novembro de 2006

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(Re)Cortes (Re)Cortes BOLSEIROS DE INVESTIGAÇÃO: QUE FUTURO PARA A CIÊNCIA? Superior FENPROF ENSINO E INVESTIGAÇÃO Entrevista com o Reitor António Nóvoa: Bolonha está a correr mal porque há muita cosmética e pouca mudança efectiva Ensino Superior Público Os despedimentos não são inevitáveis

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Jornal da FENPROF / Sup - Novembro de 2006

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Page 1: Novembro de 2006

(Re)Cortes(Re)Cortes

BOLSEIROS DE INVESTIGAÇÃO: QUE FUTURO PARA A CIÊNCIA?

S u p e r i o rFENPROF ENSINO

E INVESTIGAÇÃO

Entrevista com o Reitor António Nóvoa:Bolonha está a correr mal porque há muita cosmética e poucamudança efectiva

Ensino Superior Público

Os despedimentos não são inevitáveis

Page 2: Novembro de 2006

2 SUP A O N .º 212 ■ NOVEMBRO 2006

Propriedade, Redacçãoe AdministraçãoFederação Nacional dos ProfessoresRua Fialho de Almeida, 31070-128 LISBOATels.: 213819190 – Fax: 213819198Email: [email protected] page: www.fenprof.pt/superior

Director: Paulo Sucena

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Colaboração: Inês Carvalho, Paula Velasquez e Elvira Nereu

Paginação e Grafismo: Mário Rui

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Fotografia: Jorge Caria

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SINDICATO DOS PROFESSORESNO ESTRANGEIROSede Social: Rua Fialho de Almeida, 31070-128 LisboaTel.: 213833737 - Fax: 213865096

E n t revista com o Reitor António Nóvoa, da Universidade de Lisboa“Aquilo que se propõe no OE/2007 é dramático (geralmente não utilizo estas palavras, mas neste caso não há outro adjectivo)! O Governo decidiu um corte cego para as instituições do EnsinoSuperior”

SUMÁRIOS u p e r i o rFENPROF ENSINO

E INVESTIGAÇÃO

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NACIONALOrçamento de Estado 2007FENPROF denunciacortes de 16% no Ensino Superior . . . 4

Ensino Superior PúblicoOs despedimentos não são inevitáveis! . . . . . . . . . . . . . . 5

Bolseiros de investigaçãoConcentraram-se em S. Bento . . . . . . 6

Posição da FENPROF e do SNESupConcurso para bolsas destinadasa docentes desempregados . . . . . . . . 7

Reunião no MCTESPromessas de Verão… . . . . . . . . . . . 16

OCDEAlgumas notas de leiturado Education at a Glance 2006 . . . . 18

OPINIÃOLicínio LimaBolonha à portuguesa? . . . . . . . . . . 20

CULTURA Universidade de ÉvoraPrémio Rómulo de Carvalhoatribuído a Carlos Fiolhais

Page 3: Novembro de 2006

NOVEMBRO 2006 ■ S UP AO N. º 212 3

Por mais importante que seja a "conso-lidação das contas públicas" é um erropolítico grave o desinvestimento noensino superior público que a propostade Orçamento de Estado para 2007

reflecte. Não foi, para o Governo, suficientepara evitar os cortes nos orçamentos de funci-onamento das instituições a informação con-tida no Education at a Glance 2006 que mos-tra que as despesas por aluno do ensino supe-rior ainda se encontram abaixo de 2/3 damédia dos países da OCDE. Isto num Paísque precisa de recuperar do enorme atrasoque tem nas qualificações da populaçãoactiva, bem ilustrado por seencontrar abaixo de metadedo número de licenciados,tanto no que se refere àsmédias da UE como daOCDE.

Por outro lado, tem vindoa Comissão Europeia, nasequência da aprovação, em2000, da "Estratégia de Lis -boa" a produzir um conjuntode documentos onde se realça o papel que aUE espera que o ensino superior assumacomo elemento estratégico para o aumento dacompetitividade da economia europeia nummercado cada vez mais globalizado.

Neste contexto, não basta que o Governoaprove acordos com instituições americanaspor maior que seja o seu prestígio, cuja relaçãocusto/benefício é considerada por muitosdemasiado elevada. É preciso que a actividadede graduação ao nível dos 1º e 2º ciclos sejafortemente apoiada.

A aplicação do novo paradigma de Bolo-nha que pressupõe o aumento da relevância

social das formações, designadamente umamais forte ligação entre o saber teórico e osaber prático necessário ao exercício profissi-onal, e uma crescente preocupação com osucesso escolar e educativo de cada alunoindividualmente considerado, não se compa-dece com cortes cegos na despesa públicacomo o que o Governo pretende fazer ao níveldos orçamentos de funcionamento de univer-sidades e de politécnicos.

Para o êxito destas tarefas, todas as capaci-dades instaladas no ensino superior não sãode mais. É, em particular, inaceitável que,devido aos cortes orçamentais, sejam despedi-

dos ou ameaçados de despedimento (aindasem direito a subsídio de desemprego) muitosjovens, alguns dos quais já doutorados, queconstituem a possibilidade de renovação tãonecessária nos corpos docentes que de formaprogressiva e preocupante vão envelhecendo.

A FENPROF tem vindo a denunciar comvigor esta ofensa ao interesse nacional. Se oensino superior é mundialmente reconhecidocomo um sector estratégico para o desenvol-vimento cultural, social e económico dos paí-ses, como se permite Portugal desvalorizareste sector que muito pode ajudar a ultrapas-sar a crise que o País atravessa?

Orçamento do Estado 2007:Governo dá um tiro no pé

João Cunha Serra

EDITORIAL

Não basta que o Governo aprove acordos cominstituições americanas por maior que seja oseu prestígio, cuja relação custo/benefício éconsiderada por muitos demasiado elevada. Épreciso que a actividade de graduação ao níveldos 1º e 2º ciclos seja fortemente apoiada

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OGoverno corta, para 2007, nomi-nalmente, 6,2% nos orçamentosde funcionamento das instituições

de ensino superior público.O Executivo liderado pelo Engº

Sócrates impõe ainda um pagamentosuplementar de 7,5% à Caixa Geral deAposentações o que, com o ajuste sala-rial de 1,5% para 2007, eleva o corteorçamental real a 16%, uma vez que ossaldos transitados, a serem usados para opagamento suplementar à CGA, sãorecursos financeiros das instituições.

Assim, mesmo não contando, nemcom o ajuste salarial de 1,5%, nem como novo pagamento de 7,5% à CGA, 16instituições receberão menos dinheiro doque o necessário para pagar os saláriosdos docentes que têm em 2006 (41% dasUniversidades e Politécnicos).

Com estes cortes, o global do OE2007 para funcionamento está apenas3% acima das despesas totais com salá-rios em 2006. Se considerarmos o ajustesalarial de 1,5%, esta diferença passará aser só 1,5%. Se se entrar com os 7,5%para a CGA, já as despesas com o pes-

soal ultrapassam em 6% ovalor dos orçamentos.Longe vai o tempo dasintenções de aproximar aestrutura orçamental a 80%para pessoal e 20% paraoutras despesas!

Algumas instituiçõesficarão com um orçamentode funcionamento 18%abaixo das despesas compessoal previstas para 2007, caso do Ins-tituto Politécnico de Tomar. Tambémserão muito afectados os casos dos Insti-tutos Politécnicos de Bragança, de Porta-legre e de Viana do Castelo e das Uni-versidades do Algarve, dos Açores,UTAD, de Évora e de Aveiro.

Esta situação está a pressionar as ins-tituições a despedir pessoal docente e/oua reduzir direitos salariais e períodos devigência dos contratos e a aumentar aspropinas, agravando a selectividade eco-nómica e social neste sector de ensino.

Está também a pôr em risco a quali-dade do ensino, a aplicação do processode Bolonha, a promoção do sucesso

escolar e o aumento da relevância socialdo ensino superior, designadamente, oseu importante contributo estratégicopara a ultrapassagem das dificuldadeseconómicas e sociais do país: qualifica-ção da população activa, investigação,inovação e ligação às necessidades dotecido económico e social.

A FENPROF reclama a imediataalteração desta política de asfixia finan-ceira do ensino superior público, com aconsagração no O.E 2007 de dotaçõespara funcionamento e investimento emcorrespondência com o papel estratégicomundialmente reconhecido ao EnsinoSuperior. ■

4 SUP AO N. º 212 ■ NOVEMBRO 2006

NACIONAL

Orçamento de Estado 2007

FENPROF denuncia cortes de 16% no Ensino Superior

Consagrar direito ao subsídio de desempre g oEm cartas enviadas às direcções das diferentes bancadas e às Comis-

sões Parlamentares do Orçamento e Finanças, Trabalho e SegurançaSocial, Educação, Ciência e Cultura e dos Assuntos Constitucionais, Liber-dades, Direitos, a FENPROF e o SNESup solicitaram, em Outubro passado,a inclusão na Lei do Orçamento do Estado para 2007 de um artigo que"consagre o direito da generalidade dos funcionários e agentes da Admi-nistração Pública ao subsídio de desemprego"

"Dar-se-ia assim, finalmente, cumprimento ao Acórdão nº 474/2002 doTribunal Constitucional que reconheceu a existência nesse domínio deinconstitucionalidade por omissão, e resolver-se-ia um problema que temafectado centenas de docentes do ensino superior e investigadores e queafectará muitos mais a partir de 2007 tendo em conta a elevada precarizaçãodos vínculos contratuais e as reduções nominais do orçamento recentementeconhecidas", observam as organizações sindicais, que recordam ainda:

"Posteriormente à publicação do Acórdão do Tribunal Constitucional,

praticamente todos os grupos parlamentares, em Plenário ou em Comis-são, se pronunciaram pela justeza de uma iniciativa nesse sentido, sendode realçar que o Projecto de Lei nº 236-IX (PS) chegou a ser aprovado nageneralidade pela AR em finais de 2003. Todavia, nunca nenhum dos pro-cessos legislativos iniciados teve conclusão."

As soluções propostas pelas duas organizações sindicais para redac-ção do referido articulado "não são de forma nenhuma inovadoras": os nºs1 e 2, relativos aos trabalhadores inscritos na Caixa Geral de Aposentaçõesmas sem direito a subsídio de desemprego, seriam baseados no docu-mento registado na Presidência do Conselho de Ministros sob o númeroPL 140/2005, publicitado on line juntamente com a Resolução do Conse-lho de Ministros nº 140/2005; o nº 3, relativo aos trabalhadores que, tendotransitado posteriormente a 1 de Janeiro de 2006 da CGA para o regimegeral de segurança social, enfrentem a eventualidade de desemprego, seriabaseado no Dec.-Lei nº 117/2006, do 20 de Junho.

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Os cortes orçamentais para o ensinosuperior em 2007, chegam a atin-gir os 7,5% em algumas institui-

ções, apesar do aumento global donúmero de alunos ingressados, provo-cando ou acentuando a situação de mui-tos orçamentos não chegarem sequerpara pagar ao pessoal.

A proposta de lei do Orçamento deEstado para 2007 pretende ainda obrigaras instituições a entregarem à Caixa Geralde Aposentações 7,5% das remuneraçõessujeitas a cota para aquela entidade, oque, a concretizar-se, agravará ainda maisas suas dificuldades financeiras.

Como consequência, as instituiçõesestão sobre pressão para adoptarem solu-ções de recurso destinadas a acomodaros gastos com pessoal aos parcos orça-mentos que lhes estão a ser impostos.

