livro deloitte 100 anos brasil
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Uma das maiores empresas de auditoria e consultoria do mundo conta a história da sua centenária atuação em solo brasileiro.TRANSCRIPT
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100 Anos no Brasil
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I I D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l
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D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l I I I
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IV D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l
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Esta publicao dedicada a todas as pessoas que,
ao longo de um sculo, ajudaram a construir a grande
organizao que hoje a Deloitte no Brasil. O legado
deixado por elas como o ponto verde que acompanha
a nossa logomarca no mundo inteiro consistente,
completo, nico. Exatamente como so a histria
e os servios oferecidos pela Deloitte.
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Pelo sucesso dos prximos 100 anos
O resgate da histria da Deloitte em seu primeiro sculo de atuao no Brasil nos oferece a oportunidade de conhecer um pouco melhor o nosso prprio pas. A narrativa que as pessoas de nossa organizao vm escrevendo desde 1911, quando ela aportou no Rio de Janeiro para auditar companhias ferrovirias britnicas, se mescla a muitos dos episdios mais importantes do desenvolvimento do ambiente de negcios brasileiro.
A Deloitte esteve presente em todos os momentos relevantes da histria econmica nacional desse perodo, apoiando seus clientes empresas estrangeiras e locais a enderear os desafios que se apresentaram, sucessivamente, em meio a alteraes profundas e frequentes no mercado. Mais do que presente, nossa organizao se envolveu fortemente com o Brasil sua economia, suas empresas, sua gente.
Nossa histria, que tem muitos de seus fatos relatados nesta publicao, evidencia o envolvimento da Deloitte com o Brasil encurtando as distncias entre as necessidades locais e as melhores prticas reconhecidas mundialmente e auxiliando os agentes de mercado a acelerar a integrao do Pas a uma economia global e de transformaes cada vez mais intensas.
Apesar de j termos entrado para o clube das centenrias, a Deloitte no Brasil continua sendo uma organizao muito jovem. Nossa alma a dos que se apaixonam por desafios de todos os tipos, dimenses e nveis de dificuldade. Levamos para o nosso dia a dia o mesmo prazer dos desbravadores que construram novos caminhos na histria da humanidade. E na vanguarda que queremos nos manter, posicionados efetivamente sempre um passo frente, acreditando que possvel e necessrio fazer tudo cada vez melhor.
Destes 100 anos no Brasil, podemos afirmar que nunca houve um momento to prspero como este que hoje vivemos. Com fundamentos econmicos firmes, taxas de crescimento acima da mdia mundial, mais investimentos, maior consumo e melhor distribuio de renda, o Pas avanou muito. E, mais uma vez, junto com o Brasil e com nossos clientes, a Deloitte tambm cresceu.
Entre os scios da nossa organizao, h um compromisso mtuo o de entregar uma Deloitte cada vez melhor s prximas geraes. Para os prximos 100 anos da Deloitte no Pas, queremos renovar e ampliar esse compromisso agora, para toda a sociedade brasileira. Vamos dar continuidade ao trabalho realizado neste sculo, contribuindo para construir um pas sempre melhor para as prximas geraes da Deloitte, para nossos clientes e pelo futuro do Brasil. Juarez Lopes de ArajoPresidente da Deloitte no Brasil
Vamos dar continuidade ao trabalho realizado neste sculo, contribuindo para construir um pas sempre melhor para as prximas geraes da Deloitte, para nossos clientes e pelo futuro do Brasil.
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Oportunidade para alar novos voos
A Deloitte no Brasil tem hoje bons motivos para comemorar. Tendo como pano de fundo o crescimento econmico sem precedentes do Pas, a firma-membro da Deloitte registra neste ano um marco importantssimo de sua histria 100 anos de prestao de servios.
Criada no Brasil em 1911, a Deloitte hoje uma das principais organizaes locais de servios profissionais, atendendo a mais de 3 mil clientes em todo o Pas. O crescimento e a longevidade da firma brasileira so prova da qualidade de sua liderana no decorrer dos anos e da dedicao, da inovao e dos servios excepcionais oferecidos aos clientes por seus profissionais.
Mesmo com essas conquistas, acredito que o melhor ainda est por vir para a Deloitte no Brasil. Uma nova era est despontando. Com o Brasil bem posicionado para se tornar uma importante potncia econmica, empresas e investidores de todo o mundo esto prestando ateno no Pas. Portas que nunca antes estiveram ao alcance esto comeando a se abrir, e novas oportunidades de negcios abundam. O fato de o Brasil ter sido escolhido para sediar a prxima Copa do Mundo (2014) e a Olimpada (2016) eventos que traro ao Pas visibilidade, receita e oportunidades de emprego significativas ilustra essa mudana. Essa ser a primeira vez em 64 anos que a Copa do Mundo ser realizada no Brasil e a primeira vez na histria que os Jogos Olmpicos sero sediados na Amrica do Sul.
Como previram os economistas nos ltimos anos, a hora do Brasil chegou. E, junto com isso, vem a oportunidade de a nossa rede global da Deloitte alar novos voos.
O sucesso futuro da organizao Deloitte ser conduzido em grande parte pelas firmas-membro cujas economias oferecem as maiores oportunidades de crescimento. Assim, medida que o Brasil se torna um pas central no cenrio internacional, a firma brasileira torna-se tambm um agente central na conduo de nossa aspirao global fazer crescer os negcios, fortalecendo a conexo das firmas e das reas de negcios da Deloitte e operando como uma organizao global sem fronteiras, As One.
Como CEO da Deloitte Touche Tohmatsu Ltd., no posso deixar de me empolgar com o que estou vendo. O futuro se mostra brilhante. Considerando os incrveis avanos feitos pela Deloitte no Brasil nos ltimos 100 anos e o ambiente no qual opera hoje, no h limite para o que pode ser alcanado.
Feliz 100 anos! Obrigado aos scios, profissionais e clientes da Deloitte no Brasil por contribuir para levar nossa rede global a um futuro de potencial sem limites.
Barry SalzbergCEO da Deloitte Touche Tohmatsu Limited DTTL
Considerando os incrveis avanos feitos pela Deloitte no Brasil nos ltimos 100 anos e o ambiente no qual opera hoje, no h limite para o que pode ser alcanado.
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Um celeiro de talentosPor que e como a Deloitte conquista seus profissionais: eles entram como assistentes e fazem carreira na Firma
O passar dos anosOs momentos mais importantes da trajetria da Deloitte, no mundo e no Brasil
No mapa do BrasilAs cidades em que a Deloitte estabeleceu sua bandeira
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O comeo de tudoQuem e como surgiu uma das maiores organizaes de auditoria e consultoria do mundo
Sumrio
6 18Nos trilhos do BrasilO que motivou uma firma inglesa de auditoria a desembarcar no Brasil agrcola 100 anos atrs
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68O legado que promovemosA contribuio da Deloitte para disseminar conhecimento, apoiar o esporte e construir um pas socialmente responsvel
De gerao para geraoOs compromissos legados e deixados pelos scios
A marca dos lderes Os presidentes que fizeram histria
A transio para o 2 sculo Consolidao de avanos internos e projeo global
Crescendo com o BrasilA histria da Deloitte mescla-se com o desenvolvimento do Pas e das prticas de auditoria e consultoria
2610 anos que valeram por 100A evoluo do mercado de auditoria na ltima dcada e um olhar sobre o papel das prticas de consultoria no mundo de hoje
Olhares externosPontos de vista de personalidades do mercado sobre o que significa se tornar uma organizao centenria
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6 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l
O comeo de tudoQuem , onde e como surgiu uma das maiores organizaes de auditoria e consultoria do mundo, que mais tarde desembarcaria nos trpicos brasileiros
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Quando William Welch Deloitte faleceu, em 1898, a Londres em que ele havia aberto o escritrio precursor da atual Deloitte ainda era o centro do maior imprio do mundo. Era de l que as mais modernas prticas de negcios se irradiavam mundo afora. A auditoria das demonstraes financeiras estava entre elas.
Este livro nasceu para brindar o primeiro
sculo de vida da Deloitte no Brasil,
recuperando no apenas a trajetria
da organizao, mas tambm uma srie
de episdios importantes do ambiente
de negcios do Pas desde o incio do sculo 20. No
entanto, para narrar essa histria protagonizada no
Brasil, preciso voltar bastante no tempo e ultrapassar
as fronteiras nacionais. Os primrdios da organizao
que hoje denominada Deloitte se deram ainda no
final da primeira metade do sculo 19, em Londres,
que era ento a maior cidade do mundo. Foi na
capital britnica que surgiu o embrio daquela que se
tornaria uma das maiores organizaes de auditoria
e consultoria do mundo, hoje com 700 escritrios
espalhados em mais de 150 pases e uma rede de
182mil profissionais.
Esse resgate dos anos iniciais de formao da Deloitte
no mundo serve hoje para evidenciar que a sua
jornada est ligada diretamente histria da prpria
profisso de auditor independente, nos moldes como
hoje conhecemos. Em especial, carreira do ingls
William Welch Deloitte, que, aos 15 anos, foi trabalhar
como assistente do sndico da Corte de Falncias de
Londres, onde adquiriu todas as bases necessrias para
a profisso de auditor. A atividade contbil comeava
a tomar impulso devido ao lucrativo negcio de
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William Welch Deloitte Um dos pais da
profisso de auditor. A trajetria de William
Welch Deloitte, neto do Conde de Loitte,
um refugiado da Revoluo Francesa de quem
se originou o sobrenome que denominaria a
futura firma, est diretamente ligada histria
da auditoria independente. Nascido na
Inglaterra, comeou sua carreira muito cedo.
Fundou o embrio do que seria a Deloitte em
1845, aos 25 anos, quando abriu seu prprio
escritrio, em frente Corte de Falncias,
na Basinghall Street. Em 1888, foi fundador
do Institute of Chartered Accountants. Em
1893, abriu escritrios nos Estados Unidos, e
a Deloittes, como era conhecida, comeou
a auditar empresas fabricantes de velas
e sabonetes, setor que se encontrava em
expanso.
George A. Touche George A. Touch
(ainda sem a vogal que iria adquirir mais
tarde) teve desde o princpio uma carreira
pautada pela reputao e integridade.
Recebeu o passaporte (ou sua habilitao) de
auditor em Edimburgo, Esccia, em 1883.
Assim como muitos de sua gerao, ele
partiu para a Inglaterra em busca de sucesso.
