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1 MECANISMOS DE DEFESA NA HERPETOFAUNA: UMA PROPOSTA DE MATERIAL DIDÁTICO RESUMO: Mimetismo, deimatismo, aposematismo e tanotose são importantes mecanismos de defesa utilizados por representantes de anfíbios e reptilianos . Este trabalho objetivou-se propor um material didático-cientifico sobre os mecanismos que ampliam as chances de sobrevivência de espécies conhecidas da herpetofauna. Existem mecanismos de defesa primária e secundária, sendo os primários aqueles que não dependem da presença do predador, enquanto que a defesa secundária necessita da presença do predador. O procedimento metodológico escolhido foi uma busca de material a partir de livros e publicações em meio eletrônico. O material aqui produzido poderá ser utilizado nas aulas de Zoologia, possibilitando aos estudantes o entendimento dos mecanismos que contribuem para a conservação das espécies. Os mecanismos de defesa são relevantes para perpetuação das espécies garantindo a sobrevivência dos táxons e suas linhagens. Palavras chave: defesa primária e secundária, anfíbios, répteis. INTRODUÇÃO Os anfíbios e répteis são datados de sua existência desde os períodos mais remotos da evolução das espécies, tendo sua origem desde o Cambriano até os dias atuais. São organizados filogeneticamente em grupos de seres que apresentam características comuns, desde a presença de sistemas fisiológicos altamente funcionais até sua característica específica, que é a presença de coluna vertebral. Dentre os grupos de vertebrados estão contidos os Agnatha, Pisces, Amphibia, Reptila, Aves e Mammalia, se destacando os anfíbios e répteis, seres que desenvolveram a capacidade de criar mecanismos que possibilitaram sua sobrevivência ao longo do processo evolutivo, principalmente em relações desarmônicas, como é o caso do predatismo. Das técnicas e mecanismos utilizados por essas espécies destacam-se a camuflagem, deitamismo, tanatose, mimetismo e o aposematismo. Essas

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MECANISMOS DE DEFESA NA HERPETOFAUNA: UMA PROPOSTA DE

MATERIAL DIDÁTICO

RESUMO: Mimetismo, deimatismo, aposematismo e tanotose são importantes

mecanismos de defesa utilizados por representantes de anfíbios e reptilianos.

Este trabalho objetivou-se propor um material didático-cientifico sobre os

mecanismos que ampliam as chances de sobrevivência de espécies

conhecidas da herpetofauna. Existem mecanismos de defesa primária e

secundária, sendo os primários aqueles que não dependem da presença do

predador, enquanto que a defesa secundária necessita da presença do

predador. O procedimento metodológico escolhido foi uma busca de material a

partir de livros e publicações em meio eletrônico. O material aqui produzido

poderá ser utilizado nas aulas de Zoologia, possibilitando aos estudantes o

entendimento dos mecanismos que contribuem para a conservação das

espécies. Os mecanismos de defesa são relevantes para perpetuação das

espécies garantindo a sobrevivência dos táxons e suas linhagens.

Palavras chave: defesa primária e secundária, anfíbios, répteis.

INTRODUÇÃO

Os anfíbios e répteis são datados de sua existência desde os períodos

mais remotos da evolução das espécies, tendo sua origem desde o Cambriano

até os dias atuais. São organizados filogeneticamente em grupos de seres que

apresentam características comuns, desde a presença de sistemas fisiológicos

altamente funcionais até sua característica específica, que é a presença de

coluna vertebral. Dentre os grupos de vertebrados estão contidos os Agnatha,

Pisces, Amphibia, Reptila, Aves e Mammalia, se destacando os anfíbios e

répteis, seres que desenvolveram a capacidade de criar mecanismos que

possibilitaram sua sobrevivência ao longo do processo evolutivo,

principalmente em relações desarmônicas, como é o caso do predatismo.

Das técnicas e mecanismos utilizados por essas espécies destacam-se

a camuflagem, deitamismo, tanatose, mimetismo e o aposematismo. Essas

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estratégias permitem aos anfíbios e répteis terem êxito na continuidade da

sobrevivência e perpetuação da espécie, o que é benéfico, pois segundo

Cabral et. al (2005) "desde 1500, registrou-se a extinção de 5 de anfíbios, 22

de répteis".

