jovem socialista 460

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SOCIALISTA JOVEM NÚMERO 4 60 Director Bruno Julião Equipa de Redacção Diogo Leão, Pedro Sousa, Vítor Reis, Luísa Fernandes, Tiago Barbosa Ribeiro, Rui Miguel Pires ORGÃO OFICIAL DA JUVENTUDE SOCIALISTA Zapatero ganhou pág.2 > AFECTOS E DESAFECTOS Da oposição a um Governo de maioria pág.6 > APETECE DIZER JS Ribatejo organizou Convenção Autárquica pág.2 > CÁ POR DENTRO 03 SOBRETUDO Segurança Social sustentável 07 INTERNACIONAL Zimbabué, que futuro? 03 EDITORIAL Uma utopia em Abu Dhabi ALTERNATIVAS ENERGÉTICAS: O BIOCOMBUSTÍVEL , O BIOGÁS E A BIOMASSA SÓLIDA

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19 de Março de 2008

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Page 1: Jovem Socialista 460

SOCIALISTAJOVEM NÚMERO 460

Director Bruno Julião Equipa de Redacção Diogo Leão, Pedro Sousa, Vítor Reis, Luísa Fernandes, Tiago Barbosa Ribeiro, Rui Miguel Pires

ORGÃO OFICIAL DA JUVENTUDE SOCIALISTA

Zapateroganhou pág.2

> AFECTOS E DESAFECTOS

Da oposição a um Governo de maioria pág.6

> APETECE DIZER

JS Ribatejo organizouConvenção Autárquica pág.2

> CÁ POR DENTRO

03 SOBRETUDO

Segurança Social sustentável

07 INTERNACIONAL

Zimbabué, que futuro?

03 EDITORIAL

Uma utopia em Abu Dhabi

ALTERNATIVASENERGÉTICAS:O BIOCOMBUSTÍVEL, O BIOGÁSE A BIOMASSA SÓLIDA

Page 2: Jovem Socialista 460

No passado dia 8 de Março San-tarém foi palco de mais uma convenção autárquica promo-vida pela Juventude Socialista. De entre os painéis de oradores

convidados, a actividade contou com a presen-ça de Silvino Sequeira, António Gameiro, José Sousa Gomes, Dina Bernardino, Luís Ferreira e Luís Mena Esteves, em temas tão diversos como o papel, no futuro, das freguesias, ou a partici-pação dos cidadãos nas assembleias municipais,

todos eles cuja linha condutora se pautou pelo papel e pelo estatuto das estruturas autárquicas no plano nacional. Coube a Bruno Gomes, Paulo Fonseca e António Rodrigues fazerem o encerramento da Convenção. Como ponto transversal a todos os discursos há referir que a «magia» destas estruturas está, preci-samente, na proximidade com as pessoas e na sua utilidade irredutível mas, simultaneamente, na necessidade de serem repensadas e adaptadas às necessidades com que a sociedade actual as solicita.

AfectosMaria de Lurdes Rodrigues A Ministra da Educação continua convicta e ina-balável no trabalho que é preciso ser feito, mas é importante que se invista também num bom tra-balho de comunicação de forma a não incorrer em erros . O trabalho da Ministra é inequívoco, é preciso que os professores sejam avaliados, por necessidade de assegurar a qualidade do ensino e por todas as razões que têm sido aventadas pelo Executivo. Ainda nos reservamos a marcha da indignação, pelo discurso incoerente da pseu-do-oposição, que hesita esquizofrenicamente entre a acusação da falta de diálogo e a acusação de um recuo do governo quando este admite tomar medidas mais flexíveis.

Eleições em Espanha Os resul-tados obtidos nas ultimas eleições espanholas es-pelharam uma clara bipolaridade, uma tendência cada vez mais Europeia. O PSOE terá conseguido 44% dos votos e o PP 40% dos votos. O partido liderado por Zapatero perdeu a maioria absoluta o que naturalmente irá constranger a sua actuação, embora o líder pondere a possibilidade de coli-gações ou colaborações pontuais, não perdendo de vista que esta é uma matéria sensível dadas as reivindicações partidárias que estarão em causa. Espanha é e continuará a ser um parceiro politico, com o qual temos seguramente a aprender.

02

CDS PP Paulo Portas, num balanço dos ulti-mos 3 meses, afirmou que o partido que lidera foi aquele que, dentro da oposição, mais vezes terá tido razão... Pensar o país, não devia ser objecto de um qualquer ranking, ainda assim penso que o líder se terá esquecido inadvertidamente de um factor muito importante... a falta de comparência de maior parte dos protagonistas da dita oposição. Aquilo que é apontado à governação de Sócrates é, como já nos vamos habituando, a atenção dada à administração fiscal, a pasta da Educação e a pasta da Saúde... same old, same old...

por Luísa [email protected]

Desafectos&

PCP A manif dos professores é ‘cantada’ na publicação do PCP, numa espécie de reivindicação onde os 600 autocarros são obra do acaso e da urgência espontânea pela liberdade de expressão. A mesma publicação refere protestos e acções públicas no Norte do País, conveniente... aliás, o acaso tem gerado algumas situações de coinci-dência entre a acção deste Partido e as reuniões partidárias do PS, mas deve ser só coincidência...

