ocorrÊncia de doenÇas diarreicas agudas causadas …

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Secretaria de Estado da Saúde Coordenadoria de Controle de Doenças Instituto Adolfo Lutz Janaina Lopes Leopoldino OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS POR Shigella sp., NO PERÍODO DE 2014 A 2018 NO BRASIL Ribeirão Preto 2020

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Page 1: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

Secretaria de Estado da Saúde Coordenadoria de Controle de Doenças

Instituto Adolfo Lutz

Janaina Lopes Leopoldino

OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS POR

Shigella sp., NO PERÍODO DE 2014 A 2018 NO BRASIL

Ribeirão Preto

2020

Page 2: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

Janaina Lopes Leopoldino

OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS POR

Shigella sp., NO PERÍODO DE 2014 A 2018 NO BRASIL

Trabalho de conclusão de curso de especialização apresentado ao Instituto Adolfo Lutz- Unidade do Centro de Formação de Recursos Humanos para o SUS/SP-Doutor Antônio Guilherme de Souza como requisito parcial para obtenção do titulo de Especialista em Vigilância Laboratorial em Saúde Pública

Orientador: Prof. Dr. Paulo da Silva

Ribeirão Preto

2020

Page 3: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

Leopoldino, Janaina Lopes.

Ocorrência de doenças diarreicas agudas causadas por Shigella sp., no período

de 2014 a 2018 no Brasil / Janaina Lopes Leopoldino – Ribeirão Preto, 2020.

43 f. il

Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização-Vigilância Laboratorial em

Saúde Pública)-Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, CEFOR/SUS-SP,

Instituto Adolfo Lutz, São Paulo, 2020.

Área de concentração: Vigilância Epidemiológica em Laboratório de Saúde

Pública.

Orientação: Prof. Doutor Paulo da Silva.

1. Shigella sp.; 2. Disenteria bacilar; 3. Shigelose.

SES/CEFOR/IAL-110/2020.

FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pelo Centro de Documentação – Coordenadoria de Controle de Doenças/SES-SP

reprodução autorizada pelo autor, desde que citada a fonte.

Page 4: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

Dedico primeiramente a mim por todo esforço e dedicação que tive para realizar este presente trabalho, dedico também aos meus pais e irmãos, Clarice Aparecida Lopes Leopoldino e Armando Leopoldino, Gabriela Lopes Leopoldino e Mario Jonatas Izidio Ferreira, por todo amor, carinho, cuidado e também por me apoiarem em todas as horas, dedico também aos meus avós maternos e padrinho que já não mais se encontram neste plano espiritual, saudades eternas, Sebastião Lopes, Clarice Lourenço Moreira Lopes e Geraldo Lopes.

Page 5: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

AGRADECIMENTOS

A Deus por essa grande oportunidade de estudo e aprimoramento profissional.

Ao professor doutor Paulo da Silva, pelos ensinamentos, pela oportunidade de

conhecer seu trabalho e por dar a base para meu desenvolvimento científico.

A nossa coordenadora Silvia Helena Chinarelli Reche, pela inspiração, amizade e

ajuda científica essencial para o desenvolvimento deste trabalho.

A todos os funcionários do Instituto Adolfo Lutz de Ribeirão Preto, mas em especial,

Lilian, Lys, Ana Paula, Daia, Irene, Line, Lia, Sueli, Lousane, Edilene, Jaqueline,

Marina, Eliane, Rita B. e Ju pelo apoio estrutural e para a realização dos

aprendizados nos laboratórios.

A Soraya (Tuf), por toda a amizade e apoio nos momentos difíceis.

À Cynthia, Silas e Hellen pela ajuda imensurável e companheirismo em várias

etapas dessa nova vida, ganhei uma nova família, vocês são incríveis.

À professora doutora Soraya Duarte Varella, por todo incentivo na produção deste

trabalho escrito e apoio moral.

À minha mãe, pelo apoio incondicional, compreensão e amor constante. Sem ela,

nada disso seria possível.

Ao meu pai e ao meu tio Sebastião Florentino Lopes por todo apoio financeiro e

amor que me proporcionaram.

Aos meus amigos, em especial, Emily, Mariana, Beatriz e Cristiane, vocês sempre

estão aqui sendo meu suporte e apoio em tudo. Eu amo vocês.

A minha psicóloga, pois sem as terapias eu não conseguiria chegar até aqui,

Obrigada e muita luz pra você Larissa.

Aos meus entes queridos que não mais se encontram nesta vida, Deilton Borges,

Natalina Muniz vocês deixaram uma saudade em meu coração, no entanto me

ensinaram muito.

Page 6: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

RESUMO

Shigelose é caracterizada como Doença Diarreica Aguda (DDA) e considerada como

Doença de Transmissão por Água e Alimento (DTAA). É causada por bactérias do

gênero Shigella, sendo conhecidas quatro espécies: S. flexneri, S. sonnei, S.

dysenteriae e S. boydii. A transmissão de shigelose ocorre por via fecal-oral, através

de água e alimentos contaminados com esses microrganismos, tendo como um dos

principais obstáculos para o seu controle a fácil disseminação e rapidez para

desenvolver resistência antimicrobiana. Reconhecida pela Organização Mundial de

Saúde como problema de saúde pública, a shigelose ocorre de forma endêmica em

países em desenvolvimento. Sua ocorrência mundial é estimada em 80 milhões de

casos anuais, resultando em 700 mil mortes. De acordo com a literatura, S.

dysenteriae tem sido responsável pelas epidemias e pandemias de disenteria

severa, enquanto que S. boydii está implicada em focos endêmicos dispersos entre

os países em desenvolvimento, S. sonnei é a causadora da diarreia do viajante e S.

flexneri, tem sido responsável pela shigelose infantil. Este Trabalho de Conclusão de

Curso avaliou a ocorrência de shigelose no Brasil no período de 2014 a 2018. Foi

elaborado um estudo retrospectivo, baseado na revisão de publicações bibliográficas

relacionadas à shigelose. A prevalência de Shigella sp. foi de 8 a 10% em menores

de 1 ano e de 15 a 18% em maiores de 2 anos e em adultos. Podemos observar que

no Brasil existem poucos relatos de shigelose. Isso pode ser atribuído, entre outros

fatores, a não obrigatoriedade das pesquisas de Shigella sp. em águas e alimentos.

Entretanto, esse micro-organismo é isolado com frequência das fezes de pacientes

envolvidos em surtos alimentares, explicando que, embora não haja o seu

isolamento dos alimentos envolvidos em tais surtos, o exame de coprocultura torna

sua pesquisa obrigatória, por se tratar de um causador de DDA. Todos os casos de

DDA são e devem ser notificados no Sistema de Informação de Vigilância

Epidemiológica das DDAs (SIVEP-DDA). De acordo com os dados do SINAN, 2018,

foram notificados no Brasil 3.292 surtos de DTAA, no período de 2014 a 2018.

Dentre os agentes etiológicos identificados como únicos responsáveis pelos surtos

confirmados laboratorialmente, a ocorrência de Shigella sp. foi em 39 surtos,

totalizando 465.596 casos expostos, com 54.037 doentes notificados. Neste trabalho

foi observado que as espécies causadoras de shigelose no Brasil, com maior

incidência foram S. flexneri com 61,1% dos relatos nas regiões Norte e Nordeste e

Page 7: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

S. sonnei em 38,9% na Região Sudeste. Outro fator muito importante observado é

que a incidência da shigelose é maior não só em crianças (até 5 anos), mas também

em idosos (acima de 60 anos), tudo isso está diretamente ligado ao estilo de vida e

sistema imune nessas presentes faixas etárias. Ressaltamos que a shigelose está

ligada com aspectos socioeconômicos e culturais do país, há escassez na qualidade

de água e esgoto fornecido às populações e faltam também, políticas de saúde

pública, que visam a melhoria nas redes de atenção básica de saneamento, que

poderiam reduzir drasticamente a sua ocorrência.

Palavras-chaves: Shigella sp., Disenteria bacilar, Shigelose.

Page 8: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

ABSTRACT

Shigellosis is characterized as Acute Diarrheal Disease (ADD) and is considered

Water and Foodborne Disease. It is caused by bacteria in the genus Shigella, and

there are four species: S. flexneri, S. sonnei, S. dysenteriae and S. boydii. The

transmission of shigellosis occurs fecally-orally, through the consumption of water

and food contaminated with Shigella spp., having as one of the main obstacles to its

control, the easy dissemination and rapid development of antimicrobial resistance.