Optou por acrescentar a vogal e ao seu
sobrenome, com a esperta inteno de evitar
um erro de pronncia bastante comum.
Tornou-se, ento, George Touche. A sua
reconhecida austeridade em fazer cumprir
a lei rendeu-lhe a oportunidade de expandir
os negcios durante um perodo de
desastres financeiros no setor de
administrao de recursos de terceiros.
O sucesso em salvar e reestruturar empresas
fadadas ao fracasso abriu caminho para a
formao da George A. Touche & Co., em
1899. Em 1900, com John Niven, filho de
seu primeiro professor de contabilidade,
abriu a firma Touche, Niven & Co., na cidade
de Nova York. No Reino Unido, a General
Electric Company era um de seus clientes
mais importantes.
Admiral Nobuzo Tohmatsu Sempre
prezou pelo bom atendimento s empresas
japonesas. Aps trabalhar como adido naval
na embaixada de Londres e como instrutor
na Academia da Marinha, tornou-se auditor.
Em 1952, aos 57 anos, Tohmatsu recebeu o
ttulo de Certified Public Accountant (CPA)
e tornou-se scio da afiliada estrangeira
de uma firma de auditoria e diretor de
uma empresa privada. Em 1967, assumiu a
presidncia do Instituto Japons de CPAs. A
pedido do Japo, que queria atrair firmas de
auditoria para o pas, Tohmatsu incentivou
o setor. Em maio de 1968, formou-se a
Tohmatsu & Co. (anteriormente Tohmatsu
Awoki & Co.). Um dos fatores determinantes
para seu crescimento foi a deciso de
exportar scios e colaboradores para
outros pases, visando estimular a troca de
experincias. Algo que j revelava o enfoque
da organizao internacional que ele
ajudaria a construir.
A trade que originou o nome DeloitteOs trs principais empreendedores que construram as bases da histria da organizao desde 1845
Admiral Nobuzo Tohmatsu
George A. Touche
William Welch Deloitte
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A trade que originou o nome Deloitteadministrao de massas falidas e, depois, do avano
do mercado de capitais. Em 1845, aos 25 anos, ele
abriu seu prprio escritrio prximo ao miolo financeiro
londrino (leia mais a respeito no quadro da pgina
ao lado). Na poca, havia nada menos do que 200
escritrios de contabilidade na capital inglesa, j que,
nessa poca, estavam sendo aprovadas importantes leis
que formaram o alicerce para as modernas sociedades
por aes.
Persistente, William Deloitte foi consolidando
seu nome, sobretudo medida que um setor
em particular se expandia o de transporte
ferrovirio. Havia o calor da industrializao, h de
se lembrar. Em 1849, ele se tornou o primeiro auditor
independente contratado por uma empresa. Atuando
na Great North Railway, descobriu irregularidades e
criou um sistema de contas especfico para companhias
ferrovirias, que visava proteger os investidores
da m administrao dos recursos. Tornou-se um
especialista no assunto.
A sua conexo com a Great Western Railway fez com
que fosse visto como o primeiro auditor independente
do mundo. O prestgio de seu trabalho lhe rendeu
uma safra de outros clientes na indstria ferroviria,
como a Lancashire, a Yorkshire e a South Wales todas
de capital britnico e com negcios espalhados pelo
mundo, incluindo o Brasil.
Qual a empresa mais antiga do mundo?
O respeitado livro dos recordes, o Guinness Book, deu o posto inglesa Favershaw Oyster Fishery, fundada em 1189. Mas h controvrsias. Exatos 596 anos antes dela, o templo
budista de Shitennoji, localizado no Japo, j existia. Surgiu pelas
mos da famlia Kongo Gumi. Atualmente, Kongo Gumi Co.
est sob o leme de Masakazu Kongo, o 40 representante da
famlia. E, alm de manter os templos, a organizao administra
e constri igrejas, escolas e asilos. O segredo do sucesso?
A empresa tratou a sucesso como um tesouro valioso. Mesmo
sendo de origem japonesa, em que reza a regra de passar o
comando ao filho primognito, a direo optou, todas as vezes,
por escolher para o cargo o filho mais comprometido com
o negcio. Uma firma sria e, claro, com as contas em dia
(www.kongogumi.co.jp).
Associaes certeiras
O sucesso da Deloitte deu-se, entre outros aspectos,
por conta de uma srie de associaes bem-sucedidas,
realizadas com o passar dos anos (leia a cronologia
completa a partir da pgina 19). Mais tarde, no incio
dos anos 1950, a Deloitte e a empresa de origem
norte-americana Haskins & Sells uniriam suas operaes,
criando uma organizao de porte e cobertura global.
No final da dcada de 80, duas outras associaes de
expresso ocorreriam, com a firma do escocs George
A. Touche, e com a do japons Admiral Nobuzo
Tohmatsu. Tal como William W. Deloitte, cada um havia
construdo sua firma e partido para a expanso. A unio
dos trs s poderia resultar, ento, num caso de sucesso
e visibilidade internacional.
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Nos trilhos do BrasilO que motivou uma firma inglesa de auditoria a desembarcar no Brasil agrcola de 100 anos atrs, governado por mineiros e paulistas em uma repblica de capital carioca
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Nos trilhos do Brasil
As ferrovias britnicas esto fortemente ligadas aos primeiros anos da Deloitte, tanto na Europa como no Brasil
Pode ser um exerccio curioso e
historicamente rico pensar no Brasil
de 100 anos atrs e conhecer quais
foram os atrativos que uma nao
genuinamente agrcola despertou em
uma firma britnica de auditoria. Afinal, quando chegou
por aqui em 1911 antes mesmo de desembarcar em
grandes mercados internacionais como Chicago, nos
Estados Unidos, ou Montreal, no Canad , a Deloitte
j era uma empresa com mais de seis dcadas de vida e
alguns grandes clientes mundo afora. E o Brasil no vivia
o seu melhor momento. Era uma repblica muito jovem,
sob o leme do presidente Hermes da Fonseca, que
teve um governo marcado pela renegociao da dvida
externa. A economia vivia basicamente do caf, o ouro
negro. O Pas detinha mais de um tero da produo
mundial da cultura e as vendas ao exterior respondiam
por 60% da pauta de exportaes do Brasil. A logstica
para transportar o produto at os navios ainda era
pouco avanada. Havia, contudo, a grande promessa
de que as ferrovias cortariam o Brasil de Norte a Sul,
aposentando de vez o lombo das mulas.
Estavam sendo feitos investimentos na ampliao da
malha ferroviria do Pas, algo que traria o sopro para sua
industrializao e a vantagem de escoar mais produtos
agrcolas, alm do caf. Foi justamente nesse contexto
que se iniciou a longeva e certeira como se veria
depois trajetria da Deloitte no Brasil. O contador ingls
William Welch Deloitte, que emprestou o sobrenome para
fundar a firma de auditoria, na Inglaterra de 1845, j havia
feito fama exatamente por sua expertise em verificar as
demonstraes financeiras das companhias ferrovirias.
Os ingleses estavam investindo no Brasil e a Deloitte
instalou-se no Pas justamente para atend-los, lembra
o escocs Hugh McManus, scio aposentado que
chegou por aqui em 1959 e presidiu a Firma de 1976
a 1992. Quando cheguei, as empresas brasileiras
no tinham a necessidade de serem auditadas, mas as
subsidirias das multinacionais que estavam no Brasil
precisavam prestar contas matriz, acrescenta.
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12 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l
Por essa razo, havia forte demanda das companhias
britnicas pelos servios da Deloitte. At porque,
ou justamente por isso, a Gr-Bretanha continuava
vivendo e liderando as novas fases da revoluo
industrial. Para crescer e sustentar o inevitvel xodo
rural , empresas de origem inglesa levantavam capital
com a venda de ativos para investidores, uma prtica
que se repete at hoje no mercado mundial de capitais.
Tal movimento fez crescer o nmero de companhias
abertas, com aes listadas em bolsa, e, com elas,
surgiram revezes inerentes ao setor. Logo, a auditoria
passou a ser compulsria. O que, como lembrou
McManus, favoreceu a expanso da firma brasileira
da Deloitte. medida que as companhias da
Gr-Bretanha expandiam seus negcios em pases
como o Brasil, tornava-se interessante poder contar,
onde quer que fosse, com uma firma inglesa para
auditar suas contas. Foi a partir daquele ncleo inicial
que a Deloitte expandiu seus negcios para outros
setores da economia e outras reas de atuao.
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D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 13
Por que a cidade maravilhosa?
O desembarque da Deloitte no Brasil deu-se com a
abertura de seu primeiro escritrio no Rio de Janeiro.
Alm de abranger a capital da Repblica, o Estado
concentrava 33% da produo brasileira, enquanto
So Paulo, 17%. A depois reconhecida Cidade
Maravilhosa vivia o glamour da sua belle poque,
com a inaugurao do Theatro Municipal, rplica
fiel da Opra National de Paris, e da Avenida
Rio Branco, que sediaria, logo depois, grandes
empresas nacionais e estrangeiras. As decises
poltico-econmicas atraam importantes instituies
financeiras para a capital. Entre elas, estavam o London
and Brazilian Bank, maior banco ingls naqueles
tempos, e a casa bancria de N.M. Rothschild & Sons,
que foi uma das principais credoras do Brasil desde
os tempos de Dom Joo VI.
Eram essas as instituies financeiras que bancavam,
em grande parte, o desenvolvimento da infraestrutura
nacional: no apenas a construo de ferrovias,
como tambm de obras dos setores de energia eltrica
e gs. O governo, naquele tempo, fazia concesses
de seus servios pblicos. A concessionria de energia
eltrica do Rio, sob o nome The Rio de Janeiro
Tramway, Light and Power Co. Ltd., por exemplo,
era de capital canadense. E, entre outras atividades,
explorava os servios de bondes no tradicional
bairro de Santa Tereza.
Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em torno de 1911: a cidade foi a primeira a receber um escritrio da Deloitte no Brasil, que, por coincidncia, est hoje localizado nas redondezas do histrico edifcio centenrio
Com um mercado de consumo de propores
razoveis e sede dos grandes bancos, aptos a financiar
investimentos, o Rio era o polo mais importante
do Pas. Na cidade, havia uma estrutura social mais
complexa, em que se concentravam setores menos
dependentes da atividade agrcola. Havia, por exemplo,
uma classe mdia profissional e de burocratas,
incluindo muitos militares de carreira, alguns deles
egressos da tradicional Escola Militar, localizada em
Angra dos Reis (RJ).
