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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO DIREITO AMBIENTAL 2007 O Controle Externo em sinergia com o Controle Social na defesa do maior dos patrimônios públicos Monografia apresentada como pré-requisito para a conclusão do curso de especialização Lato Sensu em Direito Ambiental Luis Wagner Mazzaro Almeida Santos Matrícula K205387 5ª. Feira / Centro II / Noite Fevereiro de 2008

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO DIREITO AMBIENTAL

2007

O Controle Externo em sinergia com o Controle Social na defesa do maior dos patrimônios públicos

Monografia apresentada como pré-requisito para a conclusão do curso de especialização Lato Sensu em Direito Ambiental

Luis Wagner Mazzaro Almeida Santos Matrícula K205387

5ª. Feira / Centro II / Noite

Fevereiro de 2008

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INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho é estudar, sob as premissas do Direito

Ambiental, o cenário do Controle Externo do Patrimônio Ambiental Brasileiro, área importantíssima e crítica para os tribunais de contas brasileiros, em especial diante das discussões sobre o próprio futuro do Planeta e todos os impactos socioeconomicos, políticos, culturais e de qualidade de vida em geral que podem resultar das mudanças que ocorrem no meio ambiente, seja qual for a face que ele tome: fauna, flora, águas, ar, ruídos, paisagens, temperatura, enfim toda a maravilhosa sinergia que combina os reinos da Natureza. Diferentes vertentes de análise e atuação prática dos órgãos de Controle Externo surgirão para cada nova questão que aflorar, todas porém com um grande desafio: como poderão os tribunais de contas contribuir, a partir de um enfoque do patrimônio ambiental como um imenso patrimônio público, para a defesa do bem maior da boa qualidade de vida da sociedade e para uma mais efetiva aplicação das premissas do Direito Ambiental? Não pretendemos incluir casos específicos para determinados tribunais de contas ou estudar vínculos com legislação ou normas que poderão ser modificadas, diminuindo assim a possibilidade de que, no curto espaço de que dispomos, fique a discussão muito restrita ou “ datada ”.

Teremos como parâmetros e premissas básicas de análise as seguintes bases: • Um estudo da questão ambiental aplicada ao cenário dos tribunais de

contas não pode quedar-se em uma repetida, infindável e já reconhecida análise da importância da defesa do meio ambiente ou em um simples estudo de Economia Ecológica, importante sem dúvida mas, no caso, fora do contexto do controle externo. Julgamos que, no momento atual, o mais importante seja avaliar como as Casas de Controle poderão aplicar estratégias concretas de ação ambiental, aproveitando seus fatores críticos de sucesso e oportunidade de atuação na estrutura de gestão pública em todas as esferas administrativas;

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• não pode o estudo da questão ambiental estar restrito ou em pedestal inferior a modelos, mesmo que consagrados, aplicáveis apenas à análise de questões financeiras, legais ou de gestão tecnocrata, que incluam quesitos como o lucro, o imediatismo, a mera formalidade, a visão de curto ou médio prazos e a pouca transparência de processos;

• educação e saúde são áreas estratégicas para as ações no meio

ambiente, uma como agente ativo de deflagração de ações concretas e duradouras e outra como espelho de qualidade de vida e pólo passivo receptor dos resultados imediatos e futuros dessas ações, merecendo assim, ambas, atenção do controle externo quanto à inclusão de indicadores e metas relativos ao acompanhamento da atuação pública na defesa das questões ambientais;

• a atuação dos órgãos de controle externo deve buscar a assimilação

de conceitos de Controle Social que devem ser usados no acompanhamento das questões ambientais, uma vez que esse meio ambiente não pode ser visto como apenas um envoltório e sim como parte de cada uma das estruturas de nossa teia social e política, cada momento acionadas por um ator, seja ele público, privado ou de Terceiro Setor;

• a qualidade da cidadania brasileira e a própria soberania nacional

devem ser colocadas como pontos prioritários no estudo das polêmicas fronteiras de interesses que entram em jogo nas lutas de defesa ambiental em conflagrados cenários sociais, comerciais e econômicos;

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• O conceito de meio ambiente que deve ser aplicado às estratégias de controle externo deve ser bem mais abrangente que aquele de interface com a natureza propriamente dita. Incorporará também, para concatenação com todas as vertentes de gestão de projetos e políticas públicas, as tangências com as paisagens, as diferentes culturas e suas interações com os cenários ambientais, os indicadores turísticos dependentes desses status ambientais, os impactos na saúde pública derivados de mudanças climáticas, poluição e acidentes ambientais e outros fatores não exclusivamente naturais mas socioambientais.

Acreditamos que seja essencial ultrapassar o estágio de simples

apresentação de conceitos, previsões pessimistas ou não e legislação a ser cumprida, iniciando, sim, uma evolução prática na atuação dos tribunais de contas nessa área ambiental.

Esse é, então, o grande objetivo deste trabalho: chegar a

resultados concretos para os tribunais de contas em termos de estratégia de atuação ambiental, tendo por foco, como nosso grande tema, as vertentes de aplicação do Direito Ambiental para o Cidadão e para uma melhor relação de qualidade de vida para a presente e futuras gerações, a partir da visão de que é esse meio ambiente talvez o maior dos patrimônios públicos brasileiros da atualidade.

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CAPÍTULO I

ANTECEDENTES SOCIAIS, HISTÓRICOS E ECONÔMICOS DO MEIO AMBIENTE COMO PATRIMÔNIO PÚBLICO

Indispensável se torna, para embasar mais solidamente a visão do meio ambiente como um patrimônio público a ser defendido pelos tribunais de contas, uma passagem teórica inicial por conceitos históricos que podem demonstrar a inegável correlação entre o fator ambiental e as vertentes sociais e econômicas mais importantes em nosso contexto.. Essa imbricação é importante pois toda a cultura organizacional dos órgãos de controle externo é voltada, naturalmente, para a consideração de fatores financeiros, orçamentários, políticos, administrativos e de inspiração de gestão que podem ter, então, uma reflexão a partir desse breve retrospecto histórico aqui feito.

É interessante, inicialmente, que se tome como base as três visões

de desenvolvimento econômico sustentável desenvolvidas a partir de diferentes vertentes históricas socioeconômicas e que podem ser sintetizadas no quadro a seguir.

