jovem socialista 457

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SOCIALISTA JOVEM NÚMERO 4 57 Director Bruno Julião Equipa de Redacção Diogo Leão, Luísa Fernandes, Pedro Sousa, Vítor Reis, Tiago Barbosa Ribeiro ORGÃO OFICIAL DA JUVENTUDE SOCIALISTA 06 SOBRETUDO Ameaça Terrorista em Portugal 07 INTERNACIONAL Cuba, a última das ilusões 03 EDITORIAL Longe, mas bem perto O sucesso do Seminário Sobre Emancipação Jovem pág.2 > AFECTOS E DESAFECTOS Machico organiza iniciativas de cariz social pág.2 > CÁ POR DENTRO Sinto-me seguro pág.3 > APETECE DIZER A JS NOS AÇORES E NA MADEIRA ENTREVISTAS AOS LÍDERES DAS REGIÕES AUTÓNOMAS

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29 de Janeiro de 2008

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Page 1: Jovem Socialista 457

SOCIALISTAJOVEM NÚMERO 457

Director Bruno Julião Equipa de Redacção Diogo Leão, Luísa Fernandes, Pedro Sousa, Vítor Reis, Tiago Barbosa Ribeiro

ORGÃO OFICIAL DA JUVENTUDE SOCIALISTA

06 SOBRETUDO

Ameaça Terrorista em Portugal

07 INTERNACIONAL

Cuba, a última das ilusões

03 EDITORIAL

Longe, mas bem perto

O sucesso do Seminário Sobre Emancipação Jovem pág.2

> AFECTOS E DESAFECTOS

Machico organiza iniciativas de cariz social pág.2

> CÁ POR DENTRO

Sinto-me seguro pág.3

> APETECE DIZER

A JSNOS AÇORES E NA MADEIRA

ENTREVISTAS AOS LÍDERES DAS REGIÕES AUTÓNOMAS

Page 2: Jovem Socialista 457

AJS Açores realizou a “JS On Tour” onde visitou as várias estruturas locais da organização de jovens socialistas e levou a cabo reuniões de trabalho com empresas, asso-

ciações juvenis, profissionais e outras, centros de reabilitação ou de estudos, representantes de

Câmaras Municipais, Escolas, visitas a locais e actividades culturais locais de referência. Estas iniciativas que decorreram nas ilhas Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico, Faial e Santa Maria conduziram a um diagnóstico sobre os proble-mas que mais preocupam a juventude local. Estas visitas permitiram, também, fazer um

paralelismo entre a realidade de vida dos jovens das grandes Ilhas e os jovens das Ilhas mais pequenas que, em muitos ca-sos se debatem com problemas muito diferentes.O objectivo de fundo é o de apresentar um conjunto de propostas para integrar o programa de governo para o período 2008/2012.

AfectosSeminário de Emancipa-ção Jovem Nos passados dias 19 e 20 de Janeiro, realizou-se o Seminário de Emanci-pação Jovem, em Terras do Bouro. O seminário contou com a presença de 200 jovens que se deslocaram até à localidade para ouvir painéis relacionados com assuntos tão prementes como a habitação jovem, as políticas de em-prego e formação profissional, as reformas da segurança social ou políticas para a deficiência. Os painéis foram amplamente participados e proporcionaram uma excelente oportunidade para que todos pudessem ver esclarecidas as suas dúvidas, num ambiente de cooperação e até cumplicidade com alguns dos membros do presente executivo. Foi um evento da maior importância, com uma discussão política de qualidade. Estamos todos de parabéns.

Lei eleitoral das Autar-quias locais No dia 18 de Janeiro foi aprovada em Parlamento a Lei eleitoral das Autarquias locais. Esta lei introduz o bónus da maioria no sentido de conferir melhores con-dições de estabilidade ao executivo camarário, ainda que a oposição continue representada. A recente revisão da lei eleitoral resulta num maior poder de fiscalização da assembleia municipal, mas retira, por outro lado, força aos presidentes de junta, que já não poderão votar orçamentos e planos municipais.

02

Faixa de Gaza As condições de extrema carência e desumanidade em que têm vivido os milhares de palestianos que se encon-tram na Faixa de Gaza e que terão originado os sucessivos rompimentos da fronteira entre esta zona e o Egipto, continuam a merecer a mais inacreditável e inverosímil indiferença das enti-dades supostamente reguladoras das situações de conflito. Independentemente do partido que tomemos neste conflito, há princípios que são básicos e inalienáveis, à revelia da mais completa omissão dos países desenvolvidos. Será que o cenário mudaria se a Faixa de Gaza fosse detentora de ouro negro?

por Luísa [email protected]

Desafectos&

Pobreza O ultimo estudo realizado pelo Instituto Nacional de Estatística concluiu que 18% dos portugueses se encontram em risco de po-breza. O grupo das mulheres, idosos e casais com mais do que um filho, são aqueles que apresentam maior índice de risco, ainda que seja de ressalvar que o critério que define este limiar seja exclusiva-mente o dos rendimentos. O numero de pessoas nestas condições tem vindo a reduzir, sendo que a diferença é mais visível no grupo das mulheres. Este numero não deixa de nos consternar, mas sabemos que a descida já verificada é resultado das reformas da segurança social e a tendência será sempre essa, dado que estas introduziram contextos de maior equidade e justiça social.

