livro de ouro bom despacho: 100 anos

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100 ANOS LIVRO DE OURO BOM DESPACHO

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Page 1: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

100 ANOS

LIVRO DE OUROBOM DESPACHO

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Page 5: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Belo Horizonte, junho de 2012

Aline Xavier

Isabella Verdolin Neves

Marina Camisasca

Osias Ribeiro Neves

Page 6: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Coordenação editorialOsias Ribeiro Neves

RedaçãoAline XavierIsabella Verdolin NevesMarina CamisascaOsias Ribeiro Neves

Pesquisa histórica e documentalRenata Garcia Duarte

EntrevistasAline XavierMarina CamisascaRenata Garcia DuarteOsias Ribeiro Neves

Projeto Gráfico e diagramaçãoVoltz Design

ImagensArquivo do Senado FederalArquivo Público do Distrito FederalArquivo Público MineiroDNITMundoviradoMuseu dos Ferroviários de Bom DespachoPhotosPrefeitura Municipal de Bom DespachoRicardo AvelarSecretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho

Revisão de ConteúdoNils Peter Christer NilssonRosalva Flores Fernandes Leandro

RealizaçãoSecretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho

XAVIER, Aline; NEVES, Isabella Verdolin; CAMISASCA, Marina; NEVES, Osias Ribeiro.

Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Belo Horizonte: Escritório de Histórias, 2012.

200p.

ISBN: 978-85-87981-41-7

1 - Bom Despacho 2 - História 3 - Memória

Page 7: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

DEDICATÓRIAA todos os cidadãos de Bom Despacho, os que aqui nasceram e os que aqui vivem e que contribuíram ou contribuem para que a nossa cidade seja cada vez melhor.

Page 8: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

AgRADECIMEnTOS 6

APRESEnTAçãO 9

InTRODUçãO 10

O IníCIO DO POVOAMEnTO DE BOM DESPACHO 13

BOM DESPACHO: DE PARÓqUIA A MUnICíPIO 17A chegada da família real e a independência do Brasil 18

O povoamento se intensifica 22

1912: BOm DesPAchO e O BrAsIl exPerImentAm muDAnçAs 31O Brasil em 1912 32

e assim nasceu Bom Despacho 34

AnOs 20 e 30 em BOm DesPAchO 41Os anos 20 e o crescimento do município 42

Os anos 30 e as mudanças ocorridas em Bom Despacho 58

O PeríODO DemOcrátIcO Pós 1945 73Os efeitos em Bom Despacho 76

mineração a era dos cristais 80

PsD x uDn: A luta política e o imaginário popular 83

Juscelino, governador de minas 85

A volta triunfal de Vargas 87

Um tiro no coração do Brasil 90

TEMPOS DE DESEnVOLVIMEnTO EM TODO O PAíS 93A indústria chega em Bom Despacho 97

um novo tempo na história do país 101

A reviravolta na política e o golpe civil-militar 105

em Bom Despacho, os estudantes fundam entidade 107

A DItADurA mIlItAr e Os seus reflexOs nA cIDADe 109Infraestrutura para o crescimento 111

A década de 1970 e as movimentações em Bom Despacho 112

SUMÁRIO

- 4 -

Page 9: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Os AnOs 80: OrGAnIzAçãO PArA O DesenVOlVImentO munIcIPAl 117O Brasil na década de 80 118

A cidade se organiza 120

O sistema educacional de Bom Despacho 124

Os escoteiros 127

O Festicanto e o teatro 130

O comércio e o transporte interligam a região 132

Os AnOs 90: VAlOrIzAçãO DA culturA lOcAl 135O Brasil nos anos 90 136

Desenvolvimento cultural em Bom Despacho 138

cultura e educação de mãos dadas 145

BOm DesPAchO: A cIDADe centenárIA 149

O novo milênio 150

Bom Despacho dos anos 2000 153

O esporte na cidade 160

Bom Despacho, envolto por fé e devoção 164

O advento e o desenvolvimento da comunicação no município 168

Bom Despacho do futuro 170

LInHA DO TEMPO DA CIDADE DE BOM DESPACHO 173

AnexOs 189Prefeitos do município de Bom Despacho 190

templos religiosos em Bom Despacho 192

escolas Públicas em Bom Despacho 193

referêncIAs BIBlIOGráfIcAs 195

- 5 -

Page 10: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Escrever a história de Bom Despacho foi tarefa gratificante. Para

recuperar os cem anos de história do município, entrevistamos pessoas

considerando uma pequena amostra dos bom-despachenses que, de

alguma forma, nos ajudasse a construir uma narrativa mais humana

sobre a cidade. Infelizmente, algumas pessoas escolhidas e importantes

para o processo, por motivos alheios à nossa vontade, não se dispuseram

a participar. Dada a natureza do trabalho, muitas outras, possivelmente

com narrativas interessantes, ficaram de fora porque seria humanamente

impossível entrevistar todos os cidadãos de Bom Despacho e também

aqueles que mesmo não sendo de lá, guardam uma ligação afetiva com

a cidade.

Além das entrevistas, realizamos extensa pesquisa, nos arquivos

existentes no 7° Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerias, no Museu

dos Ferroviários, no Museu da Cidade, na Secretaria Municipal de

Educação, na Secretaria Municipal de Cultura, na Igreja Matriz, na Escola

Municipal Coronel Praxedes e na Biblioteca Municipal Professor Jacinto

Guerra. Foram consultados também os acervos do Arquivo Público

Mineiro e da Hemeroteca da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa,

ambos localizados em Belo Horizonte. Serviram também de fontes de

consultas, livros que de alguma forma abordam aspectos referentes

à história da cidade e de sua gente, entre eles, COOPERBOM 50 anos,

Gente de Bom Despacho, Arraial da Senhora do Sol, Pé preto no barro

branco e História de Bom Despacho. Além dos livros foram pesquisadas

as revistas Cinquentenário de Bom Despacho 1912-1962, Bom Despacho

90 anos, Bom Despacho Ontem/Bom Despacho Hoje 96 anos, Bom

Despacho: origens, perfil e atrativos e os jornais Bom Despacho, O Bom

Despacho e Jornal de Negócios.

Os documentos revelaram versões distintas sobre alguns fatos.

No entanto, isso não comprometeu o desenvolvimento do livro, pois

tornou possível revelar diversos ângulos de uma mesma temática. Já

as entrevistas foram realizadas utilizando técnicas da história oral,

abordando temáticas variadas sobre a história da cidade. Queremos

deixar aqui registrado nosso agradecimento àqueles que nos brindaram

com os seus depoimentos: Agostinho Luiz de Oliveira, Alexandre Aurélio

AgRADECIMEnTOS

- 6 -

Page 11: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Chaves, Auxiliadora Teixeira Guerra, Benedito Alves, Benjamin da Silva

Sobrinho, Bento Lopes Cançado Filho, Denise Gontijo Araújo Lamounier,

Flávio de Melo Queiroz, Francisco de Assis Fonseca, Geraldo Pereira

Vaz, Haroldo Sousa Queiroz, Homero José do Couto, José Fagundes

Filho, João Batista Ferreira de Andrade, José Cardoso de Mesquita,

Josefina Gontijo Leite, Liliana Valadares, Luiz Alberto Alves, Marcelo

Ferry, Maria Adjara dos Santos, Maria Antonieta de Assumpção,

Márcio Araújo Gontijo, Mário Domingos, Marta Maria Anacleto, Maura

Valadares Gontijo, Orlando Pereira de Freitas, Ordália Ferreira Pessoa

Melo, Otávio Cândido da Silveira, Padre Pedro Lacerda Gontijo, Paulino

Gontijo Queirós Cançado, Robinson Gontijo, Ronaldo Valadares Gontijo,

Roniere Silva Menezes, Rosalva Flores Fernandes Leandro, Sebastiana

Geralda Ribeiro, Tadeu Antônio de Araújo Teixeira, Tarcísio José Santos

do Amaral, Vera Lúcia Cardoso Couto, Virgínia de Souza Maciel Pessoa

Cançado e Zeni Ribeiro Hamdan.

Além disso, gostaríamos de agradecer àqueles que nos ajudaram

durante a trajetória de elaboração do livro: Aline Diana da Silva, André

Silva, Carlos Magno Vaz Gontijo, Fabiano Geraldo de Oliveira, Maurício

Simbera, Nils Peter Christer Nilsson, Rosalva Flores Fernandes e Paulo

Sérgio T. Leite.

Ao longo do livro além da história da cidade, o leitor também poderá

conhecer um pouco mais sobre Bom Despacho por meio de relatos de

pessoas, que narram casos interessantes ocorridos no município. Esses

relatos estão espalhados em toda a extensão do livro por meio do que

denominamos de Caderno de Memórias. O livro traz ainda, ao final, uma

linha do tempo com os fatos marcantes para o município, que pode ser

consultada rapidamente. Nesses cem anos muitos fatos aconteceram

na cidade e muitas pessoas participaram dessa história. Convidamos o

leitor a conhecer a trajetória da jovem Bom Despacho, que não se esgota

nesse trabalho e que apesar de ter sido constituída em período recente,

muito tem para contar sobre si mesma e sobre aqueles que, no dia a dia,

constroem a sua história.

Escritório de Histórias

- 7 -

Page 12: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos
Page 13: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

APRESEnTAçãO

É com orgulho e satisfação que entregamos à população de Bom

Despacho o “Livro de Ouro” em comemoração ao centenário da nossa

cidade. Ele narra a nossa história desde os primeiros tempos quando

um pequeno povoado começou a se formar nessas terras em meados

do século XIX. Para a realização deste trabalho procuramos empresas

especializadas no assunto até escolhermos o Escritório de Histórias,

empresa especializada em memória, na produção e publicação de livros

que atua no mercado desde 1999.

Diversas fontes disponíveis foram pesquisadas e pessoas foram ouvidas,

principalmente em Bom Despacho. O resultado está neste livro de

excelente qualidade gráfica e conteúdo histórico-literário em que cada

um de nós pode se ver, de alguma maneira, espelhado nele.

Este livro está disponível também no site da Prefeitura de Bom Despacho

em arquivo pdf e pode ser baixado ou lido no próprio site. Esta foi a forma

mais democrática e abrangente que encontramos para que todas as

pessoas da cidade e também de outras partes do mundo tenham acesso

ao livro. Esperamos que cada pessoa ao ler essa obra tenha uma visão

mais aprofundada sobre a nossa origem e a nossa trajetória. E que este

trabalho possa inspirar novos autores e servir de fonte para que nossa

história continue a ser escrita.

Haroldo de Sousa Queiroz

Prefeito Municipal

Rosalva Flores Fernandes Leandro

Secretária de Cultura

Nils Peter Christer Nilsson

Secretário de Comunicação

- 9 -

Page 14: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

As escassas planícies, escondidas em meio às montanhas de Minas

Gerais, guardam a história de desbravadores, tradições, fé e devoção.

Aqueles que se embrenharam por terras desconhecidas, muitas vezes

se utilizaram dos rios, que cortam todo o estado de Minas, como

forma de transporte e também como fonte de abastecimento de água.

O principal deles é o São Francisco, que foi descrito, no século XIX, pelo

viajante francês Auguste de Saint-Hilaire: “O Rio São Francisco deve sua

origem à magnífica cascata denominada Cachoeira da Casca d’Anta, que

se despenha por cerca dos 20° 40’ da Serra da Canastra. Enquanto rega a

Província de Minas, recebe em seu leito grande número de afluentes, dos

quais vários são em parte navegáveis”1. Dois dos seus afluentes, Lambari

e Picão, percorrem, na região do Alto São Francisco2, o município de Bom

Despacho.

O nome, adotado em homenagem à santa portuguesa Nossa Senhora do

Bom Despacho, devotada pelos primeiros portugueses a se instalarem

naquelas terras, identifica a religiosidade intrínseca à cultura do município,

que possui atualmente 45.624 habitantes3. Com 1.224km² de extensão,

Bom Despacho está localizado no Centro-Oeste de Minas4, a 141 km de

Belo Horizonte e liga-se à capital através da rodovia transversal5, BR

262, que corta os estados do Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e

Mato Grosso do Sul6. Além da estrada federal, Bom Despacho é servido

pela MG-164, que se liga à BR-040, atravessando o Distrito do Engenho

do Ribeiro e os municípios de Martinho Campos e Pompéu.

Terra acolhedora, que carrega vestígios de sua história nos relatos de

seus descendentes e nas edificações preservadas, é limítrofe a Martinho

Campos, ao Norte; aos municípios de Moema e Santo Antônio do Monte,

ao Sul; a Leandro Ferreira e Araújos, ao Leste e, a Oeste, a Dores do

Indaiá e Luz.

Com pequenas extensões de vegetação típica de Mata Ciliar, Mata

Seca e Pastagens Artificiais, a paisagem de Bom Despacho é

predominantemente composta por gramíneas, arbustos e árvores,

aspectos que evidenciam a proeminência de vegetação típica do

cerrado. O cerrado abrange 50% do território de Minas Gerais e congrega

InTRODUçãO

- 10 -

Page 15: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

múltiplas espécies da fauna, como tamanduá,

tatu, anta, jiboia, cascavel, além do cachorro

do mato. Outras espécies típicas como o lobo-

guará, o veado-campeiro e o pato-mergulhão,

encontram-se em extinção. Neste bioma, as

estações de seca e chuva costumam ser bem

definidas. Em Bom Despacho a temporada de

maior intensidade de chuvas ocorre entre os

meses de outubro a março, período em que

chove aproximadamente 81% do total anual.

O mês mais quente é fevereiro, já o mês mais

seco é julho e a temperatura varia ao longo do

ano entre 12 a 36 graus - características típicas

de clima tropical.

Com 60% de relevo plano, Bom Despacho

apresenta ondulações em 25% do território

municipal, e 15% de área montanhosa. No

horizonte do município podem-se encontrar as

Serras do Cabral, do Repartimento, do Barreiro,

do Palmital, da Saudade e da Canastra – onde,

ao Sul, o relevo se torna mais acidentado.

Em direção ao Norte, o relevo de planaltos

predomina. As deformações mais significativas

estão nas proximidades das margens à

esquerda dos rios Lambari e Capivari. A altitude

máxima é de 961 metros, nas proximidades de

Moema, no morro da Chapada. A mínima é de

625, nas encostas do rio São Francisco, do rio

Picão e do ribeirão Capivari7.

O cenário de Bom Despacho é constituído pelas

águas de diversos rios e lagoas. A localização

privilegiada em recursos hídricos coloca o

município no curso das águas do rio São Francisco

e Lambari, ao Oeste; ao Sul, dos córregos do

Espinho, da Forquilha, da Prata e da Mariana.

Se buscado ao Norte, avista-se o rio Picão e, ao

Leste, os rios Lambari e Capivari. Ainda integram

o mapeamento hidrográfico de Bom Despacho

as lagoas: Verde, Josué Luiz, Gentios, Bureco,

Grande Caiçara, Presa, Arthur e Café.

Para além das belezas e recursos naturais, a

economia de Bom Despacho tem se expandido. A

agropecuária foi a principal atividade econômica

por um longo período, entretanto, com o passar

dos anos outras atividades conquistaram

espaço. O setor de serviços destacou-se,

apresentando a maior parcela de rendimentos

do Produto Interno Bruto (PIB) do município8.

O comércio cresceu significativamente, assim

como os serviços na área educacional com

universidade, escolas de ensino fundamental e

médio, e também na área médica, com postos

de saúde e hospitais.

Além das características geográficas e

econômicas uma cidade possui também

aspectos sociais e históricos. E é para

conhecermos estes últimos que se faz

necessário trilhar os caminhos da formação,

ainda no século XVIII, do que hoje conhecemos

como a centenária Bom Despacho.

1 SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Belo Horizonte: Editora Itatiaia Ltda, 2000, p. 337. 2 É considerada uma das quatro regiões que compõe a bacia do rio São Francisco, partindo das cabeceiras, na Serra da Canastra, até Pirapora, em

Minas Gerais. O Médio São Francisco, de Pirapora (MG) até Remanso (BA). A região submédia, de Remanso até Paulo Afonso (BA), e o baixo São Francisco, de Paulo Afonso a foz no Oceano Atlântico. Disponível em: http://www.senhoradosol.com.br, acessado em 10 de fevereiro de 2012.

3 Informação disponível em http://www.ibge.gov.br, acessado em 06 de fevereiro de 2011. 4 Da qual fazem parte também os municípios: Araújos, Dores do Indaiá, Japaraíba, Lagoa da Prata, Leandro Ferreira, Luz, Martinho Campos, Moema,

Quartel Geral e Serra da Saudade. Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte, outubro de 2003, p. 13.5 São as rodovias que cortam o país na direção Leste-Oeste. Disponível em: http://www.dnit.gov.br, acessado em 09 de fevereiro de 2012. 6 Percurso detalhado da BR – 262. Disponível em: http://www2.transportes.gov.br, acessado em 09 de fevereiro de 2012. 7 Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte, outubro de 2003, p. 12.8 No Censo realizado em 2010, os dados apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam que o setor de serviços cresceu

mais, seguido pela indústria e pelo setor agropecuário.

- 11 -

Page 16: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Photos

Page 17: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

O IníCIO DO POVOAMEnTO DE BOM DESPACHO

Page 18: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

O início do povoamento de Bom Despacho

- 14 -

A região hoje conhecida como Bom Despacho

começou a ser povoada no século XVIII. No

entanto, não há consenso sobre os seus

primeiros habitantes. Sabe-se que desbravadores

rumaram para a região na época em que a

administração da Colônia ficava a cargo do

Marquês de Pombal, que durante o reinado de D.

José I (1750-1777) obteve a concessão do rei para

representá-lo em todas as esferas das decisões

reais, como ministro plenipotenciário. Sua obra

representou um grande esforço no sentido de

tornar mais eficaz a administração portuguesa e

introduzir modificações no relacionamento entre

a Metrópole e a Colônia9. Marquês de Pombal

promoveu perseguições contra a nobreza, os

jesuítas e aos que se opunham às reformas por

ele realizadas. Adotou também medidas para

tentar coibir o contrabando de ouro e diamantes

e tratou de melhorar a arrecadação de tributos.

Em Minas Gerais, o imposto da capitação foi

substituído pelo quinto do ouro, com a exigência

de que deveria render anualmente pelo menos

cem arrobas do metal. Uma das medidas mais

controversas da administração pombalina foi

a expulsão dos jesuítas de Portugal e seus

domínios, com o confisco de todos os seus bens.

A história de Bom Despacho inicia-se nesse

período de intenso controle realizado por Pombal

na Colônia. A tradição oral diz que os três primeiros

homens que habitaram as terras compreendidas

entre os rios Lambari e Picão eram portugueses

que sofreram o banimento do degredo: Domingos

Luiz de Oliveira, Manoel Ribeiro da Silva e Padre

Vilaça, que fixaram moradia nas imediações de

três colinas no ano de 1775. Eram devotos de

Nossa Senhora do Bom Despacho e desejavam

obter o perdão real, ou seja, um “bom despacho

do Rei” a fim de retornarem para a terra natal,

a Província do Minho, em Portugal. Na região

onde se fixaram, ergueram uma ermida em

devoção a Nossa Senhora do Bom Despacho, cuja

constituição se tornou o marco distintivo do início

do povoamento.

Outro português que também ficou conhecido

como o primeiro povoador de Bom Despacho foi

o bandeirante Manoel Picão Camacho, cunhado

de Antônio Rodrigues Velho, homem conhecido

como “Velho da Taipa” e que fixou residência na

região de Pitangui, cujo início do povoamento data

do final do século XVII. A vila de Pitangui no início

do século XVIII se tornara o centro irradiador do

povoamento do Alto São Francisco e diversos

sertanistas saíam da localidade para desbravar

a região em busca de riquezas. Pitangui era uma

região aurífera e, na segunda metade do século

XVIII, já quase nada produzia, levando muitos a

migrarem para áreas próximas à vila em busca

de novas formas de enriquecimento. Manoel

Picão teria sido um deles e o primeiro a se fixar

na área hoje conhecida como Bom Despacho.

Em sua homenagem, um dos rios que corta a

região ficou conhecido como Picão. Conta-se

que Manoel, ao visitar um amigo que morava em

terras do atual Distrito de Alberto Isaacson, teve

sua atenção despertada para uma pedra branca

que havia sido deixada no canto da sala sobre a

mesa. Examinou-a com indiferença e pediu ao

amigo que lhe desse o mineral, pois lhe seria útil

como peso de papéis. Pouco tempo depois, ele

embarcava para Portugal levando consigo um

valioso diamante, que lhe proporcionaria uma

vida confortável até o final dos seus dias. Manoel

Picão nunca mais retornaria ao Brasil10.

Laércio Rodrigues, por sua vez, após pesquisar o

arquivo judiciário da Comarca de Pitangui, afirma

ser outro português o primeiro morador da região:

“Provavelmente entre 1762 e 1765, Luís Ribeiro

da Silva deslocou-se com sua gente para a região

das nascentes do Rio Picão, onde se estabeleceu

em caráter definitivo, com lavoura e campos de

criação”11. A primeira capela foi construída em

terrenos de sua propriedade e foi chamada de

Capela de Nossa Senhora do Bom Despacho.

Luís Ribeiro, como outros portugueses, procedia

do Norte de Portugal, da Província do Minho,

localidade onde era fervorosa a devoção a Nossa

Senhora do Bom Despacho. Em 1771, foi deferida

a provisão episcopal e, no ano seguinte, a capela

ganhava o seu primeiro capelão, Padre Agostinho

Page 19: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

- 15 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Pereira de Melo, natural de Prados (MG), filho de

Cristóforo Pereira de Melo e D. Tereza de Souza

Caldas. O templo religioso era simples, coberto

por capim. Anos depois, ainda no século XVIII,

Luís Ribeiro da Silva, com muito esforço, teria

conseguido erguer outro templo em substituição

ao primeiro, dessa vez de alvenaria, coberto por

telhas12.

Os escravos africanos fugitivos de fazendas e

das áreas mineradoras próximas a Pitangui são

vistos também como os primeiros povoadores da

região de Bom Despacho. Certa tradição afirma

que os negros teriam chegado antes

dos portugueses e lá constituíram

quilombos entre os rios

Lambari e São Francisco. De

acordo com a pesquisadora

Sônia Queiroz, foi por meio

dos “negros do mato” que

outras pessoas começaram

a migrar para a região.

“Os quilombos são, pois, fator

importante no povoamento

da região de Bom Despacho: os

negros fugindo aos seus senhores, entram

pelo sertão em busca de esconderijos onde se

organizar como homens livres. Atrás deles vão os

capitães-do-mato, que muitas vezes encontram

pelo caminho lugares atraentes onde resolvem

fixar residência”13.

Os negros que se deslocaram para a região de

Bom Despacho se fixaram no local que até hoje

é chamado de Quilombo, situado em área rural.

Lá eles foram criando raízes e adaptando seus TropeiroJean-Baptiste Debret

hábitos e costumes à realidade local. Outros

negros se dirigiram para a região junto com

os seus senhores, na condição de cativos, e

se estabeleceram em fazendas de criação de

gado e lavoura. A partir do contato com a língua

portuguesa esses africanos acabaram por criar

uma nova língua, chamada Língua do Negro da

Costa, constituída fundamentalmente de léxico

de línguas africanas e gramática portuguesa.

A língua foi preservada até os dias de hoje e

é exemplo da riqueza cultural da região. Os

falantes vivem, em sua maioria, na Rua Tabatinga,

localizada na periferia de Bom Despacho. “Meus

antepassados nasceram aqui na

Tabatinga e morreram aqui. Somos

uma comunidade quilombola

e conseguimos registrar a

Tabatinga como comunidade

quilombola”14.

Na Língua do Negro da

Costa, por exemplo, coriã

é chapéu, matuaba é pinga,

coete é homem e ocaia é mulher.

A sua transmissão não se dá na

escola ou na família, mas sim entre amigos,

numa faixa etária de 11 a 20 anos, ou seja,

quando o indivíduo já domina a língua materna

e começa a intensificar as relações fora do lar,

nos bares e nas festas15. Essa língua “garante aos

negros, através da impermeabilidade, o status

de estrangeiros, que os distingue positivamente,

compensando a situação de marginalidade em

que sempre viveram, a princípio como escravos e

hoje como subempregados ou desempregados”16.

9 FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12. Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004, p. 109-110.10 In: RODRIGUES, Laércio. História de Bom Despacho (origens e formação). Belo Horizonte, 1968, p. 20-21.11 RODRIGUES, Laércio. História de Bom Despacho (origens e formação). Belo Horizonte, 1968, p. 48. 12 RODRIGUES, Laércio. História de Bom Despacho (origens e formação). Belo Horizonte, 1968, p. 75. 13 QUEIROZ, Sônia. Pé preto no barro branco: a língua dos negros da Tabatinga. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998, p. 37-38.14 Sebastiana Geralda Ribeiro. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 7 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.15 QUEIROZ, Sônia. Pé preto no barro branco: a língua dos negros da Tabatinga. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998, p. 76.16 QUEIROZ, Sônia. Pé preto no barro branco: a língua dos negros da Tabatinga. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998, p 104.

Page 20: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Casarão em Bom DespachoFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho

Page 21: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

BOM DESPACHO: DE PARÓqUIA A MUnICíPIO

Page 22: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Em janeiro de 1808, Portugal estava prestes a ser invadido pelas tropas francesas comandadas por

Napoleão Bonaparte. Sem condições militares para enfrentá-las, o príncipe regente de Portugal,

D. João, optou por transferir a Corte para o Brasil, deslocando o eixo da estrutura administrativa

da Corte para o Rio de Janeiro. Assim que aportou, o príncipe regente decretou a abertura dos portos

às nações amigas. Permitiu também a edição de jornais e a vida cultural começou a mudar. Foram

abertos teatros, bibliotecas, academias literárias e científicas para atender aos requisitos da Corte

e de uma população urbana em rápida expansão. Nesse período foram criados no Rio de Janeiro o

Museu Nacional, a Biblioteca Real, a Escola Real de Artes e o Observatório Astronômico.

A chegada da Corte alterou profundamente a vida na Colônia. A cidade do Rio de Janeiro em 1820

somava mais de 100 mil habitantes, sendo grande parte composta por estrangeiros, em sua maioria

portugueses. Para o Brasil vieram cientistas e viajantes, como o naturalista e mineralogista inglês John

Mawe, o zoólogo bávaro Spix e o botânico Martius. Além disso, em 1816, chegou a Missão Artística

Francesa, que estimulou o desenvolvimento das artes em solo brasileiro.

Em 1815, D. João elevou o Brasil à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves. Anos depois, em

1820, ocorreu em Portugal a Revolução Liberal do Porto, que pôs fim ao Absolutismo. Tinha início o

período da Monarquia Constitucional, que fez com que D. João deixasse de ser monarca absoluto e

passasse a seguir a Constituição do Reino. A Assembleia portuguesa exigia o retorno do monarca,

na intenção de recolonizar o Brasil, retirando sua autonomia econômica. Em 26 de abril de 1821, D.

João VI cedendo às pressões, retornou a Portugal, deixando seu filho D. Pedro como príncipe regente

do Brasil. No ano seguinte, D. Pedro também passou a ser pressionado pela Corte portuguesa para

regressar à Portugal. No entanto, optou por permanecer e em 7 de setembro de 1822 foi proclamada

a independência do Brasil. Com apenas 24 anos, o príncipe regente era coroado Imperador, recebendo

o título de D. Pedro I. O Brasil se tornava independente, no entanto, a forma monárquica de governo

permanecia inalterada.

Proclamada a independência, o Brasil precisava se construir enquanto um Estado nacional, para

organizar-se e ter sua unidade garantida. Tarefa bastante árdua, visto que os anos que se seguiram,

1822 a 1840, foram marcados por uma enorme flutuação política e uma série de rebeliões, além de

tentativas contrastantes de organização do poder17. Em 1831, D. Pedro I abdicou do trono em favor do

seu filho D. Pedro II, de apenas cinco anos, dando início ao período da regência, que se estendeu até

1840. Nesse ano, D. Pedro II assumiu o trono num período que ficou conhecido como Segundo Reinado,

que só teve fim com a proclamação da República, em 1889.

A chegada da família real e a independência do Brasil

Bom Despacho: de paróquia a município

- 18 -

Page 23: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Durante o Segundo Reinado, a produção de café para exportação

estava em expansão. Os Estados Unidos tornaram-se o principal país

consumidor do café brasileiro, exportado também para Alemanha,

Países Baixos e Escandinávia18. Para suprir a necessidade de mão de

obra nas lavouras de café, D. Pedro II incentivou a vinda de imigrantes

para o Brasil, através de companhias particulares, sem fins lucrativos,

cujos recursos provinham do Estado. Vários foram os fatores que

favoreceram o afluxo de imigrantes para o Brasil. A crise na Itália,

resultante da unificação do país, se abateu com mais força sobre a

população pobre e foi um fator fundamental. O pagamento de transporte

e alojamento também representou um incentivo19. Em Minas Gerais, a lei

estadual n° 32 de dezoito de julho de 1892 estabeleceu o financiamento

das passagens para os imigrantes, que reembolsariam ao estado dois

terços de seu preço, enquanto os fazendeiros interessados na vinda de

trabalhadores também deveriam contribuir, em parte, no pagamento da

passagem. Dois anos mais tarde, o governo mineiro passou a assumir

o pagamento integral, estabelecendo ao mesmo tempo em Gênova

um escritório próprio para fazer conhecer o estado de Minas e para

selecionar imigrantes. Durante a vigência da imigração gratuita, que

vigorou até 1897, aportaram em Minas Gerais 51.259 imigrantes, dos

quais 47.134 eram italianos20.

17 FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12. Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004, p. 147. 18 FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12. Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004, p. 189.19 FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12. Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004, p. 207. 20 CENNI, Franco. Italianos no Brasil. 3ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003, p. 189.

- 19 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 24: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos
Page 25: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

A antiga Bom DespachoFotógrafo desconhecidoAcervo Museu da Cidade

Page 26: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Bom Despacho começou a ter um aumento significativo da sua

população somente a partir da primeira metade do século XIX,

período em que contava com aproximadamente 2.500 pessoas21.

Em 1832, foi instituída a Paróquia de Bom Despacho pertencente à vila

de Pitangui. A vinda da família real para o Rio de Janeiro em 1808, a

elevação do Brasil à condição de Reino Unido de Portugal e Algarves

e, posteriormente, a proclamação da independência nacional em 1822,

certamente facilitaram o reconhecimento de Bom Despacho como

núcleo eclesiástico independente. A Paróquia teve como primeiro vigário

o padre Francisco de Paula Gonçalves22.

A Paróquia de Bom Despacho foi uma das localidades mineiras que

recebeu um grande contingente de imigrantes italianos, modificando

sua estrutura e trazendo um período de crescimento e desenvolvimento.

Dentre eles, destacou-se o padre Nicolau Ângelo del Duca, vindo da

Província de Salermo, e que exerceu grande liderança na região. Em 1880,

Bom Despacho foi desmembrada de Pitangui, passando a pertencer ao

município de Santo Antônio do Monte. Durante os anos de 1880 a 1911

houve intensa mobilização de seus habitantes para que o município

fosse emancipado. Nesse momento Bom Despacho já contava com os

serviços médicos da recém-fundada Santa Casa, instituída em 1896 pela

Irmandade de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. A direção ficou a

cargo do padre Nicolau del Duca e foi instalada na Rua das Padilhas. Em

1897, foi transferida para um casarão situado na Rua Faustino Teixeira.

Anos depois, em 1903, foi iniciada a construção do prédio que abriga a

Santa Casa até os dias de hoje, localizado na Praça Irmã Albuquerque n°

120, no centro da cidade.

O povoamento se intensifica

21 Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte, outubro de 2003, p. 7. 22 BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário histórico-geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1971, p. 76.

Bom Despacho: de paróquia a município

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Page 27: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Monumento em comemoração ao centenário do padre Nicolau Ângelo del Duca Foto: Ricardo Avelar

Page 28: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

“ A SAnTA CASA nO BRASIL”

Atual Prédio da Santa CasaFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho

A semente da santa casa de misericórdia foi lançada no final do século xV, em Portugal, quando a rainha D. leonor de lancastre iniciou a grande obra pia, que se expandiu a vários países.

Page 29: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Neste momento a Coroa portuguesa e as ordens

religiosas julgaram no dever de amparar os

flagelados, açoitados pela fome, pela peste e

pelas guerras. Instalaram-se então albergarias

e junto a elas ergueram-se precários hospitais

para atender aos enfermos. A partir daí

surgiram as Misericórdias, palavra que significa

doar seu coração a outrem, aos necessitados,

aos carentes. No Brasil, as Santas Casas

começaram à beira-mar. A primeira delas foi

a da Vila de Olinda, fundada em meados de

1539, com a finalidade de cuidar dos pobres

e enfermos, socorrer as viúvas, órfãos e

necessitados, além de defender as causas dos

encarcerados, enterrar os mortos e exercitar

outras obras de misericórdia. A segunda Santa

Casa, a de Santos, foi resultado da iniciativa

do fidalgo português Brás Cubas, no porto de

São Vicente. Auxiliado por outros moradores,

começou a construção do hospital em 1542,

sendo inaugurado no ano seguinte. Em Minas

Gerais, as Santas Casas foram fundadas a partir

do século XVIII, sendo a primeira delas em Vila

Rica, criada em 1730, seguida pela de São João

Del Rei, instituída em 1783. Em Vila Rica, atual

Ouro Preto, a Irmandade de Nossa Senhora de

Santana doou imóveis e lavras objetivando a

criação, construção e manutenção de uma Casa

de Misericórdia para atender aos enfermos e

desvalidos. Já a Santa Casa de São João Del

Rei foi fundada por Manuel de Jesus Fortes,

para abrigar e atender aos pobres e enfermos.

Inaugurou-se então o Hospital de Caridade, com

apenas duas enfermarias construídas. Ao longo

dos anos, outras Santas Casas foram sendo

edificadas no estado, em cidades como Sabará

(1812) Diamantina (1831), Patrocínio (1834),

Pitangui (1844), Barbacena (1852), dentre

outras23.

Santa CasaFoto: Ricardo Avelar

23 Informações extraídas do livro: SANTOS, Manoel Hygino dos. Santa Casa de Belo Horizonte Uma história de amor à vida. Belo Horizonte, 2005.

Page 30: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos
Page 31: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

24 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 25 de junho de 2011, em Belo Horizonte (MG). Texto editado.

“Bom Despacho, em termos de Medicina, foi uma cidade expressiva, principalmente

através do Dr. Miguel Marques Gontijo, que foi quem levou para a cidade o primeiro

grande ambulatório e consultório. Foi também ele quem levou para a Santa Casa o

primeiro sistema de raio-x da região. Bom Despacho centralizava os pacientes e doentes

da região, e houve uma tradição de médicos da família Gontijo: Dr. Miguel, Dr. Juca, Dr.

Geraldo e assim sucessivamente. A Santa Casa tinha uma expressão na Medicina, fazia

cirurgia, tinha aparelho de raio-x. O papel da Santa Casa na cidade foi de fundamental

importância, pois foi o primeiro núcleo onde se fazia cirurgias, onde se prestava assistência

aos mais pobres na área de saúde”.

Robinson Correa Gontijo 24

C A D E R n O D E M E M Ó R I A S

Antigo Prédio da Santa Casa, à rua Municipal, demolido em 1934Fotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho

- 27 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 32: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

No início do povoamento de Bom Despacho, a vida na região era predominantemente rural e a principal

atividade exercida pelos fazendeiros era a criação de gado e suínos. A Capela de Nossa Senhora do

Bom Despacho, além de centro religioso, tornou-se também ponto de negócios. Foi em torno dela que

começaram a surgir as primeiras casas de morada, o comércio e o rancho de tropas. A região passou

a ter uma estrutura diferente das áreas de mineração, onde a possibilidade de enriquecimento rápido

atraía muitas pessoas. Diferenciava-se também das áreas de plantação de cana-de-açúcar habitadas

por ricos senhores de engenho e grande número de escravos. Os portugueses que aportaram em

Bom Despacho “longe de formarem uma aristocracia rural, opulenta, fútil e pretensiosa, eram homens

humildes, de costumes morigerados e hábitos simples, controlados nos gastos, alguns até avarentos,

mas honrados”25.

Com o aumento no número de habitantes, começou a crescer a demanda por produtos não existentes

na localidade. Para atender à população foi criado, em 1853, o primeiro comércio de Bom Despacho, a

Casa Assunção, que vendia de tudo, como, ferragens, tecidos, aviamentos, secos e molhados, carne,

material de construção, ferramentas, lampiões, arames, produtos para agropecuária, etc. Era a Casa

Assunção que fornecia aos moradores aquilo que eles necessitavam para a sobrevivência e para o

trabalho. Ela foi se adaptando ao longo dos anos, acrescentando novas mercadorias e retirando outras

que caiam em desuso. O transporte era difícil, as estradas eram precárias e as mercadorias chegavam

por meio de cavalos ou mulas. Era preciso esperar vários dias para a chegada de produtos que vinham

de outras cidades, como Paracatu e São Paulo e, anos depois, Belo Horizonte. Determinados artigos

não eram vendidos, como as roupas, que eram confeccionadas pelas mulheres que costuravam para

toda a família. “A Casa Assumção vendia de tudo, arroz, feijão, material de construção, mas a parte

Dificuldade de locomoção para se chegar a Bom DespachoFotógrafo desconhecidoAcervo da Prefeitura Municipal de Bom Despacho

Bom Despacho: de paróquia a município

- 28 -

Page 33: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

de armazém era separada. Um pouco antes

do meu pai morrer, ele tinha começado com

uma funerária dentro da mesma loja. Quando

alguém morria, o pessoal acordava a gente de

madrugada. Meu pai tinha que levantar para

fazer a roupa do morto e liberar o material para

a pessoa que fazia o caixão.”26

Não havia energia elétrica e a primeira fonte

de abastecimento de água foi a fonte da

Biquinha, instalada em um paredão de pedra,

por iniciativa do padre Nicolau del Duca. A

água retirada da fonte era conduzida em potes

e latas pelos moradores, que a utilizavam para

o abastecimento de suas residências. O local

servia também para lavar as roupas. A fonte

existe até hoje e está situada ao fundo de um

pequeno vale, entre a Praça da Matriz e a Rua

Lambari. O espaço da Biquinha foi reformado e

tanques com torneiras foram instalados, com o

intuito de disponibilizar às lavadeiras um local

adequado para trabalhar. No momento, não

parece ser utilizado pela população. A fonte

tornou-se um lugar histórico e emblemático da

cidade, tanto que um antigo provérbio popular

diz que “quem bebe água da Biquinha nunca

mais esquece Bom Despacho”. A fonte foi

tombada pelo município no ano de 2007.