Convenção Autárquica da Js Ribatejo

Cá Por Dentro

No dia 8 de Março decor-reu na cidade de Aveiro uma iniciativa de

comemoração do Dia da Mu-lher, organizada pela Juventu-de Socialista de Aveiro com a colaboração do Departamento de Mulheres Socialistas. A acti-vidade contou com a presença de inúmeros jovens socialistas, inclusive com o presidente da Federação da JS, Pedro Vaz, bem como com Marisa Macedo e Catarina Rodrigues, ambas do Secretariado do Departamento Federativo das Mulheres Socialistas. Os par-ticipantes, a partir das 10h30, desceram a Av. Lourenço Peixinho e distribuíram flores e um livro sobre as mulheres à população. Para a JS há ainda barreiras jurídicas e sociais a derrubar no domínio da igualdade de género, devendo-se reconhecer o carácter prioritário à

promoção da igualdade entre homens e mulhe-res. Este cenário deve ter expressão, por exemplo, ao nível da participação política, da igualdade de oportunidades no acesso ao mercado de trabalho e no combate à violência doméstica.

Js Aveiro comemoraDia da Mulher

PSD Sócrates manifestou vontade de ter uma oposição que com ele pensasse o país e que conseguisse apresentar propostas válidas e capazes de enriquecer o panorama politico. O PSD tem-se mostrado omisso, digladiando-se em lutas internas como o demonstra os últimos ataques de Menezes a Rui Rio. As suas declarações foram prontamente criticadas por nomes sonantes do Partido como Manuela Ferreira Leite e compreende-se que estas colocam ao Partido um sério risco de descaracteri-zação que não poderá trazer mais valia ao debate público, nem se constituir como alternativa.

Decorreu no Porto, dia 15 do corrente mês, o último grande Comício do Partido Socialista. O encontro que reuniu milhares de militantes que acorreram em

massa ao Pavilhão Académico do Porto foi uma prova da união do PS e, simultaneamente, de grande solidariedade para com as políticas do Governo. Vieram de todo o país para encherem por completo o pavilhão, bem como as ruas, uma vez não foi possível acolher tanta gente no interior da infra-estrutura.

A Juventude Socialista marcou também de forma bem visível a sua presença. As estruturas da JS estão de parabéns pela capacidade de mobilização que demonstraram e pelo carinho que manifestaram pe-los oradores, nomeadamente Renato Sampaio, Elisa Ferreira, Jorge Coelho, Alberto Martins e, por fim, José Sócrates que afirmou acreditar “num país que aposta no conhecimento e na educação, que cria mais oportunidades para todos, que luta contra as desigualdades e a pobreza, num país mais tolerante e justo, com mais qualidade na sua democracia e com prestígio reconhecido na Europa e no mundo”.

Juventude Socialista em grande no Comício do PS

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ASegurança Social é para muitos um tema vão, mas pela sua importância deve entrar em debate aberto e onde todos os intervenientes na sociedade civil e políti-ca tenham lugar, sendo que ao contrário

do que muitas vezes pode ser especulado a Segurança Social é um assunto que interessa aos jovens e que os afecta diariamente. O que chamamos Segurança Social além da típica tríade “reformas”, “abonos” e “subsí-dios” abrange um conjunto de políticas de combate à pobreza e à exclusão social que são de responsabilidade de um governo moderno e que estão sobre alçada da Segurança Social de um país moderno e democrático.Os modelos existentes sustentam o futuro da Seguran-ça Social dos estados na capacidade de gerar emprego e na situação demográfica dos espaços geográficos, sen-do que por esse facto, existiu nos últimos anos riscos elevados de ruptura do sistema em Portugal, facto que segundo os últimos dados internacionais já se en-contra mais estável (médio risco de sustentabilidade), devido a uma completa reforma protagonizada pelo governo socialista e que permite a manutenção de um estado social, caracterizado no melhor que o Estado Social Europeu tem.A nível de Segurança Social o Governo do Partido So-cialista tem implementado um conjunto de reformas com vista a tornar o sistema mais sustentável e justo. Durante este Governo Socialista o subsídio de de-semprego foi reformulado, o sistema de “abonos” foi tornado mais justo, a colecta de Retenção na Fonte na parte do trabalhador foi diminuída (permitindo um sistema mais equilibrado e com menos ajustes no fim do período). Destaco ainda a apresentação e execução do Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais (PARES), que tinha como priorida-de o reforço da protecção social no com-bate à pobreza e na protecção da família. Este programa mostra como o investimen-to em equipamentos sociais representa uma dimensão estratégica do desenvolvimento do país. Tendo o PARES como objectivo, investir e apoiar os equipamentos mais necessários, nas regiões e valências onde foram diagnosticadas necessidades sociais de mais urgente resolução. A criação do “Com-plemento Solidário para Idosos” que representa uma nova geração de políticas sociais, tratando de forma diferente aquilo que é diferente e beneficiando quem mais precisa, na melhor lógica Socialista. Esta medida é um dos maiores avanços a nível de Políticas Sociais que visam reduzir a pobreza extrema, desde a Criação do “Rendimento Mínimo Garantido”, também por um governo Socialista. “Rendimento Mínimo” que tem sido instrumento de campanha politica e demagó-gica pelos partidos de direita e que quando os mesmos