Cá Por Dentro

AJS-Madeira tem por hábito realizar diversas visitas a Instituições de solidariedade que apoiam os mais jovens. É uma forma de conviver directamente com eles e conhecer

os seus desejos e ambições para o futuro. Falar, contactar directamente, ouvir e incentivar para a educação e formação foram objectivos que deram os seus frutos. Para além de aumentar o conhecimento sobre a realidade em que vivem estes jovens, permitiu o desenvolvimento de propostas para levar à Assembleia Regional.Sem surpresa, as estruturas da JS na Madeira dão priori-dade às iniciativas de cariz social con-soante a realidade de cada concelho e a concelhia de Machico não é excepção. Sem dúvida, um nome feliz. A “Aldeia da Paz” é uma instituição que acolhe crianças e jovens de famílias desestruturadas. A concelhia citada visitou-a, bem como ao Bairro da Nogueira, uma

zona com graves problemas e carências socio-económicas. A actividade tinha por objectivo recolher donati-vos em dinheiro e géneros. Cerca de 20 militan-tes recolheram 900 euros que foram usados para adquirir bens de primeira necessidade, produtos para higiene pessoal, entre outros necessários para a subsistência dos habitantes locais. Assim, realizou-se a entrega com a promessa de mais ini-ciativas deste género que permitam a ligação da JS e dos seus militantes àqueles que circunstancial ou permanentemente têm mais dificuldades.

JS Açores realizou “JS On Tour”

Concelhia de Machico visita “Aldeia da Paz” e Bairro da Nogueira

Page 3: Jovem Socialista 457

Durante a passada semana Portugal soube que entrou definitivamente na rota do terrorismo internacional, com base em informações disponibi-lizadas pelos serviços secretos es-

panhóis e de outros países igualmente atentos às movimentações das células extremistas que operam na Europa Ocidental.Na passada semana as autoridades espanho-las procederam á detenção de diversos indi-víduos de origem paquistanesa e magrebi-nos, alegadamente relacionados com redes de terrorismo, presumivelmente apoiadas pela Al-Qaeda. Foi também apreendido diverso material suspeito de ter como fim o fabrico de explosivos. Terá também apurado que existem indivíduos organizados a operar em Portugal, possi-velmente a preparar atentados.Se bem que em Espanha, França, Inglaterra, entre outros, existem já, infelizmente, casos de atentados levados a cabo, entre nós essa é uma realidade desconhecida.Isto implica que tenhamos agora as autoridades portuguesas a procurar a melhor forma de lidar com estas informações providenciadas por outras agências de inteligência. Assim, por um lado, a posse destas informações implicará ter que saber convertê-las em segurança real para os cidadãos, actuando no terreno dos possíveis prevaricadores, levando a cabo operações de vigilância e troca de informações, etc.; por outro lado, implica saber lidar com uma possível psicose colectiva. O clima que se vive em Portugal é, hoje e sempre, tranquilo. Brandos costumes. Mas até quando estaremos tranquilos? Os media alimentam-se de medos e de outros sentimen-tos irracionais e incontroláveis. Os casos ocorridos há dias, como a descoberta no Metro de Lisboa de uma em-

brulho suspeito envolto num lenço arafatiano levou ao fecho de parte da linha e evacuação de diversas infra-es-truturas por grande parte do dia. Anteriormente, noutro dia, um forte cheiro sentido na zona de Entrecampos, Lisboa, ainda fez temer algo pior e evacuou-se o ISCTE e outros edifícios nas imediações. Mais recentemente ainda, foi cortado um troço de estrada no Algarve por se ter verificado a existência de uma mala suspeita.Todos estes incidentes se revelaram inócuos, mas servi-ram para pôr à prova os meios de acção das autoridades. Os meios de comunicação, na sua generalidade, adoram este clima efervescente. Abrem-se noticiários em êxtase e forjam-se primeiras páginas dramáticas, redigem-se dossiês emocionantes. Mas temo que, gradualmente, se vá instalando na sociedade portu-guesa um sentimento de medo, de receio; temo que a pouco e pouco comecemos a olhar o outro, diferente de nós, como um suspeito; temo que a xenofobia se apodere lentamente dos nossos hábitos e que qualquer fenótipo diverso do nosso seja um alvo das nossas calúnias e infundadas perseguições, ainda que quase inconscientes.Portugal é membro da mais ambiciosa união de povos. E, no seio desta, ou não, toma parte em alguns conflitos e intervém regularmente em termos militares. Portugal não é um país neutro. Somos um país moderno, com estilos de vida urbanos. Estamos, por vezes, no centro da agenda política internacional, como, por exemplo,