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FISIOCRACIA

LIBERALISMO

(NEO)

TEORIA CRÍTICA

Referências clássicas

(autores)

F. Quesnay

A. Smith / F. Hayek

K. Marx

Fonte da Riqueza

recursos naturais (sol / fotossíntese)

divisão do trabalho ( enriquecimento das

nações )

trabalho como mercadoria

( enriquecimento de um grupo social)

biocentrismo - Homem

subordinado a natureza -

antropocentrismo Homem é o centro do

universo

relação dialética Homem-Natureza

Desenvolvimento Sustentável

- - - - - - -

Matrizes Discursivas

auto-suficiência “arcaísmo-naturalista”

(volta ao passado)

eficiência (tecnologia)

“eco-capitalistas”

eqüidade ( justiça social )

Educação e Métodos

de Gestão

visão conservadora - manutenção da

estrutura de classe -

(monarquia)

formação unilateral (mercado)

- manutenção da estrutura de classe -

formação omnilateral (formação plena/ educação para a democracia)

transformação social

Educação Profissional

Pouco significativa à época

“produtivista-instrumental”/

tecnicista

“crítico-democrática” / “civil-democrática” /

omnilateral preservacionista

abordagem reducionista (centrada na natureza)

crítica

Educação Ambiental

preservacionista

abordagem reducionista (centrada na natureza) objetivo:

“adestramento ambiental” ou

manutenção do status quo

objetivo:

transformação social

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A Fisiocracia, alicerçada em Quesnay, pode ser classificada como a doutrina clássica da corrente do domínio da natureza sobre o homem ( biocentrismo ). A Natureza poderia trazer todas as riquezas, sob a fonte da contínua renovação alimentada pelo sol e pela fotossíntese. Não haveria, utopicamente, preocupação com rendimento de processos, pois haveria auto-suficiência, “ colheita contínua ” ( QUESNAY, 1985 ).

Obviamente, a questão ambiental tinha enfoque preservacionista, embora não se pudesse afirmar a existência de uma real preocupação ambiental, dado que a visão era reducionista, centrada na natureza e não nas ações do homem e, também, por enfoque de origem, de limitada visão quanto à finitude de recursos, pelo entendimento de continuidade constante de fornecimento de recursos e riquezas.

Após a Fisiocracia, tínhamos a continuidade histórica com o Liberalismo de Adam Smith, Hayek e seguidores ( SMITH, 1985 ). O Modo de produção Capitalista trazia, com uma inevitável vertente de busca de lucro quase egoísta ( em termos de egoísmo de classes ), o antropocentrismo, embora não se tendo o Homem como foco natural e sincero em termos de Sociedade ( GIANNOTTI, 1978 ).

A implantação maciça de tecnologia trazia uma necessidade de eficiência ( centrada em custo / benefício ). Essa eficiência não trazia embutidos os parâmetros de benefícios ambientais ou, pelo menos, custos de impactos ambientais, o que por outro lado, não trazia evolução ou mesmo surgimento de Educação Ambiental. A educação profissional era predominantemente de adestramento, de produtivismo instrumental tecnicista, sem cuidados ambientais. Essa Educação e a filosofia de gestão como um todo era unilateral ( direção ao mercado ) e colaborava ( ou mesmo era a responsável ) pela estrutura de classes reinante ( ENGELS, 2000 ).

O estudo histórico do Liberalismo não significa conclusões apenas para o passado . Muito do cenário liberal permanece, a partir da década de 80, na vertente neoliberal, com exacerbados sinais em processos em nível mundial, constituindo uma globalização sem preocupações ambientais por parte dos países centrais ( pelo menos até o surgimento dos problemas de aquecimento global ) propiciada pela tecnologia do conhecimento e alicerçada e consolidada pela facilidade de consenso da também eletrônica mídia de informações ( CHOMSKY, 1996 ).

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Como um rico contraponto às duas visões radicais e estanques do biocentrismo e do antropocentrismo, surge a Teoria Crítica de Karl Marx, buscando a eqüidade pela justiça social. Apesar de todas as polêmicas envolvendo tal visão, ainda válidas e reacesas de quando em quando, é possível detectar sua influência, mesmo que disfarçada ou não sincera, nas filosofias de gestão pública atuais ( NAPOLEONI, 2000 ).

A Educação ganha contornos de maior ferramenta de transformação, por meio de uma formação omnilateral que leve a uma visão multidisciplinar e, por conseqüência, a uma maior atuação em termos de cidadania. Vários resultados positivos podem advir dessa educação omnilateral: maior compreensão da relação dialética homem-natureza ( sem visões alternadas de senhor-escravo para um ou outro pólo ), menor impacto da divisão excessiva do trabalho, menor separação de processos e de profissionais pensantes e não-pensantes, maior potencial para o exercício da cidadania, maior desejo de “ qualidade social “ e maior grau de democracia ( GOHN, 1999 ). Todas essas premissas podem se constituir em parâmetros a serem observados pelos tribunais de contas em auditorias operacionais de organizações públicas, especialmente naquelas ligadas à produção de conhecimento e, no caso de estudo em tela, nos trabalhos relativos à Educação e à Gestão Ambiental ( MANACORDA, 1991 ).

Podemos, enfim, sintetizar essa trajetória nas seguintes

premissas e lições de conexão ambiental:

- não devem existir visões estanques de biocentrismo e antropocentrismo; - a Educação pode contribuir para minimizar os quase que inevitáveis efeitos da divisão excessiva do trabalho previstos por Karl Marx em seus conceitos de trabalho alienado, minimizando mais ainda a alienação em relação às questões ambientais; - os efeitos perversos do Modo de Produção Capitalista e, mais especificamente no cenário atual, do Neoliberalismo, têm total relação com as questões ambientais, dado que não existem problemas

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ambientais sem problemas socioeconomicos e estes afetam muito mais classes mais dependentes de ações públicas, mais miseráveis e mais vulneráveis a mudanças climáticas, que afetam suas fontes extrativistas, carentes de saneamento, sujeitas a efeitos da poluição e, enfim, vítimas de maior degradação de qualidade de vida; - as matrizes de auto-suficiência, eficiência e mesmo a de eqüidade tendem a se fundir, por pressões sociais ou por degradação dos modelos capitalistas, em uma futura matriz de Ética Social e de Qualidade de Vida, que terá, certamente, um de seus pilares de sustentação na Educação Ambiental.

