microeconomia ii - uniasselvi

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2019 MICROECONOMIA II Prof ª . Carla Eunice Gomes Correa

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Page 1: MicroeconoMia ii - UNIASSELVI

2019

MicroeconoMia ii

Profª. Carla Eunice Gomes Correa

Page 2: MicroeconoMia ii - UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:

Profª. Carla Eunice Gomes Correa

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial.

Impresso por:

C824m

Correa, Carla Eunice Gomes Correa

Microeconomia II. / Carla Eunice Gomes Correa. – Indaial:UNIASSELVI, 2019.

187 p.; il.

ISBN 978-85-515-0264-8

1.Microeconomia – Brasil. II. Centro Universitário LeonardoDa Vinci.

CDD 338.5

Page 3: MicroeconoMia ii - UNIASSELVI

III

apresentaçãoOlá, caro acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Microeconomia

II. Anteriormente, você já tomou conhecimento de alguns temas que a microeconomia estuda. Partindo desse pressuposto, este livro de estudos foi desenvolvido com o objetivo de dar subsídios a esta disciplina.

Na Unidade 1, estudaremos as estruturas de mercado existentes e as estratégias competitivas de mercado. No Tópico 1, estudaremos as estruturas de mercado da concorrência perfeita e o monopólio. No Tópico 2, estudaremos os modelos de concorrência imperfeita, que compreende o oligopólio e a concorrência monopolística. Além disso, compreenderemos a teoria dos jogos e como ela é aplicada nas grandes decisões estratégicas. No Tópico 3, estudaremos as estruturas de mercado voltadas ao mercado de fatores de produção.

Na Unidade 2, vamos estudar o mercado de fatores de produção. Você deve se recordar de que os fatores de produção são essenciais para conseguirmos produzir bens e serviços que atendam às necessidades da população. Vamos compreender por que há uma diferenciação de salários entre as regiões, o papel dos sindicatos neste contexto, e por que muitas vezes demandamos mais mão de obra do que necessitamos. Também veremos como devemos tomar nossas decisões, quando precisamos investir na compra de equipamentos e quando é mais viável contratar mais pessoas.

Na Unidade 3, vamos abordar as externalidades, bens públicos e meio ambiente. Ao instalarmos uma empresa em determinado local poderemos ter externalidades positivas à sociedade, mas também negativas, tanto para as pessoas como para o meio ambiente, e vamos compreender como estas externalidades influenciam o mercado. Além disso, veremos qual é o papel do governo na regulação das externalidades. Estudaremos sobre os bens públicos, aqueles que são fornecidos à população por parte do governo e que também possuem custos. E, por último, vamos verificar como se dá a relação economia e meio ambiente nos dias atuais.

Esperamos que você possa aproveitar muito os temas que serão tratados no decorrer das unidades deste livro de estudos, pois serão muito úteis no processo de tomada de decisão dos economistas dentro das organizações, bem como ajudará você, acadêmico, a refletir sobre os principais problemas econômicos, sociais e ambientais que enfrentamos em nosso dia a dia.

Bons estudos!

Profª. Carla Eunice Gomes Correa

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IV

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos!

NOTA

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

UNI

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VII

UNIDADE 1 – ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS ...............1

TÓPICO 1 – CONCORRÊNCIA PERFEITA E MONOPÓLIO ........................................................31 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................32 CONCEITO DE MERCADO E ESTRUTURA DE MERCADO .................................................33 MODELO DE CONCORRÊNCIA PERFEITA ................................................................................5

3.1 FUNCIONAMENTO DO MODELO DE CONCORRÊNCIA PERFEITA ..............................103.2 ENTRADAS E SAÍDAS DE EMPRESAS NO MERCADO DE CONCORRÊNCIA PERFEITA ..........................................................................................................................................123.3 COMPORTAMENTO DAS FIRMAS NO MERCADO DE CONCORRÊNCIA PERFEITA NO CURTO E LONGO PRAZO .................................................................................14

4 MONOPÓLIO ......................................................................................................................................154.1 RECEITA MÉDIA E RECEITA MARGINAL DO MONOPOLISTA ........................................184.2 DECISÃO DE PRODUÇÃO DO MONOPOLISTA .....................................................................194.3 EQUILÍBRIO DE MERCADOS DE MONOPÓLIO ....................................................................224.4 DISCRIMINAÇÃO DE PREÇOS NO MERCADO DO MONOPÓLIO....................................23

RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................29AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................30

TÓPICO 2 – MODELOS DE CONCORRÊNCIA IMPERFEITA, TEORIA DOS JOGOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS .............................................................................311 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................312 OLIGOPÓLIO ......................................................................................................................................31

2.1 OLIGOPÓLIO DE CONLUIO ........................................................................................................332.2 MODELO DE CURVA DE DEMANDA QUEBRADA ..............................................................352.3 MODELO DE FIRMA DOMINANTE (LIDERANÇA DE PREÇO) ..........................................372.4 CARTEL ...........................................................................................................................................38

3 CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA .........................................................................................394 TEORIA DOS JOGOS E ESTRATÉGIAS .......................................................................................425 EQUILÍBRIO DE NASH ......................................................................................................................436 LEI ANTITRUSTE E REGULAÇÃO ................................................................................................45LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................48RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................51AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................52

TÓPICO 3 – ESTRUTURAS DE MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO...........................531 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................532 MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO ..................................................................................53

2.1 CONCORRÊNCIA (QUASE) PURA E PERFEITA ......................................................................542.2 MONOPSÔNIO ...............................................................................................................................542.3 OLIGOPSÔNIO ...............................................................................................................................562.4 CONCORRÊNCIA MONOPSONISTA .........................................................................................582.5 MONOPÓLIO BILATERAL ...........................................................................................................58

LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................60

suMário

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VIII

RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................62AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................63

UNIDADE 2 – MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO E COMPETITIVIDADE ...........65

TÓPICO 1 – MERCADOS PARA OS FATORES DE PRODUÇÃO .............................................671 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................672 DEMANDA POR FATORES DE PRODUÇÃO .............................................................................68

2.1 DEMANDA POR FATORES NO CURTO PRAZO ..................................................................682.2 DEMANDA POR FATORES NO LONGO PRAZO .................................................................73

3 OFERTA POR FATORES DE PRODUÇÃO ...................................................................................753.1 OFERTA DE TRABALHO DE MERCADO ................................................................................773.2 OFERTA DE TRABALHO NO CURTO E LONGO PRAZO ...................................................80

RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................82AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................83

TÓPICO 2 – DESIGUALDADE DE RENDA ...................................................................................851 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................852 DIFERENÇAS SALARIAIS NO MERCADO ................................................................................853 COMO MENSURAR A DESIGUALDADE ..................................................................................904 POLÍTICAS DE DISTRIBUIÇÃO DE RENDA ............................................................................98

4.1 UTILITARISMO ............................................................................................................................994.2 LIBERALISMO ..............................................................................................................................994.3 LIBERTARISMO ............................................................................................................................100

LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................101RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................105AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................106

TÓPICO 3 – EFICIÊNCIA ECONÔMICA EM MERCADOS COMPETITIVOS ......................1071 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1072 O CONCEITO DE EFICIÊNCIA ECONÔMICA .........................................................................1073 MELHORIAS DE PARETO ...............................................................................................................1094 OS ELEMENTOS DA EFICIÊNCIA ECONÔMICA ...................................................................1105 EFICIÊNCIA ECONÔMICA E EQUIDADE .................................................................................115RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................118AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................119

UNIDADE 3 – EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS E MEIO AMBIENTE .........................121

TÓPICO 1 – ESTUDO DAS EXTERNALIDADES NA ECONOMIA ..........................................1231 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1232 AS EXTERNALIDADES NA ECONOMIA ...................................................................................124

2.1 EXTERNALIDADES POSITIVAS ...............................................................................................1252.2 EXTERNALIDADES NEGATIVAS .............................................................................................1292.3 TEOREMA DE COASE ................................................................................................................1332.4 RECURSOS DE PROPRIEDADE COMUM ..............................................................................1352.5 FORMAS DE CORREÇÃO DAS FALHAS DE MERCADO ....................................................1382.6 NÍVEL ÓTIMO DE POLUIÇÃO PERMITIDO ..........................................................................140

RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................142AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................143

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IX

TÓPICO 2 – OS BENS PÚBLICOS E OS IMPOSTOS ...................................................................1451 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1452 CONCEITO DE BENS PÚBLICOS ..................................................................................................145

2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS BENS SEGUNDO A RIVALIDADE E EXCLUSIVIDADE ...........1492.2 EFICIÊNCIA DOS BENS PÚBLICOS .........................................................................................151

3 GOVERNO E IMPOSTOS ...............................................................................................................1533.1 ALÍQUOTA MARGINAL E ALÍQUOTA MÉDIA DE IMPOSTOS ........................................1563.2 IMPOSTOS SOBRE A RENDA ....................................................................................................157

RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................158AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................159

TÓPICO 3 – ECONOMIA E MEIO AMBIENTE ..............................................................................1611 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1612 APROXIMAÇÃO DOS TERMOS ECONOMIA E MEIO AMBIENTE ...................................1613 MEIO AMBIENTE E TEORIAS ECONÔMICAS .........................................................................1644 ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .........................................................1665 MODELO DE VALORAÇÃO E TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL ................................................171LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................177RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................182AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................183

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................185

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UNIDADE 1

ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• definir o que é um mercado;

• compreender quais são as estruturas de mercados de bens e serviços;

• discutir como as práticas ilegais de concorrência prejudicam o mercado;

• compreender o papel dos órgãos governamentais frente à política da concorrência desleal;

• entender o funcionamento da estrutura de mercado dos fatores de produção.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – CONCORRÊNCIA PERFEITA E MONOPÓLIO

TÓPICO 2 – MODELOS DE CONCORRÊNCIA IMPERFEITA, TEORIA DOS JOGOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

TÓPICO 3 – ESTRUTURAS DE MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO

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TÓPICO 1UNIDADE 1

CONCORRÊNCIA PERFEITA E

MONOPÓLIO

1 INTRODUÇÃOAnteriormente, na disciplina de Microeconomia I, você estudou o mercado

de oferta e demanda em mercados competitivos. Nesta unidade vamos avançar, estudando como as firmas tomam a decisão do quanto devem produzir, tanto no mercado competitivo como em mercados não competitivos. Veremos que, embora pareça uma decisão fácil, trata-se de algo bem complexo, uma vez que o mercado é bastante dinâmico. No mercado encontramos desde as pequenas empresas, aquelas que não apresentam poder de mercado, ou seja, não influenciam no preço ofertado, até as dominantes do mercado, representadas por aquelas que apresentam poder de mercado e que conseguem realizar a manipulação de preço, dos canais de distribuição e praças de venda.

Estudaremos as características de cada mercado e veremos que elas são essenciais para a sua diferenciação. Essa diferenciação se dá pelo grau de concentração, ou seja, pela quantidade de produtores e vendedores, a oferta de produtos iguais, semelhantes ou totalmente diferenciados e as barreiras impostas para que uma empresa venha a atuar em determinado mercado.

Neste primeiro tópico estudaremos o mercado de concorrência perfeita, em que o poder das firmas na tomada de decisão é considerado nulo e o monopólio caracterizado pela presença de uma única empresa no mercado a ofertar determinado produto sem que haja produtos substitutivos.

2 CONCEITO DE MERCADO E ESTRUTURA DE MERCADO No decorrer de seus estudos, você já observou que muitas variáveis

interferem na oferta e demanda de bens e serviços e, consequentemente, nas tomadas decisões das firmas em relação aos preços. Da mesma forma, vimos que se não houvesse nenhuma interferência, teríamos um mercado em equilíbrio. Mas você se lembra o que é um mercado?

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UNIDADE 1 | ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

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NOTA

O mercado é o local onde ocorre a interação entre a oferta e demanda de bens e serviços, assim como fatores de produção são trocados livremente entre as pessoas.

Alguns mercados são lugares reais, como a padaria do seu Zé da esquina, o mercadinho do Sr. João ou a central de distribuição de hortifrutigranjeiros. Mas também tem os mercados, em que toda a negociação ocorre a distância, como o e-commerce, as negociações de jogadores de futebol, entre outros, ou ainda, as negociações de imóveis. Não importa, todos são mercados, pois existem dois agentes: os compradores e os vendedores de bens e serviços que interagem realizando a comercialização.

Bem, podemos dizer que esse seria o modelo de mercado ideal, em

que compradores e vendedores realizam as suas transações comerciais sem a interferência de ninguém. Mas não é tão simples assim, devido às interferências, nos deparamos com várias estruturas de mercados competitivos (concorrência perfeita e concorrência monopolística), como também as estruturas de mercados não competitivos (monopólio e oligopólio).

Na Figura 1 você pode observar as estruturas de mercado de bens e serviços. Ela se divide em quatro estruturas: concorrência perfeita, concorrência monopolística, monopólio e oligopólio.

FIGURA 1 – GRAU DE CONTROLE COMPETITIVO

FONTE: A autora

GRAU DE CONTROLEPequeno Elevado

OligopólioMonopólioConcorrênciaMonopolística

ConcorrênciaPerfeita

Entende-se por estruturas de mercado todas as características de um mercado que influenciam o comportamento dos compradores e vendedores quando estes se juntam para comercializar bens e serviços num mercado (HALL; LIEBERMAN, 2003).

Mas para que se configure uma estrutura de mercado, de acordo com Vasconcellos e Garcia (2008), é necessário observar três características básicas:

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TÓPICO 1 | CONCORRÊNCIA PERFEITA E

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• Número de empresas no mercado.• Características dos produtos (homogeneidade e/ou substitutos próximos).• Existência de barreira de acesso ao mercado.

Vamos iniciar nosso estudo analisando as estruturas de mercado de concorrência perfeita e o monopólio.

3 MODELO DE CONCORRÊNCIA PERFEITA Antes de estudarmos o mercado de concorrência perfeita, que é uma

das estruturas de mercados competitivos, é importante que você compreenda a aplicação do termo concorrência em economia.

De forma geral, quando falamos em concorrência ou concorrente sempre

nos remetemos à ideia de rivalidade entre duas pessoas, empresas ou mercados. Mas, na economia, o termo concorrência apresenta uma outra conotação: ela representa um mecanismo da organização dos mercados, ou seja, uma forma de determinar preços e quantidades de equilíbrio no mercado.

O modelo de concorrência perfeita é o modelo chamado de ideal, em que

os produtores, ou seja, a firma, não tem nenhum tipo de controle sobre os preços. Esse tipo de mercado é caracterizado principalmente pela presença de um grande número de pequenas empresas produzindo e ofertando produtos idênticos, sendo que nenhuma isoladamente tem poder de influenciar no preço ou na quantidade ofertada no mercado. A presença de uma quantidade expressiva de empresas faz com que estas sejam apenas tomadoras de preços.

NOTA

Um mercado de concorrência perfeita é aquele no qual existem muitos compradores e muitos vendedores, de forma que nenhum comprador ou vendedor individual exerce influência sobre o preço.

Mas como identificar esse tipo de mercado? Para isso, algumas premissas se destacam, conforme descrito a seguir:

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UNIDADE 1 | ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

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• Mercado atomizado: composto de grande número de empresas, como se fossem átomos.

• Produtos homogêneos: entre os produtos ofertados não há uma diferenciação.• Não existem barreiras à entrada: os concorrentes não impõem nenhum tipo de

barreira para o ingresso de novas empresas neste mercado.• Transparência no mercado: são todas as informações sobre os lucros e preços,

ou seja, todos os participantes do mercado conhecem as negociações realizadas.

Afinal, quais são as empresas que mais conhecemos com as características descritas? Estas empresas estão bem próximas de nós, muitas vezes passam até despercebidas, mas são as que mais se aproximam do mercado: são as conhecidas feiras de hortifrutigranjeiros ou feiras livres.

Quando vamos à feira, podemos observar que cada comerciante possui sua barraca ou espaço para comercializar seus produtos que são bem parecidos ou iguais. Não existem regras estabelecidas impedindo que novos feirantes venham a fazer parte do mercado, desde que haja espaço para expor seus produtos. Os preços praticados por eles estão expostos, escritos em tabloides ou em pequenas placas, e são colocados junto aos produtos, fazendo com que todos conheçam o preço que está sendo praticado. As negociações entre comerciantes e consumidores ocorrem no mesmo espaço, na frente de todos que participam do mercado, conforme mostra a figura a seguir:

FIGURA 2 – MODELO DE MERCADO DE CONCORRÊNCIA PERFEITA – FEIRA DE HORTIFRUTIGRANJEIROS

FONTE: <https://incaper.es.gov.br/feira-de-iuna-30-anos>. Acesso em: 11 out. 2018.

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TÓPICO 1 | CONCORRÊNCIA PERFEITA E

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IMPORTANTE

Não existe um mercado tipicamente de concorrência perfeita, o que mais se aproxima destas características é o mercado de hortifrutigranjeiros.

De acordo com Vasconcellos e Garcia (2008), umas das características desse mercado é que no longo prazo não existem os lucros extraordinários, mas os chamados lucros normais. Isso ocorre porque o mercado é transparente e, com o aumento dos lucros a curto prazo, novas empresas irão compor o mercado. Como não existem barreiras para a entrada de empresas, a oferta de produtos aumentará e com isso o preço tende a cair, fazendo com que o lucro extraordinário a longo prazo chegue a zero.

NOTA

Lucros normais: “é o nível de lucro apenas suficiente para persuadir a empresa a permanecer no setor no longo prazo, mas não é alto suficiente para atrair novas empresas” (WALL, 2015, p. 150).

Outro exemplo que podemos utilizar para demonstrar em qual mercado ocorre a concorrência perfeita é o das commodities agrícolas.

NOTA

Commodities agrícolas: é uma palavra derivada do inglês que significa mercadoria. Na economia, o termo é utilizado para designar produtos primários. Geralmente são produtos que possuem grande valor no mercado mundial e podem ser armazenados por um longo tempo. Enquadram-se nesta classificação os produtos provenientes do agronegócio, por exemplo: soja, milho, café, trigo, açúcar etc.

Nesse sentido, um produtor rural que comercializa feijão, arroz ou soja, não se preocupa em determinar o preço de seus produtos, pois terá que vendê-lo a preço de mercado. Observe a figura a seguir, ela demonstra uma cotação do mercado de arroz no dia 7 de agosto de 2018, divulgada pelo site Notícias Agrícolas:

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UNIDADE 1 | ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

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FIGURA 3 – COTAÇÃO DO PREÇO DO ARROZ NO MERCADO NACIONAL

FONTE: <https://www.noticiasagricolas.com.br/cotacoes/arroz>.Acesso em: 11 out. 2018.

Observe na figura que a cotação apresentada traz os preços praticados pelas cooperativas em vários municípios brasileiros. Podemos observar também que há variação entre esses preços, entretanto, sabemos que todo o produtor de arroz da região de Capivari do Sul/RS negociará seus produtos por intermédio da Coripil (Cooperativa de Rizicultura Pitangueiras), portanto o preço será de R$ 46,00 a saca de 50 kg. Já os produtores da região de Rio do Sul /SC negociam seus produtos através da Cravil (Cooperativa Agrícola do vale do Itajaí) e o preço praticado pelo mercado é de R$ 38,00 (por saca de 50 kg), ocorrendo dessa maneira com os demais.

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TÓPICO 1 | CONCORRÊNCIA PERFEITA E

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DICAS

Outra forma de acompanhar o preço de mercado dos produtos agrícolas é através dos indicadores CEPEA (Centro de Estudos Avançados de Economia Aplicada). Para saber mais, acesse: <https://www.cepea.esalq.usp.br/br>.

Lembre-se de que o fato de o mercado ser composto por várias empresas faz com que as compras e vendas individuais sejam insignificantes em relação ao volume de transações efetuadas neste mercado. Portanto, o mercado não é influenciado por nenhum dos consumidores ou produtores, colocando todos na posição de tomadores de preços, cujo poder de decisão está vinculado apenas às quantidades demandadas e ofertadas aos preços vigentes no mercado. “Incapaz de decidir sobre preço, resta à empresa competitiva definir apenas a quantidade a ser produzida e vendida em sua busca por maximização de lucro, decisão que depende do horizonte de tempo considerado” (CARVALHO, 2015, p. 189).

IMPORTANTE

Em um mercado perfeitamente competitivo, os compradores não percebem diferenças significativas entre os produtos de um vendedor ou de outro. Quando é possível identificar diferença entre os produtos, dizemos que este mercado não é perfeitamente competitivo.

Podemos citar alguns produtos que não se encaixam no mercado perfeitamente competitivo, como café (o consumidor identifica diferença entre marcas), computadores, automóveis, instituições de ensino, atendimento de saúde ou, ainda, produtos que demandam de licenças para produção como os medicamentos. Estes não configuram um mercado perfeitamente competitivo.

De acordo com Hall e Lieberman (2003), a entrada de empresas no mercado raramente é gratuita. Uma empresa sempre incorrerá de custos para montar seu negócio. Entretanto, no mercado perfeitamente competitivo a empresa não terá barreiras significativas que possam desestimular o empreendedor. Voltando, por exemplo, ao comércio agrícola, qualquer pessoa pode começar a produzir produtos agrícolas e vender no mercado sem nenhum problema, cabe a ela apenas ter experiência para fazer a produção. O empreendedor terá os mesmos custos que um produtor veterano possui. Assim, poderíamos citar vários tipos de negócios, como lanchonetes, mercearias, loja de roupas etc.

Page 20: MicroeconoMia ii - UNIASSELVI

UNIDADE 1 | ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

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Mas você dever estar se perguntando: Quais são os mercados que enfrentam barreiras de entrada no comércio?

Em algumas atividades, o governo acaba colocando barreiras de acesso ao mercado, como por exemplo, o número de táxis licenciados para trabalhar em determinado ponto da cidade ou, ainda, devido aos planos diretores das cidades, que estabelecem como algumas empresas podem operar em um determinado local. Podemos citar também a construção de um estacionamento de 15 andares próximo à universidade, em que o plano diretor determina que as construções devem ser de, no máximo, 10 andares; ou, ainda, a instalação de uma indústria numa área considerada rota turística devido as suas belezas naturais.

Não é somente o governo que coloca barreiras de acesso ao mercado. A fidelização do consumidor por determinada marca também pode ser considerada uma barreira de mercado, visto que a nova marca precisaria fazer com que o consumidor perdesse o interesse pela marca existente.

Apesar de existir barreiras às entradas, podemos observar que este mercado também é caracterizado pela saída fácil. Ao perceber que seu negócio não está mais sendo lucrativo, a empresa poderá sair do mercado a qualquer momento, desde que cumpra as exigências legais em relação à quitação de impostos e pagamentos de indenizações a seus funcionários.

3.1 FUNCIONAMENTO DO MODELO DE CONCORRÊNCIA PERFEITA

Agora que já compreendemos como é formado o mercado de concorrência perfeita, vamos verificar como se dá o funcionamento deste mercado. Inicialmente vamos verificar o ponto de produção ideal para uma empresa de concorrência perfeita. Assim, o ponto ideal de produção para uma empresa em concorrência perfeita é no momento em que ela consegue o lucro máximo. Mas, é necessário que seja determinado como se comporta a demanda desse mercado, que permitirá uma previsão de receita da empresa e de seus custos (HALL; LIEBERMAN, 2003).

Você se recorda de como calculamos o lucro da firma? O cálculo do lucro da firma se dá pela diferença entre receita total e custo total. Como a receita total e o custo total dependem da quantidade de produtos no mercado, o lucro também será função da quantidade e é representado pela equação:

Lucro Total (Quantidade) = Receita Total (Quantidade) – Custo Total (Quantidade)

ATENCAO

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TÓPICO 1 | CONCORRÊNCIA PERFEITA E

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A curva do ponto máximo da função lucro é representada pelo formato de U invertido, pois as empresas teriam um aumento de lucratividade à medida que a quantidade transacionada se elevasse até um determinado ponto e, após atingido esse ponto, o ganho adicional diminuiria.

Matematicamente, podemos dizer que o ponto máximo é encontrado quando a derivada da função lucro em relação à quantidade é zero, quando ocorre a inflexão da curva, ou seja, pode ser representada pela seguinte expressão:

0 = Receita Marginal – Custo Marginal

Ou, ainda, podemos representá-la por:

Receita marginal = custo marginal (RM = CM)

Você compreendeu por que as duas variáveis RM = CM precisam ser iguais? Se a receita marginal for superior ao custo marginal, isso indica que a curva de lucro ainda está em fase de crescimento, ou seja, o empresário pode vender uma unidade adicional que o lucro crescerá um pouco mais. Já se a receita marginal for inferior ao custo marginal, isso indica que a curva de lucro está na fase descendente, significando que o empresário não deveria vender mais uma unidade. Vejamos na figura a seguir como podemos representar graficamente essa relação:

FIGURA 4 – GRÁFICO DE DETERMINAÇÃO DO LUCRO DA EMPRESA

FONTE: Adaptado de Garófalo (2016)

Área de Lucro da empresa

CMg

CTMe

RMe = RMg - P

R$

Quantidade0

CVMemin

Quantidade que Maximiza o lucro

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UNIDADE 1 | ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

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Observe na figura que o ponto de encontro entre as curvas de receita marginal e o custo marginal fornecem a quantidade que maximiza o lucro desse mercado. Já com relação ao valor do lucro da empresa, a área demarcada ilustra o montante de lucro que a empresa alcançou.

Lucro Total = Receita Total – Custo Total(LT = RT –CT)

Se dividirmos os valores da RT e CT pela quantidade, obteremos o do lucro total médio (LTMe):

LTMe = qRT

qCT

= preço – CTMeqCT

Considerando que a receita média é igual ao preço, e o custo total dividido pela quantidade é exatamente o custo total médio, teremos:

Assim, a diferença entre o preço e o custo total médio multiplicado pelas quantidades comercializadas é exatamente igual ao lucro do setor.

Lucro Total = (Preço – Custo Total Médio) * Quantidade A área demarcada que vimos na figura anterior corresponde ao lucro da

firma no mercado de concorrência perfeita no curto prazo.

3.2 ENTRADAS E SAÍDAS DE EMPRESAS NO MERCADO DE CONCORRÊNCIA PERFEITA

Vimos anteriormente que no mercado de concorrência perfeita não existem barreiras para entradas e saídas de empresa, entretanto, para que a empresa continue no mercado, ela precisa gerar lucro. Porém, ao derivar-se graficamente a condição de maximização de lucro, observamos que a empresa terá seu lucro garantido se o preço praticado nesse mercado estiver acima do custo total médio de produção, pois à medida que essas variáveis se igualarem, ou seja, a partir do momento que preço for igual ao custo total médio de produção, a empresa passará a ter lucro zero. E, se o preço de mercado for menor do que o custo total médio de produção, a empresa terá prejuízo.

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TÓPICO 1 | CONCORRÊNCIA PERFEITA E

13

IMPORTANTE

“Embora o lucro seja o principal objetivo das empresas, estas, quando estão em fase de crescimento ou mesmo no início das operações, aceitam um período de prejuízo” (GARÓFALO, 2016, p. 215).

A figura a seguir demonstra graficamente as condições que levam a empresa a entrar ou a sair de um mercado de concorrência perfeita:

FIGURA 5 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DE ENTRADA E SAÍDA DE FIRMA NO MERCADO DE CONCORRÊNCIA PERFEITA

FONTE: Garófalo (2016, p. 215)

CMg

0Quantidade

Custo

CTMe

CVMe

Empresa sai do mercado P<CVM

Empresa possuiLucro: P>CTM

Observe na figura que quando o preço de mercado for inferior ao custo variável médio, a empresa não conseguirá pagar os trabalhadores utilizados na produção e, por isso, ela deverá sair do mercado. Por outro lado, quando o preço estiver, pelo menos, em igualdade com os custos variáveis médios, a empresa poderá continuar operando no setor com prejuízo, pois ela conseguirá remunerar os insumos utilizados e os trabalhadores na expectativa de um aumento de preço e num futuro lucro.

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UNIDADE 1 | ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

14

3.3 COMPORTAMENTO DAS FIRMAS NO MERCADO DE CONCORRÊNCIA PERFEITA NO CURTO E LONGO PRAZO

De acordo com Garófalo (2016), qualquer alteração no curto prazo, que seja proveniente da oferta ou da demanda, não irá afetar a condição de lucro no longo prazo, que será sempre igual a zero, conforme podemos ver:

FIGURA 6 – ALTERAÇÃO DA OFERTA E DEMANDA NO CURTO PRAZO

FONTE: Garófalo (2016, p. 215)

Mas se houver um acréscimo da demanda por um produto, o que acontece? Inicialmente haverá uma elevação do preço do produto e, consequentemente, o lucro da empresa também aumentará. A figura a seguir ilustra esta relação:

FIGURA 7 – ACRÉSCIMO DA DEMANDA NO CURTO PRAZO

FONTE: Garófalo (2016, p. 215)

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TÓPICO 1 | CONCORRÊNCIA PERFEITA E

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Após esse movimento, outras empresas perceberão o acréscimo de tal lucro e entrarão nesse mercado, pois a saída e a entrada de firmas é, por hipótese, livre. Assim, com maior número de empresas entrando em um mercado como esse, a oferta aumentará, fazendo com que a quantidade de produto se eleve e o correspondente preço diminua.

À medida que o preço começa a reduzir, o lucro das empresas atuantes no setor principia a cair até chegar ao ponto zero. Com o lucro nesse patamar no longo prazo, não existirão novas empresas interessadas em entrar nesse segmento e, portanto, o mercado estará em equilíbrio novamente, conforme figura a seguir:

FIGURA 8 – AUMENTO DO LUCRO

FONTE: Garófalo (2016, p. 215)

4 MONOPÓLIO Caro acadêmico, você estudou anteriormente o mercado de concorrência

perfeita, que se trata de um caso extremo de um mercado formado por várias empresas ofertando produtos homogêneos, e que a tomada de decisão individual de cada produtor não influencia no preço do produto no mercado.

Agora, continuando nossos estudos sobre as estruturas de mercado, vamos compreender o monopólio. Mas quando ocorre o monopólio de mercado? O monopólio se caracteriza pela presença de apenas uma empresa no mercado, que produz um produto sem substitutos próximos. Você com certeza pensou em várias empresas que fazem parte deste contexto, não é mesmo? Então, antes vamos entender por que um mercado é caracterizado como monopolista.

NOTA

Monopólio: “Mercado no qual existe apenas um vendedor” (PINDYCK; RUBINFELD, 2013, p. 352).

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UNIDADE 1 | ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

16

NOTA

Geralmente o monopolista se insere no mercado e, por um longo período, ele consegue absorver lucros extraordinários. Esses lucros extraordinários muitas vezes atraem outras empresas, porém elas encontram certas dificuldades para entrar no mercado. Por isso é muito comum dizermos que “a existência de monopólio depende da existência de barreiras à entrada de firmas concorrentes” (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2008, p. 203).

Um exemplo clássico de poder de mercado que resultou da propriedade de um recurso-chave é o da DeBeers, empresa de diamantes da África do Sul. A companhia foi fundada em 1888 por Cecil Rhodes, empresário inglês (e benemérito distribuidor de bolsas de estudo). A DeBeers às vezes controla cerca de 80% da produção mundial de diamantes. Como sua participação no mercado é de menos de 100%, a DeBeers não é exatamente um monopólio, mas, nem por isso, a empresa deixa de exercer influência considerável sobre o preço mundial dos diamantes (MANKIW, 2013).

As barreiras mais comuns são: as barreiras legais, controle do fornecimento de matéria-prima e a barreira de escala.

As barreiras legais são impostas às empresas por determinação de uma lei de patente e direitos autorias. Geralmente são utilizadas por empresas que realizam investimentos em pesquisa de produtos, como por exemplo, as empresas farmacêuticas. Neste caso, quando a empresa desenvolve uma nova fórmula de medicamento, a lei permite que esta empresa tenha o monopólio deste determinado produto durante um período (pode variar de 15 a 20 anos). Nesse caso, este tipo de monopólio é chamado de monopólio legal.

NOTA

Exemplo de monopólio legal

Quando uma companhia farmacêutica descobre um novo medicamento, pode requerer do governo uma patente. Se o governo considerar que o medicamento é realmente original, a patente é aprovada, o que confere à empresa o direito exclusivo de fabricação e venda do produto por 20 anos (MANKIW, 2013).

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TÓPICO 1 | CONCORRÊNCIA PERFEITA E

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Podemos citar ainda outros casos de monopólio legal, como o caso da Petrobrás, na exploração do petróleo, ou ainda a exploração de alguns serviços – como o fornecimento de energia elétrica, serviços de saneamento, água e esgoto, distribuição de gás – chamados de monopólio natural.

NOTA

Monopólio natural

“Monopólio natural é um monopólio que surge porque uma só empresa consegue ofertar um bem ou serviço a um mercado inteiro, a um custo menor do que ocorreria se existissem duas ou mais empresas no mercado” (MANKIW, 2013, p. 284).

Outra barreira bem conhecida no mercado é o controle da matéria-prima. Geralmente monopólios deste tipo se formam devido à indústria ser a detentora da licença de exploração de algum recurso natural, como como ocorre com o alumínio e com a exploração do petróleo. Este tipo de barreira impede que outras empresas passem a explorar o alumínio e/ou a produzir gasolina.

E, por fim, temos as chamadas barreiras de escala. A barreira de escala ocorre quando há a existência de rendimentos crescentes de escala para a produção de determinado bem. Podemos citar, como exemplo, para que você compreenda melhor, a tecnologia utilizada por algumas empresas, fazendo com que elas possam produzir com um custo bem inferior às demais empresas do mercado.

NOTA

“A principal diferença entre uma empresa competitiva e uma monopolista é a capacidade que esta tem de influenciar o preço de seu produto. Uma empresa competitiva é pequena em relação ao mercado em que opera e, como não tem poder para influenciar o preço de seu produto, aceita o que é apresentado pelas condições do mercado. Em contraposição, um monopólio, como a única produtora em seu mercado, pode alterar o preço de seu bem ajustando a quantidade que oferta ao mercado” (MANKIW, 2013, p. 285).

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UNIDADE 1 | ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

18

4.1 RECEITA MÉDIA E RECEITA MARGINAL DO MONOPOLISTA

A receita média do monopolista é o preço que recebe por unidade vendida. Podemos representá-la pela curva de demanda do mercado, mas para que possa maximizar seus lucros e escolher o nível de produção que lhe dará esse objetivo é necessário conhecer a sua receita marginal. Vejamos o exemplo a seguir:

TABELA 1 – RECEITA MÉDIA E MARGINAL DA FIRMA MONOPOLISTA

Preço (P)(R$)

Quantidade (q) Receita Total (RT) (R$)

Receita marginal (RMg)

Receita Média (RMe) ou Preço

(P)6 0 0 - -5 1 5 5 54 2 8 3 43 3 9 1 32 4 8 -1 21 5 5 -3 1

FONTE: A autora

Na Tabela 1 você pode observar a receita total, média e marginal para determinada curva de demanda. Observe também que, à medida que o preço do Produto aumenta (no caso, 6 reais), a receita é igual a zero, ou seja, nenhuma unidade é vendida a este preço. À medida que o preço reduz, aumenta a quantidade de unidades vendidas. Se o preço do produto for R$ 5,00 e uma unidade for vendida, os valores da receita total e da receita marginal serão iguais a R$ 5,00. Já se houver um aumento na quantidade vendida, por exemplo, quatro unidades, e o preço for reduzido para R$ 2,00 por unidade, haverá uma receita total de R$ 8,00 e uma receita marginal de R$ -1,00, ou seja, teremos uma receita marginal negativa, haverá uma perda de receita decorrente da venda da primeira unidade ter sido menor que a anterior.

Graficamente, esta relação entre a demanda e a receita marginal fica mais compreensiva. Observe a figura a seguir e considere que a curva de demanda seja:

P = 12 -Q

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TÓPICO 1 | CONCORRÊNCIA PERFEITA E

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FIGURA 9 – RECEITA MÉDIA E RECEITA MARGINAL

FONTE: Adaptado de Pindyck e Rubinfeld (2013)

1 2 3 4 5 6

2,00

4,00

6,00

10,00

12,00

0

8,00

Receita Média (demanda)

Receita Marginal

Produção

Preço (R$) por unidade produzida

4.2 DECISÃO DE PRODUÇÃO DO MONOPOLISTA

Vimos anteriormente que o objetivo do monopolista é sempre alcançar o lucro máximo. Mas qual é a quantidade que o monopolista deverá produzir para alcançar este objetivo?

Considere um exemplo descrito por Hall e Lieberman (2003), em que um monopolista tenha como objetivo vender uma quantidade maior de produtos. Como ele tem uma curva de demanda com inclinação para baixo, ele precisará reduzir seu preço, mas esse preço baixo deverá ser cobrado sobre todas as unidades de produto que serão vendidas. Vejamos um exemplo prático: Uma empresa fornecedora de sinal de internet desejar ter mais assinantes. Ela terá que reduzir o valor das mensalidades para todos os seus clientes, incluindo os clientes mais antigos, do contrário, estes clientes irão reclamar. Dessa forma, o preço mais baixo influenciará na receita total, pois, por um lado, a receita aumentará pelos novos números de assinalantes, por outro, vai diminuir, pois terá que cobrar um valor mais baixo dos assinantes antigos. Essa diferença no valor da receita total chamamos de receita marginal (que pode ser negativa ou positiva). Observe essa situação na figura a seguir:

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UNIDADE 1 | ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

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FIGURA 10 – GRÁFICO DA DEMANDA E RECEITA MARGINAL (EMPRESA FORNECEDORA DE INTERNET)

FONTE: Adaptado de Hall e Lieberman (2003)

5.000

1820

48

60

0

30

Número de assinantes

Preço (R$)Mensal por assinante

6.000 15.000 20.00021.000

30.000

50

38

Demanda

RM

A

B

C

FG

Observe que quando a empresa move do ponto A para o ponto B ao longo da curva de demanda, a receita total da firma aumenta em R$ 38.000,00, pois no ponto A, a firma cobrava um valor de mensalidade de R$ 50,00 por assinante, com isso tinha 5.000 assinantes, obtendo uma receita total R$ 250.000,00. No ponto B o preço da mensalidade é de R$ 48,00, reduzindo R$ 2,00 no valor e conseguindo mais 1.000 novos assinantes, totalizando 6.000 assinantes, ou seja, sua receita total passa para R$ 288.000,00. A receita marginal para essa alteração é R$ 38,00:

ΔRT = = =(R$ 288.000,00 – R$ 250.000,00) R$ 38.000,00(6.000 – 5.000) 1.000

R$ 38,00ΔQ

RM=

Você pode observar que a receita marginal na Figura 10 é representada pelo ponto C. Observe ainda que, neste caso, o monopólio acaba vendendo uma quantidade maior de assinaturas de internet a um menor preço e consegue um valor de R$ 48,00 (valor da RM antes de diminuir o preço) em cada unidade adicional, por outro lado, precisa cobrar um valor menor também para os outros 5.000 assinantes. Assim, o movimento do ponto A para o B aumenta a receita total e a receita marginal é positiva (mas menor que R$ 48,00) (HALL; LIEBERMAN, 2003).

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TÓPICO 1 | CONCORRÊNCIA PERFEITA E

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NOTA

“Quando uma firma – incluindo um monopólio – enfrenta uma curva de demanda com inclinação para baixo, a receita marginal é menor que o preço do produto. Portanto, a curva de receita marginal fica abaixo da curva de demanda” (HALL; LIEBERMAN, 2003, p. 298).

Neste caso, a curva marginal isolada informa sobre a decisão de produção do monopólio. Lembre-se de que um monopólio nunca produz um nível de produção no qual a receita marginal seja negativa. O monopólio somente irá produzir lucro se a receita marginal for positiva, pois, para isso, a firma deve produzir o nível de produção em que CM = RN e a curva de CM cruza a curva de RM de baixo para cima.

FIGURA 11 – PREÇO MONOPÓLIO E DETERMINAÇÃO DO PRODUTO

FONTE: Adaptado de Hall e Lieberman (2003)

60

40

CM

D

RM10.000 30.000

Número de assinantes

Preço (R$)Mensal por assinante

NOTA

Não existe curva de oferta para um monopólio. Um monopólio não é um tomador de preço, pois ele escolhe seu preço.

