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Page 1: MANUAL DE MELHORES PRÁTICAS PARA O ECOTURISMO – … · 2018-03-30 · Manual de Melhores Práticas para o Ecoturismo (MPE) tido, tal decisão pode ser encarada de forma posi-tiva,
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MANUAL DE MELHORES PRÁTICAS PARA O ECOTURISMO – TURISMO SUSTENTÁVEL

Infra-estrutura e serviços

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APRESENTAÇÃO

ORGANIZADOR Roberto M. F. Mourão • PRODUÇÃO EXECUTIVA Lindamara Soares • ESTAGIÁRIO Bruno Bourrus Magioli Maia

PROJETO GRÁFICO Imaginatto Design e Marketing • ILUSTRAÇÕES José Carlos Braga • REVISÃO AnaCris Bittencourt e Marcelo Bessa • FOTO DA CAPA Flip de Nooyer / Foto Natura, Project Brazile

CONSELHO DELIBERATIVO

Roberto Leme Klabin • Presidente

Cláudio Benedito Valladares Pádua • Vice-presidente

MEMBROS VOGAIS

AcadêmicoBenjamin Gilbert • Fundação Oswaldo Cruz

José Augusto Cabral • Consultor

Paulo Eugenio Oliveira • UFU

Ambientalista

Garo Batmanian • WWF/Brasil

Ibsen de Gusmão Câmara • FBCN

Jean Marc von der Weid • AS-PTA

Nurit Bensusan • ISA

Empresarial

José Luiz Magalhães Neto • Grupo Belgo Mineira

Roberto Konder Bornhausen • Unibanco

Roberto Leme Klabin • RK Hotéis e Turismo Ltda

Roberto Paulo Cezar de Andrade • Brascan

Governamental

João Paulo Capobianco • MMA

MEMBROS SUPLENTES

Acadêmico

Cláudio Valladares Pádua • UnB

Keith Spalding Brown Junior • Unicamp

Paulo Nogueira Neto • USP

Roberto Brandão Cavalcanti • UnB

Ambientalista

Clóvis Borges • SPVS

Jean-Pierre Leroy • Fase

José Adalberto Veríssimo • Imazon

Mª Dores V. C. Melo • Soc. Nordestina de Ecologia

EmpresarialEdgar Gleich • Consultor

Guilherme Peirão Leal • Natura Cosméticos

Juscelino Martins • Martins Comércio & Serviço Distribuição S.A.

Maria Mercedes von Lachmann • Grupo Lachmann

GovernamentalPaulo Kageyama • MMA

Ronaldo Weigand Junior • MMA

SECRETARIA EXECUTIVA

Pedro Leitão • Secretário Geral

FUNBIOFundo Brasileiro para a BiodiversidadeLargo do Ibam 01, 6º andarHumaitá - Rio de Janeiro, RJ - 22.271-020(21) 2123-5300www.funbio.org.br

SECRETARIA EXECUTIVA

Maria Clara Soares • Coordenadora de programas Funbio

Roberto M. F. Mourão • Diretor técnico programa MPE | Ecobrasil

CONSULTORES

Ariane Janer • Ecobrasil | Bromélia

Marcos Borges • Ecobrasil | Grupo Nativa

COMITÊ TÉCNICO

Ariane Janer • Ecobrasil | Bromélia

Jeane Capelli Pen • Rain Forest Alliance

Marcos M. Borges • Ecobrasil | Grupo Nativa

Mário Mantovani • SOS Mata Atlântica

Oliver Hillel • U. N. Environment Program

Rogério Dias • Cerrado Ecoturismo

Sônia Rigueira • Terra Brasilis

Werner Kornexl • Banco Mundial

EQUIPE TÉCNICA

Luciana Martins • Gerente de programa

Maria Aparecida Arguelho • Coordenadora de campo

Marcos Amend • Coordenador de campo

Valéria Braga • Coordenadora técnica

Michele Ferreira • Assistente de programa

APOIO

Marcus Vinícius C. Pires • Assistente administrativo

Estagiários

Bárbara Nunes, Daniel Soares , Flávia Bichara

Mensageiro

Claudio Silvino

Corpo técnico - Autores e instrutores

Ana Cláudia Lima e Alves, Ana Elisa Brina, Ana Maria Saens Forte,

Ariane Janér, Armando Cypriano Pires, Carlos Alberto Mesquita,

Cláudia de Sousa, Dante Buzzetti, Equipe Tamar, Evandro Ayer,

Fábio de Jesus, Fábio Ferreira, Fábio França Araújo,

Fábio Vieira Martinelli, Fernanda Messias, Gerson Scheufler,

Humberto Pires, Jean Dubois, Jeane Capelli Pen, Leonardo Vianna,

Liana Sá, Lucila Egydio, Luiz Gustavo Barbosa, Marcelo Oliveira,

Marcelo Skaf, Márcia Gomide, Maria Aparecida Arguelho,

Mª das Graças Poncio, Maria Clara Soares, Márcio Viana,

Marcos Martins Borges, Marcos Nalom, Paul Dale, Paulo Bidegain,

Paulo Boute, Paulo D’Ávila, Pedro Bezerra, Renato de Jesus,

Roberto M.F. Mourão, Rogério Dias, Rogério Zouein,

Rui Barbosa da Rocha, Salvador Silva, Sandro Sáfadi,

Sebastião Alves, Sérgio Pamplona, Sônia Elias Rigueira,

Suzana Sperry, Tasso de Azevedo, Waldir Joel de Andrade

Ecobrasil | MPEMelhores Práticas para o EcoturismoRua Visconde de Pirajá 572, 2º andarIpanema - Rio de Janeiro, RJ - 22.410-002Tel: (21) 2512-8882www.ecobrasil.org.brwww.mpe.org.br

M294 Manual de melhores práticas para o ecoturismo /Organizador: Roberto M. F. Mourão. - Rio deJaneiro: FUNBIO; Instituto ECOBRASIL,Programa MPE, 2004.128p. : il ; 21 cm

1. Ecoturismo – Manual. I. Título.

CDD: 338.47

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ESTE MANUAL É UM DOS PRODUTOS DO PROGRAMA “MELHORES PRÁTICAS

PARA O ECOTURISMO”, PROMOVIDO PELO

EM PARCERIA COM

APOIO

Montcamp Equipamentos Wöllner Outdoors

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Fundo Brasileiro para a Biodiversidade

(Funbio) é uma organização não-governa-

mental, criada em outubro de 1995, cuja

missão é apoiar ações estratégicas de conservação e

uso sustentável da biodiversidade no Brasil. Com esse

fim, o Funbio capta e gere recursos financeiros, esti-

mulando o desenvolvimento de iniciativas ambien-

tais e economicamente sustentáveis. Sua atuação é

pautada na Convenção da Diversidade Biológica,

acordo internacional assinado durante a Rio 92.

O Funbio é dirigido por um conselho delibera-

tivo, formado por lideranças dos segmentos ambi-

entalista, empresarial, acadêmico e governamental.

É operado por um comitê executivo, seis comissões

técnicas e uma secretaria executiva que conta com

profissionais de diferentes áreas.

Ao longo de oito anos de trabalho, o Funbio

apoiou mais de 60 iniciativas nas áreas de conser-

vação, agrobiodiversidade, manejo florestal não-

madeireiro, manejo florestal madeireiro, manejo

de recursos pesqueiros, ecoturismo e Agenda 21

local, totalizando um desembolso de aproximada-

mente US$ 7,1 milhões até o ano de 2003. Seu pú-

blico-alvo é o setor produtivo brasileiro, bem como

organizações não-governamentais e associações

comunitárias comprometidas com o desenvolvi-

mento sustentável, além das comunidades locais

beneficiárias de suas ações.

O ecoturismo começou a ser investigado como

área potencial de trabalho para o Funbio em 1999,

dentro do Programa de Estudos Estratégicos.

A pesquisa constatou carência na área de capacita-

ção de profissionais que atuam em empreendimen-

tos de ecoturismo.

A resposta a esse problema foi o desenvolvi-

mento do Programa MPE, com o objetivo de defi-

nir um conjunto de “melhores práticas” que sir-

vam de referência para projetos de ecoturismo no

Brasil. Este manual que você tem em mãos é um

dos frutos desse trabalho.

Pedro LeitãoSecretário Executivo

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APRESENTAÇÃO

O conceito de sustentabilidade, proposto pela Co-

missão Brutland no informe “Nosso futuro co-

mum” (1987), despertou um intenso processo de

discussão. Diferentes interpretações vêm sendo for-

muladas desde então, trazendo visões de mundo

por vezes conflitantes e bastante diversas. Uma

contribuição inequívoca trazida pelo conceito de

sustentabilidade foi o reconhecimento da neces-

sidade de integrar a dimensão ambiental ao con-

ceito de desenvolvimento. A Rio 92 trouxe o de-

safio de estabelecer uma série de acordos volta-

dos a enfrentar a destruição do planeta, bem como

de integrar a participação dos cidadãos como fa-

tor fundamental para o alcance do desenvolvimen-

to em bases sustentáveis.

O reconhecimento da finitude dos recursos

naturais do planeta trouxe à tona uma questão

fundamental. Se os recursos são limitados, que

valores, deveres e obrigações devem regular a dis-

tribuição e o acesso aos recursos disponíveis?