Recognized by the World Health Organization as a public health problem, shigellosis

occurs endemic in developing countries. The worldwide occurrence of shigellosis is

estimated at 80 million annual cases, resulting in 700 thousand deaths. According to

the literature, S. dysenteriae has been responsible for severe dysentery epidemics

and pandemics, while S. boydii is implicated in endemic outbreaks among developing

countries, S. sonnei is the cause of traveler's diarrhea and S. flexneri, has been

responsible for infantile shigellosis. This work evaluated the occurrence of shigellosis

in Brazil from 2014 to 2018. A retrospective study based on the review of

bibliographic publications related to shigellosis was prepared. The prevalence of

Shigella spp. was 8 to 10% in children under 1 year and 15 to 18% in children under

2 years and in adults. We can observe that in Brazil there are few reports of

shigellosis, perhaps due to the fact that it is not mandatory to investigate Shigella

spp. in water and food. However, this microorganism is often isolated from the feces

of patients involved in food outbreaks, which explains the need for coproculture of the

patients involved in food-borne diarrhea outbreaks. In Brazil all cases of ADD are and

should be reported in the Epidemiological Surveillance Information System for Acute

Diarrheal Diseases. According to data from the Notification Disease Information

System - SINAN, 2018, 3,292 outbreaks of Food and Waterborne Diseases were

reported in Brazil from 2014 to 2018. Among the etiological agents identified as

solely responsible for the confirmed outbreaks in laboratory tests, Shigella spp.

occurred in 39 outbreaks, totaling 465,596 exposed cases, with 54,037 reported

patients. In this work it was observed that the most prevalent species causing

shigellosis in Brazil were S. flexneri with 61.1% of reports in the North and Northeast

and S. sonnei in 38.9% in the Southeast. Another very important factor observed is

that the incidence of shigellosis is higher not only in children (up to 5 years), but also

in the elderly (over 60 years), all of which is directly linked to lifestyle and immune

Page 9: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

system in these present age groups. We emphasize that shigellosis is linked with

socioeconomic and cultural aspects of the country, there is a scarcity in the quality of

water and sewage provided to the populations and there is also a lack of public

health policies aimed at improving basic sanitation networks, which could drastically

reduce its occurrence.

Keywords: Shigella spp., Bacillary dysentery, Shigellosis.

Page 10: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Representação do LPS de Shigella flexneri 5a ........................................20

Figura 2 - Entrada e disseminação de Shigella sp. nas células epiteliais do

intestino......................................................................................................................23

Page 11: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Patógenos de maior ocorrência em DDA ............................................... 26

Page 12: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

LISTA DE TABELAS

Tabela 1a - Provas fenotípicas utilizadas na identificação de Shigella sp ................ 32

Tabela 1b - Provas fenotípicas utilizadas na identificação de Shigella sp ................ 32

Tabela 2 - Surtos de Shigelose no Brasil no período de 2014 – 2018 ...................... 36

Tabela 3 - Perfil Epidemiológico dos surtos de Shigella sp. ocorridos no Brasil,

veiculados por alimentos e água, no período de 2014 a 2018 .................................. 36

Page 13: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

LISTA DE ABREVIATURAS

ACE – Acetato

ADO – Adonitol

AMG – α-metil-D-glicosídeo

ARA – L-arabinose

ARB – D-arabitol

ADH – Arginina Di-hidrolase

CEL – Celobiose

CIT – Citrato

CD – Citrato Desoxicolato

CAT – Catalase

DATASUS – Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde

DDA – Doenças Diarreicas Agudas

DUL – Dulcitol

DNA – DNAse

DTAA – Doenças de Transmissão por Água e Alimentos

EMB – Eosina-Azul de Metileno

ERI – Eritritol

ESC – Hidrólise de esculina

FAD – Fenilalanina desaminase

Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz

GAS – Gás de glicose

GEL – Gelatinase

GLI – Glicerol

HE – Hektoen Enteric

H2S – Sulfato de Hidrogênio

IND – Indol

INO – Myo-Inositol

IAL – Instituto Adolfo Lutz

LAC – Lactose

LIP – Lipase

LPS – Lipopolissacarúideo

LTD – L-Triotofano Desaminase

Page 14: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

LDC – Lisina Descarboxilase

MC – Ágar MacConkey

MAN – Manose

MNT – Manitol

MAL – Maltose

MAL – Malonato

MEL – Melibiose

MOT – Motilidade

MUC – Mucato

MS – Ministério da Saúde

NIT – Nitrato redutase

OMS – Organização Mundial de Saúde

OXI – Oxidase

ONPG – Galactosidade

ODC – Ornitina Descarboxilase

RAF – Rafinose

RAM – Raminose

SAC – Sacarose

SAL – Salicina

SS – Ágar Salmonella e Shigella.

SRO – Solução de Sais de Reidratação Oral

SOR – sorbitol

TAR – Tartrato

TER – Trealose

TSI – Triplice açúcar ferro

URE – Hidrólise de uréia

VM – Ácidos fórmico, láctico e acético

VP – Acetoína

XLD – Ágar Xilose-Lisina-Desoxicolato

XIL – Xilose

Page 15: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 16

1.1. Shigelose ............................................................................................................ 16

2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 17

2.1. Objetivo geral ..................................................................................................... 17

2.2. Objetivo específico ............................................................................................. 17

3. METODOLOGIA ................................................................................................... 17

4. REFERÊNCIAL TEÓRICO .................................................................................... 18

4.1. Gênero Shigella .................................................................................................. 18

4.1.1 Características morfológicas e fisiológicas de Shigella sp ............................... 18

4.1.2 As espécies de Shigella sp. e seus sorotipos ................................................... 19

5. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA SHIGELOSE ............................................ 20

6. QUADRO CLÍNICO APRESENTADO PELA SHIGELOSE .................................. 21

7. TRATAMENTO DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS (DDA) .......................... 23

7.1. Plano A ........................................................................................................... 24

7.2. Plano B ........................................................................................................... 24

7.3. Plano C ............................................................................................................... 25

8. FORMAS DE PREVINIR SHIGELOSE ................................................................. 25

9. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS ....... 26

9.1. Orientações gerais sobre coleta e transporte de amostras diarreicas ................ 27

9.2. Cultura e isolamento de Shigella sp ................................................................... 27

9.2.1 Meios seletivos em placa ................................................................................. 28

9.2.2 Caldos de enriquecimento ................................................................................ 30

9.3. Identificação fenotípica de Shigella sp ............................................................... 31

9.4. Identificação genotípica de Shigella sp .............................................................. 32

9.4.1 Pulsed – field gel eletrophoresis (PFGE) .......................................................... 33

9.4.2 Enterobacterial repetitive intergenic consensus PCR (ERIC – PCR) ............... 33

9.4.3 Multiple – locus variable – number tandem – repeat analysis (MLVA) ............. 34

9.4.4 Multi – locus sequence typing (MLST) .............................................................. 34

10. RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 34

11. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 38

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 39

Page 16: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

16

1. INTRODUÇÃO

As doenças diarreicas agudas (DDAs) são um crescente problema de saúde

pública no Brasil e no mundo, sendo considerada a segunda maior causa de morte em

crianças menores de cinco anos de idade (MEDEIROS, 2016).

Diante desse quadro, muitos patógenos são responsáveis pela causa das DDAs e

os casos de origem bacteriana, principalmente por Shigella sp., têm sido relatados com

maior prevalência. Alguns estudos epidemiológicos, recentemente realizados,

reafirmaram a importância da shigelose em países subdesenvolvidos, elevando a ideia

de que seu agente etiológico seja o mais comum e prevalente causador da diarreia

bacteriana (KOTLOFF et al., 2013; PLATTS-MILL et al., 2015).

1.1. Shigelose

Infecção bacteriana aguda do trato gastrointestinal causada por espécies do

gênero Shigella o qual pertence à família Enterobacteriaceae. São conhecidas quatro

espécies: S. flexneri, S. sonnei, S. dysenteriae e S. boydii, caracterizadas como bacilos

Gram-negativos, não formadores de esporo, anaeróbios facultativos e imóveis

(SIRIBELLI, 2016).

Os sintomas clínicos da shigelose são dores abdominais, cólica, diarreia (com

sangue e muco), febre, náuseas, vômitos e tenesmo. Em geral, iniciam-se entre um a

dois dias após contato prévio com a bactéria, são autolimitados e podem durar por até

sete dias. Em crianças menores de cinco anos a shigelose pode ser considerada grave,

com sintomas associados à febre alta e convulsões (BRASIL, 2017).