foram os 6 meses de presidência do Conselho da Euro-pa. Como tal, estaremos sempre na mira de even-

tuais atentados de terroristas, particularmente de fundamentalistas islâmicos. Estes actuam em células e buscam sempre a maior mediatização possível. Mas tenho a certeza que as nossas polícias sabem disso.A divulgação de dados da polícia espanhola que dão como certa a presença em Portugal

de terroristas só merece o meu espanto por ter sido divulgada em praça pública.

Quanto a tudo o mais sinto-me seguro e confio nos serviços de segurança nacionais. Apetece mes-

mo dizer que se pare com o histerismo mediático e se substitua pelo bom senso.

03

Bruno JuliãoDireor Jovem Socialista

[email protected]

A JS é a estrutura política de ju-ventude que mais impacto tem na sociedade portuguesa. O seu papel na campanha da IVG, o debate pro-vocado com os cartazes sobre o Dia Internacional da Luta Contra a Ho-mossexualidade, a sua posição sobre o processo de ratificação do Tratado de Lisboa ou o Projecto de Lei na Assembleia da República sobre os Concelhos Municipais da Juventude são apenas alguns dos mais recentes exemplos de notícias amplamente divulgadas.

Muita desta atenção dedicada pela opinião pública(da) tem a ver com as ideias de real interesse público que a JS defende, mas também com a sua capacidade de estar em todo o lado, o que atribui mais legitimi-dade à nossa voz. O Jovem Social-ista destaca nesta edição o valioso contributo das estruturas da JS nas regiões autónomas para a afirmação da JS e o seu empenho nas causas locais. Estão longe, mas bem perto.

O nosso contributo para um debate actual está nos artigos de opinião das rubricas Sobretudo e Apetece Dizer: a Segurança nacional face à eventualidade de um atenta-do terrorista. Entre outras questões, esta situação terá gerado uma nova fonte de medo ou tratou-se de um alarmismo efémero e sem razão aparente? O terrorismo está longe, mas bem perto.

EDITORIAL“Estaremos sempre na mira de eventuais atentados de terroristas.”

Longe, mas bem perto

APETECE DIZER...

SEGURANÇA

por Vítor Reis [email protected]

Sinto-me seguro

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04

1. Que tipo de acções políticas tem vindo a desenvolver a JS Madeira e quais são os temas privilegiados que tratam?

As questões sociais estão no centro das nossas actividades políticas, não só por fazer parte da nossa identidade ideológica mas sobretudo porque essa é uma área que desperta muito interesse nos jovens. Por exemplo, ainda neste Natal, algumas conce-lhias da JS-Madeira realizaram actividades junto da população para angariar donativos para algumas instituições que dão apoio a jovens carenciados e/ou deslocados das suas famílias. Apesar de ser uma época em que são realiza-das muitas iniciativas desse género, as iniciativas da JS tiveram muito sucesso porque não são feitas só no Natal, há um trabalho ao longo do ano e que não passa só pela entrega de donativos mas também pelo convívio com esses jovens na sua própria instituição. Por outro lado, há outras matérias que afectam directamente os jovens, tais como a formação e o emprego, por exemplo, que são preocupações constantes dos jovens e naturalmente também da JS na sua acção política.

2. Achas que há uma conver-gência entre aquilo que a JS vai definindo como temas/prioridades nacionais e aquelas que são as vos-sas preocupações?

Sem dúvida. O que poderá acontecer algumas vezes é um desfasamento tem-poral entre a abordagem aos temas, mas as bandeiras da JS no Continente são as bandeiras da JS na Madeira, julgo que se passará assim em todo o País. A JS acompanha aquelas que são as principais preocupações da ju-ventude nos nossos dias. É natural que as questões como a formação, o emprego e a habitação estejam permanentemente nas nossas agendas, pois são essas também as prioridades dos jovens, diz respeito à sua autonomia, à sua emancipação. Outras áreas como as questões sociais – como há pouco falei, o ambiente e o ordenamento do território, mere-cem especial atenção. Não fossem só por si muito importantes para a sustentabilidade do planeta e a qualidade de vida das pessoas, no nosso caso, o fac-to de termos a nossa principal indústria – o turismo, assente no Ambiente e no meio natural, faz-nos dar especial atenção a estas matérias.