É interessante registrar, por ser um cenário com o qual

defrontar-se-ão os tribunais de contas em seus diálogos com gestores e formuladores de políticas públicas, o fascínio pela tese fisiocrata que renasce a cada período histórico nos interstícios da ciência econômica. O que existe no âmago desse edifício teórico que torna sua estrutura tão frágil e tão recorrente, tão ingênua e tão enigmática? Tal se dá com a Fisiocracia e poderíamos elencar as seguintes hipóteses, que surgem de um estudo dos clássicos na área, como Cordeiro ( 1995 ), Napoleoni ( 2000 ) e dos próprios escritos de Quesnay ( 1985 ):

- o Homem traz consigo um ideário mítico, religioso, tendendo

mesmo ao sobrenatural e metafísico, que se coaduna com a questão fisiocrata de supremacia das leis divinas sobre leis positivas de Estado ( FARIA, 2005 );

- em países com tendência econômica agrícola pode ser encontrada

correlação com o conceito de que só a agricultura pode gerar excedentes ( LAWRENCE, 1973 );

- a filosofia de Qualidade de Vida, que cresce cada vez mais em

oposição a alguns dos conceitos do Modo de Produção Capitalista, encontra ponto de tangência com a qualificação e quase um estigma de “ classe estéril ” para o comércio e a indústria ( CHAUÍ, 2000 );

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- a importância atual do desenvolvimento sustentável é base teórica da fisiocracia, aliando-se também ao eixo da Responsabilidade Social, fechando o ciclo da Riqueza Social ( VASCONCELOS, 2004 );

- essa Riqueza Social privilegia a Sociedade do Ser em relação a

do Ter, o que é base de pensamento ético ( e uma essência ética é sempre, de alguma forma, ambiental ), mesmo quando não exercido de boa-fé ou com intenção real e franca ( PELUSO, 1998 ). Vale registrar a busca e o acompanhamento da Ética Pública por parte das ações dos tribunais de contas ( OLACEFS, 1998 );

- exemplos como a filosofia oriental chinesa ou mesmo os remotos

incas, de orientação fisiocrática, realimentam muito do pensamento de neohippies atuais ou correntes similares, que acabam por influenciar a opinião pública, sem dúvida a grande “ credora “ dos projetos e políticas governamentais, em especial no caso das áreas ambientais ( VASCONCELOS, 2004 ).

Esta seria, com base nesses pressupostos, de forma rápida, uma

explicação para o constante “ renascimento ” das idéias fisiocratas: quando atacadas, levam a uma visão de consumismo desenfreado, o qual acaba por levar a uma tentativa de reconstrução ambiental de fundamentação fisiocrata, círculo vicioso que, se é inevitável, pode ser também positivamente infinito se bem conduzido. Esta realimentação de riquezas de um país por meio do respeito ambiental é, certamente, tarefa de gestores públicos, estando assim no foco das missões de acompanhamento dos tribunais de contas em suas ações estratégicas na área ambiental.

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CAPÍTULO II

CONTROLE SOCIAL, MEIO AMBIENTE E AUDITORIA DE OBRAS E EMPREENDIMENTOS PÚBLICOS:

UMA COMBINAÇÃO DE OURO PARA A SINERGIA CONTROLE EXTERNO-DIREITO AMBIENTAL-CIDADÃO

2.1 - Os impactos sociais das falhas nos cuidados ambientais em obras públicas Talvez a principal riqueza e fator motivacional de oportunidade de um trabalho de auditoria ambiental embutido em uma auditoria de obras de obras públicas seja a possibilidade de prevenção de grandes danos sociais ( ARAÚJO, 1996 ).

Podemos dividir as facetas dessa questão nos seguintes campos:

2.1.1 Impactos durante e após as obras

Obras públicas podem começar a gerar impactos antes mesmo de sua conclusão, tanto por deficiências em seus projetos básicos, como por inviabilidade mesmo de sua relação custo / benefício. Este é, inclusive, um fator pouco considerado nas análises que conduzem aos estudos e relatórios de impactos ambientais ( EIA / RIMA ), que costumam ser mais voltados para os impactos posteriores. Muitas vezes os danos ou a possibilidade deles não cessa com o término das obras, como é o pensamento de grande parte de gestores. Isto pode incluir a questão da instalação de comunidades residentes em volta da obra, as quais muitas vezes ali permanecem ( FERRÁNDIZ, 1993 ).

Tudo isto pode ser alvo de ações preventivas e reparadoras por parte dos órgãos de controle.

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2.1.2 Os segmentos populacionais mais prejudicados

Não é difícil perceber que, na grande maioria das obras públicas, os segmentos populacionais potencialmente atingidos por danos ambientais são aqueles das camadas de baixa renda e baixo índice de evolução social. Isto se deve à própria característica geográfica de localização das faixas de obras passíveis de gerar danos ambientais, tais como represas, açudes, hidrelétricas, fábricas, usinas, aeroportos, etc. ( MMA/IBAMA, 1995 ).

2.1.3 A relação temporal “ benefícios da obra / prejuízos sociais ”

Como é aqui discutido, adiante, nas considerações básicas sobre Contabilidade Ambiental, é necessário abater, das rubricas positivas referentes à obra pública considerada, valores derivados de indicadores a serem acompanhados que possam aferir impactos além daqueles fisicamente observáveis ( LIMA, 2001 ).

É importantíssimo para o agente de controle público fiscalizador da obra efetuar todo o esforço possível para detectar possibilidades de danos sociais, tanto à qualidade de vida de uma população envolvida como à possibilidade de evolução econômica futura da mesma. 2.2 Quesitos normalmente não analisados das questões ambientais

Pensar sobre a questão da conservação, manutenção, limpeza e logística de tratamento e armazenamento de resíduos, matérias-primas e lixo conduz, inevitavelmente, à conclusão de que estes são outros exemplos de tópicos normalmente esquecidos no planejamento de auditorias ambientais, incluindo também as auditorias de obras públicas, tipicamente mais voltadas para a estrutura da obra propriamente dita.

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Esta questão envolve, também, as fases de execução da obra e de utilização do seu produto final ( insumos e produtos ), o que traz focos adicionais de análise para o controle externo, incluindo aprofundamentos nos projetos básicos, buscando omissões de gestores e avaliadores na sua aprovação ( BARATA, 1995 ).

