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PÁG 4 | POLÍTICA E SAÚDE Parcerias com Organizações Sociais mostram-se eficazes no atendimento às demandas de hospitais públicos e são modelo em vários países da Europa e América do Sul. PÁG 6 | ENTREVISTA A presidente da mesa diretora do Conselho Estadual de Saúde e diretora da Femipa, Rosita Márcia Wilner, fala a respeito das responsabilidades que assume a partir de agora. PÁG 8 | HOSPITAIS EM AÇÃO Santa Casa de Irati se consolida como hospital regional com investimentos para ampliação das instalações, implantação de novos serviços e aquisição de equipamentos. VOZ SAÚDE MARÇO/ABRIL 2011. N.60 HOSPITAIS HUMANITÁRIOS DO PARANÁ 25 anos: uma história de lutas e conquistas para os filantrópicos PÁG 3

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Jornal bimestral da Femipa

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Page 1: Jornal Voz Saúde - 60

PÁG 4 | POLÍTICA E SAÚDEParcerias com Organizações Sociais mostram-se eficazes no atendimento às demandas de hospitais públicos e são modelo em vários países da Europa e América do Sul. PÁG 6 | ENTREVISTAA presidente da mesa diretora do Conselho Estadual de Saúde e diretora da Femipa, Rosita Márcia Wilner, fala a respeito das responsabilidades que assume a partir de agora. PÁG 8 | HOSPITAIS EM AÇÃOSanta Casa de Irati se consolida como hospital regional com investimentos para ampliação das instalações, implantação de novos serviços e aquisição de equipamentos.

VOZ SAÚDEM A R Ç O / A B R I L 2 011 . N . 6 0

H O S P I TA I S H U M A N I T Á R I O S D O P A R A N Á

25 anos: uma história de lutas e conquistas para os filantrópicosPÁG 3

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2 FEMIPA

mês de março marca um momento im-portante para a Femipa: 25 anos de fun-

dação. A longevidade de uma instituição re-presentativa se mede pelas lutas enfrentadas e vitórias atingidas. Pelo respeito conquistado e pela confiança nela depositada por seus pares. A Federação evoluiu nesse período, com mu-danças estruturais, aperfeiçoamento das posi-ções defendidas e melhorias do atendimento aos afiliados. Mais recentemente, a aposta em um conceito mais moderno, sem desprezar a tradição centenária das filantrópicas, confe-riu à marca da Femipa uma nova identidade. Com isso, vieram transformações na Comu-nicação – do aspecto visual ao conteúdo, na forma de se relacionar com os afiliados, no posicionamento junto à sociedade e aos ges-tores públicos. Uma conquista de todo o seg-mento, que se renova, sem perder característi-cas fundamentais como o respeito ao próximo e à dignidade humana.

Essa data tão significativa para o setor coincide com a quebra de paradigma no re-lacionamento com o Governo do Estado do Paraná. Ao ser chamada a participar das dis-cussões de temas que afetam diretamente os hospitais filantrópicos e das proposições de novos projetos que contribuirão para a me-lhoria do sistema de saúde no Estado, a Femi-pa avança em representatividade e, com isso, crescem também os afiliados. Esse trabalho conjunto deve viabilizar para os hospitais filantrópicos novas oportunidades como o acesso a capacitação profissional e, até mes-mo, a possibilidade de eventuais incentivos financeiros. Cada vez mais, o poder público deseja estreitar a parceria com as santas ca-sas e hospitais filantrópicos para a manutenção e o sucesso do Sistema Único de Saúde.

A diretoria da Femipa almeja que os próximos 25 anos sejam de mais momentos de prosperidade.

Boa leitura!

O

QUAIS AS DIFICUlDADES EnFREntADAS PElO

hOSPItAl nA nEGOCIAçãO DOS COntRAtOS COM

AS OPERADORAS DE PlAnO DE SAÚDE?

OPINIÃO

O Jornal VOZ Saúde é uma publicação bimestral da Federação das Santas Casas de Misericórdia e hospitais Beneficentes do Estado do Paraná - FEMIPA

Produção e redação | IntERACt Comunicação Empresarialwww.interactcomunicacao.com.brJornalista responsável | Juliane Ferreira - Mtb 04881 DRt/PRProjeto gráfico e diagramação | Brandesign - www.brandesignstudio.com.br

Os artigos assinados não representam necessariamente a opinião da Femipa.