estiveram no Governo abandonaram totalmente essa medida de redução da “pobreza severa”, substituindo a lei para o “Rendimento Social de Inserção” que atirava as politicas sociais para o esquecimento e o não acompanhamento das situações.Com a vitória do Partido Socialista em 2005, não alterando o nome, o Governo dotou a medida de forte sensibilidade social e de capacidade de integrar na so-ciedade os beneficiários. Num país onde a batalha das qualificações é a mais decisiva batalha a travar, um dos grandes avanços que o Rendimento Social de Inserção permitiu foi o combate ao “Abandono Escolar”, forma necessária no combate às assimetrias e desigualdade de oportunidades existente na sociedade portuguesa.Uma das medidas mais emblemáticas a nível de polí-ticas sociais e também ela sublinhada foi o aumento do salário mínimo, só possível pela libertação do mesmo de diversos índices de prestações sociais que nele eram baseadas. Esta medida gerou um enorme consenso na sociedade portuguesa, sendo aceite por sindicados (inclusive a CGTP, que quando critica este governo esquece este facto) e patronato, num acordo histórico único com os parceiros sociais que permiti-rá a chegada do salário mínimo ao valor psicológico dos 500 Euros (ainda assim infelizmente pouco) em 2011, estando assegurado os 450 Euros em 2009. Esta medida deve-se ao facto de não ser aceitável num país com visão social, 10% das famílias com traba-lhadores activos na sociedade estarem em situações de pobreza, sendo o aumento do Salário Mínimo

Nacional, algo que psicologicamente induzirá o aumento de todos os salários da sociedade,

algo que deve orgulhar os jovens socialistas.O apoio à infância foi também uma realida-de que permitiu uma mais justa distribui-ção dos abonos, que ao contrário do que muitas vezes é afirmado chegam a 90% das famílias. Foram atribuídos ainda apoios pré-natais e existiu um incremento das cresces,

dado esse já sublinhado pela Juventude So-cialista na campanha de outdoors que realizou

pelo país, mostrando a importância para os jovens desta política de apoio à 1o infância, assim como todas da Segurança Social visto elas representarem o que a sociedade tem de melhor, a nível de politicas de cariz socialista com forte sensibilidade social.Desta forma e como conclusão afirmo que a Seguran-ça Social com o nosso governo do Partido Socialista, ao contrário do que por muitos é especulado à nossa esquerda tem evoluído para uma maior justiça social e para um quadro de sustentabilidade futura que permita a manutenção do melhor do modelo social europeu em Portugal, ao contrário do “fecho” do estado preconizada pela defesa que o PSD faz no seu populismo demagógico.

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SobretudoBruno Julião

Direor Jovem [email protected]

A necessidade de garantirmos um futuro para as próximas gerações está cada vez mais na ordem do dia e o dinheiro dos mais ricos começa a ser canalizado para grandes projectos que visem esse grande objectivo da Hu-manidade.

É absolutamente impressionante o projecto em Abu Dhabi onde se vão investir quinze mil milhões de euros na construção de uma cidade ecológica. Para além de se pretender que seja auto-suficiente em termos energéticos, nenhum local dos seus 700 hectares emitirá dióxido de carbono para a atmosfera e é ainda responsável por tratar dos seus resíduos. Não haverá lixo, com a sua separação, reciclagem e tratamento do que restar com um sistema de gaseificação dos resíduos, produzindo electricidade. Isto pode levar a algumas emissões de dióxido de carbono, mas quem pensa que Norman Foster e os seus colegas não terão pensado em tudo ou quase tudo engana-se: essas emissões serão com-pensadas com culturas de algas para absorver carbono da atmosfera.

Existirão vias subterrâneas para al-guns transportes circularem, enquanto que a superfície ficará destinada a peões e bicicletas. Os carros ficam fora da cidade em grandes parques de estacionamento. Uma linha elevada de metro ligeiro cortará diagonalmente a cidade, ligando-a ao aeroporto e a outros pontos do Abu Dhabi.

A cidade chama-se Masdar e terá a capacidade para cem mil pessoas no deserto. Se for verdade, em 2016 guar-dem um cantinho para mim.

EDITORIAL

“A Segurança Social... tem evoluído para uma maior justiça social e para um quadro de sustentabilidade futura”

Ambiente e Alternativas Energéticas

por Hugo Costa, Srário Nacional da Juventude Socialista [email protected]

Segurança Social

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As necessidades energéticas do país e a elevada dependência de petróleo, que caminha progressi-vamente para o esgotamento, as obrigações emergentes de Quioto e as preocupações ambientais a ele associadas trazem cada vez mais