Algumas espécies de Shigella, por exemplo, S. dysenteriae tipo 1 produzem

toxinas que interferem diretamente em proteínas sanguíneas causando a Síndrome

Hemolítica Urêmica (MIGUEL et al., 2018).

A transmissão da shigelose ocorre por via fecal-oral, através de água e alimentos

contaminados com espécies de Shigella. Sendo capazes de atravessar a mucosa

estomacal, posteriormente, elas se instalam nos intestinos (delgado e grosso), se

reproduzindo no local, gerando uma resposta inflamatória e lesão tecidual (MIGUEL et

al., 2018; PAULA, 2009).

Um dos principais obstáculos para o controle da shigelose é o fato dela

apresentar fácil disseminação pessoa a pessoa e rapidez para desenvolver resistência

antimicrobiana (PAULA, 2009). A prevenção é facilmente conseguida através de

Page 17: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

17

medidas que visam saneamento básico adequado e condições mínimas de higiene

pessoal (MIGUEL et al., 2018).

Shigelose é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um

dos maiores problemas de saúde pública, ocorrendo de forma endêmica em países em

desenvolvimento. É determinada pelo Ministério da Saúde (MS) como doença diarreica

aguda (DDA). Sua ocorrência mundial é estimada em 80 milhões de casos anuais de

diarreia (com sangue e muco) resultando em 700 mil mortes (MADELA et al., 2017).

S. dysenteriae tem sido responsável pelas epidemias e pandemias de disenteria

severa, enquanto que S. boydii está implicada em focos endêmicos dispersos entre os

países em desenvolvimento. Nota-se ainda que, S. sonnei é a causadora da diarreia do

viajante, acontecendo de forma endêmica e surtos nos países desenvolvidos. Com

relação, S. flexneri, tem sido responsável pela shigelose infantil, sendo endêmica nos

países em desenvolvimento (SOUZA, 2012).

Dado a gravidade das doenças de transmissão hídrica e alimentar, a proposta

deste estudo é de avaliar a ocorrência de casos de shigelose no Brasil, a fim de fornecer

dados epidemiológicos, colaborando na tomada de medidas estratégicas em saúde

pública, conhecendo melhor a situação da doença no país, fortalecendo e aprimorando a

Rede de Laboratórios de Saúde Pública do Instituto Adolfo Lutz.

2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo geral

Avaliar a ocorrência de casos de shigelose no Brasil no período de 2014 a 2018,

abordando seus aspectos microbiológicos e condutas de prevenção.

2.2. Objetivo específico

Ressaltar a importância do agente etiológico de shigelose, na vigilância de surtos

de diarreia bacteriana;Contribuir para a aplicabilidade destes conhecimentos na

vigilância da gastroenterite.

3. METODOLOGIA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi elaborado com um estudo retrospectivo,

baseado na revisão de publicações bibliográficas relacionadas à shigelose. Foi realizada

uma investigação aprofundada através da leitura de artigos científicos, relatos de casos,

monografias, dissertações e teses, publicados em revistas, jornais periódicos, livros e

matérias disponíveis online em bancos de dados.

Page 18: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

18

4. REFERENCIAL TEÓRICO

4.1. Gênero Shigella

Esse gênero bacteriano foi designado em 1898 recebendo o nome de Shigella,

em homenagem ao microbiologista japonês Kiyoshi Shiga, que estudou o agente

etiológico em casos de diarreia de origem bacteriana, durante um surto ocorrido no

Japão. Primeiramente, a bactéria foi designada como Bacillus dysenteriae, por acreditar

se tratar de um bacilo muito parecido com Bacillus coli (hoje conhecido como

Escherichia coli). Dando sequência aos estudos, os pesquisadores Simon Flexner, Mark

Boyd e Carl Sonne, estudaram microrganismos muito similares àqueles estudados por

Kiyoshi Shiga, respectivamente, nos anos 1900, 1915 e 1931. Tais estudos

determinaram as quatro espécies do gênero; S. dysenteriae, S. flexneri, S. boydii e S.

sonnei, sendo, portanto, as determinações taxonômicas uma homenagem aos

pesquisadores. As espécies de Shigella sp. são reconhecidamente consideradas como

bactérias habitantes do trato intestinal humano, sendo sua principal via de transmissão a

fecal-oral. Com relação à patogenia, a shigelose apresenta baixa dose infecciosa, ou

seja, uma ingestão de pouco material fecal contaminado com o agente já é capaz de

causar a infecção. Quanto à presença do agente viável em alimentos é muito pouco

relevante, sendo assim sua incidência é baixa em relação às outras bactérias que

causam diarreia, como por exemplo, as espécies de Salmonella (BARRETTO; SILVA,

2019).

4.1.1. Características morfológicas e fisiológicas de Shigella sp.

As espécies de Shigella sp. são bactérias pertencentes ao Filo Proteobacteria,

Classe Gammaproteobacteria, Ordem Enterobacteriales, Família Enterobacteriaceae e

Gênero Shigella. São caracterizadas como bacilos Gram-negativos, enteroinvasivos,

imóveis, não formadores de esporos e anaeróbios facultativos, além de não apresentar

adesinas e não formar biofilme. Há poucos estudos sobre as condições de crescimentos

dessas bactérias em alimentos, os artigos publicados aceitam as seguintes condições de

cultivo e crescimento em alimentos: crescem em temperatura entre 10 e 45º C, com

temperatura ótima de crescimento de 37° C. Não se reproduzem em baixas

temperaturas, porém conseguem sobreviver a congelamentos, sendo facilmente

destruídas pela pasteurização. O pH ideal para sua sobrevivência varia entre 5 e 8,

portanto, são capazes de sobreviver por pouco tempo em alimentos com pH próximo ou

Page 19: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

19

inferior a 4,5. Por outro lado, sobrevivem em alimentos com baixa atividade de água por

longo tempo (STROCKBINE et. al., 2015).

4.1.2. As espécies de Shigella e seus sorotipos

O gênero Shigella é composto por quatro espécies e quatro sorogrupos,

determinados como: S. dysenteriae (sorogrupo A, 15 sorotipos), S. flexneri (sorogrupo B,

14 sorotipos), S. boydii (sorogrupo C, 20 sorotipos) e S. sonnei (sorogrupo D, um único

sorotipo) (NIYOGI, 2005).

A identificação de Shigella sp. é feita através de provas bioquímicas e

sorológicas. Fisiologicamente, S. dysenteriae, S. flexneri e S. boydii são muito

semelhantes, enquanto S. sonnei pode ser diferenciada das anteriores por apresentar

reações bioquímicas positivas para beta-D-galactosidase e ornitina descarboxilase

(NIYOGI, 2005).

Os sorogrupos de Shigella sp. são determinados com base no antígeno (O), que

se encontra presente na cadeia polissacarídica, ou seja, um componente do

lipopolissacarídeo (LPS) presente na membrana externa da parede celular (NIYOGI,

2005).

O LPS é constituído de um lipídio complexo (lipídio A), ao qual está ligado um

polissacarídeo chamado antígeno O. Os açúcares que formam a cadeia lateral deste

polissacarídeo variam de espécie para espécie e, por isso, são responsáveis pelas

características antigênicas em bactérias Gram-negativas. O LPS é também chamado de

endotoxina, pois é tóxico, provocando muitas vezes respostas fisiológicas, como febre

em animais, incluindo o homem (SANSONETTI, 2001; SOUZA, 2012).

O LPS é constituído de três regiões: o lipídio A, um núcleo interno e subunidades

repetidas do antígeno O (Figura 1). Nas espécies de Shigella, tais subunidades são

determinadas por um tetrassacarídeo, a triramnose (rha)-N-acetil-glicosamina (N-ag),

que é modificado pela ação de glicose e/ou acetato, dependendo do sorotipo. Ocorrendo

a glicosilação, o LPS torna-se alterado na sua conformação, fazendo com que a bactéria

fique mais protegida contra a resposta inflamatória do hospedeiro. Isso facilita a

exposição da estrutura que as espécies de Shigella utilizam para invadir as células: o

aparato de secreção do tipo 3 (T3SS). Desse modo, a glicosilação do LPS promove a

invasão bacteriana e a evasão do sistema imunológico. Esse procedimento pode ter

contribuído para o surgimento da variedade de sorotipos de Shigella (SANSONETTI,

2001; SOUZA, 2012).

Page 20: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

20

Figura 1. Representação do LPS de Shigella flexneri 5a.

Fonte: West et al, 2005.

5. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA SHIGELOSE NO BRASIL

De acordo com Cunha (2017), existem poucos estudos epidemiológicos no Brasil

disponibilizando dados sobre doenças transmitidas por água e alimentos, dentre as

quais se encontra a shigelose. Isso demonstra que esse ainda é um assunto pouco

estudado e que somente em algumas regiões do país os dados sobre agentes

etiológicos mais recorrentes de surtos diarreicos são valorizados.

As doenças transmitidas por água e alimentos (DTAA) são de distribuição

universal e sua incidência varia de acordo com aspectos econômicos e sociais. Apesar

de apresentarem alta morbidade, poucas delas estão incluídas e descritas no Sistema

de Vigilância Epidemiológica. Lembrando ainda que as DTAA apresentam índices

consideráveis de mortalidade e letalidade de acordo com a capacidade imune do

indivíduo. Dessa maneira, elas são consideradas importantes em crianças na faixa etária

de 5 anos, em idosos e pacientes imunodeprimidos, porque nesses casos a mortalidade

é alta (CUNHA, 2017).

A infecção através dos alimentos e água pode ocorrer desde a produção de

alimentos e tratamento hídrico até o consumo, destacando-se como um dos maiores

responsáveis por surtos, alimentos de origem animal e os preparados para consumo

coletivo (PAULA, 2009).

Page 21: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

21

É notório que a shigelose é um problema de saúde pública por ser considerada

uma das principais infestações diarreicas por bactérias. No ano de 2014 a patologia

acometia cerca de 165 milhões de pessoas e foram registrados 14 mil óbitos, com

prevalência em crianças (MADELA, et al., 2017).

“O Brasil foi caracterizado como uma região de 11 a 100 casos de shigelose a

cada 100.000 habitantes nos estados do Amazonas, Piauí, Minas Gerais e Santa

Catarina. Já em São Paulo, o número de casos foi de 1 a 10[...]” (SOUZA, 2018).

Moreira, 2014, mostrou em seu trabalho que investigações epidemiológicas

demonstraram que as espécies de Shigella são distribuídas de acordo com o nível de

desenvolvimento socioeconômico de cada país. Por exemplo, o sorogrupo encontrado

em países em desenvolvimento como no Brasil tem sido S. flexneri, enquanto que em

países desenvolvidos socioeconomicamente as taxas de S. sonnei têm sido

aumentadas. O trabalho mostra ainda que essa situação não é compreendida

completamente. Uma hipótese seria a presença de Plesiomonas shigelloides (sorotipo

17), uma enterobactéria presente em águas não tratadas em regiões de climas tropicais.

Por P. shigelloides ser muito parecida com S. sonnei, isso pode conferir imunização

cruzada, pois o consumo de água sem tratamento nesses países pouco desenvolvidos

favorece a infecção.

Segundo Falcão et al., [...]. É importante ressaltar que P. shigelloides pode aglutinar com soros utilizados para sorotipar Shigella o que pode, algumas vezes, acarretar no diagnóstico errado de P. shigelloides como sendo Shigella. Assim, algumas soro variedades apresentam identidade total ou parcial com antígenos somáticos de Shigella. A sorovariedade Plesiomonas shigelloides 17, que é encontrada em amostras isoladas de material clínico possui reação cruzada com antissoro de Shigella grupo D e é idêntica ao antígeno O de S. sonnei. Um outro tipo de relação existe entre a soro variedade O:11 e S. dysenteriae 8, soro variedade O:22 e S. dysenteriae 7, soro variedade O:23 e S. boydii 13, soro variedade O:54 e S. boydii 2 e soro variedade O:57 e S. boydii 9. Certas cepas de Plesiomonas também compartilham antígeno tipo-específico com S. flexneri 6 e um antígeno grupo 1 com S. dysenteriae 1. (2007, p. 142 e 143).

6. QUADRO CLÍNICO APRESENTADO PELA SHIGELOSE

Os sintomas clínicos clássicos observados nas infecções por S. dysenteriae, S.

flexneri e S. boydii são dores abdominais, cólicas, diarreia, tenesmo, febre e vômitos; as

fezes podem apresentar sangue, pus ou muco. S. sonnei apresenta um quadro de

diarreia aquosa (SIRIBELLI, 2016).

Determinadas cepas de Shigella sp. produzem toxinas do tipo endotoxinas e

enterotoxinas que se limitam ao epitélio do colón. As endotoxinas são as grandes

causadoras do quadro febril. As enterotoxinas são responsáveis pela inflamação local,

Page 22: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

22

gerando degeneração das vilosidades intestinais, erosão local e sangue e muco nas

fezes, determinando a forma grave da doença. Enquanto S. sonnei e S. flexneri

produzem baixíssimos níveis de toxina tipo Shiga, S. dysenteriae tipo 1 apresenta-se

como exímia produtora. A toxina do tipo Shiga é considerada de alta atividade citotóxica,

enterotóxica e neurotóxica. As complicações neurológicas e síndromes causadas por

essas toxinas são mais observadas em crianças menores de 5 anos (ALVES, 2009).

Geralmente, o período de incubação de Shigella sp. pode ocorrer entre 12 horas a

4 dias. No entanto, existem casos em que em 7 horas após a contaminação já se iniciam

os sinais e sintomas. A shigelose é considerada doença auto limitada com duração de 4

a 7 dias em pessoas adultas e imunocompetentes. No entanto, em crianças menores de

5 anos e em pessoas imunocomprometidas ou mal nutridas, a infecção pode ser fatal. A

eliminação bacteriana através da evacuação em pacientes acometidos pode persistir por

até duas semanas, mesmo após a regressão dos sinais e sintomas (PLISKER, 2019).

Segundo Souza: [...] as epidemias e pandemias de disenteria severa geralmente são causadas por Shigella dysenteriae; Shigella flexneri é responsável pela shigellose pediátrica endêmica nos países em desenvolvimento; Shigella boydii é encontrada em focos endêmicos dispersos entre os países em desenvolvimento; e Shigella sonnei é a causadora da diarreia do viajante, da shigellose endêmica e surtos que ocorrem nos países desenvolvidos. (2012, p. 11).

A doença se instala após a bactéria aderir-se e invadir as células epiteliais

presentes na mucosa do intestino grosso (cólon). Ocorre a multiplicação bacteriana de

maneira intracelular causando uma disseminação que acomete células próximas,

surgindo lesões ulcerativas em toda a mucosa intestinal. Devido à capacidade invasiva,

a bactéria pode migrar e invadir vários outros tecidos epiteliais como o trato

geniturinário, entre outros (Figura 2) (PAULA, 2009).

Figura 2. Entrada e disseminação da Shigella nas células epiteliais do intestino.

Fonte: SOUZA, 2012.

Page 23: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

23

7. TRATAMENTO DE SHIGELOSE

É preconizado pelo Ministério da Saúde, 2017, que o tratamento das doenças

diarreicas agudas seja feito através da prevenção e da correção de desidratação por

meio de ingestão de líquidos. Como tal, no tratamento da shigelose deve ser

administrada ao paciente uma solução de sais de reidratação oral (SRO) ou fluídos

endovenosos, de acordo com o seu estado de hidratação (cuidados de suporte). Quanto

ao uso de antibióticos, eles devem ser administrados com restrição, já que podem

reduzir os sintomas e aumentar a disseminação das espécies de Shigella. Portanto,

são vistos como desnecessários no tratamento de pacientes adultos saudáveis,

apresentando sintomas leves da doença. Já em pacientes de risco (crianças, idosos,

pacientes debilitados, portadores de doenças graves, entre outros), devem ser

administrados antimicrobianos como fluoroquinolonas, azitromicina ou cefalosporina de

3ª geração. Medicações antidiarreicas podem estender a duração da doença e não

devem ser administradas (BRASIL, 2017).

Através de uma avaliação clínica rápida o médico já consegue estabelecer o

tratamento adequado. Para isso ele deve questionar o paciente com relação ao início de

sinais e sintomas; número de evacuações; presença de sangue ou muco nas fezes,

náuseas, vômitos e febre; doenças crônicas e também verificar se há mais pessoas do

convívio com os mesmos sinais e sintomas. O médico deve ainda realizar exame físico

no paciente para avaliar o seu estado de hidratação e pesá-lo sempre que possível.

Quando o paciente não demonstra dificuldade para se alimentar e estiver consciente,

sua alimentação habitual deve ser mantida e a ingestão de líquidos aumentada. O

tratamento adequado deve ser estabelecido somente após a avaliação clínica do

paciente, e é recomendado seguir os seguintes planos de reidratação (BRASIL, 2017).