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UNIDADE 1 | ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

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4.3 EQUILÍBRIO DE MERCADOS DE MONOPÓLIO

De acordo com Garófalo (2016, p. 218), “a condição de maximização de lucros é a mesma para todas as estruturas de mercado”. Assim, o ponto de encontro entre as curvas de receita marginal e de custo marginal representa que, desse ponto até o eixo das quantidades, o monopolista sabe exatamente quantas unidades deve vender para que o lucro seja maximizado.

Porém, ao alinhar esse ponto com a curva de receita média (a demanda do monopolista), tem-se qual será o preço cobrado por ele nesse caso (ponto E). Adicionalmente, e de forma similar ao realizado em concorrência (quase) pura e perfeita, a diferença entre o preço e o custo total médio equivale ao lucro por unidade que o monopolista pratica. Ao multiplicar esse lucro unitário pela quantidade vendida é obtido o montante de lucro auferido:

FIGURA 12 – EQUILÍBRIO EM MONOPÓLIO A PREÇO ÚNICO

FONTE: Garófalo (2016, p. 218)

Observando-se o triângulo definido pela área BFG, percebe-se que o monopólio possui um grau de ineficiência muito grande quando comparado ao mercado de concorrência (quase) pura e perfeita. Por que é possível chegar a essa conclusão? Da mesma forma que foi representada a curva de receita média do monopolista coincidente com a curva de demanda por ele defrontada, a curva de custo marginal pode ser considerada como uma curva de oferta, especialmente ao se comparar com o caso da concorrência (quase) pura e perfeita. Portanto, o ponto de encontro entre essas duas curvas pode ser admitido como um patamar em que

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TÓPICO 1 | CONCORRÊNCIA PERFEITA E

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a eficiência de mercado é a maior possível, da mesma forma como ocorre em um mercado concorrencial. Outra observação relevante é a de que no comparativo do preço e da quantidade praticados em monopólio com a concorrência (quase) pura e perfeita, chega-se à conclusão, ainda que óbvia, de que o preço e a quantidade praticados em monopólio são maiores e menores, respectivamente, do que os correspondentes patamares da concorrência (quase) pura e perfeita.

4.4 DISCRIMINAÇÃO DE PREÇOS NO MERCADO DO MONOPÓLIO

Nos exemplos que vimos anteriormente, o monopolista foi considerado um agente econômico responsável por estabelecer o preço para os produtos deste mercado, mas ele também pode recorrer a uma técnica chamada de discriminação de preços, objetivando fixar preços diversos para clientes diferentes.

De acordo com Garófalo (2016), para que o monopolista consiga discriminar preços, existem três condições a serem cumpridas:

a) ter poder de mercado;b) conseguir detectar o comportamento dos consumidores relativamente à

sensibilidade diversa que apresentam em termos dos preços que vierem a ser estabelecidos ou cobrados;

c) ser capaz de proibir (ou ao menos evitar) a revenda dos bens.

A seguir, conforme Garófalo (2016), veremos que existem três tipos de discriminação de preços: de primeiro grau (também conhecida como perfeita), de segundo grau (quantidades) e de terceiro grau (por grupos de consumidores).

A discriminação de preços de primeiro grau ocorre quando o monopolista vende os produtos cobrando exatamente o preço de reserva dos consumidores. Podemos dizer que é uma situação irreal, pois quem estaria definindo o preço, neste caso, seria o consumidor, para o produto que o monopolista está ofertando no mercado.

NOTA

O preço de reserva do consumidor é o valor máximo que o consumidor está disposto a pagar por um determinado produto. Caso o valor esteja do preço de reserva, o consumidor não terá nenhum benefício com esta compra.

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UNIDADE 1 | ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

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FIGURA 13 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA DISCRIMINAÇÃO DEPREÇOS DE PRIMEIRO GRAU

FONTE: Adaptado de Garófalo (2016)

0Q max

Quantidade

CMg

Demanda ou Receita média

RMg

Preço

A figura indica que, nesta situação, o monopolista está vendendo seu produto a um preço “que corresponde ao encontro entre as curvas de custo marginal e de receita média” (GARÓFALO, 2016, p. 221).

Um exemplo clássico desse tipo de política é o caso de um dentista especialista em prótese dentária, com consultório num pequeno vilarejo do interior. Neste caso, o profissional acaba estipulando preços diferenciados para seus pacientes, de acordo com a disposição deles em aceitá-lo e com a forma como cada cliente valoriza o serviço desse profissional.

A discriminação de preços de segundo grau ocorre quando o monopolista estipula preços diferenciados por quantidades diversas adquiridas pelo consumidor. Essa prática é muito observada em lojas que vendem produtos por atacado. Por exemplo, num lote de 10 peças de roupa, o consumidor pagará um determinado valor. A partir do segundo bloco, ou seja, da 11 até a 15 peças, ele pagará um preço inferior. Embora o preço do produto vá decrescendo, essa situação ainda é bem favorável ao produtor, pois obterá ganhos de escala, uma vez que custos médios e marginais estão em uma fase decrescente.

Além desse exemplo, você pode observar essa prática nas faturas de energia elétrica de sua residência, promoções de supermercados ou, também, quando for utilizar o serviço de estacionamento rotativo.

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TÓPICO 1 | CONCORRÊNCIA PERFEITA E

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FIGURA 14 – O MESMO PRODUTO COM PREÇO DIFERENCIADOS (A)

FONTE: <https://www.cooper.coop.br/revista/?id=T0RreU9BPT1UZEY=>.Acesso em: 24 out. 2018

FIGURA 15 – O MESMO PRODUTO COM PREÇO DIFERENCIADOS (B)

FONTE: <http://g1.globo.com/bahia/noticia/2013/07/estacionamentos-descumprem-hora-fracionada-e-tolerancia-em-salvador.html>. Acesso em: 24 out. 2018.

A figura a seguir representa graficamente essa relação de ganho:

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UNIDADE 1 | ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

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FIGURA 16 – DISCRIMINAÇÃO DE PREÇOS DE SEGUNDO GRAU

FONTE: Adaptado de Garófalo (2016)

Observe na figura que a discriminação de preços de segundo grau está representada pelas três faixas de preço indicadas por P1, P2 e P3, e as quantidades comercializadas por Q1, Q2 e Q3. Caso houvesse apenas um preço no mercado, ele seria representado apenas por PM e a quantidade QM.

A discriminação de preços de terceiro grau faz com que o monopolista identifique grupos diferentes de consumidores e transacione o produto final/serviço a um preço diferente para cada um dos grupos. Um exemplo é a diferença de preços entre pessoas que vão ao cinema: há pessoas que possuem carteirinha de estudante e outras que não possuem, ou seja, as que possuem a carteirinha de estudante pagarão um valor mais baixo pela entrada do cinema, enquanto que as outras pessoas irão pagar um valor mais elevado, ou, ainda, em serviços em que o valor é diferenciado para sócios e não sócios, ou por idade e até mesmo por período.

0 Quantidade

CMg

Demanda ou Receita média

RMg

Preço

Preçopraticado

Q1 Qm Q2 Q3

P3

P2

Pm

P1

CMe

FIGURA 17 – VALOR DE PRODUTO DIFERENCIADO PARA GRUPOSDIFERENTES DE CONSUMIDORES

FONTE: <http://getoutside.com.br/voce-precisa-snowland-gramado/>.Acesso em: 24 out. 2018.

^

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TÓPICO 1 | CONCORRÊNCIA PERFEITA E

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E, graficamente, representamos a relação conforme se observa na figura a seguir:

FIGURA 18 – GRÁFICO DA DISCRIMINAÇÃO DE PREÇOS DE TERCEIRO GRAU

FONTE: Adaptado de Garófalo (2016)

0 Quantidade

CMg

D1 = RMe1

RMg

Preço

Q2 Q1 Quantidade Total

P3

P1

P2

RMg2

D2 = RMe2

Neste gráfico, observe que os consumidores foram divididos em dois grupos (1 e 2), em que cada um possui curvas de demandas diferentes. O produtor monopolista, neste caso, cobrará um preço mais alto do grupo que possui demanda mais inelástica, e um preço menor para o outro grupo com a procura mais elástica.

Além dessas três situações de discriminação apresentadas e exemplificadas, Garófalo (2016) nos apresenta outras situações:

a) Discriminação de preços intertemporal: quando um produto é lançado,

geralmente as primeiras unidades apresentam preços mais elevados e, logo depois, as empresas reduzem o preço e um número maior de consumidores se interessam pelo produto.

b) Preço de pico: preços mais altos para produtos que possuem elevada demanda em períodos específicos. Exemplo: preços de passagens aéreas nos períodos de férias escolares.

c) Tarifa em partes: geralmente o consumidor paga uma tarifa de associação para possuir alguma vantagem na compra de um produto e/ou serviço. Exemplo: pagamento de associação recreativa, em que o associado pode reservar espaços físicos para eventos.

d) Venda em pacote: a empresa pratica uma venda de dois ou mais produtos ao mesmo tempo. Tais vendas podem ocorrer quando os consumidores possuem demandas distintas sobre os bens e as empresas não conseguem praticar discriminação de preços sobre eles, tentando, ainda, extrair o máximo de receita de cada um dos consumidores.

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UNIDADE 1 | ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

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NOTA

CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA – CADE

HISTÓRICO

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica – Cade – é hoje uma autarquia em regime especial com jurisdição em todo o território nacional. Foi criado pela Lei n° 4.137/62, então como um órgão do Ministério da Justiça. Naquela época, competia ao Cade a fiscalização da gestão econômica e do regime de contabilidade das empresas. Apenas em junho de 1994, o órgão foi transformado em autarquia vinculada ao Ministério da Justiça, pela Lei n° 8.884/1994.

Em maio de 2012, com a entrada em vigor da nova lei de Defesa da Concorrência, Lei nº 12.529/2011, o SBDC foi reestruturado e a política de defesa da concorrência no Brasil teve significativas mudanças. Pela nova legislação, o Cade passou a ser responsável por instruir os processos administrativos de apuração de infrações à ordem econômica, assim como os processos de análise de atos de concentração, competências que eram antes da SDE e da Seae.

A principal mudança introduzida pela Lei 12.529/2011 consistiu na exigência de submissão prévia ao Cade de fusões e aquisições de empresas que possam ter efeitos anticompetitivos. Pela legislação anterior, essas operações podiam ser comunicadas ao Cade depois de serem consumadas, o que fazia do Brasil um dos únicos países do mundo a adotar um controle de estruturas  a posteriori. A análise prévia trouxe mais segurança jurídica às empresas e maior agilidade à análise dos atos de concentração, sendo que o Cade passou a ter prazo máximo de 240 dias para analisar as fusões, prorrogáveis por mais 90 dias em caso de operações complexas.

FONTE: <http://www.cade.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/historico-do-cade>. Acesso em: 5 set. 2018.

DICAS

Sugerimos a leitura do seguinte material:

• MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Conselho Administrativo de Defesa Econômica – Cade. Defesa da concorrência no Brasil – 50 anos. – Brasília: 2013. Disponível em: <http://www.cade.gov.br/acesso-a-informacao/publicacoes-institucionais/cade_-_defesa_da_concorrencia_no_brasil_50_anos.pdf>.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• As estruturas de mercado são todas as características de um mercado que influenciam o comportamento dos compradores e vendedores quando estes se juntam para comercializar bens e serviços num mercado.

• O mercado é o local onde ocorre a interação entre a oferta e demanda de bens e serviços, assim como fatores de produção são trocados livremente entre as pessoas.

• A concorrência perfeita é um mercado com grande número de vendedores e que isoladamente não afeta a oferta de mercado e o preço.

• No mercado de concorrência perfeita não existe diferenciação entre os produtos.

• No mercado de concorrência perfeita há transparência nas informações sobre lucros e preços.

• O monopólio é um mercado oposto ao da concorrência perfeita.

• No monopólio existe uma única empresa que domina a oferta de bens e serviços.

• O monopólio pode ser puro ou nulo.

• Existem barreiras de entrada no monopólio.

• O monopólio também pode ser institucional ou estatal.

RESUMO DO TÓPICO 1

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1 Assinale a alternativa que não condiz com as características do mercado em concorrência perfeita:

a) ( ) Grande número de consumidores.b) ( ) Muitos produtores com produtos diferenciados. c) ( ) Livre entrada e saída de empresas. d) ( ) Perfeito conhecimento sobre todas as informações relevantes do

mercado. e) ( ) Curva da demanda perfeitamente elástica para o produto de cada firma

particular.

2 O que é a receita média do monopolista?

3 Para que o monopolista consiga discriminar preços, existem três condições a serem cumpridas. Cite-as.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 2

MODELOS DE CONCORRÊNCIA

IMPERFEITA, TEORIA DOS JOGOS

E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃOPrezado acadêmico, neste tópico vamos estudar duas estruturas de

mercado de bens e serviços: o oligopólio e a concorrência monopolística. Estas estruturas de mercados são consideradas mercados de concorrência imperfeita.

Também estudaremos a teoria dos jogos e as estratégias competitivas. Embora muitas vezes não percebamos, diariamente utilizamos a teoria dos jogos nas negociações que realizamos e, por isso, é muito importante que saibamos utilizar esta ferramenta em nossa tomada de decisões.

Além disso, tão importante quanto nos dias atuais é que o economista saiba definir estratégias competitivas para que a empresa alcance seus objetivos e consiga se destacar no mercado. Assim, veremos como podemos aplicar alguns conceitos nas definições de metas e estratégias.

2 OLIGOPÓLIO O oligopólio é um tipo de estrutura de mercado caracterizado por um

pequeno número de empresas que dominam a oferta de mercado. Podemos citar vários exemplos, mas destacam-se nesta categoria a indústria automobilística e a indústria de bebidas.

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UNIDADE 1 | ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

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FIGURA 19 – EXEMPLOS DE EMPRESAS OLIGOPOLISTAS

FONTE: <http://economi-blog.blogspot.com/2015/05/competencia-economica.html>. Acesso em: 24 out. 2018.

No oligopólio podemos observar algumas características específicas, conforme a figura a seguir:

FIGURA 20 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO OLIGOPÓLIO

FONTE: A autora

Cada firma produz bens idênticos.

Há barreiras de entrada elevadas, de modo que não haja nenhuma entrada a longo prazo no setor.

Há apenas algumas firmas.

O oligopólio geralmente surge quando os custos iniciais para montar uma firma e comercializar seus produtos são elevados e que necessitam de grandes economias de escala. Em consequência, empresas maiores utilizam a guerra de preços para dificultar a entrada de novas firmas no mercado. Embora o oligopólio apresente algumas características que lhe aproximam do monopólio, como a obtenção de lucro a longo prazo, por exemplo, há uma diferença decisiva entre os mercados.

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TÓPICO 2 | MODELOS DE CONCORRÊNCIA IMPERFEITA, TEORIA DOS JOGOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

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No oligopólio a demanda de cada firma depende do preço que as outras firmas estabelecem. Desta forma, se uma reduzir seu preço, a curva de demanda das outras firmas se desloca para baixo, e, se uma firma aumentar seu preço, da mesma forma a curva de demanda das outras firmas se desloca para cima.

2.1 OLIGOPÓLIO DE CONLUIO

O Oligopólio de Conluio é caracterizado quando o setor possui poucas empresas e suas estratégias são baseadas nas ações de seus concorrentes, e, diante delas, a empresa caba optando pela cooperação ou pela competição (não cooperação). Neste sentido, Miltons (2016) classifica o comportamento da empresa de duas formas:

a) Comportamento não cooperativo: ocorre quando a empresa decide não considerar as ações dos concorrentes e começa uma guerra de preços entre as empresas do setor.

b) Comportamento cooperativo: ocorre quando as empresas optam por não competirem entre si e acabam colaborando umas com as outras na fixação do preço do produto.

NOTA

O comportamento cooperativo é considerado não benéfico ao consumidor e, por isso, as leis antitrustes não aprovam esta prática.

A Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011, estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência e dispõe sobre a prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica.

Um exemplo muito claro que conhecemos são as companhias áreas. Quantas vezes você já observou alguma companhia área ofertando trechos a preços bem acessíveis? É nesse momento que as empresas estão estabelecendo um comportamento não cooperativo, ou seja, estão realizando uma guerra de preços. Mas em menos de 24 horas estes preços mudam, e se você fizer uma pesquisa de preços entre as companhias A, B, e C verá que estas fixaram o preço das passagens aéreas. Isso significa que neste momento o comportamento delas é de cooperação. Dessa forma está estabelecido o que chamamos de oligopólio de conluio ou de combinação.

Considerando o exemplo apresentado anteriormente das empresas aéreas (A, B e C), quando estas começam a operar de forma cooperativa, podemos observar na figura a seguir, a curva de demanda da empresa oligopolista A.

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FIGURA 21 – CURVA DE DEMANDA DO OLIGOPOLISTA A

FONTE: Miltons (2016, p. 195)

Observe na figura que a empresa Oligopolista A traça sua curva de demanda admitindo que as concorrentes B e C seguirão suas modificações de preços. Considerando que isso ocorra, admite-se que a curva de demanda oligopolista (por exemplo, a curva de demanda por passagens aéreas do trecho ofertado pelas três empresas) tem a mesma elasticidade.

Enquanto os concorrentes acompanharem seu preço, a empresa A terá 1/3 do mercado. O equilíbrio do oligopólio se dá onde os lucros são maximizados e a curva de custo marginal cruza a de receita marginal (ponto E da Figura 23). O preço, por sua vez, é determinado admitindo-se que a curva de demanda traçada corresponde à demanda total do mercado atendido pelas três empresas, sendo representado pelo ponto A (MILTONS, 2016).

Você pode observar que a ação de uma firma sempre afetará as demais. Vejamos a figura a seguir, que demonstra a curva da firma quando ela fixa um preço e, também, como se comporta quando age com as demais firmas para fixar um preço:

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FIGURA 22 – CURVA DE CONCORRÊNCIA NO OLIGOPÓLIO

FONTE: Adaptado de Wessels (2010)

d' (agindo sozinha)

d'

D

D’ (agindo juntas)

Produção do período

20

16

Preç

o (R

$)

100 120 180

Observe na figura as curvas de demanda quando a firma (e o setor) inicialmente fixa um preço de R$ 20,00. Podemos verificar que quando P = R$ 20,00, todas as firmas vendem 100 unidades do bem. Se houver quatro firmas, a produção será de 400. Além disso, veja como se comporta a curva DD’, representando as empresas que agem juntas, e dd’ demonstra a curva quando uma empresa sozinha resolve fixar o preço em R$ 16,00 e a outra continua a cobrar os mesmos R$ 20,00. Assim, se todas as firmas cobrassem R$ 16,00, cada uma venderia 120 unidades e, se existissem quatro firmas, a produção do setor seria de 480 unidades e cada firma teria uma parcela igual.

Agora, se uma única empresa decide vender ao preço de R$ 16,00, ela poderá vender 180 unidades sozinhas, ou seja, conseguirá uma parcela maior do mercado e as outras empresas acabam vendendo menos de 100 unidades.

2.2 MODELO DE CURVA DE DEMANDA QUEBRADA

Outro modelo simples de oligopólio é o modelo curva de demanda quebrada, desenvolvido por Paul Sweezy, que procura explicar porque os preços nos mercados oligopolizados são relativamente estáveis. O argumento utilizado por Sweezy é que o oligopolista sabe que dificilmente será acompanhado pelos concorrentes nos reajustes dos preços para baixo. Essa decisão faz com que a queda na quantidade vendida por oligopolistas seja muito grande caso ele suba o preço. Caso os concorrentes produzam produtos idênticos, ele poderá perder toda a sua produção, e se forem produtos semelhantes, perderá uma parcela grande, porém, não toda a produção (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2008).

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NOTA

Paul Malor Sweezy: economista britânico marxista, apresentou uma contribuição fundamental à teoria dos preços de monopólio, publicando o artigo Demand Under Conditions of Oligopoly (Demanda sob condições de oligopólio), em 1939, no Journal of Political Economy. Nesse artigo, ele introduz a curva de demanda quebrada, ferramenta operativa para a determinação do equilíbrio dos mercados oligopolísticos.

FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Sweezy>. Acesso em: 24 out. 2018.

Caro acadêmico, vamos apresentar um exemplo prático para que você tenha uma compreensão melhor deste modelo. Imaginemos que uma empresa de alimentos nobres, “A”, eleve seu preço e aja sozinha porque as outras empresas recusam-se a acompanhá-la. Neste caso, ela está sobre a curva de demanda dd’, mas caso a empresa resolva reduzir seu preço, as outras empresas vêm acompanhá-la no corte do preço para manter sua parcela no mercado. Então, teremos a curva de demanda DD’. Veja que nos dois casos as empresas procuram aumentar ou manter sua participação no mercado. Desta situação exposta resultará a demanda quebrada, conforme podemos observar na figura a seguir:

FIGURA 23 – EXEMPLO DE CURVA DE DEMANDA QUEBRADA

FONTE: Wessels (2010, p. 186)

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Observe que na Figura 23 os pontos do gráfico F, E e G representam a curva de demanda quebrada. A RMg1 é a curva da receita marginal associada à curva de demanda dd’ (representa quando a firma age sozinha) e RMg2 é associada à curva de demanda DD’, que representa quando as firmas atuam juntas.

Considerando os valores expressos na Figura 23, vemos que ao longo do segmento F/E a firma atua sozinha no mercado. As outras empresas do setor mantêm seus preços em R$ 20,00, enquanto esta empresa eleva seu preço acima de R$ 20,00. Mas o que acontece nesse caso? Com certeza muitos de seus consumidores a abandonam devido à elevação dos preços e suas vendas passam a ser realizadas pelos seus concorrentes, cuja parcela de mercado se amplia. E, ao longo do segmento E/G podemos verificar que todas as empresas agem juntas, ou seja, todas as empresas igualam seu preço à empresa de alimentos nobre “A”, com isso elas não perdem negócios para a empresa. Neste modelo, se a curva de custo marginal se situar entre as curvas RMg1 e RMg2 (entre os pontos h e g) da Figura 23, a firma aumentará seu preço em R$ 20,00 (na quebra).

Mas se até agora só analisamos o preço, como fica a produção nesta situação? A produção será determinada quando a receita marginal for igual ao custo marginal. Observe que a curva de demanda quebrada nesse exemplo tem uma curva de receita marginal com uma longa seção vertical (representada entre os pontos h e g). Assim, o custo marginal pode se situar em qualquer ponto entre h e g, e a firma manterá o valor de R$ 20,00 e manterá a produção em 100 unidades. Mesmo que ocorra grandes mudanças no custo marginal, a produção e o preço não serão afetados.

De acordo com Wessels (2010), esse modelo de demanda quebrada prevê uma lentidão na mudança de preços nos modelos de oligopólio, que é chamado de rigidez de preços.

2.3 MODELO DE FIRMA DOMINANTE (LIDERANÇA DE PREÇO)

No modelo de firma dominante, como o próprio nome já diz, uma firma é responsável por estabelecer o preço de todo o setor, e por isso, é chamada de líder de mercado. Nesse modelo, segundo Wessels (2010), duas características marcam o setor:

• há uma firma dominante no setor;• existe entrada limitada no setor, de modo que a firma dominante consegue

manter seus lucros a longo prazo.

Geralmente o que ocorre é que as outras empresas concorrentes acabam tendo custos maiores que a empresa dominante, sendo que as menores agem como firmas perfeitamente competitivas (produzindo somente quando o custo é igual ao custo marginal).

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Podemos dizer que nesse modelo a firma dominante acaba atuando como um monopólio de mercado, sabendo que os concorrentes menores acompanharão o seu preço de mercado. Se elas não fizerem desta forma, a firma dominante acaba diminuindo seu preço, castigando as firmas menores radicalmente.

2.4 CARTEL

Ainda dentro do oligopólio de mercado existe a prática chamada de Cartel. O cartel representa o grupo de empresas que age em conluio ou coalizão. Quando o cartel – que é proibido nas legislações antitrustes – é formado, o mercado é atendido da mesma forma que um monopólio, pois o cartel procura formas de limitar a ação das forças de mercado da livre concorrência para garantir lucros maiores. Um exemplo de cartel muito conhecido é a equiparação dos preços da gasolina em postos de combustíveis, mesmo sendo uma prática ilegal, é observada diariamente nas cidades brasileiras.

NOTA

“Como reconhecimento à importância do combate aos cartéis, em 2008 foi editado o Decreto Presidencial, que estabeleceu o dia 8 de outubro de cada ano como o Dia Nacional do Combate a Cartéis. O dia 8 de outubro foi escolhido porque nessa data, no ano de 2003, foi firmado o primeiro Acordo de Leniência, instrumento que tem se mostrado fundamental para garantir a condenação de cartéis no Brasil” (BRASIL, 2009, p. 7).

DICAS

Para saber mais sobre a importância do combate aos cartéis, acesse o documento Combate a Cartéis e Programa de Leniência, disponível em: <http://www.cade.gov.br/acesso-a-informacao/publicacoes-institucionais/documentos-da-antiga-lei/cartilha_leniencia.pdf>.

Acadêmico, não é só no Brasil que verificamos essa prática ilegal! Em vários países do mundo podemos observar a presença desse tipo de acordo. O início da formação dos cartéis se deu na Alemanha, durante o período das guerras mundiais. Atualmente, observa-se muito a prática junto à Organização dos Países Exportadores de Petróleo – OPEP –, organização em que países como a Venezuela, a Arábia Saudita e a Líbia usam o petróleo como arma política, regulando seu preço no mercado mundial.

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NOTA

UM CASO DE CARTEL NO BRASIL

Muitas empresas são acusadas de praticar cartel. Entretanto, nem todas conseguem ser punidas pela Justiça pelo ato ilegal.

No Brasil, ficou famoso o caso da marca alemã Bosh, que confessou praticar o cartel durante 13 anos. A confissão foi feita depois de denúncias do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade.

A empresa agia em parceria com a Cerâmica e Velas de Ignição NGK do Brasil Ltda. As empresas combinavam preços por meio de conversas ao telefone, pela internet ou até mesmo em encontros pessoais.

Esse ato, que se estendeu por mais de uma década, prejudicou diversas empresas concorrentes que não conseguiram, durante esse tempo, se equiparar ao acordo feito entre a Bosh e a Velas de Ignição NGK. De acordo com a investigação, esse ato ilegal atrapalhou os negócios de empresas como a Fiat, Ford, Peugeot, Volks, Renault, General Motors, Mercedes Benz, entre outras.

FONTE: <https://www.estudopratico.com.br/saiba-o-que-e-um-cartel/>. Acesso em: 24 out. 2018.

3 CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA A concorrência monopolística é assim denominada em decorrência de

duas características de estruturas mercadológicas: CONCORRÊNCIA PERFEITA e MONOPÓLIO.

Geralmente os produtos apresentam características bem próximas uns dos outros e isso faz com que as empresas concorram tanto em termos de qualidade ou pelo grau de investimento e propaganda e marketing feito por cada uma das empresas. Você encontrará, nos diversos segmentos econômicos, vários exemplos de concorrência monopolística, como por exemplo, a praça de alimentação de um shopping, produtos de limpeza, hotéis, salão de beleza, revendedoras de carros etc.

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FIGURA 24 – EXEMPLO DE CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA

FONTE: <http://www.ype.ind.br> e <https://mvlimpeza.com.br>. Acesso em: 24 out. 2018.

Você pode observar que cada um dos produtos é relativamente parecido, porém existe um pequeno diferencial relacionado a cada um dos ofertantes, levando-os a se defrontarem com uma demanda negativamente inclinada, tal como em um monopólio.

Assim, podemos dizer que a concorrência monopolística é uma estrutura de mercado intermediária entre a concorrência perfeita e o monopólio, porém apresenta algumas características específicas, como Vasconcellos e Garcia (2011) nos descrevem a seguir:

a) Número relativamente grande de empresas com certo poder de concorrência, porém com segmentos de mercados e produtos diferenciados tanto pela qualidade do produto ou pelo tipo de serviços prestados.

b) Margem de manobra para fixação de preços não muito ampla, uma vez que encontramos produtos substitutos no mercado.

Por causa dessas características, embora o mercado seja competitivo, o monopolista acaba tendo um poder muito pequeno em relação ao preço. Podemos verificar isso na concorrência entre os profissionais médicos. Observamos que existem várias especialidades médicas, porém alguns profissionais acabam se destacando e, por isso, cobram preços diferenciados pelos seus serviços.

De acordo com Wessels (2010), as consequências da concorrência monopolística são:

• As firmas diferenciam seus produtos: as empresas se empenham em fazer seus produtos parecerem diferentes e melhores para os consumidores. Isso ocorre muito com os produtos de limpeza, higiene pessoal e até mesmo com remédios para dor de cabeça.

• No curto prazo a firma age como monopólio, por ninguém ter um produto idêntico ao seu: aumento no preço dos produtos, e devido a isso, apresenta uma curva de demanda com inclinação descendente. A decisão de quanto produzir é dada pela igualdade entre a receita marginal e custo marginal (RMg = CMg).

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Observe na figura a seguir que a firma representativa obtém um lucro extraordinário no curto prazo (P>CTMe em Q*, quando RMg = CMg):

FIGURA 25 – GRÁFICO DA FIRMA OBTENDO LUCRO NO CURTO PRAZO

FONTE: Adaptado de Wessels (2010)

Produção da Firma

Curva de demanda

CTMe

CMg

RMg

Preç

o (R

$)

P*

Q*

RMg - CMg

Observe que assim como na concorrência perfeita, no longo prazo P = CTMe. Já na concorrência monopolística, o preço é maior que o custo total médio mínimo.

IMPORTANTE

Custo Total Médio Mínimo é o custo por unidade no ponto mínimo.

Além disso, as firmas também possuem capacidade excessiva, e isso faz com que elas operem com capacidade ociosa porque a produção não atinge a quantidade de equilíbrio em concorrência perfeita, assim, elas podem produzir pelo custo total médio mínimo. Como o preço é menor que o custo total médio mínimo, elas buscam aumentar o lucro através de promoções e guerras de preços, situação que não ocorreria no mercado de concorrência perfeita.

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4 TEORIA DOS JOGOS E ESTRATÉGIAS A aplicação da teoria dos jogos é uma importante área da Microeconomia

e tem sido fundamental na tomada de decisões estratégicas das empresas, principalmente no sentido de escolher a melhor estratégia de vantagem em relação aos seus concorrentes.

Mas, inicialmente, o que é um jogo? Podemos dizer que jogo é qualquer situação na qual os participantes tomam decisões estratégicas que levam em conta as atitudes e respostas dos outros. Em termos econômicos, os jogos incluem empresas que competem ao estabelecer preços ou um grupo de consumidores competindo no oferecimento de lances para arrematar produtos em um leilão (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

A teoria dos jogos tem por objetivo determinar a estratégia ótima para cada jogador, neste caso, cada uma das empresas.

NOTA

Estratégia é uma regra ou plano de ação para o jogo

A teoria dos jogos geralmente é utilizada para estudar o comportamento das pessoas, ou seja, seu comportamento frente à tomada de decisões estratégicas. Entretanto, também tem sido aplicada para analisar o comportamento empresarial, principalmente frente à necessidade de desenvolver situações estratégicas, ou seja, quando um dos envolvidos, ao tomar decisões sobre como agir, deve levar em conta as possíveis reações do outro.

Afinal, por que essa teoria é considerada importante na estrutura oligopolista? As empresas oligopolistas constantemente tomam decisões sobre a determinação dos preços e quantidade a ser produzida, tendo como base as decisões e reações de seus concorrentes. Em síntese, a teoria dos jogos é utilizada pelas empresas (jogadores) para a definição de estratégias que levem a maximizar seus resultados (lucro).

A lista de estratégias utilizada por cada uma das empresas é chamada de combinação de estratégias. De acordo com Miltons (2016), nem tudo é perfeito, assim, a teoria dos jogos também apresenta problemas. O problema central da teoria dos jogos é prever a combinação de estratégias que será escolhida pelo outro jogador concorrente.

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5 EQUILÍBRIO DE NASHCaro acadêmico, você já ouviu falar em Equilíbrio de Nash? O Equilíbrio

de Nash foi explicado pela primeira vez em 1951 pelo matemático John Nash. Trata-se de uma situação em que os agentes econômicos, interagindo entre si, definem a melhor estratégia baseados nas estratégias escolhidas pelos concorrentes. Cada empresa faz o melhor possível em resposta às ações de seus concorrentes (MILTONS, 2016).

DICAS

Sugerimos que você assista ao filme Uma Mente Brilhante. Ele tenta explicar a Teoria dos Jogos (que estudaremos na sequência) e o Equilíbrio de Nash.

Filme: Uma Mente brilhante Data de lançamento: 15 de fevereiro de 2002 (2h14min)Direção: Ron HowardElenco: Russell Crowe, Ed Harris, Jennifer Connelly e outrosGênero: DramaNacionalidade: EUAJohn Nash (Russell Crowe) é um gênio da matemática que, aos 21 anos, formulou um teorema que provou sua genialidade e o tornou aclamado no meio onde atuava. Mas aos poucos o belo e arrogante Nash se transforma em um sofrido e atormentado homem, que chega até mesmo a ser diagnosticado como esquizofrênico pelos médicos que o tratam. Porém, após anos de luta para se recuperar, ele consegue retornar à sociedade e acaba sendo premiado com o Nobel.

FONTE: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-28384/>. Acesso em: 16 jan. 2019.

O Equilíbrio de Nash representa que cada empresa está fazendo o melhor que pode em função daquilo que os concorrentes estão fazendo.

Voltamos, então, à ideia do Equilíbrio de Nash, que ocorre em mercados oligopolistas não cooperativos. Neste caso, cada empresa tem por objetivo conseguir o máximo de lucro com base nas decisões estratégicas de seus concorrentes. O lucro alcançado pelo oligopolista será maior que o de concorrência perfeita e menor do que o de monopólio ou o de oligopólio de conluio.

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Uma história muito conhecida utilizada para exemplificar essa situação dentro da teoria dos jogos é o chamado Dilema dos Prisioneiros. A história diz o seguinte: Dois prisioneiros foram acusados de terem cometido um crime. Ambos foram capturados pela polícia e colocados em celas diferentes. Foi pedido a cada um deles que colaborasse e confessasse seus atos. Entretanto, a confissão levaria a dois resultados distintos: se ambos os prisioneiros confessarem seus crimes, cada um seria condenado a cinco anos de prisão. E, se nenhum dos dois criminosos confessasse o crime, seria instaurado um processo jurídico mais complexo. Os advogados trabalharam para provar suas inocências, porém, com recursos, eles receberiam uma condenação de dois anos. Mas, se um dos dois prisioneiros confessasse o crime, e o outro não, o que confessou sofreria pena mínima de 1 ano e o outro seria condenado a 10 anos de prisão. Diante dessas possibilidades está instaurado o dilema: confessar ou não?

Para demonstrar esse jogo de forma esquemática é possível utilizar a chamada Matriz de Payoff, que apresenta de forma resumida os possíveis resultados desse dilema. Vejamos na figura a seguir:

FIGURA 26 – MATRIZ PAYOFF DO DILEMA DOS PRISIONEIROS

FONTE: A autora

-5, -5(anos de prisão)

-1, 10(anos de prisão)

-10, 1(anos de prisão)

-2,2(anos de prisão)

Con

fess

a

Confessa

Não

Con

fess

a

Não Confessa

Pris

ione

iro

A

Prisioneiro B

Observe na figura apresentada que o esquema do Dilema dos Prisioneiros é um jogo e seu objetivo é mostrar o quanto é difícil conseguir a cooperação dos envolvidos, mesmo que o benefício seja para ambos. A matriz de payoffs apresenta os possíveis resultados, exibidos por números negativos, pois representam os anos de prisão, ou seja, a perda para os prisioneiros. Os prisioneiros não podem conversar entre si, entrando num acordo explícito, pois, se o fizessem, combinariam em não confessar e ambos ficariam na prisão por dois anos. Mas sem poder se falar, e sem saber se podem ou não confiar no outro, os riscos são maiores ao não confessar. Se A não confessar, poderá beneficiar B e ficar preso por 10 anos. Se A confessar, será preso por, no máximo, 5 anos, ou se B não confessar,

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A ficará apenas 1 ano na prisão. Assim, independentemente do que B faça, A estará melhor se confessar. B pensará da mesma forma e provavelmente acabará confessando. O resultado do jogo é que ambos provavelmente confessarão, sendo condenados a cinco anos de prisão (PYNDICK; RUBINFELD, 2013).

Voltando ao cotidiano das empresas, a teoria dos jogos a partir da história do Dilema dos Prisioneiros mostra os dilemas que as empresas oligopolistas enfrentam ao operar neste mercado, e, principalmente, quando elas precisam optar por realizar a cooperação com as demais empresas do mercado ou quando são incentivadas pela competividade do setor. Neste sentido, a empresa oligopolista A fica entre o dilema de determinar preços altos e quantidades menores para sua produção e poder alcançar um lucro maior; ou, confiar nos concorrentes, mesmo sabendo que estes podem não cumprir com o combinado e começar a vender a preços menores.

6 LEI ANTITRUSTE E REGULAÇÃO O poder do governo sobre a indústria privada provém da legislação

antitruste, um conjunto de leis que têm por objetivo limitar o poder dos monopólios. A primeira e mais importante dessas leis foi a Lei Antitruste Sherman, que o Congresso aprovou em 1890 para reduzir o poder de mercado dos grandes e poderosos “trustes” que eram vistos como os dominadores da economia naquela época (WESSELS, 2010).

A Lei Clayton, de 1914, reforçou os poderes do governo e autorizou processos judiciais privados. Como estabeleceu a Suprema Corte dos Estados Unidos em uma ocasião, as leis antitrustes são “uma carta abrangente de liberdade econômica que tem por objetivo preservar a competição livre e irrestrita como regra de comércio”.

A legislação antitruste proporciona ao governo diversos meios para promover a competição. Ela permite que o governo impeça fusões, como a nossa fusão hipotética entre a Coca-Cola e a PepsiCo, e que o governo desmembre empresas. Em 1984, por exemplo, o governo dividiu a AT&T, a grande empresa de telecomunicações, em oito empresas menores. Finalmente, a legislação antitruste impede que as empresas coordenem suas atividades de forma a tornar os mercados menos competitivos. Por exemplo, se a Coca-Cola e a PepsiCo quisessem se fundir, a transação seria minuciosamente analisada pelo Governo Federal antes de ser realizada (WESSELS, 2010).

Os advogados e economistas do Departamento de Justiça poderiam concluir que a fusão dessas duas grandes empresas de bebidas tornaria o mercado americano de refrigerantes substancialmente menos competitivo e, consequentemente, reduziria o bem-estar econômico do país como um todo. Nesse caso, o Departamento de Justiça contestaria a fusão na corte, e, se o juiz concordasse com as alegações, as duas empresas seriam impedidas de se fundir. Foi exatamente esse tipo de contestação que impediu que a Microsoft, a gigante do software, comprasse a Intuit, em 1994 (WESSELS, 2010).

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Leis antitrustes “têm a meta de promover a concorrência e impedir o monopólio. Elas procuram fazer isso de duas formas. Primeiro, elas têm sido utilizadas para dividir os monopólios em firmas menores. Segundo, elas baniram os cartéis e proibiram as práticas empresariais que visavam à criação de um monopólio” (WESSELS, 2010, p. 210).

De acordo com Wessels (2010, p. 210), as leis antitrustes podem, por exemplo:

• proibir combinações, alianças e maquinações para restringir o comércio interestadual ou internacional. Por exemplo, a ESSO (Standard Oil Company) tinha, no passado, um controle quase monopolista do mercado de petróleo refinado e alianças, em setores como o do chumbo, do açúcar e do uísque, e procuravam controlar produção e preços;

• ampliar o poder antitruste do governo, proibindo práticas empresariais específicas como:

◦ discriminação de preços, caso não seja justificada por diferenças de custo e caso o efeito fosse reduzir substancialmente a concorrência ou criar um monopólio. Por exemplo, a ESSO teve sua prática de realizar contratos com estradas de ferro que transportavam seu petróleo a fim de cobrar mais de outras firmas do setor que quisessem usar a mesma estrada tornada ilegal;

◦ contratos casados que forçam outros bens a serem comprados da mesma firma e impedem a utilização de um bem de um concorrente com o propósito de reduzir a concorrência;

◦ diretorias integradas em que uma pessoa pudesse ser do quadro de diretores de várias firmas no mesmo setor; aquisição do controle acionário com o objetivo de reduzir a concorrência;

• estabelecer uma comissão para impedir a concorrência desleal, como no caso de anúncios enganosos;

• proteger as firmas pequenas da concorrência desleal das firmas maiores. Pode-se, por exemplo, proibir as firmas maiores de fazerem descontos especiais nos preços, a menos que os justificassem por meio de custos menores. Na verdade, uma lei como essa pode promover os monopólios de comerciantes de pequenas cidades, sendo utilizada para impedir os comerciantes de venderem mercadorias por um preço menor do que o preço de varejo sugerido pelo fabricante;

• proibir fusões que pudessem reduzir a concorrência ou criar um monopólio.

