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PESQUISA EXCLU ` VA GALLUP-IMPRE -" . FA STÃO É MAIS ADMIRADO DO QUE SÍLVIO SANTO S ¡ ¢ a y e e u n g [ n ' 8 ] Editorial Ano X Dezembro 96 O JORNALISMO DA COMUNICAÇÃO N° 1 1 1 R$ 4,00 IMPRENSANE T Os internauta s apóia m a reeleiçã o J OiJJM I'd 0 ¢ 119'1J ¢JJrr¢! 11¢1 1111¢J ¢ 1JJr?JJ¢ .U1J ¢r1 ¢J11 1 Raul Cortez fala be m de O Rei do Gad o e mal dos jornalistas

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PESQUISA EXCLU ` VA GALLUP-IMPRE -" .FASTÃO É MAIS ADMIRADO DO QUE SÍLVIO SANTOS

¡¢aye e u n g [n ' 8 ] Editorial

Ano X Dezembro 96

O JORNALISMO DA COMUNICAÇÃO

N° 1 1 1 R$ 4,00

IMPRENSANETOs internauta s

apóiama reeleição

J OiJJM I'd 0¢.¢ 119'1J ¢JJrr¢!

11¢1 1111¢J ¢

1JJr?JJ¢ .U1J ¢r1 ¢J11 1

Raul Cortez fala bemde O Rei do Gado

e mal dosjornalistas

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Entrevista RAUL CORTEZEle conta como roubou a cena

em O Rei do Gado, fala dasua carreira e critica a imprensa:

"Existe um excesso de ódio, deincompreensão, de inveja

de quem tem fama e sucesso"

Colecionador deprêmios no tea-tro, Raul Cortez

sempre fez muito su-cesso também na tele-visão, mas andava can-sado de fazer telenove-las por causa dos pa-péis que costumavamlhe reservar, geralmen -te do vilão grã-fino oudo ricaço de caráte rduvidoso . Até que lh ecaiu nas mãos o papelde Geremias Berdi-nazzi, antagonista d eBruno Mezzenga (An-tônio Fagundes) na no-vela das oito da Glo-bo, O Rei do Gado .

Não foi uma pai-xão à primeira vista doator pelo personagem .Raul Cortez ficou trê smeses preparando-s epara o papel, lendo erelendo os primeiro scapítulos escritos po rBenedito Ruy Barbo-sa, procurando montara personalidade do fa-zendeiro que enrique-cera roubando as terras da família e qu eaos poucos se arrepende e vai abrandan -do o coração . Só para construir sua pro -núncia italianada, foram horas e hora sde audição de ópera e de aulas especiaiscom uma professora filha de italianos .

Ao lado do sotaque primoroso, Ge -remias Berdinazzi foi assumindo formadefinitiva com o andamento da novela ,incorporando traços de generosidade ede uma personalidade cativante . E foicrescendo, crescendo, passando a ofus -

car o protagonista, o rei do gado BrunoMezzenga, às voltas com um modo ítalo -caipira de falar, que mais incomoda doque convence os telespectadores .

Hoje, Raul Cortez ama profundamenteseu personagem e desdobra-se par aconvertê-lo em figura cada vez mai senvolvente, com a cumplicidade do autorda novela, que trata de criar tramas e si -tuações à altura do interesse qu eBerdinazzi passou a merecer do público .E desse processo de simbiose entre autor,

ator e personagem qu eele fala nesta entrevist aa Ari Schneider, direto rde Redação, e NiltonPavin, editor-executivode IMPRENSA .

Aos 65 anos de ida-de e 40 de teatro, Cortezconta também passa-gens da sua carreir a(desde o fiasco na es-tréia ao lado de Cleid eYaconis, quando su avoz simplesmente serecusou a sair) . E ele ,que imaginou ser jorna-lista, reclama dos criti-cos e da imprensa emgeral, em que encontra"um excesso de ódio ,de raiva, de incom-preensão, de inveja d equem tem fama e suces-so" . Cortez diz quemuitas vezes se sentiuprejudicado pela açãoda imprensa : "Por ata-ques pessoais, informa-ções deturpadas, men-tiras ou fofocas publi-cadas como verdade" .

IMPRENSA - Estão dizendo quevocê é o verdadeiro Rei do Gado . O queacha disso?

Raul Cortez - Ainda prefiro ser orei do café e do leite . Ou o rei docapuccino. Acho muito mais interessan-te . Brincadeira !