Recorrem (ou prevêem recorrer) ànão renovação de numerosos contratos, elançam mão de expedientes "criativos"(mais ou menos ilegais) destinados areduzir o prazo de duração e/ou osencargos salariais de muitos outros. Hápropostas de "renovação" de contratospor 3, 5 ou 11 meses, de passagens atempo parcial e de compromissos força-dos de não solicitação de passagem aoregime de dedicação exclusiva. Há aimposição de cargas lectivas para alémdo contratado ou do estabelecido nosestatutos de carreira.

Contudo, é importante acentuar queestes despedimentos e estas reduções dedireitos não são inevitáveis!

É possível pressionar o Ministériopara que sejam atribuídos os reforçosorçamentais necessários.

Tal implica que os responsáveis ins-titucionais reclamem do Ministério essesreforços, de modo fundamentado nanecessidade de manter a qualidade doensino e assegurar a continuidade doscontratos dos docentes, sem redução dosrespectivos direitos, realçando os esfor-ços que têm desenvolvido para aumentara relevância social das formações queoferecem.

É, assim, preciso que os Reitores e osPresidentes, cujas Universidades e Insti-tutos Politécnicos se encontrem em rup-tura financeira, bem como os respectivos

docentes e os sindicatos, desenvolvamacções convergentes com vista à defesados postos de trabalho no ensino superiorpúblico, pois a capacidade instalada emrecursos humanos não é demais para asnecessidades do país na formação dapopulação, na investigação e na inovação.

O Ministro Mariano Gago afirmou àFENPROF e ao SNESup, em 31 deJulho, que haveria disponibilidade orça-mental para um reforço dos contratos-programa nos casos de instituições que,justificadamente, se encontrassem em

dificuldades para assegurar o pagamentodos salários.

É preciso reclamar do Ministro quedemonstre que aquelas afirmações sãopara valer, que efectivamente deseja pro-mover o emprego científico (a começarpela sua não redução) e que, em conse-quência , assegure o financiamentonecessário para se manterem os actuaispostos de trabalho no ensino superiorpúblico.

Aos sindicatos cabe o papel de mobi-lizar os docentes nas escolas (ninguémpode considerar-se ao abrigo de, maiscedo ou mais tarde ver o seu vínculolaboral posto em causa) e de pressionaros responsáveis pelas instituições e oMinistério para que os direitos dosdocentes não sejam ofendidos e para queassumam as suas responsabilidades nointeresse do país.

Entretanto, é inaceitável que conti-nue sem ser concretizado o direito aosubsídio de desemprego. Esta luta man-tém-se e será reforçada. Este problematem que ser resolvido, embora nosempenhemos, por outro lado, para quenão haja necessidade de o aplicar a cole-gas nossos. É importante também a ime-diata concretização do sistema de bolsaspara docentes que estiveram vinculadosao ensino superior (público ou privado),acordado com o Ministro em 31 deJulho, após grande pressão sindical.

A FENPROF irá dar continuidade aotrabalho que tem desenvolvido com oSNESup e esforçar-se por estar à alturadas exigências da situação actual.

J. C. S.

NOV EMBRO 2006 ■ SUP AO N .º 212 5

Ensino Superior Público

Os despedimentos não são inevitáveis!

Participe nestas batalhas! É urgente informar os sindicatos

sobre os casos de não renovação decontratos ou de redução de direitosque sejam do seu conhecimento!

Defenda o seu emprego e solidarize-se com os seus colegas mais vulneráveis!

Dê mais força a este objectivo!

Page 6: Novembro de 2006

Ao longo dos últimos anos cresceu,e muito, o número daqueles queexercem uma actividade de

investigação ou conexa, estejam ou nãoem formação, com o estatuto de bolseirode investigação. Ao mesmo tempo,decresceram em termos relativos, se nãomesmo absolutos, as oportunidades deemprego científico. As carreiras técni-cas, de investigação e docente estão pra-ticamente bloqueadas e o sector empre-saria l continua a não absorver emnúmero suficiente trabalhadores científi-cos qualificados, alerta a ABIC, Associ-ação de Bolseiros de Investigação Cien-tífica.

Desta forma, os bolseiros – sejamBICs, BIs, BTIs, de Mestrado, de Douto-ramento, Pós-Doutoramento ou de Ges-tão de C&T – asseguram, com níveisdiversos de responsabilidade, não apenas

uma parte fundamental da investigaçãoque hoje se faz no nosso País, mas tam-bém uma série de actividades conexasque, no seu conjunto, sustentam o funci-onamento do Sistema Científico e Tec-nológico Nacional, lembra a Direcção daABIC.

Não obstante a sua importância, hojeunanimemente reconhecida, persistem, enalguns casos agravam-se, os problemase dificuldades que os bolseiros de inves-

6 SUP A O N .º 212 ■ NOVE MBRO 2006

NACIONAL

Quanto desse dinheiro que vem "a mais" para a Ciência vai ser usado para melhorar a situação daqueles que trabalham em Ciência?

Bolseiros de investigação concentraram-se em S. Bento

tigação enfrentam: a falta de perspecti-vas de inserção profissional uma vez ter-minadas as bolsas; a ausência de protec-ção social digna, com a manutenção àmargem do regime geral de segurançasocial; uma deficiente assistência nadoença e a falta de qualquer assistênciana eventualidade de desemprego; a nãoactualização dos montantes das bolsas –o mesmo é dizer, a diminuição consecu-tiva do seu valor real ao longo dos últi-mos quatro anos; incumprimentos váriosdo Estatuto do Bolseiro de Investigação,nomeadamente nas situações de doença,maternidade e quanto ao pagamentopontual das bolsas; falta de regulamenta-ção de outros pontos do Estatuto, nome-adamente a protecção na doença; umregime de dedicação exclusiva aplicadode forma injusta e pouco racional.

Depois de deixar aquele alerta, aDirecção da ABIC, em nota divulgadaem finais de Outubro, sublinhava:

"O investimento que se faz em Ciên-cia mede-se, em boa medida, pelo inves-timento que é feito naqueles que nelatrabalham, pelas condições de vida e detrabalho que se lhes proporcionam. Asituação hoje vivida pelos bolseiros deinvestigação científica é assim, infeliz-mente, o mais cabal desmentido dassucessivas declarações de aposta naCiência no nosso país.

"Numa altura em que – em sede dediscussão do Orçamento do Estado para2007 – se anuncia novamente o cresci-mento sem precedentes do orçamentopara a Ciência, cabe perguntar com cla-reza: Quanto desse dinheiro que vem amais para a Ciência vai ser usado paramelhorar a situação daqueles que traba-lham em Ciência? "

Carta Europeia do Investigador na gaveta

Impõe-se uma resposta clara e objec-tiva. Entretanto, comenta a ABIC, as

Criação de emprego científico

Uma necessidade imperiosaA criação de emprego científico de qualidade, com direitos, dignificando o trabalho científico,

surge hoje como uma necessidade imperiosa. A falta de investimento nesta área não significa umapoupança para o país, mas pelo contrário um desperdício dos escassos recursos hoje afectos àCiência. De que vale investirmos na formação avançada de recursos humanos se depois estes sevêem empurrados para fora do país ou obrigados, no seu país, a viver em situações altamente pre-cárias, remunerados através de bolsas sucessivas e sem perspectivas de contratos de trabalho?

Neste contexto, é importante garantir as condições necessárias ao bom desempenho dos tra-balhadores científicos, tanto no que diz respeito às condições laborais como aos meios materiaisao seu alcance. O pretexto da contenção das "despesas" não pode justificar, como no passado, amanutenção de injustiças e a desvalorização da força de trabalho qualificada. As situações de pre-cariedade hoje existentes deverão ser corrigidas e não tomadas como referência, para uma harmo-nização "por baixo" das condições de trabalho em C&T.

Recomendações recentes da União Europeia apontam para a necessidade "de criação das con-dições necessárias para carreiras de I&D mais sustentáveis e de maior interesse para os investiga-dores", assinalando que "a sociedade deveria apreciar melhor as responsabilidades e o profissiona-lismo que os investigadores demonstram na execução do seu trabalho" e que os Estados-Membrosdevem envidar esforços para garantir que os investigadores (incluindo nas fases de formação)beneficiem de um conjunto de direitos e regalias sociais básicos. É este caminho que todos - inves-tigadores e demais trabalhadores científicos, bolseiros e não-bolseiros - todos, sublinhamos,somos agora chamados a defender. Em nome da construção de um futuro que não podemos maisadiar!

Direcção da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC)

Page 7: Novembro de 2006

perspectivas já anunciadas não sãofamosas: a contratação a termo (por umperíodo de 5 anos) de 500 investigadoresé notoriamente insuficiente face às actu-ais necessidades do conjunto das insti-tuições de I&D e aos milhares de douto-rados e pós-doutorados em condições deingressar já hoje numa carreira (para jánão falar nos milhares que concluirão oseu doutoramento nos próximos anos).Acresce que não há qualquer garantia deprosseguimento da carreira terminado operíodo de 5 anos, independentementedo mérito do desempenho do investiga-dor. Por outro lado, ignora-se a necessi-dade de contratação, não apenas deinvestigadores, mas também de técnicose técnicos superiores, absorvendo osmilhares de bolseiros BICs, BIs e BTIsque hoje asseguram necessidades destaíndole.

Continuam a ignorar-se as recomen-dações da Comissão Europeia constantesda Carta Europeia do Investigador, queapontam, entre outras coisas, para condi-ções de trabalho justas e atractivas epara a não discriminação dos jovensinvestigadores em início de carreira -mesmo dos que se encontram em forma-ção (caso dos doutorandos), por exemplono acesso à segurança social e regimesde protecção social.

"Por tudo isto, entendemos ser este omomento indicado para dar expressão evisibilidade públicas ao descontenta-mento e insatisfação que percorrem osmilhares de bolseiros de investigação.Para dizer, de forma firme e clara, quealgum do dinheiro que a Ciência vaireceber em 2007 terá de ser usado namelhoria das condições de vida e de tra-balho dos que trabalham em ciência",realça a nota da Associação, que deixaum desafio: "é fundamental que comece-mos a demonstrar a força e a união dosbolseiros de investigação científica emtorno deste objectivo."

Recorde-se, entretanto, que a ABICrealizou no passado dia 30 de Outubro,uma concentração de bolseiros em Lis-boa, em frente à Assembleia da Repú-blica, onde decorreu a iniciativa "Cien-tistas nas Lonas", cujo objectivo foi dara conhecer a contradição existente entreas declarações de aposta e investimentona ciência e a situação hoje vivida pelosbolseiros de investigação. Alguma comu-n i c a ç ã o social esteve presente e umaparte da opinião pública ficou a par dasinjustiças que se vivem neste sector. ■

NOV EMBRO 2006 ■ SUP AO N .º 212 7

Posição da FENPROF e do SNESup

Concurso para bolsas destinadasa docentes desempre g a d o sFoi divulgado (9/11/2006) pela Fundação para a Ciência e Tecnologia o Edital (ver em www.fenprof.pt/superior)que abre,com carácter permanente, embora com sujeição a várias restrições, um concurso para bolsas de qualificação apenas acessível a docentes do ensino superior desempregados ou queestejam desempregados à data em que se inicie a bolsa.

É a primeira medida que resultado esforço desenvolvido em conjuntopela FENPROF e pelo SNESup emvolta das "Seis medidas para a esta-bilidade profissional e para a protec-ção em caso de desemprego" entre-gues no MCTES em 8 de Junho ereafirmadas em reunião com oMinistro em 31 de Julho.