Considerando que os países ricos, com menos de

20% da população mundial, consomem 80% dos

recursos mundiais, enquanto os países mais po-

bres consomem apenas 2% dos recursos, falar em

sustentabilidade nos conduz à necessidade de

repensar o modelo de desenvolvimento em cur-

so, que vem gerando não apenas um padrão de

produção e de consumo excludente do ponto de

vista social, como também insustentável do pon-

to de vista ambiental.

Após 12 anos da Rio 92, apesar de não se re-

gistrarem avanços significativos no enfrentamen-

to das questões estruturais de eqüidade socioam-

biental essenciais para garantir a sustentabilidade

do desenvolvimento, verifica-se o nascimento de

um sem-número de novas organizações, propos-

tas e iniciativas voltadas para a conservação e o

uso sustentável de recursos naturais, que buscam

conciliar o desenvolvimento econômico com a

justiça social e a sustentabilidade ambiental.

Desenvolvimento sustentável

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Neste contexto, situam-se os esforços para o

desenvolvimento de um modelo de turismo soci-

almente responsável. O turismo sustentável utili-

za o patrimônio natural e cultural, incentiva sua

conservação e busca a formação de uma consciên-

cia ambientalista, promovendo o bem-estar das

populações envolvidas. Por esse motivo, vem des-

pontando como importante aliado na conserva-

ção do meio ambiente e como alternativa econô-

mica que estimula a inclusão social. O Brasil é um

país extremamente rico em recursos e em belezas

naturais, possui entre 15% e 20% da biodiversida-

de e 13% da água doce do mundo e abriga enor-

me diversidade cultural. O aproveitamento desse

potencial por meio do desenvolvimento de estra-

tégias que fortaleçam o turismo participativo, so-

lidário e sustentável é, sem dúvida, uma grande

oportunidade para o país.

Maria Clara Couto SoaresCoordenadora de Programas Funbio

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A idéia básica é que, à medida que o Pro-

grama MPE seja implementado, ajustado e ree-

ditado com práticas propostas aplicadas no cam-

po e avaliadas, o manual também seja ajustado

e acrescido, sempre buscando melhorar as prá-

ticas anteriormente estabelecidas. A disponibi-

lização dos tópicos e subtópicos será feita de

forma gradativa, e o manual será ajustado me-

diante sugestões e críticas, até mesmo com dis-

tribuição em meio eletrônico.

Aos autores dos temas foi solicitado que se

limitassem a textos teóricos condensados entre cin-

co e dez páginas, sem, contudo, prejudicar o con-

teúdo. A condensação sugerida, a princípio, pode

até ser considerada negativa, mas seu objetivo é

estimular o público leitor a se concentrar no que

for mais essencial dentro do assunto, abstraindo-

se do que for supérfluo ou secundário. Nesse sen-

O Manual MPE foi criado com o objetivo inicial

de ser utilizado nos cursos de capacitação dos

monitores MPE, em suas consultas e complemen-

tação de conhecimentos, e também de servir como

material didático para os envolvidos, local e regi-

onalmente, com os projetos conveniados.

Porém, em virtude da carência de publicações

sobre ecoturismo e desenvolvimento sustentável,

abordados de forma prática e sucinta no Brasil, o

comitê gestor do Programa MPE decidiu produzir

e disponibilizar o conjunto a um público mais am-

plo, atendendo a uma necessidade das demais pes-

soas interessadas pelos temas abordados.

Este manual pretende ser uma ferramenta di-

nâmica, com flexibilidade para incorporar suges-

tões e críticas, conforme os avanços do Programa

MPE, recebendo informações dos trabalhos de cam-

po, por meio do sistema de monitoramento.

Manual de Melhores Práticas para o Ecoturismo (MPE)

Page 9: MANUAL DE MELHORES PRÁTICAS PARA O ECOTURISMO – … · 2018-03-30 · Manual de Melhores Práticas para o Ecoturismo (MPE) tido, tal decisão pode ser encarada de forma posi-tiva,

tido, tal decisão pode ser encarada de forma posi-

tiva, visando oferecer ao público o melhor apro-

veitamento possível.

Formato

O Manual MPE é composto de: Módulos Temáti-

cos, subdivididos em Seções, Tópicos e Subtópi-

cos. Na composição dos Tópicos (Texto teórico), de

acordo com o tema que está sendo tratado, po-

dem vir a fazer parte como subtópicos: Caixa de

ferramentas, Estudo de caso, Anexo técnico, Glos-

sário e Referências bibliográficas.

Desejamos a você uma boa leitura e um aproveita-

mento prático melhor ainda.

Roberto M. F. MourãoOrganizador do Manual MPE

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Infra-estrutura e serviços

1. Meios de hospedagem

1.1 Aspectos construtivosde hotéis de selva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14por Sérgio Borges Pamplona

• Caixa de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

• Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

1.2 Hotelaria – hotéisde selva e pousadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24por Maria Aparecida Arguelho e Lucila Egydio

• Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

2. Alimentação

2.1 Bares e restaurantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42por Maria das Graças Pôncio

• Caixa de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

• Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

3. Energia alternativa

3.1 Fontes alternativas de energia . . . . . . . . . . . . . 56por Pedro Bezerra de Carvalho Neto

• Anexo técnico 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

• Anexo técnico 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

• Anexo técnico 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

• Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

4. Trilhas

4.1 Interpretação ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . 78por Rogério Dias

• Caixa de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

• Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

4.2 Condução de visitantes e excursionismo . . . . . 88por Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

• Caixa de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95

4.3 Manejo de trilhaspor Waldir Joel de Andrade

• Caixa de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101

• Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107

4.4 Inventário de trilhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108por Marcos M. Borges

• Caixa de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

• Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114

4.5 Passarelas e torres de observação . . . . . . . . . 115por Roberto M. F. Mourão

• Caixa de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118

• Estudo de caso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119

4.6 Nagegação terrestre e cartografia básica . . . 120por Fábio França Silva Araújo

• Caixa de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125

Roberto Mourão
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Manual de Melhores Práticas para o Ecoturismo – Turismo Sustentável | Infra-estrutura e serviços

4. TRILHAS

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www.mpefunbio.org.br - Incentivamos a cópia, reprodução e divulgação do conteúdo. Favor mencionar a fonte.

E ste capítulo leva o leitor por um passeio histórico, come-

çando pela atuação indígena para a preservação ambiental,

passando pelas entradas e bandeiras até chegar ao excursio-

nismo. Depois, descreve as várias atividades aí envolvidas, como

mergulho, montanhismo e safári fotográfico, entre outros.

CONDUÇÃO DE VISITANTESE EXCURSIONISMOROGÉRIO DIAS E WALDIR JOEL DE ANDRADE4.2

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• 89Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

Ilustração do Manual Indígena de Ecoturismo, que mos-tra guia-índio (mateiro) conduzindo ecoturistas em ob-servação de fauna

Mar

celin

o Ro

sa K

atuk

ina

As primeiras trilhas foram estabelecidas pelo ho-mem pré-histórico em busca de água, alimento eabrigo. Há pelo menos 12 mil anos, o homem habi-ta o território que hoje conhecemos como Brasil.Quando os portugueses chegaram em 1500, esti-ma-se que havia aqui cerca de 5 milhões de índiosdivididos em milhares de tribos e falando mais demil línguas diferentes.

Havia uma enorme diversidade cultural, resul-tado de um longo e complexo convívio com uma na-tureza tropical extremamente diversificada. Os ín-dios viviam essencialmente da caça, da pesca e dacoleta de produtos vegetais.

Grupos mais recentes iniciaram a prática daagricultura, principalmente da mandioca, do mi-lho e do amendoim. Esses índios viviam em estrei-ta harmonia com o meio ambiente. A cultura indí-gena representa uma das maiores fontes de co-nhecimento sobre a natureza. Em todas as tribos,existem excelentes caçadores, batedores, rastre-adores e exploradores.

Os índios foram, portanto, importantes demar-cadores de caminhos, conduzindo seus grupos pelastrilhas nas matas, nos campos e cerrados e pelashidrovias naturais: rios, córregos, igarapés ou corixos.

Entradas e bandeirasDurante o primeiro século de ocupação (1500–1600),o homem branco ocupou basicamente o litoral bra-sileiro, em virtude das dificuldades encontradas nosconfrontos com os indígenas e do relevo e clima quen-te que tornavam difícil o acesso ao interior do país.Já no século XVII, várias pequenas expedições come-çam a desbravar o interior à procura de ouro e deíndios para o trabalho escravo.

As entradas foram expedições particulares deaventureiros que arcavam com os custos da viageme arriscavam tudo em busca das riquezas brasileiras.

As bandeiras foram expedições maiores e bemequipadas, acompanhadas por guarda militar e fi-nanciadas pela Coroa portuguesa, que oferecia ter-ras e títulos a quem encontrasse ouro em terras bra-sileiras. Os caminhos dos índios foram aproveitadospelos europeus para penetrar no interior do país.Naquelas explorações, os europeus utilizavam índi-os “pacificados” como condutores para encontrarcaminhos, passagens, alimentos e tribos indígenas.

O mateiroCom a formação de uma raça brasileira fruto damistura do índio com o branco e o negro, surgiu nointerior do país uma figura conhecida como mateiro.Moradores da floresta e trabalhadores rurais comgrande conhecimento sobre os recursos e os peri-gos da natureza, os mateiros são até hoje excelen-tes guias no mato.

