jovem socialista 448

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SOCIALISTA JOVEM NÚMERO 448 Director Hugo Gaspar Dir.-Adjunto Bruno Julião Equipa de Redacção Diogo Leão; João Gomes; Luísa Fernandes; Ricardo Nascimento; Vítor Reis ORGÃO OFICIAL DA JUVENTUDE SOCIALISTA 04/05 DESTAQUE Voluntariado e Associativismo Duas e a mesma forma de Participação Social Federazione Giovanile Socialista da Itália pág.7 > RADIOGRAFIA Uma opinião pessoal sobre Presidente da República Portuguesa pág.6 > APETECE DIZER 02 CÁ POR DENTRO JS recolhe assinaturas para Movimento Jovens pelo SIM Pinochet na reconstrução democrática do Chile de Bachelet pág.7 > INTERNACIONAL

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9 de Janeiro de 2007

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Page 1: Jovem Socialista 448

SOCIALISTAJOVEM NÚMERO 448

Director Hugo Gaspar Dir.-Adjunto Bruno JuliãoEquipa de Redacção Diogo Leão; João Gomes; Luísa Fernandes; Ricardo Nascimento; Vítor Reis

ORGÃO OFICIAL DA JUVENTUDE SOCIALISTA

04/05 DESTAQUE

Voluntariado e Associativismo Duas e a mesma forma de Participação Social

Federazione Giovanile Socialista da Itália pág.7

> RADIOGRAFIA

Uma opinião pessoal sobrePresidente da República Portuguesa pág.6

> APETECE DIZER

02 CÁ POR DENTRO

JS recolhe assinaturas para Movimento Jovens pelo SIM

Pinochet na reconstrução democrática do Chile de Bachelet pág.7

> INTERNACIONAL

Page 2: Jovem Socialista 448

José Policarpo A mensagem de Natal de Dom José Policar-po, embora sob a tónica da exclusão social, não deixou de abordar o referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, quando todos já conhecem a posição da Igreja Católica, o Cardeal-Patriar-ca aproveita para fazer campanha numa altura particularmente sensivel e propicia. Mas D. João Miranda foi ainda mais longe equiparando a interrupção voluntária da gravidez à prática medieval da “Roda dos Meninos”, resta a dúvida de quem terá fi cado na Idade Média...

AfectosMovimento Jovens pelo Sim O movimento de jovens pelo sim tem feito um trabalho de cidadania extra-ordinário ao reunir pessoas de todos os credos, fi liações partidárias, pertenças profi ssionais, etc., sob a égide de um mesmo objectivo. É de parabenizar o tra-balho cooperativo e de mobilização que este movimento tem conseguido e se ele ainda não chegou a ti, chega tu a ele em www.jovenspelosim.org

Ana Gomes A intervenção desta eurodeputada que chamou a atenção internacional sobre Portugal, insinuando falta de transpa-rência por parte do executivo Português no que diz respeito aos voos da CIA, já mereceu um convite para abandonar a Comissão Nacional do PS. Esta deputa-da tem recebido duras criticas por parte da Direcção do Partido, especialmente de José Lello que tem o pelouro das relações Internacionais do PS e é um dos dirigentes mais próximos de Sócrates.

02

Desafectos&

Cá Por Dentro

por Luísa Fernand .

N os dias 9 e 10 de Dezembro realizou-se a XIV Convenção Distrital da JS Aveiro, que elegeu

Pedro Vaz como seu presidente e a moção “És Esquer-da”, como Moção Global que irá orientar o rumo desta Federação. Questionado pelo Jovem Socialista, sobre as suas proridades para este mandato, Pedro Vaz afi rmou

ser numa primeira fase a luta pela despenalização do IVG, e posteriormente o combate por um distrito que pretende que seja ousado, que inove e que volte ao dinamismo económico que sempre o caracterizou, apostando nas novas energias, no desenvolvimento sustentável e que ouse ser mais jovem.

O JOVEM SOCIALISTA como orgão ofi cial da JS, é o jornal de todos os militantes. Mantem-nos informados das actividades da tua estrutura, para que sejam divulgadas neste espaçoContacto [email protected]

Eleito novo Presidente para a Distrital de Aveiro da JS

No âmbito da recolha de assinaturas para o Movimento Jovens pelo SIM, a Juventude Socialista tem vindo a desenvolver um pouco por todo o território nacional, acções com as

Movimento Jovens pelo SIM

luisa.fernand @juventud ocialist a.org

Pinochet Escreveu no seu testamento politico, estar convencido de que não tinha feito nada de errado nos 17 anos de ditadura à frente do Chile...

