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1 DURVAL LOURENO PEREIRA JUNIOR

A PARTICIPAO DA FEB NA 2GUERRA MUNDIAL SEU LUGAR NA MEMRIA SOCIAL BRASILEIRA

Monografia integrante do concurso literrio sobre a participao da FEB na 2 Guerra Mundial

UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA

JUIZ DE FORA 2005

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RESUMO

Esta

monografia busca analisar a participao da Fora Expedicionria

Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial sob o ponto de vista da sua presena na memria social do Brasil, ao longo dos 60 anos aps o trmino do conflito. Inicialmente so expostos os necessrios subsdios tericos para a argumentao do trabalho monogrfico, conceituando a memria, a escola, a identidade e suas relaes intrnsecas. Logo aps, faz-se uma breve descrio do panorama atual da educao e da cultura em nosso Pas. Da, parte-se uma anlise criteriosa de alguns dos principais componentes da memria social da FEB: a memria escolar, sua presena nos currculos escolares, na literatura didtica; na msica e na poesia; no jornalismo; em monumentos, museus e memoriais; em obras audiovisuais; em acervos fotogrficos; nas entidades ligadas FEB; na tradio oral; na memria poltica; e nas comemoraes, com exemplos, comparaes e reflexes, Fazendo uma anlise criteriosa com exemplos, comparaes. A descrio e a anlise de alguns dos muitos componentes da memria social no pretende, de forma alguma, esgotar um campo de pesquisa extenso tanto no tempo quanto no espao. Procura sim, em sua concluso, estabelecer uma base crtica e slida, como ponto de partida para a construo de mecanismos que permitam a justa valorizao do sacrifcio e da obra dos nosso queridos pracinhas. A participao FEB na Segunda Guerra Mundial s desempenhar um papel relevante na formao da identidade cultural brasileira quando estiver presente, de forma vigorosa e merecida, na memria social do nosso povo.

Palavras-chave: memria social, FEB, identidade cultural, educao

3

SUMRIO

1. INTRODUO.......................................................................................................5

2. DESENVOLVIMENTO 2.1 Memria e a Identidade ....................................................................... .....6 2.2 Escola, Educao e Cultura no Brasil.................................................. .....7 2.3 Memria Social - Conceito................................................................... .....9 2.4 Memria Escolar .................................................................................. .....9 2.5 O Curriculo Escolar e a Formao da Identidade.....................................10 2.6 A Presena da FEB na Literatura Didtica................................................13 2.7 Memria Musical e Potica...................................................................18 2.8 Memria Literria..................................................................................19 2.9 Memria Jornalstica............................................................................20 2.10 Monumentos, museus e memoriais....................................................21 2.11 Memria Audiovisual..........................................................................22 2.12 Memria Fotogrfica..........................................................................23

2.13 Entidades..............................................................................................23

4 2.14 Tradio Oral.....................................................................................23 2.15 Memria Poltica................................................................................23

2.16 Rituais e Comemoraes......................................................................25

3. CONCLUSO.............................................................................................26

4. REFERNCIAS .................................................................................... ....30

5

1. INTRODUO

Uma breve reflexo sobre a histria da humanidade nos mostra que as naes conquistadoras procuraram, via de regra, impor aos povos conquistados no apenas as suas leis e religio, mas tambm a sua cultura. Ao entrarem em confronto com povos possuidores de religies e culturas expressivas e arraigadas, o domnio militar e poltico foi efmero ou mesmo invivel.1 Dentro desse contexto, verifica-se a importncia do fortalecimento da identidade cultural brasileira, onde a memria social representa o papel de um vigoroso alicerce da nacionalidade. A Histria do Brasil repleta de momentos notveis para a formao da nossa identidade cultural. Muitos nem sempre lembrados de forma condigna. Entre eles encontra-se o da Campanha da Fora Expedicionria Brasileira (FEB), durante a Segunda Guerra Mundial. Um marco da opo histrica do Brasil pela democracia e um exemplo do poder de superao do homem brasileiro frente a toda sorte de adversidades. Nasce da o objetivo e a inspirao deste trabalho: analisar a participao da FEB na memria social brasileira e as causas que a relegaram obscuridade, a partir de um estudo detalhado dos diferentes componentes da memria social, culminando numa proposta para a mudana do quadro atual. Resgatar a memria social da FEB representa mais do que um saudvel exerccio de memria. Trata-se de um dever cvico reviv-la, fazendo o seu legado chegar s novas geraes de forma consistente e ntegra.

Os homens s se lembram de Deus e as naes s valorizam seus soldados, quando sentem a sobrevivncia ameaada. Passado o perigo, a maioria dos homens esquecem-se de Deus, e as naes, de seus soldados."

1

ALBUQUERQUE, Francisco Roberto. Entrevista com o Gen Albuquerque. Revista da Cultura, Rio de Janeiro, Ano IV, n. 6 p. 5-9, Junho 2004.

6

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Fundamentao 2.1.1 Memria e Identidade

Antes de tratarmos especificamente a respeito da memria social, precisamos compreender, de incio, o real valor da memria e como ocorre o seu relacionamento com a identidade individual e coletiva. O correto entendimento dessa relao nos dar suporte para compreendermos o papel da memria na construo da identidade cultural do povo brasileiro e, principalmente, como esta construo lidou com o processo de lembrana e esquecimento da memria da FEB. A identidade se estrutura a partir de trs elementos essenciais: a unidade fsica, dada pelas fronteiras do prprio corpo; as fronteiras de pertencimento ao grupo, no caso do coletivo; e, finalmente, o sentimento de continuidade dentro do tempo.