A população da localidade, desde 1872,

desejava que Bom Despacho fosse elevada

à categoria de vila. Naquele ano foi realizado

um abaixo-assinado dirigido à Assembleia

Provincial solicitando a instalação da vila.

Esse evento contou com um grande número

de adeptos, como o fazendeiro José Fernandes

Corgosinho, o negociante Francisco Marques

Gontijo, o comerciante Felisberto Francisco

Soares, o boticário João Rodrigues de Freitas

Mourão, dentre outros. No entanto, o abaixo-

assinado não conseguiu alcançar o seu objetivo.

O município só foi criado em 1911, com a

promulgação da lei n° 556, de 30 de agosto,

que dispunha sobre a divisão administrativa

do Estado. De acordo com seu Art. 7º “Ficam

creados os seguintes municípios e elevados

à categoria de villa os districtos que forem

sede: (...) XXIX – De Bom Despacho, districto

desmembrado de Santo Antônio do Monte”28.

25 RODRIGUES, Laércio. História de Bom Despacho (origens e formação). Belo Horizonte, 1968, p. 62.

26 Maria Antonieta de Assumpção e Ordália Ferreira Pessoa Melo. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 21 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

27 BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário Histórico-Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1971, p. 77.

28 Lei nº 556 de 30/08/1911.

Fonte BiquinhaFotógrafo desconhecidoAcervo da Prefeitura Municipal de Bom Despacho

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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 34: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Faustino AssunçãoFoto: Ricardo AvelarFoto exposta no Museu da Cidade

Page 35: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

1912: BOm DesPAchO e O BrAsIl exPerImentAm muDAnçAs

Page 36: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Em 1912, ano em que era instalada a cidade de Bom Despacho, o Brasil

e o mundo vivenciavam fatos importantes. A população mundial se

horrorizava com o naufrágio do transatlântico Titanic, que provocou a

morte de 1.503 pessoas. No Brasil, a guerra do Contestado tomava conta

de uma região limítrofe entre os estados de Santa Catarina e Paraná.

O líder José Maria, inspirado pela lenda do antigo rei português Dom

Sebastião, agrupou diversos seguidores para a fundação da comunidade

de Quadrado Santo, reivindicando a posse da terra que ocupavam. O

movimento tinha também um caráter messiânico, causando espanto no

governo, que tratou de combatê-lo. O final da luta só aconteceu em 1915,

quando tropas estaduais e do Exército aniquilaram toda a comunidade,

cerca de vinte mil pessoas. Foi também em 1912 que, no Rio de Janeiro,

foi inaugurado o bondinho do Pão de Açúcar, importante ponto turístico

da cidade.

Nesse período, no Brasil, os políticos eram eleitos por meio de

eleições diretas. No entanto, na maior parte das vezes, as eleições,

principalmente as municipais, eram marcadas pelo controle dos votos

pelo “coronel”, que trocava votos em candidatos por ele indicados, por

favores variados, como um par de sapatos, uma vaga no hospital ou

O Brasil em 1912

A centenária Escola Municipal Coronel PraxedesFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho

1912: Bom Despacho e o Brasil experimentam mudanças

- 32 -

Page 37: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

um emprego de professora. “Os ‘coronéis’ forneciam votos aos chefes

políticos do respectivo Estado, mas dependiam deles para proporcionar

muitos dos benefícios esperados pelos eleitores. Isso ocorria, sobretudo,

quando os benefícios eram coletivos, por exemplo, quando se tratava, de

consertar estradas ou instalar escolas”29. O coronelismo não foi exercido

da mesma forma em todos os locais do país e teve peculiaridades de

acordo com a realidade sócio-política de cada região.

Em Minas Gerais, os “coronéis” possuíram certo poder, mas se

subordinaram ao governador e à máquina política do Estado. No

início do século XX, o Brasil era um país predominantemente rural e

que exportava, principalmente, café. Ao longo da Primeira República

(1889-1930), o café manteve de longe o primeiro lugar na pauta das

exportações brasileiras, com uma média em torno de 60% do valor

total, sendo responsável pelo fornecimento da maior parte das divisas

necessárias para as importações e o atendimento dos compromissos no

exterior, especialmente os da dívida externa.

Já em relação aos produtos industrializados, o país era dependente das

importações, uma vez que não possuía um parque industrial consolidado.

Na primeira década do século XX, a principal preocupação do Estado não

estava voltada para a indústria, mas para os interesses agroexportadores.

No entanto, não se pode afirmar que o Estado foi um adversário da

industrialização. Em alguns casos ele cedeu empréstimos e promoveu

a isenção de impostos para as indústrias de base. Nesse período, os

principais ramos industriais no país eram o têxtil, o alimentício, incluindo

bebidas e o vestuário. Na indústria têxtil, várias fábricas chegaram a ter

mais de mil trabalhadores, era o início da industrialização, que nos anos

vinte iria vivenciar um período de crescimento mais acentuado.

29 FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12. Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004, p. 203-204.

- 33 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 38: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Criado em 1911, o município de Bom Despacho só foi instalado no ano seguinte, no dia 1º de junho

de 1912. Neste período, em Minas Gerais, o chefe do governo era Júlio Bueno Brandão (1910-

1914). Político pertencente ao Partido Republicano Mineiro, ele teve um mandato fértil em

realizações. Entre os projetos, merece destaque o desenvolvimento regional e municipal aprovado

pela Lei Estadual n° 546, de 27 de setembro de 1910, que garantia empréstimos aos municípios para

a instalação dos serviços de energia elétrica, saneamento, construção de estradas e de escolas. Em

contrapartida, os municípios ficavam com a responsabilidade de planejar o seu desenvolvimento e de

estabelecer metas a serem alcançadas. O político investiu também na melhoria da arrecadação, visto

que grande parte dos fazendeiros contribuía apenas simbolicamente para o Tesouro estadual. Por

outro lado, ampliou os incentivos fiscais para as regiões mais carentes e procedeu a uma nova divisão

administrativa do Estado, que resultou na criação de mais de quarenta municípios30.

No bojo dessa divisão administrativa empreendida por Bueno Brandão, foi criado o município de

Bom Despacho, que também se beneficiou dos empréstimos concedidos por seu governo para a

implementação de serviços de infraestrutura nas cidades mineiras. Em 1912, Bom Despacho já

possuía um hospital, a Santa Casa, mas ainda não possuía uma escola. Naquela época, famílias

mais ricas, tinham o costume de educar as crianças em suas próprias residências, com preceptores.

Câmara Municipal de 1912Imagem copiada de publicaçãoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho

e assim nasceu Bom Despacho

1912: Bom Despacho e o Brasil experimentam mudanças

- 34 -

Page 39: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

O pagamento do educador era de

responsabilidade do chefe da família e, com

frequência, vizinhos e parentes tinham aulas

com o mesmo professor. “Em Bom Despacho

teve uma professora, a Chiquinha Soares, que

alfabetizou muita gente, inclusive a minha mãe.

Ela ensinava em casa mesmo, pois ainda não

havia escolas”31. Os conhecimentos ensinados

por esses educadores deveriam atender aos

desejos das famílias que os contratavam.

Eram os pais que escolhiam, entre as matérias

consideradas de educação, as mais adequadas

aos seus interesses para que fossem

ministradas aos seus filhos. Excetuando-se

o português e o francês, que quase sempre

estavam presentes nas lições, os demais

conhecimentos ensinados variavam entre latim,

inglês, alemão, italiano, espanhol, caligrafia,

literatura, composição, religião, música, piano,

lógica, matemática, história do Brasil, geografia,

desenho, pintura e aquarela. Para as meninas

havia também habilidades específicas a serem

ensinadas, como bordar, costurar, dançar, além

de outros trabalhos manuais.

Muitas vezes, quando alcançavam cerca de

onze anos os jovens iam estudar em colégios

internos. No decorrer do século XIX e início do

XX foram criados em Minas Gerais internatos

voltados para a educação da alta sociedade,

como o Colégio de Santa Bárbara do Caraça e

o Colégio Sion, na cidade de Campanha. Nessas

instituições os jovens permaneciam durante

todo o ano letivo, só voltando para casa no

período das férias. A disciplina era rígida e todos

os estudantes tinham horários determinados

para as refeições, para o estudo e também para

os momentos de descanso. Eles cursavam o

que hoje é conhecido como ensino fundamental

e médio.

Dias após a instalação do município e com o apoio

do governo estadual, foi criado, em quinze de

junho de 1912, o Grupo Escolar Bom Despacho.

Para que a cidade pudesse ser instalada, por

meio de legislação o governo estadual exigia

que a localidade tivesse escola de instrução

primária, terrenos para logradouro, cemitérios,

edifícios apropriados para sessões da Câmara

e cadeia32. Para atender essas determinações,

Bom Despacho precisava construir o seu

primeiro grupo escolar. No final do século

XIX e início do XX, os grupos escolares eram

concebidos e construídos como verdadeiros

templos do conhecimento e encarnavam, a

um só tempo, todo um conjunto de saberes e

de projetos político-educativos. “Os grupos

escolares projetavam um futuro em que na

República o povo, reconciliado com a nação,

plasmaria uma pátria ordeira e progressista”33.

Alguns meses após a instituição do Grupo

Escolar Bom Despacho, ele passou a funcionar

junto à sede da Prefeitura Municipal, na Praça

da Matriz, em uma construção antiga, onde se

localiza atualmente o Edifício Bom Despacho.

No dia da sua instalação, o prédio do Grupo

Escolar recebeu a benção do padre Nicolau

Ângelo del Duca. A solenidade contou com a

presença de um grande número de pessoas,

discursos foram proferidos e a menina Carmem

do Rosário ofereceu ao diretor do grupo um

buquê de flores. O quadro docente passou a

ser composto pelo diretor José Alzamora, que

também acumulava o cargo de professor, e pelas

mestras Lizeta Assunção, Maria Luiza Gontijo,

Alexandrina da Luz Alzamora e Rita Araújo

Cançado. No primeiro ano de funcionamento, o

grupo já possuía 328 alunos matriculados34.

30 Jornal Hoje em Dia. Os Governadores História de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2008, p. 101.

31 Auxiliadora Teixeira Guerra. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 1 de julho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

32 Lei n° 2 de 14/09/1891, artigos 3° e 4°. 33 FILHO, Luciano Mendes de Faria. Instrução elementar no século

XIX. In: LOPES, Eliane Marta Teixeira; FILHO, Luciano Mendes de Faria; VEIGA, Cynthia Greive (org.). 500 anos de educação no Brasil. 2ª edição. Belo Horizonte: Autêntica, 2000, p. 147.

34 Termo de instalação do Grupo Escolar de Bom Despacho de 15 de junho de 1913.

- 35 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 40: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

“ DO gRUPO ESCOLAR BOM DESPACHO à ESCOLA MUnICIPAL cOrOnel PrAxeDes ”

Após a sua fundação, em 1912, o Grupo escolar Bom Despacho foi adquirindo maior importância para os moradores. era para lá que as crianças se dirigiam todas as manhãs para serem alfabetizadas.

Page 41: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

O grupo era a única escola existente na cidade e possuía até a 4ª série do primário, sendo responsável

pela educação dos meninos da localidade e das áreas próximas. Com o passar dos anos, o número

de alunos cresceu e o prefeito Faustino Assunção Teixeira, que administrou a cidade entre 1923 e

1930, conseguiu que o governo estadual liberasse verba para a construção de um prédio maior e mais

moderno. No entanto, era preciso adquirir um terreno. As autoridades e lideranças da cidade decidiram

doar parte da área da Santa Casa para a construção do novo grupo. Na época, a edificação foi uma

obra monumental para a pequena Bom Despacho. O edifício foi inaugurado em janeiro de 1928 e, no

mesmo ano, as aulas do Grupo Escolar Bom Despacho foram transferidas para as novas instalações,

localizadas na Rua Miguel Dias, nº 40, no centro da cidade. No final da década de 1930 e início dos anos

quarenta, parte do madeirame e dos forros do grupo se encontrava em péssimo estado de conservação.

O Interventor Municipal, à época, Flávio Cançado Filho (1930-1945) pediu ajuda ao 7° Batalhão de

Caçadores Mineiros da Força Pública do Estado de Minas Gerais para realizar uma reforma na instituição

de ensino. O comandante Coronel José Antônio Praxedes colocou, à disposição do Interventor, pedreiros

e carpinteiros do Batalhão e foi realizada a obra que manteve o prédio conservado por muito tempo.

Em setembro de 1946, por meio do Decreto nº 2.284, o grupo teve o seu nome alterado e passou a se

chamar Grupo Escolar Coronel Praxedes, em homenagem ao ex-comandante do 7° Batalhão, que havia

falecido. Em 1974, a instituição foi denominada Escola Estadual Coronel Praxedes e, em 1998, passou a

ser administrado pela prefeitura, tendo seu nome modificado para Escola Municipal Coronel Praxedes.

Escola Municipal Coronel PraxedesFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho

Page 42: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos
Page 43: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Mas não foi apenas o ensino que se alterou com a implementação do

município. Ao ser elevado à categoria de vila, Bom Despacho precisava

constituir o seu corpo de vereadores, sendo realizada uma eleição.

Para o cargo de Presidente da Câmara foi escolhido o comerciante

Faustino Assunção, conhecido como coronel Tininho, proprietário da

Casa Assunção. Nessa época o Presidente da Câmara exercia o cargo

referente ao que se conhece hoje como Prefeito. Desta forma, Faustino

Assunção o primeiro administrador do município, permaneceu no cargo

de 1912 a 1915, e se encarregou de estabelecer os primeiros órgãos

municipais. Foi instalada também uma Coletoria Estadual, responsável

pela arrecadação dos impostos.

Nos seus primeiros anos, Bom Despacho vivia essencialmente da

produção rural, como a criação de gado, a produção de rapadura e

aguardente e o cultivo de arroz, milho, mandioca e algodão. Poucos

eram os comércios e os serviços existentes na cidade. O município

recém-criado possuía cerca de quatrocentas residências, a sua maioria

localizada em áreas rurais. As famílias mais influentes viviam no campo,

em grandes propriedades. Na década seguinte o cenário se modificou

e importantes mudanças foram responsáveis pelo desenvolvimento da

cidade.

Área da Colônia Álvaro da Silveira em 1914Fotógrafo desconhecidoAcervo da Prefeitura Municipal de Bom Despacho

- 39 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 44: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Chegada do Governador Benedito Valadares no 7º BatalhãoFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho

Page 45: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Os AnOs 20 e 30EM BOM DESPACHO

Page 46: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

A década de 1920 no Brasil foi marcada por um crescimento das indústrias e um desenvolvimento

das áreas urbanas, com destaque para a cidade de São Paulo. A capital paulista se tornou o

grande centro distribuidor dos produtos importados, o elo entre a produção cafeeira e o porto

de Santos, além de abrigar a sede dos maiores bancos. Era a segunda maior cidade do país, perdendo

apenas para o Rio de Janeiro, a capital da República.

Os anos 20 e o crescimento do município

Praça da EstaçãoFotógrafo desconhecidoAcervo Museu Ferroviário de Bom Despacho

Os anos 20 e 30 em Bom Despacho

- 42 -

Page 47: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Nessa época, os meios de transporte pelo interior eram os carros de

tração animal, como os carros de boi e as carroças, além das tropas,

que circulavam por estradas precárias e de difícil acesso. O país crescia

e era necessário promover a ligação das suas regiões, tornando mais

ágil a circulação de mercadorias e pessoas. O governo federal optou

por investir na construção e expansão de estradas de ferro. O estado

de Minas Gerais foi o maior privilegiado dessa política, abrigando, nos

anos 20, 40% das novas construções de estradas de ferro federais35.

A Estrada de Ferro Paracatu, que teve a sua construção iniciada em 1914,

em 1921, alcançava o município de Bom Despacho e seguia até Barra do

Funchal36. O objetivo era que chegasse até Paracatu, mas a obra teve que

ser interrompida em Barra do Funchal, porque foram encontrados solos

rochosos, o que, à época, impossibilitava a continuação dos trabalhos.

Desta forma, a Estrada de Ferro Paracatu partia de Belo Horizonte,

passava por Pará de Minas, Itaúna, Divinópolis, Velho da Taipa, Bom

Despacho, Dores do Indaiá e Melo Viana, até chegar ao destino final,

Barra do Funchal37.

35 FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12. Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004, p. 268. 36 Essa estrada, em 1931, seria incorporada à Rede Mineira de Viação (RMV).37 Em 1968, o trecho da ferrovia Bom Despacho – Barra do Funchal foi desativado. Os imóveis e o terreno

pertencentes à ferrovia passaram a ser propriedade da Prefeitura Municipal.

- 43 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 48: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Em Bom Despacho, a chegada da primeira

locomotiva foi motivo de festa mobilizando

a população, que comemorou com vivas

e palmas a instalação da ferrovia, que

possuía quatro estações no município:

Estação Arthur Bernardes, Estação

Daniel de Carvalho, Estação Bom

Despacho e Estação Álvaro da

Silveira. Para os bom-despachenses

a viagem de trem parecia se

constituir em um ritual, orquestrado

por comportamentos e costumes ainda

presentes nas memórias de quem, em

muitas ocasiões, deixou o município rumo a

outros lugares. “Era um dia dentro do trem, mas

era muito bom. A gente levava paçoca, andava dentro

do trem, mudava de um carro para o outro, pulava e corria no trem o

tempo inteirinho.”38

A cidade passou também a abrigar a sede da Estrada de Ferro Paracatu.

Essa escolha pode ter sido influenciada pelo fato do engenheiro

responsável pela construção, Olegário Maciel, mais tarde presidente de

Minas Gerais, ter nascido na localidade. O estabelecimento da sede levou

à construção de um conjunto de casas para que os funcionários e suas

famílias residissem, a conhecida Vila dos Ferroviários. Foram erguidas

também outras construções que abrigavam a parte administrativa da

ferrovia. O edifício sede era suntuoso, visto como a melhor construção

que já se havia erguido no noroeste mineiro39. Foi fundada ainda a

Cooperativa de Abastecimento aos Ferroviários, responsável pelo

fornecimento de alimentos e artigos de primeira necessidade aos

funcionários da estrada.

Com a chegada da estrada de ferro, a cidade cresceu e se desenvolveu, não

só pela maior facilidade de transporte de mercadorias e de comunicação

com outras localidades, mas também pela chegada de imigrantes

vindos de países europeus e de brasileiros oriundos principalmente do

Nordeste, à procura de trabalho e melhores condições de vida.

Primeiro trem de passageiros na antiga Estação de Bom Despacho - 1922Acervo Museu Ferroviário de Bom Despacho

38 Ordália Ferreira Pessoa Melo. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 27 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

39 Jornal Bom Despacho de 22 de janeiro de 1928, p.1.

Os anos 20 e 30 em Bom Despacho

- 44 -

Page 49: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Essa mão de obra era proveniente de diversas

partes do país, principalmente migrantes

que saíam de regiões assoladas pela seca e

buscavam, em outros estados, oportunidades

de trabalho para o sustento da família. O serviço

na via férrea era realizado com a participação

de muitos homens, geralmente exercendo

atividades que dependiam da força física do

trabalhador. Muitas vezes sujeitos a todo tipo

de intempéries, desde chuva e sol escaldante

a materiais corrosivos. O cotidiano de trabalho

requeria dos trabalhadores muita atenção,

principalmente dos responsáveis pela segurança

e eficiência da linha férrea como os chefes de

estação, guarda-freios, maquinistas e foguistas,

que eram constantemente vítimas de acidentes.

Os mais comuns eram descarrilamentos de

trens e quedas de dormentes e trilhos. Os

telegrafistas também exerciam um trabalho de

grande responsabilidade, pois autorizavam a ida

e a vinda dos trens, além de receber e transmitir

mensagens e telegramas. Devido às condições

“ O TRABALHO nAS ESTRADAS DE FERRO”

na construção das ferrovias brasileiras foram contratados temporariamente centenas de trabalhadores, homens e mulheres, que exerceram diversas funções: eram maquinistas, foguistas, graxeiros, chefes de trem, guarda-freios, conservadores de linha, feitores, chefes de turma, ferreiros, soldadores, torneiros, eletricistas, bagageiros, carregadores, etc.

de trabalho esses trabalhadores começaram a

se organizar para promover melhorias, levando a

uma das primeiras paralizações de ferroviários,

ocorrida ainda no final do século XIX, em 1893,

em Barra do Piraí, na Estrada de Ferro Dom Pedro

II. Após muitas reclamações os ferroviários

viram atendidas algumas

reivindicações que só mais

tarde foram estendidas

aos demais trabalhadores,

entre elas auxílio-doença,

licença para tratamento de

saúde, assistência médica,

folga semanal e pagamento

de horas extras.

Lanterna utilizada nas ferrovias.Foto: Ricardo Avelar

Page 50: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Locomotiva 125Fotógrafo desconhecidoAcervo Museu Ferroviário de Bom Despacho

Page 51: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

“Eu nasci em Pitangui, em 1930, e cresci num lugar chamado hoje de Velho da Taipa. Todo

dia, andava uma légua a pé para ir à escola. Meu pai não teve condições de pagar para

estudarmos mais, naquele tempo não tinha o ginásio, e eu só tirei o diploma do grupo

com muito custo. O mundo hoje é bom demais, só não vai para frente quem não quer

mesmo. Quando vim para Bom Despacho, tinha escola, mas cheguei e fui caçar jeito de

trabalhar. Eu tinha uns dezesseis anos e pegava todo ‘bico’ que aparecia. Foi quando meu

pai se aposentou, em maio de 1947. Ele era ferroviário. O agente da estação me chamou

e perguntou se eu queria ir trabalhar na estrada de ferro. Perguntei se com a minha

idade eu poderia, tinha completado dezessete anos, e ele disse que não tinha problema.

Comecei a trabalhar no dia 8 de maio de 1947. Fui guarda-chave, guarda-freio, foguista e

terminei minha carreira como maquinista, me aposentando em 31 de março de 1982. Era

muito animado, a chegada e a partida do trem, era um movimento ótimo. Depois que eles

acabaram com a linha férrea, a cidade morreu um pouco. Mesmo assim, Bom Despacho

é tudo para mim.”

Otávio Cândido da Silveira 40

C A D E R n O D E M E M Ó R I A S

40 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 2 de junho de 2011, em Bom Despacho. Texto editado.

Page 52: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Nos primeiros anos da década de 1920,

Bom Despacho recebeu duas colônias de

imigrantes estrangeiros de nacionalidade

predominantemente alemã. O fluxo de

estrangeiros para terras brasileiras havia

diminuído bastante como consequência da

Primeira Guerra Mundial (1914-1918), mas logo

cresceu devido à situação dos países europeus

após o conflito. Os alemães haviam perdido

a guerra e, temerosos de que uma Segunda

Guerra explodisse na Europa, muitos optaram

por migrar para o Brasil. Eles acalentavam o

sonho de conseguir um pedaço de terra, difícil

na Europa, e após a perigosa travessia de três

meses pelo Atlântico, aportavam em solo

brasileiro.

Por meio de iniciativa da Secretaria da

Agricultura do Estado de Minas Gerais, que

era governado por Artur Bernardes, e do então

prefeito de Bom Despacho, Faustino Assunção,

foram implantadas na cidade a Colônia Álvaro

da Silveira, em 1920, e a Colônia David Campista,

em 1921. Cada uma das oitenta famílias recebeu

um lote de cerca de oito alqueires, que deveria

ser pago por meio da entrega de 20% do que era

produzido. As colônias contavam com escolas

mistas que ensinavam o português e também

lições de matemática para os filhos dos alemães.

No entanto, poucos foram os que conseguiram

pagar pelas terras, já que as dificuldades eram

muitas: clima inóspito, língua desconhecida,

alimentação diferente, dificuldade para a

obtenção de maquinário e desconhecimento

de técnicas adequadas de plantio. Na Colônia

Álvaro da Silveira ainda havia outros problemas,

a região era infestada de doenças tropicais,

como a malária e o tifo, por vários tipos de

pragas, como piolhos, carrapatos, bichos de

pé, borrachudos e outros mosquitos. Essas

duas tentativas de colonização alemã em Bom

Despacho acabaram por fracassar e poucas

foram as famílias que se mantiveram na região.

Um dos motivos foi o fato dos estrangeiros

representarem uma mão de obra especializada

na área industrial, pouco capacitada para o

TOPOCasa que fez parte de colônia AlemãFoto: Ricardo Avelar

Cemitério da colônia AlemãFoto: Ricardo Avelar

PáGInA SEGuInTEModelo de casa paludosa da Colônia Álvaro da Silveira.Arquivo Público Mineiro

Os anos 20 e 30 em Bom Despacho

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Page 53: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

trabalho na agricultura. Além disso, com a entrada do Brasil na Segunda

Guerra Mundial, em 1942, muitos colonos foram presos, espancados e

perseguidos. As colônias se desintegraram, as escolas foram fechadas,

muitas famílias abandonaram seus lotes e foram embora. Permaneceram

em Bom Despacho poucos alemães, como Rosa Korell, Frederico

Schmeidereit e Bruno Kohnert, famílias que deixaram seus sobrenomes

registrados na história da cidade. “Os alemães trouxeram novos hábitos

para a cidade, um deles o consumo de vegetais e verduras. Criaram na

época, um ‘Cinturão Verde’, e instalaram inclusive mini usinas elétricas,

utilizando dínamos, movidas a água. Também deram uma contribuição

expressiva no âmbito de formação de pessoas em suas profissões.”41

No mesmo período em que recebia novos moradores vindos do outro lado

do Atlântico, Bom Despacho também procurava melhorar a qualidade

de vida da população. Em 1924, foi fundada a Companhia Força e Luz

de Bom Despacho, responsável pelo fornecimento de energia elétrica

para todo o município. Com a chegada da luz às moradias, os hábitos

começaram a mudar. Se antes era o lampião a querosene que iluminava

as residências e as pessoas iam dormir cedo devido à escuridão, com a

luz elétrica era possível realizar outras atividades à noite, como bordar,

costurar ou ler um livro. Nesse mesmo ano foi criado o jornal Bom

Despacho, recebido com curiosidade pela população, afinal era a primeira

folha impressa na cidade e que traria notícias do Brasil, do mundo e

também da municipalidade, ao povo bom-despachense, que até então,

somente recebia notícias através do rádio, conectado em ondas curtas.

A partir desse momento os fatos ocorridos no município passaram a ser

divulgados e a população começou a ter o costume de ler o impresso

semanalmente, quando ele era publicado.

41 Homero José do Couto. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 9 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 54: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Seus primeiros acionistas foram: Segismundo

Marques Gontijo, Jacinto Lopes Cançado,

Pacífico Lopes do Couto, Roberto de Queiroz

Cançado. Antônio Lopes Cançado, Joaquim

Euletério dos Santos, José Antônio d’Assunção,

Altino Teodoro da Costa, Werneque Tavares

Gontijo, Gustavo Lopes Cançado, Cristino

Ferreira Guimarães, Antônio Pio Cardoso,

Faustino Assunção, Vicente Assunção, Flávio

Cançado Filho, José Antônio Marçal, Frederico

A. de Castro Vasconcelos, Antônio A. de Castro

Vasconcelos, Assunção Sobrinhos, Augusto

Coelho da Fonseca, Faustino Assunção Teixeira,

João Francisco Filho, Francisco Lopes Cançado,

Manuel José da Silva e Maciel Gervique. Em

1933, a empresa foi adquirida pela Prefeitura

Municipal, que em 1937 a vendeu para a Cia.

Industrial Aliança Bomdespachense, que tratou

de ampliar as instalações para oferecer um

serviço de melhor qualidade à população. Nos

anos 1960, a CEMIG (Companhia Energética

de Minas Gerais), que havia sido criada em

1952, incorporou as companhias regionais e

municipais e passou a transmitir e distribuir

energia elétrica para todo o estado.

“ A COMPAnHIA fOrçA e luz De BOm DesPAchO”

criada com um capital de 220 mil réis, a companhia força e luz de Bom Despacho teve como primeiros diretores José Antônio d’Assunção, segismundo marques Gontijo e Altino teodoro da costa.

Antigo prédio da Companhia Força e Luz, atual CEMIGFoto: Ricardo Avelar

Page 55: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

“na rua do céu morava uma velha que só conhecia lamparina. De repente, chegaram

lá foram com fios e com o poste para colocar a iluminação. Ai ela disse assim: ‘o que é

isso’? Ai os netos dela falaram: ‘É luz elétrica vó’. ‘O que é luz elétrica’? ‘Olha, vó, põe

a luz ali e ela acende’. ‘Acende sozinha?’ ‘Acende’. ‘Oia, isso não existe não. Isso não é

trem de Deus não, é coisa do capeta’. ‘não vó, isso é trem moderno, a luz elétrica vai

acender’. E ela ficou dizendo: ‘Isso não é coisa de Deus não’. Depois quando estava perto

de ligar a luz ela falou assim: ‘Ó, eu vou ficar de olho nesse trem, vou contar procês se

isso é de Deus ou do demônio’. Aí ligaram a luz, ela ficou olhando e, de repente choveu.

Ela chamou os meninos na janela e falou: ‘não apagou tá vendo? A luz não apagou. Isso

não é trem de Deus não, isso é trem do capeta’. Ela não acreditava que acendia sozinha

de jeito nenhum, sabe?”

Tadeu Antônio de Araújo Teixeira 42

C A D E R n O D E M E M Ó R I A S

42 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 28 de junho de 2011, em Bom Despacho. Texto editado.

Photos

Page 56: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Outro acontecimento que provocou mudanças nos hábitos da cidade

foi a criação, em 1926, do Clube Bom Despacho – Literário, Recreativo

e Teatral. Fundado por iniciativa de João Batista Oliveira, Tasso Motta,

Miguel Gontijo, Aristillo de Carvalho, Lauro Mello, Faustino Teixeira e

outros, o clube foi o primeiro espaço de lazer construído no município.

No momento da sua criação, foram colocadas à venda ações, no valor

de cinquenta mil réis cada. Para ser implementado, o clube recebeu da

Câmara Municipal de Bom Despacho terreno na esquina da Rua Municipal

com Olegário Maciel, hoje Rua Faustino Teixeira esquina com Miguel Dias.

O prédio foi erguido pelo arquiteto J. Paganini e o construtor J. Etelvino.

Era uma construção elegante e de estilo moderno, que foi inaugurada,

em agosto de 1927, por meio de solenidade que contou com a presença

da alta sociedade bom-despachense e também de convidados vindos

da capital mineira, como o Secretário de Agricultura e das Finanças do

Estado de Minas Gerais e o vice-presidente da República, Fernando de

Melo Viana, que de 1924 a 1926 havia sido presidente de Minas Gerais.

A inauguração do prédio contou com a benção do Padre Augusto e, em

seguida, ocorreu a instalação oficial do clube, que teve como primeiro

presidente João Batista de Oliveira, à época engenheiro da Estrada de

Ferro Paracatu. Houve ainda baile inaugural que contou com a presença

da Jazz Band do 1° Batalhão da Força Pública.

Os anos 20 e 30 em Bom Despacho

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Page 57: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

“ A HISTÓRIA DO CLUBE DE BOM DESPACHO”

Anos depois da sua criação, durante o mandato de Joaquim moraes, o clube teve seu nome alterado para Phenix clube.

Clube Bom DespachoFoto: Ricardo Avelar

Posteriormente, sob a presidência de Benigno Couto, passou a se chamar Aéro-Clube e atualmente é

novamente chamado de Clube Bom Despacho. Na década de 1950 o clube, que à época pertencia à UDN

(União Democrática Nacional), foi incendiado criminosamente, segundo conclusões técnicas policiais.

Muitos afirmam que membros do rival PSD (Partido Social Democrático) foram os responsáveis pelo

crime, no entanto, a autoria do atentado nunca foi descoberta. Nesse incêndio vasta biblioteca foi perdida

e o clube foi completamente destruído. Mais tarde ele foi reerguido e retomou as suas atividades, em

especial os bailes e festas, sempre muito animados. Hoje a direção do clube fica a cargo da aposentada

Marta Maria Anacleto, que exerce a função voluntariamente. Quando assumiu a presidência em 2004,

o clube possuía dívidas trabalhistas e a infraestrutura estava em péssimas condições, a parte elétrica

danificada e o telhado com problemas de infiltração. Contando apenas com o dinheiro do aluguel do

salão, Marta conseguiu reformar o clube e o mantém aberto e conservado.

Page 58: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Em 1928, Bom Despacho recebeu uma agência

do Banco do Comércio e Indústria de Minas

Gerais, que se localizava em um suntuoso

edifício na Praça Central, na esquina com a Rua

Alferes Tavares. Este acontecimento foi um

indício de que a cidade crescia economicamente,

pois a instalação de um banco revelava a

existência de dinheiro em quantidade razoável

circulando na localidade. A prosperidade levou

também à inauguração, naquele mesmo ano,

do Hotel Glória, localizado em frente à Estação

Bom Despacho.

A cidade ia investindo em infraestrutura e

seus habitantes adquiriam novos costumes,

mas sem abrir mão dos antigos, como, por

exemplo, frequentar a missa, principalmente

aos domingos. A primeira igreja fora erguida

no início do povoamento em homenagem a

Nossa Senhora do Bom Despacho e já havia

sofrido algumas reformas. No final da década

de 1910, começaram a ocorrer as primeiras

ações para que fosse erguida uma nova Igreja

Matriz na cidade, no mesmo local onde havia

sido construído o primeiro templo religioso.

Em 1918, o Padre José Cândido autorizou a

abertura de valas para o início da obra, porém,

o trabalho não se desenvolveu. As obras só

foram reiniciadas em 1927, após o falecimento

do Padre Nicolau del Duca, que defendia a

preservação da antiga igreja colonial. Nesse

ano foi lançada, em benção solene, a pedra

fundamental da nova igreja.

A construção causou polêmica na cidade,

mas o Padre Augusto Ferreira de Andrade

conseguiu apoio da maior parte da população

para a demolição da antiga e a edificação de

uma nova igreja, maior e mais moderna. Os

fiéis participaram ativamente retirando pedras

da pedreira e carregando-as em procissão,

43 Tadeu Antônio de Araújo Teixeira. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 28 de junho de 2011 em Bom Despacho (MG). Texto editado.

liderados pelo padre. A obra contou com o auxílio

de José Etelvino e João Paganini, mestres de

obras da Estrada de Ferro Paracatu. A população

contribuiu também com doações, e com festas

realizadas para arrecadar fundos. Durante as

obras, o culto foi transferido para a Igreja do

Rosário, localizada na Praça Inconfidência. No

ano de 1934, mesmo inacabada, a Matriz voltou

a receber os fiéis. As obras só foram finalizadas

em 1948. O atraso ocorreu devido a uma série de

paralisações, causadas por fortes tempestades

e também pela precariedade das condições

financeiras, afinal a construção foi custeada

pelos fiéis. Padre Augusto Ferreira de Andrade

não chegou a ver a igreja pronta, pois em 1935

decidiu ser franciscano e se mudou para o Rio

de Janeiro e, posteriormente, para Roma. Quem

narrou o processo de construção da igreja foi

o professor Tadeu Antônio de Araújo Teixeira.

“Eles cavaram, recolheram os ossos, puseram

dentro de caixas e levavam para o cemitério

atual. E com picareta, pá e enxada, nivelaram

a Praça da Matriz e começaram a construção.

O povo de Bom Despacho forneceu recursos

como madeira, pedra, transportavam terra em

carros de bois com couro e jogavam num buraco

que havia ao lado. Aí ajuntou o padre e um

construtor chamado Zé Etelvino, o padre foi lá

e fez o projeto daquela igreja e nenhum dos dois

era engenheiro. E foram fazendo, e o povo dava

dinheiro, dava boi, dava bezerro, dava galinha,

dava porco, dava dia de serviço, cada um

dava uma coisa. E os bom-despachenses que

moravam fora mandavam dinheiro também.

E foram levantando paredes. Uma obra assim

monumental para uma cidade pequenina.

E ficou essa maravilha que hoje foi até

considerada aqui no Centro-Oeste a obra

arquitetônica mais bonita pela rede de televisão

da TV Integração. A igreja passou a ser o símbolo

da cidade”43.

Os anos 20 e 30 em Bom Despacho

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Page 59: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

“ Párocos que se dedicaram à Paróquia de nossa de Bom Despacho”

Padre tiago eussen, Padre nicolau Ângelo del Duca, Padre Augusto ferreira de Andrade, Padre Delclides casimiro campos de Araujo, Padre João hefells, Padre Antenor nunes Pimentel, Padre Henrique Hesse, Padre José Estevam de Paiva, Padre Jayme lopes cançado, Padre Paulo Dias Barboza, Padre João lúcio Gomes Bemfica

Construção da Igreja MatrizFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho

Page 60: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Cadeia e delegacia. Hoje no local existe o ForúmFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom DespachoPÁGINA SEGUINTE

Praça Olegário Maciel e Hotel GlóriaFotógrafo desconhecidoAcervo Museu Ferroviário de Bom Despacho

Placa da farmácia Galeno Foto: Ricardo Avelar

A igreja em estilo neogótico é considerada uma das mais belas de Minas

Gerais. Possui torre alta, duas cúpulas arredondadas, nave ampla,

formada por doze colunas, altar mor e altares laterais. Os vitrais foram

importados da Europa e retratam figuras de santos e cenas da Bíblia. Em

1992, a igreja passou por uma grande reforma, com recursos obtidos por

meio de quermesses e com o apoio da equipe do Banco do Brasil.

Os anos 20 e 30 em Bom Despacho

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Page 61: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

“Tenho duas lembranças muito vivas de Bom Despacho. A primeira é o coreto, que

ficava na praça. Hoje, infelizmente, não tem mais. No coreto, a gente brincava, assistia

atividades culturais e até políticas. Com o passar do tempo, fizeram uma nova praça,

muito bonita, uma moldura para a obra que é a Igreja, mas esqueceram de um coreto.

A segunda é o trem. Quando eu tinha dez anos, fui pela primeira vez à Belo Horizonte,

conhecer a capital, numa viagem de Maria Fumaça. Depois surgiu uma jardineira que

passava por algumas cidades pela estrada de terra, e parava em Pará de Minas. Eram as

duas maneiras de se chegar à Belo Horizonte, de trem ou de jardineira. Mais tarde, com

a construção da BR-262, Bom Despacho foi colocada no mapa, com o asfalto ligando

ao Triângulo.”

João Batista F. de Andrade 44

44 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 9 de junho de 2011, em Bom Despacho. Texto editado.

