mecanismos de defesa

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Page 1: Mecanismos de Defesa

PROFª DENISE FERREIRA

MECANISMOS DE DEFESA

Na estrutura psíquica, o ego surge em resposta às frustrações e exigências que o mundo externo impõe ao organismo . À medida que se desenvolve, aprende a obedecer o princípio da realidade, enquanto que o id persiste seguindo o princípio do prazer. Obviamente,então, haverá conflito entre o ego e o id. O superego incorporou-se ao ego como um controle automático devido às exigências impostas pelo meio. Entretanto, o próprio meio pode ser fonte de tentações para os impulsos do id e haverá então um conflito entre o ego e o superego.

Em vista disto, desenvolvem-se os mecanismos de defesa destinados a proteger a pessoa contra impulsos ou afetos que possam ocasionar aqueles conflitos, os quais são fontes de angustia. A angustia é a reação do ego diante da percepção inconsciente de qualquer ameaça`a sua integridade e se traduz por sintomas e sinais equivalentes a uma reação intensa de medo, porém sem objeto aparente. As ameaças podem provir da própria natureza e intensidade do impulso, do sentimento de culpa frente ao superego se houver satisfação do impulso,do sentimento de inferioridade se o impulso não for satisfeito e do receio da crítica social se o indivíduo não rejeitar as próprias tendências.

Os mecanismos de defesa têm funções protetoras e alguns deles são empregados por todos, na vida cotidiana, para conseguir a estabilidade emocional. Podem ser usados para auxiliar na integração da personalidade, apoiando-a na adaptação ao meio e nas relações interpessoais. Entretanto, seu uso pode ser feito de forma inadequada ou mesmo destrutiva, tornando-os em si mesmos, ameaças para o bom funcionamento do ego, levando ao aparecimento de distúrbios psicológicos.

A literatura refere mais de trinta mecanismos de defesa, na sua grande maioria inconscientes. A seguir serão considerados os principais:

Compensação – É um mecanismo de defesa pelo qual o indivíduo, inconscientemente, procura compensar uma deficiência real ou imaginária. Exemplo: Um homem com um defeito físico pelo qual sente-se inferiorizado perante aos demais, despende grande esforço para desenvolver sua capacidade intelectual e chega a ser uma pessoa famosa. Não tem consciência de que o prestígio alcançado teve como motivação seus sentimentos de inferioridade.

Deslocamento – Através deste mecanismo, um impulso ou sentimento é inconscientemente deslocado de um objeto original para um objeto substituto. O deslocamento é um dos mecanismos fundamentais da neurose conhecida como fobia e o exemplo clássico é o pequeno Hans, tratado por Freud. O menino não podendo aceitar conscientemente a intolerável idéia de odiar seu querido pai, procurou resolver o conflito entre amor e ódio, deslocando os sentimentos negativos para os cavalos. Os impulsos agressivos e os temores de respostas de morte, originalmente dirigidas ao pai, passaram para aqueles animais. Por isso Hans os temia, a ponto de não mais sair de casa para não vir a encontrá-los.

Através do deslocamento o indivíduo é protegido do sofrimento que resultaria da consciência da real origem de um problema. Seus efeitos podem vir a tona, mas o motivo original é disfarçado.

Fantasia – É um conjunto de idéias ou imagens mentais que procuram resolver os conflitos intrapsíquicos, através da satisfação imaginária dos impulsos. As fantasias

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conscientes, muito comuns na adolescência são também chamadas de sonhos diurnos. Em qualquer pessoa, as fantasias podem atuar como um saudável mecanismo de adaptação à realidade externa sempre que a obtenção de determinados desejos são impossíveis de satisfação imediata. Por exemplo, um estudante que sente seus professores demasiadamente austeros e exigentes, imagina-se como um futuro professor que tem para com seus alunos atitudes indulgentes e compreensivas. As fantasias podem ser inconscientes, formadas no próprio inconsciente ou terem sido conscientes e depois recalcadas. Por exemplo, fantasias a respeito do nascimento ou de relações incestuosas em geral são inconscientes. Sabemos delas por suas manifestações indiretas nos sonhos, nos jogos infantis, nas obras artísticas etc. a fantasia reveste-se de um caráter patológico quando tendo a impedir continuamente a resolução dos conflitos, a satisfação real dos impulsos vitais e o contato com a realidade.

