com dinheiro sobrando em caixa, é tida como um deles. Muitos analistas acreditam que o mais pro-vável é que Rabinovich acabe colocando sua parte à venda na bolsa — desejo que ele já deixou implícito pelo menos uma vez. “Estamos conversando sobre uma fl exibilização do nosso acordo, que já tem 40 anos”, disse Rabinovich a EXAME, na ocasião da contratação do Goldman Sachs. “No futuro, se al-gum acionista quiser deixar o negócio, poderá vender sua parte no mercado.”

Quem tem o quê

As famílias Rabinovich e Steinbruch dividem meio a meio as holdings Textilia, que controla a Vicunha Têxtil; e a Vicunha Siderurgia, que controla a CSN. Veja os valores da participação dos Rabinovich nesses negócios:

Empresa Participação dos Rabinovich na empresa Valor desta participação (estimativa)

Vicunha Têxtil 45% 100milhões de dólares

CSN 23,25% 1bilhão de dólares

E) JURISPRUDÊNCIA

“DIREITO COMERCIAL. SOCIEDADE ANÔNIMA. DISTRIBUIÇÃO DE DIVIDENDOS. AÇÕES PREFERENCIAIS COM DIREITO A DI-VIDENDOS MÍNIMOS. DISTRIBUIÇÃO DOS LUCROS REMANES-CENTES EM IGUALDADE DE CONDIÇÕES COM AS AÇÕES OR-DINÁRIAS. DIVERGÊNCIA NÃO CONFIGURADA. SUBSCRIÇÃO DE AÇÕES EMITIDAS PARA AUMENTO DO CAPITAL SOCIAL EM

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RAZÃO DE INCENTIVOS FISCAIS. DIREITO DE PREFERÊNCIA INEXISTENTE.

— A legislação específi ca, no caso, a Lei n. 5.508/69, em seu art. 44, ex-clui textualmente as ações emitidas com base em incentivos fi scais da regra geral de preferência para subscrição dos acionistas inserta nos arts. 109, IV e 171 da Lei 6.404/76.

— A Lei n. 6.404/76 comanda, no § 2º do art. 17, a repartição dos lu-cros remanescentes também para as ações com dividendo mínimo. Assim, somente por disposição estatutária expressa é que tal direito dos acionistas preferenciais poderia ser legalmente afastado.

— No caso, de acordo com o que se extrai do acórdão hostilizado, não há vedação expressa à percepção dos dividendos remanescentes para os acionis-tas preferenciais, mas apenas a regulamentação do percentual a ser auferido, permanecendo incólume o comando legal de distribuição dos lucros rema-nescentes às ações com dividendo mínimo, em igualdade de condições com as ações ordinárias. [...]

— Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provi-do” (STJ, 4ª Turma, REsp 267.256/BA, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, j. 21.08.2001, v.u., DJ 05.11.2001, p. 115).

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. SOCIEDADE POR AÇÕES. DIVIDENDOS. DIREITO DO ACIONISTA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Para o acionista, principalmente o minoritário, a fi nali-dade precípua da participação acionária é a pretensão aos dividendos, ou seja, aos frutos das ações. Se a Companhia aliena as ações e disto não dá ciência ao pequeno investidor, não pode se furtar ao pagamento do produto da venda acrescido dos juros e dividendos respectivos. Inexiste, ainda, a possibilidade de aplicação da regra do § 3º do art. 287 da Lei nº 6.404/76, se a Sociedade não comprovou ter notifi cado o acionista de que os dividendos se encontra-vam à sua disposição. Verba honorária fi xada adequadamente nos termos do § 4º do art. 20 do C.P.C. deve ser mantida, mormente em se tratando de pe-queno valor a ser suportado por uma grande sociedade por ações. Improvido o apelo e provido o recurso adesivo” (TJRJ, 11ª CC, AC 2002.001.14278, Rel. Des. José C. Figueiredo, j. 31.07.2002).

