microeconomia e sustentabilidade
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Texto sobre a integração dos estudos da microconomia com o conceito de sustentabilidade.TRANSCRIPT
Microeconomia e Sustentabilidade Daiane Nogueira Lins
São Paulo, 2010
Por essência o homem possui uma extraordinária capacidade de adaptação
às variações no ambiente, ao mesmo passo que este tende a optar sempre pelas
alternativas que, aparentemente, maximizam retornos com o mínimo de trabalho ou
capital empregado. Entretanto, no decorrer do tempo percebeu-se que essas
soluções possuíam externalidades negativas que eram desconsideradas durante o
processo de decisão. A história nos traz um exemplo claro dessa situação, durante o
período da Segunda Revolução Industrial observamos grandes consequências tanto
no âmbito social quanto ambiental. Além da poluição indiscriminada, o número de
desempregados era crescente e mesmo aqueles que possuíam empregos,
trabalhavam em condições sub-humanas.
No decorrer do tempo este cenário começou a mostrar suas consequências,
desigualdade social e preconceito em grande escala, produtividade abaixo dos
índices esperados, escassez dos recursos produtivos, mudanças climáticas
ocorrendo nos cinco continentes. Devido à necessidade de corrigir os erros do
passado, nasceu o conceito de sustentabilidade. De acordo com o Relatório
Brundtland, "Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as
necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de
suprir suas próprias necessidades." (Organização das Nações Unidas, 1987). A fim
de alcançar esse objetivo nota-se uma crescente conscientização de governos,
empresas e sociedade de uma forma geral.
As economias globais encontram-se cada vez mais integradas, o grau de
interdependência dos países cresce à medida que barreiras de comunicação são
quebradas, essa situação cria um cenário onde a alienação às questões mundiais
faz-se algo inadmissível. Como exemplo disso temos a crise de 2009, na qual devido
à ruptura da estrutura de uma economia de fundamental importância, como a dos
Estados Unidos, observou-se seus impactos pelos cinco continentes de forma
devastadora. Em contraste com o desastre financeiro, outra situação que ilustra a
relação atual entre os países ocorreu no Haiti, o terremoto que destruiu parte do país
em janeiro deste ano mobilizou o mundo inteiro em torno de uma causa social,
ajudar a suprir as necessidades de remédios, alimentos, água entre outros recursos
escassos àquela população. É importante ressaltar que essas são situações
isoladas e ocorrem de forma esporádica, em geral essa interdependência é
observada em acordos político-econômicos, relações de importação/exportação,
tratados internacionais, blocos como o Mercosul (Mercado Comum do Sul), a CLPL
(Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), entre outros...
Nos últimos anos a preocupação com os impactos dos mais diversos
processos de produção sobre o meio ambiente e as diferenças socioeconômicas
cresceu exponencialmente, a cada dia novas atitudes são tomadas com o intuito de
amenizar esses problemas, sendo o conceito de sustentabilidade cada vez mais
adotado pelas organizações. Segundo o ex-diretor do Conselho Metropolitano de
Helsinque, Juha Sipilä, "Desenvolvimento sustentável significa usarmos nossa
ilimitada capacidade de pensar em vez de nossos limitados recursos naturais." A
partir de uma análise da citação de Sipilä podemos identificar claramente o papel da
microeconomia na busca pelo desenvolvimento sustentável.
"A microeconomia se dedica ao comportamento dos agentes individuais no panorama econômico – famílias, empresas e governos. Avalia as escolhas que esses agentes fazem e as interações que há entre eles quando se encontram para negociar bens e serviços específicos." (Hall; Lieberman)
A partir do entendimento que há escassez dos recursos produtivos (terra,
capital, recursos naturais e mão-de-obra), faz-se necessário que estudos sobre as
melhores formas de alocar os recursos disponíveis sejam constantes nas diferentes
etapas do processo produtivo. Cada país possui uma deficiência maior na
disponibilidade de um recurso do que de outro, por exemplo, o Japão possui
disponibilidade de capital e mão-de-obra especializada, em contrapartida sua área
física é muito restrita, por essa razão o país opta por alocar seus recursos no
desenvolvimento de tecnologias de ponta que são exportadas para o mundo,
importando bens de primeira necessidade como alimentos, que demandam grande
espaço físico para produção.