Os mateiros são contratados por pesquisado-res, caçadores e pescadores vindos das cidades parao interior à procura de conhecimento e aventura.Na falta de condutores de visitantes capacitados, asoperadoras de ecoturismo costumam contratar ma-teiros, além dos guias usuais, para auxiliar no traba-lho de condução em áreas naturais.

O excursionismoNo início do século XX, migrantes europeus inicia-ram no Brasil a prática de excursionismo, uma ativi-dade recreativa de viagens à natureza. Os mais an-tigos grupos do Brasil se formaram no Rio de Janeiroe em São Paulo por meio da prática amadora de

montanhismo, com as explorações se concentrandona Serra do Mar (Serra da Mantiqueira, Itatiaia eSerra dos Órgãos).

A revolução industrial e o surgimento de novosmateriais e equipamentos, garantindo maior segu-rança e conforto na prática de montanhismo, favore-ceram não só a difusão dessa atividade, mas tambéma diversificação dos tipos de atividades de exploraçãoe convívio com a natureza ou de excursionismo.

Com o crescimento dessa atividade, o excursio-nista passou a ser uma das primeiras categorias deexploradores e condutores “profissionais”, utilizan-do técnicas e equipamentos especializados.

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• 90Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

Atividades de excursionimoe ecoturismoMuitas das atividades de excursionismo listadas aseguir são também consideradas atividades de eco-turismo, especialmente caminhadas (hikking) e ob-servação de fauna e flora.

Assim, neste capítulo, ao se tratar de condutorde visitantes ou guia de ecoturismo, o conceito seestende a atividades de excursionismo, e, ao se tra-tar de técnicas e práticas de excursionismo, devemtambém ser consideradas no âmbito da atividadede guiamento ou prática de ecoturismo.

A prática de excursionismo e ecoturismo podese dar por meio de uma série de atividades, con-ceituadas a seguir:

• asa-delta, paraglider, pára-quedismo ebalonismo – atividades esportivas de vôo, semsentido de competição;

• bóia-cross – descida de rios com auxílio de bói-as especiais;

• canoagem, cayaking – navegação em rios, la-gos ou oceanos com utilização de canoas aremo ou caiaques;

• canyoning – descida de penhascos e/ou cachoei-ras, com o auxílio de equipamento especial (rapel);

• cicloturismo – viagens/passeios de bicicleta,realizados por estradas asfaltadas e/ou sempavimentação;

• escalada/climbing/alpinismo – atividade espor-tiva praticada em rocha ou gelo, sem sentidode competição;

• espeleologia – visita/exploração de cavernascom ou sem finalidade de estudo dos ambien-tes subterrâneos;

• estudos do meio – visitas com fins claramente edu-cacionais, realizadas em geral por público escolar;

• hikking – caminhada de curta duração; usual-mente não ultrapassa um dia;

• mergulho – atividade esportiva praticada emambiente aquático, com ou sem equipamentode respiração artificial (mergulho autônomo elivre), sem sentido de competição;

• montanhismo – nome genérico das atividadespraticadas em ambiente de montanhas; podeincluir exploração de serras, montanhas e picos;

• mountain biking – atividade esportiva realiza-da em trilhas e/ou estradas sem pavimentação,com bicicletas especiais para terrenos aciden-tados, sem sentido de competição;

• observação astronômica – atividade voltadapara avistamento de fenômenos celestes, comou sem ajuda de aparelhos;

• observação de fauna e flora – atividade voltadapara avistamento de espécies particulares (aves,borboletas, orquídeas etc.);

• rafting – descidas de rios encachoeirados feitasem botes infláveis;

• safári fotográfico – viagem cujo objetivo princi-pal é a realização de fotografias;

• trekking – caminhada com duração de maisde um dia, incluindo pernoites no meio natu-ral; no trekking, os participantes transportamseus equipamentos;

• turismo eqüestre/tropeirismo – viagem realiza-da com a utilização de transporte por cavalosou envolvendo passeios desse tipo;

• turismo esotérico – tipo de viagem com motiva-ção mística, espiritual ou sobrenatural(avistamento de óvnis, por exemplo);

• turismo rural/agroturismo – viagem que envolvevivência em propriedades rurais, usualmente como acompanhamento da rotina de trabalho delas.

As atividades podem ser classificadas nas se-guintes modalidades:

• esporte e aventura: montanhismo, espeleolo-gia, balonismo, vôo livre, paraglider, mergulho,cayaking e canyoning;

• contemplação e lazer: hiking, trekking, rafting,cicloturismo, canoagem etc.;

• aprendizado e cultura: observação de fauna eflora, fotografia, astronomia, estudo do meio eoutras práticas de educação ambiental etc.

Page 15: MANUAL DE MELHORES PRÁTICAS PARA O ECOTURISMO – … · 2018-03-30 · Manual de Melhores Práticas para o Ecoturismo (MPE) tido, tal decisão pode ser encarada de forma posi-tiva,

• 91Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

Guias de ecoturismoMuitos termos já foram utilizados para designar apessoa que orienta e conduz visitantes em áreasnaturais: guia mateiro, guia de selva, monitor ambi-ental, condutor de visitantes e, oficialmente, guiade ecoturismo ou guia de turismo especializado ematrativo turístico natural.

O último é uma categoria reconhecida pelaEmpresa Brasileira de Turismo (Embratur) e requernível médio de escolaridade e capacitação a partirde um curso específico.

O curso tem cinco meses de duração e abrange:técnicas de comunicação; teoria e técnica profissio-nal; relações interpessoais; geografia aplicada aoturismo; ecologia e preservação ambiental; teoria eprática do atrativo; primeiros socorros; segurança eprevenção de acidentes; atividades práticas.

Já as categorias “condutor de visitantes” e“monitor ambiental” foram criadas informalmentepara adequar a atividade à realidade do interiorbrasileiro e são comentadas mais adiante na formade estudos de caso.

A importância do guia, monitor ou condutor

Ele é o principal elo entre o visitante, o local e acomunidade visitada. É o guia que apresentará a ci-dade visitada e os recantos naturais existentes. Ocondutor deve estar sempre atualizado sobre a ofer-ta de serviços, opções de entretenimento e lazer,atrativos naturais e culturais.

Além disso, o excursionismo (e o ecoturismo) éuma prática que, se responsavelmente realizada,permite uma integração significativa e harmoniosacom a natureza, o desenvolvimento dos sentimentosde grupo, companheirismo e solidariedade. O gostode ser excursionista é algo que descobrimos dentrode nós: gosta-se ou não, não existe meio-termo.

Organização, determinação, privação, compre-ensão e vontade de vencer e fazer bem feito sãocaracterísticas que podem ser desenvolvidas ao lon-go das atividades excursionistas. Portanto, essas ati-vidades podem tornar-se excelentes instrumentospara a educação e o domínio pessoal.

O excursionista tem de entender que, em seumeio, a competição não é bem-vinda, e sim a colabo-ração e a ajuda mútua. O guia tem um papel funda-mental nesse processo, pois, como o próprio nome

indica, envolve a responsabilidade em direcionar efacilitar os processos de integração à natureza e deharmonização do grupo, além, é claro, de atentar paraas questões de segurança e bem-estar do grupo.

Não há uma receita única para a atividade deguia de ecoturismo ou de excursionismo. Neste capí-tulo, serão abordados temas como equipamentos,procedimentos antes e durante a excursão, alimen-tação e rudimentos de personalidade, para que essaatividade seja desempenhada racionalmente e pos-sa atender aos princípios do ecoturismo, do excursi-onismo e aos interesses do visitante.

Principais características do guia de ecoturismoPara guiar uma excursão, tenha como regra princi-pal não cometer erros. O guia ou condutor é aqueleque deve fazer o grupo passar do inanimado (passi-vidade) ao animado (atividade). Entre seus objeti-vos, precisa dar atenção especial aos grupos e aosatrativos e comunidades.

Em relação aos grupos (visitantes):

• Recepcionar (com hospitalidade).

• Liderar o grupo (promover coesão e harmonia):- reduzir as ansiedades afetivas;- aumentar a satisfação perante uma satisfa-

ção coletiva;- estimular os contatos por meio do jogo de afi-

nidades, sem dividir o grupo;- reduzir os obstáculos à comunicação;- favorecer a existência de uma rede de comu-

nicação adequada;- permitir que o grupo descubra as suas normas

de funcionamento, evitando rigidez;- estimular a interação;- aumentar a coesão;- reduzir a resistência às mudanças.

Algumas das principaiscaracterísticas dasatividades deecoturismo eexcursionismo são:• contemplação, contato com

a natureza;

• atividade física, coletiva,não competitiva;

• experiência pessoal, educativa,conservação da natureza;

• segurança, relaxamentoe conforto.

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• 92Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

• Conduzir o visitante (mostrar o caminho).

• Cuidar do grupo (física e psicologicamente).

• Providenciar descanso, sombra, água e alimento.

• Dar segurança (prevenir acidentes, primeirossocorros e resgate).

Em relação aos atrativos e às comunidades:

• Orientar (fornecer opções e detalhes importantes).

• Indicar (serviços e produtos).

• Informar e fazer cumprir normas decomportamento.

• Interpretar o ambiente – fornecer informações(geografia, ecologia e cultura).

• Informar e educar (ambiental e culturalmente).

• Colaborar com a organização do turismo na suacomunidade.

• Proteger os patrimônios culturais e ambientais.

Perfil do guia ou condutorPara a seleção e treinamento de guias, as seguintescaracterísticas são importantes:

• gostar muito de excursionismo;

• espírito de liderança e controle de grupo;

• hospitalidade, paciência, tranqüilidade,simpatia e humor;

• conhecimento sobre os patrimônios naturale cultural;

• capacidade de comunicação (domínio de conteú-do e crença na mensagem);

• domínio de técnicas de primeiros socorros, bus-ca e resgate;

• habilidades diversas;

• condicionamento físico;

• postura compatível (ética, respeito eresponsabilidade).

Qualidade do serviçoO turismo é uma importante fonte de renda nomundo todo. Existem inúmeros destinos e produtosde boa qualidade. O desenvolvimento de um turis-mo sustentável beneficia a todos gerando empre-gos, aquecendo a economia e valorizando os patri-mônios cultural e ambiental.

Todos os profissionais e empresas do ramo pre-cisam cuidar para manter seu público e, para isso,buscam cada vez mais a qualidade no atendimentoao turista. O turista bem recebido pode estendersua permanência, divulgar o destino e retornar comfamília e amigos.

Para isso, todos devem ser hospitaleiros, os pa-trimônios cultural e natural, preservados, os preços,justos, as informações, corretas, o local e as instala-ções, estar limpos, a comida e a água, saudáveis, e otransporte e as trilhas, seguros.

A qualidade também depende do comportamen-to do turista. Para tanto, é necessário realizar umtrabalho permanente de educação e conscientizaçãopara o ecoturismo (veja na “Caixa de Ferramentas”um exemplo de mandamentos do ecoturista).

O guia, por promover a integração entre o visi-tante e o visitado (comunidade, ambiente, serviços),tem papel fundamental para que a qualidade daexperiência de todos os envolvidos seja satisfatória.

Técnicas de mínimo impactoA visitação a áreas naturais sempre provoca algumimpacto. A simples presença do homem já é umfator de estresse para muitos animais. Os impactosmais comuns estão relacionados a quatro fatores:solo (compactação e erosão); vegetação (corte, co-leta, exposição de raízes, doenças, morte e altera-

ções na composição florística); fauna (mudanças decomportamento, desaparecimento de espécies sen-síveis e alterações na composição das comunidadessilvestres) e poluição (sonora, lixo, contaminaçãoda água e do solo).

O comportamento do visitante ou turista podeaumentar ou diminuir o grau de impacto. Dentrodessa perspectiva, criou-se o conceito de mínimoimpacto, a fim de promover uma conduta consci-ente e responsável.

As técnicas de mínimo impacto não devem serum enumerado de regras, mas sim um conjuntosimples de princípios (Barros e Dines, 2000). Um dosconjuntos bastante conhecidos é este: “Leve ape-nas lembranças. Deixe apenas pegadas. Tire apenasfotografias”. Nos Estados Unidos, surgiu o progra-ma LNT – Leave No Trace (não deixe rastro) expres-so em sete princípios:

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• 93Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

Atitudes que você deveevitar para preservareste ambiente:• Descuidar-se de cigarros ou outros

objetos que possam causar incêndios.

• Entrar no parque com armas, facões,anzóis e bebidas alcóolicas.

• Colher frutos, flores, sementes, mudasou lenha para fogo;

• Perseguir, apanhar ou molestar animais;

• Poluir ou fazer as necessidadesfisiológicas nas águas;

• Jogar lixo nas trilhas e dependênciasdo parque;

• Danificar os elementos naturaise instalações do parque;

• Trafegar em alta velocidade,ultrapassando o limite permitido;

• Trazer cães, gatos ou outros animaisdomésticos para o parque.

• planeje com antecedência e prepare-se;

• caminhe e acampe em superfícies resistentes;

• trate apropriadamente seu lixo e seus dejetos;

• deixe na natureza o que você encontrar;

• minimize o impacto de fogueiras;

• respeite os animais silvestres;

• tenha consideração pelos demais visitantes.

O Ministério do Meio Ambiente do Brasil (Pro-grama Nacional de Áreas Protegidas, 2000), com acolaboração do Centro Excursionista Universitário(CEU) de São Paulo, editou um folheto explicandoum conjunto de princípios sobre mínimo impacto comos seguintes tópicos:

• Planejamento é fundamental;

• Você é responsável por sua segurança;

• Cuide das trilhas e dos locais de acampamento;

• Traga seu lixo de volta;

• Deixe cada coisa em seu lugar;

• Não faça fogueiras;

• Respeite os animais e as plantas;

• Seja cortês com os outros visitantes.

Barros e Dines (op. cit.) listam algumas orienta-ções específicas, encontradas em folhetos de parquesnacionais no Brasil, que estão relacionadas ao lado.

Exemplos

Condutores de visitantes – Goiás e BahiaA realidade brasileira, particularmente do interi-or onde se pratica o ecoturismo, requer uma ade-quação na qualificação do guia aos baixos pata-mares de escolaridade e ao difícil acesso aos cur-sos oficiais. Nos estados de Goiás e Bahia, desen-

O curso abrangeu: equipamentos de excursi-onismo; alimentação física e psicológica; visitan-do a natureza suavemente; segurança; primeirossocorros; orientação e leitura de mapas; caminha-das de mais de um dia. O curso foi promovidopelo Ibama, financiado pelo Fundo Nacional doMeio Ambiente (FNMA), e organizado pelaFunatra – Fundação Pró-Natureza.

A maioria dos alunos era composta demineradores de cristal ou de seus filhos. No fim docurso formaram a Associação dos Condutores de Vi-sitantes da Chapada dos Veadeiros (ACVCV). Após oprimeiro curso, foram realizados vários outros cur-sos de reciclagem e de especialização, tais como:manejo de trilhas, primeiros socorros, técnicas deresgate e salvamento, informática, elaboração deprojetos e educação ambiental.

Esses cursos foram realizados por meio de par-cerias com outras ONGs e governos municipais, es-taduais e federal. Dentro da ACVCV, formou-se oGrupo de Busca e Salvamento (GBS), um dos gruposmais bem organizados e treinados do país para otrabalho em áreas naturais.

Outra forma bastante eficiente de capacitar ogrupo foi a realização de intercâmbios. Por intermé-dio desses intercâmbios, condutores que só conheci-am sua localidade viajaram para outros pólos de eco-turismo (Bonito/MS e Pirenópolis/GO).

Hoje, a ACVCV possui mais de cem associados econstitui-se num modelo de ecoturismo de base co-munitária. No entanto, ainda tem espaço paramelhorias como o estabelecimento de um mecanis-mo legal de concessão do serviço de guiamento noparque, uma parceria formal com proprietários deatrativos particulares e a implantação de um sistemade controle de qualidade das trilhas e dos serviços.

volveu-se, na Chapada dos Veadeiros e na ChapadaDiamantina respectivamente, a categoria de con-dutor de visitantes.

O primeiro curso de capacitação ocorreu em1991 em Alto Paraíso, com os moradores vizinhosdo Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Essainiciativa deu-se após o Instituto Brasileiro de MeioAmbiente e dos Recursos Naturais Renováveis(Ibama) proibir acampamentos e visitas desacom-panhadas ao parque por causa da degradação queestavam causando à área.

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• 94Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

Além de vários outros municípios goianos, mo-radores de Lençóis, no interior da Bahia, foram atrásda experiência da ACVCV e formaram a primeiraassociação de condutores da Chapada da Diaman-tina. Hoje, existem dez associações naquela regiãoe, recentemente, foi criada uma instituição regio-nal, a Associação dos Condutores de Visitantes daChapada da Diamantina (ACV-CD), para congregartodas as associações.

A região está protegida legalmente por meiodo Parque Nacional da Chapada Diamantina. Po-rém, trata-se de uma unidade de conservação combaixo grau de implementação, e o trabalho dos con-

dutores está garantindo a proteção na prática e asegurança do ecoturista. O estabelecimento de umaparceria entre o Ibama e a ACV-CD poderá propor-cionar o envolvimento comunitário na gestão doparque e garantir o desenvolvimento do ecoturis-mo de base comunitária.

Monitores ambientais – São PauloA Secretaria do Meio Ambiente do Estado de SãoPaulo criou a categoria de monitor ambiental a fimde capacitar membros das comunidades locais paraque trabalhem com ecoturismo e educação ambien-tal nas unidades de conservação do estado.

Trata-se de um curso de cem horas, dividido emcinco módulos:

1. O ambiente natural e a ocupação humanana região;

2. Introdução ao turismo;

3. O trabalho do monitor ambiental e técnicas decondução de grupos;

4. Primeiros socorros; e

5. Especialização para o trabalho de monitoriamicrorregional (por unidade de conservação).

Além do curso, existe um estágio de 120 horaspara praticar e aprimorar as técnicas.

O curso já foi realizado em parceria com aING-ONG,em vários municípios do Vale do Ribeira,e, recentemente, iniciou-se um trabalho de inte-gração dos monitores, por meio da criação da Redede Monitores Ambientais.

A comunicação e a troca de experiências se-rão fundamentais para o fortalecimento da clas-se, para a melhoria da qualidade dos serviços pres-tados e para o desenvolvimento do Pólo de Ecotu-rismo do Vale do Ribeira.

O associativismoUm dos elementos-chave dessas experiências é oassociativismo. O associativismo é a reunião de pes-soas ou entidades com objetivos específicos a fimde gerar benefícios e superar dificuldades econô-micas, sociais, ambientais ou políticos. Existem vá-rias formas de associativismo (associação, sindica-to e cooperativa).

A organização social é um dos maiores desafi-os para promover o desenvolvimento sustentáveldo Brasil. Por meio do associativismo, podemos de-finir e realizar de forma conjunta planejamentos,prioridades, estratégias, treinamentos, negócios,compras, vendas, transportes, serviços de saúde,educação, recreação e lazer, alcançando, assim, amelhoria da qualidade de vida.

Responsabilidade e éticaA responsabilidade do guia ou condutor é muito gran-de. Cabe a ele cuidar da integridade do turista, dacomunidade local e dos patrimônios cultural e ambi-ental. O condutor precisa seguir rigorosamente oshorários e roteiros e usar flexibilidade quando ne-cessário, procurando sempre atender às expectati-vas do cliente. Experiência, planejamento e bom sen-so são fundamentais para evitar perigo e descon-forto (por exemplo, alterações no clima).

Guia naturalista localiza sinal de rádio de rádio-colarde mico-leão-dourado para grupo de observadores defauna em fazenda vizinha à Reserva Biológica de Poçodas Antas, Casemiro de Abreu, RJ

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• 95Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

Como foi dito anteriormente, não existe um procedi-mento único de excursionismo ou de guiamento. Noentanto, alguns procedimentos e técnicas padrão po-dem ser adaptados de acordo com cada contexto. Nes-ta caixa de ferramentas, são listados procedimentos,técnicas e estratégias para subsidiar o guia no planeja-mento e condução de excursões de um ou mais dias.

Procedimentos de planejamento eorganização da viagemPlanejando o roteiroUm bom roteiro deve ter:

• diversidade (ambiental e cultural);

• autenticidade (mostrar e proporcionar a vivênciado que é típico do local);

• beleza cênica;

• informação em quantidade e qualidade (geo-grafia, ecologia, história e cultura);

• rusticidade com conforto;

• limpeza em todos os locais;

• segurança.

Preparando a logística e o público-alvoPlanejar e providenciar todos os detalhes com an-tecedência:

• preparar mapa do roteiro para divulgação(folder), auxílio a guias e satisfação do visitan-te (saber onde está, aonde está indo e o quetem em volta);

• avaliar expectativas e condicionamento do pú-blico-alvo em relação ao planejado (tempo x dis-tância x esforço físico);

• contar com guias capacitados e experientes;

• verificar as condições do transporte (horário elocal combinados, combustível e manutenção);

• providenciar alimentação e volume de águaadequados;

• verificar as condições climáticas e se preparar(roupas e calçados adequados, chapéu etc.), avi-sando com antecedência ao grupo;

• trâmites burocráticos (por exemplo, autoriza-ção e regulamentos para utilização da área).

Medidas de segurança• Verificar infra-estruturas, equipamentos

e materiais;

• providenciar seguro;

• equipamentos pessoais e coletivos (primei-ros socorros);

• identificar medidas e alternativas de emergên-cia (corpo de bombeiros, hospitais, delegacia etc.);

• conhecer bem a trilha a ser percorrida;

• comunicar itinerário para base de apoio ou pes-soa de confiança: comunicar a saída do grupo,o roteiro e o horário de retorno para alguémque possa providenciar resgate em caso deperda ou acidente;

• cada grupo deve ter um guia principal à frentee outro auxiliar no fim da fila.

Tamanho do grupo e número de guiasO tamanho ideal do grupo bem como o númeroadequado de guias para um determinado grupo sãode grande importância para minimizar impactos eaumentar a segurança e a satisfação do visitante.

A definição desses números depende de umasérie de fatores como: local visitado, experiência dosguias, condicionamento do visitante e clima, nãopermitindo que haja um número ideal preestabele-cido. No entanto, indicamos abaixo algumas estra-tégias que podem auxiliar na definição do tamanhodo grupo e do número de guias necessários.

• Número máximo/mínimo de participantes: os gru-pos devem ter no máximo 15 pessoas; em caso degrupos maiores, deve-se dividi-los em subgrupos.

• Relação de número de guias em função do gru-po (alguns exemplos):

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• 96Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

- dez pessoas (dois guias);

- grupo com faixa etária de 5 anos (um guiacada cinco indivíduos);

- grupo com faixa etária de 8 anos (um guiacada oito indivíduos);

- grupo composto por 15 idosos (um guia maisuma pessoa para primeiros socorros).

Procedimento para a condução de gruposAntes de iniciar a atividade

a) Relaxamento: deve ser feito na intenção de:• reforçar a liderança do condutor;

• concentrar o grupo na atividade;

• estabelecer um ritmo tranqüilo na caminhada;

• equilibrar as diferenças entre os participantes.

Sugestão de atividade: em voz baixa, o guiadeve organizar o grupo, de preferência em formacircular, de modo que todos possam ter uma visãofrontal dos participantes e ao mesmo tempo doguia. Pedir silêncio ao grupo e orientar a explora-ção de todos os sentidos (olfato, visão, audição, tatoe, se possível, paladar). Respirar fundo três vezes.Fechar os olhos. Escutar os sons tentando identificá-los e enumerá-los mentalmente. Sentir o ar (aro-mas, intensidade, temperatura). Tocar, ainda deolhos fechados, algum elemento natural próximoou apresentado pelo guia. Finalmente, de olhosabertos, procurando sempre manter o clima de tran-qüilidade, dar um breve espaço ao grupo para co-mentar sobre a experiência.

b) Alongamento: deve ser feito dando seqüên-cia ao relaxamento a fim de:

• aquecer o corpo para a caminhada;• prevenir possíveis torções.

Sugestão de atividade: espreguiçar, inclinar ocorpo para um lado, depois para outro, fazer rota-ção de quadril, braços, mãos, pescoço e tornozelos.Com as pernas ligeiramente flexionadas, esticar osbraços o máximo para o alto e depois soltá-los emdireção ao chão dobrando a coluna (recomenda-senão forçar). É importante ressaltar que cada pessoapossui condicionamento físico e ritmo diferentes,devendo-se respeitar essas particularidades, princi-palmente com grupos de idosos.

Técnicas a serem empregadas durante a condução• Fazer uma preparação psicológica (animar-se e

motivar o grupo).

• Reunir o grupo em círculo para atrair a atençãode todos.

• Fazer saudações (“bom dia”, “bem-vindos” etc.).

• Fazer apresentação dos guias (nome, naturali-dade, ocupações).

• Apresentar um resumo do roteiro (distância,tempo, atrações, perigos, normas).

• Recomendar o uso de chapéu e protetor solar.

• Caminhar em fila e evitar sair da trilha.

• Fazer pequenas paradas para juntar o grupo,para descansar, comer e beber (de preferênciana sombra ou próximo a cursos d’água).

• Dar oportunidade para comentários e perguntas.

• Falar clara e objetivamente, sem desviar do as-sunto principal.

• Falar alto e claro para o grupo todo. Posicionar-se ao lado do grupo e projetar a voz em direçãoao grupo.

• Não falar demais! Não falar próximo aos turis-tas e mais alto do que eles.

• Esperar silêncio é melhor que “pedir” silêncio.

• Evitar gírias e termos técnicos e não falar pa-lavrões.

• Não paquerar o(a) turista.

• Oferecer água freqüentemente (levar ou indi-car onde conseguir água potável).

• Fazer sempre alertas de segurança (rua, trilha,tocos, buracos, pedras lisas etc.).

• Antes do banho, recomendar molhar primeira-mente as extremidades para evitar choque tér-mico, alertar sobre pedras lisas e proibir saltos.

• Informar nomes de paisagens, animais e plan-tas e sua utilidade para o homem e para o equi-líbrio ecológico. Explicar processos ecológicos(cadeia alimentar, interações – predação, para-sitismo, mutualismo, liquens –, sucessão ecoló-gica, formação de solos etc.).

• Usar de psicologia para superar obstáculos (es-timular o grupo).

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• 97Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

• Evitar ajuda desnecessária ou postura isenta.

• Lembrar que o guia é o líder. Mas também lem-brar que líder não é tirano.

• Realizar brincadeiras para relaxar.

• Atentar para as necessidades fisiológicas dogrupo (e para as limitações que certas pessoastêm em relação a desempenhar essas ativida-des em ambientes não urbanos).

Como tornar uma caminhada mais dinâmica(HAM, 1992)

• Tenha à mão ajuda visual e material de apoio àcomunicação para usar tanto nas paradas previs-tas como em oportunidades inesperadas (guiasde campo, binóculo, lentes manuais, termômetro,trena, corda, mapas, fotos, desenhos, gravador,gravações, argila, amostra de solos, partes deanimais e de plantas, fantoches, bonecos e arte-fatos) conforme o tema e o local a ser percorrido.

• Faça uso das prefigurações (representar algoque está por acontecer) e do mistério, princi-palmente na transição entre as paradas.

• Incorpore atividades curtas em suas paradas, comomedições, uso dos sentidos, jogos, adivinhações.

• Faça perguntas para envolver intelectualmen-te as pessoas no que você está fazendo. Elasservem para aumentar a atenção e podem aju-dar em comparações, deduções, resoluções deproblemas, demonstrações, avaliações.

• Envolva seu grupo na caminhada, estimulandocada um a usar todos os sentidos na busca de coi-sas que são de interesse ou que não possam ver.