É certamente uma medida posi-tiva, que irá beneficiar muitos cole-gas que perderam o seu posto de tra-balho, não deixando de ser umamedida incompleta, uma vez que onosso objectivo principal é garantirque a valorização dos docentes sefaça com eles nas Escolas, e não nodesemprego. Foi o que defendemosjunto do MCTES, ao apresentarmosos "Termos de Referência". Reformu-laremos a nossa proposta, na parte emque não foi atendida, e voltaremos acolocá-la à consideração do nossointerlocutor, que tem aliás nas suasmãos outras propostas nossas que

aguardam discussão.Não tendo havido um processo

formal de negociação sobre um pro-jecto de texto, estaremos atentos àsdúvidas e dificuldades de aplicaçãoque o Edital possa suscitar, e intervi-remos junto do MCTES e da FCTem caso de necessidade. Aliás ire-mos propor a nossa participação numgrupo de acompanhamento desteprograma de bolsas.

Como a presente medida, atépelas suas restrições, não substitui osubsídio de desemprego, direitoconstitucional, direito de cidadania,iremos convocar dentro de dias avossa atenção para a proposta quecolocámos à Assembleia da Repú-blica para inclusão na Lei do OEpara 2007 e que estamos agora aapresentar em reuniões com os gru-pos parlamentares.

A FENPROF O SNESup10/11/2006

Page 8: Novembro de 2006

JF/Sup – Como é que a Universidadede Lisboa encara o desafio deBolonha?António Nóvoa – Bolonha é uma metá-fora que signif ica muitas coisas aomesmo tempo. Poderíamos falar dasquestões do financiamento, que, naminha opinião, estão na origem desteprocesso. Mas deixarei o financiamento(assunto dramático neste dia em queconversamos…) para outro momento. OProcesso de Bolonha foi insuficiente-mente preparado dentro das instituições.No caso da Universidade de Lisboa,assumo também a minha parte deresponsabilidade nesta situação. Asinstituições estiveram, à portuguesa, naexpectativa das orientações do Governo,em vez de irem fazendo o seu trabalhode casa, avançando numa série de assun-tos que eram da sua exclusiva competên-cia. Quando a orientação governamentalfinalmente chegou, com grande atraso, ealguma ligeireza, as instituições ficaramperante um dilema: ou se adaptavam aBolonha (e ir-se-iam adaptar malporque não havia tempo) ou não seadaptavam a Bolonha (e ficariam mar -cadas por um certo estigma de imobi -lismo).

JF/Sup – Pode-se dizer, então, queBolonha está a correr mal?A. N. – O Processo de Bolonha está acorrer mal, porque há muita cosmética epouca mudança efectiva. Alterou-se aduração dos cursos e, nalguns casos, asua designação. Avançou-se para umadescrição dos cursos através dos créditoseuropeus (ECTS). Mas não se tocou noaspecto central: uma nova organizaçãodo trabalho universitário, centrado nos

8 SUP AO N .º 212 ■ NOVE MBRO 2006

ENTREVISTA

Professor António Nóvoa, Reitor da Universidade de Lisboa:

“Bolonha está a corre r malporque há muita cosméticae pouca mudança efectiva”

Texto: José Paulo Oliveira ■ Fotos: Jorge Caria

"O Governo decidiu um corte cego para as instituiçõesdo Ensino Superior: 6,2 por cento a menos, nominalmente, comparando com as verbas do ano passado. É um corte superior ao das instituições desaúde, das autarquias locais e das entidades do empregoe formação profissional. É o maior corte do ponto devista orçamental, nas grandes despesas do Estado. O Governo tem legitimidade política para o fazer. Mas não tem legitimidade para alimentar na opiniãopública a ilusão de que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior foi o único ministério que subiu no Orçamento para 2007. E não tem o direito de fazer estes cortes, superiores aode qualquer outro sector, e, ao mesmo tempo, continuara propagandear que a sua primeira prioridade é a ciência, o conhecimento e a qualificação dos portugueses."

A s palavras são do Profes-sor António Sampaio daNóvoa, Reitor da Univer-

sidade de Lisboa, numa entre-vista exclusiva ao JF/Sup, conce-dida nas vésperas da abertura doAno Académico da UL.

Além das questões do financi-amento e dos reflexos do Orça-mento de Estado para 2007 navida das instituições de EnsinoS u p e r i o r, dos desafios de Bolo-nha e da possível integração dasescolas politécnicas da capital naUL, António Nóvoa fala-nos dapolítica de rigor na abertura da

Universidade a novos públicos edos efeitos prát icos de umarecente viagem à China onde oreitor participou num grandeFórum internacional que reuniudez reitores de grandes Universi-dades do Mundo e os reitoresdas cem melhores Universidadeschinesas.

Naturalmente, a centralidadeda investigação científica e a lei-tura que o prestigiado reitor fazdos acordos com o MIT e a Car-negie Mellon Univers ity nãopodiam deixar de estar presentesnesta conversa com o JF/Sup.

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NOVEMBRO 2006 ■ S UP AO N. º 212 9

Page 10: Novembro de 2006

estudos, na aprendizagem e na proximi-dade às práticas de investigação (labo-ratórios, bibliotecas, recursos on-line,etc.). Quero insistir neste ponto: há umaresponsabilidade das instituições, mas hátambém uma grande responsabilidade doGoverno pelo modo como lançou esteprocesso, induzindo alterações superfici-ais, devido à falta de tempo e à ausênciadas condições e dispositivos necessáriospara uma mudança em profundidade.

JF/Sup – Neste cenário, o que é que épreciso fazer?A. N. – Na Universidade de Lisboa esta-mos a actuar, neste momento, em duasdirecções principais. A primeira é umareorganização dos cursos, rompendocom uma excessiva especialização(sobretudo no 1º ciclo) e procurandoassegurar uma formação de base, cientí-fica e cultural, em grandes áreas doconhecimento (e, nalguns casos, emnovas áreas interdisciplinares). Estamosa pensar a nossa oferta de formação nãoapenas dentro da geometria tradicionaldas faculdades, mas sugerindo formas dearticulação e de coordenação transversal.Não quero ser demasiado optimista, masjulgo que começamos a ver algunsfrutos.

JF/Sup – Pode dar-nos um exemplo?A. N. – Dou-lhe como exemplo a cria-ção de uma nova licenciatura em Ciên-cias da Saúde, transversal à Universi-dade de Lisboa, com contributos decinco Faculdades (Medicina, Ciências,Farmácia, Medicina Dentária e Psicolo-gia). Estamos perante um exemplo con-

creto – podia dar-lhe outros – de um tra-balho de reorganização da oferta de for-mação, que está a ser realizado comprudência, mas com uma visão defuturo.

Aconselhamento e apoio aos estudantes no centro do trabalho pedagógico

JF/Sup – O outro “instrumento demudança”…A. N. – A outra linha de trabalho, aindaa dar os primeiros passos, prende-se coma orientação dos estudos e novos modosde organização do trabalho universitário. O que é que isto quer dizer? Quer dizerque o aconselhamento dos estudantes, at u t o r i a, o seu enquadramento, têm hojeuma centralidade que não tinham no pas-sado. Quando olhamos para as práticasde prestigiadas universidades interna-cionais (por exemplo, Harvard ouOxford), vemos a importância que esteassunto adquire. A diversidade de per-cursos, a mobilidade e a ligação entre osdiferentes ciclos de estudos exigem umaatenção muito grande ao enquadramentoe à orientação dos estudantes, sobretudonos primeiros anos. Não podemos con-tinuar a olhar com indiferença para aspercentagens assustadoras de estudantesque têm insucesso ou que abandonam osestudos logo nos primeiros anos. Esta-mos a consolidar estruturas que possamassumir-se com lugares de orientaçãodos estudos, que ajudem os alunos aenquadrar-se nas lógicas de Bolonha.Seguir um percurso de dois ciclos (licen-ciatura e mestrado)? Fazer uma licen-

ciatura e, depois de uma experiênciaprofissional, regressar à universidadepara frequentar um mestrado? Realizaroutro tipo de percurso escolar? É precisoque os estudantes encontrem espaçosonde possam debater e construir os seuspróprios caminhos.

JF/Sup – Mas foi criado também umobservatório na Universidade...?A. N. – É verdade, ao lado destas estru-turas, já criámos um o b s e r v a t ó r i o q u enos ajudará a conhecer melhor os nossosestudantes, a analisar os fenómenos deinsucesso e de abandono escolar, aavaliar as estratégias de inserção dosnossos diplomados no mercado de tra-balho. Este observatório, sob a direcçãoda Doutora Ana Nunes de Almeida, éum instrumento essencial para a Univer-sidade de Lisboa. Claro que estasmudanças exigem que o trabalho univer-sitário passe a estar organizado de outramaneira, mais em torno dos estudos e daaprendizagem dos estudantes do que emtorno das aulas e dos planos curriculares.E exigem também uma nova preparaçãoe uma nova atitude dos professores, quedevem valorizar a formação cultural ecientífica de base, a orientação eenquadramento dos estudantes e a proxi-midade às práticas de investigação, deprodução científica e de inovação.

Integração do Politécnico na UL:êxito se o País e se todas as partesganharem

JF/Sup – Confirma-se que os estabe-lecimentos de ensino superior politéc-nico da capital poderão vir a ser inte-grados na Universidade de Lisboa?A. N. – É verdade que se desenvolve umdebate nesse sentido. É do domíniopúblico. Temos estado a trabalhar comoos nossos colegas do Instituto Politéc-nico de Lisboa a possibilidade de inte-gração das suas escolas na Universidadede Lisboa – o ISEL, a Escola Superiorde Educação, a Escola de Tecnologiasda Saúde, a Escola de ComunicaçãoSocial, o ISCAL e as três Escolas deArtes (Teatro e Cinema, Música eDança). Há também perspectivas de inte-gração na UL das quatro escolas superi-ores públicas de Enfermagem, actual-mente em processo de fusão. Mas é umlongo caminho, que exige muito trabalhoe que só terá sucesso se, em conjunto,formos capazes de construir soluções que

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ENTREVISTA

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sejam boas para as diversas instituições eque sejam úteis para o país.

JF/Sup – Estamos perante uma novaetapa na reorganização do EnsinoSuperior…A. N. – Há muito tempo que se fala danecessidade de reorganização da rede doEnsino Superior em Portugal. O dia-gnóstico está feito. É repetido ano apósano por grupos, comissões e peritos.Fala-se muito, mas faz-se muitopouco… Num país fechado em fron-teiras institucionais muito rígidas, asdificuldades são imensas. É necessáriomuita determinação e uma grandecapacidade de diálogo. A confiançamútua é essencial para o êxito destecaminho. Mas é evidente que pre-cisamos, em Portugal, de instituiçõescom mais “massa crítica” e com umamaior dimensão que lhes permita com-petirem no espaço europeu do ensinosuperior. Estas propostas apontam paraum enriquecimento mútuo das institui-ções, no respeito pelas suas histórias eidentidades, e no quadro de uma diversi-dade de formações – umas mais denatureza universitária, outras mais denatureza politécnica. Não está em causaacabar com essa diversidade. O quequeremos é que ela se organize no con-texto de uma instituição mais forte, commaior capacidade de intervenção nasociedade.