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14 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l
Locomotivas pelo territrio nacional
Embora seu escritrio estivesse no Rio de Janeiro, o
interesse da Deloitte estava no Brasil inteiro. Inicialmente,
ou com mais fora, estava nos trilhos de ferro que
prometiam cortar o territrio nacional de Norte a Sul,
com as suas locomotivas movidas a vapor. As marias-
fumaa representavam o progresso do Brasil, e as
primeiras ferrovias com capital ingls chegaram ao Pas
pelos portes do Nordeste. Com isso, em 1917, quando
j estava h seis anos por aqui, a Deloitte abriu outro
escritrio. Desta vez, no Recife. L, nasceu a Recife and
So Francisco Railway Company, que comeou a ser
construda em setembro de 1855, sendo, logo depois,
Uma vila inglesa no Brasil
A Estrada de Ferro Santos-Jundia foi construda em vrias partes. O primeiro trecho foi entre So Paulo e o porto de Santos. No alto da serra, foi implantada uma estao que serviu de acampamento para os operrios, denominada Paranapiacaba. Ela possibilitava a troca de sistema pelos trens, ou seja, era centro de controle operacional e residncia para os funcionrios da So Paulo Railway Limited, empresa inglesa de trens, auditada no Brasil pela Deloitte. Em 1898, foi erguida uma nova estao, mais moderna, com madeira, ferro e telhas francesas trazidos da Gr-Bretanha. Essa estao tinha como caracterstica principal o grande relgio fabricado pela Johnny Walker Benson, de Londres, que se destacava no meio da neblina muito comum naquela regio.
No fim do sculo 19, com a inaugurao da nova estao, tambm se discutia a ampliao da estrada de ferro, com um segundo sistema. Nesse ponto, os ingleses iniciaram a construo da Vila Nova (ou Martin Smith) e, em conjunto, fizeram melhorias na Vila Velha. Juntas, as duas ficaram conhecidas como Parte Baixa ou Vila Inglesa.
A Vila Inglesa, criada para operrios morarem durante a construo da Estrada de Ferro Santos-Jundia, controlada ento por uma das companhias britnicas atendidas pela Deloitte
comprada por outra empresa britnica, a Great Western
Railway. Ao longo do tempo em que permaneceu no
Brasil, a Great Western chegou a possuir mais de 1.600
quilmetros de ferrovias, atravessando diversos Estados
do Nordeste.
Os britnicos estavam presentes em outros segmentos
da economia do Estado de Pernambuco, como
nos negcios de comunicao, com investimentos
da Western Telegraph. E havia integrao entre
funcionrios da Great Western Railway e da Western
Telegraph, que jogavam futebol nos quintais de suas
casas. Do entusiasmo desses homens, nasceu o Sport
Lyndon Johnson, que adotou o Brasil como ptria em 1972: subsidirias de empresas estrangeiras sujeitas a diversas exigncias desde os anos 30
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D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 15
Club do Recife, o primeiro clube de futebol da cidade,
fundado em 13 de maio de 1905.
O Recife sempre teve tradio para a nossa organizao,
por conta do comeo da sua histria no Brasil, com
as ferrovias. E ganhou fora, passando a ser um polo
importante da Deloitte no Nordeste, diz Claudio Lippi,
scio hoje responsvel pela Firma na regio, que abrange
os escritrios de Recife, Salvador e Fortaleza.
Mesmo que a Deloitte tenha tido razes firmes no Recife, a
mais importante companhia ferroviria que ela atenderia
no Brasil estava no Sudeste. Trata-se da So Paulo
Railway Limited, cuja malha ligava So Paulo a Santos e
se prolongaria at Jundia (SP), sua ltima estao. O seu
embrio nasceu em junho de 1860, quando investidores
ingleses, convencidos pelo apoio do baro Lionel de
Rothschild ao empreendimento do Visconde de Mau,
decidiram apostar no negcio. Concesso criada por
decreto imperial, com durao de 90 anos, a estrada de
ferro tinha 146 quilmetros de extenso. Foi inaugurada
em 1867, iniciando a malha ferroviria paulista, que,
no incio do sculo 20, j tinha 3.373 quilmetros. Em
1910, o Brasil tinha 21,4 mil quilmetros de ferrovias;
desse total, 23% estavam no Estado de So Paulo.
Na capital paulista, tempos depois
Em 1920, a Deloitte abriu seu escritrio na cidade de So
Paulo. O Brasil ainda era um pas essencialmente agrcola.
Segundo o censo daquele ano, das 9,1milhes de
pessoas em atividade, 6,3 milhes, ou 70%, se dedicavam
agricultura, enquanto 1,2 milho, indstria, e 1,5
milho, aos servios. A realidade mostrava que, para que
o Estado se desenvolvesse e reduzisse sua dependncia
do campo, era preciso ampliar a indstria, aumentar o
setor de servios e abastecer seu mercado interno com
bens agrcolas. Indstrias de tecelagem, de metalurgia
e de fabricao de papis j comeavam a crescer,
apostando na expanso do mercado interno.
Do comeo ao fim da dcada de 20, o Brasil e o mundo
mudaram. Era o fim da Primeira Repblica e da Poltica
Caf com Leite, pela qual as oligarquias de So Paulo
e Minas Gerais se alternavam no Governo Federal. E as
dissidncias polticas indicavam que comeava a surgir
um novo Brasil, fruto da urbanizao e de um surto
de industrializao. Os resqucios da crise de 1929 se
desdobravam em vrias exigncias para as companhias
abertas, a partir de 1933, o que forava ainda mais
as subsidirias instaladas em outros pases a prestar
contas, afirma o norte-americano Lyndon Johnson,
scio aposentado da Firma, que veio para o Brasil em
1972. Exemplos que se encaixam nesse movimento
eram os servios que a Deloitte prestava para a famlia
Salles Souto, dona do Grupo Lion que, entre outros
negcios, detinha a representao da norte-americana
Caterpillar no comrcio de tratores e ceifadeiras ,
e para o Grupo Matarazzo, ento uma potncia
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16 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l
industrial e econmica e que necessitava do trabalho de
auditoria para atender a compromissos assumidos com
bancos suos.
Por dcadas, o desenvolvimento da Deloitte limitou-
se, ento, a atender a essa clientela cativa. At que,
em dezembro de 1976, a Lei n 6.404 estabeleceu a
obrigatoriedade de auditoria independente para as
companhias abertas e imps obedincia aos princpios
contbeis na escriturao das companhias. A Deloitte
percebeu que era hora de acelerar seu crescimento
e se voltar, tambm, para o mercado interno. Os
scios da Firma queriam participar desse novo mercado
e tambm abrir novas oportunidades, afirma o scio
aposentado Jos Beisl Barretto, que, em 1992, se
tornaria o primeiro brasileiro a assumir a presidncia da
Deloitte no Pas. At aqueles meados da dcada de 70, a
organizao era, no Brasil, uma empresa comandada por
estrangeiros para atender a estrangeiros.
Ainda em 1976, a Firma se funde a uma das maiores
empresas brasileiras de auditoria e consultoria tributria,
Ernesto Marra, scio aposentado, aos 96 anos: testemunha de uma histria de crescimento
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a Revisora Nacional, e traz, junto, os scios Hilrio
Franco, Ademar Franco, Ernesto Marra e Luiz Mussolini.
Com a fuso Revisora Nacional, na dcada de 70,
que a Deloitte passou a atender uma gama muito maior
de empresas de capital brasileiro, diz Marra, hoje scio
aposentado, com a memria de quem era egresso da
empresa comprada. Com a Revisora Nacional, vieram
alguns clientes importantes. Entraram na carteira,
por exemplo, organizaes como o Banco Mercantil,
o Banco Francs e Brasileiro, o Banco Real e o Grupo
Camargo Corra. Fuses e aquisies feitas fora do
A So Paulo do incio do sculo 20: terceira cidade brasileira a receber um escritrio da Deloitte
Brasil ajudaram a desenvolver outros negcios no
Pas, como a que aconteceu com a Touche Ross
que j estava associada firma japonesa Tohmatsu.
Da operao, vieram clientes como a Toyota, o
Banco de Tquio e a Komatsu. E, com eles, uma
mescla de culturas em toda a organizao, tanto
aqui quanto l fora. Afinal, como diz Altair Rossato,
scio que hoje lidera os Programas de Mercados e
Clientes da Deloitte, os nossos desafios so buscar
oportunidades onde elas estiverem e ajudar nossos
clientes a serem bem-sucedidos.
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O passar dos anosOs momentos mais importantes da trajetria da Deloitte, no mundo e no Brasil, contextualizada com grandes fatos econmicos e polticos
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D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 19
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
Mundo afora
Nos primeiros anos da Deloitte no Brasil, houve movimentos significativos mundo afora que geraram reflexos tambm em terras latinas. A Primeira Guerra foi o mais marcante. O conflito redesenhou o mapa geopoltico: ps de um lado os imprios britnico, francs e russo mais os Estados Unidos e, de outro, os imprios alemo, austro-hngaro e turco-otomano. Sob o escudo da Trplice Entente, britnicos e franceses, com o apoio dos norte-americanos, vencem a batalha. A vitria, porm, quebra a hegemonia europeia e abre flancos para a expanso de poder dos norte-americanos no cenrio internacional. Os efeitos da guerra foram devastadores para a economia brasileira. Afinal, o conflito desorganizou o mercado internacional de commodities e trouxe novas dificuldades para a exportao do caf, forando o governo a desvalorizar sua cotao. Esse cenrio trouxe novos desafios para o ambiente de negcios nacional, em que a Deloitte j estava inserida, prestando seus servios de auditoria para empresas estrangeiras instaladas no Pas.
1845 William W. Deloitte, com
apenas 25 anos, abre escritrio em
Londres, dando incio organizao
que mais tarde se chamaria
Deloitte. A organizao expande-
se rapidamente e chega, at mesmo,
a prestar servios na Rssia, antes da
Revoluo Comunista de 1917.
1857 A Deloitte faz sua primeira
parceria, com Thomas Greenwood,
aps um aporte de 800 libras
esterlinas no capital da Firma. Passa
a se chamar Deloitte & Greenwood.
1869 A Firma absorve um novo
scio, John George Griffiths, que
exerceu uma grande influncia
sobre o crescimento da organizao
at sua aposentadoria, em 1902.
rebatizada de Deloitte, Dever,
Griffiths & Co.