7.1. Plano A

Indicado para paciente ainda hidratado, podendo este tratar-se em casa. Consiste

em cinco etapas:

1. Aumento na ingestão de líquidos, SRO e água, principalmente após evacuações

diarreicas.

2. Manter alimentação normal e habitual; Manter o aleitamento materno.

Page 24: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

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3. Caso os sintomas não melhorem dentro de 2 dias ou apresente piora (diarreia,

vômitos repetidos, muita sede, recusa de alimentos, sangue nas fezes ou

diminuição da diurese), retornar ao serviço de saúde mais próximo.

4. Orientações ao paciente/acompanhante/responsável para ficar alerta e

reconhecer sinais de desidratação; preparo e administração adequada de SRO;

ações de higiene pessoal e coletiva.

5. Uso de Zinco uma vez ao dia, de 10 a 14 dias.

7.2. Plano B

O Plano B é dividido em três etapas, direcionado a pacientes com desidratação

sem gravidade, que possui capacidade de ingerir líquidos, deve ser tratado na unidade

de saúde até a reidratação:

1. Ingestão de SRO em pequenas quantidades e aumentar gradativamente. As

doses são aumentadas de acordo com a necessidade e sede do paciente, até

que a reidratação se reestabeleça.

2. Reavaliação constante do paciente, porque o plano B de correção de

desidratação é encerrado quando desaparecerem os sinais de desidratação.

Após adotar Plano A.

3. Orientações ao paciente/acompanhante/responsável para ficar alerta e

reconhecer sinais de desidratação; preparo e administração adequada de SRO;

ações de higiene pessoal e coletiva.

7.3. Plano C

O Plano C é divido em duas fases de reidratação endovenosa, feito para pacientes

em desidratação grave. Transferir o paciente para receber os primeiros cuidados na

unidade de saúde.

1. Reidratação endovenosa na unidade de saúde.

2. Reavaliar o paciente a cada duas horas, a fim de reduzir os sinais de choque, se

necessário repetir a prescrição; caso contrário, iniciar balanço hídrico com as

soluções preconizadas.

Observações: Iniciar a reidratação oral com SRO em doses pequenas e frequentes,

assim que o paciente consiga. Suspender a hidratação endovenosa assim que o

paciente obter melhora e conseguir ingerir líquidos via oral, sem vômitos. O uso de

antibióticos é somente para casos de diarreia com sangue ou muco nas fezes, ou

Page 25: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

25

comprometimento geral do paciente, como nos casos de diarreia colérica com grave

desidratação (BRASIL, 2017).

8. FORMAS DE PREVENÇÃO DA SHIGELOSE

Sendo a shigelose considerada uma DDA restrita aos seres humanos, com

dispersão do agente etiológico através da evacuação das fezes, a forma mais efetiva de

prevenção é apoiar práticas de higiene pessoal e coletiva. (SOUZA; VANDESMET, 2016).

As formas de prevenção a DDA incluem saneamento básico e ações individuais

como: Lavar sempre as mãos com água e sabão, antes e após preparo ou ingestão de

alimentos, após utilizar o banheiro, após passar a mão em animais, ou superfícies sujas,

entre outros; Limpar e desinfetar sempre superfícies, utensílios ou aparelhos utilizados

no preparo de alimentos; Proteger alimentos e áreas de preparo de alimentos contra

insetos e animais (utilizar sempre recipientes com tampas); Utilizar água tratada para

consumo, se não for possível, filtrar, ferver ou utilizar solução de hipoclorito de sódio a

2,5% para cada 1 litro de água por 30 minutos, essa água tratada deve sempre ser

armazenada em recipientes limpos e com tampa; Não utilizar água de rios, riachos,

poços e etc, para banhar ou beber; Evite consumo de alimentos crus ou malcozidos, e

alimentos com condições higiênicas precárias; Manter os lixos e lixeiras sempre em

ordem e fechados; Usar sempre vasos sanitários, se não for possível, evacuar longe dos

cursos de água; Evitar desmame precoce, o aleitamento materno ajuda a aumentar a

resistência das crianças contra as DDA (ESTEVAM, 2016).

9. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE SHIGELOSE

As doenças diarreicas agudas, inclusive a shigelose, são ainda frequentes causas

de morte nos dias atuais, especialmente em países subdesenvolvidos. A incidência varia

de acordo com diferentes fatores de risco, dentre eles: idade, imunocomprometidos,

desnutridos, maus hábitos de higiene, falta de saneamento básico, entre outros

(MELDAU, 2019).

Todo caso suspeito de DDA deve ser investigado, realizando um diagnóstico

laboratorial correto, através de exames específicos de fezes. É preconizado que a

amostra clínica seja investigada, visando à detecção da possível causa da diarreia.

Devem ser realizadas análises macroscópicas, microscópicas e bioquímicas para

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26

avaliação das funções digestivas; pesquisa de gordura e sangue oculto nas fezes. Além

disso, devem ser realizados exames microbiológicos, principalmente, nas áreas de

parasitologia, virologia e bacteriologia, sendo assim respectivamente realizadas;

pesquisa de parasitas; pesquisa de enterovírus e coprocultura englobando a

identificação do possível patógeno bacteriano (QUADRO 1) (MELDAU, 2019; SILVA,

2019).

Quadro 1. Patógenos de maior ocorrência em DDA.

Fonte: Silva, 2019.

No caso de diarreia sanguinolenta, em especial a suspeita de shigelose, é

imprescindível a identificação do agente etiológico e notificação de seus resultados,

tendo em vista a gravidade dessa patologia. Para diagnosticar a shigelose o exame

utilizado é a coprocultura. O diagnóstico laboratorial é de extrema importância, visto que

os resultados positivos para enteropatógenos emergentes sob vigilância ativa requerem

providências estratégicas e adicionais para que as cepas ou isolados sejam

encaminhados para laboratórios regionais do IAL e posteriormente para o IAL Central,

exigindo exames complementares de confirmação, sorotipagem e etc. (CVE, 2008).

9.1. Coleta e transporte de amostras fecais diarreicas

As amostras fecais devem ser coletadas durante a fase aguda da doença e

preferencialmente antes da antibioticoterapia. Não deve ser utilizado papel para a coleta

de fezes, porque este geralmente está impregnado com sais de bário, que são

reconhecidos como inibidores de enteropatógenos. Em casos de criança que utiliza

fraldas, admite-se a coleta daquelas novas e descartáveis, desde que o lado para a

coleta seja o plástico (a parte interna da fralda também pode conter sais de bário). As

amostras fecais devem ser livres da contaminação com água do vaso sanitário e urina

(SILVA, 2019).

Page 27: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

27

O meio de transporte utilizado na coleta de amostras fecais para coproculturas

deve ser o meio de Cary-Blair. Nos casos suspeitos de salmonelose ou shigelose,

também pode ser utilizada salina glicerinada tamponada. O material deve ser sempre

coletado em um recipiente limpo e seco. O meio de Cary-Blair é fornecido pelo posto de

coleta. O(a) responsável pela coleta deve abrir a embalagem com o meio de transporte e

retirar o swab da embalagem. Em seguida passar a ponta do swab com o algodão na

amostra, procurando preferencialmente locais que apresentem sangue, pus ou muco,

quando presentes, e reintroduzir o swab no tubo. No caso de utilização de salina

glicerinada tamponada, deve ser transferida uma porção das fezes (5mL diarreicas ou

5g formadas) também para um frasco de boca larga com tampa de rosca, estéril,

fornecido pelo local de coleta. Todas as amostras devem ser devidamente identificadas

com nome completo do paciente, incluindo data e hora da coleta e encaminhadas ao

laboratório o mais breve; se não for possível, refrigerar (4º C) por no máximo 24 horas

(SILVA, 2019).

9.2. Cultura e isolamento de Shigella sp.

A investigação microbiológica das amostras ainda é demorada, apesar do

constante progresso no desenvolvimento de novos métodos rápidos para diagnóstico. A

metodologia tradicional utilizada pelos laboratórios de microbiologia na detecção de

patógenos entéricos emprega a combinação de meios de cultura seletivos em placas,

caldos de enriquecimento e provas bioquímicas (CAMPOS et al., 2009).