para a ordem do dia a necessidade de se encontrarem energias alternativas, renováveis e menos poluentes que satisfaçam as crescentes necessidades energéticas que o progresso industrial acarreta, sem ao mesmo tem-po, porem em causa a vida do Nosso Planeta Azul. A nós como jovens, conscientes e preocupados, este tema não pode ser indiferente. È principalmente a nós que cabe mostrar à sociedade que é possível e recomen-dável mudar de atitudes e de uma vez por todas apostar em energias alternativas. Assim, é de elogiar a ideia do Jovem Socialista em lançar o tema para debate e fazer um conjunto de edições dedicadas ao tema, contri-buindo para a nossa própria formação sobre o assunto, permitindo que tenhamos mais e melhor informação sobre as várias soluções existentes e qual ou quais as mais aptas a satisfazer as nossas necessidades! Cabe-me falar da Biomassa! A Biomassa é a mais antiga forma de energia renovável e tem sido utilizada desde há milhares de anos. A sua utilização remonta à pré-história com a utilização do fogo como fonte de calor e luz. A sua taxa de utilização relativa decresceu com o aumento da utilização de combustíveis fósseis. Necessidades ambientais e energéticas e, acima de tudo, as novas potencialidades proporcionadas pelas novas tecnologias, trouxeram este recurso energético de novo para a ordem do dia, podendo e devendo surgir como complemento e alternativa à utilização dos combustí-veis fósseis! Através da fotossíntese, as plantas capturam energia do sol e transformam-na em energia química. Esta energia pode ser convertida em várias formas de energia: elec-tricidade, combustível ou calor. É a todas estas fontes orgânicas susceptíveis de ser utilizadas para produzir energias que se chama biomassa, abrangendo todos os derivados recentes de organismos vivos utilizados como combustíveis ou para a sua produção. A biomassa é uma fonte de energia renovável com-plexa. Sob esta designação encontramos um conjunto de fontes energéticas diversificado, quer quanto à sua proveniência, quer quanto ao seu estado físico. Assim sendo, não há biomassa, mas “biomassas”. Atendendo ao estado físico podemos dividir a biomassa em 3 gran-des grupos: biomassa sólida, liquida e gasosa. A Biomassa sólida tem como fonte os produtos e resíduos da agricultura (incluindo substâncias vegetais e animais), os resíduos da floresta e das indústrias cone-

xas e a fracção biodegradável dos resíduos industriais e urbanos. O seu aproveitamento passa essencialmente pela queima em centrais térmicas ou centrais de cogeração para a produção de energia eléctrica e de água quente, ou ainda a queima directa (Combustão) em lareiras (lenha) para a produção directa de calor.A Biomassa Gasosa, mais conhecida por biogás tem origem nos efluentes agro-pecuários, da agro-indústria e urbanos (lamas das estações de tratamento dos efluentes domésticos) e ainda nos aterros de RSU (Resíduos Sólidos Urbanos), resultando da degradação biológica da matéria orgânica contida nos nestes resíduos.Para o seu aproveitamento e dependendo da sua fonte (suiniculturas, RSU, lamas) são aplicadas diversas tec-nologias, finalizando quase todos na queima do biogás para obtenção de calor ou para transformação em energia eléctrica.A Biomassa Liquida ou Biocombustível: tem origem na série de biocombustíveis líquidos com potencial de

utilização, todos com origem em “culturas energéticas, nomeadamente o biodisel, o Bioetanol e metanol, os quais serão tratados noutro artigo.A redução das emissões de carbono, se geridas (durante a produção, transporte e utilização) de forma sustentá-vel, o aumento da segurança energética pela diversifica-ção das fontes de energia e utilização de fontes locais, a

criação de proveitos adicionais para os sectores agrícola e florestal e a redução de resíduos, com a consequente

diminuição dos riscos de incêndio, são algumas das vantagens que a utilização da biomassa

acarreta.Pouca gente saberá que esta é a principal fonte primária de energia nacional! Os seus principais utilizadores industriais são as indústrias de madeira e seus pro-dutos derivados, bem como as indústrias

de pasta, papel e embalagens que utilizam quantidades significativas de biomassa para

satisfazer as suas necessidades energéticas. Destacam-se ainda alguns projectos piloto em

Portugal como a Central Termoeléctrica de Mortágua, o Sistema Híbrido da Piscina do Torrão, o aquecimento através de Biomassa das escolas Concelho Vila Real, já em funcionamento e a valorização energética de Biogás na ETAR da Ribeira de Colares, a produção de electrici-dade e calor através do biogás do aterro de Sermonde e a valorização do Biogás em Cogeração da ETAR de Abrantes, projectos que se encontram actualmente em fase de estudos.Atendendo às potencialidades do país no que toca ao aproveitamento da biomassa, prevê-se que, em 2010, a biomassa possa servir de combustível a instalações de produção de energia eléctrica num total de 230 MW de potência, o que permitirá uma produção estimada de 1,4 TWh/ano de electricidade proveniente da biomassa, contribuindo para alcançar os 39% de produção eléc-trica com fontes renováveis e contribuir para a limpeza das florestas e reduzir o risco e incêndios.A construção de novos sistemas de ETAR’s e tratamen-tos de RSU, integrados em estratégias ambientais e conservação dos recursos hidrólogos, poderá potenciar novos empreendimentos de aproveitamento energético do Biogás. Por si só, a biomassa não é a solução ideal. Não pode satisfazer todos os desafios energéticos, em particular na segurança energética e nas alterações climáticas, apresenta altos custos de transporte e baixa eficiência energética. No entanto, pertence a um grupo de fontes de energia alternativas, as quais, se aplicadas em conjunto, garantem que o sector da energia cami-nha rumo à sustentabilidade.