C A D E R n O D E M E M Ó R I A S

Igreja MatrizFoto: Ricardo Avelar

Page 62: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Em 1930 ocorreriam eleições no Brasil para a escolha do novo presidente, que ocuparia o cargo

no quadriênio de 1930 a 1934. Quebrando uma das regras da política vigente, segundo a qual

Minas Gerais e São Paulo se revezavam no governo da República, o então presidente Washington

Luís (1926-1930), ligado ao Partido Republicano Paulista (PRP), passou a apoiar ostensivamente a

candidatura do presidente de São Paulo, Júlio Prestes, à sua sucessão. Washington Luís pretendia

assegurar a continuidade de sua política econômico-financeira de austeridade e de contenção de

recursos para a cafeicultura, desprezando os interesses de Minas Gerais.

Os anos 30 e as mudanças ocorridas em Bom Despacho

Getúlio Vargas, Gustavo Capanema, Olegário Maciel e comitiva na Cidade do Rio de JaneiroArquivo Público Mineiro

Os anos 20 e 30 em Bom Despacho

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Page 63: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Essa atitude não agradou aos políticos mineiros. Antônio Carlos Ribeiro

de Andrada, presidente de Minas Gerais (1926-1930), aproximou-se

do Rio Grande do Sul, a fim de se opor aos planos de Washington Luís.

Dessa aproximação resultou um acordo, conhecido como Pacto do

Hotel Glória, firmado em junho de 1929, segundo o qual os dois estados

vetavam a candidatura de Júlio Prestes e abria-se a possibilidade do

Rio Grande do Sul indicar um candidato. No mês seguinte, o Partido

Republicano Mineiro (PRM) lançou as candidaturas de Getúlio Vargas,

presidente do Rio Grande do Sul, e João Pessoa, presidente da Paraíba,

respectivamente à presidência e à vice-presidência da República. Em

agosto, para tornar sua ação mais concreta, a oposição formou a Aliança

Liberal.

O resultado do pleito de 1º de março de 1930 deu a vitória a Júlio Prestes

e Vital Soares, eleitos com 57,7% dos votos. Em outubro do mesmo ano,

descontente com a vitória de Júlio Prestes, a Aliança Liberal iniciou

movimento denunciando fraudes eleitorais. A gota d’água para o levante

foi o crime passional que vitimou João Pessoa, candidato a vice na

chapa de Getúlio. Era o início da Revolução de 30, que culminou com

a deposição de Washington Luís e consequente ascensão de Getúlio

Vargas ao cargo de presidente da República. A posse do político gaúcho

em novembro de 1930 pôs fim à Primeira República e deu início a novos

tempos na história do país.

Getúlio Vargas permaneceu no cargo durante quinze anos, de 1930 a

1945, sendo que de 1937 a 1945 governou de forma ditatorial, num período

que ficou conhecido como Estado Novo. O seu governo foi marcado pela

promoção do capitalismo nacional, por meio de dois suportes: o aparelho

do Estado e a sociedade. Além disso, Vargas também procurou organizar

a classe trabalhadora através de sindicatos atrelados ao Estado.

Em Minas Gerais, no período em que se iniciava o movimento para

deposição de Washington Luís, o bom-despachense Olegário Maciel era

empossado como presidente do estado. Logo após assumir o cargo, o

político apoiou o movimento revolucionário e foi o único presidente

estadual mantido no posto após a revolução, pois para todos os outros

estados Getúlio Vargas nomeou interventores federais.

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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 64: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Iniciou seus estudos em Patos de Minas, para onde sua família se mudara, e prosseguiu no Colégio do

Caraça, onde fez o secundário. Em 1878, formou-se em Engenharia Civil, na Escola Politécnica do Rio

de Janeiro. Iniciou a carreira política ainda no período imperial, sendo eleito deputado provincial pelo

Partido Liberal para a legislatura de 1880 a 1883. A partir desse momento, alternou o exercício de

mandatos com períodos de afastamento da política. Entre os anos de 1883 a 1890, trabalhou como

engenheiro ferroviário, logo se tornando superintendente da Cia. Belga de Estrada de Ferro Pitangui

– Patos de Minas. Anos depois foi o engenheiro responsável pela construção da Estrada de Ferro

Paracatu e trabalhou também na construção da ferrovia Bambuí - Patos de Minas. Com a proclamação

da República, Olegário Maciel retornou à política, elegendo-se deputado estadual para o período de

1891 a 1893. Já em 1894 foi eleito deputado federal, pelo Partido Republicano Mineiro (PRM), iniciando

um longo período de permanência na Câmara Federal, por meio de sucessivos mandatos até o ano de

1911. Em 1914, foi convidado pelo presidente do país, Wenceslau Braz, para ocupar o cargo de inspetor-

geral do Serviço de Vias Férreas do Ministério da Viação e Obras Públicas, posto que exerceu até 1918.

No ano de 1922, foi convidado pelo PRM a candidatar-se como vice na chapa encabeçada por Raul

Soares à Presidência de Minas Gerais. Também em 1922, elegeu-se senador por Minas, permanecendo

no cargo por oito anos. No período de setembro de 1923 a março de 1924 assumiu a Presidência do

estado, pois Raul Soares afastara-se para tratamento de saúde. De março a julho do mesmo ano, Raul

Soares retomou suas funções, mas logo veio a falecer. Olegário Maciel assumiu novamente o cargo até

dezembro de 1924, quando Fernando Melo Viana foi eleito para completar o mandato de Raul Soares.

No entanto, Melo Viana deixou o governo para concorrer à vice-presidente da República e mais uma

vez o estado foi presidido por Olegário Maciel. Em 1930, Olegário Maciel foi eleito presidente de Minas

Gerais e permaneceu no cargo até setembro de 1933, quando faleceu devido a um enfarto súbito, no

momento em que tomava seu banho matinal, no Palácio da Liberdade.

“ OLEgÁRIO MACIEL”

Olegário maciel nasceu no dia 6 de outubro de 1855, em Bom Despacho, filho de Antônio Dias maciel, coronel da Guarda nacional, e de flaviana rosa.

Olegário MacielArquivo Público Mineiro

Page 65: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Durante o seu mandato como presidente de Minas Gerais, entre os anos

de 1930 a 1933, Olegário Maciel estimulou a indústria e o setor cafeeiro.

Em relação ao ensino público, promoveu o treinamento de professores e

instalou novas escolas normais. Mas a maior preocupação do governante

foi a de construir estradas para melhorar os transportes. Além disso, por

meio do Decreto nº 9.954, de 16 de junho de 1931, ele criou a primeira

usina de álcool motor de mandioca da América Latina, em Divinópolis, e

nomeou como diretor o seu idealizador, o engenheiro Antônio Gonçalves

Gravatá. A Usina Gravatá foi inaugurada em setembro de 1932, produziu

álcool e óleo por mais de uma década, e teve as suas atividades

encerradas no final da Segunda Guerra Mundial, no ano de 1945.

Para o cargo de intendente do município de Bom Despacho, Olegário

Maciel nomeou o farmacêutico Flávio Cançado Filho, conhecido como

Favuca. Ele trabalhara em Bom Despacho para a eleição de Olegário

Maciel, colocando-se também a favor dos propósitos políticos defendidos

pela Aliança Liberal, no período da Revolução de 1930.

Olegário Maciel, Gustavo Capanema e outras autoridades políticas em Belo HorizonteArquivo Público Mineiro

- 61 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 66: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Diplomado em Farmácia pela Escola de Minas de Ouro Preto, Favuca era proprietário, em Bom Despacho,

da farmácia “Galeno”. Casou-se com sua prima Rita de Araújo Cançado, a Ritinha, com a qual teve treze

filhos, dos quais três faleceram: Geraldo e Flávio, faleceram quando crianças e João Raimundo, faleceu

aos 16 anos. Os outros filhos eram: Francisco, Maria José, José, Rita, Geraldo, Antônio, Flávio, Terezinha,

Maria Aparecida e Rafael. Contam que, antes de se casar com Ritinha, Favuca esteve noivo de outra

moça, mas, numa das viagens que fazia para estudar em Ouro Preto, apaixonou-se por Ritinha, que fazia

o curso de normalista em Mariana. O jovem rompeu o noivado e casou-se com a prima, mesmo com a

resistência dos pais, que, de início, não aprovaram o casamento entre parentes. Após se formar, Ritinha

foi dar aulas em Pará de Minas, onde foi professora do futuro político Benedito Valadares, cujo diploma

de grupo foi assinado por ela. Além de farmacêutico e prefeito, Favuca era também um intelectual,

gostava de estudar e falava vários idiomas. Era um entusiasta dos estudos e dizia: “O diploma é a melhor

herança que se deixa para o filho”46 . O político cuidava ainda de sua fazenda, o seu local de descanso e,

sempre que tinha tempo, ia para o campo em busca de refúgio junto à natureza.

“ UM POUCO MAIS SOBRE FAVUCA”

flávio lopes cançado filho, o favuca, era filho do médico flávio xavier lopes cançado e de cornélia umberlina de Queiroz.

46 In: AMORMINO, Luciana; NEVES, Osias Ribeiro. Flávio e Ilda: A Arte de Conduzir. Belo Horizonte: Escritório de Histórias, 2008, p. 33.

Page 67: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Pela proposição inicial, Favuca ocuparia o cargo de intendente do

município de Bom Despacho provisoriamente, mas foi ficando, até que,

em finais de 1933, Olegário Maciel faleceu. Gustavo Capanema, então

secretário de Segurança, assumiu interinamente o cargo de presidente

do estado e interventor federal em Minas Gerais. Após três meses da

morte de Olegário Maciel, Getúlio Vargas nomeou o deputado Benedito

Valadares como interventor de Minas Gerais, garantindo a pasta de

Ministro da Educação e Saúde a Gustavo Capanema. Dizem que, após

assumir o cargo, Benedito Valadares insistiu para que Favuca continuasse

na Prefeitura de Bom Despacho.

Durante o tempo em que esteve à frente do executivo municipal, Favuca

filiou-se ao PSD, permanecendo no cargo até 1945. Ele era um homem

muito querido na cidade e até hoje as pessoas se recordam do tempo em

que governava Bom Despacho. “Favuca era uma pessoa importante no

tempo de Getúlio Vargas. Quando ele ia à Belo Horizonte, uma multidão

o acompanhava até a estação, e era a maior festança para esperar o

Favuca chegar. Ele foi um grande prefeito”47.

Nos quinze anos em que esteve à frente do município, Favuca foi responsável

por muitas realizações, dentre elas a arborização e o calçamento de boa

parte da cidade. Em 1931, um ano após a sua nomeação Favuca enviou

carta para o secretário de Segurança, Gustavo Capanema, relatando

sobre situação vivenciada pela cidade naquele momento.Favuca e RitinhaAcervo da família Cançado

47 Agostinho Luiz de Oliveira. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 29 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado. editado.

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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 68: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

“Dr. Gustavo Capanema Sinto-me opprimido pelas queixas do povo de Bom Despacho, que insiste em

attribuir à minha administração o deplorável estado de abandono em que cahiu a cidade,

depois do desaparecimento do escriptorio e officinas da Paracatú.

O nosso grande amigo Dr. Olegario prometteu-me, como compensação, alojar

nos numerosos prédios da Villa Operaria um batalhão da policia.

Infelizmente, os dias lá se vão passando, e elle assoberbado de trabalho e

preocupação, não tem podido converter em realidade a sua promessa. Escuso-me de

descrever-lhe com as cores reaes o quadro desolador que está a cidade, até há pouco tão

cheia de animação e de vida, apresenta agora. Esse estado de coisas mais se agrava com

o facto de estarem sem pagamento até o presente, todos os funccionarios demittidos da

Estrada de Ferro Paracatú. Entre os meus melhores companheiros de lucta, alguns eram

fornecedores da Estrada e se vêm na mais dura situação, por falta de pagamento. (...)

Peço-lhe pois que não veja encarecimento ou exagero nas palavras que lhe dirijo, e corra

em meu auxilio. nesse pedido, mais que tudo, tem força e sincera dedicação que me

merece o Dr. Olegario, cujo nome eu quero ver, sempre e sempre, abençoado de seus

conterrâneos. (...)

Entretanto, nunca como hoje diante das caretas do P.R.M. desejei tanto dedicar-

me corpo e alma à grande causa do nosso Presidente que é a Legião de Outubro.

Tenha a bondade, meu presadissimo amigo, e não me deixe só em meio à tantas

contrariedades.

Imagine como me seria doloroso assistir ao desmoronamento financeiro de

amigos que nunca me desampararam. (...)

Creio que nunca faltarei com as provas de profundo reconhecimento ao presado

Dr. Gustavo a quem entrego o patrocínio d’essa causa. (...). 48

48 Correspondência datada de 7 de Maio de 1931. APM, SI 9, Caixa 17, Pacote 01.

Page 69: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

O pedido de Favuca foi atendido e alguns meses

depois, Bom Despacho passou a abrigar a sede

7° Batalhão de Caçadores Mineiros da Força

Pública do Estado de Minas Gerais. Criado

no dia 19 de junho de 1931, pelo Decreto n°

9.969, o 7º Batalhão de Caçadores Mineiros foi

instalado na cidade no dia 9 de julho do mesmo

ano. Passou a ocupar as dependências que

antes abrigavam a Estrada de Ferro Paracatu,

que foi encampada pelo Estado, assim como

as residências dos ferroviários, que passaram

a ser habitadas pelos militares, e tiveram a

sua denominação modificada para Vila Militar.

As atividades do Batalhão foram iniciadas com

um quadro reduzido de pessoal, dez oficiais e

89 praças, sendo o seu Comandante o Tenente

Coronel Edmundo Lery dos Santos, a quem

coube a adoção de todas as providências para a

instalação da Unidade.

Na ocasião do primeiro aniversário do 7º

Batalhão o Coronel Edmundo Lery dos

Santos deixou registrado: “Festejamos hoje

neste quartel o aniversário de nossa querida

unidade, que em igual data do ano de 1931,

foi instalada nesta cidade, com os primeiros

elementos que aqui chegaram para esse

grande empreendimento. (...) Com quanto

tivéssemos encontrado no antigo escritório de

Paracatú e prédios da Vila Operária, instalações

confortáveis mas ainda assim não foi pequena a

balbúrdia que se notava em tudo. O desleixo, o

desasseio e a falta de gosto imperavam por os

cantos. (...) O prédio central ainda por concluir-

se, faltava-lhe soalhos, pinturas e outras

adaptações indispensáveis ao fim a que ele se

destinava como quartel que ia ser do 7º B.I. Na

vila operária, não havia higiene indispensável às

habitações coletivas. As ruas sujas e os quintais

7º BatalhãoFoto: Ricardo Avelar

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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 70: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

das casas abarrotados de lixo causavam uma

impressão e fazia recear-se da possibilidade do

desenvolvimento de alguma epidemia (...) De

relance compreendemos logo que pesadíssima

ia ser a nossa tarefa e sem pensarmos noutro

objetivo que o de cumprimento à risca e sem

desfalecimento do nosso dever, demos inicio

à obra. Desembarcados os caixotes de livros e

expedientes, no mesmo dia 9, tomado alguns

móveis emprestados à estrada Oéste, foi iniciado

a escrituração e lançado o boletim inaugural

(...). À proporção que íamos trabalhando

e conseguindo os melhoramentos por nós

iniciados, da Capital recebiam o necessário para

as nossas primeiras instalações.

Vinham chegando também de fora contingentes

de homens, aos poucos, além do grande número

de civis, filhos dessa boa terra engajados e que

prestaram e continuam a prestar relevantes

serviços às obras em apreço; e no fim de certo

tempo melhoramos a nossa situação e de

arrancada em arrancada eis que conseguimos

tudo o que possuímos no dia de hoje, quando,

jubilosos, festejamos o primeiro aniversário da

instalação desta unidade” 49.

Um ano após a instalação do 7° Batalhão,

emergia no país a Revolução Constitucionalista

de 1932, movimento iniciado em São Paulo,

contrário ao governo federal. Embora outros

estados despertassem simpatia pela revolução,

essa ficou militarmente confinada ao território

paulista. O estado lutou praticamente sozinho

contra as forças federais e contou, sobretudo,

com a Força Pública e uma intensa mobilização

popular. A luta pela constitucionalização do

país, os temas da autonomia e da superioridade

de São Paulo diante dos demais estados

eletrizaram boa parte da população paulista.

O ataque das forças federais sobre o território

paulista foi lançado a partir do sul do estado,

da fronteira com Minas Gerais e o Vale do

Paraíba50. Em julho de 1932, o 7º Batalhão

de Caçadores Mineiros enviou parte do seu

contingente para a região da Mantiqueira,

sob a liderança do Coronel Lery dos Santos,

que lá assumiu o comando da Brigada Leste,

passando o comando da sua unidade para o

7º BatalhãoFoto: Ricardo Avelar

Os anos 20 e 30 em Bom Despacho

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Page 71: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Tenente Coronel Fulgêncio de Souza Santos. A tropa retornou a Bom Despacho em outubro de 1932,

após a vitória das forças federais. A Força Pública paulista havia optado pela rendição, já que a sua

situação se tornava cada vez mais precária com o aumento da ocupação do território estadual pelas

tropas federais. No entanto, durante o conflito, o 7° Batalhão teve uma baixa importante, o Tenente

Coronel Fulgêncio de Souza Santos, que foi fuzilado em primeiro de agosto, quando inspecionava as

defensivas.

Após regressar do conflito, o Batalhão continuou a trabalhar para melhorar as suas dependências e

também para manter a ordem de todas as áreas sob sua jurisdição. Em 1933, foi criada a Banda de

Música Santa Efigênia, pertencente ao 7º Batalhão e que se mantém em atividade até os dias atuais.

No ano seguinte, o Decreto n° 11.722 criou uma escola urbana na Vila Militar. Em 1935, o 7° Batalhão

recebeu a visita do então governador de Minas Gerais, Benedito Valadares51, que deixou registrada as

suas impressões. “Consigno aqui a excellente impressão que tive, ao visitar o 7° Batalhão aquartelado

em Bom Despacho. Constatei com prazer o elevado nível moral da tropa, a firme disciplina e o perfeito

apparelhamento thécnico e material dessa unidade de nossa Força Pública. (...) É de justiça salientar

também que o 7° Batalhão, pelo espírito de sociabilidade que o distingue, se acha integrado na vida civil

da cidade em que está aquartelado”52.

Portão do quartel 1932Fotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho

49 Documento assinado pelo Coronel Edmundo Lery Santos, em 09 de julho de 1932. Acervo do 7° BPM.50 FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12. Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004, p. 350. 51 Benedito Valadares foi interventor de Minas Gerais até 1934 e, após a Constituinte, foi eleito governador pela Assembleia Legislativa.

Com a instauração do Estado Novo em 1937, Getúlio Vargas o manteve no cargo e Benedito deixou quase intacta a sua equipe de colaboradores. 52 Documento datado de 28 de janeiro de 1935. Impressões de visitas. Acervo do 7° BPM.

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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 72: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Durante o período em que chefiou o estado, de 1933 a 1945, Benedito

Valadares contribuiu para construção de ícones da modernidade mineira,

como a Pampulha e o Minas Tênis Clube, em Belo Horizonte, e o Grande

Hotel de Araxá.

O governador incentivou também a construção de estradas de rodagem,

além do estabelecimento de linhas comerciais, da companhia de aviação

Panair do Brasil, ligando Belo Horizonte às estâncias hidrominerais

mineiras, ao Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e ao Norte do país. Com

isso, aeroportos e campos de pousos foram construídos em várias

regiões de Minas Gerais.

Em Bom Despacho, no ano de 1936, foi construído, por quadros do 7º

Batalhão, o primeiro campo de aviação da cidade. Coronel Praxedes foi o

responsável pela obra, que se estendeu por cerca de cinco a seis meses

e o engenheiro topógrafo, João Paganini, funcionário da Rede Mineira

de Viação, foi o técnico que orientou a construção. No ano de 1938, a

Secretaria de Viação e Obras Públicas, procurando padronizar os campos

de aviação existentes em Minas Gerais, adotou instruções organizadas e

aprovadas pelo Departamento de Aeronáutica Civil, que foram enviadas à

prefeitura de Bom Despacho para que fossem seguidas pelo município53.

Nesse mesmo ano era inaugurada na cidade a Companhia Industrial

Aliança Bom-Despachense (CIAB), por um grupo que apostava no

sucesso de uma empresa no ramo têxtil. O projeto original previa a

instalação da companhia na cidade de Barbacena, mas foi revisto e

acabou por escolher Bom Despacho. Na época da sua criação, a empresa

adquiriu junto à Prefeitura Municipal a Usina João de Deus e recebeu

a concessão para fornecimento de energia elétrica ao município. O seu

fundador e sócio majoritário foi o Coronel Francisco Lopes Cardoso,

conhecido como Chico Pio, que assumiu o cargo de diretor-presidente,

tendo como braço direito seu genro, o engenheiro civil, metalúrgico e de

minas, Fúlvio de Queiroz Cardoso.

Entre 1938 e 1940, a companhia construiu novas instalações e adquiriu

mais duas unidades geradoras de energia, de 210 e 700 Kva. Nesse

momento, houve um aumento na capacidade da usina, que passou a

fornecer energia elétrica para municípios vizinhos a Bom Despacho.

No ano de 1945, com o crescimento do município e da própria CIAB, foi

necessário a aquisição de mais uma unidade, geradora de 1050 Kva.

53 Carta enviada ao prefeito Flávio Cançado pelo Secretário de Viação e Obras Públicas, Odilon Dias Pereira, em 28 de junho de 1938. Acervo SETOP. Documento disponível no site: www.acervosetop.mg.gov.br

Os anos 20 e 30 em Bom Despacho

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Page 73: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Benedito Valadares RibeiroArquivo Público Mineiro

Page 74: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos
Page 75: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

54 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 10 de junho de 2011, em Bom Despacho. Texto editado.

“A Bom Despacho de ontem tinha contradições. Por um lado, era atrasada, as ruas

eram esburacadas, água em chafarizes, energia elétrica, então, foi um desafio! Um

bom exemplo para entender como a cidade era aconteceu no final da copa do mundo

em 1950. Muitas pessoas ficaram sabendo o resultado do jogo somente na segunda-

feira, porque a energia pertencia à Companhia Industrial Aliança Bondespachense,

a CIAB, e não satisfazia. Eram postes de madeira, poucas ruas iluminadas. Aos

domingos, não havia energia na cidade, tudo era desligado para fazer manutenção.

À noite, algumas pessoas ficaram sabendo o resultado através do rádio amador.

nesse mesmo dia, foi a primeira vez que aconteceu um salto de paraquedas na cidade,

onde hoje é o bairro São Vicente. Lá ficava o campo de aviação. Praticamente toda a

população foi para lá para ver o salto de paraquedas. Havia muitas dificuldades, faltava

água, as casas eram muito simples. Havia bairros aqui de muita miséria, não havia rede

de esgoto. As pessoas adoeciam e faltavam médicos. A gripe asiática matava muitas

pessoas. Em compensação, as escolas eram boas. As professoras eram batalhadoras,

sempre procuravam melhorar o ensino. Mas também com muita dificuldade. No

turismo, a Igreja Matriz e o Batalhão eram os únicos atrativos”.

José Cardoso de Mesquita54

C A D E R n O D E M E M Ó R I A S

CIABFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho

Page 76: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Juscelino Kubstichek de OliveiraArquivo Público do Distrito Federal

Page 77: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

O PERíODO DemOcrátIcO Pós 1945

Page 78: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

no Brasil, o ano de 1945 foi marcado por dois importantes eventos,

o fim do Estado Novo (1937 a 1945) e o término da Segunda

Guerra Mundial. O primeiro deixou como legado a repressão

do governo contra os opositores do regime. Muitos cidadãos foram

presos, deportados, sendo o caso mais emblemático a entrega da

comunista alemã Olga Benário, companheira de Luiz Carlos Prestes,

à Gestapo de Hitler. O fim da guerra trouxe a alegria do retorno dos

pracinhas brasileiros à pátria. Jovens de Bom Despacho também foram

convocados para combater na Itália ao lado dos aliados, embarcando

para o Rio de Janeiro, onde ficaram nos quartéis aguardando a hora de

ir para o front, mas a guerra acabou antes que boa parte deles seguisse

para o confronto. Contam que, entre os poucos bom-despachenses que

foram para o conflito na Europa, estavam o carteiro Geraldo Magela e o

militar José Firmino.

Durante a vigência do Estado Novo foram promulgadas leis que

regularam as relações de trabalho entre patrões e empregados, definido

o Salário Mínimo a ser pago aos trabalhadores urbanos, empresas

estatais foram criadas para sustentar o crescimento industrial, entre

elas CSN – Cia. Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda e a mineradora

Vale do Rio Doce em Minas Gerais. Também foram criados os três

principais partidos que dominariam a cena política brasileira até 1964: a

União Democrática Nacional (UDN), o Partido Social Democrático (PSD)

e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). A UDN foi constituída pela

antiga oposição liberal, herdeira da tradição dos partidos democráticos

estaduais, adversária do Estado Novo. O PSD foi criado a partir da

máquina do Estado, por iniciativa dos burocratas, do próprio Getúlio e dos

interventores nos estados. O PTB também foi fundado sob a inspiração

de Getúlio, do Ministério do Trabalho e dos sindicatos, e tinha por objetivo

reunir as massas trabalhadoras urbanas sob a bandeira getulista.

Em 1945 Getúlio deixou o poder pela porta dos fundos na agitada e

charmosa capital da República para retornar a uma suposta vida pacata

no “autoexílio” em São Borja, sua cidade de origem no Rio Grande do

Sul. Em dezembro do mesmo ano realizaram-se as eleições para a

Assembleia Nacional Constituinte e para Presidente da República.

Naquela eleição, dois militares concorriam; de um lado, Dutra, do outro

o brigadeiro Eduardo Gomes pela UDN e, mesmo estando em partidos

opostos, tratava-se de candidatos de caserna e, isso só, compunha o

esboço do espaço que os militares passariam a ocupar no futuro cenário

nacional. Eurico Gaspar Dutra foi eleito pelo PSD em aliança com PTB e

a normalidade democrática começou a irradiar pelo país, inserindo-o no

cenário mundial do pós-guerra.

A quinta Carta constitucional brasileira restabeleceu o estado de direito,

as eleições diretas, manteve a unidade federativa e a independência dos

O período democrático pós 1945

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Page 79: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

poderes Executivo, Judiciário e Legislativo. No entanto, o governo do

general Dutra trazia consigo o mesmo viés dos profissionais das forças

armadas: a concepção de que o país poderia ser gerido como um grande

quartel, com sua engessada hierarquia e rígida disciplina.

Mesmo que a Constituição garantisse os direitos da livre manifestação

dos sindicatos, dos cidadãos e dos partidos políticos, o governo interveio,

proibindo as eleições sindicais e colocando mais uma vez na ilegalidade

o Partido Comunista, cassando os direitos de seus representantes no

Congresso Nacional, entre eles, o de Luiz Carlos Prestes, eleito Senador

da República pelo PCB com expressiva votação. Além disso, proibiu

os jogos de azar em todo o território nacional, o que representou o

fechamento de inúmeros cassinos que funcionavam também como

casas de espetáculo e de cultura nos maiores centros, entre eles o

Cassino da Urca, no Rio de Janeiro, e o moderno Cassino da Pampulha,

em Belo Horizonte, frequentados por políticos, artistas e pela alta

sociedade. Apesar de manter na ordem do dia os mesmos temas do

governo anterior, como saúde, alimentação, transporte e energia, Dutra

não fez avançar o desenvolvimento industrial iniciado por Vargas.

Vista parcial da lagoa da PampulhaArquivo Público Mineiro

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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 80: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Em Bom Despacho, o fim do Estado Novo significou a saída do então prefeito-interventor Flávio

Cançado Filho, que assumira a Prefeitura em 1930 por indicação do conterrâneo e Presidente

do Estado de Minas, Olegário Maciel. O que aconteceu no período de 1945 a 1947, quando se

restabeleceram as eleições para governador e prefeito, foi uma alternância na administração no

Estado e também em Bom Despacho. Depois de Benedito Valadares, Minas Gerais teve outros cinco

interventores indicados pelo governo federal: Nisio Batista de Oliveira (1945/1946), João Tavares

Correia Beraldo (1946), Julio Ferreira de Carvalho (1946), Noraldino de Lima (1946) e Alcides Lins

(1947). Bom Despacho seguiu a mesma trilha com seus expoentes da política local, indicados pelos

interventores estaduais citados. Da saída de Favuca até 21 de dezembro de 1947, passaram pelo poder

municipal seis prefeitos, a começar pelo Dr. Erotides Diniz, Juiz de Direito da Comarca. Depois vieram

Domingos Mendonça, o ex-prefeito Flávio Cançado Filho, Wilson Lopes do Couto, João Pedro de Araújo

(PSD) e José de Paula Marques Gontijo. Hugo Marques Gontijo foi o primeiro prefeito eleito, pela

UDN, em 1947, no mesmo período em que o pontenovense Milton Campos também foi eleito para

governar Minas Gerais pelo mesmo partido. “Em Bom Despacho, apresentam-se dois candidatos a

prefeito, os jovens médicos Dr. Hugo Marques Gontijo e Dr. Francisco Araújo Lopes Cançado. Começava

a luta política histórica, ferrenha e duradoura entre PSD e UDN. Dr. Hugo vence o pleito e como prefeito

municipal entusiasma com seu carisma os bom-despachenses.”55

O governador Milton Soares Campos era magistrado, jornalista, um inquieto intelectual ligado aos

expoentes da literatura mineira, entre eles Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Abgard Renault,

Afonso Arinos e ao ex-ministro da educação e da saúde de Vargas, Gustavo Capanema. Dono de um

humor refinado, ele forjava frases interessantes e desconcertantes nos episódios que aconteciam à

sua volta. Uma delas foi quando lhe informaram que um aliado havia falado mal do governo, ao que ele

disse: “Falar do governo é tão bom, que não é justo que gozem desse privilégio só os inimigos.”56

“Na formação de seu secretariado, escolheu nomes de envergadura como Américo Giannetti para a

Agricultura, Indústria, Comércio e Trabalho; Magalhães Pinto para as Finanças; Abgard Renault como

chefe de gabinete e depois secretário de Educação; e Pedro Aleixo para a pasta da Justiça. Além de

colocar as finanças em dia, democratizar as leis e instaurar costumes mais democráticos, buscava

construir alicerces para o desenvolvimento.

Os efeitos em Bom Despacho

55 Tadeu de Araújo Teixeira, Dez décadas da criação de Bom Despacho, Jornal de Negócios, publicado em 20 de janeiro de 2012. http://www.joneg.com.br/exibecol.php?id=223&col=tadeu.

56 Os Governadores – História de Minas Gerais. Caderno especial do Jornal Hoje em Dia, Belo Horizonte, 2008. p.146.

O período democrático pós 1945

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Page 81: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Milton CamposArquivo Público Mineiro

Page 82: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Apresentado à Assembleia Legislativa em julho do primeiro ano de governo, o Plano de Recuperação

Econômica e Fomento da Produção foi o primeiro planejamento regional do país. Propunha um sistema

integrado de transportes, a criação de um sistema de energia – que viriam a ser bases do “binômio:

energia e transporte” do seu sucessor Juscelino Kubitscheck – e combinava o desenvolvimento da

indústria e da agropecuária, com preponderância para a última. Parte dos investimentos caberia ao

governo e parte à iniciativa privada, com apoio técnico governamental e incentivo fiscal. Para viabilizar

seu plano, criou a Taxa de Serviços de Recuperação Econômica, cobrada sobre transações de qualquer

natureza e com alíquotas decrescentes pelo período de 1948 a 1953, o que duplicou a arrecadação.

Consolidou o Departamento de Estradas de Rodagem, criado pouco antes de assumir o governo,

aprovou legislação de sociedade mista para a construção de usinas em parceria com o setor privado

e para a criação das Centrais Elétricas de Minas Gerais, a CEMIG, o que viria a acontecer no governo

seguinte.”57

Foi na gestão desses dois expoentes udenistas mineiros, o governador Milton Campos e o prefeito Hugo

Marques Gontijo que foi criada em Bom Despacho a Escola Elementar de Agricultura, pelo Decreto-Lei

nº 2.647, de 21 de agosto de 1947, que teve a participação ativa do Secretário de Agricultura Américo

Giannetti. A escola, construída com recursos do Estado, teve também participação importante

da Prefeitura que adquiriu o terreno, além de complementar a verba disponibilizada pelo governo

estadual. Num país ainda essencialmente agrícola, a escola tinha por objetivo preparar adolescentes

em idade entre catorze e dezoito anos para exercer a atividade no campo em novas bases, utilizando

técnicas disponíveis na época para a preparação da terra, plantio, cultivo e colheita e, ainda, ampliar

os horizontes do conhecimento da atividade, que até então vinha sendo repassada empiricamente

dos pais para os filhos. O primeiro diretor da escola foi o padre Joaquim Mutti de Vasconcelos. Mas

a Escola Agrícola perderia a sua função poucos anos depois. Na gestão seguinte, em dezembro de

1951, o governo do Estado transferiu para o local um reformatório de menores infratores que estava

instalado em Neves, Região Metropolitana de Belo Horizonte, desvirtuando completamente o projeto.

Dr. Miguel Marques GontijoFoto: Ricardo Avelar Imagem do acervo do Museu da Cidade

O período democrático pós 1945

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Page 83: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

No primeiro ano de mandato do prefeito Hugo Marques Gontijo, o sistema educacional de Bom

Despacho se expandiu, com a criação de 25 escolas primárias municipais e rurais instaladas nas

fazendas e povoados a partir da Lei Municipal nº 3, de 29 de dezembro de 1947. Era o governo da

UDN mostrando serviço, afinado com as linhas mestras do governador Milton Campos, que também

tinha projetos na área de educação. “Na educação, implantou a Universidade Rural em Viçosa, tendo

como núcleo central a já existente Escola Superior de Agricultura de Viçosa. Com a colaboração da

professora Helena Antipoff, expandiu o ensino rural em experiência pedagógica e social que alcançou

repercussão nacional. Realizou dezenas de concursos para professores após 24 anos de interrupção e

elevou de 500 mil para mais de 800 mil as matrículas na escola primária.”58

A cidade de Bom Despacho tinha uma população que não chegava a oito mil almas e seu município, com

os distritos de Araújos e Moema, somavam perto de 24 mil pessoas. Contudo, a cidade se preparava

para entrar na segunda metade do século XX em pleno desenvolvimento. Uma mostra da sintonia

com o governo estadual e do compromisso com a educação foi a criação da Escola Estadual Miguel

Gontijo59, que começou a funcionar em abril de 1950 com a primeira prova de seleção para a primeira

série ginasial. Milton Campos disse o seguinte: “‘construam o prédio que o Estado paga os professores’.

A cidade inteira se mobilizou para angariar recursos.”60 “Depois de 450 anos do descobrimento do

Brasil, que surgiu o ginásio estadual em Bom Despacho de quinta a oitava série. E ele foi o décimo

terceiro criado em Minas Gerais. Só em 1962 é que veio o segundo grau para cá.”61

A Escola teve as seguintes denominações: Ginásio Estadual de Bom Despacho (1949/1951), Colégio

Normal Oficial de Bom Despacho (1962/1964), Colégio Normal Oficial Miguel Gontijo de Bom Despacho

(1965/1968), Colégio Estadual Miguel Gontijo de Bom Despacho (1969/1971), Escola Estadual Miguel

Gontijo de 1º e 2º Grau (1972/1973) e Escola Estadual Miguel Gontijo a partir de 1973.

57 Os Governadores – História de Minas Gerais. Caderno especial do Jornal Hoje em Dia, Belo Horizonte, 2008. p.150,151. 58 Os Governadores – História de Minas Gerais. Caderno especial do Jornal Hoje em Dia, Belo Horizonte, 2008. p.51. 59 Lei nº 500, de 25 de novembro de 1949, autorizada pela portaria nº 439 do Ministério da Educação e Saúde, em 12 de junho de 1950. In: Revista

Bom Despacho 90 anos, página 99.2002. – Bom Despacho – MG.60 Ordália Ferreira Pessoa Melo em entrevista concedia ao Escritório de Histórias, no dia 27 de junho de 2011, na cidade de Bom Despacho (MG).

Texto editado.61 Tadeu Antônio de Araújo Teixeira em entrevista concedia ao Escritório de Histórias no dia 28 de junho de 2011, na cidade de om Despacho (MG).

Texto editado.

Escola Estadual Miguel GontijoFoto: Ricardo Avelar

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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 84: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

nos anos 40, começaram os pedidos de concessão para exploração

de minerais em Bom Despacho. O primeiro foi o Decreto 9.711, de

17 de junho de 1942, que autorizou o cidadão Mário Vaz da Costa

e outros a pesquisarem cristal de rocha no município. Muitos outros

pedidos seriam liberados até o final dos anos 50. Existem muitas

histórias de pessoas que enriqueceram nos garimpos, nas lavras e na

comercialização de cristais e outras pedras na região. “O cristal fez

muitos milionários aqui. Milionários para aquele tempo. Isso foi entre

1940 até 1970. Centenas de pessoas vieram para Bom Despacho

trabalhar no garimpo e lugar de mineração, o dinheiro que entra fácil

também vai fácil. Esse dinheiro movimentou os bares, a zona boêmia e

boa parte da cidade. Aqueles que souberam administrá-lo enriqueceram.

Nós não sabemos calcular a importância das minas de cristais em Bom

Despacho.”62 “Eu ganhei muito dinheiro no contrato do cristal com os

americanos, de acordo com o interesse deles. O maior comprador eram

os Estados Unidos, mas teve um momento que pararam de comprar e aí

os garimpeiros ficaram sem destino, os que tinham dinheiro compraram

terra, compraram outras coisas, compraram imóveis e eu fiquei com o

dinheiro guardado.”63

Mineração, a era dos cristais

62 Tadeu Antônio de Araújo Teixeira. Entrevista concedia ao Escritório de Histórias no dia 28 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

63 Agostinho Luiz de Oliveira, o Cristaleiro. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 29 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

O período democrático pós 1945

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Page 85: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

64 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 07 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

C A D E R n O D E M E M Ó R I A S

“Quando eu era menino de uns doze anos, Bom Despacho era uma cidade pobre. naquele

tempo, eu entregava leite com a lata em cima dos cavalos. não existia gás, eu trazia

‘carrada’ de lenha lá da roça para vender na cidade. Socávamos arroz no pilão de manhã

cedinho. não tinha calçamento, asfalto, era tudo terra. na praça, quando passava

carro, enchia tudo de poeira. nos armazéns, se colocava o pedaço de toucinho em cima

da mesa para partir. Não tinha água encanada na cidade, era chafariz, aquela fila de

mulher para pegar uma lata de água. Quando melhorou um pouquinho, o caminhão

saia entregando água de casa em casa, a água era regrada, não tinha para todo mundo.