A partir disto, é possível qualificar, no nosso entender, esses tipos de danos como sendo de caráter indireto mas não menos cruciais e complexos. São “ sementes ” de danos ambientais de surgimento tardio. Não é difícil, também, constatar que em se tratando de resíduos, matérias-primas e lixo, os danos podem levar períodos consideráveis de tempo para sua maturação e início de impactos, como por exemplo no caso de produtos químicos e radioativos ou ainda no caso de exploração de recursos minerais com geração de resíduos em grandes volumes e com dificuldade de armazenamento em áreas abertas. 2.3 Fatores críticos de sucesso e lacunas nos instrumentos existentes

É interessante verificar, a partir dos tópicos anteriores, indícios de pontos positivos e de áreas a avançar nas atuais ações de fiscalização ambiental, a saber, por exemplo:

Fatores críticos de sucesso: a abrangência das auditorias e

fiscalizações diversas de controle externo, que permite a verificação de quesitos ambientais em uma enorme gama de entidades, ações, projetos e programas; os esforços de capacitação de pessoal técnico na área ambiental; o esforço anual das ações de apoio ao Legislativo, pelos tribunais das diversas esferas, na área de dotações orçamentárias para obras públicas; a vertente didático-pedagógica-preventiva do Controle Externo e o potencial das auditorias operacionais de desempenho e de programas.

Pontos a avançar: esforços para aumentar o foco das ações de

fiscalização ambiental para além da verificação de documentação de licenciamento exigida; a definição de critérios para a Contabilidade Ambiental; parcerias com órgãos da área ambiental para estudos

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técnicos específicos; conscientização interna e externa para enfoque da Meio Ambiente como patrimônio público e inclusão de quesitos ambientais em fiscalizações de licitações, contratos, prestações e tomadas de contas e auditorias e inspeções de acompanhamento de ações públicas em geral.

2.4. A necessidade de “ escuta social “ dos envolvidos e beneficiários de grandes empreendimentos e obras

Uma vez que se pretenda chegar a uma base utilitarista dos resultados das ações públicas, como pode ser estabelecido por reflexões sobre as bases filosóficas perenes de um trabalho de controle externo ambiental ( MILL, 2005 ), é indispensável que sejam incluídas etapas de entrevistas diretas com usuários potenciais desses projetos e políticas.

Atualmente, muito se fala no Controle Social como um grande aliado na defesa do bom uso dos recursos públicos e como instrumento de transparência na Administração Pública. Porém, quase que paradoxalmente, os órgãos de Controle Externo, talvez por excesso de formalismo ou por um certo temor de ousar novas práticas, não costumam, de forma sistemática, fazer uso da escuta dos beneficiários das políticas e dos projetos que são fiscalizados ( GUASQUE, 1998 ).

Alguns instrumentos e cuidados devem ser usados para esta prática, como por exemplo ( CORRÊA, 1996 ):

- é necessário extremo cuidado ao ouvir o Cidadão, para não criar falsas expectativas do resultado da auditoria que estiver sendo realizada;

- não existe ainda oferta adequada de treinamento e capacitação para entrevistas voltadas para o campo da auditoria pública;

- poderá existir ( e deve ser minimizada ) politização excessiva dos depoimentos e o tempo de trabalho no campo poderá ser insuficiente para a previsão das entrevistas;

- poderá haver dificuldade na seleção de amostra de entrevistados;

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- é interessante o envolvimento de associações de classe, conselhos e similares em entrevistas de auditorias;

- é importante salientar para os entrevistados que existe uma base técnica e objetiva que permeia os trabalhos de auditoria;

- deve ser deixado claro, desde o início dos contatos, que declarações de caráter essencialmente político, sindical ou corporativista não serão consideradas;

- deve ser previsto um local adequado para as entrevistas e também preservado o sigilo das mesmas, uma vez que muitos depoentes serão empregados ou servidores das instituições auditadas e, de modo similar, deve ser pedido sigilo e discrição quanto ao trabalho dos auditores;

- não devem ser exageradas as expectativas quanto ao resultado dos trabalhos;

- deve ser prevista uma forma de retorno e acompanhamento às entidades depoentes;

- dentro do possível, não deve ser mencionada, nos relatórios ou nos atos de requisição de informações à entidade auditada, por parte da equipe, a origem dos indícios obtidos;

- os sites das associações de classe devem ser pesquisados antes de se partir para as entrevistas propriamente ditas;

- deve ser evitada, por razões óbvias, a presença dos auditores em quaisquer reuniões amplas dessas associações, bem como atenção especial deve ser dada às possibilidades de que encontros estejam sendo gravados de alguma forma;

- o planejamento dessas entrevistas deve considerar a real possibilidade de obtenção de dados que, de outra forma ou diretamente com as instituições auditadas, não seria viável ou poderia ser prejudicado por ocultações, parcialidades ou distorções;

- é interessante aperfeiçoar a necessidade de considerar denúncias e notícias veiculadas pela mídia e como fazê-lo corretamente.

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CAPÍTULO III

PONTOS CRÍTICOS NA AVALIAÇÃO DO PATRIMÔNIO AMBIENTAL

E NAS QUANTIFICAÇÕES NO DIREITO AMBIENTAL 3.1- As dificuldades de quantificação de débitos para uso pelo controle externo nos trabalhos ligados à área ambiental

Os principais tipos de danos ambientais podem ser divididos em:

relativos a recursos hídricos, à atmosfera, ao solo e ao subsolo, perda da biodiversidade, danos à saúde e à qualidade de vida e, por fim, impactos na atividade econômica.

Essas principais categorias podem ser subdivididas da seguinte forma ( LIMA, 2001 ): Tipologia dos principais danos ambientais

CATEGORIA ESPÉCIE Oferta e demanda de água Danos relativos aos recursos hídricos

Gestão dos recursos hídricos e aquáticos

Efeitos restritos geograficamente Danos relativos à atmosfera Efeitos globais: efeito estufa e destruição da camada de ozônio

Recursos minerais Recursos renováveis

Danos relativos ao solo e ao subsolo

Erosão de encostas Espécies animais Perda da biodiversidade Espécies vegetais Poluição sonora Contaminação de alimentos

Danos relativos à saúde humana

Contaminação radioativa Danos relativos à qualidade de vida Danos à paisagem e aos valores estéticos,

culturais e históricos Danos a propriedades e bens materiais Danos relativos ás atividades econômicas

Danos afetando a produtividade

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Essa diversidade de possibilidades de danos já traz implícita a

dificuldade em quantificá-los e por conseqüência estabelecer os débitos de gestores, no caso de irregularidades ou, por outro lado, quantificar relações custo / benefício de ações públicas que tangenciem a questão ambiental.