ALGUMAS FONTES:- Portal das energias - http://www.energiasrenovaveis.com/- Wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Biomassa- O aproveitamento energético da Biomassa Em Portugal – Estudo realizado por “Macedo Vitorino & Associados – So-ciedade de Advogados RL” - 2007- Estratégia Nacional Para a Energia – Direcção Geral de Geo-logia e Energia - 2006

“A redução das emissões de carbono, se geridas (durante a produção, transporte e utilização) de forma sustentável, o aumento da segurança energética pela diversificação das fontes de energia e utilização de fontes locais, a criação de proveitos adicionais para os sectores agrícola e florestal e a redução de resíduos, com a consequente diminuição dos riscos de incêndio, são algumas das vanta-gens que a utilização da biomassa acarreta.”

por Rui Miguel Pir [email protected]

BIOMASSA

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Recentemente, na mítica prova das 500 milhas de Indianápolis (Fórmula Indy) o vencedor conduzia, pela primeira vez, um carro totalmente alimentado a etanol puro (um cocktail de milho de elevado teor de octanas que cujos defensores esperam que em breve

substitua a gasolina como combustível favorito para os seus motores). Este é apenas mais um exemplo do que afirmo na frase de cima. Os biocombustíveis enquanto substitutos caseiros da gasolina e do gasóleo obtidos através de culturas como a cana-de-açucar, o milho, o soja ou girassol são tidos, pelos seus defensores, como capazes de acender a chama de muitas economias rurais moribundas, de atenuar a dependência de muitos países em relação ao petróleo do Médio Oriente e de reduzir muito substancialmente as emissões mundiais de dióxi-do de carbono, actualmente em espiral crescente.Seria falso dizer que a combustão de biocombustíveis não emite dióxido de carbono algum para a atmosfe-ra. Claro que o faz ainda que em percentagens bem mais reduzidas quando comparáveis com os restantes combustíveis fósseis. Acresce que, ao contrário do velho carbono libertado na combustão de combustíveis fósseis, que eleva o termóstato do Globo a cada minuto que passa, o carbono dos biocombustíveis provém da atmosfera, sendo capturado pelas plantas durante o seu ciclo de crescimento. Diz-se, teoricamente, que a combustão de um depósito de etanol poderá neutrali-zar, em termos de carbono, até mesmo de um carro de Fórmula Indy. A palavra chave é mesmo essa: poderá. Na actualidade os biocombustíveis estão a dar fortes im-pulsos a algumas culturas agrícolas, mas o seu impacto no ambiente gera controvérsia. O milho, por exemplo, exige elevadas doses de herbicida e de adubos azotados e pode causar mais erosão no solo do que qualquer outra cultura. Além disso o etanol produzido a partir de milho consome tanto combustível fóssil quanto o que é substituído pelo etanol. Assim a sua vantagem reside apenas nas emissões de dióxido de carbono para a atmosfera não se obtendo qualquer ganho de eficiência no consumo de energia tendo, ainda, os handicaps já atrás anunciados. Outros cereais, como o trigo, a cevada ou a soja, registam valores um pouco mais favoráveis. Uma das principais críticas apontadas pelos ambienta-listas aos biocombustíveis reside no aumento dos preços do milho e da soja. O aumento exponencial do con-sumo levou já os preços do milho para os níveis mais elevados dos últimos anos e à plantação, só nos Estados Unidos da América, de mais 14 milhões de hectares de terras agrícolas marginais, até à data desactivadas para preservação do solo e da vida selvagem e que, temem os ambientalistas, libertarão todo o potencial de carbono que acumularam enquanto terrenos de pousio. Outros casos há em que as perspectivas são melhores do que em relação ao etanol de milho a que já diagnostica-mos várias insuficiências. São os casos do Etanol de cana de açucar (Brasil) que contrariamente ao milho, cujo amido contido nos grãos precisa de ser decomposto

por meio de enzimas dispendiosas antes de conseguir fermentar, o caule da cana de açucar já é, em si mesmo, 20% de açucar e pode começar a fermentar quase ime-diatamente após o corte sendo, para além disso, cerca de oito vezes mais eficiente do que o Etanol de milho pois permite produzir oito unidades de Etanol por cada unidade de combustível fóssil. De destacar ainda, enquanto perspectivas mais animadoras o Biodiesel (Alemanha), o Etanol celulósico e o Biodiesel de oleaginosas.A importância dos biocombustí-veis cresce, ainda mais, quando a Europa que, ao contrário dos E.U.A., ractificou o protocolo de Quioto, se esforça por implantar políticas que permitam respeitar o compromisso de redução das emissões de gases de efeito estufa e, ao mesmo tempo, que diminuam a dependência face ao petróleo. Para isso, a UE estimou metas: até 2010, os estados-membros devem atingir uma quota de 5,75% de biocombustíveis no sector dos transportes. Em 2020, esse registo deverá chegar aos 10%. A UE estipu-lou ainda uma taxa de substituição de dos combustíveis fósseis de 3% para 2007, 5,75% para 2010 e 10% para 2020, mas o go-verno português adiantou-se, tendo no início de 2007, estabelecido uma meta ainda mais ambiciosa: 10% até 2010. De forma a atingir tal objectivo será necessário produzir cerca de 650 milhões de litros de biodiesel e 250 milhões de bioetanol. Portugal, tal como a esma-gadora maioria dos países europeus, apostou com mais intensidade no biodiesel do que no bioetanol. Assim sucedeu porque dada a realidade dos rácios de consu-mo de gasóleo/gasolina é, perfeitamente, visível que Portugal é excedentário em gasolina e deficitário em gasóleo em virtude de o seu parque automóvel funcio-nar maioritariamente a gasóleo, tendência que, aliás, tende a aumentar de ano para ano e que justifica, de per si, sem mais, a prioridade pela incorporação de biodiesel no gasóleo relativamente ao bioetanol que se adicio-na à gasolina. Em Portugal existem já três fábricas de produção de biodiesel em laboração e mais duas em fase de avançada de construção ou de arranque, acrescidas de uma dezena de pequenas instalações de produtores dedicados de biodiesel a partir de óleos alimentares reciclados. Segundo Fernanda Rosa, investigadora do Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Ino-vação (INETI) na área dos biocombustíveis, “ a capaci-dade instalada de produção de biodiesel e a provável construção de duas ou três fábricas de bioetanol podem permitir o cumprimento da meta nacional...” O princi-pal problema dos biocombustíveis reside, a meu ver, no facto de quase todos os biocombustíveis consumirem produtos agrícolas que poderiam servir para alimentar um planeta faminto. De acordo com as conclusões de um relatório da ONU, embora proporcionando vanta-