As pessoas usavam roupas remendadas. Era uma vida muito difícil, a pobreza era

demais. Hoje as coisas estão muito fáceis. As ruas estão todas calçadas, asfaltadas,

água encanada, energia elétrica, ônibus, carro, comércio bom, escola, comida farta.

Bom Despacho é ótimo de se morar.”

Benedito Alves, o Bené Peão 64

A antiga Bom DespachoFotógrafo desconhecidoAcervo Museu da Cidade

Page 86: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

A partir de então a arrecadação cresceu ano a ano, chegando a 1,9 milhão de Cruzeiros em 1954.

Entretanto, o fator inflação já se fazia presente na vida brasileira e, para demonstrar seus efeitos, fez-se

a conversão dos valores considerando a moeda brasileira atual, o Real, em 31 de dezembro de 2011. O

resultado da renda atualizada na tabela a seguir mostra que mesmo a receita tendo crescido mais de

300% entre 1949 e 1954, o valor de 1954 é menor que o de 1949. Esse processo inflacionário seria o

grande flagelo da economia brasileira durante quase toda a segunda metade do século XX.

“ ARRECADAçãO E InFLAçãO”

em 1947 a renda do município de Bom Despacho era de 600 mil cruzeiros, passando em 1949 para um milhão de cruzeiros, um aumento de mais de 66%.

Ano Cruzeiro (Cr$) conversão para real (r$) em 31/12/2011 65

1947 600.000,00 638.817,84

1948 600.000,00 585.991,14

1949 1.000.000,00 862.656,90

1950 1.200.000,00 932.932,22

1951 1.400.000,00 973.061,66

1952 1.520.000,00 930.404,10

1953 1.600.000,00 821.749,63

1954 1.900.000,00 771.290,96

65 Correção de valor de Cruzeiro para Real - Calculadora do Cidadão do Banco Central do Brasil, utilizando IGP-DI (FGV), pesquisa em março de 2012.

Page 87: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

na política, esse período foi marcado pelos confrontos entre os principais partidos políticos, a UDN

e o PSD. Na eleição da Constituinte de 1946, o PSD conquistou 151 cadeiras, 52%, enquanto a UDN

não elegeu 25% dos constituintes. O acirramento nas disputas políticas teria desdobramentos

em todo o país, nos grandes centros e no interior. Em Bom Despacho não foi diferente. PSD e UDN se

posicionavam como partidos antagônicos e, mais do que isso, as divergências entre eles assumiam um

tom agressivo: os udenistas eram vistos como inimigos pelos pedessistas e vice-versa, ao passo que

na concepção democrática não passassem de simples adversários políticos. Essa luta foi travada no

dia a dia e, em todas as ações, ultrapassou a conotação político-partidária, chegando a comprometer

relações sociais entre os cidadãos bom-despachenses, laços de amizade e até mesmo o convívio entre

famílias. “Nas campanhas políticas, entram para a história dois velhos veículos que circulavam pela

cidade com alto falantes na disputadíssima campanha eleitoral. O carro do PSD foi logo batizado de

Panvermina (um lombrigueiro muito usado na época) e o da UDN recebeu o codinome de Biotônico

(um remédio fortificante aplicado, principalmente, às crianças após tomarem os vermífugos). Surgiu “O

Sombra”, figura misteriosa, de voz cavernosa, em programa noturno de uma rádio pirata, comandada

pela UDN. Programa de altíssima audiência, em que dezenas de pessoas se reuniam em torno do rádio

para ouvir as últimas notícias e ironias da política municipal.”66 Os relatos dão a dimensão do que eram

as divergências entre os dois partidos e acrescentam detalhes que passaram a fazer parte do folclore

político da cidade, como a rivalidade que levou ao incêndio do Clube Bom Despacho, as artimanhas

dos partidos para ganhar as eleições, até mesmo acusações de roubo de urnas e de troca de cédulas,

e tantas outras boas histórias que ainda alimentam o imaginário por gerações. “Antigamente, política

em Bom Despacho não era brincadeira. A UDN era o partido do Doutor Miguel, PSD era da família

Cançado e eles brigavam mesmo. O dia em que Juscelino Kubitscheck veio aqui a convite do Prefeito

Francisco Cançado Filho e de seu pai, o ex-prefeito Flávio Cançado, o povo da UDN jogou ovo choco

nele, judiaram do JK.”67 “Até em 1964, quando a ditadura acabou com o PSD, UDN e PTB, a política era

uma coisa de segregação. O PSD de um lado, UDN de outro. Vamos supor que eu fosse um rapaz de

dezessete anos e você uma moça da mesma idade. Se nós quiséssemos namorar, e você fosse do PSD

e eu da UDN, os pais impediam na hora. Não se podia nem conversar, eram inimigos. Graças a Deus que

não houve morte, mas as famílias ficavam divididas e não se relacionavam. O clube, por exemplo foi a

UDN quem fez e quem era do PSD não podia frequentar. Só em 64, quando acabaram com os partidos

políticos, é que essa birra de PSD e UDN acabou”. 68

PsDxuDn: A luta políticae o imaginário popular

66 Tadeu de Araújo Teixeira, Dez décadas da criação de Bom Despacho, Jornal de Negócios, publicado em 20 de janeiro de 2012. http://www.joneg.com.br/exibecol.php?id=223&col=tadeu.67 Maria Adjara. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 1 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.68 Tadeu de Araújo Teixeira. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 28 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 88: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

69 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 22 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

“Bom Despacho teve uma característica muito diferente, há uns trinta anos, que foram

os tipos populares. Tinha o Ministro, um neurótico de guerra que morava em uma

pensão na praça e andava todo fardado de branco, as pessoas davam medalhas para ele.

Na hora do desfile, ele ficava ao lado do prefeito. Quando o pessoal estava de bem com

ele, chamava-o de Ministro; outras vezes, chamava-o de Bode, e ele ficava uma arara.

Em relação às medalhas, ele falava ‘Essa aqui foi a rainha Elizabeth que mandou para

mim; essa foi o Hitler, essa foi o Napoleão’. Ele vivia a neurose dele. Tinha o Zé Repórter

Esso, que falava igualzinho ao de antigamente, e o pessoal achava o máximo. Tinha

também o Amador, que tinha uma égua e o pessoal ficava ‘Ô Amador, vamos vender essa

égua’, ‘Não, ela eu não vendo’; ‘Ô Amador, vamos trocar essa égua pelo meu caminhão,

ele tem catorze cavalos’, ‘não troco’. Por coincidência, ele estava voltando para casa e

o caminhão estava em um riacho, e ele falou ‘E a cavalada, só bebendo água?’ Tinha

uma senhora que bebia cachaça, dizia que ‘a uDn era a rosa do meu coração’, e não

bebia com quem era do PSD. Tinha o João do Sapato, que andava todo cheio de anéis

nos dedos das mãos e dos pés. Ele mancava e, quando gritávamos ‘sapato 44, sapato

44’, saía correndo atrás da gente. Todo mundo gostava e esse pessoal vivia muito bem

na cidade. A gente brincava, mas eles eram muito bem tratados, não passavam fome,

tinham onde dormir. De repente, não sei porque, levaram para Barbacena e nunca mais

ninguém voltou. E todo mundo gostava desses tipos populares.”

Maura Valadares Gontijo e Liliana Valadares Gontijo Fernandes

C A D E R n O D E M E M Ó R I A S

Page 89: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

O médico Juscelino Kubitscheck – ex-prefeito interventor de Belo

Horizonte, conhecido por “prefeito furacão” por ter tocado inúmeras

obras de modernização da capital mineira, entre elas a abertura de

vias, pavimentação, criação de bairros e do complexo da Pampulha –

elegeu-se governador de Minas Gerais pelo PSD em 1951, derrotando o

candidato da UDN Gabriel Passos, com o binômio energia e transporte,

que de certa maneira era a ampliação das ações iniciadas por seu

antecessor. Ao mesmo tempo, em Bom Despacho, era eleito prefeito um

ás da tradicional UDN, Cisalpino Marques Gontijo.

A alternância no poder entre Pessedistas e Udenistas parecia equilibrar

as disputas nas esferas do Estado e se mantinha no município de Bom

Despacho, onde a luta entre as duas legendas pegava fogo. Entretanto,

no lugar de Cisalpino Marques Gontijo, eleito para o período de 1951 a

1955, quem de fato governou a cidade, como relata o jornalista Jacinto

Guerra, foi o vice-prefeito Miguel Marques Gontijo: “Por razões especiais,

Cisalpino Marques Gontijo, ilustre médico e empresário, grande benfeitor

da cidade, esteve licenciado do cargo de prefeito praticamente durante

todo o seu mandato. Ao longo de todo esse período administrativo,

um caso raríssimo: assumiu o cargo o vice-prefeito Miguel Marques

Gontijo. Mas Nicolau Teixeira Leite, como Secretário da Prefeitura, foi

uma espécie de Primeiro-Ministro, e quem, de fato, exerceu o poder. A

mesma função foi também exercida por Walfrido Teixeira, no início do

mandato.”70

Juscelino, governador de Minas

70 Site. tembase.com.br/prefeitos.htm, acessado em março de 2012. Nossos Prefeitos, A prefeitura: Governantes Municipais, Jacinto Guerra.

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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 90: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Juscelino Kubstichek de OliveiraImagem de domínio público Galeria dos Presidentes - Governo do Brasil

Eleito com mais de 170 mil votos de vantagem sobre seu adversário,

Juscelino manteve a mesma atuação dinâmica que o consagrou frente

à Prefeitura de Belo Horizonte. A falta de recursos nos cofres do Estado

fez com que JK buscasse alternativas e a saída por ele encontrada foi

a contração de um empréstimo de 20 milhões de dólares na França.

Essa verba completou os outros 25 milhões já disponibilizados pelo

governo federal e, com esses valores JK iniciou a abertura de estradas

e os investimentos em geração de energia. Dentre seus feitos ficou a

construção da Usina de Itutinga e a barragem de Cajuru. JK também deu

inicio à construção da Usina de Salto Grande e do Rio Pandeiros, além

de criar a CEMIG.71 “Durante seu mandato, construiu 16 estradas-tronco,

num total de 3.087 Km, que não só permitiram a integração de diversas

regiões de Minas, como facilitaram o acesso aos estados vizinhos. Ao

final de seu quinquênio, Minas contava 75 campos de pouso em condições

de receber aviões de porte médio. Na agricultura, Juscelino estabeleceu

uma política de crédito aos agricultores para facilitar-lhes a compra de

equipamentos mecanizados e implementos agrícolas.”72

71 Fonte: Os Governadores – História de Minas Gerais. Caderno especial do Jornal Hoje em Dia, Belo Horizonte, 2008. p.159-160.

72 Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro, CPDOC – Fundação Getúlio Vargas.

O período democrático pós 1945

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Page 91: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

getúlio Vargas, eleito Senador da República por dois estados,

manteve o controle sobre o PSD ainda que tenha se postado como

coadjuvante na cena política. Do silêncio em São Borja, articulou a

sua volta ao poder elegendo-se Presidente da República e retornando

ao Palácio do Catete em 1951, como ele mesmo afirmou, “nos braços

do povo”. Com o apoio de Adhemar de Barros e dos militares, fruto de

uma costura alinhavada pelo general Góes Monteiro, procurou fazer

um governo popular e nacionalista, reaproximando-se dos sindicados e

diminuindo as restrições impostas por Dutra. Estrategicamente, dobrou

o salário mínimo, tão desvalorizado no governo anterior. Retomou

a política de industrialização e de substituição das importações e,

entre suas ações estava a criação do BNDE – Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico, em 1952, e criação da Petrobras no ano

seguinte, contrariando os interesses americanos no Brasil e, de certa

maneira, atendendo aos interesses dos militares e da própria União

Nacional dos Estudantes (UNE), que não queriam o controle da energia

do Brasil em mãos estrangeiras.

Vargas lançou o Plano Nacional de Eletrificação que pretendia

quadriplicar a disponibilidade de energia elétrica no Brasil em dez

anos, mas sua pretensão esbarrou nas multinacionais do setor que

conspiravam contra a ideia. A UDN, liderada pelo jornalista Carlos

Lacerda da Tribuna da Imprensa, marcava de perto o governo e seus

movimentos, acusando-o de estar infiltrado de comunistas. Também

faziam coro contra os projetos de Vargas o jornal O Globo e os Diários

Associados, esse último, dirigido pelo jornalista e senador da República

Assis Chateaubriand. Ao lado do governo, o jornal Última Hora, criado

em 1951 e patrocinado por pessoas próximas a Getúlio na intenção de

defendê-lo e de ser um canal de comunicação dele com o povo, não foi

suficiente para neutralizar a ira dos adversários. As pressões cresceram

diante das acusações de corrupção tanto pela UDN como pelo Partido

Comunista, e o governo ficava cada vez mais isolado. A gota d’água foi

o episódio da rua Toneleros, em que Carlos Lacerda, o maior opositor

A volta triunfal de Vargas

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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 92: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

de Vargas, sofreu um atentado no qual recebeu um tiro no pé e em que

o oficial que o acompanhava foi morto. Não demorou muito para que

todos associassem o triste evento ao Presidente da República e, em

pouco tempo, a figura de Fortunato, homem de confiança de Getúlio,

fosse colocada no centro da cena como o articulador do atentado.

Uniram-se contra Vargas o Congresso, a Imprensa, o Judiciário e as

Forças Armadas. Melhor dizendo, os tiros dados aos adversários de

Vargas na rua Toneleros resvalaram em todas as paredes do Palácio do

Catete e passaram a assombrar a vida de seus moradores dia e noite.

Os opositores do governo se fortaleceram e a renúncia do presidente,

acusado de ser o mandante do atentado, era questão de tempo.

Getúlio VargasArquivo Público Mineiro

O período democrático pós 1945

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Page 93: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Mais tarde, a Constituição de 1934 propôs

nacionalizar o petróleo e as riquezas do subsolo.

No mesmo ano, a primeira refinaria privada do

país começou a processar petróleo argentino no

Rio Grande do Sul. O escritor Monteiro Lobato

criou a Companhia Petróleos do Brasil para

explorar jazidas em Riacho Doce. Criticou o

governo Vargas por não explorar e nem permitir

que explorassem o petróleo e acabou sendo

enquadrado na Lei de Segurança Nacional. O

primeiro poço de petróleo foi descoberto pelo

comerciante Oscar Cordeiro na Bahia, que teve

um duro trabalho para provar a veracidade da

sua descoberta e, em 22 de janeiro de 1939, o

petróleo jorrou no Recôncavo baiano. A Carta

Constitucional de 1937 enfatizou a necessidade

de controle do petróleo pelo Estado e em 1938

Vargas criou o CNP – Conselho Nacional de

Petróleo. Durante seu mandato, o general Dutra

abriu a exploração, produção e refino do petróleo

aos estrangeiros, sendo chamado de entreguista,

e a polêmica entre nacionalistas e entreguistas

ganhou a cena política. A UNE elaborou o

slogan “O Petróleo é nosso”, que virou campanha

e chegou às telas nos anos 50 em filme de

mesmo título. Os debates prosseguiram

envolvendo questões econômicas e muitos

foram os defensores da campanha nacionalista,

principalmente os militares. Na sua volta ao

“ O PETRÓLEO é nOSSO”A história do Petróleo no Brasil data de 1864 quando dois ingleses conseguiram concessão para explorar possíveis jazidas no interior da Bahia.

73 Fonte: Brasil 500 anos, Atlas Histórico, revista Isto é, cronologia, 8.4. Campanha do Petróleo/Nacionalismo, p. 151. Editora três.

poder, Vargas criou a Petrobras em 1953,

contrariando os interesses internacionais,

especialmente de Nelson Rockefeller e da

empresa americana Standard Oil, que distribuía

o petróleo no Brasil. A Petrobras cresceu, ganhou

escala, se especializou, descobriu e passou a

explorar petróleo no mar, principalmente na

Bacia de Campos. Em 2007, quase sessenta

anos depois da sua criação, tornou o Brasil

autossuficiente em petróleo. A exploração se

diversificou e a procura por gás natural fez com

que a empresa se interiorizasse, chegando a

Minas Gerais. Na bacia do São Francisco o gás

foi encontrado, no município de Morada Nova de

Minas, região próxima a Bom Despacho, onde já

foi instalada uma unidade de prospecção de gás

natural. 73

Page 94: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Foi em Belo Horizonte o local do último

discurso de Getúlio Vargas naquele fatídico

agosto de 1954, quando da inauguração da

Siderúrgica Mannesmann, atual V&M Vallourec.

Ao lado de JK, Vargas não parecia o mesmo.

Triste e deprimido, talvez imaginasse uma saída

honrosa para a situação em que se encontrava

diante de tantas pressões. Questionado pela

imprensa sobre o atentado da rua Toneleros,

ateve-se à necessidade de se apurar o fato com

rigor. No dia 24 daquele mês o país amanheceu

de luto com a notícia da sua morte. O Brasil

parou. Os noticiários – especialmente das

rádios, o veículo de comunicação mais ágil da

época – não paravam e a cada novo momento

detalhes, suspeitas, especulações e teses sobre

a morte do líder popular eram levantados. O

Jornal do Brasil trouxe a seguinte manchete:

Vargas se suicida e mata adversários. Segue o

texto do JB: “Abandonado pelos militares, pelos

burocratas do governo, pelos políticos e até por

seu vice-presidente, Café Filho, o presidente

Getúlio Vargas só tinha uma saída na madrugada

do dia 24 de agosto: renunciar. Mas, quando

seus adversários já comemoravam a vitória

política, Vargas mudou o rumo da história. Por

volta das 5h, segundo sua filha Alzira Vargas,

o presidente, sozinho em seu quarto, disparou

um tiro fatal no peito. ‘Eu saí correndo feito

uma doida e me joguei sobre o corpo dele. Ele

ainda estava vivo e eu tive a impressão de que

esboçava um sorriso’, contou Alzira. Bastaram

uma edição do especial do Repórter Esso e a

Um tiro no coração do Brasil

leitura da carta-testamento deixada por Vargas

para o sorriso que Alzira acreditou ter visto

se justificar.(...) Enlouquecida e com lágrimas

nos olhos, a população tomou as ruas para

protestar contra os inimigos do ‘pai dos pobres’.

Houve quebra-quebras e incêndios em sedes de

jornais contrários a Vargas. Até a Embaixada

Americana foi apedrejada. Os adversários de

Vargas caíram em desgraça.”74 Terminava em

24 de agosto de 1954 uma etapa da vida política

brasileira. O Brasil vivia o trauma da perda de

seu maior e mais controverso político, que foi

capaz de mudar o rumo do país, dar-lhe uma

nova ordem ao mesmo tempo em que reprimiu

com exageros os seus opositores. Contudo, ele

ainda permanece vivo no imaginário popular

como aquele que criou o salário mínimo,

consolidou as leis trabalhistas, criou sindicatos

e deu uma cara urbana ao país.

O suicídio de Vargas mexeu com todos os

setores do país e imobilizou seus adversários. A

política democrática seguiu o seu rumo. A UDN,

adversária ferrenha de Getúlio, saiu derrotada

do episódio; o PSD, fortalecido, elegeu Juscelino

Kubitscheck para presidente enquanto o PTB

elegeu João Goulart para a vice-presidência.

Em Bom Despacho, o filho mais velho de

Favuca, Francisco de Araújo Lopes Cançado,

do PSD, também era eleito prefeito da cidade

para o mandato de 1955 a 1959, numa eleição

marcada por denúncias, mas legitimada.

74 Jornal do Século. Publicação especial do Jornal do Brasil no ano 2000.

O período democrático pós 1945

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Page 95: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

“Participei de um dos maiores eventos que aconteceram naquela região. O Getúlio

Vargas era muito ligado a Araxá, sempre se hospedava lá. A estrada de terra ligava Belo

Horizonte a Araxá e eu fui à inauguração da Ponte da Pedra do Chumbo, sobre o Rio

São Francisco. Eu era criança, fui de jardineira com a minha mãe, que era professora, e

o Getúlio esteve lá com o Benedito Valadares e o prefeito de Bom Despacho, o Favuca.

Era no município de Moema, chamava-se Doce, naquela época, e pertencia a Bom

Despacho.”

Robinson Correa Gontijo 75

C A D E R n O D E M E M Ó R I A S

75 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias em 25 de junho de 2011, em Belo Horizonte (MG). Texto editado.

Page 96: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Inauguração do Trevo Pará de MinasAcervo DnIT

Page 97: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

TEMPOS DE DESEnVOLVIMEnTOEM TODO O PAíS

Page 98: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Francisco, o novo prefeito de Bom Despacho,

filho da tradicional família Cançado,

assumiu a prefeitura em 1955, em meio às

esperanças de seus eleitores de que realizaria

uma boa administração. Ao mesmo tempo,

recebia pesadas críticas dos opositores que

afirmavam, categoricamente, que a eleição,

mesmo legitimada, fora fraudada76. De fato, esse

tipo de desconfiança ocorria em quase todas

as cidades brasileiras, como consequência da

fragilidade do processo eleitoral, da fiscalização

deficiente e a influência direta dos coronéis

que, em muitos lugares, compravam votos,

influenciavam eleitores ou utilizavam de outros

meios não ortodoxos para levar seus candidatos

à vitória nos pleitos. E, com tantas variáveis,

o resultado das eleições sempre despertava

desconfiança e gerava descontentamento por

parte dos derrotados. Assim, de eleição em

eleição, o folclore político brasileiro foi sendo

alimentado, colecionando causos e acirrando

ainda mais as disputas entre os principais

partidos.

Juscelino Kubitscheck, o ex-governador de

Minas, era o Presidente da República, eleito

e empossado em 1956 mesmo diante das

tentativas de opositores e golpistas de plantão

de impedir a sua posse. O clima na capital do

país era o mesmo de Bom Despacho, e a UDN

questionava a eleição do presidente. “Udenista

radical, o jornalista e deputado Carlos Lacerda

entrou em campo uma semana após as eleições,

pregando que JK não poderia tomar posse

por não ter obtido 50% dos votos, além de ter

recebido o apoio dos comunistas que estavam

na ilegalidade.”77 A conspiração envolvia

também o presidente Café Filho, seu sucessor

Carlos Luz e militares. O general Lott, apoiado

pelo exército, garantiu a posse do presidente

eleito tornando-se, em seguida, o seu ministro

da Guerra.

O médico Juscelino chegava ao poder com o

status de ousado planejador e tocador de obras,

pois havia aberto muitas frentes em Minas para

que o Estado se desenvolvesse. Tinha projetos

ainda mais arrojados para que o Brasil entrasse

na era da modernidade e se destacasse no

cenário internacional. Suas ideias tinham por

base a ampliação da infraestrutura do país com

estradas, industrialização e energia. Em 1956,

além de conquistar a presidência da República,

o PSD elegeu também o governador de Minas

Gerais, José Francisco Bias Fortes, criando

sinergia entre os poderes federal e estadual e

com Bom Despacho, pois o prefeito eleito no

ano anterior era também do PSD.

No início do seu governo, Juscelino apresentou

o Plano de Metas “50 anos em 5”, com trinta

pontos a alcançar, seguido da meta-síntese que

era a construção de Brasília, a futura sede do

governo. O Congresso Nacional sancionou a Lei

que fixava os limites do futuro Distrito Federal

e autorizava o governo a criar a Novacap -

76 Pessoas ligadas à oposição comentaram que nas eleições anteriores em que Francisco havia concorrido também houve fraude em processo semelhante.

77 Os Governadores – História de Minas Gerais. Caderno especial do Jornal Hoje em Dia, Belo Horizonte, 2008. p.162.

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tempos de desenvolvimento em todo o país

Page 99: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

78 OLIVEIRA, Lúcia Lippi. In CPDOC – FGV.

Companhia Urbanizadora da Nova Capital. JK cercou-se de talentos como

Israel Pinheiro, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, dentre outros para tocar

o ousado empreendimento. “Como explicar a meta síntese do governo

JK tenha sido Brasília, se ela nem sequer existia originalmente no Plano

de Metas? O programa cobria ao todo 30 metas, e Brasília só entrou

no final, como um acréscimo, passando a ser a meta principal número

31. Foi ao longo do governo que ela assumiu a função de condensar o

programa de JK e de simbolizar a ideia de que era possível dar um salto

no tempo, realizar 50 anos em 5”.78

Em tempos de democracia, o país se reconhecia dentro de um clima

de otimismo, de emprego e de desenvolvimento. Com o incremento da

indústria automobilística, estimulada pelo governo, teve início a produção

de automóveis em São Paulo, na Vemag, comprada pela Volkswagen

anos depois.

Construção da Nova Capital em 1959Arquivo Público do Distrito Federal

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

- 95 -

Page 100: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Juscelino era homem alegre. Em seus discursos,

o que se via era um personagem que acreditava

no país que dirigia e irradiava otimismo. No bojo

desse período, conhecido por “Anos dourados”,

surgiu a Bossa Nova, movimento de renovação

da Música Popular Brasileira, em que jovens da

classe média carioca, apoiados por expoentes

como Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes

e João Gilberto, revolucionaram a música

brasileira. O samba ganhou uma nova maneira

de compor e tocar que cativou toda uma

geração. No futebol surgiram grandes craques

como Pelé, Garrincha, Didi, entre outros, que em

1958, legaram ao Brasil o primeiro campeonato

mundial na Suíça, apresentando o futebol como

certamente este foi um dos momentos mais dinâmicos do Brasil em que o desenvolvimento e o renascimento da cultura brasileira pareciam caminhar de mãos dadas.

“OS AnOS DOURADOS”

arte, numa concepção puramente brasileira. O

cinema nacional atingia o auge com os filmes de

chanchada nos personagens de Grande Otelo,

Oscarito e elenco, nos estúdios da Atlântida, cujo

expoente foi a comédia que abordava a guerra

fria, O Homem do Sputnik, de 1959, dirigido por

Carlos Manga. Nelson Pereira dos Santos dirigiu o

filme Rio 40 graus que influenciaria a geração do

Cinema Novo. Ganhou espaço também Amácio

Mazzaropi, ao propor e explorar a estética da

simplicidade em seus filmes, resgatando com

poesia e singeleza, a estrutura arcaica do interior

do país em meio à modernização, sem deixar de

lado a leitura crítica das mudanças em curso no

ambiente rural.

Vinícius de MoraesRevista Gente y la actualidad.Ano 5 nº 241.5031970Buenos Aires - Argentina

Page 101: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

A urbanização dava o tom nas cidades maiores e as migrações internas

começavam a esvaziar o campo, notadamente as áreas mais

pobres do norte de Minas Gerais e do Nordeste do país. São Paulo

despontava como o “Eldorado brasileiro”, atraindo grupos de pessoas

interessadas em trabalhar nas indústrias que se multiplicavam, puxadas

pelas esteiras das montadoras. O mesmo acontecia com Brasília, a nova

fronteira do oeste que empregava trabalhadores de todos os lugares do

Brasil para a construção da nova capital. Por outro lado, cidades com

potencial agropecuário decidiam não mais exportar seus produtos “in

natura”, processando-os e agregando valor, gerando mais empregos

e deixando mais recursos nos municípios. Essa foi a aposta de Bom

Despacho. “Na década de 1950, existiam na cidade dois laticínios que

monopolizavam o mercado de creme para a fabricação de manteiga. Os

produtores rurais vendiam seus produtos a preços que não os satisfaziam.

(...) Como alternativa para resolver a questão foi criada uma empresa

de caráter comunitário, com o nome de Laticínios Bom Despacho, que

recebia o creme, transformava em manteiga e colocava no mercado,

sem intermediários.”79 Essa iniciativa funcionou por pouco tempo.

A indústria chega a Bom Despacho

79 FONSECA, Francisco de Assis, Cooperbom 50 anos - uma trajetória de sucesso, 2006. Bom Despacho, p.13.

Photos

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

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Page 102: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

80 FONSECA, Francisco de Assis, Cooperbom 50 anos - uma trajetória de sucesso, 2006. Bom Despacho, p.14.81 Flávio de Melo Queiroz. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 16 de janeiro de 2012, em Bom Despacho (MG). Texto editado.82 Francisco de Assis Fonseca. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 3 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado. 83 Márcio Gontijo. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, no dia 6 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

Em 1956, os produtores se organizaram em torno dos ideais cooperativistas e criaram a Cooperbom

– Cooperativa Agropecuária de Bom Despacho, filiada a uma das maiores cooperativas do setor, a

Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (Itambé). Os primeiros sócios fundadores

foram Roberto de Queiroz Cançado, Paulo de Tarso Gontijo, José Joaquim de Oliveira, Jacintho

Salviano da Silva, João Alves do Couto, João Victor Costa, José Maria Melo Queiroz, Carlos Cardoso

de Carvalho, Manoel Guilherme Pessoa, Antônio Teodoro Gontijo, Paulino Marques Gontijo Filho,

Flávio Araújo Cançado, Antônio Vieira Gontijo, José Araújo Cançado, Márcio Araújo Gontijo, Bertolino

da Costa Filho e João Lino de Araújo. O capital inicial da Cooperbom era de 362 mil cruzeiros, dividido

em 3.620 quotas-parte.80 “A cooperativa foi criada por iniciativa de meu pai. Foi ele quem trouxe o

dirigente da Itambé a Bom Despacho para ajudar na fundação da cooperativa. Ele foi o primeiro

presidente. Começaram aos poucos desnatando o leite, depois passaram a compra-lo e vendê-lo para

a Itambé. Fizeram a feira da manteiga por uns tempos, depois a quantidade de leite foi aumentando,

aumentou também o número de produtores. A Cooperativa cresceu e, hoje, é grande e muito sólida.”81

“Nós pegamos a Cooperativa com cinco funcionários e a deixamos com mais de duzentos. Ela tem

vários postos, entre eles, Engenho, Estrela do Indaiá e Mato Seco.”82 Atualmente a Cooperbom funciona

também como entreposto de venda de produtos e insumos para a agropecuária e, associada a ela,

nasceu a cooperativa de crédito. “A agência do BANCOP que existe aqui hoje no município surgiu na

Cooperativa. Inclusive tem uma fazenda de melhoria de rebanho de gado na região do Engenho do

Ribeiro, às margens do São Francisco.” 83

Cooperbom.Foto: Ricardo Avelar

- 98 -

tempos de desenvolvimento em todo o país

Page 103: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

84 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias em 29 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

Vista da cidade da Praça da MatrizFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho

C A D E R n O D E M E M Ó R I A S

“Quando menino, aqui tinha uma igreja onde hoje está a matriz. Ela era de madeira,

aquelas grandes peças de madeira que faziam os cantos da igreja foram retiradas. Eu

não a conheci. Onde arrancaram ficou um buraco grande. Tinha uma pracinha logo ali,

com casas humildes feitas com barro natural de pura terra e vara de madeira. Casas

que, hoje, nem os mais humildes têm, de tão pobre que eram naquela época. Antes de

começarem a construção da igreja, havia um campinho em que a meninada se reunia à

tarde para bater bola, jogar vôlei. Nesse lugar hoje fica a igreja matriz. Havia uma igreja

onde hoje é a Praça Inconfidência, que era Igreja do Rosário, por isso que tem a Rua do

Rosário. E lá em cima, naquela época era a Rua do Céu, porque era bem no alto. Hoje,

onde tem a capelinha da Cruz do Monte, tinha uma outra igrejinha muito pequena,

onde faziam as festas juninas, soltavam balão, tinha banda de música. Era muito

alegre, muito foguete, muita coisa boa que tinha nessa época, com muita humildade.

Nas procissões, a fila era respeitada, uma fila de um lado outra do outro. Era uma

maravilha o movimento da cidade!”

Agostinho Luiz de Oliveira 84

Page 104: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Siderúrgica União BomdespachenseFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho

Para que o país desenvolvesse sua indústria automobilística e de

construção civil, era preciso produzir aço. Novas instalações surgiram.

As grandes siderúrgicas instaladas em Minas como a Mannesmann e a

Belgo-Mineira se expandiram e as pequenas siderúrgicas, produtoras de

ferro gusa, se instalaram principalmente nas médias e pequenas cidades

do interior, notadamente na região oeste. Bom Despacho recebeu, em

1959 a montagem da Siderúrgica União Bondespachense. Localizada no

Bairro São Vicente, ela produzia ferro gusa e exportava para a Europa,

Estados Unidos, Ásia e América Latina. Além disso, produzia carvão

vegetal utilizado em seus altos-fornos e vendia o excedente. “Foram três

altos fornos gerando em torno de 1.800 empregos. A renda da cidade

aumentou, o comércio melhorou e a prefeitura ampliou sua receita com

mais impostos. A siderúrgica foi outra arrancada que a cidade deu.” 85 “As

primeiras indústrias que fizeram girar a economia foram as siderúrgicas

e meu pai foi um dos pioneiros. Havia três siderúrgicas em Bom Despacho

e, com elas, o serviço terceirizado, que fez a cidade crescer.” 86

85 Tadeu Antônio de Araújo Teixeira. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 28 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

86 Liliana Valadares Gontijo Fernandes. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias em 22 de junho de 2011, em Belo Horizonte (MG). Texto editado.

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tempos de desenvolvimento em todo o país

Page 105: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

“às 9:30h do dia 21 de abril de 1960, no Salão de Despachos do Palácio do Planalto, cercado por

seus Ministros e Embaixadores Especiais, JK teve estas palavras curtas: Declaro inaugurada

a cidade de Brasília, Capital dos Estados Unidos do Brasil! No mesmo instante, o Poder

Legislativo e Judiciário confirmaram a inauguração do jovem Distrito Federal, que nasceu num dia de

sol forte, e céu azul, a mais de 1.200 metros”.87 Juscelino, com seu ar alegre, cumpriu sua promessa

sob os olhares dos adversários e dos aliados, que duvidaram da viabilidade daquela obra. “A cidade

era realmente única, respirava ares de modernidade, os brasileiros não estavam acostumados a ver

edifícios tão grandiosos e diferentes, alguns arredondados, com formas curvas e outros que pareciam

flutuar na água. A revista O Cruzeiro de 7 de maio de 1960, em reportagem sobre as comemorações,

afirmou que: ‘Quase ninguém acredita no que vê. Os edifícios quase levitando, o ocaso reverberando

nas paredes de vidro. No meio da confusão há silêncio, há majestade, há qualquer coisa desabrochando

com dignidade de rosa. Brasília é o século XXI’”.88

Em Minas Gerais, o governador Bias Fortes atuava em plena sintonia com o governo de JK nas áreas

de energia, transporte e agricultura. A crise financeira do Estado levou-o a criar, ainda no início do

seu mandato a “Comissão Coordenadora de Ajuda Técnica aos Municípios – CATEC, com a missão

de buscar, especialmente nos órgãos e autarquias federais, recursos técnicos e financeiros para

saneamento básico, abastecimento de água, luz, entre outras ações.”89 Emitiu apólices, reajustou

tributos e investiu contra os inadimplentes com o Estado. Dentre as suas ações coordenadas com o

Governo Federal estava o programa de geração de energia, com a construção das hidroelétricas de

Três Marias e de Furnas, a partir das quais se pôde ofertar energia para as empresas instaladas na

Cidade Industrial de Contagem e em outras localidades. Três Marias começou a operar em 1961 e

Furnas, dois anos depois.

um novo tempo na história do país

87 Revista O Cruzeiro de 07 de maio de 1960.88 Museu Virtual Brasil – Museu Virtual de Brasília. Site www.museuvirtualbrasil/museuvirtualdebrasilia.com.br - Escritório de Histórias.89 Os Governadores – História de Minas Gerais. Caderno especial do Jornal Hoje em Dia, Belo Horizonte, 2008. p. 175.

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

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Page 106: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

O fechamento da barragem de Três Marias trouxe mudanças principalmente para aqueles que teriam

suas terras inundadas. Eram fazendas que estavam localizadas numa vasta região ao longo da bacia

do Rio São Francisco e seus afluentes. Estradas desapareceram, comunidades ficaram isoladas e

até mesmo parte da história submergiu sob as águas da represa. “Quando fecharam a barragem de

Três Marias, à medida que as águas foram subindo o gado foi saindo para os lados, e os fazendeiros,

apertados, começaram a vendê-lo. Eu fui para a região, comprei gado e coloquei na estrada, trazendo

para vender aqui em Bom Despacho e em cidades vizinhas. Lembro-me de um fazendeiro que ficou na

casa da fazenda até a água subir dizendo que queira morrer. A água entrou e encheu a fazenda, mas os

vizinhos e familiares o salvaram”.90

Estradas como a antiga BR-3, atual BR-040, ligando o Rio de Janeiro a Brasília passando por Minas

Gerais, e a Fernão Dias, conectando Belo Horizonte a São Paulo, foram inauguradas por Bias Fortes,

ao lado de JK. Outras estradas de importância para o Estado, ligando a capital mineira às cidades

históricas de Ouro Preto, São João Del Rei e Sabará também mereceram atenção do governo estadual.

Além disso, Bias Fortes ofereceu créditos aos produtores rurais para a modernização da agricultura,

por meio da mecanização das atividades.

90 Flávio de Melo Queiroz. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 11 de janeiro de 2012, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

Inauguração de BrasiliaArquivo Público do Distrito Federal

- 102 -

tempos de desenvolvimento em todo o país

Page 107: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

A música de carnaval da década de 50, denominada “Vagalume”, de

autoria de Vitor Simon e Fernando Martins retrata alguns dos problemas

enfrentados não só pelo Rio de Janeiro, mas por quase todas as cidades

brasileiras naquela época.

“Rio de Janeiro

Cidade que nos seduz

De dia falta água

De noite falta luz.

Abro o chuveiro

Não cai nem um pingo

Desde segunda

Até domingo.

Eu vou pro mato

Ai! pro mato eu vou

Vou buscar um vagalume

Pra dar luz ao meu chatô.”

Mas o acelerado ritmo brasileiro de crescimento não foi acompanhado em todos os lugares e nem por

todos os municípios. Muitos deles perderam o bonde da história ou, como se diz no interior, perderam o

cavalo que passava arreado em única oportunidade. A telefonia era um grande problema nacional que

se estendeu até os anos 80, mesmo nos grandes centros urbanos. As empresas estatais, que detinham

o monopólio das telecomunicações, e as pequenas empresas privadas, não conseguiam atender às

demandas, mesmo com o financiamento por parte dos usuários que contribuíram, compulsoriamente,

com valores inseridos nas contas. Questões relacionadas à energia, água e esgoto não eram problemas

apenas das pequenas cidades brasileiras. O acelerado desenvolvimento nacional a partir de JK era

freado pela ainda frágil infraestrutura existente. Faltava energia, água tratada e sistema de esgoto e a

telefonia era de baixa qualidade, sendo o telefone um bem de alto valor que servia apenas às classes

sociais mais abastadas. Até mesmo a cidade do Rio de Janeiro, cartão postal do Brasil, sofria com o

problema. Com poucas realizações significativas na segunda metade dos anos 50, Bom Despacho

recebeu no dia 2 de agosto de 1959, já sob a gestão de Antônio Leite de Oliveira a instalação da

Companhia Telefônica de Bom Despacho, com quinhentas linhas e quatrocentos aparelhos telefônicos

instalados.