Financiamento Universitário O Governo está a negociar com os bancos a concessão de empréstimos a estudantes, sem necessidade de apresentar garan-tias. Esta medida juntamente com o não aumento das propinas fazem parte de um conjunto de medidas inscritas na reforma do Ensino Superior que visam o objectivo de aumentar em 50% nos proximos dez anos, o numero anual de diplomados.

TENDO EM VISTA O OBJECTIVO DE 5000 ASSINATURAS PARA LEGALIZAÇÃO DO MOVIMENTO JOVENS PELO SIM

estruturas locais, com o objectivo de recolher o máximo de assinaturas possível. Os resultados obtidos têm sido francamente positivos.Este movimento cívico de jovens a favor da Despenalização da Inter-rupção Voluntária da Gravidez, que teve a sua apresentação pública no passado dia 6 de Dezembro na Fa-culdade de Letras de Lisboa, reúne na mesma plataforma membros de organizações juvenis e juventudes partidárias, como sejam a Juventu-de Socialista, JSD, Jovens do Bloco, Movimento Católico de Estudantes, Rede de Jovens para a Igualdade de Oportunidades entre Mulheres e Ho-mens, Não te Prives, AJPaz, Jovens da UGT, FNAJ, entre outras, assim como fi guras públicas de várias áreas da nossa sociedade.

IVG

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O s jovens hoje em dia são vistos como seres incapazes e despreocupados com os problemas da sociedade. A verdade é

que muitos não se alheiam às desigualdades e às diferenças que os rodeiam.

No seio da nossa juventude, há milhares de rapa-zes e raparigas que despendem parte do seu tempo a ajudar o próximo. Fazem do voluntariado uma paixão e afi rmam receber a maior das recompen-sas: o sorriso de agradecimentos daqueles a quem auxiliam.

O voluntariado assume cada vez mais impor-tância na nossa sociedade, na consciência cívica e espírito solidário, na produção de comportamentos e atitudes de cidadania, pelo que os programas de voluntariado jovem vem apresentar uma oportuni-dade de participação em situações nas quais podem colaborar de forma livre e espontânea.

Os jovens que participam nos programas de vo-

luntariado, em áreas como o ambiente, património e âmbito profi ssional, para além da satisfação de uma motivação pessoal ou da sua associação para este tipo de actividades, revelam que é de facto gratifi cante a sensação e poder contribuir para o bem-estar dos outros e de melhorar a sociedade em que vivem.

Actualmente, as associações de voluntariado promovem formações e debates nas escolas para chamar a atenção dos jovens sobre a importância do voluntariado.

Um exemplo de voluntariado é o Banco Ali-mentar contra a Fome que promove a recolha de alimentos duas vezes por ano em supermercados, reunindo cerca de 4500 toneladas só na Capital Lisboeta distribuídos depois por cerca de 100 mil pessoas no nosso país.

por Ricardo Nascimentoricardonascimento@juventud ocialist a.org

HUGO GASPARDire or Jovem Socialist ahugogaspar@juventud ocialist a.org

Muitos dos leitores do Jovem poderão estranhar o facto de apenas a algumas semanas do dia 11 de Fevereiro, o tema de destaque desta edição não ser directamente relacionado com a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez, não obstante o facto da Juventude Socialista se encontrar de alma e coração, de dia e de noite, a trabalhar para que o resultado da noite de 11 de Fevereiro seja histórico, para nós militantes socialistas e para o nosso país.

Estamos a preparar um número inteiramente dedicado ao IVG, o nosso derradeiro contributo enquanto órgão ofi cial da Juventude Socialista, que poderão apreciar já na próxima edição.

Ao longo destes dias, e em diversas actividades que estivemos envolvidos, a percepção que é possível obter é francamente positiva. Parece-nos que os por-tugueses se encontram mais conscientes do que está em causa, e do retrocesso social e moral que implica o facto do SIM não sair vencedor no referendo.

Entretanto, aqueles que defendem o não, já nos possibilitaram aferir em que moldes vai ser baseada a sua campanha.

Alguns outdoors são verdadeiras pérolas, e qualquer que seja o resultado do referendo, deverão ser guarda-dos para memória futura, referenciados como profun-damente ridículos, propositadamente manipuladores e desprovidos da seriedade, que deve existir na con-frontação democrática. Mas isto é apenas a opinião daqueles que acreditam no socialismo democrático.