3.2- Dimensionamento físico e econômico do dano

Apesar dos esforços de capacitação dos profissionais de controle externo, é natural que os órgãos de controle encontrem problemas quando da avaliação dos danos físicos causados ao meio ambiente, uma vez que eles são mensurados através de técnicas oriundas de diversas áreas tais como a Física, a Engenharia em diversas especializações, a Química, a Geologia e outras ( CORRÊA, 1996 ).

Tal dificuldade em quantificar os danos físicos traz

naturalmente a dificuldade em, posteriormente, avaliar seus valores econômico - financeiros, o que é preocupação dos estudos desenvolvidos pela denominada Contabilidade Ambiental.

3.3- A contabilidade ambiental Uma importante técnica de mensuração de danos ambientais que

vem sendo bastante utilizada nos últimos anos, tanto por entidades de controle governamental como por órgãos de controle ambiental, é a da Contabilidade Ambiental ( Green Accountability ).

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Tal metodologia tem como premissa básica o postulado de que é possível incluir nas contas públicos os valores referentes às avaliações dos danos físicos, em termos financeiros estimados, as quais devem ser abatidas de estimativas positivas diversas, tais como Produto Interno Bruto, renda a ser gerada por determinado empreendimento, produção de determinada fábrica, retorno esperado de investimento e outros fatores similares ( LIMA, 2001 ).

De início, já se percebe que a principal dificuldade será

exatamente a de fazer um inventário desses danos. Será necessário estabelecer indicadores que possam detectar e registrar a situação anterior às ações que possam deflagrar as mudanças e impactos ( uma obra pública, por exemplo, dentro de nosso foco ), para que posteriormente possam ser reavaliados buscando as diferenças que podem embutir danos ambientais ou até mesmo práticas de boa gestão evolutivas ou preservativas.

Para exemplificar o fato de que nem sempre esse inventário

ambiental considera apenas itens naturais propriamente ditos, é possível observar no quadro a seguir fatores que também compõem, por extensão, o conceito de meio ambiente ( ARAÚJO, 1996 ): Inventário de fatores recreativos, estéticos e culturais do ambiente Recreativos Estéticos e culturais Esportes / natureza Paisagens e vistas Pesca Agentes físicos singulares Navegação Parques e reservas Banho Monumentos Camping Espécies e ecossistemas singulares Excursões / Áreas de lazer Sítios históricos e arqueológicos

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Para trazer, nas possibilidades de espaço de nossa discussão, algumas sugestões, úteis em trabalhos dos tribunais de contas, de métodos de quantificação de danos impactos ambientais, podemos resgatar os seguintes: - gastos preventivos e defensivos, onde procura-se estimar qual o montante de recursos que seria gasto para evitar o dano ambiental que se deseja calcular; - preço dos bens substitutos, estimando-se o valor do dano pelo valor dos bens que substituem aqueles comprometidos; - custos da depreciação resultante, onde entram como parâmetros as desvalorizações causadas pela degradação ambiental; - perdas de receita ou gastos para assistência causadas por danos á saúde da população causados pelos impactos ambientais; - preços hedônicos, aplicados com base nos valores que uma população estaria disposta a pagar para usufruir o prazer proporcionado pelos fatores ambientais atingidos pelo dano; - piso salarial de risco, estimado a partir de quanto as pessoas estariam dispostas a perder, em termos salariais, para trabalhar em outra região que não a passível de ser atingida por um dano ou impacto ambiental; - valoração heurística livre, que seria a combinação das técnicas anteriores e outras estratégias individuais do profissional de controle externo que possam levá-lo a melhor estimar a quantificação financeira de um item, valor ou serviço ambiental ou de um dano ou impacto ambiental.

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CAPÍTULO IV

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO GRANDE ALIADA E COMO PONTO FOCAL NA APLICAÇÃO DO DIREITO AMBIENTAL

E NA ATUAÇÃO DOS TRIBUNAIS DE CONTAS

O Brasil tem, há algum tempo, uma Lei Nacional de Educação Ambiental ( Lei n.º. 9.795, de 27 de abril de 1999 ), a qual, em conjunto com toda a legislação ambiental, deveria compor um arcabouço capaz de garantir a proteção do vasto patrimônio natural brasileiro, por meio da inserção de vertentes ambientais didático-orientadoras na ação de agentes educativos, formais ou não. É interessante refletir, desde já, sobre alguns pontos críticos que se apresentam sobre essas responsabilidades distribuídas.

Quando essa lei estabelece a necessidade de criação de políticas

públicas que incorporem a questão ambiental, já se podem antever dificuldades de avaliação de tais políticas e mesmo na identificação de módulos que tenham foco no Meio Ambiente nos projetos que não o tenham especificamente como objeto. O engajamento da sociedade é outra questão de difícil materialização e observação pelo controle externo, em termos de resultado esperado ( RUA, 1998 ).

A estrutura do SISNAMA ( Sistema Nacional de Meio Ambiente )

é ponto crítico para sua inclusão na Educação Ambiental, de forma similar ao cenário de outras estruturas de órgãos públicos, devido aos problemas como insuficiência de recursos orçamentários, desmotivação de servidores devido a precárias condições de trabalho, mudanças na legislação funcional e previdenciária, fronteiras de atuação entre esferas de governo, parcerias polêmicas público-privadas, reflexos que ainda perduram de programas de reforma de Estado e privatização e outras questões correlatas que chegam a quase caracterizar um desmonte do arcabouço institucional da área ambiental pública ( BIONDI, 1999 ).

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Em seguida às definições de responsabilidades, os artigos 4º. e 5º da retromencionada Lei Nacional de Educação Ambiental listam seus princípios e objetivos, em termos que envolvem a interligação de quesitos formais e não formais, éticos e impositivos, públicos e privados, enfim toda uma teia que pode, certamente, ser avaliada por tribunais de contas em auditorias operacionais de Educação Ambiental:

“ Art. 4o São princípios básicos da educação ambiental: I - o enfoque humanista, holístico, democrático e

participativo; II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade,

considerando a interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade;

III - o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade;

IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais;

V - a garantia de continuidade e permanência do processo educativo;

VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo;

VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais;

VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural.