Rua Padre Anchieta, 1691 - sala 505 - ChampagnatCep 80.730-000 - Curitiba - Paraná Fone: (41) 3027.5036 - Fax: (41) 3027.5684 www.femipa.org.br | [email protected]

Presidente | Maçazumi Furtado niwa

Coordenadoria de ComunicaçãoArtemízia Martins (hospital Evangélico de londrina)Ety Cristina Forte Carneiro (hospital Pequeno Príncipe)

“As dificuldades são muitas. Uma delas é que, nos últimos anos, os hospitais vêm tendo muita dificuldade em reajustar os valores da tabela de diárias e taxas. Aqui no hospital Pequeno Príncipe o problema não é diferente. Os atuais valores efetivamente não cobrem os custos operacionais de funcionamento. Outro ponto a ser destacado é o fato de que os convênios solicitam que materiais especiais, como órteses, próteses e medicamentos de alto custo, sejam comprados e fornecidos diretamente. Conduta que pode trazer diversos riscos ao paciente e, consequentemente, ao hospital, que não tem controle de rastreabili-dade, conservação e integridade biológica dos itens fornecidos por outras fontes. Ainda é necessário driblar freqüentes tentativas de transferência de responsabilidade na gestão de gastos dos pacientes – os convênios solicitam que diversos procedimentos sejam previamente autorizados, gerando grande demanda de trabalho operacional e criação de controles administrativos por parte do hospital. Esta rotina conduziu os hospitais a ter significativo aumento nos gastos com tecnologia da informação, recursos humanos e equipamentos. Eventuais informações não enviadas para o convênio geram glosas rele-vantes. Por fim, gostaria de citar outro problema que são os constantes recebimentos com atrasos e sem o pagamento de multa ou juros.”

“A negociação com as operadoras de saúde em quesitos éticos, baseada na busca de acor-dos ganha-ganha é a resposta mais atual e a busca constante das entidades hospitalares, mas não é a real situação. hoje encontramos dificuldades principalmente no quesito ne-gociação de tabelas, a maioria dos contratos são elaborados para reajuste anual, mas a maioria quando reajusta não segue o proposto pela entidade, reajustando a um percentual irrisório. Outro ponto bastante critico é o atraso nos pagamentos, glosas indevidas e difi-culdades de autorização de procedimentos e exames.”

André Teixeira

Mônica M. de Miranda Magnani

Vice-diretor administrativo financeiro do Hospital Pequeno Príncipe

Gestora administrativa Santa Casa de Cambé

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Março | Abril, 2011 3

CAPA

25 anos: uma história de lutas e conquistas para os filantrópicosAo longo desse período, a entidade esteve à frente de importantes mobilizações políticas de interesse dos hospitais filantrópicos e é a principal voz do setor.

A Federação das Santas Casas de Misericórdia e hospitais Be-neficentes do Estado do Paraná (Femipa) completou no dia

12 de março 25 anos. Ao longo desse período, a entidade esteve à frente de importantes mobilizações políticas de interesse dos hospitais filantrópicos e é a principal voz do setor. Da criação do Programa de Reestruturação e Contratualização dos hospitais Filantrópicos no Sistema Único de Saúde, que permitiu o pla-nejamento das instituições em relação aos recursos financeiros, passando pela mobilização do movimento SOS Santas Casas, à luta pelo pagamento retroativo dos recursos do incentivo à contratualização de 2007, os presidentes que passaram pela Fe-deração construíram uma história de conquistas.

O administrador do hospital Bom Jesus, de Ponta Grossa, Moacir Aparecido dos Santos, lembra que apesar das dificul-dades, a Federação tem conseguido cumprir o seu papel como representante das santas casas e hospitais filantrópicos. “nos momentos mais difíceis pelos quais o segmento passou, a Fe-mipa sempre esteve presente junto aos gestores por meio de suas lideranças, nunca deixando a unilateralidade prevalecer, a exemplo da importante intervenção na formatação do contrato padrão da Contratualização”, afirma.

na opinião do atual presidente, Maçazumi Furtado niwa, a participação efetiva da Federação em negociações políticas de-cisivas para o segmento, tem sido um dos destaques dos parana-enses. “Participamos, por exemplo, da aprovação do projeto de lei das filantrópicas, para o qual foram apresentadas sugestões de alterações propostas pela Femipa. Outra conquista política na qual tivemos atuação importante foi na inclusão das Santas Casas e hospitais filantrópicos na lei que criou a timemania, em 2007”, conta niwa. Segundo ele, a Federação se tornou uma en-tidade representativa forte e respeitada, inclusive entre as outras Federações do país. “Agimos em defesa de interesses comuns, contribuindo na definição de políticas de saúde e interagindo com instituições públicas e privadas que visam melhorias na saúde da população”, completa.

