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0 Curso Formação Continuada ESTUDOS E CULTURA AFRO-BRASILEIROS 02/09 e 07/10/2015 OFICINA O NEGRO EM LONDRINA Mariana Panta Nikolas Pallisser Londrina 2015

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Curso Formação Continuada

ESTUDOS E CULTURA AFRO-BRASILEIROS

02/09 e 07/10/2015

OFICINA

O NEGRO EM LONDRINA

Mariana Panta

Nikolas Pallisser

Londrina

2015

1

1. Introdução1

Justiniano Clímaco da Silva, Vilma Santos de Oliveira, Oscar do Nascimento: Que nomes

são esses? Quais as estratégias mobilizadas em suas trajetórias para se destacarem social, política e

intelectualmente em contextos tão desfavoráveis aos pobres, especialmente os negros? Que

importância tiveram e ainda têm para a história de Londrina e do Paraná? Estas são algumas questões

que buscamos abordar neste curso de formação continuada Estudos e Cultura Afro-Brasileiros. A

grandiosidade das ações desses sujeitos contrasta com a relativa invisibilização e silenciamento

instaurados sobre as suas trajetórias.

Ao discorrer sobre a vida destas personalidades negras, acabamos por contar a história de

outros negros cujas ações marcaram profundamente o cotidiano de Londrina, mas sem o devido

reconhecimento na história oficial da cidade.

Para compreender um pouco da realidade vivenciada pela população negra, é necessário

considerarmos as ideias disseminadas pelas teorias racistas que se desenvolveram de maneira mais

sólida no final do século XIX2, início e ao longo do século XX. Essas correntes de pensamento não

só justificaram a discriminação racial naquele contexto, mas também deixaram fortes marcas que

persistem na atualidade, sobretudo no que diz respeito à ideologia do branqueamento3.

No estado do Paraná há um esforço constante, em diversos municípios do estado, para

associar sua formação cultural estritamente aos pioneiros de origem europeia. No caso do Norte do

Paraná, verifica-se que o negro não aparece como agente ativo, ainda que seja comprovada a sua

participação efetiva na economia local desde os primeiros tempos da colonização do município,

principalmente como mão-de-obra nas lavouras de café dos anos de 1940-19804.

1 Algumas partes desse texto, especialmente as que versam sobre as personalidades negras que se destacaram em

Londrina, foram publicadas previamente no artigo Personalidades Negras no Paraná, apresentado no I Congresso da

Associação Internacional de Ciências Sociais e Humanas em Língua Portuguesa - XII Congresso Luso-Afro-Brasileiro.

Lisboa, 2015. 2 O século XIX foi marcado pela propagação das teorias racistas, consideradas científicas, que foram utilizadas para

justificar a escravidão, o genocídio e as diversas formas de dominação que ocorreram durante toda a história da

humanidade. Nessa perspectiva, as ciências sociais contribuíram significativamente para a elaboração e formatação do

racismo numa época em que a raça, associada à atributos biológicos e naturais, bem como à atributos culturais, passou a

ser objeto de teorização científica. 3 Um dos recursos utilizados para o embranquecimento da nação brasileira foi a miscigenação seletiva, através das

políticas de povoamento e imigração europeia, partindo da concepção de que o sangue branco purificava, diluía e

exterminava o sangue negro, considerado infectado e geneticamente inferior. O processo de branqueamento nacional

apoiou-se no estupro da mulher negra pelo homem branco, dando origem aos produtos de sangue misto. O tipo

miscigenado, atualmente definido como pardo, estabeleceu o primeiro degrau na escada da branquificação sistemática do

povo brasileiro (NASCIMENTO, 1978:69). 4 Cf. PANTA, Mariana. Segregação Geográfica, Desigualdades Raciais e Migrações: Londrina como destino de fluxos

migratórios mineiros e nordestinos (1940-1980). In SILVA, Maria Nilza da e PANTA, Mariana (Orgs.). Território e

Segregação Urbana: 'o lugar' da população negra na cidade. 1ed. Londrina: UEL, pp. 35-63.

2

Com o objetivo de contribuir para uma educação antirracista e com a complementação da

história oficial do município, foi criado o projeto A população negra em Londrina: Memórias e

Realidade Social5 que deu origem a Coleção Presença Negra em Londrina, constituída, até o

momento, por três livros biográficos: O Doutor Preto Justiniano Clímaco da Silva: A presença negra

pioneira em Londrina; Yá Mukumby: A vida de Vilma Santos de Oliveira; Negro em Movimento: A trajetória

de Doutor Oscar do Nascimento. Por meio da pesquisa oral, documental, bibliográfica, hemerográfica e

iconográfica, é possível evidenciar não somente o papel fundamental do negro para a constituição e

desenvolvimento da cidade de Londrina e do estado do Paraná, mas também a participação histórica

deste grupo social na construção da nação brasileira.