1905 Associa-se Plender e passa
a ser conhecida como Deloitte,
Plender, Griffiths & Co.
1911 A Deloitte que hoje
conhecemos inaugura seu primeiro
escritrio no Brasil, desembarcando
no Rio de Janeiro, a capital federal
da poca.
1917 inaugurado o escritrio
do Recife, em Pernambuco. Naquele
tempo, a cidade abrigava o porto de
entrada para navios que vinham da
Europa. Apesar de agrcola, como a
maior parte do Pas, o Estado atraa
famlias estrangeiras com outras
vertentes empreendedoras, alm
do campo.
1920 No incio da dcada, a
Deloitte volta-se para o Estado
de So Paulo. Em 1920, um
escritrio da organizao se
estabelece na capital paulista.
Um ano depois, abre um escritrio
em Santos. A cidade litornea
hospedava uma parte importante
da malha ferroviria nacional,
que desembocava justamente no
porto de Santos principal
canal para escoar mercadorias
agrcolas, em especial, o caf.
O escritrio de Santos permaneceu
ativo at 1933.Conflito desestruturou a j frgil economia brasileira
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20 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l
para o Pas. Havia o clamor para
se investir em infraestrutura de
base, apoiada em setores como
os de siderurgia e de minerao.
Naquela dcada, que terminaria
com o advento da Segunda Guerra
Mundial, a Deloitte, com trs
escritrios no Pas, continuava
firme, acompanhando a presena
de organizaes estrangeiras
Depois do crash (1929-1931)
A Deloitte j estava no Brasil h quase duas dcadas quando o mundo parecia viver em ebulio. O dia 24 de
outubro de 1929 entrou para a histria.
A quinta-feira negra foi o crash da
Bolsa de Nova York, uma tragdia que fez
fortunas evaporarem, empresas tradicionais
fecharem as portas e uma multido
perder seu emprego. Entre 1929 e 1931,
a produo industrial nos Estados Unidos
caiu 30%. O efeito domin se replicou no
mundo. No foi diferente no Brasil, que
ainda tinha a economia com base agrcola e
voltada para as exportaes de caf, acar
e borracha. Houve uma queda vertiginosa
nos preos de commodities e, l fora, uma
escassez generalizada no crdito. As vendas
externas brasileiras desabaram em mais
de 50%, em quatro anos. A Bolsa de Nova York irradia uma crise mundial
que decidiam atuar em um Brasil
de profundas mudanas.
1950-1952 A Deloitte une-se
sua concorrente Haskins &
Sells, a maior dos Estados Unidos.
O objetivo era reforar a sua presena
no mercado norte-americano,
no qual a H&S reinava absoluta,
enquanto a Deloitte tinha escritrios
1930 A Deloitte consolida-se
na capital paulista, justamente no
momento em que o Brasil vivia
uma profunda transformao
poltica e econmica. Era a
poca da Revoluo de 30, com
um golpe que colocou Getlio
Vargas no poder. A sua poltica
prometia implantar um plano
de desenvolvimento industrial
Mundo afora
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D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 21
O ouro negro (anos 20 e 30)
O preo internacional do caf desabou de 67,3 libras esterlinas para 26,2 libras esterlinas a saca, entre 1929 e 1932. A escassez de crdito internacional fez com que o governo colocasse um fim no Convnio de Taubat, de 1906. Por meio dele, o governo contraa emprstimos no exterior e comprava excedentes de produo cada vez que a demanda caa e, assim, ditava as variaes no preo do caf. Entretanto, para pagar os juros dos emprstimos, cobrava uma taxa sobre as sacas exportadas. As dificuldades decorrentes da recesso mundial levaram o Pas a estimular a indstria e a promover a substituio de importaes. Entre 1920 e 1929, a agricultura ainda se sobressaa: cresceu 4,4% ao ano no perodo, enquanto a indstria, 2,8%. J entre 1933 e 1939, perdeu o brilho e a sua taxa de expanso, com uma alta anual de apenas 1,7%. Enquanto isso, a indstria acelerava seu ritmo, passando a crescer 11,2% ao ano.
Brasil adentroem Nova York, Boston, Cincinnati,
Saint Louis e Los Angeles. Tambm
se associou MacLaren, Goode &
Co., de So Francisco, para operar
na costa do Oceano Pacfico.
Depois, a MacLaren, Goode & Co.
tambm incorporada. O negcio
ajuda a ampliar as operaes no
Brasil, onde a Deloitte passa a
atender tambm a clientes
norte-americanos, como a Procter
& Gamble, a Monsanto, a General
Motors, a Chrysler e a Dow
Chemical, para as quais j prestava
servio no exterior. A organizao
muda globalmente o seu nome para
Deloitte Haskins & Sells.
1953 A Deloitte abre, pela
primeira vez, um escritrio em
Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
A finalidade era atender de modo
mais prximo s empresas com
negcios na regio, a exemplo do
que j ocorria com clientes como
Pepsi, Quaker, Amforp, Wilson Sons
e Souza Cruz. O escritrio gacho
seria descontinuado anos depois
para retomar suas atividades, com
muito mais fora, na dcada
de 90. Uma curiosidade deste
momento da histria da Deloitte
no Pas: depois de a organizao
global incorporar a filial Haskins
& Sells de Paris, o gerente norte-
americano Henry Forbes
transferido para So Paulo, onde
logo se tornaria scio. Ao todo,
somam-se quatro escritrios no
Brasil: Rio de Janeiro, Recife, So
Paulo e Porto Alegre.
1959 Sob o nome de Deloitte,
Plender, Griffiths & Co., com
quatro escritrios e quatro scios,
a Deloitte decide mudar a sede
do Rio de Janeiro que ainda era
capital federal para So Paulo,
que continuava a se expandir
economicamente, preparando-se
para ser o principal parque industrial
da Amrica Latina.
1960 A Deloitte passa por uma
grande reorganizao mundial.
Abre mais escritrios no Reino
Unido e na Irlanda, mas segmenta
a gesto por blocos econmicos.
O avano da auditoria (1933-1950)
Mundo afora
Os reflexos da quebra da Bolsa de Nova York resultam, pela primeira vez, na regulao do mercado de capitais, em 1933, quando deputados e senadores dos Estados Unidos aprovaram o Glass-Steagall Banking Act. A proposta era estabelecer normas mais firmes para os mercados e reduzir a alavancagem econmica de empresas e investidores. Conjuntamente, criou-se a Securities and Exchange Commission (SEC), com a misso de ser a xerife do mercado financeiro, fiscalizando operaes e empresas. A nova legislao muda a forma de atuao das instituies financeiras e das firmas de auditoria. Bancos so proibidos de atuar em atividades como seguros, ramos imobilirios ou consultoria, sendo obrigados a contratar empresas externas para analisar situaes delicadas de algumas empresas, como as que estavam em estgio pr-falimentar. Esse cenrio contribuiu para um rpido crescimento dos auditores contbeis e para a institucionalizao das consultorias.
Mundo afora
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22 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l
1964 O escritrio de So Paulo,
j como sede nacional da Deloitte,
transfere sua base para o Edifcio
Metrpole, na Praa Dom Jos
Gaspar.
1967 A Deloitte fatura no
Brasil seu primeiro milho de dlares
norte-americanos. E aproveita
para se modernizar, instalando
um sistema computadorizado
para controlar horas, despesas
e faturamento de clientes. At
ento, esses processos eram feitos
manualmente.
1969 A firma norte-americana
decide tornar autnomas as firmas
da Deloitte na Amrica Latina.
1976 A firma brasileira da
Deloitte funde suas operaes com
a Revisora Nacional, de capital
brasileiro, e abre escritrio em
Salvador.
So Paulo, fim dos anos 50: nova sede brasileira da Deloitte
A diviso norte-americana da
Deloitte assume a administrao
de alguns pases, incluindo os
da Amrica Latina. Um scio
dos Estados Unidos nomeado
managing partner (scio-lder)
para a regio e estabelece-se em
Santiago, Chile.
Modernidade: controle de horas, despesas e faturamento passa a ser feito por um sistema computadorizado na dcada de 60
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D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 23
Das S.As. ao desenvolvimento da indstria (anos 40)
s vsperas do Decreto-lei n 2.627, de setembro de 1940, a terceira norma legal a regulamentar as atividades das Sociedades Annimas, podia ser identificada a inteno de
alguns contabilistas em criar a obrigatoriedade do exame
das demonstraes financeiras por contador independente.
Em 1945, haveria avanos nos aspectos legais e tcnicos, j
que, naquele ano, foi editado o Decreto-lei n 7.988, de 22
de dezembro, o qual regulamentava a educao superior nos
cursos de Economia, Contabilidade e Cincias Atuariais.
Na mesma dcada, a indstria florescia no Brasil. O passo
decisivo foi dado em abril de 1941, quando o governo
instituiu a criao da Companhia Siderrgica Nacional (CSN),
em Volta Redonda (RJ). Um ano depois, em junho de 1942,
cria a ento Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Ambas
eram empresas de capital misto formadas para impulsionar
a explorao das riquezas minerais do subsolo brasileiro,
principalmente o minrio de ferro.
O petrleo nosso (anos 50)
O presidente Getlio Vargas cria a Petrobras, em outubro de 1953. Sob o calor do desenvolvimentismo, o Brasil movimentava o setor de bens de capital, iniciando o embrio da fabricao de equipamentos para a indstria de base. Em seguida, em 1956, Juscelino Kubitschek assume e define uma poltica econmica em seis grandes grupos: energia, transportes, alimentao, indstrias de base, educao e construo de Braslia. Com o lema 50 anos em 5, quer atrair investimentos privados, tanto nacionais quanto estrangeiros, e melhorar a infraestrutura, com a construo de hidreltricas e de rodovias. De 1957 a 1961, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 7% ao ano, com uma taxa per capita de 4%. O presidente Getlio Vargas na criao da Petrobras: um marco para o desenvolvimento econmico do Pas
Brasil adentro
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24 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l
1980 Com dez scios e 200
profissionais no Brasil atuando
integralmente nas reas de Auditoria
e Consultoria Tributria, a Firma
ganha autonomia administrativa
em relao organizao global.
1989/1990 A Deloitte Haskins
& Sells une suas operaes
com a Touche Ross que j
era associada com a japonesa
Tohmatsu.