3. Como tem evoluído a militância da JS Madeira, em termos de características sócio-demográficas, como são a idade, género, etc, dos jovens socialistas da região?

Não tenho presente as estatísticas de militantes mas tenho a ideia de que a maioria dos novos inscri-tos na JS continuam a ser os rapazes, se bem que em termos de participação, tanto nos órgãos como nas actividades, estejamos muitas vezes numa situação de paridade. Em termos de idades, há ciclos. Tivemos um período em que o PS estava em crescendo e nessa fase entraram muitos novos militantes com idades acima dos 23; nesta fase, depois das últimas eleições de Maio, em que, como sabes, o PS teve um mau resultado, têm surgido muitas inscrições de jovens entre os 14 e os 23

anos. É curioso este dado, não quero dizer que há uma relação directa, mas têm sido os mais novos os que estão mais disponíveis para integrar a Organização. A idade contribui para esta atitude, mas a verdade é que são os que mais acreditam que é possível mudar. É neles que reside a esperança no futuro.

4. Qual o papel dos jovens madeirenses na vida pública, nomeadamente na política e no associativismo?

O que tem sido ou o que deveria ser? Sobretudo nestes últimos dez anos, a situação em termos de associações de jovens e associações de estudantes (AE’s), por exemplo, tem sido uma calamidade. Exis-tem várias escolas em que não há AE’s eleitas, por diversas razões que passam até pela interferência de professores. Generalizou-se o «não te metas nisso», não sei se me faço entender. Há um “deixa andar” em matéria de participação na vida pública, genera-lizada a toda a sociedade, responsabilidade que não

podemos de forma alguma atribuir aos mais jovens, porque esta atitude laxista já vem de há uns anos a esta parte, ou seja, há aqui uma factura muito elevada que as gerações anteriores à nossa nos deixam pela falta de combate a um regime que se foi instalando e dominando todas a forças vivas da sociedade. São tão frequentes as situações de falta de respeito, os atropelos à democracia que, após 30 anos, chegou-se a um ponto de já nem nos aperce-bermos dessas situações, ou de se achar normal. É preciso um exercício diário de abstracção à medio-

cridade dos governantes madeirenses para manter o sentido crítico, sem perder a noção de, correcto ou incorrecto. Não querendo ser tendenciosa, os jovens socialistas da Madeira são dos poucos que conseguem manter esta distância crítica, fazendo o combate político a este regime.

5. Vive-se em plena democracia na Madeira?

Não se pode considerar que se vive em “plena democracia” numa Região em que está no poder o mesmo partido e o mesmo Presidente do Governo há mais de 30 anos. Nem Salazar conseguiu esta proeza, pois precisava da PIDE, e toda a gente sabia que existia e os métodos repressivos que usava Jardim, sob a capa da Democracia e de eleições livres tem conseguido manter-se no poder. Foram vários os ingredientes para este resultado de 30 anos de partido único na Madeira, o mais importante foi e continua a ser a bandeira da Autonomia e a guerra constante com o que ele chama de colonialistas de “Lisboa”. Este discurso populista passou facilmente para as pessoas

e, hoje, são já as gerações mais novas a reproduzi-lo. Ao longo destes anos conseguiram transmitir a ideia de que são os únicos a defender a Autonomia, a Madeira e os madeirenses. É verdade que devemos defender a nossa Região acima de tudo, mas não a qualquer preço. Reza a história que durante muitos anos os madeirenses trabalharam para alimentar riquezas de portugueses do continente e de ingleses, mas hoje continuam a ser explorados e espoliados pelos novos-ricos da Madeira, só assim se justifica que tenham alguns tenham feito fortuna em 10 anos, quando continuamos a ser dos mais pobres do País e as famílias continuam a ver os seus filhos emigrar para ganhar a vida.

6. Que reivindicação deixarias ao Presi-dente do teu Governo Regional?

Que se vá embora, já vai sendo tempo! Deixe-se de carnavais, porque governar é uma coisa para gente séria.

ENTREVISTA A CÉLIA PESSEGUEIRO

LÍDER DA JS MADEIRA

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1. Que tipo de acções políticas tem vindo a desenvolver e JS Açores e quais são os te-mas privilegiados que tratam?

Desde que fomos eleitos que temos vindo a desen-volver um Plano de Acção que pretende cumprir os pressupostos da Moção Global de estratégia apro-vada no Congresso Regional. A vida política deve ser orientada para a criação de mecanismos que permitam o aumento constante da qualidade de vida e bem-estar dos cidadãos. São eles os prin-cipais destinatários da actividade política.

A problemática das gerações determina ou deveria determinar, no desenvolvimento das sociedades, uma preocupação pela juventu-de. Esta deve ser vista não como uma fase temporal transitória entre a adolescência e a entrada na vida activa e no mercado de trabalho, mas sim como um processo de as-similação e acomodação de conhecimento, de experiências e de usufruto dos mecanis-mos que o sistema lhes proporciona.