IMPRENSA - Mas o seu papel estácrescendo demais na novela .

Raul Cortez - E verdade, isso estáacontecendo. Já aconteceu .

IMPRENSA - DF7FMBRO 1996 21

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Telenovela: "A brasileira é a melhor do mundo "

IMPRENSA - Isso er aprevisto ?

Raul Cortez - Não, essecolorido que o papel assumi unão estava previsto . Era umbom papel, a novela precisa-va de um antagonista. De iní-cio, o personagem era um acoisa meio épica, uma cois atrágica . Geremias Berdinazz iacabou se tornando profunda-mente humano e simpático .Agora não é apenas um anta-gonista : ele assumiu dimen-sões muito maiores . Exist euma generosidade, uma soli-dariedade nele . Isso humani-zou demais o personagem .Essa humanização tão fortenão estava prevista.

IMPRENSA - Foi umacontribuição sua ao persona -gem ?

Raul Cortez -Acho quetodos nós, como atores, sem -pre contribuímos com algu-ma coisa . Uma experiênciapessoal ou lembranças de pessoas que oimpressionaram . O artista traduz à suamaneira essas impressões e acaba trazen-do-as para o personagem .

IMPRENSA - Esse sotaque primo-roso que você usa para o Berdinazzi é umapreocupação sua ou do autor da novela ?

Raul Cortez - O sotaque numa no-vela é sempre um risco muito grande paraquem está dirigindo, para quem está es-crevendo e para o ator que está fazend oo papel . Então, foi algo cercado de mui-to cuidado da direção e também do au-tor. O sotaque me foi pedido no iníci opara ver qual seria o resultado . Numanovela nova, aberta, você vai criando len-tamente o seu personagem, vai deixan-do que ele infle, como um balão, paraver se sobe mesmo . Quem acompanha anovela desde o início percebe que o so-taque foi sendo colocado aos poucos atéo momento em que realmente ficou tãobom para aquela figura . . .

IMPRENSA - Você confere a pro-núncia com um consultor ?

Raul Cortez - Quandocomecei a criar esse persona -gem, o que me impressionoumuito foi a solidão dele, esseseu universo, o seu remorso .

E, principalmente, aquela procura d evolta ao passado, de apego à família, àsua origem. Isso para mim era uma coi-sa muito forte . Tanto que comecei a ou-vir muita ópera, nem sei por quê . Algomeio inconsciente, meio intuitivo . O quesempre achei muito bonito na língua ita-liana é a sonoridade das palavras . Entãome interessava muito captar essa melo -dia, a maneira de falar do italiano . Acha-va que se conseguisse isso evitaria o so-taque caricato que normalmente se faz .Não era o que eu queria, nem a direçãotampouco. E fui estudando . Por coinci-dência, minha professora de inglês n oBerlitz é filha de italianos . E eu lhe per-guntava: tal palavra se pronuncia assi mem italiano? E ela : não, é assim. Até quepedi uma ajuda mais sistemática e co -meçamos a ter aulas fora do Berlitz . Hojeem dia já faço sozinho . Quando tenh oalguma dúvida, telefono para ela.

IMPRENSA - Por suas origens ,você se sentiria mais à vontade se o per-sonagem falasse espanhol?

Raul Cortez - Seri abem mais natural . Bem mai sfácil . Mas nem sempre omais fácil é o melhor . O en-graçado é que agora amigo smeus que falam italiano vê mdireto conversar comigo e mitaliano . As vezes, dá até pararesponder, porque com tantaaula de sotaque já esto uaprendendo a língua .

IMPRENSA - Gostamais de fazer telenovela, tea-tro ou cinema?

Raul Cortez -Até ago-ra eu não gostava muito defazer telenovela. Acho que éuma coisa que todo ator pre -cisa fazer, mas eu não sentiamuito prazer nisso . Aindamais por causa dos papéis queme davam. Papéis que nã oexigiam muito além de eu sercharmoso, ter uma aparênci afina, de milionário, semprecom uma coisa meio dúbi aem relação ao caráter. A não

ser na novela Partido Alto, em que eu fi zum bicheiro, que me agradou demais . Masno Rei do Gado o personagem me possi-bilita um trabalho muito parecido com oque estou acostumado a fazer em teatro .Pela primeira vez fazer novela está sendoprofundamente prazeroso para mim . Es-tou gostando demais .

IMPRENSA - Alguém faz teleno-vela melhor que o brasileiro ?