“Anulação de assembléia — Autora titular de ações preferenciais. Paga-mento de dividendos. Exclusão por deliberação feita em assembléia geral e ordinária realizada em 25.04.1995, de parcelas correspondentes à reserva de correção monetária do capital social em período de infl ação acentuada. Circunstância que resulta na diminuição dos valores devidos aos acionistas contrariando orientação da CVM — Orientação 16/88, a doutrina e demais dispositivos legais. Preliminares rejeitadas. Recurso desprovido” (TJSP, 7ª CDPri, AC 080.101-4/1, Rel. Des. Júlio Vidal, j. 02.06.1999).

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“COMERCIAL. DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE ANÔNIMA DE CA-PITAL FECHADO. ART. 206 DA LEI N. 6.404/76. Não distribuição de dividendos por razoável lapso de tempo. Sociedade constituída para desen-volvimento de projetos fl orestais. Plantio de árvores de longo prazo de ma-turação. Empresa cuja atividade não produz lucros a curto prazo. Inexistên-cia de impossibilidade jurídica. Necessidade, contudo, de exame do caso em concreto. Insubsistência do argumento de reduzida composição do quadro social, se ausente vínculo de natureza pessoal e nem se tratar de grupo fa-miliar. Não há impossibilidade jurídica no pedido de dissolução parcial de sociedade anônima de capital fechado, que pode ser analisado sob a ótica do art. 335, item 5, do Código Comercial, desde que diante de peculiari-dades do caso concreto. A ‘aff ectio societatis’ decorre do sentimento de em-preendimento comum que reúne os sócios em torno do objeto social, e não como conseqüência lógica do restrito quadro social, característica peculiar da maioria das sociedades anônimas de capital fechado. Não é plausível a dissolução parcial de sociedade anônima de capital fechado sem antes aferir cada uma e todas as razões que militam em prol da preservação da empresa e da cessação de sua função social, tendo em vista que os interesses sociais hão que prevalecer sobre os de natureza pessoal de alguns dos acionistas” (STJ, 3ª Turma, REsp 247.002/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 04.12.2001, v.u., DJ 25.03.2002, p. 272).

“AÇÃO DE LIQUIDAÇÃO E EXTINÇÃO DE SOCIEDADE COMER-CIAL — Exclusão dos sócios de fato do pólo passivo da relação processual determinada pelo juízo ‘a quo’ — Decisório que não merece subsistir — Ação de dissolução total de sociedade que deve ser endereçada contra todos os só-cios, ostensivos ou de fato, em litisconsórcio necessário — Fato de alguém aparecer ou não no ato constitutivo que não altera a sua condição de sócio e, por via de conseqüência, a sua legitimação para a ação em que se discute a extinção da sociedade, a qual não objetiva, à evidência, apenas o arquiva-mento da ocorrência no Registro do Comércio — Incidência do disposto no art. 673 do C.P.C./39, mantido pelo estatuto de ritos em vigor, que preconiza a possibilidade de dissolução judicial de sociedade mesmo quando não há contrato ou instrumento de constituição regulando os direitos e obrigações dos sócios, os quais, obviamente, devem integrar a lide em qualquer hipótese — Agravo provido para o fi m de afastar a determinação de emenda da inicial para exclusão dos sócios de fato” (TJSP, 10ª CDPri, AI 237.370-4/6-00, Rel. Des. Paulo Dimas Mascaretti, j. 21.05.2002, ROTJESP 262/390).

“Comercial. Dissolução de sociedade anônima de capital fechado. Art. 206 da Lei n. 6.404/76. Não distribuição de dividendos por razoável lapso de

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tempo. Sociedade constituída para desenvolvimento de projetos fl orestais. Plantio de árvores de longo prazo de maturação. Empresa cuja atividade não produz lucros a curto prazo. Inexistência de impossibilidade jurídica. Neces-sidade, contudo, de exame do caso em concreto. Insubsistência do argumen-to de reduzida composição do quadro social, se ausente vínculo de natureza pessoal e nem se tratar de grupo familiar.

Não há impossibilidade jurídica no pedido de dissolução parcial de socie-dade anônima de capital fechado, que pode ser analisado sob a ótica do art. 335, item 5, do Código Comercial, desde que diante de peculiaridades do caso concreto.