NOTA

CONCEITOFusões: junção de duas empresas para formalizar uma nova empresa no mercado.

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A legislação antitruste tem tanto custos quanto benefícios. Às vezes as empresas se fundem não para reduzir a competição, mas para reduzir os custos por meio de uma produção conjunta mais eficiente. Esses benefícios das fusões são, por vezes, chamados sinergias (WESSELS, 2010).

Por exemplo, muitos bancos americanos se fundiram nos últimos anos e, combinando suas operações, conseguiram reduzir seus quadros administrativos. Se a legislação tem por objetivo aumentar o bem-estar social, o governo deve ser capaz de determinar quais fusões são desejáveis e quais não são, ou seja, ele deve ser capaz de medir e comparar o benefício social das sinergias com o custo social da redução da concorrência. Os críticos das leis antitrustes são céticos em relação à capacidade do governo de fazer a análise de custo-benefício necessária com precisão suficiente (WESSELS, 2010).

Mas você deve estar pensando: Todos os monopólios são ruins? A resposta é não! Nem todos os monopólios são práticas prejudiciais ao consumidor. Como vimos anteriormente, temos o monopólio legal, lembra? Aquele que é permitido pelo governo em forma de patentes, como o da indústria farmacêutica. Quantas pessoas são beneficiadas cada vez que uma indústria farmacêutica resolve investir na pesquisa e desenvolvimento de um medicamento, não é mesmo?

DICAS

Sugerimos a leitura do livro Patentes Farmacêuticas e o acesso a medicamentos: a desmistificação das patentes, de Alexandre Barbosa de Godoy Corrêa. São Paulo: Editora ágora21, 2016.

O tema é atual e tem como objetivo refletir se o sistema de patentes é o único ou o principal responsável pela dificuldade do acesso da população aos medicamentos e quais seriam os outros fatores que contribuem da mesma forma ou até mais para tal dificuldade. É comum o argumento de que o efeito indesejável da elevação dos preços dos medicamentos resulta do direito de monopólio sobre o remédio inovador, constituindo-se, assim, em um fator de impacto negativo sobre a acessibilidade aos medicamentos.

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LEITURA COMPLEMENTAR

FUSÕES E AQUISIÇÕES, INCORPORAÇÃO, CISÃO E JOINT VENTURE DE EMPRESA

Jaziel Pavine de Lima

Saiba quais são os conceitos, operações e como podem ser úteis para sua empresa.

O termo Fusões e Aquisições (F&A) derivou do termo em inglês M&A (Mergers and Acquisitions), que são processos de negociações entre organizações ou pessoas físicas (cotistas) que visam transferir cotas sociais de uma empresa para outra empresa ou para outra pessoa física. Para melhor entendimento, podemos dividir o mercado de F&A em dois grandes grupos:

• Investidor estratégico: quando o comprador opera no mesmo segmento da vendedora e tem interesse operacional na empresa com intuito de manter o investimento no longo prazo.

• Investidor financeiro: quando o comprador tem interesse focado em maximizar o retorno por meio da retirada de dividendos e ganho de capital na venda do ativo em curto e médio prazos.

Vale ressaltar que existem diversas fontes de capital disponíveis no mercado para fusões e aquisições. Você pode conferir este artigo sobre as Principais Fontes de Investimentos para sua empresa aqui em nosso site e também no Canal da Valore Brasil no YouTube. Podemos citar alguns exemplos como: Capital próprio (boot strap), FFF (Family, Friends and Fans), Crowdfunding Equity, Seed Capital, Corporate Venture, Venture Capital, Private Equity, IPO (Initial Public Offering), além de investimentos com subsídio (subvenção).

PRINCIPAIS TIPOS DE OPERAÇÕES DE FUSÕES E AQUISIÇÕES

• Fusão de empresas: operação em que se unem duas ou mais sociedades para formar uma sociedade nova, sucede direitos e obrigações, normalmente por meio de permuta de ações. Exemplos: Azul e Trip; Itaú e Unibanco.

• Aquisição de empresas: operação em que o comprador adquire a totalidade ou quase totalidade. Normalmente a integração é complexa. Exemplos: Estácio e Uniseb; Microsoft e Linkedin.

• Incorporação de empresas: operação em que uma ou mais empresas são absorvidas por outras. Neste caso, ocorre o desaparecimento da empresa incorporada. A integração é bastante complexa.

• Cisão de empresas: operação quando uma empresa se divide, criando uma ou mais. Destina parte de seus ativos para a formação da nova empresa. A empresa principal pode continuar ou deixar de existir. As novas empresas assumem todas as responsabilidades da empresa principal. Exemplos: Philips faz cisão criando a Philips Healthcare; Sony Ericsson faz cisão criando a Sony Mobile.

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TÓPICO 2 | MODELOS DE CONCORRÊNCIA IMPERFEITA, TEORIA DOS JOGOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

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• Joint Venture: operação em que se cria uma nova empresa para um fim específico. Porém, mantêm-se as operações dos sócios individualmente. Um contrato irá definir os principais direitos e deveres da Joint Venture.

PRINCIPAIS APLICAÇÕES DE FUSÕES E AQUISIÇÕES:QUANTO UTILIZAR?

• Acelerar o crescimento: muitas empresas têm potencial para crescer mais

rápido do que crescem hoje, por falta de capital para financiar maior fabricação, campanhas de marketing, estoques, equipe comercial, entre outros. As ferramentas de fusão e aquisição irão conectar investidores que querem investir seu dinheiro em negócios rentáveis e com potencial de crescimento com as empresas que proporcionam esse cenário.

• Momento de crise: existem duas nuances para os momentos de crise: ◦ Primeira como ameaça: temos visto inúmeras empresas sucumbirem por

momentos de instabilidade econômica, política ou de mercado. É muito difícil se preparar para as crises, pois existe a necessidade de uma boa gestão de recursos e esforços quando vier a queda temporária nas vendas, as inadimplências ou mesmo mudanças inesperadas. As ferramentas de F&A são aplicadas para apoiar as empresas a passar por esses momentos difíceis. É consenso que essa solução não é a ideal para o momento, pois pode gerar um deságio na negociação, porém, a empresa pode não ter muitas escolhas.

◦ Segunda nuance pelo aspecto da oportunidade: as empresas que melhor se preparam ou que seus segmentos de atuação contribuem, têm nas ferramentas de F&A a oportunidade para se fortalecer ainda mais, adquirindo outras empresas, fazendo fusões ou diversificando seu risco.

• Dissolução Societária: a dissolução societária (processo de saída de um sócio da sociedade empresarial) é uma das principais aplicações de venda de cotas de uma empresa. Quando uma sociedade começa com conflitos graves entre os atuais sócios e esses decidem que não é mais possível seguir juntos na sociedade, é saudável tomar a decisão e entender que a empresa é um organismo vivo e uma entidade distinta dos sócios, então mantê-la garante o pagamento justo pelas cotas do sócio que irá sair da sociedade, seja por uma venda para o(s) sócio(s) remanescente(s) ou para novos compradores do mercado. Tenho visto inúmeros casos traumáticos de separação da sociedade quando esse processo não é bem estruturado e não há o diálogo entre as partes que estão se separando, a empresa pode ir a ruínas. Por isso, é extremamente importante a aplicação estruturada do processo de dissolução societária, pois este processo irá remunerar o sócio que sairá e manterá a empresa saudável com seus compromissos, desde seus funcionários até seus clientes fornecedores e comunidade.

• Saída do Negócio: quando um empresário cria uma empresa, na maioria dos casos, ele tem o propósito de deixar um legado para sua família, funcionários, clientes, fornecedores e sociedade. Porém, muitas vezes, essas intenções geram ações muito diferentes por falta de um planejamento do processo de saída da empresa. O processo de saída de um negócio é algo inevitável, seja para a sucessão familiar, profissionalização ou venda para terceiros. A mudança de controle é tão certa como os anos de vida que se passam. Então, por que ter o

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UNIDADE 1 | ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

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melhor produto, embalagem, propaganda e marca? E na hora de uma decisão certa como a mudança de controle, não se dá prioridade? Por isso a instrução é: planejar e executar um exímio projeto de saída do negócio.

Quanto mais rápido o empresário toma a decisão de entender e diagnosticar antecipadamente essa ação, ainda que de médio ou longo prazo, melhor resultado terá da operação. Não importa o estágio atual do negócio, sempre é tempo de se antecipar aos fatos para tomar melhores caminhos.

• Oportunidade de mercado: existem vários acontecimentos no mercado que podem fazer alguns nichos de empresa mais atrativos aos olhos de compradores/investidores. Um bom exemplo disso é a abertura de capital de uma determinada empresa que faz com que ela se capitalize e normalmente em seu plano tem cumprimento de ações de expansão por compra de outras. Aqui vale a regra básica da economia, ou seja, mais demanda melhora a oferta, podendo gerar um ágio nos negócios. Outro exemplo está relacionado com o câmbio, se uma moeda tem uma diferença de valor com o R$ (real), isso pode fazer o dinheiro de fora do país valer muito mais aqui, ou seja, uma empresa que vale R$ 30 milhões poderá ser comprada por um grupo americano por U$ 10 milhões (considerando um valor de U$ 1 valer R$ 3).

• Como ferramenta para inovação (e evitar a falência): as ferramentas de F&A podem apoiar as empresas a analisarem e entenderem as disrupturas e tendências de mercado, proporcionando uma diversificação de modelo negócio, soluções ou clientes. Por exemplo, a compra parcial de uma startup, que poderá ser o futuro do que hoje é a empresa consolidada no mercado.

Vejamos: quem criou a primeira máquina fotográfica digital? Por mais surpreendente que possa parecer, foi a Kodak, líder da época em fotografias em filme. Mas por que a Kodak não foi líder mundial em fotografias digitais? E ao contrário, ela sucumbiu no mundo dos negócios, pois faltou esse olhar paralelo para a inovação. E isso não é privilégio da Kodak, pois 89% das empresas da Fortune 500, do ano de 1995, não estavam mais na lista em 2014. As empresas têm dificuldades em lidar com rápidas mudanças, se apegando a suas criações e seus produtos, o que impede de aproveitar grandes transformações e ainda não permite aproveitar grandes oportunidades [...].

FONTE: <https://www.valorebrasil.com.br/2017/08/09/fusoes-e-aquisicoes-de-empresas-conceitos-incorporacao-cisao-joint-venture/>. Acesso em: 25 out. 2018.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• O oligopólio é um mercado independente.

• A produção do oligopolista geralmente é vendida para poucas empresas.

• O oligopólio é um mercado dominado por um pequeno número de firmas independentes.

• O mercado de concorrência monopolista possui muitos compradores e vendedores.

• A concorrência monopolista é uma estrutura de mercado entre a concorrência perfeita e o monopólio.

• A teoria dos jogos ajuda a compreender a estrutura oligopolista.

• O Equilíbrio de Nash foi explicado pela primeira vez em 1951 pelo matemático John Nash.

• O equilíbrio de Nash é uma situação em que os agentes econômicos, interagindo entre si, definem a melhor estratégia baseados nas estratégias escolhidas pelos concorrentes.

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1 Miltons (2016) coloca que no contexto da teoria dos jogos nem tudo é perfeito. Desta forma, a autora destaca que a teoria dos jogos apresenta um problema central. Qual é este problema?

FONTE: MILTONS, Michelle Merética. Microeconomia. São Paulo: Saraiva, 2016.

2 Analise a sentença:

No oligopólio, o modelo de demanda quebrada, desenvolvido por Paul Sweezy, procura explicar porque os ___________ dos oligopolizados são relativamente ___________.

Assinale a alternativa que completa as lacunas:

a) ( ) preços – estáveis b) ( ) produtos – concorrentes c) ( ) preços – concorrentes d) ( ) concorrentes – baixos

3 Defina o conceito de oligopólio.

4 Observe o mercado econômico e cite algumas empresas que podem ser consideradas oligopólios.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 3

ESTRUTURAS DE MERCADO DE FATORES

DE PRODUÇÃO

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃOCaro acadêmico, nos tópicos 1 e 2 desta unidade, você estudou as

estruturas de mercados de bens e serviços, formadas pela concorrência perfeita, monopólio, oligopólio e concorrência monopolística.

Agora, neste terceiro tópico, vamos estudar as estruturas voltadas ao mercado de fatores de produção.

Veremos no decorrer deste tópico, que o mercado de fatores de produção é dependente da demanda de insumos dos setores produtores de bens e serviços, também chamada de demanda derivada, pois muitas vezes a demanda de um produto depende da demanda de outro, como por exemplo, a demanda de autopeças deriva da demanda por automóveis, ou seja, à medida que há uma redução na demanda por automóveis, cairá também a demanda por autopeças.

2 MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃOAntes de iniciarmos nossos estudos é importante que você se recorde

quais são os fatores de produção. Os fatores de produção são: mão de obra, terra, capital e tecnologia.

Veremos como ocorre a concorrência quase pura e perfeita, o monopsônio, oligopsônio e o monopólio bilateral, conforme descrito na figura a seguir:

FIGURA 27 – MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO

FONTE: A autora

Concorrência Perfeita de fatores

MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO

Monopsônio Oligopsônio Monopólio Bilateral

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UNIDADE 1 | ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

2.1 CONCORRÊNCIA (QUASE) PURA E PERFEITA

Muitos fatores de produção (primários e manufaturados) são negociados sob esse regime de concorrência quase pura ou perfeita, em que a disponibilidade dos insumos é abundante, tornando o preço constante, ou seja, como os ofertantes ou fornecedores são numerosos, não possuem condições de obter preços mais elevados (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008).

Uma das características básicas ou até mesmo a principal da concorrência (quase) pura e perfeita do mercado de insumos é a atomização, ou seja, nesse mercado encontramos um grande número de compradores de insumos de tal forma que, isoladamente, não conseguem exercer influência sobre o preço sendo tomadores de preço e a homogeneidade dos fatores produtivos.

Você observou que as características são as mesmas que já estudamos no mercado de fatores de bens e serviços? Em relação aos fatores de produção, encontramos nessa situação muitos insumos primários, como por exemplo, a mão de obra, que são negociados sob esta condição.

FIGURA 28 – OFERTA DE MÃO DE OBRA NÃO ESPECIALIZADA

FONTE: <https://www.jrmcoaching.com.br/blog/como-lidar-com-a-falta-de-mao-de-obra-na-empresa/>. Acesso em: 16 jan. 2019.

Imagine que, quando temos um grande número de ofertantes de mão de obra não especializada, por exemplo, nenhum deles conseguirá influenciar no valor pago pela empresa, pois todos encontram-se na mesma condição.

2.2 MONOPSÔNIO

O monopsônio é uma estrutura de mercado caracterizada pela presença de um único agente comprador (ou um grupo de agentes atuando como um todo) de um recurso produtivo/insumo/fator de produção homogêneo (padronizado, isto é, sem substituto, ou abrandando, sem um bom substituto) (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008).

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TÓPICO 3 | ESTRUTURAS DE MERCADO DE FATORES

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Neste mercado, a empresa compradora concentrará em si a totalidade da aquisição do insumo e, no geral, estará se defrontando com um grande número de ofertantes para o mesmo produto.

Você se recorda de que no monopólio estudamos que o vendedor se

constitui em um fixador de preço? No caso do monopsônio, a empresa como adquirente do insumo será a ditadora desse preço.

De acordo com Garófalo (2016, p. 171):

A microeconomia passou a dar atenção a essa estrutura mercadológica a partir do século XIX, oportunidade em que se observou a existência de muitas pequenas cidades com centros de mineração, em que havia apenas um empregador (comprador de força de trabalho, ou seja, a mineradora) para quase toda a população (vendedor). Cada vez mais nos dias de hoje são encontrados exemplos, principalmente no mercado de trabalho e, de modo especial, no contexto governamental, através da atuação de empresas estatais – federais, estaduais e municipais – à medida que demandem trabalhadores especializados.

Geralmente, o monopsônio surge devido à especialização do fator de produção, como é o caso das indústrias que fabricam peças para veículos e que somente poderiam ser utilizadas em determinado tipo automóvel. A empresa que fabricar esse modelo de veículo está na condição de monopsonista na compra desse componente, independentemente da existência ou não de diversas firmas, manufaturando-a. Essa peça não servirá para outros padrões de carros.

FIGURA 29 – EXEMPLO DE EMPRESAS QUE FABRICAM PEÇAS PARA AUTOMÓVEIS

FONTE: <https://pm1.narvii.com/6637/f763eab0cb0650e23e67776fa6c5ab25042148c5_hq.jpg>. Acesso em: 24 out. 2018.

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UNIDADE 1 | ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

Além disso, este mercado também pode surgir em decorrência da imobilidade, de um fator produtivo, ou seja, considerando a situação de um trabalhador que resista a transferir-se do local de residência/trabalho, seja em decorrência de laços afetivos/familiares, dificuldade de adaptação ou qualquer outro motivo, pode fazer com que apareça a estrutura monopsonista (GARÓFALO, 2016).

Esse mercado ajuda a explicar a falta de poder de barganha de pequenos agricultores, pescadores e correlatos, que necessariamente acabam se defrontando com um único fabricante e/ou atacadista, este certamente auferindo lucros inusitados. Com efeito, são os monopsonistas que determinam o preço de matérias-primas e produtos originários do setor primário da economia comercializados pelas nações em desenvolvimento no mercado mundial.

2.3 OLIGOPSÔNIO

O oligopsônio é considerado uma extensão do monopsônio, pois a estrutura mercadológica do oligopsônio corresponde ao caso em que três ou mais agentes compradores, concorrentes rivais entre si, concentram em mãos a aquisição do fator de produção. A natureza dele poderá ser homogênea (ou padronizada), quando se terá o oligopsônio puro, ou não homogênea, aplicável ao oligopsônio diferenciado.

NOTA

De acordo com Garófalo (2016, p. 182), “o oligopsônio é a contrapartida, ou está para os fatores de produção em posição igual ou próxima ao caso do oligopólio, no que tange ao mercado de produtos finais/serviços”.

IMPORTANTE

Agora que você já sabe o conceito do termo oligopsônio, pense no nosso dia a dia e faça a seguinte reflexão: Quais empresas conhecemos e que atuam neste mercado no Brasil?

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TÓPICO 3 | ESTRUTURAS DE MERCADO DE FATORES

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Com certeza você lembrou de várias empresas, mas um exemplo muito conhecido são os frigoríficos que atuam nas diversas regiões brasileiras, como São Paulo, Paraná e Oeste de Santa Catarina. Estas empresas chegam a condicionar o preço em função de possíveis acordos que fazem entre si e, dessa forma, exercem influência marcante sobre os inúmeros criadores bovinos existentes na região. A mesma situação ocorre com os grandes lacticínios com a compra do leite dos pequenos produtores locais nos pequenos municípios brasileiros. Podemos citar ainda a produção de suco de laranja, o setor de aço com a produção de trefilados – arames e barras em que se destacam as empresas: ArcelorMittal, Grupo Gerdau, Votorantim Siderurgia, Villares Metais e Sinobras. Temos ainda o mercado de eletroeletrônicos e o varejo brasileiro, que é abastecido por algumas poucas redes e pelas cadeias de supermercados como: Casas Bahia, Ponto Frio, Magazine Luiza e Grupo Pão de Açúcar.

FIGURA 30 – EXEMPLO DE EMPRESAS QUE OPERAM NOMERCADO DE OLIGOPSÔNIO

FONTE: <http://www.direitolegal.org/direito-do-consumidor/ministerio-da-justica-multa-redes-varejistas-em-r-28-milhoes-por-venda-abusiva-de-seguros/>. Acesso em:

25 out. 2018.

De acordo com Garófalo (2016), a título de complementação, cabe destacar, inversamente ao duopólio, a existência do duopsônio neste mercado. Trata-se de uma estrutura contando com somente dois compradores de bens ou serviços para diversos vendedores.

NOTA

Duopólio: “Um mercado de oligopólio com apenas dois vendedores” (HALL; LIEBERMAN, 2003, p. G-4).

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UNIDADE 1 | ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

É o caso encontrado na cidade de Santa Cruz do Sul (RS), onde as empresas Alliance One Brasil Exportadora de Tabacos Ltda. e a Universal Leaf Tabacos Ltda. compram diretamente tabaco em folha de aproximadamente 17 mil produtores (GARÓFALO, 2016).

2.4 CONCORRÊNCIA MONOPSONISTA

A concorrência monopsonista é uma estrutura mercadológica aplicável aos insumos produtivos e se constitui na contrapartida da concorrência monopolista, prevalecente aos produtos finais/serviços. Caracteriza-se pela existência de grande número de compradores de fatores de produção, os quais, independentemente da fração de mercado que possam deter, não possuem informações completas, podendo, assim, além de denotar poder relativo sobre os preços, manifestar preferência pela aquisição de determinado ofertante em detrimento de outro (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008).

Não é muito normal encontrarmos exemplos de empresas que operam sob esta estrutura de mercado. Trata-se de situação difícil de ser exemplificada. Mas alguns autores citam, como exemplo, o caso de empresas que oferecem altos salários para atrair mão de obra e manter o índice de rotatividade baixo.

Recentemente, as empresas aéreas de todo o mundo passaram por uma situação desse tipo. Para conseguir pilotos, elas precisaram oferecer salários de até R$ 100.000,00 para atrair novos profissionais para o setor e aumentar os salários de funcionários para não os perder – configurando, assim, uma “guerra de salário”.

2.5 MONOPÓLIO BILATERAL

O monopólio bilateral é uma estrutura mercadológica de negociação antiga e à parte, caracterizando-se pela existência de um único produtor/vendedor de determinado recurso produtivo (monopolista) frente a um só adquirente do mesmo (monopsonista), com ambos se encontrando na posição de barganhar. Neste mercado geralmente tem-se, face a face, o monopolista e o monopsonista, e o preço e a quantidade negociada são resultantes de acordo entre ambos, pois o monopolista deseja vender dada quantidade de insumo por um preço, e o monopsonista aspira obter a mesma quantidade por um preço diferente daquele pretendido pelo monopolista (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008).

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TÓPICO 3 | ESTRUTURAS DE MERCADO DE FATORES

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A solução em um monopólio bilateral é indeterminada, no sentido de que não é possível predizer qual será o resultado, apesar de ele existir e estar dependente da mencionada habilidade de barganha e do poder político e econômico dos agentes envolvidos. Os únicos informes são os limites superior e inferior de preço relativos a uma quantidade transacionada, antecipadamente acordada entre as partes. O monopolista fixa o preço mínimo a aceitar, enquanto o monopsonista, o preço máximo a pagar. O preço final é consequência de um acordo, respeitando os limites mínimo e máximo aventados. Como ambas as posições são conflitantes, somente a negociação recíproca permite que ele seja definido.

Normalmente a negociação requer a intermediação de um árbitro (o mediador), ou seja, de um profissional que, previamente escolhido e aceito pelas partes envolvidas, implica que obrigatoriamente acatem a decisão final dele. A vantagem da arbitragem é que o processo fica simplificado, evitando que a demanda tenha curso nos tribunais, levando a uma tramitação mais desgastante, complexa, lenta e onerosa.

Podemos usar como exemplo desta prática o caso dos aviões Embraer EMB-314 Super Tucano, aeronave turboélice de ataque leve e treinamento avançado, que incorpora avanços em aviônicos (ou no conjunto de equipamentos eletrônicos da aeronave) e em armamentos. Foi concebida para atender aos requisitos operacionais da Força Aérea Brasileira (FAB) como uma aeronave de ataque tático, capaz de operar na Amazônia brasileira em proveito do projeto SIPAM/SIVAM (Sistema de Proteção da Amazônia/Sistema de Vigilância da Amazônia), e como treinador inicial para pilotos. Quem a fabrica é a Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. (EMBRAER), e o governo brasileiro a adquire. Consequentemente, tem-se o fabricante como monopolista e o Governo como monopsonista na aquisição (GARÓFALO, 2016).

Caro acadêmico, chegamos ao final da Unidade 1 da disciplina de Microeconomia II. Compreender o funcionamento das estruturas de mercado de bens e serviços e dos fatores de produção dentro da economia é primordial para o economista, visto que nos deparamos com diversas situações em nosso dia a dia.

Na próxima unidade, vamos estudar o Mercado de Fatores de Produção, bem como a demanda derivada por insumos e a relação das estruturas de mercado de fatores de produção com demanda de mão de obra e salários. Até lá!

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UNIDADE 1 | ESTRUTURA DE MERCADOS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS

LEITURA COMPLEMENTAR

A HEGEMONIA DA PETROBRAS

Adriano Pires

Discute-se muito o poder de ditar preços que os vendedores de produtos ou serviços usufruem em certos segmentos da economia. Os chamados monopólios, mercados com um só vendedor, e os oligopólios, mercados com poucos vendedores, são frequentemente motivo de análise e investigação antitruste no Brasil e no mundo. Basta lembrar de casos como o da AmBev no Brasil ou da Microsoft nos EUA.

Tão danoso quanto o poder de monopólio, o poder de monopsônio é menos discutido e noticiado. Nos chamados monopsônios, mercados com um só comprador, e nos oligopsônios, mercados com poucos compradores, há o exercício do poder de mercado do agente comprador que, ao alterar sua quantidade demandada, modifica os preços praticados pelos vendedores. Com isso, o comprador pode forçar uma baixa nos preços ao reduzir sua quantidade demandada. Como resultado, os preços e as quantidades comercializadas serão inferiores aos vigentes em mercado competitivo.

A intensidade do poder de monopsônio é determinada por três elementos: a magnitude da elasticidade da oferta (entendida como o impacto que uma variação nas quantidades adquiridas teria no preço), o número de compradores em um mercado e a natureza da interação entre esses compradores.

Dentro do setor de energia brasileiro, observam-se exemplos de mercados com significativo poder de monopsônio, consequência da própria regulamentação e da perpetuação de monopólios, antes sustentados por atos legais, e que prevaleceram apesar de mudanças na legislação.

No setor de energia elétrica, a Lei nº 10.848/2004 criou leilões de energia elétrica, em que um comprador único agrega as demandas de todos os distribuidores e faz as aquisições dos diversos vendedores. Nesse caso, o exercício do poder de monopsônio foi concebido pelo próprio marco legal que visa à modicidade tarifária a "qualquer custo". Os resultados são preços artificialmente baixos que inibem a expansão da capacidade de geração das empresas privadas.

No setor de petróleo e gás natural, a Petrobras usufrui considerável poder de monopsônio em relação aos pequenos produtores de petróleo ao concentrar a propriedade do segmento de transporte e refino do produto. Diante da pequena escala dessas operações de produção, o que inviabiliza a construção de terminais próprios e a exportação por grandes navios para os mercados externos, os vendedores não dispõem de compradores alternativos e ficam à mercê do poder de compra da Petrobras. Essa situação acaba inibindo a entrada de pequenos produtores no segmento de exploração e produção no Brasil, na medida em que prejudica a rentabilidade do negócio.

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TÓPICO 3 | ESTRUTURAS DE MERCADO DE FATORES

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No que se refere à produção de gás natural, o poder de monopsônio da estatal é ainda maior, devido aos elevados investimentos e à ineficiência associada à duplicação dos gasodutos para transportar o gás de um produtor independente, das áreas de produção até o mercado consumidor. Sem o direito de acessar os gasodutos, o produtor teria que se contentar em vender o gás ao comprador único: a Petrobras.

Assiste-se atualmente ao avanço do poder de mercado da Petrobras no setor alcooleiro. A estatal planeja investir pesadamente na construção de dutos e terminais para o escoamento de álcool. A crescente hegemonia da Petrobras no setor alcooleiro traz oportunidades de incrementar o processo de internacionalização do álcool. Entretanto, deve-se ter cuidado para não se criar um novo monopsônio, transformando a estatal na grande compradora e transportadora de toda a produção nacional.

A manutenção e o crescimento do poder de monopsônio nos mercados de

energia no Brasil é um problema grave que inibe o crescimento da oferta e afasta investimentos privados. Evidencia, também, o pouco-caso que o governo faz da promoção da concorrência e dos seus benefícios para a sociedade.

FONTE: <http://www.unica.com.br/convidados/37246481920341709819/a-hegemonia-da-petrobras/>. Acesso em: 16 jan. 2019.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Os fatores de produção apresentam estruturas diferenciadas.

• A estrutura de mercado dos fatores de produção compreende: concorrência quase pura e perfeita, o monopsônio, oligopsônio e o monopólio bilateral.

• Concorrência perfeita corresponde ao mercado cuja oferta de produção é abundante.

• Monopsônio compreende uma forma de mercado na qual há somente um comprador para muitos vendedores dos insumos.

• Oligopsônio é o mercado em que há poucos compradores negociando com muitos vendedores.

• Monopólio bilateral ocorre quando um monopsonista defronta-se com um monopolista na venda de um insumo.

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1 Qual é a principal característica da concorrência perfeita no mercado de insumos?

2 A concorrência monopsonista é uma estrutura mercadológica aplicável

aos insumos produtivos e se constitui na contrapartida da concorrência monopolista, prevalecente aos produtos finais/serviços. Em relação às características desta estrutura, assinale a alternativa correta:

a) ( ) Caracteriza-se pela existência de um único produtor/vendedor de determinado recurso produtivo (monopolista) frente a um só adquirente do mesmo (monopsonista).

b) ( ) A natureza dele poderá ser homogênea (ou padronizada).c) ( ) Caracteriza-se pela existência de um grande número de compradores

de fatores de produção, os quais, independentemente da fração de mercado que possam deter, não possuem informações completas.

d) ( ) É uma estrutura de mercado caracterizada pela presença de um único agente comprador.

e) ( ) É uma estrutura de mercado caracterizada pela presença de muitos vendedores com exclusividade.

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 2

MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO E COMPETITIVIDADE

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender a dinâmica do mercado de fatores de produção;

• conhecer os principais fatores que influenciam na desigualdade de renda;

• compreender como ocorre a eficiência econômica nos mercados competitivos.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – MERCADOS PARA OS FATORES DE PRODUÇÃO

TÓPICO 2 – DESIGUALDADE DE RENDA

TÓPICO 3 – EFICIÊNCIA ECONÔMICA EM MERCADOS COMPETITIVOS

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TÓPICO 1

MERCADOS PARA OS FATORES

DE PRODUÇÃO

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃOPrezado acadêmico, seja bem-vindo à Unidade 2 da disciplina de

Microeconomia II. Na Unidade 1 você estudou sobre as estruturas de mercados existentes em nossa economia. Esse conteúdo será importante para que você compreenda como ocorrem as decisões estratégicas no mercado de fatores de produção.

Também estudamos até o momento vários tipos de mercados, entretanto, todos tinham algo em comum – pertenciam ao mercado de produtos –, em que empresas vendiam bens e serviços para as famílias e outras firmas (HALL; LIEBERMAN, 2003).

Você deve se recordar de que no mercado de fatores de produtos as famílias tinham a necessidade de produtos que as empresas ofereciam. No mercado de fatores de produção ocorre o inverso, ou seja, as empresas necessitam dos fatores de produção que as famílias possuem e/ou ofertam. Podemos verificar como ocorre essa mudança observando a figura a seguir:

FIGURA 1 – FLUXO CIRCULAR DO MERCADO DE PRODUTOS EMERCADO DE FATORES

FONTE: Adaptado de Hall e Lieberman (2003, p. 364)

Mercado de Produtos

Firmas

Mercado de Fatores

Firmas

Demanda por bens e serviços

Oferta por bens e serviços

Demanda por recursos

Oferta de Recursos

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UNIDADE 2 | MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO E COMPETITIVIDADE

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O mercado de fatores de produção envolve nas tomadas de decisão os fatores de produção que já conhecemos: mão de obra, matéria-prima, tecnologia e capital. Você verá que há uma similaridade com o que você já estudou anteriormente no mercado de bens e serviços, pois as forças que determinam a demanda e oferta e que influenciam no mercado de bens e serviços, também influenciam o mercado de fatores.

Veremos qual é o equilíbrio de determinado fator para que se possa alcançar os lucros desejáveis. O que acontece com esse mercado quando temos abundância de um determinado fator?

2 DEMANDA POR FATORES DE PRODUÇÃOAssim como no mercado de bens e serviços, também chamados de produtos

finais, no mercado de fatores precisamos tomar decisões estratégicas para a aquisição e/ou contratação de insumos, tanto no curto como no longo prazo.

Você se recorda das definições de curto e longo prazo? As decisões de curto prazo ocorrem quando um fator é constante. Se pensarmos na compra de uma máquina, por exemplo, sabemos que o fabricante de equipamentos nem sempre terá esta a pronta entrega, e que muitas vezes os equipamentos precisam ser construídos de acordo com as nossas necessidades, por isso são realizadas encomendas que demandam prazos maiores, não é mesmo? O mesmo ocorre com o capital, que envolveria obras de construção, entre outros. Analisando estes exemplos, o fator que não demanda um período longo e que é variável é a mão de obra. Assim, a curto prazo nosso olhar se voltará para o fator de produção: mão de obra.

IMPORTANTE

“Longo prazo é aquele período no qual os fatores de produção podem sofrer variações. Novas firmas podem entrar em um setor no período de tempo de longo prazo no qual elas possam reunir todos os recursos (terra, trabalho, capital e tecnologia). Curto Prazo é aquele período no qual um fator de produção é fixo” (WALL, 2015, p. 81).

2.1 DEMANDA POR FATORES NO CURTO PRAZO

A demanda por fatores de produção não tem em vista a propriedade, como quando se trata de bens de consumo, mas sim a corrente de serviço que proporcionam determinados fatores, ou seja, no caso da mão de obra, a demanda por trabalhadores se deve à sua contribuição mental e física aplicada ao processo de produção (WALL, 2015).

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TÓPICO 1 | MERCADOS PARA OS FATORES

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De acordo com Garófalo (2016), a tomada de decisão envolvendo um fator no curto prazo necessariamente precisa levar em consideração dois pressupostos:

1) No rol dos fatores precisamos considerar que o trabalho é o único insumo variável.2) Considerando o volume fixo dos outros insumos, precisamos considerar que

vale, à medida que aumenta a quantidade de mão de obra contratada, diminui a produtividade marginal do trabalho, ou seja, considerar a conhecida Lei dos Rendimentos Decrescentes.

A Lei dos Rendimentos Decrescentes não ocorre porque os trabalhadores que vão sendo contratados são menos produtivos que os primeiros a serem admitidos, mas pelo fato de que necessitam dividir o mesmo estoque de capital (GARÓFALO, 2016).

IMPORTANTE

Lei dos Rendimentos Decrescentes “afirma que, à medida que continuamos a adicionar mais de qualquer insumo (mantendo os outros insumos constantes), seu produto marginal irá eventualmente cair” (HALL; LIEBERMAN, 2003, p. 192).

Para que você compreenda melhor essa relação, vamos considerar o exemplo adaptado de Garófalo (2016), tendo como referência para análise uma cafeteria dentro de uma universidade. Com certeza, nenhum produto será vendido se não tiver alguém trabalhando no local. Ao contratar um funcionário, o estabelecimento conseguirá vender 10 sucos de laranja por dia. A admissão do segundo funcionário permitirá um aumento na quantidade de sucos para 34 por dia, pois dividiria o trabalho com a outra pessoa, o que permitiria fazer uma quantidade de suco maior.

FIGURA 2 – MODELO DE CAFETERIA

FONTE: <https://www.tripadvisor.com.br/Restaurant_Review-g680306-d5755255-Reviews-Sanno_Cafeteria-Balneario_Camboriu_State_of_Santa_Catarina.html>.

Acesso em: 23 jan. 2019.

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UNIDADE 2 | MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO E COMPETITIVIDADE

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Neste caso, a variação do produto decorrente da contratação do segundo funcionário (PMgL) será de 24 sucos. Mas, e se o proprietário da cafeteria resolvesse contratar um terceiro funcionário? Possivelmente a venda diária passaria para 66 sucos, na medida em que cada um deles se concentre na venda de um único produto: suco, café e salgadinho, possibilitando o aumento na venda de todos eles, incluindo aí o suco. Os três funcionários, juntos, poderiam dividir seu trabalho, como a cobrança dos produtos, a lavagem de xícaras e pratos, por exemplo. Assim, a contratação de mais dois funcionários – um para o caixa e outro para lavar a louça – possibilitaria um aumento ainda maior nas vendas do estabelecimento. Vamos supor que no caso deste estabelecimento a venda aumentasse para 100 e, posteriormente, 120 unidades diárias com a contratação do quarto e do quinto funcionário. A contratação de um sexto, para cuidar da faxina, permitiria um acréscimo na venda de sucos para 124 unidades diárias, pois pouparia a vendedora dos sucos de dividir a tarefa da limpeza com os demais funcionários.

Observe no exemplo que o acréscimo do produto decorrente da contratação do sexto funcionário (PMgL) é de apenas quatro unidades. Então isso significa que ele é menos produtivo que os demais? Não, isso ocorre em razão de as instalações do estabelecimento (o estoque de capital) começarem a ficar pequenas para tanta gente. Assim, pelo mesmo motivo, a contratação de um funcionário adicional para gerenciar o local poderia fazer com que a quantidade diária de sucos vendidos caísse para 116 ao invés de aumentar, ou seja, a PMgL seria negativa em oito unidades. Isso certamente ocorreria caso os funcionários começassem a “trombar” uns nos outros no reduzido espaço da cafeteria.

A quantidade de empregados do local, o volume diário de vendas de suco e a PMgL podem ser observadas nas três primeiras colunas do quadro a seguir:

QUADRO 1 – DETERMINAÇÃO DA CURVA DE DEMANDA DA MÃO DE OBRA

FONTE: Adaptado de Garófalo (2016, p. 234)

L K PMgL RMg PRMgL W0 0 0 3 0 601 10 10 3 30 602 34 24 3 72 603 66 32 3 96 604 100 34 3 102 605 120 20 3 60 606 124 4 3 12 607 116 -8 3 -24 60

Antes de analisarmos este quadro é importante deixar claro algumas definições que usaremos nesta análise:

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TÓPICO 1 | MERCADOS PARA OS FATORES

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IMPORTANTE

Produto marginal físico do trabalho (PMgL): é a produção (física) adicional contribuída pela última pessoa empregada.Receita do produto marginal do trabalho (RMgL): é a adição à receita total contribuída pela última pessoa empregada. Em um mercado de produtos perfeitamente competitivo, a RMgL é calculada multiplicando o PMgL pelo preço do produto: (RMgL = PMgL * preço do produto).

Agora vamos analisar os dados do Quadro 1, para que possamos encontrar respostas para alguns questionamentos sugeridos por Garófalo (2016): Quantos funcionários o estabelecimento deveria contratar? A quantidade que resulta no maior nível absoluto de vendas diárias de suco? Ou em que se alcança a Produção Marginal Líquida (PMgL) máxima?

Sabemos que para maximizar seu lucro, a empresa deve contratar fatores de produção até o ponto em que o benefício da contratação se iguale com o custo. Mas qual é o benefício da contratação de um fator adicional para a empresa? Observamos que no exemplo apresentado anteriormente por Garófalo (2016), fica claro que quanto mais funcionários forem contratados, maior será a quantidade de sucos vendidos (PMgL). Mas esse não seria o único benefício, a empresa também teria um acréscimo de receita a cada contratação adicional (RMg). Assim, o estabelecimento teria como benefício total, proporcionado pela contratação de cada fator adicional, o equivalente ao acréscimo de produto (PMgL) multiplicado pelo acréscimo de receita (RMg), sendo chamado de produto do insumo ou produto da receita marginal (PRMgL).

Considerando que o estabelecimento venda o suco ao preço de R$ 3,00, o acréscimo de receita decorrente de cada unidade adicional do suco (RMg) será exatamente de R$ 3,00 (lembre-se de que em concorrência perfeita RMg = P). Podemos observar no Quadro 1 que a penúltima coluna refere-se ao produto do insumo ou benefício decorrente da contratação de cada funcionário adicional do quiosque. O valor da PRMgL é igual à multiplicação da PMgL pela RMg.