Nunca pensei que a “vida”, valor supremo que dizem defender, mas que não inclui por exemplo, a gravidez originada por uma violação ou em caso de má formação do feto, entre tantas outras incoerên-cias, merecesse uma abordagem tão demagógica e tão deselegante. Mas para fazer esse julgamento cá estarão os portugueses, esperemos que em massa, e sobretudo com a convicção que uma sociedade moderna, democrática e solidária não quer criminali-zar as suas mulheres ou perpetuar um grave prob-lema de saúde pública.

O destaque desta edição, Voluntariado e Associa-tivismo, parece-nos pertinente, quando por exemplo, se regista alguma apreensão em relação aos níveis de participação que os portugueses, e especialmente os jovens, poderão (não) ter no próximo referendo.

Tratando-se estas de práticas que fomentam a coesão social e promovem a integração do cidadão na sociedade de que faz parte, o trabalho como voluntário ou em prol de alguma associação, é o ex-ercício da cidadania na sua forma mais pura, o que é um contributo fundamental para o presente, em que a crise das instituições democráticas e o progressivo descrédito da classe política são um lugar comum.

Vale a pena ler o destaque desta edição, e ter a percepção que por exemplo, apenas um em cada quatro jovens se encontra fi liado numa estrutura associativa. Se tivermos em consideração que as asso-ciações de carácter político, ocupam uma surpreen-dente (pela negativa) sexta posição nas preferências dos jovens portugueses, então caros camaradas e amigos, temos um longo, longo caminho a percorrer e muito trabalho a fazer...

03

SobretudoREFERENDO

“Eu posso....Tu podes....Nós podemos....Todos juntos ganhamos”

EDITORIAL

Voluntariado e Associativismo

H oje apetece-me, sobretudo, falar de uma imagem que vi no jornal: uma foto da mãe de um soldado americano falecido no Iraque.

Ela ostentava na mão, em protesto, uma tabuleta com o número 2920. O número de baixas americanas, segundo o sítio www.antiwar.com/casualties, cifra-se já em mais de 3000 soldados falecidos desde o início da intervenção militar.

A “war on terror”, lançada pela adminis-tração Bush, e sustentada em relatórios dos seus serviços secretos, considerou o Iraque de Saddam Hussein perigoso para a segurança interna norte americana e para todo o ocidente, pois o Iraque possuiria um vasto arsenal de armamento de destruição maciça, recusara-se a receber nas suas instalações militares e industriais inspectores das Nações Unidas – à semelhan-ça do Irão mais recentemente, e apoiaria fi nancei-ra e logisticamente a Al-Qaeda.

Bush ainda teve tempo para menosprezar as reticências dos aliados Alemanha e França, chaman-do-lhes a “velha Europa”, chantageando apoio – “ou estás comigo ou contra mim” – e transportar-nos para um logro à escala planetária.

A intervenção no terreno cedo trouxe a lume a questão essencial: onde estavam as “weapons of mass destruction”? Nunca se descobriram quaisquer indí-cios da sua existência em território iraquiano.

Saddam era um tirano com provas inequívocas de

incumprimento dos mais básicos direitos humanos e não lamento o seu desaparecimento. Mas hones-tamente lamento que se tenha invadido um país relativamente estável e relativamente pacifi cado, com base em verdades corruptas, e que Saddam se tenha tornado um mártir com o seu enforcamento

às mãos dos seus inimigos, dando mais pretex-tos para a violência entre sunitas e xiitas. Se

até à invasão o equilíbrio iraquiano era frágil, agora esse equilíbrio perdeu-se, tal como o Estado.

Hoje o Iraque é um caos, dominado por senhores da guerra, e fanáticos lide-ram hordas de suicidas que todos os dias detonam bombas em qualquer pedaço

de chão por onde passem civis e soldados, arrastando o ingovernável país para uma

guerra civil. E hoje a opinião pública ameri-cana já quer o regresso das tropas.

Este confl ito aparenta não ter uma solução a curto e médio prazo – o relatório Baker confi rma-o, ao propor uma retirada militar gradual, transferindo decisões e poder para as mãos do governo iraquiano, que mais cedo ou mais tarde estará abandonado à sua sorte. As consequências são demasiado perniciosas para a existência de uma convivência saudável no Médio Oriente e para a guerra ao terrorismo, na qual Portu-gal também participa.

por Vítor Reisvitor.reis@juventud ocialist a.org

Onde estavam as “weapons of mass destruction”?

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VOLUNTARIADOE ASSOCIATIVISMO DUAS E A MESMA FORMA DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL

N o passado dia 5 de Dezembro comemorou-se o Dia Internacio-nal do Voluntariado. No âmbito desta comemoração promove-ram-se algumas iniciativas entre as quais jantares de convívio, sessões de esclarecimento e talvez a mais eficaz e salutar, a pra-ticada por algumas ONG’s que abriram as portas para receber todos os interessados em conhecer melhor estas organizações

e os seus projectos, bem como todo o processo de preparação e formação para a inclusão em projectos de Voluntariado nacional e internacional.