Art. 5o São objetivos fundamentais da educação ambiental:

I - o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos;

II - a garantia de democratização das informações ambientais;

III - o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social;

IV - o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania;

V - o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macroregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade;

VI - o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia;

VII - o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. “

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No capítulo II, é caracterizada a Política Nacional de Educação

Ambiental, aparecendo no art. 7º. a definição das instituições que são envolvidas na execução dessa política. Além dos órgãos do SISNAMA ( Sistema Nacional de Meio Ambiente ), compõem a estrutura quaisquer instituições educacionais públicas ou privadas, quaisquer órgãos públicos de todas as esferas de governo e ONG’s com atuação em educação ambiental. É possível verificar a abrangência de atuação da Política Nacional de Educação Ambiental, em especial pela inclusão de toda a Administração Pública, o que aumenta o desafio para os tribunais de contas.

Analisando mais detidamente o texto da lei, podemos observar que não seria na questão da sensibilização da coletividade para as questões ambientais que estaria a maior dificuldade, dado que é quase que é um postulado natural o reconhecimento de que o meio ambiente necessita de atenção. A principal dificuldade é exatamente a organização e participação da sociedade na defesa da qualidade desse meio ambiente, devido aos inúmeros interesses e às informações tendenciosas ou parciais disseminadas sobre a questão. Há artigos, como os 17º. e 19º., que são extremamente importantes para a avaliação e acompanhamento de políticas públicas, ao se referirem à questão da alocação de recursos públicos e à economicidade em termos de relação custo / benefício, uma das questões mais críticas, na atualidade, para o cenário de estudos de impactos ambientais. Afinal, seria necessário depurar as metodologias de estimativas de impactos e danos ambientais, incluir possíveis efeitos sociais também quantificados e contrapo-los aos investimentos alocados à educação ambiental ( COHEN, 1998 ). É algo de difícil implementação mas de real necessidade e que já vem sendo exercitado em algumas ações de pesquisadores e instituições da área e em ações de controle externo.

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A partir desta brevíssima leitura da LNEA e das observações aqui feitas para alguns de seus trechos, podemos identificar as seguintes questões que surgem, em termos de avaliação da Política Nacional de Educação Ambiental, uma crescente tarefa também dos tribunais de contas: - têm ocorrido capacitação de professores, nos diversos níveis de ensino, para lidar com as questões ambientais e incluí-las em seus processos em sala de aula? - há recursos orçamentários alocados, nas esfera federal, estadual e municipal, para a Educação Ambiental? - como tem operado o órgão gestor federal da Política Nacional de Educação Ambiental? - como tem se desenvolvido a inclusão e efetiva aplicação da educação ambiental nos Parâmetros Curriculares Nacionais? - existe acompanhamento da educação ambiental não-formal? - o aluno percebe e retém conceitos de educação ambiental transmitidos pela escola? - existe pesquisa e experimentação para a Educação Ambiental? - quais as metodologias disponíveis para estimativas de impactos ambientais que possibilitem análises custo / benefício de políticas públicas de educação ambiental? - é possível estabelecer o que seria uma “ ética ambiental ” aplicada à Educação Profissional, como preconizada em Lei? - existe integração empresa-escola, em termos de Educação Ambiental?

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CAPÍTULO V

QUESTÕES ESSENCIAIS DE DIREITO AMBIENTAL PARA OS TRIBUNAIS DE CONTAS

Para resgatar um arcabouço legal que possa fundamentar as ações práticas dos órgãos de controle externo na área ambiental, é interessante uma reflexão sobre as principais bases do Direito Ambiental. Como dissemos já em nossas premissas iniciais, não é nossa intenção alimentar uma mera análise em termos de cumprimento de legislação e normas para a atuação dos tribunais de contas e sim trazer possibilidades de expansão da aplicação dos preceitos legais básicos da área. A Constituição Federal ( fonte primária das bases normativas de meio ambiente no Brasil, tanto o natural, como o artificial, o cultural e o do trabalho, todos nela tipificados ) e a Lei n.º. 6.938 81 contém em diversos artigos alguns princípios básicos do Direito Ambiental, a saber:

5.1 Princípio do Desenvolvimento Sustentável ( art. 170, VI, c/c. Art. 225, V da Constituição Federal e arts. 4º. e 5º. da Lei n.º. 6.938 / 81 )

Esse princípio procura compatibilizar desenvolvimento econômico-social e preservação da qualidade do meio ambiente.

De acordo com suas premissas, para alcançarmos o desenvolvimento sustentável a proteção do meio ambiente deve constituir parte integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser considerado isoladamente em relação a ele, o que já pode de pronto ser associado aos parâmetros de efetividade apurados por tribunais de contas em suas fiscalizações e auditorias.

A Constituição Federal de 1988, no art. 225, V, estabelece que o poder público, no sentido de assegurar o direito a um meio ambiente equilibrado ecologicamente deverá “ controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente ”.

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A Lei nº. 6.938 / 81, quando cuida dos objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente, prevê no art. 4º. que tal política visará à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico.

O art. 5º., parágrafo único da referida lei prevê que “ as atividades empresarias públicas ou privadas serão exercidas em consonância com as diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente ”.

O acompanhamento dessa Política deve ser foco potencial de atuação para os tribunais de contas.

A produção sustentável pode ser alicerçada na economia e uso racional de energia e matéria-prima, conservando os recursos naturais.

5.2 Princípio do poluidor pagador ( art. 225, par. 3º. da CONSTITUIÇÃO FEDERAL e arts. 4º., VII e 14º., par. 1º. da Lei n.º. 6.938 / 81 )

Busca consagrar a idéia de que aquele que poluir terá de arcar com os custos da reparação do dano causado. Em outros ordenamentos jurídicos, chama-se princípio do causador ou responsável: “ as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados ”.

Assim podemos identificar três órbitas de reparação do dano ambiental: a civil, a penal e a administrativa.

É um princípio importante para o controle externo, tanto em termos de verificação da atuação de órgãos públicos competentes para o seu exercício, como para evitar danos ao Erário por ações de reparação contra entidades públicas que possam estar atuando de forma errônea em relação a cuidados ambientais.