Raul Cortez - Não . Absolutamen-te não . Quando viajo e amigos estran-geiros me perguntam o que estou fazen-do, tenho até vergonha de dizer. Porqu etelenovela para eles é a própria porcaria .Não é só a mexicana . Mesmo a america -na é uma coisa que não temo meno rdesenvolvimento dramático . E parada ,cansativa, melodramática, sem graça .Nos estúdios sempre aparecem comiti-vas de americanos, italianos e outros quevêm ver como se faz novela na Globo .

IMPRENSA - Por que trocou o di-reito pelo teatro ?

Raul Cortez - Porquedesde que nasci nunca tive ne-nhuma dúvida em relação àminha vocação . Não sabia seeu tinha talento, mas vocaçã oeu sabia que tinha. Desde pe -

"Pela primeira vez está sendoprofundamente prazeroso fazer novela "

22 IMPRENSA - DEZEMBRO 1996

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Jornalismo: "Há um excesso de imprensa marrom "

queno queria ser ator ou es-critor ou jornalista . E encon-trei uma oposição muito gran -de do meu pai . Você podeimaginar o preconceito qu eexistia na época contra artis-tas, inclusive no aspecto fi-nanceiro . Então, fui persuadi -do a deixar isso de lado . Che-guei a ter aulas de teatro coma Madalena Nicol, mas forampouquíssimas. Tinha que fa-zer o curso de direito, porqu emeu pai era advogado . Foi sómais tarde, depois de vária stentativas de trabalho em ou-tros setores, que decidi defi-nitivamente fazer teatro .

IMPRENSA - E pensouem jornalismo porque gosta-va de escrever?

Raul Cortez - Não se imuito bem, mas acho que ojornalista tem uma semelhan-ça muito grande com a pro-fissão de ator. Essa coisa d ese debruçar sobre os outros ,de se interessar em profundidade pelo sacontecimentos e pelas coisas que acon -tecem com determinada pessoa . E tam-bém pelo senso de justiça que o artista eo jornalista costumam ter. Mas hoje emdia acho que essa profissão está mal, be mmal . No tempo do Cláudio Abramo, porexemplo, exigia-se do jornalista umadose maior de caráter e de honestidadena informação .

IMPRENSA - Por que acha que ojornalismo está mal ?

Raul Cortez - Há um excesso d eimprensa marrom, um excesso de ódio ,de raiva, de incompreensão, de inveja d equem tem fama e sucesso . O que sinto ,vendo de fora, é que a competitividad eentre eles está muito forte . E têm um aposição elitista, que antigamente não ti -nham. Você fala com um jornalista d ecerto prestígio e verifica que ele é de uma"condescendência" (em tom irônico )inacreditável .

IMPRENSA - Já se sentiu prejudi-cado por algum jornalista ?

Raul Cortez - Muitas emuitas vezes . Por ataques pes-soais, informações deturpadas ,mentiras ou fofocas publicadascomo verdade . Ou então, se não

é publicada pelo jornalista, a fofoca épassada adiante para outros que se apro-veitam. Isso me acontece sempre . Nã ome sinto uma pessoa muito querida pelamídia de uma forma geral .

IMPRENSA - Não?Raul Cortez - Não me sinto . Na

medida em que apresento o meu traba-lho eles falam, comentam . Mas se nãoestiver trabalhando não sou absoluta -mente uma pessoa paquerada pel amídia . Isso sem o menor atrito . Não es-tou dizendo que seja ruim ou que sej abom. Estou só constatando . Já tenho 65anos, e se não tivesse experiência d evida, de saber um pouco sobre as pes-soas, seria um desastre .

IMPRENSA Na verdade, não sãomuito freqüentes as criticas negativas aseu respeito .

Raul Cortez - Porque meu traba-lho é bom. Mas quando faço uma coisaruim você não pode nem imaginar . E bomvocê nem ler.

IMPRENSA - Em en-trevista à IMPRENSA, oescritor Antônio Callad odisse que toda critica nega-tiva é detestável . Concordacom ele?

Raul Cortez - Total -mente . Acho que a palavr acrítica ou critico já é terrí-vel . E um pejorativo . Equanto a uma crítica cons-trutiva, não sei muito bemo que é isso . Dizem queexiste, mas é muito difícil .Quando recebo uma critic anegativa fico me sentind oprofundamente injustiçado .Tenho vontade de telefonar.Já telefonei, para rebater,contestar. Acho que, quan-do a gente está criando umtrabalho qualquer, deve ou -vir opiniões . Se tivere mfundamento, elas ajudam ,você só pode melhorar. Ma sjá passei por injustiças ab-surdas, telefonei para a pes-soa responsável, reclamei .

