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Seminário sobre Recuperação de Empresas e Falências – As cautelas jurídicas para os credores e parceiros comerciais Glauco Alves Martins

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Seminário sobre Recuperação de Empresas e Falências –

As cautelas jurídicas para os credores e parceiros comerciais

Glauco Alves Martins

1. Primeiro Módulo: Visão Geral do Sistema ConcursalBrasileiro (Lei 11.101/2005)

1.1. Panorama Geral do Sistema Concursal Brasileiro

1.2. Quem está sujeito à Lei de Recuperação de Empresas eFalências

1.3. Recuperação Judicial

1.3.1. A posição dos credores no processo de recuperaçãojudicial

1.3.2. Credores que não estão sujeitos à recuperação judiciale as consequências

Estrutura do Seminário

1.3.3. Cessão Fiduciária de Recebíveis e Trava bancária

1.3.4. Funcionamento da Assembleia Geral de Credores

1.4. Recuperação Extrajudicial

1.5. Falência

1.5.1. Restituição de bens em poder do falido ou vendidas para ofalido

1.5.2. Classificação legal dos créditos e ordem de pagamento

Estrutura do Seminário

2. Segundo Módulo. Negócios com empresas em recuperaçãojudicial, falidas ou em estado de crise econômico-financeira

2.1. Sucessão de obrigações na aquisição de ativos da empresa emrecuperação judicial ou falida

2.2. Privilégios dos credores que fornecem para ou financiam odevedor em recuperação judicial

2.2.1. DIP Financing: financiamento de empresas emrecuperação judicial

2.5. Ação Revocatória, declaração de ineficácia e fraude: as cautelasa serem tomadas na negociação com empresas em crise.

2.5. Cautelas nas cessões de créditos

2.6 Efeitos da falência sobre os contratos celebrados com o falido.

Estrutura do Seminário

3. Terceiro Módulo: Análise dos principais casos derecuperação e seus impactos para os credores

3.1 Frigorífico Independência

3.2 LBR

3.3 BRA Linhas Aéreas

3.4 Giotoku

3.5 Transportadora Binotto

3.6 Gradiente

Estrutura do Seminário

PRIMEIRO MÓDULO:

Visão Geral do Sistema Concursal Brasileiro (Lei 11.101/2005)

O QUE É UM SISTEMA CONCURSAL?

QUAL A IMPORTÂNCIA DE UM

SISTEMA CONCURSAL EFICIENTE PARA OS CREDORES E

PARCEIROS COMERCIAIS DA EMPRESA EM CRISE?

QUAL A IMPORTÂNCIA DE AS EMPRESAS CONHECEREM A LEGISLAÇÃO CONCURSAL NUM CONTEXTO DE RECESSÃO

ECONÔMICA?

Ano 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014(JAN/AGO)

RecuperaçõesJudiciaisajuizadas

110 252 269 312 670 475 515 757 874 541

RecuperaçõesJudiciaisconcedidas

0 5 13 32 101 215 151 189 244 227

RecuperaçõesExtrajudiciaisajuizadas

0 2 9 14 15 7 7 5 4 6

RecuperaçõesExtrajudiciaishomologada

0 0 5 6 5 2 1 1 2 5

Relação entrerecuperaçõesjudiciais erecuperaçõesextrajudiciais

N/A 126/1 29.8/1 22.28/1 44.66/1 67.85/1 73.57/1 151.4/1 218.5/1 90.16/1

Recuperações Judiciais e Extrajudiciais no Brasil (2005/2014)

ESTÁGIO ATUAL DO DIREITO CONCURSAL BRASILEIRO

• Decreto-Lei 7.661/45 (antiga Lei de Falências, revogada): foco na punição e na liquidação. Ineficiência da concordata. Punição das negociações extrajudiciais (“concordatas brancas”).

• Lei 11.101/2005 (atual Lei de Recuperação de Empresas e Falências): foco na preservação das empresa. Criação da recuperação judicial e extrajudicial. Estímulo às tratativas extrajudiciais. Estímulo à negociação com empresas em crise. Estímulo à compra de ativos de empresas em recuperação ou falência

VALORES PRESENTES NO ATUAL SISTEMA CONCURSAL BRASILEIRO

• Princípio da preservação da empresa economicamente viável

• Separação da empresa (atividade) e empresário (titular da atividade)

• Maximização do valor dos ativos: benefícios para devedor e para o adquirente de ativos

VALORES PRESENTES NO ATUAL SISTEMA CONCURSAL BRASILEIRO

• Participação ativa dos credores

• Redução do custo do crédito

QUEM ESTÁ SUJEITO À LEI DE RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FALÊNCIAS? (art. 1º)

• Empresários Individuais

• EIRELIS

• Sociedade empresárias: • Sociedades Limitadas

• Sociedades Anônimas

• Sociedades em Comandita por Ações, Sociedades em Nome Coletivo e Sociedades em Comandita Simples (muito raras)

QUEM NÃO ESTÁ SUJEITO À LEI DE RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FALÊNCIAS?

• Pessoas físicas não-empresárias, mesmo que exerçam atividade econômica (ex.: advogados)

• Sociedades Simples (ex.: sociedade de advogados, sociedade de auditores)Súmula 49 do TJSP: “A lei nº 11.101/2005 não se aplica à sociedade simples”.

• Cooperativas

• Sociedades de economia mista e empresas públicas (inconstitucional?)

QUEM NÃO ESTÁ SUJEITO À LEI DE RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FALÊNCIAS?

• Empresários não registrados na Junta Comercial

• Sociedades em comum (“sociedades de fato”)

• Sociedade em conta de participação (somente o sócio ostensivo pode falir)

• Instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, administradora de consórcios, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização, corretoras de valores mobiliários e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.

• Consórcios (não têm personalidade jurídica)

ONDE DEVE SER PROCESSADA A RECUPERAÇÃO OU A

FALÊNCIA (JUÍZO COMPETENTE)?