É por isso que nos temos batido. Por uma politica que, sendo materializada, tenha um impacto positivo na qualidade de vida dos jovens açorianos.

O Emprego, a Livre Iniciativa Jovem, a Habitação, as Novas Tecnologias, a Edu-cação e qualificação são as nossas grandes bandeiras. Tudo com o objectivo primor-dial da Emancipação Jovem.

2. Achas que há uma conver-gência entre aquilo que a JS vai definindo como temas/prioridades nacionais e aquelas que são as vos-sas preocupações?

Tendo em conta o Estatuto Autonómico de que usufruímos, com competências próprias e com uma agenda politica pró-pria é natural que, muitas vezes, aquilo que é um assunto central no panorama regional não o seja no panorama nacional e vice-versa. No entanto, os princípios de esquerda pro-gressista que pautam a acção da Juventude Socialis-ta Nacional são comuns à nossa acção.

Nas questões estruturantes estamos ao lado da J.S. Nacional e acatamos, naturalmente, as decisões dos órgãos nacionais onde temos assento. Nesses órgãos defendemos o nosso ponto de vista enquanto Fede-ração com um estatuto especial mas respeitamos as decisões da maioria.

Essa convergência existe, de facto. Pode é, por vezes ser discutida e abordada em diferentes pata-mares, tendo em conta as especificidades do sistema político regional e as políticas internas próprias e quando assim é e solicitamos a ajuda da J.S. Nacio-nal ela existe. Apesar destas especificidades há uma base comum à nossa organização.

Ser jovem socialista nos Açores é exactamente igual a ser jovem socialista no Continente.

3. Como tem evoluído a militância da JS Açores, em termos de características socio-demográficas, como são a idade, género, etc, dos jovens socialistas da região?

Temos vindo a assistir a uma mudança geracional

dentro da organização. Hoje, temos uma militância mais madura, onde a grande maioria dos dirigentes está a terminar o Ensino Superior ou já faz parte da população activa. É por isso que, nos últimos 6 meses, temos vindo a fazer uma aposta na renovação da es-trutura e a aumentar o numero de jovens que querem participar abaixo dos 20 anos. Temos algum défice de militância na faixa dos 14 aos 18 anos. Os jovens são cada vez mais qualificados e cada vez mais conscientes do papel que podem ter na sua comunidade.

4. Qual o papel dos jovens açorianos na vida pública, nomeadamente na política e no associativismo?

São inúmeras as Instituições de índole cultural, desportiva ou social dirigidas por jovens. Além disso

temos várias Associações Juvenis em várias Ilhas dos Açores que têm desenvolvido um trabalho que tem um impacto muito positivo na comunidade em que estão inseridos.

Os jovens querem participar activamente na cons-trução do seu futuro. Têm é de se sentir úteis e de saber que a sua opinião é tida em conta.

O Partido Socialista que governa os Açores tem promovido a integração dos jovens e tem criado

mecanismos e instrumentos que permi-tem uma participação consequente dos jovens açorianos. Ou seja, por princípio, o Partido Socialista tem demonstrado confiança nas capacidades da juventude açoriana.

Por vezes, algumas correntes mais ortodoxas não percebem que a definição das políticas de juventude tem de ter uma forte participação dos jovens. Mas gradualmente temos vindo a assistir a um reforço do nosso papel na definição do modelo de futuro.

5. Que dificuldades advêm do facto de Haver uma barreira físi-ca/marítima entre várias estrutu-ras locais e como as ultrapassam?

As dificuldades são muitas. Começan-do pelas questões financeiras. Liderar uma estrutura com órgãos locais em nove ilhas dispersas tem grandes custos acrescidos. Temos de aproveitar as mais valias que as Novas Tecnologias da Infor-mação nos dão, tentando pôr em prática mecanismos de comunicação rápidos e eficazes que ultrapassem a nossa disper-são geográfica.

6. Que reivindicação deixa-rias ao Presidente do teu Governo Regional?

Que não tenha medo de implementar um projec-to politico orientado para as novas gerações e que tenha sempre presente o principio da renovação enquanto força motriz de novas dinâmicas e de progresso e desenvolvimento.

O Governo Socialista de Carlos César tem imple-mentado politicas de juventude muito positivas e pioneiras a nível nacional. Esse arrojo e incon-formismo não pode nem deve parar. Sendo que discutir a problemática da juventude apresenta mais perguntas do que respostas, é necessário que o poder político não tenha medo de promover a inte-gração dos jovens nos vários sectores da vida social e cultural, e que mantenha a vontade de promover o cumprimento de direitos fundamentais como o acesso ao ensino e à formação ou os incentivos à livre iniciativa.