A identificação presuntiva das enterobactérias utiliza meios que reúnem em um só

tubo várias reações bioquímicas, facilitando assim a identificação dos gêneros de

interesse clínico e viabilizando o processo de identificação. No Brasil os meios mais

utilizados são o meio de Rugai, modificado por Pessoa e Silva (Meio de IAL), juntamente

com o meio de TSI. Por se tratar de uma identificação presuntiva, se faz necessário uso

de provas complementares como utilização de citrato em meio de citrato Simmons,

DNAse, oxidase e fermentação de lactose (TORTORA; FUNKE; CASE, 2003).

O meio de IAL reúne nove reações: na fase superior do tubo observamos a

fermentação da glicose e sacarose, a produção de gás, urease, H2S e triptofano

desaminase (LTD); na fase inferior, que é separada por uma camada de cera de

carnaúba, observamos a descarboxilação de lisina e motilidade; no tampão observamos

produção de indol (ANVISA, 2013).

Page 28: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

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A inoculação é através de uma única picada profunda, até o final do tubo,

estriando na superfície superior; incubar por 18-24h a 35º C. Baseando-se nas reações

ocorridas no meio de IAL inoculado é possível triar várias espécies ou gêneros

bacterianos, entre os quais: E. coli, Shigella (indol positiva), Shigella sp. (indol negativa),

Enterobacter aerogenes, Klebsiella pneumoniae, Klebsiella sp. (sacarose negativa),

Enterobacter cloacae, Providencia sp. (ureia positiva) ou Morganella morganii,

Providencia sp. (ureia negativa), Proteus mirabilis, Proteus vulgaris, Salmonella sp.,

Salmonella typhi, Citrobacter freundii, Serratia marcescens (necessita provas

complementares), Vibrio cholerae, Vibrio sp. (oxidase positiva) e algumas espécies de

bacilos não fermentadores da glicose (ANVISA, 2004).

O meio de Triplice açúcar ferro (TSI) é inclinado em bico de flauta, de cor

vermelho cereja e é considerado o meio mais clássico nos sistemas de identificação e

triagem, permitindo avaliar fermentação da glicose, lactose e/ou sacarose, produção de

gás, H2S. Assim como o meio de IAL, se faz necessário à utilização de provas adicionais

para complementar a identificação. Inocular com uma picada central até o fundo do tubo,

estriar a superfície, incubar por 18-24h a 35ºC (ANVISA, 2004; STROCKBINE, et al.,

2015).

9.2.1. Meios seletivos em placa

Os meios de cultura em placa mais utilizados para isolamento de Shigella sp. são:

Ágar Salmonella-Shigella (SS), embora ser melhor indicado para Salmonella sp. porque

pode inibir algumas cepas de Shigella sp.; Ágar MacConkey (MC), apesar de ser

considerado de baixa seletividade; Ágar Xilose-Lisina-Desoxicolato (XLD); Hektoen

Enteric (HE) (CAMPOS et al., 2009).

Ágar (SS) – utilizado para selecionar e isolar espécies de Shigella e Salmonella

em amostras de fezes, alimentos e água. Contém substâncias inibidoras de bactérias

Gram positivas (sais biliares, verde brilhante e citrato de sódio). Além disso, a lactose

incorporada ao meio permite diferenciar se a bactéria fermenta a lactose produzindo

ácido, alterando o pH, que na presença do indicador vermelho neutro resulta na

formação de colônias de cor rosa (lactose positiva), enquanto que bactéria não

fermentadora da lactose forma colônias transparentes (suspeita de Shigella sp.). Outros

componentes do meio, tiossulfato de sódio e o citrato férrico permitem a detecção de

H²S, evidenciado a formação de colônias de cor negra no centro (suspeita de Salmonella

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29

sp.). Colônias cor de rosa ou vermelho são suspeitas de outras enterobactérias como

Escherichia coli ou Klebsiella sp. (ANVISA, 2013).

Ágar MC – contêm em sua composição peptonas, sais biliares, lactose, cloreto de

sódio, corante vermelho neutro e cristal violeta, ágar e água destilada. É um meio

permissivo para o crescimento de Shigella sp. e Salmonella sp. (HIRSH, 2003). O cristal

violeta inibe o crescimento de bactérias Gram positivas, especialmente enterococos e

estafilococos. Em comparação com outros meios, a concentração de sais de bile é

relativamente baixa no MC, o que o torna menos seletivo que o ágar SS. A cor original

do meio MC é rosa avermelhado. No crescimento de bacilos Gram negativos são

evidenciadas colônias cor de rosa (fermentadoras de lactose) e colônias incolores (não

fermentadoras de lactose), selecionando as colônias suspeitas de Shigella sp. de outras

(ANVISA, 2013).

Ágar XLD – meio seletivo e diferencial, contendo desoxicolato de sódio como

agente inibitório de bactérias Gram-positivas. Contém lactose, sacarose, tioglicolato,

lisina, xilose, desoxicolato de sódio, citrato férrico de amônio e vermelho de fenol.

Utilizado para o isolamento e diferenciação de patógenos entéricos, especialmente

Shigella sp. Colônias ácidas se tornam amarelas e as alcalinizadas vermelhas. Bactérias

não fermentadoras de xilose, lactose e/ou sacarose aparecem como colônias vermelhas.

Bactérias fermentadoras de xilose e descarboxilante de lisina aparecem como colônias

vermelhas. Bactérias fermentadoras de xilose e não descarboxilantes de lisina aparecem

como colônias amarelas opacas. Bactérias fermentadoras de lactose e /ou sacarose

aparecem como colônias amarelas (BIER, 1994; BD DIAGNOSTICS, 2003, ATLAS &

SNYDER, 2015).

Ágar HE – moderadamente seletivo, utilizado para isolamento e cultivo de

bactérias Gram negativas entéricas, especialmente Shigella sp. e Salmonella sp. Foi

desenvolvido a fim de aumentar a frequência de isolamento de espécies desses gêneros

de amostras fecais ou não. Considerado moderadamente seletivo devido a concentração

de sais biliares ser reduzida, porém, é capaz de inibir bactérias Gram positivas. Contém

três carboidratos: lactose, sacarose e salicina. A concentração de lactose é maior do que

em muitos outros meios, minimizando problemas de fermentação retardada da mesma.

A presença de citrato férrico amoniacal e tiossulfato de sódio no meio permitem a

detecção da produção de sulfeto de hidrogênio, auxiliando na diferenciação de colônias

negras, suspeitas de Salmonella sp. O sistema indicador, composto por fucsina ácida e

azul de bromotimol, apresenta uma toxicidade menor que a de muitos outros meios,

Page 30: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

30

resultando em melhor recuperação de patógenos entéricos. Nesse meio de cultura as

bactérias fermentadoras de salicina e/ou lactose formam colônias de tons amarelados ou

alaranjados e as bactérias não fermentadoras desses açúcares formam colônias de cor

verde ou azulada (TORTORA; FUNKE; CASE, 2003; BD DIAGNOSTICS, 2013, ATLAS

& SNYDER, 2015).

Outros meios de cultura como Eosina-Azul de Metileno (EMB); Citrato

Desoxicolato (CD); Verde Brilhante e Bismuto-Sulfato também são utilizados na

investigação de Shigella sp. (CAMPOS et al., 2009).

9.2.2. Caldos de Enriquecimento

Não devem ser utilizados como meios únicos para isolamento e sim em conjunto

com meios seletivos, para aumentar a probabilidade de isolamento de patógenos,

principalmente quando podem estar presentes em pequenos números nas amostras

investigadas. Caldo de Selenito e Caldo de Selenito com Cistina, são recomendados

para uso na recuperação de enteropatógenos, principalmente Salmonella sp., com

subculturas realizadas após 12-18 horas de incubação. Para a detecção de Shigella sp.,

o Caldo GN ou Caldo de Hajna é um meio de enriquecimento satisfatório, sendo

utilizado para o enriquecimento seletivo de Shigella sp. e Salmonella sp. de amostras

clínicas ou não. São alcançados rendimentos com aumento de 53% em Shigella sp. e de

36% em Salmonela sp. em comparação com a semeadura direta nos meios sólidos.

Estudos demonstraram uma superioridade do caldo GN ao meio de enriquecimento de

selenito, para o isolamento de Shigella sp. O meio é composto de peptonas, dextrose e

manitol, que se encontra em maior concentração que a dextrose para aumentar o

crescimento das espécies de Salmonella e Shigella, limitando o crescimento de Proteus

sp. e outras bactérias fermentadoras de dextrose. A presença de citrato e desoxicolato

de sódio no meio inibe bactérias Gram positivas e algumas gram-negativas. Proteus sp.,

Pseudomonas sp. e coliformes não crescem demais, enquanto Salmonella sp. e Shigella

sp. se sobressaem durante as primeiras 6 horas de incubação. A amostra deve ser

inoculada o mais rápido possível após a coleta. As amostras de zaragatoa podem ser

inseridas diretamente no caldo. Para amostras de fezes, inocula-se 1 g ou 1 mL de fezes

líquidas por tubo. Os tubos inoculados são incubados com tampas frouxas a 35 ± 2 ° C e

as subculturas em meio seletivo e diferencial são realizadas após 6-8 horas e

novamente após 18-24 horas de incubação (BD DIAGNOSTICS, 2003).