E quanto ao custo da contratação? Considerando a ausência de encargos trabalhistas, o único custo adicional decorrente da contratação de um empregado (CMg) é o salário que será pago a ele. Caso o salário mensal de mercado de um funcionário seja de R$ 1.320, o salário desse profissional por dia seria de aproximadamente R$ 60. Nesse caso, o número de funcionários que maximizaria os lucros do estabelecimento é cinco. Mas por que cinco?

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Quando a empresa contrata uma quantidade menor de pessoas, ela está abrindo mão de parte dos lucros que poderia receber com uma quantidade maior de funcionários (parte hachurada na Figura 3). E se ela admitir uma quantidade maior de trabalhadores, eles estarão custando mais do que contribuirão para a empresa (área cinza da Figura 3). Assim, o ponto ótimo de contratação de um fator para a empresa é aquele em que o produto do insumo ou da receita marginal iguala o custo marginal, conforme demonstra a figura a seguir:

FIGURA 3 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA DEMANDA DE MÃODE OBRA DA CAFETERIA

FONTE: Jorge (2016, p. 237)

Quanto à maximização dos lucros, podemos observar que o nível de salários intercepta a curva do produto da receita marginal, tanto na parte ascendente quanto na parte descendente dessa curva. Desta forma, a maximização do lucro se dá no momento em que ocorre o intercepto da parte descendente, pois no outro intercepto a empresa estaria abrindo mão de parcela dos ganhos.

Considerando ainda o exemplo da cafeteria, verifica-se que para o negócio não é interessante contratar mais que seis funcionários, pois a contratação de mais pessoas implica uma contribuição negativa para o setor. A figura a seguir demonstra que se o nível de salário for mais elevado, e os demais fatores permanecerem constantes, haverá uma redução na demanda por mão de obra no curto prazo:

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TÓPICO 1 | MERCADOS PARA OS FATORES

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FIGURA 4 – GRÁFICO DE DEMANDA POR MÃO DE OBRA NO CURTO PRAZO

FONTE: Jorge (2016, p. 238)

Observe que ao nível W0 de salários a empresa contrataria a quantidade L0 de trabalhadores. A partir do momento em que há um aumento de salário para W1, haveria uma redução da demanda por mão de obra, passando para L1, assim verificamos que o valor do salário influencia diretamente no aumento ou diminuição da demanda por mão de obra.

Afinal, por que isso ocorre? De acordo com Jorge (2016), devemos considerar que a demanda por fatores é uma demanda derivada, que depende do que ocorre no mercado de produtos finais e serviços.

Retomando nosso exemplo da cafeteria, se não houvesse uma procura pelo café ou suco, também não haveria interesse por parte da empresa em contratar mão de obra, mesmo que os salários fossem baixos.

2.2 DEMANDA POR FATORES NO LONGO PRAZO

Caro acadêmico, agora veremos como essa demanda por fatores ocorre no longo prazo. Você se recorda de que no longo prazo a empresa poderá realizar ajustes nos fatores de produção de forma que atenda às suas necessidades?

Assim, considerando o exemplo utilizado anteriormente sobre a instalação de uma cafeteria em uma universidade, o proprietário a longo prazo poderia estudar estratégias com os fatores que colaborassem com a maximização de lucro. Ele poderia modernizar os eletrodomésticos já existentes, trocando os atuais por máquinas mais potentes, ou adquirir e/ou arrendar máquinas automáticas de sucos. Poderia, ainda, modificar o layout de sua cozinha ou ampliar seu espaço físico.

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Você pôde observar que em nosso exemplo anterior trabalhamos dois fatores: demanda e nível de salário. À medida que mais pessoas procuravam pelo suco e outros produtos, o proprietário da cafeteria aumentava a contratação de funcionários, assim, tínhamos a demanda pelos produtos vendidos pelo estabelecimento e o nível de salário. Já a longo prazo existem várias possibilidades de alterar a relação capital-trabalho, substituindo o trabalhador por máquinas, por exemplo, pois a empresa optará por escolher uma combinação que maximize seus lucros de forma que a relação entre a produtividade de ambos se iguale aos respectivos custos.

Agora veremos como podemos descrever essa relação matematicamente, para tanto utilizaremos a fórmula:

W PMglPMgk=r

Em que:r = custo de aquisição ou arrendamento das máquinas; W = salário dos trabalhadores.

Vamos considerar outra situação, em que a empresa, em vez de adquirir uma máquina, resolvesse alugar a máquina de sucos. Inicialmente, considerando que o aluguel da máquina é muito mais elevado, podemos dizer que ela teria um custo bem maior, mas se analisarmos a situação em termos de produtividade, seu custo não seria maior, pois com uma máquina de suco ela conseguiria fazer quatro vezes mais sucos do que com a contratação de um funcionário. Desta forma, seria mais interessante substituir a mão de obra por capital e ainda aumentar seus lucros. Assim, analisando esta situação, verificamos que o custo do aluguel da máquina afeta a demanda por mão de obra (JORGE, 2016).

Mas se ocorrerem mudanças na economia que resultem no acréscimo de salários, o que aconteceria? De acordo com Jorge (2016), esta situação faria com que a empresa individual tivesse um aumento do custo marginal, o que, coeteris paribus, reduziria o seu nível de produção e faria com que fossem demandados menos fatores: máquinas, mão de obra e espaço físico. Esse efeito recebe o nome de efeito escala.

NOTA

“O efeito escala depende diretamente do fato de que a demanda dos fatores é derivada da demanda pelo produto ou serviço final. Dessa forma, o aumento dos salários dos tecelões, por exemplo, tenderia a reduzir não apenas a demanda de cada empresa têxtil individual por esses trabalhadores, mas também a demanda por teares” (JORGE, 2016, p. 238).

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Isso significa que o aumento dos salários também reduz a demanda por máquinas? Nem sempre. Muitas vezes, o aumento do salário torna o trabalho relativamente mais caro do que a máquina. E, para continuar maximizando os lucros, na ausência de alterações nas produtividades do trabalho e do capital, deve-se utilizar um volume maior de máquinas com um custo mais baixo, ocasionando o chamado efeito substituição.

NOTA

Assim como no curto prazo, um aumento salarial provoca uma queda na quantidade desejada de mão de obra e vice-versa, e no longo prazo há uma relação inversa entre o nível de salários e a demanda por trabalho.

Na figura a seguir podemos observar graficamente essa relação:

FIGURA 5 – GRÁFICO DA DEMANDA POR MÃO DE OBRA NO LONGO PRAZO

FONTE: Jorge (2016, p. 238)

3 OFERTA POR FATORES DE PRODUÇÃOAnteriormente estudamos a demanda por fatores de produção a curto e

longo prazo. Agora, dando sequência aos nossos estudos, vamos estudar a oferta dos fatores de produção. Assim como no caso da demanda, a oferta de mercado de determinado insumo ou fator de produção consiste na soma das ofertas individuais daquele fator.

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UNIDADE 2 | MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO E COMPETITIVIDADE

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Para exemplificar como ocorre a oferta no mercado de fatores de produção, vamos utilizar o fator trabalho. De acordo com Jorge (2016), no caso específico do fator trabalho, a decisão de participar (ou não) do mercado e de quantas horas dele ofertar é uma decisão relativa à alocação do tempo disponível.

Considerando que num único dia do mês as pessoas têm 24 horas disponíveis para todas as atividades que desejam executar naquele dia, é possível agrupar todas essas atividades em dois conjuntos: atividades de trabalho e atividades de lazer. As atividades de trabalho consistem nas chamadas atividades produtivas, que vão proporcionar ao trabalhador algum tipo de rendimento, seja em forma de salários ou não. As atividades de lazer também podem ser consideradas atividades produtivas ou não, porém estão associadas às condições de bem-estar do indivíduo e que não proporcionam rendimento. Este conjunto de indivíduos que se encontra em idade produtiva recebe o nome de População em Idade Ativa (PIA).

NOTA

De acordo com o IBGE, a População em Idade Ativa compreende dois conjuntos: a população economicamente ativa (formada pela população ocupada – empregados, conta própria, empregadores e não remunerados – e as desocupadas) e a população não economicamente ativa (pessoas licenciadas por auxílio doença.

FONTE: <https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme/pmemet2.shtm>. Acesso em: 24 jan. 2019.

No momento em que o trabalhador decide quantas horas do seu dia serão dedicadas ao trabalho, ele está decidindo quantas horas de seu tempo estará colocando à disposição do mercado. Mas, de acordo com as suas condições financeiras, essa disponibilidade poderá sofrer alterações. Se considerarmos que um indivíduo poderá ter outras fontes de renda que não seja somente seu salário, a probabilidade deste indivíduo disponibilizar uma quantidade menor de horas ao mercado é bem grande.

Vamos considerar nos exemplos a seguir a hipótese de que o indivíduo não tenha outras fontes de renda a não ser o seu salário. Também vamos considerar que no mercado, quanto mais elevados forem os salários, maior será o rendimento obtido por qualquer indivíduo na medida em que oferta mais horas de trabalho. Precisamos considerar também que estamos trabalhando com um mercado competitivo de trabalho e, por isso, as pessoas sozinhas não conseguem realizar qualquer tipo de alteração no valor de salários ofertado no mercado, pois neste momento são os tomadores de salários. Mas, além de tudo isso que foi exposto, é necessário considerarmos em nossas análises que cada indivíduo possui preferências e que estas também influenciam na situação de oferta de trabalho.

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TÓPICO 1 | MERCADOS PARA OS FATORES

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NOTA

Em um mercado de trabalho competitivo, cada vendedor é um tomador de salários, ou seja, aceita a taxa salarial de mercado como dada (HALL; LIEBERMAN, 2003, p. 383).

Você se recorda de que em Microeconomia I você estudou sobre a Teoria do Consumidor e que um dos pontos fundamentais desta teoria era a curva de indiferença? Relembrando, a “curva de indiferença mostra um conjunto de escolhas de um indivíduo que proporciona a ele determinado nível de satisfação ou utilidade e que ele é constante ao longo da curva” (JORGE, 2016, p. 248). No caso da oferta de trabalho, esta oferta será influenciada pelas escolhas dos indivíduos com base em diferentes níveis de salário e diferentes quantidades de horas dedicadas ao lazer.

3.1 OFERTA DE TRABALHO DE MERCADO

Quando falamos em quantidade ofertada de trabalho em um mercado, estamos fazendo referência a um determinado número de pessoas qualificadas que almejam conseguir um emprego nesse mercado.

Vimos anteriormente que o indivíduo sempre desejará trabalhar quando o salário for maior que seu salário de reserva, mas devido às preferências dos indivíduos serem diferentes umas das outras, eles também têm diferentes níveis de salários de reserva. Assim, a oferta de trabalho será influenciada pelo maior valor de salário.

IMPORTANTE

“Quanto maior a taxa de salário, maior a quantidade ofertada de trabalho” (HALL; LIEBERMAN, 2003, p. 385).

A Curva de oferta de trabalho “indica o número de pessoas que querem emprego em um mercado de trabalho, a cada taxa salarial” (HALL; LIEBERMAN, 2003, p. 385).

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UNIDADE 2 | MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO E COMPETITIVIDADE

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Mas o que faz a curva de trabalho mudar? Imagine que você acabou de se formar em Economia e sempre teve o sonho de trabalhar em uma conceituada corretora de valores. Como se destacou na faculdade, suas chances de conseguir um bom salário são bem possíveis, em média de R$ 1.500,00, porém um amigo lhe avisa que outra empresa está com vagas abertas e o salário é de R$ 5.000,00 e, por isso, você acaba optando pela empresa que está ofertando o salário mais alto. Isso não acontece somente com você, diariamente as pessoas deixam um emprego por outro que oferece salários maiores. É esse comportamento que faz com que a curva de oferta de trabalho se modifique.

Outro fator que influencia na curva de oferta do mercado de trabalho são as mudanças no custo de aquisição de habilidades humanas. O investimento ao buscar capacitação e aprimoramento de habilidades pode ser elevado em muitos casos. Uma alteração no custo da aquisição do capital humano faz com que o número de pessoas venha a investir mais em qualificação, o que deslocará a curva de oferta de trabalho.

Além disso, a curva de oferta do mercado de trabalho também pode ser alterada devido às mudanças nos perfis da população. De acordo com Hall e Lieberman (2003, p. 388), o “crescimento populacional faz as curvas de oferta de trabalho tanto no mercado de trabalho nacional e local serem deslocadas para a direita com o tempo”.

E, por último, temos novamente as questões de preferências. Em qualquer mercado, vamos encontrar diferentes espectros de preferências para diferentes tipos de empregos. Vamos encontrar pessoas que adoram trabalhar com números, mas detestam trabalhar com atendimento de pessoas. Outras vão preferir trabalhar em locais agitados e perigosos. Assim, independentemente do salário ofertado, a pessoa realizará a sua escolha de local de trabalho.

Vamos voltar ao passado: Quantas vezes você já ouviu sua mãe, tia ou avó falar que no tempo delas a função da mulher era cuidar da casa? Se olharmos para o mercado atualmente, vamos encontrar uma taxa bem alta de participação da mulher no mercado de trabalho. Essas taxas elevadas fizeram com que a curva do mercado de trabalho, nos últimos anos, se deslocasse para a direita. Independentemente da taxa salarial, cada vez mais as mulheres procuram uma colocação no mercado de trabalho. A figura a seguir demonstra as alterações na curva de oferta de trabalho:

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TÓPICO 1 | MERCADOS PARA OS FATORES

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FIGURA 6 – CURVA DE OFERTA DE TRABALHO NO MERCADO

FONTE: Hall e Lieberman (2003, p. 386)

Observe que o gráfico (a) demonstra que a curva de oferta de trabalho apresenta uma inclinação para cima. Uma alteração de salário provocou uma alteração na taxa salarial, deslocando o ponto C para D. Já no gráfico (b) a curva de oferta de mercado sofre modificação devido a uma alteração em qualquer determinante da oferta de trabalho que não seja o salário. A qualquer taxa salarial, a oferta de trabalho é maior após a alteração (HALL; LIEBERMAN, 2003). Resumindo, os fatores que interferem na curva de mercado de trabalho estão descritos no quadro a seguir:

QUADRO 2 – FATORES QUE PROVOCAM MUDANÇAS NA CURVADE OFERTA DE TRABALHO

FONTE: Hall e Lieberman (2003, p. 389)

Um aumento... ...fará com que a curva de oferta de trabalho no mercado

na preferência por trabalho em um mercado seja deslocada para a direita.na população seja deslocada para a direita.nos custos de capital humano seja deslocada para a esquerda.na taxa salarial em mercado alternativo seja deslocada para a esquerda.

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UNIDADE 2 | MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO E COMPETITIVIDADE

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3.2 OFERTA DE TRABALHO NO CURTO E LONGO PRAZO

Assim como já estudamos, o período é determinante nas análises do mercado, e não poderia ser diferente quando se trata do mercado de oferta de trabalho. Geralmente quando analisamos um período mais longo, as alterações na quantidade ofertada de trabalho são mais elásticas, pois as taxas salariais maiores aumentam a quantidade ofertada de trabalho, visto que a qualificação da mão de obra se torna um processo lento e demorado. Embora isso não ocorra com todos os mercados de trabalho, em alguns casos o tempo de qualificação e/ou de aquisição de habilidade se torna considerável.

Define-se como curto prazo um período muito curto para as pessoas se moverem até um determinado local ou adquirir novas habilidades. De acordo com Hall e Lieberman (2003), no curto prazo a resposta às alterações na oferta de trabalho, devido às modificações de valores de salários, inclui os que mudarão e também os que irão adquirir as habilidades necessárias para se qualificarem para o mercado de trabalho.

Para Hall e Lieberman (2003), o período definido como longo prazo é aquele em que o tempo é suficiente para adquirir novas habilidades ou realizar mudanças de localidades. A figura a seguir ilustra graficamente como ocorre essa diferenciação:

FIGURA 7 – CURVA DE OFERTA DE TRABALHO NO LONGO PRAZO

FONTE: Hall e Lieberman (2003, p. 391)

Acadêmico, o que esta figura representa? Podemos observar que quando a taxa salarial é de $ 25, temos um total de 30.000 trabalhadores que oferecem trabalho no mercado. Agora, caso o salário aumente para $ 40, no curto prazo, a quantidade ofertada de trabalho se elevará de 30.000 para 60.000, pois um número maior de trabalhadores que já têm habilidades e que já moram na área decidirão trabalhar

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TÓPICO 1 | MERCADOS PARA OS FATORES

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IMPORTANTE

Curva de oferta de trabalho no longo prazo: “uma curva que indica quantas pessoas (qualificadas) desejarão trabalhar em um mercado de trabalho, depois de um ajuste completo devido a uma alteração na taxa salarial” (HALL; LIEBERMAN, 2003, p. 391).

Observamos ainda (Figura 7) que o aumento de salário, de $ 25 para $ 40, faz com que a curva de oferta de trabalho no longo prazo (LSLP) seja mais elástica com relação ao salário que a curva de oferta de trabalho (LS1) de curto prazo.

DICAS

Indicação de filme:

MERCADO DE CAPITAIS (2016)

Este filme de Meera Menon tem Anna Gunn no papel de Naomi, uma investidora da bolsa, competitiva e poderosa. Ela recebe uma promoção na empresa onde trabalha e passa a conviver com uma série de desafios que colocam à prova sua própria posição dentro da companhia. O filme também mostra a relação de desigualdade entre homens e mulheres dentro do mercado de trabalho.

pelo salário mais alto. São pessoas cujo salário de reserva nesse mercado é maior que $ 25, mas não superior a $ 40. Assim, no curto prazo, vamos nos mover ao longo da curva de oferta LS1, do ponto A para o ponto B (HALL; LIEBERMAN, 2003).

No longo prazo, a tendência é que a alta taxa de salário vai atrair pessoas interessadas em trabalhar neste mercado e, consequentemente, haverá um aumento de indivíduos com habilidades que possam ocupar as vagas deste mercado. E o que acontece com a curva de oferta neste caso? A curva de oferta de trabalho será deslocada para a direita até que a entrada no mercado de trabalho cesse (HALL; LIEBERMAN, 2003).

Caro acadêmico, chegamos ao final do Tópico 1 da Unidade 2 da disciplina de Microeconomia II. Na sequência você estudará a desigualdade de renda. Veremos por que ocorre a diferenciação entre os salários e qual é o papel do sindicato neste contexto. Vamos lá!

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RESUMO DO TÓPICO 1Neste tópico, você aprendeu que:

• Os fatores de produção são terra, capital, trabalho e tecnologia, no curto e longo prazo.

• Muitas vezes, as empresas optam em alugar um equipamento em vez de contratar mão de obra, pois com a máquina, mesmo que tenha o valor do aluguel, ainda é mais produtiva e os ganhos para a empresa são maiores.

• Os fatores que provocam modificações na curva de oferta de trabalho são: preferência por trabalho em um mercado, aumento da população, aumento dos custos de capital humano, aumento na taxa salarial em mercado alternativo.

• Curva de oferta de trabalho indica o número de pessoas que querem emprego em um mercado de trabalho, a cada taxa salarial.

• Curva de oferta de trabalho no longo prazo indica quantas pessoas (qualificadas) desejarão trabalhar em um mercado de trabalho depois de um ajuste completo devido a uma alteração na taxa salarial.

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AUTOATIVIDADE

1 Explique os fatores que provocam modificações na curva de oferta de trabalho.

2 Por que as mudanças no custo de aquisição de habilidades humanas podem ocasionar mudanças na curva de oferta do mercado de trabalho? Explique.

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TÓPICO 2

DESIGUALDADE DE RENDA

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃOConforme vimos no tópico anterior, é com base na quantidade de lucro

que a empresa vai auferir que ela toma as suas decisões. O mesmo ocorre com a renda das pessoas. Seus ganhos estão atrelados à oferta e demanda do seu trabalho, que, por sua vez, depende de outros fatores, como disponibilidade de horas, qualificação profissional, benefícios agregados à sua renda, entre outros.

Veremos que o trabalho é um recurso que as pessoas oferecem às empresas e/ou ao mercado e que os ganhos deste trabalho formam a fonte de renda das famílias. Mas é só do trabalho que as pessoas podem gerar renda? Não. Veremos que os outros fatores de produção, como terra e trabalho, também podem ser fontes de renda para as pessoas.

Assim, neste tópico estudaremos a distribuição de renda, tema muito importante para compreendermos algumas das políticas econômicas criadas pelo governo para que haja uma distribuição de renda equitativa.

Veremos no decorrer dos nossos estudos por que ocorrem as desigualdades de renda e quais são os fatores que contribuem para que as rendas fiquem concentradas numa pequena parcela da população.

2 DIFERENÇAS SALARIAIS NO MERCADOQuantas vezes você já deve ter percebido ou escutado algum conhecido

reclamar que, embora a função desempenhada seja a mesma, ou que uma pessoa trabalhe mais que as outras, os seus salários são completamente diferentes, não é mesmo? Isso ocorre no mercado a todo instante, porém veremos que estas diferenças de salários se destacam mais a longo prazo que no curto prazo.

Em qualquer parte do mundo, o mercado de trabalho não é caracterizado por um único salário, pois tanto os trabalhadores quanto os trabalhos desenvolvidos por eles são diferentes. Podemos dizer que os trabalhadores se diferem em suas qualificações e os trabalhos diferem naquilo que oferecem ao trabalhador: bem-estar, realização profissional, renda e benefícios. Por exemplo, algumas empresas expõem o trabalhador às péssimas condições do ambiente de trabalho, como observamos nos noticiários. Outras empresas já tentam se adaptar, oferecendo ao trabalhador um ambiente onde ele se sinta como na extensão de sua casa, com espaços para lazer, descanso e gourmet.

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UNIDADE 2 | MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO E COMPETITIVIDADE

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De acordo com Borjas (2012), a ideia de que as características do trabalho influenciam na natureza do equilíbrio do mercado não é recente. Esta teoria foi desenvolvida por Adam Smith em 1776, em sua conhecida obra A riqueza das nações.

Para Adam Smith (1983), as empresas que têm condições de trabalho desagradáveis devem oferecer outras vantagens para o trabalhador e que possam compensar estas condições, como um diferencial no valor do salário, que possam fazer com que mais pessoas sejam atraídas para este mercado. Por outro lado, empresas cujo ambiente é mais agradável conseguem se livrar das consequências com o pagamento de taxas salariais mais baixas. Assim, quando um emprego é mais ou menos atraente que o outro, podemos esperar que seus salários se distingam pelo chamado diferencial de compensação no salário.

Um diferencial de compensação no salário é uma diferença nos valores dos salários, o que torna dois empregos igualmente atraentes para um trabalhador (HALL; LIEBERMAN, 2003).

ATENCAO

Essa compensação salarial nem sempre se dá por valores monetários, ela vai desde a localização da empresa até o status que muitas vezes um cargo pode representar naquele momento. Entretanto, estamos nos referenciando às pessoas e precisamos lembrar que pessoas são diferentes, possuem gostos e estilos diversos e, por isso, podem ter preferências por condições de vida e de trabalho.

Assim, em nossas análises não podemos considerar as preferências individuais de cada pessoa para julgar e/ou afirmar que um emprego é mais ou menos atraente, ou até mesmo para decidir quais os empregos devem pagar diferenciais de compensação negativo ou positivo. Segundo Hall e Lieberman (2003), podemos afirmar que quando mercados são perfeitamente competitivos, a entrada e saída de trabalhadores são determinadas automaticamente pelo diferencial de compensação salarial em cada mercado de trabalho.

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TÓPICO 2 | DESIGUALDADE DE RENDA

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NOTA

São consideradas áreas incomuns aquelas cujo trabalho oferece um risco maior que o normal ao trabalhador, por exemplo: policial, adestrador de leões, ordenador de cobras, lavador de janelas, entre outras.

Outros fatores que interferem nas questões de diferenças salariais é a diferença no custo de vida das pessoas (escolha da localização para residir), as diferenças no capital humano (empregos que exigem qualificações com diploma de Ensino Superior e empregos que exigem apenas o Ensino Médio), diferenças de habilidades (nem todos possuem habilidades iguais para desenvolver determinado trabalho, por exemplo, Michael Jordan, que ganhava um salário milionário jogando basquete).

Segundo Hall e Lieberman (2003, p. 415), os salários diferem não apenas entre os tipos de emprego, mas também nas chamadas categorias de emprego. “Isso ocorre amplamente porque, em qualquer ofício ou profissão, o talento, a inteligência e a habilidade física dos trabalhadores – e seu valor para a firma – variam consideravelmente”.

Um estudo feito em 2014, realizado pelo pesquisador José Roberto Afonso do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), demonstra as profissões mais bem pagas no Brasil, com base no relatório “Grandes Números” e nas declarações de Imposto sobre a Renda da Pessoa Física de 2015 (OUTER SPACE, 2016):

Mas você já parou para refletir que algumas pessoas optam por trabalhar em áreas incomuns? Áreas incomuns no mercado de trabalho geralmente são menos competitivas, por isso as pessoas acabam recebendo valores salariais maiores.

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UNIDADE 2 | MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO E COMPETITIVIDADE

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FIGURA 8 – PROFISSÕES MAIS BEM PAGAS DO BRASIL

FONTE: <https://forum.outerspace.com.br/index.php?threads/de-10-trabalhadores-mais-bem-pagos-do-pa%C3%ADs-6-est%C3%A3o-na-elite-do-funcionalismo-

p%C3%BAblico.466171/>. Acesso em: 24 jan. 2019.

Mas qual é o papel dos sindicatos quando o assunto é a diferença de salário? Você sabe o que é um sindicato?

Um sindicato representa os interesses coletivos de uma classe trabalhadora, ou seja, os seus membros. Os sindicatos possuem muitas funções, que vão desde realizar pressão para obter melhores condições de trabalho, pagamento de salários dignos, treinar e capacitar pessoal, até administrar programas de pensão. Além disso, o sindicato possui o poder de greve, por isso sempre ocorre a negociação entre empresas e sindicatos. Este movimento operário iniciou em 1930, no primeiro governo Vargas, e passou por diversas fases.

10º

269,3

284,1

304,6

332,1

512

527,6

264,9

252,6

1.100*

219,4 6.030 1,3

3,1

18,1

1,5

7,8

101,1

0,9

10,6

7,4

10,7

12.349

68.496

5.478

27.538

331.988

2.675

20.633

13.966

9.409

• Categorias consideradas a elite do funcionalismo público estão entre as mais bem pagas do País

O ESTADO NO TOPO DA PIRÂMIDE SOCIAL

RENDIMENTO MÉDIOCATEGORIA

TOTAL DERENDIMENTO

EM MILHARESDE REAIS

EM NÚMERODE PESSOAS

EM BILHÕESDE REAIS

Titular de Cartório

DECLARANTES

Membro do MinistérioPúblico (Procurador ePromotor)Membro do PoderJudiciário ede Tribunal de Contas

Médico

Diplomata

Advogado do setor público,Procurador da Fazenda,Consultor JurídicoServidor das carreiras doBC, CVM e Superint. deSeg. Privados

Servidor das carreiras deauditoria fiscal e defiscalizaçãoPiloto de aeronaves,comandante de embarcação,oficiais de máquina

Atleta e desportista

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TÓPICO 2 | DESIGUALDADE DE RENDA

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Durante a greve, os trabalhadores se recusam a ocupar seus postos de trabalho, e o retorno só se torna possível quando o sindicato e o empregador chegam a um acordo.

O sindicato é visto como exemplo de monopólio bilateral, uma vez que, no contexto brasileiro, é responsável pela negociação salarial. Em geral, essa negociação ocorre anualmente, na data-base de cada categoria profissional, sendo conduzida, de um lado, pelo sindicato de trabalhadores que atua como monopolista da oferta de uma categoria (tecelões, por exemplo) em determinado município e, de outro, pelo sindicato empresarial, que ao representar todas as empresas de um setor específico (têxtil, por exemplo), atua na referida negociação como monopsonista. Ambas as partes têm por objetivo maximizar a renda dos associados e/ou membros.

A figura a seguir ilustra o posicionamento de ambas as partes no processo de negociação:

FIGURA 9 – MONOPÓLIO BILATERAL NO MERCADO DE TRABALHO

FONTE: Jorge (2016, p. 257)

Observe que o sindicato empresarial maximiza o lucro de seus membros no ponto Z. Nessa situação, desejará contratar a quantidade (LD) de tecelões, tomados como referência, pagando um salário equivalente a (WD). O sindicato de trabalhadores, por sua vez, busca a maximização retratada no ponto R, quando desejará disponibilizar a quantidade (LS) de mão de obra, solicitando um salário equivalente a (WS).

Como (WS) é superior ao salário de concorrência perfeita (WC) e (WD) é inferior a esse nível de remuneração, ambas as partes, porém, tenderão a negociar um volume de emprego menor do que o transacionado em mercados concorrenciais (observar que tanto LS como LD são menores do que LC).

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UNIDADE 2 | MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO E COMPETITIVIDADE

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Observe também que o ponto S ilustra a situação de concorrência perfeita. Assim, se o sindicato empresarial tiver a possibilidade de mecanizar parte da produção, contratar trabalhadores de outras localidades ou dispuser de um estoque razoável de produto acabado, poderá “endurecer” a negociação, e o salário acordado tenderá a ficar mais próximo de WD. Por outro lado, se o sindicato de trabalhadores tiver condições concretas de realizar uma greve duradoura da categoria, aumentando o respectivo poder de barganha na negociação, o salário acordado tenderá a se aproximar de WS (JORGE, 2016).

DICAS

Sugerimos a leitura do seguinte livro:

O sindicalismo brasileiro após 1930Marcelo Badaró MattosEd. Zahar Ano: 2003

Uma análise que abrange desde a instituição de direitos dos trabalhadores na Era Vargas à escalada grevista da década de 1980 e a recente colaboração com o empresariado, fornecendo a base para a compreensão da estrutura sindical brasileira.

FONTE: <https://zahar.com.br/livro/o-sindicalismo-brasileiro-apos-1930>. Acesso em: 24 jan. 2019.

Os diferenciais de salários entre as famílias são um dos principais fatores da desigualdade de renda de país. Embora não seja o único fator, veremos como ele contribui para esta causa.

3 COMO MENSURAR A DESIGUALDADE Antes de estudarmos como mensurar a desigualdade de renda, vamos

estudar o seu conceito. Na literatura econômica você encontrará vários livros que abordam a desigualdade de renda dos países. Por que será que este tema é tão importante, você saberia responder?

Vários países do mundo sofrem com problemas de desigualdade de renda. Um estudo realizado pela Oxfam, em 2018, cujos resultados parciais foram publicados pela revista Época, destaca que o “Patrimônio dos 26 mais ricos do mundo é igual ao dos 3,8 bilhões mais pobres” (ÉPOCA NEGÓCIOS, 2019, s.p.)

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DICAS

Sugerimos que você assista ao vídeo Oito pessoas têm mesma riqueza que 50% mais pobres, denuncia Oxfam. Acesse: <https://www.youtube.com/watch?v=NLWj89HJHfY>.

NOTA

De acordo com as estimativas mais recentes do Banco Mundial, os cinco países mais desiguais são a República do Congo, Botswana, Haiti, Namíbia e África do Sul – exceto pelo Haiti, que fica na América Central, os outros são países africanos. Em contraste, os países menos desiguais são Ucrânia, Eslovênia, Noruega, República Eslovaca e República Checa, todos países europeus.

Em 2016, o Brasil apresentou um índice de 0.5130, que o classificou como décimo país mais desigual do mundo e representou um acréscimo de 0,99% em relação a 2015. Além disso, possui índices piores que o de países vizinhos, como Argentina, Peru e Bolívia. Já em 2017, o índice de desigualdade de renda no Brasil apresentou um crescimento acelerado, subindo 1,64% e mantendo a posição brasileira no ranking mundial.  

FONTE: <https://www.politize.com.br/desigualdade-economica-5-causas/>. Acesso em: 24 jan. 2019.

Em cidades brasileiras é possível observar esta desigualdade separada apenas por uma distância muito curta. De um lado, nos deparamos com imóveis bem construídos, com valores imobiliários consideráveis. Do outro lado está a presença de barracos sem nenhum tipo de infraestrutura, conforme visualizamos na imagem a seguir:

FIGURA 10 – DESIGUALDADE DE RENDA NO BRASIL

FONTE: <https://www.opovo.com.br/noticias/brasil/2017/09/desigualdade-de-renda-no-brasil-nao-caiu-entre-2001-e-2015-revela-est.html>. Acesso em: 24 jan. 2019.

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UNIDADE 2 | MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO E COMPETITIVIDADE

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Um estudo realizado pela Oxfam Brasil/PNUD destaca ainda que o Brasil, em 2017, ficou estagnado em relação à desigualdade de renda, porém este resultado ainda não é o suficiente para que o Brasil não apareça no ranking dos países mais desiguais do mundo (G1, 2018):

FIGURA 11 – RANKING DOS PAÍSES MAIS DESIGUAIS

FONTE: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2018/11/26/desigualdade-de-renda-para-de-cair-no-brasil-apos-15-anos-e-numero-de-pobres-cresce-aponta-ong.ghtml>.

Acesso em: 24 jan. 2019.

Para medir a desigualdade de renda são utilizadas várias ferramentas pelos economistas, entretanto, elas nem sempre são consideradas ótimas. De acordo com Hall e Lieberman (2003), as duas medidas mais comuns são: a taxa de pobreza e a curva de Lorenz.

Taxa da pobreza é uma medida comum da distribuição de renda, é o percentual da população cuja renda familiar se encontra abaixo de um nível absoluto chamado linha de pobreza, que é estabelecida pelo Governo Federal em aproximadamente três vezes o custo de uma dieta adequada. Essa linha depende do tamanho da família e é reajustada anualmente para levar em conta mudanças no nível de preços (MANKIW, 2013).

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TÓPICO 2 | DESIGUALDADE DE RENDA

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IMPORTANTE

“Taxa de pobreza é a porcentagem da população cuja renda familiar se encontra abaixo de um nível absoluto denominado linha de pobreza” (MANKIW, 2003, p. 386).

Linha de pobreza: “um nível absoluto de renda fixado pelo Governo Federal para cada tamanho de família, abaixo do qual a família é considerada em estado de pobreza” (MANKIW, 2003, p. 396).

NOTA

No Brasil, as condições de pobreza têm aumentado consideravelmente nas últimas décadas.

De acordo com o site de notícias G1, “em 1 ano o Brasil passou a ter quase 2 milhões de pessoas a mais vivendo em situação de pobreza. A pobreza extrema também cresceu em patamar semelhante”.

De acordo com a pesquisa, em 2016 havia 52,8 milhões de pessoas em situação de pobreza no país. Este contingente aumentou para 54,8 milhões em 2017, um crescimento de quase 4%, e representa 26,5% da população todal do país, estimada em 207 milhões naquele ano (em 2016, eram 25,7%).

Já a população na condição de pobreza extrema aumentou em 13%, saltando de 13,5 milhões para 15,3 milhões no mesmo período. Do total de brasileiros, 7,4% estavam abaixo da linha de extrema pobreza em 2017. Em 2016, quando a população era estimada em cerca de 205,3 milhões, esse percentual era de 6,6%.

FONTE: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2018/12/05/em-1-ano-aumenta-em-quase-2-milhoes-numero-de-brasileiros-em-situacao-de-pobreza-diz-ibge.ghtml>. Acesso em: 24 jan. 2019.

A curva de Lorenz é uma linha que mostra a porcentagem acumulativa de renda recebida por porcentagem cumulativa de famílias, e é utilizada principalmente para que se possa obter um dos maiores indicadores numéricos de desigualdade de renda: o índice de Gini. A figura a seguir ilustra um modelo de curva de Lorenz:

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UNIDADE 2 | MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO E COMPETITIVIDADE

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FIGURA 12 – MODELO DA CURVA DE LORENZ

FONTE: Adaptado de Hall e Lieberman (2003)

A

O índice de Gini, conforme você já estudou em outras disciplinas, é uma medida de desigualdade de renda. Trata-se do resultado da divisão da área acima da curva de Lorenz e abaixo da linha da desigualdade.

NOTA

O estatístico italiano Corrado Gini desenvolveu em 1912 o  Coeficiente de Gini, que se tornou o principal indicador para medir desigualdade de renda. Para isso, o Coeficiente de Gini relaciona a percentagem de pessoas com a percentagem de renda em determinado país. O resultado em pontos percentuais é multiplicado por 100, e resulta em uma escala de 0 a 1, em que 0 corresponde à completa igualdade (todos recebem a mesma renda) e 1 corresponde à completa desigualdade (uma pessoa recebe toda a renda nacional). Não existe nenhum país em absoluta igualdade ou absoluta desigualdade, embora a distância entre os países mais desiguais e mais iguais seja bastante significativa.

FONTE: <https://www.politize.com.br/desigualdade-economica-5-causas/>. Acesso em: 24 jan. 2019.

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TÓPICO 2 | DESIGUALDADE DE RENDA

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Segundo Hall e Lieberman (2003), a desigualdade nos salários das famílias não é a única fonte da desigualdade de renda. Geralmente o aumento da renda das famílias está ligado também ao aumento da riqueza. A riqueza das famílias contempla suas casas, ações, títulos, contas bancárias etc., por isso, muitas vezes as famílias acabam tendo rendas que não são relacionadas ao seu trabalho. Por exemplo, caso a família tenha mais de uma casa, e este imóvel esteja alugado, o aluguel é considerado uma renda. O mesmo ocorre com o dinheiro que a família tenha aplicado, a renda serão os juros resultantes desta aplicação.

Embora pareça uma tarefa fácil medir a desigualdade de renda em qualquer país, não é algo tão simples e direto quanto possa parecer à primeira vista. Geralmente, os dados utilizados neste tipo de análise são baseados nas rendas anuais das famílias. De acordo com Mankiw (2013, p. 398), “por vários motivos, os dados sobre distribuição de renda e taxa de pobreza oferecem um quadro incompleto da desigualdade de padrão de vida”.

As medidas da distribuição de renda e da taxa de pobreza se baseiam na renda pecuniária, ou seja, somente é levado em consideração o dinheiro que as famílias recebem. Também podemos observar que as famílias de baixa renda são beneficiadas por uma série de programas governamentais que não são considerados valores monetários. Por exemplo, no Brasil, o Governo Federal, nas últimas décadas, criou vários programas que beneficiam as famílias de baixa renda, conforme apresentamos no quadro a seguir:

QUADRO 3 – PROGRAMAS QUE BENEFICIAM AS FAMÍLIAS DE BAIXA RENDA

a) Bolsa Família – Programa de transferência direta de renda, direcionado às famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em todo o país, de modo que consigam superar a situação de vulnerabilidade e pobreza.

b) Benefício de Prestação Continuada (BPC) – A partir de 2016, a inscrição no Cadastro Único e no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) passou a ser obrigatória para as pessoas que recebem o Benefício de Prestação Continuada. O BPC garante o pagamento de um salário mínimo mensal ao idoso acima de 65 anos ou ao cidadão com deficiência física, mental, intelectual ou sensorial de longo prazo. Para ter direito, é necessário que a renda por pessoa do grupo familiar seja menor que 1/4 do salário-mínimo vigente.

c) Minha Casa, Minha Vida – Oferece um subsídio para financiamento da casa própria, ou seja, um valor para reduzir a prestação do financiamento. Prevê diversas formas de atendimento às famílias que necessitam de moradia.

d) Bolsa Verde – Programa de Apoio à Conservação Ambiental – Programa de transferência de renda para famílias em situação de extrema pobreza que vivem em áreas de relevância para a conservação ambiental. O programa concede R$ 300 reais, de três em três meses, para as famílias que vivem em áreas de conservação ambiental.

e) Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) – Iniciativa que visa proteger crianças e adolescentes, menores de 16 anos, contra qualquer forma de trabalho, garantindo que frequentem a escola e atividades socioeducativas. O PETI repassa, mensalmente, pela Caixa, um auxílio financeiro às famílias que varia de R$ 25,00 a R$ 40,00 por criança, dependendo da área onde vivem.