ENTREVISTA A BERTO MESSIAS

LÍDER DA JS AÇORES

Page 6: Jovem Socialista 457

06

Sempre gostei de escrever para esta sec-ção do nosso Jovem Socialista. Indepen-dentemente do tema de capa, as linhas aqui consagradas fazem sempre sentido, ou pelo menos têm sempre espaço, visto esta pequenina parte ter sido inti-

tulada de Sobretudo. Uma crónica, um ensaio, uma simples opinião; tudo é válido e até hoje tem sido sempre bem-vindo.Posto isto, a matéria que elegi para ser hoje aqui tratada faz parte de um assunto pouco explorado e aprofundado pelos jovens socialistas e prova-velmente pela juventude em geral. Entendo que para muitos possa ser uma temática pouco interessante, ridícula, ou até mesmo indiferente. Mas realmente, faz-nos falta pensar em coisas assim de quando em vez. Referia-me, de maneira pouco clara, ao pe-rigo de uma ameaça terrorista em Portugal. Quem leu até aqui este texto pode-se ter ques-tionado sobre a minha introdução a destacar esta secção do tema de capa do Jovem. Fi-lo porque percebi que relacionar o tema de capa com o título deste artigo ia levar a uma conclusão lógica: a ameaça terrorista em Portugal é o Dr. Alberto João Jardim. E esse pensamento é legítimo, evidentemente. É até mesmo a única verdade absoluta e universal dos tem-pos políticos contemporâneos, como sabemos. Mas desta vez sobre o Dr. Alberto João não me pronuncio, visto a JS Madeira ter um espaço neste jornal para dizer de sua justiça, com toda a legitimidade que eu não tenho, porque felizmente não vivo directamente sob a sua realidade tirânica. Mas centrando a narrativa no nosso tema, impõem-se imediatamente umas 2 ou 3 perguntas. Quem não ouviu as declarações do nosso Primeiro-minis-tro no dia 20 de Janeiro sobre o perigo da ameaça terrorista? E as declarações do Sr. General Leonel Carvalho, coordenador do gabinete de segurança? E já agora, quem não viu ou ouviu as frustrações e lamentos dos participantes do Lisboa-Dakar? Está

certo que a ameaça terrorista para o Lisboa-Dakar é diferente. Não é propriamente terrorismo em solo nacional, mas de qualquer maneira, segundo os servi-ços secretos franceses, poderia eventualmente atingir cidadãos nacionais. Mas agora deixem formular uma contra-pergunta: não será terrorismo a mais no espaço de 20 ou 30 dias para o nosso Portugal? Creio realmente que sim. Nunca o solo nacional esteve tão exposto ao mediatismo sobre assuntos terroristas

como nestes últimos tempos. É talvez motivo para alguma inquietação ou pelo menos para

darmos alguma atenção ao que está a acontecer. O terrorismo de que se fala é obvia-mente o provocado pelo fanatismo islâmico. As declarações do chefe de governo no dia 20 foram claras. As informações sobre a possibilidade de

uma ameaça terrorista (eufemismo para dizer atentado) em Portugal chegaram

através dos serviços secretos espanhóis no decurso de uma detenção de 15 pessoas, sus-

peitas de pertencerem a uma célula da Al-Qaeda ou pelo menos de manterem contactos com essa mesma organização. Nuestros hermanos avisaram-nos para a possibilidade de 2 indivíduos paquistaneses estarem a planear um atentado em Espanha ou Portugal e po-derem inclusive já estar em solo luso. O Primeiro-mi-nistro diz então que “a ameaça é para levar a sério”. É um sinal de clara maturidade do poder político, preocupado com informações que chegam de fontes seguras e ameaçam a estabilidade e prosperidade do país. Mas perante isto o coordenador do gabinete de segurança dá apenas a garantia que as forças policiais vão estar “alerta para qualquer movimento suspeito”. Quem sou eu para dar opiniões a peritos e experts em matéria de segurança, mas... parece-me óbvio que se a ameaça fosse realmente levada a serio pelos sectores de segurança algo mais teria que ser feito. O Sr. General Leonel Carvalho acrescenta que o SEF vai ter mais atenção às fronteiras aéreas e terrestres. Ora... não conhecendo o modus operandi dos terroris-tas islâmicos, não creio que apanhassem um avião de Madrid para aqui quando estas informações passam em todos os canais televisivos de Espanha e Portu-gal. Em relação ao controle das fronteiras terrestres, bem... se a UE tivesse postos fronteiriços talvez eu acreditasse que era possível exercer controlo, mas visto que a circulação de pessoas, bens e serviços se faz livremente por estradas e auto-estradas de norte a sul do país, acho um pouco difícil. Só consigo imagi-nar a GNR em operações stop a tentar localizar dois indivíduos num carro. Não é propriamente um factor de tranquilização. O que ainda nos vale é que eu acho que ninguém acredita na real possibilidade de um atentado terrorista em Portugal. Mas eu contrario

esse pensamento: se fossem terroristas e já tivessem feito um atentado em Nova Iorque, outro em Madrid, outro em Londres e desde à uns tempos para cá a vida terrorista vos tivesse a correr mal (os britânicos e os espanhóis despendem agora muito tempo a prender suspeitos de terrorismo; e os americanos já destruíram 2 países só com essa justificação), não gostariam, nem que fosse para picar o ponto e não deixar o material enferrujar de fazer um atentadozinho num país euro-peu em que as forças de segurança não fazem nada de especial quando recebem informações supostamente credíveis sobre essa possibilidade? Felizmente não conheço nenhum terrorista. Mas devem haver por aí terroristas minimamente espertos, como existem pessoas espertas em qualquer outra actividade. Aliás, ponham-se na pele deles. Se fossem vocês, mesmo que não estivessem realmente interessados em fazer um atentado neste pequeno país europeu, se tiverem a infelicidade de ouvir a despreocupação das autorida-des de segurança portuguesas acerca do assunto, não pensavam duas vezes? É bem possível que sim.Era bom que estes profissionais seguissem a intuição do nosso Primeiro-ministro e investigassem realmen-te o assunto. E se os organismos peritos em segurança não vão propor aos representantes políticos do país a aplicação de algum tipo de medidas preventivas, ao menos era bom que explicassem detalhadamente o que os leva a desvalorizar a ameaça. Aplaudo a de-claração do chefe do governo a dizer que “temos de levar isto a sério” porque eu sempre aprendi que mais vale prevenir, do que remediar. Mas espero bem que a minha opinião sobre esta trágica possibilidade seja dada como ridícula e errada até ao fim dos meus dias (daqui a muitos anos). É sinal de que tudo correu pelo melhor e que realmente a maioria dos terroristas não são nada espertos.

«O Primeiro-ministro diz então que “a ameaça é para levar a sério”. É um sinal de clara maturidade do poder políti-co, preocupado com informações que chegam de fontes seguras e ameaçam a estabilidade e prosperidade do país.»

Sobretudo por Diogo leão [email protected]

Ameaça terrorista em Portugal

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07

As ditaduras caracterizam-se pela encena-ção do poder, promovendo uma adesão simbólica aos valores do regime e uma aparente unidade em torno da sua direcção política. O fascínio militarista

que compôs a matriz de várias ditaduras, para além de constituir uma força interna disciplinadora, insere-se justamente nessa teatralização do poder. Em 1989, por exemplo, as cúpulas da República Democrática da Alemã (RDA) comemoravam o 40º aniversário do Estado comunista com um espantoso desfile de força bélica e Erich Honecker, o seu líder, celebrava a conti-nuidade da RDA por várias décadas. Na realidade, um mês depois, caía o Muro de Berlim e com ele a RDA. A encenação é um instável equilíbrio e os ditadores sabem-no. Durante a década de 1990, as ditaduras de inspiração comunista que não cederam com o colapso da União Soviética foram substituindo as gastas paradas militares pela farsa do voto. A simula-ção controlada de um acto democrático transformou-se no guião de vários regimes autoritários e Cuba, uma das mais longas ditaduras do mundo, não foi excepção.No passado dia 20 de Janeiro, cerca de oito milhões de cubanos foram obrigados a ir às urnas para «vo-tar». Sem partidos, imprensa, ou pensamento livre, os cubanos foram actores involuntários da ditadura que os oprime e limitaram-se a confirmar os 614 candida-tos que se apresentaram para preencher justamente 614 vagas num Parlamento de sentido único. A liberdade é um bem tão precioso que, aparentemente, até as ditaduras investem em caricaturas eleitorais e comentam a evolução da «votação» como se hou-vesse de facto alguma possibilidade de baralhar as pré-condições do resultado final. Como chegaram os cubanos a este ponto?Num mundo dividido pela Guerra Fria, Fidel Castro e um conjunto de guerrilheiros desceram da Sierra Maestra e entraram em Havana há quase cinquenta anos, con-quistando logo aí o imaginário de parte da esquerda radical que já então divergia da linha soviética e teria um papel impor-tante nos protestos anti-disciplinares da década de 1960. Contrariamente aos or-todoxos dirigentes da URSS e dos partidos comunistas que gravitavam na sua órbita, Fidel Castro liderava uma revolução sem ru-gas que substituía o vermelho marxista-leninista pelo verde-azeitona dos trópicos. Para mais, a 90 milhas de distância dos EUA e para derrubar um governo corrupto e autoritário na ilha. A simbologia inicial da revolução cubana, para a qual muito contribuiu o mito esfíngico de Che Guevara, manteve-se como um filtro duradouro que ainda hoje faz com que muitos olhem para Cuba com relativa condescendência e como fonte de utopia, calor e festa. Tudo ali soava di-ferente do que então se conhecia na América Latina, de Trujillo a Pinilla, e essa raiz da revolução cubana

permitiu um constante relativismo perante o Estado policial e de parti-do único que entretanto se consolidou. Todas as promessas da revolução cubana se desvaneceram numa realidade sombria. O alinhamento com o mundo comunista impôs aos cubanos uma ditadura sem concessões que normalmente não é apresentada nos pros-pectos das agências de viagens. Segundo dados da Amnistia Internacional, Human Rights Watch e Repórteres sem Fronteiras, o regime de Fidel Castro já fuzilou mais de 17.000 pessoas nas suas quase cinco décadas de poder absoluto e mais de 100.000 foram enviadas para prisões e campos de reeducação. A perseguição abate-se sobre intelectuais, activistas da democracia onde se incluem inúmeros socialistas, sindicalistas, homossexuais e, de uma forma geral, qualquer cubano que ouse pensar de forma diferente do entendimento do mundo que tem o governo da ilha desde a década de 1950 do século XX. É por isso que muitos empreendem uma trágica viagem rumo ao exílio, lançando-se a um mar infestado de tuba-rões como a derradeira oportunidade de escaparem à condenação arbitrária a que foram sujeitos. A economia cubana sobrevive nos escombros do des-

moronamento do Muro de Berlim e da asfixia autoritária. A pobreza é condição geral. O

salário mínimo é de aproximadamente dez dólares. Um quilo de carne custa dois. Os cubanos vivem numa ilha-prisão, com muros de água e não cimento. Praias, hotéis, restaurantes e táxis estatais com ar condicionado são em dólares e para os turistas, enquanto a Cuba dos pesos,

que raramente esbarra com os visitantes estrangeiros, é para os cubanos. A escritora

cubana Karla Suaréz afirmou que em Cuba se morre de nostalgia e não é difícil perceber porquê, num lugar onde a normalização censória da vida colectiva é significado de «igualdade» e de negação da individualidade de cada um, das suas diferenças e da pluralidade entre todos.A degenerescência física de Fidel Castro ditará, muito provavelmente, o fim do regime. Foi morrendo aos poucos, como todos os revolucionários e todas as re-voluções. Cuba permanecerá como uma das últimas ilusões do século XX a que a esquerda democrática nunca deixou de resistir sem teorias de compensação:

de que vale um sistema de saúde sem um sistema pluralista, sem a capacidade de cada um defender as suas ideias e não ser preso por elas? De que vale um sistema de ensino quando a educação reproduz os princípios irrevogáveis da ditadura, quando não é possível comprar os livros e os jornais que se entenda, quando a Internet é controlada pela polícia política? Tudo dúvidas retóricas, obviamente, que os cubanos já têm há demasiado tempo.Em 2003, quando muitos já acreditavam numa evolução democrática da situação em Cuba com o Partido Comunista no poder, assistimos à madrugada da «Primavera Negra», quando Fidel Castro aprovei-tou as atenções mundiais sobre o Iraque para lançar uma ofensiva sobre a dissidência: prendeu 75 escri-tores, activistas políticos e jornalistas. Vários foram sentenciados sumariamente a penas até 30 anos de prisão por «conspiração». Logo depois, três cubanos que tentaram fugir do país foram colocados em frente ao pelotão de fuzilamento. Cuba, para lá dos mitos, é sobretudo essa tirania. Em 1962, discursando na parte ocidental do Muro construído pela Alemanha de Leste e que Erich Honecker julgava indestrutível, John F. Kennedy teve uma passagem notável e que serviu para sinalizar a intervenção da esquerda democrática durante os anos de chumbo da Guerra Fria: «Freedom has many difficulties and democracy is not perfect. But we have never had to put a wall up to keep our peo-ple in - to prevent them from leaving us». Numa altura em que o muro da ditadura cubana parece estar a entrar no seu capítulo final, mantenhamos essa defesa inegociável da democracia como a única pos-sibilidade de entender a intervenção política e o bem comum. Mais cedo ou mais tarde, os cubanos estarão aí para lembrá-lo e exigir o nosso exemplo.

«Todas as promessas da revolução cubana se desvaneceram numa realidade sombria. O alinhamento com o mundo comunista impôs aos cubanos uma ditadura sem concessões que normalmente não é apresentada nos prospectos das agências de viagens.»

INTERNACI NAL

POLÍTICA INTERNACIONALpor Tiago Barbosa Ribeiro [email protected]

Cuba, a última das ilusões

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