Para o diretor do hospital Evangélico de londrina, luiz So-ares Koury, qualquer instituição que tenha sobrevivido tanto tempo funcionando já é vencedora, mas para ele, tudo o que foi feito faz parte do passado e para continuar vivo, é preciso sonhar e trabalhar por um futuro melhor. “Atuando de forma profissional e transparente acredito que será possível envolver e aumentar o quadro associativo, o que aumentaria também a nossa força, não simplesmente para pressionar, mas para de-monstrar com clareza a importância das entidades filantrópicas na assistência à saúde com qualidade no Paraná. Além da fun-ção de representar a nossa categoria espero que a Femipa conti-nue incentivando, cada vez mais, a profissionalização da gestão também nos nossos hospitais”, afirma o diretor. na opinião de Koury, o principal desafio para a Femipa é ser percebida pelos associados e pelo público externo como uma entidade verdadei-ramente importante na representação dos hospitais filantrópicos no Estado.

Política Em 25 anos de história, a Femipa sempre procurou estabele-

cer um diálogo aberto com o poder público. Mas, de acordo com o presidente, poucas foram as vezes em que projetos, que permi-tiriam o avanço do segmento do Estado, saíram do papel. “Ape-nas recentemente, com a mudança de governo, encontramos um ambiente mais propício para a discussão de novas ideias e pro-fissionais dispostos a ouvir os prestadores. Estamos confiantes que os próximos quatro anos possam ser de mudanças positivas para o setor filantrópico no Paraná”, avalia niwa.

EvEntoUm café da manhã e o lançamento de uma revista comemo-

rativa marcam os 25 anos da Femipa. O evento será no dia 29 de abril, no salão Rosa do Clube Curitibano, em Curitiba, e contará com a presença de autoridades e representantes dos hospitais afiliados. Os ex-presidentes Ivo Arzua Pereira, Paulo Roberto Franzon, Carlos Alberto Grolli, Jerônimo Antonio Fortunato Jú-nior e Charles london; e o secretário estadual de Saúde, Michele Caputo neto, serão homenageados com um troféu pela dedica-ção ao segmento e contribuição para a melhoria da Saúde no Paraná. O evento, fechado para convidados, conta com o patro-cínio do banco hSBC.

A participação efetiva da Federação em negociações políticas decisivas para o segmento tem sido um dos destaques dos paranaenses.

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mbora o Paraná ainda não tenha uma lei que regulamente a prestação de serviços públicos de saúde por terceiros, essas

parcerias têm se mostrado uma alternativa eficaz para a gestão dos hospitais públicos. Um estudo detalhado desse modelo no Brasil e no mundo, realizado pelos autores do livro “Desempe-nho hospitalar no Brasil: Em busca da excelência”, destaca que a gestão de hospitais feita por Organização Social de Saúde são mais eficazes, flexíveis e econômicas que a gestão de hospitais realizada por entes públicos.

no Brasil, a parceria com instituições privadas para a pres-tação de serviços públicos de saúde está prevista no artigo 197 da Constituição Federal. O Paraná, assim como a maioria dos estados brasileiros, ainda não possui uma lei que regulamente essas parcerias. “Mais do que oficializar esta parceria, permitida pela Constituição Federal, seria necessária a aprovação de uma lei, que regulamente as formalidades e os critérios de escolha das instituições”, exemplifica o advogado e doutor em Direito pela USP, Fernando Mânica, autor do livro “O Setor privado nos Serviços Públicos de Saúde”.

Mesmo assim, alguns hospitais públicos já trabalham em parceria com organizações sociais e têm obtidos resultados sig-nificativos. O hospital Municipal de Araucária é um dos exem-plos. Desde sua inauguração, em setembro de 2008, o hospital é administrado pela Pró-Saúde, organização social sem fins lu-crativos. O modelo de gestão, considerado pioneiro no Estado, é feito por meio de um contrato, firmado entre a Pró-Saúde e o município de Araucária.