A publicação desses materiais contribui para demarcar tempos históricos, fortalecer

identidades e, sobretudo, para reafirmar a necessidade de promover práticas de reconhecimento e de

profundo respeito à população negra, trazendo para a esfera pública as suas contribuições históricas,

sociais e culturais, para superar a desqualificação, silenciamento e invisibilidade que persiste na

atualidade.

Nessa perspectiva, o objetivo deste curso é versar sobre os estudos relativos à população

negra em Londrina, buscando oferecer subsídios para que professores e demais interessados na

temática possam abordar a questão étnico racial a partir da realidade local. Partiremos das trajetórias

de personalidades negras que marcaram profundamente a história e o cotidiano da cidade de Londrina

e mais recentemente vem ganhando visibilidade nacional: Justiniano Clímaco da Silva (1908-2000),

professor, médico e político; Vilma Santos de Oliveira (1950-2013), referência nacional no

Movimento Negro e na religiosidade afro-brasileira; e Oscar do Nascimento (1929), economista,

advogado, professor e um dos fundadores do primeiro clube negro de Londrina, denominado AROL

- Associação Recreativa Operária de Londrina.

Considerando que a população negra não é mencionada na história oficial da cidade, tornar

conhecida as trajetórias de personalidades como estas, possibilita o conhecimento da história de

Londrina sob outra perspectiva, esta, por sua vez, analisada não mais por uma ótica hegemônica, mas

pelo olhar daqueles que, mesmo limitados pelas desigualdades econômicas, sociais e raciais,

marcaram de forma imprescindível a história da cidade.

Para melhor situar o tema, como fizemos no primeiro dia de curso, discorreremos

brevemente sobre alguns pontos fundamentais das principais correntes de pensamento acerca das

relações raciais no Brasil.

5 Projeto elaborado e coordenado pela Profa. Dra. Maria Nilza da Silva.

3

2. Os Estudos Sobre Raça: Século XX

Na segunda metade do século XX, foram publicados diversos estudos acerca da condição

social do negro no Brasil6. Muitas destas pesquisas estiveram empenhadas em compreender se existia

ou não discriminação racial na sociedade brasileira; de que forma essa discriminação impactava a

vida do grupo discriminado e; quais as consequências. A ideia que permeava o imaginário social antes

de tais publicações, dentro e fora7 do Brasil, era a de que vivíamos em uma democracia racial.

Essa forma de compreender o Brasil é reflexo da obra de Gilberto Freyre: Casa Grande &

Senzala8, publicado pela primeira vez em 1933. A ideia essencial baseia-se na exaltação à colonização

portuguesa e no ideal da miscigenação (física e cultural) entre africanos, portugueses e indígenas, que

teria estabelecido a harmoniosa convivência racial e dado origem ao povo brasileiro. A obra de

Gilberto Freyre tornou-se referência e ideal de relação inter-racial, já que inspirava a ideia de

democracia racial num contexto mundial de guerra, no qual o racismo foi um componente intrínseco

fundamental das batalhas ideológicas, militares e civis.

E é no cenário pós Segunda Guerra Mundial, no qual o mundo havia vivenciado intensas

manifestações de racismo e intolerância, que o Brasil se apresentava como uma solução aos conflitos

mundiais. Após a Conferência Geral da UNESCO, realizada em Florença, na Itália, em 1950, foram

financiadas pesquisas sobre as relações raciais no Brasil, sob a direção do antropólogo Arthur

Ramos9. Entre os pesquisadores selecionados para participar do chamado “Projeto UNESCO”,

destacam-se: Florestan Fernandes, Roger Bastide, Oracy Nogueira, Thales de Azevedo e Luiz Aguiar

Costa Pinto.

Durante a década de 50 destaca-se o estudo desenvolvido por Florestan Fernandes e Roger

Bastide: Relações raciais entre negros e brancos em São Paulo (1955). Florestan Fernandes,

sociólogo brasileiro ligado à tradição marxista, “liderou”10 a corrente (canônica) de pensamento que

enfatizou as profundas desigualdades existentes entre brancos e negros no Brasil, contrapondo-se a

6 COSTA PINTO, 1952; RAMOS, 1957; BASTIDE e FERNANDES, 1955; IANNI e CARDOSO, 1960;

NASCIMENTO, 1978; HASENBALG, 1979; SILVA, 1980; FERNANDES, 1989. 7 Cf.: HASENBALG, 1979, p. 32. 8 Freyre, Gilberto. Casa grande e senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. 12ª ed.,

Brasília: Universidade de Brasília, 1963. 9 Arthur Ramos assumiu, em 1949, o Departamento de Ciências Sociais da UNESCO e “finalizou o delineamento de um

plano de trabalho no qual estava previsto o incremento de investigações sociológicas e antropológicas no Brasil”. Cf.:

MAIO, Marcos Chor. O projeto UNESCO e a agenda das ciências sociais no Brasil dos anos 40 e 50, vol. 14 nº 41,

outubro 1999, p. 142. 10 Florestan Fernandes, que foi membro titular da chamada Escola de Sociologia Paulista, liderou a corrente de

pensamento acerca das desigualdades raciais aceita pela academia. No entanto, outros autores como Abdias Nascimento

e Alberto Guerreiro Ramos (ambos negros) já vinham denunciando essas desigualdades no Brasil, mas eram

marginalizados no meio acadêmico.