1992 Com 25 scios, a
Deloitte inicia a sua grande
transformao no Brasil. Pela
primeira vez, um brasileiro, Jos
Beisl Barretto, passa a ocupar a
presidncia da firma brasileira,
aps a sada do escocs Hugh
McManus.
1993 A organizao adota o
nome Deloitte Touche Tohmatsu.
1994 A base de profissionais
ampliada e inaugurado o escritrio
de Belo Horizonte, no Estado de
Minas Gerais.
O mercado de capitais ganha impulso (anos 60)O crdito continuava aqum das necessidades de financiamento da produo e do consumo, o que impedia a expanso da economia. Para superar esse obstculo, o governo militar ps-1964 modernizou o Sistema Financeiro Nacional (SFN), criou o Sistema Financeiro de Habitao (SFH) para impulsionar a construo civil e fez uma reforma bancria, criando o Banco Central (BC) e o Conselho Monetrio Nacional. A Lei n 4.728 trouxe a profissionalizao do setor, com corretores de fundos pblicos sendo obrigados a se tornarem Sociedades Corretoras. Criaram-se os
Bolsa de Valores de So Paulo, em torno dos anos 60: auditores independentes comeam a adquirir maior reconhecimento pblico no mercado brasileiro
Brasil adentro
bancos de investimento, as Bolsas de Valores e uma diretoria no BC voltada para o mercado de capitais. A Lei n 4.728 tambm citou, pela primeira vez, a expresso auditores independentes, confirmando a importncia da anlise externa especializada dos balanos corporativos. Em 1967, com o surgimento das Sociedades Corretoras e do operador de prego, a Bolsa paulista, criada em 1890, passava a se chamar Bolsa de Valores de So Paulo (BOVESPA). Em 1970, os negcios na Bolsa passaram a ser registrados eletronicamente.
-
D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 25
1996 A Firma abre escritrio
em Curitiba, no Estado do Paran.
1997 O escritrio de
Braslia, capital da Repblica,
inaugurado.
1998 A Deloitte abre escritrio
em Campinas, no interior de
So Paulo, e reabre o de Porto
Alegre, no Rio Grande do Sul.
Alcides Hellmeister Filho assume
a presidncia da Deloitte no
Brasil.
2001 A Firma inaugura o
escritrio de Fortaleza, no Cear.
2002 A Deloitte d um grande
salto: contrata grande nmero
de profissionais da Andersen e,
no Brasil, alcana a marca de 2.500
profissionais.
2003 A marca Deloitte Touche
Tohmatsu substituda em nvel
mundial por Deloitte. No Brasil,
aberto o escritrio de Joinville,
em Santa Catarina.
2008 Aps conduzir a Firma
por uma dcada, em um perodo
marcado por altas taxas de
crescimento e forte expanso dos
negcios nas reas de consultoria
financeira e empresarial, Alcides
Hellmeister Filho transfere a liderana
para Juarez Lopes de Arajo e
assume a posio de chairman.
2011 Com cerca de 4.500
profissionais e 11 escritrios no
Pas, a firma brasileira comemora
100 anos de atuao local, como
parte de uma rede global de 182 mil
profissionais, em mais de 150 pases,
comprometidos com o objetivo
de fazer da Deloitte o padro de
excelncia do mercado. A Deloitte
no Brasil continua crescendo muito
acima do ritmo da economia
nacional, com a consolidao das
suas prticas de consultoria, a
integrao de todas as suas solues
sob o conceito Deloitte As One, o
incremento especializao de seus
profissionais por setores de atividade
e o fortalecimento do atendimento
a empresas emergentes.
-
Crescendo com o BrasilA histria da Deloitte mescla-se com o desenvolvimento do Brasil e das prticas de auditoria e consultoria, confundindo-se, muitas vezes, com a prpria modernizao do ambiente de negcios
-
D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 27
Sabe-se que o trabalho de auditoria tem
papel muito importante para o equilbrio
dos mercados, pelo fato de apresentar
uma opinio independente sobre a
adequao das demonstraes financeiras
das empresas. Com base em demonstraes financeiras
auditadas, investidores definem a aplicao de seus
recursos, instituies financeiras determinam taxas de
juros a serem aplicadas em operaes de crdito e
empresas tomam decises sobre acordos comerciais.
Se no houvesse a figura do auditor, no seria possvel
imaginar o funcionamento dos mercados. Haveria
uma assimetria tal de informaes que requereria
dos investidores, de instituies financeiras e das
organizaes em geral o dispndio de tempo e recursos
incalculveis para a tarefa de compreender a situao das
empresas, o que inviabilizaria o fechamento de negcios
na velocidade requerida pelos mercados atualmente.
Como mostra este livro, especialmente nos captulos
Nos trilhos do Brasil (pgina 10) e O passar dos
anos (pgina 18), a prtica de auditoria da Deloitte
teve sempre uma atuao muito importante no
mercado brasileiro, apoiando empresas estrangeiras
que aqui se estabeleceram desde 1911 e, nas dcadas
mais recentes, uma quantidade cada vez maior de
organizaes de capital nacional. Por muito tempo,
ao se falar em Deloitte, falava-se em auditoria de
demonstraes financeiras.
A atuao da Deloitte foi se fortalecendo medida em
que o ambiente de negcios se tornava mais robusto
e complexo e o cenrio regulatrio se modernizava.
Os anos 70 marcariam transformaes significativas
nesse processo, principalmente com a Lei n 6.404, que
obrigou as companhias abertas do Pas a contarem com
auditoria independente. No entanto, no foram apenas
os auditores que sofreram impactos das mudanas,
mas toda a comunidade de profissionais ligados
contabilidade.
Promulgada em 1976 e com vigncia a partir de
1978, a Lei n 6.404 representava uma mudana
radical em relao ao Decreto-Lei n 2.627 (antiga Lei
das Sociedades por Aes). Alm da modernizao
no tratamento societrio, a nova lei trazia diversas
modificaes contbeis. Para se ter uma ideia
do impacto que a lei causou na poca, muitos
contadores preferiram se aposentar a estudar as novas
regulamentaes, recorda Jos Beisl Barretto, primeiro
brasileiro a liderar a Deloitte no Pas.
Barretto afirma que, apesar de a Lei n 11.638/07 ter
ajustado alguns pontos da Lei das S.A.s, adaptando-a
ao atual ambiente de negcios e fortalecendo o
mercado de capitais com a implementao de normas
contbeis e de auditoria internacionais, as mudanas
no se comparam com a revoluo ocorrida na
dcada de 70. A 6.404 foi uma lei extremamente
-
28 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l
Foram anos de fracassos. De 1986 a 1993, naufragaram seis planos de estabilizao monetria no Brasil: Cruzado 1 (fevereiro de 1986), Cruzado 2 (novembro de 1986), Bresser (1987), Vero (1988), Collor 1 (1990) e Collor 2 (1991). Em 1 de agosto de 1993, o governo promoveu a stima mudana de moeda no Brasil, de cruzeiro para cruzeiro real, para efeito de ajuste de valores. Era o incio do Plano Real, que se desdobrou em trs fases e, diferentemente dos anteriores, foi anunciado antecipadamente sociedade.
Em nenhum momento, houve congelamento de preos. A primeira fase, que durou do final de 1993 a fevereiro de 1994, consistiu no Programa de Ao Imediata um conjunto de medidas que preparou a economia para o lanamento
do Plano Real. O programa apontava para algumas medidas enrgicas. Entre elas, estavam o corte de gastos pblicos no oramento; a recuperao da receita com o combate evaso fiscal, inclusive das grandes empresas; a austeridade no relacionamento com Estados e municpios; os ajustes nos bancos estaduais; a redefinio das funes dos bancos federais; e as privatizaes de empresas dos setores siderrgico, petroqumico e de fertilizantes. O governo sustentou que as empresas pblicas estavam refns de interesses polticos e econmicos.
A segunda etapa do Plano Real foi marcada pela progressiva cotao dos preos em Unidade Real de Valor (URV), uma referncia estvel de valor. O cruzeiro novo no saiu de cena de imediato. Os bens e servios continuavam a ser pagos
Eis que chega a estabilizao da moeda
O incio de uma nova era para a economia e o ambiente de negcios, favorecendo Deloitte ampliar sua
atuao, com sete novos escritrios abertos em nove anos
em cruzeiros novos, mas passaram a ter referncia em uma unidade de valor estvel. Assim, a URV permitiu o alinhamento dos preos sem necessidade de congelamento. No dia 30 de junho de 1994, iniciou-se a terceira fase do Plano Real, com a emisso da nova moeda, o real, em lugar do cruzeiro novo. Era o incio da estabilizao da economia e o fim dos tempos de hiperinflao.
Com a estabilizao econmica, a Deloitte intensificou sua atuao em todo o Pas. Entre 1994, ano do advento do real, e 2003, a Firma abriria, em mdia, quase um escritrio por ano: Belo Horizonte, Curitiba, Braslia, Porto Alegre, Campinas, Fortaleza e Joinville.
Tempos de privatizaoAlm da estabilidade econmica, os anos 90 trouxeram tambm as privatizaes, a concesso de servios pblicos e a criao das agncias reguladoras. A ideia era modernizar o Estado brasileiro, no qual j no havia mais recursos para investir em sade e educao, nem na indstria de base. Foi uma fase nova para os investimentos, trazendo capital externo, novas regulamentaes e a exigncia de que as companhias privadas tivessem de publicar suas demonstraes financeiras. E a Deloitte atuou em muitos dos processos mais importantes de privatizao conduzidos no Pas quela poca, especialmente, no setor financeiro.
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D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 29
inovadora. Pode-se dizer que a contabilidade e
a auditoria se dividem entre antes e depois da sua
implementao.
Foi na dcada de 70 que o papel do contador se
modificou, com o advento de novas regulamentaes.
As exigncias para as empresas de capital aberto se
tornaram mais rgidas. E a funo do contador passou a
ser fundamental, em especial, para fazer demonstraes
financeiras mais completas que as anteriores, quando
a legislao no era to rigorosa.
Luiz Alberto Fiore, atuao em processos de privatizao e recuperao de empresas, como scio de Corporate Finance
Assim que os principais processos de privatizao foram concludos no Brasil, no incio dos anos 2000, a Deloitte sabia que precisava de novos grandes desafios diretamente relacionados vanguarda do desenvolvimento do ambiente de negcios do Pas. Uma de suas novas frentes de atuao, no campo das finanas corporativas, deu-se no mbito da recuperao e reestruturao de empresas.