9.3. Identificação fenotípica de Shigella sp.

Page 31: OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS CAUSADAS …

31

As provas bioquímicas utilizadas na identificação fenotípica de bactérias são

importantes por ajudarem a identificar corretamente os agentes causadores da diarreia e

permitirem a detecção de possíveis surtos, ajudando as ações das vigilâncias sanitária e

epidemiológica (ANVISA, 2004).

Nas Tabelas 1a e 1b estão determinadas as provas utilizadas na identificação

fenotípica de Shigella sp., de acordo com Bopp et. al., 1999 e Strockbine et. al., 2015.

São realizadas as provas:

I – Produção de: Oxidase (OXI); Catalase (CAT); Motilidade (MOT); Indol (IND);

Ácidos fórmico, láctico e acético (VM); Acetoína (VP); Galactosidade. (ONPG); Sulfato

de Hidrogênio (H2S); Hidrólise de uréia (URE); Fenilalanina desaminase (FAD); Lisina

Descarboxilase (LDC); Arginina Di-hidrolase (ADH); Ornitina Descarboxilase (ODC);

Gelatinase (GEL); Gás de glicose (GAS); Hidrólise de esculina (ESC); Lipase (LIP);

DNAse (DNA) e Nitrato redutase (NIT).

II – Utilização de: Acetato (ACE); Citrato (CIT); E Tartrato (TAR) e Malonato (MAL)

como única fonte de carbono.

III – Fermentação de carboidratos: Adonitol (ADO); L-arabinose (ARA); D-arabitol

(ARB); Celobiose (CEL); Dulcitol (DUL); Eritritol (ERI); Glicerol (GLI); Myo-Inositol (INO);

Lactose (LAC); Maltose (MAL); D-manitol (MNT); D-manose (MAN); Melibiose MEL);

Rafinose (RAF); Raminose RAM); Salicina (SAL); Sacarose (SAC); D-sorbitol (SOR);

Trealose (TER); D-xilose (XIL); α-metil-D-glicosídeo (AMG) e Mucato (MUC).

IV – Crescimento em KCN.

Tabela 1a. Provas fenotípicas utilizadas na identificação de Shigella sp.

Tabela 1b. Provas fenotípicas utilizadas na identificação de Shigella sp.

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32

As espécies de Shigella sp. em geral fermentam a glicose com produção de

ácido, sem produção de gás, não hidrolisam ureia, não são produtoras de gás sulfídrico,

não descarboxilam a lisina e, também, não utilizam citrato nem acetato de sódio como

única fonte de carbono (CUNHA et. al., 2017).

9.4. Identificação genotípica de Shigella sp.

A identificação fenotípica, normalmente utilizada para o diagnóstico de DDAs que

envolvem Shigella sp., na rotina é muitas vezes limitado pela dificuldade de

reprodutibilidade e de diferenciação de suas linhagens e espécies, pois

epidemiologicamente os microrganismos envolvidos em DDAs possuem origem comum,

sendo diferente daqueles isolados em casos de surtos esporádicos; assim, para

aprofundar os estudos e pesquisas a cerca de, muitos métodos de identificação

genotípica foram desenvolvidos (SIRIBELLI, 2016).

Atualmente vários estudos vêm buscando uma melhor caracterização genética

das cepas de Shigella sp. isoladas, com a intenção de caracterizar os sorogrupos

existentes, melhorar o diagnóstico e explicar o desenvolvimento de resistência

antimicrobiana (MEDEIROS, 2016).

O método de escolha para a caracterização genética dessa bactéria deve ser

muito bem analisado, pois Shigella sp. possui algumas particularidades que devem ser

levadas em consideração como o objetivo, capacidade de diferenciação das linhagens e

fornecimento de informações sobre a bactéria, confiabilidade, reprodutibilidade e custos

(SIRIBELLI, 2016).

Os métodos mais comuns utilizados e que apresentam os melhores resultados

são, Pulsed – field gel eletrophoresis (PFGE), Enterobacterial repetitive intergenic

consensus PCR (ERIC – PCR), Multiple – locus variable – number tandem – repeat

analysis (MLVA), Multi – locus sequence typing (MLST) (SIRIBELLI, 2016).

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9.4.1. Pulsed – field gel eletrophoresis (PFGE)

Essa técnica é considerada padrão ouro na identificação bacteriana, o seu

princípio baseia-se na clivagem de DNA utilizando enzimas de restrição de raro corte

que dão origem a vários fragmentos moleculares grandes. A análise do padrão de

bandas que são gerados por esse método são analisados por softwares específicos que

estabelecem a similaridade genética entre as espécies estudadas e pesquisadas. A

PFGE é de alta reprodutibilidade e estabilidade, no entanto possui a desvantagem de

ser um a técnica de alto custo, porém hoje em dia é uma das técnicas essenciais para

identificação e classificação bacteriana em estudos epidemiológicos no mundo

(PARIZAD; PARIZAD e VALIZADEH, 2016).

9.4.2. Enterobacterial repetitive intergenic consensus PCR (ERIC – PCR)

Essa técnica é baseada em uma sequência intergênica repetitiva, um palíndromo

imperfeito com 127 pares de base, presentes ao longo do genoma enterobacteriano, se

denomina ERIC – PCR, sendo um método rápido que facilita a investigação de surtos, e

a validação de dados obtidos pelo PFGE, além de ser uma técnica vantajosa por ser

mais barata que a PFGE, e tem alta reprodutibilidade, os primes utilizados são

confeccionados a partir dessas sequências ERIC presentes no genoma bacteriano

(SIRIBELLI, 2016).

9.4.3. Multiple – locus variable – number tandem – repeat analysis (MLVA)

É um método que avalia e compara as repetições gênicas em tandem existentes

em diferentes linhagens de uma mesma espécie, é uma técnica rápida, de fácil

execução, e se mostrou eficiente para diferenciar os sorogrupos de S. sonnei isoladas

em alguns casos esporádicos ocorridos pelo mundo, sendo assim se mostra uma

técnica complementar às outras técnicas utilizadas para a tipagem dessas bactérias

(SIRIBELLI, 2016).

Ocorre a amplificação de VNTRs pela técnica de PCR, posteriormente são

submetidos a eletroforese capilar em aparelhos que sequenciam o DNA, os primes

complementares as regiões VNTR são marcados com fluoróforos, a leitura é feita por

sftwares específicos que convertem o tamanho dos amplicons em alelos tipos,

verificando a similaridade entre as linhagens pesquisadas (MOREIRA, 2014).

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34

9.4.4. Multi – locus sequence typing (MLST)

O método é baseado na sequência de 7 genes housekeeping, essa sequência

fornece informações para um baco de dados que faz a comparação de sorotipos de

Shigella sp. isoladas em surtos pelo mundo, o banco de dados utiliza um protocolo

padrão de Escherichia coli, e por meio deste é armazenado e interpretado a sequência

de nucleotídeos gerados, os 7 housekeeping.(SIRIBELLI, 2016).

Os resultados dessa técnica são altamente reprodutíveis e de fácil interpretação,

mas possui a desvantagem de ser um método de tipagem molecular caro, comparado a

outras técnicas (SIRIBELLI, 2016).

10. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste estudo, foram pesquisados dados da literatura referentes à shigelose no

Brasil, durante o período de 2014 a 2018.

Atualmente, as espécies de Shigella estão entre os principais agentes bacterianos

isolados no Brasil, constituindo um grave problema de saúde pública, fato esse

correlacionado com a pobreza, má higiene pessoal, falta de educação em saúde e

saneamento básico. Os casos de shigelose em si não são doenças de notificação

compulsória. No entanto, as DDAs são e devem ser notificados no Sistema de

Informação de Vigilância Epidemiológica das DDAs (SIVEP-DDA). A prevalência dessa

bactéria é de 8 a 10% em menores de 1 ano e de 15 a 18% em maiores de 2 anos e em

adultos (CVE, 2008; SOUZA, 2010).