JF/Sup – É caso para dizer: toda agente ficaria a ganhar…A. N. – Um projecto destes, que é muitoambicioso – é uma pedrada no charcona mediocridade e na pacatez em quemuitas vezes se vive no Ensino Superiorem Portugal – só terá êxito se toda agente ganhar: se ganhar a Universidadede Lisboa, alargando o seu âmbito deacção; se ganharem as escolas politécni-cas, inserindo-se num espaço institu-cional mais amplo e em redes científicasmais fortes; e, naturalmente, se ganhar oPaís, ou seja, se as soluções que viermosa encontrar forem positivas e úteis para areorganização da rede do Ensino Supe-rior. Acreditamos que estamos a dar umsinal muito importante aos responsáveispolíticos, aos universitários e à socie-dade portuguesa no seu conjunto. Vive-mos este processo com grande responsa-bilidade e determinação, mas nãodesconhecemos as dificuldades para olevar a bom termo.

JF/Sup – O senhor Reitor tem algumf e e d b a c k das reacções e da formacomo as instituições do Politécnicoencaram este desafio?A. N. – Julgo que há muitas preocu-pações, muitas dúvidas, mas uma cons-ciência clara da importância destedesafio. Ao longo dos últimos dois anos– recorde-se que este processo foi inicia-do no anterior mandato reitoral – tive-mos dezenas de reuniões, tanto com apresidência do Politécnico como com osórgãos de governo das escolas e com osestudantes. Estamos a construir solu-ções. Veremos se há energia e vontadesuficiente para as concretizar…

Novos públicos: um processo de rigor

JF/Sup – Como é que a UL encara odesafio dos novos públicos e da selecçãode candidatos com mais de 23 anos?

A. N. – A questão dos novos públicos éfundamental. Colocou-se em muitospaíses, por exemplo no Canadá, há cercade 30 anos atrás; e, na Europa, há cercade 15 ou 20 anos. É um assunto queconheço bem. É muito interessante paramim estar hoje, como Reitor, a trabalharmatérias que foram temas centrais daminha própria formação universitária eda minha actividade como investigadorhá 20 anos atrás. Quando o Governocriou a possibilidade de os maiores de23 anos se candidatarem directamente àUniversidade, organizámos um sistemainovador para a realização das provas deacesso. Estamos orgulhosos de um pro-cesso que decorreu, a vários títulos, deuma forma exemplar. Sabemos que nãose passou assim em todas as instituiçõese que é preciso haver muito cuidado erigor. Preocupa-nos esta situação, umavez que a abertura da Universidade anovos públicos exige processos degrande credibilidade, interna e externa.

JF/Sup – Como é que decorreu esteprocesso na Universidade de Lisboa?A. N. – Na Universidade de Lisboa,houve grande seriedade e transparência.Toda a documentação está no nosso sítiona Internet, à disposição dos interessa-dos: as provas, o modo como foram rea-lizadas e avaliadas, os critérios de selec-ção, etc. Mas, para além deste primeiromomento – a selecção dos estudantes –há outros dois ainda mais importantes.Por um lado, o acolhimento destes adul-

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"Há uma responsabilidade das instituições, mas há também uma grande responsabilidade do Governopelo modo como lançou este processo (Bolonha), induzindo alterações superficiais, devido à falta detempo e à ausência das condições e dispositivos necessários para uma mudança em profundidade."

“Aquilo que se propõe no OE/2007 é dramático(geralmente não utilizoestas palavras, mas nestecaso não há outro adjectivo)! O Governodecidiu um corte cego para as instituições do Ensino Superior.”

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tos e o reconhecimento da sua experiên-cia profissional anterior, pois não sepode tratar uma pessoa de 35 anos queentra para a Universidade da mesmamaneira que se trata um jovem de 18anos que acabou de concluir o ensinosecundário. É preciso criar estruturas deacolhimento destes públicos e dereconhecimento da sua experiênciaprofissional – a famosa creditação ouvalidação dos adquiridos (tema degrande debate no Canadá no início dosanos 80). Por outro lado, estes adultosdevem seguir percursos universitários eter condições de frequência dos cursosque facilitem uma articulação com a suavida profissional (horários nocturnos, e-- l e a r n i n g, dispositivos de avaliação,etc.). O acesso, a creditação da experiên-cia e a criação de condições adequadassão três momentos que devem serdefinidos com rigor e permanente acom-panhamento e avaliação. Caso contrário,perderemos mais uma oportunidade decontribuir utilmente para a qualificaçãodos portugueses e, ao mesmo tempo,para a renovação das instituições. É umdesafio que não pode ser perdido.

JF/Sup – Atingiram-se as expectati-vas?A. N. – Tivemos muitos candidatos.Mas, globalmente, os números não sãomuito significativos. E é bom que assimseja... O pior que se pode fazer num pro-cesso deste tipo é utilizá-lo para “com-pensar” a falta de estudantes oriundos doensino secundário. É um erro. Por isso, fixámos desde o princípio quo-tas razoavelmente baixas, considerandoque é necessário um tempo de experi-mentação e de adaptação das institui-ções. Um processo mal conduzidolevaria ao descrédito de uma iniciativada maior importância para o país e paraa Universidade.

Instituto Confucius na Universidade de Lisboa

JF/Sup – Que balanço nos pode fazerda sua recente viagem à China?A. N. – Foi uma viagem muito surpreen-dente. Conheço bem as universidadeseuropeias, norte-americanas e sul-ameri-canas, mas nunca tinha visitado as uni-versidades chinesas. É uma realidadeimpressionante, tal o investimento que aChina está fazer no Ensino Superior.Impressionante do ponto de vista das

infra-estruturas e equipamentos, dosesforços de qualificação do pessoaldocente, de tentativa de aproximação àsuniversidades de referência no mundo.Refiro apenas dois aspectos. Primeiro, agrande preocupação com o serviço àsociedade, tema do Fórum para o qualfui convidado. Objectivo: desenvolvernas universidades lógicas de inovação,de transferência tecnológica, de apoio aodesenvolvimento. A relevância social e aaplicabilidade dos conhecimentos sãoum tema constante. Neste Fórum, emque participaram dez reitores de grandesUniversidades do Mundo e os reitoresdas cem melhores Universidades chine-sas, quase todas as perguntas iam nessa

direcção. A segunda dimensão apontapara uma palavra de ordem assumidacom grande determinação: “queremos seros melhores, queremos ter as melhoresinstituições, queremos ser instituições dereferência, não só no plano interno daChina mas num quadro de competitivi -dade global, queremos ter os melhores emais talentosos estudantes, queremos terum corpo docente altamente qualifi -c a d o ” . Há uma grande ambição e há ascondições e os recursos para a tornarrealidade num futuro próximo.

JF/Sup – É impossível não pensar,entretanto, na realidade portuguesa…

A. N. – Este discurso existe também nasociedade portuguesa. E ainda bem. Adiferença reside no facto de os chinesesconsiderarem que nada será obtido semum reforço e uma consolidação das insti-tuições universitárias, enquanto que, emPortugal, parece apostar-se numa“erosão” das Universidades como formade abrir espaço para a emergência deoutras instituições. Quais?! Quem ocupalugares de poder tem o dever de criar osinstrumentos para a reforma e para amudança das instituições, não se limi-tando a dissertar levianamente sobre a“irreformabilidade das universidades”.Neste caso, a leviandade é sinónimo dedemissão e de resignação. A China estáa dar uma grande lição no plano da reno-vação do tecido universitário a partir deuma renovação e de um reforço das suasinstituições.

JF/Sup – Pode apontar-nos algunsaspectos positivos dessa viagem àChina para a dinâmica da Universi-dade de Lisboa?A. N. – Celebrámos convénios com algu-mas das melhores universidades chine-sas, que já estão a dar frutos importantes.E assinámos com o Governo chinês umprotocolo para a criação na UL do Insti-tuto Confucius, que será uma p l a c ag i r a t ó r i a de futuras colaborações, aonível universitário, empresarial, cultural,científico e comercial. Este InstitutoConfucius, que abrirá até ao final do ano,tem objectivos semelhantes ao InstitutoBritânico ou ao Instituto Franco-Por-tuguês. Mas o Governo chinês segue apolítica de instalar estes Institutos dentrode uma Universidade, o que confirma oque lhe disse anteriormente. É umaaposta clara no papel das Universidadescomo lugares de serviço à sociedade.

JF/Sup – A presença do Reitor daUniversidade de Lisboa neste fórumde uma semana na China foi tambémuma afirmação do prestígio interna-cional da UL…A. N. – Foi um convite que muito noshonrou. Estivemos reunidos com reitoresde algumas das melhores universidadesdo Mundo. Mas não entrarei no provin-cianismo habitual. Nós sabemos ondeestamos. Sabemos o que valemos. Sabe-mos quais são as nossas forças e as nos-sas fragilidades. A nossa competição nãoé com as outras universidades portugue-sas , mas antes no plano europeu e

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ENTREVISTA

“A diversidade de percursos,a mobilidade e a ligaçãoentre os diferentes ciclosde estudos exigem umaatenção muito grande aoenquadramento e à orientação dos estudantes,sobretudo nos primeirosanos. Não podemos continuar a olhar comindiferença para as percentagens assustadorasde estudantes que têminsucesso ou que abandonam os estudoslogo nos primeiros anos.”

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mundial. Gostaríamos que a nossa acçãocontribuísse para promover a qualidadee o prestígio do ensino superior e daciência no conjunto do país.

Orçamento 2007: corte cego nas Universidades

JF/Sup – O Orçamento de Estadopara 2007 apresenta cortes preocu-pantes no financiamento das universi-dades. Como é que o senhor Reitorencara esta situação?A. N. – De acordo com todos os indi-cadores publicados pela OCDE, Portugalé um dos países que tem níveis maisbaixos de investimento no Ensino Supe-rior. A despesa por estudante em Portu-gal é mais baixa do que em qualqueroutro país europeu. Dou-lhe mesmo umdado curioso e estranho: em Portugal,contrariamente ao resto do mundo, umestudante do ensino superior é mais“barato” do que um aluno do ensinosecundário ou mesmo do que um alunode um curso de formação profissional?!O comissário europeu da Educação, JánFigel, tem alertado para o s u b f i n a n c i a -m e n t o crónico das universidadeseuropeias. No caso português a situaçãoé bem pior ainda e aquilo que se propõeno OE para 2007 é d r a m á t i c o ( g e r a l-mente não utilizo estas palavras, masneste caso não há outro adjectivo)! OGoverno decidiu um corte cego para asinstituições do Ensino Superior: 6,2 porcento a menos, nominalmente, compa-rando com as verbas do ano passado. Éum corte superior ao das instituições desaúde, das autarquias locais e das enti-dades do emprego e formação profis-sional. É o maior corte do ponto de vistaorçamental, nas grandes despesas doEstado.

JF/Sup – O Executivo tem maioria emS. Bento...A. N. – O Governo tem legitimidadepolítica para o fazer. Mas não tem legiti-midade para alimentar na opiniãopública a ilusão de que o Ministério daCiência, Tecnologia e Ensino Superiorfoi o único ministério que subiu noOrçamento para 2007. E não tem o direi-to de fazer estes cortes, superiores ao dequalquer outro sector, e, ao mesmotempo, continuar a propagandear que asua primeira prioridade é a ciência, oconhecimento e a qualificação dos por-tugueses.

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"Temos estado a trabalhar como os nossos colegas do Instituto Politécnico de Lisboa a possibilidade de

integração das suas escolas na Universidade de Lisboa – o ISEL, a Escola Superior de Educação, a Escola de

Tecnologias da Saúde, a Escola de Comunicação Social,o ISCAL e as três Escolas de Artes (Teatro e Cinema,

Música e Dança). Há também perspectivas de integraçãona UL das quatro escolas superiores públicas de

Enfermagem, actualmente em processo de fusão. Mas é um longo caminho, que exige muito trabalho

e que só terá sucesso se, em conjunto, formos capazesde construir soluções que sejam boas para as diversas

instituições e que sejam úteis para o País."