Para recordar esse papel, importante lembrar do advento de uma legislao que quebrou paradigmas na histria corporativa brasileira: a Lei n 11.101, a chamada nova Lei de Recuperao de Empresas e Falncias, de fevereiro de 2005. Depois de longos 12 anos de tramitao no Congresso Nacional,
a Lei entrou em vigor, substituindo os dispositivos de um decreto-lei promulgado 60 anos antes. Nasceu com a misso de estimular a recuperao de empresas em situao de crise financeira, enquanto se mostrassem viveis.
Percebemos que havia um desafio importante, afirma o scio hoje aposentado Luiz Alberto Fiore, que atuou como o administrador judicial da Varig. Antes mesmo de a Lei ser aprovada, a Deloitte estudou a fundo a legislao, e seus scios correram o Pas, ministrando palestras voluntrias nas escolas de magistraturas. O objetivo era explicar para os juzes qual a real importncia de se ter conhecimento administrativo-financeiro, contbil e tributrio na hora de determinar, ou no, a falncia de
Oportunidades em recuperao de empresasuma empresa. Um juiz conhece as leis, mas no entende necessariamente de negcios e contabilidade. A dedicao deu certo.
Depois de idas e vindas, a Deloitte foi nomeada para ser o administrador judicial da companhia area Varig. E a sua recuperao judicial foi a maior da Amrica Latina e a segunda maior do mundo. Foram quase trs anos de trabalho intenso, que, algumas vezes, exigiu mais de 100 colaboradores da Deloitte. Um novo filo de negcios se abria para a Firma, que se tornou lder nessa rea. A Deloitte tambm atua como consultora em casos de recuperao extrajudicial, em que no mandatria, por designao de um juiz.
Esse escopo de atuao exclusiva em auditoria foi,
porm, se ampliando significativamente para a
Deloitte com o passar dos anos, especialmente nas
ltimas dcadas, medida que ela adicionou aos seus
negcios uma prtica de consultoria robusta, com
braos em diversos ramos. Ela se tornou, assim, uma
firma genuinamente completa de servios profissionais.
Nesse processo de criao e fortalecimento das
prticas de consultoria, a Deloitte participou de
empreitadas importantes e consolidou sua posio
de liderana no mercado.
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30 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l
Na primeira dcada do sculo 21, o Brasil passou por uma profunda transformao social, em razo de trs fatores principais: a ascenso das classes sociais mais pobres, a consolidao de nichos de consumo desde pessoas solteiras ou que moram sozinhas at idosos e casais sem filho e o incio de um ciclo de bnus
demogrfico (Populao Economicamente Ativa se tornando preponderante).
Mais de 48 milhes de brasileiros passaram a pertencer classe mdia entre 2003 e 2011. O novo padro de consumo permitiu um amplo ciclo de investimentos, estimulando de redes varejistas a fabricantes em geral.
E o mercado interno, enfim, cresceu
O Brasil dos anos 2000 continuou se modernizando, agora com distribuio de renda e ampliao do consumo
mais oportunidades s empresas e ao crescimento da Deloitte
Nesse cenrio, praticamente todo o ambiente de negcios brasileiro entrou em efervescncia. E a Deloitte aproveitou o momento para apresentar ao mercado um conjunto diversificado de solues. Todas as reas de negcios da Firma prosperaram em meio a essa nova fase do mercado interno.
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D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 31
A Deloitte sempre se pautou em acompanhar e participar
do desenvolvimento dos negcios do Brasil e se orgulha
de ter estado presente nestes diferentes momentos: da
industrializao do Pas, com a construo de ferrovias,
estradas e grandes grupos nacionais, at os recentes
processos de modernizao do ambiente de negcios
como um todo. Tambm contribuiu com sua expertise
para o crescimento local e a internacionalizao das
empresas brasileiras que expandiram suas atividades
para o exterior, com operaes de lanamento de
American Depositary Receipts (ADRs) via mercado de
aes, aquisies de outras empresas e estabelecimento
de bases produtivas e comerciais.
Ao longo dos anos, desempenhou o seu papel de
ajudar os clientes a conviver com as dificuldades
conjunturais do Brasil: juros elevados, alta carga
tributria, carncia de linhas de financiamento, alto
custo financeiro, cmbio desfavorvel para exportaes,
restries governamentais evaso de recursos, lacunas
de infraestrutura, mo de obra pouco qualificada e
presses de toda espcie.
Em todos os territrios do Brasil por onde circularam
o capital, as empresas, as oportunidades de negcio
e o desenvolvimento, a Deloitte fez questo de l
estar. Sempre optou por estar prxima de seus clientes,
inclusive geograficamente, estabelecendo filiais
estratgicas em mercados relevantes.
Nos anos 90, a Deloitte expandiu negcios por
todo o territrio nacional, especialmente aps a
estabilizao econmica do Pas, vivenciada a partir
de meados da dcada. Marcou presena significativa,
por exemplo, no amplo processo de privatizao
brasileiro daqueles tempos, desde o seu comeo,
prestando consultoria corporativa tanto no servio
de avaliao patrimonial das empresas quanto no
de modelagem de venda.
A Firma chegaria, assim, ao sculo 21, pronta para
firmar bases muito slidas em diversas reas de
consultoria. A primeira dcada dos anos 2000 marcaria,
para a histria da Deloitte, um tempo de grandes
transformaes, como mostra o captulo seguinte
deste livro.
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10 anos que valeram por 100
A evoluo dos mercados de auditoria e consultoria no perodo mais crtico, rico e prspero de sua histria
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D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 33
Cem anos guardam muitas histrias,
e poucas so as empresas que podem
se orgulhar de ter a reserva de
experincia que a Deloitte adquiriu
no Brasil. Uma trajetria secular no
linear. E pode-se dizer que os ltimos dez anos do
primeiro sculo da Deloitte no Brasil reservaram grandes
desafios, mas tambm novas e enormes oportunidades,
que foram muito bem aproveitadas pela Firma, tanto
nas reas de auditoria quanto de consultoria. Foram,
assim, 10 anos que valeram por 100.
O sculo 21 nasceu com novas e severas regras para
a prtica de auditoria, em meio a um mercado que
se tornava cada vez mais complexo. A consequncia
dessas mudanas abalou a profisso, houve presso
e at maior desconfiana sobre o papel do auditor,
observa Jos Roberto Carneiro, atual scio da rea de
Auditoria da Deloitte e lder dessa prtica de negcio
da Firma entre 2001 e 2011. A Lei Sarbanes-Oxley,
que uniu, nos Estados Unidos, um democrata e um
republicano na sua concepo, foi fruto desses tempos.
No bojo das novas normas, foi institudo um novo
rgo de fiscalizao da profisso o Public Company
Accounting Oversight Board (PCAOB). A ideia de uma
regulao mais estreita do mercado comeou a ganhar
fora tambm entre organismos reguladores de outras
partes do mundo. No Brasil, a onda regulatria sobre
o setor j havia se iniciado anos antes, quando foi
institudo pela CVM o rodzio obrigatrio de firmas
de auditoria, a cada cinco anos, para as companhias
de capital aberto.
De parte das prprias auditorias, o que se viu, alm
do empenho em se adequar ao novo cenrio, foi um
esforo acentuado em contribuir para um mercado
em transformao e que almejava o mesmo objetivo
que elas prprias: a disseminao da transparncia nas
prticas de negcios. Foi justamente nesse perodo que
as firmas reforaram uma srie de iniciativas, como a
educao continuada aos profissionais, alm da rotao
de scios no atendimento ao cliente j existente em
grande parte delas e o peer review, a reviso dos
trabalhos pelos pares.
As firmas de auditoria intensificaram ento um
processo que j existia desde as dcadas de 80 e 90:
o foco na formao de profissionais de excelente
qualidade tcnica e sintonizados s mudanas
advindas das novas regulamentaes. Acabaram
criando verdadeiras universidades internas para suprir
as deficincias das escolas, que ainda formam
profissionais sem o preparo adequado para um
ambiente globalizado, com normas internacionais
de contabilidade sendo adotadas a pleno vapor.
Elas viraram, assim, celeiros de talentos para
empresas de diversos setores.
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34 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l
A grande ebulio da primeira dcada do novo
sculo pode j ter ficado para trs, mas as lies
continuam valendo. Ser auditor ainda e sempre ser
a busca incessante pela integridade em um mercado
que, cada vez mais, cobra resultados e no qual a
eficincia medida nos mnimos detalhes. um
equilbrio sutil, que exige desprendimento e vocao.
Esta a profisso da tica, observa o scio hoje
aposentado Ariovaldo Guello, que atuou na Deloitte
por 40 anos. Ele um dos mais reconhecidos
entusiastas e colaboradores da profisso de auditoria
no Brasil, com firme atuao no Instituto dos Auditores
Independentes do Brasil (Ibracon). Para ele, os
momentos difceis contribuem, de alguma maneira,
para a melhora dos profissionais da rea tanto
dos atuais quanto dos futuros. Os auditores so
profissionais que tm de zelar pela honestidade sete
dias por semana, 24 horas por dia.
A falta de um entendimento claro sobre o papel do
auditor fez com que a profisso sasse de sua usual,
e justificada, posio low profile (de baixa exposio)
para uma postura mais atuante na defesa de seus
interesses. Era necessria uma atuao conjunta, em
prol de uma causa comum. Por mais acirrada que
fosse a competio entre as firmas, havia algo sem
o qual nenhuma delas sobreviveria: a integridade da
profisso. No Brasil, os auditores j estavam cientes
dos problemas de comunicao, como mostrava a
concluso de um estudo do Ibracon: Urge que a
profisso se vocalize. Urge que a profisso se una em
torno de uma posio que seja tecnicamente defensvel
em qualquer frum, coerente em qualquer parte do
mundo, acima de eventuais interesses comerciais. Urge
que a profisso se posicione corajosamente a partir de
sua melhor verdade tcnica, independentemente de
o ambiente e clima vivenciados publicamente serem
ou no inspitos a ns.
Uma prtica de gesto de riscos
O fato que, entre as firmas que vivenciaram o
perodo difcil da primeira dcada do sculo, a
era de regulao reforada acabou por no trazer
prejuzos; longe disso. Elas souberam adaptar-se bem
Jos Roberto Carneiro, lder da rea de Auditoria de 2001 a 2011: perodo de grandes desafios para o exerccio da profisso
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D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 35
aos novos tempos. Alm disso, as companhias do
mercado tiveram de pedir socorro justamente para
seus auditores quando viram a carga pesadssima de
exigncias que recaiu sobre elas, especialmente
no que dizia respeito ao aperfeioamento dos
controles internos.