gens potenciais, o crescimento explosivo dos biocom-bustíveis poderá enfraquecer a segurança alimentar e aumentar os preços dos alimentos num mundo onde 25 mil pessoas, na sua maioria crianças com menos de 5 anos de idade, morrem de fome todos os dias. Assim, a única forma de caminhar no sentido da dupla sustenta-bilidade (pessoas e ambiente) assenta na necessidade de retirar de cena os alimentos. Embora os grãos de milho

e o suco da cana sejam as fontes tradicionais do Etanol, este pode também produzir-se através dos caules, das folhas e até da serradura, subprodutos destas plantas que normalmente são rejeitados como resíduos, quei-mados ou enterrados no solo. Na sua maior parte, estes materiais são formados por celulose, as rijas cadeias de moléculas de açucar que constituem as paredes celulares das plantas. A fragmentação destas cadeias, seguida da fermentação dos açucares, poderia render um amplo espectro de biocombustíveis, sem concorrer com as cul-turas alimentares. Tanto é assim que os visionários dos biocombustíveis descrevem que “Um ressurgimento das ervas perenes da pradaria, capazes de reter o carbono no solo, proporcionar habitat à vida selvagem e controlo de erosão e fornecer grande abundância de biocombus-tível. O princípio subjacente ao Etanol celulósico é sim-ples, mas torná-lo barato como a gasolina ainda não.”. Tanto o Etanol celulósico como o biodiesel de algas constituem os dois biocombustíveis com mais poten-cial de eficiência. São, provavelmente, os únicos que se aproximam da fórmula mágica de resolver os problemas energéticos sem prejudicar o ambiente nem, tampouco, contribuir para o agudizar do problema, já de si muito grave, da fome. Sabemos que estes são, ainda, biocom-bustíveis ainda em fase muito embrionária, exploratória mas os resultados até agora obtidos fazem crer e querer que a evolução dos mesmos decorra da forma mais célere e bem sucedida possível. A bem de um mundo em que os homens contribuam para a sustentabilidade e preservação do ambiente mas, no qual, a defesa deste não implique um ataque desenfreado ao ser humano, sobretudo aos que menos tem.

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“Assistimos hoje, mais do que nunca, a uma corrida desenfreada aos biocombustíveis.”

por Pedro Sousa [email protected]

BIOCOMBUSTÍVEIS:DESAFIOS E OPORTUNIDADES

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ANÁLISE

APETECE DIZER...

por Bruno Julião [email protected]

“Uma oposição séria é sempre decisiva para a qualidade da democracia”

Da oposição a um governo de maioria

Um povo democrático deve acom-panhar activamente o governo que escolher. O partido da maioria procura criar leis sobre os diversos sectores da vida pública, enquanto que os partidos da oposição têm

o dever de criticar as ideias políticas do partido da maioria e de apresentar as suas próprias propostas. Até porque os vários partidos podem reflectir a diversidade de culturas de onde provêm, decorram elas de um con-junto de convicções políticas, de uma história comum ou sejam resultado de alianças livres de vários cida-dãos que podem, aliás, juntar-se apenas em período eleitoral. Os partidos democráticos reconhecem que as opiniões políticas são flexíveis e variáveis e que o con-senso pode, com frequência, surgir de um confronto de ideias e valores num debate pacífico, livre e público. Numa democracia, a luta entre partidos políticos não é uma luta anárquica pela luta, antes uma competição para servir o povo. Um Governo de maioria é, com efeito, apenas uma das muitas vontades de um povo democrático. As minorias desfrutam de direitos fundamentais garantidos que nenhum governo e nenhuma maioria, eleita ou não, podem tirar. Devem participar e con-tribuir para as instituições democráticas do seu país. Têm liberdade de expressão, de se organizarem, de denunciar, de discordar e de participar plenamente na vida pública da sua sociedade. Não me refiro apenas a minorias que defendam diferentes (em relação à maioria) identidades culturais, étnicas, práticas sociais, consciências individuais, actividades religiosas, etc, mas minorias que já representaram a maioria da von-tade popular e que o podem voltar a fazer. Este cenário é, aliás, muito comum na Europa. As democracias reconhecem que a diversidade é uma vantagem enorme pois reforça e enriquece o siste-ma. Claro que só através do processo democrático de tolerância, debate e disposição para negociar é que as sociedades livres podem chegar a acordos. Acresce a isto a necessidade da oposição mostrar qualidade (conceito, é certo, alta-mente subjectivo) e vontade para ser uma corrente construtiva. É importante para a sobrevivência e credibilidade do sistema e também para a limitação e controlo crítico à governação e para a própria consolidação da democracia. A participação dos partidos da minoria na vida política, com a apresen-tação de propostas pode evitar a cristalização e promover a alternância no poder.Uma boa oposição pode-se servir de todos os métodos e meios constitucionais ou legais para se afirmarem num país democrático e, por exemplo, a sua actividade par-lamentar é um dos principais meios à sua disposição.Segundo Robert Dahl, existem alguns elementos