Este estudo teve como objetivo produzir um material didático científico

sobre os mecanismos de defesa dos anfíbios do táxon anura e ofídios do grupo

dos répteis, baseado em publicações científicas.

O presente trabalho justifica-se pela importância da produção de

material didático que possa contribuir para o ensino de ciências e biologia, bem

como auxiliar na busca pela compreensão dos mecanismos de defesa

relevantes para sobrevivência e reprodução das diferentes espécies animais.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Dentre as relações ecológicas existentes no mundo animal, o predatismo

é a principal interação onde as manifestações de atributos são peculiares a

determinadas espécies, atributos estes que vão desde mecanismos de defesa

química até características morfológicas notáveis principalmente através de

padrões de coloração e mimetismo. A predação é o ato de um animal consumir

o outro. A predação por sua vez, favorece a determinadas espécies em

condição de presa a acionarem mecanismos de defesa (PINTO-COELHO,

2007).

Dentre os animais vertebrados que se destacam em relação aos

mecanismos de defesa estão os répteis e os anfíbios que evoluíram a partir de

uma linhagem descendente de anfíbios do gênero Anthracosaurus.

Compreender milhões de anos de história na vida dos répteis no planeta Terra

tem sido complicado por generalizada e convergente a evolução paralela entre

muitas linhagens e principalmente porque os registros fósseis apresentam uma

lacuna (HICKMAN et. al, 2001).

Além disso, em sua história evolutiva, os répteis desenvolveram

diferentes estratégias e adaptações estruturais que os permitiram ocupar quase

todos os ecossistemas terrestres, inclusive o marinho. Inúmeros répteis

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sofreram e ainda estão se modificando adaptativamente, o que os tornam

especializados nos diferentes ambientes em que vivem (LEMA, 2002).

Os primeiros anfíbios eram animais bem diferentes dos atuais: grandes,

pesados com patas robustas e um crânio maciço achatado, com focinho longo

e muitos ossos, herança de seus ancestrais Osteolepiformes. Possuíam uma

pele espessa e altamente queratinizada, de movimentos marchadores. Apesar

de algumas controvérsias, os Lissanfíbios, atuais anfíbios, surgiram no

Triássico a partir da linhagem Temnospondyli, animais de pele fina, pequenos e

divididos em Urodela, Anura e Gymnophyona (TRAJANO, 2014).

Tanto os anfíbios quanto os répteis desenvolveram ao longo do

processo evolutivo mecanismos de defesa, podendo estes serem classificados

em primários, aqueles que não dependem da presença do predador, e

secundários, que se iniciam com a presença de um predador. Coloração

críptica, camuflagem e mimetismo são exemplos de mecanismos de defesa

primários, enquanto fuga e mordida são exemplos de secundários. A

camuflagem é uma estratégia de defesa em que o animal se parece com parte

do ambiente quando visto por seu predador no lugar e horário em que está

mais vulnerável à predação (BERNARDE, 2012).

Embora alguns estudiosos considerem sinônimos, a coloração críptica

se diferencia da camuflagem, pois esta não permite a localização da presa,

enquanto que na coloração críptica o predador nota a presença da presa, mas

não a considera na sua dieta alimentar. Tal diferenciação se faz necessária na

medida em que alguns autores, equivocadamente confundem a cripticidade

com mimetismo batesiano. (NASCIMENTO, 2009).

A defesa através de coloração, excetuando-se comportamentos

deimáticos, condição em que a presa exibe coloração ou outro comportamento

que causa surpresa ou espanto ao predador é do tipo distal ou primária, ou

seja, opera à distância, independentemente do contato com um predador.

Todavia, muitos organismos que apresentam defesas primárias também

possuem defesas proximais ou secundárias, aquelas que operam durante o

contato com o predador, como exemplo o uso de substâncias químicas

(VALLINET et. al; TOLEDO & HADDAD, 2009).

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A coloração aposemática ou coloração de advertência, é a presença de

cores contrastantes e conspícuas geralmente relacionadas à presença de

algum atributo perigoso no animal, já algumas estruturas tegumentares, como

cristas irregulares e processos supraciliares, parecem estar também

associadas com contornos disruptivos que podem auxiliar no disfarce do

animal. A pressão de predadores terrestres no chão de florestas na Amazônia

pode estar associada com várias espécies de lagartos e de serpentes diurnas

dormirem de noite sobre a vegetação (BERNARDE, 2012).