No caso da Deloitte, a nova conjuntura de
preocupaes do mercado abriu espao para a
expanso de uma rea de negcios que se tornou
particularmente promissora desde a virada do sculo
21: a de consultoria em gesto de riscos empresariais.
Os profissionais dessa prtica aplicavam-se a ajudar
as empresas na melhoria de seus controles, no
estabelecimento de mecanismos de auditoria interna e,
em ltima instncia, na garantia de maior transparncia
e segurana diante de cenrios to instveis nos
negcios. O Brasil foi justamente um dos pases nos
quais a prtica de gesto de riscos mais prosperou
entre as firmas-membro da organizao mundial.
Consultoria para desafios globalizados
Se, por um lado, a prtica de auditoria teve de se
superar em um tempo de mudanas profundas no
mercado mundial aprendendo at a se reinventar
tantas vezes fossem necessrias nos primeiros anos
do sculo 21 , as funes de consultoria ganharam
matizes at ento desconhecidos. E, dessa vez, o
Brasil no esteve l to distante do epicentro das
transformaes mundiais que se abateram sobre a
economia, os negcios e como no poderia deixar
de ser a forma de atuar das firmas de consultoria
e auditoria. Muito pelo contrrio, como grande
pas emergente, que aprendeu a atrair capital e a
desmistificar alguns dos clichs que historicamente
o caracterizavam, o Brasil intensificou, como nunca,
sua entrada na economia globalizada.
As distncias ficaram curtas demais com o advento
da internet, das novas tecnologias e da abertura sem
precedentes dos mercados nacionais. E os desafios das
empresas brasileiras, chinesas, indianas, mexicanas,
norte-americanas ou de qualquer pas do mundo
comearam a ficar muito parecidos.
No novo fluxo das relaes corporativas, as novas
empresas transnacionais locais precisaram se
preocupar cada vez mais com problemas que
eram tpicos de multinacionais de outros pases.
Tinham agora de manter controles internos rgidos
e uniformes, padronizar relatrios gerenciais e
demonstraes financeiras de acordo com as melhores
prticas, modernizar seu capital humano e sua
estrutura de governana e conviver com dificuldades
conjunturais j conhecidas: cmbio muitas vezes
desfavorvel, juros elevados, alta carga tributria,
carncia de linhas de financiamento, alto custo
financeiro, restries governamentais sada de
Ariovaldo Guello, scio aposentado da rea de Auditoria e atuante no Ibracon: Esta a profisso da tica
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36 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l
recursos, burocracia e infraestrutura deficiente.
E passaram, claro, a precisar de apoio especializado
para captar recursos, melhorar processos e gesto,
integrar informaes e tecnologias, expandir
negcios e se reorganizar.
Um dos movimentos mais marcantes a incidir
sobre o ambiente de negcios foi a gradativa
e consistente transio verificada nas empresas
brasileiras quanto ao modelo de administrao. Cada
vez mais, organizaes familiares passaram a adotar
padres profissionais de gesto, trazendo demandas
relacionadas constituio de bons padres de
governana corporativa. Trata-se de um fenmeno
que se dissemina hoje tambm entre as empresas
emergentes de todo o Pas.
E, medida que empresas familiares ou de
qualquer outro modelo de controle melhoram seus
modelos de governana, maiores so as perspectivas
de interesse por parte de outras organizaes e
investidores para uma eventual transao de compra
ou fuso. A prpria globalizao da economia, com
a atuao mais frequente de fundos de investimento
internacionais no Brasil, potencializa esse processo.
No movimento de internacionalizao de muitas
mdias e grandes organizaes brasileiras, os
desafios vieram na mesma proporo do mundo que
pretendiam conquistar. Viram-se, em outros mercados
do mundo, diante de polticas locais de restrio
econmica e de legislaes peculiares nas reas
trabalhista, comercial e de repatriao de capital
e remessa de dividendos.
A Deloitte esteve sempre ao lado das empresas
que vislumbraram oportunidades, dentro e fora do
Pas. E, assim, desenvolveu e expandiu suas diversas
linhas de servio. Consultoria Tributria, Consultoria
Empresarial, Corporate Finance, Gesto de Riscos
Empresariais e Outsourcing foram as denominaes
das reas de negcio sob as quais as prticas de
consultoria da Deloitte avanaram fortemente na
primeira dcada do milnio, proporcionando Firma
taxas anuais de crescimento que atingiram at a
casa de dois dgitos.
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D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 37
Economia forte e novas perspectivas em consultoriaAbaixo, alguns dos nmeros que mostram a evoluo da nova economia brasileira, que abriu caminhos para grandes demandas das empresas na rea de consultoria. Como consequncia, os anos 2000 coincidiram com uma fase de grandes avanos para todas as prticas de consultoria da Deloitte, que apoiou as organizaes em seus novos desafios de negcio, no mercado interno e no exterior.
2000
2010
A primeira dcada do sculo 21
Ibovespa(pontos)
InvestimentoBrasileiro Direto
(US$ milhes)
N de operaes de fuses e aquisies
Exportaesbrasileiras(US$ milhes)
InvestimentoEstrangeiro Direto
(US$ milhes)
Consumodas famlias(R$ milhes)
55,1
201,9
317
808
69.304
15.259
758,9
2.226,0
32,8
48,5
2,311,5
Fontes: Banco Central do Brasil, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada e Research Deloitte (com base em dados pblicos)
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Por que e como a Deloitte conquista seus profissionais: eles entram para aprender com muitos dos grandes consultores e auditores do mercado e constroem carreiras de sucesso na organizao
Um celeiro de talentos
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D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 39
A Deloitte uma empresa de pessoas, formada por pessoas e que tem como seu principal ativo pessoas. uma organizao que vende servios, inteligncia. Por isso, o capital humano se torna um tesouro no qual a Firma
investe e que ela preserva. A gesto de pessoas vem
passando, nos ltimos anos, por um processo de
profunda transformao no mercado. E as organizaes
frente do seu tempo conseguem enxergar o devido
potencial nas competncias de cada um de seus
funcionrios.
Nesta empresa, qualquer pessoa tem o espao que
quiser, s depende dela, diz o scio Altair Rossato, que
lidera os Programas de Mercados e Clientes da Deloitte.
Essa foi a sensao que tive desde o meu primeiro dia
de trabalho na Firma, em 1988, acrescenta. Rossato
entrou como um jovem talento e teve a oportunidade
de crescer, trilhando um caminho que rene desde a
aquisio de experincia no exterior at o desbravamento
em outras reas de negcios e a chance de tornar-se
scio. Aqui, podemos dizer que h o incentivo
formao profissional e pessoal, garante.
A scia-lder para o atendimento indstria de
Infraestrutura, Iara Pasian, que entrou na Firma em
1977 quando a presena de mulheres no mercado de
auditoria era uma exceo , outra que seguiu carreira
na Deloitte e teve a chance de enriquecer seu currculo
no exterior. Em 1997, foi enviada para Washington D.C.,
onde participou de um programa de especializao no
atendimento a empresas do setor de energia eltrica.
J tinha tido uma experincia importante com fundos
de penso, e a Firma percebeu que poderia me transferir
para o setor eltrico, uma atividade regulada e que,
com certeza, iria crescer no Brasil, recorda. Hoje, a
Deloitte referncia nesse setor, tanto no segmento
de auditoria quanto de consultoria. Primeira mulher a
tornar-se scia da Firma em 1997, Iara sabe que teve
uma participao importante. Hoje, mais de 50%
das pessoas admitidas nos testes do Programa Novos
Talentos so mulheres. Elas esto por toda parte e em
diferentes postos e atribuies.
o caso de Lucilene Domingos de Carvalho, secretria
do escritrio do Recife. Ela conta que, quando entrou
na Firma, a empresa ainda se chamava Deloitte Haskins
& Sells. Era 1985, e Lucilene chegou apenas para cobrir
frias, prestando o servio de datilgrafa. Acabou
ficando. Ela lembra que, apesar de na poca a Deloitte
j contar com mquinas de escrever eltricas, chegou
a fazer trabalho em um taqugrafo. Apenas mais tarde
que vieram as mquinas de escrever eletrnicas.
Eu tinha 18 anos, foi o meu primeiro emprego e aqui
que vou me aposentar, diz, convicta. No escritrio, fez
de tudo um pouco sempre na rea administrativa ,
tornando-se secretria em 1988.
Iara Pasian, primeira mulher a se tornar scia, hoje a lder para os segmentos de Infraestrutura e uma das maiores especialistas do Pas em auditoria para empresas do setor eltrico
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40 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l
de centenas de profissionais que, juntos, renem
uma gama amplamente diversificada de competncias
de gesto de pessoas a gerenciamento de riscos
empresariais.
O scio Joo Alfredo Branco, que liderou a rea
de Consultoria Tributria da Deloitte at 2011,
integrou-se organizao depois de 29 anos na firma
Andersen. Sou imensamente grato Deloitte, como
organizao, por permitir a continuidade de minha
carreira e de outros profissionais que trabalhavam
conosco durante tantos anos. Realmente, eu visto a
camisa da Deloitte com o mesmo amor com que eu
visto a camisa do Corinthians para ir a um jogo do
meu timo, conta, com graa, o scio.
Esse sentimento tambm citado por Almira
Maria de Oliveira: Eu amo trabalhar na Deloitte.
assim que Dona Mira, que ingressou na Firma
no dia 12 de julho de 1977, define a importncia de
seu trabalho. Em mais de 30 anos de dedicao, a
copeira conta que viu muitos profissionais entrarem na
empresa como novos talentos e se tornarem scios,
e ainda pde acompanhar a aposentadoria de tantos
outros. No tenho palavras para agradecer por tudo
o que ela me proporcionou. Tudo o que eu tenho,
o que eu conquistei em todos esses anos, devo
ao meu trabalho nessa empresa, afirma,
emocionada, Dona Mira.
A trajetria de Rita Nikolian, que j atuou como
secretria e hoje supervisora administrativa e
RH operacional da rea de Consultoria Tributria do
escritrio de So Paulo, tambm percorreu muitos
ciclos de profundas mudanas. Na Deloitte desde
1988, Rita acredita que sua carreira evoluiu porque
teve a oportunidade de trabalhar com scios que
enxergaram nela competncias que ela mesma
no conseguia enxergar. Aprendi muito dentro
da Deloitte, vivi muitas coisas boas e algumas ruins,
mas assim que a gente cresce. Minha forma de
agradecer Firma fazer o meu trabalho da melhor
maneira possvel.
