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A Deloitte comemora este ano 40 anos de actividade em Portugal. Foi entendimento dos seusresponsáveis assinalar a data com o lançamento, muito recentemente, de um Think Tank, designadoDeloitte Circle.

O primeiro trabalho a ser levado a cabo por esse Think Tank é designado Projecto Farol, cujolançamento e respectivas linhas de força são hoje dados a conhecer através do presente documento.

Ao longo das quatro décadas de vida que leva em Portugal, a Deloitte pôde, juntamente com osseus clientes e mais relevantes stakeholders, testemunhar e ser cúmplice de uma muito rica esignificativa fase da vida política, social e cultural de Portugal.

A dimensão única das transformações operadas é facilmente avaliada pela referência ao facto determos assistido à queda de um regime ditatorial com cerca de meio século de vida, ao fim de umimpério colonial de cinco séculos e à posterior integração plena na União Europeia. Estes dois últimospassos trilhados por acção de um processo político que levou à sedimentação de um regimedemocrático que tem protagonizado um rápido trajecto até uma fase mais madura de existência,como aquela que hoje evidencia.

Uma visão partilhada

Existe a percepção de que, uma vez dados estes grandes passos, ficam por operar na sociedadeportuguesa transformações profundas que, pela sua natureza, exigem uma visão partilhadae a adopção de políticas com uma matriz temporal de realização a longo prazo. Esta ingentetarefa só poderá ser alcançada com o contributo de todos, num esforço colectivo com um evidentealcance nas futuras gerações.

Tendo-nos faltado uma visão prospectiva sobre o futuro, é necessária, agora e mais do que nunca,uma estratégia que nos vá servindo, ao longo dos anos, de padrão e de … farol.

Assim, o Deloitte Circle entendeu promover uma iniciativa que tem em vista preparar um contributopara o futuro do país, contributo esse que é o produto da reflexão de um alargado núcleo depersonalidades da vida social, cultural e política nacional convidadas para o efeito.

Reflexão e confrontação

Nos próximos meses, terá lugar um conjunto vasto de iniciativas, suscitando a reflexão e aconfrontação de ideias e pontos de vista sobre as dimensões críticas que devem dar suporteà transformação do país, por forma a que seja produzido um documento final, tornando públicasas conclusões do trabalho e as iniciativas e acções que devem ser prosseguidas para alcançar aambição que aqui se enuncia e que todos quantos se envolveram no trabalho partilham. O contributodo Deloitte Think Tank materializar-se-á no apoio ao trabalho que as personalidades convidadasdesenvolverão.

Projecto Farol

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1. Os objectivos

Este documento pretende ser um contributo ambicioso e abrangente, provindo da chamada sociedadecivil, tendo em vista o desenvolvimento e o progresso de Portugal. O documento assenta numa visãoindependente de qualquer corrente ideológica, projecto ou partido político, e não se quer alinhadopor qualquer escola ou tendência de pensamento social ou económico.

Sem prejuízo do referido, a visão que este documento corporiza está comprometida com os princípiosque incorporam um Estado de Direito, bem como com as políticas que reconhecem no modelo deeconomia de mercado, a forma mais eficiente de criar riqueza e elevar os níveis de bem-estar social.

Contributo ambicioso e abrangente

O documento pretende fazer a síntese da leitura que os seus autores têm sobre o País, enriquecidacom os contributos de todos quantos acederam a participar nas jornadas de reflexão paralelamenteorganizadas, tendo como pano de fundo a ideia de que Portugal deverá estar na linha da frente dasnações mais desenvolvidas, num processo colectivamente construído por uma sociedade ambiciosa,mobilizada para os grandes desafios e com os mais exigentes níveis de educação e de formaçãoprofissional e cultural.

Naturalmente que, se a interdependência entre os Estados vem paulatinamente estreitando o âmbitoda sua independência, qualquer visão para Portugal terá de ter em boa conta o quadro do desenvolvimentoeconómico, político e social internacional e, particularmente, europeu.

2. O enquadramento

Numa economia crescentemente globalizada, a competitividade e a coesão assumem-se comodimensões essenciais para a afirmação de uma sociedade com níveis superiores de bem-estar social.

Naturalmente que a globalização contém em si desafios que devem ser adequadamente identificados;alguns deles devem merecer uma cuidada reflexão, por forma a que os respectivos efeitos sejamminimizados; outros, porém, podem ter efeitos positivos de relevãncia decisiva, sendo necessário quea sociedade portuguesa tire deles o máximo partido e afirme a sua ambição no quadro de umasociedade global.

Nas décadas mais recentes (notoriamente, desde o pós-guerra, mas com acontecimentos “aceleradores”,maioritariamente de natureza política, com destaque para a queda do Muro de Berlim, a peculiarabertura do regime chinês, a emergência de outras economias asiáticas, o alargamento da UniãoEuropeia) a Humanidade experimentou um período ímpar de evolução positiva dos principaisindicadores de desenvolvimento e bem-estar.