Nunca dá em nada. Eles querem sempreuma polêmica . Então, pedem que a gen-te escreva uma carta para manter a dis-cussão pelo jornal .

IMPRENSA - Acha que a critic ainfluencia o público ?

Raul Cortez- Se eu disser que não,estarei mentindo . Mas há atores de nome ,atores globais que fazem muita bobage mpara ganhar dinheiro e os críticos ne mvão assistir, nem comentam, nem nada .Mesmo se a critica pichar, os atores fa-turam. O objetivo era faturar mesmo .Mas quando você apresenta um trabalh osério e recebe uma critica, você tem umaresposta negativa na sua bilheteria . Por-que as pessoas que gostam de teatro pro -curam se informar, procuram ler . Então ,a critica negativa prejudica, sim .

IMPRENSA - Quem você citari acomo bom critico de teatro ?

Raul Cortez - E impossível falar d ebom crítico sem lembrar o Décio d eAlmeida Prado. Sem falar de Sábat o

Magaldi . Entre os novos, gos -to muito do Nelson de Sá, porexemplo, que é muito critica-do, já teve dificuldades muitosérias com várias pessoas deteatro e de outras áreas . Ma-

"Não me sinto uma pessoa muitoquerida pela mídia de uma forma geral"

(

IMPRENSA - DEZEMBRO 1996 23

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Autores : "Prefiro os brasileiros "

riângela Alves Lima é ótima,Alberto Guzik, do Estado,também é muito bom, assimcomo o Jefferson Del Rios .Eles têm uma grande varieda-de de estilos, e é interessanteperceber os diferentes ângu-los que pegam da obra queestá sendo encenada.

IMPRENSA - Voc êchega a mudar alguma coisaem função da critica?

Raul Cortez - Quandoestréia um trabalho, a gentejá sabe se está fazendo bemou mal . Foram meses de en -saio . Você pesquisou, selecio-nou, já tem o seu caminho . Emuito difícil rever isso.

IMPRENSA - Isso sig-nifica que no teatro não acon-tece como na novela, em queo personagem pode crescer. . .

Raul Cortez - Sim,acontece . O que o ator fa znum espetáculo de estréiafreqüentemente não tem nada a ver como que vai fazer no dia seguinte em dian-te . Você está nervoso, a adrenalina corredemais, o tempo da interpretação estáerrado, isso acaba refletindo nos tempo sdo espetáculo, enfim as coisas não acon-tecem direito. E um espetáculo à parte .Depois, ele começa a melhorar, porqueo público sempre dá uma energia e dizmais ou menos como você deve encami-nhar o seu personagem . Fora isso, a pró-pria carga emocional do ator é semprediferente de um dia para outro. Isso fazcom que o espetáculo se tome semprediferente e muito vivo . Geralmente, oespetáculo acaba crescendo muito .

IMPRENSA - Para deixar mais cla-ro: você diz que já foi espinafrado pelacritica várias vezes ?

Raul Cortez - Não, poucas (risos) .Mas quando comecei, recebi criticas pés-simas, muito ruins . Não sabia absoluta -mente nada, tinha uma ansiedade muitogrande . Comecei no teatro para estudantecom o Vianinha (Oduvaldo Viana Filho )e o Guarnieri (Gianfrancesco) .Quando resolvi largar o cursode direito e o emprego que ti-nha, numa companhia de im-portação, para viver de teatro ,fiz um teste no TBC . Ganhei o

papel por causa da minha voz, que erabonita e casava bem com a da CleideYaconis, que fazia o papel de Euridice .E tínhamos um efeito vocal : começava aler a carta dela, minha voz ia abaixando,a dela ia subindo. Uma coisa muito bo-nita que sempre funcionou bem duranteos ensaios . Mas, na estréia, estava tãoansioso que minha voz simplesmente nãosaiu. Foi catastrófico. Durante quatroanos só fiz figuração e depois comecei aentrar quieto e sair calado .

IMPRENSA Que autores vocêprefere?

Raul Cortez - Os brasileiros . Nãotenho grandes ambições de representarShakespeare ou seja lá o que for. Prefiro aidentificação com o autor brasileiro, coma musicalidade da língua, com as situaçõesque o autor cria . Um texto brasileiro ditopara uma platéia brasileira é muito mai spróximo, mais forte, mais transformador.