As decisões relacionadas à produção (quais bens, quando, quanto, como e
para quem produzir) devem ter como base as diferentes variáveis que afetam tanto a
demanda quanto a oferta do bem, sendo que a uma variável da teoria de demanda
será dada especial atenção, a preferência do consumidor. Observa-se que com o
crescente acesso da população aos meios de comunicação, o consumidor vem
criando uma consciência sobre os problemas ambientais e socioeconômicos
inexistente até anos atrás. Alimentos cultivados sem agrotóxicos, bens produzidos a
partir de materiais reciclados, serviços prestados por empresas que adotem uma
postura sustentável veem sua participação no mercado crescer gradativamente. Isso
se deve ao fato de que atualmente o consumidor entende que uma empresa que
adote um meio de produção sustentável demonstra uma preocupação maior com a
sociedade do que outra que trabalhe com processos tradicionais que poluam e
consumam mais recursos naturais. Assim sendo, atitudes sustentáveis vêm saindo
do patamar de diferenciação para se tornarem uma exigência do mercado.
Outro ponto de fundamental importância à vida de uma organização se refere
aos impostos e taxas do governo. A microeconomia possui um campo de estudo que
se ocupa da incidência de impostos, quem o recolhe e sobre quem realmente recai o
ônus, bem como a influência que esses têm sobre o equilíbrio de mercado. A partir
de uma analise dessa influência pode-se notar que os impostos representam grande
parte dos custos de produção, sendo que não são inteiramente repassados ao
consumidor por tal ato resultaria em grande aumento do preço e consequente queda
da demanda. Com base nisso o Estado usa de impostos e taxas para minimizar os
impactos ambientais e maximizar as ações como geração de emprego e inclusão
social. Este pode ocorrer através de isenção parcial de impostos, subsídios a
exportação, empréstimos para expansão, entre outros. Por sua vez são aplicadas
altas multas a empresas que poluem em larga escala, ou mesmo as chamadas
ecotaxas que são estipuladas de acordo com a quantidade de poluentes ou
materiais não recicláveis liberadas no ambiente.
O campo de estudo da microeconomia mostra-se de essencial importância
para o administrador, pois a este se faz necessário total entendimento do mercado
no qual atua, bem como das variáveis que o afetam. As constantes mudanças
econômicas que ocorrem no mundo devem ser avaliadas, e possíveis alterações
devem ser previstas, para que se possa preparar a organização para os impactos
que essa virá a sofrer com alterações no ambiente global. Ao mesmo passo que as
variações nacionais precisam ser avaliadas com cautela para poder se alinhar a
quantidade a ser ofertada pela organização com a demanda do mercado.
A busca pela sustentabilidade é um processo contínuo, a consciência da
sociedade para com os problemas socio-ambientais é crescente, mas ainda há um
longo caminho a se trilhar. Novas tecnologias são diariamente desenvolvidas de
forma sustentável, antigos processos vêm sendo adaptados e gradativamente
diminuem-se os impactos sobre o meio ambiente. Mas é importante se ter em mente
que essas ações ainda não alcançaram o nível de neutralizar outras ainda
prejudiciais.
Por outro lado, pode-se inferir que a sustentabilidade não envolve apenas
novos meios de produção não poluentes, é necessário que valores sustentáveis
sejam desenvolvidos. Isso significa que, enquanto administradores não deixarem de
vê-la como obrigação, como exigência de mercado, e passarem a vê-la como um
valor a ser agregado, como uma tentativa de melhorar as condições de vida, ela não
será alcançada. Pois o conceito, antes de um modelo de gestão, mostra-se como
uma tentativa de preservação da sociedade tal qual a conhecemos.
Referências Bibliográficas
Agenda 21 Local http://www.agenda21local.com.br/abe1.htm
Ecotaxa http://www.ecotaxaco2.org/
HALL, Robert E.; LIEBERMAN, Marc - Microeconomia - Princípios e Aplicações -
Editora Thomson - São Paulo, 2003
Ministério do Meio Ambiente http://www.mma.gov.br/sitio/index.php
OXFORD/New York, Oxford University Press – “Nosso Futuro Comum” – Tradução de “Our Common Future”, 1987 – Editora da Fundação Getúlio Vargas