o fantastico um debutante imbativel -...

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Um debutante imbative l O Fantastico completa 15 anos de idad e como I der absoluto d e audiencia e procurando dar mais informaca o O Fantastico venceu apostando na diversidad e "Olhe been, preste atencao . . ." , cantou a voz feminina na telinha, n a noite de 7 de agosto de 1973, enquan- to a bailarina Heloisa Millet girava corn grata no centro de um palco cin- tilante em preto e branco . Nascia u m programa que seria muito mais qu e urn substituto do exausto S6 o Amor Constr6i, ou a nova arena contra Fla- vio Cavalcanti, da TV Tupi, enta o urn concorrente ameacador para a Rede Globo . 0 Fantastico, passada s 770 edicOes e mais de 1 .500 horas de producao, transformou-se num do s mais vistosos marcos da hegemoni a da emissora do Jardim Botanico . 0 programa chega aos 15 anos de idade corn uma audiencia cativa media de cinco milhbes de pessoas apenas na s cidades de Sao Paulo e Rio de Janei- ro . Mais do que urn campeao de au- diencia, o Fantastico esta hoje incor- porado aos habitos, sons e estados d e espfrito que pairam sobre o territbri o nacional aos domingos, entre 20 e 22 horas . A receita desse sucesso - que che- gou a ser exportado para 52 pafses - Jose-Itamar : sem alienagao resumida pelo diretor-geral Jose - Itamar de Freitas numa frase . "Fas o urn programa para uma famflia ficti- cia . Nem todos veem todo o progra- ma, mas todos tem interesses especifi - cos nele", diz . Nesta famflia, fictici a mas absolutamente comum em qual- quer cidade brasileira, o pai gosta d o noticiario, a mae se emociona cor n um velho sucesso de Angela Maria, o s homens da casa pregam o olho na tel a na hora do quadro "Garota do Fan - tastico", as criancas se) vac ) para a cama depois do nu- mero de circo e assim po r diante . No final das contas , poucos deixam de dar pel o menos uma olhada no pro- grama . Momentos de emo- gao - AlEm do pluralism o de assuntos, o Fantastic o tern outras marcas registra- das : a narracao "vencedo- ra", que evoluiu do estil o dramatico dos primeiro s anos para o tom temperad o dos dial de hoje, uma sonoplasti a marcante, uma paginacao cuidadosa , alternando momentos fortes e leves, e uma pauta de assuntos compative l corn o clima relaxado do domingo . Alice-Maria, diretora executiva d a Central Globo de Jornalismo, lembra que "o programa nao pode ser sb d e problemas" . E ensina : "Nao h a quem agilente duas horas de pancad a no domingo" . Alice repete uma fras e do vice-presidente de OperacOes, Jos e 52 IMPRENSA - AGOSTO 1988

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Page 1: O Fantastico Um debutante imbativel - portalimprensa.com.brportalimprensa.com.br/tv60anos/pdfs/15_anos_Fantastico_Ed_12_agosto_de... · urn programa para uma famflia ficti-cia. Nem

Um debutante imbative lO Fantastico completa 15 anos de idade

como I der absoluto deaudiencia e procurando dar mais informacao

O Fantastico venceu apostando na diversidade

"Olhe been, preste atencao . . ." ,cantou a voz feminina na telinha, nanoite de 7 de agosto de 1973, enquan-to a bailarina Heloisa Millet giravacorn grata no centro de um palco cin-tilante em preto e branco . Nascia umprograma que seria muito mais qu eurn substituto do exausto S6 o AmorConstr6i, ou a nova arena contra Fla-vio Cavalcanti, da TV Tupi, entaourn concorrente ameacador para aRede Globo. 0 Fantastico, passada s770 edicOes e mais de 1 .500 horas deproducao, transformou-se num do smais vistosos marcos da hegemoni ada emissora do Jardim Botanico . 0programa chega aos 15 anos de idadecorn uma audiencia cativa media decinco milhbes de pessoas apenas nascidades de Sao Paulo e Rio de Janei-ro. Mais do que urn campeao de au-diencia, o Fantastico esta hoje incor-porado aos habitos, sons e estados d eespfrito que pairam sobre o territbrionacional aos domingos, entre 20 e 22horas .