Formação Reativa – Mecanismo inconsciente pelo qual atitudes, desejos e sentimentos, desenvolvidos pelo ego são a antítese do que é realmente almejado pelos impulsos. Assim, uma atitude de extrema solicitude para com os outros pode estar escondendo sentimentos inconscientes de hostilidade ou, então, uma pessoa ativa e batalhadora poderá inconscientemente ter desejos de passividade e submissão. Na formação reativa, o impulso inconsciente, em geral, consegue uma indireta satisfação. O exemplo clássico é o da mãe superprotetora que acumula seu filho de cuidados e benevolências, mas que o rejeita inconscientemente. Sua superproteção poderá satisfazer os impulsos hostis inconscientes, porque, pelos excessivos cuidados, limitará a liberdade e o desenvolvimento da criança.

Introjeção – Com fins didáticos, chamaremos de introjeção a todos os tipos de identificação onde o indivíduo, inconscientemente, procura igualar-se a outro, transferindo para si mesmo vários elementos de sua personalidade. Como mecanismo de defesa, a introjeção pode ser definida como um processo inconsciente pelo qual objetos externos positivos ou negativos são internalizados. A introjeção é o inverso da projeção. Ambos os mecanismos são importantes na formação da personalidade. O exagero ou inadequação de seu uso pode, entretanto, torna-los patogênicos. Um exemplo de introjeção normal é o do menino que se identifica com as atitudes e idéias do seu pai, procurando desenvolver padrões apropriados de comportamento masculino.

Negação – É um dos mais simples e primitivos mecanismos de defesa. Consiste no bloqueio de certas percepções do mundo externo, ou seja, o indivíduo frente a determinadas situações intoleráveis da realidade externa, inconscientemente nega sua existência para proteger-se do sofrimento. Exemplo, uma mãe que dedicou praticamente toda sua vida a uma filha única, ao “ perde-la” quando esta se casou, continuou a fazer sua cama todas as manhãs e a colocar o seu prato na mesa, como se ela nunca tivesse saído de casa.

Projeção – É o processo mental pelo qual atributos da própria pessoa, não aceitos conscientemente, são imputados a outrem, sem levar em conta os dados da realidade. Exemplo: Um homem, não podendo conscientemente aceitar seus fortes sentimentos hostis em relação a um superior de quem depende, considera que este o persegue e maltrata, embora isto não corresponda às atitudes reais do referido superior.

Racionalização – È uma tentativa de explicação consciente visando justificar manifestações de impulsos ou afetos inconscientes e não aceitos pelo ego. Por exemplo, uma atitude agressiva em relação a um semelhante, pode ser justificada pelo agressor como defesa a uma provocação. O que o indivíduo não percebe são seus sentimentos de hostilidade para as pessoas, independente de provocações. Quando esses sentimentos são expressos, procura explicá-los usando de argumentos aparentemente lógicos.

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Repressão ou Recalque – É o processo automático que mantém fora da consciência, impulsos, idéias ou sentimentos inaceitáveis, os quais não podem tornar-se conscientes através da evocação voluntária. A repressão é o mais importante dos mecanismos de defesa do ego e é utilizado desde os primeiros anos de vida para protege-lo da angústia originada dos conflitos psíquicos. É um mecanismo de defesa básico e precede a maioria dos outros, os quais, em geral, funcionam como reforços ou adjuntos, quando a repressão é incompleta. Descrevem-se duas formas de repressão. Uma primária, consistindo na perpetuação no inconsciente de material que nunca foi consciente, como os impulsos não organizados do id e as primitivas experiências infantis, por exemplo, o próprio nascimento. A outra, secundária, consiste na automática expulsão da consciência, de conteúdos do ego, que não podem ser conservados dentro dos limites do pré-consciente sem serem uma ameaça para a integridade daquele. Esta forma é considerada a mais importante e o seguinte exemplo a ilustra: Duas senhoras da sociedade eram bastante amigas e costumavam até trabalhar juntas em campanhas filantrópicas. Posteriormente as circunstâncias fizeram com que tomassem rumos diferentes: uma delas por problemas financeiros precisou mudar-se de cidade. Doía anos mais tarde, reencontraram-se numa festa e foram apresentadas, uma a outra, por um amigo comum que não sabia de seu prévio relacionamento. Enquanto a primeira senhora mostrou-se bastante alegre pelo encontro, a segunda não a reconheceu por mais esforço que fizesse. Percebendo que algo estava errado, procurou não dar mostras de seu comportamento e respondeu a outra no mesmo tom. Entretanto o fato preocupou-a muito. Uma posterior análise, trouxe-lhe à consciência que sentira no passado muita raiva da companheira por sua melhor sorte. Assim, para evitar reviver aqueles desagradáveis sentimentos, “ esqueceu-se” inclusive do seu objeto causador.