• Se a caminhada for em um ambiente natural,não esqueça que essa é uma oportunidade para

as pessoas redescobrirem o seu lugar no mundoe aprenderem sobre elas mesmas. O papel dointérprete é o de assisti-las nessa descoberta.

Dicas para o desenvolvimento de bomrelacionamento com o grupoQualquer interessado em conduzir um grupo deverefletir sempre sobre o seguinte:

• transmitir ao grupo equilíbrio, alegria de esta-rem juntos e em cooperar;

• reúna o grupo quando for discutir assuntos e idéi-as de interesse de todos. Conversar com cadaum deles individualmente pode criar intrigas;

• mudar de idéias ou dar instruções contráriasdurante a execução pode gerar certa confusãoem relação aos subordinados;

• compreender o ser humano, aproveitando suasqualidades em benefício próprio e em benefícioda coletividade, isto é, procurar ser empático;

• procurar o consenso. Sempre obter o acordo detodos, evitando apoiar-se só na maioria, pois àsvezes a minoria tem razão; deixar a minoria tersua oportunidade para conquistar a maioria;

• respeitar profundamente o ser humano, tratan-do as pessoas com cortesia e delicadeza; sua ati-tude tem uma importância fundamental paraos outros membros do grupo e uma influênciamuito maior do que se pensa sobre as própriasatitudes dos outros;

• saber manter a calma. Sua atitude de respeito hu-mano se transmitirá da mesma forma ao grupo;

• controlar suas reações. Pensar dez vezes antes deemitir uma opinião de grande responsabilidade;

• não se deixar levar pelos seus impulsos (quandoalguém fica irritado, procurar, antes de tudo,compreender o porquê da reação);

• respeitar a posição de cada um;

• evitar críticas a qualquer pessoa em público;

• procurar elogiar, diante do grupo, os aspectospositivos de cada um;

• dar a cada um o seu lugar, levando em considera-ção os seus gostos, interesses e aptidões pessoais;

• evitar tomar a iniciativa (mesmo que provisória)de uma responsabilidade que pertença a outrem;

• evitar dar ordens, procurando a cooperaçãode cada um;

• evitar tomar partido nas discussões fazendo re-gistrar, imparcialmente, as decisões do grupo.

Cordas, binóculos, mapas são instrumentos importantese necessários para caminhadas e escaladas. Escalada doPão de Açúcar, Rio de Janeiro, RJ

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• 98Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

Atitudes ecologicamente corretas

“Mandamentos do ecoturista”1

• Faça a escolha certa antes de viajar – sejacriterioso ao escolher seu operador turístico.Peça que ele forneça informações detalhadassobre o roteiro e a região. Certifique-se de queele segue princípios ambientalmente corretos.

• Seja receptivo. Viaje com predisposição de en-contrar e conversar com a comunidade local.

• Em vez de procurar o comum, procure descobrira riqueza de outros modos de vida.

• Respeite os hábitos culturais alheios. As culturas,as crenças religiosas, os costumes, o estilo de vida eas manifestações artísticas variam de região pararegião. Aceite-as, respeite-as e compreenda-as.

• Seja culturalmente sensível, principalmente aotirar fotografias, pechinchar, escolher seu ves-tuário. Cultive o hábito de escutar e observarmais do que meramente ouvir e ver.

• Observe os animais a uma distância que elesconsiderem segura. Aprenda a aproximar-sediscretamente e resista a tentação de che-gar mais perto.

• Informe-se sobre os regulamentos locais. Man-tenha-se na trilha principal e não use atalhos.Não deixe lixo para trás. Não colete plantas,animais, conchas, pedras e artefatos.

• Contribua para o desenvolvimento de proje-tos locais e transmita sua experiência a ou-tros visitantes.

Outras dicas que contribuem para o estabeleci-mento de uma atitude ecologicamente correta tan-to do condutor como do turista são:

• respeito ao próximo;• trilha única;• recolher o próprio lixo e outros encontrados

na trilha;• consciência na coleta (ver item seguinte);• silêncio;• não utilizar armas de fogo;• tirar apenas fotografia;• não levar aparelhos de som.

Coleta de frutos e sementesDeve ser feita somente com autorização da unidadede conservação ou do proprietário e com responsa-bilidade. Colecionar frutos comestíveis ou não (ape-nas um de cada).

No fim do dia, observar quantidade e varieda-de de formas (biodiversidade), anotar utilidades co-nhecidas pelo grupo e recomendar pesquisar outras.Recomendar o plantio de sementes e da futura mudana escola, na praça ou no quintal de casa.

Trabalhos artísticosColagens, desenhos, pinturas e esculturas são inte-ressantes de serem feitos com rochas, solo, pigmen-tos, galhos e folhas secas, durante ou após a excur-são, principalmente com grupos escolares na inten-ção de explorar a diversidade de formas, texturas ecores e de reforçar o aprendizado de campo.

Equipamentos e alimentaçãoEQUIPAMENTOS

CalçadosDevem ser confortáveis. Os mais indicados são os decano alto, tipo botinhas, ou tênis para basquete. Emlocais fechados e perigosos, use botas altas ouperneira para evitar picada de cobra. Os calçadosdevem ser amaciados anteriormente. Nunca estreieum calçado novo em uma caminhada, você pode teruma desagradável surpresa. As unhas devem estarbem aparadas, evitando, assim, que provoquemmachucados ou encravem. Leve uma sandália levepara os momentos de banho e descanso.

RoupasPrecisam ser adequadas ao clima, ao local e à ativi-dade. Em clima quente, use roupas leves. Em locaiscom muitos insetos, use roupas compridas. As calçascompridas devem ser largas para não dificultar osmovimentos, sendo aconselháveis as de brim ou1 Segundo Lindenberg e Hawkins (1995).

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• 99Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

poliamida. As camisas devem ser de algodão parapermitir a troca de calor entre o corpo e o ambiente.As roupas de reserva para frio, vento e chuva nãodevem ser esquecidas. Lembre da roupa de banho etoalha leve (viscose de rayon). Para a proteção con-tra o sol, um chapéu é muito importante.

MochilaAs melhores são as de nylon grosso e forte, comreforço nos locais de implante das alças. Devemser acolchoadas e reguláveis. Deve ter umabarrigueira que serve para transferir o peso dosombros para os quadris. Quanto ao tamanho, umade volume igual a 60 litros é ideal, pois não é mui-to grande. O importante é que tudo caiba dentrodela, evitando, assim, objetos pendurados que pre-judicam bastante os movimentos.

BarracasA opção deve ser pelas mais leves, impermeáveis eque ocupem o menor volume possível. A armaçãodeve ser de alumínio ou fibra e o peso deve ser no

máximo de 1,5 quilo por pessoa. Prefira as que te-nham sobreteto de nylon, importante para a con-tenção da chuva. As barracas devem ser armadas emlocal protegido do vento e que receba sol pela ma-nhã. O terreno deve ser seco e relativamente plano.Um plástico leve e resistente deve ser colocado en-tre o terreno e a barraca para, além de protegê-la,isolar da umidade e o frio.

Sacos de dormirOs melhores são de fabricação artesanal, pois sãomais leves – pesam por volta de 1 quilo – e proporci-onam maior conforto térmico. O saco de dormir nãodeve ser muito grande, seu volume máximo deveser, geralmente, de 40 centímetros por 25 centíme-tros de diâmetro, guardadas, é claro, as característi-cas físicas de cada indivíduo.

Isolante térmico (espuma)Colchonete bem fino, fabricado na espessura de 6milímetros a 10 milímetros, proporciona certo iso-lamento contra a umidade e a friagem do solo,

mas não chega a acolchoar oua compensar as irregularida-des do terreno.

FogareiroExistem fogareiros a gás, benzi-na e querosene. O último é o quepossui maior poder calorífico. NoBrasil, há a venda de fogareiroscom cartucho de gás descartável,de fabricação Yanes. São peque-nos e leves, mas em temperatu-ras abaixo de zero não funcio-nam bem. Para essas ocasiões, émelhor a espiriteira a álcool.

Outros

• apito e sinalizador

• caderneta e lápis

• cantil

• cordinhas de nylon

• lanternas e pilhas

• velas, fósforo ou isqueiro

• GPS e/ou bússola

• kit de costura

• kit de primeiros socorros

• transporte: combustível, óleo, pneus, estepe edocumentos

• panelas, pratos, talheres e caneca

• papel higiênico

• faca ou canivete, abridor de latas

• protetor solar

• repelente contra insetos

• sacos plásticos grandes e pequenos.

• solução ou pó reidratante.

• telefone celular, rádio-comunicador e baterias

• uniforme e crachá dos guias

ALIMENTAÇÃO

• Para refeições noturnas, em acampamentos, porexemplo, é preciso, primeiramente, consideraro número de pessoas e fogareiros disponíveis.Pratos como risotos e feijoadas vegetarianassimplificam e reduzem o tempo de preparo.

• Observe a disponibilidade de água.

• Em viagens de um dia, preparar a alimentaçãose torna muito mais simples. Os lanches prepa-rados em casa podem incluir pão integral, pas-tas diversas, brotos frescos. Frutas frescas de

Barracas montadas em camping selvagem

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• 100Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

consistência firme, suco em caixa, barras degranola, cenouras e doces integrais podem es-tar incluídos no kit lanche.

• Ao pensar no cardápio e executá-lo, o grupo sedá oportunidade de ampliar suas relaçõesafetivas, uma vez que o período reservado àsrefeições é, também, um momento de integra-ção do grupo.