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associam os cortes orçamentais àdiminuição do número de alunos…A. N. – Em anos anteriores, os cortesorçamentais foram sempre justificadoscom a diminuição do número de estu-dantes. Desta vez, o Governo não podeutilizar esse argumento, pois o númerode estudantes aumentou. É claro que se oPaís não tem dinheiro, temos de assumircom coragem a necessidade de reduzirdespesas. Mas isso faz-se com políticassérias, que permitam às universidades terestratégias de reforma e de reorganiza-ção. Não se faz com cortes cegos, semdar às instituições os instrumentosnecessários para a sua renovação. Colo-car as instituições perante orçamentosirrealistas, sem autoridade e sem instru-mentos legais para uma gestão eficiente,é a pior demagogia que se pode fazer doponto de vista político. Não é com com-portamentos v e l h o s deste estilo que sepode criar o “Portugal futuro”.

A centralidade da investigação científica

JF/Sup – Para além do que o senhorReitor já pormenorizou, pode-nosavançar mais um apontamento sobreas perspectivas do mandato da suaequipa?

A. N. – Não vale a pena estar numa Uni-versidade para ter ambições pequenas.São grandes as nossas ambições. Queroque a Universidade de Lisboa acom-panhe os novos desafios da contempo-raneidade, da ciência e do conheci-mento. Estou aqui como reitor enquantosentir que de algum modo posso con-tribuir, em trabalho de equipa, com osmeus colegas, para cumprir es tedesígnio. Posso acrescentar dois elemen-tos sobre a nossa ambição. O primeiro –e mais importante – prende-se com ainvestigação. Há hoje uma centralidadeda investigação científica que é extrema-mente importante para a Universidade eque está a ser posta em causa por certosaspectos da política do Governo. Não édesejável fazer acordos à margem dasinstituições. A investigação deve estarno centro do trabalho universitário,numa perspectiva de produção científica,de desenvolvimento e transferência tec-nológica, colocando a universidade aoserviço do País e da inovação. Os acor-dos com o MIT, a Carnegie Mellon Uni-versity e outras universidades norte-americanas são muito importantes. Maseles devem servir para reforçar as insti-tuições universitárias portuguesas, aju-dando-as num processo de renovaçãosegundo padrões internacionais. Ora,

JF/Sup – No extremo, que consequên-cias poderá ter esta política de cortesorçamentais na vida futura das insti-tuições de Ensino Superior?A. N. – Deixe-me acrescentar que,inopinadamente, sem qualquer avisoprévio, se introduziu na lei orçamentaluma alínea obrigando as universidades adescontarem 7,5% para a Caixa Geral deAposentações. Tendo em conta que,infelizmente, o orçamento das universi-dades é constituído, na sua quase totali-dade, por encargos com salários, é pos-sível somar estas parcelas e falar de umaredução, de um ano para o outro, decerca de 14% (6,2% + 7,5%). É tãoirrealista e insustentável que custa a crerque alguém o possa propor. As universi-dades tornar-se-iam ingovernáveis eficariam condenadas à paralisia ou aoencerramento. Estes cortes são cegos,pois o Governo não promoveu qualquermedida de fundo, do ponto de vistalegal, que desse às universidades osinstrumentos necessários à sua reforma.Estou a falar, por exemplo, de um novoEstatuto da Carreira Docente Univer-sitária, de uma nova lei do financia-mento ou de medidas de reorganização ede racionalização da rede do ensinosuperior. Parece que este Governo nãoquer fazer as coisas difíceis, as reformasde fundo, limitando-se apenas a cortarde forma cega.

JF/Sup – Até onde podem chegar asconsequências desta política?A. N. – Esta política empurra as institui-ções para as políticas mais medíocres:sem os instrumentos legais para as refor-mas de fundo, são obrigadas a cortar noque podem, desde as despesas de fun-cionamento (degradação dos edifícios,diminuição de horários de abertura delaboratórios e bibliotecas, etc.) até àdenúncia dos contratos mais precários,mas que são muitas vezes os maisimportantes para a renovação das insti-tuições (jovens cientistas, docentes emprincípio de carreira, profissionais comestatuto de convidados, etc.). Estamosperante uma política profundamenteerrada, que vai contra tudo o que são asperspectivas de renovação, de promoçãodo mérito, de melhoria da qualidade dasinstituições. Podemos estar a comprome-ter, seriamente, o futuro das universi-dades. Será este o objectivo?

JF/Sup – Geralmente, os Governos

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ENTREVISTA

“A questão dos novos públicos é fundamental. Colocou-se em muitos países, por exemplo no Canadá,há cerca de 30 anos atrás; e, na Europa, há cerca de 15 ou 20 anos. É um assunto que conheço bem. É muito interessante para mim estar hoje, como Reitor,a trabalhar matérias que foram temas centrais da minhaprópria formação universitária e da minha actividadecomo investigador há 20 anos atrás.Quando o Governo criou a possibilidade de os maioresde 23 anos se candidatarem directamente à Universidade, organizámos um sistema inovador paraa realização das provas de acesso. Estamos orgulhososde um processo que decorreu, a vários títulos, de umaforma exemplar. Sabemos que não se passou assim emtodas as instituições e que é preciso haver muito cuidado e rigor. Preocupa-nos esta situação, uma vezque a abertura da Universidade a novos públicos exigeprocessos de grande credibilidade, interna e externa.”

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contrariamente ao que se pensa, osórgãos de governo das universidadesforam claramente marginalizados nesteprocesso, tendo havido a opção de con-tactar directamente grupos e investi-gadores escolhidos directamente peloMinistério. São estratégias que con-tribuem para o desgaste das instituiçõese não para a sua renovação. No seu sim-bolismo, as cerimónias de assinatura dosprotocolos foram cuidadosamentepreparadas. Elas ilustram esta marginali-zação. Falou o Ministro da Ciência,falou o Secretário de Estado, numa dascerimónias falou o Presidente da Fun-dação para a Ciência e Tecnologia,falaram os representantes das Universi-dades norte-americanas, encerrou oPrimeiro-ministro. Onde esteve a vozdas Universidades portuguesas?

Não há abertura à sociedade se não houver prestação de contas

JF/Sup – O senhor Reitor ia aindafalar de um outro aspecto relevante domandato?A. N. – Um segundo aspecto, também degrande alcance nas nossas preocupações,é a abertura da Universidade ao exterior.A Universidade tem de prestar contas àsociedade. Neste sentido, tomámos umadecisão da maior importância: a consti-tuição de um Conselho Consultivo, compersonalidades de grande prestígionacional e internacional, personalidadesde referência da vida política ,económica, cultural, científica e social.Este Conselho vai assumir um papel deorientação estratégica da Universidade e,

ao mesmo tempo, contribuir para umaavaliação do nosso trabalho. Não háabertura à sociedade se não houverprestação de contas. Não há abertura àsociedade se o próprio Reitor, além deter de prestar contas internamente, nãoas apresentar externamente e a órgãoscomo o referido Conselho Consultivo.Pelo nome da personalidade que aceitoupresidir a este Conselho, Dr. Jorge Sam-paio, é fácil perceber a importância queele vai desempenhar na vida da Univer-sidade de Lisboa. É uma experiência quepode vir a ser, nos próximos anos, umelemento fundamental para a mudançado governo das universidades, um temade que tanto se fala, mas que não temdado origem a iniciativas concretas.Queremos ser pioneiros, também nestedomínio. ■

“Os acordos com o MIT, a Carnegie Mellon University e outras universidades norte-americanas são muito importantes. Mas eles devem servir para reforçar asinstituições universitárias portuguesas, ajudando-as num processo de renovação segundo padrões internacionais. Ora, contrariamente ao que se pensa, osórgãos de governo das universidades foram claramente marginalizados neste processo, tendo havido a opção de contactar directamente grupos e investigado-res escolhidos directamente pelo Ministério. São estratégias que contribuem para o desgaste das instituições e não para a sua renovação.”

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NACIONAL

AFENPROF e o SNESup reuniramno passado dia 31 de Julho com oMinistro Mariano Gago, tendo

alertado para muitas situações de desem-prego no ensino superior público (entre-tanto agravadas), permitidas pelo elevadograu de precariedade profissional queafecta um grande número de docentes,ainda sem direito ao subsídio de desem-prego, e tendo reclamando do ministromedidas concretas e urgentes que pos-sam estancar a vaga de despedimentosque se teme esteja em preparação porvárias instituições para o início do pró-ximo ano lectivo, já em Setembro.

O Ministro reconheceu que não eraaceitável que docentes com bastantesanos de serviço, com experiência lectivae tendo realizado numerosos estudos,fossem despedidos devido às exigênciasda reestruturação do ensino superior.

O Prof. Mariano Gago informou que,neste sentido, estava a preparar um "pro-grama para a qualificação dos docentesdo ensino superior" visando não desper-diçar os recursos humanos existentes nasinstituições. Este programa seria apli-cado no início do ano lectivo após con-tactos com as instituições e negociaçõescom as organizações sindicais, cujosdestinatários poderiam ser não apenasdocentes cujos contratos não tenhamsido renovados, como outros docentescom contrato precário em vigor.

Por outro lado, o Ministro mostrou--se disponível para estudar as situaçõesque lhe fossem apresentadas relativas ainstituições que atravessem maiores difi-

culdades, tendo afirmado que nos casosem que tal se justificasse aquelas seriamapoiadas pelo MCTES durante um perí-odo de transição.

A FENPROF e o SNESup considera-ram como positivas as medidas anunciadase obtiveram a anuência de Mariano Gagopara a realização de reuniões no Ministériode natureza técnica e política com vista àprocura de soluções para outros problemasque afectam a situação profissional dosdocentes e dos investigadores.

Igualmente foi considerada positiva asolicitação feita pelo Ministro à FEN-PROF e ao SNESup para que lhe passem

a ser veiculadas, atempadamente, infor-mações sobre as situações anómalas deque tenham conhecimento por forma apoder tê-las em linha de consideração nasua intervenção.

Contudo, as duas organizações sindi-cais afirmaram ao Ministro que as medi-das anunciadas não eram substitutivasdo subsídio de desemprego pelo queiriam prosseguir a sua batalha pelo reco-nhecimento daquele direito, uma vez queaté ao momento, nem o Governo, nem aAssembleia da República legislaram nosentido do exigido por um acórdão doTribunal Constitucional de 2002. ■

Reunião no MCTES

Promessas de Verão…

Representantes da FENPROF e do SNESup reuniram com o Ministro Mariano Gago em 31 de Julho

Manifestação de 25 de Novembro

Reportagem no próximo número

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NOVEMBRO 2006 ■ S UP AO N. º 212 1 7

4ª Conferência de Organização Sindical promovida pela CGTP-IN

Responder com dinamismo e inovaçãoaos desafios que estão aí

Há que inovar continuamente aspráticas de acção com vista aassegurar com eficácia o con-

tacto regular com os trabalhadoresnos locais de trabalho, a identificaçãoe resposta aos seus problemas, aassunção dos seus anseios e expectati-vas sócio-profissionais e o apontar doscaminhos para a sua realização.

Esta tónica de inovação e de reforçoda intervenção sindical está bem patenteno projecto de documento-base da 4ªConferência de Organização Sindicalque a CGTP-IN vai realizar no início dopróximo ano de 2007.

A organização e a acção sindical debase; os quadros sindicais; e a reestrutu-ração sindical e o reforço da Central sãoos três eixos temáticos da Conferência.