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Portugal - uma evolução globalmente positiva, mas inconsistente

Portugal também registou nesse período uma evolução globalmente positiva, até porque oponto de partida era particularmente baixo; porém, essa evolução tem sido inconsistente, factoque não lhe tem permitido acompanhar, mormente na última década, o ritmo de criação de riquezaque espaços congéneres têm registado, o que interrompeu uma tendência de convergência com asprincipais economias ocidentais que se vinha desenhando.

O Estado Novo e o período revolucionário que se seguiu ao 25 de Abril foram sendo apontados, muitoacertadamente, como factores redutores e absolutamente condicionadores do desenvolvimento dePortugal. Porém, volvidas várias décadas sobre a instauração da democracia, vai sendo tempo deavaliar e julgar o desempenho do país — a qualidade e o sucesso das políticas prosseguidas — comrecurso a uma visão centrada no nosso tempo e no novo caminho que temos trilhado.

Os elementos disponíveis mostram que essa avaliação está longe de ser positiva. Sem prejuízo dasciclicamente anunciadas intenções de reforma do Estado — e de alguns passos positivos dados nessesentido — o que é certo é que existem sectores essenciais do Estado que mantêm um muito baixograu de eficiência e de eficácia: sectores como a justiça, a saúde e a educação, pesando fortementeno desempenho dos agentes económicos, retiram competitividade à economia nacional.

De par, e mais relevante ainda, os cidadãos, seja individualmente, seja agrupados em estruturas deintervenção (v. g., movimentos cívicos, partidos políticos, associações empresariais) ou em organismosde criação de valor (em geral, as empresas), vêm manifestando uma geral incapacidade para geraremou dinamizarem movimentos de mudança; pelo contrário, evidenciam sentimentos de acomodaçãoque poderão ter, a prazo, o efeito de esterilizar as forças de reforma e de mudança de mentalidades.

Mobilizar para a ambição

Urge, pois, mobilizar a sociedade para dar corpo a uma ambição que, é nosso entendimento,perpassa transversalmente por todos nós. A crise financeira que o mundo tem atravessado e aconsequente crise geral das principais economias mundiais têm tido a virtualidade — única,seguramente, mas não desprezível nem desperdiçável — de fazer emergir, com mais força do quenunca, a necessidade de mudanças estruturais relevantes em alguns domínios, sem que isso signifiquepôr em causa o quadro geral de organização e funcionamento do modelo de economia de mercadoque tem alicerçado o êxito das mais prósperas economias.

Sem prejuízo, o tempo e os ares que se respiram são de mudança. Há, pois, que aproveitar omomentum.

3. Uma ambição

Portugal na linha da frente

É hoje muito claro que Portugal deve afirmar um conjunto de políticas que dêem corpo a umaousada ambição de querer estar na linha da frente, ombreando com as sociedades que registammelhores desempenhos. Só assim poderá encontrar no seu seio a força e a vontade de transformaressa ambição em desígnio colectivo.

É intuitiva e, como tal, não merece tratamento aprofundado, a ideia de que são necessárias algumasdécadas para transformar a sociedade portuguesa em membro de pleno direito do clube restrito dospaíses mais desenvolvidos.

Sendo assim, as elites sociais (aqui entendidas como os grupos de cidadãos que, por terem tidomais oportunidades, mormente de acesso a educação, têm igualmente mais responsabilidades edeveres de retribuição, de partilha e de contribuição para a colectividade) devem assumir a tarefade contribuírem para o desenho dessa ambição.

A globalização sublinha ainda mais esta necessidade e esta responsabilidade, ao criar forças depressão que podem cavar a distância entre as sociedades mais e menos prósperas, de forma idênticaaquela pela qual vem adensando esse fosso entre cidadãos.

Dimensões críticas

As dimensões críticas da nossa Ambição passam por algumas ideias fortes:

Coesão - uma prioridade nacional

1. Pela afirmação de uma sociedade que goze de um elevadonível de coesão social e territorial, por forma a que asdesigualdades sociais sejam esbatidas, o acesso aos bense serviços essenciais sejam generalizados e a redistribuiçãoda riqueza seja uma prioridade nacional e se processede uma forma justa. Por forma a que um exercício comparativocom as principais economias mundiais nos coloque em linhacom os indicadores mais saudáveis aí registados, seja quantoa distribuição de rendimentos e acesso a níveis de bem-estarsocial, seja quanto a distribuição geográfica de riqueza e dedinâmica empresarial.

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Nova cidadania - escrutínio responsável

2. Pela contribuição para a emergência de uma novacidadania, assente num património de valorescolectivamente partilhados, escrutinados e defendidospor cidadãos crescentemente responsáveis individual ecolectivamente, conscientes do primado da pessoa, massolidários com a colectividade, empenhados na vida políticada comunidade em que se inserem.

Cultura - universal, mas comprometida

3. Pela construção de uma sociedade criadora, culturalmentedinâmica e diversa, simultaneamente aberta ao conhecimentouniversal e comprometida com as suas raízes de valores e detradições, mas permeável a todas as culturas e afirmando uma posturaaxiologicamente empenhada na construção de uma sociedaderesponsável, tolerante e orientada para uma actuação global. Osindicadores de aferição do cumprimento desta ambição deverão ter emconta o resultado de políticas de fomento à produção e difusão dacultura portuguesa, em Portugal e no mundo, e à qualidade da aberturada sociedade ao Mundo.

Educação - um compromisso dos cidadãos

4. Pelo compromisso dos cidadãos com a sua educação,e por um sistema de ensino que se afirme como a grandeprioridade nacional, como reconhecimento de que a qualidadede uma comunidade assenta na qualidade dos cidadãos quea compõem. Um sistema de ensino que se dirija aos cidadãosao longo de toda a sua vida, embora especialmentecomprometido na formação de jovens que se afirmeminternacionalmente como os melhores dentre os melhores,capazes de se inserirem num mercado de trabalhocrescentemente global e onde o conhecimento é factorprimeiro de selecção.

Globalização - uma afirmação

5. Pelo desenvolvimento de um quadro de competitividadeempresarial saudável que afirme e consolide uma malhaempresarial inserida na economia global, aberta à inovaçãoe à excelência e que, de uma forma socialmente responsável,sedimente projectos empresariais sustentáveis, assentes emexemplares práticas de bom governo empresarial.

Financiamento da economia - poupança e riqueza

6. Pela afirmação em Portugal de políticas e práticas quecontribuam para a acumulação de capital, seja pela viada poupança, seja pela via da acumulação de riqueza porparte das empresas, por forma a que o financiamento daeconomia seja facilitado e o crescimento económico seprocesse com o ritmo adequado à afirmação de uma estratégiade convergência com as economias mais desenvolvidas, semexcessivo recurso à poupança internacional.

Reformas do Estado - um exemplo de eficácia e eficiência

7. Pela construção de um Estado mais eficaz e eficiente,menos interventor e mais regulador na prestação deserviços de interesse público (saúde, educação e segurançasocial) e na supervisão de sectores da economia privada,para salvaguarda de direitos e interesses da generalidade doscidadãos (sistema financeiro, energia, telecomunicações eoutros); por forma a que, o Estado e a sua burocraciaultrapassem os mitos e obstáculos que tolhem a competitividadedo país, contribuam para o bom funcionamento geral dasociedade e se constituam como um exemplo de rigor,transparência, dinamismo, responsabilidade e solidariedade.

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Temos consciência de que a mudança só é possível — ou, pelo menos, fica bem mais facilitada —se existir uma visão estratégica, um grande esforço de partilha e uma forte determinação para alcançaros objectivos traçados.

Portugal conseguiu, ao longo da história, atingir objectivos que, ocasionalmente, excederam, emmuito, a expectativa que seria razoável ter sobre o desempenho de um povo, pequeno em númeromas necessariamente grande nas ambições que afirmou e partilhou e na energia que soube pôr naacção empreendedora que prosseguiu.

Empreendimentos para a mudança - a responsabilidade na contribuição

Numa era de grandes mudanças estruturais como aquelas que estamos a viver, a nível nacional einternacional, existem sobejas evidências de que há, em Portugal, uma percepção geral danecessidade de empreender uma mudança profunda dos paradigmas em que se tem alicerçadoa nossa sociedade, mudança essa que, pela energia e alcance que requer, somente pode serconcretizada com o comprometimento e a mobilização de uma parte significativa da sociedade civil.

Os promotores e todos quantos se envolveram na tarefa que este documento corporiza, têm consciênciade que tal mudança não ocorre com o mero enunciado de desígnios nacionais ou o exercício deidentificação de políticas e acções. Porém, estão convictos de que cabe a todos a responsabilidadede contribuírem com ideias que mobilizem, de uma forma partilhada, a reflexão, a tomada de decisãoe a prossecução dos caminhos traçados.

Até porque, o ambiente internacional que nos rodeia experimenta aceleradas transformações que,podendo legitimamente fazer adensar as preocupações sobre o nosso futuro, não deixam, paralelamente,de encerrar desafios e oportunidades que emprestam à consciência para a mudança e à vontadede a empreender uma premência nunca antes registadas.

Dezembro 2008

Manuel Alves Monteiro

Daniel Proença de CarvalhoChairman

António Pinho Cardão Belmiro de Azevedo

Jorge Marrão José Maria Brandão de Brito

Luis MagalhãesDeloitte

Comissão Executiva