• Acima de tudo, é importante que o momento darefeição seja não só de reposição de energia per-dida com o desgaste físico, mas também de di-versão e coroamento das boas relações sociais.

• Faça um cardápio prévio conforme o númerode refeições e de pessoas e, também, liste esepare todos os itens necessários.

• Acondicione os itens de alimentação, em sacoplástico. Leve ainda sacos para lixo.

• Leve temperos, chás e outros itens que podemdar um sabor especial à viagem.

• Não leve comida demais. Leve algum alimento(um pacote de bolacha ou frutas secas ou umabarra de chocolate) fora do cardápio para umasituação de emergência.

• Dê preferência a alimentos naturais, integrais efrescos (quando possível). Cuidado com os refri-gerados pois poderão se deteriorar facilmente.

• Para equilibrar nutrientes, use seu bom sensolevando alimentos variados, coloridos, saborosos.

• Lembre-se do tempo de durabilidade de cadaalimento.

• Pense no peso e volume dos alimentos que estáescolhendo. Isso facilita a montagem da mochila.

• Numa situação de emergência, se ficar sem ali-mento, poderá fazer uso de alguns insetos, lar-vas e frutos silvestres.

• Tenha cuidado especial com os restos alimenta-res e vestígios. Cuide do seu lixo!

• Recomende ao grupo que tome um desjejumreforçado antes de sair de casa.

• Leve sempre um cantil com água (pelo menosum) e reabasteça-o sempre que possível.

• Evite água parada, próxima de pastagem e re-sidências. Pode-se utilizar hipoclorito de sódioou Hidrosteril, conforme indicação da embala-gem, para purificar a água.

• Ao programar o cardápio, lembre-se da águapara cozimento.

Kit alimentação para um dia de caminhada

• Lanche: biscoito, cereais (granola), chocolate ourapadura, frutas desidratadas ou cristalizadas,frutas frescas (maçã, pêra, nectarina, laranja),farofa ou paçoca de carne, leite em pó e cafésolúvel. Evite enlatados, vidros e produtos pe-recíveis (queijo, presunto).

• Suco e/ou água potável.

Kit alimentação para caminhada com pernoite(acrescentar ao kit caminhada de um dia)

• Almoço: macarrão com molho, salada (cenoura,pois não amassa), suco de fruta.

• Jantar: uma sopa com torradas, vinho.

• Café da manhã: cereais, mel, pão, manteiga,geléia, leite em pó, chocolate em pó.

• E muita água.

IndicadoresUma boa forma de verificar o desenvolvimento daatividade de guiamento ou condução de visitantesé a criação de um sistema de registro de visitantese de grupos guiados, que pode ser feito em umcentro de atendimento ao turista ou na entrada deum atrativo natural.

É interessante aproveitar a oportunidade parase realizar dois trabalhos:

• definição do perfil do turista – devem-se coletarinformações como: data, roteiro, tamanho ecomposição do grupo, transporte utilizado, ex-pectativas, interesses (pode ter uma lista de op-ções: caminhada, escalada, cavalgada, bicicleta,observação de fauna e flora etc.), procedência,profissão ou ocupação, escolaridade, poder aqui-sitivo (pode ser medido indiretamente atravésde posses: número de carros, geladeiras, TVs etc.).

• registro do guiamento – deve conter tamanhodo grupo, roteiro, nome do guia ou condutor euma avaliação do serviço de guiamento, quedeve ser dada pelos turistas após a excursão,de forma discreta e até mesmo sigilosa paraevitar constrangimentos.

Cuidados especiais• Cargas extras

• Chuva/raios

• Roubos

• Fogo/queimadas – Frio/calor

• Facão/“terçado”

• Animais (vacas, cobras,abelhas, morcegos etc.)

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www.mpefunbio.org.br - Incentivamos a cópia, reprodução e divulgação do conteúdo. Favor mencionar a fonte.

A s trilhas de uso público em áreas naturais permitem suprir as

necessidades recreativas, com a segurança e o conforto neces-

sários para o visitante e sem prejudicar o meio ambiente. Se-

gundo o autor, as trilhas também podem ser motivo de encora-

jamento ao visitante a se manter em um caminho mais fácil, evi-

tando obstáculos e a abertura desnecessária de desvios.

MANEJO DE TRILHASWALDIR JOEL DE ANDRADE4.3

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• 102Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Manejo de trilhas, Waldir Joel de Andrade

Um dos objetivos de trilhas de uso público em áreasnaturais é suprir as necessidades recreativas demaneira a manter o ambiente estável e permitir aovisitante a segurança e o conforto necessários.

As trilhas devem sutilmente encorajar o visitan-te a permanecer nelas por serem facilmente reco-nhecidas como caminho mais fácil, que evita obstá-culos e minimiza a energia dispensada. Para tanto,devem manter uma regularidade e continuidade deseu caminho, evitando mudanças bruscas de direção

e sinalização. Obstáculos como pedras, árvores caí-das e poças de lama devem ser evitados, pois provo-cam a abertura de desvios.

Grande parte do impacto ambiental em trilhasocorre por causa do seu abandono. Este é conseqüên-cia de: tentativa de evitar necessários ziguezagues,obstáculos e trilhas com superfície formada somen-te por pedras ou, ainda, a procura da sensação de“aventura” (Schelhas, 1986).

A alta qualidade do desenho de uma trilha de-pende primariamente do balanço entre beleza eobjetivo. Características naturais e cênicas devemser combinadas de forma criativa (Proudman, 1977).

O planejamento de trilhas deve levar em con-sideração alguns fatores como: variação das con-dições da região em decorrência das estações doano, informações técnicas (mapas, fotografias etc.)

já existentes sobre a região, pro-babilidade de volume de uso futu-ro e as características de drena-gem, solo, vegetação, hábitat, to-pografia, uso e exeqüibilidade doprojeto (Agate, 1983).

Pesquisar e ressaltar caracterís-ticas históricas e culturais leva à oti-mização das informações e à inclu-são da dimensão educacional às tri-lhas (Proudman, 1977). Tanto quan-to possível, as áreas atravessadaspelas trilhas devem apresentar gran-de diversidade biológica, climática etopográfica. Um dos problemas dodesenho de trilhas está relacionadoa variações de nível, onde a necessi-dade de ascensão é contraposta pelaerosão causada pela água.

É importante evitar que a direção da água sejaa mesma da trilha. Deve haver, ao menos, um siste-ma de drenagem correto para que ela corra “pela”e não “ao longo” da superfície da trilha.

Uma forma de ascensão moderada é conseguidapelos ziguezagues, mas sua construção deve levar emconsideração os seguintes fatores: eles são difíceis deconstruir, sua repetição é monótona, devem dar a sen-sação de avanço para quem sobe, devem ter curvasespaçadas para que uma não seja visível de outra (afim de evitar que as pessoas cortem caminho) e a dis-tância entre elas deve ser longa (Proudman, 1977).

Outra maneira de ascensão gradual é consegui-da pelas trilhas que contornam obliquamente cumes.Tais trilhas devem ter sua superfície com inclinaçãooposta (ou, pelo menos, em posição horizontal) emrelação à vertente e com canal de drenagem em suaparte interna, a fim de evitar problemas futuroscomo a erosão.

A concepção e o desenho das trilhas tambémdependem do ambiente em que a trilha se encontrae do acesso e volume de público que ela suportará.

Existência (ou não) e tamanho de estacionamen-tos são fatores importantes que também devem serlevados em consideração.

Obras

Há três fatores mais comuns causadores da necessida-de da realização de obras em trilhas: drenagem, ultra-passagem de corpos d’água e contenção de erosão.

Drenagem

Como a presença de uma trilha altera o padrão decirculação de água na área, algumas obras de “reor-ganização” da drenagem são necessárias.

Ponte pênsil, Parque Estadual de Campos do Jordão, SP

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• 103Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Manejo de trilhas, Waldir Joel de Andrade

Figura 1 – Drenagem (canais, valetas e barreiras)

Ponte, Parque Estadual dos Campos de Jordão, SP

Ponte pênsil, Parque Estadual dos Campos de Jordão, SP

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Figura 2 – Pedras ou troncos e tablados ou estradospara ultrapassagem de alagados

Podem-se construir canais laterais de escoamen-to (para que a água corra paralelamente à trilha),canais que cruzam perpendicularmente à trilha (tan-to em nível como por baixo da mesma) e valas oubarreiras oblíquas à superfície da trilha, para facili-tar o escoamento da água que está eventualmentesobre ela (Figura 1).

Ultrapassagem de corpos d’águaNeste tema, estão incluídos não só a ultrapassa-gem de rios e riachos como também a ultrapassa-gem de locais alagados. No primeiro caso, as obrassão basicamente de construção de pontes epinguelas (figuras 1, 2 e 3).

Com relação à ultrapassagem de alagados (Fi-gura 4), pode-se solucionar o problema com blocosde pedra e/ou “fatias” de troncos dispostos estraté-gica e seqüencialmente. Outra maneira (porém maisdispendiosa) são os tablados ou estrados, que per-mitem uma caminhada fácil e segura, transferindoa superfície de uso direto do solo para a madeira.