4

tese de democracia racial proposta por Gilberto Freyre11. Ele demonstrou, a partir da análise da

situação do negro na cidade de São Paulo, como o racismo brasileiro se manifesta diferentemente do

que ocorria em países como a África do Sul (sob o regime do apartheid, segregação racial legalmente

institucionalizado) e os Estados Unidos (com a existência de Leis que proibiam o casamento inter-

racial e mantinha a segregação das raças), chegando à conclusão que o brasileiro tem preconceito de

ter preconceito e por isso o racismo ocorre de forma velada. Ao examinar a função do preconceito de

cor, demonstrou que este atuava nas interações sociais cotidianas, na escolha de um cônjuge, nas

regras de etiqueta, na vida sexual e, sobretudo, na manutenção da ordem social vigente.

Deste modo, o resultado da pesquisa conduzida por Fernandes e Bastide contrariou o

objetivo do “projeto UNESCO”, que era mostrar ao mundo uma nação com interações raciais bem-

sucedidas. Ao contrário, a pesquisa com um conjunto de dados sistematizados trouxe à tona um

cotidiano repleto de preconceitos e de práticas discriminatórias (MAIO, 1999: 151).

Embora, nesta obra, Fernandes constate e reconheça as profundas desigualdades existentes

entre brancos e negros no Brasil, o autor indica que “o problema do negro” seria solapado pela

tendência da sociedade paulistana de fazer prevalecer os princípios de integração estrutural sobre as

diferenças raciais (FERNANDES, 1971: 143). Para o autor a inclusão do negro à sociedade de classes

ocorreria de modo natural, com o passar do tempo e assim a cor perderia a sua relevância.

Em outras palavras, Fernandes compreendia o racismo como resíduo ou herança do passado

escravocrata. Ele acreditava que a discriminação racial desapareceria com o desenvolvimento do

capitalismo por ser incompatível com esta ordem competitiva estabelecida pela sociedade (TELLES,

2003:20). É nesse aspecto que a teoria de Florestan Fernandes e dos demais sociólogos da Escola

Paulista de Sociologia, como Octavio Ianni e Fernando Henrique Cardoso, é contestada por Carlos

Hasenbalg, no final da década de 1970.

Hasenbalg, em seu livro Discriminação e desigualdades raciais no Brasil, publicado pela

primeira vez em 1979 e qualificado como marco da sociologia brasileira dedicado ao estudo das

relações raciais, analisa as relações existentes entre raça, estrutura de classes e os processos de

estratificação e mobilidade social. O autor mostra que a exploração de classe e a opressão racial se

articulam como mecanismos de exploração da população negra e que a abertura da estrutura social

em direção à mobilidade está diretamente ligada à cor da pele, o que consequentemente teria

11 Cabe ressaltar que Gilberto Freyre não foi o criador do termo “democracia racial”, que só veio a ser utilizado pelo autor

muitos anos após o lançamento de seu livro Casa Grande & Senzala. Cf. O Anarquista de Apipucos. Entrevista de Gilberto

Freyre concedida a Lêda Rivas em 15 de março de 1980. Disponível em:

http://bvgf.fgf.org.br/portugues/vida/entrevistas/anarquista.html. Acesso em: 01/03/2015.

5

acarretado as disparidades sociais existentes entre brancos e negros desde o período após a abolição

do sistema escravista no Brasil12:

(...) a raça, como traço fenotípico historicamente elaborado, é um dos critérios mais

relevantes que regulam os mecanismos de recrutamento para ocupar posições na

estrutura de classes e no sistema de estratificação social. Apesar de suas diferentes

formas (através do tempo e espaço), o racismo caracteriza todas as sociedades

capitalistas multirraciais contemporâneas. Como ideologia e como conjunto de

práticas cuja eficácia estrutural manifesta-se numa divisão racial do trabalho, o

racismo é mais do que um reflexo epifenomênico da estrutura econômica ou um

instrumento conspiratório usado pelas classes dominantes para dividir os

trabalhadores. Sua persistência histórica não deveria ser explicada como mero legado

do passado, mas como servindo aos complexos e diversificados interesses do grupo

racialmente supraordenado no presente (HASENBALG, 2005: 124).