Principal estabelecimento do devedor, do ponto de vista econômico

(estabelecimento onde é concluída a maioria dos negócios e de onde

partem as decisões fundamentais da empresa, ou seja, onde se localiza a

sua administração). Por vezes, também é considerado o local de onde

emanam as principais decisões estratégicas, financeiras e operacionais da

empresa.

Problema: transferência fraudulenta da sede – possível prejuízo aos

credores

JURISPRUDÊNCIA: JUÍZO COMPETENTE

“PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. Pedido formulado em conjunto pelas empresaspor H-BUSTER SÃO PAULO INDÚSTRIA E COMÉRCIO S/A, com sede em Cotia-SP e por H-BUSTER DA AMAZÔNIA INDÚSTRIA E COMÉRCIO S/A, com sede em Manaus-AM.Litisconsórcio ativo admitido. Competência para o processamento do pedido derecuperação judicial. Declinação da competência para o foro da Comarca de Manaus-AMcom base no critério de porte econômico, por ser naquela cidade em que o grupo deempresas concentra a maior parte de seus ativos, aufere a maior parte de sua receitaoperacional e onde possui o maior número de funcionários. Centro decisório do grupo,contudo, situado na Comarca de Cotia-SP. Exegese do art. 3º da Lei nº 11.105/05.Precedentes do STJ e do TJSP. Principal estabelecimento correspondente ao local deonde emanam as principais decisões estratégicas, financeiras e operacionais dogrupo de empresas. Competência do foro da Comarca de Cotia-SP para oprocessamento do pedido de recuperação judicial. Agravo provido.”

(TJSP, Agravo de Instrumento 0080995-49.2013.8.26.0000, 1ª Camara de DireitoEmpresarial, Rel. Alexandre Marcondes, j. 21.05.2012)

RECUPERAÇÃO

JUDICIAL

RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a

preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.

FASES DE UMA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

1) Petição Inicial

2) Decisão de Deferimento do Processamento da Recuperação Judicial

• Suspensão de todas as ações, execuções e prescrições contra o devedor, ressalvados os credores extraconcursais

• Publicação do edital de convocação de credores (art. 7º, §1º) para que credores apresentem habilitação de crédito ou divergência (geralmente em 15 dias)

• A verificação de créditos é realizada pelo administrador judicial a partir desta decisão

2.A) Verificação de Créditos

• Após os credores apresentaram divergências e habilitações, administrador judicial elabora nova relação de credores e publica novo edital (art. 7º, §2º). Geralmente, este é o edital utilizado para cômputo dos votos na assembleia geral de credores

• Publicado o edital, credores têm 10 dias para apresentar impugnação dirigida ao juiz (art. 8º)

3) Apresentação do plano de recuperação judicial em 60 dias contados da publicação da decisão de deferimento da recuperação, sob pena de falência

4) Objeção dos credores ao plano: publica-se novo edital de aviso sobre o plano, para que os credores apresentem objeções em 30 dias. Caso não haja objeções, o juiz homologará o plano. Em havendo objeções, o juiz convocará assembleia geral de credores para debater o plano.

5) Assembleia geral de credores

6) Exibição de certidões negativas de débitos tributários antes da homologação do plano. Essa exigência vem sendo dispensada pela jurisprudência, pois não existe lei que autorize o parcelamento dos tributos em atraso do devedor em recuperação judicial.

7) Decisão de concessão da recuperação judicial ou de decretação da falência. Todos os credores serão vinculados ao plano, mesmo aqueles que não compareceram à assembleia ou que votaram contra o plano.

8) Período de observação: o devedor permanece em recuperação judicial por 2 anos após a concessão da recuperação, sendo fiscalizado pelo administrador judicial, pelo comitê de Credores e pelo Ministério Público, devendo cumprir o plano. Após este prazo, o processo é extinto.

CREDORES QUE ESTÃO SUJEITOS

À RECUPERAÇÃO JUDICIAL

• Em regra, todos os créditos (vencidos e vincendos) existentesno momento do pedido de recuperação, inclusive créditoscom garantia real (hipoteca e penhor) e trabalhistas;

• Os credores do devedor em recuperação judicial mantêmseus direitos e privilégios contra coobrigados, avalistas efiadores.

CONSEQUÊNCIAS DA SUJEIÇÃO DO CREDOR

À RECUPERAÇÃO JUDICIAL

• O credor deve obedecer o prazo de suspensão das ações eexecuções de 180 dias (prazo prorrogável)

• O credor deve verificar se seu crédito está corretamente habilitadoe, em caso contrário, habilitar seu crédito

• O credor pode apresentar objeções e críticas ao plano derecuperação judicial apresentado

• Poderá comparecer e votar na assembleia geral de credores

• Caso o plano seja aprovado, o credor fica vinculado aos termos doplano de recuperação judicial e será pago nos termos do planoaprovado

PRERROGATIVAS DO CREDOR SUJEITO

À RECUPERAÇÃO JUDICIAL

• Apresentar objeção ao plano de recuperação apresentado

• Solicitar quaisquer informações ao administrador judicial

• Pedir a instalação de Comitê de Credores

• Caso algum administrador da empresa seja afastado pelo juiz,eleger seu substituto em assembleia convocada para esse fim

• Pedir convocação de assembleia geral de credores (pelos 25% doscréditos de alguma classe)

• Requerer a falência do devedor, caso não cumpra o plano derecuperação judicial

SITUAÇÃO ESPECIAL DE CERTOS CREDORES

• Os credores relativos aos seguintes contratos não sesubmetem aos efeitos da recuperação judicial, prevalecendoos direitos de propriedade sobre a coisa e as condiçõescontratuais, (Art. 49,§ 3º):

• Alienação fiduciária de bens móveis ou imóveis, inclusive cessão fiduciária de recebíveis;

• Arrendamento Mercantil (leasing);

• Compromisso de compra e venda de imóvel

• Compra e venda com reserva de domínio

Obs.: Não será permitida, contudo, a venda ou a retirada do estabelecimentodo devedor dos “bens de capital essenciais à sua atividade empresarial”. Essaproibição vigora durante o prazo de suspensão das ações e execuções (“stayperiod”).