[...] Podemos portanto dizer que a memria um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela tambm um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruo de si 2.

Entre memria e identidade existe uma relao estreita. Segundo Habermas ...A identidade liga-se memria porque o que nos torna diferentes a nossa prpria histria e o que nos iguala o nosso esquecimento." H ainda um aspecto fundamental da questo da construo da imagem de si, do indivduo e do grupo, que reside no fato de sua construo ser impossvel sem o embate e a negociao com o outro.[...] Vale dizer que a memria e a identidade podem perfeitamente ser negociadas, e no so fenmenos que devam ser compreendidos como essncias de uma pessoa ou de um grupo. (...) A memria e identidade so valores disputados em conflitos sociais e intergrupais" 3.

2 3

Disponvel em . Acesso em 10 maio 2005. Ibidem.

7 Tanto a memria quanto a identidade so valores que partilham uma relao estreita, sendo a memria um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletivo. Ambos so objeto de disputa entre os diferentes grupos sociais pela predominncia de seus valores na sociedade, No conturbado cenrio poltico brasileiro da segunda metade do sculo XX, as disputas entre as vrias correntes polticas e seus representantes forjaram a identidade brasileira segundo os interesses do grupo social predominante. Um dos grandes perdedores desse conflito foi a preservao, a difuso e a memria da FEB como um todo, trazendo prejuzo para a formao da identidade cultural brasileira.

2.1.2 Escola, Educao e Cultura no Brasil A escola um local privilegiado para o aprendizado face aos meios de que dispe, diferenciando-se dos meios de comunicao em massa pelo estmulo leitura, pela compreenso das relaes sociais e pela aplicao de um programa curricular elaborado. um espao vocacionado para a informao, difuso do passado e sua reflexo.[...] Muito embora nem sempre estar explicitado nos currculos, a escola uma instituio comprometida com a construo da identidade do aluno, uma vez que opera com valores e prticas cotidianas pautadas no fortalecimento do sentimento de pertencimento a um grupo e na afirmao da diferena desse grupo dos demais 4.

Analisar a expresso da FEB na memria social brasileira nos leva, obrigatoriamente, a dissertar sobre a qualidade da educao escolar oferecida em nosso Pas, pois ela , na maioria das vezes, a principal fonte de informao a respeito do mundo e da sociedade. Por muitas dcadas, o Brasil lutou contra o fantasma do analfabetismo e do reduzido nmero de criana e jovens matriculados regularmente no ensino fundamental. A taxa de analfabetismo brasileira era uma das mais altas entre os pases em desenvolvimento. Felizmente nos ltimos anos este quadro sofreu uma virada brusca. O Plano Nacional de Educao (PNE), sancionado pela Presidncia da Repblica em 2001, garantiu a estabilidade das polticas educacionais

independentemente das alternncias dos governos. Os resultados dessa poltica so

4

Disponvel no site . Acesso em 10 Mai 2005.

8 significativos. Hoje, cerca de 97% das crianas entre 7 e 14 anos esto matriculadas no ensino fundamental 5. Iniciativas governamentais como o Programa Nacional do Bolsa Escola, criado em 2001, com a proposta de conceder um benefcio financeiro mensal a milhares de famlias brasileiras, em troca da manuteno de suas crianas nas escolas, apresenta resultados altamente satisfatrios para o fim a que se destina. Sua misso:

[...] Promover a educao das crianas de famlias de baixa renda assegurando sua permanncia na escola, por meio de incentivo financeiro, contribuindo para a melhoria das condies de vida no pas. Estimular a criao de uma cultura escolar positiva entre as camadas sociais menos favorecidas e recuperar a dignidade e a auto-estima da populao excluda, com a esperana de garantir um futuro melhor para seus filhos por meio da educao 6.

Verifica-se no enunciado do programa a prioridade para a questo social. Embora o Bolsa Escola tenha sido bem sucedido em seu objetivo principal, os resultados obtidos em termos quantitativos no se fizeram acompanhar da melhoria da qualidade do ensino oferecido. Numa recente pesquisa da UNESCO (Organizao das Naes Unidas para a Educao, Cincia e Cultura) sobre educao, dentre 41 pases o Brasil est no final da lista. A pesquisa mostra que os estudantes brasileiros, na faixa etria dos 15 anos, tm o penltimo lugar no desempenho em matemtica e cincias e o 37 em leitura. Na mdia das trs reas de conhecimento, o pas fica em penltimo lugar, na frente apenas do Peru. Cerca de 50% dos alunos brasileiros de 15 anos esto abaixo do nvel 1 de alfabetizao, numa escala criada pela UNESCO, que classifica os estudantes com dificuldades em utilizar os instrumentos da leitura para aumentar seus conhecimentos e competncias em outros assuntos 7. A contrapartida desse resultado em relao ao conhecimento sobre a histria da FEB inevitvel. Mesmo assim, as pesquisas superam as expectativas mais pessimistas.[...] A decadncia do ensino e a dura realidade social so argumentos bastante convincentes para justificar a ignorncia sobre a FEB, mas uma pesquisa feita por amostra entre alunos da USP em 1990 revelava que 70% dos estudantes da universidade considerada como a melhor do Pas desconheciam o significado da sigla FEB 8.

ALMANAQUE ABRIL 2003.So Paulo: Abril. p.206 o BRASIL. Lei N 10.219, de 11 de abril de 2001. Programa Nacional do Bolsa Escola. 7 FOLHA ONLINE. Disponvel em: