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André Felipe Salles CristofaroThomas Anderson Esch
G2 – Metodologia da Pesquisa
Pontifícia Universidade Católica – PUC-RIO
Professora: Leila Duarte
Rio de Janeiro
2014
Índice Sistemático
1 Introdução
Neste trabalho, objetivamos demonstrar o caminho percorrido pelo modelo
científico dominante desde o século XVI com a revolução científica até os dias de
hoje. Como base para o trabalho, foi utilizado o livro “um discurso sobre as ciências”
de Boaventura de Sousa Santos, um dos maiores autores da sociologia do direito.
O trabalho será iniciado mostrando o paradigma dominante, que evoluiu
desde o século XVI até o final do século XX, quando começa o seu declínio.
Trataremos de seus precursores, seus principais pensadores, seus modelos de
construção do conhecimento, ou seja, suas características fundamentais.
Como forma de especificar um pouco mais a noção deste paradigma
trataremos do positivismo jurídico, tomando por base o texto escrito por Leila
Menezes Duarte chamado “O positivismo jurídico e a ciência do direito”. Aqui ficara
clara a distinção entre jusnaturalismo e juspositivismo e entraremos mais a fundo
neste ultimo.
Posteriormente, voltaremos ao livro de Boaventura e entraremos na crise do
paradigma dominante. Apontaremos as teorias criadas pelo autor e as principais
rupturas no paradigma dominante. Aqui chamamos atenção para o fato de que o
conhecimento proporcionado por esse paradigma possibilitaram o conhecimento que
o impossibilitam.
Por fim, exibiremos a emergência de um novo paradigma. Um paradigma
ainda sem forma, entretanto, que podemos afirmar que nascerá. Neste tema
utilizaremos o texto “Pós positivismo ou neoconstitucionalismo?”- Também escrito
por Leila Menezes Duarte- para debater o direito neste novo paradigma. Aqui
entrarão as críticas ao modelo positivista e tratar-se-á do retorno ao direito natural
na proteção à dignidade humana nos artigos constitucionais.
Vivemos hoje num período, apontado por Boaventura de Sousa Santos, como
um período de transição. E portanto uma fase muito complexa de se entender.
Tentaremos, por meio deste trabalho, expor argumentos e visões de diferentes
pensadores sobre esses temas.
2 O paradigma dominante
Boaventura de Sousa Santos começa este tema chamando atenção para o
fato de que a forma de se pensar a ciência moderna se inicia na revolução científica
do século XVI e se desenvolve posteriormente apenas no domínio das ciências da
natureza, as ciências “exatas”. Este modelo passa a atingir as ciências sociais
apenas no século XIX.
A partir deste momento, passa a se permitir um conhecimento científico com
divergências internas, entretanto, radicalmente separado do conhecimento não
científico, abominado pelos cientistas deste paradigma, como o senso comum e os
estudos humanísticos (como se referiam ao estudo histórico; jurídico; teológico,
pejorativamente).
Este paradigma segue um viés totalitário, pois dispensa todo o conhecimento
obtido a partir de outras formas que não seguem seus princípios epistemológicos e
formas metodológicas. Este padrão admite, portanto, apenas uma forma de
conhecimento, o chamado conhecimento científico, desconfiando de todas as
experiências imediatas dos homens, afirmando serem ilusórias e fundantes do
conhecimento vulgar.
A compreensão sobre a natureza, neste modelo, é de como algo passivo,
com partes facilmente separadas e então relacionadas em formas de lei. O objetivo
desta relação entre as partes da natureza objetivam a ação, nas palavras de
Boaventura de Sousa Santos no livro “um discurso sobre as ciências” (2013, p. 25)
“visa conhecer a natureza para dominar e controlar”.
Um dos pensadores que deram início a esse paradigma foi Descartes, e
portanto, sob sua influência, neste modelo prioriza-se as ideias claras e distintas,
que seriam atingidas a partir da observação e experimentação. De modo a
possibilitar um conhecimento concreto, baseado nas ideias matemáticas. Estas
seriam a base da análise. A matemática é “não só o instrumento privilegiado de
análise, como também a lógica da investigação, como ainda o modelo de
representação da própria estrutura da matéria.”1
A partir do momento em que a matemática ganha essa posição central, duas
consequências surgem na ciência moderna. A primeira delas é a de que o
1 SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. 2010, p. 27
conhecimento passa a significar quantificação. Desta forma “o que não é
quantificável é cientificamente irrelevante”2.
Outra consequência é a de que o método científico se alicerça na redução da
complexidade da natureza. “Conhecer significa dividir e classificar para depois poder
determinar relações sistemáticas entre o que se separou”3
Nesta divisão entre os fatores naturais há o que se chama divisão primordial.
Esta é, justamente, a diferenciação entre condições iniciais e leis da natureza. Nas
primeiras se estabelecem as complicações, os acidentes. As leis da natureza são
mais simples, são regulares, o que possibilita a observação e a mensuração.
Esta distinção, entretanto, é completamente arbitrária, ou seja, não há sequer
um elemento real que as diferencie. Apesar disso, é o alicerce fundamental de toda
a ciência moderna.
As leis da ciência moderna se baseiam no conceito de causalidade.
Privilegiando o “como funciona” das coisas. Esta é uma grande diferença entre o
conhecimento científico, baseado no método e o senso comum. Neste, há um
conhecimento prático, já naquele há a distinção entre causa e intenção, expulsando-
se esta e deixando sobrevir apenas aquela.
Essa tentativa de exilio da intenção para se ter a “causa pura” acontece
devido à tentativa de prever as consequências e portanto, intervir nelas e altera-las.
Visto que, como já dito anteriormente, neste paradigma, o conhecimento tem como
objetivo a ação e a dominação da natureza, a manipulação do que existe.
Este conhecimento, que se fundamenta na criação de leis universais
presunção um mundo estável, no qual reine a ordem. Esta ideia funda a grande
hipótese deste paradigma, o chamado mecanicismo. O mecanicismo e a sua
fundamentação num mundo estável possibilitam a transformação do mundo real.
Com os avanços nos estudos da natureza, a racionalidade que imperava esta
área ultrapassou seus limites e atingiu os estudos da sociedade. Assim como os
cientistas naturais atingiram o conhecimento de leis científicas, seria possível, para
os cientistas sociais achar leis da sociedade.
Como um exemplo deste paradigma atingindo as ciências sociais pode-se
observar as ideias de Vico que acredita em leis que determinam o homem e as
2 SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. 2010, p. 28
3 Idem.
ações coletivas. Outro exemplo pode ser visto em Montesquieu, um dos precursores
da sociologia jurídica, que estabeleceu relações entre o ordenamento jurídico e as
leis da natureza.
A partir destes pensadores cria-se condições para o fortalecimento das
ciências sociais a partir do século XIX. Entretanto, o modelo dominante de estudo
das ciências sociais tomou por base o método de pesquisa deste paradigma. De
modo que faz um estudo mecanicista da sociedade, aplicando os mesmos
princípios que se aplicavam as ciências da natureza desde o século XVI.
Com menos força, existiu também um modelo que demandava um método
próprio para as ciências sociais. Que se baseava na distinção do ser humano e da
natureza.
As duas concepções são consideradas antagônicas. A primeira conceituada
como positivista, enquanto a segunda seria liberta desta forma de interpretação.
Entretanto, Boaventura discorda desta interpretação.
Ele mostra que a corrente “positivista”, que é também chamada de “física
social” entende que as ciências naturais tem métodos que podem ser aplicados
universalmente, sendo o único método válido. Por isso, os cientistas deste modelo,
como Durkheim, veem a necessidade de observar apenas as dimensões externas
dos fatos sociais, apenas a sua parte mensurável.
Esta vertente entende que há grandes obstáculos para as ciências sociais
atingirem as ciências da natureza em termos de evolução. Não obstante, estes
obstáculos não seriam intransponíveis, ou seja, seria possível ultrapassa-los.
Entre estes obstáculos está o fato de as ciências da sociedade não terem
teorias explicativas que possibilitem abstrair respostas do real para depois bota-las a
prova, controladamente. Além disso, essas ciências não podem criar leis universais,
uma vez que a sociedade é historicamente condicionada. Outro fato importante é o
de que “os fenómenos sociais são de natureza subjectiva e como tal não se deixam
captar pela objectividade do comportamento”4.
Nigel, ao tratar destes obstáculos mostra que eles são superáveis, mas essa
superação não é fácil, e por isso há um atraso das ciências sociais em relação as
ciências da natureza.
4 SANTOS, ob. cit, p. 36
A segunda vertente, a que busca um método próprio para as ciências sociais
considera que há, também obstáculos, entretanto, estes são indisponíveis. O
principal argumento usado por esta vertente é o de que a atividade humana é
extremamente subjetiva, de modo que não pode ser considerada objetivamente.
Portanto, por se tratar de ciências substancialmente diferentes é necessário que os
métodos de estudos sejam também diferentes. Neste caso métodos qualitativos, ao
invés dos métodos quantitativos usado para as ciências da natureza.
O autor entende que apesar de diferentes ambas as vertentes são do
paradigma moderno. Mesmo que a segunda evidencie uma crise deste paradigma.
Pode, pois concluir-se que ambas as concepções de ciência social a que
aludi pertencem ao paradigma da ciência moderna, ainda que a concepção
mencionada em segundo lugar represente, dentro deste paradigma, um
sinal de crise e contenha alguns dos componentes da transição para um
outro paradigma científico.5
3 O positivismo jurídico
O paradigma dominante muito se relaciona com o positivismo jurídico. Visto
que o positivismo é vertente que nasce na modernidade sob influência deste
paradigma.
A ideia de direito se divide em duas principais vertentes: o jusnaturalismo e o
juspositivismo. O primeiro acredita na justiça perfeita, um direito natural, intrínseco a
vida humana.
Na antiguidade, os “direitos naturais” derivavam da religião; Na idade média
advinha dos ensinamentos teológicos do cristianismo; e na modernidade derivavam
do uso da razão.
Com a implantação dos direitos naturais nos códigos modernos atingem seu
apogeu, entretanto, começam a partir dai o seu declínio, pois passam a ser direito
positivado. Segundo Norberto Bobbio, citado por Leila Duarte no texto O positivismo
jurídico e a ciência do direito, “Com a promulgação dos códigos, principalmente do
napoleônico, o jusnaturalismo exauria a sua função no momento mesmo em que
celebrava seu triunfo”.
5 SANTOS, ob. cit, 2010, p. 40
Na visão positivista o juiz seria considerado um mero boca da lei. Ou seja,
não seria responsável por interpretar a lei, mas apenas o aplicador da lei. Uma
atividade impessoal, totalmente submetido à vontade do legislador. O juiz seria
apenas um aplicador do silogismo jurídico, no qual a premissa maior seria a lei, a
menor o caso concreto e a conclusão seria a sentença.
O pensamento juspositivista se fundamenta na Escola da Exegese. Única
escola de direito na frança na época napoleônica, visto que defendia as ideias
positivistas, assim como Napoleão, que queria concentrar o poder e evitar o poder
dos juízes.
Kelsen, juspositivista, visa a elevação do direito ao patamar das ciências
naturais. Fundamenta sua crítica, como citado por Leila Duarte, no seguinte trecho.
A doutrina do Direito natural é caracterizada por um dualismo fundamental
entre Direito positivo e Direito natural. Acima do imperfeito Direito positivo
existe um perfeito — porque absolutamente justo — Direito natural; e o
Direito positivo é justificado apenas na medida em que corresponda ao
Direito natural. Nesse aspecto, o dualismo entre Direito positivo e Direito
natural, tão característico da doutrina do Direito natural, lembra o dualismo
metafísico da realidade e a ideia platônica6
Kelsen queria retirar do direito os juízos axiológicos, ou seja, valorativos.
Afirmava que os acontecimentos naturais eram baseados no principio da
causalidade, e que, portanto, os acontecimentos normativos deveriam ser baseados
no principio da imputação. A causalidade seria a relação de causa e efeito, no qual a
vontade humana não interfere, enquanto o principio da imputação é uma relação de
condição e consequência, que ocorre devido à vontade humana.
Quando criticado por tentar separar o direito da política, Kelsen diz que o que
deve ser separado da política é a ciência do direito, e não o direito em si. Até mesmo
porque este precisa da política para sua fundação e aplicação.
Entre os principais positivistas está Norberto Bobbio, este considerava direito
positivo aquele que deriva das leis impostas pelo Estado. Para superar as criticas
Bobbio separa o positivismo jurídico em duas teorias: Juspositivismo sentido estrito
e juspositivismo sentido amplo.
O autor considera correta a teoria em sentido amplo. Esta entendo o direito
como coação, comando imperativo. Diferenciando-se da teoria do juspositivismo em
6 KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do estado, 5. ed, São Paulo: Martins Fontes, 1997, p 12 e 17
sentido estrito tem “concepções de coerência e completude do ordenamento jurídico,
e de interpretação mecanicista do direito, rejeitadas pelo autor”7
Bobbio se dizia de uma linha moderada do juspositivismo em defesa às
criticas de ser um seguidor incondicional da lei, o que possibilitaria regimes
totalitários. O autor afirmava que, em sua origem, o juspositivismo era um obstáculo
ao totalitarismo pois o Estado de direito seria um Estado de legalidade.
4 A crise do paradigma dominante
O modelo científico previamente abordado, hoje, atravessa uma crise.
Quando isso, Boaventura de Sousa Santos mostra que essa crise é irreversível; que
vivemos em um período de transição; alguns sinais nos permitem especular sobre o
paradigma que emerge, mas sem certezas, apenas com a certeza de que um novo
paradigma está para nascer.
Muitas condições influenciaram essa crise. Condições teóricas e sociais. O
autor prefere dar mais atenção às condições teóricas, e mostra, primeiramente, que
esta evolução nas condições do conhecimento teórico só ocorreram devido ao
avanço que eles mesmo proporcionaram. Ou seja, “O aprofundamento dos pilares
permitiu ver a fragilidade dos pilares em que se funda”8.
A primeira grande cisão que houve no paradigma moderno foi resultado da
teoria da relatividade da simultaneidade de Einstein.
Einstein defronta-se com um círculo vicioso: a fim de determinar a
simultaneidade dos acontecimentos distantes é necessário conhecer a
velocidade; mas para medir a velocidade é necessário conhecer a
simultaneidade dos acontecimentos. (...) rompe com esse círculo ,
demonstrando que a simultaneidade de acontecimentos distantes não pode
ser verificada, pode tão-só ser definida9
A partir dessa teoria, o tempo e o espaço como entendidos por Newton
passam a não mais existir. Configurando assim o primeiro grande rombo no
paradigma moderno dominante.
7 DUARTE, Leila Menezes. O positivismo jurídico e a ciência do direito. Rio de Janeiro: PUC-Rio, p. 3 (texto digitado a).8 SANTOS, ob. cit., p. 419 ibidem p. 42
A segunda ruptura ocorreu devido às descobertas de Heisenberg e Bohr. Eles
perceberam, a partir do estudo da mecânica quântica, que não tem como estudar
um objeto sem que se altere ele.
No princípio da incerteza de Heisenberg: não se podem reduzir
simultaneamente os erros da medição da velocidade e da posição das
partículas; o que for feito para reduzir o erro de uma das medições aumenta
o erro da outra10
A partir desta teoria fica impossibilitada a hipótese do determinismo mecanicista.
Visto que prova que a distinção entre sujeito e objeto é mais complexa do que se
imaginava.
A terceira condição da crise do paradigma ocorreu devido à teoria de Gödel, o
teorema da incompletude e o teorema sobre a impossibilidade. Os quais provam se
possível criar, matematicamente, proposições indecidíveis, inclusive o que
pressupõe o caráter não-contraditório do sistema matemático. Desta forma Gödel
demonstra que a matemática pode ser contestada, e o seu rigor carece de
fundamento. O que faz todas as medições matemáticas carecerem também de
fundamento. O que acaba com os alicerces que fundam o paradigma moderno.
Esta crise do paradigma dominante causa uma profunda reflexão
epistemológica no que se refere ao conhecimento criado pela ciência e as formas de
forma-lo. Esta reflexão é levada de forma mais crítica pelos próprios cientistas.
Aqui vale ressaltar que ao sair do século XIX, os cientistas tinham aversão à
reflexão filosófica, a partir do meados do século XX há praticamente uma
necessidade de se adicionar ao conhecimento adquirido cientificamente um
conhecimento sobre o próprio conhecer.
Outro ponto importante desta reflexão é que os cientistas passaram a
considerar, agora, questões que antes eram apenas sociológicas. A análise desses
aspectos “sociológicos” passaram a integrar de forma importante a reflexão
epistemológica.
A partir desta reflexão passa-se a questionar os conceitos de lei e de
causalidade. As leis, portanto, passam a ser entendidas apenas com um caráter
probabilístico, aproximativo, incerto. A noção de lei vai então, aos poucos se
aproximando da noção de processo.
10 SANTOS, ob. cit, p. 44.
O principio da causalidade passa a ser também questionado, mas entende-se
que para um desenvolvimento que visa a intervenção na natureza, este princípio tem
extremo valor. O princípio da causalidade “é apenas uma das formas do
determinismo e que por isso tem um lugar limitado, ainda que insubstituível, no
conhecimento científico.”11
Esta crise do paradigma moderno, como já dito anteriormente, se explica
também por condições sociais. Que passam a gerar desinteresse no conhecimento
científico, uma vez que o fenômeno da industrialização da ciência quebrou a ideia de
o cientista como um trabalhador espontâneo. A industrialização da ciência criou o
compromisso desta com os poderes econômicos, sociais, políticos, da sociedade.
De modo que estes passaram a definir o interesse científico.
Tragédias na história da humanidade criaram uma certa descrença em
relação à ciência e, portanto, ao paradigma dominante. A título de exemplo vale
ressaltar as bombas de Hiroshima e Nagasaki e o perigo de uma guerra nuclear.
A crise no paradigma moderno inicia a formação de um novo paradigma, o
paradigma emergente, que ainda não se sabe ao certo como será, apenas que será
diferente do modelo atual.
5 O Paradigma Emergente
11 SANTOS, ob cit, p. 53
O Paradigma Emergente, que se mostra no horizonte, apenas pode se prever
de maneira especulativa, fundada na crise do paradigma dominante, mas nunca por
ele determinada. No entanto, ao se falar de futuro, mesmo que já se possa senti-lo
percorrendo, este será sempre fruto da imaginação. Há no momento, diferentes
sínteses, vindas de cada autor (como Prigogine e Capra). O autor Boaventura
refere-se ao “paradigma de um conhecimento prudente para uma vida decente”12,
referindo-se ao fato da natureza da revolução científica que enfrentamos ser
diferente da do século XVI. Portanto, para que essa revolução ocorra em uma
sociedade revolucionada pela ciência, não basta que seja um paradigma científico
(prudente), mas também social (decente).
Para explicar como se dá essa fase de transição do paradigma dominante,
em conjunto com sua crise, para o paradigma emergente, caracterizando-o, o autor
utiliza quatro teses e às justifica.
a) Todo conhecimento científico-natural é científico-social
A primeira delas é a de que “todo conhecimento científico-natural é científico-
social”13. Nela, entende-se que a distinção dicotômica entre ciências naturais e
sociais deixou de ter sentido e tornou-se inútil. Essa distinção mecanicista da
matéria e da natureza, se contrapõe aos conceitos de ser humano, cultura e
sociedade e avanço nas ciências mostra essa diferença entre o humano e o não
humano.
As teorias apresentadas por Boaventura, introduzem na matéria, os conceitos
de historicidade e progresso, de liberdade auto-determinação e até de consciência
que antes o homem e a mulher tinham reservado para si. “E ao se lançarem na
aventura de conhecer os objetos e ao chegar, se viram refletidos no espelho”14
Nos anos 60, Eugene Wigner, a partir da mecânica quântica, acreditava que a
distinção corpo e alma não teria mais sentido e que a física e a psicologia passariam
a ser somente uma ciência. Porém, hoje em dia se vai muito além da quântica, que
introduziu a consciência no ato do conhecimento, atualmente temos que introduzi-la
no objeto do conhecimento, transformando a distinção sujeito/objeto.
12 SANTOS, ob cit, p. 6013 Ibidem, p. 6114 Ibidem, p. 62
Baetson diz que começamos a reconhecer uma dimensão psíquica na
natureza, onde a mente humana é apenas uma parte do sistema social global e da
ecologia planetária. Já Geoffrey entende que a consciência humana é necessária
para a autoconsistência da natureza, fazendo assim com que as próximas ciências
devam estudar essa consciência. Jung diz haver um “inconsciente coletivo”15 e, é
complementado por Capra, que afirma ocorrer uma ideia de sincronicidade para
explicar a relação entre realidade interior e exterior, que foram confirmadas pela
física. Semelhante a essa sincronia, as interações locais são instantâneas, não
matematizáveis, nem produzidas por causas locais. O autor acredita que as teorias
de Jung seriam uma resposta ao pensamento mecanicista de Freud, e Baetson diz a
respeito que “enquanto Freud ampliou o conceito de mente para dentro (...) é
necessário agora ampliá-lo para fora”.16
Já a teoria da ordem implicada, de David Bohm, constitui uma base entre as
teorias quânticas e da relatividade, mostrando que consciência e matéria dependem
uma da outra, sem nexo de causalidade.
Através das teorias desses diferentes estudiosos, acima citados, percebe-se
que o paradigma que emerge tende a possuir um conhecimento não dualista,
baseado “na superação das distinções tão familiares e óbvias que até pouco
considerávamos insubstituíveis”17, como a distinção natureza/cultura. Esse colapso
das distinções refletiu nas ciências que sobre elas se fundaram e tiveram até que se
fragmentar para a elas se adequarem. Portanto, numa mudança de paradigmas, se
mostra importante “do ponto de vista epistemológico, observar o que se passa
nessas ciências”18.
No entanto, não é suficiente que se aponte a tendência para as distinções
entre as ciências, deve-se entender o sentido e o conteúdo dessa superação e o
parâmetro usado para essa distinção pois vive-se em tempos difíceis, onde o novo
paradigma repercute de maneira desigual e ambígua, no paradigma atual.
Alguns entendem que a superação da dicotomia baseia-se nas ciências
naturais, porém, contra isso, pode-se dizer que sua visão de futuro é a mesma uqe
as do paradigma dominante que “só vê do futuro aquilo em que ele repete o
15 SANTOS, ob cit, p. 6416 Idem.17 Idem18 Ibidem, p. 65
presente”19. Porém, observando os atuais estudos sobre a matéria, verifica-se que a
emergente inteligibilidade da natureza baseia-se profundamente nas ciências
sociais. Um exemplo disso, são as teorias de Prigogine e Haken, que explicam o
comportamento das partículas com base em estudos sociais, além de muitos outros
conceitos que “atribuem à natureza um comportamento humano”20. Outro exemplo
de que as ciências naturais estão cada vez mais presentes na questão social,
mostra-se pelo fato das teorias físico-naturais se aplicarem cada vez mais no
domínio social, após serem formuladas. Mostra-se, portanto, que a teoria de
Durkheim se inverte e “em vez de serem os fenômenos sócias a ser estudados
como se fossem fenômenos naturais, serem os fenômenos naturais a serem
estudados como se fossem fenômenos sociais”21.
No entanto, o fato dessa superação de dicotomia ter ocorrido com base nas
ciências sociais, não se mostra suficiente para explicar o conhecimento no
paradigma que vem emergindo, pois isso pode parecer fantasioso, visto que as
ciências, no século XIX, basearam-se no racionalismo natural. Para isso, Boaventura
explica que a constituição das ciências sociais se deu em duas vertentes, “uma mais
diretamente vinculada à epistemologia e a metodologia positivistas das ciências
naturais”22e outra voltada para a questão filosófica, antipositivista e social, mas que
pressuponha o lado mecanicista da natureza.Sendo essa segunda, “indicativa de ser
ela o modelo de ciências sociais que, numa época de revolução científica, transporta
a marca pós-moderna do paradigma emergente.”23
É um modelo de transição que tende mais ao futuro do que ao passado, que
mostra o ser humano em contraposição a uma concepção de natureza. Para isso,
quanto mais as ciências naturais se aproximam das ciências sociais, mais elas
tendem a humanidade.
No entanto, segundo o paradigma dominante, os obstáculos citados por
Boaventura para a cientificidade das ciências sociais, seriam na verdade
responsáveis pelo atraso dessas ciências em relação as ciências naturais. Mas o
autor mostra que o avanço nas ciências naturais e sua reflexão epistemológica
19 SANTOS, ob cit, p. 6620 Ibidem, p. 6721 Ibidem, p. 6822 Idem23 Ibidem, p. 69
apresentam os obstáculos ao conhecimento científico social, sendo questões gerais
do conhecimento, em ambas as ciências. Portanto, “o que antes era causa do maior
atraso das ciências sociais, é hoje o resultado do maior avanço das ciências
naturais”.24
A superação da dicotomia, tende a revalorizar os estudos humanísticos, mas
isso depende de uma transformação na sociedade como um todo.
Boaventura cita “ghetto” a que as sociedades s submetem, se defendendo
das ciências sociais, se virando a favor do mecanicismo e tendo como
consequência, o esvaziamento de muitas ciências. O paradigma emergente visa
“recuperar esse núcleo genuíno e pô-lo ao serviço de uma reflexão global sobre o
mundo”25
É preciso descobrir maneiras de acabar com as dicotomias criadas pelo
paradigma dominante. “O mundo, que hoje é natural ou social e amanhã será
ambos”26. A ciência pós-moderna, também através de analogias entre ambas as
ciências (naturais e sociais), busca promover a “situação comunicativa”27às mesmas.
b) Todo conhecimento é local e total
Boaventura inicia sua segunda tese afirmando que “na ciência moderna o
conhecimento avança pela especialização. O conhecimento é tanto mais rigoroso
quanto mais restrito é o objeto sobre que incide”.28 Isso mostra o rigor e disciplina do
paradigma dominante, o que não permite a diluição das fronteiras entre as
disciplinas.
Hoje, esse rigor apenas mostra o quanto um cientista do paradigma
dominante se mostrava ignorante especializado, principalmente na ciência aplicada,
tendo como reflexo, o fato das disciplinas atualmente, serem capazes de remover
barreiras dessa dicotomia, corrigindo sua antiga maneira de pensar, como o direito,
“que reduziu a complexidade da vida jurídica à secura dogmática, redescobre o
mundo filosófico e sociológico em busca da prudência perdida”29.
24 SANTOS, ob cit, p. 7025 Ibidem, p. 7126 Ibidem, p, 7227 Ibidem, p. 7328 Ibidem, p. 73-7429 SANTOS, ob cit, p. 74
Porém, o vício do paradigma dominante se mostrou tão forte que as formas
de corrigir essa parcelização acabaram por ele afetadas e tem-se criado novas
disciplinas para resolver os problemas das antigas, o que também se mostra
problemático.
Nessa segunda tese, Boaventura mostra que o conhecimento é total, como
dizia Wigner e Bohm, mas também local, no sentido de que é usado de maneiras
específicas em determinadas sociedades, em busca de melhorias. “Os
conhecimentos progridem ao encontro uns dos outros”30 e avançam, conforme seu
objeto cresce, buscando novos e variados objetos, buscando o engrandecimento
desse conhecimento. Mas essa é uma via de mão dupla, onde o conhecimento total
é locas e este, por sua vez reconstitui seus projetos, e “transforma-os em
pensamento total ilustrado”31.
O paradigma emergente, além de ter uma ciência analógica, tem também
uma ciência tradutora, pois os conceitos locais migram, sendo utilizados de outras
diversas maneiras.
Este conhecimento se revela nas condições de possibilidade, com pluralidade
metodológica, que consiste em conduzir os métodos para fora de seu âmbito normal
de atuação, somente possível numa fase de transgressão metodológica.
A ciência pós-moderna possui um estilo unidimensional, mas sim voltado para
o critério e a imaginação do cientista, onde, na atual fase de transição, já é possível
analisar essa configuração e fusão dos estilos na ciência, havendo uma maior
presença de personalização do trabalho científico.
c) Todo conhecimento é autoconhecimento
O autor inicia sua terceira tese, dizendo que no paradigma dominante, não
havia sujeito empírico, homem não deveria interferir na ciência com seus valores
humanos ou religiosos. Assim se criou a distinção sujeito/objeto, que nunca foi tão
pacífica nas ciências sociais quanto nas naturais, o que caracteriza esse atraso da
primeira. Deve haver distância empírica entre o sujeito e objeto, o que pode se
perceber de maneira expressiva em disciplinas como a antropologia e quase
30 Ibidem, p. 7631 Ibidem, p. 77
invisível na sociologia. No entanto, a partir de um certo período, esse método usado
por ambas as disciplinas, acaba se modificando ao longo dos anos.
O avanço das ciências mostrou que o “ato de conhecimento e o produto de
conhecimento eram inseparáveis”32 e restituíram a natureza, mostrando que o
desenvolvimento tecnológico nos tinha separado da mesma e que sua exploração
fora o veículo da nossa exploração.
A distinção sujeito/objeto, incomodava não só as ciências sociais, mas
também as naturais a partir daquele momento, fazendo com que a união de ambas
se tornasse necessária e ressurgisse também a figura de Deus, não em sentido
divino, mas harmonioso.
“O objeto é a continuação do sujeito por outros meios”33. Todo conhecimento
é autoconhecimento pois os pressupostos de cada disciplina não vêm antes ou
depois de sua explicação científica, mas em conjunto.
Não há estudos que apontam a ciência moderna como a que melhor explica a
realidade, não há nada de científico na razão de privilegiarmos uma forma de
conhecimento hoje em dia, considerando que a ciência se autojustifica, é
autobiográfica.
Ao se firmar, a ciência moderna naturalizou o real, não se podendo conceber
nada que não fosse por ela proposto e onde valores, crenças e prejuízos não se
encaixavam. Hoje, em um período de transição, sabe-se que estes formam nosso
conhecimento, por onde os trabalhos científicos se baseiam, mas de maneira
clandestina, sem os dizer.