Segundo o secretário municipal de Saúde de Araucária, dou-tor haroldo Ferreira, este modelo se mostrou mais eficaz para

o atendimento à população. “Escolhemos este formato visando um melhor serviço para a população e temos obtidos resul-tados eficientes. Além disso, ele possibilita a contratação de funcionários em regime de Clt, que traz mais flexibilidade ao sistema”, explica.

no contrato entre a Pró-Saúde e o hospital de Araucária, o órgão público atua como co-gestor, acompanhando, fisca-lizando e definindo as políticas de saúde a serem seguidas. “É importante destacar que o hospital Municipal de Araucária e todo seu patrimônio continuam sendo públicos”, explica Danilo Oliveira da Silva, administrador hospitalar e Diretor Geral do hospital Municipal de Araucária.

Danilo ressalta que a gestão realizada por uma Organização Social de Saúde apresenta mais agilidade nos processos e reso-lução de novas demandas do que a gestão realizada por entes públicos. Ele destaca como exemplo a recente estruturação do serviço de mamografia do hospital. “O município tinha um apa-relho e necessitava do serviço. Após aprovação do projeto pela Secretaria Municipal de Saúde foi possível iniciar o serviço em menos de 20 dias, com custo 50% menor para o ente público, em relação ao comprado em serviços externos”, explica.

O diretor também cita números que comprovam a efetivi-dade da parceria. “temos 97% de satisfação do usuário, nosso índice de resolução ultrapassa aos 90% e, com apenas dois anos em funcionamento, conseguimos estruturar nossos processos e nos tornar o primeiro hospital público do Paraná, com 100% de atendimento pelo Sistema Único de Saúde, e 100% de finan-ciamento por recursos públicos, acreditado pela Organização nacional de Acreditação (OnA)”, explica.

POLÍTICA E SAÚDE

Bons exemplos de gestão hospitalar Parcerias com Organizações Sociais mostram-se eficazes no atendimento às demandas de hospitais públicos e são modelo em vários países da Europa e América do Sul.

E

“Em dois anos, conseguimos estruturar nossos processos e nos tornar o primeiro hospital público do Paraná, com 100% de atendimento pelo SUS”

Danilo oliveira da SilvaDiretor geral do Hospital Municipal de Araucária

Hospital Municipal de Araucária, administrado pela Pró-Saúde, tem 97% de satisfação do usuário

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ENTREVISTA

Como representante da Femi-pa, você participa ativamente do Conselho Estadual de Saúde do Paraná (CES/PR) há alguns anos. O que muda ao assumir a presi-dência da mesa diretora?

Para a Femipa, temos a possibilida-de de ampliar a visibilidade e a opor-tunidade de demonstrar qual é o nosso papel na construção do Sistema Único de Saúde e a importância que damos ao controle social. no entanto, aumenta também a responsabilidade. Como pre-sidente da mesa diretora, cabe a mim representar o Conselho Estadual de Saúde do Paraná junto aos órgãos pú-blicos municipais, estaduais e federais e sociedade civil; coordenar as reuniões do plenário, emitir resoluções, delibe-rações, recomendações ou moções das decisões tomadas pelo Plenário. Sou responsável ainda pela supervisão ge-ral das ações do CES/PR, entre outras atividades. Continuo tendo direito a voto, pois o presidente também é um conselheiro.

Em ano de conferências, qual a missão e os desafios do Conse-lho?

O papel do CES/PR em relação à Conferência Estadual de Saúde é o de organizar e elaborar o temário, que este ano será “SUS, Patrimônio do Povo Brasileiro - Construindo as Redes de Atenção à Saúde no Paraná”. Além disso, temos que contribuir e propiciar

condições para que o relatório final da conferência resulte em uma avaliação da situação da Saúde do Estado, for-mulado e fixado as diretrizes gerais da Política Estadual de Saúde, eleger enti-dades que irão compor o CES/PR para a gestão 2012 a 2015 e os delegados para a 14ª Conferência nacional de Saúde. também acompanhamos e orientamos aos Conselhos Municipais de Saúde na realização de suas conferências. Este ano, por exemplo, uma webconferência com as 22 regionais de saúde esclare-ceu as dúvidas de cada local, mobilizou os municípios e foi uma oportunidade para a troca de informações e a prepa-ração para as plenárias que virão.