A tanatose (do grego: Thanatos = morte) é um mecanismo de defesa

verificado em várias espécies pertencentes a diferentes famílias de anfíbios

anuros e também em lagartos e serpentes. Neste caso o animal se finge de

morto (BERNARDE, 2012).

O mimetismo envolve um organismo (o mímico), que simula

propriedades de outro organismo (o modelo), de tal maneira que ambos são

confundidos por um terceiro organismo vivo, sendo que o mímico ganha

proteção, comida, vantagem de acasalamento, ou qualquer outra vantagem

que seja testável, como consequência da confusão. Esta busca por definições

contempla todos os tipos de mimetismo existentes, no entanto, estritamente

para os mimetismos batesiano e mülleriano, pode-se dizer que o mimetismo é

a imitação do padrão de coloração ou outro sinal de advertência, de um

organismo que possui algum tipo de predador (NASCIMENTO, 2009).

Henry Bates, naturalista inglês do século XIX, postulou a primeira teoria

acerca do mimetismo, que mais tarde levou o seu nome, mimetismo batesiano.

Neste tipo de mimetismo há uma espécie chamada de “modelo”, geralmente

aposemática e tóxica aos predadores, e outra espécie denominada “mímico”,

que é palatável, com padrão de coloração semelhante ao do modelo. Segundo

Holling (1965), e Rettenmeyer (1970):

o modelo é geralmente caracterizado por ser impalatável ao predador, mas qualquer propriedade que o torne desagradável, ou indesejável (e.g. substâncias indigestíveis ou venenosas, ferrões, pelos urticantes, exudatos pegajosos, tegumento duro ou espinhoso, compartimentos impenetráveis ou mecanismos de escape efetivos) pode, teoricamente, protegê-lo.

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O mímico batesiano se aproveita das características defensivas dos

modelos que foram previamente experimentados pelos predadores, ou seja, os

mímicos batesianos não precisam desenvolver nenhum tipo de defesa, apenas

imitar a coloração, comportamento ou outro padrão aposemático dos modelos

para serem evitados. Esses mímicos são considerados muitas vezes como

parasitas dos modelos. Geralmente, quando os modelos estão presentes em

abundância no campo, os predadores, são ainda jovens e estão iniciando suas

experimentações alimentares enquanto que, muitas vezes os mímicos

batesianos apresentam-se em baixa quantidade na natureza ou estão até

mesmo ausentes, aumentando a eficiência do aprendizado da evitação dos

insetos potencialmente tóxicos (NASCIMENTO, 2009).

Outro tipo de mecanismo de defesa importante é o comportamento

deimático (do grego: Deimos = medo). Leptodactilídeos como Physalaemus

nattereri, Brachyops pleurodema, Pleurodema thaul e Physalaemus deimaticus

têm macroglândulas inguinais que simulam grandes olhos negros,

característica essencial do comportamento deimático, comum a todas estas

espécies. Portanto o deimatismo refere-se a um conjunto de intimidar

estereotipando posturas e ações adotadas por espécies de muitos diferentes

táxons, como insetos, moluscos, peixes, répteis, aves e mamíferos, ao

confrontar possíveis predadores (LENZI-MATTOS, 2005).

PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

Os dados apresentados neste trabalho foram obtidos através de busca

em livros e publicações da área, utilizando palavras chave como mecanismos

de defesa, defesa primária, defesa secundária, anfíbios, répteis, herpetofauna.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os mecanismos de defesa primária e secundária contra predadores

potenciais são utilizados por anuros e ofídios. Os resultados encontrados foram

expressos através da classificação e descrição dos mecanismos de defesa e

uso de imagens de seis espécies de anfíbios, com destaque para a família

Dendrobatidae e três espécies de ofídios (serpentes), a fim de constituir-se um

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material didático-científico.

MECANISMOS DE DEFESA DE ESPÉCIES DE ANURO

Rhinella margaritifera é um anuro da família Buffonidae, uma espécie de

sapo de florestas tropicais úmidas repletas de serapilheira que possui manchas

com padrões variáveis e um corpo com formato irregular, que o faz se misturar

com o as folhagens do solo evitando ser predado (Figura 1). Essa condição de

disfarce ou camuflagem é um tipo de defesa primária, da qual não depende da

presença do predador para ser ativada.