Quando se fala sobre juventude, o voluntariado é uma questão que se assume como extremamente importante, porque ele serve também como barómetro no que diz respeito à noção que os jovens vão tendo de cidadania e participa-ção social. No contexto da nossa realidade é fundamental compreendermos as razões que levam a discussão sobre cidadania para a ordem do dia. Não só o próprio conceito de cidadania sofreu alterações profundas, resultado de novas exigências como a integração no espaço europeu, o surgimento de legislação sobre direitos humanos e a própria revisão que esta legislação sofreu, a crescen-te heterogeneidade populacional que potencia o conflito e o comportamento anti-social, como estas alterações põem em causa o ultimo reducto humano, a liberdade individual. A concepção de cidadania há muito que transpôs a de nacionalidade, as mudanças foram rápidas, estruturantes e sucedâneas e novas adaptações são urgentes no quadro social que se nos apresenta hoje.

Outra implicação conceptual de cidadania relaciona-se com a crise de repre-sentação e funcionamento das instituições democráticas. Esta crise, como uma profecia que se autoconcretiza, reflecte-se nos niveis de participação da socieda-de civil, tanto no contexto do voluntariado como no próprio contexto do asso-ciativismo. A crise da instituição democrática, mais do que um despertar civico, encerra um si, um potencial de mobilização que necessita de se concretizar em acção, sempre que a actuação governamental for considerada injusta, ilegitima, insuficiente ou desadequada.

Mas todos estes problemas podem encontrar a sua solução num cidadão acti-vo, verdadeiro, informado, envolvido, consistentemente solidário e tolerante, um cidadão com uma noção clara e valorizada de cidadania.

A linha que divide o associativismo e o voluntariado é uma muito ténue, em alguns (muitos) casos, dá pelo nome de altruismo. Tanto num como noutro, a participação e a responsabilidade social induzem um comportamento pró-civico, criando uma disposição cooperativa e interessada. A este nivel, a grande diferença entre uma manifestação e outra estaria no carácter pessoal da sua acção, a associa-ção funciona como uma escola que possibilita a aquisição de competencias civicas, enquanto o voluntariado seria o “estágio”, assumindo um carácter mais prático.

É curioso verificar que, se ao nivel do perfil sociográfico, não encontramos diferenças expressivas entre o voluntário e o participante em associações, já ao nivel das respectivas motivações, as diferenças podem e devem observadas.

De acordo com um estudo efectuado pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa , apenas um em cada quatro jovens admite pelo menos uma filiação associativa, sendo que a principal concentração surge no sector desportivo. As associações de natureza politica designadamente partidária surgem no 6o lugar, com uma capacidade de mobilização de apenas 2,3%. O jovem que participa em associações tem o ensino médio e superior, é solteiro, é do género maculino, estudante, religioso ou muito religioso, pertencente à nova burguesia assalariada ou à burguesia. Algumas variáveis mostraram-se residuais na diferenciação entre o associado e o não associado, destas quero apenas destacar a idade, que se mostrou irrelevante na caracterização quer do

associado, quer do não associado. A condição mais decisiva no que respeita à estimulação à participação não é a condição estudantil como seria de esperar dada a disponibilidade de tempo, mas antes o facto do indivíduo ser solteiro. Curiosamente as associações que exigem uma contribuição financeira, como as próprias associações desportivas, são também aquelas que reunem maior nume-ro de associados. Também são muito poucos os jovens que se encontram em posições de liderança nas associações de que fazem parte, excepto no caso das associações de estudantes, onde o papel de liderança assume maior relevo, en-tão o que leva estes jovens a procurarem filiar-se? São indicadas três motivações essencialmente, a primeira está relacionada com a possibilidade de conhecer e conviver com pessoas novas, a segunda motivação recai sobre a aquisição de competencias pessoais, isto é, são fundamentalmente jovens que procuram en-riquecer-se e finalmente, há um numero muito menos expressivo de jovens que

“QUANDO SE FALA SOBRE JUVENTUDE, O VOLUNTARIADO É UMA QUESTÃO QUE SE ASSUME COMO EXTREMAMENTE IMPORTANTE, PORQUE ELE SERVE TAMBÉM COMO BARÓMETRO NO QUE DIZ RESPEITO À NOÇÃO QUE OS JOVENS VÃO TENDO DE CIDADANIA E PARTICIPAÇÃO SOCIAL.”