A receita desse sucesso - que che-gou a ser exportado para 52 pafses -

Jose-Itamar : sem alienagao

resumida pelo diretor-geral Jose -Itamar de Freitas numa frase . "Fasourn programa para uma famflia ficti-cia . Nem todos veem todo o progra-ma, mas todos tem interesses especifi-cos nele", diz . Nesta famflia, ficticiamas absolutamente comum em qual-quer cidade brasileira, o pai gosta d onoticiario, a mae se emociona cornum velho sucesso de Angela Maria, o shomens da casa pregam o olho na telana hora do quadro "Garota do Fan -

tastico", as criancas se) vac)para a cama depois do nu-mero de circo e assim po rdiante . No final das contas ,poucos deixam de dar pel omenos uma olhada no pro-grama.

Momentos de emo-gao - AlEm do pluralismode assuntos, o Fantasticotern outras marcas registra-das: a narracao "vencedo-ra", que evoluiu do estil odramatico dos primeiro sanos para o tom temperado

dos dial de hoje, uma sonoplastiamarcante, uma paginacao cuidadosa ,alternando momentos fortes e leves, euma pauta de assuntos compativelcorn o clima relaxado do domingo .

Alice-Maria, diretora executiva d aCentral Globo de Jornalismo, lembraque "o programa nao pode ser sb d eproblemas" . E ensina: "Nao haquem agilente duas horas de pancad ano domingo" . Alice repete uma frasedo vice-presidente de OperacOes, Jos e

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Bonifacio de Oliveira Sobrinho, oBoni, para definir a grande receita doprograma: "Todo Fantastico que ternurn grande momento de emocAo a umgrande programa " . Exemplos? Alicelembra o dia em que o Fantastic omostrou o exato momento em queuma jovem americana que nascerasurda comecava a ouvir .

E Jose-Itamar de Freitas nao s eesquece de um domingo de 1979. CidMoreira acabara de ler, no encerra-mento do programa, urn daquele stextos cheios de confianca na vida . 0telefone tocou na redacao do Fantas-tico . Era uma viuva . Entre solucos epausas emocionadas, ela revelou qu eestava acabando de interromper o so-Mario ritual de urn suicidio, por obr ae grata da mensagem lida por Ci dMoreira .

"Jornalismo-espetaculo" - Decla-radamente apaixonado pelo que faz ,Jose-Itamar destaca alguns dos gran -des momentos do programa: a repor-tagem sobre o comeco da vida, a par-tir de um filme da Universidade d eTOquio (uma microcamera acompa-nhou a evolucAo de um embriao hu-mano no utero de uma mulher) ; o pri-meiro parto mostrado, na Integra, pe-la televisao; uma serie de reportagenssobre os menores abandonados qu eacabou provocando mudancas na le-gislacao ; outra serie sobre a situacA odos hospitais psiquiatricos no Brasil(corn identica repercussAo) e a repro-dusao do trabalho do cineasta ama-dor que registrou o assassinato d eJohn Kennedy (ate entAo inedito) .

Jose-Itamar diz que procura sem-pre se escorar nas pesquisas que aGlobo faz, sistematicamente, juntoaos telespectadores . )3 por causa de-las, alias, que o Fantastico nuncaabandona de vez as materias de infor-macao medica - hoje bem menos fre-qudntes . Ha alguns anon, Itamar ex-perimentou tres meses sem qualquertipo de materia medica, a titulo d eteste . Uma pesquisa indicou, logo de-pois, que 79% dos telespectadore ssentiram falta desde tipo de assunto ."0 pals a que a hipocondriaco, nA onos", conclui Odejaime de Hollanda ,urn dos editores do Fantastico .

Os numeros das pesquisas nAo odesmentem : desde os 47,5 pontos qu eo Ibope registrou no Rio na noite d eestreia, o Fantastico nunca mais dei-xou a lideranca do horario - corn ex-cecAo de dois domingos de 1973 e mque perdeu de 40 a 35 para Os Tra-palhdes, entao na TV Tupi . A Globoregolveu o problema contratando oquarteto de humoristas . Jose-Itama rdiz que o programa, hoje, ja nao emais feito para dar 80 pontos . "NAo

somos varejAo . Nosso publico a maisqualificado. Se quisessemos 80 pon-tos, era sO pegar aborto, homosse-xualismo, engolidores de gilete e unscertos cantores", diz .

Formula aberta - Ate marco d e1977, o comando do programa era daarea de shows . Itamar dirigia apenaso nucleo de jornalismo. Augusto Ce-sar Vanucci, Joao Loredo, Manoe lCarlos e Mauricio Sherman - os ante-cessores de Itamar na direcao geral -

fizeram dos musicais do Fantasticoum palco de experiencias e inovacbescenicas, cenograficas e coreograficas .Ao estilo quente e cheio de brilhos d eVanucci, seguiu-se o de Nilton Traves -so, que revolucionou o musical em te-levisAo corn a utilizacao de todos o srecursos tecnicos disponiveis e ousa-das gravasaes externas . Depois vie-ram Aloysio Legey, corn suas ima-gens limpas, bem iluminadas e tecni-camente perfeitas, Eid Walesko, cornseu estilo agil, cheio de experiment

Hans Donner, o mago dos efeitos de computador,diz que as aberturas do Fantastico

set() o melhor cartdo de visitas da Rede Globo

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A preocupagao dessa equipe : preservar a lideranca

sao e efeitos especiais, Paulo Trevi-san e Boninho .

"Ibope e Iboni" - 0 Fantastico etambem o programa ao qual Boni de-dica o que Armando Nogueira, dire -tor da Central Globo de Jornalismo,chama de "vigilancia paternal" . Au -tor da letra da mtisica-tema (em par-ceria corn Guto Graca Melo), Boni ha15 anos mantem o costume de liga rpara Jose-Itamar durante o Fantasti-co para opinar, reclamar e, eventual-mente, elogiar . Dois ter-cos dos temi-dos memorandos internos assinado spor Boni dizem respeito ao Fantasti-co . "0 Boni inspira e o Itamar trans-pira o Fantastico", testemunha Ar-mando Nogueira . "Aqui vale muito oque dizem o Ibope e o Iboni", brincaurn dos editores .

Brincadeiras a parte, o fato e queesta relacao afetiva de Boni corn oprograma torna-se cristalina quand ose fala das aberturas do Fantastico ."As aberturas do Fantastico sao ogrande cartao de visitas mundial d aGlobo, sac) meu filho principal", as-segura Hans Donner, o festejado ma -go dos computergraphics .

Borboletas x comunistas - Jose -Itamar de Freitas nao concorda cornas criticas que os intelectuais faze mao programa : "Nao somos alienados .Sempre fizemos reportagens sobre oBrasil . E se no passado fomos esote -

ricos eu escapistas, foi porque sofria -mos uma censura muito mais rigoros ae irracional do que os jornais e revis -tas" . "Dei nascimento de borboleta ,sim. Mas nao dei comunista arrepen -dido, como fizeram muitos jornais" ,defende-se Itamar . "Tudo que faz su-cesso no Brasil a criticado", diz a re-porter Gloria Maria, estranhando aacusacao de que o Fantastico a umsombrio desfilar de leitos hospitala-res . "Estou no programa ha tres ano se, ate hoje, s8 fiz uma materia de in-

formacao medica . "Se o Fantastico nao e a menina

dos olhos da intelectualidade, conti-nua sendo o escolhido dos anuncian-tes para o lancamento de grandescampanhas publicitarias . E foi, antesde tudo, o palco nnico de todas asimagens e fatos espetaculares que atelevisao mundial registrou nos ulti-mos anos . "Minha impressao a deque o Fantastico vai durar uma vid atoda e mais alguma coisa", profetiz aAlice-Maria .

A novareceita

0 Fantastico vai fazer 15 anos d eidade de cara nova. A informacaobatera de longe o entretenimento .Havers menos numeros musicais . Osapresentadores serao apenas tres :Sergio Chapelin, Valeria Monteiro eWilliam Bonner . As mulheres que re-clamavam atraves de cartas e telefo-nemas sera() atendidas : ao lado da sgarotas do Fantastico, rapazes mos-

e William Bonner, de Sao Paulo . . .

trarao os seus atributos fisicos . Seralancado urn grande concurso que pre-miara, anualmente, as personalida-des que mais se destacarem no cine-ma, literatura, artes plasticas, mOsic apopular brasileira, jornalismo, televi-sao e esportes . 0 esquema internacio-nal sera reforcado corn a ida dos re-porteres Antonio Augusto e Valeri aSffeir para Nova York e Londres ,respectivamente . Os jornalistas d aGlobo trabalharao mais nos finais desemana para oferecer informacOesmais quentes . Series internacionais de

dividirao o espago com Chapelin

entretenimento e jornalismo fora mcompradas . A medicina continuaramerecendo destaque. David Copper-field nao abandonara os admiradoresde suas magicas . A ecologia e as re-portagens de denancia sera() privile-giadas . Os amantes do perigo conti-nuarao podendo testemunhar a que-bra de recordes insOlitos . 0 "novoFantastico", expressao que a evitadana emissora, nao " sera mais uma re -vista, urn show de variedades, e si murn jornalao corn um born segund ocaderno", como define Jose-Itamar .

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