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5.3. Princípio da prevenção ( ou precaução ) ( art. 225, IV da Constituição Federal e art. 9º. da Lei n.º. 6.938 / 81 )

Por esse princípio busca-se prevenir a ocorrência do dano ambiental.

É sem dúvida um dos princípios mais importantes do Direito Ambiental, diante da complexidade da reparação do dano ambiental, já que é difícil restabelecermos o status quo ante de uma área degradada, pois, embora compensáveis de alguma forma, danos ambientais trazem uma visão técnica de difícil ou impossível reparação e, mais ainda, reconstituição.

Dessa forma, é extremamente importante prevenir a ocorrência do dano, utilizando instrumentos para tanto, tais como EIA / RIMA, incentivos fiscais e uma legislação que imponha severas multas e sanções utilizadas como forma de prevenir a ação danosa.

Constitui tarefa dos órgãos de controle externo o acompanhamento desse princípio, tanto pelos órgãos públicos em sua operação geral como pelos órgãos do Sistema Nacional de meio Ambiente em sua fiscalização da área privada.

5.4 Princípio da participação ( art. 225, § 1º, VI da Constituição Federal e art. 13 da Lei n.º. 6.938 / 81 )

Já apresentado no caput do art. 225, prevê uma atuação conjunta do poder público e da sociedade no proteção do meio ambiente.

Para a efetivação dessa ação em conjunto a informação e a educação ambiental são meios necessários. Nesse aspecto, ressaltamos a importância da implementação da Educação Ambiental, já consagrada na Lei n.º. 9.795 / 99, devidamente regulamentada pelo Decreto n.º. 4.281 / 2002 que estabeleceu a Política Nacional de Educação Ambiental, que buscará preservar o meio ambiente por intermédio da construção de valores sociais e atitudes voltadas á preservação desse bem.

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Neste trabalho, tal questão merece capítulo específico e deve constituir parâmetro recorrente nas ações de fiscalização e acompanhamento dos tribunais de contas.

5.5 Princípio da função socioambiental da propriedade ( art. 170, III e VI da Constituição Federal, c/c. Art. 1.228, par. 1º. do Código Civil )

Por esse princípio busca-se afirmar que o direito de propriedade deve ser exercido levando-se em conta a noção de sustentabilidade ambiental. A função social de propriedade não se limita à propriedade rural mas também á propriedade urbana. Engloba também a propriedade dos bens móveis e imóveis.

Pode constituir vertente aplicável às verificações de efetividade, efetividade e, como fator de destaque, ética nas ações de controle externo.

5.6 Princípio do limite ( art. 225, § 1º., V da Constituição Federal e art. 4º., III c/c. Art. 8º., VII c/c art. 9º.. I da Lei n.º. 6.938 / 81 )

Por esse princípio a Administração tem o dever estabelecer os padrões de emissão de partículas, ruídos e a presença de corpos estranhos no ambiente, tendo em vista a necessidade de proteção da vida e do próprio ambiente. É quesito essencial a ser verificado pelo controle externo em sua fiscalização e acompanhamento de órgãos do SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - SISNAMA.

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5.7 Princípio da cooperação entre os povos ( art. 4º., IX da Constituição Federal e art. 4º., V da Lei n.º. 6.938/81,. c/c art. 77 e 78 da Lei n.º. 9.605 / 98 )

Destaca-se esse princípio pelo fato de que as agressões ao ambiente não ficam restritas ao limite territorial do país em que ocorrem, podendo espalhar-se pelos países vizinhos, como nas conseqüências advindas de correntes marítimas. Daí a necessidade de cooperação na divulgação de dados e informações ambientais, por exemplo.

A cooperação internacional para a preservação do meio ambiente determina que resguardados a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes, o governo brasileiro prestará, no que concerne ao meio ambiente, a necessária cooperação a outro país, devendo, ainda, manter sistema de comunicações apto a facilitar o intercâmbio rápido e seguro de informações com órgãos de outros países ( arts. 77 e 78 da Lei n.º. 9.605 / 1998 ).

Deve ser acompanhado pelos tribunais de contas em suas análises e pareceres prévios anuais sobre as contas do Executivo, em especial mas não exclusivamente em nível federal.

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CAPÍTULO VI

O CENÁRIO ATUAL, AS OPORTUNIDADES E O FUTURO DA ESTRATÉGIA AMBIENTAL DO CONTROLE EXTERNO

A partir deste breve estudo sobre a atuação dos tribunais de contas na área de meio ambiente, podemos agora identificar uma série de estratégias práticas que devem nortear essa ação, aproveitando as oportunidades encontradas e corrigir algumas lacunas restantes. É indispensável registrar que o cenário atual já apresenta vários casos de sucesso deflagrados por alguns tribunais, tais como a promoção de seminários e encontros periódicos para discussão de questões ambientais aplicadas à gestão e ao controle públicos, a execução de auditorias operacionais na área de Educação Ambiental, a inclusão de quesitos relativos ao licenciamento e aos impactos ambientais nas grandes auditorias periódicas de obras para apoio e assessoramento ao Legislativo no que concerne às dotações orçamentárias para obras públicas, a criação de departamentos e secretarias de controle externo específicas para a área ambiental, a implantação de cursos de especialização em auditoria ambiental, internos ou em convênio com universidades e centros de pesquisa, convênios de colaboração e parceria com órgãos do SISNAMA e outras iniciativas de sucesso. Quanto ao futuro e às oportunidades de evolução, podemos apresentar alguns exemplos de estratégias a serem deflagradas ou incentivadas pelos tribunais de contas, as quais derivam-se de toda a revisão teórica feita até aqui no presente trabalho, como: 6.1 incentivo à presença mais constante de representantes da Sociedade nos certames licitatórios de órgãos públicos, para acompanhamento presencial de quesitos ambientais diretos ou indiretos;