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f) Fomento – Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais – Programa de transferência de renda destinado a famílias em situação de extrema pobreza ou pobreza que exerçam atividades de agricultores familiares, silvicultores, aquicultores, extrativistas, pescadores ou que permaneçam a comunidades tradicionais e povos indígenas.

g) Carteira do Idoso – Documento que garante acesso gratuito ou desconto de, no mínimo, 50% no valor das passagens interestaduais, de acordo com o Estatuto do Idoso. Destinada a pessoas acima de 60 anos, que não tenham como comprovar renda individual de até dois salários mínimos.

h) Aposentadoria para pessoa de baixa renda – Destinada a pessoas de baixa renda que não trabalharam fora de casa, atuando com trabalho doméstico, pagando por mês uma alíquota de 5% do salário mínimo.

i) Brasil Carinhoso – Apoio às creches – Transferência automática de recursos financeiros, sem necessidade de convênio ou outro instrumento, para custear despesas com manutenção e desenvolvimento da educação infantil.

j) Programa de Cisternas – Através do armazenamento da água da chuva em cisternas construídas com placas de cimento ao lado de cada casa, as famílias que vivem na zona rural dos municípios do Semiárido passam a ter água potável a alguns passos de suas casas.

k) Telefone Popular – O telefone popular tem franquia mensal de 90 minutos para chamadas locais entre telefones fixos e assinatura mensal com valor inferior a R$ 15,00. Para fazer ligações para celular e chamadas de longa distância nacional e internacional é preciso inserir créditos no telefone.

l) Carta Social – Destinada aos beneficiários do Bolsa Família, custa apenas 1 centavo.

m)Pro Jovem Adolescente – Destinado a jovens de 15 a 17 anos pertencentes a famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família ou em situação de risco social.

n) Tarifa Social de Energia Elétrica – Benefício criado para dar um desconto na conta de energia elétrica para famílias de baixa renda que consomem até 220 kWh de energia mensal.

o) Passe Livre para pessoas com deficiência – Destinado a pessoas de baixa renda com deficiência física, mental, auditiva. Considera-se de baixa renda, neste caso, aquele que tiver renda familiar per capita de até um salário mínimo.

p) Isenção de taxas em concursos públicos – Válida para concursos realizados pelo Poder Executivo Federal, podem requerer a isenção pessoas integrantes de família de baixa renda (com renda mensal per capita de até meio salário mínimo ou com renda familiar mensal de até três salários mínimos).

FONTE: <https://www.sul21.com.br/areazero/2017/01/conheca-16-programas-sociais-que-podem-ser-acessados-por-familias-de-baixa-renda/>. Acesso em: 24 jan. 2019.

Desta forma, observando o quadro acima, podemos verificar que muitas vezes as transferências realizadas às famílias de baixa renda em forma de bens e serviços são inúmeras e recebem o nome de transferências em espécie.

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NOTA

No Brasil foi criado, em 2001, o Cadastro Único para Programas Sociais. Este cadastro foi regulamentado pelo Decreto nº 6.135, de 26 de junho de 2007, com sua gestão disciplinada pela Portaria MDS nº 177/2011. “Trata-se de um instrumento de identificação e caracterização socioeconômica das famílias brasileiras de baixa renda, entendidas como aquelas com renda mensal igual ou inferior a ½ salário mínimo por pessoa (per capita) ou renda familiar mensal de até três salários mínimos. Suas informações podem ser utilizadas pelos governos federal, estaduais e municipais para obter o diagnóstico socioeconômico das famílias cadastradas, possibilitando a análise das suas principais necessidades” (BRASIL, 2011, p. 5).

De acordo com Mankiw (2013, p. 398), “como as transferências em espécie são recebidas predominantemente pelos membros mais pobres da sociedade, a sua não inclusão na renda afeta e muito a taxa de pobreza medida”.

Outro fator importante a ser considerado ainda na mensuração da desigualdade de renda de uma população é o fato de a renda variar de maneira previsível durante a vida de cada pessoa. Por exemplo, um jovem, ao se inserir no mercado de trabalho, possivelmente terá uma renda baixa. À medida que este jovem concluir seus estudos e se qualificar para o desempenho de determinadas atividades, passará a ter aumentos em seu salário. Mas assim como ocorre nas empresas, podemos dizer que o trabalhador passa por um ciclo de crescimento, maturidade e declínio. Neste caso, o ciclo de maturidade do trabalhador ocorre por volta dos 50 anos, a partir daí sua renda começa a ficar acentuada – é quando o trabalhador se aposenta, por volta dos 65 anos. Esse padrão regular de variação da renda é chamado ciclo de vida.

Mas, se caso a pessoa fizer um planejamento ao longo da vida, com certeza essa mudança provocada pelo ciclo de vida não afetará seu padrão, visto que ao longo do tempo ela fez uma poupança e/ou investimentos que viessem a garantir o mesmo padrão no momento de sua aposentadoria. De acordo com Mankiw (2003), esse padrão normal do ciclo de vida causa uma desigualdade na distribuição anual de renda, porém não representa verdadeira desigualdade em termos de padrão de vida da sociedade.

Outros fatores que também podem afetar as rendas das pessoas são as rendas transitórias, originadas por forças aleatórias e transitórias e não dependem do comportamento da sociedade. São consideradas forças aleatórias e transitórias, por exemplo, as variações climáticas.

As variações climáticas podem ocorrer a qualquer momento. Por exemplo, o excesso de chuva acaba com a produção de cebolas na cidade de Ituporanga (SC) – considerada uma das maiores produtoras do Estado. Com certeza, a renda destes produtores cairá e, consequentemente, o preço da cebola ficará elevado em outra determinada localidade B, aumentando temporariamente a renda destes produtores da cidade B, que também produz cebola e que não foi atingida pela variação climática.

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UNIDADE 2 | MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO E COMPETITIVIDADE

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FIGURA 13 – EXCESSO DE CHUVA PREJUDICA A PRODUÇÃO DE CEBOLA EM SC

FONTE: <http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2015/12/reducoes-na-safra-20152016-passam-dos-30-devido-ao-excesso-de-chuva.html>. Acesso em: 24 jan. 2019.

DICAS

Sugerimos que você leia a matéria: “Chuva no Vale do Itajaí prejudica produção de cebolas em SC. Preço do produto deve aumentar por causa das perdas dos agricultores. Chuva enterrou cebolas; está mais trabalhoso prepará-las para o mercado”, publicada no G1 SC em 2015. Acesse <http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/campo-e-negocios/noticia/2015/11/chuva-no-vale-do-itajai-prejudica-producao-de-cebolas-em-sc.html> e confira!

4 POLÍTICAS DE DISTRIBUIÇÃO DE RENDA Até o momento estudamos as questões da distribuição de renda pela ótica

positiva da economia, ou seja, como a desigualdade de renda é. A partir de agora vamos estudá-la pela ótica normativa da economia, ou seja, como ela deveria ser – e neste contexto é primordial que nós, economistas, tenhamos bem claro como devem ser pensadas as políticas de distribuição de renda. Em relação às políticas de distribuição de renda, podemos dizer que elas vão além das análises dos economistas, envolvem olhares múltiplos que vão desde a filosofia até as questões políticas, mas não podemos nos esquecer de que o papel do governo é central neste contexto.

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TÓPICO 2 | DESIGUALDADE DE RENDA

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Assim, para que possamos compreender melhor as questões da política de desigualdade de renda, Mankiw (2013) sugere que deixemos de lado por um momento a Ciência Econômica e passemos a tratar um pouco da Filosofia Política. Assim, o autor se baseia em algumas filosofias: o Utilitarismo, o Liberalismo e o Libertarismo. Vamos ver o que trata cada uma delas.

4.1 UTILITARISMO

O Utilitarismo é uma escola de pensamento político que foi fundada pelos filósofos ingleses Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873). Esta escola tinha como objetivo aplicar a lógica da tomada de decisões individuais a questões ligadas à moralidade e às políticas públicas.

O Utilitarismo tinha como centro das discussões o conceito de utilidade, ou seja, o nível de felicidade ou satisfação que alguém obtém de suas condições. Para eles, a utilidade era uma medida de bem-estar, por isso o objetivo adequado do governo seria o de maximizar a soma de utilidade conseguida por todos os membros da sociedade.

No que concerne à distribuição de renda, os utilitaristas utilizavam o argumento baseado na hipótese da utilidade marginal decrescente. Na visão destes, à medida que a renda de uma pessoa aumenta, o bem-estar adicional derivado de uma unidade monetária adicional de renda diminui (MANKIW, 2013).

Utilitarismo é a Filosofia Política segundo a qual o governo deve escolher políticas que maximizem a utilidade total da sociedade. Utilidade é uma medida de felicidade ou satisfação bastante plausível, somada ao objetivo utilitarista de maximização da utilidade total, implica que o governo deveria tentar atingir uma distribuição de renda mais igualitária (MANKIW, 2013, p. 402).

4.2 LIBERALISMO

De acordo com Mankiw (2013), uma segunda maneira de encarar a desigualdade pode ser chamada Liberalismo, criado pelo filósofo John Rawls em seu livro Uma teoria da justiça, em 1971. Nesta obra, Rawls parte da premissa de que as instituições, leis e políticas de uma sociedade deveriam ser justas. Para tanto, partia sua análise do seguinte questionamento: Como chegar a um conceito de justiça objetivo, já que o ponto de vista de cada pessoa é distorcido por circunstâncias particulares?

Para responder a este questionamento, Rawls propôs o seguinte experimento. Imagine que, antes do nascimento, fôssemos para uma reunião com o objetivo de estabelecer as regras que iriam governar a sociedade. Nessa situação, não saberíamos aonde iríamos chegar na vida. "Estaríamos sentados em uma posição original atrás de um véu de ignorância". Assim poderíamos considerar objetivamente um conjunto de regras justas para a sociedade. Como

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todo mundo estaria em igual situação e ninguém procuraria fazer regras para favorecer seu interesse particular, os princípios de justiça e o desenho de políticas públicas e instituições a que se chegaria seriam o resultado de um acordo objetivo. “Nas palavras de Rawls, estamos em uma ‘posição original’, por trás de um ‘véu de ignorância’. Nessa posição original, argumenta Rawls, podemos escolher um conjunto de regras justas para a sociedade porque precisamos pensar em como elas afetarão cada pessoa“ (MANKIW, 2013, p. 403).

4.3 LIBERTARISMO

Uma terceira maneira de encarar a desigualdade, apresentada por Mankiw (2013), é o Libertarismo. Segundo o autor, a alternativa libertarista à avaliação dos resultados econômicos é avaliar o processo por meio do qual esses resultados surgem. Assim, quando a distribuição de renda é atingida de maneira injusta – por exemplo, quando uma pessoa furta de outra –, o governo tem o direito e o dever de remediar o problema, mas na medida em que o processo que determina a distribuição de renda seja justo, a distribuição resultante também o será, não importa o quão desigual seja.

Neste sentido, Mankiw (2013, p. 404) aponta que

Os libertaristas concluem que a igualdade de oportunidades é mais importante que a igualdade de rendas. Eles acreditam que o governo deve fazer valer os direitos individuais para garantir que todos tenham a mesma oportunidade de usar seus talentos e ter sucesso. Uma vez estabelecidas as regras do jogo, o governo não tem nenhum motivo para alterar a distribuição de renda resultante.

Caro acadêmico, com base nestas três teorias apresentadas, podemos observar que os filósofos políticos têm diversas teorias sobre o papel que o governo deve desempenhar na alteração da distribuição de renda. Nos dias atuais, o debate acerca da distribuição de renda é bem semelhante. De um lado, temos pessoas que acreditam que o governo deveria criar políticas que favoreçam os mais necessitados, outros já não concordam com essa visão, porém concordam que cabe ao governo oferecer mecanismos que favoreçam o bem-estar da sociedade, baseados nos pilares básicos: saúde, educação e segurança.

Mas uma coisa é fato! Em qualquer nação, pensar a redução da pobreza ainda é um grande desafio para os governantes, pois as famílias pobres são mais vulneráveis a diversos fatores que estão associados aos problemas econômicos e sociais.

Chegamos ao final do Tópico 2 desta unidade, esperamos que você tenha conseguido compreender como os fatores de produção influenciam as tomadas de decisões, bem como são influenciados pelas alterações no mercado. No decorrer do seu curso você ainda estudará sobre alguns tópicos aqui apresentados, por exemplo, a desigualdade de renda das famílias. Esta introdução ao tema servirá de base para as análises futuras da economia.

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TÓPICO 2 | DESIGUALDADE DE RENDA

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LEITURA COMPLEMENTAR

UMA ESTRATÉGIA PARA REDUZIR A POBREZA E A DESIGUALDADE

Rogério da Veiga

O Brasil viveu um ciclo de redução da pobreza, com redução de desigualdades resultado da combinação de políticas sociais, investimentos em infraestrutura, melhoria na economia, no mercado de trabalho e na remuneração, em especial dos mais pobres.

Utilizando-se o cálculo feito pelo IPEA a partir da PNAD, o número de pessoas extremamente pobres no país saiu de 26,2 milhões em 2003 para 10,4 milhões em 2013, uma redução de 60%. Os pobres no Brasil passaram de 61,8 milhões de pessoas em 2003 para 28,7 milhões em 2013.

FIGURA 1 – TAXAS DE EXTREMA POBREZA – ORIGINAL E APRIMORADA

Fonte: MDS/IPEA

A pobreza, quando analisada de maneira multidimensional (VAZ; JANNUZZI, 2014), também sofre uma redução grande, saindo de 7,3% em 2002 para 1,1% em 2013 (Figura 2). Esta metodologia considera sete indicadores (frequência escolar das crianças, anos de escolaridade, saneamento básico, acesso à água, eletricidade, habitação, posse de ativos), além da renda per capita. Entende-se como cronicamente pobres as famílias que têm renda abaixo de R$ 140,00 per capita e possuem três ou mais carências dentre os sete indicadores analisados.

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UNIDADE 2 | MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO E COMPETITIVIDADE

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FIGURA 2 – EVOLUÇÃO DA POBREZA CRÔNICA NO BRASIL

Fonte: Vaz e Jannuzzi (2014)

O nível de formalização da economia também foi consideravelmente ampliado, saindo de 29,5% em 2003 para 48,7% em 2013. Associado ao crescimento do salário mínimo, esse aumento foi responsável por parte do impacto distributivo e da ascensão à classe C de grande contingente de pessoas, propiciando que a renda dos 20% mais pobres crescesse a uma taxa quase três vezes maior que a renda dos 20% mais ricos (6,2% x 2,63%) entre 2002 e 2013.

FIGURA 3 – EVOLUÇÃO DA TAXA DE FORMALIZAÇÃO DO EMPREGO

Fonte: MDS/SAGI

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TÓPICO 2 | DESIGUALDADE DE RENDA

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FIGURA 4 – EVOLUÇÃO DO RENDIMENTO POR FAIXA DE RENDA

A questão que se coloca é: como seguir reduzindo a pobreza e as desigualdades no momento em que atingimos o menor nível de desigualdade desde 1960? (NERI, 2011).

Para melhorar as condições de vida da população mais pobre na intensidade vivenciada nesse período, foi necessária orientação política clara de que o desenvolvimento do país deveria beneficiar em maior medida os mais pobres. Não apenas isso: o desenvolvimento com base no mercado interno seria sustentado justamente pela inclusão dos mais pobres (SAAD-FILHO, 2011).

Partindo das inflexões realizadas pelo Plano Brasil Sem Miséria, busco delinear estratégias que poderiam ser transpostas a outras políticas públicas e que, desta maneira, contribuiriam com a redução da pobreza e desigualdade. As inflexões realizadas pelo Plano Brasil Sem Miséria são (CAMPELLO; MELLO, 2014):

1) Estabelecimento de uma linha de extrema pobreza para organizar a priorização do Estado: o estabelecimento de uma linha de extrema pobreza permitiu a priorização e reorganização do Estado de forma a assegurar que as ações cheguem aos extremamente pobres. Esta seria uma estratégia que poderia ser reproduzida, com as devidas adaptações, a outras políticas. O que seria uma linha de extrema pobreza na Educação? Saúde? Cultura? Comunicações? Trabalho? A partir desta linha, é possível identificar quem são aqueles que se encontram abaixo desta linha, investigar as razões e implementar as estratégias para sua superação.

2) Universalização das políticas voltadas à pobreza, em especial, o Bolsa Família: à primeira vista, o estabelecimento de um limite e a priorização daqueles que estão abaixo deste limite pode ser interpretado como algo que se opõe à universalização. No entanto, é justamente o contrário. Não há universalidade sem equidade, se um conjunto da população não acessa a política universal ou,

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UNIDADE 2 | MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO E COMPETITIVIDADE

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quando acessa, obtém resultados muito inferiores ao restante da população. Os mais pobres estão frequentando a educação infantil na mesma intensidade que os mais ricos? Estão aprendendo português, matemática e ciências igual aos seus pares de renda maior? Estão acessando tecnologias digitais no mesmo nível que seus pares? Têm acesso a médicos e especialistas conforme suas necessidades? Trata-se, pois, de universalizar de fato as políticas universais, assegurando um resultado mínimo para cada um.

3) Reconhecer as especificidades da população mais pobre, suas vulnerabilidades e reformular programas e ações para que de fato cheguem a estas populações: a priorização do público abaixo da linha estabelecida permite compreender com maior profundidade suas especificidades e vulnerabilidades, para que as ações implementadas sejam de fato acessadas e produzam os resultados esperados, medidos em relação à linha. As políticas e ações devem ser redesenhadas para se adaptar à realidade do público-alvo, não o contrário, não se deve esperar que este público se adapte às características da política.

4) Assegurar mais investimentos direcionados aos mais pobres, caso o esforço até então empreendido não tenha sido suficiente: a linha é universal no sentido de que todos devem estar acima dela e a cada um deve ser garantido o que for necessário para que esteja acima da linha.

5) Ações específicas para inclusão produtiva dos mais pobres: este item está na raiz do modelo de desenvolvimento econômico brasileiro, que historicamente desenvolveu-se gerando oportunidades para uma pequena parcela da população brasileira. Como assegurar que os mais pobres façam parte do desenvolvimento econômico nacional? O Brasil Sem Miséria aponta para três ações combinadas: ampliação das capacidades dos mais pobres; inclusão dos mais pobres nos setores de maior produtividade da economia; ampliação da produtividade dos setores ocupados pelos mais pobres. Os mais pobres devem participar integralmente do desenvolvimento: no lado da demanda, como consumidores; no lado da oferta, como integrantes do processo de produção (DA VEIGA, 2008).

6) Prioridade à primeira infância: embora não citado pelas autoras, a prioridade à infância esteve presente no Brasil Sem Miséria, com o Brasil Carinhoso, e é uma característica desde o princípio do Programa Bolsa Família, expresso nas condicionalidades de saúde e educação.

Reduzir desigualdades e pobreza passa por investir na infância e assegurar condições ao desenvolvimento infantil pleno. Na primeira infância se forma a arquitetura do cérebro, de acordo com as experiências vividas e as características do próprio indivíduo; experiências adversas na infância afetam o desenvolvimento infantil, sendo maior a probabilidade de que estas experiências adversas ocorram em famílias mais pobres; o prejuízo na formação da arquitetura do cérebro é cumulativo ao longo da vida, reproduzindo desigualdades e a pobreza [...].

FONTE: <http://revistaconstrucao.org/politica-social/uma-estrategia-para-reduzir-pobreza-e-desigualdade/>. Acesso em: 24 jan. 2019.

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RESUMO DO TÓPICO 2Neste tópico, você aprendeu que:

• A distribuição de renda em vários países se dá de forma não igualitária.

• Os dados sobre a distribuição de renda mostram uma ampla disparidade na sociedade.

• A renda das famílias mais ricas se distancia muito das famílias mais pobres.

• Como as transferências em espécie, o ciclo de vida econômico, a renda transitória é importante para a compreensão das variações da renda.

• Mensurar o grau de desigualdade na sociedade, usando dados de distribuição de renda, ainda é uma tarefa complexa.

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AUTOATIVIDADE

1 Indique três programas que tenham o objetivo de ajudar os pobres e aponte seus prós e contras.

2 Qual é o objetivo do Utilitarismo?

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TÓPICO 3

EFICIÊNCIA ECONÔMICA EM

MERCADOS COMPETITIVOS

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃOOlá, caro acadêmico, neste tópico vamos estudar a eficiência econômica.

Vimos anteriormente que nem sempre o mercado trabalha de maneira adequada e, devido a isso, muitas vezes dependemos da interferência do governo para que o mercado alcance seu nível de eficiência.

A palavra eficiência, por si só, é muito comum nas discussões empresariais. Diariamente os gestores recebem metas e procuram estratégias para procurar maneiras para aumentar a produtividade e melhorar a eficiência dos processos produtivos, tornando possível produzir mais e com o melhor custo possível.

Nos dias atuais, a eficiência econômica tem se destacado principalmente diante do novo modelo de desenvolvimento de produzir preservando os recursos. Para que haja a eficiência econômica é necessário usar racionalmente os recursos, bem como propor a substituição quando necessário e quando estes forem finitos, buscando novas técnicas que venham melhorar a produção.

Na Unidade 3 desta disciplina, veremos como se dá a intervenção do governo, por exemplo, para corrigir as falhas de mercado através do estudo das externalidades. Podemos dizer que a Ciência Econômica é muito importante quanto à necessidade de intervenção do governo para a remediação de problemas na economia privada, mas antes de estudarmos o papel central do governo neste contexto é importante que tenhamos claro alguns conceitos, os quais veremos a partir de agora.

2 O CONCEITO DE EFICIÊNCIA ECONÔMICA Você já estudou diversas disciplinas em que foi utilizado o termo eficiência.

Acadêmico, mas está claro para você o que significa eficiência? Com certeza, algumas pessoas atrelariam o termo a questões temporais (melhorar a gestão do tempo), outras a questões financeiras (evitar desperdício). Bem, na Economia, o conceito de eficiência de certa forma também é “a ausência de desperdício”.

Em Administração, por exemplo, o termo é associado a “fazer as coisas de maneira adequada; resolver problemas; salvaguardar os recursos aplicados; cumprir seu dever; e reduzir os custos” (LOBO, 2010, p. 10).

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UNIDADE 2 | MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO E COMPETITIVIDADE

Segundo o Dicionário de Economia, a eficiência econômica é “a relação entre o valor comercial de um produto e o custo unitário de sua produção” (SANDRONI, 2002, p. 111).

Já de acordo com Troster e Mochón (2002, p. 87), “o método de produção eficiente é aquele que permite o menor preço, dado um conjunto de fatores”.

Podemos dizer ainda que a eficiência econômica é alcançada quando não há como reorganizar a produção ou alocação de bens, de uma maneira que uma pessoa melhore sem que a outra piore (HALL; LIEBERMAN, 2003, p. 483).

Para exemplificar o conceito de eficiência econômica, vamos utilizar o exemplo destacado por Suen (2016, p. 267), que se refere a uma notícia publicada no Jornal do Carro, no O Estado de S. Paulo (26 de julho de 2015, p. 2), sobre o lançamento de um novo modelo da Volkswagen, o Up! TSI, com inovação turbo: “Se a melhora no desempenho é decorrência da adoção do turbo, a surpresa foi a economia. Segundo a VW, o Up! TSI passa a ser o automóvel mais econômico do país, à exceção dos híbridos, aliando desempenho de 1.8 ou mais e a economia de 1.0. Assim, pode-se dizer que o desempenho de um carro com motor 1.8 ou maior, com a economia de um motor 1.0, mostra uma elevada eficiência, que foi alcançada pelo Up! TSI.”

Observa-se, neste exemplo, que o novo modelo de veículo lançado pela Volkswagen apresenta como eficiência a introdução de um turbo compressor. Mas lembre-se de que uma economia eficiente não significa uma economia justa. Para nós, economistas, o foco está mais na ênfase da eficiência do que na eficiência, do que nas questões de justiça – questões de justiça envolvem questões morais e, segundo Hall e Lieberman (2003), devem e podem ser resolvidas politicamente.

Ao examinar o conjunto da economia deve-se analisar todos os mercados individuais, tanto para os bens quanto para os fatores de produção. A figura a seguir ilustra graficamente a eficiência na produção:

FIGURA 14 – EFICIÊNCIA NA PRODUÇÃO

FONTE: Suen (2016, p. 271)

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TÓPICO 3 | EFICIÊNCIA ECONÔMICA EM

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3 MELHORIAS DE PARETOAs melhorias baseadas no Princípio de Pareto consideram que, em uma

negociação, as duas partes envolvidas melhoram e ninguém é prejudicado com o resultado.

Você, em algum momento, já deve ter ouvido falar de Pareto, mas antes de continuarmos a analisar como as ideias de Pareto podem ser aplicadas à eficiência econômica, vamos relembrar quem foi Pareto.

Vilfredo Pareto (1848-1923) era um economista italiano e foi o primeiro a explorar, sistematicamente, a questão da eficiência econômica. Pareto também é muito conhecido na área de Qualidade, pois foi com base em suas ideias que Joseph Juran desenvolveu a ferramenta Diagrama de Pareto, muito utilizada na resolução de problemas para classificá-los com base na relação causa-efeito (SELEME; STADLER, 2010).

A eficiência de Pareto requer que tenhamos três condições: produção eficiente, consumo eficiente e uma estrutura de produção eficiente de recursos. Na figura a seguir podemos observar o significado destas condições:

FIGURA 15 – CONDICIONANTES PARA ALCANÇAR A EFICIÊNCIA DE PARETO

FONTE: A autora

ESTRUTURADE PRODUÇÃO

EFICIENTE

CONSUMOEFICIENTE

PRODUÇÃOEFICIENTE

EFICIÊNCIA DE PARETO

Assim, a partir da noção de uma melhoria de Pareto podemos chegar a uma definição formal de eficiência econômica, que pode ser aplicada a um mercado individual ou à economia como um todo. Para que você tenha uma clara compreensão da melhoria de Pareto, observe o exemplo a seguir, desenvolvido por Hall e Lieberman (2003, p. 406):

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UNIDADE 2 | MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO E COMPETITIVIDADE

Suponha que examinemos o mercado para impressoras a laser e que não consigamos identificar uma única melhoria de Pareto nesse mercado que ainda não tenha sido explorada. Não importa o quanto examinemos, não conseguiremos encontrar uma mudança no preço ou no nível de produção ou qualquer outra alteração que melhore algum produtor ou algum consumidor sem prejudicar ninguém. Assim, diremos que o mercado de impressoras a laser é economicamente eficiente. De maneira alternativa, podemos examinar a economia como um todo. Se descobríssemos melhorias de Pareto remanescentes que não estivessem ocorrendo – por exemplo, uma alteração no preço de algum bem ou na quantidade de um bem produzido – consideraríamos a economia economicamente ineficiente.

Evidentemente, nenhuma economia pode explorar todas as melhorias de Pareto, por isso nenhuma sociedade pode ser completamente eficiente em termos econômicos (HALL; LIEBERMAN, 2003).

Na análise de um mercado individual, um estado eficiente – no sentido de Pareto – tem como propriedade a igualdade entre o custo marginal e o preço de demanda. Imaginemos uma situação em que o custo marginal seja diferente do preço de demanda. Neste caso seria possível melhorar a situação de pelo menos alguns consumidores e algumas firmas sem piorar a situação de ninguém.

Por outro lado, imagine que o preço de demanda seja superior ao custo marginal. Neste caso, haveria algum consumidor disposto a pagar uma unidade adicional do produto. Se essa unidade adicional for então produzida e vendida ao preço de demanda por uma firma, ela terá um acréscimo positivo em seu lucro total e ficará em situação melhor. O consumidor que comprou essa mercadoria também ficará em situação melhor e ninguém será prejudicado com essa transação (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2008).

4 OS ELEMENTOS DA EFICIÊNCIA ECONÔMICA Agora que já estudamos o conceito de eficiência econômica, vamos

aprofundar nosso conhecimento em relação aos elementos da eficiência econômica.

A eficiência econômica pode ser dividida em dois componentes: eficiência produtiva e eficiência locativa, conforme podemos observar na figura a seguir:

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TÓPICO 3 | EFICIÊNCIA ECONÔMICA EM

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FIGURA 16 – ELEMENTOS DA EFICIÊNCIA ECONÔMICA

FONTE: A autora

EFICIÊNCIA ECONÔMICA

EFICIÊNCIA PRODUTIVA EFICIÊNCIA ALOCATIVA

A eficiência produtiva envolve a organização da produção para obter a máxima produção possível com todos os recursos disponíveis. A eficiência alocativa analisa com quais bens e serviços a economia deve produzir.

Uma economia é considerada produtivamente eficiente quando é impossível produzir mais de um bem sem produzir menos de algum outro bem. Para que haja a eficiência produtiva, Hall e Lieberman (2003) apontam três condições:

• Como primeira condição, a economia deve utilizar todos os seus recursos disponíveis (pleno emprego), ou seja, recursos não empregados são exemplos mais comuns de ineficiência. Quantas vezes nos deparamos com estruturas vazias em determinadas épocas do ano, como a rede hoteleira do litoral. Várias estratégias podem ser adotadas para tornar viável esse empreendimento em épocas de baixa temporada, alguns até conseguem estabelecê-los, outros nem tanto.

• A segunda condição coloca que cada firma deve produzir a máxima quantidade possível com os recursos disponíveis. Um exemplo disso é a questão das empresas de transportes. Muitas vezes, um caminhão leva uma carga para determinada região do país. Este trajeto dura em média cinco dias, porém o caminhão demora mais de 20 dias para retornar, pois não é viável que ele retorne vazio, assim permanece no local aguardando até que uma nova carga seja contratada para seu destino de retorno.

• A terceira condição estabelece que a alocação de insumos entre as firmas deve produzir a máxima quantidade possível de bens. Para exemplificar essa condição, Mankiw (2013) considera a seguinte situação: imagine que um armazém e uma oficina estejam localizados um ao lado do outro. A oficina não tem banheiro, de modo que seu mecânico tem de andar mais de um quarteirão para usar o banheiro público várias vezes ao dia, mas tem um computador extra

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UNIDADE 2 | MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO E COMPETITIVIDADE

que raramente é utilizado. O armazém tem um banheiro pouco utilizado, mas não tem computador para controle de inventário e, portanto, seus funcionários têm de passar horas desvendando os pedidos do dia seguinte. Certo dia, os proprietários das duas firmas se reúnem e percebem que se a oficina trocasse o computador extra pelo uso do banheiro do armazém, o armazém poderia enviar mais pedidos por dia e a oficina poderia consertar mais carros. Como isso aumentaria a produção de bens das duas firmas, sem reduzir a produção de mais nada, a economia não era produtivamente eficiente antes da troca.

O exemplo apresentado não ocorre somente com as empresas, na área agrícola é muito comum os produtores se organizarem para que, em determinado período, eles se ajudem, tanto em épocas de plantio como de colheita. Eles costumam chamar esta prática de troca de serviço.

Economicamente podemos afirmar que a eficiência produtiva, em todos os seus aspectos, é interessante para todo sistema econômico. É o desejo de qualquer sociedade conseguir atingir um alto padrão de vida e, por isso, vai se esforçar para alcançar a eficiência produtiva, caso contrário, não se alcançará bons resultados, visto que nossos recursos são limitados.

NOTA

A eficiência produtiva é necessária para a eficiência econômica (HALL; LIEBERMAN, 2003).

Quando temos uma economia cuja produtividade é eficiente, temos também a possibilidade de expandir mais a produção de determinado bem. Por exemplo, acesso à internet com maior velocidade, sem produzir menos de qualquer outra coisa. Ao expandir o acesso à internet e/ou aumentar a velocidade da internet existente, ninguém será prejudicado, pois se expandirá a oferta de um bem existente, sem precisar sacrificar qualquer outro para que isso ocorra. Com isso haveria, consequentemente, maior eficiência produtiva e uma eficiência econômica.

Lembre-se de que o fato de termos uma eficiência produtiva não garante que tenhamos uma eficiência econômica. Segundo Hall e Lieberman (2003), podemos observar essa afirmação no seguinte exemplo: imagine uma economia com recursos completamente empregados. Nela, cada firma produz o máximo possível com os recursos que está utilizando e os recursos são distribuídos entre as firmas, de modo a obter a produção máxima total de bens e serviços. Essa economia é produtivamente eficiente, já que seria impossível produzir mais de um bem sem produzir menos de algum outro bem. E se a maioria dos recursos, porém, fosse utilizada para produzir bens e serviços que ninguém quisesse? Apesar de produtivamente eficiente, essa sociedade ainda estaria desperdiçando algo importante, a oportunidade de produzir bens e serviços que atendessem às necessidades da sociedade.

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TÓPICO 3 | EFICIÊNCIA ECONÔMICA EM

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Vimos que num mercado perfeitamente competitivo, a eficiência produtiva não garante uma eficiência econômica, pois, para que alcancemos a eficiência econômica, precisamos produzir bens que atendam às necessidades da sociedade como um todo, ou seja, é necessário também que haja a eficiência alocativa.

IMPORTANTE

“O processo de alocação dos recursos tende a uma escala de prioridades que satisfaça às exigências mínimas requeridas pelos diferentes grupos sociais da nação. Afinal, por serem escassos os recursos, certamente não será possível atender à totalidade dos desejos manifestados por todos os grupos sociais. Mas considerar-se-á eficaz o processo de escolha sempre que existir uma cesta mínima de bens e serviços à qual, presumivelmente, todos possam ter acesso, antes que produtos menos essenciais sejam produzidos” (TOSCANO, 2003, s.p., grifo da autora).

Neste sentido, Miltons (2016) sinaliza que mercados competitivos eficientes nem sempre são sinônimos de equidade na repartição dos recursos. Eficiência é um conceito de otimização, ou seja, de melhor alocação de recursos no sentido de menores custos de produção e maiores utilidades marginais.

A figura a seguir apresenta de forma resumida os tipos de eficiência econômica nos mercados competitivos:

FIGURA 17 – TIPOS DE EFICIÊNCIA ECONÔMICA NOS MERCADOS COMPETITIVOS

FONTE: Hall e Lieberman (2003, p. 486)

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UNIDADE 2 | MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO E COMPETITIVIDADE

Afinal, como se dá a eficiência econômica em um mercado não competitivo? No mercado chamado de imperfeitamente competitivo, o preço de equilíbrio excede o custo marginal da produção da firma, ou seja, ele é ineficiente.

A figura a seguir ilustra a ineficiência do mercado, considerando como exemplo uma indústria que produz sucrilhos:

FIGURA 18 – INEFICIÊNCIA DO MERCADO

FONTE: Hall e Lieberman (2003, p. 500)

Observe na figura que, quando a firma está maximizando o lucro no nível de produto q*, o preço – e o benefício marginal para algum consumidor – é de $ 3,00 por caixa de sucrilhos. Já o custo marginal é de apenas $ 1,00.

O resultado é ineficiência econômica, ou seja, um nível de produção de sucrilhos menor que o nível eficiente, porque quando a produção é q*, podemos encontrar uma melhoria de Pareto. Por exemplo, suponha que um consumidor compre mais uma caixa de sucrilhos e pague $ 2,00. Observe o quadro a seguir, nele são apresentadas informações para uma transação que mostra que isso resultaria em uma melhoria de Pareto:

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TÓPICO 3 | EFICIÊNCIA ECONÔMICA EM

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QUADRO 4 – UMA CAIXA A MAIS DE SUCRILHOS É PRODUZIDA E VENDIDA

FONTE: Adaptado de Hall e Lieberman (2003)

Algum Consumidor

Ganha benefícios no valor de: 3,00Paga: 2,00Sai lucrando em: 1,00

A empresa de sucrilhos

Ganha receita de: 2,00Custo marginal: 1,00Sai lucrando em: 1,00

O consumo adicional do produto é benefício, pois o benefício marginal para o consumidor excede o custo marginal para o produtor. Se a empresa de sucrilhos não produzir uma caixa adicional, o mercado para sucrilhos será ineficiente. Como você pôde ver, nos mercados de monopólio ou imperfeitamente competitivos, a quantidade de maximização do lucro para firmas – e a quantidade de equilíbrio de mercado – é ineficiente (HALL; LIEBERMAN, 2003).

5 EFICIÊNCIA ECONÔMICA E EQUIDADE Agora que você já compreendeu o conceito de eficiência econômica,

vamos estudar a sua relação com a questão da equidade. Você sabe o que quer dizer equidade?

A palavra equidade é derivada do latim aequitas, de aequus, tendo o significado análogo ao de equitativo e justo. Em um sentido amplo, tanto esse vocábulo quanto a palavra justiça compreendem a disposição de tratar a pessoa humana tal qual ela é, contribuindo em tudo que estiver ao alcance, desde que não em prejuízo próprio, para torná-la feliz. Entretanto, no sentido estrito, equidade e justiça não têm necessariamente a mesma interpretação, sendo a primeira compreendida como a igualdade definida no direito romano como jus est ars boni et aequi, enquanto a segunda origina-se no termo latino iustitĭa, referindo-se a uma constante e firme vontade de entregar a cada um o que lhe é devido. A justiça é o objetivo que deve ser alcançado de acordo com o direito, a razão e a equidade, de modo que se constituiria no ideal de chegar ao que é regulado pela norma (SUEN, 2016, p. 274, grifo da autora).

A escolha entre eficiência econômica e equidade tem originado um grande

debate na economia, pois os objetivos de eficiência econômica e equidade na alocação de recursos escassos estão negativamente correlacionados, uma vez que quanto mais se busca a equidade na distribuição da renda, menos eficiente será a produção.

Suen (2016) coloca ainda que no campo mais tradicional do pensamento econômico, a busca de desenvolvimento está focada nas seguintes argumentações:

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UNIDADE 2 | MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO E COMPETITIVIDADE

a) o crescimento econômico não traz a redução das desigualdades por si só;b) somente elevar os gastos sociais em um país não é o suficiente, mas torna-

se necessário fazê-lo de forma a elevar a eficiência econômica por meio da melhora da alocação de recursos;

c) as propostas de desenvolvimento são focadas em investimento no “capital humano” e geração de conhecimento, reformas tributárias, previdenciárias e trabalhistas.

Por outro lado, também vamos encontrar muitos autores que focam suas análises no pensamento econômico heterodoxo, que foca com maior intensidade os temas relacionados ao desenvolvimento econômico com equidade social.

NOTA

AS PESSOAS ENFRENTAM TRADEOFFS

[...] Quando as pessoas estão agrupadas em sociedade, deparam-se com tipos diferentes de tradeoff. O tradeoff clássico se dá entre “armas e manteiga”. Quanto mais uma sociedade gasta com defesa nacional (armas) para proteger suas linhas costeiras de agressores estrangeiros, menos ela pode gastar com bens de consumo (manteiga) para elevar o padrão de vida nos lares. Também importante na sociedade moderna é o tradeoff entre um meio ambiente limpo e um alto nível de renda. As leis que exigem que empresas reduzam a poluição, elevam o custo da produção de bens e serviços. Em razão dos custos mais elevados, essas empresas obtêm menos lucros, pagam salários menores, cobram preços mais altos ou alguma combinação desses três fatores. Embora as regulamentações concernentes à poluição promovam um ambiente mais limpo e, em consequência, melhor saúde, elas provocam a redução de renda de proprietários, trabalhadores e clientes das empresas regulamentadas.

Outro tradeoff que a sociedade enfrenta é entre eficiência e igualdade. Eficiência significa que a sociedade está obtendo o máximo que pode de seus recursos escassos. Igualdade significa que os benefícios advindos desses recursos estão sendo distribuídos de maneira uniforme entre os membros da sociedade. Em outras palavras, a eficiência se refere ao tamanho do bolo econômico, e à igualdade, à maneira como o bolo é dividido em partes individuais. Quando as políticas do governo são formuladas, esses dois objetivos, de modo geral, entram em conflito. Vamos considerar, por exemplo, as políticas que têm por objetivo atingir a distribuição mais igualitária do bem-estar econômico. Algumas delas, como o sistema de bem-estar ou o seguro-desemprego, procuram ajudar os membros mais necessitados da sociedade. Outras, como o imposto de renda das pessoas físicas, requerem que os financeiramente bem-sucedidos contribuam mais que outros para sustentar o governo. Embora proporcionem mais igualdade, essas políticas reduzem a eficiência. Quando o governo redistribui renda dos ricos para os pobres, reduz a recompensa pelo trabalho árduo; com isso, as pessoas trabalham menos e produzem menos bens e serviços. Em outras palavras, quando o governo tenta cortar o bolo econômico em fatias mais iguais, o bolo diminui de tamanho. [...]

FONTE: Mankiw (2013, p. 4)

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TÓPICO 3 | EFICIÊNCIA ECONÔMICA EM

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Assim, uma forma de equacionar a eficiência econômica com a equidade seria através de implementação das políticas públicas e intervenção governamental. No tópico anterior estudamos algumas formas que o governo utiliza para reduzir a desigualdade de renda, por exemplo, transferindo recursos por meio de programas sociais às famílias de baixa renda. Com isso, ele resolve parcialmente os problemas de desigualdade de renda, porém, por outro lado, gera problemas para a eficiência econômica, pois incentiva estas famílias a continuarem na condição de “necessitadas” (SUEN, 2016).