IMPRENSA - E o que gosta mai sde representar?

Raul Cortez -Até hoj egosto demais do Vianinha .Rasga Coração foi a peç aque mais mexeu comigo ,que me comove até hoje efoi das mais importantes qu efiz . Gosto de Vereda da Sal-vação, de Jorge Andrade . Etambém de A Ultima Praga ,que fiz com Antunes Filho .

IMPRENSA - Você j áinterpretou dois papéis aomesmo tempo : um na tele-visão, outro no teatro . Fez oCarlito no Jogo da Vida e oSalieri em Amadeus . Com ofica a cabeça do ator?

Raul Cortez - Acheique pudesse terbloqueamen -to, fechar canais . Mas é im-possível . Nunca mais querofazer isso . Foi terrvel . Emprimeiro lugar, porque oAmadeus era uma enormeresponsabilidade, não só por-que eu estava produzindo ,mas pelo próprio papel de

Salieri. A novela não era tão densa, erauma comédia, uma coisa mais leve doSílvio de Abreu . Mas sempre requeriamudanças, o personagem estava sempreem situações diferentes, não era só deco-rar. São dois personagens totalmente di-ferentes e eu tinha que estudar todo dia .Acho que acabei prejudicando os dois .Fiquei profundamente aborrecido comisso, deprimido mesmo. Deixei minh acasa, minha filha e minha mulher moran -do no Rio, e me internei no Hotel Glória,ao lado do Teatro Manchete. E ali fique idez dias, passando e repassando todo otexto, revendo situações para poder me-lhorar o papel . Acabei conseguindo, e issome orgulha muito, porque Salieri foi umdos papéis que mais gostei de fazer.

IMPRENSA - Qual foi seu maiorsucesso?

Raul Cortez- Tive a sorte de ter vá-rios trabalhos premiados . Pode até havercasos em que o trabalho de um ator fic amelhor que o de outros atores melhores .Quando você cria um personagem ele tem

sua vida própria. Não me refi -ro ao Geremias Berdinazz icomo se fosse eu : sempre achoque é ele . As vezes surpreen-do, ao ver a novela na televi-são, gestos ou atitudes de Ber-

"Um texto nacional dito para uma platéiabrasileira é mais próximo, mais forte"

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Peça que mais gostou de fazer: "Rasga Coração "

dinazzi que nem parecem vi rde mim e acabaram saindo .Então, aquele personagem temuma autonomia em relação amim: ele vive, ele está lá. E senão fizer bem um personagemcomo esse, a impressão quetenho - pode parecer loucu-ra minha - é que assassineiuma pessoa. Que essa pessoaperdeu a possibilidade de sertrazida à vida, por duas horas ,um ano ou quanto durar a no-vela. Então, acho isso uma res -ponsabilidade muito grande . Enão é uma responsabilidadenarcisista, pelo contrário : achoque um ator tem uma funçãosocial muito importante, ele éum transformador da socieda-de . Os personagens que mai sgostei de fazer são os que mai stransfonnaram, mais mexeramcom o público. Tem gente queaté hoje lembra do Rasga Co-ração, que contava a históri ado Partido Comunista.

IMPRENSA - Vê outras novela salém da sua?

Raul Cortez - Nem a minha vejodireito, porque não dá tempo mesmo . Ouestou fazendo teatro, ou estou indo e vin -do do Rio de Janeiro ou estou gravando .Não vejo mesmo. As minhas, quandoestou em casa, faço questão de ver, ma sgeralmente só dá no fim de semana . E oBenedito (Benedito Ruy Barbosa, o au -tor da novela) tem histórias interessan-tes, a questão dos sem-terras, a do sena-dor. . . Ele dá uns toques incríveis .

IMPRENSA - Você conversa co mele sobre o personagem ?

Raul Cortez - De vez em quand oele me telefona, quando escreve uma cen apara o Geremias e fica muito comovido .Então, ele me liga e conta a cena toda .

IMPRENSA - Ele deve esta rembevecido com o Geremias .

Raul Cortez - Embevecido e can-sado . Escrever tanto do jeito que ele es -creve, e sozinho, é uma loucura.

IMPRENSA - Ele nãogosta que ninguém o ajude . . .

Raul Cortez - Não, elequer ser sozinho. A obra édele, os erros e os acertos tam-

bém são dele . Graças a Deus os acerto ssão maiores .

IMPRENSA - O Geremias qu evocê criou seria o mesmo que ele imagi-nou?