Figura 1: Rhinella margaritifera camuflado na serapilheira.

Fonte: http://ngm.nationalgeographic.com/2009/08/mimicry/ziegler-photography

Theloderma corticale é um anuro da família Rhacophoridae, uma

espécie de rã que desenvolveu camuflagem ao se misturar com as rochas que

possuem musgo (Figura 2). Vive em locais úmidos da vegetação vietnamita e

essa capacidade de se camuflar faz parte da defesa primária que ocorre a todo

tempo, independentemente da presença do predador, tornando-se relevante

para perpetuação da espécie, garantindo a sobrevivência deste e outros táxons

e suas linhagens.

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Figura 2: Theloderma corticale camuflada no musgo.

Fonte: https://vivimetaliun.wordpress.com/2015/06/19/especial-sapos/

Edalorhina perezi é um anuro da família Leiuperidae, uma espécie de rã

que se finge de morta (Figura 3) quando percebe que foi identificada por um

potencial predador. Essa estratégia permite que o espécime não seja predado

ou machucado em combate. Este mecanismo de sobrevivência conhecido

como tanatose faz parte da defesa secundária de anfíbios.

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Figura 3: Edalorhina perezi em tanatose.

Fonte: http://www.herpetofauna.com.br/MecanismosDefesa.htm.

Phyllomedusa tomopterna é um anuro da familia Hylidae, uma espécie

de perereca que habita florestas tropicais da América Central e do Sul e que

faz da tanatose o seu principal meio de sobrevivência ao ataque de

predadores. Possui hábitos arborícolas e geralmente é encontrada em piscinas

temporárias durante a estação chuvosa. Quando nota a presença de um

potencial predador ela se finge de morta (Figura 4) e exala um cheiro ruim para

causar desinteresse no predador. Quanto ao cheiro exalado trata-se de uma

defesa química da espécie.

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Figura 4: Pyllomedusa tomopterna em tanatose.

Fonte: http://www.herpetofauna.com.br/MecanismosDefesa.htm

Adellphobates quinquevittatus, anuro da familia Dedrobatidade,

conhecido como sapinho ponta de flecha, é encontrado na Amazônia. Essa

família é conhecida por ser representada pelos sapos venenosos, de coloração

aposemática ou de advertência. Suas cores fortes, laranja, preto e branco

(Figura 5) sinalizam que se trata de uma espécie venenosa para os predadores

em potencial. Esse mecanismo se caracteriza como defesa primária, pois

independe da presença do predador.

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Figura 5: Coloração aposemática de Adellphobates quinquevitattus.

Fonte: http://www.herpetofauna.com.br/MecanismosDefesa.htm

Ameerega macero, anuro da família Dendrobatidae, é um sapo nativo da

América do Sul, comumente encontrado em córregos no final da estação seca

e presumivelmente essa espécie se move em florestas nas épocas mais

úmidas do ano. Possui coloração de advertência, azul, vermelho, laranja e

amarelo (Figura 6), responsável por afastar possíveis predadores, uma vez que

possui toxinas que o torna impalatável. Espécies aposemáticas são

reconhecidas pelos seus predadores que ja tiveram experiências

desagradavéis, o que dá uma vantagem muito grande de sobrevivência para

espécies como esta.

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Figura 6: Coloração aposemática de Ameerega macero.

Fonte: http://www.herpetofauna.com.br/MecanismosDefesa.htm

A família Dendrobatidae é bastante conhecida pela coloração de

advertência exibida por seus representantes, que possuem macroglândulas na

pele, responsáveis pela secreção de toxinas (FONTANA, 2012). Com este

padrão de coloração, estas espécies intimidam os predadores (Figura 7). Há

anuros que mimetizam estes apostemáticos, que servem de espécie modelo, e

os mímicos são as espécies que se assemelham a eles para se beneficiarem

da proteção.

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Figura 7: Espécies de Dendrobatidae: da esquerda para a direita, Dendrobates variabilis, D.

fantasticus e D. ventrimaculatus.