Já no paradigma emergente “o caráter auto-biográfico e auto-referenciável da
ciência é plenamente assumido”34. Os legados da ciência moderna nos mostraram
que deve-se pensar como saber viver, sendo fundamental um conhecimento que
nos una pessoalmente ao que estudamos. O conhecimento incerto, que antes se
mostrava como falho, mostra-se agora como a chave do entendimento. “A ciência do
paradigma emergente é mais contemplativa do que ativa”35. O conhecimento mostra-
se muito mais útil como forma de satisfação pessoal, do que como funcionamento do
mundo.
32 SANTOS, ob cit, p. 8233 Ibidem, p. 8334 Ibidem, p. 8535 Ibidem, p. 86
O paradigma emergente se assemelha a criação artística, pois mostra a
transformação de real, a contemplação do resultado, e a crítica literária, que mostra
a relação sujeito/objeto semelhante a do paradigma.
“O conhecimento científico ensina a viver e traduz-se num saber prático.”36
d) Todo o conhecimento científico visa constituir-se em senso comum
Para justificar sua última tese, autor começa explicando que a ciência
moderna ensina pouco sobre nossa maneira de estar no mundo, produzindo
conhecimentos e desconhecimentos. “Se faz do cientista um ignorante especializado
faz do cidadão comum um ignorante generalizado.”37
Já a ciência moderna sabe que nenhuma forma de conhecimento é racional,
apenas s configuração de todas elas, por isso, tenta-se utilizar outras formas de
conhecimento, como o senso comum. Enquanto a ciência moderna o extinguiu, por
considerá-lo falso, a pós-moderna reabilitou o senso comum, buscando uma melhor
relação com o mundo, por essa forma de conhecimento possuir uma dimensão
libertadora.
Boaventura apresenta uma série de características positivas que mostram o
porquê do senso comum ser fundamental em sua relação com a ciência. “(...) é
transparente e evidente; desconfia da opacidade dos objetivos tecnológicos e dos
esoterismo do conhecimento (...)”38
Sozinho, o senso comum é conservador, mas interpretado pelo conhecimento
científico, pode gerar uma nova racionalidade. É necessário no entanto, que se
inverta a ruptura epistemológica que na ciência moderna significava o salto do senco
comum para o conhecimento científico, e na ciência pós-moderna, significa o
contrário.
“ A ciência pós moderna, ao sensocomunizar-se, não despreza o
conhecimento que produz tecnologia, mas entende que tal como o conhecimento se
deve traduzir em autoconhecimento, o desenvolvimento tecnológico deve traduzir-se
em sabedoria de vida.” 39
36 SANTOS, ob cit, p. 8737 Ibidem, p. 8838 Ibidem, p. 8939 SANTOS, ob cit, p. 91
Para Boaventura, a segurança controlada se mostra pela prudência e é esta
insegurança que, na fase de transição, resulta do fato “de a nossa reflexão
epistemológica ser muito mais avançada e sofisticada que a nossa prática
científica”40.
Não é possível perceber , nesse momento, os projetos do paradigma
emergente, pois estamos numa fase de transição, onde duvidamos muito do
passado e não se imagina o futuro. Porém vive-se muito o presente, podendo
realizar nele o futuro.
6 O Neoconstitucionalismo
40 Idem 92
Leila Duarte inicia o texto “Neoconstitucionalismo”, dividindo-o em quatro partes,
onde, na primeira, apresenta o contexto histórico em que se deu a quebra do
paradigma dominante do Direito, na época, o positivismo jurídico, quando a
neutralidade foi posta em jogo no julgamento de Nuremberg. Estavam todos
extremamente assustados com as atrocidades aos direitos humanos,
proporcionadas por essa leitura das normas típica do constitucionalismo liberal.
Surgem então diversos pensadores criticando o paradigma, como Radbruch,
que diz que “uma lei injusta não pertence ao direito e que é impossível identificar o
direito com a lei, pois há princípios que, mesmo não sendo objeto de legislação
expressa, impõem-se a todos aqueles para quem o direito é a expressão não só da
vontade do legislador, mas dos valores que este tem por missão promover, dentre
os quais figura em primeiro plano a justiça”.41
O novo constitucionalismo veio principalmente com a promulgação da Lei
Fundamental para a República Federal da Alemanha, que estabeleceu parâmetros
para a “democracia liberal, do estado de direito social e do estado federal, em
especial, todavia, dos direitos fundamentais, em ampliação e consolidação, [que]
ganharam configuração concreta e lançaram raízes”.42 A Lei estabeleceu também a
inviolabilidade da dignidade da pessoa humana e de seus direitos fundamentais.
Após nos situar na história, a autora começa a analisar o pós-positivismo,
definindo-o como um movimento que buscava recuperar o direito natural.
Apresentou duas tradições presentes, a das ‘“utopias sociais”, e a do direito natural,
que buscavam respectivamente, a felicidade e a dignidade humana. Mostrando
ainda que as primeiras faziam desaparecer os oprimidos e os explorados, e a
segunda construía relações sem humilhados.
O pós-positivismo declarava que toda lei deveria declarar a igualdade, para
ser considerada direito, atribuindo valores à disciplina. Perelman afirmou que a
justiça não era um valor absoluto, propondo a argumentação dialética como solução
para o problema, de modo a estabelecer acordo sobre os valores. Na época houve
um forte debate no campo jurídico, pois alguns ainda defendiam veementemente o
positivismo.