De que forma o CES participa da construção das políticas públicas de saúde?

O Conselho Estadual de Saúde do Paraná é uma instância deliberativa e é o mais democrático dos Conselhos, pela sua constituição. Fiscalizamos as ações e os serviços de saúde no Estado. A cada novo ano estabelecemos uma agenda mínima e um cronograma para essas tarefas. Avaliamos, por exemplo, os instrumentos de gestão: Relatório de Gestão, Plano Plurianual e Plano Orçamentário Anual. Além disso, re-cebemos demandas da sociedade em geral e também do Ministério Público, acompanhamos as audiências públicas realizadas na Assembleia legislativa para discussão das políticas de saúde.

O Conselho tem por obrigação atuar na promoção do processo de controle so-cial em toda a sua amplitude, no âmbi-to dos setores públicos e privados, em consonância com os princípios e dire-trizes do Sistema Único de Saúde.

Ouvir o Conselho depende de uma vontade política do Governo, mas, his-toricamente, o CES/PR tem um papel importante dentro da esfera públi-ca pelo trabalho sério realizado pelos conselheiros. Quando uma decisão do Conselho não é homologada pelo Se-cretário de Estado da Saúde, o Minis-tério Público é acionado. Essa institui-ção, assim como o tribunal de Contas do Estado, são importantes parceiros do CES/PR.

Como os hospitais afiliados à Femipa podem contribuir com o CES/PR? É possível participar de suas regiões?

Os hospitais devem participar das Conferências Municipais e dos seus respectivos Conselhos Municipais de Saúde, pois é a instância onde serão debatidas as necessidades locais. Os prestadores filantrópicos já têm cons-ciência da importância desse momento para a definição das políticas públicas de saúde, mas é preciso que mais ad-ministradores hospitalares se interes-sem pelas discussões e participem ati-vamente desses processos, para sermos reconhecidos como elementos funda-mentais para a garantia do funciona-mento do Sistema Único de Saúde.

Rosita Márcia WilnerBióloga e mestre em Genética Humana pela UFPR, presidente do Conselho Estadual de Saúde do Paraná, diretora da Femipa.

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ENTREVISTA

Qual a situação encontrada ao assumir a direção do hospital regional?

O hRPG foi inaugurado em março de 2010, pelo governo anterior, com o propósito de dar suporte ao Curso de Medicina da UEPG. tanto é verdade que o hospital foi construído no campus da universidade. A obra foi realizada em tempo recor-de, resultando em várias deficiências estruturais, de dimensio-namento e de fluxo. A expectativa criada com a inauguração foi enorme, momento em que existia somente a estrutura físi-ca, algum mobiliário, poucos equipamentos e funcionários. A estruturação dos serviços só iniciou posteriormente.

Quando assumi, há pouco mais de dois meses, encontrei uma estrutura com capacidade de 190 leitos, porém 28 deles ativos e média de 10 internações/mês, uma lista de espera de mais de 300 cirurgias eletivas, com o funcionamento prati-camente apenas do Ambulatório de Especialidades. Em todas as áreas faltavam equipamentos, mobiliário, instrumentais, serviços de apoio, além do quadro de pessoal apresentar pro-blemas de dimensionamento, de faltarem documentos legais, haver pendências da obra, dentre outros.

Quais serão os primeiros passos para colocar o hos-pital em pleno funcionamento?

O Plano de Governo demonstra que a estrutura da Secre-taria de Estado da Saúde estará voltada para proporcionar serviços de saúde eficientes para toda a população, definindo como linhas mestras “Qualidade, Desenvolvimento e Gestão por Resultados”.

Diante disso, a primeira medida foi fazer um diagnóstico situacional, definir o perfil do hospital e elaborar o planeja-mento estratégico. Definiram-se os serviços que serão dispo-nibilizados à comunidade, as etapas de funcionamento, seus prazos, e, a partir daí, foram desencadeados os processos de licitação para complementação dos equipamentos, acessórios, utensílios, insumos, de redimensionamento do quadro de pes-soal, de estruturação dos processos internos e de atuação na área acadêmica.

A primeira etapa, com data prevista para julho deste ano, prevê o funcionamento de 88 leitos, sendo 12 de UtI adulto e 8 de UtI neonatal.