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por eles próprios enquanto cidadãos do que pelo governo. É reconfortante constatar que estes jovens não se demitem da sua responsabilidade social e que se têm a si próprios como principais agentes da mudança.

Não podemos ignorar que o panorama actual da participação social não é particu-larmente animador e que a reduzida participação associativa está relacionada com a capacidade da sociedade promover comportamentos colectivos e cooperativos.

A indisponibilidade de tempo parece induzir uma certa inibição na realização de actividades voluntárias ou sequer associativas e é apontada como um factor de importante desmotivação. Proponho-vos então um exercicio fácil, o de fazer uma rápida pesquisa cibernética pelos sites dedicados ao voluntariado, num de-les podem ler que entre outros direitos, o voluntário tem o direito a ver as suas faltas justificadas perante a entidade empregadora, num total que pode chegar às 40h anuais. Ainda que estes direitos existam, estejam discriminados e defini-dos legalmente, a verdade é que o estatuto do voluntário é pouco reconhecido e a possibilidade de o voluntário poder efectivamente dispor de algum do seu tempo profissional para se dedicar à prática voluntária, está distante da nossa realidade laboral e social.

Para aqueles que se reconheceram na importância do trabalho voluntário e só precisam de uma oportunidade para o praticar, sugiro que consultem a mo-rada http://www.juventude.gov.pt/Portal/Voluntariado/ ou ainda em http://www.voluntariado.pt/#, aqui encontram uma forma simples de se inscreverem num projecto de voluntariado com o qual se identifiquem, eles são

inumeros e estão relativamente bem explorados, na segunda morada podem até ler um aviso de um curso de formação em voluntário que irá começar já em Janeiro! Sugiro que estejam também atentos à divulgação de uma bolsa de voluntariado, que irá funcionar segundo os moldes das bolsas de emprego, isto é terá disponivel um motor capaz de receber a oferta e a procura de projectos de voluntariado. Existe ainda a forma mais directa, mas talvez menos eficaz, a de entrar em contacto com a instituição promotora do projecto. Independen-temente do que optem por tentar, é importante reconhecer que a sociedade res-ponsável por promover solidariedade e tolerância sou eu e tu, somos todos nós.

05

se associam para produzir mudança social, que procuram prestar um serviço aos outros e à comunidade. É interessante ressalvar que a participação em parti-dos politicos ou associações partidárias está relacionada com um de dois pólos, a mudança social por um lado e o protagonismo social por outro.

Um trabalho é considerado voluntário quando reune uma dupla condição, a não remuneração como contrapartida ao trabalho realizado e a intenção ex-pressa de ajudar o outro. O voluntário é então o indivíduo que de forma livre, desinteressada e responsável se compromete, de acordo com as suas aptidões e no seu tempo livre, à realização de acções de voluntariado, sem fins lucrativos, no âmbito de programas e projectos. Durante o ano de 2005, a percentagem de jovens que se envolveram de forma activa em trabalho voluntário foi de 14,1%. Os numeros também demonstraram o encontro entre voluntariado e associa-tivismo, uma vez que 2 em cada 3 jovens que praticam voluntariado também desenvolvem uma prática associativista.

O voluntário, à semelhança do jovem que participa em associações, tem o en-sino médio e superior, é estudante ou desempregado, religioso e pertence à nova burguesia assalariada ou à burguesia. No entanto, neste contexto, a idade e a situ-ação conjugal parecem ter alguma relevância, o jovem voluntário é um jovem até aos 24 anos, solteiro ou divorciado, distribuido equitativamente pelo género masculino e feminino. A principal motivação apontada como justificando o en-volvimento no trabalh voluntário está relacionada com um interesse intrinseco pela actividade realizada e muito proxima desta motivação em termos de mobili-zação encontramos uma de responsabilidade social, ou seja, o jovem voluntário que procura activamente com o seu envolvimento melhorar a sociedade. De uma maneira geral o trabalho voluntário está mais relacionado com a determinação e a preferência do jovem do que com o jogo da influência social.

O estudo revelou que metade dos jovens inquiridos, quer desenvolvam trabalho voluntário ou não, partilham a visão de uma sociedade pouco solidá-ria, acreditam que as pessoas estão hoje, menos dispostas a ajudar o próximo, o que é consentâneo com uma sociedade cada vez mais proxima dos valores individualistas que diluem as relações comunitárias e heterocentradas.