Tendo com lema “Dar mais força aosSindicatos!”, a iniciativa, que se insere

nas actividades preparatórias do XI Con-gresso da Inter, poderá incentivar odebate em torno das necessárias estraté-gias sindicais para responder à “comple-xidade da situação social e laboral”,motivada por fenómenos como a desre-gulação, as arbitrariedades, as flexibili-dades, as precariedades e a desumaniza-ção e desvalorização do trabalho.

Para a Central é necessária uma“maior intervenção no terreno, maisestudo, formação e domínio dos proble-mas, com mais profundo conhecimentodas expectativas e das atitudes dos traba-lhadores”, para além da “adopção depráticas inovadoras e o consequentecombate a rotinas e estilos de trabalhoinadequados para promover uma maisampla participação dos trabalhadores navida e na actividade sindical”.

JPO

Manuel Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP-IN

CGTP-IN:

Orçamento de Estado não serve o País

OOrçamento de Estado para 2007revela a incapacidade do Governopara definir e concretizar uma

estratégia de desenvolvimento. Comefeito, é necessário definir prioridades,tendo em conta a difícil situação que oPaís atravessa, para depois atribuirrecursos financeiros necessários paraalcançar os objectivos previstos, subli-nha a CGTP-IN numa apreciação ao OEque só a bancada PS aprovou em SãoBento.

A Inter tem desde há muito apresen-tado propostas concretas para uma polí-tica de desenvolvimento. Assegurar umcrescimento económico significativo,não inferior a 3%, é essencial, designa-damente para assegurar níveis elevadosde emprego, mesmo que não seja só porsi suficiente para assegurar o desenvol-vimento económico e social do País.

Porém, a economia apresentou cresci-mentos muito fracos nos últimos 6 anos,que nos fizeram divergir da média euro-peia. A proposta de OE acentua estadivergência.

No entender da Central, o OE deve-ria responder com medidas de mobiliza-ção de recursos e de vontades que supor-tem políticas de investimento capazes deproduzir as mudanças necessárias nopaís.

Dar prioridade ao tecido produtivo,

ao emprego e salários, dinamizar a con-tratação colectiva e valorizar os direitosdos trabalhadores e concretizar políticassociais avançadas que reduzam as desi-gualdades sociais devem constituir asbases para um crescimento sustentado epara a elevação da produtividade. O OEapresentado não se suporta num enqua-dramento destes objectivos.

A defesa dos postos de trabalho tra-vando os encerramentos de empresas e asdeslocalizações, a modernização dasestruturas produtivas com aproveita-mento dos recursos e valorizações dasproduções nacionais, a valorização daspolíticas industriais, o reforço do investi-mento público e privado e o fim de umapolítica de privatizações quer no âmbitoempresaria l quer na Adminis traçãoPública, são políticas indispensáveis, maso OE não as perspectiva nem incentiva.

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Oestudo, organizado pela OCDE,foi apresentado publicamente nopassado dia 12 de Setembro. A

Internacional de Educação preparou umdocumento com a sua apreciação críticaao estudo (www.ei-ie.org/en/news/show.php?id=256) a fim de ajudar as organi-zações integrantes a tomar posiçãopública.

Com este trabalho pretendemos ape-nas chamar a atenção para os dados refe-rentes a Portugal, especialmente aoEnsino Superior, e a sua posição relativaentre os estados membros. Procura-setambém clarificar os indicadores apre-sentados.

O estudo está organizado em quatrograndes áreas:

A. Os resul tados do sis tema deensino e o impacte da educação;

B. Os recursos humanos e financei-ros investidos no ensino;

C. O acesso ao ensino e à formaçãoao longo da vida;

D. O ensino e a organização dasescolas;

sobre cada uma das quais, excepto aúltima (por não reportar qualquer dadosobre o Ensino Superior) passamos aapresentar os aspectos mais relevantes.

Os resultados do sistema de ensino e o impacte da educação

A1. Distribuição da população,entre os 25 e os 64 anos, segundo omais elevado nível escolar obtido.

61% da população adulta portuguesa,na faixa entre os 25 e os 64 anos, nãodispõem de mais do que o ensino primá-rio, aos quais acrescem 14% que apenascompletaram o ensino básico. Estesdados colocam Portugal no penúltimolugar dos 30 países da OCDE, quer seatente à percentagem só com o ensinoprimário onde a Turquia ocupa o últimolugar com 64%, quer se atente ao con-junto que integra primário+básico cujoúltimo lugar é ocupado pelo Méxicocom 77%, embora este valor inclua o

secundário. Os 75% de portugueses quecompletaram no máximo o ensino básicorepresentam mais do dobro da média daOCDE (30%) e da média da UE19(29%).

A percentagem do mesmo grupo que,em Portugal, completou o ensino secun-dário situa-se nos 12% (o valor maisbaixo da OCDE e parceiros), enquanto amédia da OCDE se situa nos 42% e a daUE19 nos 45%.

Em Portugal, apenas 12% da faixaetária 25-64 completou o 1º ciclo doensino superior (bacharelato ou licencia-tura), e 1% possui mestrado ou doutora-mento enquanto a média da OCDE parahabilitados com formação de nível supe-rior ascende a 25% (cerca do dobro daportuguesa) e na UE19 atinge os 23%.Apenas a Itália e a Turquia apresentampercentagens inferiores à portuguesa, noentanto dispõem de maiores percentagensde habilitados com o ensino secundário.

Em conclusão, Portugal apresentabaixíssimos níveis de escolarização entreuma parte significativa da populaçãoactiva, onde mais de metade apenas con-cluiu o ensino primário e três quartosnão possui mais do que o ensino básico.O ensino pós secundário não superiorconstitui um segmento também reduzidoenquanto a percentagem de habilitadoscom o ensino secundário é mais de trêsvezes inferior à média da OCDE.

A2. Distribuição da população,entre os 25 e os 64 anos, com um graude ensino superior.

Embora as coortes geracionais dos 25-34 e dos 55-64 apresentem uma diferençade 12 pontos percentuais no número dehabilitados com um diploma de ensinosuperior, esse incremento não é suficientepara reduzir a distância que separa Portu-gal das médias da OCDE e da UE, umavez que as taxas de crescimento são idên-ticas (13 e 12% respectivamente).

Portugal, com 13% de diplomados napopulação entre os 25 e os 64 anos, inte-gra o grupo dos 5 países com taxas maisbaixas de diplomados pelo ensino supe-

rior, a par da Turquia (9%), Itália (11%),República Checa e Eslováquia (12%).

Refira-se ainda que, segundo osdados deste quadro, na coorte dos 25-34anos a percentagem de diplomados é de19% o que traduz um aumento de 6%relativamente à faixa etária anterior. Estecrescimento parece estar a ser exponen-cial uma vez que os dados apresentadosno quadro A3.1. apontam no sentido de,na geração dos 22 aos 26 anos, se atingiruma taxa de conclusão do Ensino Supe-rior de 40%, o que nos parece manifesta-mente exagerado, conforme tivemosoportunidade de expressar directamenteaos serviços da OCDE. Argumentámos,então, com a taxa de acesso ao ensinosuperior, que não ultrapassa os 28% dogrupo etário, e com as elevadas taxas deinsucesso e abandono escolar que o MEe o MCTES divulgam.

A3. Taxa de conclusão do secundá-rio.

Os dados aqui apresentados permi-tem concluir que apenas 53% dos jovensportugueses em idade escolar completamo ensino secundário, enquanto a médiada OCDE ascende aos 81% e a médiaUE19 atinge os 83%. Daqueles 53%, amaior parte (40%) são oriundos dos cur-sos de formação geral e apenas cerca de14% completam cursos profissionais,taxa que na UE19 se situa nos 50%.Verifica-se ainda que 62% dos jovensque completam o ensino secundário sãodo sexo feminino.

A4. Taxa de sobrevivência noSuperior.

Este indicador é a razão entre onúmero de diplomados no ano n e onúmero de admitidos no ano n-x sendo xo número de anos de duração do curso.Portugal apresenta uma taxa de 68% noSuperior tipo A e de 58% no superiortipo B. Esta variação é idêntica à queocorre nas médias da OCDE e da UE,todavia em Portugal a taxa de sobrevi-vência é inferior entre 2 e 4 pontos àque-las médias.

Este indicador deve ser analisado

1 8 SUP AO N .º 212 ■ NOVE MBRO 2006

ESTUDO

OCDE

Algumas notas de leitura do Education at a Glance 2006

Page 19: Novembro de 2006

conjuntamente com a esperança médiade permanência no sistema (em Portugalnão ultrapassa os 2,6 anos e a média daOCDE é 3 anos) e com os indicadoressobre o insucesso e o abandono, dadosque não são disponibilizados no estudo.No entanto é possível detectar, pelaexpectativa de permanência no sistema,que em Portugal a diferença entre Poli-técnico e Universitário é tangencial (2,5e 2,6 anos, respectivamente) e a expecta-tiva de permanecia no sistema é inferioràs médias da UE e da OCDE.

A5. Taxa de emprego por nívelescolar obtido.

Portugal apresenta taxas de empregosuperiores às médias da OCDE e daUE19, mesmo entre os menos habilita-dos. Portugal apresenta, ainda, uma taxade emprego feminino bastante superior àmédia da OCDE e da UE19, com valorespróximos dos verificados nos países doNorte da Europa e anglófonos.

É, no entanto, visível um aumento dataxa de emprego em função do aumentoda escolarização. No entanto os dadosdisponíveis permitem inferir do elevadointeresse do mercado de trabalho nasbaixas qualificações.

Assim, a taxa de emprego em Portugaldos homens e das mulheres habilitadoscom o ensino básico (87 e 74 % respecti-vamente) é superior à média da OCDE em15 pontos percentuais (72 e 49% resp.), aopasso que a taxa de emprego para diplo-mados do ensino superior é igual no casodos homens e superior em 9pp no casodas mulheres (89 e 88% em Portugal con-tra 89 e 79% na OCDE).

A6. Alterações demográficas e pre-visíveis repercussões na populaçãoescolar.

O Quadro A11.1 do estudo agoraapresentado evidencia que a populaçãoescolar portuguesa se manterá aos níveisde 2005 durante a próxima década, nãosendo previsível uma quebra acentuadacomo a que se espera na Coreia, a rondaros 30%, ou na Polónia e na Eslováquia,cerca de 20%.

Os recursos humanos e financeirosinvestidos no ensino

B1. Custo por estudante.De acordo com as despesas anuais

(por ETI’s, em pontos percentuais do PIBe convertidas em US dólares) das institui-ções de ensino, do 1º ciclo ao superior,Portugal gasta, por estudante, cerca de

metade do que a Noruega gasta, isto é,menos 25% do que a média dos países daOCDE. O estudo destaca ainda que namédia simples dos países da OCDE, emtermos de custos, cada estudante deensino superior representa dois do básico.Ora, em Portugal o investimento com oensino superior é comparativamentemenor, uma vez que cada estudante doprimário representa cerca de 63% docusto por aluno no superior. Atendendoaos custos por aluno no ensino primário,Portugal encontra-se no 21º lugar entre os30 da OCDE. Mas se o termo de compa-ração for o custo por aluno no total dosistema, Portugal ocupa a 22ª posição,baixando para a 24ª se compararmos ocusto por aluno do superior.

Além das modestas posições relati-vas ocupadas por Portugal, é ainda desalientar que o custo por estudante nosistema assim como no primeiro ciclo écerca de 18% inferior ao da média querda OCDE quer da UE19. No entanto seatendermos ao custo por estudante dosuperior, Portugal gasta menos 36% quea média da OCDE e menos 27% que amédia da UE19.

B2. Orçamento com educação eensino superior.