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

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Page 108: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

91 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias em 22 de junho de 2011, em Belo Horizonte (MG).

“A cidade era pequena, então a demanda também era pequena. Quando eu era menina,

o comércio tinha os armazéns e as casas de comércio. Tinha a Casa Seleta, a Casa

Assunção, que era mais tradicional, mas, mesmo assim, tinha uma certa mistura, por

exemplo, na Casa Assunção tinha tecido, presente de louça, ferramentas, variedades.

Para levar os produtos das fazendas para a cidade usava-se o carro de boi. O leiteiro

passava vendendo leite, gritando ‘leiteiro, leiteiro’ pela rua afora, as pessoas saíam

das casas e levavam as vasilhas. Vendia-se laranja em cima de burros, vendia-se

abacaxi, banana, outras frutas, alface, tomate, tudo era vendido assim. Depois vieram

as charretes. não tinha asfalto, então o carro de boi vinha ‘cantando’, passando pela

cidade. Quando chegou calçamento em Bom Despacho, o pessoal achava um progresso.

Na hora que chegou o asfalto, ô, maravilha! Quando chovia, a luz sumia. Tinha um

eletricista que morava na casa de força, para dar conta do serviço. Ainda tem a casa

conservada ali. Ele saía carregando a escada pela cidade, de poste em poste, mas o

povo nem estressava. Estávamos acostumados com as idas e vindas da energia, não

era motivo de aborrecimento. Se ele ia para uma fazenda e a cidade ficava sem luz, ele

arrumava na hora em que voltava. O telefone chegou em Bom Despacho há mais ou

menos 45 anos, mas a gente ficava ‘pelejando’, não dava linha toda hora. Tinha poucos

números na cidade e, para falar com Belo Horizonte, você chamava a telefonista e era

ela que fazia a ligação. Se fosse urgente, mandávamos telegrama, porque o telefone

demorou. O jornal de Belo Horizonte chegava pelo trem todos os dias, com certo atraso,

mas chegava. Depois, com o progresso, veio a televisão, que, na maioria das vezes, era

só ‘chuva’, não enxergávamos nada.”

Liliana Valadares Gontijo Fernandes 91

C A D E R n O D E M E M Ó R I A S

Page 109: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

As eleições de 1960 traçaram um novo cenário na vida política brasileira com a vitória nas urnas de Jânio da Silva Quadros, ex-governador de São Paulo, eleito pela coligação PTN-PDC-PR-PL e UDN, conseguindo a façanha de 5,6 milhões de votos, até então a maior da história, com uma

diferença de mais de 2 milhões de votos sobre marechal Henrique Lott do PSD, ex-ministro de JK. Com a eleição em separado, o vice-presidente era novamente João Goulart (PTB) que derrotou Milton Campos, da chapa de Jânio.

Jânio fez uma campanha de moralidade cujo símbolo era uma vassoura, que significava “varrer” toda a “sujeira” do país. Já em Brasília, lugar que ele detestava, começou a se movimentar cuidando prioritariamente de coisas supérfluas, entre elas, brigas de galo, censura à minissaia, etc. Atacou JK de todas as maneiras que pôde, talvez pelo fato de ter herdado do seu antecessor uma significativa dívida. Também fugiu ao controle da UDN e, principalmente, de seu maior expoente, o governador do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda. Atuou, no pouco tempo que esteve à frente do executivo (31/1/1961 a 25/8/1961), como se não tivesse partido. Em 25 de agosto, enviou ao Congresso, onde não tinha maioria, um bilhete em que expressava a sua renúncia tendo por porta voz o seu Ministro da Justiça, Oscar Pedroso Horta. Essa foi imediatamente aceita pela casa e instaurou-se uma crise política.

A reviravolta na política e o golpe civil-militar

Jânio Quadros em Bom Despacho com Nicolau Leite.Acervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

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Page 110: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

A UDN sentiu-se traída. Juntamente com outras forças que desde a queda de Vargas em 1945 vinham se organizando, tentaram evitar que o vice João Goulart, em viagem diplomática à China, tomasse posse. Do Rio Grande do Sul veio a Campanha da Legalidade92 e, um arranjo político foi costurado para que Jango tomasse posse. O regime presidencialista mudou para parlamentarista e Tancredo Neves foi escolhido primeiro ministro, permanecendo no cargo de setembro de 1961 a junho de 1962.93

João Goulart ganhou fama de comunista junto aos conservadores, sobretudo, por sua proximidade com os sindicatos e por ter dobrado o salário mínimo quando foi Ministro do Trabalho no governo Vargas. Em seu governo lançou as “Reformas de Base”, composta por: reforma fiscal, bancária, eleitoral, urbana, agrária e educacional, além de prever a nacionalização de setores de infraestrutura como energia elétrica e refino de petróleo, sendo este um dos primeiros entraves colocados por seus adversários no Congresso Nacional.

Em janeiro de 1963 um plebiscito determinou a volta ao presidencialismo e João Goulart passou a ocupar o cargo de presidente da República. Nos bastidores, começava a haver intensa articulação tanto na esfera militar como na esfera civil contra o governo Jango.

Desde 1961 Minas Gerais tinha por governador o experiente político e bem sucedido banqueiro José de Magalhães Pinto, natural de Santo Antônio do Monte, município a que um dia Bom Despacho pertencera. Ele era também um dos fundadores da UDN e inimigo político do ex-governador interventor Benedito Valadares, da vizinha Pará de Minas. As reformas propostas por Jango poderiam interferir não só nas pretensões políticas do governador, que almejava ser presidente, quanto em seus negócios como banqueiro. A frase “política

é como nuvem, muda toda hora”, cunhada por ele, era uma espécie de atestado de seus posicionamentos mutantes. Magalhães Pinto foi um dos que apoiaram o golpe civil-militar que depôs Jango, na esperança de ser ele o provável substituto.

Os mesmos atores que tentaram impedir a posse de Goulart, com o argumento de suspeita de um golpe à esquerda, se mobilizavam. Jango tentou se apoiar nos movimentos sindicais deixando de lado a articulação política mais ampla. No início de 1964, os militares alertaram sobre o comunismo dentro dos quartéis e à frente deste movimento estava o general Humberto Castelo Branco. Nas ruas dos grandes centros, a TFP-Tradição, Família, Propriedade, movimento de extrema direita ligado à igreja católica, colhia assinaturas contra o comunismo. O IBAD – Instituto Brasileiro de Ação Democrática, instituição formada por empresários, políticos e intelectuais de direita, fundado em 1959, depois de apoiar a eleição de Jânio, agrupou-se ao IPES – Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, e, juntos, se tornaram o braço civil do golpe que deporia o presidente.

Os ânimos se acirraram com o discurso de Jango no dia 13 de março de 1964 na Central do Brasil. No dia 20 a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” reuniu em São Paulo quinhentas mil pessoas reivindicando a saída de Jango. “A Marcha foi uma resposta ágil e direta ao comício feito por João Goulart e os seus partidários na estação Central do Brasil, no centro do Rio de Janeiro. Ele havia acabado de assinar o primeiro passo para a reforma agrária e o projeto que previa a encampação das refinarias particulares de petróleo.”94 No dia 31 de março, forças militares de Minas marcharam para o Rio de Janeiro e, em 2 de abril, diante da declaração da vacância do cargo de presidente, Jango estava deposto. Tinha início a ditadura militar que perduraria mais de vinte anos.

92 Articulada pelo então governador gaúcho Leonel Brizola, cunhado de Jango, que mobilizou mais de cem emissoras de rádio, convocando o povo às ruas para defender a constituição e a posse do vice gaúcho.

93 Tancredo foi sucedido por Brochado da Rocha, que ocupou o posto até setembro de 1962, sendo substituído por Hermes Lima, o último primeiro ministro do governo Jango.

94 Marcha com Deus pela Liberdade completa 47 anos. Jornal do Brasil, 20 de março de 2011.

- 106 -

tempos de desenvolvimento em todo o país

Page 111: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Em suas entidades, UNE, DCEs e DAs, os estudantes se organizavam

em defesa do governo e seu plano de reformas, mesmo com

críticas e discordando de alguns pontos. Além da política, entidades

como a UNE tinham programação cultural ampla que envolvia não

só os estudantes, mas também os intelectuais da época, músicos,

atores e outros artistas. Em Bom Despacho, um movimento estudantil

secundarista se formou espelhado no agitado e comprometido

movimento estudantil, sem, contudo, professar qualquer conotação

política. A ideia era despertar e promover atividades culturais, participar

de eventos em outros lugares e fazer intercâmbio com as demais

entidades estudantis do país, ampliando o então restrito cenário cultural

da cidade. Pediram autorização ao Dr. Nicolau Leite, diretor de colégio,

que se propôs a ajudá-los “Em 1962, juntamente com o Aécio Lobato,

o Fernando e o Itamar de Oliveira, nós fundamos em Bom Despacho a

União Municipal dos Estudantes Secundários. Depois, com o advento

da ditadura, a entidade foi murchando.”95 “O movimento estudantil

daqui tinha um jornal chamado O Escriba, fundado por mim quando fui

presidente da entidade. O movimento tinha tanta importância para a

cidade que na posse do presidente da União Municipal dos Estudantes,

todas as autoridades, o comandante, o delegado, o prefeito, o juiz, o

promotor, estavam presentes. O Cine Regina, onde foi realizado o evento,

ficou repleto de gente.”96

em Bom Despacho, os estudantes fundam entidade

95 Benjamim da Silva Sobrinho. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, no dia 20 de junho de 2011, em Belo Horizonte (MG). Texto editado.

96 Tadeu Antônio de Araújo Teixeira. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, no dia 28 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

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Page 112: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Posse de Joao Batista Figueiredo (detalhe)Acervo do Senado Federal

Page 113: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

A DITADURA MILITAR E OS seus reflexOs nA cIDADe

DE BOM DESPACHO

Page 114: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Os desejos de Magalhães Pinto, Carlos

Lacerda e até mesmo do próprio JK de

se candidatarem às eleições em 1965 se

frustraram diante das modificações inseridas

na Carta Constitucional brasileira pelos

militares. Até então, todos acalentavam sonhos

de restabelecimento das eleições diretas para

presidente da República. A primeira alteração

na Constituição veio com o Ato Institucional nº

1, que convocou o Congresso para eleger em 48

horas o novo presidente com amplos poderes,

além de autorizar cassações, suspensões de

mandatos e de direitos políticos. Começava

a caça às bruxas com prisões, torturas de

líderes estudantis, camponeses, sindicalistas

e cidadãos comuns. As cassações atingiram

também Jânio, Jango e JK. Centenas de

militares, assim como funcionários públicos,

foram aposentados ou exonerados e a lista

inicial de “inimigos”, passava de cinco mil

pessoas, crescendo nos anos seguintes quando

o regime se fecharia mais ainda com a volta da

Lei de Segurança Nacional e a predominância da

“linha dura” das Forças Armadas. Outros atos

institucionais foram editados posteriormente,

acabando com os partidos políticos. Começava

o tempo do bipartidarismo com a criação da

ARENA – Aliança Renovadora Nacional, e do

MDB - Movimento Democrático Brasileiro.

O AI-5, promulgado em dezembro de 1968,

consolidou a força do regime.

Num contexto de repressão e ditadura, há

sempre uma inversão de valores e todo e

qualquer cidadão se torna suspeito, até que se

prove sua inocência. Pessoas de Bom Despacho

também sofreram nos anos de chumbo, muitos,

provavelmente, nem sequer souberam que

eram investigados pelo Departamento de

Ordem Política e Social do Estado de Minas

Gerais. No arquivo do DOPS/MG, sob a guarda

do Arquivo Público Mineiro, existem em torno de

quinze pastas de documentos, de livre acesso,

sobre pessoas e entidades de Bom Despacho,

suspeitas e investigadas. Esse acervo tem seu

primeiro registro datado de 1933 e o último de

1974. Na década de 40, a investigação recai, em

sua maioria, sobre os alemães da Colônia David

Campista. As acusações registradas são de

montagem de rádio amador e outros materiais.

Dois deles são citados nominalmente. As prisões

estavam diretamente relacionadas à IIª Guerra

Mundial, ocasião em que alemães e italianos

residentes no Brasil foram severamente

investigados, presos e torturados. Documentos

dos anos anteriores registram suspeita de

subversivos ou comunistas que incitavam as

greves de ferroviários na cidade. A lista de

assuntos é longa e criativa, mesmo no período

de democracia, 1945 a 1964. A partir de 1964 as

investigações ganham cara nova com citações

mais específicas. “Sobre fundação e atuação

em Bom Despacho de associação e sindicato

dos trabalhadores da indústria de fiação e

tecelagem, e do sindicato dos trabalhadores

autônomos da lavoura”97 (Maio de 1964); “Sobre

movimento de jovens denominado ‘Roda Viva’,

em Bom Despacho (1974); os coordenadores

do movimento eram padres; nada se apurou de

concreto, mas havia suspeita de atividade de

aliciamento político do MDB.”98

97 Arquivo Público Mineiro. Fundo DOPS/MG. Pasta 3843.98 Arquivo Público Mineiro. Fundo DOPS/MG. Pasta 4369.

A ditadura militar e os seus reflexos na cidade

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Page 115: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Como a maioria das pequenas cidades brasileiras, Bom Despacho enfrentava dificuldades com

estradas em condições precárias impedindo a melhora do transporte rodoviário. Havia ainda

problemas com abastecimento de água e energia elétrica. Consequentemente, o desenvolvimento

da cidade ficava comprometido e deixava a desejar em relação às condições de vida e de trabalho dos

seus cidadãos. “Na década de 1960, a cidade tinha dado um impulso no dimensionamento de ruas e

avenidas, mas só começou a ter um plano um pouco mais elaborado a partir da década de 1970.”99 Com

todas as dificuldades de infraestrutura existentes, foi criada a cidade industrial de Bom Despacho,

conforme Lei 3.529, de 10 de novembro de 1965. Era uma maneira de tentar disciplinar a ocupação

do espaço urbano, ainda que, em médio prazo, a região industrial estivesse repleta de moradias no

seu entorno. O anúncio da criação do distrito industrial demorou mais de uma década, só ocorrendo

em 1977, após a chegada da CEMIG, com a solicitação à Prefeitura de área para abrigar pequenas

indústrias.100

As viagens para a capital eram feitas de trem ou de jardineira por estradas de terra que interligavam

Bom Despacho às cidades vizinhas. Somente em 1968, foi construída a estrada de rodagem BR-

262, ligando Vitória (ES) a Campo Grande (MS), cruzando de leste a oeste todo o estado de Minas e,

passando pelo município de Bom Despacho, há menos de três quilômetros do centro da cidade. Esse

empreendimento rodoviário, levado a termo pelo governo militar, trouxe desenvolvimento e mobilidade

para inúmeras cidades à sua margem. Bom Despacho ficou mais perto dos grandes centros, a começar

por Belo Horizonte, diminuindo em muito o tempo de viagem, além de propiciar conforto e segurança

aos viajantes. “A construção da BR-262 nos ligou a Belo Horizonte e ao Triângulo Mineiro. O asfalto

melhorou bastante a nossa vida e colocou Bom Despacho no mapa.”101

Na área educacional, a cidade parecia que ia deslanchar. A instituição da primeira faculdade102 veio com

a publicação da lei que autorizou a Fundação da Faculdade de Filosofia e Letras de Bom Despacho: Art.

1º - Fica o Governo do Estado autorizado a instituir com sede na cidade de Bom Despacho, a Fundação

Faculdade de Filosofia e Letras de Bom Despacho, entidade autônoma que se regerá por estatuto

aprovado em decreto do Governador do Estado. Um ano antes, haviam sido criados, também por lei103,

os Ginásios Industriais Estaduais em Bom Despacho. Mas, a realidade foi outra, nem a faculdade e

nem os ginásios saíram do papel.

Infraestrutura para o crescimento

99 Homero José do Couto. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 9 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado. 100 Jornal Bom Despacho, nº 14, de 1/1/1978. 101 João Batista F. de Andrade. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, no dia 9 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado. 102 Lei 3.903, de 22 de dezembro de 1965 e do Decreto 9.299, de 03 de janeiro de 1966. 103 Lei 4.025, de 28 de dezembro de 1965.

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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 116: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Em nível nacional, o país vivia o período que ficou conhecido como “anos de chumbo”. Durante o

governo do general Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), a economia cresceu a olhos vistos

no que ficou conhecido como “milagre brasileiro”, que se estendeu de 1968 a 1973, combinando

crescimento econômico com taxas relativamente baixas de inflação. Os investimentos feitos pelo

Estado se direcionaram para os setores de energia, siderurgia, petroquímica e construção naval. O

resultado foi surpreendente. O PIB, entre 1968 e 1973, passou de 10% ao ano, enquanto o consumo de

bens duráveis cresceu mais de 20% e o de bens de capital chegou a 18%. A inflação esteve presente

durante todo esse tempo, oscilando a taxas entre 15 e 18% ao ano. O período foi também beneficiado

por uma boa situação econômica mundial, além da grande expansão do comércio brasileiro com

o exterior. Outro fator importante foi o aumento da arrecadação de tributos, que contribuiu para a

redução do déficit público e da inflação.

Capela da Cruz do MonteFoto: Ricardo Avelar

A década de 1970 e as movimentações em Bom Despacho

A ditadura militar e os seus reflexos na cidade

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Page 117: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

104 Homero José do Couto. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, no dia 9 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

Mesmo diante de um governo autoritário e da ausência de liberdade,

com os veículos de comunicação sob censura, o país crescia e gerava

empregos. Em Bom Despacho, Antônio Leite de Oliveira que havia sido

prefeito entre 1959 e 1963, voltou para cumprir o “mandato tampão” de

1971 a 1973. Na sequência, foi eleito Geraldo Simão Vaz, que realizava o

seu segundo mandato, para depois Antônio Leite voltar e fechar a década

de 1970. Neste período, Bom Despacho conheceu o dinamismo em sua

administração com muitas conquistas, entre elas a chegada da CAF –

Cia. Agrícola e Florestal Santa Bárbara, a empresa de reflorestamento

da Cia. Belgo-Mineira, atual ArcelorMittal. Ela havia adquirido áreas em

Bom Despacho e Martinho Campos para plantar eucalipto e produzir

carvão vegetal para suas usinas. A CAF foi responsável por gerar

muitos empregos na região, formar mão de obra em silvicultura e levar

tecnologia de ponta na produção de carvão, utilizando grandes fornos

metálicos e retirando da fumaça o alcatrão, que foi consumido em suas

fábricas em substituição ao diesel. “A urbanização começou a chegar

e algumas empresas vieram para Bom Despacho, uma delas foi a CAF,

em que trabalhei por cinco anos. Bom Despacho começou a alavancar

seu desenvolvimento a partir da década de 1970, com mais pessoas

de carteira assinada, trabalho efetivo, e isto, acredito eu, foi um passo

importante para a cidade”.104

Decerramento de Placa Inauguração do Trevo Pará de Minas Acervo DnIT

- 113 -- 113 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 118: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

105 José Cardoso de Mesquita. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, no dia 10 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

106 Geraldo Pereira Vaz. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 8 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

Em termos de infraestrutura, a cidade recebeu a CEMIG, a COPASA

e a TELEMIG, ou seja, o que existia de melhor em termos de energia,

tratamento de água e telefonia. As obras, entre 1975 e 1980, podem

ser assim resumidas: implantação da rede de energia elétrica da

CEMIG, implantação de rede de abastecimento de água pela COPASA,

e estação de tratamento de água, em convênio com a Prefeitura,

construção de grupos escolares, sendo dois deles em convênio com a

Campanha de Recuperação e Reparos de Prédios Escolares (CARPE),

captação e distribuição de água na Vila do Engenho do Ribeiro a partir

de poços artesianos, posto do INSS, inauguração do novo cemitério,

entre outros. “Quando me casei não tinha água nem para escovar os

dentes. No meu vizinho havia uma cisterna de vinte e tantos metros que

nos servia. As três concessionárias, COPASA, CEMIG e TELEMIG foram

marcos importantes para a cidade.”105 Além disso, no campo social foi

criada a APAE, a ABAP (Associação Bom-despachense de Assistência e

Promoção) e o Rotary Clube. “O Rotary trabalha atendendo pessoas em

dificuldade. fazendo campanha agasalho, entre outras. Ele ajuda muito

os mais necessitados.”106

Rotary de Bom DespachoFoto: Ricardo Avelar

A ditadura militar e os seus reflexos na cidade

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Page 119: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

107 O Bom Despacho, n°23, 05/03/1978, p. 1. 108 Maria Adjara dos Santos. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias em 1º de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

Também houve uma grande perda para a cidade que há muito vinha sendo anunciada: o fim dos trens

em Bom Despacho no ano de 1978. O jornal O Bom Despacho anunciou a desativação dos serviços

ferroviários: “Segundo fonte muito segura, a notícia agora é verdadeira. Bom Despacho vai ficar sem

serviços ferroviários. Desde o dia 1º de março não corre mais trem de passageiros ou de carga. Pudemos

apurar que os funcionários da Rede Ferroviária Federal já estão indo embora. O trem de ferro se vai,

para nunca mais voltar. Deixa no perímetro urbano os cortes profundos, marcas também profundas de

um meio de transporte que foi o sucesso e o assombro, que fez a grandeza e a glória de uma pequena

cidade sertaneja, há 4 décadas atrás. As marias-fumaça barulhentas e corajosas jamais se apagarão

da memória de quem as viu subir bufando, valentemente, os aclives da Tabatinga e da Prata. Para a

Prefeitura Municipal pode ficar uma grande herança os terrenos e prédios da Rede Ferroviária, que irão

solucionar o problema da sede do Paço Municipal, Rodoviária, Biblioteca, etc.”107

“A rede ferroviária serviu muito a cidade. Aqui não tinha correio, o correio era o trem de passageiros,

a gente ia para estação para ver se tinha chegado uma carta. Também íamos para namorar, conhecer

pessoas novas. Aquele foi o melhor tempo em Bom Despacho. Até hoje, as famílias dos rodoviários

são muito unidas. O nosso armazém só tinha coisa de primeira, do bom e do melhor. Quando o trem

de ferro chegava, as carroças com os cavalos apareciam para carregar as malas até os hotéis em que

as pessoas se hospedavam. Tinha um soldado que ficava por conta só de olhar o movimento. Havia

uma senhora que a gente chamava de ‘madrinha’, esposa de um ferroviário que ficava com a mesinha

dela para vender biscoito e café para aqueles que estavam passando. Vinha muita gente bonita para a

cidade. A gente sentia uma alegria quando ouvia o apito da máquina! O melhor momento da minha vida

foi a época da Rede Ferroviária. Mudou muita coisa depois que os ferroviários foram para Divinópolis,

atrapalhou muito a nossa convivência.”108

Copasa de Bom DespachoFoto: Ricardo Avelar

- 115 -- 115 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 120: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Imagem aérea de Bom DespachoFotógrafo desconhecidoAcervo da Prefeitura Municipal de Bom Despacho

Page 121: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

AnOs 80: OrGAnIzAçãO PARA O DESEnVOLVIMEnTO

MUnICIPAL

Page 122: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

A ideia de que entre o velho e o novo sempre existe o movimento

de transição, de certo modo, pode descrever o contexto político

encontrado no Brasil, no início da década de 80. O processo de

abertura política, iniciado nos anos 70, durante o governo de Ernesto

Geisel, parecia conduzir o país rumo à constituição da Nova República.

Mas o percurso para a consolidação do fim do Regime Militar ainda

se mostrava longo, já que o movimento de transição perpassaria todo

o governo de João Batista Figueiredo (1979-1985). A fase do “Milagre

Brasileiro” estava encerrada e a conta aos poucos chegava, com a

inflação em alta, a queda do PIB e o aumento do desemprego e da dívida

externa, que se tornou o grande problema da economia. O Brasil perdeu

muitas reservas e o governo precisou recorrer ao FMI. De 1981 a 1983, o

PIB teve um declínio médio de 1,6% e começou a se desenhar um quadro

de estagnação econômica e inflação. A situação se complicou ainda

mais com a desvalorização da moeda frente ao dólar em 1983, e eram

claros os sintomas de uma recessão. As eleições diretas para escolha

dos governadores movimentaram o país. A vitória de opositores à

ditadura, que conquistaram governos em diversos estados, deixava claro

que o retorno das eleições presidenciais e o estabelecimento de uma

Assembleia Nacional Constituinte encontravam eco junto à população.

Impulsionados pela emenda do deputado Dante de Oliveira, que

propunha o retorno do voto direto para escolha do presidente, brasileiros

se reuniram em grandes concentrações realizadas em várias partes do

país, reivindicando a aprovação da emenda. O primeiro comício pelas

“Diretas Já” aconteceu na Praça da Sé, em São Paulo, no dia 25 de janeiro

de 1984, superando todas as expectativas de participação. Milhares de

brasileiros compareceram ao evento noutras capitais.

A derrota da emenda Dante de Oliveira, fez com que a eleição fosse

indireta e o colégio eleitoral escolheu Tancredo Neves, candidato da

oposição, para ocupar o cargo de Presidente da República, tendo como

vice, José Sarney. Em 1985, antes de tomar posse, Tancredo Neves

faleceu em decorrência de complicações de uma diverticulite. O governo

Sarney enfrentou muitas dificuldades na economia, devido a elevada taxa

inflacionária e a indexação da economia. Para tentar conter a inflação,

lançou mão de planos econômicos. O primeiro e mais conhecido deles,

O Brasil na década de 80

- 118 -

Anos 80: organização para o desenvolvimento municipal

Page 123: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

o Plano Cruzado, adotado em fevereiro de 1986, substituiu o Cruzeiro

pelo Cruzado, cortando três zeros, congelou preços e salários e instituiu

a tablita na intenção de desindexar a inflação futura. Não deu certo e a

crise econômica agravou-se ainda mais.

Em 1989, a esperança da realização de eleições diretas para a escolha do

novo presidente da República, determinadas pela Constituição de 1988,

animavam a população que sofria com a elevada inflação. As eleições

agitaram a cena política do país e foram marcadas pelo grande número

de candidatos e pela polarização político-ideológica entre o sindicalista

Luiz Inácio Lula da Silva, pertencente ao Partido dos Trabalhadores (PT),

e o ex-Governador de Alagoas, Fernando Collor de Mello, do Partido

da Reconstrução Nacional (PRN), que vieram a disputar o segundo

turno. Contando com o apoio do empresariado e dos maiores meios de

comunicação do país, Collor foi eleito com 53% dos votos.

Posse Fernando Collor em 1990Acervo do Senado Federal

- 119 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 124: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

De modo paradoxal, enquanto o país atravessava um período de crise, Bom Despacho vivenciava

expressivo crescimento urbano, caracterizado pela pavimentação das ruas de bairros e periferias.

Para além das conquistas estruturais, assim como o ocorrido em todo o país no início dos anos

80, o município se tornava palco de um intenso movimento de organização popular, que deu origem a

diversas associações de moradores e à fundação do Ipê Campestre Clube, um dos mais tradicionais de

Bom Despacho. Estabelecido em 1º de junho de 1980, o clube, além de oferecer atividades esportivas,

servia à realização de bailes e como palco para as apresentações de artistas vindos de outras cidades.

Os eventos costumavam reunir membros da alta sociedade do município. Paulino Cançado, um

dos sócios fundadores, ex-presidente e dono da cota de número 1, lembra que “as primeiras cotas

foram vendidas no valor equivalente hoje a quinhentos reais, chegando a ser comercializadas por até

cinco mil”109. Naquela época, frequentar os clubes era uma tradição adotada por muitas famílias,

que ali travavam convivência e desfrutavam de uma estrutura de lazer que não dispunham em suas

residências. Algumas famílias ainda preservam o costume, como é o caso de Paulino Cançado que,

orgulhoso, revela: “Meu filho é dono da cota de número 1001 do Ipê Campestre Clube.”110

A cidade se organiza

109 Paulino Cançado. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 2 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.110 Paulino Cançado. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 2 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

Ipê Campestre ClubeFoto: Ricardo Avelar

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Anos 80: organização para o desenvolvimento municipal

Page 125: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Os 75 mil metros quadrados, compostos por jardins, pomar, lago, pistas de corrida e kart, além do

centro poliesportivo, entre outros espaços de lazer, foi totalmente estruturado a partir das taxas pagas

pelos associados. Com o passar dos anos, os grandes eventos deram lugar às celebrações realizadas na

véspera de ano novo e às reuniões e bailes promovidos pelo grupo da terceira idade “Papo Ponto Zero”.

Criado há quatorze anos, o grupo é composto por vinte mulheres, com mais de cinquenta anos, que

decidiram realizar encontros a cada quinze dias, com a intenção de prosear e se divertir. São amigas de

infância que hoje estão viúvas, separadas ou casadas, que concedem a si mesmas a prazerosa tarefa de

compartilhar experiências e memórias por algumas horas. Os encontros ocorrem, com frequência, nas

casas delas, como descreve Ordália Ferreira Pessoa Melo: “Cada encontro é na casa de uma mulher e

fazemos uma programação anual. A gente já faz a programação do ano. Por exemplo, eu já sei em qual

dia que eu vou oferecer o meu jantar. Aí vem todo mundo aqui para casa, têm as brincadeiras, a gente

deixa uma mensagem e trocamos presentinhos”.111 Ordália conta que, seguindo o modelo do “Papo Ponto

Zero”, outros grupos começaram a proliferar em Bom Despacho, parecendo indicar a vontade que os

cidadãos do município sentiam em retomar a própria história, revivendo fatos transcorridos no passado.

“ MUDAnçAS COM O PASSAR DO TEMPO”

O clube do Ipê permanece em funcionamento até os dias atuais, com aproximadamente 1.500 associados.

111 Ordália Ferreira Pessoa Melo. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 27 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

Page 126: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Na intenção de reconhecer as origens e a trajetória dos negros que

viveram na região, em 1981 foi realizado o primeiro registro de um terreiro

de umbanda, localizado na comunidade da Tabatinga112. A valorização

da cultura popular veio acompanhada do estabelecimento de um novo

órgão administrativo e do crescimento industrial do município. Em 1982,

a ênfase concedida pelo governo à arrecadação de impostos diretos113

possibilitou o estabelecimento do Núcleo de Fiscalização da Administração

Fazendária II (AF/II), em Bom Despacho, vinculado à Secretaria do Estado

de Fazenda114. O núcleo atendia também aos municípios de Abaeté,

Dores do Indaiá, Lagoa da Prata, Araújos, Moema, Biquinhas, Cedro do

Abaeté, Martinho Campos, Morada Nova de Minas, Paineiras, Estrela do

Indaiá, Luz, Quartel Geral, Japaraíba e Serra da Saudade. Ao mesmo

tempo em que o município passava a contar com um órgão fiscalizador, a

Cooperativa Agropecuária de Bom Despacho (Cooperbom) experimentava

um expressivo aumento da capacidade de produção de sua usina.

A Cooperbom ampliava a carta de produtos ofertados, passando a

executar a pasteurização e industrialização de manteiga, requeijão,

queijos, e, posteriormente, muçarela.

112 Informação extraída de entrevista concedida por Sebastiana Geralda Ribeiro ao Escritório de Histórias no dia 07 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG).

113 Instituto de pesquisa e economia aplicada. Uma análise da carga tributária no Brasil, p. 6.114 A Administração Fazendária, responsável por recolher os tributos estaduais do município, foi estabelecida em Bom Despacho em 1912, com o

nome Coletoria Estadual. Em 1973 se tornou Unidade Distrital da Fazenda, e em 1977, Administração Fazendária I.

Congado em Bom DespachoAcervo Mundovirado

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Anos 80: organização para o desenvolvimento municipal

Page 127: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

“nasci em Carmo da Mata, em 1943, município de Itapecerica, e vim para Bom

Despacho aos quatro anos de idade, quando meu pai veio trabalhar na fazenda da

Ressaca, do Dr. Miguel. Lá eu me criei, ia buscar os bois no pasto, amansava e vinha

montado. Com cavalo também, o meu dom era mexer com animais. Quando tinha uns

catorze anos, mudamos para a cidade. Fui trabalhar como ajudante de eletricista, e

depois na Companhia Telefônica. E num sábado, estávamos trabalhando quando

surgiu o primeiro rodeio aqui em Bom Despacho, com a tropa do Zé Capitão. Saímos do

trabalho direto para o rodeio, cheguei e montei em um cavalo. Eu era tão pobre que não

tinha uma botina para calçar. Estava descalço e não podia, os colegas me arrumaram

uma botina empestada. Montei e aguentei muito pulo, achei bom demais o rodeio! E

como ganhei, naquele tempinho ganhei quase três vezes o que eu recebia por semana

no serviço na Companhia. Quando o Zé Capitão me falou pra eu ir trabalhar com ele

no rodeio, me animei e fui. Primeiro, para Divinópolis, depois para o Rio de Janeiro,

onde eu montei demais, eram três cavalos no sábado e três no domingo! Fui ficando

bom e viajando para os rodeios no país todo, Mato Grosso, Paraná, Goiás, Rio Grande

do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas, todo canto. Teve temporada que ganhei 156

campeonatos! Deus me ajudou e eu melhorei de vida com o rodeio, pude ajudar minha

mãe. Em Barretos, fui campeão por dois anos e meu nome está lá, registrado. Hoje, não

monto mais, mas gosto de ir ver os rodeios, é bonito demais! Sempre morei em Bom

Despacho, viajava para os rodeios e voltava, meus pais viviam aqui.”

Benedito Alves, o Bené Peão 115

C A D E R n O D E M E M Ó R I A S

115 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias em 07 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

Page 128: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Refletindo o panorama encontrado em diversos municípios do país, em 1982, Bom Despacho

contava com um sistema educacional formado, predominantemente, por escolas rurais, limitadas

tanto em estrutura, quanto em organização. Foi nesse ano que o prefeito do município, Antônio

Leite de Oliveira, convidou Zeni Hamdan, que atuava na Delegacia Regional de Ensino, para assumir a

diretoria do Departamento de Educação, como narra a própria educadora: “Eu estava trabalhando na

Inspetoria. O Sr. Antônio, que era o prefeito, mandou me chamar aqui em casa para saber se eu poderia

assumir a direção do departamento. Eu expliquei para ele que isso seria acúmulo de cargo e que eu não

poderia fazê-lo. A solução veio quando ele solicitou à Delegacia Regional de Ensino, que eu ficasse um

horário na Inspetoria e outro horário no Departamento de Educação”.116

Na posição de diretora do Departamento de Educação Zeni se sentiu desconfortável ao se deparar com

um sistema de gestão com foco administrativo e burocrático. “O trabalho estava limitado a controlar a

frequência do professorado e dos alunos, entregar o material didático, giz, livros, diários.”117 Buscando

implementar uma gerência voltada para a formação de professores e alunos, no decorrer de 1982 a

educadora iniciou uma intensa rotina de visitas a aproximadamente 22 escolas rurais do município.

Nessas visitas, viu diante de seus olhos a difícil realidade enfrentada pelos educadores que se

dedicavam a ensinar as crianças de Bom Despacho: “Eu encontrei professoras heroínas, trabalhando

com quatro séries juntas, mas com muita criatividade, dinamismo e amor. A pobreza de recursos

chamava a atenção: era fogão escorado com tijolos, escola sem porta, o gado entrando na sala de aula,

carteiras muito estragadas, carteiras empilhadas, encostadas nos cantos das paredes. Mas o trabalho

delas era louvável, porque aproveitavam tudo, mesmo aquelas paredes sem reboco, sem pintura, sem

nada, eram enfeitadas por cartazes bonitinhos, chamativos para os alunos”.118

O cuidado com que os educadores mantinham o ambiente em que lecionavam podia ser verificado em

diversos centros educacionais. A escola do Pulador era referência pela limpeza. As escolas do Mato

Seco e da Passagem contavam com três professoras cada – dedicadas às turmas de primeira, segunda,

terceira e quarta séries, e eram exemplos de organização. Destacando-se das demais escolas, a escola

da Passagem possuía plantações de laranja e mandioca, que eram desfrutadas pelos próprios alunos.

Todavia, a expressiva dedicação de alguns professores às instituições de ensino em que atuavam,

esbarrava nas irregularidades encontradas em outras escolas. Como o caso de duas instituições, onde

professores e serventes, apesar de remunerados, não exerciam suas atividades.119

O sistema educacional de Bom Despacho

116 Zeni Hamdan. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 03 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.117 Zeni Hamdan. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 03 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.118 Zeni Hamdan. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 03 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.119 Zeni Hamdan. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 03 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

- 124 -

Anos 80: organização para o desenvolvimento municipal

Page 129: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

A longa e exaustiva jornada de visitas forneceu

a Zeni um grande volume de informações que,

articuladas, começavam a tornar mais claro

o panorama das escolas de Bom Despacho.

Assim, com base nos dados obtidos, começou

a ser realizada uma reforma educacional no

município. Para a alocação dos profissionais,

foi respeitado o tempo de serviço prestado.

Para capacitar os educadores foram oferecidos

cursos, treinamentos e palestras. No espaço

do campo de aviação, foi estabelecida a creche

Maria Auxiliadora II, anexa a Associação Bom-

despachense de Assistência e Promoção

(ABAP), que já mantinha a creche Maria

Auxiliadora I. As escolas foram incentivadas a

criar hortas próprias para o cultivo de legumes

e hortaliças como cenoura, couve, alface e

mandioca. A intenção era que cada instituição

pudesse produzir os alimentos utilizados

na merenda escolar. Além disso, por meio

da doação de livros pela biblioteca pública,

cidadãos e professores, foi criada a biblioteca

itinerante, que percorria as escolas do município.

Entretanto, para que os livros permanecessem

Escola Municipal Coronel PraxedesFoto: Ricardo Avelar

no período de um mês na instituição visitada, era

solicitado aos alunos que apresentassem uma

peça teatral. Deste modo, a ação aproximava os

estudantes, simultaneamente, dos universos da

literatura e do teatro. Zeni Hamdan permaneceu

na direção do Departamento de Educação até o

fim de 1983, no término do mandato do prefeito

Antônio Leite de Oliveira.