• Não se sujeita aos efeitos da recuperação judicial a importância entregue ao devedor decorrente de adiantamento de contrato de câmbio para exportação (ACC)

SITUAÇÃO ESPECIAL DE CERTOS CREDORES

Consequências:

• Credor não é obrigado a respeito o prazo de suspensão das ações e execuções, podendo promover a cobrança do crédito

• Não participação desses credores na assembleia

• Impossibilidade de o plano de recuperação envolver tais créditos, salvo expressa concordância do credor

• O direito de propriedade do credor não pode ser afetado ser afetado

SITUAÇÃO ESPECIAL DE CERTOS CREDORES

• Posição dos credores com garantia real (hipoteca e penhor,principalmente). Tais créditos estão sujeitos à recuperação judicial econstituem uma classe própria. A garantia apenas poderá ser suprimida ousubstituída com aprovação expressa do credor titular (art.. 50,§1º);

• Situação dos Empregados (Art. 54): O plano de recuperação judicial nãopode prever:

• prazo superior a 1 (um) ano para pagamento dos créditos derivados dalegislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalhovencidos até a data do pedido de recuperação judicial;

• prazo superior a 30 (trinta) dias para o pagamento, até o limite de 5(cinco) salários-mínimos por trabalhador, dos créditos de naturezaestritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores ao pedidode recuperação judicial.

MEIOS DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL

A LREF prevê, de modo exemplificativo, os meios de recuperação que podem ser adotados no plano de recuperação:

• Concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou vincendas;

• Cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de subsidiária integral, ou cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios;

• Alteração do controle societário;

• Substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação de seus órgãos administrativos;

• Concessão aos credores de direito de eleição em separado deadministradores e de poder de veto em relação às matérias que oplano especificar;

• Aumento de capital social;

• Trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedadeconstituída pelos próprios empregados;

• Redução salarial, compensação de horários e redução da jornada,mediante acordo ou convenção coletiva;

• Dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou semconstituição de garantia própria ou de terceiro;

• Constituição de sociedade de credores

• Venda parcial dos bens

• Equalização de encargos financeiros

• Usufruto da empresa

• Administração compartilhada

• Emissão de valores mobiliários

EFEITOS DA APROVAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO PARA OS CREDORES

O plano de recuperação implica novação dos créditos anteriores ao pedido e obriga o devedor e todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias (Art. 59).

Qual a situação dos avalistas e fiadores, face à aprovação do plano?

CONSEQUÊNCIAS DO DESCUMPRIMENTO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO

•Para obrigações vencidas até 2 (dois) anos depois da concessão derecuperação judicial:

1) Convolação da recuperação judicial em falência.

2) Os credores terão reconstituídos seus direitos e garantias nascondições originalmente contratadas.

•Para obrigações vencidas após 2 (dois) anos da concessão derecuperação judicial: Qualquer credor poderá iniciar processo deexecução ou requerer a falência

•Obs.: em caso de não cumprimento do plano, tem sido admitida aconvocação de nova assembleia de credores para modificação do plano.

ÓRGÃOS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

E SUA IMPORTÂNCIA PARA OS CREDORES

• Assembléia Geral de Credores: É um colegiado representativo doscredores trabalhistas, privilegiados, garantidos por direitos reais equirografários. Tem por principais atribuição a aprovação, rejeição oumodificação do plano de recuperação judicial, dentre outras.

• Comitê de credores: Trata-se de órgão criado com a finalidade depermitir aos credores o acompanhamento e fiscalização do cumprimentodo plano de recuperação judicial, especialmente no caso de arecuperação mostrar-se complexa ou a empresa ser de grande porte (suaexistência é facultativa).

• Administrador Judicial: É o agente auxiliar do juiz na recuperaçãojudicial e na falência.

A assembleia geral é composta pelas seguintes classes decredores (Art. 41):

• Credores derivados da legislação do trabalho ou decorrentesde acidentes de trabalho (“trabalhadores”);

• Credores com garantia real;

• Credores quirografários, com privilégio especial, comprivilégio geral ou subordinados.

O voto do credor pode ser proporcional ao valor do seu crédito e/ou por cabeça, dependendo da deliberação.

FORMA PADRÃO DE APROVAÇÃO

DO PLANO DE RECUPERAÇÃO

Todas as classes devem aprovar o plano de recuperação judicial.

• Nas classes dos credores com garantia real e na dos credoresquirografários, a proposta deve ser aprovada, cumulativamente, pelovoto:

• dos titulares de mais da metade dos créditos presentes; e

• da maioria dos credores presentes, por cabeça.

• Na classe dos trabalhadores, a proposta deve ser aprovada pela maioriasimples dos credores presentes (por cabeça), independentemente do valordo seu crédito.

FORMA ALTERNATIVA DE APROVAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO (CRAM DOWN) (ART.. 58, §1º):

O juiz poderá declarar aprovado o plano se, na Assembléia-Geral, o plano tenha obtido, cumulativamente:

• Voto favorável dos titulares de mais da metade do total dos créditos presentes, independentemente de classes;

• Aprovação em duas das classes; e

• Voto favorável de 33% da classe que tenha rejeitado o plano.

Obs.: essa aprovação extraordinária só poderá ser realizada pelo juiz se o plano não favorecer determinados credores dentro de uma mesma classe.