As vezes, a repressão é confundida com outro mecanismo de defesa denominado supressão. Os dois levam ao “ esquecimento”, mas a diferença é que, na supressão, há um esforço consciente para desviar a atenção de indesejáveis idéias, objetos ou sentimentos. Assim, ocupando-se com outras atividades, uma pessoa pode “ esquecer-se”, durante o dia, da consulta que fará ao dentista no fim da tarde.

Sublimação – É o processo pelo qual um impulso é modificado de forma a ser expresso de conformidade com as demandas do meio. Este processo inconsciente é considerado sempre como uma função do ego normal. Neste sentido, não é propriamente um mecanismo de defesa pois não impõe nenhum trabalho defensivo ao ego. Quer dizer, não é necessário um controle sobre o impulso, pois este apresenta-se modificado de tal forma que pode ser satisfeito sem proibições. O ego, na sublimação, ajuda o id a obter expressão externa, o que não ocorre quando usa outros mecanismos de defesa. Embora o impulso original não seja consciente, na sublimação não existe a repressão pois, ao deparar com a rejeição pela consciência, o impulso é desviado para canais socialmente aceitos. Exemplo: o desejo infantil de brincar com fezes, geralmente repudiado pelos pais, pode ser redigido e ganhar expressão na atividade sublimada de um escultor.

Progressão, Fixação e Regressão – Alguns indivíduos, conseguem passar de um estágio de desenvolvimento para outro, porém ao enfrentar problemas de maior dificuldade, falham e retornam a um estágio anterior onde se sentiam mais seguros e gratificados. Assim, não conseguindo satisfação das necessidades de uma determinada fase, devido aos obstáculos que não consegue ultrapassar, a pessoa regride. É óbvio que para haver regressão a uma determinada fase deve ter havido nesta um certo grau de fixação. Fixação e regressão são complementares. Quanto mais intensa for a fixação, mais facilmente haverá regressão diante de novos obstáculos.

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A seguinte ilustração exemplifica os conceitos acima. Três amigos tiveram destinos diferentes quanto à realização matrimonial. O primeiro teve uma mãe afetuosa e firme que sempre foi capaz de ajudar o filho a enfrentar com coragem as dificuldades da vida. Aos 21 anos, enamorou-se de uma jovem com quem veio a casar-se dois anos depois. Apesar de serem de religiões diferentes constituíram-se num casal feliz. O segundo teve uma mãe exagerada no cuidado dos filhos, excessivamente indulgente e preocupada em satisfazer-lhes os mínimos desejos. Ele casou-se aos 30 anos, com uma mulher que se revelou, após o casamento, muito independente, exigindo atitudes semelhantes do marido. Após algum tempo, o casamento fracassou. O rapaz preferiu voltar para sua mãe em busca da antiga situação de dependência, em vez de tornar-se um chefe de família. O terceiro sentia que nunca recebera bastante amor e compreensão em sua casa e vivia na esperança que seu progresso profissional o tornasse mais querido pelos pais. Assim, motivado, deixou de procurar fora do lar alguém que o ajudasse a realizar-se afetivamente e permaneceu solteiro. Os três casos ilustram, respectivamente, progressão, regressão e fixação.

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