Outra maneira seria fazer uso da tributação progressiva, utilizando taxas mais altas para as pessoas com rendas mais elevadas. Segundo Suen (2016), atualmente uma das formas mais usuais de intervenção governamental é a regulação econômica. Para equilibrar a eficiência e equidade através da regulação, ele poderá adotar algumas estratégias, como legislação concorrencial ou antitruste, regulação financeira e bancária ou via estabelecimento de regras de conduta para as concessionárias de serviços públicos.

A economia, por si só, não é capaz de determinar a melhor maneira de equilibrar os objetivos de eficiência e equidade. A questão não envolve apenas filosofia política, mas também economia. Os economistas têm um papel importante nesse debate: eles podem lançar luz sobre os tradeoffs, que são inevitavelmente enfrentados pela sociedade na elaboração de um sistema tributário e ajudar a evitar políticas que sacrifiquem a eficiência sem que tragam nenhum benefício em termos de equidade (MANKIW, 2013).

Caro acadêmico, chegamos ao final da Unidade 2 do Livro de Estudos de Microeconomia II. Muitos conceitos que estudamos nesta unidade você utilizará em outras disciplinas no decorrer do seu curso. Na próxima unidade vamos estudar as falhas que podem ocorrer no mercado e como elas interferem no bem-estar da sociedade. Até breve!

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A eficiência econômica é alcançada quando não há como reorganizar a produção ou alocação de bens de uma maneira que uma pessoa melhore sem que a outra piore.

• A eficiência produtiva e a eficiência alocativa são os elementos principais da eficiência econômica.

• Eficiência produtiva ocorre quando é impossível produzir mais de um bem sem produzir menos de algum outro bem.

• Eficiência alocativa ocorre quando não existe alteração na quantidade consumida de nenhuma mercadoria por nenhum consumidor, isso seria uma melhoria de Pareto.

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1 Apresente uma definição para eficiência econômica.

2 Diferencie eficiência produtiva de eficiência alocativa.

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 3

EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOSE MEIO AMBIENTE

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender as externalidades negativas e positivas advindas das atividades econômicas;

• entender o conceito de bens públicos;

• compreender a relação dos bens públicos com a economia; • entender a relação entre economia e meio ambiente;

• compreender os desafios para alcançar o desenvolvimento sustentável.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – ESTUDO DAS EXTERNALIDADES NA ECONOMIA

TÓPICO 2 – OS BENS PÚBLICOS E OS IMPOSTOS

TÓPICO 3 – ECONOMIA E MEIO AMBIENTE

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TÓPICO 1

ESTUDO DAS EXTERNALIDADES

NA ECONOMIA

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃOPrezado acadêmico, chegamos à Unidade 3 da disciplina de Microeconomia

II. Ao longo de seus estudos, você pôde observar que a Economia é a ciência que se ocupa em estudar a melhor maneira de aplicar os recursos disponíveis na produção de bens e serviços que atendam às nossas necessidades. Mas você já parou para refletir como se dá o processo produtivo? Precisamos considerar que uma empresa, além de gerar os produtos, pode gerar outros fatores que prejudicam outras empresas e as pessoas ao seu redor. Nem sempre isso ocorre de forma direta e nem sempre estão diretamente relacionadas com os bens que produz, mas com suas consequências, como por exemplo, os resíduos que são gerados no processo produtivo.

Você sabe quais são as consequências do agronegócio para o meio ambiente?

Ou dos transportes para a saúde da sociedade? Você deve estar pensando: “Mas eu vivo na cidade, então a produção de carne não me afeta”. Engano seu! Toda a população é afetada, seja de forma direta ou indireta, pelas externalidades produtivas. Vejamos: para produzir a carne bovina, precisamos desmatar uma imensidão de florestas e transformar em pastos, para isso utilizamos uma quantidade enorme de água. Para produzir um quilo de carne bovina são gastos em média 15,5 mil litros de água. Vamos pensar esse volume de água numa produção de larga escala. Com certeza você chegou a um número infinito se pensarmos a produção de carne em nível mundial. Esses são apenas alguns exemplos de externalidades que estão presentes em nosso dia a dia e que nem nos damos conta.

Assim, no Tópico 1 vamos estudar as externalidades negativas e positivas decorrentes da produção das empresas pela ótica econômica. Veremos que nem sempre elas estão inclusas no preço dos produtos, por isso existe a necessidade do economista se preocupar com elas. Estudaremos também as formas de correção das falhas de mercado. Boa leitura!

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UNIDADE 3 | EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS E MEIO AMBIENTE

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2 AS EXTERNALIDADES NA ECONOMIA O estudo da externalidade envolve várias situações do nosso dia a dia e

que muitas vezes nem percebemos que têm uma ligação com a economia. Mas tem! Até o fato de um vizinho escutar uma música num volume elevado pode ser considerado como um exemplo de externalidade. Você sabe por quê? Ao decidir ouvir uma música de volume elevado, por exemplo, o seu vizinho está considerando apenas os chamados custos privados e os benefícios privados, e deixa de considerar os danos que pode causar à outra pessoa, que, por sua vez, pode não gostar daquele tipo de música ou estar com alguma patologia, ou ainda, estar querendo estudar e necessita de silêncio. Enfim, poderíamos exemplificar com várias situações, mas aqui nos importa saber que no momento em que o seu vizinho não diminui esse volume, somente uma das partes vem a perder, ou seja, a outra pessoa, por isso a situação se torna ineficiente.

Assim, quando uma ação privada, seja de uma pessoa ou uma empresa, provocar efeitos colaterais que venham a afetar de várias maneiras outras pessoas, temos os problemas das externalidades.

Segundo Hall e Lieberman (2003), uma externalidade é um subproduto de um bem ou atividade que afeta alguém não imediatamente envolvido na transação.

NOTA

Para Wall (2015, p. 255), “a externalidade ocorre quando decisões econômicas criam custos ou benefícios para outro exceto para quem toma a decisão: são os denominados custos externos ou benefícios externos daquela decisão”.

Lembre-se de que nem sempre essas decisões acarretam somente em problemas, por isso dizemos que as externalidades podem ser de dois tipos: externalidades positivas e externalidades negativas.

De acordo com Motta (1997, p. 2, grifo da autora):

A análise social de custo-benefício visa atribuir um valor social a todos os efeitos de um determinado projeto, investimento ou política. Os efeitos negativos são encarados como custos e os positivos são tratados como benefícios. Como se pretende comparar custos e benefícios, surge a necessidade de expressá-los em uma medida comum, ou seja, em um mesmo numerário ou unidade de conta. Por isso, estes custos e benefícios são expressos em termos monetários. Todavia, existem algumas dificuldades neste processo de agregação de todos os efeitos em um único indicador.

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TÓPICO 1 | ESTUDO DAS EXTERNALIDADES

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As externalidades positivas são aquelas que trazem algum tipo de benefício e não estão limitadas a efeitos prejudiciais, em que os benefícios sociais (BS) excedem o benefício privado (BP), sem a interferência do governo. Podemos considerar, como exemplo de externalidade positiva, a implantação de câmeras de segurança de uma via por uma empresa localizada na via. Ao implantar as câmeras de segurança na via, a empresa estará aumentando a segurança das pessoas que trefegam diariamente por ali.

As externalidades negativas são aquelas cujas ações e/ou subprodutos, oriundos do processo produtivo, são prejudiciais a uma ou várias pessoas, em que os custos sociais (CS) excedem os custos privados (CP). Um exemplo pode ser a poluição causada por uma determinada “empresa X”. A perda de bem-estar da população do seu entorno representa um custo muito maior que a geração de emprego e renda que esta empresa pode promover.

A existência de externalidades implica na necessidade de mudanças, ou seja, novas formas de avaliação do mercado, pois se existem externalidades, os mercados não são mais necessariamente eficientes e estas de alguma forma precisam ser eliminadas ou reduzidas. Para tal, muitas vezes há a necessidade de intervenção do governo, tanto gerando subsídios e/ou cobrando impostos dos agentes privados.

Segundo Carvalho (2015, p. 245), “o equilíbrio do mercado competitivo se dá ao preço em que a quantidade ofertada é igual à quantidade demandada, ponto em que, na ausência de externalidade, a alocação de recursos é eficiente (quantidade ótima)”.

QUADRO 1 – TIPOS DE EXTERNALIDADES E SEUS EFEITOS

FONTE: Adaptado de Carvalho (2015)

EXTERNALIDADEBEM-

ESTAR DE TERCEIROS

SITUAÇÃO DISTORÇÃO POLÍTICA RECOMENDÁVEL

Positiva Aumenta BS > BP Suboferta SubsídioNegativa Diminuiu CS > CP Superoferta Imposto

2.1 EXTERNALIDADES POSITIVAS

As externalidades positivas geralmente são geradas a partir do consumo de bens meritórios.

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UNIDADE 3 | EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS E MEIO AMBIENTE

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NOTA

“Os bens meritórios são aqueles cujo consumo gera externalidades positivas para a sociedade, como por exemplo, a prestação dos serviços de educação, saúde, pesquisa, saneamento, esporte e cultura” (CARVALHO, 2015, p. 244).

O consumo deste tipo de bem faz com que os benefícios sociais excedam os benefícios privados e, por essa razão, são subsidiados pelos governos de praticamente todo o mundo. Vejamos: ocorreria a suboferta caso a educação fosse comercializada somente pelo mercado privado.

Ao receber a educação, o indivíduo se apropria dela em forma de conhecimento, que por sua vez se transforma em qualificação profissional, salários mais elevados e melhor qualidade de vida, tanto sua como da sociedade, representando uma externalidade positiva. Agora, imagine se nesse cenário não houvesse a educação subsidiada pelo governo. Será que toda a sociedade teria acesso? Teríamos um número muito maior de pessoas analfabetas.

Vejamos mais um exemplo de externalidade positiva simples desenvolvido por Carvalho (2015): a fabricação de vacinas. Você sabe quanto a vacina é importante para a prevenção de doenças na população, não é mesmo? Para que possamos produzir vacina é necessário que alguém invista em pesquisa (Figura 1), e cabe ao governo regulamentar a comercialização destes produtos oriundos das pesquisas em forma de patentes.

FIGURA 1 – PROCESSO DE PESQUISA NA FABRICAÇÃO DE VACINAS

FONTE: <https://istoe.com.br/por-que-vacina-da-dengue-e-tao-cara/>.Acesso em: 15 set. 2018.

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TÓPICO 1 | ESTUDO DAS EXTERNALIDADES

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Agora, observe a figura a seguir, ela representa graficamente o ponto de equilíbrio da externalidade positiva – fabricação de vacinas. Nesta figura, a curva de oferta reflete o custo privado para se produzir a vacina e a curva da demanda reflete o valor atribuído pelos agentes privados à vacina. O ponto de equilíbrio de mercado (Em) ocorre no momento que essas duas curvas se encontram em que se produz a vacina (Qm) ao preço de mercado (Pm).

FIGURA 2 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO PONTO DE EQUILÍBRIO DA EXTERNALIDADE POSITIVA

FONTE: Carvalho (2015, p. 247)

Ps

Em

Qm Qs Q/t

Es

Pm

Preço

Demanda

Valor social

Oferta

Observe na figura que o preço de mercado (Pm) é o que iguala a oferta à demanda dos agentes privados, e seria o preço ótimo se não houvesse efeitos externos (nem todas as pessoas podem pagar pela vacina). Mas imagine o que poderia ocorrer com as pessoas se não houvesse a vacina e uma pessoa viesse a contrair uma doença contagiosa. A consequência seria o surgimento de uma epidemia na população, por isso este bem (a vacina) é considerado uma externalidade positiva.

Nesse caso, "o benefício social da vacinação não é expresso pela curva da demanda privada, mas pela curva à direita dela que mede seu valor social. A distância entre as duas curvas reflete a externalidade. É do equilíbrio (Es) entre essa curva de valor social com a curva da oferta privada que se determina o ponto ótimo de consumo e produção de vacina”, correspondente à quantidade (Qs) e ao preço (Ps), conforme demonstra a Figura 2 (CARVALHO, 2015, p. 250).

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UNIDADE 3 | EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS E MEIO AMBIENTE

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QUADRO 2 – EXTERNALIDADE POSITIVA – FABRICAÇÃO DE VACINA

FONTE: Carvalho (2015, p. 250)

SITUAÇÃO EQUILÍBRIO PRODUÇÃO PREÇO POLÍTICA RECOMENDÁVEL

BS > BP Em < Es Qm < Qs Pm < Ps

Subsídio ou regulação para aumentar a produção até o ponto de equilíbrio ótimo Es

Observe no quadro apresentado que neste caso da fabricação da vacina, os agentes privados não se dispõem a pagar os custos para que o preço seja Ps (preço ótimo), cabe ao governo subsidiar a produção ou o consumo, ou regular o mercado até atingir o ponto do equilíbrio (Es) (CARVALHO, 2015).

Precisamos considerar também que nem todo bem meritório no consumo é uma externalidade positiva, como é o caso dos hospitais. Embora o hospital seja considerado uma externalidade positiva, pois trata da saúde da população, ele também causa externalidades negativas. Como? Os resíduos de saúde são os mais graves do mundo, pois suas características físico-químicas e infectocontagiosas causam risco à saúde pública e ao meio ambiente.

NOTA

Além da saúde, vacinação também tem impacto positivo na economia

Alexandre Faisal

A vacinação é uma das intervenções mais eficazes em termos de custo na saúde pública. No entanto, para a introdução e o uso continuado de qualquer novo tipo de vacina devem ser definidos gestores e políticas de saúde que avaliem, além dos seus impactos positivos para a saúde, o potencial de benefício econômico. Um estudo conduzido por pesquisadores de diversos países e liderado pela Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, procurou estimar o impacto econômico que poderá ser alcançado com as campanhas de vacinação contra 10 doenças infecciosas, realizadas entre 2001 e 2020, em 73 países de baixa e média renda. Na lista de países estão muitos países africanos, asiáticos e até sul-americanos. Gana, Congo, Ucrânia, Índia e Bolívia estão na lista. O Brasil, infelizmente, não foi incluído. Estas campanhas receberam o suporte de duas fundações internacionais: a GAVI, na Suíça, e a americana Fundação Bill Gates.

Os autores da publicação utilizaram modelos de impacto na saúde para estimar o impacto econômico das vacinas contra Haemophilus influenzae, hepatite B, HPV, encefalite (japonesa), sarampo, Neisseria meningitidis, rotavírus, rubéola, Streptococcus pneumoniae e febre amarela. Na comparação com ausência de vacinação, os custos foram calculados, em dólares, considerando diversos parâmetros, tais como tratamento evitado, custos de transporte, perdas de produtividade dos cuidadores e perdas de produtividade por incapacidade e morte. Foram usados métodos específicos para estimar o valor mais amplo, econômico e social de uma vida

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TÓPICO 1 | ESTUDO DAS EXTERNALIDADES

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mais longa e com bom estado de saúde decorrente da imunização. Quanto aos resultados, admite-se que nos 73 países, a vacinação, entre 2001 e 2020, evitará mais de 20 milhões de mortes e economizará US$ 350 bilhões. As mortes e incapacidades evitadas pela administração das vacinas, durante as duas décadas, resultarão em ganhos estimados de produtividade ao longo da vida de US$ 330 bilhões e US$ 9 bilhões, respectivamente. Prevê-se também uma economia de cerca de US$ 5 bilhões relacionadas aos custos de tratamento. Mas o dado mais significativo é o impacto global, econômico e social associado à qualidade de uma vida mais longa e saudável: a estimativa é de US$ 820 bilhões.

A conclusão do estudo é que, em alguns dos países mais pobres do mundo, a imunização por meio das vacinas ultrapassa os limites do campo da saúde, ao evitar custos e aumentar a produtividade econômica. E por razões óbvias, estas campanhas são ainda mais relevantes quando realizadas na infância ou adolescência, já que vacinas aplicadas tardiamente, visando à diminuição da incidência de doenças crônicas em adultos, têm menor potencial de benefício econômico. Este tipo de resultado, que aborda e até extrapola a dimensão econômica, nos permite dizer que vacinação é uma ótima aplicação.

FONTE: <https://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2017/12/01/alem-da-saude-vacinacao-tambem-tem-impacto-positivo-na-economia/>. Acesso em: 15 out. 2018.

2.2 EXTERNALIDADES NEGATIVAS

As externalidades negativas são causadas pelo consumo de bens demeritórios.

IMPORTANTE

Os bens demeritórios são aqueles bens que ao serem consumidos causam algum tipo de prejuízo à população. Os exemplos mais clássicos deste tipo de bens são: as bebidas alcoólicas, o fumo e outros produtos tóxicos, por isso esses bens são taxados e regulados pelo poder público. Assim, ao serem comercializados fora da regulamentação (lei), os comerciantes são penalizados.

O exemplo mais conhecido de externalidade negativa é a poluição. Desde que o homem passou a produzir bens e produtos que atendesse à necessidade da sociedade, começou o processo de poluição, seja pelo solo, ar ou água. Essa situação a cada ano tem se tornado mais evidente, principalmente quando associada aos padrões de consumo da sociedade e à inserção de novas tecnologias no mercado. Embora muito tem se debatido sobre a possibilidade de produção limpa, ainda é uma utopia pensar o processo produtivo sem nenhum tipo de impacto, quer seja à saúde humana ou ao meio ambiente.

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UNIDADE 3 | EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS E MEIO AMBIENTE

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Sobre a discussão referente à produção mundial, entretanto, vários países concordam com a necessidade de diminuir a poluição, mas quando se pensa que a diminuição da poluição tem uma relação direta com o crescimento econômico, nem todos estão dispostos a diminuir seu crescimento e pensar num desenvolvimento mais sustentável.

Geralmente quando falamos em externalidades negativas, pensamos inicialmente na poluição causada pelo processo produtivo, mas especificamente os gerados pela indústria, porém devemos nos lembrar de que todos os setores, sejam primários, secundários ou terciários, acarretam em poluição. Nós mesmos somos causadores de poluição. Quantas vezes deixamos de fazer a reciclagem correta do nosso lixo ou fazemos uso indevido do recurso hídrico, utilizando sacolas de supermercados, vários copos descartáveis por dia etc.? Bem, poderíamos apresentar aqui uma lista de infinitas possibilidades e ações do nosso dia a dia que poluem nosso planeta, iniciando pelos nossos hábitos de consumo.

Mas para compreendermos como se relaciona a demanda, oferta e o ponto de equilíbrio da externalidade negativa, vamos considerar uma indústria de tinturaria, a qual lança efluentes no rio. A tinturaria tem um custo privado que consiste no pagamento pelos insumos empregados na produção (salários, matéria-prima, emprego do capital, energia etc.). Com base nesses custos é definida a curva da oferta que cruza a curva da demanda, ou seja, o ponto de equilíbrio (Em), resultando nos preços (Pm) e quantidades (Qm) de equilíbrio.

FIGURA 3 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO PONTO DE EQUILÍBRIO DA EXTERNALIDADE NEGATIVA

FONTE: Carvalho (2015, p. 249)

Ps

Em

QmQs Q/t

Es

Pm

Preço

Demanda

Custo social

Oferta

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TÓPICO 1 | ESTUDO DAS EXTERNALIDADES

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A empresa “Tintura Industrial”, no seu processo produtivo, utiliza grandes volumes de água que retornam ao meio ambiente contendo sólidos suspensos (espumas), gases dissolvidos, pigmentos coloridos, reagentes químicos e tintas causando uma externalidade negativa, pois está prejudicando a qualidade da água.

A externalidade negativa, neste caso, é medida pela distância entre a curva da oferta (que reflete o custo marginal (CMg) privado) e a curva de custo social, posicionada à esquerda dela. O ponto de equilíbrio ótimo é representado pela curva (Es), com preço maior e quantidade produzida menor que o equilíbrio do mercado (Em). Com externalidade negativa há superoferta (Qm > Qs), porque a empresa não paga todos os custos da produção. No exemplo, a sujeira é lançada nos rios, resultando em custo para terceiros. Assim, cabe ao governo intervir para conduzir ao equilíbrio ótimo (Es), ponto em que a curva da demanda cruza a curva de custo social. Podemos observar de forma resumida no quadro a seguir:

QUADRO 3 – EXTERNALIDADE NEGATIVA – TINTURARIA INDUSTRIAL

FONTE: Adaptado de Carvalho (2015)

SITUAÇÃO EQUILÍBRIO PRODUÇÃO PREÇO POLÍTICA RECOMENDÁVEL

CS > CP Em > Es Qm > Qs Pm > Ps

Tributos ou regulação para reduzir a produção até o ponto de equilíbrio ótimo Es.

Podemos observar no quadro a recomendação de que o governo institua uma política de comando e controle que obrigue a empresa a tratar a água de forma que elimine totalmente os poluentes. Isso, no entanto, pode tornar o custo privado de produção tão elevado que inviabiliza a produção da empresa. Além disso, o poder público poderá criar leis que definam as quantidades mínimas e máximas de efluentes que a empresa poderá destinar aos rios, bem como fazer com que ela adote tecnologias que minimizem tais impactos.

FIGURA 4 – IMAGENS DO RIBEIRÃO GASPAR GRANDE NO MUNICÍPIO DE GASPAR/SC COM ÁGUA ESCURA E VERMELHA

FONTE: <http://www.cruzeirodovale.com.br/geral/ribeirao-gaspar-grande-amanhece-com-coloracao-escura/>. Acesso em: 20 set. 2018.

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UNIDADE 3 | EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS E MEIO AMBIENTE

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DICAS

A Tinturaria Industrial é considerada uma indústria têxtil, pois a tinturaria é uma fase do processo têxtil. A indústria têxtil é considerada uma das indústrias mais poluidoras no mundo. Você encontrará na literatura várias publicações que estudam a poluição causada pela indústria têxtil. Para saber mais, leia o artigo de Érica Janaina Rodrigues de Almeida, Guilherme Dilarri e Carlos Renato Corso, intitulado A indústria têxtil no Brasil: uma revisão dos seus impactos ambientais e possíveis tratamentos para os seus efluentes, que está disponível neste link: <http://conexaoagua.mpf.mp.br/arquivos/artigos-cientificos/2016/01-a-industria-textil-no-brasil-uma-revisao-dos-seus-impactos-ambientais-e-possiveis-tratamentos-para-os-seus-efluentes.pdf>.

Outro exemplo muito conhecido de externalidades negativas são os impactos causados por obras de grande porte, como a implantação de um porto, rodovias, marinas, complexos industriais, barragens e hidrelétricas. Vamos considerar em nosso exemplo a implantação de uma Usina Hidrelétrica. A implantação de uma obra de grande porte como uma hidrelétrica demanda em desmatar grandes áreas, utilizar um grande volume de transporte de carga e requer muitas pessoas trabalhando na obra. Num primeiro momento, tudo isso representa desenvolvimento e melhoria de vida para a população local, afinal, a empresa gerará desenvolvimento e renda para população. Mas a realidade muitas vezes é outra. A construção desse empreendimento implicará em impactos ambientais (inundações de áreas e perda da biodiversidade), aspectos sociais (realocação da comunidade local, falta de infraestrutura urbana para alocar os milhares de pessoas que vêm em busca de trabalho), entre outros.

DICAS

Você deve ter acompanhado através dos meios de comunicação o caso da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, em Minas Gerais. Inicialmente, a implantação da usina causou uma série de protestos, pois a sua implantação na Bacia Hidrográfica do Xingu influenciaria diretamente no meio ambiente e na vida da comunidade local, trazendo mais impactos negativos do que benefícios. Para saber mais, acesse:

FLEURY; Lorena Cândido; ALMEIDA, Jalcione. Implantação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte: conflito ambiental e o dilema do desenvolvimento. Ambiente & Sociedade, São Paulo, v. XVI, n. 4, p. 141-158, out./dez. 2013. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/temas/artigos/2013_hidreletrica_belo_monte_ptbr.pdf>.

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TÓPICO 1 | ESTUDO DAS EXTERNALIDADES

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2.3 TEOREMA DE COASE

Prezado acadêmico, vimos nas abordagens anteriores das externalidades positivas e negativas que o governo pode corrigir as externalidades utilizando políticas de subsídios e/ou aplicação de impostos (taxas de emissões e/ou cobrança de pedágios) que podem regular a quantidade de externalidades no mercado. Uma alternativa que pode ser adotada pelos governos é a de atribuir os direitos de propriedades, ou seja, o controle exclusivo sobre a utilização de um ativo ou recurso, sem interferência dos outros.

Segundo Pindyck e Rubinfeld (2013, p. 676), entende-se por direitos de propriedades “o conjunto de leis que descreve o que as pessoas e as empresas podem fazer com suas respectivas propriedades”.

Mas qual a relação do direito de propriedade com as externalidades? Para compreendermos melhor essa relação, voltamos ao exemplo da tinturaria industrial que polui o rio. Imagine que os rejeitos despejados no rio provoquem a redução dos lucros dos pescadores. Para resolver o problema, a empresa poderá investir na instalação de um sistema de filtro que reduza os efluentes. Outra opção seria os pescadores investirem na instalação de uma estação de tratamento de água, ou seja, a solução eficiente maximiza o custo, o lucro conjunto da fábrica e dos pescadores quando a empresa instala o filtro e os pescadores não constroem a estação de tratamento de água, conforme observamos no quadro a seguir:

QUADRO 4 – LUCROS DOS AGENTES (TINTURARIA E PESCADORES) COM AS ALTERNATIVAS DE INSTALAÇÃO DE POLUENTES

FONTE: Adaptado de Pindyck e Rubinfeld (2013)

Lucro (tinturaria) (R$)

Lucros dos Pescadores (R$)

Lucro Total (R$)

Sem filtro, sem tratamento de água 1.000,00 200,00 1.200,00

Com filtro, sem tratamento de água 600,00 1.000,00 1.600,00

Sem filtro, com tratamento de água 1.000,00 400,00 1.400,00

Com filtro, com tratamento de água 600,00 600,00 1.200,00

Mas, e se fossem aplicar o direito de propriedade para a resolução da externalidade? Quando descrevemos a externalidade negativa, observamos que os fabricantes inicialmente não tinham que compensar ninguém quando lançavam poluentes no rio. Isso ocorre porque as empresas baseiam suas decisões de produção em custos marginais que não incluem o prejuízo que a poluição acarreta ao meio ambiente. Os custos de poluição eram considerados externos aos fabricantes.

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UNIDADE 3 | EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS E MEIO AMBIENTE

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Observamos também que ninguém na comunidade, nem mesmo os pescadores que vivem do entorno da empresa, tinha o direito legal à água limpa do rio. Se a comunidade possuísse o direito de propriedade à água limpa do rio, poderia ter exigido que as empresas a compensassem pelo direito de poluir. Se a empresa fosse continuar com sua produção sem nenhum tipo de mecanismo de controle de poluição, seu custo marginal privado incluiria o custo da poluição do rio e, assim, poderíamos dizer que estes custos seriam internos à empresa, em vez de externos.

Uma das teorias criadas para explicar essa relação entre os direitos de propriedade e as externalidades foi o conhecido Teorema de Coase.

NOTA

Teorema de Coase

Em 1960, Ronald Coase desenvolveu um teorema fundamental demonstrando como o problema de externalidades poderia ser analisado ao atribuir direitos de propriedade. Ele desenvolveu a ideia com um exemplo de duas fazendas. A Fazenda “A” cria gado, e o gado geralmente invade os campos da fazenda vizinha, Fazenda “B”, que tem uma plantação. O gado da Fazenda “A” impõe uma externalidade negativa ao pôr em risco a colheita da Fazenda “B”.

Coase levantou as seguintes questões: Deve o gado poder pastar na propriedade da Fazenda B? Pode o proprietário da Fazenda B exigir que o proprietário da Fazenda A construa uma cerca para restringir o acesso do gado? Caso afirmativo, quem deve pagar pela cerca? Tem alguma importância se os direitos de propriedade forem atribuídos aos proprietários da Fazenda A ou da Fazenda B?

O Teorema de Coase afirma que, independentemente da forma pela qual os direitos de propriedade sejam alocados em função da externalidade, a alocação de recursos será eficiente quando as partes puderem barganhar entre si sem custo. Se o proprietário de A tiver o direito de deixar seu gado invadir as terras de B, o proprietário de B pagará ao proprietário de A para construir uma cerca, quando o risco à colheita de B exceder o custo da cerca. Se o custo da cerca exceder o risco às colheitas, não será do interesse do proprietário B pagar pela cerca, e o gado irá pastar. Em outras palavras, quando é socialmente eficiente construir a cerca, a cerca será construída para eliminar a externalidade.

FONTE: BESANKO, David; BRAEUTIGAM, Ronald. R. Microeconomia: uma abordagem completa. São Paulo: Editora LTC, 2004. p. 512.

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TÓPICO 1 | ESTUDO DAS EXTERNALIDADES

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DICAS

ARELLANO, Luis Felipe Vidal; CABRAL, Leonardo C.; GONÇALVES, Thaís C. R. Desatando o nó do Trânsito de São Paulo: Aplicação do Teorema de Coase: O Desenvolvimento de Mercado de Crédito de Tráfego Viário de Automóveis. São Paulo: Novas Edições Acadêmicas, 2015.

O presente trabalho visa propor o estabelecimento de um mecanismo inovador de Mercado para negociação de direitos de tráfego automotivo nas cidades. O projeto parte da premissa de que o espaço disponível para o tráfego de automóveis nas grandes cidades é um bem público e que, nessa condição, tende a ser superexplorado, a menos que sejam claramente definidos direitos de propriedade sobre ele.

Nesta linha, o trabalho descreve como seria a implantação de Mercado de créditos de tráfego viário de automóveis, com base na teoria do economista Ronald Coase, que fosse capaz de alocar as externalidades do trânsito nas grandes cidades aos seus geradores, contribuindo assim para uma maior eficiência econômica e qualidade de vida das populações urbanas.

FONTE: <http://www.vidalearellano.com.br/artigos_ver.php?id=15>. Acesso em: 21 jan. 2019.

2.4 RECURSOS DE PROPRIEDADE COMUM

Os recursos de propriedade comum são aqueles que ninguém possui a posse deles, ou seja, são aqueles que qualquer pessoa tem livre acesso e, por isso, a tendência é que sejam utilizados em excesso.

Com certeza você pensou em vários recursos naturais a que temos acesso no dia a dia e que já vimos que são utilizados de forma inadequada, não é mesmo? Quantas vezes você já olhou para um recurso natural e pensou: “Ah, se eu fosse dono dessa cachoeira, não deixaria ninguém usá-la desta forma”.

Os recursos naturais são os exemplos mais comuns de recursos de propriedade comum. Vejamos como estes recursos são utilizados de forma ineficiente: exemplo clássico e muito observado são os peixes. Você já deve ter ouvido falar em período do defeso, que é o período em que atividades de pesca, caça e coletas de recursos marinhos ficam vetadas ou controladas para que a natureza se encarregue de suprir os estoques pesqueiros:

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UNIDADE 3 | EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS E MEIO AMBIENTE

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FIGURA 5 – COMUNICADO EMITIDO PELO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SOBRE O DEFESO DA SARDINHA

FONTE: <https://www.sosma.org.br/blog/defeso-da-sardinha/>.Acesso em: 21 jan. 2019.

E se não houvesse essa regulamentação imposta pelos governos, como seria? Possivelmente os pescadores jogariam suas redes ao mar e o estoque de peixes diminuiria de forma drástica, podendo levar algumas espécies à extinção. A redução dos cardumes decorre de uma externalidade negativa em que o custo privado se limita às despesas diretas da atividade pesqueira, enquanto que o custo social inclui a redução da população e a consequente queda na taxa de reprodução dos peixes.

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TÓPICO 1 | ESTUDO DAS EXTERNALIDADES

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Se todos os pescadores agirem com base nos custos privados, com certeza haverá uma exploração excessiva do recurso pesqueiro e um comprometimento da sua sustentabilidade. E, por conta própria, ninguém abre mão de sua parte, porque sabe que os demais continuarão pescando. Desta forma, cabe ao governo intervir para conduzir a pesca ao ponto ótimo para a sociedade. Para isso, estabelece regras para a captura, tais como: tamanho mínimo dos peixes a serem pescados, impedimentos ao uso de equipamento de pesca em grande escala, períodos de defeso para possibilitar a procriação etc. (CARVAHO, 2015).

Essa situação não ocorre somente com a atividade pesqueira. Isso pode ser observado em várias atividades baseadas na exploração dos recursos naturais, sejam estes a exploração de madeira ou até mesmo a exploração dos minérios. Assim, os recursos comuns dão origem a um novo problema. Uma vez fornecido o bem, os formuladores de políticas precisam se preocupar com a quantidade usada desse recurso. Esse problema pode ser mais bem entendido a partir da parábola clássica intitulada Tragédia dos comuns.

NOTA

A TRAGÉDIA DOS COMUNS

Considere a vida em uma pequena cidade medieval. Das muitas atividades econômicas ali realizadas, uma das mais importantes é a criação de ovelhas. Muitas das famílias da cidade têm rebanhos de ovelhas e se sustentam vendendo lã, usada para fazer roupas. Quando essa história começa, as ovelhas passam grande parte de seu tempo pastando nas terras que cercam a cidade, chamadas Comuna Local. Nenhuma família é dona da Comuna. Em vez disso, as terras são propriedade coletiva de todos os habitantes da cidade e todos podem deixar suas ovelhas ali para pastar. A propriedade coletiva funciona bem porque a terra é abundante. Desde que todos tenham acesso à quantidade de pastagem de que precisam, as terras da Comuna Local não são um bem rival, e permitir que as ovelhas dos habitantes pastem gratuitamente não constitui problema. Todos na cidade são felizes. Com o passar dos anos, a população da cidade cresce e, com ela, o número de ovelhas que pastam na Comuna. Com um número crescente de ovelhas e uma quantidade fixa de terras, a terra começa a perder sua capacidade de se recuperar. Com o decorrer do tempo, a terra passa a ser utilizada tão intensamente que acaba por ficar estéril. Com o fim do pasto na Comuna, criar ovelhas fica impossível e a próspera indústria de lã da cidade desaparece. Muitas famílias perdem sua fonte de sustento. O que causa a tragédia? Por que os pastores permitem que a população de ovelhas cresça a ponto de destruir a Comuna Local?

A razão é que os incentivos sociais e privados são diferentes. Evitar a destruição das pastagens depende de ação coletiva por parte dos pastores. Se os pastores agissem juntos, poderiam reduzir a população de ovelhas para um nível que a Comuna pudesse sustentar. Entretanto, nenhuma família tem incentivo para reduzir o tamanho do seu rebanho porque cada rebanho representa apenas uma pequena parte do problema. Em essência, a Tragédia dos comuns surge por causa de uma externalidade. Quando o rebanho de uma família pasta nas terras comuns, reduz a qualidade da terra disponível para as demais famílias. Como as pessoas não levam em consideração essa externalidade negativa ao decidirem quantas ovelhas possuir, o resultado é um número excessivo de animais. Se a tragédia tivesse sido antevista, a cidade poderia ter resolvido o problema de diversas maneiras. Poderia ter regulado o número de

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ovelhas por família, internalizado a externalidade tributando as ovelhas ou leiloado um número limitado de licenças de pastagem. Ou seja, a cidade medieval poderia ter lidado com o problema do excesso de ovelhas da mesma maneira que a sociedade moderna lida com o problema da poluição. No caso da terra, entretanto, há uma solução mais simples. A cidade pode dividir as terras entre as famílias da cidade. Cada família pode colocar uma cerca em sua parcela de terra, protegendo-a, dessa forma, do uso excessivo. Com isso, a terra se tornaria um bem privado, deixando de ser um recurso comum. Esse resultado de fato ocorreu durante o movimento de cercamentos na Inglaterra, no século XVII. A Tragédia dos comuns é uma história com uma lição geral: quando alguém usa um recurso comum, diminui o desfrute que as outras pessoas podem ter dele. Por causa dessa externalidade negativa, os recursos comuns tendem a ser usados em excesso. O governo pode resolver o problema por meio de regulamentos ou impostos para reduzir o consumo de recursos comuns. Alternativamente, algumas vezes pode transformar o recurso comum em bem privado. Essa lição é conhecida há milhares de anos. Aristóteles, filósofo da Grécia Antiga, apontou o problema dos recursos comuns: “O que é comum a muitos é o que recebe menos cuidados, porque todos têm maior preocupação com o que é seu do que com aquilo que possuem em conjunto com outros”.

FONTE: Mankiw (2013, p. 210)

2.5 FORMAS DE CORREÇÃO DAS FALHAS DE MERCADO

Agora que estudamos os tipos de externalidades, vamos continuar nossos estudos verificando de que forma é possível reparar a ineficiência de mercado resultante de uma externalidade.

Existem várias formas de se corrigir as falhas de mercado, desde a simples substituição dos mecanismos de produção por mais eficientes até a necessidade de se aplicar taxação por parte do governo.

Considerando uma empresa que causa poluição no rio, ao buscar alternativas mais eficientes, que possam reduzir o nível de emissão de poluentes, a empresa terá um custo extra. Desta forma, podemos incentivar que reduza o nível de poluição para um nível eficiente através das seguintes medidas:

a) Padrão de emissão de poluentes: um padrão de emissão de poluentes é um limite legal de poluente que uma empresa está autorizada a emitir no meio ambiente. No momento em que a empresa ultrapassar o limite definido por lei, esta empresa poderá ser multada. Este padrão estipulado por lei fará com que a empresa venha a produzir de forma eficiente e sustentável. Para tanto, a empresa poderá utilizar vários mecanismos que venham a ajudá-la, como por exemplo, a instalação de equipamentos com redução de poluição. Mas como este investimento afetará os custos da empresa? A empresa considerará que terá uma despesa maior por causa da instalação do equipamento. Esta despesa maior fará com que a curva de custo médio desta empresa se altere, ou seja, sofra uma elevação. As empresas irão considerar lucrativa a entrada no setor somente se o preço do produto for maior que a soma do custo médio de produção com o custo de redução da poluição – que é a condição de eficiência para o setor.

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TÓPICO 1 | ESTUDO DAS EXTERNALIDADES

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b) Taxa sobre a emissão de poluentes: essa taxa é arrecadada sobre cada unidade poluente emitida de uma empresa, e a empresa somente reduzirá a emissão caso o custo seja muito pequeno, do contrário, a mesma vai preferir pagar a taxa, caso seu custo marginal seja maior que a taxa.

Nem sempre a taxação por parte do governo funciona como se espera. Por exemplo, nos Estados Unidos, a implantação desta taxa se demonstrou menos eficiente e, por isso, o governo tem adotado o sistema de padrões para regulamentar as emissões. Já na Alemanha, a taxa tem sido um sucesso na minimização de emissões de poluentes. No Brasil, várias legislações se apoiam no padrão de emissão de poluentes que são monitoradas pelo Ministério do Meio Ambiente em parcerias com as instituições locais.

Mas vimos anteriormente que as externalidades também podem ser positivas, e, neste caso, como são realizadas as falhas de mercado?

As falhas de mercado também são passíveis de correção. Geralmente, no caso de externalidades positivas, as empresas recebem algum tipo de subsídio. Por exemplo, podemos considerar que ao utilizar o serviço de ferrovias para o escoamento da produção ao invés de rodovia, a empresa está contribuindo para que haja menos congestionamentos nos centros urbanos, menos poluição e acidentes de trânsito. Assim, nada mais justo do que subsidiar a ferrovia para que esta continue oferecendo seus serviços não lucrativos.

DICAS

Acesse o link a seguir e faça a leitura do artigo: Brasil concedeu quase R$ 4 tri em subsídios nos últimos 15 anos (2018), publicado no site Valor Econômico: <https://www.valor.com.br/brasil/5503631/brasil-concedeu-quase-r-4-tri-em-subsidios-nos-ultimos-15-anos>.

Cabe salientar que o governo poderá utilizar outros mecanismos para corrigir as falhas de mercado. Entretanto, segundo Wessels (2010), existem desvantagens ao simplesmente impor limites iguais a todos os agentes, pois, o grau de emissão de poluição entre os agentes ocorre de forma diferenciada, uns poluem mais e outros menos. Devido a estas desvantagens, alguns controles de poluição permitem às empresas comercializarem licenças para poluir. Mas, como isso ocorre?