Dessa forma, Hasenbalg compreende que a problematização da discriminação e das

desigualdades raciais no Brasil, bem como a sua persistência na atualidade, não pode ser reduzida

exclusivamente a um fenômeno de classes, já que se comprova a existência de barreiras raciais em

diversas dimensões sociais, assim como não deve ser explicada como mera herança do passado de

exploração escravista. Para ele, a estrutura de classes é um fator importante, no entanto, outros

aspectos, agrupamentos e setores de estratificação social devem ser considerados, pois, os processos

são múltiplos e correlacionados. Hasenbalg, diferentemente de Florestan Fernandes, acreditava que

o racismo era compatível, e não incompatível, com o desenvolvimento do capitalismo no Brasil, bem

como acreditava que a dominação racial e o status inferior do negro persistiria por que o racismo

assumiria novas configurações e continuaria a atender interesses materiais e simbólicos da elite

branca dominante, por meio da desqualificação dos negros em várias dimensões. O autor percebia

que a industrialização não eliminava a raça como critério de estruturação das relações raciais.

“Embora a industrialização e o desenvolvimento econômico possam diminuir o grau das

desigualdades raciais, a posição relativa dos grupos raciais na hierarquia social não é

substancialmente alterada” (HASENBALG, 2005: 173).

Sinteticamente, esses são os principais paradigmas que constituem as teorias que estruturam

o pensamento acerca da problemática das relações raciais no Brasil. Cabe ressaltar que anos mais

tarde, em 1989, no livro Significado do Protesto Negro, Florestan Fernandes reconheceu o racismo

como um fator muito além de um ingrediente do preconceito de classes:

Aqueles que conseguem varar as barreiras sociais qualificando-se como técnicos ou

como profissionais liberais, logo se defrontam com barreiras raciais. Promoção,

reconhecimento de valor e acesso a vários empregos são negados por causa da

condição racial, embora os pretextos apresentados escondam as razões verdadeiras.

Para a massa da população negra a questão é ainda mais grave que para suas elites.

Ela se vê expulsa da sociedade civil, marginalizada e excluída. E defronta-se com o

12 Este ponto é bem desenvolvido por Hasenbalg no Capítulo III: Estrutura de Classes, Estratificação Social e Raça.

Discriminação e desigualdades raciais no Brasil. Belo Horizonte: UFMG, 2005.

6

peso de um bloqueio insuperável e de uma forma de dominação racial hipócrita,

extremamente cruel e camuflada, que aumenta a exploração do negro, anula suas

oportunidades sociais, mas, ao mesmo tempo, identifica o Brasil como um país no

qual reina a harmonia e igualdade entre as raças (FERNANDES, 1989:23).

Dessa forma, Florestan Fernandes afirmou que o mito da democracia racial13 constitui o

principal fator de retardamento das mudanças estruturais, por ignorar a existência e a preservação das

desigualdades raciais no Brasil (FERNANDES, 1989:17).

Explicitados alguns pontos acerca das principais teorias sobre as relações raciais no Brasil,

discorreremos a seguir sobre aspectos importantes da realidade do Paraná, Estado profundamente

influenciado pela ideologia do branqueamento.

2.1.Paraná: Os Vestígios da Ideologia do Branqueamento

A região Sul do Brasil, constituída pelos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do

Sul, caracteriza-se por ser uma das áreas do país com a maior expressividade de imigrantes

provenientes da Europa e, consequentemente com a maior proporção de brancos. Sabe-se que milhões

de imigrantes chegaram ao Brasil nos primeiros 40 anos pós-abolicionismo, muitos deles apoiados e

subsidiados pelo governo brasileiro, incentivado por uma política oficial de embranquecimento

nacional. Entre 1890 e 1920 mais de 1,5 milhões de imigrantes brancos entraram no Brasil como

efeito do investimento no projeto de branqueamento racial do povo brasileiro, enquanto mais de

700.000 negros foram alforriados sem nenhum tipo de política para integrá-los a nova sociedade em

formação (DIWAN, 2007:117). Em muitas cidades brasileiras, em especial na região Sul, a presença

da população negra é subestimada ou mesmo negada e sua memória “esquecida”, sendo a sua

invisibilidade social e histórica um dos resquícios da ideologia do branqueamento.

Existe uma tentativa de consolidação da ideia de que a formação do Paraná é essencialmente

europeia. Alguns intelectuais e pesquisadores argumentam que no Paraná não houve escravidão e

nem população negra significativa. Wilson Martins sustenta, em capítulo de seu livro intitulado Não

houve escravatura no Paraná, a seguinte ideia:

[...] esse belo tipo físico, corado e de cabelos castanhos se distinguia, ainda, dos

demais brasileiros, por traço de fundamental importância: não se misturava com o

negro, existente em reduzidíssimo número em toda a província no decorrer de sua

história, e que por isso não chegou a invadir sexualmente os hábitos desses rústicos

13Cf: FERNANDES, Florestan. Significado do Protesto Negro, São Paulo, Cortez, 1989. No capítulo As relações raciais

em São Paulo reexaminadas, Florestam Fernandes responde às criticas destinadas a pesquisa que realizou para a

UNESCO, juntamente com Roger Bastide na década de 1950, que resultou no livro Brancos e Negros em São Paulo. O

autor esclarece que a sua investigação não se trata de um projeto típico de pesquisa de relações raciais à la norte-

americana, mas sim da tentativa de render conta de uma realidade histórica.

7

senhores primitivos. Ao lado da imigração, é a inexistência da grande escravatura o

aspecto mais característico da história social do Paraná, ambos o distinguindo

inconfundivelmente de outras regiões brasileiras [...] (MARTINS, 1989:128).

Nota-se que Wilson Martins estava em profunda sintonia com o projeto de branqueamento

do povo brasileiro projetado pela classe dominante do país, com o seu auge nas décadas de 1930 e

1940 do século XX.

O historiador Romário Martins (1996:392), em seu clássico livro História do Paraná,

enfatiza que no povoamento paranaense a raça negra não teve grande representação. Em discurso

sobre si mesmo, afirma não ser apologista dos que consideram o negro inferior e insusceptível de

desenvolvimento. Em certa medida, ele reconhece a influência do negro e do indígena na formação

do povo brasileiro, designando-os como “agentes da riqueza colonial, individual e pública, e elemento

formador da nossa nacionalidade” (MARTINS, 1996:152). Todavia, Romário Martins descreve os

africanos escravizados como fetichistas ao extremo, bruxos, adoradores de ídolos de grosseira

confecção e artistas detestáveis (MARTINS, 1966:153).

Ao historicizar sobre a abolição da escravatura no Brasil, Romário Martins a descreve

enfatizando o sentimento humanitário e civilizatório do branco e o seu empenho para a libertação dos

escravizados. A abolição é apresentada como desejada e aclamada pelo povo brasileiro, que com a

nobre decisão - que culminou no ato da princesa Isabel que assinou a Lei Áurea – fez desaparecer a

grande mácula da civilização ao tornar livre, 723.419 escravizados (MARTINS, 1995:380-381). Todo

o processo abolicionista é descrito pelo autor como um marco histórico branco, com o mínimo de

informações referente às pressões externas exercidas, principalmente pela Inglaterra, sobre o governo

brasileiro para extinção do regime escravista e, sem qualquer referência ao papel do negro

escravizado, como agente ativo, que resistiu e lutou contra a ordem escravocrata. Como analisou

Florestan Fernandes (1971:56-57,60), os negros escravizados sempre resistiram à escravidão, bem

como tiveram uma ação decisiva no solapamento da ordem vigente, por meio de fugas em massa e

desorganização dos trabalhos nas fazendas. “As fugas em massa, que se intensificaram em 1887,

deixaram muitos fazendeiros em situação aflitiva”. Sendo assim, Romário Martins também não

escapou do discurso ideológico de seu tempo.

Várias pesquisas, empíricas e teóricas, consistentes mostram que a escravidão negra no

Paraná foi uma realidade e que a sua presença no estado foi representativa. Horácio Gutiérrez

(2006:101-102) afirma que o afluxo dos primeiros escravos africanos no Paraná provavelmente

coincidiu com a fundação de Paranaguá, no litoral, em 1648, o primeiro núcleo populacional

português instalado na região em decorrência da descoberta de ouro nas redondezas. Logo o metal

precioso foi descoberto também nos campos de Curitiba. Certamente, os colonos provenientes

8

principalmente da capital de São Paulo, trouxeram os primeiros escravos negros para trabalhar na

extração e lavagem do metal. Em 1798, no primeiro quadro global reunindo informações sobre as

cidades paranaenses então existentes, foram relacionados 4.273 cativos dentro de uma população de

20.999 pessoas. As vilas mais escravistas eram as mais vinculadas ao mercado em virtude da pecuária.

Estima-se que na primeira metade do século XIX, o número relativo de escravos negros

chegou a 40% da população da Província do Paraná, que se emancipou politicamente em 1853.

Entretanto, logo se iniciou o esgotamento do sistema econômico baseado na escravidão e

posteriormente a mão-de-obra escrava tornou-se incompatível com as inovações tecnológicas.

Naquele contexto, intensificava-se a reação dos escravizados contra a exploração do seu trabalho, os

assassinatos, maus-tratos e humilhações, acrescidos do abandono quando velhos e doentes que eram

respondidos, por vezes, com o suicídio, mas, principalmente, com as diversas formas de resistência

negra contra o sistema escravista, por meio de revoltas e com a fuga seguida da organização de

comunidades autônomas conhecidas como quilombos (JUNIOR; SILVA e COSTA, 2008:16).