importantes para caracterizar as oposições, nomeadamente a coe-são orgânica do partido, o carácter competitivo da oposição, os pontos chaves de competitividade entre a oposição e a maioria, os objectivos da oposição e as estratégias usadas para atingir tais objectivos.Ora, o PSD tem uma coesão interna muito débil, evidenciada em momen-tos de disputas internas, devido aos processos de busca de lideranças e lutas pelo poder, conduzindo a cisões difíceis de curar. Não apresenta ideias alternativas, não tem propostas e não dispõe de uma visão de quais as polí-ticas de fundo para a governação do país. Para além de ser pobre de ideias, não tem um líder que se apresente como alternativa credível para o país. Aliás, há pouco tempo, o próprio Dr. Luís Filipe Menezes disse que o PSD de agora não merecia ser governo.Agora mudou de logotipo... Parece que a actual Direcção padece de algum vazio ideológico. Parece que as setas do símbolo estavam relaciona-das com as raízes históricas do PSD, a história da social-democracia e com a criação da Frente de Bronze pelo SPD alemão. Mas, isso não interessa para o PSD que não sabe onde se coloca na direita ideológica. A verdade é que o PSD é uma originalidade criada por alguns portugueses. Ninguém reconhece o PSD como social-democrata. O PSD não segue Kautsky ou Bernstein, esses são a herança do socialismo democrático que é o Partido Socialista. Na verdade, o PS é o partido português da social-democra-

cia e isso é mais importante do quaisquer setas no PSD.

Mas, o verdadeiro problema do PSD é que não sabemos se são contra ou a favor de portagens, não sabemos se são contra ou a favor de impostos, não sabemos se são contra ou a favor de pactos sobre a Justi-ça, não sabemos se a prioridade do PSD é combater os tão propalados “barões”, o

que quer que isso seja, se estão deslumbra-dos com o poder interno que conquistaram

através do populismo barato que os caracteriza, ou se pretendem enganar melhor as pessoas com a em-presarialização da sua “estratégia de comunicação”... É Capucho, é Rio, é Menezes, é Ferreira Leite, é Santana: está tudo virado do avesso num momento em que a nova Direcção iniciou a perseguição aos adversários internos, dando ordens ao Conselho de Jurisdição,

(o equivalente à comissão de quadros do PCP) para perseguir os hereges.A outra oposição democrática é o PCP de Jerónimo de Sousa que com uma sensatez atrasada já se começou a demarcar da Fenprof e das suas manifestações espon-tâneas destinadas a boicotar a actividade do PS; ou a de Paulo Portas, de quem toda a gente já está farta.Uma oposição séria é sempre decisiva para a quali-dade da democracia e, como tal, resta-me repetir o repto que Jorge Coelho lançou no último comício do PS no Porto: “organizem-se!”A democracia portuguesa é uma democracia sem oposição. “Numas eleições regionais, surpreenden-temente, e sem qualquer sinal prévio de que tal fenómeno pudesse acontecer, a esmagadora maioria da população vota em branco. Ainda não refeitos de tal acontecimento, o poder político convoca novas eleições e o fenómeno repete-se. É o sistema político que está em causa, dizem uns, é a própria demo-cracia que está em causa, dizem outros.”. É assim o início do Ensaio Sobre a Lucidez de José Saramago. Felizmente é mera ficção, porque ainda existe o PS a governar com a lucidez necessária para que as pesso-as se sintam envolvidas na vida política.

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OZimbabwe vai a eleições no final deste mês de Março. Não serão umas eleições quaisquer. O regime impediu a presença de observa-dores ocidentais no acto eleitoral, permitindo apenas aqueles

proveninentes de outros países africanos, do Irão, da China, da Rússia e da Venezuela. Tudo boas credenciais, como se vê, mas nem esse zelo seria necessário. Se dúvidas houvesse, o chefe da polícia de Harare tratou de as esclarecer rapidamente: os po-lícias, secundados pelos militares, aceitarão o veredicto das urnas desde que ele não coloque em causa o poder do homem que está à frente dos destinos do país desde 1980. Está escrito, portanto.O Zimbabwe é hoje um dos expoentes da tragédia do continente africano. Ao longo das últimas décadas, África tem sido um território em disputa pelas culpas do passado. Os europeus persistiram durante dema-siados anos em entender a situação africana, como aliás hoje a de parte do mundo islâmico mais radical, partindo invariavelmente do universo de valores do humanismo e do liberalismo que são a sua matriz civi-lizacional: revolvendo todas as culpas. A escravatura e a colonização, primeiro; a vaga descolonizadora, depois. Fruto das condições históricas inelutáveis do Pós-Se-gunda Guerra, quase tudo o que restava dos velhos impérios europeus ruiu na mítica África e deu lugar às «esferas de influência» da Guerra Fria, sobretudo a soviética. E, enquanto isso, a tragédia consumou-se. Depois dos choques anti-coloniais e do afastamento de boa parte dos primeiros líderes independentistas que haviam sido formados intelectualmente no exílio, tantas vezes nas metrópoles onde puderam contactar com estruturas democráticas e formar um pensamen-to aberto para o futuro dos seus países, poucos países africanas escaparam a cleptocracias, a criminosos de guerra, a ditadores de todas as cores. Demasiado ocu-pado a distribuir responsabilidades entre si e a história, o mundo ocidental contemporizou com o abandono a que os africanos foram votados às mãos de dirigentes sanguinários durante a Guerra Fria. O problema funda-mental persiste aí, nessa indiferença induzida, e não na descolonização feita em nome de princípios políticos em génese democráticos.