Primeiro, a agência reguladora decide quanto a empresa pode poluir em determinado espaço geográfico. Na sequência, estabelece os direitos de poluição à empresa neste determinado espaço. E, depois, as agências de regulação permitem que as empresas façam a comercialização entre si.

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UNIDADE 3 | EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS E MEIO AMBIENTE

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Os economistas, geralmente, preferem impostos à regulação porque os impostos possibilitam diferenças individuais na demanda. Desde que todos estejam pagando por tudo que estejam fazendo, o bem-estar social será́ melhorado. Regulação fixando os mesmos padrões para todos não é ótima para todos. Por exemplo, o equipamento de controle de poluição aumenta o preço de um carro em R$ 2.000. Isso pode ser pouco em São Paulo e muito em Teresina. Uma desvantagem dos impostos comparados à regulação é que o governo tem maior incentivo para aumentá-los até que sejam muito altos (WESSELS, 2010).

2.6 NÍVEL ÓTIMO DE POLUIÇÃO PERMITIDO

Será que é possível calcular um nível ótimo de poluição permitido? Você já deve ter ouvido e/ou até mesmo lido muitas vezes que vários autores afirmam que o custo da poluição é muito caro. Porém, sabemos que valorar o custo da poluição não é tarefa mito fácil, até mesmo porque nosso sistema de informações quanto aos índices de poluição em todo país ainda é fragmentado e muito falho, o que faz com que não tenhamos informações precisas quanto ao custo da poluição. Da mesma forma, Wessels (2010) afirma que se livrar da poluição também é um custo muito alto. Segundo este autor, a sociedade enfrenta dois custos relacionados à poluição:

Custo total = custo total da poluição + custo total da redução da poluição

De acordo com Wessels (2010), o nível ótimo de poluição minimiza a soma desses dois custos (custo total da poluição e o custo total da redução da poluição). Para que possamos chegar a este nível ótimo, Wessels (2010) sugere que utilizemos a análise marginal.

Para que você compreenda melhor como a análise marginal pode nos ajudar no cálculo do nível ótimo de poluição, vamos utilizar o exemplo da cidade de São Paulo, descrito por Wessels (2010, p. 225):

Seja Q a quantidade de poluição permitida. O custo marginal de elevar Q em uma unidade é o mal que ocorre: o custo total da poluição aumenta. São Paulo torna-se mais enfumaçada. Mais peixes morrem devido à chuva ácida. As pessoas têm maior risco de adoecerem. O benefício marginal de elevar Q em uma unidade é a diminuição nos custos de redução da poluição. A quantidade de poluição deve ser aumentada desde que seu benefício marginal seja maior ou igual a seu custo marginal. No nível de produção ótimo, BMg = CMg.

A figura a seguir demonstra graficamente os resultados desta análise:

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TÓPICO 1 | ESTUDO DAS EXTERNALIDADES

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FIGURA 6 – NÍVEL ÓTIMO DE POLUIÇÃO

FONTE: Wessels (2010, p. 226)

40

10

10

22

110 200Quantidade de poluentes por período

Benefíciomarginal

Customarginal

Nível ótimode poluição

Cus

to ($

)

Observe que a figura pressupõe que o benefício marginal de mais poluição esteja declinando. Você pode ver melhor esta questão ao perceber que a poluição está se tornando menor quando você se desloca para a esquerda, conforme demonstrado na figura. Devido às formas mais baratas de reduzir a poluição serem utilizadas primeiro, as unidades subsequentes de poluição custarão mais caro para serem eliminadas. Da mesma forma, o custo marginal de poluição é visto em ascensão. Isso significa que, quanto mais alto o nível de poluição, mais caro será para aumentá-lo em relação aos danos que causa (WESSELS, 2010).

Observe ainda (Figura 6) que quando Q for igual a 40, há pouca poluição. Seu benefício marginal é de R$ 30,00 (a economia de custo para não se livrar da poluição é superior ao seu custo marginal R$10,00). Quando Q for igual a 200, há muita poluição, seu benefício marginal é R$ 10, e o custo para se livrar da poluição seria menor que seu custo marginal de R$ 30,00. O nível ótimo de poluição neste exemplo é quando Q for igual a 110 unidades por período e seu benefício marginal for igual ao seu custo marginal.

Considerando a análise de Wessels (2010), pode-se afirmar que qualquer que seja o custo de se livrar de toda a poluição, ele vale tal preço!

Até aqui estudamos sobre as externalidades causadas pelas firmas para a sociedade e/ou um grupo de pessoas. No próximo tópico vamos estudar as externalidades e os bens públicos. Vamos lá!

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Neste tópico, você aprendeu que:

• As externalidades são provocadas pelo processo produtivo e constituem as falhas de mercado.

• Os tipos de externalidades são dois: positiva e negativa.

• Externalidade positiva é um benefício gerado pela atividade produtiva à sociedade.

• As externalidades negativas geralmente são geradas por passivos que se originam do processo produtivo das empresas, tanto à qualidade de vida da sociedade como ao meio ambiente.

• Teorema de Coase é um teorema fundamental, demonstrando como o problema de externalidades poderia ser analisado ao atribuir direitos de propriedade.

RESUMO DO TÓPICO 1

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1 Considerando que as externalidades negativas estão diretamente relacionadas ao processo de produção, podemos dizer que no momento em que ocorre uma externalidade negativa em um mercado, o custo dos produtores será:

I- Maior do que o custo para a sociedade.II- Igual ao custo da sociedade.III- Inferior ao custo para a sociedade.IV- Será diferente do custo da sociedade, independentemente do fato de uma

externalidade estar presente.

Assinale a alternativa correta:

a) ( ) Somente as alternativas I e III são verdadeiras. b) ( ) Todas as alternativas são verdadeiras. c) ( ) As alternativas I, II e IV são verdadeiras. d) ( ) Somente a alternativa III é verdadeira.

2 As externalidades negativas sempre estão presentes em nosso dia a dia. Sendo assim, considerando o conceito de externalidade negativa estudado, analise as proposições a seguir e identifique quais são consideradas externalidades negativas:

I- Poluição do rio gerada por uma fábrica.II- Dificuldades de concentração para estudar em razão da música alta do

vizinho.III- Uma doença ocasionada pelo uso constante de agrotóxico nas lavouras

vizinhas. IV- Uma redução no valor de sua propriedade em razão da falta de manutenção

na piscina.

Assinale a alternativa correta:

a) ( ) Somente a alternativa I está correta.b) ( ) Todas as alternativas estão corretas.c) ( ) Somente as alternativas I, II e III estão corretas.d) ( ) Somente a alternativa IV está correta.

3 Considerando que a educação é uma externalidade positiva, analise as proposições a seguir:

AUTOATIVIDADE

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I- Quando se trata de uma externalidade positiva, o governo tributa a educação.

II- Cabe ao governo subsidiar a educação. III- As pessoas ao perceberem os benefícios, elevarão a demanda por educação.IV- O acesso ao ensino superior deverá ser restritivo.

Assinale a alternativa correta:

a) ( ) Somente a alternativa I está corretab) ( ) Todas as alternativas estão corretas.c) ( ) Somente as alternativas II e III estão corretas.d) ( ) Somente a alternativa IV está correta.

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TÓPICO 2

OS BENS PÚBLICOS E OS IMPOSTOS

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃOContinuando nossos estudos, vamos estudar agora as externalidades

para os bens públicos. Os bens públicos são os bens caracterizados por uma externalidade positiva perfeita para toda a comunidade. No decorrer deste tópico, veremos que os bens públicos possuem uma natureza diferente dos demais bens que já estudamos, pois são aqueles que não apresentam nenhum tipo de rivalidade em seu consumo.

Estudaremos também as questões relacionadas aos bens públicos. Você logo deve ter se lembrado da escola, da iluminação pública, das unidades de saúde e vários outros, não é? Isso mesmo, bens públicos em economia são os utilizados por várias pessoas de forma coletiva e que, de certa forma, mas não necessariamente, são de responsabilidade do estado. Assim, vamos estudar a quantidade ideal de bem público.

Por fim, neste contexto, veremos ainda como ocorre a chamada teoria da escolha pública, ou seja, como as decisões são tomadas pelo setor público.

2 CONCEITO DE BENS PÚBLICOSVocê já deve ter visto que quando falamos do papel do Governo na

Economia, este tem vários papéis e está à frente de várias tomadas de decisão. Desta forma, podemos dizer que o fornecimento dos bens públicos é mais um dos papéis do governo no contexto da economia.

IMPORTANTE

Bens públicos são os bens que o mercado não pode e não deve fornecer em decorrência de características exclusivas.

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UNIDADE 3 | EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS E MEIO AMBIENTE

Bens públicos são aqueles para qual o seu consumo, por parte de alguém, não reduz a disponibilidade do mesmo para as demais pessoas. Para que você compreenda melhor, vamos supor que em determinado bairro há a necessidade de se fazer uma ponte de concreto que possibilite o tráfego de veículos, pois há somente uma ponte pênsil que permite o trajeto de pessoas a pé. O fato de um morador ser beneficiado pela construção desta ponte não reduz o acesso que está sendo provido aos demais moradores. O serviço desta ponte deve ser considerado como um bem público.

Possivelmente você já pensou em vários bens públicos que são utilizados todos os dias por você e sua comunidade. Assim, como o exemplo da ponte, poderíamos listar uma infinidade de bens públicos que estão próximos a nós, como por exemplo, uma unidade de saúde, escola, praça, entre outros.

Os bens públicos possuem duas características importantes: eles precisam

ser não rivais e não excludentes.

Bem não rival é aquele que, para qualquer nível específico de produção, o custo marginal de sua produção é zero para um consumidor adicional. Ao contrário do que estudamos até o momento, que eram os bens privados, em que se o bem estivesse disponível para uma pessoa não estaria para a outra, o bem público não apresenta esta rivalidade. Imaginemos a utilização de um posto de saúde durante um período de pouca demanda. Como o posto de saúde já existe, o custo adicional de sua utilização, ou seja, atender a dez pessoas ou vinte, é zero (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

FIGURA 7 – UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE – EXEMPLO DE BEM NÃO RIVAL

FONTE: <http://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/2015/10/populacao-manifesta-contra-reducao-no-atendimento-em-upa-de-macapa.html>. Acesso em: 21 jan. 2019.

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TÓPICO 2 | OS BENS PÚBLICOS E OS IMPOSTOS

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A outra característica do bem público é a não exclusividade. Assim, quando uma pessoa é impedida de consumir algum bem chamamos de bem não exclusivo. Dois exemplos bem comuns são a defesa nacional e os canais de televisão abertos. Tratam-se de bens cujo pagamento se torna impossível, pois todos terão acesso sem a necessidade de um pagamento direto (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

FIGURA 8 – DEFESA NACIONAL

FONTE: <http://defesaeseguranca.com.br/orcamento-pec-propoe-aumento-de-investimentos-em-acoes-de-defesa-nacional/>. Acesso em: 21 jan. 2019.

FIGURA 9 – CANAIS DE TELEVISÃO ABERTOS

FONTE: <https://auvaromaia.com/2015/01/20/canais-abertos-serao-obrigatorios-em-pacotes-de-tv-por-assinatura/>. Acesso em: 21 jan. 2019.

Mas lembre-se de que nem todo bem não exclusivo necessariamente precisa ser de natureza nacional. A mesma lógica vale para os bens fornecidos pelo estado e até mesmo por municípios. Por exemplo, podemos citar a erradicação do mosquito da febre amarela através da vacinação, que tanto as pessoas acometidas pela doença como as pessoas que não foram picadas pelo inseto serão beneficiadas pela ação de saúde promovida pelo município.

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UNIDADE 3 | EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS E MEIO AMBIENTE

Outro exemplo muito utilizado para demonstrar de que maneira os bens públicos diferem de outros bens e quais são os problemas que apresentam à sociedade, é o exemplo de um show pirotécnico. Esse bem não é excludente porque é impossível impedir que alguém veja os fogos, e não é rival porque o entretenimento que uma pessoa extrai dele não reduz o entretenimento disponível para as outras.

NOTA

O PROBLEMA DOS CARONAS

Os moradores de Smalltown, nos Estados Unidos, gostam de ver fogos de artifício no feriado de Quatro de Julho, Dia da Independência Norte-americana. Cada um dos 500 moradores da cidade atribui um valor de $ 10 ao espetáculo, com benefício total de $ 5 mil. O custo de um show pirotécnico é de $ 1.000. Como o benefício de $ 5 mil supera o custo de $ 1.000, é eficiente, para os moradores de Smalltown, ver a queima de fogos nessa data.

O mercado privado produziria um resultado eficiente? Provavelmente não. Imagine que Ellen, uma empreendedora de Smalltown, decidisse fazer uma queima de fogos de artifício. Ela provavelmente teria dificuldades para vender ingressos para o evento porque seus clientes em potencial logo perceberiam que poderiam ver a exibição mesmo sem pagar ingresso. Como os fogos não são excludentes, há um incentivo para que as pessoas sejam caronas.

Um carona é uma pessoa que recebe o benefício de um bem, mas evita pagar por ele. Como as pessoas teriam um incentivo para usufruir gratuitamente, em vez de pagar, o mercado não apresentaria resultado eficiente. Uma maneira de enxergar essa falha do mercado é pensar que ela surge de uma externalidade. Se Ellen realizasse a exibição de fogos de artifício, ela conferiria um benefício externo às pessoas que assistissem ao espetáculo sem pagar por isso. Ao decidir se faz ou não a apresentação, Ellen ignora esses benefícios externos.

Embora uma apresentação de fogos de artifício seja socialmente desejável, ela não é lucrativa do ponto de vista privado. Como resultado, Ellen toma uma decisão socialmente ineficiente, a de não realizar o espetáculo. Embora o mercado privado falhe ao não fornecer a apresentação de fogos de artifício demandada pelos habitantes de Smalltown, a solução para esse problema é óbvia.

O governo local pode patrocinar uma festa de Quatro de Julho aumentando os impostos de todos em $ 2 e usando a receita arrecadada para contratar Ellen para produzir o espetáculo. Todos os moradores são beneficiados em $ 8 – os $ 10 do valor que atribuem aos fogos menos os $ 2 do imposto. Ellen pode ajudar Smalltown a atingir o resultado eficiente no papel de funcionária pública, embora não o possa fazer como empreendedora privada.

O caso de Smalltown é simplificado, mas também é realista. Na verdade, muitos governos municipais dos Estados Unidos pagam pelos fogos de artifício no feriado de Quatro de Julho. Além do mais, o caso nos ensina uma lição geral sobre os bens públicos: como eles não são excludentes, o problema dos caronas impede que o mercado privado os oferte. O governo, entretanto, pode potencialmente resolver o problema. Se o governo resolver que os benefícios totais excedem os custos, pode proporcionar o bem público e pagar por ele com a receita de impostos, deixando todos em melhor situação.

FONTE: Mankiw (2013, p. 206)

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TÓPICO 2 | OS BENS PÚBLICOS E OS IMPOSTOS

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2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS BENS SEGUNDO A RIVALIDADE E EXCLUSIVIDADE

Agora veremos que ao combinarmos os conceitos de consumo rival e excludente obteremos novas categorias de bens: bens privados, bens comuns, bens não rivais excludentes e bens públicos puros.

Vimos que um dos bens que se encaixam nessa classificação são os bens privados, que são aqueles cujo consumo é tanto rival quanto excludente e são ofertados eficientemente em mercados competitivos. A característica básica é que a exclusão se dá no momento em que ocorre o consumo. Você com certeza se lembrou dos bens básicos que consumimos em nosso dia a dia, como os alimentos e o vestuário que utilizamos.

FIGURA 10 – EXEMPLOS DE BEM PRIVADO – ALIMENTAÇÃO E VESTUÁRIO

FONTE: <https://www.a77.com.br/cliparts/clipart_alimentos_15.php>.Acesso em: 21 jan. 2019.

A segunda categoria é formada pelos bens comuns. Os bens comuns são aqueles que apresentam o consumo rival, mas não são excludentes. Como exemplo podemos considerar o nosso litoral, mais precisamente, o mar. Ele é um bem não exclusivo, todavia a atividade pesqueira é um bem rival, porque impõe custos a outras pessoas: quanto maior for a quantidade de peixes capturados, menor será a quantidade disponível para as outras pessoas. O ar é um outro exemplo de bem não exclusivo, mas torna-se rival quando as emissões de poluentes de determinada empresa passam a prejudicar a sua qualidade e as outras pessoas (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

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UNIDADE 3 | EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS E MEIO AMBIENTE

FIGURA 11 – ATIVIDADE PESQUEIRA – BEM COMUM

FONTE: <https://www.humanite.fr/semaine-de-la-peche-responsable-et-ressources-halieutiques-en-baisse-650710>. Acesso em: 21 jan. 2019.

Também temos os bens que são não rivais e excludentes, que são os bens que apresentam consumo não rival, mas excludente. Por exemplo, durante o período de tráfego menos intenso, a travessia de determinada ponte é não rival, já que o automóvel adicional não causa nenhum tipo de alteração na velocidade dos demais veículos que estejam fazendo a devida travessia. Mas no momento que as autoridades públicas, por qualquer motivo, impedem o tráfego de veículos nesta ponte, ela se torna um bem exclusivo, pois as autoridades estão impedindo que as pessoas a utilizem (PINDYCK; RUBINFELD, 2013).

FIGURA 12 – PONTE INTERDITADA – BEM EXCLUSIVO

FONTE: <https://portalexpresso.com.br/ponte-viriato-alves-garcia-e-interditada/>. Acesso em: 21 jan. 2019.

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TÓPICO 2 | OS BENS PÚBLICOS E OS IMPOSTOS

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Alguns autores, como Carvalho (2015), incluem também nesta categoria o chamado monopólio natural, pois ele é excludente, mas não rival. Nesse caso, o bem é excludente porque é possível cobrar por ele. A principal característica do monopólio natural é a existência de economia de escala, que torna o custo unitário menor à medida que aumenta a produção. Então, o bem não é rival, pois o acréscimo de um consumidor não reduz a disponibilidade do bem para os outros, pelo menos enquanto a empresa produtora não atingir seu limite de capacidade de produção. Destacam-se nesta categoria os canais de TV a cabo, estradas com pedágios e proteção contra incêndio CARVALHO, 2015).

IMPORTANTE

Os bens públicos, que são ao mesmo tempo não rivais e não exclusivo, oferecem benefícios às pessoas a um custo marginal zero e ninguém pode ser excluído da possibilidade de utilizá-lo.

Por último, mas não menos importante, temos os chamados bens públicos puros. Os bens públicos puros são caracterizados pelo fato de seu consumo ser não rival e não excludente. Geralmente não é provido por mercados concorrenciais sem que haja uma cooperação entre os consumidores. Nesta categoria se encaixam as barragens (cujo construtor não consegue impedir que alguém se beneficie dela) ou ainda uma dedetização realizada para acabar com mosquitos na área rural.

2.2 EFICIÊNCIA DOS BENS PÚBLICOS

Agora que você já sabe identificar quando um bem é público ou privado, vamos verificar o nível de eficiência deste bem. O nível de eficiência de provisão de um bem privado é determinado a partir da comparação do benefício marginal de uma unidade adicional com o custo marginal de produção da mesma unidade.

A eficiência marginal é alcançada no momento em que o benefício marginal e o custo marginal forem iguais entre si. No caso dos bens públicos o princípio é o mesmo, porém a análise que fazemos é diferente (CARVALHO, 2015).

Quando analisamos os bens públicos devemos perguntar qual é o valor que cada pessoa atribui a cada unidade adicional produzida. O benefício marginal será a soma de cada valor atribuído por todos os usuários que usufruem desse bem. Assim, “para determinarmos o nível eficiente de oferta do bem público devemos igualar a soma desses benefícios marginais ao custo marginal de sua produção” (PINDYCK; RUBINFELD, 2013, p. 683).

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UNIDADE 3 | EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS E MEIO AMBIENTE

Preste atenção no gráfico a seguir, que ilustra o nível eficiente de um bem público:

FIGURA 13 – PROVISÃO EFICIENTE DE BENS PÚBLICOS

FONTE: Pindyck e Rubinfeld (2013, p. 684)

Observe que o D1 representa a demanda do bem público por parte de um consumidor e D2 representa a demanda por parte de um segundo consumidor. Cada uma das curvas marginais desta figura demonstra o benefício marginal que o consumidor recebe a partir de cada nível de produção.

Vamos considerar os valores presentes na Figura 13. No momento em que há duas unidades do bem público, o primeiro consumidor está disposto a pagar R$ 1,50 por esse bem – assim, R$ 1,50 será o benefício marginal. Já o segundo tem um benefício marginal de R$ 4,00. Assim, o benefício marginal dos dois consumidores juntos é de R$ 5,50.

Quanto ao nível eficiente é aquele para qual o benefício marginal da sociedade é igual ao custo marginal. Assim, observando a figura, podemos concluir que o custo marginal de produção é R$ 5,50, que no segundo bem-público (D2) seria nosso nível de produção eficiente.

Mas qual seria a solução eficaz para a oferta de um bem público? Uma das soluções mais eficientes para a oferta de bens públicos é a coleta de impostos. A seguir, veremos como funciona esta relação entre o governo e os impostos.

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TÓPICO 2 | OS BENS PÚBLICOS E OS IMPOSTOS

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3 GOVERNO E IMPOSTOS Diariamente nos deparamos com situações em que nos é colocado que o

Brasil é um dos países que possui a maior carga tributária. Em 2017, por exemplo, foram arrecadados aproximadamente 1,35 trilhões de reais em impostos federais. Mas será que o valor dos impostos pago pelos cidadãos é uma parcela justa?

Mesmo que uma pessoa nunca tenha pago uma guia de imposto no banco, ela indiretamente paga pelos impostos no preço dos produtos que são repassados ao consumidor. Assim, podemos dizer que os impostos afetam a economia de várias formas, portanto é muito difícil a sua mensuração e a verificação se realmente é um pagamento justo.

Afinal, como o dinheiro arrecadado em forma de impostos é utilizado pelo

governo? Desta forma o governo é visto como uma empresa, por isso, para manter as instituições governamentais em pleno funcionamento, ele possui custos. O custo do governo é o custo de oportunidade dos recursos que suas ações retiram do setor privado, incluindo: o custo dos bens e serviços governamentais, o ônus devido aos impostos e a má distribuição de recursos devido às regulações (MANKIW, 2013).

Inicialmente vamos estudar os custos dos bens e serviços governamentais. O governo a cada ano que passa apresenta um orçamento anual com gastos elevados que ultrapassam o seu limite de arrecadação, que vão desde os valores devidos com a dívida pública até os de educação, saúde, segurança e previdência social, conforme podemos observar no infográfico a seguir, que demonstra um resumo dos maiores gastos do Governo Federal em 2016:

FIGURA 14 – RESUMO DOS MAIORES GASTOS DO GOVERNO FEDERAL EM 2016

FONTE: <http://adufc.org.br/2017/03/23/os-maiores-gastos-do-governo-federal-previdencia-x-divida-publica/>. Acesso em: 15 set. 2018.

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UNIDADE 3 | EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS E MEIO AMBIENTE

O encargo principal do governo são os bens e serviços que ele adquire do setor privado e redistribui para o setor público, que nem sempre são pagos com o dinheiro dos impostos, pois este muitas vezes também adquire empréstimos para conseguir saldar os compromissos financeiros.

De acordo com Wessels (2010, p. 237), embora “os impostos não sejam adicionados ao custo do governo, o ônus causado pela coleta destes impostos é um custo agregado do governo”. Os impostos formam uma cunha (equilíbrio) entre o preço de demanda e o preço de oferta de um bem. Quanto maior for a cunha, menor será a produção daquele bem e, consequentemente, a redução resulta numa perda, assim podemos observar a imagem a seguir:

FIGURA 15 – MEDIÇÃO DA PERDA

FONTE: Adaptado de Wessels (2010, p. 237)

OfertaPerda

Preç

o ($

)

8,40

12

Demanda

Quantidade por ano2.000 2.500

Imposto

Observe na figura apresentada que o valor do bem é R$ 12,00 e o valor do imposto é R$ 3,60, ou seja, a alíquota de imposto é de 30% do valor do bem. Considerando os valores da figura, podemos observar ainda que o valor total de imposto coletado é R$ 7.200,00 (R$ 3,60 x 2.000). O imposto leva a produção a se reduzir em 500 unidades. A perda deste benefício líquido pode ser observada na imagem em vermelho e caracteriza o ônus do imposto representado pela área do triângulo.

O governo também impõe regulações aos negócios. Embora estas regulações possam produzir algum tipo de benefício elas também acarretam em custos, que são chamados de custos das regulações (WESSELS, 2010). No Brasil, os processos regulatórios são burocráticos e demorados, podendo durar longos períodos que ocasionam custos maiores para as empresas e consequentemente são repassados para o consumidor no preço do produto, fazendo com que este produto chegue ao consumidor com o dobro do valor. Um exemplo que pode ser citado são os processos regulatórios que recaem sobre as indústrias de medicamentos.

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TÓPICO 2 | OS BENS PÚBLICOS E OS IMPOSTOS

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NOTA

O CUSTO DA REGULAÇÃO PARA A INDÚSTRIA DE MEDICAMENTOS

Além da complexidade e dinâmica no sistema regulatório do Brasil, o tempo, o custo e a burocracia são outros grandes desafios enfrentados pelas indústrias. É fato conhecido que o setor industrial farmacêutico sobrevive desafios básicos, como a importação de praticamente 90% dos insumos de medicamentos, carga tributária elevada, logística deficiente, fragmentação do varejo e ainda um marco regulatório incompleto que coloca o departamento de “assuntos regulatórios” das indústrias, como um dos mais complexos e desafiadores.

Regularmente novas resoluções são aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e publicadas em Diário Oficial da União. Assim, as indústrias devem estar abertas às mudanças e negociação de prazos para implementação junto à Agência. “O objetivo principal da agência é o de assegurar medicamentos no mercado com comprovação de eficácia, segurança e qualidade, que são os pilares fundamentais para fins de registro, pós-registro e renovação de medicamentos”, destaca a professora do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para Farmacêuticos e coordenadora de assuntos regulatórios, Claudia Fadiga.

Vale lembrar que, para fins de registro de medicamentos, a Anvisa disponibiliza ao setor regulado várias ferramentas para elaboração dos processos. Porém, nem todas são oficiais, como por exemplo, orientações de serviço que são divulgadas apenas no Portal Eletrônico da Anvisa, e que podem não chegar ao conhecimento do setor regulado, de acordo com Claudia. Dessa maneira o processo pode não ser instruído conforme solicitado. Nestes casos, a Anvisa emite exigências para complementações das documentações, o que ocasiona atraso nos deferimentos dos registros.

O tempo e o custo são outros obstáculos a serem enfrentados. Em média, um registro de medicamento leva dois anos para ser aprovado. Para fins de registros de medicamentos, os estudos de bioequivalência e estudos clínicos são os testes mais caros a serem realizados, e custam de R$ 300 mil a R$ 1 milhão, aproximadamente. As taxas pagas para a Agência custam de R$ 6 mil (genéricos) a R$ 80 mil (novos) para empresas de grande porte.

O registro de medicamentos, independentemente da categoria, é válido por cinco anos. Dia, mês e ano devem ser considerados. Para fins de renovação do registro, Claudia ensina que o pedido deve ser manifestado junto à Anvisa num prazo de um ano a, no máximo, seis meses antes do vencimento. Por exemplo, se um registro de medicamento é válido até 10/12/2013, sua renovação deveria ter sido solicitada entre 10/12/2012 a 10/06/2013.

“Um importante gargalo nesse processo é a burocracia, que ocorre devido às muitas legislações envolvidas no processo de registro dos medicamentos. A Anvisa já está trabalhando para tentar diminuir o número de normas”, ressalta Claudia, que complementa dizendo que uma prova disso foi a publicação do Decreto 8.077/13, que revogou o Decreto 79.074/77. De 171 artigos, o decreto que regulamenta as condições para o funcionamento de empresas sujeitas ao licenciamento sanitário, e o registro, controle e monitoramento, no âmbito da vigilância sanitária, passou a possuir apenas 26 artigos. “De qualquer forma, a Anvisa é aberta, pois a inserção de um medicamento novo no mercado não é somente de interesse da indústria, mas também da própria Agência e do Ministério da Saúde, a fim de suprir a necessidade da população brasileira”, finaliza a especialista. [...]

FONTE: <https://www.ictq.com.br/industria-farmaceutica/451-o-custo-da-regulacao-para-a-industria-de-medicamentos>. Acesso em: 18 set. 2018.

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UNIDADE 3 | EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS E MEIO AMBIENTE

3.1 ALÍQUOTA MARGINAL E ALÍQUOTA MÉDIA DE IMPOSTOS

Para que você, caro acadêmico, compreenda melhor o que são os impostos é preciso que você entenda a diferença existente entre a alíquota marginal e média de impostos.

Segundo Wessels (2010), a alíquota de imposto marginal é a alíquota de imposto que uma pessoa paga sobre a última (a marginal) unidade monetária que ganha. A alíquota média de imposto é o imposto médio que se paga sobre todo o dinheiro que se ganha. Você entenderá melhor esta diferenciação observando o exemplo a seguir, desenvolvido por Wessels (2010, p. 240):

Contribuinte ImpostosPagos ($)

Alíquota de Imposto Marginal

Alíquota de Imposto Média

A 0 0% 0%

B 500 10% 3,33%

C 2.000 20% 8%

D 37.000 20% 18,5%

Considerando os dados apresentados no quadro e utilizando como base o contribuinte D, podemos verificar que este contribuinte paga $ 0 sobre os primeiros $ 10.000 que ganha; paga $ 1.000,00 sobre os seguintes $ 10.000 que ganha. E, somado a isso, pagará ainda $ 36.000,00 sobre os seguintes $ 180.000 que ganha. Totalizando $ 37.000,00 de impostos pagos.

Desta forma podemos observar que num sistema de impostos progressivos, as alíquotas marginais dos impostos se elevam com a renda do contribuinte.

ALÍQUOTA MARGINAL ≥ ALÍQUOTA MÉDIA

ALÍQUOTA MARGINAL ≤ ALÍQUOTA MÉDIA

Em um sistema de impostos regressivos, as alíquotas marginal e média dos impostos se reduzem de acordo com a renda.

Suponha que o Brasil esteja estudando o seguinte sistema tributário: os cidadãos não pagariam nenhum imposto sobre os primeiros $ 10.000 que ganhassem; pagariam 10% de imposto sobre tudo que recebessem entre $ 10.001 e $ 20.000 e um imposto de 20% sobre o que ganhassem acima de $ 20.000. Qual seria a alíquota de imposto marginal e a alíquota média para os seguintes contribuintes nesse sistema?

A: ganha $ 5.000; B: ganha $ 15.000; C: ganha $ 25.000; e D: ganha $ 200.000.

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TÓPICO 2 | OS BENS PÚBLICOS E OS IMPOSTOS

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ALÍQUOTA MARGINAL = ALÍQUOTA MÉDIA

E, no sistema de imposto proporcional ou uniforme, todos os contribuintes pagam a mesma alíquota de imposto marginal e média.

3.2 IMPOSTOS SOBRE A RENDA

Você já deve ter ouvido várias pessoas de seu círculo social reclamarem sobre a quantidade de imposto sobre a renda que ganham, não é mesmo? O maior aterrorizante é o famoso imposto anual, chamado de imposto de renda.

Imposto sobre a Renda da Pessoa Física: “este imposto incide sobre a renda e os proventos de contribuintes residentes no país ou residentes no exterior que recebam rendimentos de fontes no Brasil” (BRASIL, 2019, s.p.).

Esse imposto poderia ser substituído por outros impostos, desta maneira, Wessels (2010) apresenta alguns tipos de impostos que poderiam substituir o imposto de renda atual:

a) Imposto sobre consumo: que seria um imposto sobre os gastos do trabalhador

e não sobre o ganho. Desta forma, a parte tributada seria apenas sobre aquela que ela utiliza para adquirir bens e serviços. A parte que a pessoa economiza não seria tributada.

b) Imposto uniforme: tributaria toda a renda do trabalhador com a mesma alíquota percentual, ou seja, independentemente do valor ganho, a alíquota seria igual para todos.

c) Impostos e taxas para os usuários: são aplicados quando os benefícios de bens e serviços governamentais podem ser identificados e tributados, como por exemplo, o pedágio que a pessoa paga ao utilizar um determinado trecho de estradas.

d) Imposto sobre o valor adicionado (IVA): é um imposto pago por firma sobre o valor que ela acrescentou. Seria a diferença entre a receita e os insumos que a empresa adquire. No caso dos trabalhadores seria a diferença entre a receita (salário) e seus gastos com consumo. O IVA pode ser como um imposto uniforme de tal forma que todos paguem o mesmo valor percentual de suas rendas. Alternativamente, ele pode recair mais sobre os ricos, sendo mais altos para os bens que aqueles que ganham mais adquirem.

A contribuição básica dos economistas ao princípio dos gastos governamentais são que, além de ajudar os mais pobres, seus benefícios marginais devem ser maiores ou iguais aos seus custos marginais. Mas, a maioria dos governos não se utiliza deste princípio (WESSELS, 2010).

Muitas vezes vemos nos noticiários o governo informando que criou vários postos de trabalho, mas eles não divulgam quantos postos de trabalho foram destruindo em decorrência da carga tributária imposta para pagar seus programas de governo. Podemos citar um exemplo de programa que se encaixa nesta categoria: é o Pronatec – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – que foi criado para capacitar aos jovens para o mercado de trabalho, bem como preparar o jovem para o empreendedorismo.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• Os bens privados são aqueles cujo consumo é tanto rival quanto excludente e são ofertados eficientemente em mercados competitivos.

• Os bens públicos puros são caracterizados pelo fato de seu consumo ser não rival e não excludente.

• As falhas de mercado afetam a alocação dos recursos.

• Cabe ao governo utilizar instrumentos de política para corrigir as falhas de mercado.

RESUMO DO TÓPICO 2

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AUTOATIVIDADE

1 O que são bens públicos?

2 No estudo da economia temos os bens públicos. Dentro desta categoria temos os bens comuns e não comuns. Com relação aos bens comuns, assinale a alternativa correta:

a) ( ) Os bens comuns são aqueles que apresentam o consumo rival, mas não são excludentes.

b) ( ) Os bens comuns estão disponíveis somente para as classes sociais excludentes.

c) ( ) Os bens comuns não estão disponíveis a toda a sociedade, pois trata-se de um bem raro.

d) ( ) Os bens comuns são excludentes e rivais.

3 Com relação aos gastos do governo em 2016, observe a figura a seguir. Considerando os dados apresentados no infográfico, podemos considerar que:

FONTE: <http://adufc.org.br/wp-content/uploads/2017/03/MAIORES-GASTOS.jpg>. Acesso em: 11 fev. 2019.

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I- Os gastos do governo com educação são maiores que os gastos com a previdência social.

II- O governo realizou mais investimentos a favor da Defesa Nacional e este valor superou os gatos com a Dívida Pública.

III- O orçamento do governo no total em 2016 foi de 2,9 trilhões, e mais de 46% deste valor era com gastos da Dívida Pública.

IV- A Defesa Nacional, junto à Previdência Social, em 2016 totalizaram 430 bilhões de reais.

Assinale a alternativa correta:

a) ( ) Somente a assertiva I está correta. b) ( ) Todas as assertivas estão corretas.c) ( ) A assertiva III está correta.d) ( ) A assertiva IV está correta.

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TÓPICO 3

ECONOMIA E MEIO AMBIENTE

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃODurante muitos anos, falar sobre economia e meio ambiente era o mesmo

que relacionar a uma mistura heterogênea, em que duas substâncias não se diluem, como a água e o azeite. Por que será que isso ocorria? Um dos pontos é que a análise da economia era voltada apenas para as questões ambientais, ou seja, os impactos causados ao meio ambiente pela produção dos setores econômicos.

Atualmente a relação entre economia e meio ambiente vem evoluindo, e cada vez mais se observa uma aproximação entre as áreas no sentido de refletir como podemos continuar a produzir aplicando os recursos escassos sem que possamos comprometer os recursos naturais para a próxima geração.

Neste tópico estudaremos as questões de crescimento, desenvolvimento econômico e a relação com o meio ambiente. Você já parou para refletir como nossas ações contribuem para o desenvolvimento sustentável? Assim, vamos juntos analisar o que já está sendo realizado em prol do desenvolvimento sustentável e quais são as melhorias que ainda podemos implantar em nossos processos produtivos para que possamos desenvolvê-los sem acarretar em prejuízo ao meio ambiente. Vamos lá!

2 APROXIMAÇÃO DOS TERMOS ECONOMIA E MEIO AMBIENTE

Voltando um pouco no tempo, podemos verificar que a exploração do meio ambiente pelo homem é antiga e iniciou na Pré-História, onde o ser humano não contava com técnicas apropriadas para manipular os recursos advindos do meio ambiente. Nas idades Média e Moderna esse processo de exploração foi evoluindo, fazendo com que a agricultura fosse a atividade econômica predominante, assim iniciavam-se os impactos ambientais com as derrubadas das florestas para transformação em área pastoril e de lavouras. A partir da Revolução Industrial, com o advento das máquinas, a destruição do meio ambiente em torno da produtividade chega a seu nível máximo, fazendo surgir os impactos profundos e irreversíveis ao meio ambiente.

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UNIDADE 3 | EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS E MEIO AMBIENTE

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Mesmo diante deste cenário, até meados de 1960, a preservação ambiental não era um problema estudado pelos cientistas econômicos que pensavam apenas em produzir riquezas e que assim todos os problemas estariam resolvidos. Essa situação não era frequente só em relação aos economistas, mas as empresas também não apresentavam nenhum tipo de preocupação em relação à exploração dos recursos naturais e nem em relação aos resíduos gerados por sua produção capitalista, que visava à produtividade e à lucratividade.

Esse contexto passou a mudar quando alguns economistas começaram a perceber que havia a necessidade de se estabelecer uma relação diferente entre a utilização dos recursos naturais e as necessidades da sociedade. O ponto fundamental para essa nova perspectiva foram dois trabalhos citados a seguir, que introduziam a dimensão ecológica nas ciências econômicas, publicados por alguns economistas: The econnnomics of the Coming Spacenshi Earth (1966) e The entropy law and the economics process (1971). Essas obras apresentavam perspectivas teóricas diferenciadas, mas introduziam uma variável comum aos estudos econômicos: a incorporação do equilíbrio ecológico nas relações de trocas e consumo, fazendo com que as políticas econômicas não fossem criadas somente com base no enfoque puramente econômico (FARIA, 2013).

Um dos marcos, considerado importante movimento social, foi a chamada Revolução Ambiental. A figura a seguir é bem familiar para os economistas, geralmente ela é utilizada para ilustrar como ocorre a relação ente os agentes econômicos dentro do sistema econômico. Agora, vamos utilizar esse infográfico para que possamos compreender como se dá a relação entre as atividades econômicas de consumo e de produção em relação ao meio ambiente:

FIGURA 16 – FLUXO DA PRODUÇÃO E RELAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE

FONTE: Oliveira (2002, p. 568)

ResíduosInsumos

ConsumoTrabalho

Produção

Serviços

Resíduos

Reciclagem

Capital

Natureza

Depreciação

Investi

mento

Famílias

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TÓPICO 3 | ECONOMIA E MEIO AMBIENTE

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Embora não fosse uma preocupação frequente, vários cenários pessimistas para o futuro também começavam a surgir. Um dos mais pessimistas foi o Clube de Roma em 1972, por meio de um relatório intitulado Limites do Crescimento – The Limits to Growth, que tinha como objetivo aprofundar e discutir os principais problemas ambientais ao meio ambiente, alertando que tanto a produção industrial como a exploração dos recursos precisavam ser revistas (BRUSEKE, 2001; BARSANO; BARBOSA, 2014).

O relatório apresentava resultados de um modelo matemático que demonstrava que se a população continuasse a crescer, e a produção e exploração dos recursos naturais nas mesmas taxas, a longo prazo teríamos sérios problemas como fome, escassez de recursos naturais, altos níveis de poluição, surgimento de uma população doente e eventos climáticos.

NOTA

CLUBE DE ROMA

O Clube de Roma é hoje uma organização não governamental (ONG) que teve início em abril de 1968 como um pequeno grupo de 30 profissionais empresários, diplomatas, cientistas, educadores, humanistas, economistas e altos funcionários governamentais de dez países diversos que se reuniram para tratar de assuntos relacionados ao uso indiscriminado dos recursos naturais do meio ambiente em termos mundiais. Pelo fato desta primeira reunião ter acontecido na Academia dei Lincei, em Roma, na Itália, o nome sugestivo de ‘Clube de Roma’ deu denominação à entidade.