Selo comemorativo do centenário da Escola Municipal Coronel Praxedes

- 125 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 130: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Devido às grandes greves ocorridas entre 1978 e 1979, e à constituição de partidos por lideranças

sindicais, o sindicalismo cresceu em todo território nacional. O movimento sindical ressurgia adotando

formas independentes do Estado, a partir, muitas vezes, da vivência no interior das empresas onde os

trabalhadores organizaram e ampliaram as comissões de fábrica. O eixo mais combativo se deslocou

das empresas públicas para a indústria automobilística, que tinha sido um setor pouco atuante até

1964. Corroborando para a organização dos sindicatos, em 1981, foi realizada a Conferência Nacional da

Classe Trabalhadora (Conclat). O evento possibilitou o encontro de representantes sindicais, tornando

evidentes as diferentes correntes de pensamento dos grupos que compareceram ao encontro. Mais

tarde, as diferenças identificadas resultariam na constituição da Central Única dos Trabalhadores

(CUT), em 1983; e na Central Geral dos Trabalhadores (CGT), em 1986. Estabeleceram-se assim duas

centrais sindicais no país, com perspectivas opostas que, ao longo dos anos, iriam se defrontar.

Em 12 de janeiro de 1984, estabeleceu-se em Bom Despacho o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias

da Extração de Madeiras e da Lenha de Bom Despacho, filiado à Federação dos Trabalhadores das

Indústrias Extrativas do Estado de Minas Gerias (FTIEMG), que na década de 1980, iniciou a organização

das primeiras associações de extração de madeira e lenha, florestamento e reflorestamento. O

sindicato atuava também nos municípios de Abaeté, Martinho Campos e Quartel Geral. Sua criação

provavelmente está relacionada ao crescimento da organização sindical, tanto rural quanto urbana,

ocorrida em todo o país.

“ SInDICALISMO nO BRASIL”

no final dos anos 70, período marcado pelo início do processo de abertura política, os trabalhadores começaram a reivindicar melhorias, como aumento de salários, garantia de emprego e reconhecimento das comissões de fábrica.

Page 131: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Foi também em 1984 que o 88º Grupo Escoteiro (88° GE/MG)

estabeleceu-se em Bom Despacho. As lembranças dos primeiros

escoteiros do município confrontam os arquivos oficiais do Grupo.

Segundo relatos orais, o 88° GE/MG teria sido fundado em 1950, estando

vinculado ao 7° Batalhão de Polícia Militar e comandado pelo Tenente

Faria. Já os arquivos revelam que ao ser fundado em 1984, recebeu a

denominação 88° GE/MG, concedida pelo 44° Grupo Escoteiro Frei Leão

Rodrigues, que apadrinhou os escoteiros de Bom Despacho. Nesse

mesmo ano foram escolhidos os primeiros ocupantes dos cargos de

presidente e chefe do 88° GE/MG, Joaquim Neves Costa e Jorge Itabajara

de Moraes, respectivamente. A princípio, a sede do Grupo localizava-se

na Avenida das Palmeiras, no prédio em que funcionou o Tiro de Guerra.

Após algum tempo, a sede foi transferida para a Rua Olegário Maciel

– nesse período, as reuniões semanais eram realizadas no Parque de

Exposição do município. Finalmente, em 1993, a sede foi remanejada

para o 7° Batalhão da Polícia Militar, onde permanece até os dias atuais.

Os escoteiros

Sede do 88º Grupo Escoteiro em Bom Despacho.Foto: Ricardo Avelar

- 127 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 132: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

O livro foi produzido após o sucesso obtido por uma publicação anterior escrita pelo general, em 1901,

denominada “Aids to Scouting”, que tinha como público-alvo os soldados do exército, mas estava sendo

utilizado na educação de rapazes em ambiente escolar. No livro “Escotismo para Rapazes”, B-P discorre

acerca das experiências obtidas ao longo da carreira militar, concedendo orientações aos jovens sobre

práticas de sobrevivência na selva, e na promoção da educação por meio da exaltação dos valores éticos

e morais, do altruísmo e do trabalho. Influenciados pelas ideias de B-P, membros do exército brasileiro

que se encontravam na Inglaterra, ao retornarem para o Brasil, por volta de 1910, trouxeram, além de

uniformes de escoteiro, o desejo de disseminar as práticas escotistas no país. O escotismo se expandiu

no Brasil de forma significativa, chegando a ser adotado como proposta educativa governamental.

Apesar de menos citadas, mulheres sempre integraram o movimento escotista, desde sua fundação,

sendo chamadas de bandeirantes. A distinção se limita somente à nomenclatura, pois as atividades

desenvolvidas por ambos os sexos são as mesmas120. A frase “uma vez escoteiro, sempre escoteiro”,

revela um dos principais preceitos morais do movimento, que vê seus membros como eternos escoteiros.

Dentre as peculiaridades que envolvem os grupos de escotismo, há o cumprimento, sempre realizado

com a mão esquerda.

“ umA Vez escOteIrO, SEMPRE ESCOTEIRO”

O escotismo se tornou conhecido mundialmente por meio do livro “scouting for Boys” (escotismo para rapazes), escrito pelo general inglês lord robert stephenson smyth Baden-Powell– conhecido como (B-P) –, em 1908.

120 Marcelo Ferry. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 09 de março de 2012, em Bom Despacho (MG). Texto editado

Page 133: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Muitos cidadãos de Bom Despacho têm sua trajetória vinculada ao 88°

GE/MG, já que algumas dessas pessoas cresceram dentro do movimen-

to escotista, que associa crianças a partir dos seis anos. Já após os três

primeiros meses da associação, o escoteiro participa de uma cerimônia,

em que deve recitar a promessa do movimento – adotada mundialmen-

te –, diante dos membros do grupo: “Prometo pela minha honra fazer

o melhor possível para cumprir meus deveres para com Deus e minha

pátria; ajudar ao próximo em toda e qualquer ocasião; obedecer a lei do

escoteiro.” Na intenção de facilitar a compreensão da promessa, em

diversas ocasiões costuma-se adaptar o texto de acordo com a idade do

escoteiro. Mas essa tarefa sempre é realizada com o cuidado de preser-

var o conteúdo da mensagem.

Considerada a representatividade do grupo para os cidadãos de Bom

Despacho, em 1988, o 88° GE/MG foi declarado organização de utilidade

pública, a partir do Decreto da Lei n°61/88. Atualmente o grupo con-

ta com duas alcateias de lobinhos; uma tropa de escoteiras; uma tropa

mista de sênior/guia; um clã pioneiro e uma equipe de adultos (escotis-

tas, dirigentes, membros em comissões, pais e colaboradores), somando

137 membros.

General Baden-Powell.Fonte: George Grantham Bain Collection

- 129 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 134: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Inspirado nos típicos festivais de música brasileira, promovidos por

emissoras de rádio e redes de televisão - com expressiva repercussão

nas décadas de 60 e 70 -, o Festicanto teve início em 1984 e findou

quatro anos depois. O festival movimentou a cena cultural do município,

com apresentações de diversos artistas nacionais e de talentos de Bom

Despacho. O evento, que concedia prêmios em dinheiro distribuídos em

diversas categorias, tinha como palco o antigo Cine Regina, localizado

na Praça da Matriz. Para julgar as apresentações, eram convidadas

pessoas ligadas à cultura, tanto no município quanto em Belo Horizonte.

A distribuição de cartilhas com as letras das canções levava a plateia a

cantar em uníssono as composições ainda inéditas.

O Festicanto e o teatro

Photos

- 130 -

Anos 80: organização para o desenvolvimento municipal

Page 135: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

A segunda edição do Festicanto ocorreu de 20 a 22 de dezembro de

1985. A terceira só seria realizada em 1987. Nessa época, o evento

era totalmente organizado pelo Centro de Arte e Cultura. O centro

era constituído por pessoas do município interessadas em fomentar

atividades culturais. Naquele ano, o evento contou com a participação

de Cid Ornelas. O último festival da canção de Bom Despacho ocorreu

em 1988, e ficou marcado pela presença de Maurício Tizumba, que fez

um show em comemoração aos cem anos da abolição da escravatura.

O evento contou também com as apresentações de Belchior, Celso

Adolfo, Victor Anton, e da cantora mineira Titane.

Além do Festicanto, nos anos 80 também surgiu na cidade de Bom

Despacho o grupo teatral Porta Aberta. Sob a direção do ex-funcionário

do Banco do Brasil Maurício Antunes, o grupo foi criado em 1980 e levou

aos cidadãos do município a oportunidade de assistirem a marcantes

apresentações de peças de teatro. Como a que iniciou a sequência de

espetáculos, baseada na música Construção, de Chico Buarque. “O

texto falava um pouco da vida do trabalhador, inclusive com fotos da

cidade, da época em que surgiram os primeiros prédios mais altos. A

peça fez muito sucesso, o texto era muito bonito, cantávamos muitas

músicas. O texto começava assim: ‘todo dia ela faz tudo sempre igual’.

Depois, a própria música Construção. Era um teatro cantado”. 121 Ainda

fizeram parte do currículo de apresentações do grupo Porta Aberta os

textos de “Auto da compadecida”, de Ariano Suassuna e a obra infantil

de Sylvia Orthof, “A Viagem de um barquinho”. À época, não era cobrado

ingresso para as sessões que lotavam o salão São Vicente, mas em

muitas ocasiões, pedia-se que os espectadores levassem doações de

alimento que, posteriormente, eram encaminhadas às instituições de

caridade. Durante a década de 80, o grupo levou suas apresentações

aos municípios vizinhos, como Dores do Indaiá e Formiga.

121 Roniere Silva Menezes. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 22 de março de 2012, em Belo Horizonte (MG). Texto editado.

- 131 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 136: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Em um ano de incertezas, ancoradas na esperança de que o Plano Cruzado geraria resultados

positivos, foi instalado em Bom Despacho o órgão da Defensoria Pública, que passava a

conceder aos cidadãos de baixa renda, a possibilidade de acesso à assessoria jurídica. Em

1986 foi instalada na cidade uma agência da Previdência Social e uma unidade de apoio do Serviço

Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). A unidade, localizada na Praça Matriz, no mesmo

prédio da Associação Comercial de Bom Despacho (ACIBOM), iniciou suas atividades ofertando

cursos de capacitação profissional, datilografia, vendas, auxiliar de escritório, cabelereiro, manicure,

secretariado, atendente hospitalar, entre outros. O Senac ainda oferecia cursos de reciclagem com

foco em marketing, comércio e competitividade, voltados para empresários. Após alguns anos, a

unidade de Bom Despacho foi fechada, e, com isso, a demanda pelos cursos ofertados no Senac foi

transferida para a unidade de Divinópolis.

O deslocamento para as cidades vizinhas e também para localidades mais distantes foi facilitado

após a inauguração, em 1988, do terminal rodoviário de Bom Despacho, durante a gestão do prefeito

Célio Luquine. Projetado por Júlio Araújo Teixeira, o terminal foi construído na área da antiga estação

ferroviária, localizada na Praça Olegário Maciel. A edificação foi desenvolvida de modo a integrar o

conjunto arquitetônico da praça, dando origem a mais um dos cartões postais do município.

O comércio e o transporteinterligam a região

Terminal RodoviárioFoto: Ricardo Avelar

- 132 -

Anos 80: organização para o desenvolvimento municipal

Page 137: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Aproximadamente 49 cavaleiros e amazonas, se reuniram diante da casa de Benedito Alves,

popularmente conhecido como Bené Pião, para realizarem uma romaria até o túmulo de padre Libério,

localizado no município de Leandro Ferreira. A cavalgada partiu de Bom Despacho às seis horas,

do dia 30 de setembro. A manifestação religiosa iniciada em 1989 se tornaria um evento de grande

expressão da crença popular, na década seguinte. Libério Rodrigues Moreira nasceu no município de

Santa Prata, em 30 de junho de 1884. Ainda jovem, descobriu sua vocação para a vida religiosa, entrou

para o seminário de Mariana com apenas 22 anos, e foi ordenado no ano de 1916. Falecido em 1980,

os relatos de obras e milagres realizados pelo padre o tornaram conhecido como santo, na região

Centro-Oeste de Minas Gerais, tornando seu túmulo uma das principais atrações turísticas do município

de Leandro Ferreira. A influência exercida pelo religioso pode ser percebida nas diversas produções

culturais relacionadas à sua vida, como o filme “Vida de Padre Libério”, realizado por uma produtora de

Nova Serrana, e os livros “Caminhada de santidade: Breve história do Padre Libério”, escrito por Zeni

Hamdan, e “Santo da Nossa Fé: Origens e histórias do clero”, de João Batista Silva. Após a sua morte,

foi enviado ao vaticano o pedido de beatificação do padre. Mas para abertura do processo, é necessário

que devotos relatem os casos sobre os possíveis milagres realizados por esse religioso.

“ A FORçA DA Fé”em 1989, uma manifestação religiosa marcou a cidade.

Cavalgada da FéFotógrafo desconhecidoAcervo da Secrétaria Municipal de Cultura de Bom Despacho

Page 138: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Congado em Bom DespachoAcervo Mundovirado

Page 139: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Os AnOs 90: VAlOrIzAçãO DA CULTURA LOCAL

Page 140: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

no ano de 1990, Fernando Collor de Mello iniciava o seu mandato

com o desafio de reorganizar a economia brasileira, mergulhada

na espiral inflacionária que atingira nos anos anteriores a marca

de 980% (IPCA-IBGE). Tão logo tomou posse, Collor e seus Ministros

anunciaram o controverso plano econômico Brasil Novo, popularmente

conhecido como Plano Collor. O plano combinava liberação fiscal com

medidas radicais para a estabilização da inflação, entre elas o confisco

dos ativos do país, bloqueando as contas da poupança por dezoito meses

e limitando os saques nas contas correntes em 50 mil. Além disso,

indexou os impostos e o congelou preços e salários. A moeda deixou

de ser Cruzado Novo, voltando à sua antiga denominação de Cruzeiro.

O resultado foi desastroso: poucos meses após a instauração do plano

a inflação continuou a crescer, chegando ao final do ano com a taxa

acumulada de 1.620% (IPCA-IBGE), e o congelamento provocou uma

forte redução no comércio e na produção industrial. O mercado sentiu a

falta de dinheiro para honrar os compromissos, todas as áreas passaram

a sofrer com as complicações do Plano, houve quebra de empresas e, o

cidadão poupador, foi severamente atingido.

Em 1992, denúncias de corrupção feitas pelo irmão do presidente, Pedro

Collor, sobre um esquema de tráfico de influências, levaram à instalação

de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que culminou no

processo de impeachment de Fernando Collor. Sua renúncia levou à

presidência o seu vice, o mineiro de Juiz de Fora, Itamar Franco.

Entre os enormes desafios, o novo ocupante do Palácio do Planalto

precisava enfrentar, além da inflação, o temor de que a recente

democracia não sobrevivesse ao impeachment de seu antecessor. Itamar

procurou realizar uma gestão sem turbulências, e, para isso, buscou o

apoio de partidos mais à esquerda. Cumprindo a Constituição, em abril

de 1993, realizou um plebiscito para a escolha da forma de governo a ser

implementada no país, cuja vitória coube à República Presidencialista.

Para tentar conter a inflação e conduzir melhor a economia, Itamar

nomeou Fernando Henrique Cardoso como ministro da Fazenda. O

novo ministro e sua equipe lançaram então, em 1993, o Plano Real,

que fez surgir não só uma nova moeda, como também foi responsável

O Brasil nos anos 90

- 136 -

Os anos 90: valorização da cultura local

Page 141: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

por estabilizar a economia do país. Os autores

do Plano tiveram a sabedoria de criar uma

moeda provisória, o Cruzeiro-Real, e de tirar

progressivamente a inflação indexada da

economia. Em 1994, o Plano foi concluído, a

moeda passou a ser o Real com paridade ao

dólar, que na ocasião valia Cr$2.750,00. O

sucesso do plano econômico serviu de alavanca

para que Fernando Henrique se elegesse

Presidente da República, pelo PSDB, para o

mandato iniciado em 1995.

Em 1995, a inflação acumulada ao longo

de todo o ano já alcançava patamares bem

menores, atingindo a taxa de 14,7%. Com essa

queda, novos hábitos foram incorporados ao

comportamento da sociedade brasileira, que

foi deixando de estocar alimentos e, por força

de leis, retirando dos contratos e dos preços a

indexação de valores futuros. Além da queda

da inflação, o primeiro mandato de Fernando

Henrique foi marcado pelas privatizações:

de 1995 a 1998, oitenta empresas públicas

passaram para o controle da iniciativa privada.

O seu governo foi tão bem aceito pela população

que, nas eleições de 1998, FHC foi reeleito no

primeiro turno.

Naquele ano o Brasil conseguiu ter a menor

inflação anual depois de décadas, 1,65%, o que

causava surpresa na população, habituada a

conviver com elevadas taxas inflacionárias.

O Brasil também progrediu em outras áreas.

O cinema brasileiro, por exemplo, teve uma

retomada a partir de 1993, com a promulgação

da Lei do Audiovisual. Além disso, algumas

prefeituras - como a paulistana e a carioca - e

governos estaduais, também passaram a apoiar,

de várias formas, a produção cinematográfica.

O crescimento foi bastante significativo, em

1995 dez longas foram produzidos no país,

número que saltou para 24, três anos depois.

No esporte foram três medalhas olímpicas em

1992, e quinze nas Olimpíadas de Atlanta, em

1996. O Brasil conquistou ainda, nessa década,

títulos mundiais em futebol e basquete.

Posse Fernando Henrique Cardoso em 1995Acervo do Senado Federal

- 137 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 142: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Em Bom Despacho, a cultura popular ganhou incentivo nos anos 90. A Cavalgada da Fé, realizada

em 1989, provocou tanto entusiasmo em seus organizadores que, ao retornarem ao município,

convidaram todos os participantes a realizarem a cavalgada no ano seguinte. A aproximação

entre amazonas e cavaleiros tornou possível a constituição do Clube de Cavaleiros, em abril de 1990,

com o objetivo de promover romarias e oferecer atividades de esporte e lazer à população. Mas,

para realmente começar a atuar, o grupo precisava construir uma sede, que foi viabilizada a partir

de parceria entre o clube, a prefeitura e o sindicato rural de Bom Despacho. A organização do grupo

gerou resultados: a segunda edição da Cavalgada da Fé, realizada em trinta de junho122 do mesmo ano,

contou com 300 participantes. Desde então, a cavalgada tornou-se anual sempre no mês de junho e,

nos últimos anos, estima-se que 1.500 a 2.000 cavaleiros participem do evento, além das centenas de

pessoas que acompanham em seus veículos.123

Além das ações ligadas à religião, no final dos anos 80 e início dos anos 90, outras atividades culturais

começaram a surgir na cidade. Um exemplo foi a Feira do Livro do município, ocorrida pela primeira

vez em 1989, promovida pela Fundação Cultural de Bom Despacho. O evento reuniu autoridades da

cidade, como o prefeito José Cardoso de Mesquita, além de professores, estudantes e escritores de

Brasília e Belo Horizonte, que participaram de palestras e do lançamento de livros. Apesar da grande

aceitação popular, o evento só voltou a ocorrer nos anos de 1997, 1998 e 1999, sendo interrompido em

2000, em função das eleições municipais.

Nesse período, a produção musical em Bom Despacho também cresceu. Logo em 1990 foi criado o

coral Voz e Vida, um dos grandes orgulhos da cidade. O coral regido pelo maestro Nivaldo Santiago

faz parte do projeto “Crescendo com a Música”, desenvolvido pela Aliança Bondespachense de

Assistência e Promoção (ABAP). Esse projeto tem por objetivo promover a educação musical de

crianças e beneficia, atualmente, cerca de 100 jovens. Em 1991, a população do município também viu

surgir a Corporação Musical Nossa Senhora do Bom Despacho, fundada pelo músico e alfaiate João

Honório. “A Corporação foi criada com o objetivo de divulgar a música, ir em busca de novos talentos e

participar de festas na cidade”124.

Desenvolvimento cultural em Bom Despacho

122 Data do aniversário de padre Libério.123 Informação retirada da revista Bom Despacho 96 anos. 2008. 124 Mário Domingos. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 30 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

- 138 -

Os anos 90: valorização da cultura local

Page 143: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Durante a gestão do prefeito José Cardoso de Mesquita (1989-1992) foi

criada a Lei Municipal de Incentivo a Cultura125, que pode ter contribuído

para a realização de eventos culturais na cidade. Em 1989, por exemplo,

foi realizada a I Expoarte, Exposição de Arte Infantil, realizada pelo

Museu da Cidade (MdC). O evento marcou a década de 90, com duas

edições em âmbito nacional, que contaram com mais de mil trabalhos

de crianças de todas as regiões do Brasil. “Bom Despacho foi a primeira

cidade brasileira a promover uma exposição nacional de arte infantil

– acontecimento que repercutiu nos pontos mais diversos do país,

desde Belém, no Pará, e São Luís, no Maranhão, até Curitiba, capital do

Paraná, e Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, como revelam os arquivos

do Museu da Cidade”126. Nos anos seguintes o evento continuou a ser

realizado, sendo interrompido em 1992. No entanto, a Expoarte voltou a

ser realizada em 1998, obtendo um resultado muito positivo, motivando

a Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais a editar um catálogo

com o acervo das exposições. Atualmente, a Expoarte se tornou um

evento anual, promovido pelo Museu da Cidade.

Ampliando a participação em eventos do gênero, o MdC criou a

Exposição de Arte e da Juventude. Para atender ao grande volume de

estudantes que se interessam em participar das mostras, as escolas

são incentivadas a promover miniexposições, para que, assim, todos os

trabalhos sejam divulgados, já que o espaço do museu não é capaz de

atender toda a demanda. Hoje o museu tem possibilitado a realização de

diversas atividades culturais no município, apesar das dificuldades que

enfrenta, como falta de funcionários, limitação e adequação do espaço,

escassez de verba, dentre outras.

125 Ainda hoje não foi regulamentada. In: GUERRA, Jacinto. Gente de Bom Despacho: Histórias de quem bebe água da biquinha. Brasília: Theasurus, 2003, p. 183.

126 GUERRA, Jacinto. Gente de Bom Despacho: Histórias de quem bebe água da biquinha. Brasília: Theasurus, 2003. p.182.

Coral Voz e VidaFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho

- 139 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 144: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Em Bom Despacho, o primeiro museu foi

constituído simultaneamente à criação da

biblioteca pública, em 1964. Anexo à biblioteca,

o então Museu Municipal quase chegou a

desaparecer no início dos anos 1970, período em

que seus organizadores, Jacinto Guerra e Nilce

Coutinho Guerra, partiram para Patos de Minas,

devido a questões profissionais. “Enquanto

a Biblioteca desenvolveu-se em decorrência

de sua grande utilidade para os professores

e estudantes, o Museu, que tinha um acervo

interessante e bem organizado, esvaziou-se

por completo”.127 Em 1997, com o retorno do

casal Guerra à Bom Despacho, foi constituída

a organização não governamental Associação

Museu da Cidade (AMC) e, no ano seguinte,

com o apoio dessa associação, foi instituído o

Museu da Cidade (MdC), em substituição ao

antigo Museu Municipal. O MdC foi inaugurado

em 30 de maio de 1998, durante solenidade

que deu início às festividades em comemoração

ao aniversário de 86 anos de Bom Despacho.

A administração do museu passou a ser

realizada por um grupo de voluntários,

responsáveis pelo planejamento das suas

atividades e desenvolvimento de projetos.

Um dos principais projetos mantidos pelo

MdC é o “Vitrine da Memória”, que busca

destacar importantes personagens da história

de Bom Despacho. Lançado no ano 2007,

seu primeiro homenageado foi o Dr. Roberto

de Melo Queiroz, ex-prefeito do município.

Outro projeto mantido pelo museu é o

“Garimpeiro da Memória”, iniciativa do

engenheiro Ítalo Coutinho, que busca

reunir informações sobre a história de

Bom Despacho. Dados coletados a partir

das pesquisas para o projeto, serviram de

matéria prima para a constituição do site

senhoradosol.com.br.

Dentre as peças que compõem o acervo do

museu, é possível destacar a igaçaba, urna

funerária em cerâmica, pré-colombiana,

127 GUERRA, Jacinto; GUERRA, Nilce Coutinho. In: Memória e Cultura: Uma Experiência no interior de Minas Gerais. 128 Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte, outubro de 2003, p. 21.

Projetor do extinto Cine ReginaFoto: Ricardo Avelar

encontrada em 1991, nas imediações da Fazenda

Indaiá, contendo esqueletos ameríndios. A

descoberta da peça despertou a atenção

de veículos da imprensa nacional, sendo

produzidas matérias para a televisão. Pesquisas

preliminares estimam que o vaso tenha

mais de 1.500 anos. Tombada pelo Conselho

Municipal de Patrimônio Cultural em 2007, a

peça integrou a exposição comemorativa dos

500 anos do Brasil, promovida pelo Ministério

da Cultura, no Palácio das Artes, no ano 2000.

Além da igaçaba, o museu ainda conserva “um

tronco de madeira petrificada há milhões de

anos, um vaso de cerâmica do século V da Era

Cristã e artesanato de Vila Verde, Portugal,

no qual se inclui o ‘Lençol dos Namorados’, da

referida região portuguesa”.128 O museu reúne

ainda os projetores do extinto Cine Regina,

além de artefatos que revelam a presença

da cultura afro-brasileira em Bom Despacho.

O espaço serve também à manifestação

cultural, sediando eventos como o Concurso de

Presépios, que, devido à intensa participação

popular, já foi anunciado na rádio Vaticano.

- 140 -

Os anos 90: valorização da cultura local

Page 145: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

“Eu nasci em Moema e, dois anos depois, eu vim para Bom Despacho, onde meu pai

foi o coletor federal durante muitos anos. Passei minha infância toda aqui. Fui para o

seminário de Belo Horizonte, onde hoje é a PUC, e lá fiquei por onze anos, até que me

ordenei em 1945. Meu primeiro trabalho foi como secretário de Dom Antônio Santos

Cabral. Depois, fui vigário de algumas paróquias, como Pompéu, Raposos, Santa Luzia,

Divinópolis. Fiquei quatorze anos como vigário da Renascença, em Belo Horizonte. E

por um ano vivi em Roma, fazendo um curso especializado. Por volta de 1965 voltei para

Bom Despacho como capelão militar do 7º Batalhão, e morei por vinte anos na Vila

Militar. Me aposentei há vinte e cinco anos. Foi nesta cidade que vivi minha infância e

adolescência e o clima religioso era predominante. Mas depois passei trinta anos fora.

Quando eu voltei para Bom Despacho, a cidade tinha se desenvolvido, a população

já tinha triplicado. A presença do padre Augusto foi importante. Ele foi coadjutor do

Padre nicolau, um italiano inteligente, bravo, nervoso, que era a maior autoridade de

Bom Despacho. Depois, ele ficou idoso e o padre Augusto veio ser o cooperador dele.

O padre Augusto não tinha a mesma visão, mas era um homem trabalhador, honesto,

um sacerdote autêntico. A construção da matriz se deve ao Padre Augusto. Aqui era

uma cidade eminentemente religiosa. Eu costumo dizer que a maior instituição em

Bom Despacho, depois da igreja, é a Santa Casa. O grande meio de transporte era

a estrada de ferro de Paracatu. Em onze anos de seminário, eu fui e voltei de trem.

Depois que começou a ter um movimento de construção de estradas. O comércio aqui

sempre foi bastante intenso, inclusive, porque o município era muito grande. um dos

aspectos interessantes é o reinado ou congado, que tem raízes históricas de elementos

de formação na própria estrutura da sociedade. nós temos uma grande participação

do elemento negro na nossa formação. Aqui sempre teve um congado bastante

desenvolvido, entusiasmado. Ligado, inclusive, com Moema, que era município daqui

e onde o congado tem grande expressão. Já fui até príncipe. É uma linda manifestação

da fé.”

Padre Pedro Lacerda Gontijo 129

C A D E R n O D E M E M Ó R I A S

129 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias, em 29 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

Page 146: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Alguns anos antes da criação do Museu da Cidade, em meados dos anos

90, foi constituído um centro de preservação dedicado a um dos bens

mais preciosos da história da cidade: a ferrovia. O Museu Ferroviário de

Bom Despacho foi estabelecido na antiga Estação Ferroviária, no anseio

de preservar a história da Estrada de Ferro Paracatu. Ali o visitante

encontra uma locomotiva A-325 e um vagão sobre os trilhos da antiga

Estrada de Ferro Paracatu, restaurados em 1996, mas necessitando de

reparos e cuidados urgentes. O museu mantém um variado acervo de

“fotografias de época, aparelho de telégrafo, relógio antigo, carimbos de

passagens, vários manômetros, lanterna de manobra, trilhos montados

sobre dormentes, apitos das locomotivas, aparelho Nathan (para

lubrificação das locomotivas), vídeos, documentários, bancos e maquetes

de locomotiva e de vagões”.130 O museu está localizado na Praça da

Estação, antigo ponto de encontro de quem partia ou chegava à Bom

Despacho pela Estrada de Ferro Paracatu. Ao circular pelos arredores

nota-se que ainda estão presentes recortes da narrativa que constitui

a trajetória de Bom Despacho, expressas nas construções que ainda

persistem às mudanças provocadas pelo tempo, como o Hotel Glória

(1927), a Câmara Municipal, estabelecida no antigo Armazém da Estrada

de Ferro, e a escadaria, datada de 1933 e que se localiza na Praça

Olegário Maciel. A constituição do Museu é reflexo do entrelaçamento

da trajetória de vida de muitos cidadãos de Bom Despacho com a história

da ferrovia. Esses personagens têm suas histórias envoltas aos trilhos

do trem, às cabines da locomotiva, às dependências da antiga estação,

que guardam imagens das experiências vividas durante a viagem a

passeio ou a trabalho, nos acontecimentos que marcaram a partida ou

o retorno. Foi essa forte ligação entre personagens de Bom Despacho

e os cenários da locomotiva, que tornou possível a criação, em 1999,

da Associação dos Amigos do Museu Ferroviário de Bom Despacho

(AMFBD), grupo composto por ex-funcionários da ferrovia. A associação

tem como tarefa, preservar o patrimônio histórico e cultural da Estrada

de Ferro Paracatu, por meio do museu.

130 Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte, outubro de 2003, p. 20.

Placa Museu Ferroviário de Bom Despacho Foto: Ricardo Avelar

- 142 -

Os anos 90: valorização da cultura local

Page 147: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Praça Olegário MacielCâmara Municipal Fotos: Ricardo Avelar

- 143 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 148: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

O inventário elaborado em 1999, sob a primeira gestão do atual prefeito Haroldo de Sousa Queiroz,

listava como bens culturais do município a Biquinha; a Maria Fumaça; a Igrejinha da Cruz do Monte; a

Estação Ferroviária; o prédio da Câmara Municipal; a Vila Operária da Fábrica de Tecidos; o Castelinho

da Força e Luz; o prédio do Centro de Atenção Integral à Criança (CAIC); a Vila Militar e a Igreja Matriz

de Nossa Senhora do Bom Despacho.

“ PREOCUPAçãO COM A PRESERVAçãO”

O intenso movimento de preservação que envolveu Bom Despacho no decorrer da década de 90 incitou a constituição do Inventário de Bens culturais e os primeiros tombamentos do Patrimônio cultural do município.

Igreja Matriz Fotógrafo desconhecido Acervo da Prefeitura Municipal de Bom Despacho

Page 149: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Entre 1994 e 1995, foi fundado o Centro de Atenção Integral à Criança

(CAIC), localizado na região da Tabatinga. O espaço, que também

já sediou eventos culturais da cidade como a 3° Feira do Livro, em

1998, ofertava “ensino de primeiro grau, serviços de saúde, creche, centro

cívico, auditório, áreas de esporte e lazer, biblioteca comunitária”131. Com

a implantação do CAIC, o município adotou o Programa Nacional de

Atendimento à Criança e ao Adolescente. O prédio é percebido como

uma das principais obras arquitetônicas do município, realizada nos

últimos anos. O moderno edifício já abrigou também a Faculdade de

Ciências Contábeis da Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac),

a primeira faculdade instalada em Bom Despacho, em 18 de agosto de

1998 132.

Cultura e educaçãode mãos dadas

CAIC Foto: Ricardo Avelar

131 Arquivos da Biblioteca Municipal de Bom Despacho.132 A portaria do Ministério da Educação, que autorizava o funcionamento da Universidade Presidente

Antônio Carlos, foi publicada em 1997, e credenciada pelo Governo do Estado de Minas Gerais, por meio de Decreto publicado no ano seguinte.

- 145 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 150: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

A Unipac tem como mantenedoras as Fundações Presidente Antônio Carlos e José Bonifácio Lafayette

de Andrada. À época da implantação da unidade em Bom Despacho, a Faculdade de Ciências Contábeis

contava com cinquenta alunos e dez profissionais. Para os cidadãos do município a instalação da

universidade “foi marcante em termos escolares, culturais, históricos”.133 A realidade de muitas famílias

começou a mudar, pois a chegada da “Unipac promoveu um grande avanço na cidade. Antes nós saíamos

de Bom Despacho para estudar em Divinópolis, Formiga, Arcos e outras cidades vizinhas”.134 Com o

aumento da demanda por cursos e com a consolidação da unidade de Bom Despacho, o catálogo de

graduações ofertadas foi expandido, passando a atrair estudantes de municípios vizinhos. “Ela atende

a região do Centro-Oeste mineiro, alunos de várias cidades da redondeza, Nova Serrana, Divinópolis,

Dores do Indaiá, Pompéu, Abaeté, Luz e Pará de Minas”.135 Atualmente, a unidade de Bom Despacho

está localizada na BR-262, Km 480 e oferta os cursos de Administração, Agronomia, Arquitetura e

Urbanismo, Biomedicina, Ciências Contábeis, Direito, Educação Física, Enfermagem, Engenharia

Ambiental e Sanitária, Engenharia Civil, Farmácia, Fisioterapia, Medicina Veterinária, Nutrição,

Psicologia, Serviço Social e Sistemas de Informação.136 “A cidade passou por grande transformação

com a vinda da universidade, no comportamento das pessoas, nas expectativas em relação à cultura,

a evolução da educação, a questão do emprego, o próprio desenvolvimento da cidade a partir de então.

É uma universidade particular, que veio com poucos cursos e foi crescendo, sendo ampliada pelo

dinamismo do Sr. Antônio, que na época comandava a universidade. Ela foi um ponto de partida. A partir

daí vieram outras universidades, vieram novas oportunidades.”137

UNIPAC Foto: Ricardo Avelar

133 Robinson Correa Gontijo. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 25 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.134 Benjamin da Silva Sobrinho. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 20 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.135 Alexandre Aurélio Chaves. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 30 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.136 Para mais informações sobre os cursos ofertados pela Unipac em Bom Despacho consultar: http://www.unipacbomdespacho.com.br 137 Rosalva Flores Fernandes Leandro, em entrevista concedida ao Escritório de Histórias em 28 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG).

Texto editado.

- 146 -

Os anos 90: valorização da cultura local

Page 151: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

No ano de 1999, as escolas rurais criadas em 1947, passaram por mudanças. Quatro das 25 escolas

foram extintas, cinco permaneceram em funcionamento e as dezesseis restantes foram nucleadas.

Escola nucleada Escola Polo

Escola Municipal (E.M.) Alípio Braga do Couto

E.M. Capivari do Marçal

E.M Padre João

E.M. Antônio Rafael Soares

E.M. Bom Despacho

E.M. Antônio José Couto

E.M. Virgílio Antônio da Silva

E.M. Carlito

E.M. Lagoa VerdeE.M. Dona Zezé Araújo

E.M. Geraldo Queiroz Cançado E.M. Coronel Robertinho

E.M. Coronel Cristiano

E.M. Joaquim Dias Leandro

E.M. José Francisco Costa

E.M. João Ribeiro Lopes

E.M. Dona Sinhá

E.M. Dona Joana Marques Gontijo

E.M. Aurora Maria de Jesus

E.M. Flávio Cançado Filho

Em Bom Despacho, a década de 90 pareceu refletir o anseio pela valorização cultural e pela

preservação das histórias que permeavam as rodas de conversa, que se encontravam soltas na

arquitetura do município, nos vestígios do passado, mas que ainda não haviam encontrado um lugar

para se estabelecer. Os museus surgiam como uma resposta ao desejo de reunir, organizar e tornar

as memórias palpáveis. Em consonância com o desenvolvimento cultural, a educação superior se

tornou realidade em Bom Despacho. Mas as muitas transformações só estavam abrindo caminho,

para as novidades que ainda viriam, no início do século XXI. “Bom Despacho era uma cidade pequena,

onde, como toda cidade de interior, você tinha uma liberdade de brincar nas ruas, de ouvir as pessoas

contarem histórias nas esquinas, de estar próximo à família, e, depois, a partir do momento em que a

televisão chegou, distanciou essas pessoas dessa relação familiar. Hoje é necessário que tanto o homem

quanto a mulher trabalhem para dar melhores condições para os seus filhos. Então, nós tínhamos

uma cidade mais pacata, que hoje tem mais problemas, mas, atualmente, temos ensino superior em

Bom Despacho, temos ensino técnico e isso é crescimento, principalmente na área de educação. No

passado, as pessoas tinham que sair para fazer curso superior. Hoje, essa formação pode ser feita em

Bom Despacho”138.

138 Vera Lúcia Cardoso Couto. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, no dia 7 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

- 147 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 152: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos
Page 153: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

BOM DESPACHO:A CIDADE CEnTEnÁRIA

Page 154: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

A virada do milênio ocorreu envolta por misticismo e medo. As

profecias sobre o fim do mundo e os indícios de uma possível crise

nos sistemas de informações mundial, conhecido como bug do

milênio139, preencheu o imaginário de quem aguardava a chegada dos

anos 2000. Contudo, o novo ano teve início sem que qualquer grande

catástrofe extinguisse a existência humana. A temida desordem nos

sistemas de informações não ocorreu com a intensidade prevista. A

economia brasileira, que havia sido marcada na década de 90 pelas

privatizações e redução do Estado, voltava a receber investimentos

públicos em setores estratégicos de infraestrutura140. As constantes

inovações tecnológicas e a interdependência entre nações se tornavam

cada vez mais presentes, intensificando, com isso, a globalização das

relações econômicas, políticas e culturais.

No ano 2001, os olhos de todo o mundo se voltaram para uma grande

tragédia: os ataques ao Pentágono, em Washington, e ao World Trade

Center, em Nova Iorque, nos EUA. A cena do impacto provocado pelos

aviões que se chocaram às torres gêmeas, no dia 11 de setembro,

preencheu os noticiários ao redor de todo o globo, surpreendendo e

provocando grande comoção. “Mais de 3 mil pessoas morreram nos

ataques, atribuídos à organização islâmica Al Qaeda, liderada pelo

saudita Osama Bin Laden, que vivia no Afeganistão, protegido pelos

fundamentalistas do Taleban.”141

O novo milênio

139 Desde a década de 70, programadores de computador adotavam dois dígitos para indicar o ano (DD/MM/AA) em softwares específicos. Com a chegada dos anos 2000, o temor era de que os sistemas de informações não conseguissem distinguir se o 00 representava 1900, 2000 ou ausência de valor. Caso o sistema interpretasse o 00 como 1900, a diferença computada na passagem de1999 para 2000 seria de 100 anos e não de um dia.

140 Brasil em Desenvolvimento: Estado, planejamento e políticas públicas / Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.- Brasília : Ipea, 2010, p. 119.141 MORAES, José Geraldo Vinci de. História: geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2003, p. 442.

- 150 -

Bom Despacho: a cidade centenária

Page 155: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

No Brasil, as mudanças vieram com a eleição

de Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos

Trabalhadores (PT), no ano de 2002. O ex-

operário e sindicalista havia participado e

perdido as últimas três eleições presidenciais e

por isso, após os oito anos de gestão de Fernando

Henrique Cardoso, Lula chegava ao poder sob

muitas expectativas. Uma das características

do seu governo foi a ênfase concedida aos

programas sociais. Em 2004, o presidente reuniu

diversos programas de transferência de renda,

criados em governos anteriores, para formar o

Bolsa Família. Em síntese, buscava-se atender

famílias em situação de pobreza extrema ou

com renda mensal, por pessoa, de R$60 a

R$120. Para participar as famílias precisavam

garantir no mínimo 85% da frequência escolar

dos filhos com até 15 anos. Lula ainda deu

continuidade ao Programa de Erradicação do

Trabalho Infantil (Peti) - criado por Fernando

Henrique Cardoso e, em 2003, lançou o Fome

Zero, em substituição ao Programa Comunidade

Solidária (1995), e o Luz para Todos, para levar

energia elétrica às residências de brasileiros

em áreas rurais. Um dos projetos sociais que

teve maior aceitação popular, foi o Programa

Universidade Para Todos (ProUni), criado em

2004, com o objetivo de facilitar o acesso de

jovens estudantes ao ensino superior, por meio

da concessão de bolsas integrais ou parciais,

em universidades privadas. O sucesso obtido

com as políticas sociais conduziu Lula ao seu

segundo mandato, que teve início em 2007.

Luis Inácio Lula da SilvaArquivo Público do Distrito Federal

- 151 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 156: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Em princípios de 2007, os EUA começavam a sentir os efeitos da crise no sistema financeiro, que

silenciosamente crescia no país. Com a grande oferta de recursos disponíveis, empresas começaram

a conceder créditos hipotecários para pessoas que não ofereciam garantias de pagamento. A situação

se agravava já que novos empréstimos eram entregues, antes mesmo que o devedor quitasse a

primeira dívida. Houve retração de crédito. Com receio de que a falta de recursos inibisse o consumo, o

governo americano lançou pacotes para o resgate da economia, emprestando dinheiro a empresas em

risco de falência e incitando a população a permanecer consumindo. A crise do subprime ou a bolha

imobiliária, como ficou conhecida, foi caracterizada como a mais grave desde 1929, levando pessoas

em todo o mundo a perder seus empregos.

Na era da globalização a crise rompeu as fronteiras, afetando também o Brasil. Nesse período, Lula

comandou uma estratégia anticíclica que se revelou decisiva para reduzir o impacto dos problemas

externos sobre o país.142 No ano de 2010, superado o momento mais difícil da crise, o Presidente

conseguiu eleger sua sucessora, Dilma Rousseff, por ele denominada como “mãe do PAC”, seu

programa de aceleração do crescimento, passando assim a faixa presidencial à primeira mulher a

ocupar tal cargo no Brasil.143

142 DULCI, Otávio Soares. “Dossiê da era Lula, o Homem e o partido”. Caderno Pensar publicado como encarte no jornal Estado de Minas, 11 de dezembro de 2010, p. 9.

143 NEVES, Osias Ribeiro; NEVES, Isabella Verdolin; CAMISASCA, Marina Mesquita. GMMLE: 50 anos da história da metalurgia e da mineração em Minas Gerais. Belo Horizonte: Escritório de Histórias, 2011, p. 123.

Photos

- 152 -

Bom Despacho: a cidade centenária

Page 157: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

nos anos 2000, a cidade de Bom Despacho parecia interligar ações

em favor do constante desenvolvimento municipal. A cidade foi

governada de 2001 a 2004 por Geraldo Simão Vaz e de 2005 até

2012 por Haroldo de Sousa Queiroz. Esse último já havia chefiado o

município entre os anos de 1997 a 2000 e procurou desenvolver ações

para a melhoria da qualidade de vida da população. Nesse contexto, foi

fundada a Agência de Desenvolvimento Econômico, Social e Cultural

(ADESC), com o objetivo de reunir esforços para tornar realidade

diversos projetos em benefício da população bom-despachense. Com

objetivos semelhantes, em janeiro de 2001, a Secretaria Municipal

de Saúde começou a implantar o Programa Saúde da Família (PSF).

Equipes compostas por um médico, uma enfermeira, dois auxiliares de

enfermagem, e, de cinco a seis agentes comunitários, foram distribuídas

em diversas regiões do município, com a missão de coletar informações

sobre as condições de saúde das famílias visitadas. A expectativa era de

que cada grupo atendesse de seiscentas a mil famílias em domicílio. Os

dados obtidos constituiriam um mapeamento do índice de hipertensos,

diabéticos, hiperglicêmicos e da ocorrência de outras doenças, que

tornaria possível a criação de grupos específicos. Com a adoção do

PSF as consultas na rede pública de saúde passariam a ser agendadas

pelas equipes, na intenção de extinguir as filas de espera nos postos. “A

questão da saúde melhorou muito. Hoje cada bairro de Bom Despacho

tem um PSF e o próprio enfermeiro vai na casa das pessoas, faz a visita,

atende no domicílio”.144

Bom Despacho dos anos 2000

144 Virgínia de Souza Maciel Pessoa Cançado. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 7 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

- 153 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 158: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

A cidade também vivenciou um período de crescimento expressivo

nos anos 2000. O comércio se desenvolveu sensivelmente no setor de

produtos e serviços. “Bom Despacho tem um comércio ativo, muitas

lojas e muitos bares. Há até uma brincadeira que diz que o bom-

despachense gosta muito de tomar uma pinguinha, por isso existem

muitos bares na cidade,”145 “Em Bom Despacho existem produtos de alto

padrão, supermercados de boa qualidade. Em raras exceções você tem

que ir a um centro maior para adquirir alguma coisa. O comércio daqui é

competitivo e tem qualidade de produtos e serviços”146.

Como consequência desse crescimento houve uma expansão da

construção civil no município. Hoje o centro de Bom Despacho possui

prédios altos e muitos outros estão sendo construídos. A cidade se

tornou atrativa para pessoas que trabalham em municípios vizinhos e

procuram um lugar seguro para viver. É significativo o número de pessoas

que trabalham em Nova Serrana e preferem morar em Bom Despacho,

devido à melhor qualidade de vida que o município oferece. “Em Nova

Serrana tem muitas indústrias e muitas pessoas que trabalham lá vem

morar em Bom Despacho. O sujeito prefere vir morar com toda a família

em Bom Despacho porque é mais seguro”.147 “Bom Despacho tem me

proporcionado muitas alegrias. Aqui eu nasci, me criei, criei meus filhos,

me casei, vivi minha vida toda. É uma boa cidade para se viver. É calma,

tranquila, não há tanta violência como a gente vê pela televisão e pelos

jornais. Eu atribuo isso à presença do Batalhão e, com ele aqui, a cidade

é muito bem policiada. Temos as festas tradicionais como a de Nossa

Senhora do Rosário que acontece todos os anos durante o mês de agosto.

É uma festa interessante.”148

145 José Fagundes Filho. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 15 de junho de 2011, em Belo Horizonte (MG). Texto editado.146 Homero José do Couto. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 9 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.147 Flávio de Melo Queiroz. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 11 de janeiro de 2012, em Bom Despacho (MG). Texto editado. 148 Josefina Gontijo Leite. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 6 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

Comércio em Bom DespachoFoto: Ricardo Avelar

- 154 -

Bom Despacho: a cidade centenária

Page 159: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

“Bom Despacho está evoluindo e, junto com essa evolução, por causa da diferença

social tão grande em nosso país, não só em Bom Despacho, infelizmente, alguns pontos

positivos nós perdemos, como a questão da liberdade das crianças brincarem nas

ruas, a infância hoje está muito limitada, vemos a questão das drogas e da violência.

Ainda assim, Bom Despacho é uma cidade muito acolhedora, muito boa de viver. Eu

indicaria para outras pessoas morar aqui. É um povo tranquilo, feliz. E a gente vê que

há muitos empresários que estão crescendo, que estão investindo e gerando emprego.

O desenvolvimento da cidade está acontecendo.”

Denise Gontijo Araújo Lamounier 149

C A D E R n O D E M E M Ó R I A S

149 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 8 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

Evento realizado na Praça Olegário MacielFotógrafo desconhecidoAcervo da Prefeitura Municipal de Bom Despacho

Page 160: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Um serviço implementado na cidade que promoveu a geração de

emprego e renda foi o SESC, fundado em oito de setembro de 2002,

em um complexo de 90.000m², sendo 14.200m² de área construída

e 25.000m² dedicados à reserva nativa150. As instalações dispõem de

diversas áreas destinadas ao lazer e à realização de práticas esportivas,

como parque infantil, parque aquático, praças de esporte e quadras, além

de restaurante e lanchonete. A entidade possui ainda uma pré-escola

e também oferece serviço de hotelaria, por meio da SESC Pousada de

Bom Despacho, que conta com espaços apropriados para a promoção

de eventos de negócios, congressos e reuniões. A unidade mantém

também “programas de Educação para a Saúde, de Assistência à Saúde

da Mulher, de Assistência Médica, serviço radiológico e de atendimento

psicológico infanto-juvenil, que de modo específico proporcionam às

clientelas carentes um seguro apoio do SESC às necessidades básicas

das populações da região Centro-Oeste de Minas Gerais”151. Além dos

projetos desenvolvidos nas dependências da unidade, o SESC também

promove eventos externos como ruas de lazer e comemorações em datas

específicas. Em diversas ocasiões as praças da cidade são transformadas

em palco para as apresentações do “Música na Praça” ou das sessões

do “Cine SESC na Praça”, realizado na Praça da Igreja Matriz. A unidade

representou uma grande conquista para o município tanto na prestação

de serviços sociais quanto como uma opção de espaço de lazer para a

população. Além disso, o SESC abriga viajantes de várias partes do país

que se dirigem ao local em busca de descanso e descontração.

150 Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte, outubro de 2003, p. 33.151 Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte, outubro de 2003, p. 33.

Sesc Bom DespachoFoto: Ricardo Avelar

- 156 -

Bom Despacho: a cidade centenária

Page 161: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Na década de 40, a entidade atuava “no campo da saúde, com contribuições na medicina preventiva,

campanha contra tuberculose, educação sanitária e assistência médico hospitalar”.152 Com as mudanças

no cenário econômico do país, na década de 50, o SESC perdeu seu formato assistencial, enfatizando

suas ações em práticas educativas. Nesse momento a entidade buscava suprir as necessidades de

adaptação à economia urbano-industrial que emergia, em substituição à agrário-exportadora. Na

década de 90, com o desejo de ampliar o território abrangido pela entidade, foi formado o LACES – Liceu

de Artes, Cultura, Esporte e Saúde, unidades estabelecidas em municípios específicos, para promover

atividades que contribuam com o “bem-estar social e desenvolvimento comunitário da população local

e cidades vizinhas”.153

“ UM POUCO MAIS SOBRE O SESC”

A prestação de serviços ligados à saúde foi uma das principais áreas de atuação do Serviço Social do Comércio de Minas gerais (sesc/mG) nos primeiros anos da sua fundação.

152 Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte, outubro de 2003, p. 32.153 Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte, outubro de 2003, p. 33.

Sesc Bom DespachoFoto: Ricardo Avelar

Page 162: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Os viajantes que escutam as histórias sobre a Biquinha e chegam ao

município com a curiosidade de conhecê-la, são conduzidos a atravessar

a “‘passarela da Letícia’, que liga a Rua dos Expedicionários à pitoresca

Rua da Biquinha.”154 No espaço é possível encontrar mulheres que

ainda prezam pela tradição de lavar roupa na Biquinha. Esse local foi

restaurado em 1977, durante a gestão do prefeito Geraldo Simão Vaz155.

Entretanto, o desgaste causado pela atividade das lavadeiras e a falta

de preservação do espaço, serviram de impulso para o desenvolvimento

de um novo projeto, lançado em 2003, durante o mandato do prefeito

Haroldo de Sousa Queiroz, para a recuperação da nascente e revitalização

do espaço no entorno da Biquinha. A mobilização resultou na aprovação

da emenda do projeto para o orçamento do Estado no ano de 2004, por

meio do qual foram direcionados R$70.000 para as obras de saneamento

da fonte.

Nos anos 2000 a Câmara Municipal de Bom Despacho também passou

por melhorias. O órgão foi transferido para uma sede própria, próxima

à Praça da Estação, com o objetivo de gerar expressiva economia aos

cofres públicos, já que setores da Câmara deixariam de ocupar salas

alugadas na cidade. Na nova sede, a Câmara passou a abrigar o Programa

de Orientação e Proteção ao Consumidor (PROCON), e o Centro de

Atendimento ao Cidadão (CAC), responsável pela emissão de atestado

de bons antecedentes; 1° via da carteira de identidade para menores de

18 anos; substituição de cédula de identidade; consulta de veículos no

Departamento de Trânsito de Minas Gerais (DETRAN/MG); emissão de

guias diversas, entre outros serviços. Passou a contar ainda com um

telecentro, aberto à utilização de estudantes carentes.

Colaborando para a expansão do acesso ao ensino superior em Bom

Despacho, foi firmada parceria entre a Prefeitura, por meio das Secretarias

de Educação e Cultura, o Centro de Arte e Cultura de Bom Despacho e

a empresa ArcelorMittal, para a realização do curso de pós-graduação

lato sensu em “Ensino e Pesquisa no Campo da Arte e da Cultura”, da

Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). O curso seria oferecido

na cidade, com a possibilidade de concessão de bolsas parciais de estudo.

“O curso deu oportunidade para os educadores, os artistas e pessoas

interessadas em fazerem uma pós-graduação em arte e educação pela

UEMG. O pessoal que fez ficou muito satisfeito com o aprendizado, foi

muito bacana”156. Em 2010 foi requisitado ao Ministério da Educação

154 Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte, outubro de 2003, p. 19.155 GUERRA, Jacinto. Arraial de Nossa Senhora do Sol: história, cultura e turismo/ Brasília: Edições

Piraquara, 1997, p. 19.156 Rosalva Flores Fernandes Leandro. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 28 de junho

de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

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Bom Despacho: a cidade centenária

Page 163: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

157 A Universidade Aberta do Brasil (UAB) é um projeto construído pelo Ministério da Educação em parceria com os Estados, Municípios e Universidades Públicas de Ensino Superior para oferta de cursos de Graduação, Pós Graduação e de Extensão Universitária visando ampliar o número de vagas da educação superior para a sociedade, promover a formação inicial e continuada para os profissionais do magistério e para os profissionais da administração Pública. Disponível em: uab.pti.org.br, acessado em 29 de março de 2012.

158 Vera Lúcia Cardoso Couto. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 7 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

159 Rosalva Flores Fernandes Leandro. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 28 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

(MEC) o estabelecimento em Bom Despacho de uma unidade polo do

Centro-Oeste de Minas da Universidade Aberta do Brasil (UAB).157 Após

os trâmites administrativos necessários, em 27 de maio daquele ano,

foi aprovada a Lei Municipal para o estabelecimento da unidade. Apesar

de divulgar a realização do primeiro vestibular da UAB Bom Despacho,

a unidade não pôde promover o processo seletivo, pois não atendia aos

requisitos exigidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior (CAPES). Para regular a situação foi enviada uma série de

documentos à CAPES, mas os cursos que teriam início em 2011 tiveram

que ser cancelados. Em dezembro daquele ano, a UAB foi finalmente

aprovada. Assim, em 03 de março de 2012, foram iniciados os cursos

de especialização em Atenção Básica em Saúde da Família, realizado

em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foram

abertas ainda as inscrições para os cursos de graduação em Pedagogia,

Matemática e para pós-graduação em Saúde da Família. Já os cursos

de Física, Química e Biologia, só serão autorizados após a organização

dos laboratórios e da visita de certificação da CAPES. Outra ação que

objetivava a expansão da educação no município foi a criação, em Bom

Despacho, de uma extensão do Instituto Federal de Educação, Ciência de

Tecnologia (IFET) de Bambuí, que passou a funcionar na Escola Municipal

Coronel Praxedes. “Essa extensão oferece cursos na área ambiental e

em gestão de saúde, há ainda uma proposta para que se inicie um curso

na área de comércio”.158

Visando fornecer um maior acesso à educação e cultura, em 2009, a

Prefeitura Municipal de Bom Despacho através da Secretaria de Cultura

instituiu o Festival de Inverno, que oferece oficinas, cursos, workshops,

palestras, shows, apresentações de teatro e exibição de filmes para toda

a população. “O festival acontece sempre no período das férias escolares

de julho para que os estudantes tenham uma ocupação saudável. O

evento é muito democrático, todos podem participar, independente do

credo, religião, idade ou renda”.159

- 159 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 164: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

A prática esportiva ganhou destaque em Bom Despacho a partir da

criação dos primeiros times de futebol. Segundo relatos, a década de

60 pode ser apontada como o período do surgimento das primeiras

equipes. Em 1962, era fundada a Associação Atlética Bom-despachense,

que, de acordo com seu estatuto, foi criada com o objetivo de “promover

atividades sociais, culturais, esportivas, recreativas e cívicas entre os

associados”.160 Apesar das expectativas, devido a divergências internas,

a equipe foi desmembrada, sendo refundada em 15 de maio de 1977161,

conforme relatou o jornal O Bom Despacho, em primeiro de janeiro de

1978. Com a refundação, o time alterou o nome para Associação Atlética

de Bom Despacho e passou a adotar uniforme nas cores vermelho, verde

e branco,162 se tornando conhecido como o “Tricolor da Vila Aurora”.

O esporte na cidade

160 Informação disponível em http://tricolor2012.webnode.com/historico/, consultado em 18 de abril de 2012. 161 Informação disponível em http://tricolor2012.webnode.com/historico/, consultado em 18 de abril de 2012.162 Informação disponível em http://tricolor2012.webnode.com/historico/, consultado em 18 de abril de 2012.

Associação Atlética de Bom DespachoFotógrafo desconhecidoAcervo da Prefeitura Municipal de Bom Despacho

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Bom Despacho: a cidade centenária

Page 165: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

“Bom Despacho é como todas as cidades de interior, em que quase todo mundo se

conhece. Quando eu vim para cá, em 1951, o colégio tinha acabado de ser fundado.

Eu vim para estudar e, de lá para cá, não saí. Aqui tinha diversos times de futebol e

comecei a me destacar no time do ginásio. Depois foi fundada a Associação Atlética

Bom-despachense e eu passei a jogar lá. Cheguei a disputar campeonato mineiro

pelo Lourenço, porque Bom Despacho não tinha um time que disputava a primeira

divisão. Tive oportunidade de sair para jogar no profissional, mas, naquela época, jogar

futebol não dava dinheiro e eu fiquei com medo, já estava casado e tinha a família

para criar. Decidi ficar no comércio. Fico feliz porque até hoje sou lembrado, todo

evento de esporte que acontece sou convidado, homenageado. Às vezes tem decisão

de campeonato e me convidam para dar o pontapé inicial. Outras vezes, recebi placas.

Hoje, em atividade, talvez eu seja um dos comerciantes mais antigos, comecei em 1958.

Lembro-me de algumas coisas de Bom Despacho daqueles tempos. uma delas era o

‘footing’, que acontecia bem em frente aqui da loja. As meninas passando e nós olhando

as namoradinhas.”

Tarcisio José Santos do Amaral 163

C A D E R n O D E M E M Ó R I A S

163 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias, em 10 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

Page 166: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Ainda nos anos 60, mais precisamente em 1964, foi fundado o Cristalino

Futebol Clube. As dificuldades financeiras enfrentadas pelo time fizeram

com que a equipe jogasse com uniforme emprestado, nas cores azul,

amarelo e branco. Mais tarde, em 6 de fevereiro de 1981, o time teve

seu nome modificado para Cristalino Esporte Clube. O novo nome veio

acompanhado da renovação na identidade visual da equipe, que passava

a vestir uniforme nas cores vermelho e branco.

Com a consolidação das primeiras equipes, outras foram surgindo,

como o Esplanada Futebol Clube, fundado em 9 de março de 1999.

Atualmente Bom Despacho conta com diversas equipes, dentre elas

a Sociedade Esportiva Palmeiras, Palmeiras Esporte Clube, Ipiranga

Futebol, Famourine Esporte Clube, além das já citadas Associação

Atlética de Bom Despacho, Cristalino e Esplanada Futebol Clube, que

permanecem atuantes.

Alguns atletas que fizeram parte das equipes de Bom Despacho, já

ganharam espaço em times de destaque no cenário esportivo brasileiro.

A exemplo, entre as revelações do Cristalino, estão Emerson Santos,

que iniciou sua carreira no time aos oito anos, e, aos doze, já integrava o

Atlético Mineiro. Outro nome a ser lembrado, é o de Renato Augusto, que

também atuou no Cristalino, competindo pelo time no período de 2004 a

2007. Em 2007 o atleta assinou contrato até 2014, com o time carioca,

Vasco da Gama.

Com o advento das equipes de futebol, além de participar de

competições promovidas por organizações de fora do município, como

a Copa Alterosa de Futebol, Bom Despacho também passou a realizar

competições próprias. Sendo as principais, a Copa Jornal Fique Sabendo

de Juniores; o Campeonato Municipal de Futebol Amador, Aspirante e de

Base; o Campeonato Regional de Juniores, e a Copa Futsal de Bairros164

– com exceção à primeira, todas as competições são promovidas por

meio de parceria entre a Secretaria Municipal de Esportes e a Liga

Municipal de Desportos de Bom Despacho (LMDBD). Para manter a

população informada sobre os embates entre as equipes do município e

de outras cidades, a cobertura esportiva é feita pela equipe do programa

Fino da Bola, transmitido pela rádio Nova Veredas (89,3 FM).“No futebol,

havia muita rivalidade entre Bom Despacho e Dores do Indaiá. O time de

Dores de Indaiá veio aqui, nós ganhamos e fomos jogar lá. Eles disseram

que, se eles perdessem o jogo lá, plantariam mandioca no campo, e nós

ganhamos. Deu uma briga... A sorte é que tinha um bom-despachense

por lá que resolveu dar uns tiros para cima, senão estávamos brigando

até hoje! O povo ficou com medo e correu.”165

164 Em comemoração ao aniversário de 100 anos do município, todas as copas realizadas em 2012, passam a adotar a palavra centenário ao nome.

165 Tarcisio José Santos do Amaral. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, em 10 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

- 162 -

Bom Despacho: a cidade centenária

Page 167: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Para além do entretenimento, no município,

a prática esportiva tem se destacado como

ferramenta de integração social. “A Associação

de Moradores tem tido uma relevância em cima

dos problemas dos seus bairros, até mesmo

equipes de futebol, que, quer queira, quer não,

criam uma socialização interessante, tanto que

têm diversas equipes de futebol que participam

de campeonatos, copa Alterosa de Futebol,

campeonatos de futebol de salão. Existem

também os próprios clubes sociais, “Praças

Esporte” é um clube de excelente serviço, o Ipê

Campestre é outro serviço bem interessante.

Outro clube interessante é a Associação Banco

do Brasil. Então, eu diria para você que essa

área social é muito ativa e muito representativa

em Bom Despacho.”166

Mas o cenário esportivo na cidade não se

restringe à atuação dos times de futebol. O

município ainda conta com a equipe do Vôlei

Mania e com o atleta de triatlo, Sidney Valesco

– que é patrocinado pela Secretaria Municipal

de Esportes do município. “Nós tivemos a

Associação Atlética Bom-despachense que

ainda existe através do time de futebol e da

Praça de Esportes167 e que presta seus serviços

à comunidade. É muito bom. Tivemos muitos

outros clubes, temos ainda o Famourine

Esporte Clube. Nós ainda temos na comunidade

de Engenho do Ribeiro, temos o Ipiranga e

o Engenho. À medida em que as pequenas

comunidades vão se formando, nascem seus

times de futebol. Em época passada teve o

Piraquara, que era muito forte em basquete,

e mesmo no Clube Bom Despacho tínhamos

a equipe de vôlei que disputava campeonato

nessa região. O esporte aqui foi muito bom”.168

166 Homero José do Couto. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, em 09 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

167 É o clube de esportes da Associação Atlética Bom-despachense, fundado em 17 de setembro de 1967, popularmente conhecido como Praça de Esportes. O clube não mantém vínculos com o extinto time de futebol Associação Atlética Bom-despachense, atual Associação Atlética de Bom Despacho.

168 Márcio Gontijo. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, em 02 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

- 163 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 168: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

As narrativas sobre a origem das festas religiosas presentes na cultura afro-brasileira remontam

aos tempos da escravidão, em que negros de origem africana intercalavam as crenças de sua terra

às experiências e mitos presentes na cultura dos brancos no Brasil. As comemorações religiosas

que preenchem o calendário oficial e integram as festividades regionais, reúnem fatos históricos, mitos

e personagens, que, de certo modo, refletem os valores e crenças da população. O reisado ou a Folia

de Reis é uma das festas religiosas realizadas em Bom Despacho. A manifestação cristã que resgata a

mensagem do nascimento de cristo invade o município de 24 dezembro a 6 de janeiro. Homens fantasiados

como reis magos percorrem a cidade ao lado de outros personagens folclóricos, para contar a boa nova

do nascimento do menino Jesus, em meio à cantoria, acompanhada de violão, viola, rabeca, caixa, entre

outros instrumentos. Nas visitas às casas da população, os personagens são recepcionados com reza

e refeições. Ao contrário dos reis magos, que na história original ofertam presentes ao menino Jesus,

durante a encenação, os reis é que são presenteados. No município, simultaneamente às comemorações

da Folia de Reis, ocorre o Concurso de Presépios de Bom Despacho.

Em Bom Despacho é na Tabatinga o nascedouro das festas religiosas de Nossa Senhora do Rosário e de São

Benedito. Ambas fazem parte da cultura e da tradição da cidade. De lá saem grupos formados por homens

e mulheres, organizados em ternos e guardas, com suas vestimentas típicas em cores vivas cantando e

Bom Despacho, envolto por fé e devoção

Festa do Rosário em Bom DespachoFotógrafo desconhecidoAcervo da Prefeitura Municipal de Bom Despacho

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Bom Despacho: a cidade centenária

Page 169: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

dançando com entusiasmo ao som das caixas, dos chocalhos, da sanfona

ou acordeom, num ritmo afro-brasileiro. São Moçambiques, Marinheiros,

Penachos, Congos e Catopés que desfilam tendo à frente o estandarte do

santo. “Participo bem das festas e colaboro se for preciso. Na festa de São

Benedito a gente oferece jantar para os cortes aqui em casa. A festa de São

Benedito e a festa de Nossa Senhora do Rosário são festas populares em Bom

Despacho. A de Nossa Senhora do Rosário é em agosto e a de São Benedito

é muito animada.Vem muitos cortes de fora para festejar aqui na cidade, na

festa de São Benedito.”169 “Temos o Reinado. Nós não ficamos sem a Festa

de Nossa Senhora do Rosário. Temos também a festa de São Benedito e a

dona Sebastiana é a guerreira que luta muito para a festa ser bonita.”170 As

histórias sobre o reinado são anteriores à fundação do município. “O povo de

Bom Despacho tem o costume de dançar o reinado. Isso é da fundação da

cidade. Os portugueses trouxeram a devoção a Senhora de Bom Despacho

e os negros, a devoção a Nossa Senhora do Rosário. O povo tem muita fé

nela.”171 O reinado teve origem nos tempos da escravidão. Relatos contam

que um negro, ao avistar uma figura feminina sentada com uma criança

nos braços sobre uma pedra no mar, correu para contar ao seu senhor, que,

não acreditando no relato do negro, o castigou. No entanto, o senhor decidiu

verificar a veracidade da história e também avistou a imagem no mar. A figura

feminina foi vista como santa tanto por brancos quanto por negros e ficou

conhecida como Nossa Senhora do Rosário. Para homenageá-la, grupos

eram formados segundo a região de origem na África. Assim constituíram-

se as guardas do Congo (congadeiros), do Moçambique (moçambiqueiros) e

a guarda Real, inicialmente formada por índios e denominada de Penacho.

A história sobre a origem do reinado em Bom Despacho é múltipla. Os

registros sobre como a festa se desenvolveu no munícipio advém dos relatos

de membros da comunidade. Algumas informações podem ser encontradas

no livro de Atas da Associação dos Reinadeiros de Bom Despacho.172 Em

matéria publicada por Tadeu Araújo Teixeira no Jornal de Negócios,173

o professor conta que o reinado foi introduzido em Bom Despacho pelo

Padre João José da Silva Araújo, que, ao visitar a região para o batismo de

Cypriani Araújo, filho do fazendeiro João José Curvelo e Anna Joaquina da

Conceição, em 1848, se encantou com a devoção e religiosidade do povo. Ao

retornar a Bom Despacho em 13 de julho de 1849, o padre transmitiu seus

conhecimentos adquiridos sobre o reinado, em Vila Rica, à população do

povoado. De acordo com essa versão, a primeira congada ocorreu em 1850,

percorrendo as três ruas que constituíam a paróquia de Bom Despacho.

169 Benedito Alves. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias em 7 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

170 Maria Adjara dos Santos. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias em 01 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

171 Luiz Alberto Alves. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 01 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

172 SOBRINHO, Benjamim da Silva. História do Rosário e da Festa do Reinado: Nova edição, revista e ampliada. Bom Despacho, 2009, p. 78.

173 Matéria publicada na edição de 17 a 23 de agosto de 2003, p. 4.

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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 170: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

A narrativa de Francisca Ferreira Fonseca,

veiculada por meio de um artigo em 1984 e

também pelo Jornal da Paróquia de julho de

2005, diverge da contada pelo professor Tadeu.

De acordo com Francisca, os primeiros relatos

sobre o congado em Bom Despacho datam do

século XX. Em seus primeiros anos, a festa não

se relacionava com a igreja. Na realidade, o

evento era similar às festividades de carnaval.

Simultaneamente às comemorações do congado,

a população realizava festejos em homenagem

a Nossa Senhora do Rosário, “que ocorriam num

domingo ou dia santo de dezembro, com procissão

e missa na antiga Capela do Rosário, no Jardim

sem Flor, hoje, Padre João Helfes”.174 Segundo

Francisca, foi o Padre Henrique Hesse, em 1946,

o responsável pela união da festa profana à

religiosa. O vigário teria modificado a data da festa

do congado para agosto, estipulado cinco dias

de comemoração e exigido que os congadeiros

se “confessassem, comungassem e dançassem

com respeito, sem bebedeiras, feitiçarias e

superstições”.175

A festa em homenagem a Nossa Senhora do

Rosário permanece em evidência na cultura

popular de Bom Despacho. A celebração envolve a

comunidade, “mesmo os que não estão dançando

têm alguém da família que está participando como

festeiro ou como pagador de promessa”.176 “Hoje

o Reinado já se tornou uma tradição familiar em

Bom Despacho”.177 As crianças são estimuladas

a integrar as cortes desde muito cedo, fato

que intensifica a relação com o congado, que é

expressa nas palavras de quem vivencia com

fé e devoção as festividades do reinado, como

Sebastiana Geralda Ribeiro. “Na hora que eu

estou dançando o meu reinado, me sinto a dona

do mundo. Na hora que estou cantando com o

meu bastão na mão, que eu olho para trás e estou

vendo o meu povo, o capitão Júlio junto comigo,

nessa hora eu me sinto rainha da Inglaterra”. 178

A grande comemoração começa com o

acolhimento das bordonetas – estampa dos

santos homenageados, que representa cada

guarda –, no dia do levantamento do Mastro

de Aviso, realizado quinze dias antes do início

da festa. Os rituais seguem com a novena em

honra a Nossa Senhora do Rosário, iniciada dez

dias antes da festa e continuam com a visita aos

festeiros, que ofertam alimentos aos soldados de

Nossa Senhora do Rosário. O próximo passo é a

Alvorada festiva, em que os devotos revivem o

percurso da retirada da santa do mar até a igreja

dos brancos. Ocorre então a missa de abertura da

festa, o levantamento dos mastros, o pagamento

de promessas e o reconhecimento das graças

alcançadas, realiza-se a santa missa conga,

a procissão festiva e a passagem das coroas.

Encerrando o ciclo da festa, há o recolhimento

das bordonetas, o acolhimento das coroas e a

descida dos mastros. “Eu sou o Rei coroado da

Congada, eu sou uma das pessoas mais elevadas

da Congada, portanto eu tenho em meu poder 52

bandeiras, que eu sou responsável. Eu sou a peça

principal no sentido de iniciar a festa e terminar

a festa, ela passa toda nas minhas mãos. O meu

cargo é o mais alto, porque existe o rei congo e a

rainha conga, mas o cargo deles é responsável

mais pela comida, na parte de organização, de

disciplina, o meu cargo é o mais alto porque eu

inicio e termino a festa”.179

174 SOBRINHO, Benjamim da Silva. História do Rosário e da Festa do Reinado: Nova edição, revista e ampliada. Bom Despacho, 2009, p. 75. 175 SOBRINHO, Benjamim da Silva. História do Rosário e da Festa do Reinado: Nova edição, revista e ampliada. Bom Despacho, 2009, p. 76.176 Luiz Alberto Alves. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 01 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.177 Benjamin da Silva Sobrinho. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 20 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.178 Sebastiana Geralda Ribeiro. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 07 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.179 Bento Lopes Cançado Filho. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 7 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

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Bom Despacho: a cidade centenária

Page 171: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

“Bom Despacho tem muita festa boa, mas se destaca o Reinado. Eu não sei se é porque

sou reinadeiro, nascido e criado no Reinado. Eu aprendi com meu pai. Isso vem da

fundação da cidade.

A minha família toda foi reinadeira, meus bisavós, meu avô, meu pai era apaixonado

com o reinado. na minha casa, meus irmãos, minha mãe, meus tios, meus parentes

são apaixonados com a festa. na festa do reinado, a minha família se encontra. Os

que estão longe vêm para participar. Todo ano é aquela coisa, parece que a gente não

cabe dentro da gente naquela euforia do reinado, prepara uma roupa, prepara a casa

para receber o pessoal de fora, a casa fica naquela alegria. É uma expectativa muito

boa, mexe com a alma do povo. O reinado em si tem sua hierarquia militar, o capitão

e os soldados. no meu caso, eu sou o capitão e tenho meus soldados. Existem também

em cada corte a rainha da bandeira, as princesas, as borboletas. Cada corte em si é

associada à Irmandade do Rosário. nós falamos que é a Associação dos Reinadeiros,

que aí já vem o capitão, a rainha e o rei, as autoridades máximas da festa. A Festa do

Reinado acontece o ano inteiro. nós sempre nos reunimos, sentamos para conversar,

expor um problema, uma dificuldade, alguma coisa que não funcionou bem ou manter

algo que funcionou. A Associação dos Reinadeiros trabalha o ano inteiro.”

Luiz Alberto Alves 180

C A D E R n O D E M E M Ó R I A S

180 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias, no dia 1 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

Page 172: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Ao longo dos anos, a história de Bom Despacho foi sendo contada não somente por meio de relatos orais.

Fatos que marcaram a trajetória do município foram impressos nas páginas de diversos periódicos.

À época em que a cidade possuía um pouco mais de dez anos de vida, as novidades começaram a

ser transmitidas pelas páginas do semanário Bom Despacho. A primeira edição do jornal, que integra o

acervo da Hemeroteca do Estado de Minas Gerais, data de 27 de março de 1927, com edição e direção

de Nicolau Teixeira Leite. Entretanto, a edição de número 1 foi veiculada no ano de 1924, conforme indica

o texto publicado em comemoração ao aniversário do primeiro jornal do município. “A 30 de março de

1924, sahia o primeiro número do ‘Bom Despacho’ que era recebido com curiosidade ansiosa por todos que

tinham o desejo de ver, em sua terra, uma folha independente, cujo programma se propuzesse a deffender

os interesses collectivos. Quando assumimos a sua direcção em 1925, o fizemos sem a vaidosa pretensão

de nos transformarmos em jornalista e somente porque queriamos impedir que com a retirada do nosso

antecessor ficasse B. Despacho privado de um jornal que lhe vinha prestando relevantes serviços”.181 Além

de lembrar sua fundação, o jornal relatou grandes fatos da história do município, como o falecimento do

vigário Nicolau Ângelo del Duca, também em 1927.

Outros veículos foram sendo criados, como O Bom Despacho, que levava o nome do periódico precursor,

com a adição do artigo “O”. Era gerenciado por Eurico Bento Chaves e tinha como redator Nicomedes

Teixeira Campos. A Hemeroteca do Estado de Minas Gerais reúne alguns exemplares da publicação, sendo

a mais antiga de 11 de dezembro de 1977, e a mais recente de 23 de novembro de 1980.

Mas nem todos os periódicos criados foram preservados e arquivados como documentos históricos.

Dentre os lembrados pelos moradores de Bom Despacho estão a Voz do Sertão e O Espeto, que “era uma

espécie de Pasquim. Jornalzinho que mexia com todo mundo. Eles faziam, por exemplo, a eleição da mulher

mais bonita de Bom Despacho e do homem mais feio. E criticavam todo mundo,”182 conta Tadeu Teixeira,

proprietário da extinta gráfica e jornal Bom Despacho Notícias. Segundo relatos, a própria Prefeitura,

na gestão de Célio Luquine, teria editado um periódico, denominado Realidade. Outro jornal criado no

município foi O Escriba, produzido por estudantes. Mas a criação de periódicos não ficou restrita aos jornais.