A jurisprudência tem adotado postura pró-devedor e aplicado o cram down com flexibilização dos requisitos legais:

RECUPERAÇÃO JUDICIAL. Plano rejeitado em assembleia.Aprovação pelos trabalhistas, mas rejeição pelos quirografários.Art. 45 LRF. Decisão, contudo, que homologou o plano. Art. 58§1ºLRF. “Cram down”. Relativização dos requisitos. Prevalência doprincípio da conservação da empresa. Art. 47 LRF. Decisãomantida. Recurso desprovido.

(TJSP. AI nº 0155523-54.2013.8.26.0000. Des. Rel. Teixeira Leite,1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, j. 06/02/2014)

No entanto, a matéria não é pacífica e comporta questionamento peloscredores:

RECUPERAÇÃO JUDICIAL. Rejeição do plano de recuperação judicial pelaassembleia geral de credores. Credores apenas da classe III(quirografários). Banco Itaú titular de mais de 50% do valor total doscréditos, que votou contra a aprovação do plano. Inaplicabilidade doinstituto do cram down (art. 58, §1º, da LFR). Decretação dafalência. Inteligência do art. 56, §4º, c.c. art. 73, inc. III, da Lei11.101/05. Soberania das deliberações da assembleia geral decredores. Ausência de ilegalidade. Regularidade da modificação dovalor do crédito do Banco Itaú. Decisão agravada mantida, comfundamento no art. 252 do Regimento Interno deste E. Tribunal. Recursonão provido (TJSP. AI nº 0030039-29.2013.8.26.0000. Des. Rel. TassoDuarte de Melo, 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, j.30/09/2013)

O Poder Judiciário tem considerado abusivo o voto do credorem certas ocasiões, invalidando o voto.

Recuperação judicial. Aprovação do plano de recuperação apresentado, adespeito de ter sido rejeitado em Assembleia Geral de Credores. Homologaçãoconforme teoria denominada “cram down”. Controle judicial de legalidade.Desconsideração dos votos dos credores em razão de abuso de direito.Enunciados nº 4 e 45 da I Jornada de Direito Comercial do Conselho da JustiçaFederal (CJF). Aplicação do princípio da preservação da empresaeconomicamente viável. Credores pertencentes a uma única classe, a doscréditos quirografários. Ausência de deságio. Aumento do faturamento daempresa desde a data do pedido de recuperação judicial. Abuso doexercício do direito de voto reconhecido. Manutenção da decisão quehomologou o plano de recuperação judicial. Agravo de instrumento desprovido(TJSP. AI nº 0100844-07.2013.8.26.0000. Des. Rel. José Reynaldo, 2ª CâmaraReservada de Direito Empresarial, j. 03/02/2014)

Situações que já levaram a declaração do voto do credor como abusivo:

• Credor que é concorrente do devedor

• Plano de recuperação que impõe sacrifício razoável, mas é rejeitado por credor decisivo

• Voto contrário que extrapola os limites da razoabilidade econômica, por não trazer vantagem alguma ao credor

Situação que não caracterizou voto abusivo do credor:

• Credor que rejeita plano de recuperação, mas é acompanhado por outros

FALÊNCIA

CARACTERIZAÇÃO DA FALÊNCIA

1. Impontualidade

Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:

I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência;

2. Execução frustrada

Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:

II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal;

3. Atos de Falência

Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:

III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial:

a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos;

b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;

c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo;

d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;

e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;

f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento;

g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação judicial.

4. Autofalência

Art. 105. O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender aos requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo sua falência, expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da atividade empresarial, acompanhadas dos seguintes documentos: (...)

5. Convolação da recuperação judicial em falência

Art. 73. O juiz decretará a falência durante o processo de recuperação judicial:

I – por deliberação da assembleia geral de credores, na forma do art. 42 desta Lei;

II – pela não apresentação, pelo devedor, do plano de recuperação no prazo do art. 53 desta Lei;

III – quando houver sido rejeitado o plano de recuperação, nos termos do § 4o do art. 56 desta Lei;

IV – por descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano de recuperação, na forma do § 1o do art. 61 desta Lei.

CLASSIFICAÇÃO DOS CREDORES NA FALÊNCIA

1) CREDORES EXTRACONCURSAIS

Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os relativos a:

I – remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da falência;

II – quantias fornecidas à massa pelos credores;

III – despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu produto, bem como custas do processo de falência;

IV – custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha sido vencida;

V – obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência, e tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei.

CLASSIFICAÇÃO DOS CREDORES NA FALÊNCIA

2) CREDORES CONCURSAIS (art. 83)

1. credores derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho;

2. credores com garantia real até o limite do valor do bem gravado;

3. credores tributários, excetuadas as multas tributárias;

4. credores com privilégio especial

5. credores com privilégio geral

6. credores quirografários

7. multas

8. credores subordinados (créditos de sócios e administradores sem vínculo empregatício e outros previstos em lei)

PEDIDO DE RESTITUIÇÃO

1. Bem arrecadado na falência ou em poder do falido (art. 85, caput)

2. Bem vendido a crédito

Art. 85. (...)

Parágrafo único. Também pode ser pedida a restituição de coisa vendida a crédito e entregue ao devedor nos 15 (quinze) dias anteriores ao requerimento de sua falência, se ainda não alienada.

3. Restituição em dinheiro (exceção)

Art. 86. Proceder-se-á à restituição em dinheiro:

I – se a coisa não mais existir ao tempo do pedido de restituição, hipótese em que o requerente receberá o valor da avaliação do bem, ou, no caso de ter ocorrido sua venda, o respectivo preço, em ambos os casos no valor atualizado;

II – da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional, decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para exportação, na forma do art. 75, §§ 3o e 4o, da Lei no4.728, de 14 de julho de 1965, desde que o prazo total da operação, inclusive eventuais prorrogações, não exceda o previsto nas normas específicas da autoridade competente;

III – dos valores entregues ao devedor pelo contratante de boa-fé na hipótese de revogação ou ineficácia do contrato, conforme disposto no art. 136 desta Lei.

RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

AS DUAS MODALIDADES DE RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

A recuperação extrajudicial comporta duas modalidades:

a) Modalidade homologatória: plano de recuperação celebrado somente entre o devedor e os credores que aderirem ao plano. Nesse caso, só se sujeitam aos termos do acordo os credores que aderirem ao plano de recuperação

b) Modalidade impositiva: plano de recuperação assinado por pelo menos 3/5 dos créditos de cada classe ou grupos de credores abrangida pelo plano. Nessa hipótese, todos os credores da cada classe estão sujeitos ao plano

PORQUE A RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL É POUCO UTILIZADA?

• Não há suspensão das ações e execuções contra o devedor

• O plano de recuperação não se encontra “blindado” contra futurasalegações de fraude

• Caso o plano de recuperação contemple venda de ativos do devedor,o adquirente responderá pelo passivo do devedor, nos termos daLei.

Conclusão: credores e parceiros comerciais devem se acautelar.

SEGUNDO MÓDULO:

Negócios com empresas em recuperação, falidas ou em estado de crise econômico-

financeira

SUCESSÃO DE OBRIGAÇÕES NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL E NA FALÊNCIA

Regras gerais aplicáveis à sucessão de obrigações:

• Tributos (art. 133, CTN);

• Dívidas trabalhistas (art. 10 e 448, CLT);

• Dívidas em geral (art. 1146, Código Civil).

Código Civil

Art. 1.146. O adquirente do estabelecimento responde pelopagamento dos débitos anteriores à transferência, desde queregularmente contabilizados, continuando o devedor primitivosolidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quantoaos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, dadata do vencimento.

Código Tributário Nacional

Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir deoutra, por qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial,industrial ou profissional, e continuar a respectiva exploração, sob a mesmaou outra razão social ou sob firma ou nome individual, responde pelostributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos até àdata do ato:

I - integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústriaou atividade;

II - subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração ouiniciar dentro de seis meses a contar da data da alienação, nova atividadeno mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão.

Consolidação das Leis do Trabalho - CLT

Art. 10. Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresanão afetará os direitos adquiridos por seus empregados.

Art. 448. A mudança na propriedade ou na estrutura jurídicada empresa não afetará os contratos de trabalho dosrespectivos empregados.

Lei 11.101/2005: Não haverá qualquer espécie de sucessão das

obrigações do devedor em caso de alienação conjunta ou separada de

ativos na falência ou na recuperação judicial (desde que prevista no

plano), ainda que de natureza tributária ou trabalhista (arts. 60, par. ún..

e 141, II), exceto quando o arrematante for:

I – sócio da sociedade falida, ou sociedade controlada pelo falido;

II – parente, em linha reta ou colateral até o 4o (quarto) grau,

consangüíneo ou afim, do falido ou de sócio da sociedade falida; ou

III – identificado como agente do falido com o objetivo de fraudar a

sucessão.

A norma não se aplica a alienações ocorridas em recuperação

extrajudicial.

Redação do art. 133 do Código Tributário Nacional a partir da Lei Complementar 118/2005:

Art. 133. §1º O disposto no caput deste artigo não se aplica na hipótese de alienação judicial:I – em processo de falência; II – de filial ou unidade produtiva isolada, em processo de recuperação judicial.

Unidade Produtiva Isolada – UPI

Conceito flexível, geralmente refere-se a partes de um ou maisestabelecimentos do devedor, formando células isoladas paraalienação na recuperação judicial.

A UPI deve, em tese, ter autonomia econômica. Sua alienação nãodeve inviabilizar a continuidade da empresa.

PANORAMA NO PODER JUDICIÁRIO

ADI 3934 – STF

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS 60, PARÁGRAFO ÚNICO, 83,I E IV, c, E 141, II, DA LEI 11.101/2005. FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL.INEXISTÊNCIA DE OFENSA AOS ARTIGOS 1º, III E IV, 6º, 7º, I, E 170, DACONSTITUIÇÃO FEDERAL de 1988. ADI JULGADA IMPROCEDENTE. I - Inexistereserva constitucional de lei complementar para a execução dos créditostrabalhistas decorrente de falência ou recuperação judicial. II - Não há, também,inconstitucionalidade quanto à ausência de sucessão de créditostrabalhistas. III - Igualmente não existe ofensa à Constituição no tocante ao limitede conversão de créditos trabalhistas em quirografários. IV - Diploma legal queobjetiva prestigiar a função social da empresa e assegurar, tanto quantopossível, a preservação dos postos de trabalho. V - Ação direta julgadaimprocedente. (Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, julgado em 27/05/2009,Tribunal Pleno)

Conflito de Competência 61.272– STJ (Caso Varig)

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. 1. CONFLITO E RECURSO. A regra mais elementar em

matéria de competência recursal é a de que as decisões de um juiz de 1º grau só podem

ser reformadas pelo tribunal a que está vinculado; o conflito de competência não pode

ser provocado com a finalidade de produzir, ‘per saltum’, o efeito que só o recurso

próprio alcançaria, porque a jurisdição sobre o mérito é prestada por instâncias

(ordinárias: juiz e tribunal; extraordinárias: Superior Tribunal de Justiça e Supremo

Tribunal Federal). 2. LEI DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL (Lei nº 11.101, de 2005). A Lei

nº 11.101, de 2005, não teria operacionalidade alguma se sua aplicação pudesse

ser partilhada por juízes de direito e juízes do trabalho; competência

constitucional (CF, art. 114, incs. I a VIII) e competência legal (CF, art. 114, inc. IX)

da Justiça do Trabalho. Conflito conhecido e provido para declarar competente o MM.

Juiz de Direito da 1ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro.

(Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 25/04/2007, Segunda Seção)

TST - RECURSO DE REVISTA

94404720075050022 9440-47.2007.5.05.0022

EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL. AQUISIÇÃO DE UNIDADEPRODUTIVA POR MEIO DE HASTA PÚBLICA. SUCESSÃOTRABALHISTA. GRUPO ECONÔMICO. REPONSABILIDADE SOLIDÁRIA.De acordo com o artigo 60 , parágrafo único , da Lei nº 11.101 /2005, narecuperação judicial, o objeto da alienação estará livre de qualquerônus, e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor.Por outro lado, o Supremo Tribunal Federal, na ADI nº 3.934/DF ( Rel.Min. Ricardo Lewandowski, DJ de 6/11/2009), interpretando a exegesedo dispositivo legal supramencionado, concluiu que a alienação deempresa em processo de recuperação judicial não acarreta a sucessãopela arrematante.

In casu , o Tribunal Regional registra que houve arrematação daUnidade Produtiva Varig por meio da alienação judicial realizada narecuperação judicial da primeira reclamada. Entretanto, concluiu queas empresas reclamadas pertenciam ao mesmo grupo econômico, demodo que a recorrente deveria responder de forma solidária. Contudo,nos termos do artigo 60 , parágrafo único , da Lei nº 11.101 /2005 eem conformidade com a decisão do Supremo Tribunal Federal, aalienação de empresa em processo de recuperação judicial nãoacarreta a responsabilidade solidária da recorrente. Assim, ausente asucessão trabalhista, a recorrente não pode figurar no polo passivo dademanda, pois, sendo parte ilegítima, deve ser afastada a suaresponsabilização, visto que, não havendo sucessão trabalhista, descaberesponsabilizar a recorrente com base na existência de grupo econômico,mormente porque o objeto da alienação ocorrida em sede de recuperaçãojudicial estará livre de qualquer ônus. Recurso de revista conhecido eprovido neste particular....

PANORAMA NO PODER JUDICIÁRIO

• Predomina no STJ e no TST o respeito às normasespecíficas da LREF sobre sucessão de obrigações(trabalhistas e tributárias)

• O mesmo entendimento é praticado pelos TRTs, comalgumas exceções.

• No tocantes às execuções fiscais, STJ tem seposicionado a favor do cumprimento da LREF.

Consequências:

• Crescente interesse na aquisição de ativos emrecuperações e falências

• Operações de alienação de parte de empresas (“filiaisou unidades produtivas isoladas”) concluídas pormeio de recuperações judiciais

PRIVILÉGIOS DOS CREDORES QUE FORNECEM PARA OU FINANCIAM O DEVEDOR EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL

A LREF oferece dois benefícios para o fornecedor que vende para o devedorem recuperação judicial e para o banco que financie o devedor durante arecuperação judicial:

(i) a qualificação do crédito enquanto extraconcursal na eventual falência;e

(ii) Eventuais créditos anteriores à recuperação judicial são alçados àcondição de credor com privilégio geral, em caso de falência.

DIP Financing: financiamento de empresas em recuperação judicial

Art. 67. Os créditos decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor durantea recuperação judicial, inclusive aqueles relativos a despesas comfornecedores de bens ou serviços e contratos de mútuo, serão consideradosextraconcursais, em caso de decretação de falência, respeitada, no que couber, aordem estabelecida no art. 83 desta Lei.

Parágrafo único. Os créditos quirografários sujeitos à recuperação judicialpertencentes a fornecedores de bens ou serviços que continuarem a provê-losnormalmente após o pedido de recuperação judicial terão privilégio geral derecebimento em caso de decretação de falência, no limite do valor dos bens ouserviços fornecidos durante o período da recuperação

Bancos:

Geralmente bancos pequenos se interessam por essa linha de crédito,mas exigindo garantias mediante cessão de duplicatas, o que prejudicao devedor.

Fornecedores:

• Boa parte desiste de fornecer para empresas em recuperação oufornecem à vista

• Alguns fornecem mediante carta de fiança

• Muitas vezes é acordado um percentual adicional em novascompras para liquidação periódica da dívida habilitada narecuperação judicial, o que é ilegal (violação do princípio dotratamento paritário dos credores). Risco de caracterização decrime falimentar.

Créditos extraconcursais e o Poder Judiciário

“DIREITO FALIMENTAR. (...) CLASSIFICAÇÃO DE CRÉDITOS. ATOS JURÍDICOSPRATICADOS DEPOIS DE DEFERIDO O PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL.(...) RECONHECIMENTO DA NATUREZA EXTRACONCURSAL DOS CRÉDITOS. (...)

5 - Ainda que a recuperação judicial se mostre inviável e, por qualquer motivo, sejaconvolada em falência, como no particular, é salutar reconhecer que quem negocioucom o devedor a partir do momento em que se evidenciou a situação de crise -data do deferimento do pedido de processamento da recuperação judicial -colaborou sobremaneira com a tentativa de reerguimento da sociedade e,portanto, deve ocupar uma posição privilegiada na fila de credores.

6 - Atribuir precedência na ordem de pagamento àqueles que participarem ativamentedo processo de soerguimento da empresa, na hipótese de quebra do devedor, foi amaneira encontrada pelo legislador para compensar o incremento do riscoexperimentado.

(STJ. REsp 1398092 / SC. Min. Rel. Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. 06/05/2014, DJe19/05/2014)

INEFICÁCIA E DA REVOGAÇÃO DE ATOS PRATICADOS ANTES DA FALÊNCIA

• Negócios celebrados com empresas em estado de crise, em recuperaçãojudicial ou com elevado número de protestos devem ser precedidas decuidadosa análise da operação à luz da LREF, a fim de se evitar futurosquestionamentos em eventual falência da parte que está em crise.

• O que é termo legal?