Como fator fundamental para a estruturação do hospital tem-se buscado formatar uma equipe de alto desempenho. Para tanto, a parceria com a UEPG tem sido fundamental. O hospital terá abrangência macrorregional, englobando cerca de 18 municípios, com aproximadamente 750 mil habitantes, e caráter de ensino.

De que forma a experiência à frente de um hospi-tal filantrópico, contribui para a gestão da instituição pública?

Os hospitais filantrópicos sofrem com a escassez de recur-sos e as instituições que se destacam usam da criatividade para prestar assistência de qualidade com o menor custo possível. A visão de qualidade, do controle de custos, de otimização dos processos, de racionalização dos recursos e da profissionaliza-ção da gestão deve também ser aplicada à área pública.

O conhecimento pela formação, especializações e, prin-cipalmente, experiência adquirida pelos vários anos na área hospitalar, fazem com que haja o entendimento do que exata-mente o Estado espera de cada integrante da rede assistencial. Conhecer as dificuldades das filantrópicas, as lacunas e defici-ências do Sistema, nos possibilita estabelecer uma relação de parceria com os hospitais filantrópicos.

Como o hospital será integrado à rede de atendimen-to? Haverá prejuízo aos hospitais filantrópicos que já operam na região?

A Sesa pretende, através das Redes de Atenção à Saúde, reduzir as distâncias e o tempo de resposta do atendimento, organizando a Rede Assistencial nas 22 regiões do Paraná. O hRPG participará das Redes, num primeiro momento ab-sorvendo parte da demanda de média complexidade e, numa segunda etapa, ampliando o grau de complexidade.

não há a pretensão de substituir qualquer serviço existente, mas sim, complementar a Rede Assistencial, em especial ser-viços estrangulados. Portanto, não haverá prejuízo algum aos hospitais filantrópicos, ao contrário, ele auxiliará na vazão à medida que amplie sua atuação, proporcionando suporte aos hospitais de Ponta Grossa e região.

Diretora geral do Hospital Regional Wallace Thadeu de Mello e Silva, economista, com MBA em Gestão Empresarial e Gestão de Serviços de Saúde pela FGV. Foi diretora administrativa da Santa Casa de Misericór-dia de Ponta Grossa e compôs a diretoria da Femipa.

Scheila t. Mainardes

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ARTIGO

Medicina, como uma das profis-sões milenares que servem de base

para a estruturação da sociedade, tem em seu pai, hipócrates, a expressão maior que deixou conceitos para a prá-tica da mesma, quais sejam: os prin-cípios da beneficência, não-maleficên-cia, respeito à vida, à privacidade e à confidencialidade. A isto chamamos os princípios da Ética hipocrática. Dentro destes parâmetros, que permanecem atuais, outros conceitos foram acres-centados, caracterizando-se assim a Medicina como uma ciência que etica-mente se dedica ao que é mais sagrado: a vida em plenitude.

Ser Médico, ou seja, profissional que desenvolva a Medicina, acima de tudo tem que espelhar estas premissas, perseverar pela qualidade de vida, pela saúde em suas diversas facetas, respei-tar a dignidade e a integridade dos que lhe pedem auxílio. Apesar de concei-tos antigos, com o advento das gran-des guerras, o mundo teve que declarar códigos de costumes, nortear o pensa-mento novamente e estabelecer regras de conduta ética. Com alguns ensaios anteriores, em 1944 o primeiro Código de Deontologia Médica foi oficialmen-te reconhecido no Brasil. Desde então, outros quatro códigos estiveram vigen-tes no país.

neste mês de abril, mais especifi-camente no dia 13, o atual Código de Ética Médica, sexto editado, comple-ta um ano de vigência. não devemos chamá-lo de novo Código de Ética Mé-dica, pois, na realidade, o que ocorreu foi uma atualização do já redemocra-tizado Código de 1988, especialmente utilizando-se de uma linguagem mais jurídica, buscando amparo nos Códigos Civil e Penal, bem como acompanhan-do os progressos científicos, como nos

casos da genética e reprodução assisti-da. Com certeza um Código mais con-dizente com os dias atuais e trazendo à discussão temas bioéticos como a auto-nomia do paciente e do médico, ortota-násia e cuidados paliativos.