A ‘aff ectio societatis’ decorre do sentimento de empreendimento comum que reúne os sócios em torno do objeto social, e não como conseqüência lógi-ca do restrito quadro social, característica peculiar da maioria das sociedades anônimas de capital fechado. Não é plausível a dissolução parcial de socie-dade anônima de capital fechado sem antes aferir cada uma e todas as razões que militam em prol da preservação da empresa e da cessação de sua função social, tendo em vista que os interesses sociais hão que prevalecer sobre os de natureza pessoal de alguns dos acionistas” (STJ, 3ª Turma, REsp 247.002/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 04.12.2001, v.u., DJ 25.03.2002, p. 272).

F) QUESTÕES DE CONCURSO

(30º Exame de Ordem OAB-RJ)52 — Na dissolução de uma sociedade anônima, pelo término do prazo

de duração, no silêncio do estatuto, qual o órgão competente para nomear o liquidante que irá funcionar durante o período da liquidação?

a. Conselho de Administração;b. Assembléia Geral;c. Conselho Fiscal;d. Diretoria.

(30º Exame de Ordem OAB-RJ)2 — Na liquidação da Sociedade Anônima Trens Enferrujados, do ponto

de vista legal, é possível aos sócios receber bens in natura ao invés de dinhei-ro? Se afi rmativa a resposta, esclareça em que condições. Se negativa, por que chegou a esta conclusão? Qualquer que seja sua reposta, mencione o disposi-tivo legal em que se baseou.

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G) GLOSSÁRIO

(Fonte: www.bovespa.com.br)Capital fi xo: Parcela do capital de uma empresa representada por imóveis,

instalações, máquinas e equipamentos.Capital circulante: Saldo das contas “Ativo Circulante” (numerário exis-

tente em caixa das empresas e direitos a realizar dentro do exercício corrente) menos “Passivo Circulante” (exigibilidades de curto prazo da empresa).

Orçamento de capital: Detalhamento da receita e despesa a serem reali-zadas para determinada fi nalidade.

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MARCELO MOURAFormado em direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) em 1998 e mestre em direito (LL.M) pela University of Cambridge (Hughes Hall), em 1993, com ênfase em direito societário e mercado de capitais. Sócio da área societária do escritório Pinheiro Neto -- Advogados, tendo também trabalhado como advogado estrangeiro no escritório Slaughter and May, em Londres (1992). Marcelo trabalha no escritório do Rio de Janeiro do Pinheiro Neto, onde co-meçou como estagiário há mais de 27 anos. Por todo esse período, Marcelo atuou com direito societário, com foco em fusões e aquisições, restruturações societárias, regulação de mercado de capitais e do setor de petróleo e gás, fi nanciamentos de projetos e corporativos, tendo trabalhado em algumas das principais operações ocorridas no país. Marcelo é professor do curso de direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), onde leciona a matéria “Organização Jurídica da Grande Empresa” para alunos do 5º. período . Marcelo é um dos coordenadores do capítulo Rio de Janeiro do Instituto Bra-sileiro de Governança Corporativa (IBGC) e serviu como Presidente do Con-selho da Câmara Britânica de Comércio e Indústria (2007-2009), onde ainda atua como conselheiro. Marcelo foi membro do Comitê Diretivo de Pinheiro Neto – Advogados em três diferentes mandatos e atua como conselheiro em empresas abertas e fechadas. Marcelo é atualmente o presidente no Rio de Janeiro da ONG Parceiros da Educação, uma associação sem fi ns lucrativos que tem por objetivo melhorar o ensino em escolas públicas no Estado do Rio de Janeiro mediante a parceria dessas escolas com a iniciativa privada.

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FGV DIREITO RIO 190

FICHA TÉCNICA

Fundação Getulio Vargas

Carlos Ivan Simonsen LealPRESIDENTE

FGV DIREITO RIO

Joaquim FalcãoDIRETOR

Sérgio GuerraVICE-DIRETOR DE ENSINO, PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

Rodrigo ViannaVICE-DIRETOR ADMINISTRATIVO

Thiago Bottino do AmaralCOORDENADOR DA GRADUAÇÃO

André Pacheco Teixeira MendesCOORDENADOR DO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA

Cristina Nacif AlvesCOORDENADORA DE ENSINO

Marília AraújoCOORDENADORA EXECUTIVA DA GRADUAÇÃO

Paula SpielerCOORDENADORA DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES E DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS