jovem socialista 459

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SOCIALISTA JOVEM NÚMERO 4 5 9 Director Bruno Julião Equipa de Redacção Diogo Leão, Luísa Fernandes, Pedro Sousa, Vítor Reis, Tiago Barbosa Ribeiro ORGÃO OFICIAL DA JUVENTUDE SOCIALISTA 03 EDITORIAL Lufadas de ar fresco 05 APETECE DIZER O que nos diz a “Ética Prática” de Peter Singer FAUL organiza discussão sobre Tratado de Lisboa pág.2 > CÁ POR DENTRO Em Espanha com o PSOE pág.6 > INTERNACIONAL Portugal e Espanha: amigos políticos pág.3 > SOBRETUDO 02 AFECTOS E DESAFECTOS Menezes e Portas em sarilhos ALTERNATIVAS ENERGÉTICAS A ENERGIA EÓLICA

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6 de Março de 2008

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Page 1: Jovem Socialista 459

SOCIALISTAJOVEM NÚMERO 459

Director Bruno Julião Equipa de Redacção Diogo Leão, Luísa Fernandes, Pedro Sousa, Vítor Reis, Tiago Barbosa Ribeiro

ORGÃO OFICIAL DA JUVENTUDE SOCIALISTA

03 EDITORIAL 03030 3 3 EDITORIAL

Lufadas de ar fresco

05 APETECE DIZER 05 APETECE DIZER

O que nos diz a “Ética Prática” de Peter Singer

FAUL organiza discussão sobre Tratado de Lisboa pág.2

> CÁ POR DENTRO

Em Espanha com o PSOE pág.6

> INTERNACIONAL

Portugal e Espanha:amigos políticos pág.3

> SOBRETUDO

02 AFECTOS E DESAFECTOS 02020 AFECTOS E DESAFECTOS

Menezes e Portas em sarilhos

ALTERNATIVAS ENERGÉTICAS A ENERGIA EÓLICA

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Aactividade foi no dia 17 de Janeiro pelas 21h na sede do PS FAUL. A sessão foi bastante animada, com intervenções de quase todos os participantes, durando até as 00h30.

As temáticas abordadas foram o cenário pós – tratado, a cres-cente influência da UE no quotidiano português, o processo de

implementação do tratado de Lisboa, entre outras. Foi uma sessão informal na qual o Eurodeputado Joel Hasse Ferreira teve

uma conversa franca, em ambiente descontraído, que permitiu por exemplo uma explicação, menos formal, do funcionamento do Parlamento Europeu, assim como uma análise detalhada do trabalho do Eurodeputado.

Visita ao Concelho de Vila Nova de GaiaO secretariado da JS Distrital do Porto, em articulação com as concelhias da JS e do PS de V.N. de Gaia, promoveu uma visita aberta ao concelho de V.N. de Gaia no dia 23 de Fevereiro. A visita permitiu um contacto directo com a realidade local e conhecer melhor alguns dos problemas que afectam os cidadãos de V.N. de Gaia.

Para o efeito decorreram visitas ao paredão de S. Félix da Marinha, à praia de S. Félix da Marinha, à passagem de nível e às obras circundantes em S. Félix da Marinha e à zona ribeirinha do Olival - Arnelas.

Concelhia de Vila Nova de Famalicão inaugura sedeA Juventude Socialista, concelhia de Vila Nova de Famalicão, inaugurou, no passado dia 22 de Fevereiro, na loja 21 do Centro Comercial Vinova, naquela cidade, a sua primeira sede. A inauguração contou com a presença do secretá-rio coordenador da concelhia, Nuno Vieira, o secretário coordenador do distrito de Braga, Hugo Pires, o Presidente da Comissão Politica do PS de Vila Nova de Famalicão, Nuno Sá, e o Secretário Geral da Juventude Socialista, Pedro Nuno.

Pedro Nuno e Nuno Vieira salientaram a necessidade da união do Partido, para que o Partido Socialista, volte a ser, de novo, poder em Vila Nova de Famalicão.

02

AfectosMorais Sarmento O antigo ministro da presidência do Governo PSD/CDS, num excelente exercicio de isenção teceu criticas mal escondidas à actuação politica, meramente reactiva, do actual líder do seu partido. Relativamente à recente proposta envolvendo a RTP, adiantou ainda concordar em absoluto com a alteração da admi-nistração do canal televisivo, proposta pelo actual executivo. Defende que esta alteração é feita em tempo útil e em consideração com o trabalho realizado pela anterior administração.

Paquistão Musharraf sofreu na passada segunda-feira uma derrota pesada nas eleições legislativas paquistanesas, sendo que a sua permanência na chefia de Estado terá ficado no minimo, fragilizada dada a possibilidade de impugnação por parte da oposição. Mas o país ganhou um novo fôlego no sentido da democracia! O presidente Bush prestou imediatamente declarações no sentido de apelar à oposi-ção que cooperasse com a presidência de Musharraf, pudera!

Luis Filipe Menezes O líder do principal partido da oposição está em funções há 4 meses e a sua intervenção tem-se pautado por um grande vazio... uma forte brisa no deserto. Entre adoptar causas que não são as suas, pelo menos não de autoria própria como é o caso da causa sindical, até fazer propos-tas perfeitamente irreflectidas e inconsequentes, movido por um exibicionismo que só empobrece a vida politica como sucedeu na sua ultima proposta de retirar toda a publicidade da RTP, este líder já fez de tudo excepto apresentar o seu programa politico. Reformar o sistema educativo? Requalificar os serviços de saúde? Aparentemente, nada disto é relevante para Menezes, o que im-porta é inviabilizar o saneamento da divida do canal público.

por Luísa [email protected]

Desafectos

Cuba Fidel Castro anunciou esta semana a renúncia ao espaço que terá ocupado no aparelho de Estado Cubano durante 49 anos. Quem lhe sucede é Raul Castro, seu irmão e pouco mais novo que o líder carismático. A alternativa a Raul Castro é um conjunto de politicos dinossauros, da mesma geração de Raul e Fidel, à excepção de Carlos Lage que representaria uma verdadeira renovação na liderança daquela ilha. A verdade incontestável é que o povo cubano vive há anos demais num clima opressor, ainda as-sim o mundo anseia por uma transição inteligente e sustentável...principalmente naquela que possa ser uma das mais importantes transições, a eminente perca de referências constantemente amea-çada por um gigante omnipresente e sempre à espreita.

Cá Por Dentro

Zapatero A disputa entre Zapatero e Rajoy parece estar mor-na... aquém... ainda assim, o actual líder e novamente candidato, me-rece o nosso apoio, pelo trabalho desenvolvido na ultima legislatura. Investiu num movimento de estabilidade e consolidação económica; tentou estabelecer uma ponte de comunicação com a ETA, embora reconheça que esta tenha sido menos frutifera que o esperado e contra uma Igreja Católica feroz abordou assuntos de índole social tão importantes como o casamento homossexual. A JS está em franca cooperação com a juventude espanhola e há camaradas nossos que se encontram no momento a colaborar na campanha. Acompanha a aventura em www.o-dia-z.blogspot.com.

FAUL organiza debate sobre Tratado de Lisboa

&

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Nestes últimos dois séculos de proces-sos e progressos políticos (datação que inclui também algumas décadas de retrocesso devido aos autoritaris-mos do séc. XX), Espanha e Portugal

não têm andado distantes.Longe vão os tempos das desavenças entre es-

tes dois países peninsulares devido à limitação de fronteiras, aos descobrimentos e posse dos territórios além-mar, aos monopólios das rotas de comércio marítimo, aos nacionalismos chauvinistas que fer-mentavam as elites aristocráticas que por sua vez os catequizavam ao ideário popular.

Desde as Guerras da Restauração da Coroa Portugue-sa, e sem esquecer o breve episodio militar de 1801 apelidado de Guerra das Laranjas, estas duas nações têm andado, relativamente, a par e passo. De vez em quando existiram divergências, evidentemente, e até algumas “facadazinhas” nas costas, mas nada que se comparasse aos velhos ódios e ressentimentos luso-espanhóis da era medieval e moderna.

Embora inicialmente a Espanha se opusesse a In-glaterra e ao seu aliado português D. João VI, Portu-gal e Espanha, a partir de 1808, estiveram juntos nas Guerras Peninsulares contra os exércitos da Grande França de Napoleão Bonaparte. Foi, aliás, a revolta do povo espanhol e o desvio de tropas do exército francês em Portugal para a pacifi cação de Espanha que permitiu aos ingleses desembarcarem para, juntamente com o povo português, procederem à libertação do nosso país, que estava sob domínio do famoso general Andoche Junot. O futuro Duque de Wellington, Arthur Wellesley, comandante dos exér-citos da península e posteriormente primeiro-minis-tro britânico, diz do povo espanhol – “Nunca vi um Espanhol fazer nada. Quanto mais fazer alguma coisa bem.” – esta afi rmação, que também se alargaria certamente ao sentimento de Wellington por muitos portugueses, já foi desmistifi cada. Hoje, a Europa e o mundo sabem que estes povos foram capazes de mudar e melhorar muitos dos seus defeitos, a fi m de trabalharem de acordo com um mundo essencial-mente democrático, progressista e globalizado.

Foram estas guerras que abriram totalmente o caminho para o triunfo das ideias liberais e primeiras constituições da História destes dois países.

Este longo período de constitucionalismo mo-nárquico nestes dois países representou sem dúvida uma clara evolução nas nossas sociedades do séc.

XIX, mas não foi claramente sufi ciente para retirar a península da cauda da Europa. O atraso continuaria a ser enorme, porque o “país legal não acompanhava o país real”. Isto é, tal como, por vezes, ainda hoje se passa por este mundo fora, as leis não acompanha-vam a alteração de mentalidades, vontades, usos e costumes. Na década de 70 do séc. XIX, Antero de Quental, ideólogo do socialismo português, daria uma ilustríssima conferência na qual elaborou uma análise sobre as Causas da Decadência dos Povos Peninsulares. Este escrito, à frente do seu tempo, constitui uma brilhante crítica aos fundamentos da tradição (ainda tendo em conta elementos que se for-maram nos primórdios da nossa existência enquanto nações) e excessiva espiritualidade dos nossos povos.

No séc. XX, a História portuguesa e espanhola sobre maior aproximação.

Ambas as monarquias constitucionais são depostas e no seu lugar são proclamadas repúblicas parlamenta-res, que por vezes foram dadas a alguns excessos. Estes possíveis excessos foram considerados imperdoáveis por sectores civis conservadores e pela quase totalidade dos exércitos destes dois países. Inicia-se a era do auto-ritarismo peninsular, com Salazar e Franco.

Conhecemos bem a história destes longos períodos ditatoriais, que asfi xiaram as liberdades e restantes princípios e valores fundamentais de que somos defensores. Mesmo assim, Espanha saiu mais moder-nizada e industrializada do que Portugal desse negro período. Com a reposição de direitos políticos e civis e o restabelecimento do regime democrático, mesmo sob forma de monarquia constitucional, a Espanha da década de 70 tinha já outros horizontes. Com os governos do PSOE, de Filipe González, quebrou barreiras, tabus sociais e abraçou o espírito europeu. Em 1985 entra na anterior CEE, agora UE.

Portugal necessitou de encontrar um rumo desde a década de 70, e o Partido Socialista foi principal protagonista dessa demanda, chamado pelo povo ao governo quando o país mais precisou. Hoje esta construção está consolidada e honrada com nosso actual governo de maioria absoluta, agora com os olhos postos em novas fronteiras, de futuro. Em Espanha encontramos hoje, com alegria, o nosso melhor amigo político, Zapatero. Este líder-irmão, representa, a par com o nosso governo, o progresso da Península Ibérica e a união fraternal destes dois povos, sempre em busca de um mundo mais livre, justo e solidário.

03

SobretudoBruno Julião

Dire or Jovem Socialist abruno.juliao@juventud ocialist a.org

Nesta edição escrevemos sobre lufadas de ar fresco. No seguimento do último número que introduziu este dossiê temático sobre “Alternativas Energéticas”, destacamos desta feita o aproveitamento da energia eólica que, como todas as energias limpas, tem por objectivo o combate às emissões de CO2 para a atmosfera, a promoção de uma melhor qualidade de vida das pessoas e da sustentabilidade energé-tica do nosso planeta.

O nosso país tem aproveitado muito bem o vento e pretende potenciá-lo cada vez mais. E posso até ser polémi-co para alguns defensores de paisagens virgens onde estão localizados parques com torres para aproveitamento dos ventos, mas acho mesmo que, por vezes, a paisagem fi ca mais bonita com os moinhos gigantes que lembram a grande obra de Cervantes, nas terras de La Mancha, de Aragão e de Cata-lunha. Podem no nevoeiro parecer feras e monstros que avistamos nas nossas viagens, mas a verdade é que só existem mesmo para preservar a espécie humana.

Não é só do vento que provêm lufadas de ar fresco, mas também das terras de Quixote e Pança, mais pre-cisamente do PSOE de Zapatero. Dom Quixote de La Mancha é um pequeno fi dalgo castelhano que perdeu a razão pela leitura assídua dos romances de cavalaria e que pretendia imitar os seus heróis preferidos. Imitar o primeiro-ministro espanhol em muitas políticas é um dever dos socialistas e sociais democratas europeus. Espero que, caso isso aconteça, ao contrário de Dom Quixote, sejam em pleno bem suce-didos. Com políticos como Zapatero, agora em campanha eleitoral, sopram brisas de esperança.

EDITORIAL

Espanha e Portugal não têm andado distantes.Longe vão os tempos das desavenças entre estes dois países peninsulares...

Cá Por Dentro

Lufadas de ar fresco

por Diogo Leão

Portugal e Espanha: Países de Irmãos

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As mudanças foram radicais nos últimos dois séculos e desde então têm vindo a multiplicar-se novas possibilidades para a manipulação técnica dessa aquisição da modernidade que é a energia, dando res-

posta a novas exigências políticas, sociais e ambientais. Actualmente, as necessidades energéticas da Hu-

manidade estão desigualmente distribuídas a partir de combustíveis fósseis, como carvão, o petróleo ou o gás natural, que são transformados por combustão

noutras formas de energia, como a eléctrica. Associado a este modelo temos dois problemas fundamentais: a poluição resultante da combustão e finitude das fontes, o que exige uma resposta capaz de absorver nas próximas décadas a progressiva rarefacção de recursos que actualmente alimentam as necessidades energé-ticas de todo o mundo. Assim, as energias renováveis (FER, Fontes de Energia Renováveis) integram-se num novo paradigma que procura dar resposta a uma dependência de recursos energéticos com onerosos

custos económicos, ambientais e sociais. E, pelo seu carácter limpo, abundante, inesgotável e tecnicamente mais versátil do que outras fontes renováveis, a energia eólica é aquela que apresenta uma maior margem de progressão nos próximos anos.

Existindo registos de aproveitamento da energia do vento para a movimentação das águas e para a irrigação dos campos de cultivo em Portugal desde o século XII, podemos definir um sistema de energia eólica como um mecanismo capaz de transformar a

Na obra História Económica da Europa Pré-Industrial, Carlo M. Cipolla define as espantosas transformações tecnológicas e económicas da Revolução Industrial

como um processo em que a sociedade adquiriu domínio sobre grandes fontes de energia inanimada, do petróleo ao carvão, da electricidade ao átomo, e assim

redefiniu a história da nossa civilização.

por Tiago Barbosa Ribeiro

A ENERGIA EÓLICACOMO A ALTERNATIVA

ENTRE AS ALTERNATIVAS?

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energia cinética do vento em energia útil, mecânica ou eléctrica. Actualmente, o desafio está em torná-la competitiva em relação aos combustíveis fósseis. Na Europa, a energia eólica está entre as FER em que mais se tem investido na última década, sendo aliás a região com maior penetração mundial desta fonte com uma produção suficiente para satisfazer o consumo domés-tico de 10 milhões de pessoas. Permanece portanto praticamente inexplorada, mas prenuncia-se uma importante mudança nos próximos anos devido (i) aos novos conhecimentos e desenvolvimentos da elec-trónica de potência, (ii) aos melhores desempenhos aerodinâmicos na concepção de turbinas eólicas e (iii) aos financiamentos estatais para a implementação de novos aproveitamentos eólicos. Simultaneamente, a problemática das alterações climáticas exige um novo compromisso energético para o continente e a elevada taxa de dependência energética da União Europeia (UE) transforma o investimento em fontes de energia alternativas numa prioridade não só económica mas sobretudo política para a estabilidade do continente.