Entre 1995 e 2003 a percentagem doPIB afecta ao ensino não superioraumentou 0,4 em Portugal, fixando-senos 4,2%, enquanto as médias da OCDEe da UE19 se mantêm respectivamentenos 3,9 e 3,7.

Em Portugal, a percentagem do PIBafecta ao ensino superior cresceu 2 déci-mas entre 95 e 2000 mantendo-se nototal de 1,1% até 2003, a 3 décimas damédia da OCDE e a 2 décimas da médiada UE19.

No período analisado, (1995-2003)Portugal apresenta uma diminuição dopeso relativo do investimento público noensino superior, que passa a contar com8,5% de investimento privado contra3,5% em 1995, acompanhando assim atendência da média dos países daOCDE. O comportamento da média dospaíses da UE19 é semelhante (aumentodo investimento privado) mas menosacelerada (+2%).

O total das despesas com educação,enquanto percentagem do PIB e percen-tagem da despesa pública, sofreu entre95 e 2003 em Portugal um incrementode 0,5. No entanto este acréscimo nãofoi o suficiente para aproximar os mon-tantes afectos ao ensino superior nem

das médias da EU (1,3 e 2,7, respectiva-mente) nem da OCDE (1,3 e 3,1 respec-tivamente). Assim, a despesa públicacom o ensino superior representava, em2003, 1,1% do PIB e 2,2% do total dadespesa pública.

B3. Propinas.De acordo com os dados disponíveis,

dos 30 países da OCDE:7 (entre os quais os países escandina-

vos) não cobram propinas aos estudantes, 5 não disponibilizaram essa informa-

ção, 3 não se aplica este dado, 6 (entre os quais Espanha, França e

Bélgica) cobram uma propina inferior àestabelecida por Portugal.

Portanto, Portugal está no 8º lugar noranking das propinas com um sistema deacção social escolar que não chega aabranger 20% dos estudantes.

O acesso ao ensino e à formação ao longo da vida

C1. Peso relat ivo dos s istemaspúblico e privado, segundo o númerode alunos.

A repartição de alunos, em Portugal,pelos subsistemas público e privado éequitativa (50/50) no Politécnico (terci-ary type B), e de 3 para 1 no Universitá-rio (terciary type A). Embora os valoresdo universitário estejam mais próximosdas médias da OCDE e da EU, Portugalapresenta uma parcela de estudantes nosuperior privado maior em, respectiva-mente, 3pp e 4,5pp. O peso relativo dopolitécnico privado em Portugal é supe-rior em cerca de 15pp à média da OCDEe 16pp à média da UE19.

C2. Percentagem de jovens no sis-tema de ensino, por grupos etários.

No grupo dos jovens entre os 15 e os19 anos, a taxa de permanência no sis-tema segundo a média da OCDE é de80,5% enquanto a média da UE19ascende aos 83,6%. Portugal não ultra-passa os 73%, ficando acima apenas daEslováquia (67%), do México (48%) eda Turquia (39%). O estudo apresenta 4momentos no lustro 1995/2000 e trêsgrupos etários, o primeiro 15-19, osegundo 20-24 e o terceiro 25-29, apon-tando os resultados de Portugal para umcrescimento da taxa de permanênciasuperior ao verificado nas médias daOCDE e da UE nos 2 primeiros gruposetários.

P.V.

NOVEMBRO 2006 ■ S UP AO N. º 212 1 9

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2 0 SUP AO N .º 212 ■ NOVEMBRO 2006

Subscrita pelo governo portuguêsem 1999, a Declaração de Bolo-nha visa estabelecer um espaçoeuropeu de educação superiorharmonizado, competitivo e atrac-

tivo. Trata-se, sem dúvida, de uma polí-tica pública estrutural, de tipo transnaci-onal, visando assegurar a legibilidade ecomparabilidade dos graus, elementosde resto indispensáveis à organização deum sistema baseado na emulação e empropósitos de concorrência típicos dofuncionamento dos mercados, em buscade um elevado "grau de atracção mun-dial".

Consequentemente, a lógica da cons-trução de um mercado competitivo exi-girá, seguidamente, a adopção de siste-mas transnacionais de padrões, de acre-ditação e de avaliação, com a possívelprodução de "ratings", ou mesmo de"rankings", das instituições a nível euro-peu. E também a competição por estu-dantes de distintos países e por financia-mentos públicos escassos será incremen-tada, desde logo no interior de cadainstituição, através da criação de "mer-cados internos". Esta é a face mercantilpor muitos considerada típica das refor-mas do Estado e da educação pública, dehá muito em curso em diversos contex-tos, fundada sobre "motivações econó-micas" (empregabilidade, competitivi-dade, adaptabilidade, etc.).

Entre nós, um elevado número decursos e de escolas iniciará no presenteano lectivo (2006-2007) a prática do Pro-cesso de Bolonha, após um longo perí-odo marcado por uma manifesta falta deliderança política dos governos, dosórgãos de coordenação e representaçãode universidades e institutos politécnicose, em muitos casos, das direcções daspróprias instituições de ensino superior.

Muito se encontra ainda por esclare-cer e definir, num processo que cedo foienviesado pelas questões do financia-mento, pelo correspondente tacticismo

das escolas e por interesses de ordemprofissional.

Em todo o caso, as escolas e os pro-fessores investiram muito na adequaçãodos cursos, cumprindo os requisitos jurí-dicos que lhes foram impostos. No planoformal o Processo de Bolonha entra emvigor num elevado número de cursos.Nuns casos resultando em profundasalterações estruturais e de perfil e filoso-fia de formação, noutros, porém, intro-duzindo mudanças mais superficiais eadaptações marcadas pelo novo léxicoreformador e respectivas categorias (uni-dade curricular, resultados da aprendiza-gem, horas de con-tacto, etc.).

Mas se areforma da pedago-gia univers itáriaproposta pelo Pro-cesso de Bolonha,sem dúvida a suadimensão maispositiva, ficar limi-tada a aspectos for-mais e terminológi-cos, é como se tudotivesse mudado paraque tudo ficasse namesma em termosde ensino, de aprendizagem e de avalia-ção. Não chega o consenso genérico eaparentemente partilhado pela maioriade que os currículos são tradicional-mente rígidos e enciclopédicos, o ensinoé magistral, a avaliação muito tradicio-nal, a pedagogia conteúdista, as taxas deinsucesso e de abandono elevadas.

A introdução de um novo paradigmaeducacional exigirá uma reorganizaçãopedagógica profunda, maior flexibili-dade curricular, uma distinta organiza-ção do trabalho docente e discente, aadopção de esquemas de apoio tutorial,novas formas de avaliação pedagógica enovos calendários e processos de avalia-ção, maior articulação entre ensino e

pesquisa, turmas mais pequenas, atençãoà educação superior também nos planoscultural, ético-político e cívico. Enfim,uma revolução pedagógica que, sendocerto que foi já parcialmente iniciada emalguns cursos e escolas, se encontralonge de estar generalizada e de ser fácilde consolidar.

Não é porém credível que as referi-das mudanças possam ser introduzidassem um grande investimento financeiroinicial, que exigirá alguns anos, comvista à formação de docentes, às mudan-ças organizacionais indispensáveis, àdiminuição do número de alunos por

professor, à distinta contabilização dashoras de trabalho pedagógico (lectivo enão lectivo) de cada docente, à introdu-ção do ensino por equipas docentes, aoreforço das actividades de iniciação àinvestigação, à supervisão mais próximae mais individualizada de trabalhos decampo, de projectos, estágios, etc.

Em termos mais estruturais, o pró-prio estatuto da carreira docente terá decontemplar as mudanças referidas, talcomo as regras de financiamento dasinstituições, questões de importâncianuclear que se encontram por equacio-nar, sem esquecer os possíveis impactosde ordem sistémica, designadamente noque ao ensino secundário se refere.

Bolonha à portuguesa?Licínio C. Lima*

OPINIÃO

Como orientar tutorialmente pequenosgrupos em gabinetes colectivos ou emcubículos individuais onde não se conse-gue receber três ou quatro estudantes?Como garantir e dignificar esse trabalho sese decide não contabilizá-lo como serviçodocente? Como é possível continuar aadoptar o conceito e as práticas de épocade exames e, mesmo, de exame final?

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Trata-se, em suma, não apenas deuma mudança de ordem cultural e pro-fissional no que concerne ao trabalhodos professores, nem somente da exigên-cia de mudanças significativas no traba-lho dos alunos e na gestão dos seus quo-tidianos e dos seus estilos de vida.Embora imprescindíveis, tais mudançasnão serão suficientes para, em termosvoluntaristas, assegurar um novo modelopedagógico. São imprescindíveis deci-sões políticas, condições financeiras eorganizacionais para induzir e apoiar asmudanças.

Neste capítulo, não existem razõespara optimismo. A redução da duraçãodos cursos parece constituir uma boaoportunidade para lógicas de racionali-zação e redução de encargos por partedo Estado, e não para reforçar condiçõesde trabalho e perseguir a já conhecidaretórica da qualidade.

Como orientar tutorialmente peque-nos grupos em gabinetes colectivos ouem cubículos individuais onde não seconsegue receber três ou quatro estudan-tes? Como garantir e dignificar esse tra-balho se se decide não contabilizá-locomo serviço docente? Como é possívelcontinuar a adoptar o conceito e as práti-cas de época de exames e, mesmo, deexame final? Como continuar a insistirnuma organização baseada em ganhosde escala, induzidos pela fórmula definanciamento, quando a pequena escalase revela mais congruente com as exi-gências pedagógicas?

A menos que o processo evolua rapi-damente de forma positiva, arriscamo--nos a construir Bolonha à portuguesa, oque entre nós significaria, tradicional-mente, Bolonha "para inglês ver".

* Instituto de Educação e Psicologiada Universidade do Minho

Texto publicado no jornal “A Página”, Outubro 2006

Investigação

Vinte cidades europeias lançamrede de laboratórios vivosBarcelona, Londres e Oslo estão entre as 20 cidades europeiasque lançaram uma rede de laboratórios vivos dedicados à investigação sobre tecnologias de informação e de comunicação.O programa Living Labs Europe foi apresentado em Helsínquia.

Um laboratório vivo é um perí-metro urbano onde empresas e insti-tutos de investigação testam técnica ecomercialmente novas tecnologias enovos serviços móveis.

"Um dos objectivos desta rede éincitar empresas de todo o mundo aparticipar no esforço de investigaçãoe inovação europeu", comentou hojeo primeiro-ministro finlandês, MattiVanhanen, cujo país assegura a pre-sidência da União Europeia até 31 deDezembro.

Living Labs Europe reúne Barce-lona, Matarò e Sant Cugat (todas naCatalunha), Budapeste, Istambul,Londres, Salzburgo, Sophia-Antipo-lis, Estugarda, Talin, Turin, Cope-nhaga, Helsínquia, Oslo, Oresund equatro cidades suecas (Estocolmo,Malmo, Lund e Vastervik).

"São necessárias medidas novas e

concretas para tornar a Estratégia deLisboa uma realidade bem viva epara tornar a Europa mais concorren-cial e inovadora, tendo em conta asnecessidades reais dos indivíduos",salientou Vanhanen.

Atrás dos Estados Unidos e doJapão quanto aos esforços de investi-gação, a União Europeia multiplicaas iniciativas para cumprir o seuobjectivo de se tornar a economia doconhecimento mais competitiva edinâmica do mundo até 2010.

Em Outubro foi criado o InstitutoEuropeu de Tecnologia, que poderáestar operacional em 2009. Para alémdisso foram lançadas as plataformastecnológicas europeias para elaboraras estratégias de desenvolvimento einvestimento nas áreas importantespara o crescimento e emprego.

AFP, 20/11/2006

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2 2 SUP AO N .º 212 ■ NOVEMBRO 2006

APOIO JURÍDICO

OSindicato dos Professores daGrande Lisboa (SPGL) tem defen-dido o dever de conformação dos

concursos de acesso nas carreiras doensino superior, universitário e politéc-nico, aos princípios gerais estatuídospelo artº 5º do DL 204/98.

Essa não tem sido a orientação emmuitas instituições de ensino superiorque alegam não se lhes aplicar o referidodiploma uma vez que aí estão expressa-mente excepcionados os regimes e oscorpos especiais.

Empenhado no esclarecimento desteassunto, o SPGL patrocinou o recurso deum colega do IST relativamente a umconcurso documental para ProfessorCatedrático, iniciativa que foi coroadade êxito uma vez que o Tribunal Admi-nistrativo e Fiscal de Lisboa veio anulara deliberação do júri condenando o ISTa retomar o concurso mas desta vezcumprindo as alíneas b) e c) do nº 2 doArtº 5º do DL 204/98.

Ora, diz este artigo o seguinte:“1. O concurso obedece aos princí-

pios de liberdade de candidatura, deigualdade de condições e de igualdade deoportunidades para todos os candidatos.

2. Para respeito dos princípios referi-dos no número anterior, são garantidos:

a) a neutralidade da composição dojúri;

b) a divulgação atempada dos méto-dos de selecção a utilizar, do programadas provas de conhecimentos e do sis-tema de classificação final;

c) a aplicação de métodos e critériosobjectivos de avaliação;

d) o direito de recurso.”Confirmou o tribunal que "estes são

princípios gerais, aplicáveis em matériade recrutamento e selecção de pessoal daAdministração Pública", isto é, indepen-dentemente do regime, corpo ou carreirapara os quais seja aberto o concurso.

Esclarece ainda a douta sentença queo princípio da divulgação atempada exigeque o sistema de classificação seja apro-vado e divulgado antes do momento emque o júri toma conhecimento dos candi-datos pois "só desse modo ganha transpa-

rência o procedimento". E adianta que "alei sanciona assim, directamente, situa-ções de mero perigo de actuação parcialda administração (…) considerando[-as]em si mesmas ilegais com consequênciasanulatórias sobre o acto final".

O Tribunal aprecia ainda o processode avaliação, reconhecendo que forampublicitados através do aviso de aberturado concurso os métodos de selecção autilizar (no caso, o mérito científico epedagógico) mas conclui que não foi"prévia e atempadamente estabelecido osistema de classificação final (…) não seestabeleceram métodos e critérios objec-tivos de avaliação por forma a densificare assim objectivar a operação de análisecurricular…" Adianta, ainda, que nãopoderá ser a complexidade ou a dificul-dade metodológica presente na selecçãode um professor catedrático que tornarálícita uma apreciação casuística dos can-didatos pois se, por um lado, não é sufi-ciente a remissão para os termos legaisque definem a finalidade do concurso eos termos gerais da ordenação, o querepresenta na prática uma "abstençãoinusitada do Júri relativamente a umadas tarefas mais relevantes que lhe sãocometidas", por outro, o incumprimentodeste preceito "não teria alcance parapermitir efectivar a margem de controlejurisdicional" consagrado na Constitui-ção da República e no Código do Proce-dimento Administrativo. Vem ainda oTribunal realçar que a definição do sis-tema de classificação só fará sentidoantes da apresentação das candidaturas"sob pena de se impedir aos candidatosuma elaboração esclarecida e de se enco-rajarem indesejáveis suspeições sobre aimparcialidade da Administração".

Este processo, patrocinado peloSPGL, e os outros acórdãos que respal-dam as conclusões aqui sumariadas, vemcontribuir para o aumento da transparên-cia do funcionamento dos júris dos con-cursos, assim seja cumprida a legislaçãoem vigor. Cumpre a todos zelar pelo seucumprimento. É o que continuaremos afazer. ■

Tribunal dá razão ao SPGL

Concursos no Superior devem obedecer aos princípios do DL 204/98

■ A Universidade dos Açores e a Livraria Solmar organizaram o lançamento da revistaArquipélago - História. In Memoriam Artur Boavida Madeira, com apresentação daProfª. Doutora Gilberta Rocha.

■ A edição deste ano da Semana Aberta da Ciência e Tecnologia decorreu, na Universi-dade de Aveiro, entre 20 e 25 de Novembro.

■ A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro prepara o VI Congresso Ibérico deGeoquímica e a XV Semana de Geoquímica, a realizar de 16 a 21 de Julho de 2007,em Vila Real.

■ O Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra acolheu recentemente o V Con -gresso de Investigação em Medicina: Pedagogia e Ciência , onde se apresentaram tra-balhos nas áreas da educação médica, biomedicina e clínica. Investigação e pedago-gia nas Escolas Médicas foram temas em foco nos trabalhos deste Congresso.

■ Os Departamentos de Matemática e de Psicologia e Educação da Universidade da BeiraI n t e r i o r organizaram recentemente uma conferência subordinada ao tema "Avaliação Cog -nitiva. Crianças em Idade Escolar", dinamizada pela Prof.ª Doutora Maria José Miranda daFaculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa.

Universidades em acção

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CULTURAL

Em Cascais, até 7 de Janeiro70 gravuras da Suite 60de Pablo Picasso

E m exposição estão gravuras nasquais Picasso construiu uma narra-

tiva baseada em «variações sobrecinco temas»: «O pintor e a modelo»,«O teatro», «O cornudo», «O circo» e«Os amigos».

As 70 gravuras em causa foramdesenhadas por Picasso entre Agosto

de 1966 e Janeiro de 1968, quando o pintor já contava 85 anose convalescia de intervenções cirúrgica, explicou o director doCentro Cultural de Cascais.

Salvato Telles de Menezes realçou ainda a importância dasgravuras de Picasso, já que datam de um período de vida emque o artista se «dedicou quase compulsivamente ao desenho egravura, onde conseguia expressar o que achava não conseguirtransmitir pela pintura».

«Estas gravuras de Picasso, com as quais o pintor constróiuma narrativa, mostram o lado reiterativo e obsessivo do pin-tor», além de terem um carácter «erótico extremamente forte»,adiantou.

A série «Suite 60 - El Contemplador Activo» é propriedadeda Fundación Bancaja de Valência, uma instituição bancáriaespanhola que as adquiriu recentemente e com a qual o centrotem um protocolo de colaboração.

Esta é a segunda vez que as gravuras vão estar patentes aopúblico, referiu Salvato Telles de Menezes. A primeira foi emValência, no Museu de Albacete, numa mostra da responsabili-dade daquela instituição bancária espanhola.

A mostra vai estar exposta até 7 de Janeiro próximo.Com entrada livre, a exposição pode ser visitada de terça-

feira a domingo entre as 10:00 e as 18:00. TSF, 9/11/2006 ■

Universidade de ÉvoraPrémio Rómulo de Carvalhoatribuído a Carlos Fiolhais

Em reunião realizada no dia 15 de Novembro,o Júri de Atribuição do Prémio Rómulo de

Carvalho, instituído pela Universidade deÉvora, deliberou, por unanimidade, atribuir oPrémio Rómulo de Carvalho, a Carlos ManuelBaptista Fiolhais, Professor Catedrático da Uni-versidade de Coimbra pela sua assinalável obra

de divulgação da cultura científica e pelos seus contributos aoEnsino e História da Ciência.

Fiolhais nasceu em Lisboa em 1956. Licenciou-se em Físicana Universidade de Coimbra em 1978 e doutorou-se em FísicaTeórica na Universidade Goethe, em Frankfurt/Main, Alemanha,em 1982. É Professor Catedrático no Departamento de Física daUniversidade de Coimbra desde 2000. Foi professor convidadoem universidades de Portugal, Brasil e Estados Unidos.

Publicou mais de 30 livros, alguns em co-autoria: as obrasde divulgação científica "Física Divertida" (este um best-seller,com mais de 15000 exemplares vendidos até agora, nas 6 edi-ções), "Computadores, Universo e Tudo o Resto" e "A CoisaMais Preciosa que Temos", na Gradiva; livros de ciência infan-til "Ciência a Brincar", na Bizâncio; vários manuais escolaresde Física e Química desde o 8º ao 12º ano, na Texto Editora,Gradiva, e Didáctica; "Roteiro de Ciência e Tecnologia", naUlmeiro; o manual universitário "Fundamentos de Termodinâ-mica do Equilíbrio", na Gulbenkian; etc.

Os seus interesses científicos centram-se na Física Compu-tacional da Matéria Condensada e no Ensino e História dasCiências. Foi fundador e Director do Centro de Física Compu-tacional da Universidade de Coimbra, onde procedeu à instala-ção do que é o maior computador português para cálculo cientí-fico ("Centopeia", um sistema paralelo de cem máquinas).Organizou numerosos encontros e escolas, nacionais e interna-cionais. Tem coordenado vários projectos de investigação esupervisionado vários estudantes de mestrado e doutoramento.Participou em numerosas acções, conferências e colóquios pro-movendo a ciência e a cultura científica. Criou o portal de ciên-cia www.mocho.pt .

Fiolhais dirige a revista "Gazeta de Física" da SociedadePortuguesa de Física e é membro da comissão editorial dasrevistas "Europhysics News", da Sociedade Europeia de Física,"Física na Escola" e "Revista Brasileira do Ensino da Física",da Sociedade Brasileira de Física. Foi Director do Centro deInformática da Universidade de Coimbra e da Biblioteca doDepartamento de Física da Universidade de Coimbra (ondecriou a Biblioteca Rómulo de Carvalho de Cultura Científica).É Presidente do Conselho de Investigação do Instituto Interdis-ciplinar da Universidade de Coimbra, membro do ConselhoCientífico da Fundação para a Ciência e Tecnologia e membrodos corpos gerentes do Fórum Internacional dos InvestigadoresPortugueses. É colaborador do jornal "O Primeiro de Janeiro" efoi colaborador do jornais "Público", "Expresso", "Visão", etc.Foi consultor do programa "Megaciência" para a televisão SIC.

É actualmente Director da Biblioteca Geral da Universidadede Coimbra. ■

Terra Sem Sombras3º Festival de Música Sacrado Baixo Alentejo

N um projecto que se estende até 24 de Março, dedicado às for-mas do som (vozes e instrumentos) aqui fica em agenda uma

parte da programação do 3º Terra Sem Sombras – Festival deMúsica Sacra do Baixo Alentejo 2006/2007, iniciativa da Artedas Musas e do Departamento do Património Histórico e Artísticoda Diocese de Beja, para os dias 20 de Janeiro e 3 de Fevereiro:

20 de Janeiro de 2007, 21h30, Beja, Igreja de NossaSenhora dos Prazeres, Recital de Cravo e Clavicórdio, Imagensda Música de Tecla Ibérica do Maneirismo ao Pós-Barroco,João Paulo Janeiro.

3 Fevereiro 2007, 16h00, Santa Cruz (Almodôvar), IgrejaMatriz de Santa Cruz, O Consort Português Mal Temperado,Música do Manuscrito 964 da Biblioteca Pública de Braga, Aimagem da melancolia, Consort de Flautas. ■

Page 24: Novembro de 2006

?Avaliação(ENQA)

?Bolsas paradocentes

desempre-gados

?O futuro dosbolseiros de investigação

?Bolonha

?Relatórioda OCDE

?Acordoscom o MITe a CMU?Autonomia

?CortesOrçamentais

?ECDU