Período no qual certos atos do devedor falido são presumidos como sendoprejudiciais à massa falida. Esse período é fixado em até 90 (noventa) diascontados do pedido de falência, do pedido de recuperação judicial ou do1o (primeiro) protesto por falta de pagamento, excluindo-se, para estafinalidade, os protestos que tenham sido cancelados.

Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não ocontratante conhecimento do estado de crise econômico-financeira dodevedor, seja ou não intenção deste fraudar credores:

I – o pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor dentrodo termo legal, por qualquer meio extintivo do direito de crédito, aindaque pelo desconto do próprio título;

II – o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado dentro dotermo legal, por qualquer forma que não seja a prevista pelo contrato;

III – a constituição de direito real de garantia, inclusive a retenção, dentrodo termo legal, tratando-se de dívida contraída anteriormente; se os bensdados em hipoteca forem objeto de outras posteriores, a massa falidareceberá a parte que devia caber ao credor da hipoteca revogada;

IV – a prática de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes dadecretação da falência;

V – a renúncia à herança ou a legado, até 2 (dois) anos antes da decretaçãoda falência;

VI – a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimentoexpresso ou o pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes, nãotendo restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo, salvo se,no prazo de 30 (trinta) dias, não houver oposição dos credores, após seremdevidamente notificados, judicialmente ou pelo oficial do registro de títulos edocumentos;

VII – os registros de direitos reais e de transferência de propriedade entre vivos, portítulo oneroso ou gratuito, ou a averbação relativa a imóveis realizados após adecretação da falência, salvo se tiver havido prenotação anterior.

Parágrafo único. A ineficácia poderá ser declarada de ofício pelo juiz, alegada emdefesa ou pleiteada mediante ação própria ou incidentalmente no curso do processo.

REVOGAÇÃO (AÇÃO REVOCATÓRIA)

Art. 130. São revogáveis os atos praticados com a intenção de prejudicarcredores, provando-se o conluio fraudulento entre o devedor e oterceiro que com ele contratar e o efetivo prejuízo sofrido pela massafalida.

• Se o negócio foi concluído como parte de um plano derecuperação judicial aprovado e homologado pelo juiz, oato, em princípio, não pode ser declarado ineficaz ou serrevogado (não aplicável à recuperação extrajudicial)

• Os bens ou o equivalente em dinheiro (valor de mercado)devem ser devolvidos à massa falida, conforme o caso.

• Se o bem foi revendido a terceiros, ele só será devolvido sehouve má-fé e conluio por parte do terceiro. Do contrário,paga-se indenização.

EFEITOS DA FALÊNCIA SOBRE

OS CONTRATO DO FALIDO

Contratos: em princípio, não se resolvem em razão dafalência e podem ser executados pelo administrador judicialda massa falida, se trouxer benefícios para os credores. Isso éespecialmente importante quando ocorre a continuação daatividade da empresa durante a falência.

É lícita a cláusula que prevê a extinção do contrato em caso defalência ou de recuperação judicial? Jurisprudência dividida.

Art. 117. Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podemser cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ouevitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessário à manutençãoe preservação de seus ativos, mediante autorização do Comitê.

§1º O contratante pode interpelar o administrador judicial, no prazode até 90 (noventa) dias, contado da assinatura do termo de sua nomeação,para que, dentro de 10 (dez) dias, declare se cumpre ou não o contrato.

§2º A declaração negativa ou o silêncio do administrador judicial confereao contraente o direito à indenização, cujo valor, apurado em processoordinário, constituirá crédito quirografário.

COMPENSAÇÃO DE CRÉDITOS

NA FALÊNCIA:

Art. 122. Compensam-se, com preferência sobre todos os demaiscredores, as dívidas do devedor vencidas até o dia da decretação dafalência, provenha o vencimento da sentença de falência ou não,obedecidos os requisitos da legislação civil.

NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL:

Não é autorizada a compensação, dada a ausência de previsão legale o fato de que que um dos créditos a compensar (o habilitado na

recuperação) não é exigível de imediato, mas nos termos do plano.

CESSÕES DE CRÉDITOS HABILITADOS NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL OU FALÊNCIA

• Cessões não são vedadas pela Lei 11.101/2005

• Formalidades: eficácia quanto a terceiros (art. 288,Código Civil)

• Averbação, em caso de crédito hipotecário

• Notificação ao devedor em recuperação, aoadministrador judicial e ao juízo

• Responsabilidade pela existência do crédito

CAUTELAS A SEREM TOMADAS PELOS CREDORES NA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

• Como o plano de recuperação extrajudicial não está protegido contrafutura caracterização de fraude, o credor deve verificar se o planopoderá ser atacado em caso de futura falência (arts. 129 e 130 daLREF);

• A aquisição do ativo do devedor em recuperação judicial, ainda queprevista no plano de recuperação judicial, implica assunção de parte dopassivo do devedor, nos termos da Lei (art. 1.146 do Código Civil, art.133 do CTN e art. 10 e 448 da CLT).

• Ressalva: o credor tem liberdade para propor suas ações contra odevedor que está negociando uma recuperação extrajudicial.

TERCEIRO MÓDULO:

Análise de casos de recuperação e seus impactos para os credores e parceiros

comerciais

1º CASO: Frigorífico Independência

Destaques:

• Passivo de R$ 2,3 bilhões

• Plano complexo e modificado em várias oportunidades

Plano de recuperação original

• Divisão dos credores em (i) trabalhistas; (ii) credores financeiros com garantia reale (iii) credores financeiros quirografário; (iv) credores operacionais pecuaristas;(v) credores operacionais fornecedores; e (vi) credores de ACC Aderentes.

• Credores trabalhistas (classe I): pagamentos integral do prazo de 12 meses; naprática, pagamento à vista.