Em quase todos os países africanos, a paralisia e o sub-desenvolvimento foram o resultado directo de ímpetos emancipatórios que duraram o tempo da assinatura de um qualquer tratado após séculos de colonialismo. O poder foi rasgado em guerras civis fratricidas, geno-

cídios e rapina de recursos naturais, destruindo países que nunca deixaram de ser colonizados

ainda que sob uma vanguarda histórica que a cada passo inaugurou avenidas Vladimir Lenine, pracetas Karl Marx ou ruas Mao Tsé-Tung. O resultado de tudo isto são populações miseráveis, na mais absoluta indigência, no limbo das esperanças mé-

dias de vida que a Inglaterra tinha há 175 anos. Talvez não pudesse ter sido de outra

forma, concedo, mas a culpa difusa da colonização não pode persistir ainda

hoje como a justificação para a longa licença sabática da democracia e dos direitos huma-nos em África. A história recente do Zimba-bwe conjuga num só país, para desgraça dos seus cidadãos, toda esta dolorosa herança. Após a independência de Moçambique, a guerrilha que lutava contra o regime da Rodésia do Sul ganhou um impulso decisivo e tomou o poder em 1980. O nome do país mudou para Zimbabwe nesse mesmo ano, mas o nome do seu dirigente máximo nunca mais mudou em todos estes anos. Robert ‘Hitler’ Mugabe, que se auto-intitula «o mais consistente líder revolucionário de África», é o lí-der do brutal regime do Zimbabwe há quase três décadas. Após a independência, Mugabe foi afastando toda a oposição interna e consolidou uma ditadura de fausto para os seus responsáveis e de brutalidade e penúria para a maioria da população. O colapso económico e social do país parece irreversí-vel, chocando pela sua dimensão. Segundo dados do próprio Zimbabwe, a inflação chegou praticamente aos 8.000% – não é gralha: são mesmo oito mil por cento – no final de 2007. A electricidade é quase inexisten-te e o sistema de águas de Harare facilitou há algum tempo a propagação de um surto de cólera. Hoje, uma banana custa 15 vezes mais do que em 2000 se pagava pelo aluguer de uma casa de quatro quartos na capital. E uma única vela custa duas vezes o salário médio de um trabalhador agrícola, o que não impediu Mugabe

de fazer uma festa no dia do seu 83o aniversário que custou milhares de dólares. Mais: como resultado da «reforma agrária» que expulsou os fazendeiros brancos do país, as carências são generalizadas e estima-se que mais de 4 milhões de pessoas estejam necessitadas de assistência alimentar urgente. Mas nada disto obsta à continuidade da direcção política de um homem que é protegido por uma guarda pretoriana treinada na Coreia do Norte, enquanto cerca de três mil pessoas tentam atravessar diariamente as fronteiras do Zimba-bwe rumo ao Botswana e à África do Sul.É neste contexto que o Zimbabwe vai promover uma farsa eleitoral que a Europa não pode aceitar. Os países europeus não podem competir com a crescente presença chinesa em África através de uma diplomacia

económica que exclua o valor fundamental da de-mocracia como centro da sua acção política e política externa, pelo que a denúncia do regime do Zimbabwe deve ser feita a uma só voz. As novas gerações africanas, as que da Europa conhecem apenas uma intangível ter-ra de oportunidades que quase sempre se esgotam nas sinistras redes de tráfico humano e da emigração ilegal, merecem que o continente europeu seja um propulsor do desenvolvimento de África, da transparência da governação e dos direitos humanos. Fazendo-o, a Euro-pa poderá reencontrar-se com o seu passado africano e libertar o futuro de África do triste parêntesis em que se encontra neste presente. A começar, desde logo e sem concessões, pela ditadura do Zimbabwe.

por Tiago Barbosa Ribeiro [email protected]

«A história recente do Zimbabwe conjuga num só país, para desgraça dos seus cidadãos, toda esta dolorosa herança. Após a independência de Moçambique, a guerrilha que lutava contra o regime da Rodésia do Sul ganhou um impulso decisivo e tomou o poder em 1980. O nome do país mudou para Zimbabwe nesse mesmo ano, mas o nome do seu dirigente máximo nunca mais mudou em todos estes anos. Robert ‘Hitler’ Mugabe, que se auto-intitula «o mais consistente líder revolucionário de África», é o líder do brutal regime do Zimbabwe há quase três décadas.»

INTERNACI NAL

O Zimbabwe, a Europa e o pós-colonialismo

ECONOMIA

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Jorge Pedreira Mariano Gago Valter Lemos