Contenção de erosãoHá dois principais fatores de alteração do solo de-correntes da utilização de trilhas: compactação eerosão. O efeito do pisoteamento do solo produzum impacto mecânico direto que resulta na diminui-ção de seus poros. Compactando-se o solo, diminui

BARREIRA

VALAperpendicular

CANALlateral deescoamento

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• 104Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Manejo de trilhas, Waldir Joel de Andrade

Figura 3 – tipos de degraus utilizados em trilhas

sua capacidade de retenção de ar e absorção de água,alterando, assim, sua capacidade de sustentar a vidavegetal e animal (microfauna do solo) associada.

Erosão é um processo natural que causa gravesproblemas em áreas onde existem trilhas, principal-mente em regiões montanhosas. A erosão depen-de, em sua maior parte, do tipo de solo e do padrãode drenagem da área. Algumas causas podem sercitadas como facilitadoras do processo de erosão:alteração e morte da vegetação (que impede que asraízes auxiliem na manutenção da estrutura do solo)e pisoteamento (que provoca agitação da superfí-cie, possibilitando o deslocamento de pequenas quan-tidades de solo, principalmente em declives).

A presença de trilhas altera, ainda, o padrão decirculação da água na região. O solo deixa de absor-ver grande porcentagem da água, que passa a es-correr preferencialmente ao longo da superfície“lisa” da trilha. A água provoca o deslocamento de

partículas aumentando, desse modo, a erosão. Quan-to maior a inclinação do terreno, maior a velocidadeda água, e maior será a quantidade de partículasdeslocadas. Deve-se, pois, impedir que a água escoepor sobre a superfície da trilha, adotando-se as me-didas de orientação de drenagem, anteriormenteabordadas ou, ainda, pela contenção de erosão, cons-truindo-se degraus e “paredes”.

A construção de degraus é uma das mais difí-ceis obras em trilhas. Devem ser construídos somen-te se não houver outra alternativa. É importanteevitar longos trechos de degraus em linhas retas,construção em terrenos ao lado de quedas abruptas(terrenos normalmente instáveis) e também anali-sar o local da obra tanto com uma visão de quemdesce como de quem sobe, a fim de tornar o traçadoo mais atrativo possível (Agate, 1983).

Os degraus podem ser feitos de várias maneiras:com pedras, troncos e pranchas de madeira (Figura 3).

A construção de “paredes” de contenção em decli-ves (Figura 4) tanto previne a erosão da trilha, nocaso da encosta estar abaixo dela, como previne adeposição de material advindo da encosta acima.Também pode ser feita de pedras, troncos ou comambos (Agate, 1983; Proudman, 1977).

Outras

• MiranteEstrutura para prover segurança durante ob-servação de um determinado panorama.

• CorrimãoEstrutura para prover segurança, em escadas epinguelas.

• Guarda-corpoEstrutura de proteção, principalmente em mi-rantes, quando há exposição a desníveis acen-tuados e perigosos.

Figura 4 – paredes de contenção

com pedras

com tábuasisoladas

com troncos

em escada

contenção da erosão“acima” da trilhacom o uso de maisde um material

contenção da erosão“abaixo” da trilhacom o uso de pedras

contenção da erosão“acima” da trilha como uso de madeira

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• 105Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Manejo de trilhas, Waldir Joel de Andrade

SinalizaçãoHá necessidade de se proceder à sinalização de tri-lhas visando à segurança do excursionista e dos re-cursos da área atravessada pelas trilhas. A sinaliza-ção deve ser sistemática, compreensível e à provade vandalismo (Proudman, 1977).

As vantagens de sinalização em trilhas são asseguintes (Agate, 1983):

• permitir que os excursionistas (não familiariza-dos com a área a ser explorada) evitem gastoscom a aquisição de mapas;

• possibilitar que se encontre o caminho em áreasflorestais onde até mesmo os mapas de maioresescalas não apresentam detalhes suficientes;

• reduzir invasões acidentais;

• encorajar o uso de trilhas pouco conhecidas, re-duzindo a freqüência de limpeza (clareamento)da trilha.

Os tipos de sinalizações considerados neste ca-pítulo são:

• marcação à tinta;

• placas;

• montes de pedra (totem);

• fitas.

Marcação à tinta

Marca padronizada colocada estrategicamentenuma árvore ou pedra. A marca na Appalachian Trail(Proudman, 1977) é uma mancha branca de 2 x 6polegadas (aproximadamente 5 x 15 centímetros).Deve-se definir uma forma e cor padrão para a tri-lha. As melhores cores para uso nesses casos sãoazul, vermelho, amarelo, branco e laranja. Num sis-tema de trilhas, o interessante é usar cor primáriapara a trilha principal e uma cor secundária para astrilhas secundárias. Látex ou lucite são suficientes.

Após a seleção dos pontos a serem marcados,deve-se prepará-los apropriadamente para recebera tinta. Com um raspador ou escova de aço, deixa-sea superfície do tronco uniforme para ser pintada. Parase preparar a superfície de pedra, a escova de aço ésuficiente. Em caso de se alterar o traçado da trilha,marcações abandonadas devem ser obstruídas paranão causarem confusão aos excursionistas.

Placas

As placas são de importante utilização ao longo datrilha, pois informam o nome, a direção, os pontosimportantes, a distância e o destino.

Corrimão e degraus, Parque Estadual da Cantareira, SP

Elas podem ser confeccionadas em pedra, me-tal ou madeira. O último tipo é o mais popular eatrativo, e, se devidamente afixada, dificilmente aplaca será retirada como suvenir por certos visitan-tes inescrupulosos. Para se confeccionar tais placas,não se necessita técnica sofisticada. Na escolha damadeira, deve-se levar em conta os seguintes fato-res: durabilidade, resistência de ser trabalhada, dis-ponibilidade e custo. Uma placa de boa qualidade éaquela que não entorta e não possui nós.

As dimensões das placas são variáveis de acor-do com o comprimento da mensagem. Placas de iní-cio de trilha, por conterem um número grande deinformações, devem ter aproximadamente 3,5 cen-tímetros de espessura e as demais de 1 a 2 centíme-tros. Estas devem ser geralmente pequenas. Forma,cor e letreiro devem ser padronizados.

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Guarda-corpo, Parque Estadual Campos do Jordão, SP

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• 106Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Manejo de trilhas, Waldir Joel de Andrade

A maioria das placas, em geral, não necessitaráde letras com altura superior a 5 centímetros. Parapintá-las, podem-se usar duas cores de fundo e ou-tra para as letras ou, ainda, apenas uma cor para aletra sobre fundo natural. Neste caso, deve-se apli-car verniz náutico para proteger a placa das intem-péries. Uma forma mais durável de grafia em ma-deira é o entalhe das letras embaixo, o que tambémfacilita sua manutenção.

Para instalação das placas, pode-se utilizar umposte de madeira, tratada de preferência, ou apoiá-las sobre pilhas de pedra (totem). Pode-se, ainda,pendurá-las nas árvores ou arbustos, utilizando ara-me ou fio de nylon. Fixar placas em árvores utilizan-do-se pregos não é indicado, do ponto de vista ético.

Montes de pedras (totem)Para se marcar trilhas em áreas desprovidas de ár-vores, é preciso construir pilhas de pedras, de fácilvisualização, também conhecidas por totens.

A distância entre elas deve ser de 30 a 50 metros.O importante é que o excursionista ao lado de umtotem possa visualizar outros dois – da frente e detrás. Dessa maneira, cada um deve ser locado estra-tegicamente. Ocasionalmente, pode-se pintar as pe-dras do topo do totem para facilitar a visualização.

FitasOutra forma de se marcar o caminho é pela utiliza-ção de fitas coloridas (as de plástico são duráveis enão perdem a cor) amarradas nos galhos, em tron-cos de árvores ou arbustos. No caso de regiões des-providas de galhos e arbustos, amarram-se as fitasno alto de uma estaca de madeira ou ferro.

Ferramentas e acessóriosAs ferramentas usadas deverão variar de acordo como tipo de trabalho. Deve-se sempre ter a ferramentaadequada para cada tipo de tarefa. Os instrumentosutilizados tanto na implantação como na manuten-ção de trilhas não variam muito; em ambos os casos,deve-se sempre levar um kit de primeiros socorros.Uma lista de ferramentas é apresentada a seguir.

• Machados: são muito utilizados para cortar ár-vores e grandes galhos caídos e para prepararmourões usados em degraus ou na contençãode paredes. Existem os machados de duas facesafiadas, mas os de face única são mais segurose populares. O tamanho e o peso dependerãoda pessoa que usará o machado e do tipo detrabalho a ser feito.

• Pé-de-cabra: essencial no deslocamento degrandes pedras ou mesmo troncos.

• Serras: são utilizadas para cortar galhos e ár-vores. O tipo e o tamanho dependerão do tra-balho e do espaço disponível. O uso da motos-serra deve ser planejado pois pode haver difi-culdade de acesso a transporte de combustívelaos locais de trabalho.

• Picareta.

• Enxada.

• Pá.

• Baldes: utilizados para eventuais transportes daterra, areia, água etc.

• Ferramentas de carpintaria: utilizadas na cons-trução de pontes, degraus etc.

• Kit com martelo, pregos, arames, barbantes,panos (para secar os cabos das ferramentas emtempos úmidos e para limpar placas de sinaliza-ção), lima para amolar etc.

Deve-se salientar a necessidade de equipamen-tos de segurança, como óculos para a proteção dosolhos (utilizados durante o trabalho de cortar ou ser-rar madeira), luvas, capacetes e roupas adequadas.

Monte de pedra (totem)

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• 107Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Manejo de trilhas, Waldir Joel de Andrade

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