41 DUARTE, Leila Menezes. Pós-Positivismo ou Neoconstitucionalismo(s). Rio de Janeiro: PUC-Rio, (texto digitado b).42 Idem
“A não identificação do direito somente à lei, chegaram até o Tribunal
Constitucional Federal da Alemanha (...). A primeira, de 1968, tornava um decreto
com motivações racistas, de 1942, nulo ab initio (...). Uma segunda decisão, de
1973, apreciava um acórdão do Supremo Tribunal de Justiça que decidia contra
legem, evidenciando a admissibilidade de atuação criativa da magistratura pelo
Tribunal Constitucional Alemão”.43
Hoje em dia pode-se falar do(s) neoconstitucionalismo(s), com possibilidade
de plural por não ser unitário ou homogêneo. Em prol de seu desenvolvimento
tivemos o Estado constitucional de Direito, que reconhece a plena força normativa
da Constituição, materializando princípios e direitos fundamentais.
Ara Pinilla caracterizou o movimento como a “desfiguração da contraposição
entre jusnaturalismo e juspositivismo”, porém outros como Suzana Pozzolo o
entendem como “leitura estritamente antipositivista” entre outras definições.
“O neoconstitucionalismo tenta construir uma oposição teórica ao positivismo
jurídico e uma crítica ao constitucionalismo liberal, sem voltar a ser,
necessariamente, uma recuperação pura do jusnaturalismo”.44
Procura garantir pluralidade e complexidade às interpretações desse novo
paradigma jusfilosófico, ora se aproximando do positivismo, ora se filiando ao
jusnaturalismo.
Paolo Comanducci defende que o constitucionalismo moderno “é
fundamentalmente uma ideologia, dirigida à limitação do poder e à defesa de uma
esfera de liberdades naturais, ou de direitos fundamentais. Não é, contudo, relevante
como teoria do Direito”.45 Já o neoconstitucionalismo, não se apresenta apenas
como ideologia, e uma correlativa metodologia, mas também como uma teoria
concorrente com a positivista.
As características marcantes do neoconstitucionalismo são: uma Constituição
que positiva direitos fundamentais, repleta de princípios e regras versando sobre
praticamente a totalidade da vida cotidiana e peculiaridades em relação à
interpretação e aplicação da norma.
43 DUARTE, ob. cit.44 Idem45 Idem
Há, por fim, os valores do neoconstitucionalismo. Existe um forte
“imperialismo da moral”46 no neoconstitucionalismo, negando a separação entre
Direito e moral através de um modelo axiológico-normativo.
São evidenciados novos papéis dos princípios, como sua eficácia normativa e
sua otimização e realização na maior medida do possível. Susana Pozzolo afirma
ainda que a constitucionalização desses princípios se deu através de expressões
vagas, elásticas, imprecisas sem positivarem também sua concepção se fazendo
necessária uma posição moral para sua aplicação.
Alexy afirma haver uma relação de equivalência entre princípios e valores em
relação ao seus usos no campo jurídico.
Miguel Carbonell evidencia ainda que a hermenêutica mostra-se essencial
nesse novo paradigma, tirando a subsunção de uso e substituindo-a pela
ponderação, proporcionalidade, razoabilidade e maximização dos efeitos normativos
dos direitos fundamentais, dentre outras.47 E Alfonso Figueroa considera a
recuperação da moral para o direito como um retorno a sua dimensão ideal.
O neoconstitucionalismo trouxe consequências tanto teóricas quanto políticas.
A primeira sendo a efetivação dos direitos fundamentais constitucionais
(concretização da lei como forma de democratização do direito) e a segunda a
democratização do constitucionalismo recompondo a chamada fratura entre
democracia e constitucionalismo (Santiado Ariza).
Segundo Luigi Ferrajoli, sob o Estado Constitucional de Direito, o
ordenamento jurídico é concebido em sentido estrito, forte ou substancial, isto é, os
poderes públicos estão sujeitos à lei não só relativamente à forma, mas também ao
conteúdo.48
7 Conclusão46 DUARTE, ob. cit.47 Idem48 Idem
O período de transição analisado por Boaventura é de extrema importância
para o âmbito das ciências. A simplicidade é o elemento essencial para a
compreensão de um momento complexo e ambíguo como esse. O caminho traçado
pelo autor segue a linha de raciocínio de Rousseau, que acredita na necessidade de
formular perguntas simples para compreender as questões mais complexas da
sociedade.
O caminho para se obter uma dimensão mais próxima possível ao real é a
conciliação de diversas áreas das ciências atuais, a interdisciplinaridade e a
transdisciplinaridade. O conhecimento científico não existe distante da realidade, ele
está ligado ao próprio senso comum. É a partir do senso comum que os
conhecimentos são formados.
8 Bibliografia
SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. São Paulo: Cortez, 2010
DUARTE, Leila Menezes. O positivismo jurídico e a ciência do direito. Rio de Janeiro: PUC-Rio (texto digitado a)
DUARTE, Leila Menezes. Pós-Positivismo ou Neoconstitucionalismo(s). Rio de Janeiro: PUC-Rio (texto digitado b)