A pesquisa realizada pelo Grupo de Trabalho Clóvis Moura, que resultou no livro Paraná

Negro publicado em 2008, dá maior visibilidade as comunidades oriundas de quilombos no Estado

do Paraná, retratando pessoas e situações de 36 comunidades reconhecidas como “remanescentes”

pela Fundação Palmares, entre as 90 comunidades quilombolas mapeadas no Estado. Buscou-se

assim, desvendar aspectos da realidade em que vivem ou viveram os habitantes dos quilombos e os

demais negros, que representam em média um quarto da população total do Paraná. O Paraná revela-

se então como o estado mais negro do Sul do Brasil.

Apesar de todo discurso branqueador, da persistência em tornar o negro invisível e de quase

toda a sua contribuição histórica ser invisibilizada, a população negra está presente no Paraná e em

Londrina, contudo, praticamente ausente, não só da história, mas também dos territórios mais

valorizados socialmente e aglomerados nos bairros estigmatizados da cidade14.

Aos 80 anos de sua formação, Londrina é tida como a mais nova metrópole brasileira, de

acordo com o IBGE-2012. O município, que atualmente possui cerca de 537.566 habitantes (IBGE,

2013)15, contou com a participação e esforços de diversos grupos étnico-raciais provenientes de

distintas regiões do mundo para que pudesse se transformar em uma das cidades mais influentes da

14 Cf. SILVA, Maria Nilza da e PANTA, Mariana (Orgs.). Território e Segregação Urbana: 'o lugar' da população negra

na cidade. 1ed. Londrina: UEL, pp. 35-63. 15 Cf. Estimativas da população residente nos municípios brasileiros com data de referência em 1º de julho de 2013.

Disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/Estimativas_de_Populacao/Estimativas_2013/estimativa_2013_dou.pdf.

(consultado em 23-02-2014).

9

região Sul do Brasil e do Estado do Paraná, além de importante polo de desenvolvimento nacional

que tem contribuído significativamente com a economia brasileira16.

Sua população se caracteriza pela heterogeneidade étnica, resultado da presença de

imigrantes de várias nacionalidades, de seus descendentes e dos chamados “brasileiros”. Entretanto,

contrariando a visível diversidade étnica-racial presente em Londrina desde o início da sua formação,

só é conhecida a história da cidade o que diz respeito a determinados grupos étnico-raciais, sendo o

destaque aos italianos, alemães, japoneses e, sobretudo, aos ingleses, ao passo que se silencia e relega

a planos inferiores ou mesmo ao esquecimento a existência e importância dos povos negros, indígenas

e brasileiros, principalmente nordestinos, mineiros e paulistas, na formação sociocultural do

município, que também desempenharam um importante papel na formação sociocultural do

município17. Segundo Tomazi (2000), o processo de colonização do Norte do Paraná excluía aqueles

que não eram proprietários e que não se enquadravam nos padrões que representavam a

potencialidade para o desenvolvimento de uma próspera e promissora cidade.

2.2.Londrina: Reflexo das Desigualdades Sociais e Raciais Brasileiras

O período de criação e consolidação de Londrina como município - que ocorreu nas décadas

de 1930 e 1940 - corresponde a um tempo histórico no qual o Brasil estava em profunda sintonia com

as teorias raciais europeias, de implementação de políticas solidificadas de branqueamento, de

povoamento e imigração, principalmente europeia, subsidiada e espontânea, com o objetivo de

“melhorar” a nacionalidade e estimular o seu progresso. Na prática, essa corrente de pensamento

condicionou o apagamento do negro da memória histórica de Londrina e provavelmente, junto com

outros mecanismos, estimulou o deslocamento forçado deste segmento populacional para os

territórios marginalizados do município, que buscava (e ainda busca) uma imagem europeizada18 por

16Cf. História da Cidade. Disponível em:

http://www1.londrina.pr.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3&Itemid=5. (consultado em: 07-02-

2014). 17 Cabe lembrar que desde o início do século XX até a década de 1930 o café impulsionou e economia brasileira, sendo o

principal produto de exportação no decorrer de quase 100 anos. As regiões de maior contração de café situavam-se entre

Rio de Janeiro e São Paulo e também nas regiões de “terra roxa”, como o Paraná. 18 Em Londrina, há uma tentativa de forjar a identificação dos agentes sociais com um discurso proposto pelos grupos

mantidos no poder. Neste caso, o resultado nem sempre é satisfatório para todos os grupos étnico-raciais, visto que neste

processo, enquanto alguns grupos se destacam (principalmente os de origem européia), outros permanecem praticamente

ocultos. Cf. alguns exemplos: Documentário Aborda influência inglesa em Londrina. Disponível em:

http://www1.londrina.pr.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12329:documentario-aborda-

influencia-inglesa-em-londrina&catid=85:cidades&Itemid=972. Londrina quer homenagear origens com relógios

inspirados no 'Big Bem. Disponível em: http://g1.globo.com/parana/noticia/2012/04/londrina-quer-homenagear-origens-

com-relogios-inspirados-no-big-ben.html. Londrina ganha mais duas cabines telefônicas inglesas. Disponível em:

http://www1.londrina.pr.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=9190:londrina-ganha-mais-duas-

cabines-telefonicas-inglesas-&catid=108:destaques (consultado em 20-03-2013). Sercomtel: Cabines inglesas de telefone

público enfeitam a cidade. Londrina, 2011. Disponível em:

http://home.sercomtel.com.br/n/noticias/detalhes.asp?nrseq=320482 (consultado em: 20-03-2013).