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6.2 a cooperação com ONGs ambientais; 6.3 as parcerias com Conselhos Regionais de Engenharia e Arquitetura para estudo de itens técnicos da área ambiental aplicados a obras e serviços de engenharia; incentivo à representação da Sociedade nas discussões de projetos básicos de obras críticas; 6.5 parcerias com Universidades e Escolas Técnicas; 6.6 incentivo à fiscalização de cenários ambientais constante por parte de cidadãos interessados e capacitados que poderiam, depois, utilizar canais de denúncias, consultas e representações junto aos fiscalizadores; 6.7 discussões mais intensas sobre impactos ambientais de obras públicas; 6.8 adequação de projetos às necessidades dos usuários finais, em termos de qualidade ambiental e qualidade de vida; 6.9 inclusão, nas auditorias ambientais, de quesitos relativos a impactos indiretos de obras, como por exemplo, resíduos, ruídos, lixo e aspectos de saneamento básico; 6.10 sugestões técnicas para economicidade que levem em conta a contabilidade ambiental; 6.11 apoio decisório e controle da discricionaridade, nas prestações de contas e auditorias operacionais, do gestor de obras, nas vertentes ligadas a questões ambientais; 6.12 diminuição do estigma de irregularidades em obras públicas;

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6.13 aumento do potencial de diminuição de obras paradas ou lentas por questões de licenciamento ambiental; 6.14 maior provocação, pelos Cidadãos, por meio de Controle Social, de acompanhamento legislativo e judiciário de obras; 6.15 maior efetividade social, derivada de maior cuidado ambiental, das fontes de referências para preços e custos em obras; 6.16 criação de núcleos internos, nos tribunais de contas, de conhecimento – suporte na área ambiental;

6.17 capacitação com relação ao mercado de serviços ambientais; 6.18 equipes estagiárias em órgãos do SISNAMA, para assimilação de conhecimento ambiental para os tribunais de contas; 6.19 acompanhamento de negociações de grandes projetos de empreendimentos e obras públicas, para avaliação prévia de cuidados ambientais; 6.20 acompanhamento de questões tributárias como renúncias de receitas ou incentivos fiscais que tenham conexão com parâmetros ambientais, evitando fracas relações custo / benefício; 6.22 inserção, nas auditorias e fiscalizações, de entrevistas com atingidos, remotos ou no entorno, por empreendimentos públicos com reflexos ambientais; 6.23 aperfeiçoamento de estudos custo / benefício nas auditorias, análise de prestações de contas ou pareceres prévios sobre Contas do Executivo; 6.24 capacitação em questões socioeconômicas e geopolíticas correlatas à área ambiental;

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6.25 aumento do foco de fiscalizações e auditorias para além dos processos de licenciamento ambiental; 6.26 aumento dos esforços e da expertise para definir critérios adequados de contabilidade ambiental; 6.28 real e efetiva conscientização interna aos tribunais de contas e externa para todos os órgãos da Administração Pública do meio Ambiente como Patrimônio Público; 6.29 inclusão de quesitos ambientais em processos do tipo Tomadas e Prestações de Contas, além daqueles normalmente mais considerados, como auditorias operacionais e fiscalização de obras públicas; 6.30 conscientização das diferenças e das necessárias alterações de enfoque para os diversos tipos de ações na área ambiental: auditoria do orçamento ambiental, auditoria dos impactos ambientais de obras e projetos, auditoria dos resultados das políticas públicas ambientais e auditoria da fiscalização pública por parte dos órgãos de controle ambiental; 6.31 conscientização da importância do estudo, pelos tribunais de contas, da região, entorno e cenário de uma obra pública, nas vertentes econômica, turística, de recursos naturais, paisagens, turística, ecoturística, cultural, e qualidade de vida atual e futura, com vistas á correta mensuração do patrimônio ambiental e dos danos potenciais, inclusive quanto à saúde; 6.32 inclusão, nas matrizes de planejamento de auditorias ligadas de alguma forma à questão ambiental, de pesquisa prévia no IBAMA e outros órgãos do SISNAMA, quanto a processos anteriores de fiscalização, jurisprudência na área e legislação atual;

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6.33 consideração da aplicação, a gestores públicos, de multas por atos ilegais, ilegítimos ou antieconômicos ligados à natureza patrimonial do Meio Ambiente e também por transgressão a pontos de tangência da legislação atual de Meio Ambiente com as diversas fases das obras públicas; 6.34 consideração, pelos tribunais de contas, das interações dos royalties de petróleo com a questão do meio ambiente, incluindo o grande percentual de uso desses recursos financeiros em obras públicas, considerando sempre a necessidade de efetividade do uso desses recursos em prol da qualidade de vida para a população dos municípios; 6.35 conscientização da necessidade de acompanhar de forma segura a execução da Política Nacional de Educação Ambiental, tanto no plano formal como no não formal, tendo em vista a efetividade dessa política como um dos instrumentos mais fortes para a preservação da qualidade de vida do todos os Cidadãos.

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CONCLUSÕES Esperamos ter conseguido, no breve mas importantíssimo espaço

aberto, reflexão teórica e detecção de estratégias práticas, delineadas no capítulo 6, na área de atuação das Casas de Controle Externo na fiscalização e acompanhamento da Administração Pública na vertente ambiental, bem como ter atingido os objetivos iniciais a que nos comprometemos e semeado pontos para que se ouse efetivas experiências nos tribunais de contas brasileiros.

Esperamos, também, ter sido uma contribuição para chegar a um cenário que deixe nossos tribunais de contas, que tanto avanço já trouxeram à gestão pública de nosso país, preparados para agir diante deste grande desafio econômico, geopolítico e, acima de tudo, social.

Acreditamos firmemente que o controle externo com foco ambiental é uma oportunidade de colocar um pouco de amor na frieza dos números e das normas das auditorias; uma oportunidade de deixar sementes para além dos processos das verbas e da execução das obras públicas, uma oportunidade de trazer, como reforça o tema central de nossas discussões, qualidade de vida permanente para toda a sociedade.

Controle Externo e Controle Social atuando juntos na defesa de nosso patrimônio ambiental serão, então, o olhar e uma ação do Povo sobre o ação ambiental pública e privada e os olhos e as mãos da sociedade sobre o respeito ao meio ambiente nas obras, empreendimentos, programas, políticas e projetos públicos. Podem evitar que se tornem proféticas para todas as nossas atividades as palavras do saudoso compositor Chico Science, para os catadores de caranguejo dos mangues de Recife, em sua música “ Mangue Beat “, quando escreveu “ fui no mangue catar lixo, pegar caranguejo, conversar com urubu...”.

Gostaríamos de deixar como mensagem e credo final a afirmação de que o Homem e o Meio Ambiente interagem pela contemplação, pelos impactos das manifestações da Natureza e pelas obras de transformação. Alternam várias vezes os papéis de Criador e Criatura. A grande sabedoria é não criar os papéis de Mestre e de Escravo......

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