Também foram publicadas revistas em comemoração ao aniversário de Bom Despacho. Uma edição foi

lançada no cinquentenário e outras duas, contando trechos da história do município, foram produzidas em

2002 e 2008, nos aniversários de 90 e 96 anos.183

O advento e o desenvolvimentoda comunicação no município

181 Texto extraído do jornal Bom Despacho, número 150, de 27 de março de 1927, p. 01.182 Tadeu Antônio de Araújo. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, no dia 28 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.183 Revistas Bom Despacho 90 Anos (2002) e Bom Despacho 96 Anos (2008).

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Bom Despacho: a cidade centenária

Page 173: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Muitas publicações tiveram dificuldades em superar os desafios iniciais, não ultrapassando as primeiras

edições. Em contrapartida, outras conseguiram se consolidar no município, passando a fazer parte da vida

da população. O semanal Jornal de Negócios, criado em 12 de maio de 1989, é um exemplo. Além da

edição impressa, com tiragem de 6.500 exemplares, distribuídos gratuitamente aos sábados, o periódico

mantém uma página na web, onde é possível acessar desde notícias publicadas no segundo semestre de

2011 a fatos recentes. “Inicialmente era um jornal só com negócios, só com publicidade mesmo. Foi quando

o Alexandre, o diretor começou a abrir para colunistas e noticiário e o jornal passou a ter mais força em Bom

Despacho. Ele está em circulação há 20 anos.”184 Os jornais evoluíram com o município. Atualmente, os

periódicos Correio Bom-despachense, Fique Sabendo, Jornal Liberdade e Jornal de Negócios, disponibilizam

conteúdo em páginas próprias na internet.

A informação e o entretenimento ultrapassaram o âmbito das mídias impressas, viajando através das ondas

de rádio. A concessão pública para a fundação da primeira emissora em frequência AM em Bom Despacho

ocorreu em 1948: “Art. 1º Fica renovada, de acordo com o art. 33, § 3º, da Lei nº 4.117, de 27 de agosto de

1962 por dez anos, a partir de 1º de maio de 1994, a concessão da Rádio Difusora Bondespachense Ltda.,

outorgada originariamente à Rádio Difusora Bondespachense S.A. pela Portaria MVOP nº 1.025, de 2 de

dezembro de 1948.”185 Ainda no ar, a Rádio Difusora (AM 1540khz) reúne em sua programação, noticiários,

informações sobre esporte, entrevistas e músicas. O município ainda conta com a rádio Cidade FM (FM

98,9 khz), que também é transmitida via web e agrega diversos programas de entretenimento e musicais.

Inaugurando a transmissão em frequência FM, a rádio Nova Veredas (FM 89,3khtz) foi estabelecida em

1988186, a partir do decreto de 10 de novembro de 1987,187 publicado no Diário Oficial da União em 17 de

dezembro do mesmo ano. A emissora católica, pertencente à Fundação Bom Despacho, além de transmitir

conteúdos religiosos, também produz programas diversificados com temáticas sertanejas, esportivas e

noticiário. Com cobertura regional e programação voltada para o entretenimento destaca-se ainda a Rádio

Ativa (FM 87,9khtz) e a Máxima (FM 97,1khtz), sendo a última “transmitida para mais de 75 localidades,

entre elas; Araújos, Bom Despacho, Divinópolis, Carmo do Cajurú, Nova Serrana, Pará de Minas, Itaúna,

Itaguara, Lagoa da Prata, Abaeté, Pompéu, Pitangui, Perdigão, São Gonçalo do Pará, São Gotardo, Morada

Nova, Leandro Ferreira, Luz, Santo Antônio do Monte, Arcos, Dores do Indaiá, Martinho Campos, Bambuí,

Igaratinga, Tiros, Medeiros e várias outras.”188

184 Tadeu Antônio de Araújo. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, no dia 28 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.185 Informação disponível http://www.jusbrasil.com.br/diarios/1223659/dou-secao-1-19-05-1997-pg-3, consultada em 13 de Abril de 2012.186 Decreto de 10 de novembro de 1987, publicado no Diário Oficial da União em 17 de dezembro do mesmo ano. In: http://www.planalto.gov.br/

ccivil_03/decreto/Antigos/D95498.htm, consultada em 13 de Abril de 2012.187 Informação disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D95498.htm, consultada em 13 de Abril de 2012. 188 Informação disponível em http://www.radiomaxima.com.br/radio/, consultada em 13 de Abril de 2012.

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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 174: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Ao completar cem anos em 1º de junho de 2012, Bom Despacho

comemora o seu centenário e também se planeja para os anos

vindouros. Hoje a cidade procura investir na educação e também

na saúde de sua população. Encontra-se em fase de implantação no

município um sistema de despoluição das águas dos rios, assim como o

tratamento de todo o seu esgoto. A obra está sendo realizada através de

convênio entre a Prefeitura Municipal de Bom Despacho e a Companhia

de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba

(Codevasf), por meio do Programa de Revitalização da Bacia do rio São

Francisco, que objetiva melhorar a qualidade da água que é despejada

no rio São Francisco e em seus afluentes. As obras de saneamento

são de construção de emissários e estações de tratamento de esgoto

(ETE), sistema de esgotamento sanitário, interceptores, drenagem

e canalização. “Um grande problema de Bom Despacho era o esgoto

despejado nos córregos e no Rio São Francisco. Hoje já estamos com

duas estações de tratamento e uma elevatória, as obras ainda não estão

concluídas, mas em breve estará pronto e beneficiará enormemente a

população e a bacia do Velho Chico”.189

Paralelamente, a cidade procura promover uma melhora na qualidade

de vida da população. Programas de distribuição de cestas básicas,

de leite para crianças, de sopa, além de auxílio funeral são alguns

exemplos de ações desenvolvidas pela prefeitura. Atividades físicas

gratuitas também são oferecidas pela Secretaria Municipal de Saúde a

todos os interessados, sempre as segundas, quartas e sextas. “A cidade

de Bom Despacho me acolheu aqui há 35 anos e me dei muito bem na

comunidade, gosto demais daqui por vários motivos. Os principais deles

são segurança e a cultura. Me adaptei muito bem em Bom Despacho e,

hoje, ela representa para mim a minha terra do coração.”190

Bom Despacho do futuro

189 Haroldo Sousa Queiroz. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 13 de janeiro de 2012, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

190 Orlando Pereira de Freitas. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 9 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

Obras de construção da estação de tratamento de esgoto em Bom DespachoFoto: Ricardo Avelar

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Bom Despacho: a cidade centenária

Page 175: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

Na área educacional, com a chegada da Unipac o acesso à educação

superior se tornou uma realidade para os bom-despachenses, que

podem vislumbrar um futuro com maiores oportunidades. Já para os

estudantes do ensino infantil e fundamental a prefeitura disponibiliza

material escolar para todos os alunos, um incentivo para que esses não

abandonem as escolas. O objetivo é que todos os jovens concluam o

ensino médio e que a maioria ingresse em uma universidade. “A questão

de educação em Bom Despacho tende a crescer porque a cidade sempre

foi muito voltada para isso. Hoje a gente vê as pessoas muito animadas

para cursarem a universidade, principalmente os mais velhos que não

tiveram a oportunidade de estudar quando jovens”.191

Na área da saúde, o município conta com dois hospitais: a Santa Casa

e o Hospital Miguel Gontijo, além de postos de saúde. “Bom Despacho

hoje é uma microrregião de saúde do estado. Temos um serviço de saúde

muito bem estruturado, que é responsável pela atenção primária. O

problema aparece quando se precisa de uma vaga de CTI, que não existe

e muitas vezes não se consegue uma vaga em tempo hábil. Cirurgias de

alta complexidade também não são realizadas na cidade”.192

Bom Despacho se imagina no futuro como uma cidade em que existam

menos pobres, mais oportunidades de emprego, de lazer, e uma população

mais saudável e longeva. Para isso a municipalidade trabalha visando a

melhoria das suas estruturas, o bem estar coletivo, e o enriquecimento

da cidade e da sua população. Os bom-despachenses vislumbram um

futuro melhor para a cidade, que ela cresça e se destaque entre os

municípios do Centro-Oeste mineiro. “Bom Despacho é uma cidade

com possibilidades de receber bons investimentos. É uma cidade muito

ordeira, relativamente pacata e acredito que ela tem condição de estar

em um patamar bem mais elevado do que se encontra hoje”.193

191 Ordália Ferreira Pessoa Melo. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 27 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.de Abril de 2012.

192 Denise Gontijo Araújo Lamounier. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 8 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

193 Homero José do Couto. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 9 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.

- 171 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 176: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos
Page 177: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

LInHA DO TEMPO DA CIDADE DE BOM DESPACHO

Page 178: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

1832 Instituída a Paróquia de Bom Despacho

1841 A sede da Paróquia do Itapecerica, no município de Pitangui é restabelecida no Arraial

do Espírito Santo, compreendendo o Curato da Saúde, desmembrado da Paróquia do

Bom Despacho.

1842 Alterados os limites dos seguintes Distritos:

§ 5º - Os habitantes do bairro do Cercado, Curato da Saúde, e Paróquia do Bom

Despacho do município da dita Vila (Pitangui), ficam pertencendo ao Curato da

Conceição do Pará da Paróquia da referida Vila.

1848 Foram criadas aulas de Instrução Primária do 1º grau nos arraiais Bom Despacho e

outros. Bom Despacho era Termo de Pitangui. As aulas eram providas por pessoas

habilitadas no “método simultâneo”, e a partir de concurso.

1852 Incorporação à Paróquia de Bom Despacho do Distrito de Saúde, desmembrado de Pitangui.

1853 Fundação da Casa Assunção, o primeiro comércio de Bom Despacho.

1858 O Distrito de Saúde, desmembrado de Pitangui, foi incorporado à Paróquia de Bom Despacho.

1864 Elevação a Distrito de Paz de parte da Freguesia do Bom Despacho que ficava à

margem direita do Rio Picão.

Transferência da sede da Paróquia de São Gonçalo do Pará para o Arraial do Cajuru, e

incorporação à Freguesia de Bom Despacho do Distrito de Saúde.

1868 Supressão da Freguesia de Bom Despacho e incorporação do seu território à Freguesia

da Abadia.

Anexação à Freguesia da Abadia e ao Distrito de Bom Despacho da fazenda das áreas

do Capitão Antônio Teixeira Bueno.

- 174 -

LInHA DO TEMPO DA CIDADE DE BOM DESPACHO

Page 179: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

1880 A Paróquia de Bom Despacho foi desmembrada de Pitangui, passando a pertencer ao

município de Santo Antônio do Monte.

1896 Criação da primeira Conferência Vicentina em Bom Despacho, a Conferência Nossa

Senhora da Conceição de Bom Despacho.

Instituição da Santa Casa em Bom Despacho.

1900 Estruturação da primeira fonte de abastecimento de água de Bom Despacho, a fonte

da Biquinha.

1908 Posse do primeiro Provedor da Santa Casa de Bom Despacho, Padre Nicolau Ângelo

del Duca.

1909 Criação da cadeira mista de instrução primária em Bom Despacho, município de Santo

Antônio do Monte.

1911 Criação do município de Bom Despacho, por meio da Lei 556, de 30/08/1911.

1912 Instalação do município de Bom Despacho no dia 1º de junho.

Eleição de vereadores do município de Bom Despacho. Decreto 3.477, de junho de

1912.

Criação do Grupo Escolar de Bom Despacho. Decreto 3.700, de 1912.

Escolha do primeiro administrador do município, Faustino Assunção.

1913 Aprovação dos estudos e do orçamento da segunda seção da Estrada de Ferro

Paracatu, com a extensão de aproximadamente 76 km, de Bom Despacho a Dores do

Indaiá. Decreto 3.987, de 1913.

1915 Elevados a Termo pertencente às comarcas em frente designadas, com suas atuais

divisas, os seguintes municípios: Bom Despacho (Comarca de Santo Antônio do Monte).

Lei 663, de 18 de setembro de 1915.

- 175 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 180: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

1918 Concessão de licença à Câmara Municipal de Bom Despacho para realização de

estudos técnicos da Cachoeira denominada João de Deus ou José do Couto, localizada

no Rio Lambari. Decreto 5.021, de 1918.

1919 Transferência para o Povoado denominado Engenho, município de Bom Despacho, da

escola rural mista de Ranchão, município de Jacutinga. Decreto 5.242, de 1919.

1920 Criação da Colônia Álvaro da Silveira.

1921 Criação de um núcleo colonial em terras da Fazenda Cachoeira do Picão, município de

Bom Despacho, denominado David Campista. Decreto 5.560, de 1921.

Criação de duas escolas mistas nas colônias Álvaro da Silveira, e David Campista.

Decreto 5.652, de 1921.

Chegada da Estrada de Ferro Paracatu em Bom Despacho.

1923 Definição dos limites territoriais de Bom Despacho. Lei 843, de 07 de setembro de 1923.

1924 Fundação da Companhia Força e Luz de Bom Despacho.

Fundação do jornal “Bom Despacho”.

1924/1925

Construção de nova casa paroquial.

1926 Criação do Clube Bom Despacho.

Concessão provisória à Companhia Força e Luz de Bom Despacho de queda d’água

denominada João de Deus, no Rio Lambari. Decreto 7.152, de 1926.

1927 Falecimento do padre Nicolau Ângelo del Duca.

Benção solene da pedra fundamental da nova Igreja Matriz de Bom Despacho,

ministrada pelo Padre Augusto de Andrade, em 08 de dezembro.

- 176 -

LInHA DO TEMPO DA CIDADE DE BOM DESPACHO

Page 181: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

1927 Instalação de segunda unidade geradora de energia da Companhia Força e Luz de Bom

Despacho.

1928 Transferência do Grupo Escolar de Bom Despacho para novas dependências,

localizadas na Rua Miguel Dias, nº 40.

Instalação no município de agência do Banco do Comércio e Indústria de Minas Gerais.

Inauguração do Hotel Glória.

1929 Estabelecimento das divisas entre os municípios de Bom Despacho e Santo Antônio do

Monte. Lei 1.122, de 1929.

1931 Instalação em Bom Despacho da sede do 7° Batalhão de Caçadores Mineiros da Força

Pública do Estado de Minas Gerais.

1933 Aquisição da Companhia Força e Luz de Bom Despacho pela Prefeitura Municipal.

Criação da Banda de Música Santa Efigênia, pertencente ao 7º Batalhão de Caçadores

Mineiros da Força Pública do Estado de Minas Gerais.

1934 Criação de escola urbana na Vila Militar do 7º Batalhão de Caçadores Mineiros da

Força Pública do Estado de Minas Gerais. Decreto 11.722, de 1934.

1935 Visita do Governador de Minas Gerais, Benedito Valadares Ribeiro, ao 7º Batalhão, em

Bom Despacho.

1936 Início da construção da estrada de rodagem de Belo Horizonte a Saúde, que passava a

ligar Bom Despacho a estrada de rodagem Belo Horizonte – Triângulo Mineiro.

Construção do Campo de Aviação de Bom Despacho, com o auxílio de elementos do 7º

Batalhão de Bom Despacho.

O governo foi autorizado a doar à Prefeitura de Bom Despacho o antigo prédio do

grupo escolar.

- 177 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 182: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

1938 Criação da Companhia Industrial Aliança Bom-Despachense (CIAB), empresa têxtil, em

Bom Despacho.

1939 O município de Bom Despacho foi organizado pelo Serviço Geográfico de Minas Gerais.

1942 Instituição do primeiro decreto que autorizava a pesquisa de cristal de rocha em Bom

Despacho. Decreto 9.711, de 17 de junho de 1942.

A Companhia Industrial Aliança Bondespachense foi autorizada a ampliar suas

instalações de produção, transmissão e distribuição de energia elétrica, em Bom

Despacho. Decreto 8.606, de 24 de janeiro de 1942.

1943 Decreto-Lei que estabeleceu os limites municipais e as divisas interdistritais de Bom

Despacho e de outros municípios do Estado de Minas Gerais, e que vigorou, sem

alterações, até o ano de 1948. Decreto-Lei 1.058, de 31 de dezembro de 1943.

1945 Sagração da Igreja Matriz (provavelmente a benção da nova Igreja Matriz de Bom

Despacho, em 16/12/1945).

1946 A Comarca de Bom Despacho (1ª Entrância), com sede em Bom Despacho, composta

pelo Termo de Bom Despacho e distritos de Bom Despacho (cidade), Araújos, e

Moema. Decreto-Lei 1.630, de 15 de janeiro de 1946.

Emancipação da Colônia Davi Campista, localizada no município de Bom Despacho.

Decreto 2.264, de 1946.

O Grupo Escolar de Bom Despacho recebeu denominação especial: Grupo Escolar

Coronel Praxedes. Decreto 2.284, de 1946.

1947 Estabelecimento das 70 Delegacias Adjuntas, correspondentes a 70 Circunscrições

Policiais. Bom Despacho, assim como Pitangui, Matinho Campos e Pompéu passaram a

pertencer à 47ª Circunscrição. Decreto-Lei 2.147, de 11 de julho de 1947.

Criação da Escola Elementar de Agricultura. Decreto 2.478, de 1947.

Criação de 25 escolas primárias municipais e rurais, localizadas em fazendas e povoados

do município de Bom Despacho. Lei Municipal n° 03, de 29 de dezembro de 1947.

- 178 -

LInHA DO TEMPO DA CIDADE DE BOM DESPACHO

Page 183: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

1948 Estabelecimento da divisão administrativa e judiciária do Estado de Minas Gerais, que

vigorou de 1949 a 1953. Criação do Distrito de Engenho do Ribeiro, no município de

Bom Despacho. Lei 336, de 27 de dezembro de 1948.

Criação da primeira emissora em frequência AM em Bom Despacho.

Finalização das obras de construção da nova Igreja Matriz de Bom Despacho.

1949 O poder executivo foi autorizado a criar estabelecimento de ensino secundário em Bom

Despacho. Lei 500, de 25 de novembro de 1949.

1950 O Governo do Estado de Minas Gerais foi autorizado a doar à Prefeitura Municipal de

Bom Despacho o terreno e benfeitorias correspondentes a sede da ex-Colônia David

Campista, emancipada pelo Decreto 2.264, de 26 de julho de 1946. Lei 701, de 27 de

Novembro de 1950.

Início das atividades do Ginásio Estadual de Bom Despacho.

A Companhia Força e Luz, de Dores do Indaiá, foi autorizada a construir linha de

transmissão entre os municípios de Bom Despacho e Dores do Indaiá. Decreto 29.819,

27 de julho de 1951.

1951 Transferência para o município de Bom Despacho da Escola de Reforma Antônio

Carlos, localizada em Ribeirão das Neves. Lei 755, de 12 de dezembro de 1951.

Autorização da doação de terrenos à Rede Mineira de Viação, no município de Bom

Despacho. Lei 881, de 1952.

1953 Criação de grupo escolar em Bom Despacho, denominado Grupo Escolar João Dornas

Filho. Decreto 3.965, de 1953.

Estabelecimento da divisão administrativa e judiciária do Estado de Minas Gerais, a

vigorar de 1954 até 1958. Bom Despacho era circunscrição judiciária e, juntamente

com Araújos e Moema, era também circunscrição administrativa. Lei 1.039, 12 de

dezembro de 1953.

Fixação em 9.316 elementos o efetivo da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais para

o ano de 1954, da qual se localizava em Bom Despacho o 7º Batalhão de Infantaria. Lei

1.072, 26 de dezembro de 1953.

- 179 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 184: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

1954 Organização judiciária de Minas Gerais, da qual Bom Despacho era comarca de 2ª

entrância. Lei 1.098, de 22 de junho de 1954.

1955 Autorização concedida ao poder executivo para criar conservatório de música em Bom

Despacho, entre outros municípios. Lei 1.239, de 1955.

1956 Criação da cooperativa Cooperbom.

1958 Criação da Companhia Telefônica de Bom Despacho, em maio de 1958, mas que

somente foi instalada em 2 de agosto de 1959.

1959 O Governo de Minas Gerais foi autorizado a encampar a estrada de rodagem de Abaeté

a Bom Despacho, passando pelo município de Martinho Campos. Lei 1.956, de 19 de

agosto de 1959.

Doação de terreno ao município de Bom Despacho para construção do prédio da

Prefeitura Municipal de Bom Despacho. Lei 1.987, de 22 de setembro de 1959.

Fundação da Siderúrgica União Bondespachense.

1960 Criação do Grupo Escolar Flávio Cançado Filho, o terceiro grupo escolar da cidade de

Bom Despacho. Decreto 5.764, de 10 de março de 1960.

O Governo de Minas Gerais foi autorizado a encampar a estrada de rodagem de

Pitangui a Bom Despacho, passando por Conceição do Pará e Leandro Ferreira. Lei

2.146, de 08 de junho de 1960.

1962 O Ginásio Estadual de Bom Despacho passou a se chamar Colégio Normal Oficial de

Bom Despacho.

Autorização concedida à Companhia Industrial Aliança Bondespachense a ampliar seu

sistema de transmissão de energia elétrica em Bom Despacho. Decreto do Conselho

de Ministro nº 662, de 08 de março de 1962.

1963 Concessão de nova denominação ao Ginásio Estadual de Bom Despacho: Ginásio

Estadual Miguel Gontijo. Lei 2.814, de 15 de janeiro de 1963.

- 180 -

LInHA DO TEMPO DA CIDADE DE BOM DESPACHO

Page 185: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

1963 Criação do Grupo Escolar Martinho Fidelis, em Bom Despacho. Decreto 7.693, de 26 de

junho de 1964.

Declaração de utilidade pública, para efeito de desapropriação, dos terrenos

necessários à construção da subestação de energia elétrica da Usina Hidrelétrica de

João de Deus, no município de Bom Despacho. Decreto 7.339, de 1963.

1964 Criação da biblioteca pública e do museu municipal de Bom Despacho.

1965 O Colégio Normal Oficial de Bom Despacho teve a sua denominação alterada para

Colégio Normal Oficial Miguel Gontijo de Bom Despacho.

A organização judiciária de Minas Gerais definiu que Bom Despacho era comarca de 2ª

entrância. Lei 3.344, de 14 de janeiro de 1965.

O Fórum de Bom Despacho passou a se chamar Fórum Hudson Gouthier. Decreto

8.157, de 1965.

Criação da Cidade Industrial de Bom Despacho. Lei 3.529, de 10 de novembro de 1965.

Criação de um jardim de infância no anexo do Colégio Tiradentes da Polícia Militar, em

Bom Despacho. Decreto 9.015, de 1965.

Autorização para a instituição da Fundação Faculdade de Filosofia e Letras de Bom

Despacho:

Art. 1º - Fica o Governo do Estado autorizado a instituir com sede na cidade de Bom

Despacho, a Fundação Faculdade de Filosofia e Letras de Bom Despacho, entidade

autônoma que se regerá por estatuto aprovado em decreto do Governador do Estado.

Lei 3.903, de 22 de dezembro de 1965.

Criação de Ginásios Industriais Estaduais em Bom Despacho. Lei 4.025, de 28 de

dezembro de 1965.

1966 Instituição da Fundação Faculdade de Filosofia e Letras de Bom Despacho:

Art. 1º - A Fundação Faculdade de Filosofia e Letras de Bom Despacho, entidade

com personalidade jurídica própria, terá sua sede e foro na cidade de Bom Despacho,

Estado de Minas Gerais e se regerá pelo presente Estatuto. Decreto 9.299, de 03 de

janeiro de 1966.

- 181 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 186: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

1969 Criação do Rotary de Bom Despacho.

O Colégio Normal Oficial Miguel Gontijo de Bom Despacho passou a se chamar Colégio

Estadual Miguel Gontijo de Bom Despacho.

1970 Organização das Delegacias Regionais de Ensino. Bom Despacho participava da

6ª Delegacia Regional de Ensino de Divinópolis, da qual compunha uma inspetoria

composta pelas cidades de Bom Despacho, Araújos, Luz, Martinho Campos, e Moema.

Decreto 12.880, de 04 de agosto de 1970.

A obra social da Associação de São Vicente de Paulo, em Bom Despacho foi declarada

de utilidade pública. Decreto 67.144, de 08 de setembro de 1970.

1972 O Colégio Estadual Miguel Gontijo de Bom Despacho teve a sua denominação

modificada para Escola Estadual Miguel Gontijo de 1º e 2º Grau.

Criação da Associação Bondespachense de Assistência e Promoção (ABAP).

A Irmandade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro da Santa Casa de Caridade de Bom

Despacho foi declarada de utilidade pública. Decreto 70.247, de 07 de março de 1972.

1973 A Escola Estadual Miguel Gontijo de 1º e 2º Grau passou a se chamar Escola Estadual

Miguel Gontijo.

1974 O Grupo Escolar Coronel Praxedes passou a se chamar Escola Estadual Coronel Praxedes.

1975 Inauguração da Praça de Esportes do 7º Batalhão da Polícia Militar em Bom Despacho

Inauguração do novo cemitério da cidade de Bom Despacho, o Cemitério Parque da

Esperança.

A Companhia Industrial Aliança Bondespachense recebeu concessão para

aproveitamento hidráulico de trecho do Rio Lambari, para uso exclusivo. Decreto

76.903, de 24 de dezembro de 1975.

1976 Declaração de utilidade pública, para efeito de desapropriação de pleno domínio, de

terrenos e benfeitorias necessárias à construção da subestação de energia elétrica de

Bom Despacho, do sistema CEMIG. Decreto 17.699, de 1976.

- 182 -

LInHA DO TEMPO DA CIDADE DE BOM DESPACHO

Page 187: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

1977 Reinauguração da Igreja Matriz de Bom Despacho após as reformas, interna e externa.

Restauração da fonte da Biquinha.

Lançamento da pedra fundamental da futura sede do Rotary Clube de Bom Despacho.

A CEMIG chega a Bom Despacho.

Construção pela família Orsini do mais alto edifício de Bom Despacho, com 08

pavimentos.

Demolição do último sobrado da Praça da Matriz, local em que funcionou a primeira

escola normal de Bom Despacho.

1978 Inauguração de novo pavilhão da Santa Casa de Bom Despacho, e a reforma do

prédio antigo.

Desativação dos serviços ferroviários em Bom Despacho.

Inauguração do fornecimento de água pela COPASA no dia do aniversário de Bom

Despacho.

Reabertura do Clube Bom Despacho, no dia 29 de Julho, com a promoção de um

baile de gala.

Reinauguração da Igreja do Rosário da cidade de Bom Despacho após melhoramentos.

O Poder Executivo foi autorizado a doar à Rede Ferroviária Federal S.A. imóvel, de

propriedade do Estado, localizado no município de Bom Despacho, por meio da Lei

7.402, de 15 de dezembro de 1978.

1980 Fundação do Ipê Campestre Clube.

Criação do grupo teatral “Porta Aberta”.

Inauguração de uma praça em homenagem ao Padre João Heffels, denominada de

Praça Padre João Heffels.

1981 Aprovação de convênio entre o Estado de Minas Gerais, através da Secretaria de

Estado da Saúde, Bom Despacho, Leandro Ferreira e outros, para a construção de

centros de saúde. Resolução 2.533, de 08 de junho de 1981.

1982 Instalação em Bom Despacho do Núcleo de Fiscalização da Administração

Fazendária II (AF/II).

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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 188: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

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AnexOs

1983 A Aliança Bondespachense de Assistência e Promoção - ABAP, com sede na cidade de

Bom Despacho foi declarada de utilidade pública pela Lei 8.423, de 1983.

1984 Criação do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Extração de Madeiras e da

Lenha de Bom Despacho.

Instituição em Bom Despacho do 88º Grupo Escoteiro (88° GE/MG).

Criação do Festicanto.

1985 Criação do ensino de segundo grau em escola de rede estadual, em Bom Despacho.

Decreto 24.359, de 1985.

Aprovação de convênios celebrados entre o Estado de Minas Gerais, através da

Secretaria de Estado da Saúde, e os municípios de Bom Despacho e outros, para

prestação de assistência médica-sanitária à população desses municípios. Resolução

3.602, de 07 de agosto de 1985.

Criação da Cooperativa de Crédito Rural de Bom Despacho Ltda. – CREDIBOM.

1986 Instalação em Bom Despacho de uma agência da Previdência Social.

Instituição de uma unidade de apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

(Senac) em Bom Despacho.

1988 Inauguração do terminal rodoviário de Bom Despacho.

Realização do último Festicanto.

A Associação Comunitária dos Bairros São José, Jardim América, D. Joaquim e Novo

D. Joaquim, com sede na cidade de Bom Despacho foi declarada de utilidade pública

pela Lei 9.693, de 25 de novembro de 1988.

1989 Realização da I Expoarte.

Criação do semanário “Jornal de Negócios”.

Realização da primeira Cavalgada da Fé.

Realização da primeira Feira do Livro em Bom Despacho.

Page 189: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

1990 Criação do Clube de Cavaleiros.

Criação do coral Voz e Vida.

1991 Fundação da Corporação Musical Nossa Senhora do Bom Despacho.

1992 Reforma da Igreja Matriz de Bom Despacho.

1994 Solicitação feita por Manoel Werneck, representante do Sindicato dos Ferroviários de

Bom Despacho, à Rede Ferroviária Federal (RFFSA) para doação de uma locomotiva e

área para criação do Museu da Estrada de Ferro Paracatu, em Bom Despacho.

1995 Criação do Centro de Atendimento e Integração da Criança (CAIC).

1996 Criação do Curso Regular de Suplência (ensino médio) na Unidade de Ensino Supletivo

Professora Zaíra Batista Teixeira, em Bom Despacho. Decreto 38.039, de 21 de maio de

1996.

1997 Fundação da Associação Museu da Cidade (AMC).

Início da construção da avenida sanitária Doutor Roberto.

1998 Autorização para o funcionamento da Faculdade de Ciências Contábeis de Bom

Despacho. Decreto 39.795, de 06 de agosto de 1998.

Municipalização de três escolas de Bom Despacho: Escola Municipal Dona Duca,

Escola Municipal Coronel Praxedes, e Escola Municipal João Dornas Filho.

Instalação em Bom Despacho de campus da Unipac. (Universidade Presidente

Antônio Carlos)

Instituição do Museu da Cidade (MdC).

1999 Fundação da Associação dos Amigos do Museu Ferroviário de Bom Despacho (AMFBD).

- 185 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 190: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

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AnexOs

2001 Implantação em Bom Despacho do Programa Saúde da Família (PSF).

Transformação da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Conselheiro Lafaiete e

da Faculdade de Ciências Contábeis de Bom Despacho, em Campi Universitários da

Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac). Decreto 41.808, de 07 de agosto

de 2001.

2002 Instalação do SESC em Bom Despacho.

2005 Reconhecimento do curso de graduação em Sistemas da Informação, da Universidade

Presidente Antônio Carlos (Unipac), em Bom Despacho. Decreto de 03 de novembro de

2005.

Implantação do ensino médio no Centro Estadual de Educação Continuada Professora

Zaíra Batista Oliveira Teixeira, em Bom Despacho. Decreto 44.193, de 28 de dezembro

de 2005.

2006 Reconhecimento dos cursos de graduação em Enfermagem e em Fisioterapia, da

Universidade Presidente Antônio Carlos, em Bom Despacho. Decreto de 10 de

novembro de 2006.

Criação do Centro de Educação Infantil Jacinto Salviano, e do Centro de Educação

Infantil Professora Eraída Alves.

Início da implantação de sistema de despoluição das águas dos rios de Bom Despacho,

um convênio entre a Prefeitura Municipal de Bom Despacho e a Companhia de

Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

Tombamento, pelo município, do Conjunto paisagístico e arquitetônico do 7º Batalhão

da Polícia Militar em Bom Despacho.

2007 Tombamento pelo município da fonte da Biquinha.

2009 Criação do Festival de Inverno de Bom Despacho.

Concessão a Furnas Centrais Elétricas da exploração do serviço público de

transmissão de energia elétrica, relativa à linha de transmissão Bom Despacho 3

Decreto 0-004, de 12 de janeiro de 2009.

Page 191: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

2011 Realização de convênio entre a Prefeitura de Bom Despacho e o IFET (Campus

Bambuí), que possibilitou a implantação dos cursos de Técnico em Meio Ambiente e

Gerência de Saúde.

Aprovação de uma unidade da Universidade Aberta do Brasil (UAB) em Bom Despacho.

2012 Comemoração do centenário de Bom Despacho.

- 187 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

Page 192: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos
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- 189 -

livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

AnexOs

Page 194: Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos

- 190 -

AnexOs

De 1912 a 1915Faustino Assunção

De 1915 a 1918Pedro de Paula Gontijo

De 1918 a 1920Pedro de Paula Gontijo

De 1920 a 1923Antônio Guerra da Silva

De 1923 a 1927Faustino Assunção Teixeira

De 1927 a 1930Faustino Assunção Teixeira

De 1930 a 1945Flávio Cançado Filho

De 29/10/1945 a 11/12/1945Erotides Diniz

De 11/12/1945 a 11/02/1946Domingos Mendanha

De 11/02/1946 a 31/12/1946Flávio Cançado Filho

De 02/01/1947 a 20/04/1947João Pedro de Araújo

De 20/04/1947 a 21/12/1947José de Paula Marques Gontijo

De 21/12/1947 a 01/02/1951Hugo Marques Gontijo

De 01/02/1951 a 01/02/1955Cisalpino Marques Gontijo

De 01/02/1955 a 31/01/1959Francisco de Araújo Lopes Cançado

De 01/02/1959 a 31/01/1963Antônio Leite de Oliveira

De 01/02/1963 a 31/01/1967Roberto de Melo Queiroz

De 01/02/1967 a 31/01/1971Geraldo Simão Vaz

PREFEITOS DO MUnICíPIO DE BOM DESPACHO

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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

De 01/02/1971 a 31/01/1973Antônio Leite de Oliveira

De 01/02/1973 a 31/01/1977Geraldo Simão Vaz

De 01/02/1977 a 31/01/1983Antônio Leite de Oliveira

De 01/02/1983 a 31/12/1988Célio Luquine

De 01/01/1989 a 31/12/1992José Cardoso de Mesquita

De 01/01/1993 a 31/12/1996Célio Luquine

De 01/01/1997 a 31/12/2000Haroldo de Sousa Queiroz

De 01/01/2001 a 31/12/2004Geraldo Simão Vaz

De 01/01/2005 a 31/12/2012Haroldo de Sousa Queiroz

De 01/01/2009 a 31/12/2012Haroldo de Sousa Queiroz

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AnexOs

Igrejas católicas

Igreja Matriz

Igreja de Fátima

Igreja do Bairro São Vicente

Igreja do Rosário

Igreja da Vila Gontijo

Igreja da Santa Casa

Igreja da Vila Militar

Igreja do Bairro São José

Igreja do Engenho do Ribeiro

Igreja do bairro Ana Rosa

Capela de São Judas

Capela de Nossa Senhora das Graças

Capela de São Lucas

Capela de São Cristóvão

Capela da Sagrada Família

Capela de Santo Expedito

Capela de Nossa Senhora de Aparecida

centros espíritas

Grupo Espírita Pingo de Luz (Kardecista)

Grupo Espírita São Sebastião (Umbanda)

Vale do Amanhecer (Umbanda e Candomblé)

TEMPLOS RELIgIOSOS EM BOM DESPACHO

evangélicas

Deus é Amor

Igreja Batista

Igreja do Evangelho Quadrangular

Assembleia de Deus

Outras

Testemunha de Jeová

Adventistas do Sétimo Dia

capelas rurais

Capelas das comunidades: Bom Retiro,

Retiro dos Agostinhos, Alves Vilaça, Mato

Seco, Capivari dos Macedos, Capivari dos

Marçal, Passagem, Garça, Lagoa Zé Luís e

Prata.

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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

ESCOLAS PúBLICAS EM BOM DESPACHO

CAIXA ESCOLAR CHIQUINHA SOARES

CAIXA ESCOLAR PROFESSORA ZAÍRA BATISTA TEIXEIRA

ESCOLA MUNICIPAL CORONEL PRAXEDES

ESCOLA MUNICIPAL DONA DUCA

ESCOLA MUNICIPAL EGÍDIO BENÍCIO DE ABREU

ESCOLA MUNICIPAL FLÁVIO CANçADO FILHO

ESCOLA MUNICIPAL JOãO DORNAS FILHO

ESCOLA ESTADUAL MIGUEL GONTIJO

COLÉGIO TIRADENTES DA POLÍCIA MILITAR

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REFERênCIAS BIBLIOgRÁFICAS

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REFERênCIAS BIBLIOgRÁFICAS

AMORMINO, Luciana; NEVES, Osias Ribeiro. Flávio e Ilda: A Arte de Conduzir.

Belo Horizonte: Escritório de Histórias, 2008.

BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário histórico-geográfico de Minas

Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1971.

CENNI, Franco. Italianos no Brasil. 3ed. São Paulo: Editora da Universidade de

São Paulo, 2003.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12. Ed. São Paulo: Editora da Universidade

de São Paulo, 2004.

FILHO, Luciano Mendes de Faria. Instrução elementar no século XIX. In: LOPES,

Eliane Marta Teixeira; FILHO, Luciano Mendes de Faria; VEIGA, Cynthia Greive

(org.). 500 anos de educação no Brasil. 2ª edição. Belo Horizonte: Autêntica,

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FONSECA, Francisco de Assis. COOPERBOM 50 anos. Uma trajetória de

sucesso. Edição: COOPERBOM.

GUERRA, Jacinto. Gente de Bom Despacho: histórias de quem bebe água

da biquinha. Brasília: Editora Thesaurus, 2003.

GUERRA, Jacinto. Arraial da Senhora do Sol: história, cultura e turismo em

Bom Despacho. Bom Despacho: Edições Piraquara, 1997.

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MORAIS, Márcio Marcos. Rastros na Poeira. Belo Horizonte: Dez Escritos, 2003.

NEVES, Osias Ribeiro; NEVES, Isabella Verdolin; CAMISASCA, Marina Mesquita.

GMMLE: 50 anos da história da metalurgia e da mineração em Minas Gerais.

Belo Horizonte: Escritório de Histórias.

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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos

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Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.

RODRIGUES, Laércio. História de Bom Despacho (origens e formação).

Belo Horizonte, 1968.

Revista Cinquentenário de Bom Despacho 1912-1962.

Revista Bom Despacho 90 anos. 2002.

Revista Bom Despacho Ontem/Bom Despacho Hoje 96 anos. 2008.

Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte,

outubro de 2003.

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Minas Gerais. Belo Horizonte: Editora Itatiaia Ltda, 2000.

SANTOS, Manoel Hygino dos. Santa Casa de Belo Horizonte Uma história de

amor à vida. Belo Horizonte, 2005.

SOBRINHO, Benjamim da Silva. A História do Rosário e da Festa do Reinado.

Bom Despacho, 2009.

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Esta obra foi composta nos tipos Abraham Lincoln, Constantia

e Flama, no papel Couchê Fosco 150 gramas em junho de 2012.

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