Inicialmente este grupo foi convidado pelo industrial italiano Aurélio Peccei (Gestor da Fiat e Olivetti e diretor da Italconsult) [sic] e o cientista escocês Alexander King para esta reunião focando o pensamento de curto prazo nos assuntos internacionais voltados ao meio ambiente. Foi então que nesta reunião cada participante se comprometeu a sensibilizar os líderes mundiais e os tomadores de decisão sobre as questões intrínsecas no sentido de que as consequências em longo prazo da crescente interdependência global dos recursos naturais que até então são utilizados de forma indiscriminada, como se os mesmos não fossem finitos, em um planeta também finito.[...]

FONTE: <https://biomania.com.br/artigo/o-clube-de-roma-1972>. Acesso em: 22 jan. 2019.

Outro marco a ser destacado a respeito da discussão sobre a relação sociedade e meio ambiente foi a Conferência de Estocolmo, em 1972, presidida pela Organização das Nações Unidas (ONU), que já estava voltando seus olhares para esta forma de exploração e/ou relação da sociedade com o meio ambiente, e chamava a atenção das nações para o fato de que a ação humana e os meios de produção estavam causando riscos ao meio ambiente e também ao bem-estar da sociedade (BARSANO; BARBOSA, 2014).

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UNIDADE 3 | EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS E MEIO AMBIENTE

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Nos anos posteriores, outras conferências foram surgindo e foram muito importantes para quebrar paradigmas da sociedade em relação à exploração do meio ambiente. Como exemplo podemos citar a Convenção de Genebra sobre a Poluição Atmosférica (1980), a criação da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (1984) e o relatório O Nosso Futuro Comum (1988), a Eco-92 (1992) e Rio+20 (2012).

3 MEIO AMBIENTE E TEORIAS ECONÔMICASA Fisiocracia foi a primeira escola de pensamento econômico, criada em

1758 por François Quesnay. Para esta escola, a agricultura era fonte inesgotável de toda a riqueza, e para os economistas desta escola, a produção de bens era a possibilidade real de enriquecimento da sociedade, por isso acreditavam que a natureza merecia cuidado e atenção.

No final do século XVIII, com os economistas clássicos surgia a era da escassez, marcada pela teoria da dinâmica demográfica desenvolvida por Thomas Matlhus, e também pela teoria dos rendimentos decrescentes, de David Ricardo. Ambas as teorias eram pautadas na escassez de recursos naturais devido ao crescimento da população e à ausência de terras férteis para a produção.

A teoria neoclássica teve seu início na década de 1870 e se desenvolveu até meados do século XX, onde o foco estava no comportamento do consumidor e sua satisfação no consumo e do produtor em maximizar seus lucros. Foi neste período que surgiu as terminologias economia ambiental e economia ecológica. A economia ambiental afirmava que no longo prazo a ausência de recursos naturais não seria um fator preponderante para que não houvesse uma expansão da economia. A economia ecológica via a inovação (capital construído) e o capital natural (recursos naturais) como complementares. A partir destes dois conceitos, os neoclássicos propuseram uma precificação da natureza, ou seja, que fossem criadas ferramentas de valoração dos recursos naturais, baseado no sistema de preços vigentes (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008; FARIA, 2013).

NOTA

ECONOMIA ECOLÓGICA – a economia ecológica tem seu caráter inter/transdisciplinar. Esse novo ramo da economia surgiu entre os anos de 1970 e 1980.

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TÓPICO 3 | ECONOMIA E MEIO AMBIENTE

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A corrente da economia ecológica surgiu rejeitando a tese de que a função da natureza era prover os meios necessários ao desenvolvimento do homem. Para esta corrente ecológica, o ser humano era apenas um morador do ecossistema e, por isso, seria indispensável para garantir a preservação da espécie humana. Segundo Faria (2013), a economia ecológica surge como uma crítica à teoria neoclássica que considera a economia como um sistema fechado, no qual as empresas são as produtoras de bens e serviços que atendem às necessidades das famílias que oferecem terra e trabalho ao mercado capital. Esse sistema fechado pode ser visualizado na figura a seguir:

FIGURA 17 – ECONOMIA COMO UM SISTEMA FECHADO

FONTE: Adaptado de Faria (2013)

BENS E SERVIÇOS

CAPITAL, TERRA E TRABALHO

EMPRESAS FAMÍLIAS

Com o surgimento da economia ecológica, um novo modelo de sistema econômico foi proposto, e adicionado ao sistema fechado outros fatores, conforme podemos observar na figura a seguir:

FIGURA 18 – NOVO MODELO DE SISTEMA ECONÔMICO (ABERTO)

FONTE: Adaptado de Faria (2013)

BENS E SERVIÇOS

CAPITAL, TERRA E TRABALHO

EMPRESAS FAMÍLIAS

Calor dissipado

Resíduos materiais

Energia útil

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UNIDADE 3 | EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS E MEIO AMBIENTE

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De acordo com Faria (2013), a grande inovação neste novo sistema econômico é considerá-lo como um sistema aberto, que para reproduzir-se receberia tanto matéria-prima como energia útil necessária e em contrapartida liberaria calor e lançaria no meio ambiente diversos resíduos. Desta forma, essa visão contempla a crise ecológica vivenciada pela sociedade, em que a degradação ambiental ocorre pelo uso indevido dos recursos naturais a um ritmo acelerado e de difícil recuperação, e os impactos causados pelos resíduos despejados ao meio ambiente.

No decorrer dos anos de 1960 e 1970, a economia ecológica sofreu fortes influências de publicações, como o Relatório Limites do Crescimento e o livro A lei da entropia e o processo econômico, escrito pelo economista Nicholas Georgescu-Roegen.

FIGURA 19 – CAPA DO LIVRO LIMITES DO CRESCIMENTO, VERSÃO TRADUZIDA, EDITORA QUALITYMARK

FONTE: <https://designduravel.files.wordpress.com/2010/04/oslimitescrescimentoac-t30anos1.jpg>. Acesso em: 23 jan. 2019.

O século XX chegou e com ele a promessa de novas oportunidades de crescimento econômico, o que somente se concretizaria com o surgimento de máquinas e novas tecnologias que levassem à conquista de mais mercados consumidores.

4 ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Anteriormente vimos que a discussão sobre a relação sociedade, natureza

e economia passou por transformações ao longo das décadas, da mesma forma, o conceito de desenvolvimento e as questões do crescimento econômico também geraram controvérsias, principalmente na área acadêmico-científica. A literatura sobre o tema crescimento e desenvolvimento econômico é ampla, e alguns autores analisam essas questões utilizando meramente variáveis de ordem econômica, como se isto fosse a única condição para se chegar ao desenvolvimento.

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TÓPICO 3 | ECONOMIA E MEIO AMBIENTE

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De acordo com Scatolin apud Oliveira (2002, p. 39):

Poucos são os outros conceitos nas Ciências Sociais que se têm prestado a tanta controvérsia. Conceitos como progresso, crescimento, industrialização, transformação, modernização, têm sido usados frequentemente como sinônimos de desenvolvimento. Em verdade, eles carregam dentro de si toda uma compreensão específica dos fenômenos e constituem verdadeiros diagnósticos da realidade, pois o conceito prejulga, indicando em que se deverá atuar para alcançar o desenvolvimento.

Na segunda metade do século XX, após o fim da Segunda Guerra Mundial, nos deparamos com o chamado “problema do desenvolvimento”. Embora já existissem estudos que demonstravam estatisticamente números que apresentavam as diferenças econômicas entre os países desde 1930, foi somente a partir dos anos 1950 que os economistas começaram a dar destaque ao campo da economia.

Neste período, os economistas desenvolvimentistas começavam a identificar, como principal obstáculo para o desenvolvimento, a reduzida formação de capital nos países pobres, devido ao uso intensivo de capital produtivo cujo efeito elevaria a produtividade da economia, uma vez que incorpora ao processo produtivo novas tecnologias, mais modernas e eficientes do que aquelas intensivas em trabalho utilizadas nos países ainda em vias de desenvolvimento. Podemos utilizar como exemplo a atividade agrícola: os países desenvolvidos utilizavam máquinas para arar a terra, enquanto que em países subdesenvolvidos essa atividade era realizada manualmente, conforme podemos observar nas figuras a seguir:

FIGURA 20 – PRODUÇÃO MECANIZADA DE TRIGO NOS ESTADOS UNIDOS

FONTE: <http://professormarcianodantas.blogspot.com/2015/07/os-subsidios-agricolas-dos-ricos.html>. Acesso em: 23 jan. 2019.

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UNIDADE 3 | EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS E MEIO AMBIENTE

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FIGURA 21 – MULHERES CULTIVANDO ARROZ NA ÍNDIA

FONTE: <http://professormarcianodantas.blogspot.com/2015/07/os-subsidios-agricolas-dos-ricos.html>. Acesso em: 23 jan. 2019.

Celso Furtado (1980), um dos autores clássicos da economia, coloca em uma de suas obras que a questão do desenvolvimento não é a mera acumulação de capital. Para que se alcance o desenvolvimento é necessária a incorporação de progresso técnico, fator este que está vinculado à estrutura de classes, organização política e do sistema institucional. Para o autor, não existe desenvolvimento sem contexto histórico, e não existe desenvolvimento econômico sem que haja primeiramente o desenvolvimento político e social.

Neste contexto, o maior desafio estava em suprir a carência de capital nos países mais pobres, acelerando a formação de capital nestes países para que houvesse um aumento na produtividade que permitiria, consequentemente, a renda da população, que até então vivia e apresentava panoramas de extrema pobreza. Neste sentido, em suma, havia a necessidade de se resolver dois problemas: o desenvolvimento e a pobreza.

Para Sachs (1997, p. 135), “o desenvolvimento é diferente de crescimento econômico, pois vai além da dimensão econômica, inclui as dimensões: ética, política, social, ecológica, cultural e territorial. Todas elas sistematicamente inter-relacionadas e formando um todo [...]”.

Complementando esta ideia de Sachs (1997), Franco (2000) afirma que o processo de desenvolvimento vai além do capital econômico e que é importante uma análise mais abrangente, incluindo outras variáveis que não são de ordem econômica, como capital humano (educação, saúde, alimentação, nutrição etc.), capital social (níveis de uma sociedade) e capital natural (condições ambientais). Neste contexto, podemos observar que as questões problemáticas de capital humano, social e ambiental são desafios que precisam ser enfrentados e que estão ligados diretamente às questões do desenvolvimento sustentável.

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TÓPICO 3 | ECONOMIA E MEIO AMBIENTE

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O termo “desenvolvimento sustentável” surge em 1987, quando a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – CMMAD – (órgão independente criado pela ONU, em 1983) elaborou um dos mais importantes documentos da história para a temática ambiental, sendo um divisor de águas no papel de definir conceitos, princípios e objetivos para a harmonização da tríplice relação entre economia, sociedade e meio ambiente. Este documento foi chamado de Relatório “Nosso Futuro Comum”, mas também conhecido como Relatório Brundtland.

NOTA

NOTA

Desenvolvimento sustentável é o “desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” (CMMAD,1991, p. 46).

NOSSO FUTURO COMUM Ano de publicação: 1988

A comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, presidida por Gro Harlem Brundtland, primeira-ministra da Noruega, foi criada como um organismo independente em 1983 pelas Nações Unidas. Sua missão era reexaminar os principais problemas do meio ambiente e do desenvolvimento em âmbito planetário e formular propostas realistas para solucioná-los, bem como assegurar que o progresso humano será sustentável através do desenvolvimento, sem arruinar os recursos para as futuras gerações. Nosso futuro comum participa que chegou a hora de vincular mais estreitamente economia e ecologia, de modo que os governos e os povos possam assumir a responsabilidade não só pelos danos ambientais, como também pelas políticas que causam esses danos. Algumas dessas políticas ameaçam a sobrevivência da espécie humana. Elas podem ser mudadas. Mas temos que agir já. Este é o documento mais importante da década sobre o futuro do mundo.

FONTE: <https://www.skoob.com.br/livro/pdf/nosso-futuro-comum/livro:34367/edicao:37523>. Acesso em: 23 jan. 2019.

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UNIDADE 3 | EXTERNALIDADES, BENS PÚBLICOS E MEIO AMBIENTE

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Este documento também trazia a ideia de que tanto o crescimento como o desenvolvimento econômico produzem alterações no ambiente e que nenhum ambiente ficará intacto, porém não é preciso esgotar todos os recursos renováveis existentes, que é possível explorar e produzir respeitando a capacidade regenerativa de cada recurso renovável.

Além disso, a publicação de CMMAD (1991) apresentava outros conceitos-chave, como o princípio e aplicação do desenvolvimento sustentável:

a) O conceito de necessidades, principalmente em relação às necessidades essenciais para as populações mais pobres do mundo, que devem receber a máxima prioridade nas agendas governamentais das pautas de discussão.

b) O conceito de limitação, que orienta sobre a conscientização que deve haver sobre as limitações que o estágio tecnológico e da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras.

Desta forma, podemos verificar que nesta transição de conceitos, nos deparamos com mais desafios. Estamos passando para um período, que até então poderia ser quantificável (crescimento econômico), para algo intangível, associado às questões não mensuráveis (meio ambiente e social).

Sachs (1993) ainda associa a este novo conceito de desenvolvimento

as dimensões da sustentabilidade: social, econômica, ecológica, espacial e cultural. Para o autor, a sustentabilidade social, baseada num processo de desenvolvimento, considera o bem-estar da sociedade; a sustentabilidade econômica visa possibilitar uma gestão mais harmônica dos fluxos financeiros; a sustentabilidade ecológica tem como pano de fundo o equilíbrio na utilização dos recursos naturais, com a respectiva redução na produção de seus resíduos; a sustentabilidade espacial como uma das mais novas e equilibrada configuração da ocupação do solo; e a sustentabilidade cultural, que se traduz na adoção de soluções que respeitam as especificidades de cada ecossistema.

FIGURA 22 – AS CINCO DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE

FONTE: Adaptado de Sachs (1993)

DESENVOLVIMENTO

SUSTENTABILIDADESOCIAL

SUSTENTABILIDADECULTURAL

SUSTENTABILIDADEECONÔMICA

SUSTENTABILIDADEECOLÓGICA

SUSTENTABILIDADEESPACIAL

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TÓPICO 3 | ECONOMIA E MEIO AMBIENTE

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NOTA

Ignacy Sachs (Varsóvia, 1927)

Economista polonês, naturalizado francês. Referenciado também como ecossocioeconomista, por sua concepção de desenvolvimento como uma combinação de crescimento econômico, aumento igualitário do bem-estar social e preservação ambiental. (O termo ecossocioeconomia foi cunhado por Karl William Kapp, economista de origem alemã e um dos mais brilhantes inspiradores da ecologia política nos anos 1970). Há mais de trinta anos, Ignacy Sachs lançou alguns dos fundamentos do debate contemporâneo sobre a necessidade de um novo paradigma de desenvolvimento, baseado na convergência entre economia, ecologia, antropologia cultural e ciência política. Suas ideias são hoje mais claramente compreendidas no cenário das mudanças climáticas e da crise social e política mundial.

FONTE: <https://www.pucsp.br/catedraignacysachs/ignacy-sachs.html>. Acesso em: 23 jan. 2019.

DICAS

Para saber mais sobre a ideias de Ignacy Sachs, sugerimos a leitura da obra:

SACHS, Ignacy. Desenvolvimento includente, sustentável e sustentado. Rio de Janeiro: Garamond, 2008.

5 MODELO DE VALORAÇÃO E TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL Nos estudos das externalidades vimos que uma das formas de o governo

corrigir as falhas de mercado poderia ser a aplicação de impostos e taxas para o poluidor pagar. Mas você deve estar se perguntando: Como é possível valorar o meio ambiente? Para que possamos valorar o meio ambiente, vamos fazer uso de alguns métodos de valoração ambiental.

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IMPORTANTE

Valorar o meio ambiente: “determinar o valor econômico de um recurso ambiental é estimar o valor monetário deste em relação aos outros bens e serviços disponíveis na economia (MOTTA, 1997, p. 1).

Os métodos de valoração ambiental se dividem em: métodos diretos e indiretos. Os métodos diretos de valoração ambiental são aqueles que estão diretamente relacionados aos preços de mercado e/ou à produtividade dos recursos naturais (preço, terra, qualidade, produtividade do solo). Geralmente são utilizados na valoração do consumo de recursos naturais (FARIA, 2013).

Os métodos indiretos de valoração ambiental são aqueles aplicados quando ocorre um impacto ambiental. Por exemplo, quando vamos implantar um grande empreendimento econômico é necessário mensurar os impactos que o empreendimento trará à comunidade e/ou à sociedade como um todo.

Quando estudamos as extremidades negativas, no tópico anterior, vimos que cabe ao governo a utilização de instrumentos de política, como taxas e impostos para coibir estas externalidades. Agora veremos como aplicar estas taxas e impostos.

Umas das taxas utilizadas na valoração do meio ambiente é a taxa pigouviana. A taxa pigouviana recebeu esse nome em homenagem ao economista inglês Arthur Cecil Pigou. Essa taxa corresponde a um tributo aplicado sobre cada unidade de poluição deduzida, devendo ser igual ao custo marginal social desta poluição. Geralmente a taxa pigouviana é utilizada quando há mais de um poluidor e a preocupação de que a redução do nível de poluição seja realizada a um custo mínimo.

Para que você compreenda melhor a aplicabilidade da taxa pigouviana, observe o exemplo a seguir, adaptado de Faria (2013): considere a existência de dois poluidores, A e B. O poluidor A reduz sua poluição a um custo relativamente pequeno. O poluidor B tem um custo elevado e uma redução de seus lucros para cada uma das unidades de poluição produzida a menos. Neste caso, seria mais coerente impor uma redução maior ao poluidor que pode fazê-la a baixo custo. Esse objetivo seria automaticamente alcançado com o mecanismo da taxa pigouviana.

Desta forma, a empresa que tiver alto custo para reduzir suas emissões de poluentes preferirá reduzir pouco e arcar com o pagamento da taxa pigouviana para a quase totalidade de sua poluição original. Por outro lado, a empresa que pode reduzir a poluição a um custo baixo preferirá realizar reduções em seus volumes de emissão (FARIA, 2013).

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Assim, a taxa pigouviana alcança seu objetivo de reduzir os níveis de poluição, minimizando o custo dessa redução para a sociedade. Outro ponto a favor da taxa pigouviana é o estímulo gerado para que as empresas busquem desenvolver tecnologias menos poluentes, pois com a taxa pigouviana, a emissão de poluição ficará a um custo baixo e, evidentemente, toda empresa busca tecnologias que reduzam o custo (FARIA, 2013). Graficamente, este exemplo pode ser representado assim:

FIGURA 23 – SÍNTESE DA ABORDAGEM PIGOUVIANA

FONTE: Faria (2013, p. 109)

CMgE

BMgP

PoluiçãoQp

Nível ótimo de poluição

Observe que a figura apresenta o nível de poluição ótimo representado por (Qp), que se alcança quando o Benefício Marginal Privado (BMgP) e o Custo Marginal externo (CMgE) se igualam. A curva de CMgE não começa na origem, pois a poluição só se produz a partir de uma determinada concentração de poluente. Assim, podemos observar que o problema do nível ótimo de poluição se alcança no momento em que BMgP se iguala ao CMgE, dando uma solução para o nível de poluição ótima (FARIA, 2013).

Valorar o meio ambiente é um desafio para os economistas, visto que a produção de conhecimento nesta área é considerada recente e ainda se encontram pouquíssimos métodos de valoração empregados em nosso dia a dia. Os métodos mais utilizados são:

a) Método da produção sacrificada: este método é utilizado quando os efeitos ambientais são localizados, podendo-se medir diretamente o valor dos impactos negativos em termos de produção sacrificada ou perdida. Esta metodologia não incorpora os custos associados às questões intertemporais a que se referem, por exemplo, não levam em consideração a falta dos recursos naturais a longo prazo (FARIA, 2013).

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Você se recorda ou já ouviu falar do acidente com o navio Exxon Valdez, ocorrido no Alasca (EUA), em 1989? Esse acidente comprometeu os estoques de peixes e também a existência de outros animais marinhos.

NOTA

Acidente Exxon Valdez (Alasca – EUA)

No dia 24 de março de 1989, a embarcação naufragou no Estreito de Prince William e causou um derramamento de 40 milhões de litros de petróleo cru, que se espalhou rapidamente por cerca de 28 mil quilômetros quadrados de oceano e mais de 2000 quilômetros da costa do Alasca, e causou uma verdadeira carnificina na fauna local, com a morte de centenas de milhares de aves marinhas, focas e lontras, entre outros animais. As imagens de animaizinhos e praias cobertos por uma gosma preta invadiram o noticiário e alertaram para os riscos ambientais da exploração de petróleo no Ártico. Os esforços para recolhimento e limpeza do óleo duraram três anos e mobilizaram 11.000 pessoas, mas as consequências ambientais e a batalha jurídica duram até hoje.

Duas décadas mais tarde, ainda restam 95 mil litros de óleo na região, a maior parte debaixo da terra, segundo um estudo publicado em janeiro na revista Nature Geoscience. A baixa permeabilidade do solo e a falta de oxigenação do mar na região seriam as responsáveis por esse fenômeno, já que a expectativa era que o óleo se degradasse em alguns anos.

Cientistas seguem indecisos se é necessário descontaminar o que resta, alguns acreditam que o melhor seria deixá-lo como está. De um ponto de vista ambiental, não há preocupação, desde que o petróleo fique onde está, disse o ecólogo sueco Olof Linden, da Universidade Marítima Mundial, à revista New Scientist. Outros se preocupam com o risco que correm animais marinhos como lontras, que buscam seu alimento no fundo do mar.

A ExxonMobil, dona do cargueiro, desembolsou mais dois bilhões de dólares para limpar os trechos de costa contaminados, 300 milhões em indenizações para pescadores e habitantes locais, além de 900 milhões em processos penais dos governos dos Estados Unidos e do Alasca. No ano passado, uma ação civil de mais 30.000 vítimas do vazamento, que pedia 5 bilhões em indenizações, chegou à Suprema Corte americana, que julgou o valor excessivo e o reduziu a 500 milhões de dólares.

FONTE: Último Segundo, 2010. Disponível em: <https://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/vazamento-do-exxon-valdez-faz-21-anos/n1237588204170.html>. Acesso em: 23 jan. 2019.

b) Avaliação de contingente ou disposição a pagar: consiste em quantificar o valor que um consumidor está disposto a pagar pelo aproveitamento de bem natural (qualidade do ar, da água etc.) ou à quantia que ele está disposto a receber como compensação pela perda desse bem. Como os bens e serviços ambientais não têm mercados próprios, utiliza-se um mercado de recorrência ou hipotético para lhes valorar (FARIA, 2013).

As técnicas mais utilizadas neste tipo de avaliação são: preço da propriedade ou avaliação hedonista, valor associado, custo de viagem e valor da vida humana.

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• Preço da propriedade ou avaliação hedonista: a utilização deste método consiste em imaginar que um imóvel esteja localizado num local com pouco ruído, sem poluição, com mobilidade urbana, com isso gera maior valor de mercado do que outros em condições ambientais opostas.

Desta forma, utiliza-se a fórmula: P(X) = f(Lx, Vx, CMAx), em que supõe-se que em um determinado lugar (X) é definido em função de sua localização (L), pela vizinhança (V) e pelas características do meio ambiente (CMA). O preço da propriedade é representado por P(X).

• Valor associado: este método se baseia na importância que as pessoas atribuem à preservação dos recursos naturais. Utilizam como base para análise a aplicação de uma enquete com determinada população.

• Custo de viagem: esse método tem como base o custo que as pessoas têm em relação à visitação a determinado local (parque, praia, reserva ambiental etc.). Considera-se o custo de viagem da pessoa até o local, porém esta metodologia apresenta limitações, visto que se trabalha com estimação de valores. Deve ser associado a outros métodos e depende de um determinado número de pessoas.

• Valor da vida humana: este tema traz muita discussão, tanto em economia como em outras áreas. Você já parou para pensar quanto vale a vida humana? Difícil estimar, não é mesmo? Para muitas pessoas este valor pode ser incalculável. Neste caso geralmente se utiliza a tabela de seguros de vida, em que são empregados argumentos que os indivíduos atribuem a sua própria vida.

c) Custo de proteção ambiental: os custos de proteção ambiental se dividem em custos de danos ambientais, custos de medida de proteção, custos sociais e custos externos, conforme podemos observar no quadro a seguir:

QUADRO 5 – TIPOS DE CUSTOS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

Custos de danos ambientaisCustos diretos.Custos indiretos.

Custos das medidas de proteção

Custos ligados à redução de danos.Custos de regulamentação e controle.Custos financeiros.Custos de pesquisas.Custos orientados ao aumento da capacidade ambiental.Custos de recuperação.Custos de novas capacidades ambientais.Custos de preservação.

Custos sociais Redução do bem-estar da sociedade devido aos impactos ao meio ambiente.

Custos externos Custos com a elaboração de programas de proteção ambiental.

FONTE: A autora

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d) Inclusão da varável ambiental em análise de empreendimentos: atualmente é muito comum verificarmos a inclusão da variável ambiental em análises de empreendimentos, porém, de acordo com Faria (2013), a existência de alguns fatores deve ser considerada, destacando: questões de estratégias, dificuldade em incluir a variável ambiental e os méritos dos projetos (tanto econômico como social).

Prezado acadêmico, chegamos ao final da disciplina de Microeconomia II. Essa disciplina é a base para ouras disciplinas que você ainda estudará no decorrer do seu curso, por isso é muito importante que você assimile os conceitos apresentados em nossos estudos. Esperamos que você tenha aproveitado bem este conhecimento!

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LEITURA COMPLEMENTAR

PRINCIPAIS ASPECTOS DA VALORAÇÃO AMBIENTAL APLICADA À GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL

José Aroudo Mota Geraldo Sandoval Góes

Jefferson Lorencini Gazoni

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, tem se tornado premente a formulação de modelos organizacionais que possibilitem incorporar a variável ambiental na estrutura organizacional das instituições públicas e privadas. Esforços do ponto de vista teórico, os quais têm sido traduzidos em práticas organizacionais, têm surgido, de modo a minimizar os custos e maximizar os resultados para as organizações. Deste modo, a incorporação da variável ambiental nos organogramas das instituições tem permitido também demonstrar para a sociedade o quanto as organizações se preocupam com o meio ambiente. A preocupação ambiental já está ratificada por diversos acordos internacionais e por inúmeros entendimentos empresariais de que a conservação/preservação do meio ambiente é a mais importante âncora para o desenvolvimento regional. Por outro lado, os consumidores também estão demasiadamente preocupados com a gestão dos ativos da natureza. Isso quer dizer que os ofertantes e demandantes de bens/serviços têm clara percepção de que o meio ambiente é supridor de matéria-prima para as atividades econômicas e humanas. Além disso, o papel do meio ambiente não se restringe somente a manter o fluxo de energia e matéria para os entes econômicos e antrópicos, mas também para manter a vida na natureza. Essas percepções ambientais estão embasadas em diversas âncoras teóricas, as quais servem de suporte para um melhor entendimento de como a vida de todas as espécies deve se manter em equilíbrio. Adicionalmente, observações científicas têm demonstrado que o ambiente natural assume para os países megadiversos (são os países que têm grande diversidade de fauna e flora, com destaque especial para o Brasil) papel fundamental de interesse estratégico para as nações detentoras de uma natureza abundante (MOTA; SOUSA, 2005).

2 A DIMENSÃO DA VALORAÇÃO AMBIENTAL INTEGRADA

Os fundamentos das ciências ambientais, sobretudo os que subsidiam a valoração ambiental, são de extrema necessidade para a formulação de políticas públicas regionais. Assim, deve-se conceber o desenvolvimento regional a partir da premissa de que os critérios de sustentabilidade da valoração dos entes da natureza estão implícitos nos custos e benefícios da política pública. Por isso, a valoração dos ativos da natureza deve ser analisada por meio dos seguintes aspectos (MOTA, 2004, 2006):

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a) Pela ótica da sustentabilidade biológica, a valoração subsidia a análise de como ocorrem os mecanismos de interação entre a matriz de suprimento do meio ambiente, as atividades econômicas e antrópicas. Essa matriz supre todas as necessidades naturais e humanas por meio de uma cadeia de produção e consumo. Portanto, há nessa interação – homem/natureza – um movimento de simbiose entre todos os seres. Nesse contexto, o papel do valor assume dimensão estratégica, uma vez que a natureza tem diversos valores, que dependem do olhar de cada ator.

Assim, a valoração apresenta-se como a principal ferramenta de apoio para a mensuração ecológica/econômica e como subsídio na intermediação das transações entre o homem e o meio ambiente. Se for somente para a vantagem do homem, em tempo finito, não haverá natureza. Para Darwin (1859), “o homem tem apenas um objetivo: escolher para a sua própria vantagem; a natureza, pelo contrário, escolhe para vantagem do próprio ser”.

b) Pelo enfoque da sustentabilidade ecológica, o conceito de capacidade de suporte internaliza vários aspectos, tais como padrão de vida, igualdade de distribuição, tecnologia e dimensão ecológica. O conceito de capacidade de suporte está intimamente ligado ao de capacidade de resiliência. Em estudos de conflitos de uso, esses paradigmas ecológicos têm supremacia sobre os demais conceitos ambientais. O primeiro refere-se à quantidade de entes que um ativo ambiental pode suportar, e o segundo relaciona-se com a capacidade de regeneração do ativo ambiental em decorrência das pressões humanas e naturais.

c) Pela dimensão estratégica, a sustentabilidade da valoração é entendida como suporte à defesa do capital natural. O uso de um ativo natural superior à sua capacidade, além de gerar conflito, não resguarda o direito de uso das futuras gerações. O capital natural tem uma função estratégica para os países e desempenha relevantes serviços para o equilíbrio dos ecossistemas, pois assegura a diversidade biológica, mantém o fluxo de materiais para as atividades econômicas e antrópicas, fornece informações à ciência e proporciona uma rede de serviços, como habitat às populações nativas e humanas.

d) Analisada pelo ângulo dos aspectos econômicos, a sustentabilidade da valoração é útil como subsídio à estimação de externalidades oriundas de projetos de investimento. Efeitos externos degradam os ativos ambientais, subtraem bem-estar das gerações presentes e comprometem o uso dos recursos naturais pelas gerações futuras. Por seu turno, em conflito de uso, a valoração permite que os custos da degradação sejam internalizados pelos agentes que usam os ativos naturais, além de propiciar indenizações judiciais aos receptores da degradação ambiental e punir os infratores pelos danos causados à natureza. Esses pontos ajudam no sucesso/fracasso dos projetos de investimentos, pois a utilização dos recursos da natureza nos planos de investimentos empresariais apresenta condicionante ambiental. A primeira restrição refere-se à incapacidade de o mercado absorver a degradação/exaustão dos ativos naturais. É verdade que o mercado funciona em função de um conjunto de fatores, tais como produtos

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in natura (oriundos da natureza); produtos manufaturados; capital intelectual; e recursos financeiros e de informação. Porém, ao incorporar os produtos naturais à sua estrutura, não assimila a contabilidade da degradação do capital natural na matriz de preços dos produtos/serviços. Por exemplo, no preço final de um móvel feito a partir da madeira mogno, o mercado capta apenas os custos de feitura do móvel, mas não internaliza a degradação do patrimônio natural que foi necessário para a sua produção.

A segunda restrição é de caráter da assimetria da informação. O consumidor toma decisão a fim de formar a sua cesta de consumo, a qual é constituída a partir de um conjunto de informações fornecidas pelo mercado e sociedade. Isso o possibilita criar necessidades e revelar as suas preferências, que são sujeitas a restrições de orçamento, a variáveis socioeconômicas e às suas atitudes em relação ao meio ambiente.

A terceira restrição enfoca o problema pela ausência de informação. Como se sabe, o argumento a favor dos mercados se torna insuficiente, pois os agentes econômicos têm pouco ou nenhum conhecimento de gene e espécies da diversidade biológica ou dos ecossistemas, impossibilitando-os de fazer juízo de valor a respeito dos produtos e serviços fornecidos pela natureza. Essas restrições permitiram aos governos a inserção de vários instrumentos de política ambiental, com o objetivo de minimizar os efeitos da degradação do meio ambiente e punir os seus degradadores. A proposição inicial foi feita por Pigou (1920 apud NELLISEN et al. 1997), em que supôs um sistema de compensação a fim de reparar as externalidades ambientais, uma vez que essas externalidades são geradas a partir de transações entre os agentes econômicos ou de investimentos feitos pelo poder público, tais como reflorestamento de áreas degradadas, que proporcionam melhoria de bem-estar para a sua vizinhança; recursos financeiros, materiais e tecnológicos empregados na prevenção de poluição do ar oriunda das indústrias; e avanços na pesquisa científica, que se traduzem em descobertas de alta praticidade, melhoria de produtos e processos industriais, os quais permitem reduções de preços para os consumidores. Essa sistemática de indenização de danos ambientais é denominada de impostos de Pigou, e são usados para tributar as atividades que são nocivas ao meio ambiente e subsidiar aquelas que geram externalidades positivas. Desse modo, as organizações de negócios têm se adaptado a normas de comando e controle (em que os órgãos ambientais editam normas de conduta ambiental e punem os infratores por suas ações de degradação da natureza), e estão submetidas a instrumentos econômicos aplicados de forma a taxar ou a premiar a produção ou o consumo.

3 A INTERNALIZAÇÃO DA VALORAÇÃO AMBIENTAL NO DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Por seu turno, os modelos de desenvolvimento regional devem internalizar em suas planilhas os benefícios e custos de seus impactos (efeitos sobre o meio ambiente natural) e de suas externalidades (efeitos sobre o bem-estar dos indivíduos). Essa moderna visão de projetos tem permeado todas as

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estruturas de produção e consumo e tem permitido um amplo acompanhamento pela sociedade e divulgação pelos meios de comunicação. Finalmente, como prerrogativa para a formulação de políticas públicas regionais, é premente a observação dos seguintes pontos de apoio:

a) A construção de um modelo organizacional que seja capaz de incorporar a área de meio ambiente em sua estrutura.

b) Incentivar um programa de desenvolvimento e treinamento interdisciplinar de recursos humanos para a área de meio ambiente e desenvolvimento regional.

c) Alterações nas normas do fisco brasileiro, cuja finalidade é a de permitir a internalização de mecanismos que possibilitem estimar a contabilização nas demonstrações contábeis das empresas do custo da degradação/exaustão do capital natural (especialmente no que se refere à contabilidade microambiental).

d) Instituir poucas e eficientes normas de conduta ambiental que possam balizar os empreendimentos de negócios.

e) Fortalecer as instituições públicas ambientais no sentido de fazer cumprir os normativos editados pela autoridade ambiental.

f) Incentivar mecanismos de apoio à análise e acompanhamento de projetos de investimentos regionais.

4 ALGUNS VALORES ECONÔMICOS DA BIODIVERSIDADE REGIONAL BRASILEIRA

Por outro lado, a importância econômica da biodiversidade brasileira está representada em inúmeros trabalhos de pesquisa, os quais têm demonstrado o quanto de riqueza presente e futura as áreas de conservação significam para a economia brasileira e como fator de informação estratégica para o Brasil. Assim, o valor econômico proporcionado pelas áreas conservadas/preservadas, assim como pelas áreas contíguas, está representado por diversas classes de valores. Os valores diretos estão relacionados aos diversos produtos dos ecossistemas que são transformados ou vendidos diretamente nos mercados de consumo. Os valores indiretos estão representados pelos esforços de pesquisa, os quais têm permitido transformar serviços ambientais em valores econômicos. Isso pode ser demonstrado pelos exemplos a seguir, cujo teor retrata o quanto de valor econômico a biodiversidade brasileira tem contribuído para a riqueza patrimonial brasileira. Em recente trabalho de investigação, a Câmara dos Deputados instituiu comissão parlamentar de inquérito com o objetivo de investigar o tráfico ilegal de animais e plantas silvestres da fauna e da flora brasileiras (SARNEY FILHO, 2002), com destaque para:

1. O tráfico de peixes ornamentais da Amazônia brasileira para a Colômbia, somente no ano de 2002, rendeu de divisas internacionais para aquele país a cifra de US$ 4 milhões, enquanto que o Brasil exportou no mesmo período apenas US$ 300 mil.

2. No que se refere aos recursos florestais, estima-se que 2.500 empresas atuam na Amazônia, as quais geram 600 mil empregos diretos e indiretos e um faturamento de US$ 2 bilhões por ano (sendo que 75% da produção total de

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madeira estão concentrados nos estados do Pará, Mato Grosso e Rondônia). Aproximadamente 30% da extração madeireira tem origem irregular.

3. Quanto às plantas medicinais, diversas sinalizações têm sido feitas no sentido de se resguardar o vasto potencial da floresta amazônica. Conforme Carlini (2002) (CPI da Câmara dos Deputados), o grupo de pesquisa sob a sua liderança já pesquisou 89 plantas da região amazônica. Os efeitos medicinais da Espinheira-Santa (Maytenus ilicifolia) foram comprovados, e “uma indústria farmacêutica genuinamente brasileira” tem produzido medicamento a partir dessa planta. Finalmente destacou o conteúdo de duas matérias veiculadas pela revista Isto É, “... a primeira sobre convênio feito entre a Universidade Paulista-UNIP, universidade privada, e um instituto americano, que já teria gerado a produção de 1.300 extratos de plantas brasileiras, e a segunda contendo declaração de que um pesquisador inglês aprendeu com o povo Wapixana, do Acre, a usar a erva Kunani como anticoncepcional e o Biribiri como anestésico e teria patenteado os princípios ativos fora do Brasil”.

4. O tráfico ilegal de animais da fauna brasileira revela números contabilizados pelo mercado informal. No mercado internacional, uma arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) vale US$ 60 mil, um mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia), US$ 20 mil e uma jaguatirica (Leopardus pardalis ou Felis pardalis), US$ 10 mil.

5. A biopirataria de animais com fins de pesquisa científica revela também que uma jararaca ilhoa (Bothrops insularis) vale US$ 20 mil no mercado internacional. Uma surucucu-pico-de-jaca (Lachesis muta) vale em torno de US$ 5 mil e haveria besouros cotados em até US$ 8 mil.

6. Um grama de veneno extraído da aranha marrom (Loxosceles intermedia) vale US$ 24 mil.

7. O comércio do tráfico de animais silvestres no Brasil movimenta em torno de US$ 1 bilhão por ano, perdendo posição apenas para o tráfico de drogas e armas. Sabe-se ainda que 90% do comércio de animais silvestres no Brasil são ilegais, e que apenas 10% dos animais que são capturados na natureza resistem às condições de trato e de transporte.

8. Para Lima (2000), o mercado mundial de fármacos, especialmente o de fitoterápicos (remédios obtidos diretamente de plantas), movimentou no mercado internacional cerca de US$ 30 bilhões (apud ENRÍQUEZ, 2001).

FONTE: <http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/5464/1/BRU_n2_principais_aspectos.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2019.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• A relação entre economia e meio ambiente é recente, por isso podemos dizer que é um conhecimento em construção.

• Assim como outros temas, a relação entre a economia e o meio ambiente passou por um processo evolutivo.

• O desenvolvimento econômico, embora muitas vezes visto como sinônimo de crescimento econômico, trata-se de um processo mais amplo que não envolve apenas variáveis econômicas.

RESUMO DO TÓPICO 3

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AUTOATIVIDADE

1 Explique o que é método da produção sacrificada.

2 A relação entre economia e meio ambiente é considerada muito nova. Entretanto, na década de 1970, começavam a surgir alguns cenários pessimistas para o futuro, considerando a preocupação com o meio ambiente. Um dos cenários mais pessimistas foi apresentado pelo Clube de Roma. Com relação ao documento apresentado pelo Clube de Roma, assinale a alternativa correta:

a) ( ) O documento “Limites do Crescimento” apresentava o cenário mais pessimista.

b) ( ) O documento “Crescer sem destruir” foi utilizado pelo Clube de Roma para apresentar um cenário pessimista.

c) ( ) O documento “Limites da produção industrial” apresentava um cenário pessimista.

d) ( ) O documento “Desenvolvimento já” era o documento que trazia um cenário pessimista.

3 Explique o que significa valorar o meio ambiente.

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