Raul Cortez - Acho que não. Eledeu uma entrevista dizendo que nunc apoderia imaginar que o Geremias foss eter essa importância na novela . E sem-pre briga comigo porque diz que tem quecorrer atrás do Geremias .

IMPRENSA - E não pinta ciúmede outros atores ?

Raul Cortez - Não, é uma cois amuito tranqüila . Alguém vai competir co-migo? Quem? Não existe . São atore scompletamente diferentes, idades dife-rentes, o processo seletivo de cada um édiferente. Mesmo o personagem achoque não chega a incomodar tanto assim .

IMPRENSA - Depois que termi-nar O Rei do Gado você vai fazer um apeça de teatro do Ricardo Semler?

Raul Cortez - Sim .Chama-se Cheque ou Matee é a primeira peça dele .

IMPRENSA - Do quese trata?

Raul Cortez - Fala doempresário brasileiro, do sproblemas financeiros e daambição desses homens qu ese fazem sozinhos, por mei ode casamentos e também ,sempre um pouco brasileira-mente, dando um jeitinh onos negócios . Há um seqües-tro que começa a mudar tod aa vida do personagem e su arelação com a família . Mastudo é dito de uma maneiramuito cínica e muito engra-çada também . Isso é o me-lhor no jeito de o Ricardo es-crever. Há uma critica tam-bém : ele fica um pouco d efora vendo tudo acontecer .

IMPRENSA - Se va ifazer a peça é porque gostou ?

Raul Cortez - Evidente, caso con-trário não faria, de jeito nenhum . Tenhoum papel muito interessante - se nãotambém não faria -, dentro de um con-texto que lembra um pouco as peças doAbílio Pereira de Almeida . E uma peç aque, vamos dizer assim, critica os costu-mes. Tem sete atores, é uma coisa be mdifícil de produzir.

IMPRENSA - Tratando de empre-sários, lembra em algum aspecto a peç ado Antônio Ermírio, Brasil S/A ?

Raul Cortez-Não, não lembra não .O mundo deles talvez seja mais ou me -nos parecido, mas não tem nada a ver .Assisti à peça do Antônio Ermírio e nãotem nada, absolutamente nada a ver co ma do Semler.

IMPRENSA - Você faria a peça doAntônio Ermírio ?

Raul Cortez - Acho que sim. Tempapel interessante lá . Tem o do político etem o do protagonista. Não tenho nenhu mpreconceito, não. Pelo contrário, gostei

muito da peça. Considero mui -to elogiável a atitude do Antô -nio Ermírio. Em primeiro lugar,é um autor que está se produ -zindo, e não havia razão paraele estar fazendo isso .Acho que

"O ator tem uma função social,ele é um transformador da sociedade "

IMPRENSA - DEZEMBRO 1996 25

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ele não tem pretensão de se rum grande dramaturgo, mastem tudo para ser. E muito in-teligente e coloca muito be mas situações . Claro que, emrelação à sua primeira peça ,houve uma grande má von-tade por ele ser o AntônioErmírio de Moraes .

IMPRENSA - Grandeparte da critica foi implacá-vel com ele . . .

Raul Cortez-Mas nãohavia razão, o espetáculo fo imuito bem-feito, muito be mdividido, os atores estão to-dos muito bem colocados ,com muito talento. E a peça,a trama é interessante, porque não?A classe média, porexemplo, se sente surpresa egratificada ao ver.

IMPRENSA - Por falar em suces-so, a fama chega a incomodar ?

Raul Cortez - Sempre me pergun-to muito isso, porque as pessoas me abor-dam, me pedem autógrafo e nunca m erecusei a dar. As vezes, é simpático e, àsvezes, é profundamente aborrecido . Masé aborrecido porque as pessoas se tor-nam inconvenientes . As vezes, chegamnum momento em que você está conver-sando seriamente, ou está checando su apassagem, ou está fazendo um pagamen-to, ou seja lá o que for . Mas essas geral -mente são pessoas inconvenientes sem -pre, inclusive na vida pessoaldelas . Então, há momentos de-sagradáveis . As vezes, estouaqui na minha casa jantand ocom um convidado e passa u mcarro em frente, não sei se com

uma ou várias pessoas, me chamando d ecareca filho da puta, aos gritos . Acho queé uma maneira de dizer que gostam demim. Nunca vi grossura igual, não pos-so imaginar. As vezes, também, saio co ma minha filha e a gente não tem a tran-qüilidade que gostaria .