A observância às regras do Códi-go de Ética Médica é a base do que se conceitua uma Medicina de boa práti-ca, onde direitos e deveres dos médicos estão explícitos. não vejo, como alguns meios de comunicação chegaram a ci-tar, como ferramenta para solucionar os graves problemas encontrados na saúde, seja pública ou privada. Quan-do editado e lançado, passava-se a im-pressão de que a saúde neste país se-ria dividida entre antes e depois deste Código. Por maior exposição que isto possa exercer, confesso que ele não tem e nunca teve este propósito, pois se trata de um código de conduta pro-fissional que pouco modificou em sua essência. Se formos analisar os Princí-pios Fundamentais deste Código, que nada mais é do que as bases para o de-sempenho ético desta nobre profissão, poucas mudanças ocorreram. Ou seja, os médicos deste país já trabalhavam com estas premissas e os casos em que isso não ocorria eram analisados pelos Conselhos Regionais espalhados por este Brasil.

Poder-se-ia perguntar o que modifi-cou na prática cotidiana da classe mé-dica desde a implantação dos conceitos trazidos nesta nova edição. no geral, muito pouco, mas como foram acres-centados temas pontuais, ampliou-se o sentido de dever do médico para com a sociedade. Administrativamente alguns ajustes tiveram que ser realizados em todas as Corregedorias dos Conselhos Regionais e Federal, no sentido de se adequar a codificação para os fatos

ocorridos a partir do dia de sua vigên-cia. Os fatos anteriores ainda são ava-liados pelo Código de 1988. tempus regit actum (o tempo rege o ato), que impõe obediência à lei em vigor quan-do da ocorrência do fato. Isto faz com que, na prática, este Código vigente desde abril de 2010, seja aplicado em todas as queixas apresentadas somente daqui a alguns anos. Este período de transição está devidamente equaciona-do, com normas emanadas pelo Conse-lho Federal de Medicina e seguidas por todos os estados.

Mais do que toda uma codificação, a revisão do Código de Ética Médica representou a preocupação e o respeito de toda uma classe para com aqueles que devem se beneficiar de uma saú-de de qualidade, ou seja, todo o povo brasileiro. Como se diz, trata-se de um contrato de trabalho, assumido por to-dos nós, médicos deste país, com a po-pulação, na construção de uma socie-dade mais justa, solidária e saudável.

O Código de Ética Médica e a construção de uma sociedade mais justa, solidária e saudávelA

alexandre Gustavo BleyVice-presidente do Conselho

Regional de Medicina do Paraná.

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HOSPITAIS EM AÇÃO

investimentos na Santa casa de irati consolida instituição como hospital regional

Ampliação das instalações, novos serviços e equipamentos. Com 75 anos de história, a Santa Casa de Irati investe na pre-venção de doenças e na qualidade para se consolidar como um hospital regional. “O propósito é buscar formas para acelerar a recuperação dos doentes, oferecendo mais conforto em sua estada. Mas, mais do que isso, estamos investindo na preven-ção. Com exames e diagnósticos prévios e precisos conseguire-mos oferecer à população tranquilidade e segurança”, afirma o administrador da Santa Casa, Claudemir Andrighi. Para ele, a escassez financeira ainda é o maior desafio. “Por isso é impor-tante fortalecer nossas Federações, para que tenham condições

de buscar junto aos órgãos estaduais e federais valores mais justos pelos procedimentos realizados”, defende.

Uma das novidades do hospital é a construção e ampliação do novo Centro Cirúrgico e Obstétrico com Central de Material e Ambulatórios, em fase de conclusão. São mais de mil metros quadrados, com seis salas cirúrgicas, duas delas para alta com-plexidade. Os investimentos incluem recursos do governo do Estado, próprios e de emenda parlamentar. Com as novas ins-talações, a previsão é aumentar em 30% o volume de cirurgias realizadas.

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novoS SErviçoS

Recentemente a Santa Casa de Irati foi credenciada para captação de tecido ocular (globo e córneas). Uma equipe multiprofissional foi treinada para realizar a aborda-gem com a família e fazer a retirada do tecido. Outra novidade é o serviço de hemo-dinâmica, em fase conclusiva de implantação, que irá realizar cateterismo cardíaco. O investimento será de dois milhões de reais, em parceria com uma equipe médica de Ponta Grossa e Curitiba. Segundo o administrador, o serviço trará melhorias na qua-lidade de vida da população da região, pois não será preciso viajar longas distâncias para ser atendido.