10

meio da “higienização” da cidade. Todos esses fatores históricos, associados à ausência de políticas

públicas adequadas a realidade social da população negra, provavelmente acarreta a extrema

dificuldade de mobilidade social ascendente deste grupo social, que sofre, ainda hoje, em demasia os

processos de segregação territorial involuntário e geralmente são deslocados para os territórios

estigmatizados da cidade.

O discurso “científico” daquele contexto (1930-1940) acerca da questão racial demonstra

na prática os esforços para tornar a nação brasileira branca cultural e fisicamente. Enquanto prática

social simbólica, o discurso dominante institui a memória histórica de Londrina, na qual os processos

identificatórios são constituídos à imagem e semelhança do modelo colonizador europeu.

Simultaneamente, instaura-se um processo de silenciamento sobre a presença negra e sua identidade

é omitida. O negro foi considerado indesejado refletindo um contexto nacional em que a ideologia do

branqueamento embasava as relações como símbolo de progresso.

A imigração europeia modificou significativamente a composição racial da população

brasileira através do processo de branqueamento, cujos pressupostos eram visivelmente racistas.

Dinâmica esta que resultou no deslocamento dos negros para as ocupações periféricas da economia

capitalista em expansão nos Estados do Sul e Sudeste. Somente após uma geração de deslocamento

social (1888-1930) é que o grupo negro passou a acompanhar lentamente as transformações sociais

em curso nessas regiões. Cabe ressaltar, que a maioria dos imigrantes que chegavam ao Brasil, não

possuíam habilidades ou qualificações especiais, nem possuíam recursos econômicos particulares. Os

pontos de partida de imigrantes e negros eram semelhantes. A diferença crucial refere-se às

oportunidades que os grupos imigrantes tiveram de melhorar suas condições sociais e econômicas,

oportunidades estas que não foram dadas ao grupo negro (HASENBALG, 1979: 156-161, 166).

Os dados dos estudos realizados por Carlos Hasenbalg mostram que o processo de parcial

incorporação social e econômica da população negra aumentou, gradativamente, após 1930, quando

o fluxo de imigração diminuiu e a taxa de urbanização e industrialização nos estados da região Sul e

Sudeste se intensificou. Por conseguinte, as décadas de 1940 e 1950 são marcadas pela expansão da

cafeicultura no norte-paranaense e também pela incorporação progressiva do negro à classe

trabalhadora, mais especificamente, ao proletariado urbano. Como analisa Octavio Ianni (1988:270),

referindo-se a realidade de Curitiba, os negros ajustaram-se gradativamente a camada inferior

assalariada da sociedade emergente. Processo que, segundo ele, continuava em curso na década de

80, do século XX.

Atualmente, ainda que o segmento negro represente 26% da população em Londrina, nota-

se que a história e a cultura negra, assim como a própria população se desenvolvem à margem da

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sociedade, haja vista o fato de que o contingente negro está, na sua maioria, nos territórios demarcados

pela marginalização social. Em 2008, Silva mostrou que, no Estado do Paraná, mais especificamente

em Londrina, a trajetória da população negra é semelhante àquela vivida pelos negros em outras

regiões do Brasil, já que a sua invisibilidade foi utilizada como estratégia do projeto civilizatório

nacional que disseminava a ideia de branqueamento e de uma população mais próxima do modelo

europeu. É nesse sentido que o conhecimento das trajetórias de personalidades negras que se

destacaram social, política e intelectualmente configuram-se não somente como uma reparação do

processo histórico da cidade de Londrina, mas também como forma de valorização da população

negra, que contribuiu, assim como os demais grupos sociais, para a constituição do estado do Paraná.

A seguir, apresentamos um breve relato sobre as personalidades negras cujas trajetórias

foram abordadas no curso. Para aqueles que desejam conhecer um pouco mais destas trajetórias e

também alguns aspectos da realidade social da população negra em Londrina, de modo geral,

indicamos a leitura dos materiais produzidos no âmbito do NEAB e LEAFRO-UEL.

Personalidades Negras em Londrina

2.3.Justiniano Clímaco da Silva: O Doutor Preto (1908-2000)19

2.4.Vilma Santos de Oliveira: Expressão de Luta e Vida (1950-3013) 20

19 O texto que discorre sobre a trajetória do Doutor Clímaco foi extraído do livro: SILVA, Maria Nilza & PANTA,

Mariana (2014). O Doutor Preto Justiniano Clímaco da Silva: A presença negra pioneira em Londrina. Londrina: UEL.

Disponível em: http://www.uel.br/projetos/leafro/ (consultado em 14-12-2014). 20 Para conhecer melhor a trajetória de vida de Dona Vilma e suas ações, indica-se a leitura dos seguintes livros: LANZA,

Fábio. [Et al.] (2013), Yá Mukumby: A vida de Vilma Santos de Oliveira. Londrina: UEL. Disponível em:

http://www.uel.br/projetos/leafro/ (consultado em 14-12-2014). SILVA, Maria Nilza e PACHECO, Jairo Queiroz

(organizadores) (2014). Dona Vilma: Cultura Negra como Expressão de Luta e Vida. Londrina: UEL. Disponível em:

http://www.uel.br/projetos/leafro/ (consultado em 14-12-2014).

Justiniano Clímaco da Silva, o Doutor Preto, como era conhecido

em Londrina, nasceu no dia 8 de janeiro de 1908, na cidade de

Santo Amaro da Purificação, Estado da Bahia. Foi um dos

primeiros médicos a chegar a Londrina, em 1938, período das

grandes epidemias, que matavam muitas pessoas no município.

Foi médico da saúde pública na cidade e tornou-se especialista no

combate às doenças infectocontagiosas, como a malária e a febre

amarela. Foi um dos primeiros médicos e o primeiro médico negro

da cidade, onde clinicou por mais de 50 anos, atendendo mais de

30 mil pacientes, sobretudo da população pobre.

Em 1947, o Dr. Clímaco foi eleito deputado estadual

constituinte pelo Partido Social Democrático do presidente Eurico

Gaspar Dutra, como o quinto mais votado do Paraná e primeiro

eleito por Londrina.

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2.5.Oscar do Nascimento: Um Negro em Movimento (1929) 21

3. Considerações Finais

Divulgadas estas trajetórias exemplares, que servem de referência para muitos, é notável a

resistência, a superação das adversidades impostas às trajetórias individuais e coletivas de homens,

21 SILVA, Maria Nilza; PANTA, Mariana & SOUZA, Alexsandro Eleotério de Souza (2014). Negro em Movimento: A

trajetória de Doutor Oscar do Nascimento. Londrina: UEL. Disponível em: http://www.uel.br/projetos/leafro/ (consultado

em 14-12-2014).

A trajetória de Vilma Santos de Oliveira, mais conhecida em

Londrina como Dona Vilma e Yá Mukumby, foi marcada pela

militância a favor de todos aqueles que se encontrava em situação

de maior sofrimento social, sobretudo pobres e negros. Embora

não tivesse tido condições para completar seus estudos, a mulher,

negra, pobre, trabalhadora e Mãe de Santo, fez sua voz ser ouvida

e respeitada nos mais diversos espaços, frequentados por

universitários, professores, mestres, doutores, políticos e artistas.

Foi, de fato, uma liderança na religião africana e nos movimentos

sociais que tinham como objetivo principal ampliar a

oportunidades de inserção social da população negra em espaços

nos quais sua presença era ínfima, como, por exemplo, a

universidade pública. Esta trajetória de luta fez com que ela se

tornasse uma referência regional e se constituísse enquanto

militante da causa negra no Brasil.

Oscar do Nascimento, mais conhecido em Londrina como doutor

Oscar, nasceu no dia 25 de dezembro de 1929 na cidade de

Coroados, estado de São Paulo e passou a residir em Londrina

desde a infância. Filho de lavradores, formou-se em Economia e

Direito nas décadas de 1950 e 60, respectivamente, contexto em

que o sistema educacional superior brasileiro, especialmente a

universidade pública, era imensamente restrito aos negros, em

razão das desigualdades sociais e raciais acumuladas

historicamente e que persistem na atualidade. É advogado,

economista e lecionou por 42 anos, atuando como docente no

ensino médio, técnico e superior. Após lecionar por mais de

quatro décadas, aposentou-se nesse ofício. Atualmente exerce a

profissão de advogado. É um dos fundadores do clube AROL,

Associação Recreativa Operária de Londrina, organização negra

criada na década de 1950, sob liderança de Cypriano Manoel -

cuja importância instaura-se na luta pela inserção do negro na

sociedade londrinense e na resistência contra a discriminação

racial. Participa ativamente do Movimento Negro de Londrina,

no qual desempenha um importante papel.

13

mulheres, negros e negras no decorrer da história do Brasil. Ao conhecer a história do Doutor

Clímaco, da Dona Vilma e do Doutor Oscar, conhece-se um pouco mais sobre a história de Londrina

e da população negra, em sintonia com o contexto de formação e consolidação da nação brasileira e

com o desenvolvimento das relações étnico-raciais desenvolvidas no país. O estudo contribui para

maior conhecimento da história política, econômica, cultural e social da cidade, visto que a população

negra, embora preterida na história conhecida e divulgada, é parte integrante da realidade paranaense

e londrinense.

4. Referências

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