• Credores com garantia real (classe II): (i) tratamento especial de um credorfinanceiro, que recebeu down payment de 63,06% do seu crédito; (ii) demais, jurospagos na forma de IPCA + 7% a.a., com carência de 2 anos; principal em 36parcelas mensais, com 4 anos de carência

Classe III

• Créditos financeiros quirografários: (a) haircut (deságio) de 50%; (b)principal pago em parcela única em 30.12.2016; (c) juros pagossemestralmente a partir de julho de 2010, à taxa de 14% a.a. (reais) e 12%a.a. (moeda estrangeira);

• Pecuaristas: parcela única de R$ 100 mil em 31.03.2010; saldo em 23parcelas mensais iguais e consecutivas + 24ª parcela equivalente a 36,11%de cada crédito; correção pela SELIC;

• Fornecedores: idêntico pecuaristas, ressalvado que a parcela única inicial éde R$ 40 mil;

• Adesão facultativa de credores de ACC: pagamento sem deságio; juros:carência de 2 anos, 5% a.a., 60 parcelas mensais e iguais a partir denovembro de 2011; principal: 4 anos de carência, pagamento em 36 parcelasmensais e iguais.

• 100% dos ativos dados em alienação fiduciária para novos financiamentos.

2º CASO: BRA

Destaque do plano original: pagamento com debêntures

• Divisão dos credores em (i) trabalhistas; (ii) operacionais e (iii) financeiros.Credores trabalhistas: pagamentos integral do prazo de 12 meses, mediantedestinação de até 50% de todo o resultado positivo da companhia para opagamento destes credores, mediante acordos coletivos.

• Credores financeiros e operacionais: conversão dos respectivos créditos emdebêntures emitidas pela BRA, com haircut. Passageiros: serão ressarcidos naforma de serviços

• Dívidas fiscais: 10% do resultado positivo no primeiro ano

• Meios: capitalização de R$ 6mi pelo controlador + emissão de debêntures

3º CASO: Grupo LBR Lácteos

• Não houve deságio.

• Possibilidade de adesão dos credores extraconcursais ao plano.

• Trabalhadores pagos em até 12 meses.

• Credores com garantia real: pagos em parcelas semestrais a partir de março de 2016 até setembro de 2023 (somente juros pagos de 2016 a 2021).

• Divisão dos credores quirografários (mais de 2700) em:

• Financeiros: de 2016 a 2026.

• Fornecedores essenciais (definidos a exclusivo critério da devedora): vencidos serão pagos em 24 meses da aprovação do plano; vincendos serão pagos normalmente.

• Demais credores: de 2014 a 2016.

• 12 UPIs foram colocadas à venda.

4º caso: Gyotoku

Destaque: interferência do Poder Judiciário no Plano de Recuperação

“Agravo. Recuperação Judicial. Plano aprovado pela assembleia-geral de credores.Plano que prevê o pagamento do passivo em 18 anos, calculando-se os pagamentos empercentuais (2,3%, 2,5% e 3%) incidentes sobre a receita líquida da empresa,iniciando-se os pagamentos a partir do 3º ano contado da aprovação. Previsão depagamento por cabeça até o 6º ano, acarretando pagamento antecipado dos menorescredores, instituindo conflitos de interesses entre os credores da mesma classe.Pagamentos sem incidência de juros. Previsão de remissão ou anistia dos saldosdevedores caso, após os pagamentos do 18º ano, não haja recebimento integral.Proposta que viola os princípios gerais do direito, os princípios constitucionais daisonomia, da legalidade, da propriedade, da proporcionalidade e da razoabilidade, emespecial o princípio da "pars conditio creditorum" e normas de ordem pública.(CONTINUA)...

“Previsão que permite a manipulação do resultado das deliberaçõesassembleares. Falta de discriminação dos valores de cada parcela a serpaga que impede a aferição do cumprimento do plano e sua execuçãoespecífica, haja vista a falta de liquidez e certeza do "quantum" a serpago. Ilegalidade da cláusula que estabelece o pagamento dos credoresquirografários e com garantia real após o decurso do prazo bienal dasupervisão judicial (art. 61, 'caput', da Lei nº 11.101/2005). Invalidade(nulidade) da deliberação da assembleia-geral de credores declaradade ofício, com determinação de apresentação de outro plano, no prazode 30 dias, a ser elaborado em consonância com a Constituição Federale Lei nº 11.101/2005, a ser submetido à assembleia-geral de credoresem 60 dias, sob pena de decreto de falência.”

(TJSP, Agravo de Instrumento 0136362-29.2011.8.26.0000, Rel. Des.Pereira Calças, j. 28.02.2012)

5º caso: Binotto Logística

Destaque: elevado desconto

Trabalhistas: Desconto de 11%, 37% ou 90% por trabalhador, conforme o caso.

Credores financeiros: desconto de 85% (oitenta e cinco por cento) sobre o saldodevedor consolidado pelo Administrador Judicial, com carência de juros e principal de60 (sessenta) meses, contados da data base da recuperação. O pagamento dar-se-á em120 (cento e vinte) parcelas mensais, com juros de 2% ao ano.

Demais Quirografários: desconto de 85% (oitenta e cinco por cento) sobre o saldodevedor consolidado pelo Administrador Judicial, com carência de juros e principal de48 (quarenta e oito) meses, contados da data base da recuperação. O pagamento dar-se-á em 120 (cento e vinte) parcelas mensais, com juros de 2% ao ano.

6º CASO: GRADIENTE (Recuperação Extrajudicial)

• Somente credores quirografários (adesão de 68,5%)

• Atualização monetária pela TJLP + juros de 3% a.a.;

• Credores superiores a R$ 1 mi: 24 meses de carência, com atualização pelo CDI + 0,67% a.a.; após a carência, pagamento em 28 parcelas iguais e trimestrais (7 anos), com mesmos critérios de atualização monetária e juros

• Credores inferiores a R$ 1 mi: critérios diversos, variando em função do tamanho do crédito

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