IMPRENSA - Pelo jeito, a famaincomoda . . .

Raul Cortez - Nem sempre, porqueao mesmo tempo é muito gratificante viruma criança pedir autógrafo ou falar doseu personagem . . . Quando passa um car-ro e é aquela alegria porque as pessoa sreconhecem a gente . . . Isso é bom. Ou ,então, quando vem gente muito humildepedir autógrafo, com um respeito que vocênão entende por que tão grande . Isso gra-tifica muito. Nunca neguei autógrafo: sóacho desagradável, às vezes, o jeito comque me pedem . Acho que nós todos dize-mos: ah, batalhamos tanto para ser reco-nhecidos e quando somos reconhecido spassamos a não gostar. As vezes, a gentecomeça a ter medo .

IMPRENSA - Medo?Raul Cortez - Sim, por-

que nunca se sabe qual será areação das pessoas . Quandovocê entra num lugar, nunc asabe como vão reagir porqu ea sua imagem como ator sem -pre chegou antes . As vezes ,você é maltratado, ou igno-rado . As vezes, é uma ener-gia muito negativa e a gentepassa a ter medo . Muitos co-legas meus reagem em fun-ção disso . Eu já sou mais con-fiante nos outros, sempre pre-firo achar que virá coisa boa.Mas acontecem coisas com oo indivíduo que passa de car-ro e me xinga toda noite . Umdia vou pegar ele. . . (risos) .

IMPRENSA - E passaranonimamente num ambien-te qualquer, isso não aconte-ce com você ?

Raul Cortez - Não ,muito difícil . Até em viage mé difícil, porque agora te m

novela brasileira em toda parte . Já pegue ium vôo de Veneza para Paris pela AirFrance em que a aeromoça vinha me tra -zer suco de laranja toda hora porque ti-nha visto uma novela em que eu traba-lhava . Já me aconteceu várias vezes emlinhas aéreas estrangeiras . Acho isso gra -tificante, principalmente lá fora . Você est ásozinho, viaja sozinho e, de repente, éparado na rua . Fico com o meu ego lá emcima: é uma massagem maravilhosa .

IMPRENSA - Que jornais gost ade ler?

Raul Cortez - Leio O Estado de S.Paulo. E, no Rio, leio O Globo . Isso éuma coisa em que sou taxativo . També mno avião pego O Estado de S. Paulo e OGlobo . Não tem O Estado de S. Paulo ,não tem O Globo, eu não leio .

IMPRENSA - Lê o jornal inteiroou vai direto ao "Caderno 2" ?

Raul Cortez- Depende do tempo quetenho . As vezes, não tenho tempo e só lei oas manchetes . Mas vou por partes mesmo .

Leio na primeira página o qu eacho mais interessante, depoi svou para a "Internacional" e daípara o "Caderno 2" . Quando sótenho tempo para virar as pá-ginas, aí é o "Caderno 2" .

IMPRENSA - No casodo Antônio Ermírio, os crí-ticos foram particularmente Fama: "Há momentos desagradáveis "duros . . .

Raul Cortez - É, eles não poderiamjamais perder essa oportunidade. Quan-do é que o Antônio Ermírio poderia se rmalhado? É difícil . Como homem denegócios ele é exemplar; como empre-sário é fantástico ; como homem de fa-mília, a gente sabe muito bem, é de umadiscrição total . Então, os críticos apro-veitaram. É aquilo que eu disse : existe mcertas pessoas que não perdoam o suces-so de ninguém.

"Se não tem O Estado de S. Pauloe O Globo, eu não leio. Sou taxativo"

-k IIMPRENSA - DEZEMBRO 199626

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Teatro : "Sempre traduz a realidade "

IMPRENSA - E revistas ?Raul Cortez - Veja e

IstoE, que acho uma ótima re-vista . E algumas estrangeiras.

IMPRENSA - Que au-tores gosta de ler?

Raul Cortez - Gostomuito da Lygia Fagunde sTelles . Agora estou lendo umlivro do Gore Vidal . Estiv euma época lendo Hesse, gra-ças a Deus passou . Acho fan-tástico o Fernando Moraes .Leio muita biografia .

IMPRENSA -Você faloudo papel transformador do ator .Como fica isso em tempos deditadura e de democracia?

Raul Cortez-Uma coi-sa que sempre me deixa na dú-vida é até que ponto a repres-são atua num artista . Sempreachei que, nos anos 60 até 70,quase 80, a gente era mai scriativa em teatro. As formasque tínhamos para escapar darepressão nos obrigavam a fazer coisasabsolutamente extraordinárias em termo sde espetáculo . Então, não sei se a repres -são não faz um artista atuar mais, criarmais . O teatro sempre traduz uma reali -dade . Se o teatro está medíocre num dadomomento é porque naquele momento nó sestamos medíocres, a realidade do go-verno é medíocre . Hoje em dia, temo sum teatro, vamos dizer, consumista, paraservir a uma sociedade profundament econsumista . Peças sem o menor interes -se em levantar problemas e sem outr opropósito a não ser o de entreteniment oencontram uma resposta maravilhosa porparte do público . Isso traduz exatamen-te o momento que estamos vivendo . Esempre foi assim . Mas sempre houve ,também, uma coisa paralela acontecen-do, por iniciativa de gente jovem, gentecriativa, de talento, que se opõe a isso .Aqui em São Paulo, onde eu conviv omais, tem um movimento de jovens mui -to interessante . Eles fazem com uma ale -gria muito grande espetáculos que a gen -te já viu, já conhece . Existem coisas queeles fazem hoje e que, nos ano s60, eram muito mais fortes . Masa gente sente essa preocupaçã ode colocar o teatro como trans -formador e para eles é justamen -te isso que interessa .

IMPRENSA - Politicamente, comovocê vê o Brasil ?

Raul Cortez -Não entendo de polí-tica, mas a última eleição, demonstra queo paulista é profundamente individualis-ta . Interessava colocar o Pitta porque ele sacham que o Maluf fez coisas que ele sconsideram extraordinárias para São Pau -lo . A primeira vista, o que o Maluf fez foiextraordinário, então, conviria continuaresse trabalho . Mas a ambição do Maluf épegar a presidência . Não sei se esses mes -mos que elegeram o Pitta vão eleger oMaluf futuramente, mas eles estão certo sde que durante quatro anos São Paulo ser áuma grande cidade. O eleitor, hoje em dia ,não se baseia em ideologias : ele vai po raqueles políticos em que põe mais fé. Nãovejo partido algum com uma força maio rde atuação. Acho que existem político santigos que retardam sistematicamente onosso crescimento . A gente deveria tiraressa politicada velha daí . Não sei de quemaneira A gente vem sempre tentandoisso, mas eles sempre estão de volta, prin -cipalmente no Nordeste .

IMPRENSA - Qual oerro desses políticos antigos?

Raul Cortez - E umaindecência que coisas de in-teresse público tenham queser barganhadas . Se um pre-sidente não barganhar nãoconsegue nada . Quem viaj apara o Norte vê estrada snuma destruição total, num adecadência absurda, e, noentanto, encontra latifundiá-rios, pessoas que foram go-vernadores, com um podereconômico assustador. Deonde veio toda essa fortuna ?E como é que pode vive rcom tudo isso vendo o povoali morrendo de fome? Me-nores na prostituição ou for-mando gangues nas ruas ?

IMPRENSA - Hoj evocê trabalha porque gostaou porque precisa ?

Raul Cortez - Traba-lho porque gosto e ganhodinheiro com isso, para sur-

presa minha .

IMPRENSA - E não escreveu mais ?Raul Cortez - Não, nunca mais .

IMPRENSA - Por quê?Raul Cortez- Fiquei traumatizad o

(risos) . Eu estudava no Colégio São Ben -to, uma escola de padres, e, na minh asanta inocência, escrevi um conto paraum concurso organizado pelo grêmioestudantil . Passava-se num prostíbulo eem ambientes da alta sociedade . Queri amostrar que tudo era a mesma prostitui-ção, a mesma baderna . O pessoal do grê -mio achou fantástico, ganhei o primeiroprêmio . Mas os padres, ao entregarem oprêmio, me xingaram muito e acabaramfechando o grêmio . Fiquei muito trau-matizado com isso .

IMPRENSA - Muitos escritores ejornalistas dizem que escrever dói . E parao ator : representar dói ?

Raul Cortez - Bastante . Mas aomesmo tempo você põe para fora muita

coisa e esse exorcismo é ex-traordinário, você sai revita-lizado do espetáculo . Isso éótimo. E quando as crítica ssão favoráveis, então, aí ne mse fala . . . (risos) .

"Hoje temos um teatro consumistapara servir uma sociedade consumista''

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IMPRENSA - DEZEMBRO 1996 27