Fonte: http://core.ecu.edu/biol/summersk/summerwebpage/Research/Mimicry/Mimicry.htm

MECANISMOS DE DEFESA DE ESPÉCIES DE OFÍDIOS

Micrurus lemniscatus é um ofídio da família Elapidae, uma serpente

peçonhenta que possui hábitos fossórios (Figura 8), estando classificada na

mesma família das najas e mambas. Alimenta-se de outras espécies de

serpentes, possui veneno neurotóxico, sendo de difícil distinção com a coral

falsa. As falsas corais são espécies miméticas das espécies congenéricas

Micrurus, as populares corais verdadeiras. No mimetismo a espécie modelo

tem suas cores copiadas, diante disso a espécie mimética engana os seus

potenciais predadores, aumentando as suas chances de sobrevivência. A

espécie mimética se comparada com a espécie modelo, ocorre em menor

quantidade no ambiente, isso confunde os predadores. Se houvessem mais

espécies miméticas que espécies modelo, estas seriam prejudicadas pela má

fixação das colorações aposemáticas pelos predadores, conduzindo assim a

uma maior taxa de predação, tanto em espécies modelo quanto em miméticas,

o que seria desvantajoso para ambas.

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Figura 8: Micrurus leminiscatus: coral verdadeira que serve de modelo para as corais falsas.

Fonte: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnica.html?id=14967

Oxybelis fulgidus, ofídio escamado da família Colubridae, é uma

serpente não peçonhenta de hábito semi-arborícola, diurna, com corpo

delgado, longo e cabeça distinta do pescoço, distribuído na América Central e

América do Sul. Serpentes deste gênero são diagnosticadas pelo padrão de

coloração predominantemente verde ou cobre, com ou sem faixas longitudinais

e bandas transversais estreitas (ALBUQUERQUE, 2008). Está espécie

apresenta um comportamento classificado como deimático, que consiste em

intimidar o predador. Para isso ela posiciona o corpo em forma de “S”, de boca

aberta (Figura 9), na intenção de espantar o inimigo. A defesa deimática

depende da presença do predador, por isso classifica-se como um mecanismo

de defesa secundária.

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Figura 9. Oxbelis fulgidis: serpente não peçonhenta exibindo comportamento deimático.

Fonte: http://www.herpetofauna.com.br/MecanismosDefesa.htm

Spilotes pullatus é uma serpente da família Colubridae, de hábitos

diurnos, popularmente chamada de caninana, sendo bastante conhecida por

sua exibição defensiva quando acuada ou molestada. Uma vez ameaçada,

essa serpente eleva a parte superior do corpo, infla e expande o pescoço,

desferindo botes. Sua coloração amarela é realçada na região gular (Figura

10), possivelmente acentuando o efeito intimidatório. No decorrer dessa

exibição de advertência, bate rapidamente com a cauda contra o substrato,

produzindo ruído característico. Se capturada, pode morder vigorosamente e

fazer uso da substância fétida das glândulas pós-cloacais (KARAM, 2001).

Esse comportamento intimidatório de expandir a parte superior do seu corpo,

inflar, expandir o pescoço e desferir botes, consiste no comportamento

deimático.

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Figura 10 - Spilotes pullatus, serpente não peçonhenta que exibe comportamento deimático.

Fonte: http://www.herpetofauna.com.br/MecanismosDefesa.htm

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Anuros e ofídios se beneficiam dos mecanismos primários e seundários

de defesa. Independentemente da clasificação, estes configuram relevantes

estratégias para perpetuação das espécies garantindo a sobrevivência dos

indivíduos de diferentes táxons e suas linhagens.

Espera-se que este trabaho contribua como suporte didático para as

aulas de ciências e biologia, tornando-se referência sobre os principais modos

de defesa de espécies populares da herpetofauna.

REFERÊNCIAS

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Brasileira, São Paulo, Brasil: Anolis books, 2012.

BERNARDE, P. S.; ALBUQUERQUE, S; BARROS, T. O.; TURCI, L. C. B.

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FONTANA, P. L. M. Estudo morfológico comparativo do sistema de defesa

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e Rhaebo guttatus) Dissertação de Mestrado – Instituto butantan. São Paulo,

2012.

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KARAM, G. Z. Fragmentação de cauda em serpentes (Colubrini): Autotomia

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Universidade Federal do Paraná. Paraná, 2001.

LEMA, Thales de. Os répteis do Rio Grande do Sul: atuais e fósseis,

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Artmed, 2007.

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