De acordo com Madela et. al., 2017, o conhecimento prévio da realidade da

shigelose em âmbito nacional, conforme descrito a seguir, constitui importante elemento

para a construção epidemiológica de sua ocorrência.

Embora esteja inserida no rol das doenças transmitidas por água e alimentos, que

são de notificação compulsória, podemos observar que no Brasil existem poucos relatos

de shigelose. Isso pode ser atribuído a não obrigatoriedade das pesquisas de Shigella

sp. em águas e alimentos. Entretanto, esse microrganismo vem sendo bastante isolado

em fezes de pacientes envolvidos em surtos alimentares, isso explica que embora não

haja uma pesquisa profunda para Shigella sp. em alimentos envolvidos em tais surtos, a

coprocultura dos pacientes é de pesquisa obrigatória, por se tratar de DDAs, no caso

infecções diarreicas mucosa sanguinolentas. Outro aspecto que deve ser abordado é a

semelhança das características de surtos de shigelose com surtos de salmonelose,

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35

possibilitando que os surtos por Shigella sp. sejam atribuídos para Salmonella sp.

(MADELA et. al.,2017; MEDEIROS, 2016).

O objetivo primordial da vigilância das DDA é traçar o perfil epidemiológico de

casos, a fim de detectar os surtos e patógenos virulentos e epidêmicos envolvidos. De

acordo com os dados do SINAN, 2018, foram notificados no Brasil 3.292 surtos de

DTAA, no período de 2014 a 2018. Dentre os agentes etiológicos identificados como

únicos responsáveis pelos surtos confirmados laboratorialmente, a ocorrência de

Shigella sp. foi em 39 surtos, totalizando 465.596 casos expostos, com 54.037 doentes

notificados (Tabela 2). Dos surtos investigados, onde houve presença de Shigella sp.,

em alimentos, em alimentos mistos (possuem mais de um grupo alimentar), e em água.

Nesse período as notificações do local das ocorrências foram registradas nas

residências, creches, escolas, eventos, entre outros, sendo a residência o local de maior

ocorrência associado aos surtos de DTAAs (Tabela 3) (BRASIL, 2018).

Tabela 2: Surtos de Shigelose no Brasil no período de 2014-2018.

Fonte: adaptado de: BRASIL, 2018.

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Tabela 3: Perfil Epidemiológico dos surtos de Shigella sp. ocorridos no Brasil, veiculados por alimentos e água, no período de 2014 a 2018.

Fonte: adaptado de BRASIL, 2018.

Segundo o estudo retrospectivo de 20 anos (1996 a 2015) feito por Miguel et. al,

2018, com base no MS (DATASUS) foram apresentados os seguintes índices de

mortalidade por shigelose para cada 100 mil habitantes nas macrorregiões brasileiras:

Sul (31%), Nordeste (25%), Norte (18%), Centro-Oeste (14%) e Sudeste (12%), essas

ocorrências também foram avaliadas de acordo com a faixa etária, e observamos que a

incidência da shigelose é maior em crianças (até 5 anos) e idosos (acima de 60 anos), a

presença maior nessas faixas etárias explica-se pelo comportamento do sistema imune

nessas duas fases da vida, as crianças estão formando suas barreiras e proteção

imunológica e os idosos já possuem um certo comprometimento do sistema imune.

Houve uma singela redução nas taxas de mortalidade infantil nas últimas

décadas, no entanto as altas taxas de morbidade ainda são uma preocupação coletiva

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37

social. Estudos realizados nessa área vêm apontando as consequências negativas dos

episódios diarreicos na infância, como desenvolvimento físico e cognitivo defasado

(MEDEIROS, 2016).

Dentre as 4 espécies, S. sonnei e S. boydii são responsáveis por infecções mais

brandas e S. dysenteriae é relacionada a forma mais grave da doença. Em países em

desenvolvimento como no Brasil, S. flexneri apresenta maior incidência enquanto que,

nos países desenvolvidos é S. sonnei (CUNHA et. al., 2017).

Através desse estudo pode-se observar que uma parte significativa da shigelose é

de transmissão hídrica e alimentar, podendo ser prevenida através de consumos de

água potável, boas práticas de higiene e saneamento básico adequado. A ocorrência de

inundações e secas induzidas por mudanças climáticas podem afetar diretamente o

acesso da população aos serviços de abastecimento de água potável e saneamento, as

inundações expõem as populações a ricos de doenças por veiculação hídrica, pois

facilmente se dispersa material fecal nessas situações. No caso da escassez de água,

geralmente se utiliza fontes alternativas de abastecimento como o caminhão-pipa,

aumentando assim os riscos de adoecimento por não ter tratamento prévio dessa água

oferecida.

Em outro estudo feito por Medeiros, 2016, constatou-se cepas de S. flexneri

foram isoladas em 60% dos pacientes menores de 6 anos, e devido aos contrastes

socioeconômicos evidentes há uma enorme variação na distribuição geográfica dos

sorogrupos de Shigella sp., por exemplo: em São Paulo e Minas Gerais a prevalência é

de S. sonnei, já no Amazonas, Piauí e Rondônia existe maior predomínio de S.

flexneri.

No estudo de Madela et. al., 2017, observou-se por regiões geográficas, 11

relatos na região Sudeste, 6 destes casos foram por S. sonnei somando 54,5% dos

casos e os outros 5 foram observados S. flexneri somando 45,5% do total de casos na

região. O laboratório de Referência Nacional para Cólera e Doenças Entéricas da

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), isolou 296 casos de Shigella sp. em todas as

regiões brasileiras e constataram que na região Sudeste 62,7% das espécies

encontradas eram S. sonnei. Segundo alguns autores os relatos de prevalência de S.

sonnei são em países desenvolvidos e industrializados, ao julgar o fato de que a região

Sudeste do Brasil possui características socioeconômicas semelhantes, e onde se

localizam as principais metrópoles do país, é esperada a prevalência dessa espécie.

Nas regiões Norte e Nordeste foram identificados no isolamento 76,3% e 64,3%

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38

respectivamente espécies de S. flexneri, onde a região Norte se encontra como a

segunda região mais pobre do país, depois do Nordeste, nestes locais há uma elevada

proporção de residências sem coleta de lixo, sem manutenção de esgoto, ou seja, más

condições de saneamento básico, como descrito nos países em desenvolvimento, são

esperadas a maior prevalência dessa espécie nessas regiões.

Portanto, a seca e a estiagem estão, diretamente relacionadas com as situações

que mais afetam a população brasileira atingindo 50,34%, são mais recorrentes,

atingindo fortemente setores a infraestrutura de saúde no país. O cenário aqui

apresentado está inteiramente ligado com o desenvolvimento socioeconômico, as

condições de saneamento básico, e infraestrutura brasileira. Os casos registrados

anualmente por DDAs somam 4 mil óbitos, e são registrados pela vigilância

epidemiológica em unidades sentinelas e pelo Sistema de Informação sobre

Mortalidade (MIGUEL et. al., 2018).

11. CONCLUSÃO

Embora estejam citados na literatura poucos relatos, nessa revisão pode-se

observar que as espécies causadoras de shigelose no Brasil, com maior incidência são

S. flexneri com 61,1% dos relatos e S. sonnei em 38,9% deles. Pode-se concluir neste

estudo retrospectivo de revisão que a espécie predominante no país é Shigella flexneri,

nas regiões Norte e Nordeste, seguido da Shigela sonnei na Região Sudeste. Outro fator

muito importante observado é que a incidência da shigelose é maior não só em crianças

(até 5 anos), mas também em idosos (acima de 60 anos), tudo isso está diretamente

ligado ao estilo de vida e sistema imune nessas presentes faixas etárias. A shigelose

continua sendo em enorme e crescente problema de saúde pública não só brasileiro,

seu impacto é global, pois ainda não se consegue controlar de forma adequada, não

existem muitas formas de prevenção e tratamentos específicos. Vale ressaltar que essa

doença também está ligada com aspectos socioeconômicos e culturais do país, há

escassez na qualidade de água e esgoto fornecido as populações Norte e Nordeste,

faltam também políticas culturais que visam a educação em saúde e melhoria nas redes

de atenção pública de saneamento, que poderiam reduzir drasticamente a sua

ocorrência. Outro fator é a falta de legislação para a pesquisa da Shigella sp. como

agente causador de diarreia aguda em alimentos e água, a pesquisa se limita muito a

legislação vigente e isso pode deixar passar casos reais de shigelose que são atribuídos

a outros patógenos, ou simplesmente não são identificados os agentes causadores.

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