No entanto, os mesmos jovens que assumem esta perspectiva, juntamente com tantos outros, consideram que o melhoramento da sociedade passa mais

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E m plena consciência, apetece dizer, que o Senhor Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, tem-me surpreendido.Permitam-me ser franco numa observação sucinta e pessoal desta figura política. Nunca tive o cidadão Cavaco Silva como um irres-ponsável ou como homem extremamente faccioso... assume-se de direita, indubitavelmente, mais pela sua acção do que pela sua

ideologia, mas isso por si só, para mim, nunca foi o suficiente para lhe colocar o rótulo de incapaz, anti-democrático ou mesmo de mau político.

Cavaco Silva como Primeiro-Ministro é que foi outra história. Aí demonstrava tiques, posturas e políticas neo-liberais e até autoritárias que tanto a minha consci-ência, como a convicção política, condena e discorda abertamente.

Passados dez anos da sua saída do poder executivo, regressa à vida pública para apresentar a sua candidatura a Presidente da República. Candidatura esta envolta numa aura de independência dos partidos e dos restantes grupos e poderes políticos. Verdade ou não na altura, hoje eleito, constato que tem cum-prido esse intento e espero realmente que o mantenha até ao final do seu man-dato, pois esse aspecto será seguramente benéfico para a vida política nacional.

Como acredito ser óbvio, não votei nele para as funções que actualmente exerce mas como democrata e português honrado que sou, aceito a sua desig-nação como Presidente de todos os portugueses e considero justo dizer-se que tem sido um Presidente sensato e imparcial na sua relação com o Governo e com a sociedade civil.

Sem esquecer quem foi Cavaco Primeiro-Ministro, se formos analisar a sua postura desde a entrada em funções como Presidente da República e se, com atenção, lermos e ouvirmos os seus discursos e intervenções oficiais desde essa mesma data, três grandes questões surgem-nos quase automaticamente: Será que Cavaco, depois de dez anos afastado de combates políticos, surge agora como um homem de forte consciência social e cívica? Surge hoje como um homem próximo da nossa esquerda moderna? Que é feito de Cavaco Silva, ex-Primeiro-Ministro, velho mestre das artes neo-liberais, senhor de mil prepotên-cias e dono da razão?

Pois bem, na minha opinião, Cavaco Silva é hoje um homem que nos apresenta uma maior consciência social (sempre ouvi dizer que com a idade as pessoas ou ficam mais teimosas ou mais toleran-tes) do que quando o conhecemos como chefe de governo. No seu discurso de tomada de posse como Presidente da República, saúda os imigrantes que escolheram Portugal como destino de residência e de trabalho, fala-nos do combate ao abandono e insucesso escolar, do respeito à pessoa humana, dos desempregados, das vítimas de violên-cia doméstica, do combate à exclusão social, do apoio aos mais desfavorecidos. Ainda nos relembra a importância de politicas ambientais, e de que o povo português tem uma forte ligação com o humanismo e o universalismo. Na Assembleia da República, por comemoração do 32o aniversário do 25 de Abril, condena veementemente a exclusão social e inspira-nos ao combate por uma maior justiça social, constatando que “o nosso País é, no quadro da União Europeia, o que apresenta maior desigualdade de distribuição de rendimentos. E é também aquele em que as formas de pobreza são mais persistentes.” Pelas suas próprias palavras, ouvimos um homem de direita dar vivas à Revolução de 25 de Abril de 1974, às primeiras eleições livres em 25 de Abril de 75 e à Constituição de 1976.

06 APETECE DIZER...

ANÁLISE

Uma opinião pessoal sobre o Presidente da República Portuguesa

Cavaco aparece-nos hoje, como um homem de posições sensatas onde se encontra explicita uma consciência social, próxima da mesma consciência que tem fortalecido o nosso conceito de Esquerda Moderna. Talvez ele tenha encontrado a luz, depois de profunda reflexão sob os males que deixou no país durante a sua permanência como chefe de governo

Para os mais cépticos, outras referências não são difíceis de arranjar que mostram que Cavaco Silva tem-se mostrado um homem mais preocupado com questões sociais do que no passado. Por exemplo a sua intervenção nas come-morações do centenário do nascimento do general Humberto Delgado ou a sua intervenção junto à AR pela comemoração dos 96 anos da implantação da Repú-blica Portuguesa. Na primeira homenageia um resistente ao regime de Salazar e Caetano e na segunda fala-nos da corrupção e de como essa infâmia aumenta o descrédito pela política e “aprofunda as desigualdades existentes na sociedade”.

Para a segunda grande questão que levantei, a resposta deve ser cautelosa, mas sincera. Cavaco aparece-nos hoje, como um homem de posições sensatas onde se encontra explicita uma consciência social, próxima da mesma consciência que tem fortalecido o nosso conceito de Esquerda Moderna. Talvez ele tenha encon-trado a luz, depois de profunda reflexão sob os males que deixou no país durante

a sua permanência como chefe de governo, e constate hoje, como nós, que nenhuma sociedade pode ser próspera sem equidade, sem uma melhor distribuição da riqueza, sem justiça social, sem o seu elemento central – as pessoas – a viverem dignamente consigo mesmas e com os seus iguais.

Provavelmente estarei a ser romântico aos olhos de uns e ingénuo aos olhos de outros. Mas é de facto meu desejo, que o Presidente da República Portuguesa, independentemente de quem seja o homem

que ocupe o cargo, tenha essas nobres convicções para com todos os seus concidadãos.

Recordando Cavaco, mestre neo-liberal, direitista e autoritário, espero que pelo menos durante o exercício do mandato que termina em 2011, não apareça nem uma vez. Espero que continue a “cooperação estratégica” com o nosso Go-verno, e que cumpra o seu papel como Presidente da República sendo o garante da estabilidade das instituições nacionais.

Mas se, Aníbal Cavaco Silva, durante este mandato, ressuscitar a sua faceta auto-ritária, tecnocrata e puramente liberal, espero que nós, Socialistas, o combatamos como sempre o combatemos até ser eleito Presidente da República Portuguesa. Até lá, desfruta do respeito pelas funções que exerce. Até 2011, apenas.por Diogo Leão [email protected]

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07

Federazione Giovanile SocialistaNome Federazione Giovanile Socialista

Website www.giovanisocialisti.it

N.º de Militantes : Cerca de 3000

Secretário-Geral da actualidade Francesco Mosca

Data da Fundação 6 e 7 de Setembro de 1903

Orgânica: A FGS é composta por um Exec-utivo (Uffi cio di coordinamento) , que tem a responsabilidade directa e imediata pela execução das linhas políticas e programas indicados nos Congressos. O executivo é composto por eleitos da Direcção Nacional, sugeridos pelo Secretário-Geral e aprovados por 2/3 dos votos. Compõem ainda a FGS a Direcção Nacional e a Assembleia Nacional, orgãos semelhantes à nossa Comissões Política e Comissão Nacional.A FGS é composta por estruturas de base, secções ou núcleos, correspondentes à respectiva área de residência.

Principais bandeiras políticas na ac-tualidade: acesso à procriação médica as-sistida; aprovação da lei que legisla as uniões de facto; legalização das drogas leves; cam-panha contra o trabalho infantil; campanha a favor do exército único europeu; utilização de hidrogénio como combustível e luta por uma escola, pública, laica e multicultural.

POSIÇÃO RELATIVAMENTE A:Interrupção Voluntária da Gravidez: A favorCasamento entre pessoas do mesmo sexo: A favorLiberalização das Drogas Leves: A favor

INTERNACI NAL

Pinochet na reconstrução democrática do Chile de Bachelet

No Chile vive-se hoje, como há décadas atrás, um confronto ideológico. De um lado, os que sempre se manifestaram contra o anterior regime de ditadura militarista, do

outro, os que cegamente o veneraram, sendo que, em abono da verdade, os que mobilizam e falam a favor do General Pinochet são camaradas militares, familiares ou, de algum modo, benefi ciados pelo seu regime. No entanto, é importante referir que já se notava, nos últimos candidatos de direita às presidenciais, uma tenta-tiva de desvinculação da imagem do ex-ditador. O que provocou o re-nascimento de uma luta ideológica à escala do país inteiro foi, obviamente, a morte recente de Augusto Pinochet. E terá sido ape-nas por isso...

O momento histórico vivido hoje pelo Chile sem Augusto Pinochet e com o governo Bachelet, é uma oportunidade de viragem. Mas, em rigor, no Chile, nem tudo é um mar de rosas e antes de se fazer uma avaliação da sensibilidade ideo-lógica mais próxima das massas chilenas, é importante lembrar algumas curiosidades relativas ao desapareci-mento do ex-chefe de estado.

A situação mais recente, o funeral do ditador, foi caricata por várias razões. Em primeiro lugar porque a cerimónia teve honras militares, o que o revestiu, na óptica de muitos, de uma importância exagerada, tendo em consideração os malefícios perpetrados e ordenados pelo General ao longo de décadas. Depois, foi também abalada por discursos de defesa do golpe militar, proferi-dos por familiares, nomeadamente, o capitão Au-gusto Pinochet Molina, neto de ex-ditador, que exaltou o golpe militar liderado por seu avô há 33 anos. O seu neto, à semelhança do que aconteceu depois ao general Ricardo Hargrea-ves Butrón, foi expulso do exército chileno. Na verdade, estes militares defenderam os actos de Pinochet que acabaram por não ser julgados pela justiça antes de este sucumbir - uma infeliz realida-de para os familiares das vítimas. É importante não esquecer o histórico desses actos e elencar os processos e investigações que estavam em curso.

Assim, o General foi preso pela primeira vez em 1998. Fora do Chile, foi detido, sob mandato internacional, a mando do juiz espanhol Baltasar Garzón e colocado sob prisão domiciliária. As acusações incluíam 94 casos de tortura contra cidadãos espanhóis e um caso de conspi-ração para tortura. Pinochet também teria de responder a

acusações de crimes fi nanceiros e de evasão fi scal.Estima-se que, pelo menos, 119 pessoas foram se-

questradas por forças do Estado e, depois, assassinadas na operação secreta de 1975. Em 2004, Pinochet foi acusado de evasão fi scal e falsifi cação de passaportes, embora as duas acusações relacionadas com contas secretas fora do Chile tenham sido retiradas em Abril.

Em Setembro de 2006, a Suprema Corte chilena retirou a imunidade parla-mentar a Pinochet, o que permitiu que ele fosse indi-ciado por crimes de tortura e sequestro na prisão Villa Grimaldi. Em Outubro de 2006, Pinochet foi também indiciado por 36 acusações de sequestro, 26 de tortu-ra, um assassinato e um desaparecimento dos seus opositores em Villa Grimaldi. Um mês mais tarde, a Justiça ordenou que o ditador fosse colocado sob prisão domi-ciliária pelo sequestro, em

1973, de dois guarda-costas do presidente Salvador Allende. Ainda em 2006, o general Manuel Contreras, que comandava a Dina (polícia secreta chilena) sob o regime de Pinochet, confessou ao juiz Claudio Pavez que Pinochet, bem como o seu fi lho, Marco Antonio, estariam envolvidos na produção clandestina de armas químicas e biológicas e no tráfi co de cocaína. A imu-nidade e a saúde do ex-líder provocou a anulação ou suspensão de vários julgamentos.

Como é evidente, não sabemos qual seria o resulta-do/penas decorrentes de todos estes processos judi-ciais, mas a quantidade de atrocidades atrás mencio-nadas provam a dinâmica terrorista, de genocídio,

torturas e corrupção que mandava no Chile.Agora há que olhar o futuro e nota-se que algo

já mudou com a presidente socialista Michele Bachelet. O ex-presidente chileno Ricardo Lagos disse que a morte do general Augusto Pi-nochet fecha um capítulo da história do Chile.

“Agora temos que olhar para a frente e tentar es-tar unidos por um projecto conjunto para o país”,

disse. Lagos é socialista, como a actual presidente, Mi-chelle Bachelet, e como o ex-presidente Salvador Allende, derrubado por Pinochet em 1973. Ele não foi o único a afi rmar que o país “mudou”, apesar de ter voltado a viver, nas horas posteriores à sua morte, a sua histórica cisão entre “pinochetistas” e “anti-pinochetistas”.

Em rigor existem hoje outros problemas eventual-mente mais graves que os de ordem ideológica, por mais importantes que estes sejam, e também partindo do pres-suposto que um regime socialista começa a dar frutos.

“O momento histórico vivido hoje pelo Chile sem Augusto Pinochet e com o governo Bachelet, é uma oportunidade de viragem.” “...a quantidade de atrocidades... provam a dinâmica terrorista, de genocídio, torturas e corrupção que mandava no Chile. Agora há que olhar o futuro e nota-se que algo já mudou com a presidente socialista Michele Bachelet.”

CHILE

Assim, Bachelet tem outros problemas mais urgentes, como a fragilidade energética do Chile, dependente da Argentina e da Bolívia, denúncias de corrupção contra aliados e a maior integração, como pretende, com a região, ou, ao nível interno, os assaltos e correspondente insegurança dos seus cidadãos.

O Chile é, por outro lado, um país de maioria católica praticante, um dos últimos do planeta a permitir o divórcio e o uso de preservativos e foi o primeiro da re-gião a eleger uma mulher presidente. Atrevo-me a dizer que esta não é só uma forte arma a favor da igualdade, mas também da modernização e reconstrução demo-crática – que ainda não terminou - daquele país. Pelo menos será necessário continuar os julgamentos dos cúmplices de Pinochet, e talvez alterar a Constituição que ainda vigora desde o regime militarista.por Bruno Julião bruno.juliao@juventud ocialist a.org

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