Com efeito, a UE importa mais de 80% do petró-leo e 50% do gás que consome. Pior: fá-lo com base em fornecedores únicos que assentam o seu poder em voláteis estruturas de Estado e que comummente encontram nessa dependência um salvo-conduto para a reprodução de regimes autoritários. Essa é uma realidade que limita o alcance de um projecto europeu de democracia política e desenvolvimento económico, enfraquecendo o seu papel no mundo e dificultando a estabilização das suas fronteiras a Leste. A Rússia, neste

particular, é determinante. Se durante a Guerra Fria o poder de Moscovo foi mantido com a imposição de ditaduras comunistas, com o Pacto de Varsóvia e com

um arsenal nuclear que levou à estratégia do «equilí-brio instável de terror» sobre todo o mundo, o colapso do comunismo impôs uma nova realidade. Sob a liderança de Vladimir Putin, a Rússia recuperou uma simbólica imperial onde o exercício da soberania de Estado significa a impossibilidade de uma democracia liberal tal como a entendemos na Europa ocidental, mas a Rússia pós-comunista já não faz depender a sua influência internacional do poderio militar.

A retórica belicista não deixa de ser um dos eixos de materialização do poder russo actual, mas é a ener-gia que permite verdadeiramente a Moscovo ditar as regras de um novo xadrez geopolítico que se opõe necessariamente ao alargamento da UE para Leste. De facto, a gigante gasífera estatal Gazprom desperta hoje bem mais receios do que o exército russo num país que detém a maior reserva mundial de gás, um décimo das reservas de petróleo (sendo já o maior produtor mun-dial) e um quinto de carvão. Esse poderio energético tem permitido à Rússia uma política externa agressiva, tornando a Europa crescentemente vulnerável à agen-da do Kremlim que condiciona diferentes governos no Leste europeu, cortando e/ou limitando abastecimen-tos essenciais em vários países que pretendem romper com a esfera de influência pós-soviética e aproximar-se da UE e da NATO. As implicações desta dependência são preocupantes para a Europa, que lançou um ambi-cioso plano onde prevê o fornecimento de electricida-de a aproximadamente 50 milhões de pessoas a partir de energias eólicas até 2010.

Num contexto de mudança energética na Europa,

Portugal pode conquistar um lugar de relevo entre os produtores e exportadores de energia a partir de FER onde as eólicas assumem um claro destaque. A situa-ção energética portuguesa exige aliás uma transforma-ção no Sistema Eléctrico Nacional (SEN), contrariando uma elevada dependência externa que acaba por ser tanto mais paradoxal quanto falamos de um país com condições de excepção para o desenvolvimento de energias alternativas. Na década de 1990, por exemplo, Portugal importou mais de 85% da energia que con-sumiu, agravando continuamente a factura energética líquida em relação ao PIB e mantendo uma baixa efici-ência energética portuguesa, que pode ser medida pelo rácio entre a produção obtida sobre os inputs energéti-cos necessários para obter essa mesma produção. E se o nosso país já apresenta índices mais elevados de fontes renováveis na energia primária do que a maioria dos países europeus, o peso do petróleo (60%) ainda está claramente acima da média europeia (39%) e importa-

mos quase todo o gás que consumimos a partir de um país altamente instável, a Argélia.

O momento da mudança pode ser este. À crescente preocupação europeia com a diversificação das fontes energéticas no continente junta-se um plano energé-tico do actual governo português que consagra um importante estímulo ao desenvolvimento de energias eólicas, superando bloqueios administrativos e os problemas ao nível das ligações à rede, promovendo sinergias entre a utility nacional e as empresas privadas portuguesas que operam no sector da energia, como a Efacec e Martifer. A opção pelas eólicas entre as FER de-corre desde logo da factura ambiental, já que a captura de energia a partir de turbinas aerogeradoras não emite dióxido de carbono, dióxido de enxofre ou óxidos de azoto, mas também do decréscimo dos custos tecnoló-gicos associados à construção de parques eólicos: um aerogerador com uma vida útil de aproximadamente vinte anos produz em menos de seis meses a ener-gia que foi gasta para o instalar, operar e manter. Os aerogeradores podem ser instalados em terra ou no mar, como aqueles existentes no Mar do Norte, sendo constituídos por uma torre metálica que pode ir até aos 80 metros e por turbinas de duas ou três pás, com uma capacidade de produção de energia de 1.6-2 MW1.

Os dados dos últimos anos já consagram aquilo que pode ser um indício de reconversão energética em Portugal. Entre 2005 e 2007, a potência eólica no SEN passou de 8,5% para 16,6% e já atingiu os 2000 MW. Em cada hora de consumo de electricidade em Portugal, 5 minutos são hoje de origem eólica. É uma fonte que

assegura cerca de 8% de electricidade consumida anu-almente no nosso país, prevendo-se que em 2010 este valor atinja os 15%. Portugal não pode perder as poten-cialidades proporcionadas por um período em que os constrangimentos globais às fontes primárias colocam as FER na dianteira do desenvolvimento tecnológico e das políticas públicas de energia. Estima-se que a energia eólica actualmente recuperável a nível mundial seja de cerca de 53.000 TWh, ou seja, 4 vezes o consumo mun-dial de electricidade. Será esta, nas próximas décadas, a alternativa das alternativas energéticas em Portugal?

ALGUMAS LIGAÇÕEShttp://www.ewea.org | http://www.apren.pt http://windpower-monthly.com | http://www.edp.pthttp://www.efacec.pt ............................................................................................ 1 UNIDADE DE ELECTRICIDADE = 1 KILOWATT HORA (KWH) | 1000 KW

= 1 MEGAWATT (MW).

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Numa visão panorâmica sobre o novo milénio, perspectiva-da em “Um Mundo Inquietante” (Círculo de Leitores, p. 15), Mário Soares assevera: «Hoje, tudo o que é importante é global. A luta contra a pobreza, contra a criminalidade internacional organizada, pelo equilíbrio ecológico do Planeta, pela segurança

alimentar, contra as grandes pandemias como a SIDA – tudo é global».

Tendo por base este substrato, o fi lósofo Peter Singer, especialista em Bioética, procura na obra “Ética Prática” (Gradiva, 2000), dar resposta a desafi os éticos actuais com que o Homem se depara, ou como men-ciona, «temas de preocupação actual sobre os quais todas as pessoas que participam no processo de tomada de decisões da nossa sociedade precisam de refl ectir». (Ética Prá-tica, p. 26).

Um dos desafi os éticos abordados pelo fi lósofo contemporâneo é a problemática da Eutanásia. Perspec-tivando a Ética enquanto ferramenta indispensável para preparar o Homem para a tomada de decisões, que fun-damentem moralmente as suas opções, Singer assume-se partidário da Eutanásia voluntária, contrariamente à jurisprudência que estrutura a maioria das nações, onde «nem o pedido, nem o grau de sofrimento, nem a situação incurável da pessoa que morre constitui uma defesa para a acusação de homi-cídio» (Ética Prática, p. 213).

Desenvolvendo uma Ética de “cidadania global”, Singer, aceita que no caso de uma «situação em que uma pessoa que sofre de uma doença dolorosa e incurável dese-ja morrer» (Ética Prática, p. 214), possa renunciar ao direito de viver, porquanto esse direito é inerente à sua autonomia e consentimento, sendo inclusive a decisão moralmente justa se for impre-terivelmente livre e racional.

Mesmo admitindo a possibilidade de erros de diagnóstico, o especialista em Bioética, sustenta que «ao número muito pequeno de mortes desnecessárias que podiam ocorrer no caso da legalização da eutanásia devemos contrapor a grande quantidade de dor e de afl ição que sofrerão os pacientes que se encontram em fase terminal de doenças se a eutanásia não for legalizada» (Ética Prática, p. 217).

A argumentação singeriana baseia-se nas correntes utilitaristas, predo-minantes na sociedade anglo – saxónica, e inicialmente promovidas

pelo pensador inglês do séc. XIX, John Stuart Mill que advogava que «as acções são justas na medida em que tendem a pro-

mover a felicidade e injustas enquanto tendem a produzir o contrário da felicidade (entendendo-se por felicidade)

o prazer e a ausência de dor; por infelicidade, a dor e ausência de prazer» (J. S. Mill., Utilitarismo, Atlânti-da Editora, p. 18).

Peter Singer reformula a doutrina utilitarista, introduzindo o “princípio da igualdade na con-sideração de interesses”, alicerçando que a vida humana não se adequa com nenhuma concep-ção sacrossanta. Para o fi lósofo, os termos “ ser humano” e “pessoa” são heterogéneos: o primeiro tem um sentido estritamente bioló-gico, enquanto o conceito “pessoa” vincula «um ser racional e autoconsciente (com)

autodomínio, sentido do futuro, sentido do passado, capacidade de se relacionar com

outros, preocupação pelos outros, comunicação e curiosidade» (Ética Prática, pp. 106 - 108).

A Ética activa, mas também inquietante e com-plexa de Singer, não deixa ninguém indife-

rente, sendo entre outros aspectos, objecto de crítica por parte de

diversos opinion makers, que consideram que esta

refl ecte uma perspectiva do mundo em que o interesse

do maior número prevalece sobre o do indivíduo parti-

cular, ou como aponta Roque Cabral na crítica ao “Utilitaris-

mo” «desatende à moralidade dos meios com que se alcançam os

resultados a que unicamente atende» (R. Cabral, Logos, v. 5, p. 364).

06

ANÁLISE

APETECE DIZER...

Daniel Bastos S r ário-Coordenador da JS/Fafe, Doutorando em Ética e Filosofi a Política

O alvorecer do séc. XXI colocou ao Homem um conjunto de caminhos e fronteiras que necessariamente tem que percorrer e ultrapassar para (des) marcar o sentido da sua vida: a revolução científi ca, a evolução galopante da técnica, e o derrube das fronteiras com a Globalização à velocidade da Internet, alteraram profunda-mente o modus vivendi et operandi da sociedade.

A Eutanásia na perspectiva da “Ética Prática” de Peter Singer

plexa de Singer, não deixa ninguém indife-plexa de Singer, não deixa ninguém indife-rente, sendo entre outros aspectos,

objecto de crítica por parte de

mundo em que o interesse do maior número prevalece

sobre o do indivíduo parti-cular, ou como aponta Roque

Cabral na crítica ao “Utilitaris-mo” «desatende à moralidade

dos meios com que se alcançam os resultados a que unicamente atende»

(R. Cabral,

Page 7: Jovem Socialista 459

07

Sou filho de imigrantes. Os meus pais fugi-ram da ditadura militar argentina em 76, encontrando em Portugal, onde estabele-ceram família, a recém-nascida liberdade. Nesse sentido, sinto-me filho de Abril. Se

o Estado Novo tivesse durado mais 2 anos, eu não seria quem sou, não seria português. Sou filho de Lidia Elsa David de Erlich Oliva e de Alejandro Erlich Oliva. Mas na minha genealogia entra também o 25 de Abril de 1974. A liberdade não é apenas um valor que me guia e que defendo – ela foi circunstância essencial do meu próprio nascimento.

Rejeito a noção de que a liberdade é apenas a igual-dade legal/formal entre os cidadãos. A igualdade de oportunidades real, material, quotidiana, é também indissociável da liberdade. É essencial o reforço de um Estado que, não querendo comandar a vida de ninguém, ajude os desfavorecidos a poder comandar os destinos da sua própria vida. Zapatero, nomeadamente, aumentou o salário mí-nimo de 450� para 600�; criou a licença de paternidade; atribuiu 2500� por nascimen-to, 3500� em famílias específicas; duplicou o investimento educativo; os cidadãos pobres isentos de IRS passaram de 5,3 milhões a 7; e o desemprego baixou de 11,06 para 7,95%.

No âmbito desta liberdade sentida na pele, abordarei a xenofobia do PP espanhol e, sucintamente, a legalização de Zapatero do casamento homossexual.

É incorrecto abordar as diferenças entre o Estado Social de Espanha e o de Portugal do ponto de vista de uma avaliação diferencia-da da sensibilidade social dos respectivos governantes, já que ambos países possuem realidades económicas muito díspares. Mas no que diz respeito ao casamento homosse-xual – área sem custos para o Estado e que constitui um avanço em termos da igualda-de de oportunidades entre orientações se-xuais diferentes – nota-se a diferença entre um Governo PSOE moderno e pluralista, num contexto de polémica temática igual à portuguesa, e um Governo PS conservador nesta área e com falta de coragem política.

É com o prazer de quem acredita na multiculturalidade que vejo como mais que provável futuro presidente dos EUA um filho de pai queniano, cuja avó vive ainda numa cabana. A imigração ilegal deve ser combatida sobretudo nas suas raízes, como fez Zapatero ao duplicar a ajuda ao

desenvolvimento dos países mais pobres, porque não favorece ninguém, a não ser os patrões explora-dores. Porém, Rajoy critica ferozmente o aumento do número de imigrantes legais. Que pensarão essas pessoas (?), que trabalham, pagam impostos, têm filhos (?), que fogem de dramas, perante os quais os países desenvolvidos costumam fechar os olhos e recolher os braços, na procura instintiva de uma vida digna (?), que pensaria o meu avô que fugiu do totalitarismo soviético para a Argentina, à procura de fazer música livre – a sua arte – e não uma guerra de causas distorcidas (?), que pensariam eles, pessoas que Rajoy julga não pelo seu mérito mas por algo tão aleatório como o local de nascimento?

Rajoy identifica como causa do seu pensamento xenófobo aquilo que na realidade é uma consequên-cia da materialização política do mesmo: 34 % dos reclusos das prisões espanholas são estrangeiros (a

percentagem populacional de imigrantes é muito menor), pelo que, segundo o PP, perigo e imigração andam de mãos dadas. Ora, se uma vez que entram, o Governo do país receptor segrega, difama e não auxilia os imigrantes, é natural que a criminalidade entre os mesmos cresça, tal como aconteceria com os cidadãos nacionais do país receptor, se fossem submetidos a semelhantes condições de pobreza e isolamento. Os imigrantes não são um problema social – os imigrantes sofrem problemas sociais.

Neste sentido, é de frisar que o Governo de Zapate-ro aumentou em 720% o financiamento à integração dos imigrantes e que o Governo de Sócrates, com a nova Lei da Nacionalidade do PS, aumentou em 900% o número de naturalizações em 2007 relati-vamente aos dez anos anteriores somados. Assim se caminha rumo ao pluralismo, à justiça, à liberdade de cada um ter, cada vez mais, oportunidade de per-

seguir o seu sonho.No “contrato de integração” que Rajoy

propôs, a celebrar entre os imigrantes e o Governo espanhol, há uma proposta de que o imigrante se comprometa “a respeitar os costumes espanhóis”. Qual a fronteira entre o respeito e o desrespeito? O emigrante português ouvir fado – será desrespeito? Não festejar o Natal, falar em crioulo – será desrespeito? E, aliás, o que são “os costumes espanhóis”, ou os costumes de qualquer outra sociedade pós-industrial? O que têm em comum os hábitos de um “português genuíno” de 30 anos morador em Lisboa e os hábitos de um “português genuíno” idoso e residente em Trás-os-Montes? E, assumindo a duvidosa existência uniforme desses hábitos “nacionais”, porque é que o comprometimento de respeito é apenas dos imigrantes em relação aos costumes dos es-panhóis, e não dos espanhóis aos costumes dos imigrantes?

Lembro-me vagamente de ver, nao sei se numa publicidade, ao vivo, num filme - a memória é imprecisa, mas as imagens que cria perduram - uma criança de dois ou três anos a abraçar um globo terrestre, mais ou menos do seu tamanho, com as duas maos em lugares opostos do mundo e um sorriso nos lábios. O sentido da solidariedade, da integraçao, da partilha da essência da condi-çao humana, sao simples e totais como esse abraço. Pena que alguns, em vez da unidade na diversidade, continuem a apregoar a crispaçao da xenofobia.

por David ErlichNuma iniciativa levada a cabo pelo PSOE - “Jovens Europeus com Zapatero” - David Erlich está em Madrid para dar o seu contributo ao PSOE na recandidatura de José Luis Rodríguez Zapatero. Acompanha o dia a dia deste Jo-vem Militante da JS através do “diário” de Campanha em: www.o-dia-z.blogspot.com

INTERNACI NAL

Dia 9 de Março, a liberdade vai a votos

Agradeço à JS, ao PS e ao PSOE a oportunidade de fazer campanha no grupo “Jovens Europeus com Zapatero”.

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SUMMER CAMP

ECOSY 25 e 31 de JULHO 2008

MONT-DE-MARSAN, EM FRANÇAPara mais informaçõ visita o site: http://sc2008.socialeurope4everyone.org/

Fotos do Summer Camp de 2005 na Figueira da Foz

O SUMMER CAMP é o maior evento da ECOSY e acolhe cerca de 2000 jovens de cerca de 40 países de todos os cantos da Europa. O Summer Camp caracteriza-se pela sua

diversidade cultural e pelas inúmeras actividades de âmbito desportivo, cultural, político e de lazer.