Mudanas e avanos
A mudana constante se apresenta com frequncia
nas trajetrias profissionais mais bem sucedidas.
A carreira do consultor Ricardo Balkins acumula uma
srie de transformaes e caminhos percorridos.
Ele chegou Deloitte em 1989, contratado para
ajudar a montar uma rea de Auditoria de Sistemas,
que contava, na poca, com apenas quatro pessoas.
O negcio floresceu. Em 1998, tornou-se scio e
liderou a rea de Consultoria em Gesto de Riscos
Empresariais. Nos fortalecemos ainda mais quando
profissionais egressos da firma Andersen se juntaram
a ns. Foi um perodo de grande aprendizado, diz.
Em 2006, mudou-se para a rea de Consultoria
Empresarial, que hoje lidera. Balkins est frente
Almira Maria de Oliveira, a Dona Mira: amor pela Deloitte
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D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 41
O carioca Clodomir Flix, scio-lder para o
atendimento indstria de Servios Financeiros e
Sade, se diz maravilhado com o universo da Deloitte
e a sua firme estrutura organizacional mundo afora.
Na Firma, ele galgou posies pela rea financeira.
Essa capacidade de se renovar e avanar o grande
diferencial da Deloitte, afirma. Na vida, preciso
ser um desbravador para vencer, receita.
Para os talentos que trabalham na Firma, a Deloitte
consolidou uma imagem forte, de organizao que
forma o seu profissional e aceita as correes de
rotas ao longo das curvas do tempo e por que no
dizer da histria? Temos imbudo em nossa cultura o
desejo de mudana, de querer aprender mais, de querer
investir em outras reas de nossas vidas, analisa o scio
Michael J. Morrell, lder nacional de Talent.
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42 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l
Olhares de dentro e de fora
Quem optou por seguir carreira fora da Firma reconhece
o aprendizado. Augusto Flores foi profissional da
Deloitte at abril de 2009, quando saiu para ocupar
uma posio de liderana na rea de impostos de
uma montadora automobilstica. A minha passagem
pela Deloitte foi fundamental, formou o meu carter
profissional e consolidou em mim uma srie de aspectos
importantes para a minha carreira, como a necessidade
de estudar e aprender sempre, de compartilhar o
conhecimento com os mais novos, de saber lidar
bem com as pessoas (colegas, chefes, subordinados e
clientes), de trabalhar em equipe e de estar sempre
um passo frente, relata.
Para Leandro Lecheta, que hoje trabalha nos Estados
Unidos como vice-presidente e CFO mundial de uma
empresa dedicada ao ramo de mquinas agrcolas e de
construo , a Deloitte ensinou-lhe questes essenciais.
Tive uma slida formao tcnica e sempre fui exigido
a entregar o melhor de mim, diz ele. Sempre tive
exposio a grandes projetos, nacionais e internacionais,
e a vrios desafios. E, na Deloitte, tive o apoio
necessrio para super-los. Alm do excelente aspecto
tcnico, a formao do carter pessoal e profissional foi
fator-chave para ter sucesso em minha carreira.
Quem vem do mercado tambm reconhece a
diversidade de desafios e oportunidades que a Deloitte
proporciona. o caso de Eduardo Tavares Raffaini,
scio do escritrio da Firma no Rio de Janeiro desde
2009, que pde olhar o trabalho sob outro ponto
de vista. Ele conta que, na Deloitte, teve de mudar
seu mindset (mentalidade). Basicamente, tive de
aprimorar meus skills (competncias) para me tornar
um empreendedor, o que me fez um profissional muito
mais completo. Sempre admirei a Deloitte e tinha o
sonho de me juntar a uma empresa centenria no
Brasil e lder do mercado de consultoria mundial
e local, diz.
A Deloitte assim: pessoas de todos os lugares,
conhecimentos e aspiraes so bem recebidas para
crescer e desenvolver seu talento, como o do baiano
Jos Othon Tavares de Almeida. Hoje scio-lder para
o atendimento indstria de Manufatura, Othon
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D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 43
entrou na Deloitte aos 23 anos, sonhando em ser
selecionado para uma disputada vaga na Firma, em
Salvador. Passou por uma concorrida seleo que
contou com mais de 300 candidatos e, na entrevista
final, fez uma sugesto ao scio que o entrevistou:
Me contrate, voc no se arrepender. Deu certo.
Ingressou na Deloitte em 1983, tornou-se scio em
1997 e permaneceu no escritrio da capital baiana
at 2005, quando recebeu um convite para trabalhar
na sede paulista. Tornou-se o lder para a indstria
de Manufatura. O que vale o conhecimento que
voc tem, independentemente de onde voc venha,
diz, referindo-se disposio da Firma para contratar
profissionais dos mais diferentes sotaques e
nacionalidades.
Histrias pitorescas
Alm de proporcionar espao para crescer, a Deloitte
tambm coleciona histrias curiosas vividas por quem faz
o dia a dia da empresa. O scio da rea de Consultoria
Ulisses de Viveiros, h 30 anos na Firma, recorda da
poca em que a tecnologia era outra e as apresentaes
e propostas de servios eram entregues sempre
pessoalmente. No havia essa agilidade da internet.
Os trabalhos eram feitos em papel, manualmente, havia
um pool de datilografia para transcrever os relatrios.
Ficava um arquivo enorme e o que tinha de mais
moderno na poca era um furador de papel importado,
diz, lembrando que, certa vez, foi parado na alfndega
difcil, mas, comprovadamente, vivel. Afinal, o que a Deloitte vem conseguindo realizar, ano aps ano mesmo diante do crescente nmero de scios admitidos, como reflexo da expanso dos negcios. O segredo do sucesso pode ser definido em uma nica palavra: consenso. Por trs desse conceito, h um conjunto de aes e, sem dvida, uma estratgia de gesto pautada por uma eficiente estrutura de governana corporativa.
Desenhado com base nas premissas da organizao global e devidamente adaptado s necessidades locais, o programa de governana da Deloitte no Brasil busca contemplar, de maneira consistente, os objetivos gerais de todos os scios. Somos uma sociedade de pessoas que se juntaram para explorar os seus
conhecimentos na forma de um negcio. medida que enxergamos que precisamos crescer, olhamos para dentro de casa e vamos buscar qual o melhor profissional para atender s nossas necessidades, diz o chairman Alcides Hellmeister Filho, que hoje lidera o seu board.
Aos 62 anos, a sada de cada scio compulsria, para dar oportunidades a novos talentos. Ainda como parte do modelo de governana, um mesmo scio pode permanecer na presidncia executiva da Firma por, no mximo, dois mandatos de quatro anos. A filosofia dessa organizao entregar para a prxima gerao uma firma melhor do que a gerao anterior de scios nos legou. Somos todos scios temporrios, com data de entrada e de sada, explica Alcides.
Como administrar ideias, aspiraes e projetos de tantos scios?
vindo de um voo internacional porque sua bagagem
soou no alerta vermelho. Eram 30 furadores de papel
espalhados pela mala e comprados, inocentemente, para
agilizar o trabalho na firma brasileira. Hoje, as mudanas
so rpidas, feitas por apenas um clique no computador.
Nos tempos do scio aposentado Ariovaldo Guello,
a rea de Auditoria ainda tinha efeitos surpresas,
como dar incertas em uma empresa para auditar os seus
servios. Entrvamos em um banco, por exemplo, s
cinco da tarde, e passvamos a noite conferindo seus
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44 D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o B r a s i l
recursos, que iam da compensao at contar todas as
notas de dinheiro que estavam no cofre, uma por uma,
recorda-se. O fato curioso que no havia celular, e-mail
e no podamos nem avisar em casa, para no dissipar a
informao. Afinal, o intuito da operao era ser secreta.
A graa, com seu modo pitoresco, tambm fez parte
da histria do scio da rea de Consultoria Andr
Gargaro, que teve um crescimento relativamente
rpido, com passagem pelo exterior, e se tornou scio
aos 35 anos. Entrou na Firma meio por acaso, depois
de ver um pequenino e discreto cartaz na faculdade,
que dizia: Recrutamos novos talentos para Auditoria
de Sistemas. Era o ltimo dia para enviar o currculo
e as greves dos Correios e do sistema de transporte
pblico pareciam conspirar contra o futuro do jovem.
Com a ajuda de sua me, que lhe emprestou o carro,
conseguiu fazer com que seu currculo pousasse nas
mos de uma recepcionista da Firma, no escritrio
ento localizado no Edifcio Itlia, no centro velho
de So Paulo. No tinha a menor ideia do que e de
onde era essa empresa, recorda sincero. Uma semana
depois, foi chamado para uma entrevista e acabou
ganhando a vaga.
A exemplo de Andr Gargaro, todo profissional da
Deloitte tem histrias peculiares para contar. Hoje,
se orgulham da empresa, porque sabem que vm
construindo uma histria e deixaro um legado para
as novas geraes.
Ulisses de Viveiros: lembranas de um tempo no qual o que havia de mais moderno era um furador de papel importado
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D e l o i t t e 1 0 0 A n o s n o b r a s i l 45
A jovem Josiane Maria Poleski tem uma relao estreita e particularmente especial com a Deloitte. Deficiente auditiva, ela ingressou na Firma em 2006. Trabalha no escritrio de Curitiba (PR), onde executa, entre outras funes, o treinamento das reas de Auditoria e de Consultoria Tributria, alm do processo de recrutamento de novos profissionais locais. Comeou timidamente na Firma, fazendo pequenos trabalhos, aqui e ali. Fui crescendo e mostrando o meu potencial na rea administrativa, diz. Aprendi muito, emenda. At que, um dia, foi chamada para aceitar um desafio na rea de Outsourcing, onde permaneceu por seis meses, at voltar para o setor administrativo.
Para Josiane, a iniciativa da Deloitte de incluir profissionais com deficincia um incentivo fundamental. A empresa apostou em mim, sem cobrar sequer um dia de experincia. Fiquei insegura no comeo por ser a primeira profissional com deficincia a ser contratada, conta. Com o passar do tempo, me sinto
satisfeita em trabalhar na Deloitte, porque hoje somos tr